A propriedade é um roubo J.P. Proudhon By Rubens Lima da Silva Osasco-SP 2013
O autor come ç a seu argumento da seguinte forma: Se eu tivesse de responder à seguinte questão: o que é a escravidão? e a respondesse numa única palavra: é um assassinato, meu pensamento seria logo compreendido. Eu não teria necessidade de um longo discurso para mostrar que o poder de tirar ao homem o pensamento, a vontade, a personalidade é um poder de vida e de morte, e que fazer um homem escravo é assassiná-lo. Por que então a esta outra pergunta: o que é a propriedade?, não posso eu responder da mesma maneira: é um roubo, sem ter a certeza de não ser entendido, embora esta segunda proposição não seja senão a primeira transformada?”
Eu tento discutir a própria origem de nosso governo e de nossas instituições, a propriedade; estou no meu direito: posso me enganar na conclusão que resultará de minhas pesquisas; agrada-me colocar o último pensamento de meu livro no início; estou sempre no meu direito. Tal autor explica que a propriedade é um direito civil, nascido da ocupação e sancionado pela lei; tal outro sustenta que ela é um direito nacional, tendo sua fonte no trabalho, e estas doutrinas, por mais opostas que pareçam, são estimuladas, aplaudidas. Eu afirmo que nem o trabalho, nem a ocupação e nem a lei podem criar a propriedade; que ela é um efeito sem causa: sou repreensível? Quantas queixas se levantam !
– A propriedade é um roubo! Eis o rebate de93! Eis a desordem das revoluções! – Leitor, tranquilizai-vos: não sou de modo algum um agente de discórdia, um bota-fogo de sedição. Antecipo-me alguns dias na História; exponho uma verdade cuja passagem nós tentamos em vão barrar; escrevo o preâmbulo de nossa futura constituição. Esta definição que vos parece blasfematória, a propriedade é um roubo, seria o punhal exorcizador do ódio se nossas preocupações nos permitissem entendê-la; mas quantos interesses, quantos preconceitos se lhe opõem! A filosofia não mudará de maneira alguma, hélas!; o curso dos acontecimentos: os destinos se efetuarão independentemente da profecia; aliás, não é necessário que a justiça se faça e que nossa educação se complete?
– A propriedade é um roubo! Que inversão das ideias humanas! Proprietário e ladrão foram em todos os tempos expressões contraditórias tanto como os seres que elas designam são antipáticos; todas as línguas consagraram esta antilogia. Sobre que autoridade poderias então atacar o consenso universal e dar o desmentido ao gênero humano? Quem és para negar a razão dos povos e dos tempos? – Que vos importa leitor, minha medíocre individualidade? Eu sou, como vós, de um século em que a razão só se submete ao fato e à prova; minha reputação, assim como a vossa, é de investigador da verdade minha missão está escrita nessas palavras da lei:
Fale sem ódio e sem medo; diga o que tu sabes. A obra de nossa espécie é construir o templo da ciência, e esta ciência abrange o homem e a natureza. Ora, a verdade se revela a todos, hoje a Newton e a Pascal, ao pastor no vale, ao operário na oficina. Cada um coloca sua pedra no edifício e, sua tarefa feita, desaparece. A eternidade nos precede, a eternidade nos segue: entre dois infinitos, que é o lugar de um mortal para que o século nele se informe? Deixai, portanto, leitor, meu valor e meu caráter, e ocupai-vos só com minhas razões. É conforme o consenso universal que eu pretendo corrigir o erro universal; é à fé do gênero humano que chamo de opinião do gênero humano.
