BOM125686785 candomble-introducao-jeje-mahi

olojeikuikeobarainan 1,074 views 65 slides May 25, 2015
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About This Presentation

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Introdução
Os deuses africanos vieram para esse continente através dos negros escravos,
que aqui chegando estabeleceram uma grande legião de seguidores, da cultura e
religião Afro. A internet por ser um veà culo de grande penetração e
informação, tem ajudado a divulgar e esclarecer os verdadeiros objetivos e
dogmas do Candomblé, até então mal compreendidos e interpretados. Com isso,
novos adeptos de todas as camadas sociais vem sendo atraà dos a esse maravilhoso
mundo dos deuses africanos. O Candomblé é uma religião brasileira,
oficialmente reconhecida, que presta culto aos deuses que nos legaram os
africanos que para aqui vieram no séc. XVI. É o termo genérico que define o
coletivo de nações (tribos) africanas, no Brasil. Em nosso paà s, essas
nações foram denominadas como; Jeje, Ketu, Angola, Nagôs, Xambá, Igexá,
etc. Apesar de ser divididos em diversas nações, o Candomblé mantém uma
unidade no âmago de sua originalidade, que acredito ser da época pré-
histórica. A finalidade dessa home page é dar uma parcela de contribuição
para o melhor conhecimento da cultura dos povos africanos que deram origem ao
culto dos Voduns no Brasil, colocando para os leitores e pesquisadores o
resultados das minhas pesquisas investigativas para achar minhas raà zes,
histórias e tradições no Brasil e na Éfrica. Graças a Deus e aos deuses,
tive oportunidade de entrar em contato com algumas pessoas do Benin e EUA que se
tornaram meus amigos e têm me ajudado muito nesse trabalho enviando-me material
de pesquisas e respondendo as minhas indagações. Também no Brasil, encontrei
pessoas de conhecimento e boa vontade, que deram sua contribuição. Penso que
é chegada à hora do povo Jeje se unir e começar a SOMAR. A divisão quase
extinguiu nossa nação. Vamos aprender juntos a lindà ssima cultura dos Voduns.
Agradeço a todos que de alguma forma me forneceram subsà dios para que essa home
page se tornasse uma realidade. Peço que me auxiliem enviando suas crà ticas e
sugestões através de um e-mail ou assinando meu bookmark.
Yatemi Jurema de Yansã
O Jeje na Éfrica
A história do desenvolvimento do império crescente do Dahomey é
indispensável para compreendermos os Voduns, precisamente a quebra e a
migração do Ewe/Fon. Alguns estudiosos da cultura africana achavam que todos
os Voduns cultuados em Dahomey eram deuses originários dos yorubanos. Um equà -
voco! Trata-se simplesmente de uma troca de atributos culturais de cada região.
Em todas as regiões, os deuses africanos são louvados, sejam ancestrais ou
vindos de outras regiões, mas preferencialmente cada região cultua seus
próprios deuses, os ancestrais. Os deuses estrangeiros podem ser aceitos
inteiramente nos santuários dos Voduns locais, embora permaneçam sempre como
estrangeiros. O mesmo tratamento é dado em terras yorubanas aos Voduns
originários de outras regiões. Dahomey, cuja capital era Abomey, foi o
principal reino da história do atual Benin. Seu poderio militar formado por
bravos guerreiros e amazonas era temido por todos os reinos vizinhos que foram
sendo conquistados. O exército do rei era dividido em duas partes: o regimento
permanente e o regimento das coletas tribais (prisioneiro). Esses prisioneiros
eram treinados para serem guerreiros do rei e as mulheres, em especial, eram
enviadas ao regimento das amazonas onde aprendiam a lutar. Os prisioneiros que
se negavam a aderir as causas do rei eram sumariamente executados ou vendidos
como escravos. Os chefes das tribos conquistadas ficavam reservados para serem
executados durante o festival anual de ancestrais, em memória dos reis mortos.
Suas cabeças eram decapitadas e seu sangue oferecido aos falecidos reis. Essa
pratica aconteceu do séc. XVI até o séc. XVII. O reino de Dahomey foi o maior
exportador de escravos para o nome mundo. Adja-Tado foi quem começou esse
grande império de Dahomey. Primeiro conquistou a cidade de Adja onde se tornou
rei, casou e teve 3 filhos. Quando seus filhos já eram guerreiros, Adja-Tado
foi a Allada junto com eles e estabeleceu o reino de Allada. Seus filhos se
dividiram e estabeleceram reinos separados e tornaram-se reis. O primogênito
Zozergbe foi rei de Porto Novo, o segundo filho foi sucessor de Adja-Tado no
trono de Allada e o terceiro filho, Aklim fundou o que mais tarde seria o
principal reino da região. Aklin foi para Ghana e Bahicon (agora Benin, sul-
central), com seu exército, e estabeleceu uma outra dinastia, a cidade de
Abomey, que foi a capital do império militar, conhecida como Dahomey. Dahomey

foi governada por um total de treze reis divinizados, por quase dois séculos.
Agassu, que era um dos là deres do

império, dizia ser filho de um leopardo com a princesa de Tado, Aligbonon. Ela
teria sido encantada por esse leopardo originando o nascimento de Agassou.
Agassou teve três filhos e deu inà cio a uma linhagem de homens leopardo.
Jeje Brasil
Djedje (jeje) é uma palavra de origem yoruba que significa estrangeiro,
forasteiro e estranho; que recebeu uma conotação pejorativa como
≉inimigo≉, por parte dos povos conquistados pelos reis de Dahomey e seu
exército. Quando os conquistadores eram avistados pelos nativos de uma aldeia,
muitos gritavam dando o alarme ≉Pou okan, djedje hum wa!≉ (olhem, os jejes
estão chegando!). Quando os primeiros daomeanos chegaram ao Brasil como
escravos, aqueles que já estavam aqui reconheceram o inimigo e gritaram ≉Pou
okan, djedje hum wa!≉; e assim ficou conhecido o culto dos Voduns no Brasil
≉nação Jeje≉. Dentre os daomeanos escravizados, uma mulher chamada
Ludovina Pessoa, natural da cidade Mahi (marri), foi escolhida pelos Voduns para
fundar três templos na Bahia. Ela fundou: um templo para Dan; ≉Ceja
Hundê≉, mais conhecido como o ≉terreiro do Ventura≉ ou ≉Axé Pó
Zehen≉ (pó zerrêm) em Cachoeira de São Felix; um templo para Hevioso
≉Zoogodo Bogun Male Hundô≉ em Salvador e um templo para Ajunsun que não se
sabe porque não foi fundado. Esse é o segmento jeje-mahi do povo Fon. O templo
de Ajunsun/Sakpata foi fundado mais tarde pela africana Gaiacu Satu, em
Cachoeira de São Felix e recebeu o nome de Axé Pó Egi, mais conhecido por
Corcunda de Ayá. São os Jejes Savalu ou Savaluno. Sakpata era rei da cidade
Savalu/Éfrica, segundo alguns historiadores, Sakpata foi o único rei que
preferiu o exÃlio a se render aos conquistadores de Dahomey. O dialeto dos
savalus também é o Fon. No Maranhão encontramos a Casa das Minas fundada por
Maria JesuÃna, segundo informação de Sergio Ferreti. Creio que esta casa
dispensa comentários, pois é com certeza a mais conhecida casa de jeje do
Brasil. Esse é o segmento do povo Jeje-Mina. Ainda no Maranhão encontramos a
casa Fanti-Ashanti fundada por Euclides Menezes Ferreira. Esse é o segmento
jeje-Fanti-Ashanti do povo Akan vindo de Ghana. No Rio de Janeiro, foi fundado
pela africana Gaiaku Rosena, natural de Allada, o ≉Terreiro do Pó Dabá≉ no
bairro da Saúde, que foi herdado por sua filha Adelaide do Espà rito Santo, mais
conhecida como Mejitó que transferiu a casa de santo para o bairro Coelho da
Rocha. Depois veio Antonio.Pinto de Oliveira. ≉Tata Fomutinho≉ que fundou o
Ceja Nassó, no bairro de Santo Cristo, depois mudou-se para Madureira na
Estrada do Portela, depois para São João de Meriti onde finalmente se
estabeleceu na Rua Paraà ba. Dizem os mais velhos, que Mejitó, ajudou muito Tata
Fomutinho no começo de sua vida de santo aqui no Rio de Janeiro. Tata Fomutinho
deixou uma legião de filhos, netos e bisnetos. Dentre esses, meu pai Jorge de
Yemanja que fundou o Kwe Ceja Tessi, Pai Zezinho da Boa Viagem que fundou o
Terreiro de Nossa Senhora dos Navegantes, Tia Belinha que fundou a Colina de
Oxosse e Amaro de Xangô que é aquele tio que está sempre disposto a nos
atender e nos ajudar com suas memórias e conhecimentos.
Vodum
Vodou ≉ Vodoun ≉ Vodum ≉ Voodoo ≉ Voudun ≉ Vodu ≉ Vudu ≉ Hoodoo -
etc. A palavra vodou é de origem Ewe/Fon e significa força divina, espà rito,
força espiritual. É usada pelo povo do oeste da Éfrica para designar os
deuses e ancestrais divinizados. No século XVIII o rei Agajá consolidou as
crenças de vários clãs e aldeias, formando um ≉sistema espiritual dos
Voduns≉. Isso gerou uma enorme variação do termo, devido a quantidade de
dialetos usados por esses clãs e aldeias, que somado a influência francesa,
passaram a falar como entendiam. Essa diversificação fonética dá-se também
por conta dos idiomas de pesquisadores que ≉invadiram≉ a Éfrica, em busca
de conhecimento sobre o Vodou. No Brasil, por exemplo, usamos o fonema Vodum. A
palavra Hoodoo não é uma variante de Vodou. O Hoodoo é uma sociedade haitiana
similar as que existem no Benin (Sociedade do Bo) e Ghana (Sociedade Jou-Jou),
onde pessoas são preparadas para ler oráculos e fazer fórmulas mágicas
usando elementos da flora, da fauna e do mineral. Como sou brasileira usarei
daqui por diante o termo ≉Vodum≉. Quando foi estabelecido o grande reino de
Dahomey, lá não existia o culto de Voduns. Nessa época, o atual rei sentia a
necessidade de uma assistência espiritual que o ajudasse a combater os
problemas que o atormentava. Mandou chamar um bokono (adivinho) e pediu que esse

consultasse os oráculos. A conselho dos oráculos mandou vir de diversas
regiões os Voduns e construiu seus templos. Com isso Dahomey passou a sitiar
diversos clãs e aldeias de Voduns. Anos mais tarde, o rei Agajá fez a
consolidação, como já foi dito. No perà odo da escravidão, muitos daomeanos
foram levados

para o novo mundo e com eles a cultura e o culto dos Voduns. Os Voduns cultuados
no Brasil são originário da Éfrica, sua práticas e tradições se mantiveram
intacta como era no Dahomey (atual Benin) desde o começo dos tempos. A nação
Jeje sofreu por alguns anos uma queda em seus cultos, devido a falta de
informações. Os mais antigos preferiram levar para o túmulo seus
conhecimentos a passá-los aos que poderiam perpetuar os Voduns no Brasil. Dos
filhos de Jeje que ficaram perdidos, sem conhecimento sobre Voduns, uns mudaram
de nação e outros resolveram investigar, buscar, pesquisar suas origens e
levantar a bandeira da nação. Hoje, graças a essas pessoas, a nação Jeje
voltou a crescer e a seguir a cultura que foi deixada pelos escravos. Hoje,
encontramos kwes e pessoas que realmente sabem o Culto dos Voduns, esses
aprenderam na ≉própria carne≉ a passar seus conhecimentos e não deixar que
nossa nação venha a sofrer novos abalos ou quedas. Com a proliferação de
estudos e pesquisas sobre os Voduns, alguns dos mais velhos que ainda estão
vivos resolveram colaborar e nos passar alguns conhecimentos. A primeira coisa
que os adeptos do Jeje devem aprender é a diferença entre Voduns e Orixás,
(esse assunto vocês encontram no tópico Jeje Éfrica). Vodum é Vodum,
Orixá é Orixá; Oya não é Vodum Jô. Aziri não é Oxum, Naetê não é
Yemanja, etc. Assim como na Éfrica, também fazemos Orixás dentro dos templos
de Vodum, mas isso não os transforma em Voduns, eles são considerados deuses
estrangeiros, aceitos em nossos templos. Esses Orixás são tão respeitados e
venerados quanto os Voduns. Não existe discriminação nenhuma em relação aos
dois deuses (Voduns/Orixás). Em templos de Orixás, também encontramos Voduns
feitos, a única diferença é que no Jeje, não mudamos os nomes dos Orixás.
Para nós Oya, Yansã são conhecida exatamente como Oya, Yansã. Já os Voduns
em templos de Orixás mudam de nome, por exemplo, Vodum Dan/Bessen recebe o nome
de Oxumarê, Sakpata recebe o nome de Omolu, etc. Esse diferença também é
registrada na Nigéria, então, não é ≉coisa de brasileiro≉. Falar sobre
os Voduns é uma tarefa de muita responsabilidade. No meu caso é o resultado de
30 anos vividos dentro do culto, somado as minhas pesquisas e estudos. Os Voduns
são agrupados por famà lias; Savaluno, Dambirá, Davice, Hevioso; que se
subdividem em linhagens. A sociedade daomeana é patrilinear e polà gena, isto
é, dá-se por linha paterna; o homem é casado com diversas mulheres. A
sociedade organiza-se em sibs, grupos de irmãos que têm a mesma mãe e o mesmo
pai, sem base territorial própria e subdividem-se em famà lias. No Brasil, as
casas de santo cultuam todas as famà lias, porém, os Voduns são interligados
entre si com comportamentos, costumes, gostos e atitudes sempre gerados pelo
ancestre ou chefe de da casa. Em minhas pesquisas encontrei mais de 450 Voduns;
alguns cultuados no Brasil outros não. Acredito que com esse resgate poderemos
ampliar nossos cultos e voltar a reverenciar Voduns, que tinham desaparecido
devido a falta de informações, assim como admitir em nossos templos esses
Voduns encontrados. O Brasil herdou vastos panteões de divindades que ficaram
regionalizados de maneira que somente alguns Voduns tiveram domà nio nacional A
cultura dos Voduns é belà ssima; penso que todos nós, filhos da nação Jeje,
devemos procurar aprender cada dia mais. Afirmo que, os maiores fundamentos de
Voduns estão embutidos nessa cultura. Comprovem!... DAN TOGUN TOBOSSI HEVIOSO
NAES DAS AGUAS OCEANICAS YEWA TOHOSSOU SAKPATA AVEJI DA NAES DAS AGUAS DOCES FA
NOHÉ AIKUNGUMAN VODUNS DA RIQUEZA NANÉ EKU E AVUN
VODUM DAN/BESSEN
Aido Wedo(aidô uêdô) e Dambala são para o povo Jeje os maiores deuses. Aido
Wedo é o arco-Ãris e Dambala a sua imagem refletida nas águas oceânicas. O
Dangbé é a serpente sagrada que representa o espà rito de Vodum Dan. Na Éfrica
esse Vodum é conhecido como DA. Dada - Termo pelo qual o Vodum Dan é louvado.
A coroa de Dan é chamada de Coroa de Dada. Dan tanto pode ser um Vodum
masculino quanto pode ser um Vodum feminino, porém para tratá-lo, fazê-lo ou
assentá-lo temos que cuidar sempre do casal. Como dizem os antigos "cobra não
anda sozinha, seu parceiro esta sempre por perto". Dambala também é conhecida
como Daidah (daÃdar) ≉ A "Cobra≉Mãe". Essa Vodum não pode ser feita em
mais de duas pessoas num mesmo paà s. Os velhos vodunos contam que ela é
originária da Palestina. Em uma outra versão, encontramos Daidah como Lilith,
a primeira mulher de Adão.

No Brasil encontramos cerca de 48 Voduns Dans, na Éfrica encontramos muito mais
que isso. Essa famÃlia é muito grande. Dan é um Vodum muito exigente em seus
preceitos, muito orgulhoso e teimoso. Quando tratado corretamente, dá tudo aos
seus filhos e a casa de santo, mas se tratado de maneira errada ou se for
esquecido castiga severamente. Vodum Dan é muito fiel a casa e a mãe/pai de
santo que o fez. Os sà mbolos de Dan, são: o arco-à ris, a serpente pithon, o
traken ou draka, patokwe, o dahun , a ..takara. e o ason (assôm). Seu principal
atinsa (atinsá) dentro de uma casa de Santo é denominado Dan-gbi , que é onde
o arco-Ãris se encontra com a terra ("panela lendária do tesouro!"). Dan usa
muitos brajás feitos de búzios. As aighy (aigri), são importantissimas em
seus assetamentos e atinsas. Para nós, Vodum Aido Wedo é o verdadeiro deus da
vidência, é ele junto com Vodum Fa, quem dá aos bakonos o poder do oráculo,
assim como deu a Yewa e a Legba. Aido Wedo e Dambala são quem sustentam o mundo
e quando eles se agitam provocam catástrofes como os terremotos. Eles fazem
parte da criação do mundo, pois vieram ajudar Nana Buluku nessa tarefa. Nos
arcos-Ãris da lua e do sol também encontramos Voduns Dan. Ao se iniciar um
filho de Dan, preceitos são feitos para que esse Vodum venha sempre em forma
humana e nunca em forma de serpente, pois entendemos que na forma humana ele é
menos perigoso e entende melhor os homens, podendo assim atender suas
necessidades e suprà -las. Na forma de serpente torna-se muito perigoso. De modo
geral os filhos de Dan são muito chegado a doenças, principalmente de olhos.
São pessoas vaidosas, ambiciosas, "perigosas", espertas e inteligentes. São
muito dedicados ao santo e dificilmente saem da casa onde foram feitos. Vestem
branco em sua grande maioria. Alguns usam cores verde bem clarinho, prateado, ou
tecido liso com o arcoà ris estampado. Seus fios de conta variam de acordo com
cada Vodum, não existe um modelo padrão. Sua louvação principal é: A Hho bo
boy = "Salve o rei cobra" ( Hho = rei, bo boy = Dans, serpentes, cobras). Abaixo
citarei alguns Voduns Dans. Aido Wedo - (encontramos várias formas de escrever
o nome dele) - Deus do Arco-Ã ris Dambala - esposa de Aido-Wedo, seu reflexo nas
águas. Dan-Ko - muito ligada e, por vezes confundida, como Oxalá. Conhecida no
Brasil como Dan Inkó. Ojiku - masculino, mora junto com Yewa na parte branca do
arco-Ãris e reina no arco-à ris da lua, também junto com Yewa. Frekwen -
feminina, guardiã do arco-à ris em volta do sol. Também conhecida como
Frekenda. Bosalabe - toqüeno, feminina, irmã gêmea de Bosuko, irmã de Yewa.
Muito alegre e faceira, mora nas águas doce. Muito confundida com Oxum. também
conhecida como Vodum Bosa (bôssá). Ijykun - feminina, mora nas enseadas. Muito
confundida com Yewa. Bosuko - masculino, toqueno, gêmeo com Bosa Akotokwen -
masculino, considerado o pai de muitos Dans. Afronotoy - masculino, mora no rio.
Vocabulário traken ou draka dahun takara ason (assôm) aigry (aigri)
-
ferramenta pequena que Dan tras nas mãos conjunto de 3 tambores brancos
paramentados com rafia lilás arma que Dan tras nas mãos, parecendo um pequena
espada, com feitio próprio. chocalho feito com uma cabaça e com as vertebras
de cobra pedras que representam o excremento de Dan e são deixadas por ele no
chão, à sua passagem; dizem que elas valem peso de ouro. Um mito nos conta que
os excrementos de Dan transformam os grãos de milho em búzios.
1 - Dan no Benin - Ouidah O culto de Dangbé conheceu seu apogeu em Ouidah, onde
está seu templo até os dias de hoje. Os Dadas, seus adeptos, anualmente,
faziam sacrifÃcios de bois, cabritos e frangos para a python. Atualmente, devido
à escassez de animais para sacrifà cio, os adeptos arriscam-se caçando roedores
Logo que um não adepto descobre uma Dangbé em sua casa, previne o sacerdote
Dangbénon ou a uma pessoa que conheça os costumes deste réptil. Eles pegam a
cobra como um fetiche em sua mãos ou ao redor do pescoço e levam-na,
silencioso e concentrado, até o templo. Eles acreditam que a picada da python
traz imunidade contra qualquer veneno

Dan é, freqüentemente, representado por uma serprente (python) ou um arco-à -
ris. A primeira vista, alguns historiadores comentam tratar-se de ofiolatria.
Mas a serpente de que se trata aqui é um espà rito que habita o espaço e cujo
deslocação determina os ciclones. Dan apreende-se do princà pio vital do qual
depende os seres humanos para manterem-se vivos e a terra em equilà brio. Para
escapar de Dan, basta friccionar o corpo com boldos de cebola ou xingá-lo com
palavras bem grosseiras. Ainda sob a forma humana, Dan pode entrar em casas. Os
que o acolhem são recompensados com tesouros mas, quem o afasta, é
amaldiçoado. Dan é muito guloso, grande apreciador de bananas e óleo de
palma. Recebe estas oferendas na frente de um pequeno par de assentamentos que
representam Dan macho e Dan fêmea Sua morada é o firmamento, onde se encontra
sob a forma de arco-à ris (Aido Wedo). Não se mostra nunca sem sua fêmea.
Conta-se que há dois arco-à ris, mesmo que só consigamos ver um, e que antes de
sua ascensão, teria vivido 41 anos no nosso mundo. A configuração dos paà ses,
o lugar das cidades, os acidentes geográficos (montes, vales), são os vestà -
gios de sua estada prévia em nosso mundo e o arco-à ris, vestÃgios de sua estada
remota. Os homens (sobretudo os caçadores) que Dan quer enriquecer, conduzem-no
por uma força invisà vel ao local onde é chamado o rabo do arco-à ris e são
induzidos a tocarem na terra. Os homens têm como efeito desta força invisà vel,
um desejo de fazerem uma profunda escavação no que acham ouro, pérolas, toda
sorte de tesouros. Dan protege nomeadamente o Danson, o Dansi e o Dannou. A
pessoa consagrada ao Dangbé é um Dangbési. 2 - A Floresta Sagrada A floresta
foi consagrada pelo rei Kpassé, Ouidah, onde fizeram um cà rculo mágico,
silencioso, transparente ao ar. Os grandes deuses fixam seus duros olhos.
Heviosso, Dan, Sakpata. E também os Voduns reais como Dâguessou, protetor do
rei Ghézo, com seus poderes contidos em pequenas cabaças, fetiches em forma de
bracelete. É entrada, o grande Legba figura numa expressão profana sob os
irokos centenários, Tokougagba conta com os irmãos e todo o panteão dos
Voduns. E toda a rota dos escravos é demarcada por esculturas de pedra, limite
de uma memória fascinante e triste. Meus comentários: (Yatemi Jurema de
Yansã) Alguns segmentos Jeje no Brasil, não concordam que se deva tratar do
casal de Dans. Outros usam esse procedimento somente para alguns Dans. Pelo que
aprendi e pelo que lemos sobre o culto de Dan no Benin, podemos constatar que o
correto é tratar do casal realmente. Vodum Dan (Haiti) O Haiti pertenceu ao à -
ndios de Taino, antes do encontro com Columbus. Muito da cultura (filosofia e
prática) do povo Taino, foram absorvidos, mas tarde, à Vodou, como mostra o
retrato mÃstico do panteão da serpente, realizado como um deus Afro-Taino. Para
os haitianos, Danbala, a divina serpente patriarcal, é um espà rito antigo da
água associado com a chuva, a sabedoria e a fertilidade. Aprece entrelaçado,
geralmente, com sua esposa Ayida Wedo, o arco-à ris. Danbala é sincretizada com
St. Patrick (quem dominou as serpentes), outras vezes com Moisés, o patriarca
dos dez mandamentos cristão. Em muitos templos, uma bacia com água é
permanentemente mantida para este Lwa. Muitas representações desta divindade
incluem o principal alimento sacrificial de Danbala um ovo. As bonecas de Voodoo
Um objeto simpático, foram usadas em muitas culturas, desde os primórdios
tempos. O homem pré-histórico foi conhecido criando bonecas que representavam
sua caça, para enfraquecê-las antes de saà rem para caça-las. Os reis e
antigos guerreiros também usavam a "força" destas bonecas antes de irem ao
encontro de seus inimigos, nas grandes batalhas. Hoje, os praticantes de Voodoo
e as bruxas utilizam este objeto mágico e obtêm resultados rápidos e eficazes
para uma variedade de finalidades. Entretanto, as bonecas Voodoo não possuem
nenhuma mágica, elas são usadas como uma ferramenta para canalizar energias
pessoais para um objetivo especà fico. Danbala O espà rito de Danbala é a
serpente e o arco-Ãris, uma força de vida. Aido Hwedo, um macho, é descrito
às vezes, como uma criatura, serpente e arco-à ris, que engole sua própria
cauda. No Haiti, onde os ritos ancestrais e os cultos público se fundiram,
Danbala Hwedo e seu marido se fundiram e foram consagrados um deus superior na
hierarquia espiritual. Transformou-se no mais velho e respeitado de todos os
Lwas. Juntos, formam o grande arco-Ã ris que cobre o oceano. Alternadamente, o
arco-Ãris e seu reflexo na água, que fazem o movimento de giro em um cà rculo.
Alguns dizem que Danbala tem um pé firmado no fim do arco-à ris, na umidade da
água, e o outro pé plantado firmemente nas montanhas do Haiti. Danbala move-se
assim, entre os opostos da terra e da água, como as serpentes, unido-os em sua
rotação, movimentos urobóricos, gerando a vida. Danbala cava túneis também

através da terra, como as serpentes, conectando a terra acima com as águas
abaixo. Antes de se casarem, seus

seguidores oferecem-lhe sacrifà cios. textos traduzidos de Sites do Haiti. Se
você souber os endereços basta enviarme um e-mail que colocarei aqui.
TOGUM
Togum, veio do orum para fazer a ligação com o aiye através do mistério do
ferro. Desta forma, pode criar cidades na selva, a evolução com o
desenvolvimento da tecnologia do metal Há um estudo cientà fico que diz que a
oxidação do ferro no fundo do oceano, gerou bactérias de onde surgiram os
primeiros seres no começo da evolução. Não se pode afirmar que tenha sido o
ferro o gerador desse fenômeno, mas algum tipo de mineral simbolizado pelos
pontos de ferro. Togum/Gum/Gu, é um ToVodum masculino guerreiro que usa um pó
vermelho extraÃdo de uma árvore que simboliza a procriação primordial para a
sobrevivência e essa é uma das razões dele não gostar que, em seus
assentamentos, hajam ahuinhas. É dono de todos os metais, principalmente o
ferro e o aço além de todos os objetos cortantes: akiriké, farim, magoge,
etc. Por ser um guerreiro muito afoito, Togum não tem fronteiras, entra em
qualquer lugar em busca do inimigo e da vitória. Nessas investidas, Togum conta
sempre com Legbá, seu companheiro e amigo incansável, que o ajuda nos combates
mas que se diverte com a fúria de Togum. Ao mesmo tempo que é gentil, Togum é
muito impaciente e quer tudo a tempo e a hora. Tem, em sua natureza, um sentido
de competição, de vigor, de expansão e de agressividade, sempre pela
sobrevivência. É muito severo com seus filhos no cumprimento de suas
obrigações. Quando Togum chega, anda por todo o kwe e se encontrar alguma
coisa fora do lugar, fica bravo e chama a atenção, exigindo que tudo esteja
corretamente em seus lugares. Algumas vezes, ele mesmo faz tudo, colocando as
coisas em ordem Togum toma para si a guarda do kwe onde mora, disputando com
Legba a segurança. Em uma ahuan(guerra), Togum mostra toda a sua fúria e poder
de luta. Dificilmente um kwe de Jeje perde uma ahuan, pois Togum, com todo o seu
humpayme, garantem a vitória. Todos os narrunos são regidos por Togum. Na
Éfrica, somente os vodunos de Togum podem oficiar o ritual de narruno. No
Brasil, apenas algumas casas tradicionais seguem o modelo africano. O número
três está intimamente ligado à Togum. É um número fudamental
universalmente. Exprime uma ordem intelectual e espiritual, em AvieVodum, no
cosmo ou no homem. Sintetiza a triunidade do ser vivo ou resulta da conjunção
de um e de dois, produzindo, neste caso, a união do orum e do aiye. A cólera e
a irritação de um guerreiro, no seio de uma guerra, manifestam-se através de
três rugas que se formam na testa: então, ninguém ousa aproximar-se ou falar.
Existem vários Voduns pertencentes a linhagem de Togum. O mais velho deles é o
Vodum Guyugu que, como os demais Voduns, participou de várias batalhas, saindo-
se sempre vitorioso. As cores das contas de Togum, variam de acordo com o Vodum.
Podem ser: azulão, azulão e branco, vermelho, verde e branco, podendo sofrer
mudanças se o Vodum feito assim desejar. Suas vestimentas podem ser: branca,
azul, dourada ou estampada, que é a sua preferencia. Seus dias de culto são:
segunda ou terça-feira, dependendo do Vodum. Sua folha predileta é a abre-
caminho, sendo que existem muitas folhas para Togum. Togum é quem abre o portal
para o desenvolvimento da nossa verdade.
AS TOBOSSIS
As Tobossis são Voduns infantis, femininas, de energia mais pura que os demais
Voduns. Pertenciam à nobreza africana, do antigo Dahome, atual Benin. Eram
cultuadas na Casa das Minas, em S.Luiz/Maranhão, até a década de 60. As
Tobossis gostavam de brincar como todas crianças e falavam em dialeto africano,
diferente dos Voduns adultos, o que dificultava muito entendê-los. Sem contar
que, muitas das palavras elas falavam pela metade. Elas vinham três vezes por
ano, quando tinha festas grandes, que duravam vários dias. A chefe das Tobossis
é Nochê Naé, a grande matriarca da famà lia Davice,ancestral da famà lia real
de Dahome, é considerada a mãe de TODOS os Voduns.

