Carl Sagan cosmos

ariovaldocunha 309 views 188 slides Mar 23, 2016
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COSMOS
CARL SAGAN

COSMOS

COSMOS
Carl Sagan

Scores agradecmonio pol permise do romproseo de mais pubcadse antoronmento a

úAmescan Fore Socio Extato de "Chukchae Talos" do Waktmar Borgora do Joumal of American Folie, volume 41
(1920) Reimpresse com permite da Amoran For Say

alanine Boke: are Ge Del K Sheet para a spa de as Pants Robot A Henn, copyrgneo 1049 de Ron A
Hein, vio cm 1976 por Robert A. Haan. usiracas de Michal Wnola para capa de Wi Frenos Li Mas d Alan
‘Dean Fete copyght © 19774 an Dean Foster ago d Os mane Mira par capa Se Stator Sconce — Fis.
on Sirio #2 adtado pot Judy Ln dl Poy, copy © 1978 por Randen House inc. Tos publicados por Bañanino Books,
na ven Random Hours Ine uslasase m pommisdo.

‘sade do Bajour: Cons da Tapscaria de Bayoux ferai com autoriza especial do Cty Bay.

ofen ur Pare de Computer Poe Man of Gees, © oEvoition Quarry $50 por pag, Box 28, Sana

A. M Dont & Sons, Ls: Ext da dupe d O Alero por JM. Raawal (An Everyman's Libary Sos) Roimprosso com

44 M. Dont & Sans, Li. E. P Dato: Esceo de Pensées de Baise Pascal, rduzio por WF Tote (Ar Everyman Lara
‘Series: Rolmaresto com oermisdo do er noe Estados Unidos. EP. Out. e dealer na ndtera, JM. Den & Sons Li

Encyclopacda Brtanica, re: Capo do case Newton (Óptica), Joseph Four Teoría Analia do Cao) © Uma Pogurta
sois Phagoras por Anaimenos (600 AC) Reimpresso com permssño de Grandes Los de Mando Dent Copyright
1952 by Eneyoopaodia Baraca, re.

award Unvraty res: Ciao de Doser An
staré unver) Prose,

retrada de Loeb Clase Lira. olmpresso com permiso da

Indiana Untary Pose: Excres de Ovidio, Melamoross,vaduzdos por Role Hunphve

Prat Hambre com pa da ner orig 1955 by Indiana Univer

Lverght Pubishing Corporation: Versos feprassos de The Sid, poama de Han Clare, com pormissbo do Lvergtt
Publishing Corporation. Copy 1993, © 1958, 1070 by Liver Publhng Corporation

Oslo Univorty Poss: Excort do Zuvan A Zorcostran emma de R. €. Zadher(Giaredon Pres: 1866) Fempresso com
pormiso de Oxford very Pros,

engin Boos, Li. Um verso de Enuma Eh, Sue, em Poems a Heaven ad Hel om Ancient Mesopotamia Wado por
INK Sandare (Pong Casse 1971) Copyign NK. Sandar, 1971. Dozo verse de Lao T0 — Tao To Ching, tadunido
PorO.C Lau Penguin asses, 1969) Copyright© D.C. Lau 1863 ampresso com pormssao de Pengun Books, La

Pergamon Pres Lit: Excrios de Giant Meteorites de EL Keno ram rinpressos com permssáo de Pergamo Press Lt

Simon & Schuster, ns: lio do Bhagavad Gta, d Lawrence and Oppenaime de Nv! Par Das (1968, pg 239) ex
taro de The Sand Reckoner de Arumedes, retrace de The Word of Maemaies da James Nena (1356, volume À DD.
20) Remoresso com cermsst de Simon & Susie Ie.

‘To Unworsty of Okahoma Poss: Excoro do Popa Vu: The Sacred Book ofthe Anint Quiche Maya, do Adria Resinos, 195,
Copy” 1860 by tho Unwarey oF Oklahoma Pees. Rimprost com para da Unversty do Okähama Pres,

Para Ann Druyan

Diante da vastidáo do espago e da imensidade do tempo,
$ uma alegria para mim
partlhar um planeta o uma época com Annie

SUMARIO
Introdugáo / XI

1. As Fronteiras do Oceano Cósmico / 3

2. Uma Voz na Fuga Cósmica / 23

3. A Harmonia dos Mundos / 45

4. Céu e Inferno / 73

5. Toadas para um Planeta Vermelho / 105

6. Histórias de Viajantes / 137

7. AEspinha Dorsal da Noite / 167

8. Viajando no Espago e no Tempo / 195

9. As Vidas das Estrelas / 217

10. O Limite do Eterno / 245

11. APersisténcia da Memória / 269

12. Encyclopaedia Galactica / 291

13. Quem Responde pela Terra? / 317

Apéndice I: Reductio ad Absurdum e a Raiz Quadrada do Dois / 347

Apéndice

's Cinco Sólidos Pitagóricos / 348

INTRODUGÁO

Tempo vi em que uma pesquisa diligente e continua
esclarecerá aspectos que agora permanecem escondidos. O.
espago de tempo de uma vida, mesmo se inteiramonto devo-
tada a0 estudo do cóu, náo seria suficiente para investigar um
objelio 140 vasto... esto conhocimento sera conseguido so-
mente através de geragaes sucessivas. Tempo virá em que os
nossos descendentes ficaráo admirados de que nao soubes-
semos particularidades to dbvias a eles... Mulas descobertas.
esto reservadas para os que virdo, quando a lembranga de
nés estará apagada. O nosso universo será um assunto sem
importáncia, a menos que haja alguma coisa nele a ser inves:
tigada a cada geragao... A natureza nao revela seus mistrios
de uma só vez.
— Séneca, Problemas Naturale
U’, secu!

Na antigúidado, nos costumes e nas conversas do dia-
a-dia, os acontecimentos mais mundanos ram relacionados.
com ús principale eventos cósmicos. Um exemplo interessante
$ o encantamento contra o verme que os assitios de 1.000
2.C. imaginavam que provocava a dor de dente. Ele começa
com a origem do Universo e termina com a cura para a dor de
dent

Após Anu ter criado os céus,
Eos céus terem criado a era,

E a terra ter criado os ros,

Eos rios terem criado os canal,

Eos canals terem criado o pántano,

Eo pántano ter criado o verme,

© verme procurou Shamash chorando,

Suas lágrimas se derramando diante de Ea:

"O que me darás como comida,

O que me darás para beber?"

Eu te darel oligo seco E o damasco.”

"O que representam eles para mim? O figo seco.
Eo damasco!

Eleve-me, e entre os dentes

E as gengivas deixe.me mora

“Por teres dito isto, 6 verme,

Possa Ea destruirie com a lorga da

Sua mao!

(Encantamento contra dor de dente).
© tratamento: Cerveja de segunda classe... e óleo que

tu deverés misturar; O encantamento tu deveräs recitáo tés.
vezes seguidas e entáo colocar a poco sobre o dente.

Xt Intoducdo

NNossos ancostrais ansiavam compreender o mundo, mas
ro conseguiram encontrar um método, Imaginaram um universo
pequeno, fantástico e arrumado, no qual as forgas dominantes
ram deuses como Anu, Ea e Shamash. Neste universo 08 seres
humanos desempenharam um papel importante, senäo central.
Estamos intimamente entrosados com o resto da natureza, O
tratamento da dor de dente com cerveja de segunda classe esta-
va associado aos mais profundos mistérios cosmológicos,

Hoje om dia descobrimos um modo mais abrangente ©
distinto para entender o universo, um método chamado ciéncia;
revelou-nos um universo téo antigo e täo vasto que os problemas
dos seres humanos pareciam, à primeira vista, decorrentes de
pequenas implcagôes. A nossa visäo do Cosmos cresceu. Pare-
ceu-nos, a principio, remoto e distante. Mas a ciéncia descobriu
‘Rao somente que o universo encerra uma grandeza Implicta e
estálica acessivel à compreensäo humana, mas também que
somos, em um sentido muito real e profundo, uma parte deste
Cosmos, nascidos dele, nosso destino iemediavelmente ligado a
ele. Os eventos humanos básicos e os mals trviais remontam ao
Universo e suas origens. Este Ivro se dedica à exploragáo desta
perspectiva cósmica

No veráo e outono de 1976, como membro do Viking Lan-
der Imaging Flight Team, engageime, com outros varios colegas
Cientistas, na exploragáo do planeta Marte. Pela primeira vez na
história da humanidado, fizemos aterissar duas espagonaves na
superficie de um outro mundo. Os resultados, descritos detalha-
damente no Capitulo 5, foram espetaculares, o significado histér-
co da missäo inegavelmente vsiveis, embora o público náo tenha
conhecimento de quase nada destes importantes acontecimentos.
A imprensa fol, em sua maior parte, desatenta; a televisäo tam-
bém ignorou a missäo. Quando tornou-se claro que uma resposta
detintva sobre a questáo da vida em Marte náo vi, o interesse
diminuiu ainda mais. Há pouca toleráncia para a ambigüidace.
‘Quando descabrimos que o céu em Marte era de uma coloragáo
amatelo.résoo e nao azul como tinha sido erroneamente noticia:
do, 0 ato ol saudado por um coro de valas pelos repérteres reu-
nidos — eles queriam que Marte, até mesmo neste aspecto, fosse
semelhante a Terra. Acreditavam que os indices de audincia se
desinteressariam progressivamente quando fosse revelado que
aquele planeta era diferente do nosso, embora as paisagens mar-
cianas fossem desconcertantes. Fui positive, baseado em minha
experiencia, que existe um enorme Interesse geral na exploracáo
dos planetas © om muitos tópicos científicos ains — a origem da
vida, a Terra e o Cosmo, a procura de uma inteigéncia extrater-
restre, nossa conexáo com o universo. Estou certo de que este
interesse poderia ser incentivado pelo mais poderoso meio de co-
municaçäo que 6 a elevisäo.

Minas idéias eram partlhadas com B. Gentry Lee, o ana-
lista dos dados da Viking e diretor de planejamento da missäo,
um homem de exiraordinäria capacidade organizacional. Deci-
dimos, corajosamente, fazer alguma coisa a respeito do pro-
blema. Lee propés formarmos uma companhia de produgáo

intro = XI

devolada a comunicagóes sobre ciéncia de maneira acessivel e
atraente. Nos meses seguintes nos detivemos em vários projetos.
O mais interessante era uma proposta de perguntas da KCET, o.
Public Broadcasting Service de Los Angeles. Ao mesmo tempo
concordamos em produzir uma série de treze capítulos para a te
Visäo focalizando a astronomia, mas abrangendo uma ampla pers
pectiva dos seres humanos. Seria dirigido a uma audiéncia popu-
lar, e deveria ser visual e musicalmente fantástico, para tocar tanto
© coraçäo quanto a mente. Conversamos com redatores, contra
amos um produtor execulivo e descobrimo-nos engajados em um
Projeto com duraçäo de trés anos, chamado Cosmos. Quando foi
elaborado, estimou-se uma audiencia em todo o mundo de 140
mihôes de espectadores, ou 9% da populagäo humana do planeta.
Terra. Foi dedicado ao propósito de que o público & muito mais
inteligente do que geralmente se acredita, que as questóes cient
cas mais profundas sobre a natureza e a origem do mundo desper-
tam interesses e paixôes em um grande número de pessoas. A
época atual 6 um marco importante para a nossa civiizagáo, ©
talvez para a nossa espécie. Qualquer que seja caminho no qual
enveredemos, nosso destino estará indissoluvelmento ligado a
iéncia, É essencial a nés, para a simples sobrevivéncia, entender
a ciéncia. Além disso, ela é deliciosa; a evaluçäo se processa de.
forma tal que temos prazer em compréendé-l, os que a entendem
so mais provávels de sobrevverem. A série para televisäo Cos.
‘mos e 0 lito representam uma experiéncia com esperangas em
comunicar algumas das idéias, métodos e alegrias da ciéncia.

O ivre e 0 Seriado evoluiram juntos. De alguma forma, um
se baseia no outro. Multas llustragóes neste Ivro säo baseadas em
Visuais magníficos preparados para a televisáo. Mas Ivros e séries
televisivas tem audiéncias um tanto diferentes, e permitem vias de
acesso diferentes. Uma das grandes qualidades de um lvro 6 que
6 possivel ao letor retomar varias vezos a passagens obscuras ou
¿ilicels; Isto comeca a ser possivel, com o desenvolvimento da
tecnologia do video tape e do video-disco para lelevisäo. Há muito
‘maior liberdade para o autor na escolha do alcance e protundidade
des tópicos de um capitulo em um Ivro do que os cinqienta e oito
‘minutos e tinta segundos observados com real atengäo de um
programa de televisáo nao-comercial. Este lvro mergulha mals
profundamente em muitos lópicos do que a série para televiso.
Há assuntos apresentados no livro que náo aparecem na série ©
Vice-versa. A seqúencia de desenhos, de acordo com os tragos de
TTenniel, de Alice e seus amigos em ambientes de baixa e ata gra-
vidade, era incerta, quando elaborada, de sobreviver aos rigores.
da ediçäo televisiva. Estou encantado que estas llustragóos las
nantes do artista Brown e o texto correspondente tenham encon-
ado seu lugar aqui. Por outro lado, representagóes explícitas do
Calendario Cósmico foram ressaltadas na série televisa e nao
aparecem no lvro — em parte por aparecer na minha obra Os Dr
‚90es do Eden; igualmente näo apresento aqui a vida de Robert
¡Goddard com muitos detalhes, porque há um capitulo no Brocas
Brain devotado a ele. Mas cada episódio da série televi-

XIV inroducáo

iva sogue de port o capitulo correspondante do Io; o gostaria,
de pensar que o prazer decorrente de cada uma das duas formas.
de apresentagáo será engrandecido pela referéncia à outra.

‘Com o sentido de esclarecer, inroduzi em alguns casos a.
‘mesma idéia mais de uma vez, na primeira superficialmente e nas.
‘seguintes com mals profundidade. Isto ocorre, por exemplo, na
Introdugäo aos objetos cósmicos no Capítulo, que sáo examina-
dos em maiores detalhes posteriormente; ou na apresentagáo das.
mutagdes, enzimas e ácidos nuclólcos no Capitulo I. Em poucos.
casos os conceitos säo apresentados fora de uma ordem hist
ca. Por exomplo, as ldólas dos antgos clentistas gregos sao a.
presentadas no Capitulo VII bem após a discussäo sobre Johan.
nes Kepler no Capítulo IL Acredito que uma apreciacdo dos gre-
¿gos pode ter melnoras subsidios após constatar-mos que eles
‘apenas náo conelulram integralmente as suas observagdes.

Por ser a ciéncia inseparável do resto do esforço humano,
no pode ser questionada som incursées, algumas vezes de ro
lance, em outras em mergulhos profundos, com aspectos social,
político, religioso e flosólico. Mesmo fimando uma série para.
Kelevisäo sobre cióncia, a devogáo mundial as atvidades miltares.
se toma inoportuna, Simulando a exploragáo de Marte no deserto
de Mohave com uma versäo perfeita da Viking Lander, éramos.
ropotidamento interrompidos pola Forga Aérea dos Estados Uni
des executando evacuagées com bombas em um campo de teste,
próximo, Em Alexandria, Ego, das nove ás onze, em tod:
manhäs, nosso hotel se submetia à prática de bombardeios aé-
reos pela Forga Aérea egipcia. Em Samos, Grécia, a permissäo
para fimar em todos os locaisfolrecusada até o time momento.
pelas manobras da NATO, e que eram claramente a construgäo
de abrigos subterraneos e estabelecimento de ariharia o tanques.
nas encostas. Na Tehecoslováquia, o uso de walkie-tlkies para.
organizaçäo da fimagem de logística em uma estrada rural atraiu
‘a atençäo de um aviäo de caga da Forga Aérea tcheca, que are
lou por sobre nos até o comando ter-se assegurado de que nao
estava havendo ameagas à seguranga nacional. Na Grécia, Egito
e Tehecoslováquia, nossa equipe de fimagem fol acompanhada
‘Sempre em todos os locais por agentes de segurança do Estado.
Perguntas iniiais a respeito de filmar em Kaluga, URSS, para
‘uma apresentaçäo proposta sobre a vida de um plonolo russo da
astrondutica, Kostantin Tsiol-kovsky, foram desencorajadas por
que, como descobrimos posteriormente, haveria juigamento de
dissidentes a serem realizados no local. Nossa equipe de cäme-
ras fo alvo de inúmeras gentilezas em todos os países visitados,
mas a presenga miltar macica, o medo íntimo das nagdes esteve
Sempre presente, A experiencia confirmou minha resolugäo de
‘expor, quando relevantes, questées sociais tanto no seriado como
o liv,

© espírto da ciéncia & que ela pröpria se corrige. Novos.
resultados experimentais e idéias estäo continuamente resol
vendo mistéros antigos. Por exemplo, no Capitulo IX, discutimos.
© fato do Sol parecer estar gerando muito poucas das partículas
Indefinidas chamadas neutrinos. Algumas explicagdes propostas

todo = XV

‘so enumeradas. No Capitulo X nos pergunta:mos se existe maté.
ría suficiente no univorso para impedir a recessáo das galaxias dis
tantos, e se o universo & infintamente antigo e, portanto, näo-
rado. Algum esclarecimento em ambas as perguntas póde desde
entáo ter sido lançado pelas experiéncias de Frederick Reines, da
Universidade da Galllómia, que acredita que ele tenha descoberto
(a) que os neutrinos existem em trés estados diferentes e que so-
mente um deles pode ser detectado pelos telescópios de neutrinos
que estudam o Sol; e (b) que os neutrinos, diferentemente da luz,
Possuem massa, de modo que a gravidade de todos os neutrinos
o espago aludam na limitasáo do Cosmos e impedem a sua ex-
pansäo constante. Experimentos futuros mosiraräo se estas idéias
estao corretas, Porém, elas llustram o acesso renovado contínuo e
vigeroso do osclrecimento recebo, que 6 fundamental no empre-
endimento cienlico

‘Em um projeto desta magnitude, é Impossivel agradecer a
todos que contribuiram para a sua reallzagäo. Entretanto, desejo
mencionar especialmente B. Gentry Lee; 5 staff de produçäo do
Cosmos, inciuindo os produtores-seniores Geotirey Haines-Sties e
David Kennard e o produtor-executivo Adrian Malone; os artistas
Jon Lomberg (que desempenhou um papel erica no projeto e or-
‘ganizagao originals do visual do Cosmos), John Alison, Adol! S-
chaler, Rick Stembach, Don Davis, Brown e Anne Norcia; os con.
sultores Donald Goldsmith, Owen Ginge-rich, Paul Fox e Diane Ac-
Herman, Cameron Beck; a'administragao do KCET, particularmente
Greg Andorter que nos encaminhou a primeira proposta da KCET,
Chuck Allen, Willam Lamb e James Loper: e os redatores e co:
produtores do seriado Cosmos, incluindo a Atlantic Richiield Com.
pany, a Corporation for Public Broadcasting, a Arthur Vining Davis
Foundations, A Allred P. Sloan Foundation, a British Broadcasting
Corporation e a Polytel International. Outros que auailaram a escla-
recer 05 objetivos ou as vias de acesso estáo mencionados em
outras páginas. A responsabildade final pelo conteúdo do Into 6,
nauraimente, minha. Agradogo ao staff da Random House, particu:
larmente ao meu editor, Anne Freedgood, e ao projeista Robert
Aulicino, por sua capacidade e paciéncia quando aspectos do seri
‘ado o de Ivro pareciam entrar em confito. Tenho um débito espect
al de gralidäo com Shirley Arden, minha assistente execuliva, por
¿atllografar os rascunhos nicials deste livre inroduzir os postetio-
ros em todos os estáglos de produgäo com a sua inusitada compo-
éncia. Esta é uma das muilas dividas as quais o projelo Cosmos &
profundamente grato. Estou mais agradecido do que posso dizer à
acministraçäo da Universidade de Comell concedendo-me dois
‘anos de dispensa para prosseguir com este projeto, aos meus co-
legas e alunos, aos colegas da NASA, JPL e do Voyager Imaging
Team

Minha divida maior na execugäo do Cosmos & com Ann
Druyan e Steven Soter, meus co-autores no serlado para TV. Con-
tibuiram fundamentalmente, e com Ireguéncia, para as ideias basi-
cas e suas conexdes, para a estrulura intelectual itera dos episó»
dios, e para a felicidade do estlo. Estou profundamente grato por
suas vigorosas lelturas criicas das versdos inicials do Ivro, por Su.
as sugesiöes criativas e construtivas nas revisdes de varios esbo-
gos e suas principals contibuigées ao script da televisdo, que influ
nciaram de varias maneras no conteúdo deste Ivro. O prazer en.
contrado em mullas das nossas discussóes 6 uma das principals
recompensas do projeto Cosmos.

ithaca e Los Angeles. Maio de 1980

COSMOS

Capitulo I

AS FRONTEIRAS
DO OCEANO COSMICO

(Os primeiros homens criados e formados foram chamados de Feit
ceires do Riso Fatal, Feitceiros da Noite, Os Desleixados e Feileeiros Ne
gros... Foram dotados de inteigéncia e sabiam tudo 0 que havia no mundo.
‘Quando olhavam, viam instantaneamente tudo ao redor, eles contempla
ram a volta do arco dos céus e da face arredondada da tera... [Entáo o
Criador disse]: "Eles sabem tudo... o que deveremos fazer com eles agora?
Deixe que a visio deles alcance somente aquilo que está próximo; deixe-
08 ver somente uma pequena parie da face da terra. Nao sao eles, pela.
própria natureza, simples craturas resultantes de nosso trabalho? Deveräo
‘ser deuses tambom?
— © Popol Vuh dos Maias Quiché.

Porventura compreenderam a expansäo da terra? Onde é o caminho da
morada da luz, E onde $ o local da escuridao...?
=O Livro de Jé

Nao € no espago que devo procurar a minha dignidade, mas na dregáo do
meu pensamento. Nao deverei 16- mais se possuir mundos. Pela ampli
fo, o universe me envolve e me traga como um átomo; pelo pensamento
‘eu compreendo o mundo,

— Blaise Pascal, Pensées.

© conhecido é iio, o desconhecido Infinite; intelectualmente per.
manecemos em uma ihola dentro de um oceano ilmilado de inexpli
cablidade. Nosso objetivo em todas as geraçôes ¢ reivindicar por um pou:
‘co mais de terra,

—T. H. Huxley, 1887

4 Cosmos

Agjomerado mus longado de guias
Graphe de Rai Solar e Fi Samson

Para guita um aval, com uva e mas
Bande an ons. Crag do A

(© COSMOS É TUDO © QUE EXISTE, QUE EXISTIU OU QUE EXIST

Nossas contemplagdes mais despretensiosas do Cosmos
nos induzem — há um calafrio na espinha, uma perda de voz,
uma sensaçäo de vazio, como em uma memöria distante, de uma
queda a grande altura. Sentimos que estamos próximos do maior
des misterios.

© tamanho e a idade do Cosmos estao além da compreen-
‘so humana, Perdido em algum local entre a imensidao e a eter
nidade, está o nosso diminuto lar planetärio. Sob uma perspectiva
cósmica, a maioria dos objetos humanos parece insignificant,
alé mesmo mesquinha, embora nossa espécie sejajovem, curiosa.
© corajosa, e encerre grandes esperangas. Nos ultimos milönlos.
fizemos descobertas assombrosas e inesperadas sobre o Cosmos.
e sobre o nosso lugar nele, exploracóes que anselam ser conside.
tadas. Elas nos lembram que os seres humanos evolulram para
perguntar sobre si mesmos, que comprender & uma alegría, que
conhecimento & um pré-requisito para sobreviver. Acredito que o
nosso futuro dependa de quanto saibamos sobre este Cosmos no
qual futuamos como uma partícula de poeira em um céu matutino.

Estas exploragóes requerem ceticismo e imaginacéo, a
qual, com freqüßncia, nos transporta a mundos que nunca exist
ram, mas sem ela näo vamos a parte alguma. O celicismo nos
permite distinguir a fantasia do fato, para testar nossas especula
ges. O Cosmos & rico, aldm das previsdes, em fatos graciosos,
‘om interrelagdes estranhas, em engenhos sulis do terror.

As Fronetas do Oceano Césmico-5

A superfície da Terra & uma tronteira do oceano cósmico.
Dole aprendemos a maior parte do que sabemos. Recentemente,
aventuramo-nos no mar o suficiente para umedecer os pés ou, mo
máximo, molhar nossos tornazelos. A agua parece nos convidar. O
oceano chama. Uma parte do nosso ser sabe que lá é o local de
onde viemos. Demoramos a relornar. Estas aspiragdes, penso,
no sao irreverentes, embora possam perturbar, independente dos
deuses que existem,

As dimensdes do Cosmos sáo 1äo grandes que, se utlizés-
semos as unidades de dstancia familiares, como metros ou mi-
Ihas, escolhidas pela sua utlidade na Terra, feriam pouco sentido.
Medimos, entáo, as distancias com a velocidade da luz. Em um
segundo, um ralo de luz percorre 186.000 mihas, aproxima-
damente 300.000 quilómetros ou sete voltas em torno da Terra:
¡em ito minutos elo viaja do Sol à Terra. Podemos dizer que o Soi
está a oito minutos luz de distancia, Em um ano ele atravessa per-
to de dez thoes de qulömelros, cerca de seis thoes de mihas
de espago. Esta unidade de comprimento, a distancia que a luz
percorre em um ano, é chamada ano-uz, Mede nao o tempo, mas
istancias — distancias enormes.

A Terra 6 um lugar. De manelra nenhuma o único lugar,
nem mesmo um lugar tipico. Nenhum planeta, estela ou galaxia
pode ser típica, pois o Cosmos 6, em sua maior pare, vazio. O
Único lugar tipice é o vécu universal, io e vasto, a noite intormi-
navel do espaco galáctico, um local tio estranho e desolado que,
por comparaçdo, planetas, estrelac o galáxias parecem dolorosa.
mente raros e adoräveis. Se estivéssemos aleatoriamente inser-
dos no Cosmos, a chance de nos descobrirmos em um planeta ou
próximo a um deles seria menos de uma em um bihäo de tihäo
¿e trihao" (10°, um seguido de 33 2er0s). Na vida dia, ai pro-
bablidades sáo chamadas de "lorçadas”. Os mundos säo precio-

De um ponto do espaco intergaláctco privilegiado, vería-
mos, espalhados como espuma no mar em ondas do espaco, inu-
meräveis punhados de estihagos de luz pálida. Säo as galáxias.
Algumas säo viajantes soltérias, multas habitadas por aglomera:
¿os comunais em confusáo, lovadas etemamente na imensa escu.
Fido cósmica, Diante de nds está o Cosmos, na maior escala que
conhecemos. Estamos no reino das nebulosas, alto bihdes de
anos uz da Terra, a meio caminho da frontera do universo conhe-
ido.

Uma galáxia & composta de gás, poeira o estrolas — bi-
Ihöes e bihöes de estrelas. Cada uma delas pode ser um sol para
Alguém. Em uma galaxia existem estrelas e mundos o, talvez, uma
Proiferagäo de formas de vida e seres inteligentes e cviizagóss
spaciais. Mas de tao longe uma galéxia me lembra uma colegäo
de objetos, conchas marinhas, ou talvez corals, produtos do Iraba-
Iho da Natureza por etemidades no oceano cósmico,

Ha algumas centenas de bihöes (10) de galéxias, cada

* Uramee a comorgao certes amorcara para números granos: um binso =
1.090.00.000 = 10" um wine = 1000000000000 - 10°, ele O axpoaro rope.
Lanta 9 nore eros ape o rumora!

Faciogux expedido com jos imán
cos. Crago de Ado Schale

Contentua em grande escala do Cosmos: pequena mar de um mapa de mid de galas mas bihants, todas alé um
Bin de au de sine da Tena, Cada paquero qundro 6 uma gl eneaando Binden de estas. O mapa à
os pasase completado, Trab de Donald Shane e Car Wie

Based om um eyanamano elescpien que lava Go

ano Unveaty of Calloma’s ik Otsorator, Corsi de Saut Brand

As Fronteras do Oceano Cósmico -7

uma contendo, em média, uma centena de bilhao de estrelas. Em
todas as galáxias há, talvez, tantos planetas quanto estelas, 10"
x 10" = 10%, dez blhées de trihäo. Face a estes números esma-
adores, qual a probablidade que uma única estrela comum, o
Sol, seja acompanhada por um planeta habitado? Por que sería:
mos nés, aconchegados em alguma esquina perdida do Cosmos,
o alortunados? Para mim, parece bem mals provável que o uni
verso esteja repleto de vida. Nös, seres humanos, ainda näo a
conhecemos, pois estamos iniciando as nossa exploragses. Ha
¿ito bihdes de anos-luz, pressionamo-nos duramente para desco-
brir o aglomerado em que se encontra a nossa galéxia, a Via
láctea, o que dizer do Sole da Terra. O único planeta que temos
certeza ser habitado € um diminuto ponto de rocha e metal, b
Ihando debilmente pela luz solar refltida, e a esta distancia inte
ramente perdido.

‘Alualmente as nossas viagens nos levam ao que 0s astró-
nomos na Terra gostam de chamar de Grupo Local de galáxias.

ía copra barada asim chamaca pola
Bar de soria à posi que vaspasts a
cee. Cris de en Lonbarg

‘catia espral tica. Capo d Jon Lom

8: Cosmos

A Vasen visa de um plano iger
mens soma ce seus. Dragos. espa
imac por Babes de estrias aros
lovers e queries. O cho galten I
minado” pelas estelas vermaias mas
‘otis, 4 to a datan Crasas de Jon
ember,

Com uma extensáo de varios mihöes de anos-lz, 6 composto
de cerca de vinte galáxias consiiuintes. É um aglomerado es
parso, obscuro e despretensioso. Uma destas galáxias é a M1
vista da Terra na constolagáo de Andrómeda, Como outras gala
xlas espiral, é um imenso molinete de estelas, gas e poeira. A
M31 possui dois pequenos satéites, galáxias anás elípticas, atra
idas pela gravidade, pela mesma lei da física que me mantém
sobre minha cadeira. As leis da natureza so as mesmas do
Cosmos. Estamos agora a dois mies de anos luz de casa,

Por trás da M31 existe outra galáxia, muito semelhante à
nossa, com seus bragos espirais movendo-so lentamento, uma.
vez a cada quarto de bihäo de anos. Agora, a quarenta mil anos-
luz de casa, descobrimo-nos caindo em direçäo ao centro mass
vo da Via-lictea. Mas, se quisermos encontrar a Terra, toromos
que alterar o nosso curso para as cercanias remotas da Galaxia,
para um local obscuro próximo ao bordo de um distante brago
espiral

"Nossa Impressäo predominante, mesmo entre os brapos
espirais, € de estelas passando por nós — uma vasta sucessäo
de estrelas primorosamente autoluminosas, algumas frágeis co
mo uma bolha de sabáo e täo grandes que podem conter dez

As Fronteras do Oceano Cósmico -9

Aalomerado globular de sete

10- Cosmos

© núcioo da Visiten visto de pa
‘igo e Ado Scala.

Esrol gant vermana (om primero
lard)» un tag supa a ange, iso
Es par Crags o mn Reon Ast

Nuvom do por oscura tas emo
ve em ‘nebucesSadee gotera: por
Vas, a Vlan de port Cia
Rost Seale John Aeon

mi Sôis ou um triháo de Terras; outras do tamanho de uma pe-
quena cidade, e cem trihöes de vezes mais densas do que o
chumbo. Algumas estrelas sao sollärias, como o Sol. A maioria
Possul companheiras, Os sistemas comumente sáo duplos: duas
estelas, uma orbilando a outra, embora haja uma continua gra-
acáo de sistemas tplos, nos aglomerados abertos, até de al-
‘gumas düzias de estrelas em aglomerados globulares maiores,
resplandecentes, com um milhao de séie. Algumas estelas du
plas estáo táo próximas que se locam, e o material estelar ful
entre elas. A maioria é 130 separada quanto Jupiter do Sol. Al-
gumas esirelas, as supemovas, säo 140 brhantes quanto a ga-
láxia Intira que as comióm; outras, os buracos nagros, so tomam.
invisiveis a pouces quiómetros de distancia. Algumas cintlam
com um brio constante, outras bruxuleiam ou piscam em ritmo
cadenciado. Algumas giram com uma elegancia majestosa, ou-
tras rodam tao febrlmente que se tornam achatadas nos polos. A
maioria briha principalmente em luz vsivel © om infravermelho:
úutras também sao fontes brilhantes de raios X ou de ondas de
rádio, As estelas azuis edo quentes e jovens, as amare-las tem
peradas e de meia-idade; as vermeihas, fregiente-mente, säo
mais velhas e estáo morrendo, e as estrelas peque-as, brancas.
Su pretas, se encontram nos estertores da morte, A Via-läctea
coniém cerca de 400 bihöes de estelas de todos os tipos mo:
vendo-se com uma graciosidado complexa e ordenada. De todas
‘las, os habitantes da Terra conhecem de perto ou de longe so-
mento uma.

‘Cada sistema estelar & uma tha no espago, resguardada
de seus vizinhos por anos-luz. Posso imaginar craluras pene
tando nos primeiros clardes do conhecimento em mundos incon-
täveis, cada uma assumindo em primeiro lugar seu insignificante
planeta e um punhado de s6is despreziveis como sendo tudo o
‘ue existo. Crescemos no isolamento; somente aos poucos nos
tensinamos sobre o Cosmos,

Algumas estelas podem estar rodeadas de pequenos

As Fronteias do Oceano Cósmico = 11

mundos rochosos e sem vida, de sistemas planetários congelados
durante um estágio inicial da sua evoluçäo. Talvez muilas estrelas
Possuam sistemas planetarios semelhantes ao nosso; na periferia,
grandes planetas com anéis gasosos e luas geladas, e mais próxi-
mo do centro, pequenos mundos quentes, azuis-esbranquicados e
Cobertos por nuvens. Em alguns, a vida inteligente pode ter evolu
do, relazendo a superficio planotária com algum empreendimento
massivo de construgäo. Sto nossos irmäos o irmas no Cosmos.
Serdo muito dilerentes de nés? Como será sua forma, bioquímica,
neurobiologia, historia, polca, ciéncia, tecnología, arte, música,
religido e flosofia? Talvez algum día o salbamos.
Voltamos agora para o nosso canto, a um ano-luz da Terra. Em
toro do nosso Sol há uma mullidäo esférica de gigantescas bolas
de neve compostas de gelo, rocha e moléculas orgánicas: o núcleo
comelério. A cada momento, uma estrela que passa provoca um
lígeiro empurráo gravitacional, e uma delas incina-se gentimente
para o interior do sistema solar. La, o Sol a esquenta, o gelo 6 va-
porizado, desenvolvendo-se uma bela cauda cometária.
Aproximamo-nos dos planetas do nosso sistema, grandes
mundos, cativos do Sol, impelidos graviacionalmente a seguirem
órbitas quase circulares, aquecidos principalmente pela luz do Sol.
Plutäo, coberto pelo metano gelado e acompanhado de sua gigan-
tesca lua Caronte, € luminado por um sol distante que aparece
como náo mais do que um ponto brihante de luz contra um céu
escure como breu. Os mundos-gigantes de gás, Netuno, Urano,
Satumo (a jóla do sistema solar) e Jépiter possuem um circulo de
las getadas. No interior da regiao dos planetas gasosos e dos ice
bergs orbitantes, estáo as provincias rochosas e quentes do siste-
ma solar interior. Ha, por exemplo, o plane ta vermelno, Marte, com
vulcôes elevando-se nas alturas, grandes vales fendidos, enormes.
tompestados de arela tomando lodo o planeta, o talvez, passivel
‘mente, algumas formas simples de vida. Todos os planetas descre
vem órbitas em tomo do Sol, a estrela mais próxima, um inferno de
hidrogénio e hello ocupado em reagöes termonucleares, inundando
de luz o sistema solar.

Interior de uma ruvem oscura de posta,
onde star Jona oo Canape à
‘nar Paita proximos ceo 6 ovo.
ando, eo as iberade ox ondo ipa,
Gre cn coum coman Grao de

[Emisto de um pusar de rolas pia no
aie de uma vomnescote ova Eos
on Aton

Natxo, ov nuvem de gts Amina
rcandando una clarté om super
ova. Colas de ohn Alison

_12- Cosmos

compreendem © curas de Onion na
Ent reste _ Convencinal
aga de John Aeon

Aproxiagio do ive da Grande No.
boca om ren. O gas rospiandoco om
vir xr otc polar de ee
absomonto. A Nebulosa do Orion pode
ds ma i Tora o Gr 0

Terminando as nossas andancas, relornamos ao nosso
pequeno, frágil azul-esbranquigado mundo, perdido em um oce-
‘ano cósmico bem maior do que nossas idéias mais corajosas. E
um mundo entre uma imensidade de outros. Talvez seja signi
cativo somente para nés. A Terra 6 a nossa casa, nossa origem.
Nosso tipo de vida surgl e ovolulu aqui. A espécie humana está.
‘amadurecendo aqui É neste mundo que desenvolvemos a nossa
paixao em explorar o Cosmos, e © aqui que estamos, com alguns
pesares e nenhuma garantia, elaborando o nosso destino,
Bem.vindos ao planeta Terra, lugar de céus azuis de ni
rogenio, oceanos de agua líquida, lépidas llorestas e prados
macios, um mundo posiivamente borbulhante de vida. Sob a
Perspectiva cósmica 6, como disse, dolorosamente belo e raro,
mas 6 também, no momento, único. Em nossa fournée pelo es.
paco e através do tempo $, até agora, 0 único mundo em que
sabemos, com certeza, ter a matéria do Cosmos se tornado viva
consciente. Deve haver muitos mundos parecidos, espalhados
pelo espaco, mas a nossa procura por eles comega aqui, com a
sabedoria acumulada de homens e mulheres da nossa

ras do Oceano Cósmico - 13

Front

14- Cosmos

aN

Prado, cobart por uma camada congo
Si mar, ln ma gto,
pianos,» Gola de Pudo xs a da
agas de John son

Satumo, Desanh de Ado Sehr ck
AS

lo, entre as Ns gigantes de Jura
rame: Desert de Don Devi

‘espéei, guardada com muito custo através de mihöes de anos,
‘Somos privilegiados em viver entre pessoas brihantes e passio-
nalmente inquifdoras, e em uma época em que a procura do
‘saber 6, em geral, recompensada. Seres humanos, nascidos na
úlima das estrlas © agora habltando, por enquanto, um mundo
chamado Terra, nicaram sua longa viagem de vola à casa.

A descoberta de que a Terra era um mundo pequeno lol
feita como o foram outras importantes, no antigo Oriente Próxi-
‘mo, em um tempo que alguns seres humanos chamam de sóculo
HAG. na grande metrópole da época, a cidade egipcia de Ale-
xandria, LA viva um homem chamado Erastéstenes. Um de sous.
contemporáneos, invejoso, chamou-o de “Beta”, a segunda letra
do allabeto grego porque, ole disse, Eratóstenes era o segundo
melhor do mundo em tudo. Mas parece claro que em quase tudo
Eratóstonos ora "Alla. Elo foi astrónomo, historia-dor, geógralo,
flósolo, poeta, crlica de teatro e matemático. Os temas dos I
vos que escreveu abrangem de Astronomía alé Sobre a Libera
elo da Dor. Foi também direor da grande biblioteca de Alexan
ria onde, um dia, leu em um papiro que, na frontera avangada
do sul de Siena, próximo à primeira calarata do Nilo, ao meio-dia
‘de 21 do junho, varetas retas o vorlicals náo produziam sombras
No solsticio de veräo, o dia mais longo do ano, quando as horas
avançavam para 0 meio-dia, as sombras das colunas do templo
&minufam de tamanho. Ao meio= a elas näo existiam, Um refle-
x0 do Sol podía, entáo, ser visto na água, no fundo de um pogo,
(0 Sol estava diretamente sobre as cabegas.

Foi uma observagáo que qualquer outra pessoa facilmen-
te ignorarla. Varetas, sombras, reflexos em pocos, posigáo do
Sol — que importáncia poderiam ter esses simples acontecimen:
{os díários? Mas Eratóstenes era um cientsta, e suas rellexGes
‘sobre estes lugares-comuns mudaram o mundo; de certo modo,
fizeram o mundo. Eratóstenes teve a presenga de espirito de
fazer um experimento, observar realmente se em Alexandria va-
retas retas e verticals lançavam sombra próximo ao meio-dia de
21 de junho. E descobriu que sim.

Eratóstenes perguntou a si mesmo como uma vareta em
Siena näo lançava sombra, e em Alexandria, mais ao norte, lan
‘gava uma sombra pronunciada, Consideremos um mapa do ant
go Egito com duas varelas retas e vertcais, de igual comprimen-
0, uma em Alexandria e a outra em Siena. Suponhamos que, em
um dado momento, cada vareta náo lance nenhuma sombra. sto
$ perteitamente compreensivel, admitindo-se a Terra como pla-
na. O Sol estaria drctamente sobre noseas cabogas. Se as duas
varetas lançassem sombras de igual comprimento, sto também
faria sentido em uma Terra plana: os raios do Sol estariam incl
nados no mesmo ángulo em relaçäo as duas varetas. Mas, o que
oxislia que fazia com que, no mesmo momento, náo houvesse
‘Sombra em Siena e sim em Alexandra? (Veja pág. 16)

A única resposta possive, ele conclu, era que a supert-
ie da Terra era curva. Nao somente isto: quanto maior a curva
tura, maior a dierenga no comprimento das sombras. O Sol está
140 distante que os seus ralos säo paralelos quando chegam à
Terra. Varetas colocadas em ángulos diferentes em relagäo aos

As Fronteias do Oceano Cósmico - 15

alos do Sol langam sombras de comprimento diferentes. Pela dife-
renga nos comprimentos das sombras, a distancia entre Alexandra
+ Siena deveria ser de sete graus ao longo da superficie da Terra;
Isto 6, se imaginarmos varetas colocadas em Inha até o centro da
Tera, lá elas se interceptariam em um Angulo de sete graus. Sete
graus correspondem mais ou menos a um quinquagésimo de tre-
Zentos e sessenta graus, a circunferéncia completa da Tera, Era-
tóstenes sabia que a distancia entre Alexandria e Siena era aproxi-
macamente 800 quilómetros porque tinha alugado um homem para
medkla em passos. Oitocentos quilômetros vezes 50 530 40.000
uilómetros, de modo que esta devia ser a circunferéncia da Terra.”

