A Grande Síntese Pietro Ubaldi
exatidão científica, o que não podia ser dito a mentes primitivas senão sob formas de imagens e sob o véu do mistério. Dou-vos,
desta forma, a fusão perfeita de fé e ciência, de intuição e razão. Com a ciência demonstro e convalido o mistério; explico a nua
afirmação das revelações e com o conhecimento, imponho-vos o dever de uma vida mais elevada. Realizo a fusão das duas
metades do pensamento humano, até agora divididas e inimigas, entre o oriente sintético, simbólico e sonhador, e o ocidente
analítico e realista. Dou continuação à vossa ciência do último século, não me opondo a ela, mas completando-a com o
espiritualismo. Supero, sem destruí-la, essa ciência que, por ter-se dirigido exclusivamente à matéria, só podia ser visão unilateral
daquele pequeno campo, ignorando e negando todo o resto. Não combato, mas a defino como fase superada, embora necessária
para alcançar o atual momento, em que ainda urge avançar para as mais profundas realidades do espírito. Afirmo, em
complementação e em continuação da precedente, abandonando os tristes e loucos antagonismos de outrora, uma nova ciência
que, de acordo com todas as crenças e todas as religiões, leve-vos imensamente mais adiante.
Ao lado do princípio da trindade existe outro, que lembramos ao ilustrar o conceito monístico do universo, para estudar a
gênese e a constituição das formas dinâmicas. É dado pela lei da dualidade. Esta considera não o reordenar-se da unidade em
sistemas coletivos superiores, mas sua íntima composição. Acima da unidade está o 3, em seu interior está o 2. Isto no sentido de
que a individuação não é jamais uma unidade simples, mas sempre um dualismo que, em seu aspecto estático, divide a unidade em
duas partes, do ser e do não-ser, em duas metades inversas e complementares, contrárias e no entanto recíprocas, antagônicas mas
necessárias. Em seu aspecto dinâmico é um contraste entre dois impulsos opostos, que se movem e se balanceiam em um
equilíbrio instável, que continuamente se desloca e se renova. É um ciclo feito de semiciclos, que se perseguem e se completam. É
uma pulsação íntima, segundo a qual a evolução avança. Este dualismo é o binário, guia e canaliza o movimento, sobre o qual
avança a grande marcha do transformismo evolutivo; tanto que, sob esse aspecto, concebe-se uma cosmogonia dualista. O
monismo é dualista em seu íntimo devenir. Esse é seu ritmo interior; essas as duas margens da estrada, ao longo da qual avança o
fenômeno, não retilíneo mas sempre oscilando sobre si mesmo. Dupla é a respiração de todo fenômeno: fase de inspiração e de
expiração; dupla sua pulsação: centrífuga e centrípeta; duplo seu movimento no avançar e retroceder. A evolução é realizada por
esta íntima oscilação e, por força dessa oscilação, progride. O devenir é conseguido por esse íntimo contraste. O movimento
ascensional é a resultante desse jogo de impulsos e contra-impulsos entre duas margens invioláveis, de onde o movimento volta
sempre sobre si mesmo. O fenômeno caminha pelo escorar-se mutuamente dessas duas forças-metades que o determinam. O
movimento genético da evolução é constituído por essa íntima vibração, que transmuda o ser em outra forma.
Essa lei de dualidade a encontrais em toda parte. Cada unidade é dupla e se move entre dois extremos, que são seus dois
pólos. Os sinais + e - estão em toda parte e o binômio reconstrói a unidade, que sempre vos aparece como um par: dia-noite,
trabalho-repouso, branco-negro, alto-baixo, esquerdo-direito, frente-atrás, direito-avesso, externo-interno, ativo-passivo, belo-feio,
bom-mau, grande-pequeno, Norte-Sul, macho-fêmea, ação-reação, atração-repulsão, condensação-rarefação, criação-destruição,
causa-efeito, liberdade-escravidão, riqueza-pobreza, saúde-doença, amor-ódio, paz-guerra, conhecimento-ignorância, alegria-dor,
paraíso-inferno, bem-mal, luz-trevas, verdade-erro, análise-síntese, espírito-matéria, vida-morte, absoluto-relativo, princípio-fim.