As Tobossis têm cânticos próprios,dançavam na sala grande ou no quintal, sem
os tambores e, como todas as crianças, adoravam ganhar presentes e brincarem
com bonecas e panelinhas. Comiam comidas igual às nossas, junto com todos e
tinham o costume de dar doces e comidas às pessoas. Sentavam-se em esteiras.
Pela manhã, tomavam banho, comiam e depois dançavam. Gostavam de dançar no
quintal, em volta do pá de ginja delas. Por serem crianças puras, tinham mais
afinidade com o corpo permitindo assim, uma ligação mais direta que os Voduns,
que são adultos. Não tinham falhas, não se irritavam. Seu papel no culto era
só "brincadeira". Eram espà ritos perfeitos e mais elevados. Os Voduns podem ter
falhas, as meninas não. Passavam até nove dias incorporadas em suas gonjaà ,
diferente dos Voduns que deixavam as filhas muito cansadas. Tinham um tratamento
melhor do que o dos Voduns por serem mais delicadas, porém os Voduns são mais
importantes por terem mais obrigações. Podemos observar similaridade entre as
Tobossis do Mina Jeje e os Erês dos Candomblés da Bahia e dos Xangôs de
Pernambuco, pelo comportamento infantil. No entanto, os Erês apresentam-se
tanto com caracterÃsticas femininas quanto masculinas e as Tobossis são,
exclusivamente, femininas, dengosas e mimadas. FEITURA DAS TOBOSSIS O processo
de feitura das Tobossis inicia-se, normalmente, com o Vodum principal da Casa
apontando um grupo de filhas, já iniciadas anteriormente, as voduncirrês, para
a feitura de Tobossi. As voduncirrês passam por uma fase de iniciação que tem
a duração de quinze dias, nos quais há algumas festas. É uma feitura
própria, um novo rito de passagem na graduação da iniciada no Mina Jeje. O
barco composto dessas voduncirrês é chamado de Barco das Novidades, Barco das
Meninas ou Rama. Essas voduncirrês tornam-se noviches, prontas para receberem
suas Tobossis, passando a serem chamadas gonjaà . As Tobossis só são recebidas
pelas voduncirrês gonjaà . O último barco que se tem conhecimento foi realizado
em 1913-1914. No processo de iniciação, as Tobossis eram chamadas de
sinhazinhas e, somente ao fim das feituras, é que davam seus nomes africanos.
Também eram por nomes africanos que elas chamavam as filhas da Casa. Esses
nomes eram escolhidos pelas Tobossis junto com os Voduns e esses nomes eram
divulgados no dia da "Festa de dar o Nome". Cada Tobossi só vinha em uma
gonjaà e, quando esta morria, elas não vinham mais, sua missão ali se
encerrava. Desde a morte das últimas gonjaà , por volta dos anos 70, as Tobossis
não vieram mais. As Tobossis só incorporam em suas gonjaà após os Voduns
terem "subido". Elas chegavam alegres, batendo palmas e acordando a Casa. No
Peji, há um lugar para as obrigações das Tobossis, que é uma feitura muito
fina e especial. VESTIMENTAS E APETRECHOS DAS TOBOSSIS Os trajes e apetrechos
das Tobossis são muito elaborados. As Tobossis vestiam-se com saias coloridas,
usavam pulseiras chamadas dalsas, feitas com búzios e coral, pano-dacosta
colorido, o agadome, sobre os seios, deixando o colo e os ombros livres para o
ahungelê, uma manta de miçangas coloridas, presa no pescoço, objeto de grande
valor e significado. O ahungelê também era chamado de tarrafa de contas, gola
das Tobossis ou manta das Tobossis, sendo considerado um distintivo étnico-
cultural do Jeje. Ele conta a história particular da Tobossi vinculada ao
Vodum, sua famÃlia e a iniciada, gonjaà . As Tobossis usavam ainda, vários
rosários, fios-de-contas e o cocre, colar de miçangas curto, junto ao pescoço
como uma gargantilha, usado pelas Tobossis e pelas gonjaà durante o ano de
feitura, cuja cores variam de acordo com seus Voduns, semelhante ao quelê dos
terreiros de Candomblé. No Carnaval, as Tobossis vestem-se com saias muito
vistosas, aparecendo o agadome que envolve o colo nu e os pés são calçados em
sandálias finas. Os trajes das Tobossis são muito elaborados, de uma
construção artesanal, que segue com rigor uma linguagem cromática, própria e
do domÃnio das Tobossis. A PARTICIPAÉÉO DAS TOBOSSIS NAS FESTAS Quando
apareciam publicamente, as Tobossis vinham cumprir certas obrigações,
destacando-se a festa do Carnaval. As Tobossis vinham três vezes por ano: - Nas
festas de Nochê Naé - em junho e no fim do ano - No Carnaval As grandes festas
duravam vários dias. O Carnaval é uma comemoração da qual participavam os
membros do Barracão e visitantes. No Carnaval, elas ficavam desde a noite do
domingo até as 14 hs da quarta-feira de cinzas. Na segunda-feira, alguns Voduns
vinham visitá-las. Eram recebidos pelas outras filhas da Casa, as voduncirrês.

Era das Tobossis a tarefa de tomarem conta das frutas do arrambam, obrigação
também conhecida como bancada, lembra a quitanda dos terreiros de Candomblé.
As frutas ficavam no Peji para serem distribuà das na quarta-feira de cinzas.
Durante o Carnaval, as Tobossis brincavam com pó e confete mas tinham medo de
bêbados e mascarados. Na terça-feira à tarde, dançavam na grande sala e na
quarta, pela manhã, dançavam em volta da cajuazeira. Distribuiam acarajé em
folhas de "cuinha" e depois despachadas. Durante as grandes festas de Nochê
Naé, elas vinham durante nove dias, entre os dias de dança, nos intervalos de
descanso. Ficavam durante o dia, cantavam suas cantigas próprias, dançavam na
sala grande e no quintal e brincavam com seus brinquedos. O reconhecimento de
cada festa/obrigação está no vestuário e nos alimentos. O alimento é uma
marca identificadora, compõe a divindade, seu papel, suas caracterà sticas no
contexto da ligação com os deuses e estabelecendo, ainda com o alimento, uma
forma de comunicação com os iniciados, visitantes e amigos do Barracão.
Fontes de consulta: O Povo Do Santo - Raul Lody Querebentam de Zomadonu -
Sérgio Ferretti
Hevioso
As informações mais antigas que encontrei sobre os Voduns do panteão do
trovão, datam do final do séc. XV e princà pio do séc XVI. Nas aldeias
lacustres, nos arredores do atual Allada, era cultuado o Vodum Setohoun (espà -
rito da laguna). Quando Setohoun chegou a aldeia de Hevie (reviê), os nativos o
batizaram com o nome de Hevioso ou Hebyoso (na minha opinião Hevioso seria o
mais correto, visto a sua tradução ser: hevi: nome da cidade e oso ou so: raio
= raio de Hevie). Em Dahomey ele recebeu o nome de Xevioso, quando chegou
trazido por uma nativa da aldeia de Hevie. Na cidade de Mahi era cultuado o
Vodum Djiso (djisô) na tribo Djétovi. Nesta mesma cidade, também eram
cultuados os Voduns: Gbame-so (bamé-sô) que tudo indica ser o mesmo Bade que
conhecemos no Brasil; Akhombe-so (acrombé sô); Ahoute-so (aroutêsô) e
Djakata-so (djacatá-sô). Vale assinalar que em toda a região do Dahomey atual
Benin, até os dias de hoje, todos esses Voduns inclusive o Orixá Shango são
chamados de SO (sô), que quer dizer raio. Sogbo era e ainda é, para o povo
daometanos a grande deusa, mãe de todos os Voduns So e irmã de Hevioso. Junto
com seu irmão lidera a famà lia. A partir do meado do séc. XVI o culto desses
Voduns se espalhou por todas as regiões do Dahomey. Com essa expansão, novos
Voduns foram surgindo. Vejamos alguns deles: Adantohun (adantôrrum) (seria o
que conhecemos como Soboadan?!) Ahuangan (arruangam) Alansan (alansam) Kasu Kasu
(cassu cassu) Saho (sarrô) Aden (feminina) Gbwesu (buêssu) Akele (aquêlé)
Besu (bêssu) Ozo (ôzô) Kunte (cuntê) feminina Naete (naêtê) feminina)
Beyongbo (beionbó) (feminina) Avehekete (averequéte) Dawhi (dauri) Hungbo
(rumbó) Salile (salilê) Agbe (abê) (feminina) Ahuangbe (arruambé) Contam os
vodunos e Hunos que devido as tribos litorâneas que prestavam culto aos xwala-
yun (deuses do mar) adotarem o culto a So, Agbe e Naete foram designadas a se
estabelecerem no mar junto ao grande Vodum Hun e que a partir daà , o culto dos
dois panteões se fundiram nos cultos. Ao nà vel de Brasil, por tudo que pude
constatar em minhas pesquisas, não vi muita diferença entre nosso culto e o
dos africanos. A maioria dos So que existem no Benin existe aqui também. No
Brasil é comum as pessoas chamarem todos os Voduns do panteão do fogo de
≉Sobo≉. Vejamos alguns Voduns e suas caracterà sticas: Kasu Kasu (cassucassu)
- Guerreiro que defende as aldeias e ou casas de santo onde é cultuado. Os
inimigos têm pavor de Kasu. Dizem que quando em luta ele cospe fogo sobre os
inimigos. Quando em guerras, Kasu coloca-se a frente da aldeia e ou casa de
santo e abre seus braços criando assim um obstáculo que impede os inimigos de
atacar. A tradução de seu nome é barreira. Sogbo (sobo) - Vodum feminina
considerada a mãe de todos os So. Faz trovejar para alertar os homens que os
deuses julgadores e da justiça estão insatisfeitos e que o trovejar é sinal
do castigo que está por vir. Djakata-so (djacatásô) - Muito forte. Em sua ira
arranca as árvores e as joga sobre os inimigos e aldeias. Defende seus filhos
mesmo que eles estejam errados, só não podem errar com ele. Hevioso (reviossÃ
´) - Seus raios rasgam os céus acompanhados dos trovões, destruindo cidades
inteiras e fulminando os inimigos. Dizem os Hunos que é preciso oferecer
sacrifÃcios ao deus do trovão para aplacar sua fúria. Ele odeia ladrões e
malfeitores e os mata. Quando esta, satisfeito, Hevioso dá a chuva e o calor
que tornam férteis a terra e o homem.

Akholongbe (acrolombé) - Ataca os inimigos ou castiga o homem enviando granizo,
ë faz os rios transbordarem. É ele quem controla a temperatura do mundo.
Quando está calmo e satisfeito, ajuda o homem dando-lhe bons movimentos
financeiros. Ajakata (ajacatá) - O grande guardião dos céus. Somente ele
possui as chaves que permite a entrada dos homens nos céus. Quanto aborrecido
envia as chuvas torrenciais. Gbwesu (buêssu) - É uma das mais calmas, é o
murmúrio dos trovões no horizonte. Akele (aquêlé) - É quem puxa as águas
do mar para o céu e a transforma em chuva. Alasan (alassam) - Talvez o mais
velho de todos. Ensinou ao homem o culto de So. Gbade (badé) - Jovem,
guerreiro, brigão, implicante, muito barulhento. Adora beber e quando o faz
arruma bastante confusão deixando todos atordoados. Adora esconder as coisa
(pertences) e se diverte em ver as pessoas procurando. No trovão ouve-se sua
voz gritando para que os homens consertem o que está errado. Sua morada são os
vulcões. Adeen (adêêm) - É ela quem faz escurecer os céus e envia os relÃ
¢mpagos que fulminam. Sua mãe Sogbo ralha com ela dizendo: - Ahunevi
anabahanlan! (não mate as pessoas). Aden (adêm) - Vodum masculino do panteão
do trovão, que veste roupa branca. Dá as chuvas finas que faz as árvores
frutificarem e, em conseqüência, é guardião das árvores frutà feras. É o
mesmo Vodum Adaen conhecido no Brasil. Em um combate, mata os inimigos pelas
costas, não a traição. Todo cuidado é pouco para lidar com esse Vodum, pois
a primeira vista ele não demonstra seus desagrados. Ahuanga (arruanga) - Vodum
masculino muito velho e grande feiticeiro do panteão do trovão, filho de Saho.
Em um salto transforma≉se em fogo para proteger seus adeptos e queimar seus
inimigos, depois disso desaparece numa moringa. Tudo que é seu é enterrado.
Auanga (auangá) - Vodum masculino do panteão do trovão, irmão de Avehekete.
Habita as lagunas marinha. Suas águas engolem os ladrões. São muitos os
Voduns desse panteão. Os So ou Sobos não gostam de malfeitores e ladrões de
um modo geral eles se irritam e matam esses elementos. A água da chuva
depositada nos telhados é um dos seus maiores beko (becó (kisilas)). Também
não gostam de feiticeiros e bruxos e se esses se meterem com seus protegidos
Ele os fulmina. Os akututos (eguns) não constituem um beko para esses Voduns,
mas eles também não gostam muitos dos mesmo. Quando é necessária a presença
de um deles para afastar esses espà ritos, se fazem presente e com muita energia
os afugentam. Sua principal dança é o hundose (rundôssé (Brasil)) e o
dogbahun (dôbarrum ( Éfrica)). Pela descrição dessa ultima, acredito que
seja o mesmo hundose que conhecemos no Brasil. Sosiovi (sôssiôvi) é nome do
chocalho de So ou Sobo. Sokpe (sopé) é o machado de Hevioso, feito com pedras
de raio. Os Sos ou Sobos representam vida, saúde, prosperidade e vitórias.
fontes de pesquisa; Centro cultural Ceja Neji Pierre Verger Lê Herrisé
Voduns das Éguas Oceânicas
O oceano abriga uma variedade imensa de entidades, dentre estas, encontramos
muitos Voduns masculinos e femininas. Para falarmos sobre as Naês (mães) que
habitam o oceano, torna-se necessário falarmos dos Voduns masculinos que moram
com elas. Para os adeptos do culto Vodum o oceano é o grande Hu-Non (ru-nom),
considerado o maior de todos os Voduns. Naete (naêtê) e seu esposo Vodum Hou
(rou) são os deuses que reinam esse universo oceânico. Enquanto Naete fica nas
águas calmas, Vodum Hou desbrava todas as regiões e dá a cada Vodum suas
tarefas. Naete (naêtê) - Vodum feminino do panteão do trovão que habita as
águas calmas antes da arrebentação, esposa de Vodum Hou. Hou (rou) - Vodum
masculino do panteão do trovão casado com Naetê, pai de Aveheketi, trindade
muito cultuada e honrada nos templos do Trovão. Sua morada são as volutas
bramantes das ondas que arrebentam no litoral. Cada Vodum habita uma região do
oceano e têm uma função. Assim vamos encontrar: Vodum Nate (natê) - Vodum do
panteão do trovão que habita o mar. Adorado pelos pescadores e por todos que
trabalham no mar. É o grande guardião que habita em todo o oceano, mar e
praias.

Sayo (saÃô) - Vodum feminina do panteão do trovão, irmã de Avhekete. Habita
as ondas do mar que fazem o nà vel do oceano subir. Considerada como uma sereia
Vodum Tokpodun (tópôdum) - Vodum feminina, deusa do rio. Seu frescor traz
claridade para as cabeças e sua tranqüilidade traz a paz. Sà mbolo de beleza,
feminilidade, fertilidade, graça e caráter. Filha de Naete deusa do oceano,
irmã de Avhekete. Foi expulsa do oceano por seus irmãos por seu caráter forte
indo então, morar no rio. Vodum Tchahe (tchárrê) - Vodum feminina do panteão
do trovão, irmã de Avhekete. Habita o marulhar das ondas das águas oceÃ
¢nicas. Vodum Agboê (abôê) - Vodum masculino do panteão do trovão, filho de
Saho. Realiza tudo através de um talismã que preparou junto com seu pai.
Dança com muito vigor, gira em torno de si mesmo e transforma≉se na água que
é Hu, o mar. Depois disso sai e pede a uma vodunsi que recolha água do mar,
coloque em um ponte e a esquente. O resultado disso é o huladje, o sal. Vodum
Avehekete (averequéte) - Vodum masculino do panteão do trovão,muito agitado,
habita a arrebentação marinha. É quem leva as mensagens de seu pai, Vodum
Hou, à s divindades marÃtimas e aos homens. Costuma roubas as chaves de sua mãe
para da-las aos homens. Voduns gêmeos Dôtsê e Saho (dôtissê e Sarrô) - DÃ
´tse nasceu à noite e Saho de manhã. Ela tem um olho em um lado da terra e
Saho no outro lado. Considerados os Voduns que olham o mundo. Panteão do
trovão, habitam sobre o mar. Vodum Yedomekwe (iêdômêqüê) - Vodum feminina
que faz chover. Habita na evaporação das águas oceânicas. Goheji (gôrêji)
- Vodum jovem muito alegre e falante, habita o encontro das águas das lagoas
com o mar. Essa mãe gosta muito de passear pelas lagoas e lagos misturando-se
com os patos d'água em seu bailado e fica muito aborrecida se algum caçador
mata ou fere uma dessas aves. Veste roupas azul, verde água, prateado com rosa
clarinho ou azul. Gosta de adornos prateados, pérolas e perfumes suave.
Pertence ao panteão da terra. Quando Goreji resolve passear em águas oceÃ
¢nicas, os cavalos marinhos que a adoram ficam ao seu dispor para transportá-la
e passear com ela. Em seu assentamento podemos colocar bonecas coloridas e
outros brinquedos de menina. Vodum Aboto - habita as águas doces profundas que
desembocam no mar. É sempre confundida tanto como Oxum quanto como Yemanja. Uma
das Voduns mais velha do panteão da terra. Veste branco, branco com amarelo,
amarelo clarinho, suas contas são amarelo pálido. Gosta de adornos dourados e
perfume. Não gosta de muito barulho perto dela. Fica fascinada com o barulho
dos búzios em movimento com as águas e faz desses seu oráculo. Os gêmeos
Dazodje (dázôdjê) e Nyohuewe Ananu (niôrruêuê ananú) - habitam nas
riquezas depositadas no fundo do mar e são considerados os Voduns da Riqueza.
Não são feitos na cabeça de ninguém. Erzulie (erzúliê) - Vodum feminino
que habita o reino abissal, pertence ao panteão da terra. É considerada a mãe
de Agué e Olokwe. Essa Vodum também é conhecida como Erzulie-Dantor, poderosa
conhecedora da alta magia. Dizem os bakonos que ela se assemelha a Netuno, pois
está sempre tentando levar toda a humanidade para habitar o oceano. Ela diz que
todos os humanos têm a capacidade dos anfà bios e que todos se originaram do
fundo do mar. Alguns acreditam que é um Vodum andrógino. Em momento de
afogamento devemos chamar por Vodum Abe (abê) e Vodum Sayo para que essas
convençam Erzulie que nosso lugar é na terra. Oulisa (oulissá) - Vodum
masculino que habita as águas claras e frias do oceano. Esse Vodum é sempre
muito confundido com Lisa (lissá) ou Oxala. Veste branco com detalhes prateado
ou dourado. É um Guerreiro dos Mares. Panteão da terra. Abe (abê) - Vodum
feminina irmã de Bade, panteão do trovão. Habita as águas revoltas do
oceano. Sempre que acontece um naufrágio é ela junto com Vodum Sayo que tentam
salvar os náufragos. Considerada uma das mais velhas mães do mar, sempre
substitui Naete, quando essa precisa se ausentar do reino. Noche Abe é
considerada a palmatória do mundo, cabe a ela mostrar as verdades e não deixar
que essas sumam nas águas, dizem os antigos que o ditado "A verdade sempre anda
sobre as águas, nunca afunda, um dia ela aparecerá na praia" foi dito por Abe.
Assim como Erzulie, Abe é conhecedora de alta magia. Veste branco, azul muito
clarinho. Existe uma grande confusão entre o nome desta Vodum com as Voduns Abe
Huno (abé runô), Abe Gelede (abé geledê), Abe Afefe (abé afêfê) que são
Voduns guerreiras dos raios, tempestades e ventos. Naê Aziri - Vodum das águas
doces que muito se assemelha ao Orixa Oxum. Panteão da terra. Essa Vodum é
muito confundida com a Vodum Azihi-Tobosi (aziri-tobossi) que habita o alto mar
e é a protetora de todas as embarcações que navegam no oceano. Afrekete
(afrequéte) - é a mais jovem e mimada Vodum do panteão do trovão, habita em

todo o oceano. Junto com Nate(natê) desempenha o papel de Legba, guardando os
mares. Protege os pescadores e pune todos aqueles que insultam os deuses e
habitantes do mar. Quando vê uma embarcação pirata, agita as águas para que
essa naufrague e após esse, entrega todo o tesouro encontrado aos Voduns da
riqueza e os mortos à Abe Gelede (abé). Aouanga (auangá) - Vodum masculino do
panteão do trovão, irmão de Avehekete. Habita as lagunas marinha. Suas águas
engolem os ladrões.