É a resposta cena. Os únicos instrumentos de Eratóstenes.
eram varetas, olhos, pés e cérebro, além de uma incinaçäo para
experiéncias. Com eles deduziu a circunteréncia da Terra com um
erro de poucos por cent, um feito notável há 2.200 anos. Foi a
primeira pessoa a medir com precisäo o tamanho do planeta,

(© mundo Mediterraneo naquela época era famoso pelas na-
vvegagées. Alexandria era o maior porto maritimo do planeta, Uma
vez sabendo que a Terra era uma esfera de diámetro modesto, náo.
nos sentiriamos tentados a fazer viagens de exploragäo, procurar.
torras ainda näo descobertas, tentar talvez até navegar em tomo do.
planeta? Centenas de anos antes de Eratóstenes, a África oi circu-
navegada pelas embarcagdes fenicias a servigo do Faraó egipcio
Necho. Partiam, provaveimente em barcos abertos frágeis, do Mar.
Vermelhe, desciam a costa leste da África, subindo pelo Atlántico e
retomando pelo Mediterráneo, Esta viagem épica durava trés anos,
tanto tempo quanto a modera nave espacial Voyager leva para
voar da Terra a Salumo,

“Após a descoberta de Eratóstenes, muitas grandes viagens
foram iniciadas por bravos e ousados marinhelros. Seus navios
eram pequenos e possulam somente instrumentos de navegacáo
rudimentares. Utiizavam calculos precisos e seguiam as Inhas da
costa tanto quanto possivel. Em um oceano desconhecido podiam
determinar sua latitude, mas no a longitude, observando, noite
após note, a posigdo das constelaçées em relacáo ao horizonte, as
familiares Surgindo no centro de um oceano inexplorado para tran-
liizar. As estrelas eram as amigas dos exploradores entäo em
embarcacóes pelos mares da Terra, e agora em aeronaves pelo.
céu. ApOs Eratóstenes, alguns devem ter tentado mas, ninguem,
antes de Magalhies, conseguis completar uma viagem de circuna-
vegacáo da Terra. Que histórias de ousadia e aventura devem ter
sido relatadas no inicio, enquanto marinheiros e navegadores, ho-
mens engajados no trabalho do mundo, apostavam suas vidas na
matemática de um cientista de Alexandria?

Na época de Eratóstenes, os globos eram construidos retra-
tando a Tera como vista do espago; estavam essencialmente cor-
retos no que tratavam do Mediterráneo, mas tomavam-se cada vez
mais incorretos a medida que se afastavam de casa. Nosso conhe-
cimento atual do Cosmos partiha este aspecto desagradavel, po-
rem inevitavel. No século |, o geógrafo Alexandrino Estrabäo

Moris cimpo,opitasa mago vu
lau, a super de Mare Dose

Retro do Sol Caps de Ame Norco

oe

Pelo comprimario da sambra am Ale
apts pr uma rare, es due 8
tamos tamos 80 ua") © arg
¡gun as gui À Pala meade da com.
frmorto da sombra em Manr, Er.
{Sues condo an Sn a 0

16: Cosmos

"Aqueles que retornaram de uma tentativa de circunavegar a
Terra ndo dizem se foram impedidos por um continente posto,
pois o mar permanece perfetamente aberto, talvez mais prova:
Vel por resolucdo ou escassez de mantimentos.. Eratóstenes
diz que sea extensio do oceano Antic nBo é um obstacul.
deveriamos passar facimente pelo mar da br para a india.
E bem provavel que na zona temperada haa uma ou duas Ter-
ras habladas... Realmente, se esta cura parte do mundo é ha-
nano para o aro so fo do pe na Bltada,náo o $ por homens como os daqui, e deveremos con-
Ara Sera proa à un Abu Sinoel —_sider€la como Um outro mundo habitado.” Os seres humanos
po ogo ae, go seres con à Ka estavam comegando a aventurarse em quase todos os sent
AS des que importavam para outros mundos.
À exploracáo subsequente da Terra fo! um empenho gene-
alzado, incluido viagens da e para a China e Polnesia. O ponto
cuminane fi, naturalmente, a descoberta da América por Cristó-
váo Colombo e as vagens dos séculos seguintes que completa-
‘am a exporaçao geográfica da Tera. A primera vagem de Co-
lombo est ligada nos aspectos mais dreos com os eéleulos de
Eratóstenes, Colombo era fascinado pelo que chamava de "0
Empreendmento das indias", um projeto para chegar ao Japáo,
China e india, mas näo descendo a costa da Afica e velejando
para oeste, mas sim mergulhando arojadamente no desconhect
0 oceano a oeste, ou como tinha dto Eratóstenes com uma pre-
monigäo admirável,travessando o mar da Ibéña para a India.
Colombo foi um mascate tinerante de velhos mapas e lei
tor assiduo dos Ivros de geógrafos e sobre geografa antiga. in-
‘uindo Eratóstenes, Estrabáo Plolomeu, Mas para executar o

“y

Mapa plano do arto Egto. Quando o. Mapa plano do antiga Et. Quando o

flangam sombras em belsoos vercas lança sonoras de

tm Alcan nam em Siena Sonore en Mean num 1 © eich om Send ro pr
¿pronuncie

As Fronteas do Oceano Cósmico -17.

Empreendimento das indias,

sssegurar a sobrevivencia dos nave
08 e tripulagées na longa viagem, a Terra teria que ser menor do.
que tinha dio Eratóstenes, Colombo, entäo, alterou seus cálculos,
Como um exame dos membros da Universidade de Salamanca pro
You coretamente. Ele utlizou a menor circunferéncia possivel da
Terra e a maior extenso leste da Asia que pode descobrir em to-
dos os Iros disponiveis e entáo exagerou ainda mais. Se as Amé-
ficas náo esvessem na caminho, Colombo teria fracassado toa

A Terra está agora inteiramente explorada, no promete.
mais novos continentes ou terras perdidas. Mas a tecnologia que
nos possibita explorar e habiar as suas regiöes mais remotas,
Permite-nos agora deixar o nosso planeta, aventurarmo-nos no es”
Paco, explorar outros mundos. Deixando a Terra, somos agora

Mapas de mundo a poca ge Honore
que 0 mundo nde urnas-

ano mungal Eriosinos 0 Polo

‘meu accent peagressoe impor.
tartes Por voto ao hoc orto, © co
amant geogr argo tna sido
presevaso (estendco à Chana) palos
aber, mas quese que ttamento pe

ler. ime mapa ares da dascope
3 Amänea (mestado somente no plano
(era o de astérome Tran Tos.
anal Colombo, rovavamerts roue
consigo este map na sun pr
Yepam O nome Amonea, homenegem
29 amigo de Coembo,Amenco vers
Le ti Sugar as re ae lose
ler (1807), modo à Cosmograta.
Regrosucto com de Scoman Goo.
‘pmsl ieaganns

18: Cosmos

capazes de ve-la de cima, observar sua forma esferica e sólida
das dimensöes eralosteanas e os contornos dos seus con-
tinentes, confimando que muitos dos cartögrafos antigos eram
admiravelmente competentes. Que prazer esta visäo teria dado a
Eratóstenes e aos outros geógrafos alexanérinos.

Foi em Alexandra, nos seiscentos anos após 300 a.C.
que os seres humanos, em um aspecto importante, iniciaram a
aventura intelectual que nos conduziu ás fronteiras do espago,
Mas, da aparéncia e sensblidade desta gloriosa cidade, nada
‘estou. A opressäo e o medo de aprender oblteraram quase toda
a recordagáo da antiga Alexandria, Sua populagäo era maraviho-
samente diversificada. Macedénios e os Úlimos soldados ro-
manos, Sacerdotes egipcios, aristocratas gregos, navegadores.
fenicios, mercadores judeus, vistantes da india e de além do
Saara aficano, todos, exceto a vasta populagáo escrava, conv
viam juntos em harmonia e respeito mútuo pela maior parte do
periodo de grandeza de Alexandria,

À cidade fol fundada por Alexandre, o Grande, e constui-
da pela sua guarda-real. Alexandre incentivou o respeito pelas
culturas estrangelras e a busca sem resticóes do conhecimento,
De acordo com a tradiefo, e nfo importa muito se realmente a-
conteceu, ele desceu além do Mar Vermetho na primeira invest
da do mundo, Encorajou seus generals e soldados a casarem
‘com mulheres persas e da india. Respeitou os deuses de outras
naçées. Coletou formas de vida exóticas, inclusive um elefante.
para Aristoteles, seu professor. Sua cidade foi construida de mo-
do generoso para ser o centro mundial de comércio, cultura e.
aprendizagem. Foi embelezada com largas avenidas com tinta
metros de largura, arquitetura e escultura elegantes, o túmulo
monumental de Alexandre e um enorme farol, Faros, uma das
‘sete maravihas do mundo antigo.

Mas o maior prodigio de Alexandria era a biblioteca e seu
museu (lteralmente, insttulgäo devotada a especialidades das
Nove Musas). Desta biblioteca legendaria, tudo o que resta hoje
$ um subterráneo umido e aquecido do anexo chamado Serapeu,
A principio um templo e posteriormente reconsagrado ao saber.
Algumas prateleiras desintegrando-se devem ser o seu unico
remanescente fisico, embora este local tenha sido, uma vez, 0
cérebro e a glétia da maior cidade do planeta, a primeira insti
Ao de pesquisa verdadeira na historia do mundo. Os sabios da
Biblioteca estudaram o Cosmos inter. Cosmos € uma palavra
‘grega que significa universo, Em um aspecto é o oposto do Caos,
implica em uma interconexdo profunda com todas as coisas.
Transmite respeito pelo modo intrincado e engenhoso de que o
universo se organiza, Havia uma comunidade de eruditos explo-
rando fisica, teratura, medicina, astronomia, geografa, flosofa,
matemática, biología e engenharia que resullou em ciéncias e
‘Saber. A genialidade foresceu. A Biblioteca de Alexandria fol 0
local onde nós, seres humanos, coletamos pela primeira vez,
séria sistematicamente, o conhecimento do mundo.

‘Além de Eratóstenes, havia um astrónomo chamado Hi
parco, que fez os mapas das constelagóes e estimou o briho das.
estrelas; Euclides, que tinha brihantemente sistematizado a

As Frontias do Oceano Cósmico - 19

FeniciosEgipcios,c. 600 a.C.
+ Palinésios, há e. 2000 anos
Cheng Ho. 1430 d.C.

geometria e dito ao seu rel, lutando contra um dif problema ma-
temático: "No há um caminho real para a geometria"; Dionisio de
Tracia, 0 homem que defnlu as partes da oragäo e que fez pelo.
estudo da Inguagem o que Eucides tinha feto pelo estudo da ge-
metra; Heröflo, o fsologista que determinou com firmeza que era
0 cérebro e nto o coragáo a sede da inteligencia; Héron de Alexan-
dia, inventor da engrenagem dos trens e das máquinas a vapor,
escreveu Aufomata, o primer Ivro sobre robös. Apolónio de Per.
ga, o matemático que demonstrou as formas das segdes cónicas”
elipse, parábola e hipérbole — as curvas, que agora sabemos,
seguidas em suas órbitas pelos planetas, cometas e estrelas; Ar-
quimedes, o grande génio da mecánica, ale Leonardo da Vinci: e o
astrónomo e geografo Ptolomeu, que compllou a maior parte do
que hoje 6 a pseudociéncia da Astrología: seu universo centrado na
Terra permaneceu por 1500 anos, um aviso de que a capacidade
intelectual no é uma garantia contra os enganos. E entre estes
grandes homens havia uma grande mulher, Hipácia, matemática e
aströnoma, o úlimo resplendor da biblioteca, cujo martino fol uma
consequencia da destruicao da biblioteca, sete séculos após o seu
inicio, uma história à qual retomaremos,

(Os reis gregos do Egito que sucederam Alexandre levaram
© ensino a sério. Por séculos, sustentaram a pesquisa e manlive-
ram, na biblioteca, um ambiente de trabalho para os melhores.

"Ass chomadas porque pion sr producidos ridndo-sa um cono em vos
Anguos Deva sécuos depos os apertamerios de Apolo sobre as sos
cas puderon so aproveados por mes Kepler na pmo compres ido
maman des santas

Colombo, 1192
Magaihäesflcann, 1520

705,

Rotas exploratóos de algunas das
‘fondo vingen de descbrmertos

20: Cosmos

mios pages» ecos. nro o.
Ege por Poma Y, o sau ac

anse à Grande, com o co 0 0
‘nga amis ts, cono da

a Bhotoce de Monona.

‘cérebros da época. Ela continha dez grandes salas para pes-
‘quisa, cada uma dedicada a um assunto, fontes e colunas, jar.
ins botánicos, um 200lógico, salas para dissecagäo, um obser-
vatério e uma grande sala de jantar onde, nos momentos de lax
zer, se davam as discussdes criticas das idélas.

(© coraçao da biblioteca era a sua colecáo de Ivros. Os
organizadores pesquisaram todas as culturas e linguas do mun-
do. Enviavam agentes por toda a parte para comprar bibliotecas,
Navios comerciais que aportavam em Alexandria eram vasculha-
dos pela polícia, näo à procura de contrabando, mas sim de ll
vos, Os pergaminhos eram emprestados, copiados e enviados
de volta aos seus donos. Numeros preciosos säo dificeis de se-
rem estimados, mas parece provavel que a biblcteca continha
‘meio milnäo de volumes, cada um deles um pergaminho de papi-
10 escrito a mao. O que tera acontecido a todos esses lios? A
civlizagdo clássica que os criou se desintegrou, e a biblioteca fol
delberadamente destruida, Somente uma pequena parte destes
trabahos escapou junto com uns poucos fragmentos espalha-
dos. E como nos sio eles dolorosos! Sabe-mos, por exemplo,
que havia nas prateleiras da biblioteca um live do astrónomo
Aristarco de Samos, que questionava ser a Terra um dos plane-
tas e que, como eles, orbitava em tomo do Sol, e que as estrelas
estavam a distáncias enormes. Cada uma dessas conclusdes
está inteiramente correta, mas tivemos de esperar perto de dois
mil anos para a redescoberta. Se muliplicamos por cem mil
nossa sensagäo de perda desse trabalho de Arstarco, comega-
remos a apreciar a grandiosidade da faganha da civilizagáo clas-
sica e a tragedia da sua destuigäo,

Suplantamos em muito a ciéncia manuseada pelo mundo
‘antigo, mas ha histos ireparavels em nosso conhecimento his-
tórico. Imaginemos que mistérios sobre o nosso passado pode-
riam ser resolvides através de um empréstimo da biblioteca de
Alexandria. Temos conhecimento de trés volumes sobre a histo-
ría do mundo, agora perdidos, de um sacerdote babilónio cha-
mado Berossus. O primeiro volume tratava do intervalo entre a
Criagäo e o Dilivo, período este tido por ele como tendo sido de
432.000 anos ou cerca de cem vezes maior do que a cronología
do Antigo Testamento. Eu me pergunto o que encontraría nee.

(Os antigos sabiam que o mundo era muito velho. Eles
buscavam penetrar no passado distante. Sabemos agora que o
Cosmos é bem mais antigo do que eles jamais imaginaram. Te-
‘mos examinado 0 universo no espago e visto que vivemos em
uma partícula de poeira circulando em tomo de uma estrela mo-
nétana no canto mais remoto de uma galaxia obscura, E se so-
‘mos um ponto na imensidáo do espago, ocupamos também um
instante na expansäo das épocas, Sabemos agora que o nosso
universo, ou pelo menos a sua personificagáo mais recente tem
cerca de quinze a vinte bihöes de anos de existéncia, Este & 0
tempo desde um evento explosivo extraordinario, chamado A
Grande Explosäo (Big Bang). No inicio deste universo, ndo havia
‘galaxias, estelas ou planetas, vida ou civiizagóes, meramente
‘uma bola de fogo radiante e uniforme preenchendo todo o espa-
20. A passagem do Caos da Grande Explosño para o Cosmos

As Fronteias do Oceano Cósmico = 21

que estamos comegando a conhecer € transformagáo mas ater À Grands Sal a 9 Besen
radora da matéria e da energía que vemos o prMlégio de vism- "ara, re Eoio Recastusie panne
brar. E até que descubramos, em algum local, seres mais nel

gentes, somos a mais espetacular de todas as transformagóes,

remotos descendentes da Grande Explosio, dedicados à compre-

ensäo e à posterior ransformagäo do Cosmos do qual proviemos.

Capítulo II

UMA VOZ
NA FUGA CÓSMICA

Fui ordenado a me entregar ao Senhor dos Mundos.
Ele que cricu ati do pó.
— O Alcoráo, Sura 40

A mais antiga de todas as flosofas, a da Evoluçäo, estava conf
nada em todos os aspectos na escuridäo completa durante o milénio do
escolastiismo teciógico, Porém, Darwin verteu sangue novo na antiga
estrutura; os vinculos se romperam e o pensamento revivífcado da Grécia
antiga provou ser a expresso mais adequada da ordem universal das
coisas do que qualquer outro esquema aceito pela credulidade e bem re-
cebido pela superstcSo das úlimas 70 geragdes de homens
—T.H. Huxley, 1887

Provavelmente todos os seres orgánicos que já exisiram nesta ter
ra descendem de alguma forma primordial, na qual a vida fol anteriomen-
te revelada... Ha grandiosidade nesta visäo da vida... que, enquanto este
planeta gira, de acordo com a lei imutävel da gravidade, de um comego
to simples, formas infindavels, as mais belas e perfeñas, evoluiram e
estao ainda evoluind,

— Charles Darwin, a Origem das Espécies, 1859

Parece existir uma comunidade de materia em todo o universo ve
sive, pois as estrelas contém muitos dos elementos que existem no Sol e
na Terra. E extraordinario que os elementos mais amplamente difusos
entre as legides de estelas estejam alguns deles intimamente ligados aos
organismos vivos do nosso globo, incluindo hidrogénio, sódio, magnésio e
ferro. No será possivel que, pelo menos, as estrelas mais brihantes se-
jam como o nosso Sol, os centros de sustentacáo e energizaçäo dos sis-
temas dos mundos, adaptadas para serem a morada dos seres vivos?
— Wiliam Huggins, 1865

24- Cosmos

uvam oscuro de poe teresa. Estes
‘ampavos do nens 80 rolle de ses
picos SmploS. 03 pupnes ars de
Compostos de mies opinas. Crap

DURANTE TODA A MINHA VOA TENHO.ME PERGUNTADO sobre
a possiblidade de vida em outros locais. Como será ela? De que
‘sera formada? Todas as coisas vivas em nosso planeta säo
construidas de moléculas orgánicas — arquiteturas microscópi-
cas complexas nas quais o átomo de carbono desempenha um
Papel central. Houve um tempo, antes da vida, em que a Terra
era árida e inteiramente desolada, No nosso mundo ha agora
uma superabundancia de vida. Como sera que aconteceu? Co-
mo, na auséncia de vida, foram formadas as moléculas orgánicas
com base de carbono? Como se originaram as primeras formas
Was? Como a vida evolul para produzir seres täo elaborados e
täo complexos como nés, capazes de explorar o mistério de nos-
sas propria origens?

E nos outros incontáveis planetas que giram em toro de
‘outros sis, também haverá vida? A vida extraterrestre, se existir,
será baseada nas mesmas moléculas orgánicas da vida na Ter-
ra? Será que os seres de outros mundos se parecem com os da
Terra? Ou seráo muto diferentes — outras adaptacóes a outros
ambientes? O que mais será possivel? A nalureza da vida na
Terra e a procura da vida em outros locals 530 os dois aspectos
‘da mesma pergunta — a procura de quem nds somos.

Na escuriddo entre as estrelas existem nuvens de gás e
poeira e matéra orgánica, Nelas foram encontradas, pelos rádio-
telescópios, dizias de tipos diferentes de moléculas orgánicas. A
‘abundancia dessas moléculas sugere que a esséncia da vida
esteja em toda a parte. Talvez a origem e a evolucSo da vida,
havendo tempo suficiente, seja uma inevitablidade cósmica. Em
alguns desses bihöes de planetas na Vie-actea, a vida pode
nunca despontar. Em outros talvez desponte e se extinga, ou
nunca evolua além das suas formas mais simples. E em algumas
pequenas porgées de mundos ela poderá desenvolver inteligén-
las e cvilzacóes mais adiantadas do que a nossa.

De vez em quando alguém observa a feliz coincidéncia
que há no fato da Terra ser perfetamente adaptada à vida —
temperaturas moderadas, agua em estado líquido, atmosfera
com oxigénio, e assim por diante. isto 6, pelo menos em parte,
uma confusäo de causa e efeito. Nés, produtos da Terra, estar
‘mos supremamente bem adaptados 20 seu ambiente porque
crescemos aqui, As formas inicials de vida, que näo se adapta-
ram bem, morreram. Somos descendentes dos organismos bem-
sucedidos. Os organismos que evoluiram em um mundo dife-
rente, sem düvida, também tecem seus elogios.

Toda a vida da Terra está inimamente interligada, Pos-
‘sulemos uma química orgánica e uma heranga evolutiva comuns.
Como consegúéncia, nossos biólogos so profundamente limi-
tados, Estudam somente um único tipo de biología e um unico
tema na música da vida. Será este débil e agudo tom a única voz
para mihares de anos-luz? Ou existirá um tipo de fuga cósmica,
‘com temas e contrapontos, dissonáncias e harmonias, um bihäo
de vezes diferentes participando da música da vida da Galaxia?
Deixe-me contar a voces um pequeno verso da música da vida
na Terra. No ano de 1185, 0 imperador do Japäo era um menino
de sete anos de idade chamado Antoku. Era um lider nominal

Uma Voz na Fuga Gésmica - 26.

de um clá de samurais chamado os Heike que estavam engajados
fem uma longa e sangrenta guerra com outro cl, os Genj Cada um
afımava sua reivindicagSe ancestral superior ao trono imperial. Seu
combate naval decisivo, com o mperador a bordo de um navio, se
deu em Danno-ura, no Mar Interior do Japäo a 24 de abril de 1185.
(Os Heike eram sobrepujados em número e em embarcacóes. Mur
tos foram mortos. Os sobreviventes, em grande número, se atira-
ram ao mar e se afogaram. A Senhora Ni, avó do imperador, resol
veu que ela e Antoku náo seriam capturados pelo inimigo. O que
aconteceu depois é narrado na História dos Holke:

O Imperador tinha sete anos de idade, mas parecia bem mais
Velho. Era táo adorável que parecia iraciar uma luz brihante, e
seu longo cabelo preto caía solo em suas costas. Com um 0-
Ihar de surpresa e ansiedade em sua face ele perguntou à Se-
hora Ni "Para onde me levas?”

Ela se virou para o jovem soberano, com lágrimas des-
cendo pela face, e abragou-o, prendendo seu longo cabelo em
sua túnica bordada de pombos. Cego pelas lágrimas, o jovem
soberano juntou suas belas e pequeninas máos. Virou-se pri
meiro para leste para se despecir do deus de se, e entáo para
‘este para repetir o Nembutsu [uma prece para o Buda Amidal
A Senhora Ni apertou-o nos bragos e com as palavras “No fun-
do do oceano está o nosso templo”, mergulhou com ele entre
as ondas.

Toda a esquadra de guerra Heike fol destruida. Somente
quarenta e très mulheres sobreviveram. Estas damas de honra da
corte imperial foram forgadas a vender flores e a fazer outros favo-
res aos pescadores, próximo ao local da batalha. Os Heike quase
que desapareceram da história. Mas a ralé da primeira geragao das
damas de honra com os pescadores organizou um festival para
comemorar a batalha, que se realiza no dia vinte e quatro de abril
de cada ano, até hoje. Os pescadores descendentes dos Heike se
vestem de cánhamo e usam um chapéu preto, e dirigem-se ao san-
tuario de Akama que encerra o mausoléu do imperador afogado. La
assistem a uma pega que retrata os eventos que se seguiram à
batalha de Danno-ura. Séculos depois, as pessoas imaginavam que
podiam discemir espectros de armas samurals esforgando-se inu-
mente para varrer o mar e Impä-lo do sangue, defendendo-o da
humibhagáo,

(Os pescadores diem que os samurais Heike ainda va-
gueiam peto fundo do Mar Interior em forma de caranguejo. Ha ca-
ranguejos encontrados com marcas curiosas em suas carapacas,
com padröes e recortes que lembram a face de um samural. Quan
do apanhados näo säo comidos, mas mandados de volta ao mar
em comemoracáo aos tristes eventos de Danno-ura.

Esta lenda levanta um problema. Como acontece da face de
um guereiro ser gravada na carapaga de um caranguejo? A res-
posta seria que seres humanos teriam-na esculpido. Os padrées da
carapaca säo herdados, mas entre os caranguejos, como com as
pessoas, há multas Inhagens diferentes. Suponha-mos que, por
acaso, entre os ancestrais distantes deste caranguejo exista um
com um padráo que lembra ligeiramente uma face humana.

Un Semi! do ¿opto foul em seu ie
guerre Na toate japonesa, A stan
Ge Homo oncora um agree compra

Um csranguejo haha do Mar intr do
pto.

25: Cosmos

Mesmo antes da batalha de Danno-ura, os pescadores relutavam
‘em comer tais caranguejos. Alirando-os de volta ao mar, eles in
Giaram um processo evolucionário: Se € um caranguejo com uma
carapaça comum, os homens © comeräo. Sua linhagem deixará
poucos descendentes, Se a carapaga ver os tragos de uma face,
‘les o devolveräo ao mar, delxando mais descendentes. Os ca-
tanguejos possulam um revestimento substancial nos padróes
das suas carapagas. Enquanto as geragdes de pescadores e de
caranguejos se sucediam, os portadores de carapagas com par
ares que mais se assemelhavam à face de um samurai sobrevi-
iam até que, eventualmente, produziu-se näo apenas uma face
humana, náo apenas uma face japonesa, mas a viso de um feroz
© ameacador samurai, Tudo isto náo diz respeito ao que os ca-
ranguejos querem. A selegäo é imposta exteriormente. Quanto
maior a semelhanca com um samurai, melhores as chances de
‘Sobrevivencia, Casualmente comecaram a existir multos caran-
Quejos-samurais,

Este processo chamado de selegáo artificial. No caso do
caranguejo Heike, foi efetuada, em parte inconscientemente, pe-
los pescadores, e certamente sem nenhuma contemplagäo seria
pelos caranguejos. Os homens tém, de modo deliberado, selecio-
nado que tipos de plantas e animais devem viver e quais devem
morrer, por mihares de anos. Estamos rodeados desde a infáncia
por futas, arvores, vegetais e animais domésticos üteis e famiia-
tes. De onde eles vieram? Exitram livremente em estado agreste
«8 entáo foram induzidos a adotar uma vida menos extenuante em
uma fazenda? Näo. A verdade € bem diferente, A maioria deles é
feñta pornos.

Dez mil anos atrás, náo havia vacas leteiras cu cáes de
caça ou cereals de espigas grandes, Quando domesticamos os
ancestrais destas plantas e animals — algumas vezes bem dife-
rentes das de agora — controlamos as suas proles. Asseguramo-
nos de que certas variedades, que apresentavam propriedades
consideradas desejäveis, eram reproduzidas preferenciaimente
‘Quando precisávamos de um cäo para ajudar a tomar conta do
rebanho, selecionävamos cas inteligentes e döceis, e que tinnam
algum talento preexistente para guardar o gado, o que € comum
fem animais que caçam em matiha. Os enormes úberes distendi-
dos do gado letero säo o resultado de um interesse humano em
leite e quejo Nossos cereais, ou milho, tim sido selecionados por
dez mil geragdes para serem mais saborosos e nutrtivos do que
‘seus minguados ancestrals; na verdade, eles se encontram téo
alterados que näo podem nem reproduzir sem a intervenco hu-

A esséncia da selegáo artífcial — para um caranguejo
Heike, um cdo, vaca ou espiga — é: Multos tragos fisicos e com-
portamentais de plantas e animals sáo herdados. Eles se repro-
duzem. Os seres humanos, por qualquer que seja a razo, enco-
rajam a reprodugäo de algumas variedades e desencorajam a de
auras. A variedade selecionada preferencialmente reproduz e
casualmente se toma abundante; a näo selecionada se tora rara
talvez extinta,

Mas se os seres humanos podem criar novas variedades
de plantas e animais, náo o poderá também a natureza? Sim, e

Uma Voz na Fuga Cósmica -27

este processo chama-se selegäo natural. Aquela vida que fol alte-
rada fundamentalmente ao longo das eras está interamente live
das alteragöes que fizemos nos animals selvagens e nos vegetais
durante o curto exercicio dos seres humanos na Terra e das ev-
dencias fóssels. Os registros fosseis nos revelam claramente criatu-
ras que existiam em grandes quantidades e que agora desaparece-
ram por completo." Ha muito mais especies que se tornaram extin-
tas na historia da Terra do que as que existem hoje; elas säo os
experimentos completados da evolucdo.

As alteragóes genéticas induzidas pela domesticaçäo ocor-
reram com muita rapidez. O coelho náo foi domesticado senäo no
Inicio dos tempos medievais (fo criado por monges franceses na
renga de que os coelhinhos recém-nascidos eram peixes e, con-
úsequentemente, isentos das proibigbes contra a came a ser con
sumida em determinados dias do calendario ilúrico); o café foi
Utlizade no século XV; a beterraba no XIX: € o mink ainda se en-
contra nos estágios iniciais da domesticacáo. Em menos de dez mil
anos, a domesticaçäo aumentou o peso da Ia dos camelros de me-
nos de um quilograma de pélos ásperos para dez ou vinte quilo-
gramas de lanugem fina; ou o volume do lite produzido pelo gado.
durante o período de lactaçäo, de algumas centenas para um mi-
Ihäo de centímetros cúbicos, Se a selegáo artificial pode levar a
Alteragóes tdo importantes em um período de tempo, do que será
capaz a selecáo natural, trabalhando por bihióes de anos? A res-
posta é toda a beleza e diversidade do mundo biolégico. A evolucáo
um fato, náo uma teoria.

(Que o mecanismo da evolugáo € a seleçäo natural é a gran-
de descoberta associada aos nomes de Charles Darwin e Alfred
Russel Wallace, Ha mais de um século, eles sallentaram que a na-
tureza é prolfica, que nascem muito mais plantas e animais do que
05 que apresentam possilidade de sobrevivencia, e que, portanto,
‘© ambiente seleciona as variedades que sáo, por acidente, melhor
adaptadas para a sobrevivencia. As mutagóes — alteragóes súbitas
na hereditariedade — procriam a verdade. Fornecem a matéria-
prima da evolugäo. O ambiente seleciona algumas mais propicias à
sobrevivencia, resultando em uma serie de transformacdes lentas e
{uma forma de vida para outra, a origem de novas espécies

Disse Darwin, no seu Ivo A Origem das Espécies:

“Entera » opine raiposa easconal do Oidene mertenha, com astorsmo, ©
errr, como por remis, oprdo de 1770 da Jahn Wesley “A mare nunca ©
Perse desu testo) das espec mass eartes

“io ro sagrado des mues, Popol Vuh a vanos fumas de vido sho sons
camo entaas facassads dos deus, com uma prediogto por expendnicas com
pessoas. As ims team mut aque do espafodo, Crndo es anmas mino:
Fos. parie, una aha mona, ez os macacos Na aig chneso. 8 010
humanos surgram des pros de um deus cromado Pon hu, No see Vi de
Butor propés que 9 Tora eve mato mas og do que es Esenhras sogen.
que où nos de ado de gua mono, ttm loctomonto se arado Bras
‘dos mines, mes que os Simos gran os descanderts esquecdos de homem,
Ebern estas nage ndo ram com pco © racasto rouen desrto
por Gonen e Walco, sho uno arteopardo dl. como 9 from es des de De.
somo Empidacs e ares poor nus ecos ue sehe discitdos no
Cosas vi

28: Cosmos

O homem náo produz realmente a variablidade; somente.
sem intençäo expós seres orgánicos a novas condigées de
vida e, ent2o, a Natureza agiu na organizagäo e causou a
variablidade. Mas o homem pode e seleciona as variagBes
dadas a ele pela Natureza o, entäo, as acumula da maneı-
ra desejada. Assim adapta animais e plantas em seu pré-
prio beneficio e prazer. Pode fazer isto de modo metódico
où inconsciente preservando as espécies mais üteis a ele
fem uma época, sem nenhum pensamento em alterar a pro-
le... No há razäo öbvia por que os principios que agiram
com tanta efciéncia na demesticaçäo nao atuassem em
Natureza... Nascem mais individuos do que os que podem
sobrevver... A minima vantagem de um ser, em qualquer
idade ou estagäo, sobre aqueles com os quais compete ou
a sua melhor adaptagäo em qualquer grau as condigóes
ambientais inverterá o equilibrio

T.H. Huxley, o mais ativo defensor e popularizador da evo-
lueño, do século XIX, escreveu que as publicagóes de Darwin e
Wallace eram um "clardo de luz o qual, para um homem que ti
vesse se perdido em uma noite escura, repentinamente revelaria
Um caminho que, levando-0 ou náo direto para casa, com certeza.
iria na sua diregäo... Minha conclusáo, quando pela primeira vez
assimile a idéia central de A Origem das Espéctes fol: ‘Como &
‘extremamente estupido náo se ter pensado nisto! Suponho que
08 companheiros de Colombo também tenham dito o mesmo. Os
aspectos da varablidade, do esforgo da existäncia, da adaptacdo
à condigßes eram notoriamente suficientes, mas nenhum de nós
notou que o caminho para © Amago do problema das espécies
estava entre elas, até que Darwin e Wallace dissipassem a escun-
io’.

Muitas pessoas se escandallzaram — algumas ainda hoje
— com ambas as idélas de evolugäo e selegäo natural. Nossos
ancestrais oharam para a corregáo da vida na Terra, e como as
struturas dos organismos eram apropriadas as suas funcdes, e
viram evidéncias de um Grande Projetsta. O organismo unicellar
mais simples € uma máquina mais complexa do que o mais ref
nado relögio de bolso. E reldgios de bolso näo se automontam
‘espontaneamente, ou evoluem, em estágios lentos e por si pró-
pris, digamos assim, de seus relögios-avös. Um relógio implica
fem um relojoeio, Parece näo haver um modo pelo qual átomos e
moléculas possam, de alguma forma espontaneamente, se juntar
para criar organismos de uma complexidade aterradora e funcio-
inamento engenhoso como todas as regidos da Terra. Que cada
coisa viva fol especialmente planejada, que uma espécie náo se
ransformou em outra eram nogöes perfetamente consistentes
‘com as que nossos ancestrals, com seus limitados registros histo-
ficos, sablam sobre a vida. A idéla que cada organismo era meti-
culosamente construído por um Grande Projetsta proporcionava
um significado e ordem a natureza, e uma importancia aos seres
humanos que nés ansiamos ainda hoje. Um Projetista € uma ex-
plicagdo natural, cativante e iteiramente humana do mundo bio
lógico. Mas como Darin e Wallace mostraram, há um outro mo-
do, Igualmente catvante, igualmente humano e bem mais lógico:

Uma Voz na Fuga Cósmica - 29

seleçäo natural, que toma a música da vida mais bonita à medida
que 0 tempo passa,

As evidencias fösseis podem ser consistentes com a idéia
de um Grande Projetista; talvez algumas espécies sejam destrut
das quando o Projeista fica insatisteto com elas, e sejam tentados
novos experimentos em um projeto aperfeicoado. Mas esta noçäo &
um pouco desconcertante. Cada planta e animal & formado de mo-
do primoroso. Será que um Projetista muito competente näo foi
capaz de fazer uma variedade pretendida desde o incio? O registro
{ssi implica em ensaio e erro, em capacidade para antecipar o
futuro, aspectos inconsistentes com um Grande Projetista efciente
(embora no com um Projeista de temperamento mais remoto €
Indreto)

‘Quando eu era aluno ainda náo graduado, no inicio da de-
cada de 50, tive a felicidade de trabalhar no laboratério de H. J
‘Muller, um grande geneticista e o homem que descobriu que a ira-
diaçäo produzia mutagSes, Muller fol quem primelro chamou minha
atençäo sobre o caranguejo Heike como um exemplo de selecdo
artícial. Para aprender o lado prático da genética, passei muitos
meses trabalhando com moscas e frutas, as Drosophila melano-
‘gastor (que signifea amante do orvalho de corpo negro) — peque-
hos seres benignos com duas asas e grandes olhos, Nós as manti-
‘hamos em garrafas de leite de meio Itro. Podíamos cruzar duas
variedades e observar as novas formas que surgiam da rearruma-
630 dos gens patemos e das mutacées naturals e induzidas. As
fémeas depostavam seus ovos em um tipo de melaco que os téc-
icos inseriam nas garrafas que eram tamponadas. Esperávamos.
duas semanas para os ovos fertlizados se transformarem em lar
vas, as larvas em crsálidas e as crisáldas emergirem como novas
moscas de frutas.
adukas,

Um dia eu estava olhando através de um microscépio bino-
cular de pouca amplaçäo pertencente a um grupo recentemente
chegado de Drosophilss adultas imoblizadas com um pouco de
éter, e estava ocupado separando as diferentes variedades com
lm pincel de pélo de camelo. Para minha surpresa, encontre algo
muito diferente, näo uma pequena variagáo como olhos vermelhos.
20 invés de brancos, ou cerdas no pescogo ou nenhuma cerda. Era
um outro ipo de criatura com asas muito mais proeminentes e lon-
gas antenas plumosas, e parecia muito bem. O destino inha ajeta-
do, conclu, um exemplo de uma aleraçäo evolucionaria importante.
fem uma simples geragäo; a única coisa que Muller tinha dito que
jamais aconteceria, inha acontecido em seu prépri laboratério. Foi
{uma tarefa dificil para mim relatar a ele.

‘Com o corasáo pesado bali em sua porta, "Entre, disse
uma voz de choro abafada. Entrei e descobri a sala as escuras,
exceto por uma única lämpada pequena iluminando a plataforma
do microscópio em que ele trabalhava, Tropecei na minha explica
géo: — "Encontrei um tipo muito diferente de mosca. Tenho certeza
de que emerglu de uma das pupas no melago. Nao pretendo inco-
modä-o, Muller, mas... "Assemelha-se mais a uma Lepidoptera ou
com uma Diptera?" perguntou ele, sua face iluminada por baixo.
Náo entendi o que quis dizer, por isso teve de explicar, “Tem

30- Cosmos

antenas plumosas?”, Com mau humor, assent

Muller virou a cabeça acima da luz e sor com benevo-
léncia. Era uma velha historia. Havia um tipo de mariposa que
tinha se adaptado à Drosophila de laboratorios genéticos. Näo se
assemelhava a uma mosca de fruta, nem queria nada com elas,
mas sim o seu melaço. No breve espago de tempo que o técnico
do laboratéro levou para destampar e tampar a garrafa de leite
eu para colocar as moscas de frutas, por exemplo, a mariposa-
mäe formou uma passagem na bomba de Imersäo depositando
seus ovos no saboroso melago. Eu näo tinha descoberto uma
macromutaçäo, mas meramente havia me deparado com outra
adorável adaplaçäo em natureza, ela própria produto de micro-
mutaçäo e selecáo natural

(Os segredos da evoluçäo säo morte e tempo — mortes
de varias formas de vida imperfeitamente adaptadas ao ambiente
tempo para uma longa sucessäo de pequenas mutaçôes que
ram, por acidente, adaptativas, tempo para o lento acümulo de
padrées de mutagóes favorávels. Parte da resistencia a Darwin e
Wallace deriva da nossa difculdade em imaginar a passagem
des milénios, quanto mais das eras. O que significam setenta
mihöes de anos para seres que vivem somente um mlionésimo
dele? Somos como borboletas que esvoaçam por um dia e ju
‘gam ser por todo o sempre.

‘© que acontece aqui na Terra pode ser mais ou menos
tipico da evolugäo da vida em muitos mundos, mas em detalhes
‘como a quimica das proteinas ou a neurología dos cérebros, a
história da vida na Terra pode ser única em toda a Via-läcten. A
Terra se condensou do gas e poeira interestelares há mais ou
‘menos 4,5 bilhdes de anos. Sabemos, através dos registros 1os-
‘ses, que a origem da vida aconteceu logo depois, talvez em tor-
no de 4 bilhées de anos atrás, nos lagos e oceanos da Terra
primitiva. As primeiras formas vivas näo eram to complexas
‘como um organismo unicellar ja uma forma de vida altamente
sofisticada, As primeiras atividades foram muito mais despreten-
Siosas. Naquele tempo, 0 relámpago e a luz ulravioleta do Sol
‘estavam separando as moléculas simples, ricas em hidrogénio,
da atmosfera primitiva, os fragmentos espontaneamente recom-
binando-se em moléculas mais e mals complexas. Os produtos
desta química incipiente eram dissolves nos oceanos, originan-
do um tipo de caldo orgánico de complexidade gradualmente
male, até que um día, quase que por acidente, apareceu uma
molécula capaz de fazer cópias grosseiras de si mesma, utiizan-
do como blocos de construgáo outras moléculas no caldo, (Re-
tomaremos posteriormente a este assunto)

Este fol o primeiro ancestral do ácido desoxiibonuciéico
© ADN, a molécula principal da vida na Terra. Tem a forma pare-
‘dda com uma escada torcida em hélice, os degraus disponiveis
‘em quatro partes moleculares diferentes, que consttuem as qua-
tro letras do código genético, Estes degraus, chamados nucleoti-
eos, decifram as instrugdes hereditrias para a formagäo de um
determinado organismo. Cada forma de via na Terra possul um
grupo diferente de instrugdes, escritas esencialmente na

Uma Voz na Fuga Cósmica -31

mesma linguagem. A razäo pela qual os organismos sáo diferentes
está nas diferengas das suas instrugóes do ácido nueléico, Uma
mutaçäo é uma alteragäo em um nucleotideo, coplado na geracdo
úseguinte que proctia com legitimidade. Uma vez que as mutagóes
sio alteragées casuais no nucleotideo, a maioria delas é perigosa
où letal, codificando para a existéncia enzimas náo-tuncionals. É
{uma longa espera até que uma mutaçäo faça um organismo traba-
Ihar melhor. Náo obstante seja este evento improvavel, uma peque-
na mutaçäo benéfica em um nucieotideo de um décimo de millone-
simo de um centimetro de comprimento é que faz a evoluçäo pros-
seguir

Há quatro bihöes de anos, a Terra era um Jardim do Eden
molecular, Até entäo näo havia predadores, Algumas moléculas se
reproduziam de maneira ineficiente, limitadas pelos blocos de cons-
trugáo e deixando cópias grosseiras de si mesmas. Através da re-
Produgäo, mutacáo e elminagäo seletiva das variedades menos
eficientes, a evolugdo se processava, até mesmo no nivel molecu-
lar. Á medida que o tempo passava, elas se aprimoraram em sua
reprodugáo. Moléculas com fungóes especializadas casualmente
juntaram, formando um tipo de coletividade molecular — a primeira
célula. As células vegetais de hoje possuem fábricas moleculares
diminutas, chamadas cloroplastos, responsäveis pela fotossintese
— a conversäo da luz solar, agua e diéxido de carbono em carbor
ratos e oxigénio, As células em uma gota de sangue encerram um
tino diferente de fábrica molecular, as mitocóndrias, que combinam
alimento com oxigénio para extrair a energía úl. Estas fábricas e-
istem nas céllas vegetais e animais aluals, mas podem um dia ter
sido células de vida propria

Ha tres biGes de anos, alguns vegetais unicelulares se un-
ram, talvez porque uma mutaçäo tenha evitado que uma célula se
separasse apos a divisäo em duas. Os primeiros organismos mult
celulares evoluiram. Cada célula em seu corpo € um tipo de comu-
nidade, com as partes de vida própria anterior unidas para um be-
neficio comum. E voce é composto de centenas de tlhöes de célu-
las. Somos, cada um de nos, uma mufidäo,

O sexo parece ter sido inventado em tomo de dois bihöes,
de anos passados. Anteriormente, as novas variedades de orga-
nismo podiam surgir somente através do acumulo de mutagdes for.
tuitas — seleçäo das alteragdes, letra por letra, nas instrugbes ge-
éticas, A evoluçäo devia estar agonizantemente lenta, Com o ad-
Vento do sexo, dois organismos poderiam trocar parágrafos intetos,
paginas e Imos do seu código de ADN, produzindo novas varieda-
des prontas para o crivo da selegäo. Os organismos so seleciona-
dos para engajar-se no sexo — aqueles que o acham desinteres-
sante logo se tomam extintos Isto é verdade no somente para os
mieréblos de há dois bihöes de anos. Nés, seres humanos, também.
hoje em dia apresentamos uma devocáo palpavel para a troca de
segmentos do ADN.