Tende a coragem de me seguir e, se vossa vontade é sincera, se vossa consciência é livre, se vosso espírito sabe unir duas proposições para daí extrair uma terceira, minhas ideias tornar-se-ão infalivelmente as vossas. Começando por vos lançar minha última palavra, quis eu vos prevenir e não vos desafiar: porque, tenho certeza, se me leres, eu forçarei vossa concordância. As coisas de que tenho a vos falar são tão simples, tão palpáveis, que vos espantareis de não as ter percebido, e vós vos direis: “Eu não tinha refletido nada disso”. Outros vos oferecerão o espetáculo do gênio violentando os segredos da natureza e divulgando oráculos sublimes; vós não encontrareis aqui senão uma série de experiências sobre o justo e sobre o direito, uma espécie de verificação de pesos e medidas de vossa consciência. As operações se farão sob vossos olhos; e vós mesmos apreciareis o resultado.
Além disso, não disponho de sistema: eu desejo o fim do privilégio, a abolição da escravatura, a igualdade de direitos, o reino da lei. Justiça, nada senão Justiça; tal é o resumo de meu discurso; deixo a outros o encargo de disciplinar o mundo. Eu me disse um dia: por que, na sociedade, há tanta dor e miséria? O homem deve ser eternamente infeliz? E, sem me limitar às explicações gerais dos empreendedores de reformas ao denunciar a miséria geral, estes a covardia e a imperícia do poder, aqueles os conspiradores e os motins, outros a ignorância e a corrupção geral; fatigado com os intermináveis combates da tribuna e da imprensa, quis eu próprio aprofundar a coisa.
Consultei os mestres da ciência, li centenas de volumes de filosofia, de direito, de economia política e de história: e queira Deus que eu tivesse vivido num século em que tanta leitura me fosse inútil! Fiz todos os esforços para obter informações exatas, comparando as doutrinas, opondo às objeções as respostas, fazendo sem cessar equações e reduções de argumentos, pesando os milhares de silogismos à luz da lógica mais escrupulosa. Neste penoso caminho, reuni vários fatos interessantes, de que darei conhecimento a meus amigos e ao público assim que tiver tempo. Mas, é preciso que eu o diga, primeiramente julguei reconhecer que nós jamais compreendemos o sentido destas palavras tão vulgares e tão sagradas: justiça, igualdade, liberdade; que sobre cada uma destas coisas nossas ideias eram profundamente obscuras; e que enfim esta ignorância era a única causa do pauperismo que nos devora e de todas as calamidades que afligiram a espécie humana.
Meu espírito se assombrou com este estranho resultado: eu duvidava de minha razão. Como!, dizia eu, isto que o olho nunca viu, nem a orelha ouviu, nem a inteligência penetrou, tu a descobririas! Tenha medo, infeliz, de tomar as visões de teu cérebro doente por conhecimento da ciência! (...) Resolvi então fazer uma contraprova de meus julgamentos, e eis quais foram as condições que me impus a mim mesmo neste novo trabalho: é possível que na aplicação de princípios da moral a humanidade esteja há tanto tempo e tão universalmente enganada? Como e por que ela estaria enganada? Como seu erro, sendo universal, não seria invencível?
Estas questões, de cuja solução eu fazia depender a certeza de minhas observações, não resistiram muito tempo à análise. (...) Sim, todos os homens acreditam e repetem que a igualdade de condições é idêntica à igualdade de direitos; que propriedade e roubo são termos sinônimos; que toda proeminência social, concedida ou, para melhor dizer, usurpada sob pretexto de superioridade de talento e de serviço, é iniquidade e pilhagem: todos os homens, eu digo, atestam estas verdades em sua alma; trata-se só de fazê-los descobrir.
ADVENTO DA LIBERDADE* A comunidade** é opressão e servidão. O homem quer na verdade se submeter à lei do dever, servir sua pátria, obsequiar seus amigos, mas ele quer trabalhar naquilo que lhe agrada, quando lhe agrada, tanto quanto lhe agrade; ele quer dispor de suas horas, obedecer somente à necessidade, escolher seus amigos, suas diversões, sua disciplina; prestar serviço por satisfação, não por ordem; sacrificar-se por egoísmo e não por uma obrigação servil. A comunidade é essencialmente contrária ao livre exercício de nossas faculdades, a nossos pendores mais nobres, a nossos sentimentos mais íntimos; tudo o que se imaginar para conciliá-la com as exigências da razão individual e da vontade não levará senão a mudar a coisa conservando o nome; ora, se nós procuramos a verdade de boa-fé, devemos evitar as disputas de palavra .