Agoen (agôêm) - Vodum filho de Saho, reina na areia branca que cobre o chão
das praias e oceanos. Agwe (agüê) - Vodum feminina do panteão da terra que
habita sobre as águas oceânicas. Muito afetuosa, está sempre atenta as
necessidade alimentares do homem e os ajuda a prover sua mesa, usando sua arma
principal, a dam (rede). São tantos os Voduns que habitam as águas oceânicas
que torna-se impraticável descrever todos aqui nesse espaço. Temos em nosso
culto uma linda cerimônia denominada GOZIN (gozim) onde fazemos oferendas Ã
todas as divindades que habitam as águas. É um momento muito sublime, de uma
energia indescritÃvel. Quando "gritamos" Agoki-Agoka (agôqui-agôcá) podemos
perceber a chegada de cada um deles. Não poderia deixar de citar o mito do
monstro marinho Mokele-Mbenbe (môquêlêbêmbê), animal do tamanho de um
elefante, um pescoço longo, um único chifre e uma enorme calda envolada que
ataca as embarcações. Muito temido e respeitado em todo o Dahomey até os dias
de hoje. E na Hou nule ye! (É ná rou nûlê iê!) (Que os deuses do oceâno
abençoem vocês!)
Yewa
Yewa é um vodum feminino da famà lia Dambirá. Filha de Toy Azonze e Dambala,
irmã de Boçalabê nasceu para ser o sà mbolo da pureza e da beleza dos deuses.
Do nascimento a fase adulta Yewa viveu na famà lia de Dan onde representava a
faixa branca do arco-à ris onde também mora Ojiku. Recebeu de Dan Wedo o poder
da vidência, da riqueza, e todos os corais que existiam no mar que ela pegava
com seu arpão. A beleza fà sica de Yewa encantava a todos que olhassem em seus
olhos, mas essa nunca se encantava com ninguém pois era o sà mbolo da virgindade
e da pureza. Muitos homens se apaixonaram por ela e todos foram punidos pelos
deuses pois sabiam que era proibido amar a grande Virgem. Yewa adorava ver o por
do sol e sempre saÃa a passear pelos campos floridos acompanhada por dois bravos
guardiões que não permitiam que ninguém se aproximasse dela. Era um casal de
gansos branco, lindos e majestosos. Certo dia, estava Yewa a apreciar o por do
sol, quando uma galinha, se aproveitando da distração dos gansos, aproximou-se
e ciscou muita terra sobre as vestes brancas de Yewa, essa se enfureceu e
amaldiçoou a galinha e daà para frente nunca mais quis ver uma em sua frente
como também resolveu mudar suas roupas para as cores do por do sol. Certo dia,
Yewa avistou um belo homem, um guerreiro e se encantou por ele. Yewa enfrentou e
desafiou todos os deuses por amor a esse homem e teve como castigo o exà lio. Foi
expulsa da famÃlia de Dan e considerada a cobra má. Durante seu exà lio, Yewa
teve que fugir e esconder-se da fúrias dos deuses. Em sua primeira fuga, Yewa
contou com a ajuda de um grande caçador e guerreiro, Odé, que a escondeu nas
profundeza das matas escuras, em terras yorubanas. Vendo-se em um lugar sombrio
e sem recursos de sobrevivência a sua disposição, Yewa aceitou um ofá que
Odé ofereceu-lhe. Aprendeu a caçar junto com ele e com os demais caçadores. A
beleza de Yewa encantava e perturbava Odé e aos demais que viviam nas matas,
pois eles sabiam que não podiam se apaixonar por ela, temiam a fúrias dos
deuses. Odé então, fez para Yewa uma coroa de dans e folhas de palmeiras
desfiadas. Mandou que ela a coloca-se, assim ninguém se aproximaria dela com
medo das dans e as folhas desfiadas da palmeira esconderiam sua beleza
contagiante. Yewa gostou do presente pois viu nesse, a possibilidade de
esconder-se dos deuses e livrar-se de sua fúria. Com o uso dessa coroa Yewa
pode sair da escuridão das matas e ir apreciar o que mais ela amava e
representava ... o por do sol. Faltava-lhe seus guardiões, pediu ajuda a Odé e
esse caçou para ela um casal de gansos negros, pois foram os únicos que
encontrara. E assim, Yewa passou a ver e a viver o por do sol novamente em seu
exÃlio. Passado um tempo, Toy Azonze foi aos deuses pedir por sua filha Yewa que
já tinha sido por demais castigada. Depois de muitos pedidos e oferendas aos
deuses, esses concederam a Azonze a guarda de Yewa que deveria morar com ele.
Azonze embrenhou-se nas matas a procura de sua filha e a encontrou junto a Odé.
Como agradecimento por tudo que fez por Yewa, Toy Azonze deu a Odé um par de
chifres e o poder de chamá-lo e aos espà ritos da caça quando assim precisasse.
Yewa foi morar no reino dos mortos junto com Azonze e com esse passou a exigir o
cumprimento da moral e dos bons costumes. Em sua nova morada Yewa recebeu o
caracolo/aracolê onde guarda os segredos dos ancestrais e os invoca quando é
necessário, e o eruxim com o qual espanta os egum para o caminho de Oya. Sempre
que possÃvel, Yewa engana Eku e salva uma vida.

Yewa é um Vodum rarà ssimo de ser encontrado no TA (cabeça) de alguém. A
feitura de Yewa deve ser sempre em TA de virgens e nunca em TA de homens. Por
ter o poder da vidência, Yewa tem o poder de nos livrar do "olho grande" e das
invejas. Quem sabe cuidar desse Vodum, se livra facilmente dos invejosos.
Encontramos Yewa tanto nas águas quanto nas matas e mundos subterrâneos
(aquático e terrestre), mas seu local preferido é sempre o horizonte, onde o
por do sol faz o encontro dos dois mundos e o céu se encontra com a terra,
"Isso é Yewa" dizem os antigos. Ojiku é um Vodum Dam que sempre é muito
confundido com Yewa, assim como Boçalabê que é sua irmã. Ojiku é
considerado a Cobra branca e Boçalabê é uma Vodum das água doces, muito
confundida com Oxum. Em muitas pesquisas e entrevistas que fizemos pudemos
constatar a confusão e controvérsias que as pessoas fazem em relação a Yewa
e esses dois Voduns.
Tohossou: Vodum Protetor dos Deficientes FÃ sicos e Mentais
Por séculos, em todo o mundo, as crianças nascidas em circunstâncias
especiais, eram mortas pois eram segregadas e rotuladas como seres de mau
agouro, diabos ou que perpetuavam a miséria e o sofrimento de suas famà lias,
tornando-se assim, um estôrvo para seus pais. Eles eram assassinados, conforme
estabelecido pelo grupo, para serem poupados de uma vida com olhares fixos e
rejeições sociais. Não havia nenhuma recompensa em sacrificar uma vida
familiar cuidando dessas crianças carregadas de circunstâncias tão especiais.
Esta situação também estava presente na cultura dahomeana, até que um Vodum
especial, nomeou Tohossou para encarregar-se de mudar essa situação. Os
Tohossous são congregados de antepassados reais que surgiram durante o reinado
do Rei Akaba, o segundo rei do Dahomey (1685-1708). Eram conhecidos como "as
crianças e o guardião dos três rios", um lugar onde todos os antepassados
viviam, e todos que morriam passavam a viver neste sagrado reino subaquático.
Este Tohossou foi considerado muito poderoso e, frequentemente, era chamado para
batalhas quando tudo já havia falhado, pois era um vencedor certo com uma
rajada de sua poderosa espada. O Tohossou é agrupado com o "Neusewe" dahomeano,
grupo da maioria dos mais antigos antepassados, hoje conhecido como "Loko". A
primeira criança nascida com má formação fà sica e a fazer parte desse grupo
foi Zomadonu, filho mais velho Acoicinacaba. Zomadonu é quem comanda este
poderoso grupo de Trowo (espà ritos ancestrais) . Para este grupo eram feitos
sacrifÃcios e honras especiais. Infelizmente, foi durante o reinado do rei Glele
que deu-se a maior perseguição à s famÃlias dessas crianças. Elas eram
sacrificadas afim de poupar o reinado e suas famà lias. O mais significativo, é
que esses antepassados reais eram, frequentemente, ignorados e negligenciados
pelos próprios reis. Muitas tentativas foram feitas por esses antepassados para
atrairem a atenção dos reis em incentivá-los a dar-lhes as homenagens como
era a tradição, mas os reis se recusavam veementemente, então esses
antepassados se tornaram enfurecidos. Um dia, irritados, desceram na corte real,
nos corpos dos adultos fisicamente mal formados e começaram a destruição, a
devastação e a exalarem um cheiro forte e desagradável e, acima de tudo,
muita confusão e desespero, destruindo a corte e vilas inteiras. Imediatamente
o rei chamou os bakonons de Fa para verificarem qual era o problema e o que
poderia ser feito para acalmar esses espà ritos poderosos e irritados. Após um
consulta cuidadosa, Tohossou começou a falar. Além de exigirem que todos os
reis erguessem um santuário ao Vodum maior, Zomadonu, para que eles lhes
pagassem as devidas homenagens, exigiram também que a repercussão da "fama"
que os fÃsica e mentalmente abalados tinham fosse cessada. Declarou ainda que
daquele momento em diante eles eram os seus guardiões protetores. Por último,
propôs que, aqueles que nascessem naquelas condições, suas famà lias deveriam
erguer um pequeno santuário em suas casas e, os que assim fizessem, seriam
recompensados e abençoados com prosperidades especiais. Hoje, no Benin e em
Togo, as crianças que nascem com má formação fà sica ou deficiências mental
têm uma cerimônia especial e, em suas casas, um pequeno altar é consegrado
aos Tohossous. Assim, em vez de trazerem desgraças financeira e emocional à s
suas famÃlias, trazem bençãos.

Aqueles que ficam incapacitados devido a idade, ferimentos ou doenças, também
ficam sob a proteção dos Tohossous.
Sakpatá
Para o povo Jeje, Sakpatá foi trazido para o Dahomey, por Agajá, no século
XVIII, vindo da cidade de Dassa Zoumé, mais precisamente, da aldeia de Pingine
Vedji. Todos os Voduns, pertencentes ao panteão de Sakpatá, são da famà lia
Dambirá. Nesse panteão temos vários Voduns. O mais velho que se tem notà cia
é Toy Akossu, no transe, ele se mantém deitado na azan (esteira). Dizem os
mais velhos, que Toy Akossu é o patrono dos cientistas, ele dá à eles
inspirações para a descoberta das fórmulas mágicas que curarão as doenças
e as pestes. Ele é a própria "doença e cura", como também um excelente
conselheiro. Toy Azonce é um outro Vodum velho, porém mais novo que Toy
Akossu. Seu assentamento fica em local bem isolado do Kwe, sendo proibido tocá-
lo. Somente UMA pessoa designada por ele mesmo pode tratar desse assentamento.
É Toy Azonce quem sempre faz todas as honras para seu irmão Toy Akossu, quando
ele está em terra. Toy Abrogevi é um Vodum velho, filho de Toy Akossu, que
gosta de comer quiabo com dendê, paçoca de gergelim e fumar cachimbo de barro.
Toy Abrogevi gosta muito de Badé e se tornou muito amigo dele. Foi com Badé
que aprendeu a comer e a gostar de quiabo. São tantos Voduns desse panteão que
seria praticamente impossà vel descrever cada um aqui. Esses Voduns são
rigorosos no que tange a moral e os bons costumes. Nunca admitem falhas morais
dentro dos kwes e, quem faz essa fiscalização para eles é Ewá, filha de Toy
Azonce. As cores de contas e roupas usadas por esses Voduns podem variar de
acordo com o gosto de cada um. Todos usam roupas feitas de palha da costa sendo
umas mais curtas e outras mais compridas. Sakpatá usa todas as cores e o
estampado, sempre com a presença das cores escuras. Sà mbolo fortemente ligado a
Sakpatá, a palha da costa é a fibra da ráfia, obtida de palmas novas, extraà -
das de uma palmeira cujo nome cientà fico é raphia vinifera. No Brasil, recebe o
nome de Jupati. A palmeira é considerada a "esteira da Terra". A palha da
costa, tendo sua origem na palmeira, ganha o simbolismo universal de ascensão,
de regenerescência e da certeza da imortalidade da alma e da ressurreição dos
mortos. Um sÃmbolo da alma. Além de proteger a vulnerabilidade do iniciado, sua
utilização também é reservada aos deuses ancestrais, numa reafirmação de
sua ancestralidade, eternização e transcendência. Os Sakpatás podem trazer
nas mãos o xaxará, ou o bastão, a lança, o illewo ou ainda, uma pequena
espada. A maioria deles gostam de manter o rosto coberto pela palha da costa,
outros gostam de mostrar o rosto. Todos gostam muito de usar búzios e chaorôs
(guizos). O búzio, simboliza a origem da manifestação, o que é confirmado
pela sua relação com as águas e seu desenvolvimento espiralóide a partir de
um ponto central. Simboliza as grandes viagens, as grandes evoluções,
interiores e exteriores. É associado as divindades ctonianas, deuses do
interior da terra. Por extensão, o búzio simboliza o mundo subterrâneo e suas
divindades. O chaorô (guizo), tem simbologia aproximada a do sino, sobretudo
pela percepção do som. Simboliza o ouvido e aquilo que o ouvido percebe, o
som, que é reflexo da vibração primordial. A repercussão do chaorô é o som
sutil da revelação, a repercussão do Poder divino na existência. Muitas
vezes têm por objetivo fazer perceber o som das leis a serem cumpridas.
Universalmente, tem um poder de exorcismo e de purificação, afasta as
influências malignas ou, pelo menos, adverte da sua aproximação. Sem dúvida,
simboliza o apelo divino ao estudo da lei, a obediência à palavra divina,
sempre uma comunicação entre o céu e a terra, tendo também o poder de entrar
em relação com o mundo subterrâneo. O lakidibá, fio de conta de Sakpatá, é
feito do chifre do búfalo. Tem o sentido de eminência, de elevação, sà mbolo
de poder, um emblema divino. Ele evoca o prestà gio da força vital, da criação
periódica, da vida inesgotável, da fecundidade. Devemos lembrar que chifre, em
hebraico "querem", quer dizer, ao mesmo tempo, chifre, poder e força. O
lakidibá não sugere apenas a potência, é a própria imagem do poder que
Sakpatá tem sobre a vida e a morte. Na conjunção do lakidibá e do deus
Sakpatá, descobrimos um processo de anexação da potência, da exaltação, da
força, das quatro direções do espaço, da ambivalência.

Encontramos o lakidibá em duas cores: preto e branco. Ele também contém a
bondade, a calma, a força, a capacidade de trabalho e de sacrifà cio pacÃfica do
chifre do búfalo, de onde origina-se. Rústico, pesado e selvagem, o búfalo é
também considerado divindade da morte, um significado de ordem espiritual, um
animal sagrado. Na Éfrica, o búfalo (assim como o boi), é considerado um
animal sagrado, oferecido em sacrifà cio, ligado a todos os ritos de lavoura e
fecundação da terra. O lakidibá é entregue ao adepto somente na obrigação
de sete anos. Presença certa em tudo ligado a Sakpatá, o duburu (pipoca)
representaria as doenças de pele eruptivas, cujo aspecto lembra os grãos se
abrindo. Jogar o duburu assumi o valor e o aspecto de uma oferenda, destreza e
resistência. O ato de jogar se mostra sempre , de modo consciente ou
inconsciente, como uma das formas de diálogo do homem com o invisà vel. Tem por
alvo firmar uma atmosfera sagrada e restabelecer a ordem habitual das coisas, é
fundamentalmente um sà mbolo de luta, contra a morte, contra os elementos hostis,
contra si mesmo. Os narrunos para esses Voduns devem sempre ser feitos com o sol
forte e cada um deles especifica o que querem comer. Isso quer dizer que, não
existe uma única maneira de agradá-los. Eles não gostam de barulho de fogos
de artifÃcios. Uma vez por ano, os Kwes fazem um banquete para as Divindades do
Panteão de Sakpatá, onde devemos comer, dançar e cantar junto com os Voduns.
Os demais Voduns do panteão da terra, sempre são convidados a compartilhar
desse banquete. Os jejes acreditam que, com essa cerimônia oferecida a essas
divindades, todas as doenças são despachadas do caminho do Kwe e de seus
filhos. Esse banquete é colocado dentro do peji ou do quarto onde mora Sakpatá
e os demais Voduns de seu panteão. Toda a comunidade vêm saudar o Deus da
varÃola e seus descendentes, comer e dançar junto com eles e, ali mesmo, é
servido o banquete para todos os presentes. Após essa cerimônia, Sakpatá e os
demais Voduns, vestem suas roupas de festa e vão para a Sala (barracão)
comemorarem seu grande dia, junto com a comunidade que os aguardam. Quando
entram na Sala, todos gritam louvores à eles, dançam e cantam, louvando o Deus
da varÃola, que traz a cura de todas as doenças. Suas danças e cânticos
lembram sempre os doentes, as doenças e a cura das mesmas. Algumas falam das
lutas que esses Voduns enfrentaram com a rejeição das comunidades com sua
presença e outras falam das vitórias que tiveram sobre todas as comunidades
que a eles vieram pedir ajuda. Os Sakpatás trabalham muito e têm um
importantÃssimo papel nas feituras de Voduns. Do inà cio ao fim de uma ahama
(barco de yaô), eles atuam com rigidez e vigor, mantendo o bom andamento,
principalmente dos bons costumes morais e, cobram "feio" caso alguém cometa
alguma falha. Eles são, na verdade, as testemunhas de uma feitura. Após a
feitura, se um filho negar alguma coisa que tenha sido feita, eles são os
primeiros a cobrarem desse vodunci a mentira que ele está dizendo, assim como
também cobram a quebra de segredos. Todas as folhas refrescantes para
ferimentos, pertencem a esses Voduns. Vale alertar que existem Orixás e Inkices
também ligados a cura e doenças porém, não são os mesmos deuses que os
Voduns da famÃlia Dambirá, da nação Jeje. Muitas confusões são feitas e,
encontramos várias bibliografias relatando origens, especificações e costumes
que nada têm a ver com o Vodum Sakpatá.
AVEJI DA
Ligadas as tempestades, raios, furacões, redemoinhos, ciclones, tufões,
maremotos, erupções vulcânicas, aos ancestrais e a guerra, todas as Voduns
guerreiras são conhecidas como Aveji da. Até mesmo Oya dos yorubanos, é assim
denominada em território daometano. Erroneamente, no Brasil, algumas pessoas
feita de Oya se intitulam filhas de Vodum Jò. Digo erroneamente porque Oya é
um Orixá yorubano e Vodum Jò é um ToVodum do panteão de Aveji-da, assim como
Jò Massahundo também. Aveji-da é o Deus/Deusa das tempestades e dos ventos.
Podemos encontrar as Aveji-da tanto na famà lia Dambirà quanto na famÃlia
Heviosso. As Aveji-da, da famà lia Dambirà estão ligadas diretamente ao cultos
dos akututos, sendo que cada uma tem sua função. Algumas reinam na fronteira
do djenukom com o aikungúmã, outras nos ekúchomê, outras no hou, ôtan e
tódôum., outras em humahuan, outras junto com Naê Nana, outras junto aos
kpame e "possuÃdos" - essas, "talvez", sejam as que mais trabalham (opinião
minha) - outras se encarregam, junto com Exu, de levar os ebós e pedidos feitos
pelo povo encarnado e desencarnados, a quem de direito e tentam trazer as
soluções para cada um normalmente conseguem. Enfim, é uma infinidade de

atribuições que essas Voduns têm, todas sempre em prol daqueles que pedem e
precisam do auxÃlio delas, sejam encarnados ou desencarnados.

Todas essas Voduns, são temidas e respeitadas por akututòs. Elas têm todos os
poderes sobre o reino dos mortos e junto com Sakpata e Nae Nana, controlam a
vida e a morte. As Aveji-da da famà lia Heviosso, estão mais ligadas aos fenÃ
´menos da natureza, como o furacão, ciclone, maremotos, erupções vulcânicas,
etc. onde os eguns recém desencarnados nesses fenômeno são encaminhados
imediatamente por elas as Guerreiras dos cultos de akututòs, pois Heviosso e
demais Sobos não abrem suas portas para ekùs, dessa forma o trabalho delas tem
que ser rápido e eficiente, para não contrariar o grande Heviosso. Contam os
velhos Vodunos e Bakonos que a fúria de Aveji-da e de Heviosso contra as
heresias humanas é que provocam esses fenômeno onde muitos sucumbem. Nessas
ocasiões é que devemos recorrer a Velha Vodum Guerreira que com sua sabedoria
e magia sabe aplacar a fúria dos deuses e acalma-los. Essa Velha Vodum
Guerreira mora junto com as demais Yamis e todas as Aveji-da prestam culto a
mesma e tomam seus conselhos e usam sua magia quando precisam. Ela é um velha
Aveji-da que se esconde nas sombras e adora a noite. Os pássaros são seu
encanto. Junto com Égüe visita os kwes em sua rondam noturna e se encontrar
demandas ela ai se detem nos para ajudar ou cobrar. A fúria dessa Vodum
destrói os inimigos e fecha um kwe. Dificilmente um kwe fechado por ela
consegue se reerguer. Somente através de Baba Egum se consegue chegar a ela
para aplacar sua fúria. As Aveji-da são mulheres muito vaidosas, gostam do
belo, adoram a natureza, apreciam quando suas filhas imitam suas vaidades. São
todas muito vaidosas e autoritárias, não gostam de receber ordem de ninguém
principalmente dos homens, mas quando fazem suas vontades e caprichos tornam-se
dócies e carinhosas. São muito maternais, perdoam com facilidade seus filhos e
os defende com toda a garra de guerreiras. Gostam de disputar com os Voduns
Guerreiros quem luta melhor e esses sempre acabam cedendo aos encantos dessas
mulheres que os encantam com sua magia e beleza. As Aveji-da comem cabra ou
cabrito, galinha, galo, d'angola, pombo e outros bichos. Gostam de abara,
acarajé, alapadá, quiabada, inhame, peixe, acarajés recheado com quiabo -
existe um infinidade de comidas para elas - Seus apetrechos são o erugim,
adaga, espada de lança curta com a ponta em forma de meia lua, faca, chicote,
chifre de búfalo e de boi, fogareiro de ferro, abano de palha, abano
confeccionado em tecidos finos ou pena (leque), abanos confeccionados em
madeira, bonecas(fetiche), maruo... Usam todas as cores em suas vestimentas.
Seus colares ou fios de conta são das mais variadas cores e formato. Gostam de
todos os metais, sendo que o ferro, o cobre e a prata são seus preferidos. Vale
ressaltar que a confecção de apetrechos,vestimentas e fios de contas são
determinados pelas próprias Voduns, portanto não existe uma "receita" para
esses itens. As Oyas feitas dentro do culto de Voduns aderem todas as caracterà -
sticas das nativas, porém recebem também o que lhes são de direito dentro de
suas origens. Vocabulário: djenukom - céu (orum) aikungúmã - terra (aiye)
ekúchomê - cemitério tódôum -rio hou - mar ôtan - lago, lagoa ahuan -
guerra, batalha humahuan - campo de batalha (guerra) kpame - doentes, enfermos
akututòs - ancestrais, egungum ekùs ≉ eguns
Tobossis/Naês/Mami Wata
Tobossis, Naês ou Mami Wata, são todas as Voduns femininas das ezins jeçuçu,
jevivi e salobres. Aqui falaremos, especificamente ,das belas Naês das ezins
doces e salobres. Em todas as famà lias de Voduns encontramos Naês, sendo que, a
maioria delas, são da famà lia Dambirá, panteão da terra. No Brasil,
convencionou-se chamar Oxum, dentro das casas Jeje, de Tobossi. Tobossis são
Voduns femininos, infantis e, como elas tem muito a ver com as Naês, acredita-
se que foi daà que o brasileiro passou a chamar Oxum de Tobossi. Como a maioria
dos adeptos do Candomblé sabem, Oxum é um Orixá da nação Ijexá, muito
cultuada por todas as nações, inclusive o Jeje mas, temos que entender que
existem Oxum e Naês. Quando, dentro da nação Jeje, uma pessoa é feita de
Oxum, dizemos que ela é feita de Orixá, quando a pessoa é feita de Naê,
dizemos que ela é feita de Vodum.

As Naês vivem em plena harmonia com toda e qualquer entidade que mora nas
ezins. Nesse habitat não existe separação de nações. As Naês ou Mami
Watas, são mulheres vaidosas, exigentes, caridosas, algumas são guerreiras,
outras caçadoras. Gostam do brilho das pedras e do ouro, adoram se enfeitar com
colares, pequenas conchas e caramujos, pulseiras, pequenas penas coloridas.
Normalmente, seus adornos são feitos por elas mesmas, caso alguém queira fazer
para elas, essas exigem que seja feito exatamente como elas fariam. Algumas
Naês gostam de ficar a beira dos tódôum, sentindo e recebendo a energia do
guhê, das atinçá, do djóom, da sum, etc.. Essas são muito falantes, gostam
de dançar, cantar, caçar junto com Otolu, pescar junto com Ajaunsi, macerar
folhas junto com Agué, comer amalá com Sobo, Aveheketi e Ahevessul, etc.
Gostam de caminhar pelas matas, praias e lagoas, ondem residem outras Naês.
Outras Naes preferem as profundezas das ezins onde a paz reina com toda a
plenitude da natureza, essas não gostam de se expor aos olhos de curiosos e
são de falar muito pouco. As Naês que moram nas ezim salobres, são as mais
guerreiras, cultuam os ancestrais, lidam com eguns e a magia é seu forte. Dizem
os antigos, que é nas lagoas que se escondem os grandes mistérios da magia das
Naês, pois ali se encontram as duas energias, a das ezins jeçuçu e a das
ezins jevivi. Fá sempre aconselha seus bakonos a irem à lagoa conversarem com
as Naês quando existe a necessidade da magia ser usada. As Naês usam roupas de
várias cores sendo que, algumas delas, adoram o dourado, daà confeccionar-se
roupas com tecido amarelo, o que não está totalmente correto. As roupas das
Naês devem obedecer a uma série de exigências das mesmas. Podemos até fazer
uma roupa amarela ou dourada, mas nunca podemos esquecer os detalhes que virão
complementar a simbologia da roupa a ser usada. Seus assentamentos podem ser
feitos em louças, em bustos de madeira, argila ou cô, dependendo da Vodum que
se está assentando. Comem: bò, catraio, marreca, kôkôlo, uhui, caças,
eché. Dependendo da Naê, ela traz nas mãos: ezuzu (abebê), pena, ofá, lira,
eché (de preferência vivo), cobra, espada ou adaga. Em todos os estudos que
fizemos na Éfrica, encontramos a SEREIA simbolizando as Mami Wata/Naês, tanto
das água doces quanto das águas salgadas e salobre. É comum encontrarmos, em
qualquer estabelecimento comercial e residencial, a figura de uma sereia
cultuada (podemos comparar com os santinhos católicos que os brasileiros
cultuam aqui em pequenos altares em seus estabelecimentos). Vocabulário kôkÃ
´lo - galinha bò - cabra ou cabrito có - barro eché - pássaro uhui - peixe
ezim - água atinçá - árvores, folhas sum - lua djóom - vento tódoum - rio
catraio - galinha da angola guhê - sol jevivi - salgada jeçuçu - doce
A ORIGEM DE FA - O SISTEMA DAHOMEANO DE ADVINHAÉÉO
Gbadu nasceu após os gêmeos Agbe e Naete. Possui dezesseis olhos e é um deus
andrógino. Mawu designou-o a viver no alto de uma árvore de palma, no Orum, a
fim de observar os reinos do mar, da terra e do céu. Mais tarde, Mawu lhe diria
os deveres que deveria executar. Gbadu está sempre na árvore. A noite, quando
dorme, seus olhos se fecham e depois não pode abri-los sozinho. Legba foi
encarregado por Mawu, para escalar a árvore de palma, a cada manhã, para abrir
os olhos de seu irmão.