Cada adjetivo, cada coisa possui seu contrário; cada modo de ser oscila entre duas qualidades opostas. Cada unidade é uma
balança entre esses dois extremos e equilibra-se neste seu íntimo princípio de contradição. Os extremos tocam-se e se reúnem. As
diferentes condições em que o princípio do dualismo se move, produziram todas as formas e combinações possíveis, mas elas
equivalem-se como princípio único. A unidade é um par. O universo é monismo em seu conjunto, dualismo no particular: uma
dualidade que contém o princípio de contradição e de fusão ao mesmo tempo; que divide e reúne e, a cada forma do ser, dá uma
estrutura simétrica (princípio de simetria); dá ao desenvolvimento de cada fenômeno uma perfeita correspondência de forças
equilibradas. Também o dualismo corresponde a um princípio de equilíbrio, é o momento do princípio de ordem, fundamental
na Lei. O que define a unidade em sua íntima estrutura é sua construção interior; o que garante a estabilidade do devenir
fenomênico e torna inviolável sua trajetória, não é apenas o princípio de inércia, mas esse desenvolvimento de forças antitéticas
que, no entanto, atraem-se e mantém aquele devenir unido e compacto. É um ir-e-vir, mas em campo fechado, cujos limites não se
pode ultrapassar. Se não fora o movimento equilibrado por esse contínuo retorno sobre si mesmo, o universo se teria deslocado há
muito, todo ele numa só direção e teria perdido seu equilíbrio. Ao invés, a evolução é uma íntima auto-elaboração, um
amadurecimento, devido a um movimento que, regressando sobre seus passos e fechando-se sempre sobre si mesmo, como uma
respiração, muda a forma e externamente permanece imóvel, além dos limites dela; a cada movimento um ritmo que muda o
fenômeno, sem poder sair dele, invadindo e alterando os ritmos de outros fenômenos. Este princípio de antítese e de simetria, que
sem cessar divide e reúne, reúne e divide, podemos chamá-lo monismo dualista e dualismo monista. O positivo vai + e volta -; o
negativo vai - e volta +, em constante inversão de sinal e de valor. Combinai e multiplicai este princípio com o das unidades
coletivas e vereis como o universo está todo unido num indissolúvel abraço.
Agora, podeis compreender como o mais complexo princípio e equilíbrio da trindade derivam desse simples princípio e
equilíbrio da dualidade. Porque a ida e volta dos dois sinais não é estéril: do novo encontro nasce o novo termo, o terceiro da
trindade, termo que representa a continuação do fenômeno, e regressará, por sua vez, ao termo contrário, a fim de gerar novo
termo, assim por diante. Aqui reencontrais, nesses sinais opostos, o conceito das subidas e descidas da linha quebrada do diagrama
da fig. 2. As primeiras, positivas; as segundas, negativas. Representam, diante da trajetória maior assinalada pela faixa
ascensional, limitada pelos vértices e mínimos das criações sucessivas, o ritmo interior do fenômeno. Desse ritmo, nasce sempre
novo termo; nova fase completa-se a cada oscilação positivo-negativa, da qual toda criação se compõe; a fase máxima torna-se,
depois, fase média, finalmente, fase mínima, isto é, o germe ou base do fenômeno: não mais ponto de chegada, mas ponto de
partida. Assim, no diagrama da fig. 4, os períodos positivos de desenvolvimento da espiral alternam-se com períodos negativos de
envolvimento; desta sua oscilação interna, positivo-negativa, evolutiva-involutiva, forma-se e progride a maior espiral da evolução
do fenômeno. Assim, por exemplo, partindo da ação e da experimentação (fase positiva de atividade), até a assimilação de valores
(fase negativa de passividade), emerge aquela criação de qualidades e capacidades, da qual nasce, no campo da vida, e se
desenvolve, a consciência. Por isso, a dor alterna-se com a alegria mas é condição, como elemento de experiência e de progresso,
de uma alegria cada vez maior; a morte alterna-se com a vida, como condição de desenvolvimento da consciência e, com isso, de