Assim, a comunidade viola a autonomia da consciência e a igualdade; a primeira, comprimindo a espontaneidade do espírito e do coração, o livre-arbítrio na ação e no pensamento; a segunda, recompensando com uma igualdade de bem-estar o trabalho e a preguiça, o talento e a asneira, o próprio vício e a virtude. (...) Que forma de governo iremos preferir? – Em! vós podereis perguntá-lo; e sem dúvida qualquer um de meus mais jovens leitores responde:“vós sois republicano”. Por “comunidade” Proudhon entende, como aliás ele mesmo o diz, o “sistema comunista”: uma “tirania mística e anônima”, “a pessoa humana destituída de suas prerrogativas”. .
2ª parte O que é a Propriedade? Pierre Joseph Proudhon O seguinte trabalho é um fichamento sobre a primeira obra de Proudhon, “O que é a propriedade? “ onde ele dá início a essa temática e se declara ao mundo como anarquista.
Este texto tem a proposta de fazer um fichamento da obra de Pierre Joseph Proudhon, “ O que é a Propriedade? ” , e explicitar como esse pensador deu ao tema um tratamento í mpar, na gênese de seu entendimento e na sua inferência das rela ç ões sociais. Os valores são questionados na medida em que se tornam verdadeiros entraves para o desenvolvimento da sociedade, no que diz respeito a aos indiv í duos sociais bem como no comportamento e nos costumes de forma coletiva.
O fil ó sofo Pierre Joseph Proudhon foi sem d ú vida um dos mais importantes te ó ricos anarquistas, suas considera ç ões serviram de base para o desenvolvimento da maioria das teorias anarquistas e influenciou de forma determinante fil ó sofos como Bakunin, Kropotkin, Malatesta entre outros. Das obras de Proudhon se destaca a tese sobre o que é propriedade? Questionamento que d á nome a seu livro mais celebre. A orienta ç ão pol í tica de Proudhon é o anarquismo, sendo esse o primeiro te ó rico a se declarar anarquista de forma clara e explicita, na tentativa de diferenciar o socialismo autorit á rio e a social democracia burguesa do socialismo libert á rio (anarquismo).
Em suma, não sistematizo: pe ç o o fim dos privil é gios, a aboli ç ão da escravatura, a igualdade de direitos, o reino da Lei; Justi ç a, nada mais que Justi ç a; tal é o, resumo do meu discurso; deixo a outros a tarefa de “ disciplinar o mundo ” . ” (Proudhon, O que é a propriedade?). Proudhon figura como um grande ativista anarquista al é m de te ó rico muito perspicaz e comprometido com a causa da liberdade. Tendo nascido em Besan ç on na Fran ç a em 15 de Janeiro de 1809 e vindo a falecer no dia 19 do mesmo mês, por é m no ano de 1865 aos 56 anos na cidade de Passy . A vida política desse pensador confunde-se com suas teorias, o que uma caracter í stica que é pr ó pria dos te ó ricos anarquistas, não apenas pela ascensão da ciência positivista daquele momento hist ó rico a qual os anarquistas se serviam para compor algumas analogias entre a ciência exata e a política.
Justificativa: O que é a propriedade? Com esse questionamento Proudhon d á inicio à sua tese. A pergunta feita pelo fil ó sofo é pouco intrigante em sua forma ç ão, por é m a resposta que ele nos apresenta é para muitas pessoas, inusitada. A propriedade é um roubo, diz Proudhon, sim um roubo e a ainda mais espantosa é a compara ç ão de que o propriet á rio é um criminoso visto a analogia feita pelo pensador, onde a escravidão é comparada a um assassinato e a propriedade a um roubo, ambos considerados (assassinato, roubo) crimes segundo o estado de direito.