Quando Legba escala a árvore de palma, pergunta primeiro a Gbadu que olhos
deseja ter aberto, se os detrás, da frente, da direita ou da esquerda. Ao ouvir
a pergunta, Gabdu presta atenção ao reino do mar, da terra e do céu; não
quer falar porque outros podem ouvir. Em resposta a Legba, põe semente da palma
em sua mão. Se colocar uma semente, significa que deseja abrir um de seus olhos
e se forem duas sementes, Gabdu deseja que dois de seus olhos sejam abertos.
Quando Legba abre seus olhos, ele mesmo olha bem de perto o que
está acontecendo no mar e na terra e prometeu a Gbadu, a quem nós também
chamamos de Fa, que relataria tudo à ele, inclusive o que acontece no domà nio
de Mawu, o Orum. E dests maneira aconteceu. Depois de um tempo, Gbadu começou a
gerar crianças. A primeira criança era Minona, uma filha. A segunda criança
também era uma filha. Todas as outras crianças eram filhos e foram chamados
de: Aovi, Abi, Duwo, Kiti, Agbankwe e Zose. Um dia, Gabadu confidenciou a Legba
que estava incomodado porque Mawu ainda não tinha lhe designado seu trabalho. O
único que conhecia a là ngua de Mawu era Legba e este prometeu a Gbadu que o
ensinaria. Algum tempo após isto, Legba disse a Mawu que havia uma grande
guerra na terra, no mar e no céu e que, se Gbadu ficasse apenas olhando do
alto, esses três reinos seriam logo destruà dos. A água do mar não sabia seu
lugar e a chuva não soube cair. Isto estava acontecendo porque os donos
daqueles reinos não compreendiam a là ngua de Mawu. Mawu perguntou: "O que deve
ser feito?". Legba disse que o melhor seria enviar Gbadu à terra. Mas Mawu
respondeu: "Não, deixe Gbadu permanecer aqui, mas darei a compreensão de minha
lÃngua à alguns homens na terra, dessa maneira, os homens saberão o futuro e
como comportarem-se". Mawu mandou Legba encontrar três filhos de Gabdu. Antes
que essas crianças de Gabdu fossem para a terra, Mawu entregou as chaves do
futuro para Gabdu. Disse-lhe que aquela era uma casa com dezesseis portas e que
cada uma correspondia aos olhos de Gabdu. A árvore de palma em que Gbadu
descansou foi chamada de Fa. Assim, quando Gbadu recebeu as chaves, Mawu disse
que Legba era o "inspetor" do mundo e que desejava que Gbadu fosse o
intermediário entre os três reinos e ela mesma. Quando os homens desejarem
saber o futuro a fim de guiarem suas ações, deveriam pegar as sementes e
jogá-las aleatoriamente e isto abriria os olhos de Gbadu que corresponde ao
número de sementes e a ordem em que caà ram. Porque as sementes abririam o olho
que correspondesse a uma porta na casa do futuro, o destino para quem fossem
jogadas poderia ser visto. O que cada casa do futuro continha foi ensinado à s
três crianças que foram enviadas à terra. As crianças escolhidas para
ligarem a terra Gbadu e Legba, consequentemente a Mawu, foram Duwo, Kiti e Zose.
Trouxeram sementes da palma com elas, mostrando aos homens como usá-las.
Ensinaram e disseram a cada homem o que era seu sekpoli (destino). Disseram que
o sekpoli é a alma que Mawu deu a tudo, mas antes de chamar esta alma, deve-se
abrir os olhos de Gbadu. É necessário saber o número de olhos de Gbadu que
estão abertos antes de chamar esta alma, de modo que se um homem souber o
número de linhas que o Fa seguiu para ele, sabia seu sekpoli. Foi dito que
nenhum santuário era necessário para a adoração de sekpoli porque o próprio
corpo humano já é seu santuário. Quando os três tinham terminado de ensinar
aos homens, voltaram ao céu. Mais tarde, Mawu enviou todas as crianças de
Gbadu à terra. Foram conduzidos por Legba, que os instalou. Quando voltaram,
Zose recebeu o tÃtulo de Faluwono, também conhecido como Bakonon, que quer
dizer "possuidor dos segredos de Fa", que Gbadu tinha lhe dado. Minona tornou-se
uma deusa e reside na casa das mulheres, onde ela tece algodão em seu eixo.
Duwo recebeu o nome de Bokodaho. Reside nas casas de Pa (crianças de Agbadu),
enquanto Kiti e Duwo foram ajudar Zose, que é Faluwono, fazer seu trabalho.
Zose joga as sementes da palma. Ele tem somente um pé e, no começo, quando
traçava linhas do destino, as pessoas não acreditavam nele. Seu irmão, Aovi,
o azarado, foi encarregado de fazer com que as pessoas respeitassem o culto.
Hoje, se o Fa disser algo e você não fizer, chama-se Aovi para puni-lo. Então
você deve respeitar o Fa. Pa fez uma figura pequena de argila de Legba e
colocou-a de um lado de sua casa , Aghannukwe. Abi foi chamado para dar a Minona
a mesma função que Aovi tem para o Fa. Abi é cinzas, combustão. É isso que
faz com que as mulheres respeitem Minona. Quando uma mulher cozinha e Minona
está irritada com ela, o fogo queima-a ou sua casa pega fogo. E é por esta
razão, que quando na cerâmica é ateado fogo está se chamando Abi, porque as
cinzas, a combustão, são abundantes.

Pouco a pouco as pessoas começaram a compreender o "novo sistema" e porque Aovi
é muito severo, o culto passou a ser respeitado. Assim, o culto do Fa espalhou-
se em toda parte. Um dia, veio na terra visitar o culto do Fa com Gbadu. Como
era seu hábito, compartilharam da mesma esteira para dormir. Mas, tarde da
noite, levantou-se secretamente e foi à Minona. Entretanto, Gbadu acordou e
descobriu que Legba o tinha enganado com sua própria filha. Discutiram e foram
para o Orum levar o caso a Mawu. Legba não admitiu que tinha dormido com
Minona. Mawu então, mandou que se despisse. Quando estava nú, Mawu viu que seu
pênis estava ereto e disse: "Você me enganou e deitou-se com sua irmã. Por
este motivo eu ordeno que seu pênis será sempre ereto e você não
poderá mais saciar-se". Legba mostrou indiferença a esta punição porque
jogou com Gbadu antes que Mawu o repreendesse, ordenando que seu pênis ficasse
ereto para sempre, assim já sabia o que ia acontecer. É por esta razão, que
as danças de Legba são semelhantes a este acontecimento, tentando-se ver o que
toda mulher tem na mão.
Nohê Aikunguman (Mãe terra)
No culto dos Voduns, Nohê Aikunguman é a base de tudo que é fundamento.
Acreditamos que somente Aikunguman pode sustentar uma base sólida para apoiar e
firmar um templo de Voduns. Temos vários Voduns que pertencem ao panteão de
Aikunguman, porém existem aqueles cuja a tarefa primordial é o culto a mesma.
Dependendo do que se pretende fazer, invocamos o Vodum correspondente. Como
exemplo podemos citar: Vodum Aizam - considerada a patrona dos grandes mercados.
- É costume em todo Benin, quando nasce uma criança, levar a mesma ao mercado
e lá fazer os mlenmlen (orikis) e oferendas à Aizan, pois acreditam que esse
ritual dará muito boa sorte à vida da criança. Esse procedimento também se
dá aos casais de noivos. Os familiares das duas partes ser reúnem e vão
juntos com os noivos ao mercado. Nos dois casos, tanto a criança quanto os
noivos trazem para casa um pouco de terra e a coloca no solo de suas casas para
que a fartura e a prosperidade façam sempre parte de suas vidas. Vodum Aizam
tem uma grande famÃlia e cada um dos membros reina em uma parte da terra,
inclusive o mundo ctônico (subterrâneo) e abissal (subterrâneo aquático).
Vodum Intoto - É um Sakpata que não é feito no Ori de ninguém, assim como
Aizan. Saber plantar, cuidar, zelar esse Vodum é "garantir a vida" dentro da
casa de santo. Intoto é responsável pela putrefação das carnes e dos
alimentos em geral; por essa razão temos que saber cultuá-lo abaixo do solo
para que essa atribuição dele só ocorra em seu mundo e nunca no nosso. Vodum
Agué - Dono de todos os segredos das folhas, este Vodum tem um papel
importantÃssimo dentro do culto Aikunguman pois é ele quem a fertiliza e a
alimenta com suas sementes e magias. Em uma casa de santo cabe a ele levar o
"sabor" de cada vodunci e o apresentar à Aikunguman na passagem de sua vida
profana para a religiosa, isso é, no seu renascimento. Vodum Guiogu - O dono da
faka (faca) e das grandes guerras. Seu papel é importantà ssimo no culto de
Aikunguman, é ele quem dá à mesma o kun (sangue) dos animais sacrificados.
Junto com Vodum Yian, Guiogu garante que o kun humano não será derramado
dentro daquela casa. Baseados nessa pequena explanação, podemos entender o
porquê de usarmos "poeiras", "terras" de determinados lugares para fazermos
assentamentos de Santos e Legbas. Como eu disse, cada membro da famà lia de
Aizam, rege um local - feira-livre, mercados, açougue, bancos, cemitérios,
estradas, rios, mar, cachoeira, etc. Para nós filhos do Culto Vodum, Aizan é a
principal deusa da terra, ela é a própria terra.
Deuses da Riqueza (Daometanos)
Na cultura daometana, encontramos como Deuses da Riqueza, um casal de gêmeos
que foram enviados à terra por Mavu e Lissa, para que ajudassem a humanidade.
Os gêmeos Da Zodji e Nyohwe Ananu foram os primeiros Voduns a nascerem e após
chegarem a terra, deram origem a uma linhagem de Voduns ricos e guerreiros.

Cabe a esses Voduns guerreiros, ajudarem a todas pessoas que recorrerem a Da
Zodje e a Nyohwe Ananu, a chegarem até eles, isso é, caso algum caminho ou
energia do solicitante estiver atrapalhando o intercâmbio entre ele e os Deuses
da Riqueza, esses Voduns mostram os ebós que deverão ser feitos para que ele
alcance os Deuses gêmeos. Quando chegaram a Terra, Da Zodji e Nyohwe Ananu
habitaram o mar, onde acharam as maiores riquezas da Terra. Nyohwe Ananu, muito
feminina, encantou-se com as conchas e os caramujos que encontrou e ficava
extasiada ao ouvir o som do mar dentro dos caramujos. Seu irmão mandou que
trouxessem todos os caramujos e conchas para o palácio deles para agradar
Nyohwe Ananu. De tanto Nyohwe insistir para que Da Zodji ouvisse o som dos
caramujos esse atendeu seu apelo e também se encantou. Daà por diante, os dois
passavam todo o tempo ouvindo esse som e não mais prestavam atenção aos
pedidos das pessoas. Incomodados com essas atitude dos Deuses gêmeos, seus
descendentes resolveram consultar um bakono. O bakono consultou Fá e esse
mandou que todos pegassem um caramujo para si e que quando quisessem falar com
os Deuses da riqueza, falassem dentro do casco do caramujo, pois somente assim
Da Zodji e Nyohwe Ananu os ouviriam. Os descendentes obedeceram a Fá e passaram
a falar com os Deuses dentro dos caramujos e, alguns deles, começaram a
colecionar caramujos por acreditarem que quanto mais caramujos tivessem, mais
poderiam conversar com eles. Esse procedimento causou um pouco de confusão na
vida dos Deuses da Riqueza pois, quando as pessoas falavam com Da Zodji a irmã
também ouvia e vice-versa. Então, eles estabeleceram o seguinte: "Que cada um
tivesse em seu poder dois caramujos. Um deveria ficar deitado e nesse, os
pedidos à Nyohwe deveriam ser feitos e o outro caramujo deveria ficar em pé e
nesse, os pedidos à Da Zodji deveriam ser feitos". Deram também a opção de
usarem os caramujos de uma maneira só e se comunicarem apenas com um dos
Deuses.
NANÉ
Nanã é considera por todos os adeptos do Culto Vodum como a grande Mãe
Universal que criou o mundo e deu vida aos Voduns. É chamada carinhosamente de
vó Misan (missam). Senhora da lama, matéria primordial e fecunda da qual o
homem em especial, foi tirado. Mistura de água e terra, a lama une o princà pio
receptivo e matricial (a terra) ao princà pio dinâmico da mutação e das
transformações. Sua ligação com a água e a lama, associa Nanã Ã
agricultura, a fertilidade e aos grãos (vide simbologia dos grãos e favas).
Nanã tem os mais variados nomes de acordo com o dialeto usado: Bouclou, Buukun,
Buruku, etc. Em Dahomey, na cidade de Domê onde está localizado seu principal
templo, Ela é conhecida como Nanã Buruku (lê-se, buluku). No Brasil, também
existem variações de nomes para Nanã: Buruku, Naê Naité, Yabainha, Naê,
Anabiocô, etc. Nanã representa a dogbê (vida) e a doku (morte). Ela recebe em
seu seio os ghedes (mortos) e os prepara para o leko (lêcô - retorno,
renascimento) Quando uma mulher não consegue engravidar, recorre a Nanã que
ensina a "fórmula mágica", o remédio de ervas que deve tomar, os ebós e
oferendas que devem ser feitos. Se um doente recorre a Nanã, imediatamente
obtém o remédio curador. Na Éfrica quando uma famà lia ou alguém obtém um
favor de Nanã, fica com o compromisso de oferecer um membro da famà lia ao culto
de Nanã e esse, após sua iniciação, receberá na frente de seu nome a
palavra Nanã; assim como a criança que nasce com a ajuda da Grande Mãe
também. Todos os sacerdotes e sacerdotisas de Nanã têm na frente de seus
nomes a palavra Nanã. Nanã é a maior conhecedora do uso terapêutico das
ervas. Alguns de seus sacerdotes e sacerdotisas são preparados para serem
curandeiros. Em Ghana existe a Sociedade dos Jou-Jou, em Allada e Dahomey a
Sociedade do Bo, etc.. Nessas sociedades as pessoas escolhidas são preparadas
para a prática da medicina através das ervas. Nanã diz que além do uso
terapêutico das folhas e de alguns produtos animais, as doenças devem que ser
tratadas em sua origem espiritual, para que a cura seja concretizada. É
lastimável que no Brasil essa parte do culto a Nanã não tenha sido trazida.
Em outros paÃses como Estados Unidos, Canadá, Jamaica e Haiti encontramos essa
prática. O Culto de iniciação de uma filha ou filho de Nanã requer uma
série de cuidados especiais, tanto na Éfrica, como no Brasil. Para mim, esse
é o mais difÃcil culto de Vodum. Nanã Buruku não é feita na cabeça de
ninguém. Existem vários Voduns da linhagem de Nanã Buruku, que são feitos
nos iniciados. Todos esses Voduns seguem a tradição de Nanã Buruku e são

tão exigentes quanto Ela. Para iniciar um processo de feitura de uma Nanã, é
exigido a abstinência de sexo, bebidas alcoolicas e outros prazeres carnais,
pelo menos dois meses antes (na Éfrica são exigidos 3 meses), de todos que
irão participar do

processo de renascimento do iniciado. Nesse perà odo, são feitos vários ebós
no iniciado e alguns poucos nos participantes e na casa de santo. A bogami (bÃ
´gâmi - menstruação) é outro beko de Nanã. Se durante o processo de
iniciação a vodunsi ficar menstruada, deve ser afastada imediatamente de Nanã
e ficar reclusa em um lugar especial, fora do templo, até que cesse esse perà -
odo. Na Éfrica as mulheres menstruada são proibidas de entrar no Templo de
Nanã ou de participar de qualquer preceito, seja de rituais ou simplesmente
fazer uma comida de santo. Nanã diz que a bogami é um sangue impuro e
aconselha as mulheres não cozinharem para seus maridos nesse perà odo. Por ter
muita ligação com egungum é necessário saber tratar muito bem de Buku,
entidade assistente de Nanã e Sakpata. Em uma feitura, não é permitido a sua
presença, mas, ele deve ficar aposto, sua função será tomar conta de todos,
para que nenhuma exigência da Grande Mãe seja desobedecida, principalmente a
abstinência de sexo. Assim como Buku, Legba Aghamasa (agramassá) devem ser
tratados corretamente para garantir a paz, tranqüilidade e segurança nos
rituais e preceitos. Ebós e oferendas especà ficas devem ser feitos para essas
duas entidades. Os ancestrais dos Voduns, do iniciado, dos participantes e da
casa de santo não podem ser esquecidos em hipótese alguma! Antes, durante e
depois da iniciação de uma Nanã devemos fazer muitos ebós, oferendas e
preceitos. Uma Nanã bem feita é caminho de prosperidade e crescimento para a
casa de santo, do iniciado e dos participantes. De acordo com a Vodum Nanã que
está sento feita ou cultuada é que se determina, se comerá bichos macho ou
fêmea. Existem Voduns dessa linhagem que não comem bicho de quatro pés,
outros preferem comer somente o Igby. Nanã Buruku, por exemplo, não gosta de
muito kun (sangue) Vários textos têm sido publicados, citando o carneiro como
o bicho oferecido a Nanã, mas, se observarmos as fotos que acompanham esses
texto, veremos que se trata de cabra e cabritos. O sacrifà cio de carneiro é o
maior beko (kisila) de Nanã. Para essa Vodum, o carneiro é um bicho sagrado e
não deve ser sacrificado. O não uso da faca e outros metais nos nahunos e
preceitos de Nanã devem-se ao fato de Ela ser muito mais velha que esses
metais. Por seu caráter conservador, quando o ferro e outros metais apareceram,
ela preferiu manter o que já conhecia em seus ritos. Vejamos abaixo alguns dos
Voduns da linhagem de Buruku. e algumas curiosidade ligadas a Grande Mãe. Nanã
Densu ou apenas Densu ≉ Segundo os Fons esse Vodum é um deus andrógino e
seria o lado macho ou marido de Buruku. É muito cultuado nos rituais de Mami
Wata onde é considerado o maior de todos os deuses, os Fons o compara a Olokun.
Muitos antropólogos têm atribuà do erronêamente Densu a um deus hindu, devido
seus fetÃches e assentamentos apresentarem três cabeças. Esse Vodum é muito
rico e farto. Costuma presentear seus adeptos com suas riquezas. Não é feito
na cabeça de ninguém. Nanã Asuo Gyebi (assuô giêbi) ≉ Vodum masculino
velho, que habita os rios. Muito popular em Ghana e tido como o protetor das
crianças africanas que foram escravizadas. Esse Vodum pediu aos seus sacerdotes
que o levasse para os paà ses onde os africanos foram escravizados afim de que
pudesse resgatar suas crianças. Ele já foi assentado em templos de Akonedi nos
Estados Unidos e no Canadá. Nanã Esi Ketewa (êssi quetêuá) ≉ Vodum
feminina muito velha, cultuada em Ghana, Cotonou e Allada. Dizem os mais velhos
que essa Vodum morreu de parto e que por isso a missão dela é proteger e
tratar as mulheres grávidas assim como seus filhos Nanã Adade Kofi (adadê cÃ
´fi) ≉ Vodum masculino, tem a função de proteger e defender todos os templos
de Nanã. É um Vodum guerreiro, ligado ao ferro e outros metais. Cultuado em
Ghana, Allada, Cotonou, Porto Novo, etc. É o Vodum da força e perseverança.
Sua espada é usada pelos adeptos de Nanã, para prestarem juramentos de
obediência, submissão e devoção a Grande Mãe. Nanã Tegahe (têgarê) ≉
Vodum feminina jovem, cultuada em Ghana. Tem o poder de tirar feità ços das
pessoas e lugares. Tem grande conhecimento no uso terapêuticos e ritualà sticos
das ervas. Muito alegre e faceira, gosta de dançar e cantar, mas fica muito
séria e aborrecida quando encontra malfeitores e ladrões; ela os mata. Nanã
Obo Kwesi (obó cuêssi) ≉ Vodum feminina guerreira, cultuada na região Fanti
em Ghana. Protege e ajuda os kuhatô (pobres) e os azon (doentes). Detesta quem
faz aze (azê - bruxarias) ou qualquer mau a um ser humano. Nanã Tongo ou Nanã
Wango (tongô/uangô) ≉ Vodum feminina, cultuada em Togo. Grande curandeira,
trata das pessoas com ervas, ebós e gri-gris. É uma grande Azeto (azétó -
feiticeira) e seu culto talvez seja um dos mais complexo. Em seus nahunos, os
sacerdotes prostam-se no chão ao lado dos bichos mortos e fingem estarem mortos

também, assim permanecem até que Wango incorpore em um deles e os ressuscite.
Todos levantam, os bicho são suspensos e preparados. Nanã Tongo dança com
muita alegria, vestida em suas roupas confeccionadas com as peles dos bichos
sacrificados para ela. Seus adeptos costumam presentear Wango com muitas jóias,
enfeites, roupas e talismãs que a agradam. Antes de começar os nahunos para
Wango, corujas são atadas às árvores. Nanã Akonedi Abena ≉ Vodum feminina
jovem, cultuada em diversas partes da Éfrica. Seu principal templo fica em
Later, cidade de Ghana. Quando Akonedi chega ela percorre a vila, esconde-se em
arbustos e sobe em telhados à procura de

feitÃços, feiticeiros e malfeitores. Atende os moradores locais, fazendo
libações e curando os doentes. Em Ghana é considerada a Deusa da Justiça Seu
corpo é coberto com um pó branco sagrado, usa saia de palha, seu rosto é
descoberto, na cabeça usa um torço, no corpo muitos brajás e nas mãos trás
um feixe de lenha. Sua dança é selvagem e desenvolve-se dentro de um quadrado
divino, dividido em outros quadrados menores feito com riscos do mesmo pó que
cobre seu corpo. Esse conjunto de quadrado também é usado por suas
sacerdotisas durante as danças. Seu assentamento fica em um buraco dentro da
terra, ficando somente a tampa deste aparecendo. Os sacerdote e adeptos de
Akonedi carregam-na nos ombros numa espécie de desfile, para que todos possam
admirar e louvar a grande deusa da Justiça. Terça-feira é o dia consagrado a
essa Vodum. O Culto de Akonedi foi levado para alguns paà ses, a pedido dos
governantes desses. Quem levou o culto de Akonedi para o novo mundo foi a maior
autoridade religiosa do culto, Nanã Oparebea Akua Okomfohemma, falecida em
1995. Mmoetea ≉ Aldeia de pigmeus que vivem nas florestas de Ghana. Formam uma
sociedade secreta especializada no uso das ervas para diversos fins.
Desenvolveram a capacidade de curar qualquer doença fà sica, mental e
espiritual. Trabalham com os espà ritos da natureza e seu maior deus é Nanã. Os
espÃritos da floresta deram aos Mmoeta o poder de ler a mente dos homens e dos
animais. São grandes curandeiros e poderosos feiticeiros. Buku ≉ Assistente
de Nanã e Sakpata que mata os doentes infectados pela varà ola. ≉Toma conta e
presta conta≉ do comportamento moral das pessoas durante os cultos de Nanã e
Sakpata. Legba Aghamasa ≉ Vodum Legba masculino, reina nos portais da morte
onde reside Nanã Buruku. Odom ≉ Bolsa feita com pele de cabra não curtida,
enfeitada com búzios, penas e sangue. Nessa bolsa são colocados os gris-gris
venenoso e não venenoso que decidem uma questão de justiça. Quando duas
pessoas brigam pela mesma ≉coisa≉ e recorrem a Nanã para saber quem tem
razão, sua sacerdotisa pede um galo a cada um dos queixosos, quando esses
animais chegam, esses gris-gris são oferecido aos animais. O galo que comer o
venenoso, o dono dele perde a causa. Além desses gri-gris, outros segredos de
Nanã são guardados na Odom. A Odom fica sempre nos pés do assentamento de
Nanã, nunca vai a público e não pode jamais ser tocada por homens. Abuk
(abuquê) ≉ De acordo com a cultura Fon, foi a primeira mulher a surgir.
Patrona das mulheres e dos jardins, seu fetà che é uma pequena serpente. (teria
alguma coisa a ver com Nanã?!!) Asase (assassê) ≉ Deusa da criação dos
homens e receptadora dos mesmos na morte. Cultura Ashanti. (Seria a mesma
Buruku?!) Atori (atôli) ≉ Vara ou haste simbólica de Nanã, representa seus
filhos mortos e os ancestrais. Todos esses Voduns usam muitos kpolis (quipôlis
- búzios) e palha, dificilmente cobrem seus rostos. Falar ou escrever sobre
Nanã é uma tarefa das mais difà ceis, pois são tantas as história a ser
contadas, que somente um livro poderia caber. Todos os adeptos do Culto Vodum,
devem prestar muita reverência a Nanã. Em seus cânticos e danças devemos nos
alegrar e nos sentirmos honrados em poder, aqui no Brasil, participar dessa
parte que na Éfrica é reservada somente aos seus sacerdotes e sacerdotisas.
Aho bo boy Naê!!
EKU E AVUN
No culto dos Voduns, Eku é visto como um Deus acompanhado sempre de um avun.
Essa é uma das razões que, dentro dos Templos de Voduns, a entrada desse
animal é proibida. Porém, os sacerdotes reservam uma área fora dos templos,
onde esses animais são criados para que sejam os guardiões das almas,
impedindo-as de entrarem nos Templos além de encaminhá-las. Os Vodunos,
Bokonos, Ahougans, Sofós, Vodunsis e outros, acreditam que Vodum Ewa sempre
espreita o temido Deus Eku para que esse nunca pegue ninguém desprevenido,
além de sempre tentar desviá-lo de seu caminho. Os velhos Vodunos contam-nos
várias histórias para justificar a proibição de avuns em Templos Voduns.
Vejamos algumas delas: 1 - Um dia, Aveheketi estava pescando e enchendo um
balaio com muitos uhui, que levaria para sua aldeia, para saciar a fome dos
seus. DaÃ, enquanto ele estava distraà do em sua pescaria, os avuns vieram e sem
que ele os visse, devoraram todos os uhui. Quando Aveheketi terminou sua
pescaria e voltou-se para o balaio, o encontrou vazio e ainda pode avistar os
avuns se afastando com seus uhui. Desse dia em diante, Aveheketi proibiu a
presença de avuns em seus domà nios, ato esse que foi seguido por toda a sua
famÃlia que é a de Heviosso. Nos kwes de Jeje, principalmente aqueles regidos

por Heviosso ou mesmo Xangô, é proibido a presença de avuns. Aveheketi diz
que em Kwes que tem avuns, nenhum membro da famà lia Heviosso comparece. 2 - Um
avun roubou o fogo de Dan, de Dan Wedo, das divindades celestes ou do Grande-
EspÃrito para trazê-lo na ponta de sua husi, e por isso, os Voduns têm pavor
de avuns. 3 - A repulsa ao avun nos Templos dos Voduns, é a interdição
implacável sofrida por esse animal, pelos muçulmanos, povo que muito
influenciou a cultura africana. Eles fazem do avun, a imagem daquilo que a
criação comporta de mais vil. O avun, devorador de oku é um animal impuro.
Por

essa razão também, acreditam que os deuses jamais entram em um Templo onde se
encontra um avun. Não há, sem dúvida, mitologia alguma que não tenha
associado o avun à morte, aos infernos, ao mundo subterrâneo, aos impérios
invisÃveis regidos pelas divindades ctonianas ou selênicas. A primeira função
mÃtica do avun universalmente atestada, é a de guia do homem na noite da iku,
após ter sido seu companheiro no dia da vida. Vemos, em muitas culturas, o avun
emprestar seu rosto a todos os grandes guias de almas. Têm por missão
aprisionar ou destruir os inimigos da luz e guardar as Portas dos locais
sagrados, reino dos okus, paàs de gelo e de trevas. Algumas tradições chegam a
criar avuns especialmente destinados a acompanhar e a guiar os okus no Além.
Atribui-se também ao avun como intercessor entre este mundo e o outro, atuando
como intermediário quando os vivos querem interrogar os okus e as divindades
subterrâneas do paàs dos okus. Na Éfrica, o avun possui a dom da
clarividência e, além de sua familiaridade com iku e com as forças invisà veis
da noite, é considerado um grande feiticeiro. É um costume africano, em seus
banquetes funerários, oferecerem aos avuns a parte que caberia ao oku, após
ter pronunciado estas palavras: "A heaiye hesóa iwo ho hebo Ébe ti eke oku
sòa tiwo hoho ti bo" "Quando vivias, eras tu mesmo quem comia. Mas agora que
estás morto, é tua alma que come!" Também na cultura africana, encontramos
feiticeiros com trajes feitos de peles curtidas de avun, o que mostra o poder
divinatório outorgado a esse animal. Em Porto Novo, Maupoil, num de seus
relatos, conta que um de seus informantes, confiou-lhe o seguinte: a fim de
reforçar o poder de seu oráculo divinatório, ele o deixaria enterrado durante
alguns dias dentro da barriga de um avun que imolara especialmente com essa
finalidade. Enfim, seu conhecimento do mundo do Além, bem como do mundo em que
vivem os seres humanos, faz do avun senhor e conquistador do fogo, sempre ligado
a iku, a clarividência, a feitiçaria e as forças invisà veis. Vocabulário:
Vodunos - sacerdotes Bakonos - sacerdote de Fá Ahougan - sacerdote feito de
Vodum Sofó - sacerdotisa feita de Vodum vodunsis - feitos de Voduns (yao) Avun
- cão Eku - Deus da Morte Iku - morte Husi - cauda Uhui - peixe Dan Wedo - Deus
do arco-Ãris, arco-Ãris Oku - cadáver, morto
Itans
A Nação Jeje possui, em sua cultura, itans belà ssimos que não poderà amos
deixar de divulgar. Estaremos sempre disponibilizando nesta página esta cultura
tão rica que a todos encanta. Colocaremos também belà ssimos Mitos Africanos.
ITANS
Borboleta Os Primeiros Voduns Hevioso salva Dahomey Serpente - Visão do Fim
Promessa feita aos Voduns
MITOS
Anansi Érvore da Vida A Colheita de Estrelas A árvore que não tinha medo do
céu A Tartaruga e o Macaco - FA
KLAMKLAMLE (As Borboletas)
Contam-nos os velhos Vodunos que Aveji-da tem, em seu touboumé, um exército de
klamklamle que sobrevoam os mundos e voltam para contar-lhes seus feitos ao
mesmo tempo que trazem outras klamklamle que nada mais são do que as almas que
ali irão residir. Dizem que a própria Aveji-da, quando está muito preocupada,
se transforma em uma linda klamklam e sai pelos mundos a voar para observar
melhor o djenukom e o aikungumã. Fá disse a um bakono que sempre que uma
Aveji-da recebe uma oferenda, uma klamklam aparece para confirmar a presença
dela.

