de ombros, a contigüidade, a intimidade, a “sinceridade”, o “entrar dentro do outro”, sem
guardar segredos, confessando de modo compulsivo e compulsório, estavam se tornando
rapidamente as únicas defesas humanas contra a solidão e o único fio disponível para se
tecer o ansiado convívio. Só era possível conceber totalidades mais amplas do que o
círculo de confissões mútuas como um “nós” intumescido e esticado; como a mesmidade,
mal referida como “identidade”, em letras grandes. A única forma de incluir os
“desconhecidos” em um “nós” era reuni-los como potenciais parceiros em rituais
confessionais, tendentes a revelar um “interior” semelhante (e portanto familiar), quando
pressionados a compartilhar suas íntimas sinceridades.
Ao ler este trecho, não pude deixar de lembrar da definição de ‘Imbecil Coletivo’ criada por
Olavo de Carvalho. Nas palavras do filósofo, O Imbecil Coletivo é “um grupo de pessoas
de inteligência normal ou mesmo superior que se reúnem com a finalidade de imbecilizar-
se umas às outras”. Observação feita, volto ao “Amor Líquido”.
Um grupo formado, por sua vez, não está livre de tensões, pois haverá concordâncias e
discordâncias. Deste modo cria-se um quadro de que, embora unidos pelas aflições, as
pessoas sejam desunidas por demais opiniões. Deste modo, os próprios grupos fechados são
“líquidos”:
Tal como nas vastas extensões da terra de fronteira global, também no nível popular, no
domínio da política de vida, o palco para a ação é um recipiente cheio de amigos e
inimigos potenciais, no qual se espera que coalizões flutuantes e inimizades à deriva se
aglutinem por algum tempo, apenas para se dissolverem outra vez e abrirem espaço para
outras e diferentes condensações. As “comunidades da mesmidade”, predeterminadas, mas
aguardando serem reveladas e preenchidas com matéria sólida, estão cedendo vez a
“comunidades de ocasião”, que se espera serem autoconstruídas em torno de eventos,
ídolos, pânicos ou modas. Mais diversificadas como pontos focais, porém compartilhando
a característica de uma curta, e decrescente, expectativa de vida. Elas não duram mais que
as emoções que as mantêm no foco das atenções e estimulam a conjunção de interesses —
fugaz, mas não por isso menos intensa — a se coligar e aderir “à causa”
Nota-se, então, que a o enfraquecimento dos laços amorosos também enfraquece os laços
sociais. O trecho acima, na realidade, é melhor aprofundado em um outro livro de Bauman
chamado “Modernidade Líquida”. O “Amor Líquido” é, na realidade, um recorte da
“Modernidade Líquida”.
Deste quadro cria-se dois problemas contrapostos que o autor coloca em termos de “tecer
redes” e “surfar nelas”, decorrente um aparato tecnológico que facilitou a comunicação
virtual, seja por telefones ou chats. O que caracteriza tal tipo de interação, neste quadro, são