Há um bihäo de anos os vegetais,trabalhando cooperati-
vamente, fizeram uma alteragáo espantosa no meio ambiente da
Terra. As plantas verdes geraram oxigénio molecular. Uma vez que
05 oceanos estavam cheios de plantas verdes e despertenciosas,

Fosse tiobtas, Acme, ule espécies
agas, de meo o de anos. Ne canoe
Shove, espacios poser mas de
Servohadon com os anes sómiravamonto
resevados Os tives sto un ces
Fritos resutades do exploto cambiona
Reimprosse de Tis, de Ricardo Lo
Sete com permerdo da Unversity 81 On
cago Press. Copie © 1875 by the
Urivrsty of chicago

© onigénio se tomou o principal consituinte da atmosfera terres-
tte, alterando-a imeversivelmente da sua caracteristica original
rica em hidrogenio e terminando com a época da história da Ter-
ra, quando a esséncia da vida era formada por processos näo-
biológicos. Mas o exigénio tendía a dispersar as moléculas orgá-
nicas. À despeito do nosso afeto, ele é fundamentalmente um
veneno para a materia orgánica desprotegida. A transigáo para
uma atmosfera oxidante originou uma crise tremenda na historia
da vida, e a maioria dos organismos, incapaz de competir com o
‘oxigénio, pereceu. Poucas formas primitivas, como os bacilos do
botulismo e do tétano, conseguem sobreviver, mesmo hoje, so-
mente em ambientes livres de oxigénio. O niregénio na atmosfe-
ra terrestre é muito mais químicamente inerte, e portanto, muito
mais benigno que o oxigénio. Mas ele também 6 biologicamente
mantido. Assim, 99% da atmosfera da Terra säo de origem bioló-
ica, O céu é feito de vida.

Na maior parte dos quatro bilides de anos desde a or-
gem da vida, os organismos dominantes eram algas azul-
‘esverdeadas microscópicas que cobriam e preenchiam os ocea-
nos. Entäo, há 600 mihöes de anos, o poder monopolizante das
algas fol quebrando e emergiu uma prolferagäo de novas formas
de vida, um evento chamado explosäo cambriana. A vida surgiu
quase que imediatamente após a origem da Terra, o que sugere
que a vida pode ser um processo químico ineviável em um pla
eta como a Terra. Mas a vida näo evoluiu muito além das algas
azul-esverdeadas por ts bihöes de anos, o que sugere que
formas de vida grandes, com örgäos especializados, sáo diiceis
de evolui, mals difices até do que a origem da vida. Talvez haja
muitos outros planetas que hoje possuam micróbios em abun-
dancia, mas nfo animais e vegetais grandes.

Logo após a explosdo cambriana, os oceanos transborda~
vam com muitas formas de vida diferentes. Em torno de 500 mi.
Ihöes de anos havia vastos rebanhos de tilobitas, animals bela-
mente construidos, lembrando um pouco insetos grandes; alguns
‘cagavam em grupos no leto do oceano. Acumulavam cristais em
‘seus olhos para detectar a luz polarizada. Näo há tlobitas vivos
oje e nem nos últimos 200 mihöes de anos. A Terra fol habitada
Por animais e vegetais dos quals náo hä nenhum vestigio. E,
naturalmente, multas espécies agora no planeta näo existiam
antes, Nao há sugestöes, nas rochas antigas, de animals como
nés. As espécies aparecem, resistem de modo mais ou menos
breve, e entäo batem as asas.

‘Antes da explosdo cambriana, as espécies pareciam su-
‘coder-se umas as outras um tanto lentamente. Em parte iso po-
de ser consequéncia da riqueza das nossas informagdes — de-
dinar rapidamente à medida que penetramos no pasado; no
Inicio da história do nosso planeta, poucos organismos possulam
partes duras, e seres moles deixam pouces tragos fösseis. Mas
pare do ritmo indolente do aparecimento de formas dras-
ticamente novas, anteriores à explosdo cambriana, 6 real; a evo-
Iugäo esmerada da estrutura celular e da bioquimica náo se refe-
te de imediato nas formas externas reveladas pelos registros
fésseis. Após a referida explosäo, novas adaptagóes primorosas

Uma Voz na Fuga Cósmica -39.

se seguiram umas ás outras, a uma velocidade de trar o félego. Em
rápida sucessäo, apareceram o primeiro peixe e o primeiro verte-
brado; plantas anteriormente restringidas ao oceano iniciaram a
colonizaçäo da Terra; os primeiros insetos evoluram, e seus des-
cendentes tomaram-se os pioneiros na colonizagáo da Terra pelos
animals; surgiram insetos alados juntamente com os anfibios, cria-
turas semelhantes a peixes com pulmées, capazes de sobreviver
tanto na terra como na agua; apareceram as primeiras árvores o os.
primeiros repteis; os dinossauros evolulram; emergiram os mamife=
ros e enläo os primeiros pássaros; as primeiras flores despontaram
(0 dinossauros se tomaram extintos; os primelros cetáceos, ances-
ais dos golfos e das baleias, surgiram no mesmo periodo dos
prima-tas — antepassados dos macacos, gorlas e homens. Há me-
nos de dez mihöes de anos, as primeiras criaturas parecidas com
seres humanos evoluiram, acompanhadas por um aumento espe-
tacular no tamanho do cérebro. E entáo, somente há poucos mi
Ihöes de anos, emergiram os primeiros humanos verdadeiros.

(Os seres humanos viviam em forestas; temos uma afnidade
natural por elas. Como é lindo uma árvore apontando para o céu.
‘Suas folhas caplam a luz solar para fotossintelzar, por isso as érvo-
res competem sombreando suas vizinhas. Se observarmos com
muito cuidado, podemos ver com frequéncia duas arvores se em-
Purrando e impelindo com uma graga sutl. As árvores so máqui-
as grandes e belas, cujaforga está na luz solar, tirando a agua do
solo e o dióxido de carbono do ar, convertendo estes materais em
alimento para seu uso e para nés. A planta utllza os carboidratos
que fazem como fonte de energía para circular em sua tarefa de
vegetal. Ends, animais, que somos ulimamente parasitas das plan-
tas, roubamos os carboidratos para fazermos 0 nosso trabalho. In-
gerindo as plantas, combinamos os carboidratos com © oxigénio
dissolvido em nosso sangue decorrente da nossa inciinagáo para
respirar oar, e assim extralmos a energía que nos impele. Durante
processo, exalamos diéxido de carbono que as plantas entäo reci-
clam para produzir mais carboidrates. Que cooperagäo maravihosa
— plantas e animais, cada um inalando a exalacáo do outro, um
tipo de ressuscitagao boca-a-boca mütua por todo o planeta, um
ciclo distinto e completo, cuja forga se encontra a 150 mihdes de
quilémetros de distancia.

Há dez bihöes de tipos conhecidos de moléculas orgánicas
embora somente cerca de cinqüenta delas sejam ullizadas nas
atvidades essenciais da vida. Os mesmos padräes säo em-
pregados varias e varias vezes, conservadoramente, engenho-
samente, para as diferentes fungöes. E no verdadeiro ámago da
Vida na Terra — as proteínas que controlam a química celular e os.
ácidos nucléicos que transportam as instrugSes hereditarias — des»
cobrimos que estas moléculas so esencialmente idénticas em
todas as plantas e animais. Um carvalho e eu temos a mesma es
séncla. Se retrocedermos o suficiente, encontraremos um antepas-
sado comun,

A célula viva é um sistema táo complexo e belo como o do-
minio das galaxias e estelas. O mecanismo elaborado da célula
tem evoluído cuidadosamente durante quatro bihöes de anos

34- Cosmos

Fotomoogrts
hunenes Cotes
{alos om mo do mangas sé cálos
Bugône Os anlomerados mares 180
Silos broncos que engalen es me

Fragmentos alimentares sio transformados em mecanismo celu:
lar. O leucócto de hoje € o creme de espinafre de ontem. Como o.
az a célula? Interiormente há um labiinto e uma arquitetura im-
percepliveis que mantém sua própria estrutura, transfermam mo-
léculss, armazenam energía e preparam para a autoduplicacio,
Se pudéssemos penetrar em uma célula, multas das manchas
moleculares que veríamos seriam moléculas de proteína, algu-
mas em frenética atividade, outras simplesmente aguardando, As.
proteinas mais importantes sáo enzimas, moléculas que contro-
lam as reaçôes químicas da célula. As enzimas sáo como traba-
Ihadores de uma linha de produedo, cada um especializado em
um trabalho molecular particular: O Passo 4 na construcño do
nucleotides fosfato guanosina, ou o Passo 11 na quebra da mo-
lécula de agúcar para extrar energia sAo o trbuto pago para a
realizagdo de outros trabalhos celulares. Mas as enzimas nao
rigen o espetáculo. Elas recebem suas inslrugóes — e säo elas
próprias construidas — por ordens enviadas pelos responsäveis,
As moléculas-chefes do os ácidos nucleicos, que habitam, se-
‘questrados, uma cidade proibida no interior profundo, no nucleo
da célula

‘Se merguiharmos através de um poro em diregño 20 ni:
leo da célula, encontraremos algo que lembra uma explosäo em
uma fábrica de espaguete — uma multidáo desordenada de espi-
raise cord es, que sdo os doisipos de ácidos nucieicos: o ADN,
que sabe o que fazer e o ARN que transporta as instrugóes emi
tidas pelo ADN para o resto da célula Isto é o melhor que quatro.
bithdes de anos de evolugáo pode produzir, encerrando o com-
Plemento Inteiro da informagáo de como montar uma célula, uma
ärvore ou um trabalho humano, A quantidade de infomaçäo no.
ADN humano, se descrito em linguagem comum, ocuparia uma
centena de volumes grossos. Além disso, as moléculas de ADN
sabem como fazer, com somente raras excesóes, cópias idént-
‘cas. Elas sabem extraordinariamente demais.

‘© ADN é uma hélice dupla, as duas cadeias interigadas
lembrando uma escada "em espiral. É a sequéncia ou ordem
dos nucleotideos ao longo de ambas as cadeias consituintes que
forma a linguagem da vida, Durante a reprodugäo, as hélices se
separam, assisidas por uma proteina näo-espiralada especial,
‘cada uma sinteizando uma cépia idéntica da outra, parindo dos
blocos de construgäo do nucleotideo, futuando próximas no
quido viscoso do núcleo da célula. Uma vez iniciada a desespira-
lizagao, uma enzima notavel chamada polmerase ADN ajuda na
certeza de que cada cópia trabalha quase que perfeilamente. Se
houver um erro, há enzimas que "retram” o erro e substituem ©
nucleotideo errado por um certo. Estas enzimas säo máquinas
moleculares com poderes fabulosos.

‘Alem de produzir copias precisas de si mesmo — o tema
da hereditariedade — o ADN nuclear drige as aividades da célu-
la — 0 tema do metabolismo — sinteizando o outro ácido nu-
déico chamado ARN mensageiro, cada um passando pelas pro-
Vinoias extranueleares e la controlando a construgño no tempo
‘certo, no lugar certo, de uma enzima. Quando tudo já está feto,
foi produzida uma Unica molécula de enzima, que vai entáo

Uma Voz na Fuga Cósmica -95

ordenar um aspecto particular da química da célula,
© ADN humano € uma escada com bihöes de nucleotideos
de comprimento. A maioria das combinagées entre eles & absurda,
pois levariam a sintese das proteinas que näo executam uma tarefa
il. Somente um número extremamente limitado de moléculas de
ácido nucléico so benéficas para formas de vida to complicadas
como a nossa. Mesmo assim, a quantidade de modos de se urirem
os ácidos nucléicos é assombrosamente grande, provavelmente
bem maior que o número total de elétrons e prótons do universo,
Consequentemente, o número de seres humanos individualizados
possivel é imensamente maior do que os que já viveram: o potencial
no extraido da especie humana & enorme. Deve haver modos de
¡se unir os ácidos nucieicos que funcionaráo bem melhor, por qual-
quer critério que escolhamos, do que os que jà viveram. Felizmente,
inda näo sabemos como agrupar seqUéncias alternativas de nu-
clectideos para montar tipos diferentes de seres humanos. No fur
turo talvez sejamos capazes de agrupar os nucleolideos na se-
quéncia desejada, para produzirem as caracteristicas que con-
Siderarmos admiráveis, uma perspectiva sombra e inquietante.

A evolugäo se faz alravés da mutaçäo e seleçäo. As muta-
Ses podem ocorrer durante a duplicagäo se a enzima do ADN, a
Polmerase, cometer um erro, mas isto raramente ocorre. As muta
Sôes ocorrem também em decorréncia da radioatividade ou pela luz
Utravioleta do Sol, ralos cósmicos ou química do meio ambiente,
todas podendo alterar os nucleotideos ou amarrando os ácidos nu
éicos em nes. Se o ritmo de mutagäo for muito ato, perderemos a
herança de quatro bihöes de anos de evolugáo cuidadosa. Se for
muito baixo, as novas variedades näo seräo capazes de se adaptar
a alguma mudança futura no ambiente. A evolugäo da vida requer
um equlibrio mais ou menos preciso entre mutacdo e seleçäo.
Quando este equilibrio é atíngido,temos as melhores adaptagdes.
Uma alteragáo em um único nucleotides do ADN causa outra em
um único aminoácido na proteína para a qual aquele ADN codifca,
As hemácias das pessoas de ascendencia européia parecem quase
globulares, e as de algumas com ascendéncia africana se asseme-
Iham a pequenas foices ou crescentes. As células em foice trans-
portam menos oxigénio e, consequentemente, transmitem um tipo
de anemia, também fomecendo maior protegäo contra a malaria,
[Nao ha duvida de que & melhor ser anémico do que morrer. Esta
influëncia principal na fungáo do sangue — téo impressionante que
$8 prontamente visive nas fotografias das hemácias — é o resultado
da aleraçäo em um unico nucieotideo em dez bles no ADN de
uma tpica célula humana, Aínda no sabemos das conseqúéncias
das alterag6es na maioria dos outros nuclectideos.

Nós, seres humanos, parecemos bem diferentes de uma ár-
vore. Sem duvida, percebemos um mundo de uma maneira bem
diferente de um vegetal. Mas no fundo, no inimo molecular da vida,
‘vores e nós somos essencialmente idénticos. Ambos utlizamos
ácidos nuciélcos na hereditariedade, bem como proteinas como
enzimas para controlar a química de nossas células e, mais impor-
tante ainda, ambos utlizamos precisamente o mesmo Ivo de

mierogro perico de vamasıra
‘om umplagdes sucessuomento malo
Sho godos vemenos No demo, à
Ghee cama snplade € um intro &
um décmo de mionésime de centime-
tro Conesa de Jeon Pau Reve, Cot

Uma Voz na Fuga Cósmica -37

ON Séo apreseraaes (9
Uma desastres 6 mesa em in)
ucectos artande Ndropéno, que omar as MS u Are ETAGE ante a8 uns dicas. (Regasartam a Mol
as) om au) perso a ba da a quin ro e aso a mein aca
Bonnes om um dos cordes d ADN U) Cada corto de uma hates 3 a opi a eta a máooupicasóo ds ADN
"mi delos podem asta abvos em uma molécula de ADN em qualquer momento duarte duplicado Este estranno
ds em tod parta, anna by mieorgansmo ra Tera. Cragdo 6.) de Fran Amtage, Jom Alten à

38- Cosmos

Siise da matra orgánica no Laborato
Sage de Comel Una mia warapa
Fherogino'e agus cemega a ser lança
Em um asco de varo facina) 08 8e
ona an o ramiro, oat de
Ge micos einem penes à
pam david. Conesin de Brun Kate

código para transformar a informaçäo do ácido nueléico em infor
maçäo de proteína, como o fazem virtualmente todas as outras
eraluras no planeta." A explicado comum desta unidade molecu-
lar é que somos todos — árvores e pessoas, o peixe diabo-
marinhe, o limo vegetal e os paramécios — descendentes de um
nico e comum instante da origem da vida no inicio da histöria em
‘nosso planeta, Como surgiram entäo as moléculas importantes?

Em meu laboratorio na Universidade de Cornell trabalha-
mos, entre outros assuntos, com a química orgánica prebiéticos,
fazendo algumas anotagöes sobre a musica da vida. Unimos e
separamos os gases da Terra primitiva: hidrogénio, agua, amónia,
metano, suleto de hidrogénio, todos presentes, casualmente, no
planeta Jupiter hoje e pelo Cosmos. As faiscas correspondem aos
ralos, também presentes na Terra antiga e no atual Jupiter. A rea
‘0 no recipiente 6, de inicio, transparente: os gases precursores.
30 interamente invisiveis, mas após dez minutos de faiscagem
vemos um estranho pigmento marrom lentamente riscando os
lados do recipiente. O interior gradualmente se toma opaco, co-
berto por um alcatráo marrom e escuro, Se tivéssemos utllzando
a luz ultravioleta — simulando o Sol inicial — os resultados teriam
sido quase que os mesmos. O aleatrdo $ uma coleçao extrema-
mente rica de moléculas orgánicas complexas, incluindo as partes
¡componentes de proteínas e ácidos nucléicos. A esséncia da vida
parece poder ser facimente montada.

Estas experiéncias foram fetas pela primeira vez no inicio
dos anos 50 por Stanley Miler, entäo um aluno graduado do qui-
mico Harold Urey. Urey argumentava com insistäncia que a at-
mosfera inicial da Terra era rica em hidrogénio, como é na maior
parte do Cosmos — que o hidrogénio tem escapado para o espa-
o proveniente da Terra, mas náo do massivo Júpiter, e que a
crigem da vida se deu antes da perda do hidrogénio. Apés Urey
ter sugerido que estes gases escaparam, alguém perguntou a ele
(© que esperava obter da experiencia. Urey replicou: “Beilstein”
Beilstein € um macigo compéndio alemáo de 28 volumes, listando
todas as moléculas orgánicas conhecidas pelos químicos.

Utilizando somente os gases mais abundantes presentes
no inicio da atmosfera da Terra e quase que qualquer fonte ener
ética que rompa cadeias químicas, podemos produzir os blocos
essencials de construgäo da vida, Mas em nosso recipiente hä
¡somente as notas da música da vida — náo a propria música. Os
blocos moleculares de construgáo devem ser amumados na

nia reiaso, o cage gnc no 0 tement 13
91090 os pannes na Tera Pole manos sde connecte puna casos ando
B\ranseng de mismegio de RON para à da praeia om uma ntact am.
prego um vo d cogio Gre do Unzado polos gon no uno ca mesma
Esa. sto mosra uma orga separas evokuzonana dos egos gene dot
IMtachnöngs e dos ROCH, 8 cons com ad de que a mtocincnas eran,
Um 30 organemos naepensenteeneopara à cal raves d omo rei
Emula en binder 90 mor ro O dysameiomento à 8 sparsamen da 80
feveageo sata smbere à casuamente, uma resposta à pergunta sobre ue
‘route hole ere a engam da Cao à prose des organos make

Uma Voz na Fuga Gésmica -39

úsequéncia correta. A vida é, certamente, mais que aminoácidos que
compôem proteínas, e nucleotideos que compôem ácidos nuciei-
cos. Mas até na ordenaçäo destes blocos de construgäo em uma
longa cadeia de moléculas, houve um processo laboratorial subs-
tancial. Aminoácidos foram agrupados em condicdes terrenas primi
tivas em moléculas que lembram proteinas. Alguns deles controlam
debimente as reagöes químicas úleis, como o fazem as enzimas
(Os nucleotideos foram reunidos em cordées de ácido nuciéico com
comprimento de algumas unidades. Seb as condigdes ceras de um
tubo de ensaio, os ácidos nucléicas curtos podem sintetizar cópias
idénticas deles mesmos.

Ninguém até agora misturou os gases e äguas da Tera pri-
mitva e que, ao término da experiéncia, ivesse alguma coisa pro»
veniente dela. As menores formas vivas conhecidas, os viróides
530 compostos de menos de 10.000 átomos. Causam varias doen-
gas diferentes em plantas culivadas e provavelmente em tempo
mais recente evoluiram de organismos mais complexos do que de
mais simples. Realmente é fc imaginar um organismo ainda
mais simples que é, em todos os sentidos, vivo, Os virdides sio
compostos exclusivamente de ácido nucléico, diferentes dos virus,
que possuem também uma cobertura protéica. Nao ha mais do que
um único cordäo de ARN com uma geometria tant linear ou cireu=
lar fechada, Os vröides podem ser tio pequenos e ainda se desen-
volverem porque vao até o fim, perseverantes parasitas. Como os.
virus, eles simplesmente se apossam da maquina molecular de
{uma célula maior e funcionando bem, transformam-na de uma fábri-
cca de mais células em uma outra de formagáo de mais vröides.

‘Os menores organismos de vida independente conhecidos
slo os PPLO (organismos semelhantes aos da pleuropneumonia) e
‘outros similares. Säo compostos de cerca de cinquenta mihôes de
átomos. Tais organismos, tendo que ser mais auto-Suficientes, so
ainda mais complicados do que os vióides e os virus, Mas o ambi-
ente da Terra hoje nao é extremamente favorável para as formas
simples de vida. Temos que trabalhar duramente para fazer uma.
vida. Temos que ser cautelosos com os predadores. Contudo, no
inicio da historia do nosso planeta, quando grandes quantidades de
moléculas orgánicas estavam sendo produzidas pela luz solar em
{uma atmosfera rica em oxigónio, organismos näo-parasitärios muito
simples tiveram uma chance de lular. As primeras formas vivas
talvez fossem parecidas com os viróides de vida independente, com
somente algumas centenas de nuclectideos de comprimento. Tra-
balhos experimentais na fetura destes seres, através de raspagens,
podem inicar-se no final do sécule. Ainda há muito a ser entendido
sobre a origem da vida, incluindo a origem do código genttico. Te-
mos realizado experimentos por somente trinta anos. A natureza
encerra quatro bihöes de anos. No fm de tudo, näo temos nos sal
do to mal.

Nada nestas experiéncias é singular para a Terra. Os gases
¡nicais e as fontes de energía säo comuns no Cosmos, As reaçües
químicas, como as que ocorrem em nossos recipientes no laborató-
rio, podem ser responsáveis pela matéria orgánica no espaco

40 Cosmos

See slenigene de fesse cote, con
fapglo. co E36 Car. Compare cam à
etomirogroke sttinea de varacra de
Goiguho loreste.soresemage ne Pic
Seat copio. Entice de Hamm Group
Pies Chr.

interestelar e pelos aminoácidos encontrados nos meteoritos.
‘Alguma química similar deve ter ocorrido em um bihäo de outros
mundos na Via-lactea. As moléculas da vida preenchem o Cos-

Mesmo se a vida em outro planeta apresentar a mesma
química molecular da vida aqui, näo hä razáo para esperarmos
que parecam organismos familares. Consideremos a enorme
diversidade das formas de vida na Terra, todas compartihando
‘do mesmo planeta e de idéntica biología molecular. Estes outros
animals e Vegetais encerram provavelmente diferenças radicals
de qualquer organismo que conhecemos aqui. Deve haver algu-
ma evolugäo convergente, porque há somente uma solucdo ade-
quada para um determinado problema ambiental, algo com dois
‘los, por exemplo, para a visio binocular em frequéncia óptica
‘Mas em geral, a caracteristica casual do processo evolucionario
deve originar criaturas extraterrenas bem diferentes das que co-
hecemos.

Näo posso hes dizer como se parece um ser extraterre-
no. Sou terivelmente Imitado pelo fato de conhecer somente um
tipo de vida, a da Terra. Algumas pessoas, aristas, escrtores de
feçäo cientifca, por exemplo, tém especulado como serño estes
seres, Sou cético quanto a maicria destas visBes extraterrestres.
Parecem-me apolar-se bastante em formas de vida ja conhect-
das. Qualquer organismo apresenta uma forma decorrente de
uma longa série de etapas individualmente improváveis. Náo
credito que a vida em qualquer outro local se pareça com um
réptl, inseto ou ser humano, e muito menos com adaplagdes
cosméticas como pele verde, olhos pontudos e antenas, Se
pressionado, posso tentar imaginar algo bem diferente:

Em um planeta gasoso gigantesco como Júpiter, com
uma atmosfera rica em hidrogénio, helio, metano, agua e amó-
nia, náo ha uma superficie sólida acessivel, mas sim uma atmos-
fera nebulosa e mais densa na qual as moléculas orgánicas por
‘dem estar caindo dos céus como o maná, como os produtos de
nossas experiéncias laboratorais. Entretanto, há um obstáculo
característico à vida neste planeta: a almosfera é turbulenta e a
‘sua camada mais profunda multo quente. Um organismo deve-se
cuidar para no ser carregado para balxo e frgido.

Para mostrar que a vida no € impossivel em um planeta
to diferente, meu amigo de Come, E. E. Salpeter e eu fizemos
alguns cálculos, Naturalmente náo podíamos saber, com preci-
io, como seria a vida num local como aquele, mas queriamos
vericar se, dentro das leis de física e química, um mundo deste
tipo teria possibidade de ser habitado.

Um modo de se formar uma vida nestas condigdes é re-
produzir antes de ser cozinhado e esperar que um meio de trans-
porte carregue parte de sua prole para as camadas mais altas e
mais fias da atmosfera. Estes organismos devem ser muito pe-
quenos. Nos os chamamos de perfuradores, mas também podem
ser Autuadores, um grande baläo de hidrogénio bombeando hélio
© 0s gases mais pesados para fora do seu interior, e deixando
¡somente o hidrogénio; ou um baldo de ar quente futuando, man-

Uma Voz na Fuga Cósmica -41

tendo seu interior aquecido, utiizando a energía adquirida através
do alimento ingerido. Como os familiares bal6es terrestres, quanto
mais pesado estver um flutuador, maior a forga de futuagáo que o
levara de volta as regides mais altas, mais frías e mais seguras da
atmosfera. Um futuador poderá se alimentar de moléculas organi
cas pré-formadas ou fazer as suas próprias da luz solar e do ar, de
modo semelhante as plantas na Terra. Até certo ponto, quanto mai
or for um Autuador, mais efciente ele será. Salpeter e eu imagin
mes futuadores com quilémetros de extensáo, muito maiores do
que as maiores baleias que ja existiam, seres com o tamanho de
cidades,

(Os futuadores podem se impelir pela atmosfera planetária
através de rajadas de gas, como um Jato de guerra ou um foguete.
Podemos imaginé-los arrumados em grandes rebanhos estenden-
do-se até onde a vista alcanga, com padróes em sua pele e uma
camutagem adaptável, subentendendo-se que eles também pos-
‘sam ter problemas, pois, pelo menos, há um outro nicho ecológico
fem um ambiente como este a caga. Os cagadores sto rápidos e
usam de estratégia. Comem os futuadores tanto pelas suas molé-
culas orgánicas quanto pelo seu estoque de hidrogénio puro. Esca-
vadores 0c0s podem ter evoluido para os primeros futuadores ©
flutuadores autopropulsores nos primeiros cagadores. No podem
haver muitos cagadores, porque se consumirem todos os fuluado-
res, os proprios cagadores pereceräo,

A fisica e a química permitem tais formas de vida. A arte os
adota com um certo encanto. Entretanto, a natureza nfo é obrigada
2 seguir as nossas espoculagdes. Mas se existem bilhdes de mun-
dos inabitados na Viarláctea, talvez haja alguns povoados por es-
cavadores, futuadores e cagadores que a nossa imaginagáo, tem
perada pelas leis de fsica e química, gerou.

A biología se assemelhou mais à história do que à física
Temos que conhecer o passado para compreender o presente, e
temos que percebé-o nos minimos detalhes, Ate agora nao há uma.
teoria profética de biología, assim como também ndo há no campo
da história As razöes so as mesmas: ambos os assuntos #30 ain.
dda muito complicados para nés, mas podemos conhecer-nos me-
Ihor através da compreensäo de outros. O estudo de um único ins-
tante de vida extraterrestre, nfo importa quo modesto, desprovin-
ilizará a biología. Pela primeira vez, os biólogos reconheceráo
que outros tipos de vida säo possiveis. Quando dizemos que a pro-
cura pela vida em outros locais $ importante, náo garantimos que
‘era facil encontré-a, somente que é uma procura muito valosa.

Até agora ouvimos a voz da vida somente em um pequeno
mundo, mas pelo menos começamos a prestar atengáo a outras
vozes participantes da fuga cósmica,

Chi

FRIENDS
AÄRESTHESE)

dos pala Hegde sehen

42- Cosmos

Uma Voz na Fuga Cósmica - 43

Capitulo HI

A HARMONIA
DOS MUNDOS

Conheces as leis dos céus?
Poderás estabelecer as suas regras na Terra?

— O Livro de 6.

Toda prosperidade bem como adversidade vém ao homem e ás outras
criaturas através do Seto e do Doze. Os Doze Signos do Zodiaco, como diz
a Religléo, sáo os doze comandantes no lado da luz; e os sete planetas
40 dilos como os sete comandantes do lado da escuridio. E os sete
Planetas oprimem toda a criagáo o a ontregam para a morte o a todas as
faces do mal; os doze signos do Zodiaco e os sote planetas governam o
destino do mundo.

0 último Ivro zoroastriano, o Menok / Xt.

Dizer-nos que tudo é dotado de uma qualidade especifica oculta através da
ual agem e se produzem os efeitos manifestos, & nada dizer. Mas derivar
dois ou trás princpios gerais de movimento do fenómeno, e em seguida
dizer-nos como as propriedades e agóes de todas as coisas corpóreas
decorrem destes principios manifestos, sería um grande avango,

Isaac Newton, Optics.

[Nao nos perguntamos qual o propósito iil dos pássaros cantarem, pois o
canto & 0 seu prazer, uma vez que foram cados para cantar.
‘Similarmente, náo devemos perguntar por que a mente humana se inquieta
com a extensáo dos segredos dos cóus...A diversidade do fenómeno da
Natureza é táo vasta © 06 tesouros escondidos nos céus táo ricos,
precisamente para que a mente humana nunca tenha fata de almento.
Johannes Kepler, Mysterium Cosmographicum.

45: Cosmos

Corsi o Hematro not, cm
Na Franga conca como A Cacarl

O mesmo gupo de sole estelas (unde
por nas Vermenas) $ Chamado, na In

Na China, magnavamına como a corso
Iso do O Burorata Caos. arado
fom urna nuvom acompantado, om suas
‘otas om tomo do polo none cesta, por
Sus ‘spicantos common oso
famous’ Dates estelas eo
ojanovany (Caron Kazan).

SE VIVESSEMOS EM UM PLANETA ONDE NADA JAMAIS MUDASSE,
haveria pouca coisa a fazer. Näo haveria nada a ser calculado e
nenhum impeto para a ciéncia. E se vivéssemos em um mundo
Imprevsivel onde as coisas mudassem ao acaso ou de maneras
‘muito complexas, náo seríamos capazes de calcular nada. Mais
uma vez näo haveria cióncia. Porém, vivemos em um universo
limitado, onde as coisas mudam de acordo com padrdes, regras, ou
podemos chamä-las de leis da natureza. Se eu alrasse uma vareta
Para o ar, ela cala. Se o Sol se pusesse no oeste, sempre surgir
na manhä seguinte no leste. Deste modo é possivel calcularem-se
os falos. Podomos fazer ciéncia © com ela melhorar nossas vidas.

Os seres humanos sáo hábeis no entendimento do mundo.
Temos sido sempre. Somos capazes de caçar ou provocar in
úcéndios somente porque calculamos como fazé-1o. Houve um tempo
anterior à televisáo, cinema, rádio e livios. A maior parte da
existencia humana foi gasta nisse. Sob cares em brasa se
fextinguindo em uma fogueira de um acampamento, em uma noite
de lua chela, observamos as estelas.

O céu notumo € interessante. Há desenhos. Mesmo sem
tontar, podemos imaginá-los. No cêu Setentional, por exemplo, há
um desenho ou constelacáo, que parece um ursinho. Alguns povos
chamam-na A Grande Urea. Outros véem imagens bem dilrentes.
Estes desenhos náo sáo, naturalmente, reais no céu notumo, nós &
‘que os colocamos lá. Fomos cagadores e vemos cagadores e ces,
ursas e jovens mulheres, objetos do nosso interesse. Quando os
marinheiros europeus do século XVII viram, pela primeira vez, o c&u
meridional, transleriram para lá objetos de interesse do século XVII
— tucanos e paves, telescóplos e microscóplos, compassos e
popas de navios. Se as constelaçües tivessem recebido nomes no
século XX, suponho que veríamos bicicletas o reffigcradores no
céu, "ostrolas” de rock.and.1ol talvez até nuvens em cogumelo —
um novo grupo de esperanças o recelos humanos entre as estelas,

"Ocasionalmente noseos ancestrals viam uma estela br-
Ihante com uma cauda, cintlando somente por um momento,
riscando o céu com rapidez. Chamavamna estrela cadente, mas a
escolha desse nome nao foi boa: as estrelas velhas ainda estao IA
apés a queda da estrela cadente. Em algumas estacóes do ano hä
varias estrelas cadentes, em outras, muilo poucas. Há uma espécio
de regularidade também neste aspecto.

‘Como o Sol e a Lua, as estrelas sempre surgem no leste e
0 pöem no este, levando a not inteira para alravessar o céu se
ppassarem por cima de nossas cabegas. Há constelagöes diferentes
fom estaçôes diferentes. A mesma constelagáo sempre surge no
Inicio do outono, por exemple. Nunca acontece de uma constelagäo
nova surgir repentinamente no leste. Há uma ordem, uma previsäo,
‘uma permanéncia referente ás estrelas. Em um aspecto, isso é um
pouso contortado.

Certas estrelas surgem um pouco antes, ou um pouco
depois do Sol — e em épocas e posigdes que variam de acordo
com as estagôes. Se fizermos observagdes culdadosas das estelas
e registrä-las por muilos anos, poderemos predizer as estagdes.

A Harmonia dos Mundos -47

‘Também poderemos medir a duraçäo do ano anotando onde o Sol
surge no horizonte a cada dia. Há, nos cêus, um grande calendéro
disponivel a qualquer um dedicado e hablidoso, e que guarda os
registros

Nossos antepasados construiram inventos para medir a
passagem das estagdes. Em Chaco Canyon, Novo México, há um
grande kiva ou templo cerimonial sem teto, datando do século Xi
No dia 21 de junho, o día mais longo do ano, um feixe de luz
penetra por uma janela ao amanhecer e move-se lentamente de
modo a cobrir um nicho especial. Isto acontece somente por volta
do día 21 de junho. Imagino o orguihoso povo Anasazi, que se
¡nttulava "Os Antigos”, reunido em seus lugares predeterminados a
cada 21 de junho, vestido com plumas, guisos e turquesas para
celebrar o poder do Sol. Também acompanhava 0. movimento
aparente da Lua: os vinte e oito nichos superiores de Ka podem
representar o número de dias que a Lua gasta para retomar à
‘mesma posigäo entre as constelagées. Este povo dispensava muita
atençäo ao Sol, à Lua e as estrelas. Outros inventos baseados em
idélas similares foram encontrados em Angkor Wat, no Camboja
Stonehenge,na Inglaterra; Abu Simbel, no Ego; Chichen Iza, no
México; e nas Grandes Planicies, na América do Norte.

“Alguns inventos calóndicos reconhecidos sáo possivel-
mente decorrentes do acaso — um alinhamento acidental de uma
janela e um nicho a 21 de junho, por exemple. Mas há outros
fengenhos maravilhosamente diferentes, Em um local no Sudoeste
americano há um grupo de trés pranchas vertcals que foram
mudadas de sua posigáo original há cerca de 1000 anos. Foi
escavada uma espiral semelñante a uma galaxia na rocha. A 21 de
junho, © prmeiro dia do veräo, um estihago de luz solar
derramando-se em uma abertura entre as pranchas secciona a
espiral a0 meio, e a 21 de dezembro, o primero dia de inverno, hä
duas réstias de luz solar que ladeiam a espiral, uma aplicacáo única
do sol do meio-dia para loro calondário no cóu.

Por que pessoas por todo o mundo se esforgam tanto para
aprender astronomia? Cagamos gazelas, antlopes e búfalos, cujas
migragdes diminuem e aumentam de acordo com as estagóes.
Frutas e nozes estáo prontas para serom colhidas em algumas
épocas, mas náo em outras. Quando inventamos a agricultura,
tinhamos que estar atentos para plantar e colher na estagáo cera
Os encontros anuais das grandes tribos nömades eram marcadas.
em épocas determinadas. A capacidade de ler o calendário nos
céus era, Iteralmente, um melo de vida e de morte. O
reaparecimento da lua em quarto crescente após a lua nova, o
retomo do Sol após um ecipse total, o surgimento do Sol após sua
auséncia incómoda à noite eram anotados pelos povos do mundo:
estes fenómenos revelavam aos nossos antepassados a
possibiidade de sobreviver à morte. Também lá nos cóus havia
‘uma metáfora de imortalidade,

(© vento fustiga por entre os canyons no Sudoeste amer.
cano, e nao há ninguém para ouvilo, exceto ns — a lembranga de
40.000 geragóes de homens e mulheres que raciocinavam, as quais
nos precederam, a respeto das quals no sabemos quase nada e
sobre as quais a nossa ovlizagáo se baseou.

Ma Europa maderal, as mosinasestoias
‘am tas como à Carga de Cae,
UA Camuagor,

Se van ele bas mo ca 3
‘Grange Una Ursa ae

Est gupo maior de ours, quo encara
‘ene delo À Ursa Mao, 1 deseado
Bel anges eps cone una pe
‘ous na Perzoral o um hpopótamo com

‘ean ce sy tora) Cato

Casa Bonita, cono Anasazi da 6
alo MA. com 800 quarts,

À medida que as geragées passavam, os povos aprendiam
com seus ancestais. Quanto maior a preciso que soubessem
sobre a posigäo o movimentos do Sol, Lua o osirelas, maior a
cereza obtida para predizer quando cagar, semear o colar,
quando reunir as tibos. A proporgáo que a precisäo das medidas
meharava, os registros comecavam a ser guardados, de modo
que a astionomia encorajou a obsenagio, a malemällca € 0
ddosenvalimento da eserta

Entdo, posteriormente, surglu outra ia bastante curiosa,
uma torente de misciamo o supersticáo, na qual havia muito de
«iéncia emplica. O Sol 0 as etrlas controlavam as estas
comida, o calor. A Lua contrlava as marés, os ciclos de vida de
‘muitos animals o talvez o periodo monstrual rumano” — de cabal
importancia para as espécies apaixonadas devotadas a proc.
Havia um out tipo de cbjeto no cou, as osuclas errantes
chamadas planetas. Nossos ancesrals nômades devem ter
sonido uma afnidade por eles. Som contar com o Sol e a Lua,
podíamos ver somente cinco des. Meviam-se contra fundo das
estelas mais distantes. Se soguissemos seu movimento aparente
por meses, eles delxariam uma constlacéo, entranam em outra,
36 mesmo, ocasionalmente, descrevendo um tipo de volta
completa no céu, Tudo o mais no eéu encera um efeto real na
vida humana. Qual sera a infuéneia do planeta?

Ne sociedade ocidemal contemporánea, comprar uma re-
vista sobre astrología em uma banca, por exempl, 6 fácil diel &
encontrar uma sobre astronomia. Quase todo jomal dio na
América publica uma coluna sobre astrología, mas encontrar
algum com uma coluna semanal de astronomia 6 quase
impossivel. Ha dez vezes mais astrólogos nos Estados Unidos do
que astrónomos. Em reunidos sad, quando ancontto pessoas
que náo sabem que sou um cienisa, perguntam-me: "Voce €
geminiano?” (chances de sucesso, uma em doze), ou "Do que
signo vocó 67. Muito mais raro 6 perguntarem-me "Vocó soube
que se forma ouro em explosdos de supemova?” ou “Quando voce
cha que o Congresso aprovará o Mars Rover?“

A astrologia sustenta que a consilagáo na qual os
planetas estejam no momento do seu nascimnto inflenciará o
seu futuro, Há alguns mihares de anos, a ida amplou-se ao
Ponto de afímarse que os movimentos dos planetas
determinavam © destino dos reis, dinastas © impérios. Os
astrólagos estudavam os movimentos dos planetas © so
perguntavam o que tera acontecido na úlima vez que, por
‘xemplo, Vénus penetrou na Constolacáo de Capricómio, lez
aiguma coisa semolhanto acontocesso também desta vez. Era
uma profissäo que envolia perspicacia e risco. Os astrólogos
passaram a ser contratados pelo Estado. Em mulas cidades
passou a ser uma grande olensa alguém, a no ser 0 astrólogo

A ra da palavra ages “Lue

A Harmonia dos Mundos -49

fal, or os prossäglos nos cóus; uma boa mancira para derrubar
um regime era predizer a sua queda. Os astrólogos da corte
chinesa, que faziam previsöes incorretas, eram executados. Outros
simplesmente falsiicavam os registros, de modo que ficavam em
perfeita conformidade com os eventos. A astrología desenvoiveu
se no melo de uma estranha combinagao de observacdes,
matemálica e uma cuidadosa manutengäo de registros mesclados
de pensamentos confusos e de fraudes piedosas.