A klamklam é como Aveji-da, ligeira e inconstante. Uma ligeireza sutil, de
espÃrito viajante. A klamklam brincando entre as flores é a alma da deusa nos
humahuan. A deusa acompanha o guhê na primeira metade de seu curso visà vel,
até o guhemê. Em seguida, desce de volta à aikungumã sobe a forma de uma
klamklam. Há uma associação analógica da klamklam e da chama, de suas cores
e do bater de suas asas tal qual a duwe de Aveji-da. Aveji-da, assim como todas
as deusas do fogo, associa-se a obsidiana, uma kpe-izó, seu emblema. Sà mbolo do
fogo solar e diurno, e por essa razão da alma dos achólupêle, a klamklam é
também um sÃmbolo do guhê-du, atravessando os mundos subterrâneos durante o
seu curso noturno. É assim, sà mbolo do fogo ctoniano oculto, ligado a noção
de sacrifÃcio, de morte e de ressurreição. É então a klamklam, atributo das
divindades ctonianas, associadas à morte. Ela ilustra, ao mesmo tempo, a
analogia alma-borboleta e a passagem do sà mbolo à imagem. O homem segue, da
vida à morte, o ciclo da klamklam. Ele é, na sua infância, uma pequena
lagarta, uma grande lagarta na sua maturidade; ele se transforma em crisálida
na sua velhice; seu túmulo é o casulo de onde sai a sua alma que voa sob a
forma de uma klamklam. A postura de ovos dessa klamklam é a expressão de sua
reencarnação. Dizem os velhos Vodunos: - Ekùs ete jo nhû oku do bochiô na
klamklam! (- A alma que deixa o corpo dos mortos tem a forma de uma borboleta)
Quando uma klamklam aparece no templo dos Voduns, todos saúdam a bela Deusa do
degi, dos johon, e das djizônukon num só grito "Ahoboboi, mikan Aveji-da!!!".
Vocabulário klamklam - borboleta (pronuncia-se kunlamkunlam) Klamklamle -
borboletas Touboumé - reino Djenukom - céu (orum) aikungumã - terra (aiye)
Humahuane - guerra, campo de batalha Guhê - sol Guhemê - meio-dia Duwe -
dança Guhê-du - sol negro kpe-izó - pedra de fogo achólupê - soldado,
guerreiro achólupêle - soldados, guerreiros Oku - morto, cadáver Ete - que
Ekùs - alma, egum jo - deixar Nhû - corpo fà sico Bochiô - forma, escultura Na
- uma (artigo) Degi - ar Johon - vento Mikan - salve! djizônukon - tempestade
OS PRIMEIROS VODUNS
De acordo com os povos Fon de Abomey, Dahomey, Mawu é um deus supremo e
criador. Mawu representa a lua que traz a noite e a temperatura fresca, no mundo
africano. Reside no oeste e é descrita como uma velha fria e indiferente o que
é considerado pelos povos Fon, sinônimo de sabedoria e idade. Alguns itans
contam que Mawu tem um irmão gêmeo chamado Lisá, em outros, encontramos que
se trata de um deus andrógino, que sua parte feminina é Mawu e a parte
masculina é Lisá. Lisá é tido, pelos povos africanos, como feroz e áspero,
residente no leste, representa o sol.

Mawu e Lisá são considerados como uma unidade inseparável na base do
universo, representantes do uno e da ordem. Foram trazidos por Nanã, que criou
o mundo. Quando há um eclipse do sol ou da lua, os povos de Fon acreditam que
Mawu e Lisá estão fazendo amor. E conceberam... As primeiras crianças a
nascerem, gêmeos, foi um menino chamado Da Zodji e uma menina chamada Nyohwe
Ananu. O segundo a nascer, teve a mesma caracterà stica de seus pais, andrógeno,
era Sobo. O terceiro nascimento, também gemeos, foi um menino, Agbe e uma
menina, Naete. O quarto a nascer era velho e experiente. O quinto, também era
um homem, Gu. Todo em forma de corpo, não tinha cabeça. No lugar da cabeça,
uma enorme espada saà a de sua garganta e seu tronco era uma pedra. O sexto
nascimento não foi de um ser. Era Djo, o ar, a atmosfera, o necessário para
criar os homens. O sétimo a nascer tinha chifre, era Legba. Era o preferido de
Mawu, por ser o mais novo. Um dia, Mawu-Lisá reuniu todas as crianças a fim de
dividir seus reinos. Aos primeiros gemeos deu todas as riquezas e disse-lhes
para irem habitar a terra. Disse-lhes que a terra era para eles. À Sobo, Mawu
disse que devia permanecer no céu porque era homem e mulher como seu pai. Aos
gemeos Agbe e Naete, disse-lhes para irem habitar o mar, comandar as águas.
Para o quarto filho, velho e experiente, deu o comando de todos os animais e
pássaros, e disse-lhe para viver no arbusto como um caçador. A Gu, Mawu disse-
lhe que era sua força, e era assim porque não foi lhe dado uma cabeça como
aos outros. Por isso, a terra não permaneceria para sempre só com arbustos
selvagens. Era ele quem ensinaria os homens a serem felizes. À Djo, Mawu disse-
lhe para viver no espaço, entre a terra e o céu. A ele confiaria o livre arbà -
trio do homem. Seus irmãos seriam invisà veis e a ele cabia vesti-los. Depois
que Mawu disse isso às crianças, ela deu aos gemeos de Sagbata a là ngua que
devia ser usada na terra, e removeu de sua memória a linguagem do céu. Deu a
Hevioso a lÃngua que ele falaria e tirou de sua memória a là ngua falada pelo
pai. O mesmo foi feito para Agbe e Naete, para o mais velho e para Gu. Agora,
disse a Legba, você é a minha criança mais nova e como você é levado e
nunca soube o que é punição, não posso transformá-lo como a seus irmãos.
Ficarás sempre comigo. Seu trabalho será visitar todos os reinos governados
por seus irmãos e dar-me ciência do que acontece. Assim, Legba sabe todas as
lÃnguas faladas por seus irmãos e a là ngua de Mawu. Legba é lingüà sta de
Mawu. Se um dos irmãos desejar falar com Mawu-Lisá, deve dar a mensagem a
Legba, porque nenhum deles sabe mais dirigir-se a Mawu-Lisa. Por isso que Legba
está em toda parte. E é também por isso que encontramos Legba na porta de
todas as casas de Vodum, porque todos os seres humanos e deuses devem dirigir-se
a ele antes que possam se aproximarem dos deuses.
HEVIOSO SALVA DAHOMEY

Houve uma grande seca no reino de Dahomey, quase quatro anos sem chover. A fome
assolava a região, o povo desesperado fazia junto com o rei, oferendas aos
deuses pedindo que enviassem a chuva, mas nada funcionava, parecia que os deuses
não aceitavam as ofertas. O rei já não sabia mais o que fazer, todos os
recursos já tinham sido usados sem nenhum sucesso. Em seu desespero o rei rogou
aos seus ancestrais que mostrassem o que ele deveria fazer para salvar seu povo
e o reino. Um dia o rei acordou com gritos de uma de suas noiva e foi ver o que
acontecia. Encontrou sua noiva lutando com os soldados que não a deixam passar
para acordar o rei, interpelou-a, ela respondeu que tivera um sonho com um deus
muito poderoso e que trazia um recado ao rei. Huenu era uma jovem e bela virgem
portadora de poderes mágicos, que se tornaria esposa do rei tão logo a chuva
chegasse. Huenu contou ao rei que sonhará com um deus muito alto e forte que
cuspia fogo e lançava raios e trovões com suas mãos. Este deus disse a Huenu
que se o rei erguesse um templo para ele em Dahomey e passasse a cultuá-lo,
traria a chuva e o sol que iriam fertilizar o solo e que nunca mais a seca
voltaria a castigar o reino. Após ouvir atentamente o relato da noiva, o rei
considerou que era uma resposta de seus ancestrais, mandou chamar os sacerdotes
do reino e contou o sonho de Huenu. Após varias conversas, os sacerdotes
admitiram que não sabiam quem era esse deus, resolveram consultar o bakono que
vivia afastado da cidade. O rei mandou o buscá-lo. Após consultar ao oráculo
de Fá, o bakono disse tratar-se de Hevioso o deus do trovão e que o rei
deveria obedecê-lo. Os sacerdotes do rei não sabiam como fazer para tratar e
cultuar o novo deus, pediram auxilio novamente ao bakono que fez nova consulta a
Fá. Fá mandou que o rei fizesse ebó para Elegba e viajasse para Hevie onde
ele encontraria Hevioso e aprenderia sobre seu culto. O rei viajou com seus
sacerdotes. Ao chegar em Hevie, foram recebidos por um Hunon que já os
aguardava. O rei e seus sacerdotes foram iniciados no culto de Hevioso e
aprenderam seu culto. Quando estavam prontos, o Hunon avisou que já poderiam
partir, mas, teriam que levar consigo uma sacerdotisa de Hevioso e essa levaria
para Dahomey o assentamento do deus do trovão que deveria ser estabelecido no
reino. Ao chegarem a Dahomey, o rei colocou Hevioso em seu palácio e mandou
preparar oferendas conforme a sacerdotisa havia indicado, depois mandou que todo
o povo viesse conhecer o novo deus e prestar homenagens, assim foi feito.
Naquela mesma noite raios e trovões rasgaram os céus de Dahomey e a chuva caiu
em abundância fertilizando o solo. O rei não cabia em si de contentamento,
mandou um mensageiro a Hevie contar ao Hunon o sucedido e pedindo que esse
viesse a Dahomey assentar toda a famà lia de Hevioso. Hunon chegou a Dahomey
trazendo consigo os assentamentos dos demais membros da famà lia de Hevioso. Um
grande templo foi construà do para Hevioso e uma grande festa que durou seis dias
e seis noites, foi feita para saudar aqueles novos deuses. Hunuon por ordem de
Hevioso casou-se com Huenu que se tornou uma grande sacerdotisa de Hevioso.
Depois desse perÃodo nunca mais Dahomey conheceu a fome, Hevioso prometeu e
cumpriu. Ele envia a chuva e sol que fertilizam a terra.
Mito da Serpente - Visão do Fim
O mundo foi criado por Nana Buluku, um deus que não é macho e nem fêmea. Nana
Buluku gerou dois gêmeos, Mawu e Lisa, quem modelou o mundo com a ajuda de seus
quatorze filhos, os Voduns, deuses menores. Antes de Mawu ter dado vida à seus
filhos, a Serpente do arco-à ris já existia, criada para servir a Nana-Buluku.
Levava o criador por toda a parte em sua boca. Rios, montanhas, entre os vales e
curvas, exatamente o movimento circular da Serpente. Onde eles paravam pela
noite, montanhas surgiam de esterco da Serpente. Por este motivo, quando você
escava profundamente as montanhas, acha riquezas. Quando Nana acabou de criar o
mundo, é óbvio que a terra não podia suportar o peso de tudo, montanhas,
árvores, seres humanos e animais. O criador designou que Da envolvesse o mundo
para mantê-lo, amortecê-lo. Daà o costume africano do uso do torso quando
estão levando uma carga pesada. Para que Da não permanecesse no calor, Mawu
criou o oceano para ele. E lá Da permanecem desde o inà cio dos tempos, com sua
cauda na boca. Mesmo a água mantendo-a fresca, as vezes se desloca em torno de
si mesma tentando ficar confortável, o que causa os terremotos. Da precisa
manter-se alimentada, o que obriga a Nana e aos ferreiros forjarem barras de
ferro para mantê-la alimentada. Mais cedo ou mais tarde o suprimento de ferro
irá se esgotar e Da não vai ter nada o que comer. Com fome, ela vai comer sua
cauda, suas convulsões serão terrà veis, toda a Terra vai inclinar, pela

sobrecarga de coisas e pessoas. A terra vai ser engolida pelo mar.
Não Devemos Quebrar Promessas Feitas aos Voduns

Está é a história de um homem pobre que se chamava Kakpo. Esse fato aconteceu
em Tendji. Há muito tempo, Loko era uma árvore sagrada. Havia um homem pobre
que trabalhava com o machado. Ele cortava árvores para conseguir madeira. Um
dia, encontrou uma árvore boa para cortar. Ele foi cortar Loko. Loko lhe disse:
- Não me corte. Nenhum homem deve me cortar. Há três Voduns que vivem na
árvore de Loko: Dan, Dangbe e Tohwivo, do clã de Ayato, uma vila em Abomey.
Loko tem sete tipos de pequenas cabaças duplas. Loko disse ao homem: - Vire-se
para mim. Se eu lhe der riquezas, você fará tudo que eu mandar? O homem lhe
respondeu: - Sim! Loko deu-lhe sete das pequenas cabaças duplas e disse-lhe: -
Encontre um bom lugar e quebre uma na terra. Se eu der as riquezas você me
dará um boi anualmente? - Sim, respondeu o homem. Aquele lugar onde o pobre
homem quebrou a primeira cabaça tinha se tornado sagrado. Quebrou então a
segunda. Muitas casas apareceram. Quando quebrou a terceira cabaça as casas
foram cercadas por paredes. Com a quarta, redes, bancos e almofadas apareceram,
tudo que era necessário à um rei. Quebrou a quinta cabaça e viu muitas
pessoas nas casas. Com a sexta surgiram cavalos. Montou um cavalo. Quando
quebrou a sétima cabaça encontrou Fa e Legba, e não apenas as coisas para
adorá-los. Mas Kakpo não deu a Loko o boi que lhe tinha prometido. Loko se
transforma em um homem pobre, usando roupas de ráfia, e vai pedir água a
Kakpo. Encontrou o Minga de Kakpo, que se tornou rei. O Minga disse: - Sai
daqui! Que tipo de homem é você que veste-se com roupa de ráfia? E Loko foi
afastado. Voltou uma segunda vez. O Minga surrou-o com um chicote. Loko foi
embora. Voltou uma terceira vez. Os aldeões estavam ocupados em cultivar para o
chefe. Bateram em Loko novamente. Desta vez, Loko começou a cantar uma
canção: - "Ponham aqui as sementes, venham aqui e dancem para mim, seus
dançarino que dançam bem". Loko cantava assim e, enquanto cantou, todas as
pessoas que cultivavam desapareceram. Kakpo ficou pobre outra vez. Loko deixou-o
somente com um pano de ráfia. Fa retornou ao seu reino. Kakpo foi outra vez Ã
Loko. Diante dele, encostou sua testa na terra e implorou que Loko o perdoasse.
Disse: - Eu lhe darei o boi que havia prometido. Mas Loko recusou. Kakpo e sua
vila viveram o resto de suas vidas pobremente.
Não se Deve Enganar um Bakonon O Macaco e a Tartaruga
O macaco pode subir em árvores, mas a tartaruga não pode. Os dois não eram
amigos. Uma vez, durante uma escassez, o macaco encontrou um milharal onde a
colheita estava muito boa. Ele não podia comer o milho porque as pessoas sempre
expulsavam os macacos dali. Assim, o macaco foi a um bakonon para perguntar o
que ele podia fazer. A tartaruga disse: - Eu sou um grande bakonon, mas eu não
saio de minha casa. Se você quiser algo, deve vir à minha casa. Estou aqui
para os pobres, para todos aqueles que precisem de algo. Seu tivesse ido com
você, tu não me alimentarias, porque sabes subir em árvores e eu não. A
tartaruga não queria ir mas o macaco tanto insistiu até que, finalmente, ela
foi com ele. Ela consultou o Fa por longo tempo. Quando chegaram ao milharal, o
macaco começou a comer. Disse a tartaruga que esperasse por ele mas não deu
nada à ela. Assim, deu meio-dia e a tartaruga não tinha nada para comer. Um
leopardo chegou ao local onde a tartaruga estava. Disse à tartaruga: - Eu estou
com uma criança doente em minha casa. Já fui a sua casa duas vezes mas não a
encontrei. O macaco, de cima da árvore, prestava atenção na conversa do
leopardo com a tartaruga. A tartaruga chamou o leopardo para baixo da árvore
onde estava o macaco. Lá jogarei o Fa para você, disse a tartaruga. Quando lá
chegaram começou a jogar. Ela disse: - nós devemos encontrar um macaco para
curar sua criança. O leopardo indagou: - Devo encontrar um macaco? E onde posso
encontrar um? A tartaruga respondeu: - Oh! não é difà cil. Você é forte. Sem
isso não posso fazer nada. Eu sei onde encontrar um macaco. O que você me
dá se eu lhe disser onde encontrar o que precisa?

Pediu mil cauris. O leopardo deu-lhe os mil cauris. - Olhe acima de minha
cabeça e verá um macaco, disse a tartaruga. O leopardo falou para o macaco: -
Ah! venha já aqui, você está tão perto! O macaco não quis descer porque
tinha ouvido toda a conversa. O leopardo começou a se irritar e gritava: -
Você não está me ouvindo? Está de macaquice comigo? Um macaco não é mais
que meu filho! O Fa disse que você é a solução. Preciso de sua cabeça e sua
cauda, o resto deixo com você. Ouvindo essas palavras, o macaco fugiu. Disse: -
Eu não estou aqui para dar-lhe minha cabeça e minha cauda. O macaco correu e o
leopardo foi atrás dele. O leopardo conseguiu alcançá-lo e trouxe-o para a
tartaruga. A tartaruga disse: - Bem, amarre-o! Assim o leopardo fez, amarrou o
macaco. Então a tartaruga teve descanso para comer e a criança doente foi
curada. Por essa razão, ninguém deve enganar um bakonon.
ANANSI
Anansi ou Ananse. é um heroi da cultura Ashanti, povo de Ghana, também chamado
"O Aranha". À o intermediário do deus do Céu Nyame, seu pai, que comanda
Anansi para levar chuva para apagar o fogo em florestas e determina os lugares
que Anansi deve "fazer" barreiras em oceanos e rios, em grandes inundações.
Estas funções de Anansi se aproximam com as do camaleão, alguns dizem que o
camaleão roubou as funções de Anansi. Sua mãe, Asase Ya, é considerada, por
vezes, a criadora do Sol, da Lua e das Estrelas, bem como aquela que instituiu a
sucessão do dia e da noite. Diz-se que Asase Ya também criou o primeiro homem
e que Nyame deu o sopro de vida. Anansi é astucioso e matreiro. Ensinou a
humanidade como semear grãos e como usar a pá nos campos. Anansi é o mito
africano mais popular. Hoje, a figura de Anansi tornou-se muito conhecida entre
as crianças e jovens, por ter tido sua performance caricaturada a uma aranha
infantil, que conta histórias, mitos e fábulas dos diversos lugares,
civilizações e culturas africana.
A ÀRVORE DA VIDA
Naquele tempo - e faz tempo que ninguém sabe quando foi e nunca soube - não
havia floresta, apenas colinas e planaltos a perder de vista, e um rio que
atravessava estas terras desoladas. Perto do rio, onde a terra era branca,
vermelha e preta, erguia-se a casa de Khmvum, o Criador de todas as coisas. Foi
lá que Mbere e Nkwa foram encontrá-lo um belo dia, para lhe suplicar que
criasse uma grande floresta... - Khmvum Bali, tu que dás a vida, bem que podia
nos dar uma floresta, povoada por milhares de árvores... pediuMbere, com o
coração cheio de esperança. - Khmvum Kka, tu que és o mais forte entre os
fortes, por favor, nos dê uma floresta povoada por milhares de animais... -
pediu Nkwa, com o coração cheio de sonhos. Khmvum ouviu em silêncio, e depois
alisou a barba, olhando firme para eles, com seus olhos escuros como a noite. -
E por que os meus filhos pigmeus estão querendo isso? - Nós somos tão
pequeninos... Os menores dos menores... - começou Mbere. - Podà amos nos
esconder na sombra das árvores... - E colados aos troncos enormes - continuou
Nkwa - podÃamos escapar dos nossos inimigos gigantes... - Os gigantes receberam
a força, na divisão, mas vou dar algo muito melhor aos pigmeus... E o Criador
ergueu a mão. - Dou a vocês a coisa vermelha, o fogo, para vocês não terem
mais frio. E dou os animais que caminham, que pulam, que voam, que nadam, para
que jamais a fome entre na barriga de vocês. E lhes dou todas as árvores, como
abrigo e como amigas. Vocês serão os senhores da floresta e, no reino dela, os
pigmeus estarão em casa, livres. Mbere e Nkwa ouviam as palavras de Khmvum
boquiabertos, com a impressão de estarem vivendo um sonho. Eles, os menores
entre os homens, iam se tornar os reis da floresta! Ardendo de impaciência e
devorados pela curiosidade, viram o Criador entrar em casa e voltar em seguida,
trazendo uma árvore minúscula, que acabara de se formar. - Esta aqui é Tii, a
ancestral da floresta. À a guardiã da coisa vermelha que esquenta, que cozinha
e que ilumina. E Khvum lhes ensinou a fazer o fogo nascer, esfregando dois
pedaços de pau. Depois, plantou a arvorezinha na margem de três cores e foi se
sentar, com os braços cruzados.