A provoca ç ão do pensador é interessante na medida em que esclarece de forma definitiva sua discordância com a l ó gica social e econômica da sociedade moderna e capitalista. Para informar de forma did á tica ao leitor suas considera ç ões Proudhon faz uma serie de analogias entre as ciências e suas descobertas em rela ç ão à s ciências pol í ticas e a dificuldade em aceitar questionamentos e novas propostas haja vista o imperativo da manuten ç ão do exerc í cio do poder.
Como a pol í tica moderna tem como lastro as ideas de Arist ó teles e suas considera ç ões, em evidência nesse caso em particular suas afirma ç ões sobre as diferen ç as entre as classes sociais, demonstra então como houve erros por parte de diversos fil ó sofos em diversas á reas da ciência, a saber; "Como é que não veem, dizia Santo Agostinho (..) que, se houvesse homens sob os nossos p é s, estariam de cabe ç a para baixo e cairiam no c é u? O bispo de Hipona, que julgava a terra plana, porque lhe parecia vê-la assim(..) ” E assim segue demonstrando como os alegados princ í pios l ó gicos e as categorias definidas pelos pensadores não se sustentaram diante das novas descobertas tanto na astronomia como nos diversos seguimentos da ciência.
Proudhon nos fala de como o julgamento é feito através das aparências das coisas e de simples induções embora forjadas em uma lógica que se atribui realidade aos conceitos, nos levando ao erro e ao engano e passamos a acreditar em um numero enorme de absurdos e lorotas. E se passarmos das ciências físicas para as ciências morais existem diversas verdades construídas da mesma forma, através de aparências, influências e falsos axiomas. Porém seja qual for o conceito ou a crença sobre a terra e sua forma ou constituição física não ira alterar o rumo natural do planeta e as leis naturais, no entanto as leis morais dependem da ação do homem e dos conceitos formulados pelo homem no que nos diz Proudhon;
“ (..) é em n ó s e por n ó s que se cumprem as leis da nossa natureza moral: ora estas leis não podem executar-se sem a nossa participa ç ão pensante, se não as conhecermos. Portanto, se a nossa ciência das leis morais é falsa, é evidente que, desejando o bem, provocaremos o mal; se ela é incompleta, bastar á durante algum tempo ao nosso progresso social, mas acabar á por nos fazer tomar um caminho falso e por precipitar-nos então num abismo de calamidades. ” É nessas questões que devemos atentar para obter mais conhecimento visto sua inferência na vida econômica e politica da sociedade, e que nos afeta diretamente. Entre as crenças oriundas dessas leis morais a que mais tempo acompanha as civiliza ç ões...
... segundo Proudhon, é a cren ç a em Deus instigada pelos sacerdotes e precursora de um grande n ú mero de injusti ç as e desigualdade na hist ó ria das civiliza ç ões. Como refutar essas cren ç as que durante tanto tempo persiste no imagin á rio humano, as classes sacerdotais sempre aliadas do poder e dos mandat á rios fustigando o povo a não acreditar em novidades e se manterem fi é is as tradi ç ões e aos costumes.