Se os planetas podiam determinar o destino das nagóes,
como poderiam evitar a influéncia do que aconteceria comigo
‘amanha? A nogáo de astrología pessoal desenvolveu-se no Egito
alexandrino e espalhou-se nos mundos grego e romano há cerca
de 2.000 anos. Podemos, hoje, reconhecer a anligüldade da
astrología em palavras como “desastre”, forma grega de "estrela
rim’, Influenza, forma italiana para “influéncia” (astral); mazeitov,
forma hebraica — e posteriormente babiónica — para "boa
constelaçäo”, ou a palavra lídicho shlamazol, aplicada a alguém
atormentado pela implacável adversidade, que novamente nos
conduz ao léxico astronómico babilónico. De acordo com Plinio,
havia romanos considerados siderato, "golpeado por um planeta”.
Ou consideremos considerar: significa "com os planetas”,
evidentemente um pré-requisito para uma reflexäo mais séria. O
Quadro à pag. 51 mostra a estatítica da mortalidado na Cidade de
Londres, em 1682. Das teriveis perdas entre as doengas infantis ©
des recóm-nascidos © uma táo exólica como “acender das luzes” e
“mal do Rel, descobrimos que, em 9.535 montes, 13 pessoas
úsucumbiram de "planet" (por influëncia do planeta), mais do que os
(que morreram de cáncer, Gostaria de saber os sintomas,

A astrología pessoal ainda $ comum entre nós: considere.
mos duas colunas astrolögicas de dois jomais diferentes, publ
cadas na mesma cidade, no mesmo día. Por exemplo, podemos
examinar o New York Post e o Daily News de 1979. Suponhamos
que vocé seja de Libra — sto 6, nascido entre 23 de setembre © 22
de outubro, De acordo com o aströlogo do Post “um compromisso
aludard a alviar a tensa, il talvez, mas um tanto vago. Segundo
0 do Dally News, “exija mais para si mesmo”, uma admoestacáo
também vaga e diferente. Estas "previsdes" ndo säo previsdes,
mas sim conselhos — dizemihe © que fazer, náo © que
acontecerá. Deliberadamente sáo montadas de modo a serem
aplicadas a qualquer um. Manifestam inconsisténcias métuas. Por
que säo publicadas sem apología, como as estatístcas esporivas
© mercado de capitals?

A astrologia pode ser testada pela vida de gémeos. Há
varios casos nos quals um morre na infáncia, por exemplo, em um
acidente eqlestre, ou € atingido por um ralo, enquanto o outro vive
alé a idade adulta. Os dois nasceram precisamente no mesmo
local e com uma diferenga de poucos minutos. Exatamente os
mesmos planetas surgiam aos seus nascimentos. Se a astrología
fosse válida, como poderiam esses gémeos ter destinos tio
rotundamente diferentes? Também acontece de astrólogos no
concordarem mem entre eies sobre o signiicado

A luz do Sol penetra por uma Jana I
inardo um no proto as amanecer,
21 eo uno, na Casa Finca,

{Um novel indicador Anasazi do sie,
‘Salado de cara do ano 1000

“A Rada de Medina, de Saskatahenan,

cansida por vota do ano 600 AC. ©
over setonómo mais ano das
fms. Sou moto 6 caca de Stone
oros. © mare de posts, à esquera. à
pont para obserragdo 6 nacer do Sl
1 entice o veia, Fo do Dr dm
Eco

50: Cosmos

Movimonto rorgraco do planta Marto,
om nha vermoha, ao lng de var

Movimento aparerio, ao longo de vie
rasen savor ae meras Snstngoee
(ovis panas

de um determinado horóscopo. Em testes minuciosos, foram
Incapazes de prever o caráter © o future de pessoas sobre as
quais nada sabiam, exceto a época e 0 local do nascimento.*

Há um aspecto curioso a respeto das bandolras
nacionais do planeta Terra. A dos Estados Unidos possul
cinquenta estelas: a da Unido Soviética e a de Israel, uma:
Birmania, quatorze; Granada e Venezuela, sete; China, cinco:
Iraque, trés; Sáo Tome e Principe, duas; Japáo, Urugual
Malawi, Bangladesh e Talándia, o Sol; Brasi, uma estera
celeste; Austria, Samoa Ocidental, Nova Zeländia e Papua,
Nova Guiné, a constelaçäo do Cruzeiro do Sul; Bhutan, o
dragao-pérola, simbolo da Terra; Camboja, o observatério
astronómico de Angkor Wal; india, Coréia do Sul e a República
da Mongélia, simbolos cosmológicos. Multas nagóes sociaistas
exibem estrelas, mutas nagdes islámicas exibem lues
crescentes, Quase metade das nossas bandeiras nacionais
exibem símbolos astronómicos. O fenémeno à transcultural, náo.
secláro e geral. Também nao é resto ao nosso tempo: o solo
cilíndico sumeriano, do terceiro milénio AC. e as bandelras
taoistas na China pré-rovolucionária exibiam constelagées. As
nagdes, eu ndo duvido, desejam abranger algo com o poder e a
credbiidade dos céus. Procuramos uma conexao com O
Cosmos. Queremos considerar a grande escala das coisas, e
acontece que estamos conectados, ndo em um padrdo pessoal
de pequena escala, sem imaginacáo, que os asrólogos
pretendem, mas de modo mais profundo, envolvendo a origem
a matéria, a habtabildade da Terra, evolugáo e destino da
espécio humana, temas aos quals retornaremos.

A astrología popular moderna remonta diretamente a
Claudius Plolemaeus, a quem chamamos de Plolomeu, embora
náo tivesse nenhuma relacdo com os reis do mesmo nome. Ele
trabahou na Biblioteca de Alexandria no século I. Todo este
aspecto misterioso sobre planetas ascendentes nesta ou na-
quela "casa" solar ou lunar, ou a "Era de Aquário” provém de
Prolomeu, que codifcou a radigáo astrológica babllónica. Aqui
emos um horóscopo lípico do tempo de Ptolomeu, escrito em
grego, em um papiro, para uma menina nascida no ano 150: "O
hascimento de Philos. O 10." ano do imperador Antonius Cae.
sar, Phamenoth 15 a 16, primeira hora da noite. Sol em Peixes,
Jupiter © Mercurio em Aries, Satumo am Cancer, Marte em

“0 eatclao om relacio à astoogi © à doutinas cxrltas náo 6 nam
recent, nom excuse da eocedade ocdental. Por suomi, am Enalo
Sobre à uidade, oscil am 1992 por Toweswoguse, de Kan,

Os onsinamentos Yi: Yang (no Jap) no ten nada a zor obra
os Dias do Lingua Vomeña. Ar persos antgas náo aan
‘rane as, mas oe de hoje — gottaña do saber oresponsvel plo
9m um Di da Lingua Vermeha nunca te um Im’, cu "Quaker
‘hua ata au na em um Da de Lingua Vormeiha dover rosa
‘om nada: vo pero o que gantos, seus plenos no co relearn
Bos itaneitet Se an contas os prope Incas as de
sono” culdadosamerteoveconadcs que resularam em nada,
Provavimenie sordo tantos quanlos ae has eer roro
Cemezadas om dis a Língua Vernal,

A Harmonia dos Mundos -51

Leño, Venus e a Lua em Aquário, horóscopo Capricómi”. O PRO
todo de enumeraçäo de mesos e anos mudou muito mais

favés dos séculos do que a precisáo astrológica. Um excerto OBSERVATIONS

tiico do Iuro astrológico de Plolomeu, o Tetabibias, diz: "Satumo, — Memoncdins flowing lors,

2e esiluer no Oriente, toa seus sides em aparéncia de pele eee

escura, robustos, cabelos preis, crespos, tronco cabeludo, com A

‘thos de tamanho moderado, estatura media, e no temperamento Bills of Mortality.

com excesso de Umidade fio” Ptolomeu acreitava nfo somente |

que os padidos de comporamemo eram influenciados pelos By FON GRAUXT,

planetas e estelas, mas também as questöes de estatura, cia of

Compeigao, nacionalidado o até anormalidades físicas congéntas LONDON.

eram determinados pelas esirelas. Neste aspecto, os modernos
astrélogos parecen ter adotado uma posigáo mais cuidados:

Mas estes astrólogos esqueceram a precessäo dos equinó-
cios, a qual Plolomeu conhecia. Eles ignoram a relragáo almos-
férica, sobre a qual Plolomeu escreveu. Quase nao prestam
alencáo a todas as luas e planetas, asteróides e cometas, quasares
e pulsares, galáxias explodindo, estelas simbiótcas, variáveis
cataclismicas e fontes de raios X que foram descobertas após
Plolomeu. A astronomía 6 uma cióncia — o estudo do universo
como ele 6. A astrología é uma pseudocißncia — uma pretensáo, na Cubes dl br de Jh Grau de 1632
auséncia de uma evidéncia de que outros planetas afetam a nossa sie estadia sans
vida dia. Na época de Ptolomeu a distincáo entre as duas näo era
determinada. Hoje o.

Como astrónomo, Plolomeu relacionou estrelas, registrou
sous brihos, apresentou boas razóes para acreditarem que a Terra
era uma estera, estabeleceu normas para a previsáo de ecipses e,
talvez © mais importante, tentou compreender o porqué dos
planetas exibirem aquele estranho movimento vagando contra 0
fundo das constelagöes distantes, Desenvolveu um modelo
profético para a compreensáo dos movimentos planetáros e a
decodiicagáo da mensagem nos céus. O estudo dos céus trouxe a
Prolomeu um tipo de éxtase. "Mortal que sou”, escreveu, "sei que
nasci por um dia, mas quando segui à minha vontade, a multidáo
compacta de estrelas em seu curso circular, meus pós náo locaráo
mais a Tera...

Piolomeu acreditou que a Terra fosse o centro do universo;
que o Sol, a Lua, os planetas e as estelas giravam em tomo dela
Era a idéia mais natural da época. A Terra parece firme, sólida,
imóvel, enquanto podemos ver os compos celestes surgindo e i
desaparecendo a cada día, Todas as culturas transpusoram a > 3
hipôtese geocéntrica. Como escreveu Johannes Kepler: "E,
portanto, Impossivel que a razáo nio previamente instruida 0
Pudesse imaginar qualquer coisa senáo que a Terra sería um tipo
de casa imensa com a cúpula do céu no topo; nao teria movimento

dentro dela, o Sol tio pequeno passaria de uma regido para
Oufra, como um pássaro esveagando pelo ar. Mas como exBICAr 0 as morte em Landes. 1682, Go
movimento aparente dos planelas — Marte, por exemplo, que era Cu ¿ros *
conhecida por milhares de anos antes da época de Plolomeu? (Um
des epitetos dados a Marte pelos antigos egipcios era sekdo-ef em
Khetkhet, que significa “que viaja para trés”. uma clara referéncia ao
seu movimento aparente retrógrado, ou que descreve uma volta
para trás).

52: Cosmos

Nicolau Copé, Pintura de JoanLoon (© modelo de movimento planetär de Ptolomeu pode ser
Hans, @Natonal Goograpne Sci. representado por uma pequena máquina, como as que, servindo
a um propósito similar, existiam na época de Plolomeu.” O
problema era representar um movimento “real” dos planetas
vistos de cima, de fora, que produziria com grande precisäo o
movimento aparente dos planetas, como visto daqui "de dentro”

Imaginava:se que os planetas giravam em tomo da Terra
fixos a esteras portoltas © transparentes, mas náo estavam
atados direta e sim, inirelamente, a elas, através de um tipo de
roda fora do eixo, A esfera gira, a pequena roda também e, visto
da Terra, Marte retrograda. Este modelo permite previsdes
razoavelmente seguras, com certeza, boas o suficiente para a
precisáo das medidas disponiveis no tempo de Ptolomeu e
mesmo por muitos séculos depois.

As esferas otóricas de Ptolomeu, imaginadas nos tempos
mecievais sendo fetas de cristal, so o porque de ainda falarmos.
na música das esferas © em um sétimo eéu (havia um "cu" ou
sera para a Lua, Mercúrio, Venus, o Sol, Marte, Júpiter e
Saturno, e um a mais para as estelas). Com a Terra no centro

Johannes Kepler Reto de Tyeho
raro na pared, Pntura do Juan-Loon
vere, © National Geographic Sony

+ cuatro sécuos artos tal invento fi conti por Arqúmodos, © exarinad ©
(zent par Ciro em Roma, para ee Lana ls brace poro general romano
Macau, pote um doe sous oléados hai Mata, grattamanto e contr a

A Harmonia dos Mundos -53

do Universo, com a criagáo centrada sobre eventos terestres, com
os céus imaginados como sendo construidos sobre principios
Inteiramente nao terrenos, havia pouca motivagao para
observagóes astronómicas. Sustentado pela Igreja durante a Era
das Trevas, o modelo de Plolomeu ajudou a impedir o avango da
astronomia por um miénio. Finalmente, em 1543, uma hipótese
bem diterente para explicar o movimento aparente dos planetas oi
Publicada por um clérigo católico polonés chamado Nicolau
Copémico, Sua imagem mais assustadora fol a proposicao de que
© Sol, e no a Tera, era o centro do universo. A Terra foi admitida
como um dos planetas, o terceiro em relagáo ao Sol, movendo-se
em uma órbita perfeitamente circula. (Ptolomeu tinha considerado
um modelo heliocéntrico, mas rejetou-o imediatamente; segundo a
fisica de Aristóteles, a rotacáo violenta implica da Terra parecia
contrária à observacáo.)

A idéia servia pelo menos to bem quanto as esteras de
Plolomeu para explicar o movimento aparente dos planetas, mas
Incomodou muitas pessoas. Em 1616, a Igreja católica colocou o
trabalho de Copémico na lista dos livros proibides, “até ser
orrigido” por censores eclesiásticos locals, onde permaneceu até
1835." Martinho Lutero descreveu Copémico como um "aströlogo
acima das estrelas... Este tolo quer inverter toda a ciéncia da
astronomia. Mas as Sagradas Escrituras nos dizem que Josué
rdenou ao Sol que ccupasse um lugar, e náo a Terra. Mesmo os.
admiradores argumentavam que ele realmente náo acreditava em
lum universe centrado no Sol, mas que o tisha meramente proposto
como conveniencia para os cálculos dos movimentos dos planetas.

A confrontagäo de uma época entre dois pontos de vista
sobre o Cosmos — geocéntrico e heliocéntrico — atinglu o climax.
nos séculos XVI o XVII na pessoa de um homem que, como
Plolomeu, era astrónomo e astrólogo. Ele viveu no tempo em que o.
espirito do homem era agrlhoado e a mente trancafiada; quando os.
pronunciamentos eclesiásticos de um ou dois milénios anteriores
sobre assuntos cientificos eram considerados mais dignos de
confianga do que as descobertas contemporáneas adquifdas com
técnicas ndo disponivels aos antigos: quando divergéncias, mesmo
sobre asuntos teológicos misteriosos, das preferencias
dexolégicas dominantes, católicas ou protestantes eram punidas
com humihacáo, taxagáo, oxlio, tortura ou morte, Os céus eram
habitados por anjos e demónios, e a Máo de Deus girava as esferas
planotáras de cristal. A ciencia náo concebia a idéla de que
Sustentando os fenómenos da Natureza deveriam estar as leis da
física. Mas o osforgo herölco o solíário deste homem inflamou a
revoluçäo cientifia modera.

Johannes Kepler nasceu na Alemana em 1571 e fa
enviado a um semináo protestante na cidade provincial de
Maulbronn ainda menino para vira ser um clérigo, Era uma espécie

Em un invento rcont de queso todas as cópas do sé XVI de cademos
ce Copémee, Owen Ongerch desc que a consta Int se males
‘Smorto 60% das copos na ala Iman slo comidas" © nanhuma na
Peninsun erica.

oo a loa seo oe euer Contendo oe ento
prats, à Lua 60 So, bom como as “Doro Ordens dos
Espútos Abongoados,, oe Cusritins © os Saale.
Museo stom, 10

A Harmonia dos Mundos -55

56: Cosmos

VA
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Dr a
#

© seta de Pilomeu centtado na Ter
pequena estra chamada epic, core.
‘Spano, ga sada ue ete rota
mor. prodizdo © movimento rade

‘conta © do cae aspas

No astoma do Copómico, a Tara 0 os
‘uo planetas so mover am &ptas er
idas om tono do Bol Quando a Tora
aança Maro, eto Último echo o sou
Termine rade gueno coco

de acampamento miltar reinando as mentes para serem
utlizadas como arma teológica contra a fortaleza do Catolicismo
Romano. Kepler, teimoso, intelgente e muito independente,
suportou dois anos soliäris, sem amigos, na gelada Maulbronn.
tomando.se Isolado e retirado, seus pensamentos devotados a
maginar sua indignidade perante os olhos de Deus. Arrependeu-
se de mil pecados ndo mais perversos do que os dos outros, e
desesperou-se para obter a salvagáo.

Deus tomou-se para ele mais do que uma fúria divina,
objeto de súplicas, O Deus de Kepler era o poder criador do
Cosmos. A curlosidade do menino conquistou o medo. Desejou
aprender a escatologia do mundo; ousou contemplar a Mente de
Deus. Estas visöes perigosas, a principio Insubstanciais como a
memóra, tomaram-se uma obsessäo que perdurou por toda a
vida. Os anselos ardentes de uma crianga-seminarista eram trar
a Europa da clausura do pensamento medieval

As ciöncias da anligüidade clásica tinham sido
llenciadas por mais de mil anos, mas no final da Idade Média
alguns ecos débeis destas vozes, preservados pelos estudiosos
árabes, comecaram a se insinuar no curriculo educacional
europeu. Em Maubronn, Kepler ouviu suas roverberagóes,
estudando, além de teología, grego latim, música e matemática.
Na geomeiria de Euclides pensou ter vislumbrado uma imagem
da perteigáo e glörla cósmica. Mais tarde, escreveu: "A
¡Geometria existu antes da Criagdo. E co-eterna com a mente de
Deus... A Geometria fomeceu a Deus um modelo para a
Griagäo... A Geometria 6 o proprio Deus”.

No meio do éxtase matemäico de Kepler, e a despeito de
sua vida isolada, as imperfeigöes do mundo extemo devem ter
também moldado seu caráter. A superstigao era uma panacéla
isponivel para as pessoas impotentes contra as misérias da
ome, da peste e do confio implacável da douttina. Para muitos,
a única certeza eram as estrelas, e o conceito astrológico antigo
Prosperou nos patios e tabernas da Europa obcecados pelo
medo. Kepler, cula alude sobre a astrologia permaneceu
ambigua por toda a vida, perguntava-se se haveria aspectos
escondidos subjacentes ao aparente caos da vida do dia-a-ca.
‘Se o mundo tinha sido criado por Deus, näo deveria ser exami-
‘nado com muito cuidado? Náo era toda a criagño uma expresso
da harmonia na mente de Deus? O Io da Natureza tinha
‘esperado por mais de um milénio por um ltr.

Em 1589, Kepler deixou Maulbronn para estudar para o
lero na grande Universidade em Tübingen, e descobriu a sua
libertagdo. Gontrontado com as correntes infelectuais mais vitals
‘da época, sua genialidado fol prontamente reconhecida por sous
professores, um dos quais o introduziu nos mistérios perigosos
da hipétese copemicana. Um universe hellocéntrico ecoou no
‘senso religioso de Kepler, e este o adotou com fervor. O Sol era
‘uma metafora para Deus, em volta do qual tudo o mais grava.
Antes de ser ordenado, pergunlaram-ihe pelos votos seculares e
ele, talvez por senti-se indilerentemente adaptado a uma
carreira eclesiástica, aceitou, Foi nomeado para Graz, Austria,
para ensinar matemática em uma escola secundária, e preparou,
um pouco tarde, almanaques astronómicos e mete:

A Harmonia dos Mundos -57

orológicos, distibuindo horóscopos. “Deus prove a cada animal
seu meio de sustentagáo.” escreveu ele, "para o astrónomo, Ele
proveu a astrologia”.

Kepler foi um brihante pensador e um escritor lúcido, mas
um desastre como professor. Resmungava. Divagava. Por vezes
era totalmente incompreensivel. Araiu somente alguns alunos no
seu primeiro ano em Graz, no seguinte, nenhum. E em uma
agradável tarde de veräo, mergulhado nos interstcios de uma de
suas leturas Interminäveis, fol tocado por uma revelaçäo que
alterar radicalmente o futuro da astronomía. Talvez tivesse
parado no meio de uma frase. Seus estudantes, dispersos, an-
siando pelo termine do día, pouco notaram, eu suspelto, ©
momento histórico

Havia somente seis planetas conhecidos naquela época:
Mercirio, Vénus, Terra, Marte, Júpiter e Satumo. Kepler se
perguntava por que somente seis? Por que náo vinte ou cm? Por
que teriam o espago entre suas órbitas que Copémico tinha
deduzido? Ninguem havia flo estas perguntas antes
Conheciam-se cinco sólidos regulares ou “sólidos platónicos"
ules lados eram polígonos reguiares, como o sabiam os antigos.
matemáticos gregos após Pitägoras. Kepler pensou que os dois
números estavam conectados, que a razdo pela qual havia
somente seis planetas era porque existiam somente cinco sólidos
regulares, e que estes sólidos inscritos ou aninhados um dentro do
outro especilcariam as distancias dos planetas do Sol. Nestas
formas pertetas ele acreditou que tinha reconhecido as estruturas
de sustonlagäo invisiveis das esferas dos seis plane tas. Chamou
sua revelagäo de O Mistério Cósmico. A conexdo entre os sólidos
de Pitágoras e a disposigäo dos planetas admitiam, náo obstante,
a explicagao da Mao de Deus, o Geómetra

Kepler estava maravihado pelo fato de que ele — imerso,
assim pensou, em pecado — lvesse sido escolhido pelo divino.
para fazer sua grande descoberta. Submeteu uma proposa para
uma concessáo de pesquisa ao Duque de Württemberg,
oferecendo-se para supervisionar a consirugäo de seus sólidos
alojados como um modelo tridimensional, de modo que os outros
poderiam vislumbrar a beleza da geometría pura. Poderia ser
Projetado em prata e pedras preciosas, e servir, casualmente,
como cállce ducal. A proposta fol reellada com a observacdo
gentil de que ele primeito constuïla uma versio menos
dispendiosa, a qual Kepler prontamente respondeu: “O grande
prazer que live pela descoberta nunca poderá ser traduzido em
palavras... No a refutarel, näo importa gastos nem diieuldades.
Despendi dias e notes em cálculos matemáticos, até que pude ver
se minha hipótese so ajustaria ás órbitas de Copómico, ou se
minha alegria se esvaneceria no ar. Mas, a despeito de trabalhar
duramente, os sólidos e as órbitas pianetérias nunca se ajustaram
bem. Entrelanto, a disingäo e a grandeza da teoria persuadiram-
no que as observagdes deveriam estar erradas, Uma conclusao
tirada em uma época na qual as observacées näo eram acelas
por muitos outros teóricos na historia da ciencia. Havia entáo
somente um homem no mundo que tinha acesso a observacdes
mais precisas das posigöes planstärias aparentes, um nobre
dinamarqués exlado, que havia aceto 0 posto de

58 Cosmos

Mat Cams Kept a rs a une
Banat abge ee ance stor partos Se
en

Matemático Imperial na Corte do Sagrado Imperador Romano,
Rudolf I O homem era Tycho Brahe. Por acaso, a uma sugestäo
de Fuudolt, ele havia convidado Kepler, cuja fama de matemático
croscera, a juntarse a ele em Prag
Professor de provincia, de origem humide, desconhecido de
quase todos os matemáticos, Kepler desconfiou da oferta de
Tycho, mas a decisäo fol tomada à sua revela. Em 1598, uma
das multas agtaçses que precederam a Guerra dos Tinta Anos
o engolfaram. O arquiduque católico local, resoluto na certeza
dogmálica, prometeu solenemente “fazer da cidade um deserto
ao invés de govemar heréticos” Os protestantes foram ex.
cluidos do poder económico a police, a escola de Kepler
fechada, e proibidos e considerados heréticos as preces, hinos e
livios. Finalmente, o povo da cidade foi convocado e exames
Individuais na firmeza de suas convicgóes religiosas privadas, os
que se recusaram a prolessar a 16 católica romana sendo mula.
dos em um décimo de sous rendimentos a, sob pena de morte,
cexlados para sempre de Graz. Kepler escolheu 0 exllo: "Nunca
aprendi a hipoctsia. Estou convicto da minha 16 e nao brinco com
ela.

Deixando Graz, Kepler, sua mulher e sua enteada iniciaram uma
jomada dificil até Praga. Nao era um casamento feliz, Cro

+ Esta noo de medo agum. a site mais ocromada na Europa mese:
val rare a Aloma, Pergunlado como deingur es pecosos des nds em
na grange ndo agar, Domo de Gun, mas rd core omo
So Bomingos opio Mais or ateos: Dour sara”

Then mA RE e am
ES

A Harmonia dos Mundos -59

ricamente sem saüde 6 tendo perdido recentemente duas criangas
pequenas, sua mulher era descrla como “insensivel, mal
humorada, soltäria e melancólica”. Nao tisha compreensáo do
trabalho do marido, e tendo sido criada entre a classe média rural
desprezava sua profissäo náo rendosa. Ele, por seu lado, era
altemadamente admoestado e ignorado por ela: "Minhas pesquisas.
algumas vezes me tomam descuidado, mas aprendi minha liçäo,
aprendi a ter pacióncia com ela. Quando via que minhas palavras à
machucavam, preleria tor mordido meu próprio dedo do que a
ofendela mais”. Mas Kepler continuava preocupado com seu
trabalho.

Visualizou © dominio de Tycho como um refúgio dos de-
mnios da época, como o lugar onde o seu Mistério Cósmico seria
confirmado, Aspirou tomar-se discípulo do grande Tycho Brahe,
{ue por trinta e cinco anos linha-se devotado, antes da invengao
do telescdpio, a medir um universo regular, ordenado e preciso. AS
expectativas de Kepler estavam para ser concretizadas. O proprio
‘Tycho era uma figura vistosa, com um nariz de ouro, o original
tendo sido perdido em um duelo de estudante supervisionado por
um matemático superior. A volta dele havia um grupo-parasita de
assisiontes, sicofantas, parentes distantes e dependentes
convictos. Suas orglas Interminäveis, insinuagóes e intrigas, seus
escámios cruéis da educaçäo provinciana rústica deprimiam e
entristeciam Kepler: “Tycho... é superlaivamente rico, mas näo
Sabo como se ullizar sto. Qualquer um de seus instrumentos
custa mais do que toda a minha fortuna e a da minha famila
juntas

Impaciente para ver os registros astronómicos de Tycho,
Kepler teve acesso somente a alguns: "Tycho nao me deu opor:
tunidade de parlihar de suas experiencias. Menciona, no decorrer
de uma refeiçäo, entre outros assuntos, o dado do apogeu de um
planeta hoje, amanhá os nodos do outro... Tycho possul as
melhores observagées... Tem também colaboradores, exceto 0
arquiteto que utiiza tudo para seu próprio beneficio” Tycho fol o
maior génio observacional da época, e Kepler o maior teórico.
CCada um sabia que, sozinho, seria incapaz de ating uma sintese
de um sistema de mundos preciso e coerente, que ambos
perceblam iminente. Mas Tycho nao tinha vontade de presentear 0
trabalho da sua vida Inleira a um rival em potencial bem mais
Jovem. Unir a autora dos resultados, se exisisse algum, a um
colaborador era, de alguma forma, inacoltável, O nascimento da
iéncia moderna — o produto da teoria e observagáo — oscilou no
principio das suas desconfianças mütuas. Nos dezoito meses finals,
{da vida de Tycho, os dois dscutiam e se reconellavam repetidas
vezes. Em um jantar oferecido pelo Bardo de Rosemberg, Tycho,
tendo ingerido vinho em excesso, "colocou a civiidade à frente da
saüde” e resistiu à urgencia fisiológica de retrar-se, mesmo por um
instante, da presenga do baräo. A conseqúente infecgáo urinária
piorou quando rejeltou violentamente o conselho de controlar a co.
mida e a bebida, Em seu leito de morte, Tycho doou suas
observagóes a Kepler e, “na üllma noite de seu deli, repetiu
varias vezes estas palavias, como alguém compondo um

60 Cosmos

poema: Näo me deixem sentir que vivi om väo... Náo me deixem
sentir que vivi em váo"".

Após a morte de Tycho, Kepler, entáo Matemático
Imperial, lutou para extrair as observagées do predecessor de
‘sua famila, Sua conjectura de que as órbitas dos planetas
estavam circunscritas pelos cinco sólidos platônicos náo era
mais sustentada pelos dados de Tycho, nem pelos de Copérnico.
Seu "Mistério Cósmico” foi desaprovado por imei pelas
‘descoberias posteriores dos planetas Urano, Netuno e Plutäo —
náo há sólidos plalönicos adicionais que determinem suas
distancias ao Sol. Os sólidos Pitagóricos encaixados nao faziam
concessao à existencia da lua terrestre, e a descoberta de
Galileo das quatro grandes luas de Júpiter também o derrotaram.
Mas longe de fiar triste, Kepler desejou descobrir mais satélites
+ se perguntou quantos satéltes teria cada planeta, Escreveu a
Galileo: "Comecel imediatamente a pensar como poderia haver
‘uma adiçäo ao número de planetas sem voltar ao meu Mysterium
Cosmographicum, aceltando que os cinco sólidos regulares de
Eucidos náo permitem mais de seis planetas em lomo do Sol
Estou 140 longe de desacreditar na exisióncia dos quatro plano.
las circunjovianos que desejei um telescópio para antecipar a
vocé, se possivel, a descoberta de dois em lomo de Marte, como
requer a proposigäo, seis ou oto em volta de Saturn, e talvez
um em tomo de Mercurio e de Vénus”. Marte realmente possui
dduas pequenas luas, e 0 acidente geológico principal na maior
¿elas 6, hoje om dia, chamado de Colina Kepler em sua honra,
Mas ele estava totalmente equivocado no tocante a Saturno,
Mercúrio e Vénus, e Júpiter possul muito mais luas do que
descobriu Galleo. Ainda nao sabemos realmente por que
úoxistem somente nove planetas, mais ou monos, e o porqué das
‘suas distancias relativas do Sol (Ver Capitulo 8).

As observagóes de Tycho sobre o movimento aparente
de Marto © outros planetas por entro as constelagdes foram
feitas por um período de varios anos. Estes dados, referentes ás
últimas décadas antes do telescópio ser inventado, foram os
mais preciosos que já linham sido oblidos. Kepler trabalhou com
‘uma intensidade passional para entendé-tos: que movimento real
da Terra e de Marte em tomo do Sol poderia explicar, par
precisar a medida, o movimento aparente de Marte no céu,
Incluindo seu arco retrógrado contra o fundo das constelagdes?
‘Tycho tinha comentado sobre Marte com Kepler, por parecer
muito anómalo 0 seu movimento aparente e muito di. de
oncilar com uma órtita formada de circulos. (Para o ler talvez
aborrecido pelos seus Inúmeros cálculos, ele escreveu mals
tarde: "Se vocö estiver aborecido com este procedimento
tedioso, tenha pena de mim que efetuel pelo menos setenta
tentativas”,

Pitägoras, no século VI A.C.. Platäo, Ptolomeu e todos os
astrónomos cristäos anteriores a Kepler assumiram que os pla-
netas se moviam em órbitas circulares. Pensava-se ser 0 circulo
‘uma forma geométrica "perfeia”, o os planetas, colocados no
alto dos céus, acima da “conupçäo” tortena também tidos

A prova pose sor consaada no Apne 2

A Harmonia dos Mundos 61

como “perteitos” em um sentido místico. Galleo, Tycho e Co:
Pémico, todos confavam em um movimento planetário circular
Uniforme, o último afirmando que "a mente estremece” ante a
altemativa, pois "seria ntrtílero supor diferente em uma Criaçäo
Constiuida na melhor maneira possivel". De mado que, a principio,
Kepler tentou explicar as observagöes imaginando que a Terra ©
Marte se moviam em órbitas circulares em tomo do Sal

‘Apés 1 anos de cálculos, acreditu ter enconirado valores
correlos para uma órbita circular marciana, que se igualava a 10
das observagées de Tycho, dentro de dois minutos de arco, Há
sessenta minutos de arco em um grau e 90 graus, um ángulo reto,
do horizonte ao 2énite, Poucos minutos de arco © uma quantidado
‘muito pequena para ser medida, principalmente sem um telescépio.
É igual a um-quinze avos do diámetro angular da Lua chela vista da
Terra. Mas o éxtase repleto de Kepler logo se desfez em tristezas,
pois duas das observapdes postenores de Tycho eram
Inconsistentes com a órbita de Kepler, aumentavam para oto
minutos de arco:

A Divina Providencia nos concedeu um observador dligente
em Tycho Brahe e suas observacées nos convencem do.
cálculo de um erro de oito minutos; somente 6 certo que
devemos aceitar um presente de Deus com a mente
agradecida... Se eu Ivesse acreditado que pudéssemos
ignorar estes oito minutos, teria conellado minha hipétese,
Mas, desde que nao 6 permitido ignorar, estes oito minutos
mosiraram 0 caminho para uma reforma completa na
astronomia.

A dilerenga entre uma órtita circular e uma verdadeira pode
ser disinguida somente através da medicáo precisa e uma
acolaçäo corajosa dos fatos: “O universo está imprimido com o
adomo de proporgöes harmónicas, mas as harmonias devem
acomodar a experténcia. Kepler ficou abalado ao ser compelido a
abandonara Grtita circular e questionar sua 16 no Geémetra Divino,
Esolarecendo a solidez da astronomia de circulos e espias, loi
deixado, disse ele, com "somente uma carroga de osterco”, um
circulo esticado como uma oval

Casualmente, Kepler sentiu que sua fascinaçäo pelo circulo
tinha sido uma desilusao. A Terra era um planeta, como tinha dito
Copémico, e era inteiramente óbvio a Kepler que a Terra
corrompida pelas guerras, peste, fome e inflicidade pouco tina de
perteia. Kepler fol um dos primeiros desde a antgüidade a propor
que os planetas eram objetos malerais lelos de substancia
importeita como a Terra. E se os planetas eram "imperfaito”, por
que näo também suas órbitas? Tentou vérias curvas-ovais,
Caleulou, cometes alguns erros ariméticos (que o levou, a principio,
a rejeilar a resposta certa) e meses mais tarde, em desespero,
tentou a fórmula de uma elipse, codilicada pela primeira vez na
Biblioteca de Alexandria por Apolónio de Perga. Descobriu que se
ajustava maravilhosamente ás observagóes de Tycho: "A verdade
da Nalureza, que rejetei e desviei, relomou as escondidas pela
porta dos fundos, distinguindo-se para ser acela... Ah, que bobo
tenho sido!”

62: Cosmos

Prmora Iolo Kepler: Um planta (P 20
moro om una spe, com 6 Sol) om um
oe aus ds lec

Saga wi do Koper: Um panata pero
Seas quais om tompor gun, Lova à
Masmo onpo para val de Ba A, do Fa E
890 Das areas om samira BSA, FSE
Se sie quae

Kepler ina descoberto que Marte girava em torno do céu
no em sírculo, mas em uma elipse. Os outros planetas apresen-
tam órbitas bem menos elípticas, e se Tycho tivesse incitado o
estudo do movimento de Vénus, talvez Kepler nunca tivesse
descoberio as órbitas verdadeiras dos planetas. Neste tipo de
órbita, o Sol ndo está no centro, mas sim em um dos focos da
elipse. Quando um determinado planeta está mais próximo do
Sol ele aumenta de velocidade, quando mais distante, ela dimi-
nul. Este movimento € a razdo pela qual descrevemos os plane-
tas como caindo sempre em diregáo, mas nunca atingindo o Sol.
A primeira lei de Kepler de movimento planetário é simplesmente:
Um planeta se move em uma elipse com o Sel em um dos focos.

Em um movimento circular uniforme, um ángulo igual ou
tagño de arco de um círculo 6 percorrido om tempos iguais. Por
exemplo, despendo-se duas vezes o tempo para percorrer dois
tercos de um caminho em tomo de um círculo do que o despen.
ido para 0 tergo restante. Kepler descobriu um aspecto diferente
nas Orbits elipticas: enquanto o planeta se move ao longo da
sua órbita, ele percorre uma pequena área em forma de cunha
dentro da elipse. Quando está próximo do Sol, em um dado
período de tempo, ole traga um grande arco em sua órtita, mas a
área representada pelo arco nao é mullo grande porque o
planeta está entáo próximo do Sol. Quando o planeta se encontra
longe dele, percorre um arco multo menor no mesmo período de
tempo, mas este arco corresponde a uma área maior porque ©
Sol esta agora mais adiante. Kepler descobriu que estas duas
áreas eram precisamente as mesmas, independente de quáo
elípica fosse a Gba a área comprida e estela,
correspondendo ao planeta longe do Sal, e a área mais curta e
larga, quando o planeta está próximo dele, säo exatamente
quais. Esta foi a segunda lei de Kepler de movimento planetário.
Os planetas percorrem areas iguais em tempos iguais.

‘As primeiras duas leis de Kepler podem parecer um
pouco remotas e abstratas: planetas se movem em elipse e
Percorrem áreas iguais em tempos iguals. E entáo? O movimento
Gicular & muito mals fácil de ser entendido. Talvez tenhamos
uma tendéncia para diminuir estas leis como meros acertos
matemáticos, algo trado da vida dlära, mas säo leis que os
hossos planetas obedecem como nós próprios, grudados pela
gravidade na superficie da Terra, empurrados no espago
mterplanetärio. Movemo.nos de acordo com as leis da Naturoza
‘que Kepler descobriu. Quando enviamos naves espaciais aos
planetas, quando observamos estrelas duplas, quando
examinamos o movimento de galáxias distantes, descobrimos
‘que no universo as leis de Kepler s40 abedecidas.

‘Anos mais tardo, Kepler formulou sua tercera € ülima lei
‘de movimento planetario, uma lei que relaciona o movimento de
varies planetas uns com 05 oulros, que exibe corretamente a
precisao do sistema solar. Ele a descreveu em um Ilvro chamado
‘As Harmonias do Mundo. Kepler compreendeu multas coisas
‘através da palavra harmonia; a ordem o beleza do movimento
Planelärie, a existáncia de leis matemáticas explicando que o
movimento — uma idéia que remonta a Pitágoras — é mesmo

A Harmonia dos Mundos -63

hharmonia no sentido musical, a “harmonia das esferas”. Diferente
das érbilas de Mercurio e Marte, as dos autros planetas pouco se
desviam da cicularidade e näo podemos determinar suas formas
Verdadeiras mesmo em um diagrama extremamente preciso. A |
Terra 6 a nossa plataforma móvel da qual observamos o movimento
des outros planetas contra o fundo das constelagöes distantes. Os
Planetas intemos moverse rapidamente om suas órbitas — 6 a
fazáo do nome do primeiro deles. Mercúro era o mensagerro dos

ef

ze

H

ple =)
to me)

deuses. Venus, Terra e Marte movem-se progressivamente com Taaïa lo de Kepler ou la hamnica
menos rapidez em tomo do Sol. Os planetas exteriores como rico precia ente amano cn obo
Júpiter e Satumo movem-se mais devagar, como convém aos reis um panela a peroo gas par oe
au“ ‘Bove apa name a Ure, Neuro

A tercelra lei ou lei harmönica de Kepler diz que os quadra- ¿240

Panels escoberes bom

dos dos períodos dos planetas (0 tempo despendido para completar apis ca mate de Kepler

{uma órbita) sdo proporcionais ao cubo das suas distancias médias
do Sol; quanto mais distante o planeta, mais lentamente ele se
move, mas de acordo com uma precia lei matemática P° = a", onde
P representa o periodo de revolugáo de um planeta em toro do Sol
medido em anos, e a a distancia do planeta do Sol medida em
“unidades astronómicas”. Uma unidade astronómica é a distancia
da Terra ao Sol; Júpiter, por exemplo, esta a cinco unidades
astronómicas do Sol, e a? = 5x5x5 = 125. Que número muliplicado
por ei mesmo é igual a 1257 11 se aproxima bastante, e 11 anos
30 o período despendido por Júpiter para completar uma volta em
torno do Sol. Deducées simlares se aplicam a todos os planetas,
astoréides e cometas.

Näo salisfilo em meramente ter extraído da Natureza as
vis do movimento planetärie, Kepler estorgou-se para descobrir
{uma causa subjacente ainda mals fundamental, alguma infuéncia.
do Sol na cinemática dos mundos. Os planetas aumentam sua
Volocidado quando se aproximam do Sol, © a diminuem quando se
afastam dele. De alguma forma os planetas distantes sentem a
presenga do Sol. O magnetismo era também uma inluéncia sentida
à distancia, e em uma antecipaçäo surpreendente da gravtagéo
universal Kener suger que a causa subjacent sera semehante
0 magnetismo:

Meu objetivo quanto a este assunto @ mostrar que a
máquina celesto deve ser comparada náo a um organismo
vino, mas sim a um mecanismo de relógio... até agora
‘quase todos os movimentos diversos säo conduzidos por
meio de uma única e bem simples forga magnética, como no
‘case do mecanismo do relágio onde} todos os movimentos
[sao causados] por um simples peso.

O magnetismo náo $, naturalmente, a mesma forga que a
gravidade, mas a inovagäo fundamental de Kepler desta vez nada
eve de espantoso; ele propos que leis físicas quanttatvas, que
ram aplicadas na Terra, também fossem os alcerces das lois
físicas quantitativas que govemam os céus. Foi a primeira
expleaçäo ndo-mistica do movimento nos céus, e colacou a Terra
‘como uma província do Cosmos. "Astronomia, disse, “6 parte da
física". Kepler 6 um marco na histéria: o úlimo astrólogo científico
foi primero astrolisico,

Ele colocou suas descobertas nesias palavras, à que näo
era dado a frases simples:

64 Cosmos

(Com esta sintonía de vozes, o homem pode atravessar a
clernidade do tempo em menos de uma hora, e provar em
pequena escala o deleite de Deus, o Supremo Artista... Eu
me entrego livremente ao sagrado frenesi...a sorte está.
lançada e estou escrevendo o Ivro para ser lido tanto
agora como pela posteridade, näo importa. Pade esperar
um século pelo leitor, pois 0 Proprio Deus esperou 8.000.
anos por um testemunho.