- Só isso? - perguntou Mbere, pensando que uma única árvore, mesmo se
crescesse muito, não era uma floresta. - Só isso? - repetiu Nkwa, pensando que
os animais não nasciam em árvores. O Todo-Poderoso tinha fechado os olhos. -
Depois da noite, o dia. Depois de uma nuvem, outra nuvem. Depois de uma árvore,
outra árvore... Os dois pigmeus não perguntaram mais nada. Curvados, com a
testa apoiada no chão, rezavam para Khmvum, quando um barulho estranho estranho
os fez levantar a cabeça. Bem ali, diante de seus olhos, Tii começava a
crescer com uma velocidade prodigiosa. Em pouco tempo, seu tronco estava tão
grande que seis pigmeus não bastariam para rodeá-lo com os braços. O sol do
meio-dia desaparecera por trás da folhagem espessa que já enchia de sombra as
duas margens do rio. E a árvore continuava crescendo. Logo que a envergadura de
seus galhos se estendeu pelo quatro cantos do horizonte, Khmvum Vali, aquele que
dá a vida, aproximou-se e tocou a árvore com a palma da mão. Tii tremeu com o
choque e fez cair sobre a planà cie um dilúvio de grãos. Mbere e Nkwa caà ram de
joelhos, maravilhados. Num instante, cada grão dava vida a uma nova árvore.
Onde antes não havia nada, nascia agora um mundo ao redor deles, uma floresta
profunda, que crescia a olhos vistos! Depois, Khmvum Kka, o mais forte entre os
fortes, sacudiu com as mãos o tronco da grande ancestral e as folhas começaram
a cair de uma a uma. Mbere e Nkwa assistiram então, fascinados, ao nascimento
do mundo animal: assim que uma folha tocava o solo, começava a se arrastar, a
saltar, a andar ... e ia crescendo e se transformando em serpente, em macaco, em
elefante... As que ficavam dando voltas no ar logo viravam pássaros de todo
tipo, e as que caÃam no rio tornavam-se peixes, tartarugas, crocodilos... E toda
a vida da floresta nasceu da árvore Tii. Texto de Franck Jouve Tradução de
Ana Maria Machado
A COLHEITA DE ESTRELAS
Já havia algum tempo que Bako, o Sol, dava sinais de cansaço... No começo, os
pigmeus não prestaram muita atenção. Talvez estivesse um pouco menos claro,
seguramente fazia menos calor que antes, mas, afinal de contas, sempre houve
dias menos bonitos que outros, não era motivo para ninguém se apavorar.
Entretanto, depois de uma semana, mesmo os pigmeus mais otimistas tinham que
reconhecer que o fenômeno estava continuando de uma forma anormal. Consultaram
então o Nzorx, o advinho curandeiro, que foi consultar seu espelho de
vidência. O que leu nele não devia ser muito animador, porque apertou as mãos
sobre o seu talismã de chifre de antà lope, como se quisesse se proteger e
proteger sua tribo de uma grande desgraça. - E então? O que foi que o espelho
de vidência revelou? - perguntaram seus irmãos, esperando o pior. Com um
sorriso forçado, o Nzorx quis tranquilizá-los: desde que existia a memória
dos homens, nunca o Sol deixara de brilhar. Bako era velho e robusto como o
mundo, não havia nenhuma razão para que de repente adoecesse... - Mas não dá
para negar que Bako não anda com um aspecto muito bom - insistiu um pigmeu, com
a voz preocupada. - Está tão pálido... - Só um pouco de cansaço, isso
passa. - E no fim do dia está vermelho, afogueado, como se estivesse sem fÃ
´lego! - Na certa é uma febrezinha, mas não deve ser nada grave. No entanto,
os sintomas preocupantes se multiplicavam: o calor era cada vez menor... a luz
enfraquecia a olhos vistos... Bako cada dia deitava-se mais cedo, como se
estivesse esmagado pelo peso de um trabalho que ficara pesado demais para ele.
Então o pressentimento virou certeza: o estado do Sol piorava de maneira
catastrófica. - Hum... alguma coisa anormal está acontecendo... - murmurou um
pigmeu, e depois outro, e mais outro. - Bako só é a sombra do que era -
sussurraram outros. - E se ele apagasse? Mal foi formulada, essa idéia lançou
o terror nos espÃritos. A vida era inconcebà vel sem Bako para iluminar e aquecer
os humanos. Nessa noite, os pigmeus ficaram esperando o alvorecer e tremendo: se
o Sol não comparecesse ao encontro, seria simplesmente o fim do mundo. Como o
dia demorava a aparecer! Com um atraso angustiante, o astro levantou-se mais uma
vez, mas em que estado! Irreconhecà vel, lÃvido, gasto, subia penosamente pelo
céu, mal conseguindo dardejar seus grandes raios... Horrorizados, os pigmeus
finalmente o viram desaparecer numa luz crepuscular de muito mau agouro. Desta
vez, foi o pânico. O Sol morria no horizonte! Jamais teria a força de subir
novamente ao firmamento se sua chama não fosse

reavivada. Aliás, nem haveria amanhã, pois com toda certeza o dia não
nasceria nunca mais. Era absolutamente indispensável que se tentasse alguma
coisa logo, mas o que? Intimado a encontrar uma solução, já que era o advinho
e curandeiro, o pobre Nzrox ergueu as mãos para o Céu, em sinal de
impotência. - Rezemos a Khmvoum... Só ele pode curar Bako. Khmvoum... À
simples evocação do Deus supremo, os pigmeus readquiriram confiança, tão
rapidamente quanto haviam se desesperado. Isso mesmo, apenas o Grande Caçador
celeste poderia impedir o desastre. Bastava que ele ouvisse o pedido de socorro
de seus filhos: tudo voltaria à ordem e... De repente, uma risada sinistra
rasgou o silêncio da noite: era Tore, o espà rito da Floresta! Só ele poderia
achar graça num momento daqueles... Pouco lhe importava que a luz abandonasse o
mundo, ele era um pássaro noturno, um monstro da mata, que se alegrava com as
trevas. - Se a luz não voltar - balbuciou um pigmeu - o ogro Ngoogounogumbar
vai devorar nossos filhos... - E o anão Ogrigwabibikwa vai se transformar em
réptil para nos morder no escuro! Tremendo, os pigmeus dirigiram ao céu um
olhar de súplica. Entrecortada pelas risadas de Tore, sua prece subiu ao Céu:
À Sol... À Sol... A morte vem, o fim já chega, O astro cai e morre. O fogo
escurece, a mata fica negra, A chama vai se apagar, é nossa desgraça! À nossa
desgraça... Oh! Khmvoum! Do alto do céu, Khmvoum ouviu a voz de seus filhos e
siu seu desespero. Sem perder um minuto, pôs-se a caminho em direção ao Sol.
Em sua mão direita, brilhava o Arco-à ris. Na esquerda, tinha uma sacola enorme,
que lançou sobre os ombros: a colheita do Grande Semeador celeste ia
começar... Khmvoum penetrou nas grandes florestas do Céu. Dirigiu-se para o
oriente, lá no fim do mundo, onde normalmente Bako deveria reaparecer. Em sinal
de aliança com seu povo, plantou lá o Arco-à ris que, de manhã, diria que os
belos dias tinham voltado e que não havia mais nada a temer. Depois, com passos
decididos, enveredou pela Via Láctea; o caminho todo pavimentado de estrelas.
Khmvoum deteve-se numa região celeste rica em milhões de astros, todos muito
brilhantes. Havia tantos, de todo lado, que era só esticar a mão, colhê-los
aos punhados e guardá-los na sacola. Bem que as estrelas, assustadas, tentavam
fugir, mas não era fácil escapar ao Grande Semeador, e elas logo eram
aprisionadas. Khmvoum calculou o peso da sacola. Já era quase o suficiente,
mais um punhado de estrelas e pronto. Unindo o gesto ao pensamento, agarrou um
cometa que passava voando e mais duas ou três estrelas cadentes, para
completar! Khmvoum prestou atenção. Por cima da tempestade que rugia
lá embaixo, distinguiu o coro de seus filhos desesperados, suplicando: À nossa
desgraça ... Oh! Khmvoum! A morte já vem, o fim vai chegando, A chama vai se
apagar! Para tranquilizá-los, encarrega o elefante Gor, o mensageiro celeste
que fala na tempestade, de explicar aos pigmeus que o fim do mundo não viria
nesse dia. Gor dirigiu a tromba para a Terra, para mandar a mensagem de
esperança... Na mesma hora, atingidos por uma chuva diluviana, os pigmeus
recitavam sua prece com fervor crescente. O alvorecer já devia estar ali...
não restava mais muito tempo para salvar Bako. Então, quando o trovão
estourou com sua força assustadora, acreditaram que a hora de seu fim tinha
chegado. Mas o Nzorx apontou um dedo inspirado em direção ao céu. - À a voz
de Gor! - exultou, com o rosto encharcado de chuva. - E nos diz que Khmvoum
está à cabeceira de Bako. Khmvoum atravessara o espaço com grandes passadas.
Bem a leste do mundo, tinha encontrado o astro moribundo, mais pálido que a
Lua, e lançado o conteúdo de sua sacola na fogueira quase extinta do Sol. As
estrelas crepitaram, explodiram em centelhas que se transformaram em chamas
gigantescas. Bako foi ficando cada vez mais vermelho, como uma brasa
incandescente. A chuva de estrelas, que não parava de cair sobre ele, o
regenerou. Ele embrasou-se, inflamou-se, reencontrou seu esplendor original. E
no oriente houve uma ebulição de calor, uma luz ofuscante! Lá embaixo na
floresta, as risadas cruéis de Tore, o espà rito da Floresta, estrangularam-se
em sua garganta. A longa noite acabava de ter fim, a hora do grande declà nio
ainda não chegara. Saudado pelos pigmeus entusiasmados, o Sol levantou-se no
horizonte. Mais brilhante do que nunca, rasgou o manto das trevas, furou as
nuvens negras, dissipou os medos, explodiu e resplandeceu no dia nascente. -
Arco-Ãris! O Arco-Ãris! - entoaram os pigmeus, encantados, descobrindo o sinal
de Khmvoum a leste do céu. Tu que brilhas no alto bem alto,

Acima da floresta tão grande, Arco poderoso do Grande Caçador celeste, Diz a
ele que agradecemos! Não, Bako não se apagaria - não enquanto houvesse
estrelas no céu e enquanto Khmvoum velasse sobre seu povo. Texto - Franck Jouve
e Michael Welply Tradução - Ana Maria Machado
A ÀRVORE QUE NÀO TINHA MEDO DO CÀU
O Céu não foi sempre alto assim, nem a floresta tão bonita e cheia de vida.
No começo, o Céu ficava muito perto da Terra e pesava sobre ela como se fosse
uma grande tampa, de tal modo que as árvores só conseguiam crescer para os
lados. Então seus galhos ficavam uns por cima dos outros, suas folhas varriam o
chão tristemente, seus brotos se amarrotavam e secavam... Era assim desde o
começo dos tempos - e seria até hoje se uma sumaúma, cansada de viver
apertada, não tivesse forçado seu destino. "Quem sabe se não há mais espaço
do outro lado do teto do mundo?", sonhava ela. Firmando bem sua copa, a árvore
tentou furar um buraco e então - mas que prodà gio! - o Céu recuou alguns
metros! Era o que bastava para que a valente sumaúma se endireitasse em todo o
seu tamanho e passasse lá para cima, para aspirar o ar das alturas. Espantadas
ao verem que se afastava o tirano que as oprimia desde sempre, as outras
árvores aproveitaram para se sacudir e se esticar, lançando seus galhos para o
alto. Os troncos se firmaram, as raà zes ancoraram majestosamente no solo, os
brotos atrofiados se desdobraram, embriagados de felicidade, e deixaram assim
nascer milhares de folhas. Em volta da sumaúna, em pouco tempo a Terra era uma
vasta floresta virgem, que finalmente começava a respirar. Enquanto isso, do
outro lado do Céu, um jovem casal de órfãos avançava cautelosamente pelas
grandes pradarias celestes. Ao avistar o que tanto procuravam, ficaram imóveis.
Um lagarto grande , preguiçoso, tomava sol estendido sobre uma nuvem. O
caçador ergueu sua azagaia, enquanto sua companheira punha uma flecha no arco.
Consultaram-se com um olhar e fizeram pontaria... O lagarto deu um salto e rolou
sobre si mesmo, no instante em que os dois projéteis fendiam o ar. Os órfãos
não acreditaram no que viam: não apenas tinham errado o alvo, mas seus tiros
haviam desaparecido num buraco! Esquecendo a presa, aproximaram-se da
abertura... Debaixo do assoalho do Céu, um estranho mar verde ondulava a perder
de vista. Olhando mais de perto, descobriram a flecha e a lança fincadas no
meio daquele oceano esquisito. Não era um mar là quido. O que seria então? - E
se nós descêssemos? - sugeriu a moça, fascinada. Não precisou dizer duas
vezes. Era isso mesmo o que ele queria. Pousou o pé num galho da sumaúma, para
testar se era firme, e depois estendeu os braços para a companheira, a fim de
ajudá-la. De galho em galho, penetraram assim no coração daquele reino verde,
até pisarem em terra firme. Durante todo o dia, exploraram cada recanto da
floresta, maravilhados com sua beleza e com o frescor que nela reinava. A mesma
idéia lhes ocorreu, ao mesmo tempo: por que não se mudavam para viver ali
embaixo? O entusiasmo deles diminuiu quando, depois de muitas horas de buscas
inúteis, tiveram de se render às evidências: não havia viv'alma naquele
lugar... Nem um animal nos ocos, nem ao menos um inseto! Um silêncio mortal
planava sobre a floresta desabitada. Muito desapontados, os órfãos se sentaram
num tronco de árvore para pensar. Mesmo que eles se alimentassem apenas de
frutas e bagas, morreriam de tédio e solidão. E como começavam a ter fome, a
moça de repente se lembrou de que tinha no bolso uma espiga de migo celeste. Ia
dividi-la ao meio, mas mudou de idéia e a cortou em três pedaços. Deu um ao
companheiro, guardou o outro para si e plantou o último na beirada do bosque.
Talvez surgisse um campo de milho daquela terra semeada, num sinal de que
pudessem ficar lá embaixo. Enquanto as primeiras folhinhas do pé de milho
apontavam timidamente em busca da luz, a sumaúna continuava a crescer,
empurrando o Céu, lá nas alturas. Até que chegou um momento em que o Céu se
cansou e não quis mais chegar para trás. Curvou-se todo para resistir ao
ataque daquela insolente... mas a árvore acabou conseguindo transpassá-lo e
sair do outro lado. Foi assim que uma copa gloriosa e triunfante irrompeu bem no
meio da pradaria do céu - para grande alegria dos animais que lá viviam e que
vieram correndo se abrigar dentro dela. Até que enfim, aparecia um lugar fresco
e sombreado!

Porém, mal tinham se metido pelo meio da folhagem, quando o Céu resolveu de
uma só vez se afastar para bem longe da sumaúma, indo parar no lugar onde
está até hoje. Abandonados, sentindo-se presos numa armadilha, os animais não
tiveram outro remédio: trataram de descer, de qualquer jeito, pelo troco da
sumaúma e foram viver na floresta. Os que não conseguiram, nem sabiam voar,
tiveram de esperar que os órfãos fossem buscá-los, um a um. Foi assim que o
mudou o mundo todo, graças a uma árvore que não tinha medo do Céu. Texto de
Franck Jouve Tradução de Ana Maria Machado
INSTRUMENTOS
A cultura africana é muito rica. Neste espaço disponibilizaremos alguns dos
instrumentos musicais usados em rituais e comemorações de nossa nação. Para
cada um deles, contamos um pouco de sua história e utilização. À, de fato,
uma viagem no tempo e na história da cultura afro-brasileira.
DANHOUN
O danhoun pertence a famà lia dos instrumentos de percussão. À uma série de
três tambores de tamanhos diferentes sendo o maior chamado de hounon, o médio
o sanga e o menor o alekle. Eles são cobertos com ráfia tingida, apenas
tocados por adeptos preparados (ogans) e sua melodia só pode ser dançada por
pessoas feitas. Este instrumento só é tocado durante as cerimônias em honra
ao deus Dan, representado pelo arco-Ã ris ou por Dangbe, a cobra python, para as
Tovoduns das águas doces ou para Legba, deus dos caminhos. Nestas cerimônias
os adeptos também usam roupas de ráfia tingidas de roxo. A intensidade do
ritmo do danhoun proporciona o transe aos voduncis. O deus Aziza, fascinado pelo
danhoun, foi o primeiro a iniciar um ogan para tocar seu instrumento de
adoração. Na Àfrica, tocar o danhoun para outros deuses que não os citados,
é considerado sacrilégio. Seu caráter altamente religioso faz deste tambor um
instrumento muito especial.
TATCHOOTA
tatchoota é uma espécie de gongo. Este instrumento musical é usado,
principalmente durantes os rituais fúnebres e celebrações. Ele difere dos
outros gongos por seu tamanho e forma especiais. À composto de duas peças
independentes sendo a primeira sempre usada no dedo indicador e a segunda,
circular, no polegar. O tatchoota é confeccionado em ferro e, usualmente,
possui 8 cm de diâmetro e 20 cm de comprimento. Os primeiros tatchootas a serem
confeccionados pelos antigos ferreiros reais, eram muito maiores. À um
instrumento misterioso e maravilhoso. O tatchoota também é utilizado pelos
betamaribes (caçadores), que sinalizam um animal abatido aos outros betamaribes
pedindo ajuda. Na cerimônia de passagem da infância para a maturidade, o
difoni, os jovens Fon recebem um tatchoota para simbolizar esta nova etapa de
vida e saem em procissão, tocando o instrumento. O ritmo produzido pelo
tatchoota é chamado tipenti, muito apreciado e dançado nas cerimônias em
homenagem aos Voduns e também no fim da estação das chuvas. Outro momento
importante onde o tatchoota é tocado é no sacrifà cio de animais e na entrega
das oferendas aos deuses.
GOTA
O gota, também conhecido como kago, que é a base do ritmo tchinkoume.

Inicialmente foi chamado de zin e era uma peça redonda de cerâmica, utilizado
para fornecer o ritmo zinli, música tocada pelos antepassados que vieram de
Tado, uma aldeia Mahi, onde nasceu o gota. Depois foi introduzido em Savalou
onde era tocado quando haviam inimigos na cidade. Daà nasceu o ritmo particular
do zin. O material principal utilizado para confeccionar o gota é produzido
pelo cabaceiro, chamado katin na là ngua Fon. Uma pele animal seca é esticada
cobrindo a abertura depois das sementes terem sido removidas. E é aà que o som
é produzido, com batidas firmes. Juntamente com este instrumento principal,
outras duas cabaças menores, emborcadas em recipientes cheios de água,
proporcionam um som diferente, o tohoun. Este ritmo é dançado por mulheres
ágeis por ser um ritmo muito rápido. O gota é tocado principalmente nas
cerimônias em homenagem aos voduns, funerais e para acalmar os espà ritos dos
mortos. Durante as cerimônias funerais toca o ritmo tchinkoume além do
yonoutcho e o ahidjekpe, que são o primeiro e segundo estágios,
respectivamente, do ritual dos mortos na tradição Mahi. Seu som oco e fundo
representa o outro mundo para os Mahis. Normalmente é tocado apenas por
mulheres.
KANKANGUI
À também chamado de kankank, kakasi, kakati, kakake. O kankangui é um
instrumento de sopro, confeccionado em latão com aproximadamente 1,95 cm de
comprimento, bem fino e brilhante. À uma herança cultural do reino Nikki, no
antigo Dahomey. À um instrumento sagrado e só pode ser tocado por pessoas
iniciadas. O kankangui é especial, não só por sua forma mas também pelo seu
tamanho além de produzir um som completamente diferente dos instrumentos de
sopro conhecidos. O iniciado que toca este instrumento é chamado de kiriku e
usa um bácom (espécie de chapéu) na cabeça. Ele era tocado para agradar os
reis e a aristocracia durante suas grandes cerimônias e procissões religiosas.
Ainda hoje é tocado nas procissões, festivais e cerimônias em homenagem aos
Voduns. Nas noites de quinta-feira, ele é tocado como um mensageiro sagrado,
levando aos deuses todos os pedidos dos adeptos ao culto dos Voduns.
ADJALIN
O adjalin é um instrumento muito antigo, criado pelo grupo étnico Goun. Ainda
hoje, este instrumento é tocado em quase todas as cerimônias e rituais em
homenagem aos Voduns. Normalmente, são os Gouns mais velhos que o tocam. À um
instrumento que exemplifica a grande imaginação e genialidade de um povo.
Confeccionado apenas de hastes de bambu, ao olharmos o adjalin temos a
impressão de estarmos vendo uma pilha de lenha mas, o adjalin é muito mais que
isso. Tem uma forma retangular, quinze hastes de bambu são dispostas
horizontalmente. O adjalin tem em média 65 cm de comprimento por 25 cm de
largura, e as hastes de bambu são amarradas por fibras de legumes. O som deste
instrumento é muito harmonioso, agradando à muitas pessoas. Elas são atraà das
pela melodia suave e fascinante, encantadora, um verdadeiro som mágico. Quando
tocado junto com os tambores, não há quem resista a dançar. À, sem dúvida,
um dos melhores instrumentos oriundos do antigo Dahomey.
ALOUNLOUN
O instrumento é chamado de alounloun e seu ritmo adjogan. O alounloun é uma
barra de ferro comprida, de um metro de comprimento, com um alongamento, toda
trabalhada, sua parte central é de cobre e argolas deslizam para cima e para
baixo para produzir a harmonia de sua música. Tem um cabo na forma de um
pássaro, sÃmbolo de Kokpon. Para falar das origens deste instrumento devemos
voltar na história. No inà cio, o alounloun era um cajado que simbolizava a
força do rei de Allada. Este cajado foi herdado por TeAgdanlin de seu pai
Kokpon quando da disputa, entre os dois irmãos, formaram então os reinos de
Allada e Dahomey, respectivamente, no século dezessete. Um descendente de Te-
Agdanlin, De-Gbeyon, transformou o cajado em um instrumento musical, durante seu
reinado (1765-1775). Naquele tempo, era usado para acompanhar canções que
elogiavam o rei. Era tocado unicamente por mulheres.

Ele pegou o alounloun durante a migração e veio para o sul do Benin onde criou
o reino de Hogbonou (atual Porto Novo). Quando ele morreu, de uma geração para
a outra, o alounloun sofreu várias transformações contando com o gosto e
aspirações de cada rei. Foi realmente transformado em um instrumento musical
pelo rei De-Gbeyon para homenagear seus antepassados. Naquela época ele não
era tocado só para homenagear os reis mortos mas também para os reis vivos,
para as ahossis (rainhas) e na consagração dos ministros do rei. O alounloun
foi tocado durante cinco dinastias de Porto Novo. Hoje é tocado em muitas
cerimônias em homenagem aos voduns, nos ritos fúnebres, procissões e
festivais.
BALAFON
O verdadeiro nome deste instrumento é balan, incorretamente chamado de balafon,
palavra francesa que indica quem toca o instrumento: balan é o instrumento, fo
o tocador. Sua forma é trapezóide e seu som melódico, ativo e excitante. Ele
é confeccionado de barras de madeira que produzem notas quando tocadas. As
barras são dispostas paralelamente e sob ele coloca-se cabaças de vários
tamanhos para criar um sistema de amplificação do som. As barras são feitas
de uma madeira dura chamada gouene-yori, na là ngua bambara e koyehoun, em Fon.
Os fios que seguram as barras são feitos de pele de cabra ou cervo, que é mais
resistente. O balafon é tocado em cerimônias festivas em homenagem aos deuses,
acompanhado de outros instrumentos. Podemos encontrar o balafon em vários
modelos.
DJEMBE
O djembe ou jeme, é um tambor com uma cabaça atada, tocado com a mão e junto
com o doudoumba, outro instrumento de percussão, fornecendo o tom baixo. O topo
do djembe é coberto com uma pele de cabra curtida, segura por argolas de ferro
anexadas por nós de corda. Tem um som agradável e puro. Alguns dizem que seu
nome vem do som do instrumento quando vibra. À um instrumento muito expressivo.
O djembe deve estar sempre em um local seco e limpo. À tocado em diversas
cerimônias e rituais em homenagem aos voduns.
KPANOUHOUN
O kpanouhoun é uma espécie de tamborim tocado por vários grupos étnicos:
Fon, Mahi, Goun, Mina, Yoruba, etc. À composto de uma parte semelhante a um
prato fundo e uma margem com buracos onde aparecem argolas de ferro. Uma parte
da margem não contém buracos e é aà que deve ser segurado com a mão direita.
Com a palma da mão esquerda é tocado. Não se pode dizer com exatidão onde
este instrumento se originou. Ele emite um som muito agradável, falicitador de
nossos sonhos. À um dos raros instrumentos tocados exclusivamente por mulheres,
em cerimônias de casamentos, iniciações, funerais de idosos e festivais. Pode
ser acompanhado por um gongo de uma ou duas câmpulas.
SATO
O sato é um instrumento sagrado de percussão, feito de madeira e coberto de
couro. O tambor maior mede cerca de 1,75 cm de altura. Ele possui duas formas:
uma masculina e outra feminina sendo que, ainda podemos encontrar uma forma
hermafrodita, exibindo seus atributos sexuais na maneira de se tocar. Este
tambor é tocado com pequenas varas curvas, e emite um ritmo do mesmo nome,
durante os festivais anuais em homenagem aos antepassados. Nesta ocasião, todos
dançam o ritmo sato, tocado pelo tambor de mesmo nome acompanhado de outros
instrumentos musicais: gbehoun, ahlomidon, alangandan e o gongo. O tambor sato
participa da passagem do morto do mundo visà vel para o invisÃvel e é por isso
que é tocado nos ritos funerais, para garantir a separação da alma deste
mundo e sua transição para o outro mundo. A ninguém é permitido olhar dentro
do sato pois lá estão os espà ritos dos mortos e é por isso que ele é
guardado em posição ereta e só pode ser transportado a noite.

Este instrumento é fantástico, desafia o tempo e é imutável.
YABARA
O yabara também é chamado de mayabara (a cabaça da humanidade). À um
instrumento de percussão, sua forma e tamanho são variáveis. Ele é
confeccionado de uma cabaça e revestido por uma rede de pérolas ou sementes de
frutas, envolvendo a cabaça até o pescoço. Para se tocar o yabara, pega-se o
pescoço da cabaça com uma das mãos e com a outra a ponta da rede para
permitir que o som das pérolas ou sementes seja amplificado. Este é outro
instrumento bastante utilizado nas cerimônias e rituais dos Voduns.
KPEZIN
O kpezin é um instrumento importante na vida cultural e religiosa do Benin. À
um tambor em forma de pote, uma caixa de som com um longo pescoço e uma base
redonda. A base é revestida com vime trançado e o instrumento é assentado em
uma "almofada" de casca de bananeira seca e enrolada, presa no instrumento por
fios de fibra de folhas de bananeira. O topo tem um diâmetro de 73 cm e é
coberto por pele de antà lope. Há dois tipos de kpezin: o maior chamado de
kpezinnon e o menor kpezinvi, que podem ser tocados ao mesmo tempo. A base do
kpezin, coberta de pele, pode ser batida no centro ou nas margens para produzir
sons diferentes durante as cerimônias especiais, exigindo muita habilidade de
seus tocadores. O kpezin é frequentemente colocado em uma peça de madeira
quando é tocado para que as forças dos deuses sejam "armazenadas" nos
assentamentos. Da mesma maneira, ele é tocado para os assentamentos destes
tambores que são guardados sob eles quando não estão sendo tocados. Ele
também é tocado em cerimônias e rituais aos voduns e funerais. Nos rituais
fúnebres ele é tocado acompanhado pelo zinli, para afastar as aflições,
moléstias e ofensas. A maior parte do tempo, os Ogans tocam o kpezin sob uma
árvore. Também é utilizado em rituais agrà colas e de purificação. O kpezin
é um instrumento muito antigo, já tocado pelos adjohoun (da cidade de Adja),
trazido de Allada pelo rei Dakodonou, primeiro rei do Dahomey, morto em 1645. No
reinado de Glele, o kpezin também foi utilizado, inclusive para consertos em
frente ao palácio. Tradicionalmente, o kpezin é um instrumento sagrado. Na
cerimônia do aziza honou (Aziza é o deus da canção, da música, dos caminhos
musicais), é tocado na madrugada. Esta cerimônia confere grande força aos
instrumentos.
GANKEKE
O gankeke é uma espécie de sino duplo sem nenhum pêndulo em seu interior,
feito em duas peças de ferro, redondas e finas ao longo, como um funil, unidos
no fim com um espaço entre elas, formando um cabo onde o tocador segura o
instrumento. O pescoço do instrumento é encurvado e os tocadores dão
batidinhas com uma peça de madeira. Também encontramos gankeke com apenas uma
câmpula. Existem gankekes de 20, 30 ou 50 cm de comprimento. Este maior é
tocado especialmente nas cerimônias fúnebres. Ele produz um som agradável,
'kay' 'kay' 'kay', de onde sai seu nome, acrescido de gan, que quer dizer ferro.
Este instrumento é tocado principalmente por homens que, numa mão têm o
gankeke e na outra o zangbetohoun, que é um outro instrumento musical, secreto,
exclusivo da sociedade do Zangbeto. Seu propósito está em garantir a
segurança do reino. Além de instrumento musical, o gankeke era utilizado para
que as ordens do rei fossem comunicadas por um músico chamado kpalingan, uma
espécie de repentista que vagueava pelo humpayme, cantando para todo o reino as
ordens e notÃcias do rei. O kpalingan também era responsável por cantar sobre
toda a genealogia dos reis do Dahomey. Assim, hoje, cada cantiga, cada
reverência cantada tem um significado, uma mensagem precisa que pode ser
compreendida apenas pelos iniciados. O gankeke também toca o ritmo gangbo,
quando os Zangbeto, vigias da noite, saem em patrulha. O instrumento gangbo, de
onde vem o ritmo de mesmo nome, também é uma espécie de gongo utilizado pelos
Zangbeto.