Os romanos e seus costumes viveram e morreram por suas leis e tradi ç ões, afogados em sua luxuria e, adorando seus imperadores loucos, sem se darem conta de sua pr ó pria derrocada. O cristianismo pregando uma nova lei e uma religião mais justa não ultrapassou o momento da sua permissividade eclesi á stica e logo foram engolidos pelo sistema, tornando parte da mesma arquitetura contr á ria à solidariedade e a justi ç a. O homem, segundo a orienta ç ão dos te ó logos, cometeu um pecado imperdo á vel (o pecado original), e nada pode ser feita para revogar isso, sua condi ç ão de miser á vel é inevit á vel, tal é a cren ç a que se propagou no ocidente atrav é s da nova religião. Todos os m á rtires desde Jesus e seus seguidores, que diziam trazer uma boa nova, nos traz por meio dos sacerdotes uma p é ssima noticia, viver em pen ú ria, mais penitencia, jejum priva ç ão, escravidão por uma promessa de recompensa p ó s-morte “ A verdade cristã não ultrapassou a idade dos ap ó stolos; o Evangelho, comentado e simbolizado por Gregos e Romanos, repleto de f á bulas pagãs, tornou-se um sinal de contradi ç ão; e at é hoje o reinado da Igreja Infal í vel apenas engendrou um grande obscurecimento. ” (Proudhon).
A sociedade que se estabelece não é uma sociedade igualit á ria, mas sim uma sociedade com base no direito diversificado entre os entes sociais. O direito do nobre o direito do rei o direito do sacerdote e o direito do plebeu. O Rei o sacerdote e toda a classe de possuidores tinham diversos privil é gios baseados em direitos de nascen ç a e de posse e tantos quantos sua imagina ç ão real pudesse criar, para a sustenta ç ão de tantas prerrogativas a priva ç ão e a mis é ria se tornaram o direito do povo. Somente em 1793 o povo se livra desse julgo e arranca a cabe ç a do monarca Luiz XVI, por é m a falta de conhecimento e o costume fazem com que a revolta momentânea não deixe que a revolu ç ão se consolide e se opera apenas mudan ç as j á que a derrocada da monarquia apenas do lugar a democracia e uma e o estado continua com suas institui ç ões de poder embora de forma mais distribu í do, por é m não menos opressor e injusto. O que nos aponta Proudhon é que o povo ao combater a estrutura politica não compreende a principal causa da manuten ç ão da desigualdade social, a propriedade privada, o acumulo de capital que provoca o desequil í brio e as diferen ç as sociais.
Proudhon faz uma distin ç ão entre propriedade e posse, a posse é um direito comum a todos, a propriedade é que é uma irregularidade, se toda a sociedade e compreendida entre um acordo entre iguais o propriet á rio que arrenda sua propriedade e cobra do arrendat á rio uma porcentagem da sua produ ç ão demonstra ai o desequil í brio e a irregularidade se torna clara. Como pode quem não trabalha se beneficiar do lucro da produ ç ão de outro, não obstante o estado e a igreja apoiam e reivindicam ter direito a parte desse lucro, recaindo sobre o trabalhador pesado fardo sobre condi ç ão de impostos, d í zimos e outras modalidades e confisco. “ Outrora a nobreza e o clero não contribu í am para as despesas do Estado senão a t í tulo de ajuda volunt á ria e doa ç ões; os seus bens eram inacess í veis mesmo para pagamento de d í vidas: enquanto o plebeu, sobrecarregado de tributos e impostos era incomodado sem descanso, tanto pelos cobradores do rei como pelos dos nobres e do clero ” (idem).
Com a revolta o povo sonhou com a propriedade sendo utilizada por todos assegurando o direito a terra, não compreendendo que mantinha o mesmo principio do regime que acabava de destituir, a propriedade foi mantida e colocada como coisa principal a se defender, tornando a propriedade intoc á vel. A organiza ç ão social tem que ser livre para que a igualdade seja assegurada os meios de produ ç ão e os demais benef í cios que um ajuntamento de pessoas possa proporcionar devem ser divididos da forma mais justa poss í vel e a diferen ç a entre as pessoas não deve existir, apoiando sua genialidade na liberdade e na igualdade os homens devem redefinir seus costumes e sua conduta moral, sem as discrepâncias proporcionadas pela propriedade privada e os privil é gios econômicos que ela proporciona.