Pela “sintonia de vozes”, Kepler acreditou que a
velocidade de cada planeta correspondía a determinada nota na.
escala musical latina popular em sua época — dé, ré, mi, f, sol,
lá si, dé. Afirmava que, na harmonia das esferas, os tons da
Terra eram fá om mi, elemamente murmurados, e que eram 0.
caminho dieto para a palavra latina que corresponde à fome.
Argumentou, com razáo, que a Terra era melhor descrita por
‘aquela única e dolorosa palavra,

Exatamonto ot dias apés a descoberta da tercoira l
incidente que desencadeou a Guerra dos Trinla Anos transpirou
om Praga. As convulsdes da Guerra despedagaram a vida de
mihées, entre oles Kepler. Perdeu mulher e fiho em uma epi
demia disseminada por Soldados, seu padráo real foi deposto, e
ele excomungado pela reja lulerana pelo seu individualismo
‘descompromissado em assuntos da doutina. Kepler novamente
se tornou um refugiado. O confio, sustentado por católicos e
protestantes como uma guerra santa, era mais uma explorado.
do fanatismo religioso pelos ávidos de poder e terras. No
passado a guerra tendía a ser resolvida quando os principes.
beligerantes exauriam seus recursos, mas agora a pilhagem
organizada tinha sido inroduzida como melo de manter as armas.
‘em campo. A populacáo selvagem da Europa manteve-se sem
proteçäo. enquanto reihas e podadeiras. eram Ieralmente
transformadas em espadas e lanças."

Ondas de boatos e paranôlas varriam as regiôes rurals
envolvendo principalmente os näo-poderosos. Entre os muitos
bodes-expatérios escolhidos estavam as mulheres mais velas.
que viviam 56e e eram acusadas de feltcelras; a mae de Kepler
foi levada no meio de uma noite em um cesto de roupas. Na sua.
pequena cidade natal, Well der Stadt, très mulheres foram tor.
turadas e mortas como felteeiras a cada ano entre 1615 e1629,
E Katharina Kepler era uma mulher velha e má. Tinha-se
engajado em disputas que aborreceram a nobreza local, e
vendido soporiteros o talvez drogas alucinógenas como o faziam
as curandeiras contemporáneas mexicanas. O pobre Kepler
‘acreditou que tina contribuido para a prisño dela.

Isto aconteceu porque Kepler escreveu um dos primeiros
os de ticgáo cientilca, tentando explicar e popularizar a
iéncia, cujo nome era Somnium, O Sonho. Ele imaginou uma.
Viagem à Lua, os viajantes espaciais na superficie lunar obser.
vando o adorável planeta Terra girando lentamente no céu acima.
doles. Mudando de perspectiva podemos imaginar como os
mundos se comportam. Na época de Kepler uma das princi-

gun exemple por or vis anda na porte de Graz

A Harmonia dos Mundos -65

pais objogóos a idéla de que a Terra girava era o fato das pessoas
nâo sentirem © movimento. No Somnium ele tentou mostrar a
rolagáo da Terra como plausivel, dramática e compreensivel
"Enquanto a mulidäo näo errar.. eu estarei ao lado deles.
Portanto, tenho varios problemas para explicar a tantas pessoas
‘quanto possivel* (Em outra ocasiño, escreveu em uma carta: ‘Nao
me condenem totalmente à roda do moinho dos cálculos
matemáticos — déem-me tempo para especulaçées flosófcas,
‘meu único delete")

Com a invengäo do telescópio, aquilo que Kepler chamou
de "geografía lunar” estava se tomando possivel. No Somnium,
descreveu a Lua como repleta de montanhas e vales, e como
"porosa, como se cavada com buracos e cavernas continuas”, uma
releréncia as crateras lunares que Galileo tinha descoberio
recentemente com o primeiro telescópio astronómico. Também
imaginou que a Lua tinha hablantes, bem adaptados As
incleméncias do ambiente local. Descreveu a lenta rotaçäo da
Tena vista da superficie lunar e imaginou os continentes e oceanos
do nosso planeta produzindo alguma imagem associalva como ©
Homem na Lua. Visuaizou a proximidade do Sul da Espanha com
© Norte da Álrica, no estreito de Gibraltar, como uma jovem mulher
em um vostido encorpado esperando o seu amor para ser bojada
— embora me pareca mals como narizes se rogando.

Por causa da duragäo do dia o da note lunares, Kepler
descreveu "as grandes imoderagóes de clima e alleragöes mais
violentas de calor e fío extremos na Lua” que estavam intra
mente corretas. Mas nem tudo estava certo. Ele acreditou, por
exemplo, que havia uma atmostera lunar substancial, o oceanos e
habtantes, O mais curioso na sua visio da origem das crater
lunares que formavam a Lua, ele disse, era que 'näo paroci
diferente do rosto de um menino destigurado pela variola”
Sustentou, com corregäo, que as crateras seriam depressôes e nao
montículos. Polas suas próprias observagóos nolou as muralhas
ircundando multas crateras e a existéncia de picos contrais, mas
pensou que suas formas ciculares regulares implicavam em um
grau de ordem que somente a vida inteigente poderia explic las.
Nac compreendeu que as grandes rochas

“Braho, como Kopler, no hostizava a astgía, ombora cuidadosamanto
dingue nia nica vrs esco do sra das varapdae mat comune a.
Sun Opoca. quo di ina como contra à apéro. Em ou ro, Astopomio
Freitas Macrarc,puncado om 1508, cuen!o Qu à arg 0 teamarto
mas gta de comlanga do que to pana’. so o mipaamanto da posi das
Coe toto Spepridamonio amplado. Brano onen. “Ocupel o.com

Sims, esa como com mnhas pasquisas coloso, desde mou 23. ano” Me
oni quo amas oss pao 1dein a encon segedos mul ponges paa
5/10 om ger (ombcra neramant segur nas máos Go propos o ros 25
‘guns lo root). Bravo coros a nga Vondaoramontoporgosa WS

Bonn prope I 6 eau Tomar cenas coe earnecins per
Kepler por but ado, orenouaeronoma om erela,pubioay MA vases 6

66: Cosmos

A Lua vista da Tora: Poepocva am da
motera.

caindo do céu produziiam uma explosáo local, perfeitamente
simétrica em todas as direçôes e que esculpitiam uma cavidade
Circular — a origem do tamano das crateras na Lua e em outros
planetas terrestres. Em vez disso deduziu "a existéncia de
‘alguma raga racionalmente capaz de construir aquelas cavidades
na superficie da Lua. Esta raça deveria ter multos individuos, de
modo que um grupo coloca uma cavidade em uso enquanto
‘outro grupo conströl outra cavidade. Contra a opinido que tals
projetos de grande construçäo eram improvaveis, Kepler olerecia
‘exemplos como as pirámides do Egito e a Grande Muralha da
China, que, de lato, podem ser vistas hoje da órbita da Terra. A
idéia de que a ordem geométrica revelava uma intelgéncia
subjacente era o cerne na vida de Kepler. Seu argumento sobre
as crateras lunares 6 uma ciara pressuposiçäo da controvérsia
des canais marcianos (Capítulo 5). E admirével que a procura
por uma vida extraterrestre comecasse na mesma geragáo da
invençäo do tolescópio e com o maior teórico da época,

Partes do Sormium eram claramente autobiegráficas. O.
heról, por exemplo, visita Tycho Brahe. Tem pais que vendem
drogas. Sua mde se relaciona com espirtes e demönios, um dos
quais casualmente providencia meios para viagem à Lua, ©
Somnium nos deixa claro, embora náo o fesse a todos os
contemporáneos de Kepler, que "em um sonho deve ser permi
da a liberdade de imaginar uma vez ou outra algo que nunca
exist no mundo da percepçäo sensitiva”. A flegáo cientica era
uma idéla nova na época da Guerra dos Tinta Anos, e o Ivro de
Kepler fo tiizado como uma evidéncia de que sua mae era uma.
feltcelra

Em meio de outros graves problemas pessoais, Kepler
precipitou-se a Württemberg para encontrar sua velha mae de
setenta e quatro anos presa em um calabougo secular proies
lante e ameacada de tortura como Galileo, em um outro católico,
Começou, como um cienlista naturalmente faria, a procurar
explcagóes naturais para os varios eventos que tinham pre-
iptado as acusagdes de felicari, inclusive doengas físicas sem
importancia que os burgueses de Wuntemberg tinham atribuido,
a seus poderes. A pesquisa fol um sucesso e um triunfo, como ©
foi a maior parte do resto de sua vida, da razáo sobre a
superstigáo. Sua mae fol oxllada, com uma sentenga de morte so
voltasse a Württemberg, e o espirito de detesa de Kepler apa-
rentemente induziu um decreto do Duque prolbindo novas provas.
de feligarias sob evidencias táo ténues,

‘Os levantes da guerra suprimiram muito do apoio finan-
ceiro de Kepler, e o final de sua vida fol agitado, pleiteando
dinhoro e fadores. Montou horóscopos para o Duque de Wal
lenstein, como tinha feito para Rudol Il, e passou seus últimos
anos em uma cidado silesiana controlada por Wallenstein ©
chamada Sagan, Seu epitäio, composto por ole mesmo, foi
"Media os cóus, agora mego as trevas. O Espirito $ celeste, aqui
jaz a sombra do corpo". Mas a Guerra dos Trinta Anos destruiu
‘Seu túmulo, Se fosse erigido um marco hoje, deveria ter inserto,
em homenagem à sua coragem cienlilca: "Preferiu a dura
verdade As suas meigas lusdes".

A Harmonia dos Mundos 67

Johannes Kepler acreditou que haveria um dia "naves
celestiis que viajariam adaptadas aos ventos dos céus
navegando no cóu, cheias de exploradores, “que náo temeriam a.
vastidäo” do espago. E hoje estes exploradores, homens e robös.
‘empregam, como guias infaliveis em suas viagens através da
vastdao do espago, as rés leis de movimento planetário que
Kepler descobriu durante uma vida de agonias pessoais e
descoberta do éxtase

A pergunta de Johannes Kepler que Ihe acompanhou du
rante a vida, a compreensäo do movimento dos planetas, a
procura de uma harmonia nos céus, culminou trinta € seis anos
após a sua morte no trabalho de Isaac Newton. Newton nasceu no.
dia de Natal de 1642, tao pequeno que sua mäe Ihe revelou, anos.
mais tarde, que tinha sido colocado em uma caneca de quarto
Doente, sentindo-se abandonado pelos pais, briguento, insociável,
casio até a sua morte, Isaac Newton fol talvez o maior gónio
entice que já viveu

Mesmo quando jovem, Newton era impaciente com ques-
tes ndo substancials, als como se a luz sería “uma substancia ou
um acidente”, ou como a gravidade poderia agir sobre um vacuo
interposto. A principio concluiu que a 16 eristä convencional na
‘Trindade era a má interpretagao das Escrituras. De acordo com o
ou biógrafo, John Maynard Keynes:

Era mais um monoteísta judalco da escola de Maimonides.
Chegou a esta conclusio näo através de bases célicas ou
racionais do que ouviu falar, mas totalmente baseado na
imerpretaçäo ancestral. Foi persuadido que os documentos
revelados náo sustentavam as doutinas da Trindade, devido ás
limas falicacóes. O Deus Revelado era um Deus, mas isto era
um segredo tremendo pelo qual Newton passava tormentos
desesperados para ocultar por toda a sua vida

‘Como Kepler, nâo era imune as superstgóes da sua época
€ teve muitos enconiros com o misticismo. Na realidad, muito do
desenvolvimento intelectual de Newton pode ser atibuido à sua
tendo entre o racionalismo e o misticimo. No Mercado de
‘Stourbridge, em 1663, nos vinle anos, comprou um livro sobre
astrología "sem a curiosidade de saber o que continha’. Ele o leu
alé chegar a uma ilustragéo a qual nao entendeu porque nâo
sabía tigonometria. Comprou entáo um Ivro sobre o assunto, mas.
logo sentizse incapaz de seguir os argumentos geométricos
Encontrou uma cópia dos Elementos de Geometria, de Eucldes, e
começou alé-la, Dois anos depois inventou o calculou diferencial.
Como estudante, Newton era fascinado pela luz e muito mais pelo
Sol. Dedicava-se à prática perigosa de observar a sua imagem
alravés de um espolho:

Em poucas horas, forcel meus olhos a tal ponto, que nao

posso olhar nenhum objeto brihante com nenhum dos

lhos, mas vejo o Sol diante de mim, de modo que náo

A Tera vit da Lu: A vio imaginado,
po Kepler

68 Cosmos

ouso escrever ou ler; mas para restabelecer o uso dos
‘meus olhos, encerrar-me-ei em meu quarto escuro por trás
dias consecutivos e me ullizael de todos os melos para
desviar a minha imaginacáo do Sol, pois ao pensar nee
velo sua figura, embora esteja no escuro.

Em 1666, com vinte e tés anos, Newton era estudante na
Universidade de Cambridge, quando um surto de peste forgou-o a
passar um ano de ociosidade na isolada vila de Woolsthorpe, onde
havia nascido. Ocupouse inventando o cálculo diferencial e
integral, fazendo descobertas fundamentals sobre a natureza da
luz e langando os fundamentos da teoria da Grauitaçäo Universal
© único outro ano semelhante na história da física foi o “Ano
Milagroso™ de Einstein, em 1905. Quando perguntado como
cletuara suas descoberlas admiráveis, Newton replcou:
“Pensando sobre elas”. Seu trabalho era 130 signilcatvo que seu
professor em Cambridge, Isaac Barrow, demitu-se da cadeira de
matemática em seu favor, cinco anos apôs o estudante ter
retomado ao colégio.

"Newton, aos quarenta e poucos anos, fol descrito pelo seu
criado assim
Nunca soube que elo tivesse alguma recreagao ou
passatempo como passear para pegar ar fresco, andar,
Jogar bola ou qualquer outro exercicio, pensando serem
horas perdidas aquelas nao devotadas ao estudo, ao qual
se mantinha sempre volado, de modo que raramente
deixava seu quarto, exceto [para ler] na hora da palestra.
quando poucos vinham ouvi-lo, somente alguns o enten-
clam, pois muitas vezes ele la como se o estivesse fazendo
para as paredes”.

Alunos tanto de Kepler como de Newton nunca souberam 0
que estavam perdendo,

Newton descobriu a ei da inérca, a tendéncia de um objeto
‘em movimento continuar a mover-se em linha reta a menos que
alguma coisa o influenciasse e o retirasse do caminho. A Lua
parecia a Newton mover-se om linha reta, tangencial à sua Órbita,
a menos que houvesse alguma oulra forga desviando
constantemente o caminho para próximo a um círculo,
‘empurrando-a na direçäo da Terra. A esta forga Newton chamou
de gravidade, e acreditou que agia à distancia. Náo há nada
fisicamente unindo a Tera à Lua, ombora a primeira ostoja
constantemente puxando a segunda em nossa diregäo. Usando a
tercela lei de Kepler, Newton deduziu matematicamente a
natureza da forea gravitacional * Mostrou que a mesma lorca que
puxa a macá para o solo da Terra mantém a Lua om sua 6rbita ©
Jusiica as revolugdes das entäo recentemente descobertas luas.
¿e Júpiter em suas órbitas em tono do planeta distante,

“iietzmente ton no reconteces sau dbo com Kepler am su obra,
Prop Mas em uma caña em 1680 a Eomund Haley, dese da Su in da
freee’ Pon sar que à dad o ore hair da sto 203

A Harmonia dos Mundos - 69

As coisas calam no solo desde o inicio. Que a Lua girava
em tomo da Terra, sempre aereditaram por toda a historia da hu-
manidade. Newton foi a primeira pessoa a imaginar que estes dois
fenómenos eram decorrentes da mesma forga. Este 6 o significado
da palavra “universal”, como oi aplicado à gravtaçäo newtoniana.
‘A mesma li de gravidado se aplica a qualquer local do univers.

€ uma lei do inverso do quadrado. A forga declina inversa-
mente ao quadrado da distáncia, Se dois objetos forem afastados
para duas vezes mais longe, a gravidade que os atrlrá terá
somente um quarto de forga. Se forem afastados dez vezes mais,
a gravidade será o quadrado de 10, 10* = 100 vezes mals fraca
Claramente, a lorça deve ser, em algum sentido, inversa, isto €.
decinando com a distancia. Se a forga fosse dieta, isto 6,
aumentasse com a distancia, entáo a maior orga atuaria sobre 08
objetos mais distantes, e eu suponho que toda a matéria no
Universo se acharia se unindo em uma única massa cósmica. A
gravidade diminui com a distancia, sendo o porqué de um cometa
ou planeta mover-se mais lentamente quando longe do Sol e com
maior rapidez quando mais próximo, a gravidade sendo mais fraca | Non. Piura de Jean
‘quando mais longe ele estiver do Sol Sosa. ° —

Isaac Newton. Pinta de Jes Leon

‘Todas as trés leis de Kepler sobre movimento planetário
podem ser derivadas dos princíplos newtonianos. As leis de Kepler
feram empíricas, baseadas em obsorvagóes maticulosas de Tycho
Brahe. As de Newion eram teóricas, mais do que simples
observagóes matemáticas das quais todas as medidas de Tycho
podiam definiivamente ser derivadas. Destas leis, Newton
escreveu, com um orgullo Indisfargado, no Principia: “Agora
demonsto a composiçäo do Sistema do Mundo”.

Posteriormente, Newton presidiu a Royal Society, uma so-
iodade de cientistas, o foi diretor da Casa da Mocda onde
devolou suas energias à supressáo da falsicagao da cunhagem.
Sua reclusáo e mau humor naturais aumentaram; resolvou
abandonar os eslorgos cientifcos que o levaram a disputas
ferrenhas com outros cienlistas, principalmente em questöes de
prioidade; e là havia os que espalhavam histórias de que ele tinha
experimentado o equivalente, no século XVII, a um "colapso
nervoso”. Entretanto, Newton continuou suas experiéncias por toda
à sua vida na frontera entre a alquimia e a química, e algumas
evidéncias recentes sugerem que estava sofrendo nao tanto de
uma doença psicogénica, mas de envenenamento por metal
pesado, induzido por ingestäo sistemática de pequenas
quantidades de arsénico e mercúro. Era uma prálica comum aos
uímicos da época usar o sentido do tato como um instrumento
anal,

CContudo, seus prodigiosos poderes intelectuais persstram
imbalveis. Em 1698, o matemático suigo Johann Bernoulli
desaliou seus colegas a resolverem uma questio sem solugáo
chamada o problema braquistécrono, especiicando a cura de
ligaçäo de dois pontos desiocados um do outro lateralmente ao

70- Cosmos.

longo da qual um corpo agindo somente pela gravidade caira no
menor tempo. Bemouli originalmente especiicou um tempo de
seis meses, mas o estendeu para um ano e meio a pedido de
Leibniz, um dos pricipals estudiosos da época, e o homem que
{inha, independentemente de Newton, inventado o cálculo
dierencal integral. O desafio foi entregue a Newton ás 4 horas
da tarde de 29 de janeiro de 1697. Antes de sai para trabalhar na
manhä seguinte, tinha inventado um novo ramo inteito da
matemática chamado cálculo das variáveis, ullizando:o para
resolver o problema braquistócrono, e enviado a solugáo, que fo
Publicada a podido de Newton anonimamonto. Mas o brio e a
riginalidade do trabalho tralu a identidade do autor. Quando
Bemouli viu a solucdo, comentou: "Conhecemos o leño pelas.
suas garras”. Newton inha entáo cinqüenta e cinco anos.

‘A maior conquista intelectual de seus úlimos anos foi um
acordo das cronologias das civilzagées anligas, apolado na tra-
co dos historiadores Manetho, Estrabáo e Eratóstenes. Em
seu imo trabalho, póstumo, “A Cronologia Reparada dos
Reinos antigos", encontramos repetidas calibragens astronómicas.
‘de eventos históricos, uma reconstruçäo arguitetönica do Templo
de Salomáo e uma reivindicagäo provocativa para nomearem
todas as constelagées do Hemisfério Norte com os nomes dos
personagens, engenhos e eventos da história grega de Jasáo e
seus argonaulas; e a suposigáo consistente de que os deuses de
odas as cilizagdes, com uma única exceçäo do de Newton,
ram meramente reis e heróis anligos delicados por geragöes
posteriores

Kepler e Newton representam uma transigäo critica na his-
{ora do homem, a descoberta que leis matemáticas bem simples
prevalecem em Natureza, que as mesmas leis se aplicam na
Terra e nos céus, e que existe uma ressonáncia entre o modo
‘que pensamos e o modo que o mundo age. Respeitavam sem
vacios a precisäo dos dados observacionals, e suas previsöes de
alta precisäo sobre o movimento dos planetas fomeceram uma
videncia impulsora que, a um nivel inesperadamente profundo,
68 homens podem entender o Cosmos. Nossa cvilzagáo global
modera, nossa visio do mundo e nossa atual exploragáo do
universo sño profundamente reconhecidas aos seus
iscornimentos.

Newton defendia suas descobertas e competa ferozmente
com seus colegas cientistas, Nao se importou em esperar uma
década ou duas após sua descoberta para publicar a lei do
inverso do quadrado. Diante da grandiosidade e complexidade da
Natureza era, como Ptolomeu e Kepler, alegre e tremendamente
modesto. Um pouco antes da sua morte, oscrovou: "Näo sei
como parego para o mundo, mas para mim, sintome so-

A Harmonia dos Mundos «71

mente como um menino brincando na praia e divertindo-me,
achando aqui e ali um seixo mais iso ou uma concha mais bonita
do que o comum, enquanto o grande oceano da verdade per-
‘manece totalmente desconhecido diante de mim.

Cometa wes, totoratado a Tera, em Torre de 1975, por Marin Grossman. a Cremas, Alemanna Ociental.A grande
suda 6 impo do nücep glad do comola por tm vot tornado do point © eons, provenir do Sol, que £0 pos

Capitulo IV
CEU E INFERNO

Lembro-me de nove mundos.
— Edda islandesa de Snorri Sturluson, 1200

Tomei-mo a morte, o mais frágil dos mundos.
— Bhagavad Gita

As portas do céu e do Inferno sáo adjacentes e idénticas.
— Nikos Kazantzakis, A Última Tentaçäo de Cristo

A TERRA € UM LOCAL ADORAVELE MAIS OU MENOS PLÁCIDO. AS coisas
musam, embora lentamente. Podemos atravesar uma vida ineira sem
pessoalmente encontrar um desastre natural mais violento do que uma
tempestade. Entäo tornamo-nos complacentes, relaxados e indierentes
Mas na historia da natureza o rogisiro 6 claro. Mundos foram devastados.
té nös, seres humanos, atingimos a dubia distincáo técnica de sermos.
capazes de provocar nossos pröprios desastres, tanto intencionais
quanto inadvertidos. Nas paisagens de outros paises, onde os registros
do passado foram preservados, há evidencias abundantes de grandes.
catástotes. Tudo é uma questäo de escala de tempo. Um evento
Inimaginävel em uma centena de anos talvez seja inevitvel em um
mlhäo de anos. Mesmo na Terra, em nosso século, ocorreram eventos
naturals bizaros,

Nas primeiras horas da manhä de 30 de junho de 1908 na Sibéria
Central, uma gigantesca bola de logo fo vista atravessando rapidamente.
6 c&u. Quando tocou © horizonte, houve uma enorme explosäo. Arrasou
cerca de 2.000 quilómetros quadrados de forestas e queimou milhares,
de árvores em um claráo de fogo próximo ao local do impacto. Produziu
uma onda de choque almostérico que circundou a Terra duas vezes. Por
dois dias seguidos, persist tanta posira fina na almosfera que se
conseguia ler um jornal à noite com a luz dispersa das ruas de Londres, a
10.000 quilômetrs.

Zu. Cosmos.

© gobogo svi L.A Kuïk (à rota) 0
lum asssiene Inspecionam © local do
Evento de Tunguska de 7908, na Sana
anta! na pamavora do 1990. Ka ta
Tode prtetea contra mesquon Corel
Sort.

O govemo dos czares da Rüssia náo podia ser
incomodado para investigar um evento tio trivial que, afinal,
tinha ocorrido muito longe, entre os tunguses, povo alrasado da
Sibéra. Passaram-se doz anos após a Revolucáo até que uma
expediçäo chegou para examinar o solo e testemunhar os
indicios. Estes 520 alguns dos relatos que trouxeram:

Cedo pela manna, enquanto todos dormiam, as tendas,
explodiram no ar junto com seus ocupantes. Quando cal
ram de volta na Terra, a famila inteira sofreu leves contu-
sôes, mas Akulna e Ivan Perderam realmente a
Consciéncia, Quando a recobraram, escularam muito
baruiho e viram a floresta à vola em chamas, e grande
parte dela devastada.

Estava sentado na entrada da casa na ostagáo comercial
de Vanovara na hora do café da manhá o olhando na
dltegáo norte. Tinha acabado de levantar o machado para
segurar um barr, quando de repente o céu foi partido em
dois, e bem acima da floresta, toda a parte norte do cu
parecia coberta de fogo. Naquele instante senti muito
calor como se minha camisa estivesse pegando fogo.
Tive vontade de tir-la e jogé la fora, mas entáo howe
uma explosdo no c&u e escutamos um tremendo
estampido. Fui atrado ao solo a trés sagenas de distancia
da entrada e por um momento perdi a conscióncia. Minha
mulher me pegou e colocou-me dentro da cabana, O
estampido fol seguido do um barulho como o de podras
caindo do céu, ou tevólveres atrando. Naquelo momento,
quando © céu abriu um vento quente, como o
proveniente de um canháo, passou pelas cabanas vindo
do norte e deixou sua marca no el

Quando sentei para tomar meu café da manhá ao lado do
arado, escutel estampidos, como 08 de uma arma. Meu
cavalo caiu de joelhos. Do lado norte acima da cresta
subiu uma chama... Entäo vi que a floresta de abetos
linha vergado pelo vento e ponsei em um furacáo.
Agarreï-me ao arado com ambas as máos para que no
fosse levado, O vento era lo forte que carregava a terra
da suporficio do solo, e entéo o furacáo despejou uma
parede de gua sobre Angara. Vi com clareza, pois a
minha terra uma colina,

© estrondo assustou tanto os cavalos que alguns galopa-
ram em pánico, arrastando os arados om diregoes
diferentes, e outros caltam.

Os carpinteiros, apés o primeiro e segundo estrondos,
ficaram estupefatos, e quando houve o terceio, eles cal.
ram sobre as aparas de madeira. Alguns estavam tio
atordoados e aterrorizados que tive que trangiliza-os.
Todos abandonamos os trabalhos o fomos para avila. Lä,
multdóss inteiras de habitantes locals estavam nas ruas,
Alerroizados e comentando o fenómeno.

Céue Inferno 75

Eu estava nos campos... e tinha acabado de pegar um
cavalo para atelar e pegava outro, quando de repente oui o
que me pareceu como um único tro à deta. Imediatamente
rel e vi um objeto famejante alongado atravessando o céu.
A parte da frente era muito mais larga do que o final da
cauda, e sua cor, a do fogo a luz do dia. Era muito maior do
que o Sol, mas menos brihante, de modo que era possivel
Olhar para ele a olno nu, Atrás das chamas havia algo que
parecia poeira. Estava enroscada em pequenas lufadas... e
ram deixadas faixas azuis atrás das chamas. Logo que a
chama desapareceu, ouviram-se explosdes mais altas do
que as provocadas por armas, sentimos o solo tremer, e 0s
vidros das janelas se despedagaram.

Eu estava lavando a madeira do banco do rio Kan. De
fepente ouviu-se um barulho como 0 baler de asas de uma
ave assustada...e um tipo de enchente sublu pelo rio. Após
isto, houve uma explosäo to grande que um dos
trabalhadores ...calu na agua,

Esta ocorráncia incrivel & chamada de o Evento de Tun-
‘guska. Alguns cientistas sugeriram que foi causado por um pedago
de antimatéria movendo-se rapidamente, destruida pelo contato
com a matéria comum da Terra, desaparecendo em um lampejo de
Falos gama, Mas a auséncia de radicatiidade no local do impacto
näo sustenta esta explcagäo. Outros postulam que um miniburaco
negro passou pela Terra na Siberia e salu do outro lado, mas os
registros de ondas de choque atmosféricas ndo mostram indicios de
um objeto explodindo no Atlántico Norte depois deste dia. Talvez
tenha sido uma nave espacial de alguma cMlzaçäo extraterrestre
inimaginavemente avancada com um problema mecánico urgente,
despedaçando-se em uma remota regio de um planeta obscuro
Mas no local do impacto náo há vestigios desta nave. Nenhuma das
hipöteses apresenta evidéncias que a comprovem. O ponto-chave
do Evento de Tunguska é que houve uma tremenda explosäo. uma
grande onda de choque, um enorme incóncio na floresta, embora
näo haja uma cratera de impacto no local. Parece haver somente
Uma explicagäo consistente com todos os fatos: Em 1908 um
pedaso de um cometa atngiu a Terra

Nos espagos entre os planetas há muitos objetos, alguns
rochosos, outros metálicos, alguns gelados, outros parcialmente
compostos de moléculas orgánicas. Variam de gráos de poeira a
blocos iregulares do tamanho da Nicarágua ou de Bhutan. E
algumas vezes, por acidente há um planeta no caminho. O Evento
de Tunguska foi provavelmente causado por um fragmento
cometário gelado de cerca de cam metros de comprimento— o
tamanho de um campo de futebol — pesando um mihäo de
toneladas, movendo-se em tomo de 30 quilómetros por segundo,
70.000 milhas por hora,

Se hoje em día ocorrer um impacto destes, poderá ser
confundido, especialmente no momento do pánico, com uma
explosäo nuclear. O impacto cometário e a bola de fogo simula-

Floresta de tige devastada em Tunguska
À float o rado 8 $ km de ponte
roe St anos pos 0 cents As SV
lodos ponton na So poste 80
porte do mporto Corea de Saito

76: Cosmos.

Detane do Tapeçane de Bayeux, do seco
XV, rapstondo 0 sprsemerte co Cometa
de Haley em aot 1000 A seco
sire" Um conso se esse em
Fepiitro erento pare Harald da peter
‘Gin ren por Ven, a Conaasiner
Del comets (ena Os mars sors na
Bar mener) À tapegana fo pda 6
fnortaga pris Rete Iti, esposa oe
Vian

riam todos os efeitos de uma explosäo nuclear de um megaton,
induindo a nuvem em forma de cogumelo, com duas exceçües.
no haveria radiacáo gama nem decaimento radioativo. Poderia
lum evento natural, porém raro, um impacto de um fragmento
cometario grande, ser o gatiho de uma guerra nuclear? Um
cenárlo estranho: um pequeno cometa atinge a Terra, como
mihöes Já o fzeram, e a resposta da nossa civlizacáo € pronta-
mente a autodestuiçäo. Talvez seja uma boa idéla sabermos
mais sobre cometas, colisdes e catástrofes do que o fazemos,
Por exemplo, um sateite americano Vela detectou um intenso
caro duplo nas proximidades do Atlántico Sul e no Oceano
Índico Ocidental em 22 de setembro de 1979. As primeras
especulagóes levaram a crer que era um teste clandestine de
arma nuclear de baba potencia (dois quilotons, cerca de um
sexto de energia da bomba de Hiroshima) da Africa do Sul ou de
israel. As consequéncias pollicas foram seriamente considera-
das em todo o mundo. Mas se os clardes foram causados pelo
impacto de um pequeno asterdide ou por um pedago de cometa?
Uma vez que as camadas de ar próximas aos claróes náo
mostraram tragos de radioatividade incomum, há uma possibi-
lidade real, o que enfatiza perigo em uma era de armas nuclea-
res, de que impactos näo-monitorizados vindos do espago sejam
mais do que suficientes para nos

Um cometa é formado principalmente de gelo — gelo de
gua (4.0) com um pouco de gelo de metano (CH,) e de gelo de
amónia (NH). Chocando-se com a atmosfera da Terra, um
fragmento cometário modesto produziria uma grande bola de
fogo radiante e uma onda poderosa de vento que queimaria as
Arvores, arrasaria forestas e seria ouvida em todo o mundo, mas
‘no faria uma cratera mut grande no chäo. Os gelos se derre-
teriam durante a entrada. Haverla poucos pedagos reconhecidos
deixados pelo cometa — talvez semente indicios superfciais de
pequenos gráos das partes näo-geladas do núcleo cometário
Recentemente, o cientista sovético E. Sobotovich identificou um
grande número de pequenos diamantes espalhados na área

Céue Inferno 77

sorapho dos Roi Magos de Gato, 104 representando a
Estala de Belem (presumivemons) como um comata ndo
mraciose A parao do Comet 30 Holey am 130° sons
Mute arepradament, como model pra Gita, Cote

TE done Protecio reas

Represantgso ateca da sew de
Im comoto rinante pelo Imperader
Mortezums, que scot a supestedo
papal que um cometa prossaga.a ©
fesrotes, provecando uma capressdo
ameno e deste mado, nconecrt
‘ert, insievanse 9 Cirsa Espa.
Aa tm area exacte oh pr
Traszain Oa Matera ge as dedo
‘ioova Españ, 68 Doge Durs

de Tunguska. Estes diamantes já eram conhecidos como
existentes em meteoritos que sobreviveram ao impacto e talvez.
se originem de cometas,

Em uma noite clara, se voc8 observar pacientemente o
céu, verá um meteoro solitario brihando por pouco tempo. Em
algumas noites podemos ver uma chuva de meteoros, sempre
nos mesmos dias, que so poucos, a cada ano — uma exibicao
natural de fogos de artíicio, uma diverso nos céus, Estes me-
teoros so formados de pequenos gráos, menores do que uma
semente de mostarda, Sao menos estrelas cadentes do que
penugens caindo. Momentaneamente brihantes quando pene-
tram na atmosfera terrestre, sho aquecidos e destruidos pela
fricgño a uma altura de cerca de 100 qulömetros. Os meteoros

Ropresemasto tres do Grande Cometa
GEIST (Compare com a fora 0 JA
‘Stotagdo que Seonpennave 0 chegade de
im ce iis, de modo dro. à
Ec conver a tonality

Foha impreso, em Propo, por Pote Co
clas, mostrando o Grande Cometa de
1577 soma de Lu o de Satamo. onqueto
lime rtems A core de Tyco Bro de
{us à Lo los 8 retro 08 comets de
‘domino de fenómeno tenes 4 clo
De “enegan Witena,. Zentatcione
Zonas. Foto de Owen Gnge ren

ño remanescentes de cometas” Cometas antigos, aquecidos
por repetidas passagens próximas ao Sol, partem, evaporam e
‘se desintegram. Os debris se espalham para preencher toda a
órbita cometaria. No local onde esta orbita intercepta a da Terr,
há uma mulidáo de meteoros esperando por nés. Alguma parte
da mulidao esta sempre na mesma posigáo da órbita da Terra,
de modo que a chuva de meteoros é sempre observada no
‘mesmo dia do ano. O día 30 de Junho de 1908 fo o dia da chuva
de meteoro Beta Taurid, conectado com a órbita do Cometa
Encke. O Evento de Tunguska parece ter sido causado por
pedaco deste, um pedaco substancialmente maior do que pe-
‘quenos fragmentos que causam estas chuvas de brihantes e
inofensivos metecros.

Os cometas sempre evocaram medo, temor e
superstçäo. Suas aparigöes — ocasionals — alteravam
perturbadoramente as nogóes de um Cosmos inalterado e
divnamente ordenado. Parecia inconeebivel que uma fisca
espetacular de chama branca como leite, surgindo e
desaparecende entre as estrelas noite anés noite, náo estivesse
ia por alguma razdo e nem trouxesse mau agouro para os
afazeres do homem, Em consequéncia surgiu a idéia de que os
cometas eram precursores de desastres, augures da ira divina,
que predizia a morte de principes e quedas de reinados. Os
babllónios pensavam que os cometas eram barbas celestes, os
gregos visualizavam cabelos esvoacando, e os arabes espadas
flamejantes. Na época de Ptolomeu os cometas eram
elaboradamente classifeados de “Waves”, Wrompetes” Tarros”, ©
‘assim por diante, de acordo com suas. formas. Ptolomeu julgou
‘que os cometas trouxessem a guerra, tempo quente e "condigdes
Perturbadoras’. Algumas descricées medievais de cometas
lembravam crucifixes — voadores — náoidentífcados. Um
superintendente luterano, Bispo de Magdeburg chamado
Andreas Colichius, publicou em 1578 uma "Lembranga Teológica
de um Novo Cometa”, que oferecia a visio inspirada que era
formado pela "fumaga grossa dos pecados humanos, elevando-
se a cada día, hora e momento repletos dos horrores diante da
face de Deus, e tomando-se gradualmente t3o espessa que
formava um cometa, com trangas curvas que eram por fim
intamadas pelo calor e colera ardente do Juiz Celeste Supremo”.
Mas outros diziam que se os cometas fossem fumaga de pecado,
05 céus estariam continuamente em chamas.

O registro mais antigo de uma aparigä do Cometa de
Halley (ou de qualquer outro) é chines, e surgiu no Livro do
Principe Huai Nan, acompanhante de marcha do Rei Wu contra
Zhou de Yin, no ano de 1057 A.C. A aproximagäo do Cometa de
Halley no ano 86 € a explicagáo provavel do relato de Josephus
de uma espada sobre Jerusalem por um ano intro. Em 1066 os

Dear vx Par Alcanar on Hart a amg Sopa e oe
Kotmos it do panne aban de Humbol desperto ne over Chars
Dar 0 deso Se segur uma carers cembnando expirar geosratia
helena ASUS Logo Japos la HER un posto do natural mo nave HMMS
‘Beagle, cute qua ognou A Crem dos Espec

Céue Inferno 78

normandos testemunharam outra apariçäo do cometa. Uma vez
que ele deveria, pensaram, pressagiar a queda de algum rei, o
cometa encorajou, de um modo precipitado, a Invasäo da Ingla-
terra por Wiliam, o Conquistador. O cometa foi devidamente
comentado em um periódico da época, a Tapeçaria de Bayeux
Em 1301, Giotto, um dos criadores da modema pintura realista,
testemunhou outra aparicéo do Cometa de Halley e o inseriu
cena da natiidade. O Grande Cometa de 1468 — outra aparigäo
do Cometa de Halley — produziu pánico na Europa cristä. Os
ristáos temiam a Deus, que enviava cometas e deveria estar do
lado dós turcos, que tinham acabado de conquistar Constant
opa

Os principals astrónomos dos séculos XVI e XVII eram fas-
inados pelos cometas, e até Neuton sentiu-se um pouco alor-
doado com eles, Descreveu-os como atravesando o espago
“como peixes no mar”, mas sendo dissipados pela luz solar. pois a
cauda cometaria sempre aponta na direçäo oposta ao Sol. David
Hume, em muitos casos um racionalista sem vinculos, pelo menos.
brineou com a nogáo que os cometas eram células reprodutoras
— éwulos ou esperma — dos sistemas planetários, que os
planetas eram produzidos por um tipo de sexo interestelar, Como.
estudante náo graduado, antes de ter inventado o telescépio de
reflexio, Newton passou muitas noites em claro, procurando
cometas no céu a olho nu, perseguindo-os com tal fervor que se
Sent doente de exaustäo. Seguindo as idéias de Tycho e Kepler,
Newton concluiu que os cometas vistos da Terra näo se moviam
dentro da nossa atmosfera, como tinham pensado Aristóteles e
‘outros, mas eram bem mais distantes do que a Lua, embora mais
próximos do que Satumo. Os cometas brihavam, assim como os.
Planetas, pelo reflexo da luz solar," e há equívocos em quem os
coloca quase tio longe quanto as estrelas fxas, pois se assim
fosse, 05 cometas näo poderiam receber mais luz do Sol do que
mossos planetas das estrelas ficas”. Mostrou que os cometas,
como os planetas, moviam-se em elipses: "Cometas so um tipo
de planeta que giram em órbitas muito excéntricas em torno do
Sol” Esta desmistiicagao e previsdo de órbitas planetárias
regulares levou seu amigo Edmund Halley, em 1707, a calcular
que os cometas de 1531,1807 e 1682 eram aparigóes com
intervalos de 76 anos do mesmo cometa, e previu seu retorno em
1758. © cometa retornou devidamente no tempo e recebeu o seu
nome posteriormente, O Cometa de Halley desempenhou um
papel interessante na historia da humanidade e talvez seja o alvo
da primera sonda espacial em um cometa durant o seu retomo
em 1986,

Cientistas modernos especializados em planetas argumen-
tam algumas vezes que uma colisio de um cometa com um
planeta pode dar uma contibuigáo significativa para a atmostera
Planetäria. Por exemplo, toda a agua na atmosfera de Marte hoje
Poderia ser jusiicada por um impacto recente de um pequeno
cometa. Newton notou que a materia nas caudas dos cometas &
dissipada no espago interplanetario, perdida pelo cometa e 205
poucos atraida graviacionalmente por planetas próximos.
Acredtava que a agua na Terra vem sendo gradualmente perdida
"gasta na Vegetaçdo e puirefaçäo e convertida em terra seca,

Gema. provavamante Meme Co
Taco Vans Pte ds Onen singe

80+ Cosmos

Cometa boy So, descoberto um 1965.
“damente, ónqaerte mides de œulôme.
os de comprmento. Falogralado mo

Os fuidos, se näo forem supridos por outros melos, deveräo
estar em um decréscimo continuo, e quase no existido no
final”. Newton parecia acreditar que os oceanos da Terra so de
rigem cometäria, e que a vida € possivel somente porque cai
‘materia cometária sobre o nosso planeta, Em uma medtaçäo
mística, ele segulu ainda mais: "Além disso, eu suspeito que €
principalmente dos cometas que provém o espito, que 6, na
verdade, a menor parte embora a mais sutil € util do nosso ar e
0 necessario para sustentar a vida de todas as coisas e ande.”

No inicio de 1868 o astrónomo Wiliam Huggins descobriu
uma identidade entre alguns aspectos no espectro de um cometa
e de um gas natural ou “oleficante”. Huggins tinha descoberto
matéria orgánica nos cometas; nos anos subsequentes, o
clanogénio, CN, consistindo de um átomo de carbono e niro-
génio, o fragmento molecular que forma os cianidos, fol ident-
ficado na cauda dos cometas. Em 1910, quando a Terra estava
para alravessar a cauda do Cometa de Halley, mulas pessoas
entraram em pánico, Näo repararam no fato de que a cauda de
um cometa 6 mutissimo difusa: o perigo real advindo do tóxico
de uma cauda cometária 6 bem menor que o proveniente, mes-
mo em 1910, da poluigáo industrial das grandes cidades.