Nas comunidades e cerimônias dos Voduns, o gankeke é um instrumento tocado
pelas sacerdotizas pela manhã e a noite, nos templos de Doudoua e de Dan, para
saúde ou culto de adoração à esses deuses, além de procissões. Era também
com o gankeke que as sacerdotizas "espantavam" a má sorte e os espà ritos ruins
dos palácio reais.
Artigos
As matérias apresentadas foram selecionadas por mim e tiveram autorizações de
seus respectivos autores. As pessoas que quiserem colocar suas matérias neste
site, poderão enviar-me a mesma para uma previa seleção. Só serão aceitas
matérias relacionadas a cultura dos Voduns e seus seguidores.
Simbolismo Espaço Sagrado Escolha do Nome Comidas de Santo Ervas, História e
Ritos Vodou - Arte e Deuses Dia Nacional dos Voduns
Simbolismo
A palavra "sÃmbolo" origina-se do grego symbolon, um sinal de reconhecimento
onde observamos que sua etimologia mostra o sà mbolo como algo composto. À um
sinal visÃvel de uma realidade invisà vel que jamais se esgota em seus
significados. O objeto e seu significado não podem ser separados. As imagens,
os emblemas, os objetos, os sà mbolos, os mitos não são meras criações de
nossa alma, nosso espà rito ou nossa mente, eles nos falam de todas as nossas
necessidades. São objetos de nosso cotidiano, percebidos pelos sentidos, mas
que apontam para algo encoberto, enigmático, para um significado e para um
excesso de significados, tudo que não pode ser esgotado no primeiro momento.
Algo externo revela algo interno, algo corporal em algo espiritual, algo
particular em algo geral. Geramos energias especà ficas ao visualizarmos,
mentalizarmos, canalizarmos ou sentirmos um sà mbolo, eles nos levam a entrar em
ressonância com o Cosmo, que é o grande objetivo. Através dos sà mbolos
desenvolvemos uma maior capacidade de percepções, revelações e
transformações. Eles fazem parte de toda a nossa realidade, de nossa vida
interior, mÃstica e religiosa, nos orientam no campo do conhecimento e no campo
religioso. Somos conduzidos à diversas dimensões à mundos distantes, Ã
passados remotos e ao nosso interior onde a "palavra ainda não se transformou
em palavras". Os inúmeros sà mbolos existentes (lingüà sticos, musicais,
religiosos, mitológicos, matemáticos, etc), ocultam verdades iniciáticas e
contam, sozinhos e interligados, passagens de toda humanidade além de formarem
um único sÃmbolo, o UNO. Quando trabalhamos bem nossas energias, elas se
transformam em sÃmbolos de vida, de pensamento, de sabedoria e o poder ativo dos
sÃmbolos projetam seu significado no Cosmo que nos devolve em energia do saber
infinito. Os sÃmbolos são universais e difundidos em todo o mundo, em todas as
culturas. Não podem ser substituà dos mediante um acordo. São suporte e
difusores de energias que nos revelam os segredos da matéria e do espà rito, do
fÃsico e do espiritual. No universo tudo é vida e se manifesta simbolicamente.
O homem, desvendando a linguagem oculta dos sà mbolos, desperta seu inconsciente
para a unicidade, adquire esclarecimentos suplementares sobre a natureza secreta
de nossa identidade espiritual, nosso EU. O africanos e seus descendentes
transplantaram toda uma cultura em sà mbolos que fazem parte de nossa sociedade
cultural e religiosa. Através de diversas etnias e de processos sociais e
históricos, nosso paà s, nosso povo, nossa formação é profundamente marcada
por instituições que transportam e recriam a riquà ssima herança africana. As
casa de candomblé são os maiores difusores desta herança cultural africana
através de um farto e complexo sistema simbólico.

Todo grupo, toda etnia, associação ou comunidade, para se constituir como tal,
deve estabelecer modo de comunicação - gestos, sons, exclamações, ritmos,
cores, formas - e constitui-se numa linguagem. Essa linguagem compreende um
conjunto de signos cujo intercâmbios ou relações simbólicas configuram as
divindades. Desta forma, o grupo expressa seus desejos. O consenso simbólico
permite que o grupo fale entre si. No candomblé o simbolismo é realizado
fundamentalmente pela prática religiosa. A comunicação se dá por atividades
individuais ou em grupo, pelas cerimônias e ritos públicos e privados, pelos
quartos sagrados, objetos, trajes e emblemas rituais. Dança, ritmos, cor,
conta, gesto, folha, som, emblemas e objetos se articulam para significar o
sagrado. São instrumentos de comunicação que, através de sua forma
significante, manifestam e contribuem para manifestar e transmitir a complexa
trama simbólica que ultrapassa gerações, transcendendo o tempo e a origem. A
caracterização sagrada de um sà mbolo é dada através de rituais religiosos
especiais que transmitem poderes mà sticos à esses sÃmbolos. Desta forma, não
podem ser tratados como objetos-divindades ou meros amuletos onipotentes que
controlam os adeptos e sim como objetos preparados e aceitos como sà mbolos de
forças espirituais. Eles são mais que meras representações materiais, são
objetos essenciais em que o sagrado está representado. O religioso reverencia
não à matéria e sim à essência mÃstica que ele simboliza, que têm
finalidades e funções. São portadores de forças mà sticas, estimulam a
memória grupal e o processo de ligação à s divindades. Os sÃmbolos são um
"microcosmo" que, decodificados, falam de todo um sistema religioso - estético
de uma determinada nação. Não é possà vel definir intelectualmente o processo
de criação desses sà mbolos assim como, não podemos compreender seu conteúdo
sagrado como uma equação matemática. Cada um deles possui conteúdos
aparentes, visÃveis ou manifestos em nà veis consciente, latentes, ocultos ou
reprimidos no nÃvel inconsciente. A religião, a mitologia e a arte são os veà -
culos mais sensÃveis através dos quais uma cultura manifesta seus conteúdos e
necessidades latentes. Eles abrigam os mais ocultos conflitos de nosso mundo
presente e passado, um gigantesco arquivo onde parte de nossa história
ancestral - o inconsciente coletivo - se elabora e transmite. SÃ mbolos de uma
cultura que emprestam sua matéria para que o mà stico se revele. Para
vivenciarmos os sÃmbolos realmente como tais, devemos estar prontos para nos
deixarmos tocar emocionalmente por eles, questionarmos nosso nà vel de vida
concreto para depois nos ocuparmos com o que está oculto. Quando estabelecemos
relação com um sÃmbolo, tudo que está ligado a ele torna-se repentinamente
vivo. Ainda hoje, a grande maioria do povo candomblecista, desconhecem a
simbologia dos objetos de nossa religião, assumindo atitudes meramente
repetitivas de tradições passadas oralmente, sem serem decodificadas.
Acreditamos que a cada sà mbolo compreendido e apreendido, crescemos em
emanações de energias interior e exterior. - Fontes de consulta: Dicionário
de SÃmbolos - Jean Chevalier Os Nagôs e a Morte - Juana Elbein
AS MÀOS
A mão exprime as idéias de atividade, ao mesmo tempo que as de poder e de
dominação. Certos escritos taoà stas dão à elas o sentindo do alquimista de
coagulação e de dissolução, correspondendo a primeira fase ao esforço de
concentração espiritual, a segunda à não intervenção ao livre
desenvolvimento da experiência interior dentro de um microcosmo que escapa ao
condicionamento espacial e temporal. À preciso lembrar ainda que a palavra
manifestação tem a mesma raiz que mão: manifesta-se aquilo que pode ser
seguro ou alcançado pela mão. A palavra em hebreu iad significa ao mesmo tempo
mão e poder. A mão esquerda é tradicionalmente associada com a justiça e a
direita com a misericórdia; a mão do rigor e a da maleabilidade, o equilà brio
quando juntas. A mão fechada é o sà mbolo do segredo. A mão serve, enfim, Ã
invocação. Por vezes ela é comparada com o olho: ela vê. À uma
interpretação que a psicánalise reteve, considerando que a mão que aparece
nos sonhos é equivalente ao olho. Daà o belo tÃtulo: "O cego com dedos de luz".
Segundo Gregorio de Nissa, as mãos do homem estão ligadas ao conhecimento, Ã
visão, pois elas têm como fim a linguagem. As mãos têm uma "transferência"
e também uma "troca" de energia. A mão é como uma sà ntese, exclusivamente
humana, do masculina e do feminino, ela é passiva naquilo que contêm e ativa
no que segura. As mãos possuem milhares de pontos ocultos de canais sutis por

onde circula a energia vital. Esses centros de consciência, superpostos ao
longo da coluna vertebral até o topo da cabeça, podem ser qualificados de
"turbilhões de

matéria etérea". Ao friccionar as mãos com os búzios (jogo) dentro, estamos
ativando esses pontos, liberando e trocando energia, a concentração
espiritual, a manifestação, o poder, o segredo, a invocação, o conhecimento,
a visão e o equilÃbrio, para termos como fim a "linguagem" da leitura dos
búzios. Se todos os pais/mães de santo procurassem entender mais sobre o
significado de tudo que fazem e manipulam, com certeza o "poder" que têm em
suas mãos seria muito melhor explorado e aplicado em beneficà o de seus filhos,
de si próprio e da humanidade. fonte de consulta: Sà mbolos - Jean Chevalier
O ESPAÀO SAGRADO Ataliba Fernando Costa*
A sacralização do espaço remonta, é certo, aos primórdios do aparecimento
na Terra dos seres humanos modernos (Homo sapiens) isso na era Cenozóica, perà -
odo quaternário.O Homem é considerado como uma das últimas espécies a surgir
no planeta, e na sua curta trajetória sobre a superfà cie deste planeta apenas
ele possui as ideais condições e capacidade para agir sobre o meio e manipular
objetos, Aguiar ao dissertar sobre as capacidades humanas afirma que o Homem
diferencia-se das demais espécies animais, visto que só o Homem é dotado de
imaginação e inteligência simbólicas. Trataremos então a seguir de
manipulações do Homem sobre o meio, e a sacralização não só do espaço,
mas também do momento, de um certo momento que capturado e representado pode
trazer presságios para um ato ou uma vida. Comentaremos sobre as mais antigas
representações conhecidas, as gravadas nas paredes das cavernas,
representações conhecidas como arte rupestre; além de muito estudadas em
nossos dias, trazem algumas incógnitas que ainda não foram plenamente
elucidadas. Uma delas, refere-se à dificuldade de precisar a idade desses
desenhos. No entanto, alguns pesquisadores afirmam que desenhos como esses datam
de perÃodos anteriores ao Neolà tico. Relevando os problemas de exatidão da
idade dessas representações, a arte rupestre prima por nos fornecer, como
salienta Brézillon, "informações sobre a fauna e o gênero de vida das
populações representadas". Estas formas primitivas de representação, feitas
nas paredes das cavernas, usando de pigmentos extraà dos da natureza e entalhes
feitos com ferramentas de pedra, como muitos pesquisadores como Brézillon,
Hauser, Garcia, Motes e outros puderam observar, não tinham nenhuma intenção
ornamental estética, e sim um caráter mà stico, onde as imagens ali presentes
representavam, para o Homem pré-histórico, amuletos; presságios positivos em
suas empreitadas, uma vez que se encontram em salas ocultas, de difà cil acesso;
nunca em lugares expostos à apreciação, como mostra Hauser. Sobre todo el
hecho de que las pinturas estén a menudo completamente escondidas en rincones
inaccesibles y totalmente oscuros de las cavernas, en los que hubieram podido de
ninguna manera ser una "decoración. Tambien habla contra semejante explicación
el hecho de su superposición a la manera de los palimpsestos, superposición
que destruye de antemano toda función decorativa; esta superposición no era,
sin embargo, necesaria, pues el pintor disponà a de espacio suficiente. El
amontonamiento de una figura sobre outra indica claramente que las pinturas no
eran creadas com la inteción de proporcionar a los ojos un goce estético, sino
persiguiendo un propósito en el que lo más importante era que as pinturas
estuviesen situadas en ciertas cavernas y en ciertas partes especà ficas de las
cavernas, indudablemente en determinados lugares considerados como especialmente
convenientes para la magia. De posse destas afirmações exemplificadas podemos
então, concluir que poderiam ser estes ambientes os primeiros templos, lugares
sacralizados, que manipulados pelo homem estavam prenhes de magia e energia
possibilitadora de presságios positivos. Ainda buscando subsà dios nas
informações de Hauser, podemos também dizer que se o templo, ou seja, locais
onde tais imagens eram impressas, o local representado também continha a
energia sagrada, um local sacro santo. Ainda citando Hauser, quando este
disserta sobre os autores das tais pinturas rupestres podemos apreender que os
executores dessas obras deveriam possuir além das posições de caçador e até
mesmo de geógrafo o tà tulo de sacerdote, aquele eu distinguia e prendia
mentalmente todas as particularidades de um lugar para assim pender no templo de
seu clã toda a mÃtica do lugar. l pintor paleolà tico era cazador y debia, como
tal, ser um buen observador; debà a conocer los animales y sus caracterà sticas,
sus habituales paradas y sus emigraciones a través de las más leves huellas y
rastros; debÃa tener una vista aguda para distinguir semejanzas y diferencias.
Com essas informações podemos concluir que as representações primitivas são

parte das conquistas do Homem, que lenta e gradativamente foi se
intelectualizando e criando condições de agir sobre o meio, evoluindo,
conseqüentemente, na forma de representar o espaço à sua volta. Os desenhos
impressos pelo Homem primitivo, são

representações do espaço no qual ele age, e, como não poderia deixar de ser,
está cheio de elementos emocionais, um espaço relacionado com as necessidades
e interesses do Homem pré-histórico. Dizer que as câmaras das cavernas
utilizadas pelo homem como templo, seria o primeiro templo seria um pouco
incoerente uma vez que o divino, o sagrado estava, na realidade do outro lado
daquelas paredes de pedra. Concluà mos sim, que tais câmaras eram na realidade a
captura de espaços especiais que deviam ser transformados e sacralizados.
Finalizando essa questão da sacralização do espaço podemos afirmar que a
categoria Espaço, Paisagem e até mesmo Lugar (unidade elementar) servem como
pano de fundo para as atividades humanas, portanto o profano e o sagrado
coexistem, e quem transforma e dá caráter profano ou sagrado a um ambiente é
o homem que o manipula ao se bel prazer. Citando HARVEY, quando este fala das
classificações do espaço, este escreve: O espaço não é nem absoluto,
relativo ou relacional em si mesmo, mas pode tornar-se em um ou em outro,
dependendo das circunstâncias. O problema da correta conceituação do espaço
é resolvido através da prática humana em relação a ele. Em outras palavras,
não há respostas filosóficas para questões filosóficas que surgem sobre
natureza do espaço. As respostas estão na prática humana.
* Ataliba Fernando Costa é Geógrafo, licenciado pela UFJF, com
especialização em geografia e Gestão do território   em curso. AGUIAR, V.
T. B. Atlas Geográfico Escolar. Rio Claro: UNESP, 1996. Tese de Doutorado. P.
95. À o que podemos chamar de arte ou escrita primitiva e indà gena. São
motivos geométricos representações zoomorfas e antropomorfas. BRÀZILLON,
Michel. A Arte Rupestre Pós-glacial. IN: LEROI-GOURHA, A. et al.. Pré
História. São Paulo: Pioneira/Edusp, 1981. P. 298-307. HAUSER, Arnold.
História Social de la Literatura e la Arte .. p. 29. HARVEY, D. A Justiça
Social e a Cidade. São Paulo: Hucitec, 1980, p. 5.
A Escolha do Nome de Uma Criança no Benin - cultura Ewe/Fon/Mina
A escolha do nome a ser dado à uma criança para o povo Ewe/Fon/Mina, é um dos
eventos social e espiritual dos mais importantes. Marca o inà cio do destino da
criança aqui na terra. Do momento da concepção, quando a mãe descobre que
está grávida, até seu nascimento, todos os eventos são marcas significativas
na vida daquele novo Ser, que muito influenciarão sua passagem neste planeta
Diariamente, sua mãe vai caminhando ao mercado, pegar pequenas poções de
água. Esta pequena, porém sutil atividade tem um significado grande, revela o
"Se" (alma/espÃrito) da criança que está para nascer. Está água é oferecida
à uma personalidade importante e, desta forma, eles acreditam que a alma da
criança se iguala à do antepassado escolhido, que acompanhará está criança
em seu nascimento. A culminância destes importantes momentos, o nascimento da
criança, é a escolha do nome. Por exemplo, o nome atribuà do à criança pode
ser baseado no dia da semana que a criança nasceu. A criança é também
cuidadosamente examinada por dzoto (alma ancestral), pertencente à cosmologia
Ewe. Desta forma, totalmente assistida e acompanhada por seu dzoto, a criança
nasce para realizar seu destino aqui na terra. Do momento em que toma
conhecimento deste sagrado momento, a criança é orientada a evitar comer
determinados alimentos e lhe é dado amuletos que devem ser usados em seus
braços, pescoço e quadril, onde quer que vá; desta forma, os maus espà ritos
não a perturbarão. Outras situações bem observadas são: de que forma esta
criança sai do ventre de sua mãe, se possuem má formação, marcas de
nascimento (sinais), tamanho do corpo, como choram, etc. Todas estas caracterà -
sticas também contribuem para determinar a personalidade da criança ou mesmo
podem revelar sugestões para o seu futuro destino, de sua famà lia e de sua
comunidade. O nome da criança também pode ser dado baseado na ordem de seu
nascimento. Por exemplo, um menino que tenha sido o terceiro a nascer em uma
famÃlia poderá ser chamado "Mensah" ou se for o quinto "Anani". A menina
poderá ser chamada de "Mania", "Masa" se for a quarta a nascer ou "Mansa Abla".
A todas as crianças é dado o nome de seu Vodum, aquele que o acompanhou em seu
nascimento ou de quem sua natureza mais assemelha. Mesmo as crianças nascida em
circunstâncias excepcionais ou inferiores, também recebem

o nome de seu Vodum. Por exemplo, as crianças nascidas com má formação fà -
sica ou mental, anões, são chamados "Tohosou", espà ritos de antigos ancestrais
de Dahomey, que apresentavam as mesmas deficiências. Crianças nascidas de
maneira incomum, algumas de vezes até "engraçadas", também podiam ser
nomeadas de acordo com as circunstâncias. Por exemplo, se uma mãe esta
trabalhando em uma estrada, ou a caminho do mercado, se for menino pode se
chamar "Alifoe" (homem do caminho) ou "Aliposi" (mulher do caminho) se for uma
menina. Se o pai da criança morrer antes de seu nascimento, se for menino pode
ser chamado "Apedo" (a casa está vazia) ou "Apedomesi" se for uma menina. Se
for o último a nascer pode ser nomeado "Agosu" e "Agosa" se for uma menino,
"Agosi" ou "Agosivi" se for uma menina. Se a criança for filha de pais muito
pobres pode ser chamada "Lavagnon" (as coisas vão melhorar) ou "Agbsi" (nas
mãos de Deus), ou ainda "Agbebavi" (você compensa toda a vida que choramos).
Crianças que nascem com uma propensão a atrair espà ritos negativos devem ser
chamadas "Abalo" ou "Aboki" que significa, mover os espà ritos ruins para longe.
Finalmente, quando a criança é apresentada ao bokono, já tem um nome do espà -
rito (famÃlia totem) de sua famà lia sanguÃnea, de sua linhagem.
Tradicionalmente, na cultura Ewe, é a avó ou o avô quem escolhe o nome da
criança, na falta desses, outra pessoa poderá dar os nomes desde que receba
uma inspiração e mantenha a tradição de nomes, circunstâncias incomuns,
dias da semana, etc. para ele é muito importante e significativo para todo
cumprimento de sua vida espiritual e material na Terra. Atualmente, devido a
grande mortalidade infantil, os beninenses esperam suas criança completarem
três meses de vida para dar inà cio as cerimônias na qual a criança se
tornará um membro oficial da famà lia. Centro Cultural Ceja Neji
COMIDA DE SANTO
Explorando o assunto Comida de Santo, pode-se encontrar na literatura alguns
textos. Fazendo-se agora um resumo e algumas colocações. Nina Rodrigues, em
seus estudos, ao abordar à arte da culinária africana, achou difà cil precisar,
devido ao estado atual dos costumes, Ã quais grupos pertenceriam determinadas
comidas. Já Manuel Querino assinalava que a contribuição dos grupos bantos,
angolanos e jejes eram maiores que as dos nagôs, contrariando a tese dos que
insistiam na sua predominância. Nos terreiros, esta cozinha, marcada por uma
série de preceitos e interdições, vai aparecer relacionada diretamente aos
deuses através das chamadas comidas do santo. Assim, cada um deles irá receber
em dias especiais (ou não) pratos de sua preferência. Não se trata, porém
só de comer e sim o que se come, o que não se come, quando se come, com quem,
participam de um todo integrado que diz respeito a códigos imprescindà veis
dentro da culinária dos deuses. E mais ainda, esta comida dentro da dinâmica
dos terreiros é um dos veà culos de vital importância para a transmissão e
distribuição de axé. Seja essa comida reelaborada a partir de técnicas e
maneiras predominantemente banto, jeje ou yorubá, esse negros modificaram as
refeições do reino como já exposto. Outro fato que deve ser considerado é a
falta de mantimentos num paàs desde o começo assolado pela fome. Da nova terra,
o português ao lado das caças e muitos frutos, só pôde aproveitar a mandioca
e o milho que eram alimentos básicos para o sustento e o qual era oferecido aos
negros. Adotar os mantimentos da terra, ao lado de importar tantos outros como,
por exemplo, o gengibre, arroz, inhame, banana, coco, dendê, foi à solução
encontrada pelos portugueses para suprir a falta de alimentos. Cascudo (1970)
diz que ao fim do séc XVIII os produtos americanos já estavam tão difundidos
na Àfrica portuguesa que participavam das refeições nos negros, escravos ou
livres. Os ingredientes africanos vindos da áfrica, como o quiabo, o inhame,
erva-doce, gengibre, gergelim, amendoim, melancia, dendê e outros foram
entrando aos poucos no Brasil de acordo com as exigências do tráfico ou da
população aqui estabelecida. Não é possà vel, no entanto, se pensar nesta
cozinha e nem em uma outra somente a partir de tais elementos. Ela é mais do
que um conjunto de matérias naturais que podem ser adaptados e substituà dos.
Esse próprio fato obedece a uma certa ordem inscrita nos mais remotos tempos,
fazendo com que a comida não perca seu sentido nem se afaste da visão do mundo
que ela representa. O que dá identidade à determinada comida não é a origem
dos vários ingredientes combinados, mas a maneira como estes elementos são
combinados. E estas maneiras obedecem a determinados ritos que lhe dão sentido
e, como tais, apresentam-se como algo criativo. Assim, é completamente

arbitrário buscar precisar datas para essa culinária, entendendo esta como
algo parado, fechado, se o próprio tempo se incumbiu de dinamizá-la. As
condições de possibilidade para se pensar uma cozinha africana não podem ser
pensadas em nÃvel cronológico, assim como não podem prescindir desse tempo.
Elas vão acontecendo, se dando, de acordo com o tipo de situação servil ou
livre e o lugar em que vivia o africano, variando, desde o primeiro momento em
que dividiu a cozinha com as africanas cozinheiras, até quando pôde, ante as
novas condições suscitadas pelo processo histórico, negociar um tabuleiro. O
processo de criação das comidas africanas também se deve a importância dos
jejuns e das

festas regulados pelas igrejas ( outra questão complexa que não cabe abrir
aqui). Os africanos tiveram também que adaptar às vezes sua alimentação, a
hora e quantidade que se podia comer impostas pela igreja. Todavia, quando
puderam providenciar seus próprios alimentos. é muito provável que tenham
lançado mão do conhecimento acumulado e das várias experiências trazidas de
suas terras, já somadas a tantas outras. Tudo isso que foi colocado pelos
autores não se trata de um retorno à Àfrica, mas fazer com que comida se
faça africana, ou seja, remonte a histórias e passagens, visões de mundo
associadas aos ancestrais, princà pios universais ou antepassados, aos
primórdios dos tempos quando estes fundaram a humanidade, constituà ram as
cidades e criaram os diferentes grupos. Visões de mundo juntadas a inúmeras
outras experiências históricas constituà das no Novo Mundo. À este fazer que
faz com que tal comida seja comida de santo. A comida de santo diferencia-se,
assim, daquela do dia a dia. Uma coisa é cozinhar um inhame e dividi-lo em
pedaços e come-lo no café da manhã. Outra é preparar esse mesmo inhame para
Oxalá, quando variam desde o tamanho, a forma das raà zes, os procedimentos
observados para sua feitura e por fim, as palavras ditas para encantar a comida.
Fazer um feijão no azeite não é o mesmo que preparar um Omolocum. Neste nada
pode se escapar, se escolhe bem os grãos, pois Oxun liga-se à fecundidade. Os
deuses comem comida mais elaborada. Embora os ingredientes sejam os mesmos,
mudam o tratamento que estes recebem. E a forma como estes são tratados
expressa seu sentido através de um ritual onde nada é por acaso. Assim, Exu
pode comer de tudo com já dizia um de seus mitos. Ogun pode receber feijoada,
uma vez que as carnes gordas lhe pertencem. E Oxossi por se ligar a terra,
recebe todos os frutos dados pelo Novo Mundo. Gonzegan Carla de Tobosi FONTE:
Faces da Tradição Afro-Brasileira   CNPq Santo Também Come - Raul Lody
ERVAS: HISTÀRIA E RITO
Wanda de Otolu Vem dos tempos mais primórdios, a história da utilização das
plantas, tanto é que os próprios animais, quando apresentam alguma
enfermidade, buscam ervas para auto-tratamento. Também o ser humano assim o
fez, desde sempre. À certo que doenças sempre existiram, e que, ao longo do
tempo, foram sendo divididas em outras tantas. Certo também que a alopatia
(medicina convencional) não nasceu junto com o primeiro "homus sapiens" a
habitar o Planeta. Desta forma, como os seres primórdios curavam suas doenças,
senão pela utilização das ervas existentes? Partindo-se deste raciocà nio,
não se precisa ir tão longe, para se concluir que as plantas sempre
acompanharam o ser humano, seja na alimentação (auto-subsistência), quanto no
tratamento de suas doenças. Junto com isso, foram surgindo, como é de
conhecimento histórico, as tribos, os guetos, já que, cientificamente, tem-se
conhecimento hoje de que a vida humana surgiu mesmo no Continente Africano.
Dentro desta visão, sabe-se também, através dos historidadores, que buscam
resgatar a história humana no seu princà pio, que, em cada tribo, ou gueto,
haviam os denominados hoje "curandeiros". A partir dos rituais desenvolvidos,
novamente as ervas foram inseridas em todo o processo histórico. Baseando-se
neste conhecimento, tem-se a idéia exata da dimensão da importância de todas
as plantas. Inclusive, cientificamente, já se descobriu até a "aura" de cada
planta, através de equipamentos especiais que captam até as diferenças
vibracionais de cada erva. Com todos esses elementos reunidos, é impossà vel
que, ainda hoje, as criaturas humanas não valorizem o conhecido "chazinho", ou
até, quem sabe, não utilizem as cascas, os frutos, as folhas, ou mesmo as
flores e as raÃzes, em outras atividades. No Candomblé, a árvore em si é de
suma importância, tanto que existem as árvores sagradas, desde a raiz, até o
caule, as folhas e os frutos. Os vegetais são imprescindà veis na prática
religiosa. O ritual das ervas é importante como elemento nos trabalhos
espirituais. As folhas podem ser utilizadas, tanto secas, como verdes. O caule
é utilizado como marco numa Casa de Santo e como sustentação em tenda, etc. A
raiz é direcionada em cada fim ritualà stico. As ervas, com seus elementos
vitais, trazem a essência para o crescimento espiritual.Cada elemento é
atribuÃdo à determinada natureza, de acordo com a essência de cada Vodum,
Orixá ou Inkice. Sem os rituais das ervas, não seria possà vel o mÃnimo
trabalho dentro de uma Casa de Santo. Em tudo, a erva sempre presente,
aproximando a essência de cada Ser Espiritual.