Não obstante, o propriet á rio reivindica o lucro o ganho sobre seus bens sem que ele pr ó prio tenha condi ç ões de produzir sozinho o mesmo ganho que julga merecer. O direito que os ilustres propriet á rios querem defender não tem base na razão e na l ó gica quer seja econômica ou moral, a justa por ç ão que recai sobre o propriet á rio não pode ultrapassar o que ele é capaz de produzir sozinho. Ora o que se pr á tica é a onera ç ão do trabalho alheio para suprir a ganancia e o roubo do lucro do trabalho alheio. Não h á limites para as perspectivas de ganho dos patrões e arrendat á rios, querem ganhar dez, cem, mil ou um milhão de veze mais do que sua capacidade individual de produ ç ão. O propriet á rio sozinho não seria capaz de faturar nem mesmo metade do que reivindica para si, o lavrador deve arrendar a terra e pensar em como pagar o dono das terras, os impostos, o custo da produ ç ão e o dizimo da igreja.
No que diz Proudhon, “ Portanto. tudo o que transaciona das mãos do ocupante para as do propriet á rio a titulo de lucro e como pre ç o da licen ç a para ocupar, é irrevogavelmente adquirido pelo segundo, perdido pelo primeiro, nada podendo voltar a este senão como doa ç ão, esmola, sal á rio de servi ç os ou pagamento de mercadorias por ele entregues. ” O propriet á rio não apenas se apropria do produto do trabalho de quem realmente produz como exige valor e tempo espec í ficos a fim de sanar a sua usura. O conceito de propriedade como fonte permanente de lucro faz com que o propriet á rio que utiliza seu im ó vel d á preju í zo a si mesmo e acumula o percentual de perdas a cada mês que permanece no im ó vel que deixou de alugar para aferir lucro. O pequeno propriet á rio corre o risco de acumular d í vidas com impostos e obriga ç ões com o fisco, provenientes do suposto lucro que deveria aferir caso não ocupasse sua propriedade podendo at é mesmo ser tomada pelo governo por falta de pagamento dos impostos compuls ó rios.
O arrendat á rio, por é m é obrigado a pagar todas à s d í vidas provenientes do direito de propriedade com o fruto do seu trabalho, devendo pagar o que não é capaz de produzir. Como o trabalhador não consegue sanar todas as d í vidas as quais foi submetido , fica sujeito a adquirir empr é stimos que vão se acumulando e não consegue acabar de pagar nunca. O propriet á rio se ausenta do trabalho mas não se distancia da propriedade, sempre atento a situa ç ão da produ ç ão pronto para exigir mais dos trabalhadores a sua disposi ç ão, no que diz Proudhon se o trabalhador pode produzir 10 o propriet á rio lhe exige como sua parte nos lucros 12, deixando o trabalhador sempre em divida e preso a seu contratante. O costume e as leis não são pautados na justi ç a, mas na considera ç ão da defesa da propriedade, que consome a sociedade pelos seus princ í pios sem l ó gica e suas pr á ticas injustas. No que salienta o pensador a justi ç a tem como premissa irrevog á vel a igualdade, não apenas a igualdade de a ç ão concomitantemente a igualdade de condi ç ões. A razão e a l ó gica que Proudhon lan ç a mão definem em suma o fato concreto de que o direito ao lucro é em outras palavras o direito ao roubo, confisco e apropria ç ão indevida do esfor ç o e trabalho alheio.
A propriedade consome o fruto do trabalho por usura e não por necessidade, e esgota o trabalhador impossibilitando seu progresso, o que define a sociedade com base na propriedade como invi á vel no que toca a justi ç a e a igualdade. “ A propriedade é imposs í vel; a igualdade não existe. A primeira nos é odiosa e queremos destrui-la : a segunda absorve todos os nossos pensamentos e não sabemos concretiz á -la. ” Para que se estabele ç a igualdade de direitos e deveres a liberdade deve ser o ponto de partida a convergência social, a liberdade deve ser a base da sociedade não a propriedade. A distin ç ão feita por Proudhon entre propriedade e posse demonstra sua compreensão sobre o uso da terra, a terra deve ser de quem nela produz, bem como as f á bricas e os meios de produ ç ão aos que deles fazem uso, e engrandecem a sociedade com seus resultados. A presen ç a do propriet á rio é a de um ser estranho e de certa forma uma abstra ç ão surreal do processo produtivo.