Mas iso náo tranqulizou ninguém. Por exemplo, os cabe-
çalhos no Chronicle de Säo Francisco, de 15 de maio de 1910,
neuem “Cámera do Cometa to Grande quanto uma Casa”,
“Vinda do Cometa Economiza Reformas”, "Festas Cometárias
30 Agora Mania em Nova lorque”. O Examiner de Los Angeles
adotou uma linha de humor: "El! O Cometa Ja o Cianogenou?”.
“A Raga Humana Intera é Obrigada a um Banho Gasoso”
“Aguardem_a Bagunga”, “Mutos, Sentem o Gosto Rum da
Cianogénio”, "Vita Sobe em Árvores, Tenta Telefonar ao
Cometa”. Em 1910 houve festas, consumando casamentos antes
que o mundo terminasse por poluigáo cianogénica. Empresärios
vendiam pllulas anticometa, máscaras de gs, estas uma
premoniçäo sobrenatural dos campos de batalha da 1.* Guerra
Mundial

‘Alguma confusdo a respeto dos cometas permanece até
hhoje. Em 1957, eu era um estudante no Observatorio de Yerkes
da Universidade de Chicago. Sozinho no Observaterio, tarde da
ratte, ouv o telefone tocar insistentemente, Quando atendi, uma
voz denunciando um estado bem avangado de embriaguez,
disso: "Delxe-me falar com o astrónomo”. — "Posso ajudá-lo? —
“Bem, estamos em uma festa ao ar livre aqui em Wimete, e há
alguma coisa no cóu. O que é engragado é que se voce olhar
direto para ela, ela se val, mas se vocé nao oar, ela
permanece" À parte mais sensivel da retina ndo está no centro
do campo de Visio. Podemos ver estelas pälldas e outros obje-
tos desviando ligeiramente os olhos. Eu sabia que estava visivel
no céu um cometa recentemente descoberto chamado Arend-
Roland. Disse à pessoa que ela provaveimente estava vendo um
‘cometa, Houve uma longa pausa, seguida da pergunta: "O que ©
um cometa? "Um cometa”, eu disse, "6 uma bola de neve com
uma miha de extenso". Houve outra pausa, apés o que escute:
“Deixe-me falar com um astrónomo de verdade”. Quando © Co-

Céue inferno-81

meta de Halley reaparecer em 1986, pergunto-me quals os líderes
politicos que o temerdo, quais serdo as outras bobagens esperadas
como consequéncias.

Apesar dos planetas se moverem em suas órbitas elípticas.
‘em tomo do Sol, elas náo sáo muto elípticas. A primeira vista, säo,
de modo geral, indistinguiveis de círculos. Säo os cometas,
especialmente os de períodos longos, que apresentam órbitas
acentuadamente elípticas. Os planetas 540 os velhos marcadores
do tempo no sistema solar interior, os cometas säo os reoem-
chegados. Por que so as órbitas planetarias quase circulares e
prmorosamente separadas umas das outras? Porque se os
planetas possuissem Grbitas muito elípticas, seus caminhos se
Interceptariam e, mais cedo ou mais tarde, haveria uma colisáo. No.
inicio da historia do sistema solar, havia provavelmente muitos
planetas no processo de formacáo. Aqueles com órbitas cada vez
mais elípticas tendiam a cold e a se destrir, e os com órbitas
ireulares tendiam a crescer e a sobreviver. As drbitas dos planetas
atuais säo as órbitas dos sobrevventes desta selegäo natural
Colisional, a idade média estävel de um sistema solar dominado por
Impactos catastróficos inicial

Fotografe rua, dt de 1910, de Co
man Cotesia de Comar Press Pto

82: Cosmos

Cabeza do Comein de Haley, mao de
1910" Fotograñdo no Obsereteno de
Hotwen, Ep, por telescopio retro e 30

Cometa Hunasen, olgafado com um
islscépo Schi de 48 pelegadas, des
‘Shsarvatrios Hala, om 1081. a que ice
Bou 3 nome do sou descatidor, Mon
Hilmason (Copo 10) Palo tempo de
posi as pecas sd astros iones

No extremo do sistema solar, na escuridäo bem além dos
planetas, ha uma grande nuvem esférica de um mihäo de nü-
‘eos cometários, orbitando em tomo do Sol näo mais rapida-
mente do que um carro de corrida nas 500 mias de Indianápo-
lis* Um cometa razoavelmente tipico se pareceria com uma
gigantesca bola de neve, girando, de cerca de 1 quilémetro de
‘extensio. A maleria nunca penetra no límite da érbta de Pluto,
mas ocasionalmente uma estrela que passa faz uma agitaçäo e
Comogáo gravtacionals na nuvem cometaria, e um grupo de
cometas se acha em orbitas atamente elípticas mergulhando em
direcäo ao Sol. Apds seu caminho ter sido alterado por encontros
‘gravtacionais com Jupiter ou Satumo, a tendéncia 6, uma vez a
‘cada século, penetrar no sistema Solar interior. Em algum local
entre as órbitas de Jupiter e Marte comegará a aquecer-se.
Materia enviada para fora da atmosfera do Sol, o vento sola
carega fragmentos de poeira e gelo para trás do cometa
formando uma cauda incipiente. Se Jupiter tivesse 1 metro de
extenso, nosso cometa seria menor do que uma partícula de
posira, mas quando intlramente desenvoivido, sua cauda seria
{40 grande quanto as distancias entre os mundos, Quando dentro
do campo de visio da Terra, em uma de suas órbitas, estimularia
torrentes de fervor supersticioso entre os moras terenos. Mas,
eventualmente, eles entenderiam que o cometa náo vive na sua
atmosfera e sim entre os planetas. Calculariam entäo a sua
órbita, e talvez em um dia próximo langassem um veiculo
espacial devotado a explorar este visitante da regido das
esrelas.

Mais cedo ou mais tarde cometas colidiráo com planetas.
A Terra e seu companheiro Marte deveräo ser bombardeados por
cometas e pequenos asteröldes, os debris deixados acima da
ormacáo do sistema solar. Uma vez que há mais objetos pe-
‘quenos do que grandes, devera haver mais impactos de peque-
nos do que de grandes. Um impacto de um pequeno fragmento
comeärio com a Terra, como em Tunguska, deverá ocorrer uma
vez a cada mil anos, mas um impacto com um cometa grande
como o de Halley, cujo núcleo tem talvez quildmetros de largura,
deverä acontecer somente uma vez a cada bihäo de anos.

‘Quando um objeto pequeno e gelado colide com um pla-
neta ou com uma lua, talvez náo produza marcas, mas se o
‘objeto impactante for grande où formado principalmente de
rocha, ao impacto haverá uma explosáo formando um buraco
hemisferico chamado cratera de impacto. E se nenhum processo
apagar ou preencher a cratera, ela poderá perdurar por

“A Tera à = 1 und atvondmice = 150000000 da quigmevrs do Sal Sua
Gta quese eraser poss uma Branteränga de 277 = i Im Nesso paraa
tela ao ongo dest came a cada ano Um ano =x 10 segundo, de modo
que a voloodade ote da Tera #10? imax 10 809 = 20 kms Agora
Corinne à conan eta ox ctr um a qu mota eramos
Ssvondmeas,quace matado d compo par ¿sal mas prone Os oro
Comerc 16 8 opi (789 43) tom. so e mpg que parce gain em
{emo ao Sade qualquer um ales area de 1075 = 1077 233 10 ou ren
tiny 0 ne Uma va we too 0 Sl ute tong, a tamos ns
0 mas porns y à

Céue inferno = 83

bihées de anos. Näo ha quate erosáo na Lua, e quando exami-
namos sua superficie descobrimos que ela é coberta de crateras de
impacto, muito mais do que as que possam ser justifcadas pela
Populagäo um tanto esparsa de debris cometários e asteröides que
preenchem agora o sistema solar interior. A superficie lunar oferece
lum testemunho eloguente de uma era anterior de destruigäo de
mundos, há bihöes de anos.

As crateras de impacto näo se restíngem à Lua. Nós as
encontramos em todo 0 sistema solar interior, de Mercurio, 0 mais
próximo do Sol, a Venus coberto de nuvens, Marte e suas pequenas
luas Fobos e Deimos. Estes säo 08 planetas terrestres, nossa
familia de mundos, os planetas mais ou menos semelnantes à
Terra. Possuem superficies sólidas, interiores formados de rocha e
ferro, e atmosteras que variam do próximo ao vacuo a pressöes.
noventa vezes mais altas do que a da Terra, Eles se misturam em
torno do Sol, fonte de luz e calor, como pessoas acampadas em
torno da fogueira. Os planetas tém todos cerca de 4,6 bilhóes de
anos. Como a Lua, todos servem de testemunho de uma era de
catástrofes de impactos no inicio da história do sistema solar.

‘Quando nos encaminhamos para alóm de Marte, penetra-
mos em um regime bem diferente — o dominio de Jupiter e outros
Planetas gigantes ou jovianos. Säo mundos grandes, compostos
principalmente de hidrogénio e helio, com pequenas quantidades de
gases ricos em hidrogenio como o metano, a amónia e a agua. Näo
vemos superficies sólidas, somente a almostera e nuvens
mulicoloridas, So planetas de verdade e näo pequenos mundos
fragmentários, como a Terra. Cabem mil Terras dentro de Jupiter
Se um cometa ou um asterölde calr dentro da atmosfera de Jupiter.
ao deveremos esperar por uma cratera vsivel, mas somente por
uma interupçäo momentánea nas nuvens, Entretanto sabemos que
há uma históna de muitos bihöes de anos de colsöes também no
sistema solar exterior, porque Jupiter possui um grande sistema de
mais de uma dizia de luas, cinco das quals foram examinadas de
perto pela Voyager. Netas, mais uma vez encontramos evidencias
de catástrofes passadas. Quando o sistema solar for todo
explorado, provavelmente teremos evidencias de catástrofes de
impactos em todos os nove mundos, de Mercurio a Pluto, e em
todas as pequenas luas, cometas e asterôides.

Ha cerca de 10.000 erateras no lado mais próximo da Lua,
visieis nos telescópios da Terra. A maioria delas nas antigas terras
altas lunares, e datam da época do acréscimo final da Lua e dos
debris interplanetários. Há cerca de mil crateras acima de um
quiiömetro de extensäo nos mana (palavra latina para mares), nas
regióes de terras baixas que foram inundadas, talvez por lava, logo
após a formagio da Lua, cobrindo as erateras preexistentes. Assim,
podemos dizer, a grosso modo, que as crateras na Lua 540
formadas hoje num ritmo de 10' anos/1O' crateras = 10°
‘anosieratera, cem mil anos de intervalo entre os eventos
formadores, Já que deveria haver mais debris interplanetários
alguns bihöes de anos atrás, do que atualmente, teremos que
esperar mais de cem mil anos para ver uma cratera se formar na
Lua. Como a Terra possui uma área maior, a nossa espera deverá.

A space o Coma
a

84- Cosmos

complexed cados sobrpos

Céue Inferno = 85

ser cerca de dez mil anos entre colisées que deveráo formar
crateras t80 grandes como um quilémetro de largura em nosso
planeta. E, ja que se pensa que a Cratera do Meteoro no Arizona
$ uma cralera de impacto de um quilómetro,tenha vinte ou trinta
mil anos, as observacdes na Terra estáo de acordo com esses
cálculos impertetos.

(© impacto real de um pequeno cometa ou asteróide com a
Lua deverá provocar uma explosäo momentánea suficientemente
brihante para ser visivel da Terra. Podemos imaginar nossos
antecessores contemplando-a displicentemente em uma note, há
cem mil anos, e notando uma estranha nuvem surgindo da sua
parte n3o iluminada, repentinamente atingida pelos raios solares.
Nao esperamos que um evento desses tenha acontecido na
antighidade. As probablidades 530 de uma em cem. Contudo, há
um relato histórico que talvez descreva um impacto na Lua visto
da Terra a olho nu: no entardecer de 25 de junho de 1178, cinco
monges ingleses registraram algo extraordinärie, que foi
posteriormente descrito na crónica de Gervase de Canterbury
geralmente considerado um repórter digno de confanca dos
eventos políticos e culturais da sua época, pois havia entrevistado.
as testemunhas oculares que afimaram, seb juramento, a
veracidade da sua historia, A crónica é esta:

Era uma Lua Nova brihante, e como de costume nesta

fase seus comos estavam inclinados para o leste. De

repente o como superior dividlu-se em dois. No ponto
medio da dvisäo, brotou uma tocha famejante, langando

‘ogo, carvées em brasa e faíscas

Os astrónomos Derral Mulholland e Odile Calame calcula-
ram que um impacto lunar produzria uma nuvem de poeira
subindo da superficie com uma aparéncia correspondente multo
‘semelhante ao registro dos monges de Canterbury.

Se houve um impacto destes há somente 800 anos, a
cratera ainda deve ser visivel, A erosáo na Lua é täo ineficiente,
pela auséncia de ar e agua, que mesmo as crateras menores de
poucos bihöes de anos säo ainda comparativamente bem pre-
servadas, Da descrigäo registrada por Gervase, & possivel apon-
tar com preciso o setor da Lua ao qual se referem as observa-
ges. Os impactos produzem rales, rastros lineares de pô fino
lançado durante a explosäo. Estes raios estáo associados a crate-
ras mais recentes da Lua, por exemplo, as que receberam os
nomes de Aristarco, Copémico e Kepler. Enquanto as crateras
resistem à erosäo, na Lua, os ralos, sendo excepcionalmente
fines, näo. A medida que o tempo passa, a chegada de mictome-
teortos— poeira fina do espago — mexe e cobre os raios, e eles
desaparecem gradualmente, Estes raios so uma assinatura de
um impacto recente.

O meteorticista Jack Hartung mostrou que uma pequena
cratera muito recente, de aparéncia nova, com um sistema de
rales evidente está exatamente na regido da Lua referida pelos
monges de Canterbury. Foi chamada de Giordano Bruno, nome
de um erudito católico romano do século XVI que sustentava a
existéncia de uma infnidade de mundos e muitos deles habitados.
Por este e outros crimes, foi queimado na fogueira no ano de
1600.

A rater rada de Eure [o ato) na Lua
1 pao Orte Corasa da NASA

86+ Cosmos

‘engerho reirorafelor de laser na Lua

Outra exidéncia consistente desta iterpretagáo fol prepa
ada por Calame e Mulholland. Quando um objeto se choca com a
Lua em alta velocidade, ele Ihe impôe uma ligera oscilaçäo. As
vibragées cessam, mas näo antes de Oitocentos anos. Estes
astremecimentos podem ser estudados por técnicas de refexáo
de laser. Os astronautas da Apoio colocaram, em varios locals da
Lua, espelhos especials chamados relrorefetores de laser
‘Quando um ralo laser da Terra atinge o espelho, o tempo da
viagem de ida e vola pode ser medido com alta precisäo. O
tempo multiplicado pela velocidade da luz nos dá a distancia da
Lua naquele momento com uma preciso igualmente admiravel
Estas medidas, tradas varios anos, revelam estar a Lua librando,
où estremecendo com um período (cerca de trés anos) e
amplitude (cerca de très metros) consistentes com a idéia de que
A cratera Giordano Bruno fol formada há menos de mil anos.
Todas estas evidéncias edo corretas e Informativas, o cu
rioso, como disse, € um evento destes ocorrer em eras históricas,
mas a evidencia € o menos sugestivo, Como © Evento de
Tunguska e a Cratera do Meteoro nos lembram, nem todas as
catástrofes por impacto ocorreram no inicio da história do sistema
= solar. O fato de somente poucas das crateras lunares possulrem
sistemas de ralos extensos também nos lembra que, mesmo na
Lua, há alguma erosdo.* Notando quais as crateras que se
A ‘sobrepéem a oufras e outros sinals de estratgrafa lunar,
podemos reconstruir a seqüéncia de impactos e inundacdes
traves dos quais a produçäo da eratera Bruno 6 talvez o exemplo
mais recente, Na pág. 89 temos uma tentativa para visualizar os.
‘eventos que formaram a superficie do hemisféri lunar que vemos
da Terra

een Em ty

de Obseratoro Medora

Céue inferno -87

A Terra esta muito próxima da Lua. Se esta apresenta-se
180 castigada pelas crateras de impacto, como a Terra as eilou?
Por que crateras como a do Meteoro slo raras? Será que
cometas e asteróides tém como imprudente impactar um planeta
habitado? Isto € uma indulgéncia improvavel. A Unica explicagao
Possivel $ que as crateras de impacto säo formadas de modo
‘muito semelhante tanto na Terra como na Lua, mas nesta, sem ar
e água, elas so preservadas por periodos imensos de tempo,
enquanto que, na Tera, a erosdo lenta apaga-as ou enche-as. A
“gua corrente, a areia soprada pelo vento e a construçäo de uma
montanha säo procesos muito lentos, mas milhöes ou bihöes de
‘anos eo capazes de apagar lentamente até mesmo as cleatizes
dos grandes impactos.

Na superficie de qualquer lua ou planeta, haverá
processos extemos, como impactos do espago, e processos
internos como terremotos; haverá eventos catastróficos rápidos
como explosées vulcánicas e processos de lentidáo cruciantes
como a escavaçäo da superficie por pequenos gráos de arela
trazidos no ar. Nao há uma resposta geral para a pergunta de
quais processes säo dominantes, os extemos ou os internes, os
eventos raros mas vielentos, ou as ocorréncias comuns e
imperceptivels. Na Lua, os eventos extemos catastróficos
govemam; na Terra, 0s processos internos e lentos dominam.
Marte é um caso intermediario.

Entre as órbitas de Marte e Jupiter está um incontavel nú-
mero de asterdides, pequenissimos planetas terrestres. Os
mmaiores possuem poucas centenas de quiémetros. Multos pos
suem formas oblongas e esläo rolando pelo espago. Em alguns
casos parecem estar dois ou mais asterödes em orbitas mútuas e
fechadas, Colisóes entre asteröldes acontecem com freqUéncia, e
ocasionalmente um pedago é cortado, interceptando aci
dentaimente a Terra, caindo ao solo como um meteorito. Em
exibigáo em nossos museus, estäo fragmentos de mundos dis-
tantes. O einturäo de astercides & um grande moinho de trtura-
elo, produzindo pedagos cada vez menores até particulas de
Poeira. Os maiores pedagos de asteröides, junto com os come-
las, slo os prinépais responsáveis pelas crateras recentes em
superficies planetarias. O cinturáo de asteroides pode ser um
lugar onde náo se tenha formado um planeta em consequéncia
das mares gravitacionais do gigante próximo, Jupiter, ou talvez.
sejam os remanescentes espalhados de um planeta que explodiu,
embora isto parega improvavel, porque nenhum cientsta na Terra
sabe como um planeta pode explodr.

(Os anéis de Satumo lembram a aparéncia de asteróides
trinées de pequenas luazinhas geladas orbitando © planeta
Podem representar debris que a gravidade de Saturno impediu de
se unirem em uma lua próxima, cu podem ser os remanescentes
de uma lua que vagou muito próximo e foi despedacada pelas
marés gravtacionals. Ou talvez sejam o estado estävel de
equilibrio entre o material ejetado de uma lua de Saturno, como
Tits, e o que é atraído para a atmosfera do planeta. Jupiter e
Urano também possuem sistemas anelares, descobertos somente
fem tempos recentes e quase que invisiveis da Terra. Se Netuno
possul um anel é um problema que consta da agenda

0 era marines desconmecda ot

rabtares oa Tera, Fa primero coser

Vaca palos veses lunares da Undo Se

en AS mares provtaconns do Do
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Alo Crta Cores NASA

89- Cosmos

Céue Inferno 89

90+ Cosmos

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Grande Baca Cars. na superiae pr
Fada de Mercuno Foiomarac anne 10
Cora da ASA

dos cienistas dedicados ao estudo dos planetas. Os anéis podem
‘ser um adorn típico dos planetas do tipo joviano no Cosmos.

As princpais colisöes recentes de Saturno a Vénus foram
relacionadas em um livre popular chamado Mundos em Colisdo,
Publicado em 1850 pelo psiquiatra Immanuel Velkovsky. Propós
que um objeto de massa planetaria, ao qual chamou de cometa,
foi de alguma forma gerado no sistema de Jupiter. Ha cerca de
3.500 anos, fol trazido para dentro do sistema solar interior,
ocorrendo repelidos encontros com a Terra e Marte, e, como
conseguéncias incidentals, a separagäo do Mar Vermelho,
permitindo a Moisés e ao povo judeu escapar do faraó, e parando
‘© movimento de rotacáo da Terra ao comando de Josue. Também
provocou, disse, grandes erupgdes vulcánicas e inundacdes".
Velkowsky imaginou que o cometa, após um complicado jogo de
bilhar interplanetári, entrou em uma órbita estävel e quase
cular, tomando-se o planeta Venus, que sustentou näo existir
antes,

Como ja ponderel, estas idélas sto quase certamente
erradas. Os astrónomos náo objetam a idéia de grandes colisóes
¡somente a de grandes colsóes recentes. Em qualquer modelo do
sistema solar é impossivel mostrarem-se os tamanhos dos
planetas na mesma escala de suas órbitas, porque senäo eles
‘seriam muito pequenos para serem vistos Se fossem realmente
mostrados em escala, como gräos de poeira, notariamos com
faclidade que a chance de colsdo de um determinado cometa.
com a Terra em alguns milhares de anos & estraordinariamente
pequena. Alem disso, Venus é um planeta pobre em hidrogénio,
rochoso e metálico, enquanto Júpiter — de onde Dell

“Ase onde se a prmaratomta estencimente ne-miene par expioa um
rare nano far nevanste comatana 10 à proposta so EAN ¡toy de
un arundogdo de Noche lo o "choque asun do um Cometa

Céue inferno-91

koveky supds que se originasse — é formado quase que intera-
mente de hidrogénio. Náo há fontes de energía para cometas ou
planetas serem ejetados de Jupiter. Se algum passar peta Terra
nâo podera “parar” a sua rotago e muito menos inicia outra vez.
a vinte e quatro horas por dia. Nenhuma evidéncia geológica
suporta a ideia de uma fequéncia incomum de erupgöes
vulcánicas ou inundagóes há 3.500 anos. Há inscrigóes mesopo-
tämicas referentes a Vénus precedentes 20 tempo em que Vel:
Kovsky disse que Venus mudou de cometa para planeta.” É muito
Improvável que um objeto com uma órbita altamente elíptica
possa ser rapidamente movido para outra quase que
perfetamente circular como a de Vénus hoje. E assim por diante.

Mutas hipéteses propostas por cientistas bem como por
nâc-cientstas demonstraram ser erradas, mas a ciéncia & um
empreendimento autocorretivo, Para serem aceitas, todas as
delas novas devem suplantar padröes rigorosos de evidéncia. O.
pior aspecto do trabalho de Velkcovsky náo é a sua hipôtese estar
errada ou em contradiçäo a fatos frmemente estabelecidos, mas
de alguns que se inütulam cientistas tentarem omita. A ciéncia &
gerada por e devotada a uma livre inquisiçäo: qualquer hipôtese,
Indo importa qudo estranha ela seja, merece ser considerada em
seu mérito. A supressäo de idélas incómodas pode ser comum em
relgiäo e poltica, mas näo na triha do conhecimento; näo tem
abrigo no empenho da ciéncia, Näo sabemos quem, na senda
descobrirä novos aspectos fundamentais.

Vénus tem quase a mesma massa,~* tamanho e densidade
que a Terra. Como planeta mais próximo, tem sido por séculos
visto como a imä da Terra. Como será realmente a nossa ima?
Será perfumada, quente, um pouco mais cálida do que a Terra por
estar um pouco mais próxima do Sol? Tera crateras de impacto,
ou todas ja teráo soffide erosäo? Havera vule5es? Montanhas?
‘Oceanos? Vida?

A primeira pessoa a olhar para Vénus através do
telescópio foi Galleo em 1609. Vu um disco sem felgóes
caracteristicas. Galleo notou que atravessava fases, como a Lua,
de um tenue crescente a um disco chelo, e pela mesma razño.
algumas vezes estamos olhando principalmente para o lado
noturno de Venus, e outras para o lado diumo, uma descoberta
que reforgou, incidentalmente, a idéia de que a Terra gira em
tomo do Sol e näo vice-versa. A medida que otelescópio óptico se
aperfeigoou e sua resoluçäo (ou capacidade para determinar os
menores detalhes) aumentou, eles se voltaram sistematicamente
para Vénus. Mas náo fzeram melhor do que Galleo. Vénus era
evidentemente coberta por uma densa camada de nuvens que à
obscurecia. Quando olhamos para o planeta pela manhá ou ao
entardecer, vemos a luz solar refetida nas suas nuvens. Por

“0 sal cinco de Add, atando da meta do tercero miério aC mostra

vE por acoso, cerca de 3

NASA

92+ Cosmos

me movedqas cobren e
Pasados nas evados pelo vero também

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Iormacdos "geegens. Foto Marner 8

Mara oscuro, possveimene reines
lvado pare lora do crea em Mosogsos
fm ats Foo Manner 0. Cones 36
NASA.

séculos apôs a sua descoberta, a composigäo destas nuvens
Permanece inteiramente desconhecida.

A auséncia de algo visivel em Vénus levou alguns
lentstas à curiosa conclusäo de que a sua superficie era um
Pántano, como a Terra no Periodo Carbonifero. O argumento —
‘Se pudermos usar esta palavra — fol mais ou menos este

— No posso ver nada em Venus,
— Por que nao?

— Porque é totalmente coberto de nuvens.

— De que sáo formadas?

— De agua, naturalmente.

— Endo por que as nuvens de Vénus säo mais
espesas do que as da Terra?

— Porque há mais água lá.

— Mas, se há mais agua nas nuvens, deve haver mais
‘agua na superficie. Em que tipo de superficie ha muta
agua?

— Nos pántanos.

E se há päntanos, por que ndo ciacádeas, Ibélulas e
talvez até dinossauros em Venus? Observagäo: náo há
absolutamente nada visivel em Vénus, Conclusée: deve ser
‘coberto de vida. As nuvens amorfas refletem nossas proprias
Predisposigdes, Estamos vivos e admitimos a ideia da vida em
utros locals, Mas somente o acúmulo e coleta cuidadosos de
eudencias podemos dizer se um determinado mundo &
habitado, Venus näo força nossas precisposicées.

A primera indicagäo real da natureza de Venus velo
através de um trabalho com um prisma feito de vidro, ou uma
Superficie plana, chamada rede de diflaçäo coberta de linhas
finas, espagadas com regularidade. Quando um raio de luz
branca ordinäria passa através de uma fenda estreta e entáo
por um prisma ou rede, ela se divide em um arcosi de cores
chamado espectro, O espectro abrange das altas frequéncias”
da luz visivel até as baizas — violeta, azul, verde, amarelo,
laranja e vermelho. Vemos estas cores, por isso ele € chamado
de espectro de luz visivel. Mas ha muito mais luz do que este
pequeno segmento de espectro que podemos ver A
ftequencias mais altas, além do voleta, esta uma parte do
espectro chamada ultravileta, um tipo perfeltamente real de luz
que mata os micréblos. É invsivel a nes, mas prontamente
detectävel pelo abelhäo e por células fotoeléticas. Ha muito
mais no mundo do que aquilo que podemos ver. Além do
Utravoleta esta a parte de ralos X do espectro e, alom dele, os.
raies gama. A frequéncias mais baixas, no outro lado do
vemelho, está a parte infavemelha do espectro. Foi
descoberia colocando-se um termómetro sensivel no que &
preto, além do vermelho, aos nossos olhos. A temperatura
Subiu. Havia luz invsivel, a nés, incidindo no termómetro. À
‘cobra cascavel e semicondutores dopados detectam a Irradia-
cio infravermelha perfeitamente bem. Além do infravermelho
sta a vasta regido espectral das ondas de radio. Dos ralos

“Luz 6 um movimento odustéro; sua ren à o numero de Fares de
onda que Gomas, ingen am Heinen de tele coma 9 reine, am
time dodo undade de tempo, como um segundo. Quero mes ata 2

Céue Inferno - 93

¡gama as ondas de radio, estáo faixas igualmente importantes de
luz, todas üteis em astronomia. Mas, pelas lmitacóes de nossos
los, temos prejuizo — uma parcialidade — com esta pequena
faixa de arco-is a que chamamos de espectro de luz visivel

Em 1844, o flósofo Auguste Comte estava procurando por
um exemplo de um tipo de conhecimento que estaria sempre
escondido. Escolheu a composigdo dos planetas e estrelas
distantes. Nunca poderlamos visit-los pessoalmente, ele pensou,
e com nenhuma amostra disponivel jamais teriamos conhect-
mento sobre sua composigäo. Mas somente trés anos após a
morte de Comte, foi descoberto que o espectro podía ser utlizado
para determinar a química dos objetos distantes. Moléculas
diferentes e elementos químicos absorver frequéncias ou cores.
diferentes de luz, algumas vezes visiveis e oulras vezes em
qualquer outra parte no espectro. No espectro da atmosfera
planetéria, uma única linha preta representa uma imagem da
fenda na qual fata luz, a absorçäo da luz solar durante sua rápida.
passagem através do ar de um outro mundo, Cada linha destas &
formada por um tipo particular de molécula ou átomo. Cada
substäncia tem sua assinatura espectral caracteristica. Os gases.
fem Venus podem ser identifcados da Terra, a 60 mihôes de
quilémetros. Podemos predizer a composigáo do Sol (no qual o
él, nome do deus-sol grego Hélio, fol o primeiro encontrado), a
das estrelas A, magnéticas, ricas em európio, das galaxias
distantes analisadas através da luz coletiva de cem bihöes de
estrelas constiuintes. A espectroscopia astronómica é quase uma
técnica mágica que ainda me surpreende. Auguste Comte
escolheu um exemplo particularmente infeliz.

Se Vénus estivesse embebido, sería fácil ver as Inhas de
vapor d'égua no seu espectro. Mas as primeiras pesquisas es.
pectroscópicas fetas no Observatorio de Mount Wison por volta
de 1920 náo encontraram nenhuma sugestäo ou trago de vapor
Jägua acima das nuvens de Vénus, sugerindo uma superficie
árida como um deserto, circundada por nuvens de posira fina de
licato. Um estudo posterior revelou grandes quantidades de
dióxido de carbono na atmosfera, dando a entender a alguns
Genistas que toda a agua no planeta tínha-se combinado

So osx

Espectro prodaido quando una
tiravesse co fondo © depots um prema
Se wo” S Rowe un ás que abs
Go oreo sera meronado por uma

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24: Cosmos

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focos, 0 que puc a sun colorado
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Saphrados As dmensder desta
Boquena un slo aproximadamente 27
Viking 1 Omer Corsi da NASA

‘com hidrocarbonetos para formar o dióxido de carbono e que,
portanto, a superficie de Vénus seria um campo de dleo global
lum mar de petróleo abrangendo todo o planeta. Outros con-
duiram que näo havia vapor dägua acima das nuvens porque
‘estas eram muito fs, que toda a agua tinha-se condensado em
goticulas que ndo apresentavam o mesmo padräo das linhas
espectrais do vapor dágua. Sugeriram que o planeta era
totalmente coberto de agua, exceto talvez por uma linha incrus-
tada de calcário, como os rochedos de Dover. Pelas grandes
quantidades de dióxido de carbono na atmosfera, o mar näo
ppoderia ser de agua comum, a quimica-fisica requer agua e
bonatada. Propuseram que Vénus era um vaste oceano de agua
de Salt

Os primeiros indicios da stuaçäo verdadeira no vieram
dos estudos espectrascépicos nas partes do infravermelho pró-
ximo do espectro, mas da regido do radio. Um radictelescópio
trabalha mais como um medidor de luz do que como uma camera
É só apontélo para uma vasta regiño do céu e ele registrará
‘quanta energía, em uma determinada frequéncia de rádio, está
descendo para a Terra. Estamos acostumados a sinais de rádio
transmiidos por algumas variedades de vida inteligente, a saber:
estacdes de radio e televislo. Mas há multas outras razóes para
‘objetos naturals emiirem ondas de radio, Uma & que sio quentes,
«e quando, em 1956, um dos primeiros radioelescöpios fi votado
para Venus, descobriu-se que estava transmitindo ondas de radio
como se tivesse uma temperatura extremamente alta, Mas a
demonstraçäo principal de que a superficie de Vénus &
‘surpreendentemente quente fei fornecida pela nave espacial
soviética da série Venera que penetrou pela primeira vez as
nuvens obscuras e desceu na misteriosa e inacessivel superficie
do planeta mais próximo do nosso. Vénus sofia grande calor.
Nao havia pantanos, campos de óleo, nem oceanos de agua de
‘Seltz, Havendo dados insuficientes, € faci errar.

‘Quando cumprimento um amigo, eu o vejo na luz visivel
refetida, gerada pelo Sol ou por, digamos, uma lampada incan-
descente. Os ralos de luz saltam do meu amigo para os meus
‘alhos. Mas, os antigos, inclusive Euclides, acredtavam que nós
Vamos pelo poder dos raios de alguma forma emiidos pelos
dhos que contatavam tangivel e ativamente o objeto observado,
É uma nogäo natural e ainda pode ser encontrada, embora no.
justífque a invsiblidade dos objetos em um quarto escuro. Hoje
‘combinamos um laser e uma fotocélula, ou um transmissor de
radar e um radiolelescöpio, formando deste modo um contato
‘tivo da luz com objetos distantes. Na astronomia de radar, as
ondas de radio säo transmitidas por um telescópio na Terra
chocando-se, digamos, com o hemistério de Venus votado para
nés, e voltando, Em varios comprimentos de onda as nuvens e a
“atmosfera de Venus 520 inteiramente transparentes as ondas de
radio, Alguns locais na superficie as absorvem, ou se säo muito
ásperos espaham-nas em varias diregdes e, deste modo,
aparecem escuros as ondas de radio. Mas, seguindo-se os
Padröes da superficie, a medida que Venus gira, fi possivel pela
primeira vez determinar com seguranga a duraçéo do día, o

Céue Inferno - 95

tempo gasto por Venus para completar uma volta em tomo do seu
exo. Descobriu-se que em relaçäo as estrelas, Vénus girava uma
‘vez a cada 243 días terrestres, mas de modo reirogrado, na direçao
‘posta a todos os outros planetas no sistema solar interior. Como.
consequéncia, o Sol surge no aeste e se póe no leste, levando 118
dias terrestres entre um amanhecer e o outro, Além disso, ele
presenta quase que exatamente a mesma face para a Terra cada
vez que está mais próximo de nés. Embora a gravidade da Terra
tenha induzido Vénus a atingir sua propria taxa de rotaçäo da Terra
iso mio pode acontecer com rapidez, Venus näo pode ter
meramente alguns milhares de anos, pols deve ser tdo antigo como
todos os outros objetos no sistema solar interior.

‘Alguns dos mapas de radar de Vénus foram obtidos pelos
radiotelescépios de solo, outros, das Pioneers em órbita em tomo do
planeta. Todos mostram evidéncias comprobatorias de crateras de
impacto. Ha tantas que ndo säo nem maiores e nem menores do que
as terras altas lunares, e nos revelam mais uma vez que Vénus €
muto antigo, Mas as crateras so acentuadamente superficial,
quase como se as alas temperaturas de superficie tivessem
produzido um tipo de rocha que fui durante longos periodos de
tempo, como caramelo ou massa de Vidraceio, amolecendo
gradualmente as saliéncias. Há grandes mesas, duas vezes mais
akas do que o plató tibetano, um imenso vale fendido, possivelmente.
Yulcdes gigantes e uma montanha tho alta quanto o Everest, Vemos
agora, diante de nós, um mundo previamente escondido
inteiramente pelas nuvens — suas feigóes foram primeiramente
exploradas pelo radar e pelos veiculos espacial.

As temperaturas de superficie de Vénus, deduzidas pela
radioastronomia e confrmadas pelas medigdes dietas feitas pelas.
naves espacials sdo em torno de 480" C ou 800" F, mals quente que
qualquer foo doméstico, A pressäo correspondente, na superficie
$ 90 atmosferas, 80 vezes a pressäo que sentimos na atmosfera
terrestre, o equivalente o peso da agua, 1 quiômetro abaixo da
superficie dos oceanos. Para sobrevver em Vénus, uma nave
espacial deve ser refigerada e também construida como um
Submergivel de grande profundidad.

Cerca de doze veículos espaciais da Unido Soviética e dos
Estados Unidos entraram na densa atmosfera de Venus e pene:
traram em suas nuvens, e poucos sobreviveram, realmente, por uma
hora, mais ou menos, na superficie”. Duas naves espacials

“A Pioneer Vörus bi ume miss bem sucedi dos Estados Unidos om 1978-76,
comtsrerdo uma nue més e quero sordos de perdais stmosnco, duo GP
‘uns Sehronuerum bevemert na ineménco da spore de Vers, Ho mues
09703303 mespeados na are espanol de pesauso poro exp ds lotes
Erno osinavumanioe a berg de son de pencrago de Panas! Venus enero
tem radémevo do Ro do todo, estado poro maar smutanoonerts à
Wardade de ene Interemeha Rande de cova de bo cm Caco paso.

M tmostro do planeta O insrumerta necosstu de uma te joie ue ste
ques © corde na forme desejado, Come, © cote requreu à
agamerto de 12000 dares de taras de mporagse O serps de alenzaga
4:3 Estados Undos chad ue 2903 © dome se longed pore Vénus sera
‘Scomeravel na Tem e 0 amparo seso a arte.

mo eee com darera, OS Grass
Mostar laps stades com grandes
‘etaes. uma dels apreertade ono
Para um mopo sb! on dels de vé

I pao. S40. Goldene Trac
ht Propulsion Laboratory

Chsoup de uma rogito aquatral em
Vénus. vta de Tera pela rosoostone-
ma. À taxa agonal 6 a regido de onde
do vatoy nendum Sago ti. Voom.so
200 quiémevos de dámevo, As rates
fm Virus 180 muto supers quando
Comparado a curas de diámetros sem
macansmo da erosdo especial Goldtone
orton,

‘pects ole Voyager 2 rado umo di
tino de 1000000 de auiémotos. Cor
tole de NASA.

Rego de Ganmades, a mur ua do >
outros sas de importo lo Europa, es
Gaos da prendes sestes Jovanos
Como a Tera, apresertam pouces, Se à
fumes cars de mpado erosto deve
Ganmedes a Cals Foto Voyager >

da série Venera, soviética, traram fotos. Vamos seguir os passos
destas missöes pioneiras e vistar um outro mundo,

‘A luz visivel ordinäna, as nuvens amarelo pálidas de
Vénus podem ser distinguidas, mas ndo apresentam, como vu
Galileo, vitualmente nenhuma caracterisica. Se as cámeras
vissem em ultravioleta, veriamos um sistema de tempo
atmosférico; gracioso e complexo, de redemoinhos na alta
almosfera, onde os ventos giram em cerca de 100 metros por
segundo, 220 mihas por hora, A atmosfera de Vénus é composta
de 96% de dióxido de carbono. Há pequenos tragos de nitrogénio,
vapor d'âgua, argónio, monóxido de carbono e outros gases, mas
08 únicos hidrocarbonetos ou carboidratos presentes compdem
cerca de 0.1 parte por mihäo. As nuvens de Venus säo
principalmente uma solugáo concentrada de ácido sulfúrico
Pequenas quantidades de ácido hidrocioridrco e hidrofuórico
estáo também presentes. Mesmo em suas nuvens altas e fas
Vénus é um local totalmente tempestuoso.

‘Bem acima da cobertura de nuvens vsiveis, a cerca de 70
quilémetros de altitude, há uma neblina continua de pequenas
particulas. A 60 quilómetros, merguhamos nas nuvens e nos
encontramos circundados por goticulas de Acido sulfirico con-
centrado, Quanto mais nos aprofundamos, as particulas tendem a
ficar maiores. Ha vestigios do acre dióxido de enxofte, S0,, na
atmosfera inferior. Ele circula acima das nuvens e & transformado
pela luz ultravioleta do Sole recombinado com agua para formar o
ácido sulfurico que se condensa em goticulas, fxado e, em
altitudes inferiores, transformado novamente pelo calor em $0: e
‘agua, completando o circulo. Sempre chove ácido sulfurico em
Vénus, por todo o planeta, e nenhuma gota atinge a superficie

‘A névoa cor de entofre se estende para baixo por 45 quilé-
metros acima da superficie de Venus, onde emergimos em uma
atmosfera densa, mas clara como cristal. A pressäo atmosférica &
tdo alta, que näo podemos ver a atmosfera. A luz solar &
arremessada em todas as diregóes pelas moléculas atmoséricas
até que perdemos todas as imagens da superficie. Nao ha poeira,
nuvens, somente uma almosfera tornando-se palpável de to
densa. Uma profusäo de luz solar ¢ transmitida pelas nuvens
subjacentes, tanto quanto um dia nebuloso na Terra.

Com um calor seco, pressdes esmagadoras, gases
nocivos e tudo espalhando uma incandescéncia avermelhada e
sobrenatural, Vénus parece menos com a deusa do amor do que
com uma encamagäo do infemo. AL onde podemos
comprender, pelo menos alguns locals na superficie säo campos
juncados de rochas macias irregulares em confusäo, um cenário
estéril e hosil, suavizado aqui e ali por remanescentes erosados
de uma nave espacial abandonada de um planeta distante
inteiramente invisivel na atmosfera espessa, nublada e venenosa.”

“ost pisagom suce, no 4 prove! que has guna cise va, mesmo,
CGtaturas ber Glererts de née Moléculas Vológicas ergrcas e oras con
stes smplosmente se despesaçanon Como nssgénca Imapnemos que à
Vico rteigerte sus nase porta. Gerd que mvertaram a Bände? O Ge

Venus 6 um tipo de catástrofe de dimensöes planetärias.

Agora parece razoavelmente estabelecido que a alta
temperatura de superficie resulta em um macigo efeito de estufa. A
luz solar passa através da atmosfera e nuvens de Vénus, que sáo.
semiransparentes à luz visivel, e alinge a superficie. A superficie
‘sendo aquecida se empenha em radid-la de volta no espaco.

Por Venus ser muito mais io do que o Sol, ele emite mais
na regio do Infravermeiho do que na visivel do espectro. Contudo,
© didxido de carbono e o vapor d'água" na almostera de Venus sa.
quase que perfetamente opacos à radiagáo intravermelha, o calor
do Sol é retido com eficiencia, e a temperatura da superficie se
eleva, até que uma pequena quantidade de radiagSo infravermelha.
escorregue para fora desta atmosfera compacta e equilbre a luz
solar absorvida na almosfera inferior e na superficie.