Vodou - Arte e Deuses
A arte tradicional de Vodun é a pedra fundamental desta religião, é a
encarnação das idéias religiosas mantidas por seguidores de Vodun. O
significado dos objetos usados nos cultos de Vodun é explicado geralmente desta
maneira: Os seguidores de Vodun procuram imagens dos deuses e dos sinais de
mistérios divinos. Fiéis, são capazes de incitar um espà rito em modelos
esculpidos e, assim sendo, o metal e a madeira aparentemente brutos são
transformados em um meio de comunicação com os deuses e seus antepassados. Se
observarmos cuidadosamente estes objetos, certamente nos aproximaremos do poder
irradiado pelos cultos e cerimoniais. Os deuses tentam incorporar em seus
seguidores humanos, os dançarinos mascarados são mensageiros que carregam
sinais divinos, os corpos dos dançarinos servem como mediadores para os deuses
de Vodun, as figuras gigantescas do deus Legba dão aos dançarinos uma nova
energia e os espetáculos naturais como o trovão e o relâmpago são
interpretados como expressões da vontade ou da punição divina. O Vodun une
seres humanos, matéria e natureza em um contexto orgânico de uma vista
coerente do mundo. Ao contrário das religiões monoteà stas como o islamismo ou
o cristianismo, o Vodun tem um santuário de deuses povoado por numerosas
divindades. As escavações arqueológicas na costa ocidental africana mostraram
que a religião e suas divindades tem mais de quatro mil anos. Pode-se dizer com
certeza que a tradição local, por exemplo em Heviosso e em Shango, vai além
de muitos séculos. Os realtos dos comerciantes e dos viajantes europeus que
visitaram Benin no primeiro século também atestam a existência destes deuses.
Em alguns casos, os templos e os cerimoniais que são descritos nestes relatos
estão até hoje quase que inalterados, como por exemplo o templo Dangbe em
Ouidah. Estes deuses parecem ser confusos, contraditórios e criativos, com
nenhuma hierarquia aparente, são passà veis de estar irados em um momento e
dóceis no momento seguinte. Nenhum dos deuses são semelhantes, cada um tem um
papel diferente. Alguns são relacionados ou têm crianças, outros são bi
sexuados ou podem mudar seu sexo à vontade. Por exemplo, Legba, o mensageiro
dos deuses, desencadeia seu inacreditável poder quando transforma-se
literalmente em dois deuses durante um cerimonial. Neste caso, um sacerdote
retorna da dança em um dançarino mascarado grande e outro pequeno que se põe
a girar. Fez-se uma criança? À o comentário alegre de todos os participantes
do ceremonial para este sinal da fertilidade divina, sabem que trará graças
aos seres humanos também. Para comprovação disto, todas as imagens moldadas
possuem penis eretos como sà mbolos da vitalidade e potência. O Vodou é mais do
que uma religião, é uma maneira de vida que inspirou artistas do Haiti em
muitos trabalhos. Depois da segunda guerra mundial, estes trabalhos chamaram
atenção de negociantes estrangeiros que comentaram o renascimento do Haiti.
Dois dos mais célebres destes artistas são o pintor Hyppolite e o escultor
Georges Liautaud. Outros artistas da atual geração são Antoine Oleyant cujas
bandeiras foram inspiradas pelos sonhos e visões de Vodou e Pierrot Barra que,
com a colaboração de sua esposa Marie Cassaise criam fantasias de Vodou com
sucatas recicladas. O renascimento do Haiti é expresso nas modernas telas de
Edouard Duval Carrie, cujo surrealismo captura perfeitamente caracterà sticas do
recente pesadelo polà tico recente do Haiti. O conteúdo escrito desta página,
traduzido e condensado pelos webmasters de Luiá, aqui apresentado fazem parte
do acervo do American Museum of Natural History
DIA NACIONAL DOS VODUNS
O Dia Nacional dos Voduns no Benin/Àfrica é comemorado em 10 de janeiro.
Durante todo o dia em várias regiões do Benin, o povo entusiasmado se
aglomeram nas portas dos templos executando rà tmos, cânticos e danças em
louvor aos Voduns. Todas as ruas e vilas são decoradas com motivos que lembram
os ancestrais e os Voduns. As mulheres fazem as melhores iguarias e os homens
preparam o vinho de palma, que serão degustados no decorrer das festividades.
As mulheres usam suas melhores roupas nativas e se enfeitam para agradar os
deuses, os homens tocam os mais variados instrumentos musicais emitindo ritmos
divinos e cantigas regionais que falam da tradição dos Voduns. Nas primeiras
horas da madrugada os sacerdotes e sacerdotisas saúdam e homenageiam Legba,
Sagbeto e os Ancestrais, acompanhados pelo povo. No amanhecer oferecem sacrifà -
cios e presentes aos Voduns. Começa a festa. Em Ouidah os adeptos de Mami Wata
(mães das águas) improvisam altares nas areias das praias, rios e córregos

onde são oferecidos balaios enfeitados com fitas, flores e presentes para os
Voduns das águas. Diante desses altares, o povo canta e dança louvando os
deuses. O ponto culminante dessa comemoração é a hora em que esses presentes
são colocados em pequenas embarcações e levados para alto mar onde serão
oferecidos aos deuses; o povo acompanha todo esse movimento com gritos
frenéticos e louvores. Essa data foi estabelecida após ser proclamada a
independência do Benin. O governo constituà do por beninenses elegeu Sossa
Guedehouhoungue como

Presidente Nacional do Culto aos Voduns, oficializando assim a religião. Os
principais templos aguardam a chegada de Sossa para dar inà cio os rituais
culminantes de comemoraçao ao Dia Nacional dos Voduns. Sossa se apresenta em
praças públicas, onde os adoradores de Vodum o aguardam para saudá-lo por sua
luta em prol da religião. Sossa Guedehouhoungue faleceu em 27/01/2001 e foi
sepultado em 25/02/2001 na cidade de Dotou. Sua urna mortuária viajou por quase
toda a Àfrica, onde o grande là der recebeu rituais fúnebres como a ultima
homenagem de um povo que tanto lutou para que seus direitos religiosos fossem
respeitados. O dia 10 de janeiro é o marco de uma grande vitória religiosa e
Sossa sempre será lembrado como o grande Sacerdote de Vodum. Comemorar e honrar
os antepassados e Voduns, é uma prática natural para o povo Fon.
O Humgebê
O humgebê é o fio de contas sagrado da nação Jeje. Ele representa o elo
entre o orum e o aiye. À o fio de conta da vida e da morte, sà mbolo do próprio
céu, do mundo espiritual, invisà vel e transcendente. O céu cósmico
particularmente em suas relações com a terra. Somente vodunsis recebem o
humgebê. Temos visto ogans e ekedis usando erradamente o humgebê. Quando o
inciado torna-se um vodunsi, ele recebe o humgebê pois acaba de nascer no mundo
do santo. Quando o vodunsi morre, o humgebê o acompanha. Ele nos liga ao orum,
nos traz o orum e nos leva de volta ao orum. Temos observado, no Rio de Janeiro,
erroneamente, algumas casas de Jeje darem o humgebê aos seus filhos somente na
obrigação de sete anos. Cabe aqui uma pergunta de uma velha Doné de Salvador
ao relatarmos esse fato: "Oxente!!!! Vocês no Rio só nascem aos sete anos?". A
preparação de um humgebê é igual ou maior que a feitura de um Vodum, inclui
obrigações, currans, zandros, etc. Há necessidade também, de alguns
preceitos de humdemê. O poder do humgebê ultrapassa a mente humana. Ele sempre
nos avisa quando vai acontece algo de muito grave na vida daquele vodunsi ou no
kwe. A voz do humgebê está num grande segredo da nação Jeje. Cada humgebe
confeccionado pertence àquele vodunsi e, em hipótese alguma, pode ser usado
por outra pessoa ou tocado. Quando um humgebê arrebenta, ele tem que passar por
todo um processo especial para ser reenfiado. A confecção de um humgebê segue
caracterÃsticas rÃgidas. Deve ter a quantidade certa de miçangas entre os
corais e seu fechamento também é um só. Não se fecha humgebê com contas na
cor do santo do yao e sim como um segui, como temos visto em alguns candomblés.
Também observamos humgebês enrolados no pescoço, atitude que quebra todo o
seu significado sagrado. A quantidade de corais que compõem um humgebê, ao
contrário que muitos pensam, não é fixa. O comprimento de um humgebê varia
de acordo com a altura da pessoa, devendo sempre estar um pouco abaixo do
umbigo. Em alguns segmentos Jeje encontramos o humgebê composto por dois
seguis, um no fechamento e outro no meio, o que também é correto. O humgebê
é composto de contas, corais e segui. O coral é a "árvore das águas",
participa do simbolismo da árvore (eixo do mundo) e do simbolismo das águas
profundas (origem do mundo). Sua cor vermelha aparenta com o sangue. Segundo uma
lenda grega, o coral teria surgido das gotas de sangue derramado pela Medusa. O
simbolismo do coral tem tando a ver com sua cor quanto com a rara
particularidade que tem de fazer coincidir, na sua natureza, os três reinos:
animal, vegetal e mineral. Devemos lembrar também, do simbolismo guerreiro da
cor vermelha. Como sà mbolo da árvore da vida e das águas profundas, faz o elo
entre a vida e a morte. Sua cor vermelha é o sà mbolo universal do princà pio de
vida, com sua força, seu poder e seu brilho, cor do fogo e do sangue.
Representa não a expressão, mas o mistério da vida e da morte. Um lado seduz,
encoraja, provoca; o outro lado alerta, detém, incita à vigilância. Este é,
com efeito, a ambivalência do vermelho do sangue profundo: escondido ele é a
condição da vida; espalhado significa a morte. O azul do segui, é a mais
profunda das cores: nele, o olhar mergulha sem encontrar qualquer obstáculo,
perdendo até o infinito. À também a cor mais imaterial e fria e, em seu valor
absoluto, a mais pura, à exceção do vazio total do branco neutro. O conjunto
de suas aplicações simbólicas depende dessas qualidades fundamentais.
Aplicada a um objeto, a cor azul suaviza as formas, abrindo-as e desfazendo-as,
desmaterializa tudo aquilo que dele se empregna. À o caminho do infinito, onde
o real se torna imaginário, um pouco como passar para o outro lado do espelho.
O azul não é deste mundo, sugere uma idéia de eternidade tranquila e
altaneira que é sobre-humana. À também a cor da verdade. A verdade, a morte e

os deuses andam sempre juntos e é por isso que, a cor azul também é o limiar
que separa os homens daqueles que o governam, do Além, seu destino. Há também
um simbolismo de castração, imposição e de um longo sacrifà cio, um certo
heroÃsmo, embutido no azul do segui. Como podemos observar, há uma enorme
simbologia religiosa e cósmica no nosso Hungebê

Mulheres na Sociedade Jeje
As mulheres na sociedade Jeje são representadas pela Mãe, ou pela Rainha. Os
ministros, homens que elevam ao trono, elegem a sucessora antes da atual rainha
morrer e nomeiam-na somente após a sua morte, com nome de alguma rainha
antepassada muito respeitada. Geralmente, nomeiam a mulher mais velha do clã.
Hoje, fatores como a instrução e a influência nacional podem vir a frente da
antigüidade. A rainha conduz e organiza as mulheres em atividades sociais como
irem ao mercado, manterem tudo limpo e organizado, etc. São tarefas importantes
porque o mercado é um centro social vital para a comunidade. Fora ser um lugar
onde os bens são "trocados"; o mercado é também um lugar de reunião comum.
Os futuros noivos encontram-se pela primeira vez, no mercado. Em tempos de
crises, a rainha mãe orienta as mulheres a irem ao mercado mesmo que apenas
socialmente. Quando os homens vão guerrear, como era freqüente no passado, ou
quando iam em visitas à corte real do Duque, o que fazem ainda hoje, a rainha
organiza as mulheres para trabalhos administrativos. Pela manhã e a noite
dirige uma cerimônia religiosa, pedindo proteção para que os homens voltem em
segurança. Posição difà cil ocupa a rainha. Extremamente dedicada, vive com
sua vida pessoal comprometida pelas responsabilidade com o clã. Oscilando entre
o prazer, a responsabilidade e os conflitos, tem o encargo maior de ajudar aos
aflitos que lhe procuram, na esperança de solucionarem problemas dos mais
diversos. Exerce um papel misto que vai desde a doçura maternal até o rigor
caracterÃstico de uma lÃder. No candomblé, não é diferente. O cargo maior na
herarquia religiosa é perfeito para mulheres, até pela sua própria natureza,
pela maternidade. "No contexto africano, as mulheres merecem atenção especial
quando da realização das formas artà sticas, visualizadas em sua fertilidade,
ora seios volumosos, fartos de amor e leite, ora o ventre protetor, ora sà mbolos
de sociedades secretas, enfim a matrilinearidade personificada no poder de criar
vidas e conduzi-las até a ancestralidade". (Jaime Sodré) Ela é a polà tica e o
cotidiano. Este arquétipo da mulher, foi trazido para o Brasil. Muito mais que
simples influências biológicas, culinárias, afetivas, etc, a mulher tem a
responsabilidade maior na formação e postura religiosa no candomblé. Essa
responsabilidade e valor feminino remontam à formação do mundo, sempre
enfrentando agressões, até mesmo fà sicas, com desacatos morais mas, é delas
os mais importantes cargos para a realização corretas dos cultos sagrados. Na
Àfrica as mulheres reúnem-se em sociedades secretas de prestà gio e poder.
Maior destaque devemos dar quando observamos que a mulher, em outras religiões,
tem participação restrita ou proibida. No Brasil, embora haja a participação
masculina, o matriarcado é predominante, um exemplo da soberania feminina
africana. "As mulheres do candomblé são o exercà cio da liderança religiosa-
cultural e civil a serviço da vida, preparadas e escolhidas para amar, lutar e
servir, assim pensou Mawu-Lissa e assim se fez". (Jaime Sodré) "Podemos ainda
acrescentar que, sem o poder feminino, sem o princà pio de criação, não brotam
plantas, os animais não se reproduzem, a humanidade não tem continuidade.
Assim, o princÃpio feminino é o princà pio da criação e da preservação do
mundo: sem a mulher não existe vida, devendo, segundo os mitos, ser
reverenciada e respeitada pelos Voduns e pelos homens'. (Helena Theodoro). Na
Àfrica, a sucessão de mulheres nas lideranças dos cultos, dá-se através de
um conselho de Bakonons, que jogam e "anunciam" a nova là der do clã, escolhida
pelos Voduns. No Brasil, poucas são as casas que preservam o modelo cultural
africano de sucessão. Polà tica e interesses passaram a frente da religiosidade,
razão pela qual, infelizmente, algumas casas tradicionais fecham suas portas.
HUMBÀ E HUDJÀ
Temos visto, em vários fóruns de estudo sobre a cultura afro-brasileira, muita
pessoas perguntando sobre o que é o Humbê. Temos visto também, explicações
que não têm nada a ver com a realidade do Humbê. Por esse motivo, resolvemos
esclarecer esse assunto, dentro do que nos é permitido. Humbê é o segundo
maior segredo da nação dos Voduns, aqui no Brasil, denominada Jeje ou Djedje.
Toda pessoa feita em Jeje deveria receber o Humbê, porém alguns pai/mães de
santo optaram em dar esse fundamento à alguns filhos somente após esses
fazerem por onde merecer recebê-lo pois, como sabemos, infelizmente, as pessoas
hoje mudam de casa, raà z, pai/mãe de santo como se isso fosse a coisa mais
natural do mundo. Somente aqueles que percebem a importância, o valor de uma
famÃlia, de uma raÃz, são merecedores de receber o Humbê, pois esses jamais

sairão de suas casas e, principalmente, da nação Jeje. Não podemos aqui
descrever o Humbê, apenas podemos dizer que é um axé pertencente única e
exclusivamente a nação Jeje e que fica muito bem resguardado dentro do Templo
dos Voduns. Já ouvimos e lemos pessoas dizerem que Humbê é o mesmo que Oyè
da nação Ketu, isso é, a expressão "Tomar

Humbê" seria o mesmo que "Tomar cargo". Já vimos inclusive pessoas da própria
nação Jeje fazerem essa afirmação. No Jeje a expressão "Tomar HUDJÀ" é a
correta para se dizer que a pessoa está tomando cargo. Cremos que, o fato da
grafia das duas palavras como também a pronúncia serem muito parecidas, gerou
toda essa confusão. Quem passa por um Humdémè, um Humbê e um Agêuntò,
nunca abandona a nação Jeje e jamais revela esses segredos para alguém, salvo
para seus descendentes. Aquele que falar, com CERTEZA não tomou HUMBÀ.
Pano da Costa
Presença e distintivo do posicionamento feminino nas comunidades religiosas
afro-brasileira, o pano-da-costa, não é apenas um complemento da indumentária
da mulher; é a marca do sentido religioso nas ações da mulher como iniciada
ou dirigente dos terreiros. Observemos a profunda conotação sócioreligiosa
desse simples pedaço de tecido, que atua em tão diversificadas situações,
desempenhando papéis dos mais significativos e necessários para a
sobrevivencia dos rituais africano. O pano-da costa é assim chamado por ter
sido um tipo de tecido vindo da costa dos escravos, Costa Mina, Costa do Ouro. O
tecido original foi substituido por outros tipos de tecidos, o que não diminui
em nada as funções do panoda-costa. O pano-da-costa identifica a mulher feita,
mesmo que ela naum esteja de roupa de santo completa. A situação do pano-da-
costa é de maior importância, se colocarmos a presença da mulher como sà mbolo
do poder sócioreligioso e arquétipo dos valores mágicos da fertilidade, isso
motivado pelas formas anatômicas caracterà sticas da mulher. O sentido protetor
do pano-da-costa é outro aspecto que merece atenção. As Yaos, ao terminar o
perÃodo de feitura começam a travar seus primeiros contatos com o mundo
exterior protegidas pelo pano-da-costa branco, que representa o prolongamento do
Ala de Oxala, envolvendo praticamente todo o seu corpo no grande pano-da-costa,
procura manter os valores religiosos de sua feitura quando em contato com os
valores profanos encontrados extramuros dos terreiros Nos sirruns/axexes, a
mesma proteção do pano-da-costa, ateado como capa envolvente mágica, aparece
guardando as mulheres das presenças de egum. Amigos, se voces podem encontrar
mais informações sobre o pano-da-costa no livros O Povo do Santo de Raul Lody
da PALLAS-Editora e Distribuidora Ltda. Agora vamos aos meus comentarios. O
pano-da-costa é de uso exclusivo da mulher nos cultos africanos, porque uma das
principais funções do mesmo é proteger os orgão reprodutores das mulheres,
das Yamis. Concordo com toda essa parte a cima transcrita do livro. Nos rituais
de sirrum/axexe as mulheres usam dois panosda-costas branco: um protegendo seus
ventres e outro sobre os ombros como uma capa que envolve todo o seu colo e
seios. O autor fala sobre o uso de tiras amarradas na cintura pelas mulheres com
obrigações de 7 anos e pelas ekedes. Bem ai eu discordo. Primeiro se tem que
ser usado na cintura, então que seja um pano-da-costa enrolado e não uma tira
de pano como muitas usam. O pano-da-costa deve ter no minino 60 cm de largura
para que possa proteger os orgãos que necessitam de proteção. As famosas
mães de santo não usam o pano- da -costa na cintura nunca. Aqui no Rio de
Janeiro convencionou-se que o pano-da-costa deve ser usado de acordo com a idade
de santo, isto é, só usa preso acima dos seios aquelas que ainda são yaos.
Esta errado, pano-da-costa é para ser usado dessa forma mesmo independente da
idade de feitura, quando muito, pode-se enrolar até abaixo dos seios. Eu mesmo
muita vezes coloco meu pano-da-costa na cintura, mas coloco-o aberto e não
enrolado e nunca o uso assim em candomble. De alguns anos para cá os homem
aderiram o pano-da-costa, mas nenhum deles até agora explicou o porque de usalo
e nem podem explicar pois o mesmo é de uso exclusivamente feminino. Observem
que as santas mulheres usam o pano-da-costa, os santos homens usam o pano-da
costa amarrados no ombro lembrando um Alaka (esse sim pertence ao homem) ou
amarrado para tras, ou simplesmente ficam com o peito nu adornados pelas conta e
brajas. Em algumsa casa encontramos abians usando pano da costa, esse
procedimento esta errado. As abians ainda não tiveram seus pontos de energias
abertos durante uma feitura, portanto as mesmas não necessitam dessa proteção
ainda.

ATINS
Atim no dialeto Ewe/Fongbe quer dizer árvore ou madeira. No Brasil, essa
palavra é usada para definir porções mágicas usadas pelos vários segmentos
do Candomblé. Essas porções mágicas são mais uma das heranças que nos
deixaram os africanos que trouxeram seus deuses para o novo mundo. São
compostas de ingredientes vegetais, minerais e animais, usadas para várias
finalidades. Os chamados "atins de feitura", tem como finalidade purificar o
corpo fÃsico do iniciado e ao mesmo tempo facilitar o transe. Os africanos
acreditam que, quanto mais djasi(djassi) eles passarem no corpo, mais aumenta a
força de seu Vodum no transe. A diferença no uso dessas porções no Brasil e
na Àfrica, é que aqui são usadas somente durante os rituais interno e na
Àfrica são usadas em público, isto é, durante os rituais e festas é
colocado um recipiente contendo porções mágicas que os vodunsis passam com
abundância em seus corpos quando os Voduns começam a manifestar-se em seus
filho. O djasi é muito usado em algumas regiões do Benin. Consiste em uma
pasta feita com farinha de milho, óleo de palma e ervas sagradas. Os Ata
(atá (gengibre)), atakim (ataquim) , makun (mácum (sementes)), nhido (nidô),
nhifo (nifô) e nhijou(nijou) elementos animais], nhijou toubome (nrijou-toubÃ
´mê (manteiga do reino)), nhizou (nizou )chifre)), yicca (iicá (mandioca
ralada e seca)) e o zume (zumê (matos e folhas)); são alguns dos gris-
gris(glisglis (ingredientes para pós mágico e amuletos)) vendidos nos mercados
de todas as cidades no Benin. Os Gbokonans(bôcônãs), os Akpagans (apagans) e
as Dehes (dérés) são alguns(as) dos sacerdotes responsáveis pela
fabricação dessas porções mágicas. O Akpagan é uma espécie de médico
curandeiro que conhece as propriedades terapêutica de todos os gris-gris.
Existem ainda aos porções mágicas denominadas "Zoha (zorra)", pós mágicos
usados para feitiços. São preparados pelos sacerdo-tes e adivinhos que os usam
para afastar pessoas, desocupar casas, desmanchar feitiços, etc. A zorra é um
poderoso elemento quando bem feito e usado. Devemos lembrar que, feitiço, não
é sinônimo de maldade ou coisa ruim. No feitiço, também encontramos a cura
para doenças e a solução para vários problemas. Finalizando, concluà mos que
os chamados atins são mais um recurso utilizados por nós e por nossos deuses
para um intercâmbios maior entre nós e eles, como também para a solução de
vários problemas.
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