Conclusão A essência da organiza ç ão social é a liberdade, e a ú nica forma de assegurar a justi ç a e a igualdade social tornando equânime as rela ç ões entre os entes sociais e possibilitando uma comercializa ç ão justa entre os centros urbanos e os trabalhadores agr í colas. O apoio mutuo consolidando as rela ç ões entre as na ç ões federadas de acordo com as condi ç ões de cada uma, compartilhando os entendimentos as tecnologias e os bens de produ ç ão fomentando o desenvolvimento coletivo. De modo que a justa propor ç ão seja a medida da troca e que não haja acumulo de riquezas desnecess á rias a economia, que nenhum lugar tenha mais do que necessita e que não tenha carência em nenhuma região e que ningu é m passe por dificuldades em detrimento do luxo de alguns poucos. “ A propriedade e a realeza estão em decadência desde o principio do mundo; como o homem procura a justi ç a na igualdade, a sociedade procura a ordem na anarquia ” (ibidem). É essa a proposta de Proudhon como organiza ç ão social, tendo o homem como medida para a constitui ç ão de uma ordem social justa e igualit á ria, sem mestres ou patrões senhores ou lideres, apenas a sociedade sendo autogestionada e a vontade popular sendo efetivamente aplicada sem intermedia ç ão ou imposi ç ão de grupos ou pessoa exercendo o poder do estado e de suas institui ç ões.
A posse deve ser individual, nos indica Proudhon, o que torna a propriedade ilegal a ç ão que por si s ó modifica todas as rela ç ões econômicas da sociedade, tornando mais justa a distribui ç ão de terras e moradias, proporcionando a todos de forma igual o direito de ocupar variando de acordo com o numero de ocupantes na inten ç ão de impossibilitar a propriedade, o trabalho passa a ser um dever de todos e o resultado do emprego dessa for ç a de trabalho passa a ser propriedade coletiva. No que conclui, o trabalho acaba com a propriedade e a explora ç ão do homem pelo homem. As transa ç ões comerciais devem se feitas na medida da troca do produto pelo produto, impossibilitando uma renda desproporcional nas transa ç ões comerciais, toda troca dever ser feita de forma livre e equivalente entre os interessados, observando essas condi ç ões a desproporcional diferen ç a entre ricos e pobres deixara de existir e problemas como a escassez de alimentos ser á coisa do passado. “ Os homens estão associados pela lei f í sica e matem á tica da produ ç ão antes de o serem pelo seu pleno acordo: portanto, a igualdade de condi ç ões é justa, quer dizer, de direito social; a estima, a amizade, o reconhecimento apenas de direito equitativo ou proporcional. ” (ibidem )
O homem sozinho não produz nem mesmo para suprir todas as suas necessidades, mas em grupo ultrapassa as necessidades econômicas. Por interm é dio de livre associa ç ão e coopera ç ão mutua com a manuten ç ão da igualdade de direitos e deveres preservando a liberdade individual é , com efeito, a ú nica maneira de se promover uma sociedade justa e igualit á ria. Não existe possibilidade de justi ç a em uma sociedade onde a base econômica é a propriedade e a desigualdade produzida por essa forma de economia que gera pobreza e riqueza de forma diretamente proporcional, o governo de poucos sobre os demais é mantido pela a ç ão violenta do estado e de suas institui ç ões. A organiza ç ão social deve ser pautada em uma pol í tica de liberdade e igualdade que ter á como consequência justi ç a social, a busca por uma sociedade perfeita tem como base de apoio a fusão entre a ordem e a anarquia .