Nosso mundo vizinhe 6 um lugar sombriamente desagra-
dável. Mas voltemos a Vénus, É fascinante a seu modo. Afnal
muitos heróis míticos na mitología grega e escandinava foram
celebrados por vistar o Inferno. Há também muito a ser aprendido
sobre o planeta, um Céu relativo, se comparado ao Inferno

A Esfinge, metade humana, metade leño, fol construida há.
mais de 5.500 anos. Sua face já foi dura e perfeitamente detalhada,
Agora & branda e gasta por mihares de anos de rajadas de

dos derogloriados des planetas estlos Mos Vénus 6 toteimerte coboro por
fons. À no 6 opradavoImarte longa (ora de 59 das de Tora) mas nada do
“nivaro onronmi sera vale 30 éssamos para o eeu natura de Vénus
‘Rl mesmo Sol sara sive rate 9 de, su Le seva Sapesado fundida
1% cd re. sm como um merguhador sé somente un bro une ©
Srvelrenta no Ano do mer. Se rie consu um rad

lam somerte conse teéncas, Algunas
Yezes mo pergute qual sera a romo delos so seros risiorts am Virus
‘oulosa de 48 guldmetros. à taver emerpr na lope des nurans har pela
fprmave vez testemueñar 0 iso unvers do Sol planetas esas

“Ase opora ena na uma pequana nceneza acerca de atundince do vapor
gua om Venus O cromológrato 40 gos na sonda co peetragto na Paneer
‘nus messou uma abundan do agua na aestora nar de Bguns dooms
por como. Por aut Inc, 0e messi mraremenss Ts por ves de
Ponairagáo sovsicos, Veneras 11 & 12, mostreram una ahundänea so um
Paname Se 9 poms das rai oido o sano de Banane Vapr dau
sanos so adequsdos para cortar queso todo a regagto de calor da
Epon e monto a temporature sao do Virus em corea 4a 450°C. 0 à
‘ogund deco foro ren” & mme esparanga 8 que esa soja 8 asimabra mus.
Hagıa, arto à abuse 4 ramon 8» sopar Opus toma 289 adoguntos
fore marter a temperanyo da supertce semen em tomo de 380°C. 0 &
Pocossare alg sro comte amasintn para cher 6 joi de To
‘ince nsavemeña remenesceter na esta smostnen, Cortudo, m pe
Fanss quesos de 80, CO 4 HC, oe Sasse no menu 6 Venus
Dorecor adequadet nera preptsto, Asam ss rer mises amencaras ©

nes as temperdurs de
Sigerige “em Venus Fotgrlado no
Son West Resear Insite, San Arto

imagens panorámicas de Venera 9 10,
Planet us. Em ambas a8 Imago 0
orton ata mo care orto soma Note
‘toma eros dat roch na superion
Comenta do mino Ge Pesquisa
Cetmiea, Academa de incas Soviets,

to egipcio e por chuvas ocasionais. Na cidade de
Nova lorque há um obelisco chamado Agulha de Cleópatra, que
veio do Egito. Em somente cerca de cem anos no Central Park da
Cidade, suas inscrigdes foram quase totalmente obiteradas pela
fumaga e poluigdo industrial — erosáo química semelhante à da
almosfera de Vénus, A erosäo na Terra apaga lentamente à
Informagdo, mas por serem graduais, o bater dos pingos de
chuva, © picar do gráo de arela, estes processos podem ser
“omitidos, As grandes estuturas, como cordiheiras de montanhas,
‘sobrevivem dez mihöes de anos, crateras de impacto menores
talvez cem mil e artefalos humanos em grande escala somente
alguns mihares. Além desta erosño lenta e uniforme, a destruicao
também ocorre através das grandes e pequenas catástrofes. A
Esfinge perdeu o nariz. Alguém o arrancou em um momento de
inútil profanagäo, talvez os turcos mamelucos au os soldados de
Napoles.
Em Vénus, na Terra e em outro lugar no sistema sola, há
"evidencias de destruigdo por catástrofe, moderada ou subjugada
uniformes. Na Terra, por
‘exemplo, a água da chuva canalizada para regalos,riachos e rios
de agua corrente, criando imensos reservatérios aluvials; em
Marte, os remanescentes de rios antigos, originando-se talvez.
debaixo do solo; em lo, lua de Jupiter, o que parecem ser largos.
canais formados por enchentes de enxofe líquido, Há impor-
tantes sistemas meteorológicos na Terra, na atmosfera alta de
Vénus e em Jupiter. Há tempestades de areia na Terra e em
Marte, relámpagos em Jupiter, Vénus e Terra. Vulcdes injetam
debris nas almosferas da Terra e de lo. Processos geológicos
intemos deformam lentamente as superficies de Venus, Marte,

e mpaco de 10 aulömeren de mar
à Tora ua em cada 600 DD anes, sobre & esto por ce
96 se aos am art ges

Amenea de Nowe, catre me

meri sutras. como a Europa 6 8
‘Sho redunde com mais Fequenca à
esos com mos ropes espeosimorte om copies gologcamorte sas

Céue inferno 99

Visbo de Virus oi em lz vrata
empresa nes mas do bapeto vel Os
canos sh ovens ave gram de
¿rata ara a esqueda, atas na mostra
de Vénus. Eolo Plnder Vos Orbs
Conesa da NASA.

ost do nosso planeta me,

‘Venus em erento, Vemos somente os
mans fous de solle de ade
nen À cor amoral pode sor Jona a
Boquenas uantdades do slemerto ense
Esto Planter Venas Oroter Catena do
Nasa

Ganimedes e Europa, bem como a da Terra. As galerias, prover-
biais pela sua lentidäo, produzem as principais ateracóes no
cenário da Terra e provavelmente também em Marte. Estes
processos náo necessilam ser constantes no tempo. À maior parte
da Europa ja fol um dia coberta de gelo. Ha alguns mihares de
‘anos, o local da alual cidade de Chicago foi enterrado sob tres
quiómetros de gelo. Em Marte e em outro local do sistema solar
encontramos características que náo podem ter sido produzidas
hoje, paisagens tahhadas há centenas de bihöes de anos quando
© cima do planeta era, provavelmente, bem diferente

au Inferno 101

ro} à Hong ong

102- Cosmos.

Ha ainda um outro fator que pode alterar a palsagem e o clima da
Terra: a vida inteligente, capaz de provocar as principais
alteragóes ambientais. Como Venus, a Terra possul um efeito de
estufa decorente do dióxido de carbono © do vapor dágua. A
temperatura global da Terra poderia estar abaixo do ponto de
‘congelamento da agua se nao fosse o efeko de estufa. Mantém
05 oceanos líquidos e a vida possivel. Uma pequena estufa & util
‘Como Vénus, a Terra também possul cerca de 90 atmosteras de
dióxido de carbono, mas concentrado na crosta como calcário e
‘outros carbonatos, nao na atmosfera. Se a Terra se aproximasse
somente um pouco do Sol, a temperatura subia igeiramente. Isto
reta parte do CO; das rochas da superficie gerando um efeto
de estufa maior, que, por seu turno, aumentaria ainda mais o calor
da superficie, Uma superficie mais quente vaporizaria ainda mais
carbonatos para o CO: e haveria a possiblidade de um efeito de
estufa ating temperaturas muito elevadas. É o que supomos ter
acontecido no inicio da historia de Vénus, pela sua proximidade
do Sol. O ambiente da superficie de Venus & um aviso: pode
acontecer um desastre a um planeta bem semelhante ao nosso.

As principals fontes de energia da nossa civiizacio indus-
tral atual 520 05 chamados combustiveis fosseis. Queimamos
madeira, óleo, carváo e gás natural, e, no processo, Iberamos
gases, principalmente CO., no ar. Conseqüentemente, a pro-
Porçäo do dióxido de carbono na atmosfera da Terra está au-
mentando drasticamente. A possiblidade de um efeto de estuta
descontrolado sugere que devemos tomar cuidado: mesmo uma
subida de um ou dois graus na temperatura global pode trazer
consequéncias catastróficas. Na queima de carvdo, dleo e
gasolma, estamos despejando também ácido sufürico na
atmosfera. Como Venus, nossa estratosfera agora possul ur
névea de pequenas goticulas de ácido sulfrico. Nossas principals
ciéades sio poluidas por moléculas nocivas. Näo com-
preendemos os efeitos a longo prazo do nosso curso de açäo.

Temos também alterado o cima no sentido oposto. Por
centenas de mihares de anos os seres humanos tám queimado e
decepado forestas e encorajado os animais domésticos a pastar
e destui a reMa. A agricultura que ulliza queimadas, o
desmatamento tropical industrial e a destruigáo das pastagens
sio desenfreadas hoje em dia. As florestas säo mais escuras que
as pastagens e estas mais escuras do que os deseros. Como
‘consequéncia, a quantidade de luz solar absorvida pelo solo tem
declinado e, pelas mudanças na utlzaçäo da Terra, estamos
balxando a temperatura da superficie do nosso planeta. Podera
este resftiamento aumentar o tamanho da calota polar que, pelo
‘seu brio, refete ainda mais luz solar, estiando © planeta e
levando a um efeto albedo" descontrolado?

Nosso adorável planeta azul, a Terra, & o único lar que
conhecemos. Vénus & muito quente; Marte, muito fio. A Terra é a
medida certa, © paraiso para os seres humanos. Além do

0 albedo 6 razo ane ou slrinciant om um planeta rfi
vola an espago O albedo de Tera 8 de cerca de 30. 50% O resto dez solar
‘abeonida plo so, sende response ola maga da tempora da supe

au Inferno - 103

mais, evoluimos aqui. Mas 0 nosso clma pode ser instével.
Estamos perturbando nosso pobre planeta de maneras sérias e
Contracterias. Haverá algum perigo em dirigir o ambiente da Terra
para o Infemo planetário de Venus, ou para a era glacial global de
Marte? A resposta é: ninguém sabe. O estudo do clima global, a
comparaçäo da Terra com outros mundos sáo assuntos que se
encontram nos estagios iniciais de desenvolvimento. Sao campos
Pobres onde impera a má vontade. Em nossa ignoráncia,
continuamos a empurrar e puxar, polur a atmosfera e a poluir a
terra, esquecendo o falo de que as conseqúencias a longo prazo
io amplamente desconhecidas.

Ha alguns mihöes de anos, quando os seres humanos
evoluiram na Terra, esta já era um mundo de meia-idade, com 4,8
bihdes de anos de catástrotes e impetuosidades da juventude.
Mas nds, humanos, representamos agora um novo e talvez o
decisivo fator. Nossa inteligéncia e tecnologia deram-nos poder de
afetar o clima, Como usaremos este poder? Desejaremos tolerar a
ignoráncia e a complacéncia afetando toda a famila humana?
Valorizaremos vantagens a curto prazo em vez do bem-estar da
Terra? Ou pensaremos em longa escala, considerando fihos e
netos, entendendo e protegendo os complexos sistemas de
sustentaçäo de vida do nosso planeta? A Terra é um mundo
pequeno e frágil Necessta ser tratada com carino,

u

A esbeçs 68 Estrgo, de Doseneron so
Cayo pubicaso em 1809 As paar 98
sie Pasa, ado, enteros na
San protamine go ose Coeavocar
fe tempos mae rames, eaten one

trom mits mos presas 63 Que

Nasa “

Capitulo V
TOADAS PARA
UM PLANETA VERMELHO

Nos pomares dos deuses, ele contemplou os canals.
— Enuma Elish, Sumer, c. 2500 a.C.

Um homem, descrito no Opiido, de Copémico, sendo esta Terra
rosea um Planeta, girando em torno do Sole iluminado por ele, como o
resto dos planetas, nao deve, mas algumas vezes fantasia... que o resto
dos Planetas possui Vestimentas e Mobiläri e, melhor ainda, Habitantes
assim como a Terra nossa... Mas estamos sempre aptos a concluir que
foi em váo inquiit-se, a Natureza deleitou-se em agir assim, prevendo ne-
huma probabilidade de algum día aüngi-se o fim da Invostigagäo
mas há um instante atrás, pensando um tanto seriamente sobre o
assunto (ndo que me considere um homem de visäo como os Grandes
Homens do passado, mas por ter a felicidade de viver após a maioria
deles), conclue que a Investigagao nao 6 130 impraticdvel, nem a maneira
de interromper as Diliculdades, mas abre um bom campo para as
Provaveis Conjecturas.

— Christiaan Huygens, Novas Conjecturas Concementes aos
Mundos Planetáros, Seus Habitantes e Produpóes, c. 1690

‘Tempo virä em que os Homens seräo capazes de estender seus
(thos... veráo Planetas como a Terra

— Christopher Wren, Discurso de Inauguragäo, Gresham College,
1657

106 Cosmos.

rs ftgratas da mesma faco de Muro
mostrando a cola par 8 mess ls
oscuras, mas io be sacos cans, A
minadns à escuns pester Ao ca
to, ra primavera oral a cat real o
© Covas ene as tras brinaris ©
fscuras € acontado. Estes ateragoos
Stroras foam atribuidas. por Percval
Lowel, proteagio e decimo da
‘gota morcana, À dret, o Ineo do
Vero, uma grande nem de. poora
mars esralquiada obscunch as
formas de superioe, lworecendo a Su
gesto ca tesposta 20 misao das
Storaces sazonais em Mano, Conesa do
ew Moco Sate Unvarsy Observe)

HA wurros ANOS, assim diz a história, um editor de um jor-
nal famoso enyiou um lelegrama a um asirónomo conceituade:
ENVIE PELO TELEGRAFO QUNHENTAS PALAVRAS SOBRE SE HA VIDA EM
MARTE. O astrónomo, respeltosamente, replcou: NINGUÉM SABE
NINGUEM SAGE, NINGUEM SABE... 250 vezes. A despeito desta con.
fissäo de ignoräncia, sustentada por uma persisténcia obstinada
de um especialista, ninguém a levou em consideracáo, e desde
aquela época ale hoje, ouvimos pronunciamentos autorizados de
pessoas que pensam ter concluido haver vida em Marto, e de
ulros que concluiram o contrário. Multas pessoas gostariam que
houvesse vida là, outras nao, Em ambos os lados tam havido
excesses. Estas grandes palkdes tém desgastado, de alguma
forma, a toleräncia da ambigüidade que é essencial à ciéncia
Parece existr mullas pessoas que simplesmente desejam uma
resposta, qualquer uma, e, portant, evitam o fardo de manter em
suas cabegas ao mesmo tempo duns possiblidades que se
‘excluem mutuamento. Alguns cientistas acrectaram que Marte era
habitado, baseados no que mais tarde fol provado ser uma
evidencia inconsistente. Outros concluiram que o planeta nao
nba vida porque uma pesquisa inicial de uma manitestagäo
particular de vida ndo tinha sido bem-sucedida, ou ambigua. As.
toadas tinham sido tocadas mals de uma vez para o planeta
vormeino,

Por que marcianos? Por que tantas especulagdes ansiosas
+ lantasias ardentes sobre os marcianos, o no, por exemplo
satumianos ou plutonianos? Porque Marie, à primeira vista, &
muito parecido com a Terra. É o planeta mais próximo cuja
superficie podemos ver. Há calotas de gelo polares, nuvens
brancas flutuando, tempestades de arola furiosas, características.
que se alteram sazonalmente em, sua superficie vermelha e até
um dia de vinte e quatro horas. É tentador imaginá-lo como um
mundo habitado. Marte tomou-se um tipo de arena milica sobre a
qual projotamos nossas esporangas © recolos terrenos, mas
nossas predisposigóes psicológicas prés ou contras nao nos
devem enganar. O que Importa & a evidéncia, e esta ainda ndo
‘existe. O Marte real é um mundo de prodigios. Suas promesas
luturas 880 bem mais intigantes do que nossas apreensöes do
pasado. Alualmente examinamos as arelas de Mart, estabele-
cemos uma presenca lá € preenchemos um século de sonhos!

Ninguém nos últimos anos do século XIX teria acreditado
que este mundo está sendo observado continua e profun-
“damente por inteligéncias maiores do que as do homem.
‘embora mortais; que enquanto os homens se ocupam com
8 varios Interesses, olas esti investigando e estudando
talvez quase to atentamente quanto pode um homem com
um microscóplo pesquisar as criaturas transtóras que
pululam e se mulliplicam em uma gota dägua. Com uma
“complacencia infinta os homens trabalharam de um lado
ao outro, em seu globo, em seus pequenos problemas,
asseguraram-se da certeza de seu dominio sobre a
matéria. É possivel que os Infusörios sobre 9 microscóplo
façam o mesmo, Ninguém considerou os mundos do es-
paco como fontes de perigo humano ou, para somente

Toadas para um Planeta Vermeiho - 107

acabar com a idéla de vida neles, como Impossivel ou
improvável. É curioso recordar alguns dos hábitos mentais
estes dias que já se foram. Quando muito, os homens
terrenos imaginaram que haveria outros homens em Marte,
talvez Inferiores a eles, o prontos a dar boas-vindas a um
empreendimento missionário. Embora atravessando 0
abismo do espago, mentes que seriam para as nossas,
‘como as nossas o säo para as dos animals que perecem,
intolectos vastos, frios e antipáticos, consideravam esta
Terra com olhos invejosos e tragaram lenta e seguramente
seus planos contra nós.

Estas linhas de abertura do clássico de 1897 da ficçäo
intfiea, de H. G. Wells, A Guerra dos Mundos, mantém seu poder
de atragäo até hoje." Em toda a nossa história, tem havido medo ou
esperanga de que haja vida além da Terra. Nos últimos cem anos,
esta premonigäo se centralizou em um ponto vermelho e brihante
de luz no cóu nolumo, Très anos antes de A Guerra dos Mundos ter
sido publicada, Percival Lowell, de Boston, fundou o principal
observalório onde foram desenvolvidas as pretensdes mais
elaboradas para detender a vida em Marte. Lowell dedicou-se à
Astronomia quando jovem, entrou para Harvard, desempenhou uma.
nomeaçäo diplomática sembaficial na Coréla, e engajou-se nas
buscas comuns da riqueza. Antes de falecer em 1916, fomeceu
contibuigóes importantes para o nosso conhecimento da natureza e
evoluçäo dos planetas, e deduçäo do universo em expansáo, e de
um modo decisivo para a descoberta do planeta Plutäo, que
recebeu este nome em sua lembranga. As primeiras duas letras do
nome Plutdo sao as iniiais de Percival Lowel. Seu simbolo & P. um
monograma planetäri.

Mas 0 amor de Lowel fi o planeta Marte. Contagiou-se com
a noticia, em 1877, de um astrónomo italiano, Giovanni Schiapareli,
des canal em Maite. Schiaparell registra, em uma aproximagao
de Marte com a Terra, uma intrincada rede de linhas retas simples o
duplas riscando áreas brihantos do planeta. Canal em italiano
significa canals, palavra que implica um projeto inteligente. À
martemania tomou conta da Europa e da América, e Lowell
descobru-se arrebatado por ela,

Em 1892, com a visdo falhando, Sohiaparell anunciou que
estava deixando a observagäo de Mare. Lowell resolveu continuar
© trabalho. Desejou um lugar de abservaçäo de primeira classe, nao
perturbado por nuvens ou luzes ciadinas, e marcado por um bom
‘seeing, termo astronómico para atmosfera estável através da qual o
emular do uma imagem astronómica, ao telescópio, 8 minimizado.
© seeing prejudicade é produzido por uma turbuléncia em pequena.
escala na atmosfera acima do telescóplo, sendo a razäo pela qual
as estrelas tremeluzem. Lowell construlu seu observalório bem
longe de casa, em Mars

Em 1898, em uma verso para orci produi par Orson Mes, ours da
Igor para loto doe Endes Unidos uma aso marciana quo amecronlou
sites do pesos na Amanca de sue. pr sedate oS

Portal Lowel, aos eraderta| o rove
anos, om Flags. Forata do Lowa
tena

In.

Mapa do Mare, postr ao de Sehapa-
ral. por Bown AS tas rolas o cuvas
sao oe “canas. Schaparll omens
musas formas © ice Segundo gatos
‘Sasscore iene forced uma ba,
par a nomencania marcara modoma,
uno Ceyso o Lola, oca da puso
dus Vings to

Lowell em seu taie rater e 24
Polgadas, no au ebeeratna, am 1900.
Fotogatao Lama Coste

Hil, Flagetal, Arizona." Desenhou as caracteristicas da supert
die de Mare, particularmente os canais que o magnetizavam.
Observagdes deste tipo nao sao faces. Gastam-se longas horas
no telescépio em uma fria macrugada. Mulas vezes a visäo $
pobre, e a imagem de Marte manchada e delurpada. Entáo
devemos Ignorar o que vimos. Ocasionalmente a imagem se
forma e as características do planeta se acendem momentanea-
monto de modo maravihoso, Devemos entáo lembrar o que fol
concedido e transmil-io precisamente para o papel, Devemos
colocar de lado nossos preconceites e, com mente aberta, de.
terminar os prodigios de Marte

‘As notas de Percival Lowell so repletas do que el
pensava ver: áreas escuras e brihantes, uma sugestao de calota
Polar, e canais, um planeta enfeltado com canals. Lowell
‘acreditou que estava vendo um trabalho, om tomo do globo, de
grandes valas de imgagäo que transportavam gua derretida das
Calotas polares aos habitantes sedentos das cidades equatorias.
Acrecitou que o planeta era habitado por uma raga mais antiga e
mais sábia, talvez bem diferente de nós, e que as alteragóes
sazonals nas áreas escuras eram devidas ao crescimento e
Getoriorasáo da vegetacáo. Acrediou que Marte era muito
‘semelhante à Terra, Resumindo, ele acreditou em multas coisas,

Lowell invocou um Marte antigo, árido, seco, um mundo
doserto. Ainda assim, um deserto semelhante à Terra. O Marte
de Lowell possuia multas características em comum com o Su:
oeste americano, onde estava localizado o Observatorio Lowell
Imaginou as temperaturas marcianas um pouco fra, mas 140
agradäveis como "o sul da Inglaterra". O ar era rareleito, me
havia oxigenio suficiente para ser respirável, A agua era rara,
mas a intrincada rede de canals transportava o líquido da vida
para todo o planeta.

‘Os desalios mais s6rios o contemporáneos om relagáo as
idéias de Lowell vieram de uma fonte inesperada. Em 1907,
pediram a Allred Russel Wallace, co-descobridor da evolugao
pola seleçäo natural, para rever um dos livros de Lowell. Tinha
‘sido engenheiro em sua juventude e, embora pouco crédulo em
argumentos como percepcáo extra sensoral era admiravolmente
ético quanto habllabiidade de Marte. Wallace provou que
Lowell tinha errado om seus cálculos sobre a temperatura média
fem Marte; em vez de ser temperado como o Sul da Inglatera,
era, com poucas excegóes, abalxo do ponto de congelamento da.
água. Deveria existr gelo permanente, uma subsuperficie
porpeluamente congolada, O ar era mulo mais raroteto do que
Lowell tinha calculado. As crateras deveriam ser táo abundantes
‘quanto na Lua. E quanto à gua nos canais, escreveu:

Uma tontativa de fazer o pouco excesso [de Agual, inun:
dando os canals, vajar através do equador para o hemisté
fio oposto, alravés de terveis roglôcs desénicas © ex.

“sanz Newon ascroveu "So a tea de face de um tlocópi pudor so
caca om pra Por Intro, anda Navara caros testes al dos qua os
Faeccógias ndo sito, Pis Ar atraves do qual ohamos as osea, ea am
pat remos. O unio focus 6 0 À mul sereno rang, como aver o
Encerrado no epocas montones ms ats aca das Nur compact

Toadas para um Planeta Vermolo - 109.

postas a um cóu sem nuvens como descreve Mr. Lowell, seria 0
trabalho de um grupo de homens loucos e näo de seres
Intelgentos. Deve-se armar, com seguranga, que nenhuma gota
agua escaparia pela evaporacáo ou infitagáo mesmo a centenas.
e milhas de sua fonte.

Esta andlise física devastadora e inteiramente correta fol
escrita por Wallace aos oitenta e quatro anos. Sua conclusáo foi de
que a vida om Marto — com isto queria dizer engenheiros. vis
interessados em hidráulica — era impossivel. Näo forneceu opiniäo
A respeito de microrganismos,

A despeito da crítica de Wallace e do fato de outros aströ-
nomos com tolescópios e locals de observacáo tao bons quanto os
de Lowell náo encontrarem nenhum sinal dos canas fabulosos, a
visäo de Lowell de Marte ganhou aceltagáo popular. Possuía a
qualidade mistica to antiga quanto o Génesis. Parte do seu apelo
era 0 fato do século XIX ter sido a época das maravihas da
engenharia,incluindo a construgäo de canais enormes, o de Suez
completado em 1869, o de Corinto, em 1893, o do Panamá, em
1914, as eclusas do Grande Lago, os canals de navegaçäo na parte
superior do Estado de Nova lorque e os canals de inigacáo no
Sudoeste americano. Se europeus e americanos podiam realizar
tals fetos, por que náo os marcianos? Por que náo poderia haver
um esforgo ainda mais elaborado por espécies mais antigas e
‘bias, batalhando corajosamente o avango da seca no planeta
vermelho?

Enviamos satélites de reconhecimento para a órbita de
Marte. O planeta Inter fol mapeado. Dots laboratórios automáticos
foram delxados em sua superficie. Os mistérios do planeta
aprofundaram desde a época de Lowell. Contudo, com fotogratias
bem mais detahadas do que qualquer visáo de Marte que Lowell
pudesse ter vislumbrado um da, náo descobrimos nenhum
Tribute da rede dos mencionados canals, nenhuma eolusa. Lowell
e Schiaparell e outros, observando sob condigóes adversas, foram
enganaos, em parte pela prodisposico para acredtar na vida em

are.

O cademo de observacóes de Percival Lowell reflete um
estorgo de muitos anos por trás de um telescópio, Revela que ele
estava a par do ceticismo expresado por outros astrónomos sobre
A realidade dos canals. Mostra um homem convencido de que tinha
realizado uma descoberta importante, e magoado por näo ter sido
comprendido. Em 21 de janeiro de 1905 houve uma observagäo
no cademo: "Canais duplos apareceram em um ciaráo, confimando
a realidade." Lendo as anolagdes, tive uma sensagäo distinta
Porem incómoda, de que ele realmente estava vendo alguma coisa,
Mas o que?

‘Quando Paul Fox, de Comel, © eu comparamos os mapas
de Lowell com a imagem orbital da Mariner 9, algumas vezes com
uma resolugäo mil vezes superior à do telescópio de reiragäo de
inte e quatro polegadas de Lowell, ndo encontramos virtualmente
nenhuma correlagdo. Nao que os olhos de Lowell tenham arrumado
detalhes suls e desconexos na superficie marciana em Inhas retas.
¡lusóris, pois náo havia sinais escuros ou cadeias de crateras na

Um des gabos de Mato, mostrando,
fem craque, canal que recabar
omas, preparad por Lowe. Conesa
Lo Ponol Cheat

Desento de Mare tot em 1309, pr €
IN Antonia na Franga. À cal polar o a
von co tao suo sparta, mas 300
oncoeniss cordgéce de Vsblade"
Donnum canal pode vituamonto ser 8.
Inguen.

‘trai alual de Mate noe coñados
doin Care. de Edgar Ace Burroughs,
Corts de Baal Books

Konstantin E6uardoven Taokorsiy
(1857-1939) pionero ruso do fogueo ©
Go oepazo, Potossr perno de pre
Ca, dudo 9 acción, dano con
Suites fordamantas para asters.
Visialzas uma épars quando co oros
manos seram tapazos do recon
02 malos amants de outs mandos, ©
Sm maigereas oxratrectes. Em 1003.
togueto de vanos estágios © de
Sirene, qt poza aora

posigáo da maioria de seus canals — e nem característica
alguma. Entáo, como ele poderia ter tragado os mesmos canais,
‘ano após ano? Como poderiam outros astrónomos, alguns dos
quais inham dito nao terem examinado de perto os mapas de
Lowell até suas próprias observagdes, terem tragado os mesmos
canals? Uma das grandes descobertas da missäo Mariner 9 em
Marte fol que exstem riscas e manchas na superficie marciana,
multas conectadas com os bordos altos das crateras de impacto,
que alteram segundo as estagdes. Sao decorrentes de poeira
cargada pelo vento, os padrdes variando de acordo com os
ventes sazonais. Mas as riscas näo apresentam características
de canais, e nem estáo na posigáo deles, e nenhuma delas 6,
individualmente, larga o suficiente para serem vistas da Terra em
primer plano. É improvável que haja caracterísicas reais em
Marte que paregam ligeramente com os canais de Lowell, nas
primeiras décadas do século, e que tenham desaparecido sem
deixar vestigios logo que as investigagdes, de perto, das
‘espagonaves tornaram-se possiveis.

(Os canais de Marte parecem ser alguma distungáo, sob
condigdes de visblidado diiceis da combinagáo máo/olho!
cérebro humanos (ou pelo menos para alguns seres humanos;
muitos outros astrónomos, observando com aparelhos igual
mente bons na época e logo depois de Lowell afirmaram náo
haver canal). Difclmente 6 uma expicagáo comproancivel,
tive uma suspeita incómoda de que algum aspecto essencial do
problema dos canais marcianos ainda permanece sem ser des:
coberto. Lowell sempre disse que a regularidade dos canais era
um sinal Inconfundivel da origem inteligente. Certamente isto 6
verdadero. A Única pergunta no respondida é de que lado do
telescópio estava a inteligéncia.

‘Os marcianos de Lowell eram bons e esperangosos, alé
um pouco parecidos com deuses, bem diferentes da ameaca
malévola colocada por Wells e Welles em A Guerra dos Mundos.
Ambas as idéias penetraram na imaginagáo pública através dos
suplementos de domingo e da flcgáo cientifca. Posso me lem.
bar, quando criança, lendo fascinado e com a respiragäo presa
08 contos sobre Marte de Edgar Rice Burroughs. Vioi com John
Carter, o aventureio romántico da Virginia, até “Barsoom, como
Marte era conhecido pelos seus habitantes. Segui rebanhos de
animais de carga com oto pés, os thoals. Pedi a mäo da
adorävel Dejah Thoris, princesa de Helium. Protegl um lutador
verde de quatro metros de altura chamado Tars Tarkas. Vaguei
‘om cidados espiraladas e estaçées bombeadoras abobadadas de
Barsoom, e a0 longo de balxios verdejantes nos canais de Nilo-
syris e Nepenthes.

Sera realmente possivel, de fato e näo por fantasia,
aventurarmo:nos com John Carter no Reino de Helium no planeta
Marte? Poderíamos sair em uma tarde de veráo, nosso caminho
“luminado pelas duas luas de Barsoom, para uma grande aven:
tura clentica? Mesmo se as conclusdes de Lowell sobre Maro,
Incluindo a existéncia dos canais fantásticos, resullassem em
nada, sua descrigáo do planeta possul ao menos uma virude:
motivou uma geragáo dos oo anos, eu inclusivo, a considerar a

Toadas para um Planeta Vermetho - 111

exploragáo dos planetas como uma possibildade real, e a per
guntarmos a nós mesmos se poderíamos um dia viajar para Marte.
Carter chegou lá ficando em pé em um campo aberto, abrindo seus.
bragos e máos, e formulando o desejo. Posso me lembrar,
gastando horas da minha meninice, os bragos resolutamente
esticados em um campo, implorando para aqulo que eu acreditava.
ser Marte, para me transportar. Nunca resultou em alguma coisa,
Deve havor algum outro modo.

‘Como os organismos, as máquinas também evoluem. ©
foguete comegou, como a pólvora que o propulsionou pela primeira
vez, na China, onde era ullizado com propósitos cerimoniais ©
estéticos. Importado para a Europa por volta do século XIV, fol
utlizado para a guerra e examinado no final do século XIX como
meio de transporte para os planetas, por um professor de escola
russo, Konstantin Tsiokovsky, e aperfeigoado com seriedade pela.
primeira vez para véos de grandes alítudes pelo cienista
americano Robert Goddard. O foguete miltar alemáo V-2 da
Segunda Guerra Mundial empregou vituamente todas as
Inovagbes de Goddard e culminou, em 1948, no lançamento de dois
eslágios da combinagáo do V-2WAC Corporal a uma altitude entáo
sem precedente de 400 quiômetros. Nos anos 50, os progresos.
dda engenharia, organizados por Sergei Korolov, na Uniäo Soviética,
+ por Wernher von Braun, nos Estados Unidos, foram consolidados.
como sistemas de disbuigáo para armas de destruigao de massa,
levando aos primeiros salélies ariiiais. A marcha do progresso
Continuou acelerada: vo orbital tipulado, homens em órbita e
depois descendo na Lua, e espagonaves näo tripuladas
atravesando o sistema solar. Multas outras nagóos jà langaram
espagonaves, incluindo a Inglaterra, Franca, Canadá, Japäo e
China, onde fol inventado pela primeira vez o foguete.

Entro as primeiras aplicagóes do fogueto espacial, como se
deliciaram em imaginar Tsiolkovsky e Goddard (que quando jovem
tinha lido Wells foi estimulado pelos escritos de Percival Lowell,
estáo uma estagáo clenilica orbital para observar a Terra a uma.
grande altitude e uma sonda para a pesquisa da vida em Mart.
Ambos os sonhos foram cumpridos

Imagine-se como um visitante, de um planeta alenigeno,
tranqiilo aproximando-se da Terra som preconcepçées. Sua visdo
do planeta melhora à medida que se aproxima, e os detalhes se
destacam. Será o planeta habitado? A que distancia poderá se
chegar a essa conclusdo? Se existem seres inteligentes, talvez
tenham criado estuturas com componentes muito contrastantes em
uma escala de alguns quliömetros, estruturas detectavels quando
seu sistema óptico e a distancia’ permilrem uma resolupäo de
uilömetros. Neste nivel de detalhe, a Terra parece completamente
frida. Nao há nenhum sinal de vida, inteligente ou náo, em locals.
que chamamos de Washington, Nova lorque, Boston, Moscou,
Londres, Paris, Berin, Téquio e Pequim. Se existem sores
imelgentes na Terra, näo modiicaram muito a palsagem para
padróos geométricos regulares a uma resolugáo de 1 qulömelro,

‘Mas quando aumentamos dez vezes a resolugáo, e come.
camos a ver detalhes com centenas de metros, a situacáo muda,

ih

Peter Manage Goda (1021045
nagnagao 10 dope pols tore
ano segun, ates do qualquer passos
‘or voago om um aoropano ou eco
(on rao, (adieu Mano Que
Viana aie Mat, Dedenu est de sua
Ven na sun consucio, Cotesia da God
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Goddard av tra» vie ano de ne,
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Estena da” Goddard ary, Sank
Ver.

112: Cosmos

Prison do producto quid que
nn clas. Langneo por” Rodent
cagar a 18 de marge do 1926 da la
Seni 6 sun ta Eo, em Aun Maeso
Erueons sau wo duo 2 1/2 segundos.
Cones da ‘Gossard Lara Cork
Ur

Muïtos lugares na Terra parecem cristalzar-se subitamente, re
velando um padräo intrincado de quadrados, retängulos, Inhas
fetas e cculos, Sao, na verdade, obras de engenharia de seres
inteligentes: estradas, auto-estradas, canal, terras culivadas,
ruas de cidades, um padräo revelando as duas paixdes humanas.
pela geometria euclidiana e tonrtorialdado, Nesta escala, a vida
inteligente pode ser discemida em Boston, Washington e Nova
lorque. À uma resolucáo de 10 metros, o grau de reconstrucño
dda palsagem pela primeira vez se toma realmente evidente, Os
seres humanos tém estado muito ocupados. Estas fotos foram
tiradas à luz do dia, mas ao crepúsculo ou durante a noite, outras
coisas se tomam vsiveis: pogos de petröleo na Libla e no Gallo
Pérsico, iuminagäo em mar allo pelos barcos pesqueiros
Japoneses, e as luzes brihantes das grandes cidades. E se A luz
do dia aumentarmos a nossa resolucáo para alingirmos alvos
com um meto, comecaremos a detectar, pela primeira vez,
organismos isolados como balelas, vacas, flamingos o pessoas.
A vida inteligente na Terra se revela primeiro através da
regularidade geométrica de suas construgóos. Se a rede de
canals de Lowell exisisse realmente, a conclusäo de seres inte
ligentes em Marte sera similarmente obrigatóia. Para a vida ser
detectada em Marte fotograficamente, mesmo da sua órbia,
<deveriam Igualmente haver grandes reconsirugdes da superficie
Civlizagóes técnicas, construgées de canais seriam fáceis de
detectar, mas exceto por uma ou duas caractoríticas enigma
ticas, nada deste tipo & aparente na profusäo estranha de
detalhes da superficie marciana descoberta por espaçonaves
nao tripuladas, Entretanto, existem mulas oulras possiblidades
que váo de plantas e animals grandes a microrganismos, e de
formas extintas até a um planeta que 6 agora e sempre fol sem
vida. Marte está muito mais distante do Sol do que a Terra, por
sso suas temperaturas säo consideravelmente mals balxas. Seu
ar é rareteito, e formado principalmente de dióxido de carbono,
mas também de algum nitrogenio molecular e argónto, e quan-
lidades muito pequenas de vapor d'âqua, oxigénio © ozónio.
Acümulos livres de agua liquida sao impossíveis, porque a pres:
säo almostérica em Marte é muito baixa para manter mesmo a
Agua fía sem ferver. Deve haver uma quantidado diminuta de
água líquida nos poros e capilares do solo. A quantidade de
‘xigénio $ muito pouca para um ser humano respirar, A abun-
dáncia do ozónio 6 táo pequena que a radiacáo ultravioleta
‘germicida do Sol atinge sem barreras a superficie marciana.
Poderia algum organismo sobreviver em um ambiente desses?
Para testar esta pergunta, muitos anos atrás, colegas
meus e eu preparamos cámaras que simulavam 0 ambiente
marciano como era conhecido, inoculamolas com
microrganismos terrestres © esperamos para ver se algum
sobreviveria. Estas cámaras foram, naturalmente, chamadas de
Jarros de Marte. Estes passaram por ciclos de temperatura em
faixas tipicas marcianas de um pouco acima do ponto de
congelamento no meio do día a cerca de -80"C logo após o
entardecer, em uma atmostera anóxica composta principalmente
de CO, e Ne. Lampadas ultravioletas reproduziram o Tuxo solar
violento. Náo havia Agua em estado líquido, exceto por filmes

Toadas para um Planeta Vermetho - 113

muito delgados umedecendo gräos de arela solados. Alguns
micréblos morreram gelados após a primeira note e näo tivemos
mais sinals deles. Outros arfaram e pereceram por falta de oxigénio
Alguns morreram de sede e outros rigidos pela luz ultravioleta, Mas.
‘sempre houve algumas variedades de micróbios terrestres que nao
necessitaram de oxigénio, que encerrados temporariamente saiam
{quando as temperaturas desciam muito; que se escondiam da luz
Utravioleta debaixo dos seixos ou das finas camadas de arela, Em
outras experiencias, quando havia pequenas quantidades de agua
líquida, os micröbios realmente cresciam. Se micróbios terrenos.
conseguem sobreviver no ambiente marciano, como o faráo de
modo bem melhor os micróbios marcianos, se existirem lá em
Marte? Primero temos que chegar It.
A Unido Soviética mantém um programa alivo de exploraçäo
Planetária náo tripulada. A cada um ou dois anos, as posigóes
relalvas dos planetas, e a física de Kepler e Newon permitem 0
lançamento de uma nave espacial para Vénus ou Marte, com um
gasto mínimo de energía. Desde o inicio dos anos 60, a URSS
perdeu poucas oportunidades. A persistencia soviética e a pericia
da engenharia tém sido primorosamente correspondidas. Cinco
espagonaves soviéticas — Veneras 8 a 12 — pousaram om Venus,
e enviaram com sucesso dados da superfície, proeza significativa
em uma atmosfera täo quente, densa e corrosiva. A despeito de
multas tentativas, a Unido Soviética nunca atingiu Marte com
‘sucesso, lugar, que pelo menos primeira vista parece muito mais
hospltaleo, com temperaturas amenas, almosfera muito menos.
carregada e gases mais benignos, com calotas polares geladas,
céus róseos e claros, grandes dunas de area, litos de rios antigos,
um grande vale fendido, a maior elevacáo vulcánica conhecida até
hoje no sistema solar e perfumadas tardes de veráo equatorial. E
{um mundo bom mais semolhante à Terra do que Venus.
Em 1971, a espagonave soviética Marte 3 penetrou na atmosfera
marciana. De acordo com a informagáo enviada automaticamente
pelo radio, os sistemas de pouso funcionaram com sucesso durante
a entrada, orientaram com correçäo sua cobertura proletora inferior,
© páraquedas desdobrou-se apropriadamente e os retrotoguetes.
foram ligados próximo ao término da descida. Segundo os dados
enviados da Marte 3, tinha pousado com sucesso no planeta
vermelho. Após isto, a espagonave enviou um fragmento de vinte
segundos de uma imagem de televisáo sem formas para a terra ©
entáo, misteriosamente, omiiu-se. Em 1973 uma sequéncia similar
de eventos ocorreu com a Marte 6, a falha acontecendo um
‘segundo após a chegada. O que houve de errado?
A primeira lustracáo que eu vi da Marte 3 fol em um seo postal
soviélico (denominagáo, 18 copeques) que representava a
espagonave descendo em um tipo de entulho púrpura. O artista
estava tentando, penso eu, lustar a poeira e os ventos fortes: a
Marte 3 tinha penetrado na atmosfera marciana durante uma
enorme e global tempestade de areia. Temos evidencias da missáo
US. Mariner 9 de ventos próximos à superficie de mais de 140
tros por segundo, Tanto nossos colegas soviéticos como nés,

Um togueto bam mals recente do com
sta huido de mul eras,
nacanderi ina’ dos osos sis de

ès dias om Gogo à Lua. Cortesia da

Toadas para um Planeta Vermelo- 115

pala va na Tera, na luz solar
esse qu Godcaid somava: à
cescorio (a) a comanas de
lemas do rosas mona o colo da

ren aravce dae avons, mas. nomtum
‘esto do vda. Una viso Ob fora ©
onto Pronimo nas aghcôneas do Mar
‘Verano (2) aprentomotto som vss, com
uma rocoso a dozenas do qulbmetos.
‘Sota to 08 Estados Unos (jm lea
So ntavomena, mostra nannur vo de
‘kom Nova Toque’ ou Washington” com
ua eclugse d 0 quiematros. tha Bory
(a) rae Bahamas: os reco de coral cab
fcrmados do one de animal, mas ito
io @ viol se ma. À uma resaugso de
‘orca 10 moos, a vada tolgere na Tora

‘ema event. Os quatre vermalos
(0) sao oras cutwadas por propos de
hgap peri de Yuma, Mona: proximo de
‘ota do Ao Coorado. As Lerlannaz de
‘aa Coachota, na pero superar conta,
ño aravessadas polo Cana Ak Amercan. ©
fe aio gl ent es de
Vasen e om anne flee a
ons Os cross 280 campos do tigo
Ingados por vos de aspordo rain A
Uri reseluzho de 10 motes a prosenga da
eigene a toa utana rovolda, come
‘om Baton Rouge. om Lousiana (N. a om
Wachen DC U) Fees Apolo, Lanceat ©
RE ar Conesin de NASA

a Nesta ago do cor iu, es parques os Ss aroneadas ASC om VAIO. Nas pes az
seras da agua, Yéom so as extoras des orcos Ere, à squerd, lomos uma visdo ou do Nora loque om luz
‘sive, de um REST de roconmemen, com una mor resolve eleva de algunas decenas de metros am Bcokyn
losers piano) A geonota vorica dos aranha céus no conto © na bata Manhatan so vv

allece Jamecs, qe lancom sombras compras, do Word Trace Gener A esta da Lberande pede ser asta no
Centro, esquerda New Josey ropa distancia. Coiasa da NASA. Cuando a resoLdo chega à 1 mao cu ens, 8
Sontast 4 ma, a lona de va dominante ro planet 5 toma detetavel Na dima fot vemos zas da toma comparto
‘sequin encsta aba, Cortesia de Photo Moseares, Foo de George Gerster.

Toadas para um Planota Vemolto- 117

achamos provavel que estes ventos pogaram a Marte 3, ¢ 0 seu
Pára-quedas foi desenrolado de tal modo que ela pousou
gentimente na direçäo vertical, mas com uma volocidado perigosa
a diregäo horizontal. Uma espagonave descendo sob o abrigo de
um grande pára-quedas 6 partcularmente vulnerável aos ventos
horizontais. Após o pouso, a Marte 3 pode ter realizado alguns
saltos, balido em um bloco ou outra saliencia marciana qualquer,
tombado, perdido o contato do radio com o seu "ónibus" condutor e
so quebrado,

Mas, por que a Marte 3 entrou no meio de uma grande
tempestade de areia? A missäo Marto 3 foi rigidamente organizada
antes do langamento. Cada passo foi ensalado por um computador
de bordo antes de deixar a Terra, Nao havia como alterar o
programa do computador, mesmo quando a grande extensäo da
tompestade de areia de 1971 tornou-se evidente, No jargáo da
exploracio espacial, a missio Marte 3 oi pré programada e náo
adaptada. O fracasso da Marte 6 6 ainda mais misterioso. Näo
havia tempestade atingindo o planeta todo quando a espagonave
penetrou na almosfera marciana e nenhuma razño de suspeita de
tempestade local, como acontece algumas vezes no silo do pouso,
Talvez tenha havido uma falha de engenharia no momento do
Pouso, ou quem sabe alguma coisa parcialmente perigosa na
Superficie marciana. A combinaçäo dos sucessos soviéticos
nos pousos em vénus e dos fracassos em Marte causou-nos
Interesse na missño americana Viking, que tinha sido informalmente
esquemalizada para fiar um de seus dois módulos
cuidadosamente na superficie. marciana no bicentenário dos
Estados Unidos, a 4 de julho de 1978. Como os predecessores
soviéticos, © módulo de exeursäo envoleu uma cobertura
protetora, um pára-quedas e retrofoguetes. A almostera de Marte
tom somente 1% da densidade da Terra, portanto foi desdobrado
um pára-quedas muito grande, de dezoito metros de diámetro, para
‘segurar a espagonave em sua entrada no ar rarefeto de Marte. A
almostera é 130 rarefeta que se a Viking Ivesse pousado em uma
elevagáo grande nao teria havido atmostera suficiente para brecar a
descida adequadamente; teria despedagado. Portanto, um requisito
era que o local da descida fosse uma regido baixa. Alravés
resultados da Mariner 9 e estudos do radar no solo, viemos a
conhecer mulas áreas.

Para evitar o provável destino da Marte 3, desejavamos que
a Viking pousasse em um local e hora em que os ventos estives-
sem menores. Os ventos que talvez tenham partido o módulo eram
provavelmente bastante fortes para levantar poeira da superficie.
‘Se pudéssemos conferr que o provavel local de pouso nao estava
Coberto por poeira fluluando e amontoandose, teriamos pelo menos
uma pequena chance de garantia que os ventos nao serlam
intoleravelmente altos. Esta foi uma das razées pelas quais cada
médulo da Viking foi levado para a 6rbila de Marte pela nave-mae e
a descida retardada até a nave-más ter sobrevoado o silo de
pouso. Descobrimos com a Mariner 9 que as mudangas
características nos padrées claros e escuros na superficie marciana
‘corriam durante os ventos fetes. Certamente nao poderiamos nos
certficar que o slo de pouso da Viking seria seguro, uma vez que

Amica do Note à not, sun conic
{io ens deinand pols lues dat
‘andes Gardes. Ai mesmo aora dO
{go Megan à scan ara dae
{use ca Grande Chicago. Esa magom
(uma anne a va na Tora. Mar.
sor o Cana nao 0 decomentos a
Bologa. mas sim da aurora orca
Cot do Dolo. Matorciog!
Satan Program

© Mectoränes Ooeto 4 noto. A sa ©
pol es cagas As los mas
Eran 40 causadas pa ina de
és mal nos campos patllros
Sigoins, que cm, evcantomento,
quads paa luminar uma boa parto
da Europa urbana Conesa d Dole
Verona State Program

Imagem votuma do Mar do Japko. As
Lo? male brnaniae so da quo 1200
‘mbarcagéoa das lolas Japonesa o co
foana, 6 pasea ooh uate. para
dar malen. Conesa co. Detenea
Hoeoriogea Saint Program,

Sol poeta sole Ausrande a dos
da ecpagonave Nate 3, anda om sum co.
bora de priogie de aamlagem, no
moe de una tompostade de peota ve.
fonts om 2 0 cezombre de 1974

as fotografas orbitals mostravam esses padräes mutáveis.
Nossas garantias nao podiam ser 100% seguras. Por exemplo,
ppoderiamos imaginar um sito de pouso no qual os ventos eram
lo fortes que toda a areia a sor removida já inha sido levada e
no teriamos a indicagáo dos ventos existentes na área. AS
previsdes meteorológicas detalhadas sobre o tempo atmosférico
‘om Marte eram naturalmente muito menos seguras do que as
previsdes para a Terra, (Em verdade um dos muitos objetivos da
missäo Viking era ampliar a nossa compreensáo do tempo em
‘ambos os planetas.)

Pelas Imitagdes de comunicagáo e temperatura, a Viking
no poderia descer em latitudes altas de Marte. Em uma distän-
cia maior do que 45 ou 50 graus em diregäo aos polos, em
ambos os hemistéios, © tempo util de comunicagao da
espaçonave com a Terra e o periodo durante o qual a nave
evitara as temperaturas pergosamente baixas leriam que ser
rasticamente curtos,

Nao desejávamos um pouso em um local muito
acidentado. A espagonave podera ter saltado o quebrado, ou
pelo menos o seu brago mecánico, tentando recolher amostras
do solo marciano, poderia ter entortado ou deixado ondulando
sem esperangas a um metro acima da superliie. Igualmente
näo desejariamos pousar em lugares muito macios. Se as tes
traves de pouso da espagonavo afundassom muito em um solo
pouco compacte, haveria várias conseqúéncias indesejáveis,
inclundo a Imoblizaçäo do brago de recolhimento de amostras.
Também náo desejévamos um solo mulo duo — se
pousássemos em um campo de lava virficada, por exemplo,
com nenhuma matéria pulverizada, o brago mecánico nao
conseguiria recolher as amostras vais para as experiéncias
Químicas e bllógicas estipuladas,

As melhores fotografías disponiveis de Marte, tiradas a
bordo na Mariner 9 om órbita, mostram formas do, no mínimo, 90
metros (100 jardas) de extensäo. As da Viking foram um pouco
molhores, Pedras do um metro (48s pés) eram inteiramente
invisiveis nas primeitas fotos e poderiam ter provocado
conseqüéncias desastrosas para a Viking. Além disso, a poeira
macia e profunda seria indetectävel nas fotos. Felizmente, há
‘uma técnica que nos permilu determinar a aspereza ou a suavi-
dade do local-candidato: o radar. Um local áspero espalharia o
feixe de radar da Terra para os lados e aparecería com pouco
rellexo, ou imagens escuras. Um lugar muito macio também
aparecería com pouce rellexo pelos varios intersticios entre os
‘rdos de areia espalhados. Enquanto permanecermos incapazes
de distinguir locals ásperos dos macios, näo haverä necessidade
de fazer laldisingáo para uma selegáo de silo de pouso, pois
‘ambos sabemos serem perigosos. As perspectivas preliminares.
pelo radar sugerer que entre um quarto a um tergo da área da
‘superficie de Marte deve ser radar-oscuro e, portanto, perigosa
para a Viking, Mas nem tudo de Marte pode ser visio por um
radar com base na Terra, somente uma parte entre 25° N e 25°
S. A nave Viking ndo possui sistema de radar proprio para
mapear a superfíio

Toadas para um Planeta Vermetho - 119

Havin mulas ditcldades, tavez damals. Nossos sitos de pouso
deveriam nâo ser muito alos, com mul vento, muito dos, muito
mas, mulo Asperos ou mulo proximos sos polos, € digno de
bsorvacio o lato de náo havor locals om Mario que saliizessem
Simufaneamente odas as nostas roivindcagées de seguranca
mas lou claro que nossa procura por um porto seguro levounos
à locals de desembarque que eram. de um modo geral
monétonos

Quando cada uma das Vikings, rave-mâe e mädub, pene
trou na Gita marciana ll, som añoractos, orientado o pouso am
uma deteminada latte’ de Mare. So 5 ponlo mais Baixo na
¿rota ora 21. de laudo norte marciana, o módulo descorn a 21°
N. embora pela espera do gre d planta, ea pudesse descer em
qualquer longitude. Assim, à equipe de ciéncia da Viking
Selecionou laludes-canciatas para as quals havera mais de um
local promisor. Para a Viking 1 0 ao oi 24° N. O primer local
foi em uma regio chamada Chrys {emo grego para a terra de
cure), próxima à conténcia de quatro canais snuosos que so
juga terem sido tathados, om spocas anteriores da Hsóra
marciana, pela agua coente. O local Chyse parecia satsazer o
cto de seguranga, mas as cbuervagóos de radar Inham sido
(ctas em áreas próximas e nono propre Chyse. As observacdes
de radar do Cheo foram tetas pela prmora vez, om
Consequéncia da geometa da Terra e de Mart, somente poucas
Semanas antes d dat crta do pouso,

A attudo canta Ga desción paraa Viking 2 foi 44° No
primeira local chamado Cydonia, escolido de acordo cam alguns
Arguments teóricos, aprosontava uma chance signicalva de
pequenas quantidados de ua Impida pelo menos durant algun
fompo do ano marciano. Uma vez que as oxperóncas Dolégicas
Ga ‘viking eram foremente votadas para organismos que se
Sentem bem na água quid, alguns cientes sustetaram que a
Chance da Viking encontar vida sera substancialmente mehor em
Oydoni. Por outre lado argumentos se que, em um planeta
toruento como Mare, os mieorganiemos estaram em toda a
pare, se exisissem. Pareca haver mérto em ambas as posiöes
6 fli decd. Contude, o qu estava car, que a 44°N era
completamente inacessvl venicasáo peo radar, terlamos que
acolar um neco considerävl de malogro com a Viking 2 se 1350
determinada para uma ala alado norte. Agumentou.se algumas
Vezos que se a Viking 1 eslava Pousada © tabahando bem,
devorlamos acatar um fisco maior para a Viking 2. Descobrtme
formulando recomendagdes consenadoras em telagño a uma
‘misao de um binao de glares. Podía imaginar, por exempl, uma
Fa em um instumento-chave em Chrys logo apés uma descidn
inflz © estrondosa em Cydonia. Para amplar as opgöce da
Viking, ours silos de pouso, gecloicamente bem diferentes de
Chryse e Cydonia, foram selecionados em uma regiäo pesquisada
pelo radar próximos à laude 4” S. A decisto se a Viking 2
Gescera em uma lattude alla ou baba ndo lol tomada alé
vítualmento 0 úlimo minuto, quando um lugar com o nome cheio
de esperanga, Utopia, e na mesma latitude de Cydonia, lol

Pas do grande Vale Maines, Vals Ma
nera. Dessert. em 19711972 poo
ier 9, poss S000 quires 6e
nero aproximadamente 100 qui
meros 66 legua. No Mado (20 al)
‘em 20 vales tris, causados pos
dementes ob vento arcas eas
de impact. sos ends pelo Mater
Sano e abano) moaram avalanches

Manner Comes da NASA, Mode de

120- Cosmos.

Ato: Mose code, de Viking Orr,
Go vés dos quatro grandes vacoes om
‘Tha, om Mar, nas pores. oc
Genie Valls Marner. A mogom do.
Main 3 cono) 0 model (abanc) do
Mere Campo, Olympus Mons. a mar
composko "wucanea | elrivament

Senseo no sistema. solar ae agora.
Sun ren 6 quase que a mesma do Esato
(& Anzona, Estados Unidos. o tom ques
és vezes a aura Go Mons Everest Sur
gu om uma ópcca de grande. aliado.
{Geologic em Mars, ha cerca de um o.
‘anos, Conesa da NASA. Modo de

escolhido. Quanto à Viking 1, o local de descida original parece,
após examinamos as folografias tiradas om órbila o trazidas
posteriormente para os dados do radar baseado na Tera,
inaceitavel mente perigoso. Por um momento lemi que a Viking!
tivesse sido condenada, como o lendário Flying Dutchman, a
vagar polos obus de Marte para compre, nao encontrando nunca
um cöu seguro. Casualmente descobrimos um ponto
conveniente, ainda em Chryse mas afastado da confluencia dos
{quatro canais antigos. O atraso impediu a descida a 4 de julho de
1976, mas fol acello por todos, pois uma descida desastrosa.
naquela época seria um presente pelos duzentos anos näo muito
‘agradavel para os Estados Unidos. Salmos da órbita e
entramos na atmostera marciana dezesseis dias depois

ApOs uma viagem interplanetária de um ano e melo, co-
rindo uma distancia de com milhöes de quilámetros, um longo
caminho em tomo do Sol, cada combinacáo nave-méduio fol
insorida om sua propria órbita à volta de Marto; as naves Inspo-
cionaram os locais candidatos a pouso; os módulos penetraram
na almostora marciana sob radiocomandos e orientaram corre-
lamente as coberturas proleloras, desdobraram o pára-quedas,
despojaram as coberturas e acionaram os reirologuetes. Em
Chryse e Utopia, pela primeira vez na histéria da humanidade,
uma espagonave linha descido, suave e seguramente, no
planeta vermelho. Estes pousos tiunfantes eram, em grande
parle, devidos à alla pericia investida em seu projeto, fabricagdo
+ testes, © à capacidad dos controladores da espagonave. Mas,
fem um planeta tao perigoso e misterioso como Marte, howe
também, pelo menos, sorte.

Imediatamente após o pouso chegaram as primeiras.
fotos. Sabíamos lor escolido locals mondtonos. A primeita foto
tirada pelo módulo Viking 1 ol de uma de suas hastes, pois no

Toadas para um Planeta Vermelo- 121

caso de estar em arela movediga queríamos saber antes da
espagonave desaparecer. O quadro se montou, linha por linha, até
que, com enorme preciso, vimos a haste assentada, ala o seca,
acima da superlice marciana. Logo chegaram outras fotos, cada
elemento enviado insividualmente pelo radio para a Terra.

Lembro-me imobilizado pela primeira imagem do pouso a
mostrar o horizonte de Marte. Nao era um mundo alienigeno,
pense, Conhecia lugares semelhantes áquele no Colorado, Arizona
© Nevada. Havia rochas © montes de arela, e uma pequena
elevagäo distantes, tdo natural e inconsciente como qualquer
paisagem na Terra. Marte 6 um local especial. Ficara surpreso em
ver um explorador grisalho emergir por trás de uma duna puxando a
sua mula, mas ao mesmo tempo a idéia parecia apropriada. Nada
remotamente parecido jamais passou pela minha mente em todas
as horas que passei examinando as imagens das Veneras 9 e 10
da superficie de Venus. De um modo ou outro, era um mundo ao
(Qual voltaríamos.

A paisagem era chapada, vermelha e adorävel: pedras at-
radas pela formagäo de uma cralera em alguma parte no horizonte,
pequenas dunas de areia, rochas que tinham sido repetidamente
cobertas e descobertas pela areia, penachos de material fino como
arela soprades polos ventos. De onde vieram as rochas? Qual a
quantidade de areia removida? Qual terd sido a história anterior do
planeta para criar rechas burladas, selxos sepultados e goivas
poligonais no solo? De que sio formadas as rochas? Do mesmo
‘material da areia? Será a areia, rocha pulverizada, ou será outra
coisa? Por que o céu é rosa? De que será formado o ar? Qual a
velocidade do vento? Haverá tremores de terra? Como mudaräo a
pressáo atmostérica e a aparéncia da paisagem de acordo com as
estagóes?

Para cada uma dessas pergunias, a Viking providenciou
resposlas definiivas ou, pelo menos, plausiveis. O Marto revelado
pela missäo Viking é de grande interesse, particularmente quando
lembramos que os locais de pouso foram escolhidos pela sua
monotonia. As cámeras náo revelaram os consirutores dos canais,
carros aéreos barsoomianos ou espadas curlas, princesas où
lutadores, sapos, pegadas, nem mesmo um cacto ou ralo-canguru.
Aé onde pudemos ver, náo havia nenhum sinal de vida."

“Talvez haja grandes formas de vida em Marte, mas näo nos dois
locais de pouso. Talvez haja pequenas formas de vida em cada
rocha e em cada gráo de arela. Na maior parte de sua história, as
regiôes da Terra náo cobertas por água pareceram bastante com
as do Marte atual, com uma atmosfera rica em diéxido de carbono,
luz ulravioleta incidindo diretamente na superlicie atravessando
uma atmosfera sem ozónio. Plantas e animais näo colonizaram a
Terra a náo ser nos üllmos 10% da história da Terra. E por tes
bilhdes de anos houve microrganismos em toda a parte. Procurar

"Hour agtagáo quando aparcou uma lora 8 mas, suposta gogo
‘marcana om dm poqueno so am Cvyso. Uma and postr revel lr do
Uma luso do uk € soma alada 20 eno Tumano par reSomecmano de
pasos. Pataca Lambo sauve que os marcnos Masson Wopagade com ©
abo lain, mas por un momar, occur om minha manto a acoagoss”
taras da uma para ca mrha nn Barsoom,

Guada e nevosto matnas nos terenos
proknamante arocados do Naci Lady
eth, à Laden da Note. Flo Ving
rot Coron és NASA,

Poredo do Hasai Ya, anto ve tava
‘om ine. Kane 6.0 noma pants de

Mars. As eratoras da mpacto no ll 880
serca Ca sun artgudado, À
nein de agua ligule ta spot
‘em tompos mas fecoris, na Rat mar
ana, sugerom que as conos para a
as eo dada ven mais or Pto.
Vii rer Coronada NASA.

Toreros de ertras próximos à Baca
yaa, inundados, Pa mute tempo, por
tomentose aqua qa, Esta flu das
‘arses pola sia a Cmos lo cosas
Par local de Pause a Vieng 1, mas qu.
Por mais de seguanga na alas
Basi an NASA

122: Cosmos

ing Lander, cam sua cobera proto
tora de atrissagem (parte ror ses
para do Omer e penetra na deigede
‘Smostra marcara, Anos e encontrar
‘gulometios abaco com sun capot polar
‘Sm destaque. Cao de Don Dave.

ng 1 Lancer, ainda com sua cobertura
quando o páraquedas comeca ao
Sesdobrar. Esta erapto de Don Das,
foes antes do pouso, mosta a esca no
Ioca orgna em Ghee, Pole dados
Sd ps oo, oc a Mart
Foro das nas pares e true om
aparato.

pola vida em Marte 6 procurar por micróbios.

A Viking estendeu as aptidöes humanas a outros
panoramas alienigenos. Em alguns aspectos ela $ 130 espera
‘como um galamhoto, em outros sua inteligéncia 6 de apenas uma
bacteria, Nao há nada de desmerecedor nestas comparagóes. A
natureza levou mihöes de anos para evolur uma bactéria, e
bihdes para fazer um galanhoto. Com pouca experiéncia neste
assunto, estamo-nos tomando muito hábeis nele. A Viking, como
nés, possul dos os, que trabalham também no inravermetno, e
nés, náo; um brago de recolhimento de amostras pode empurtar
pedras, cavar e apanhar material; um tipo de dedo consegue
medir a velocidade do vento e determinar sua diregáo; um boläo-
nariz e um botáoáll säo örgäos sensilvos com uma preciso
que nao possuimos, que detectam a presenga de vestigios de
moléculas; um ouvido interior com o qual determina oruído de um
temor e 0 balango sul provocado pelo vento na espagonave, e
um meio de detectar micrébios. A espagonave contém sua fonte
própria de poder radioato. Transmite pelo radio toda a
informagáo cientlica adquirida de volta para a Terra. Recebe
instrugdes daqui, de modo que os seres humanos podem
ponderar o significado dos resultados da Viking © ordenar à
‘espagonave a execugäo de novas tarefas.

Mas, qual O melhor camino, considerando-se as
restrgóes de tamanho, custo e exigéncias, para procurar por
micrebios em Marte? Näo podemos, pelo menos agora, enviar
para lá microbiólogos. Tive um amigo, um excelente microbiélogo
chamado Wolt Vishniae, da Universidade de Rochester, em Nova
lorque, Nos últimos anos da década de 50, quando estévamos
começando a pensar seriamente na procura da vida em Marte,
Vishniac descobriuse em um encontro cientifco onde um
astrónomo expressou sua surpresa pelo fato de biólogos nao
Possuirem nenhum instrumento automático simples e digno de
Confianga capaz de procurar por microrganismos. Decid fazer
alguma coisa sobre o assunto.

Dosonvolvou um pequeno engenho a ser enviado aos pla
netas. Seus amigos chamaram-no de A Armadiha de Wolt
Levaria um pequeno frasco de matéria orgánica nutriente para
Mart, prepararia uma amostra do solo marciano a ser misturada
ao nutriente e observaria a mudanga da turvacáo ou opacidade do
líquido enquanto os micröbios marcianos (se existissem)
cresceriam (se pudessem). A Armadiha de Wal! oi selecionada
junto com outros très experimentos para ira bordo da Viking. Dois.
os outros trás também loram escolhidos para levar alimentos 206
marcianos. O sucesso da Armadiha de Woll dependa de os
micróbios de Marte gostarem de gua líquida. Houve quem
pensasse que Vishniac Ina somente alogar os mierébios. Mas a
vantagem da armadiha estava no lato de näo haver exigencias
sobre o que os micröblos marcianos deveriam fazer com a sua
comida. Teriam somente que crescer. As oulras experiéncias
faziam suposigdes especificas a respelto dos gases que deveriam
ser expelidos ou assimilados pelos micróbios, suposi¢des que
eram mais do que conjecturas.

Toadas para um Planeta Vermolo - 129,

A Administragio Nacional de Aeronautica © Espago (sigla
em inglés NASA), que dirige o programa espacial dos Estados
Unidos, está sujeta a cortes orcamentários fregúentes e impre-
visveis. As atiidades científicas da NASA tm muito pouco apoio
do governo, de modo que a ciéncia é mulas vezes o alvo quando
há necessidade de diminuir a verba. Em 1971 decidiu:se que uma
das quatro experiéncias de microbiología deveria ser retirada, e foi
escolhida a Armadiha de Woll, Para Vishniac fol um tremendo
desapantamenlo, pois tinha dedicado doze anos à sua experiéncia

Muitos outros em seu lugar teriam evitado o Time de Biolo-
gía da Viking, mas Vishniae era um homem dedicado e tranaúil,
Decidiu entäo que poderia servir melhor à procura da vida em Marto
viajando para o lugar na Terra mais parecido com o ambiente de
Marte — os vales secos da Antártica. Alguns investigadores tinham
examinado anteriormente o solo antártico e concluido que os
poucos micrébios que tinham conseguido encontrar náo eram
realmente nativos dos vales secos, mas tinham parado lá, levados
de um outro ambiente mais clemente. Relembrando as experiencias
do Jarro de Marte, Vishniac acreditou que a vida era tenaz e que a
Antártica era perfellamente consistente com a microbiología. Se
mieréblos terrestres podiam viver em Marte, por que náo na
Antártica, que era de um modo geral mais quente e Umida, e inha
mais oxigénio e menos luz ulravioleta? Em oulras palavras,
descobrir a vida nos vales secos antáricos amplaria,
comespondentemente, as chances de vida em Marte, Vishniac
acreditou que as técnicas experimentais previamente ullizadas na
dedugáo da náo-existéncia de mierdblos origináros da Antartica
ram falhas. Os nutientes, apropriados ao ambiente confortävel de
um laboratório de microbología da universidade, náo eram dest-
nados à árida vastidáo polar.

Entáo, a 8 de novembro de 1973, Vishniac, com um novo
equipamento de microbiología, e um gedioge foram transportados
de helicóptero da estagdo de MeMurdo para uma área próxima ao
‘Monte Balder, um vale seco na serra de Asgard. Seu método era
implantar pequenas estagdes microblológicas no solo antartico e
relornar um més depois para recuperd-as. A 10 de dezembro de
1973, ele salu para recolher amostras no Monte Balder; sua salda
foi folografada a ts quiómetros de distancia. Foi a última vez que
alguém o viu vivo, Dezoito horas mais tarde seu corpo fol
descoberto na base de um penhasco de gelo. Ele tinha vagado em
uma área näo explorada anteriormente, escorregado no gelo,
rolado e artemessado a uma distancia de 150 metros. Talvez
alguma coisa tenha chamado sua alengäo, talvez um habitat
adequado aos micröbios, ou um pedago de verde que ninguém
tinha visto antes. Nunca saberemos. No pequeno Ivo marrom de
Aanotagóos que levava naquele dia, o úlimo registro diza: "Estagáo
202 — recolhida. Dez de dezembro de 1973, Hora: 22.30.
Temperatura do solo: -10°. Temperatura do ar: -16°." Era uma
temperatura típica de verdo em Marte,

Multas das ostagóes microblológicas de Vishniac ainda
estao ma Antartica, mas as amostras que vollaram foram exami
adas, utlizando-se seus métodos, por seus amigos e colegas

Ten plano na Chryas Panta, onde
Viking alrresou. O pouso so deu a
ovas qulomanos da sen assed
Pol cruz, apos a viagem ntorplanosra
Se aguas cerenas de mihdes de qu
matos: Contesta da NASA.

‘emma, da Vi om Marto, Os lago
tra do docena 00 handen poo.
amas os reroguetos.

124- Cosmos.

Wot Vaimir Vio, micro
(19221929) Foegralado na Artes, om

‘rage para réeahimento do amostas aa
‘cig om Maso, atando amas de
flo pas opéras mereboscgcae
ori um vain pouco potunds (2
Srta) Cora da NASA.

prolissionals. Uma grande variedade de micróbios, que teriam
sido indetectéveis pelas técnicas convencional, fol encontrada
‘essencialmente em cada local examinado, Uma nova espécie de
levedura, aparentemente única na Antárica, loi descoberta em
suas amostras pela sua vilva, Helen Simpson Viehniae. Grandes.
rochas que vollaram com esta expediçäo e foram examinadas
por Imre Friedmann apresentaram uma microbiología fascinante
— uma dois milmetros dentro da rocha as algas tinham
colonizado um mundo diminuto no qual foram aprisionadas
poquenas quantidades de água o tornada líquida. Em Marte um
local desses seria ainda mais interessante, porque enquanto a.
luz viivel necessária à fotossíntese penetrasse, a luz ulavioleta
‘germicida seria, pelo menos em parte, atenuada.

Por ter o projeto das missöes espacials Inalizado muitos
“anos antes do lançamento e por causa da morte de Vishniac, os
resultados de suas experiéncias na Antártica náo inluenciaram o
projeto Viking para a procura de vida marciana, Em geral as
‘oxperiéncias microblológicas náo sáo realizadas em lemperatu
ras ambientals baixas como em Marto, e a maoria náo prove
longos períodos de incubagäo. Todas admitem suposigöes de
‘como será o metabolismo marciano. Nao havia como procurar
pela vida dentro das rochas.

‘Cada médulo Viking fol equipado com um brago de reco:
Ihimento de amostras para apanhar material da superfície e
entáo lentamente desvié-lo para dentro da espaçonave, trans»
portando as partículas em uma pequena tremonha como um
encadeamento elétrico para cinco experiéncias diferentes: uma
sobre a química inorgánica do solo, outra para a procura de
moléculas orgánicas na arela e poeira, e trés para procura da
vida microbiana. Quando procuramos pela vida om um planeta,
estamos fazendo certas suposiöes. Tentamos, o melhor que
podemos, náo assumir que a vida em outros locals será como a
nossa aqui. Mas há límites naquilo a que nos propomos fazer.
Sabemos com detalhes como é aqui. Enquanto as experiéncias
biológicas da Viking sAo um estorgo pionelro, eles diicimente
representam uma procura definitiva pela vida em Mare. Os
resultados tém sido torturantes, perturbadores, provocalvos,
estimulantes e, pelo menos até pouco tempo, substancialmente
inconclusos.

Cada uma das trés experiencias microbiolégicas fazia
‘uma pergunta diferente, mas, em todas elas, a questäo era sobre
© metabollsmo marciano. Se ha mierorganismos no solo de
Marto, eles devem alimentar-se de comida e liberar os gases, ou
fentao assimilar os gases da atmosfera e, talvez com a ajuda da
luz solar, converté-los em material Gil. Entäo vamos trazer
‘alimentos para Marte © esperar que os marcianos, so existrem,
08 achem saborosos. Veremos entäo se surgirao novos gases
interessantes do solo. Ou entáo providenciaremos mossos
próprios gases marcados radioativamente e veremos se seräo
convertidos em matéria orgánica, e entáo concluir pela existencia
de pequenos marcianos.

Pelo crtéro estabelecido antes do langamento, duas das
trés oxperiéncias microbiológicas da Viking pareciam ter pro:

Toadas para um Planeta Vermetho - 125

duzide resultados positives. Primeiro, quando o solo marciano fol
misturado a uma sopa orgánica estérl da Terra, algo no solo
quimicamente rompeu a sopa, quase como que houvesse micrébios
aspiradores metabolizando um pacote de comidas terrenas.
‘Segundo, quando gases da Terr foram introduzidos na amosira de
solo marciano, eles se combinaram quimicamente com o solo,
quase como que se howvesse micréblos. fotossintetizadores,
gerando matéria orgánica dos gases almosféricos. Alngiram-se
resultados posiivos na microbiología marciana em sete amostras
diferentes em dois locals de Marte, separados por 5.000
quilémetros.

A situacáo & complexa, e os critérios do sucesso experimen-
tal talvez inadequados. Foram fotos esforgos enormes para montar
as experiéncias microblolégicas da Viking e testädae com uma
variedade de microblos. Poucos estorgos foram sites no sentido de
dosar as experiéncias com materiais inorgánicos adequados da
suporticie marciana. Marto náo 6 a Terra. Como nos lembra o
legado de Percival Lowell, podemos estar agindo como tolos. Talvez
haja uma química inorgánica exótica no solo marciano que é capaz,
por si mesma, na auséncia de micróblos marcianos, de oxidar
Suprimentos alímentares. Talvez haja algum catalisador especial
Inäo-vivo, Inorgánico, no solo que seja capaz de fixar os gases
almosterieos e converté-los em moléculas orgánicas.

As experiéncias recentes sugerem que talvez seja este o $

caso. Na grande tempestade de posira marciana de 1971, carac.

teristicas especials de poeira foram oblidas pelo espectiómetro 4

infravermelho da Mariner 9. Na anälise deste espectro O. B. Toon,
J. B, Pollack e eu descobrimos que certas caractersticas parecem
‘melhor explicadas pela montemarionita e outros tipos de argla.
Observagóes subsegüentes da Viking sustentaram a identlicapáo
de argla carregada pelo vento em Marte. Agora, A. Banin o y,
Rishpon descobriram que podem reproduzir alguns tipos de
caractorstlcas-chavo, as que parecem fotossíntoso e respiragáo,
das experiencias microbiológicas "bem-sucedidas” da Viking, se nas
experiencias laboratorais eles subsltulrem estas argilas pelo solo
marciano. As arglas possuem uma supericie alva complexa, como
absorver¢ liberar gases, e catlisar reagóes químicas. É muito cedo
para dizer so todos os resullados microbrológicos da Viking podem
er explicados pela química inorgánica, mas esta conclusäo näo
será mais surpreendente. A hipótese da argla dificilmente exclui a
vida em Marto, e certamente nos impele para a evidéncia da
microbiología marciana,

Mesmo assim, os resultados de Banin e Rishpon sáo de
¡grande importáncia biológica porque mostram que, na auséncia de
vida, pode haver um tipo de química de solo que realiza as mesmas
coisas que a vida. Na Terra, antes da vida, podem já ter existido
processos químicos parecidos com a respiragáo e a fotossíntese no
solo, talvez para serem incorporados à vida quando esta surgisse.
Alt disso, sabem que as argilas da montemorionita säo um
potente catalisador na combinagäo de aminoácidos na maior cadeía
de moléculas que lembram proteínas. As arglas da Tera primitiva

Ara posta ass pin comente &

Ectavori das caters de Impacto, no
Sis Monty Corea oa NASA.

Area posta trazas pla comento a
savon das pequenas roch no
{eel o pour aa Ving 1. Corsi da
NASA

126: Cosmos.

Pequeño movimento do aria, decomante
{hoz co vento, ma Bees co “09 Jon
Coria da NASA,

podem ter sido a foja da vida, e a química do Mare
contemporáneo esta fornecendo indicagóes da origem e historia
inicial da vida em nosso planeta,

‘A superficie marciana exibe multas erateras de impacto,
cada uma com 0 nome de uma pessoa, geralmente cientista. A
cratera Vishniac repousa, apropiadamente, na regido antárica
de Marte. Vishniac náo afirmou que havia vida em Marte, mas
disse meramento que era possivel e muitisimo importante saber
se existia, Se assim fosse, teriamos uma oportunidade única
para testar a generalidade da nossa forma de vida. E, se nao
houvesse vida em Marte, um planeta bem semelhante à Terra,
deveriamos entender o porqué, pois neste caso, como rassallau
Vishniac, triamos o clássico confronto cienilice da experiéncia e
86 controle.

A descoberta que os resultados microbiológicos da Viking
podiam ser explicados através da argia, que nao neceseitavam
importar em vida, ajudaram a resolver outro mistério: a expe
riencia da química orgánica da Viking nao apresentou nenhuma
sugestäo de matéria orgánica no solo marciano, Se há vida em
Marte, onde estáo os corpos mortos? Nao foram encontradas
moléculas orgánicas, nem blocos de construgáo de proteínas e
ácidos nuciéicos, nem hidrocarbonetos simples, nada da matéria
{a vida na Terra. Isto no € necessariamente uma contradigäo,
porque as experiéncias microbiológicas da Viking säo mil vezes
mais sensiveis (por átomo de carbono equivalente) do que as de
‘quimica, o parecer ter detectado matéria orgánica sintetizada no
solo maiciano.Isto nao nos deixa muita margem. O solo terrestre
é sobrecarregado de restos orgánicos de seres que já viverami o
marciano possul menos matéria orgánica do que a superficie da
Lua. Se sustentarmos a hipótese de vida deveremos supor que
08 corpos moros foram destruldos pela superfície oxidante de
Marto, quimicamente reativa, como um germe em uma garrala de
peróxido, ou que há vida, mas de um tipo no qual a química
orgánica desempenha um papel ndo tao central como 0 faz na
vida da Terra.

Esta Úlima altematiwa parecome ser uma detesa
especial. Sou, relutantemente, um chauvinista confesso do
carbone. O carbono 6 abundanie no Cosmos. Forma moléculas
maravihosamente complexas, boas para a vida. Também sou um
chauvnista da agua. A ägua efetua um sistema de solvente ideal
para a química orgánica trabalhar, e permanece líquida em uma
grande extensäo de temperaturas. Algumas vezes eu divago.
‘Tera o meu carinho por esses materials alguma coisa a ver com
© fato de ser formado principalmente por eles? Somos basica:
mente gua e carbono por serem estes materias abundantes na
Terra quando da origem da vida? Poderé a vida em outros locals,
por exemplo Marto, ser formada de materia diferente?

‘Sou uma colegäo de água, clio e moléculas orgánicas
chamada Car Sagan. Vocé 6 uma colegáo de moléculas quase
idónticas com um rálulo coletivo diferente, Mas isto é tudo? Näo
há nada dentro a näo ser moléculas? Algumas pessoas acham
esta idéia um tanto desmerecedora para a dignidade humana.
‘Quanto a mim, acho-a ascendente, pols o nosso universo permite
a evolupáo de máquinas moleculares táointincadas e sut como
nés.

Toadas para um Planeta Vermetho~ 127

Mas a essóncia da vida náo so só átomos e
moléculas simples que nos colocam de pé como ficamos.
Estamos sempre lendo que as químicas que constituem ©
corpo humano custam noventa e sete centavos ou dez
dólares, ou algo semelhante. É um tanto depressivo
descobrir que nossos corpos valem tao pouco. Entretanto,
estas estimativas sño, para seres humanos, reduzidas aos,
mossos componentes mais simples possiveis. Somos
formados principalmente de água, que custa quase nada; o
carbono 6 encontrado em forma de carváo, o céleio de
osos 08808 como giz; o nitrogénio em nossas proteínas.
como ar (também barato); o ferro em nosso sangue como
pregos enferrujados. Se ndo tivéssemos um conhecimento
‘maior, talvez tentássemos reunir todos os álomos que nos
formam, misturé-los em um grande recipiente e agitä.os.
Podemos fazer isto quantas vezes quisermos, mas no final
tudo o que teremos 6 uma mistura de átomos. O que mais
poderíamos esperar?

Harold Morowitz calculou o quanto custaria reunir os
constiuintes moleculares coretos que formam © ser
humano, comprando moléculas de armazéns químicos. A
resposta resultou em cerca de dez milhées de dólares, ©
que nos conforta um pouco mais. Mas mesmo assim nao
podemos misturar os elementos químicos e fazer emergir
um ser humano do Jarro. Isto está muito aldm da nossa
capacidade e permanecerá muito além por um bom

Ying Lande, na simuagäo do Vale da More,
Catôma Eng dot ionebos com támoras de
lalo est 0 dost do braso de recente

128: Cosmos

(nets Polar Nono do Mano, unas
por unas do ari oscura Esta cta ©
na prmoraimonte do glo de ag
Cabin Poor Cu 6, prropainent,
dance "da euvone conne. Para
Gapandono mover se à ala ajacania
A5 que ao levar maton da Tora, mas ce
anis conti à bangues fae Pol.
Manor Conesa aa NASA

Grandes rochedos ngremos de geb. de
(um quiémeo de alta nos paralos
arumados como placas empiadas na
‘Ghote Polar Nove de Mario OS pontos

Togulamerso sao maras 1
‘eats no sema Ge rage So Maines
Corona da NASA

período de tempo. Felizmente há outros métodos menos
‘spendiosos, mas ainda allamente seguros de se fazorem seres
humanos.

Penso que as formas de vida em muitos mundos consist
ro, de um modo geral, dos mesmos átomos que temos aqui,
talvez multas das mesmas moléculas básicas, como proteínas e
ácidos nucleicos, mas reunidos de maneiras nao familiares.
Talvez organismos que flutuem em densas almosferas planeta.
rías sojam muito semelhantes a nós em sua composigäo atómica,
Oxceto no fato de nao terem ossos o, portanto, náo necessitarem
de muito cálcio, Talvez em outros locals seja ullizado outro
solvente. O ácido fluoridrico poderá servir, embora nao haja
muita quantidade de for no Cosmos; este ácido provoca um
grande dano ao tipo de molécula que nos forma, mas outras
moléculas orgánicas, a cera de paralina por exemplo, säo perfel-
tamente estäveis em sua presenga. A amónia liquida seria um
sistema de solvente ainda melhor, pols é muito abundante no
Cosmos, mas só 6 líquida em mundos bem mais frios do que a
Terra ou Marte. A amónia 6 um gäs comum na Terra, como 0 é a
‘qua em Venus. Ou talvez existam formas vivas que náo pes:
‘suam um sistema solvente — vida om estado sólido, onde haja
sinaiselétricos propagando-se e nao moléculas futuando.

‘Mas estas idólas nao Iberam a nogáo de que as
experiéncias da Viking Indiquem a presenga de vida em Marte.
Neste mundo semelhante à Terra, com carbono e Agua
abundantes, a vida, se 6 que existe, deve ser baseada em
uimica orgánica. Os resultados desta, como os da microbiología
e os das nossas imagens, s80 todos consistentes com a náo-
existencia de vida nas finas panículas de Chryse e Utopia nos
últimos anos da década de 70. Talvez alguns milímetros dentro
das rochas (como nos vales secos da Antartica), ou em outro
local no planeta, ou em um tempo anterior, mals clemente, mas
näo onde e nem quando olhamos.

A exploracáo da Viking em Marte & uma missäo de
grande importancia histórica, a primeira procura séria por outros
tipos de vida que possam existir, a primeira sobrevivéncia de uma
‘espagonave funcionando por mais de uma hora em outro planeta
(a Viking 1 sobreviveu por anos), fonte de uma rica colheita de
dados sobre geología, sismología, mineralogía, meteorología e
mais mein düzia de oulras ciencias de oulro mundo. Como
prosseguiremos nestes avangos espotaculares? Alguns cientistas
esejam enviar um engenho automático que pousara, recolheria
amosiras do solo e as traia de volta à Terra, onde poderiam ser
examinadas em inúmeros detalhes em grandes laboratórios
sofisticados e näo naqueles microminiatuizados que somos
capazos de enviar à Marte. Doste modo, a maior parto das
ambigüidades das experiencias microbiológicas da Viking po-
deriam ser resolvidas, A química e a mineralogía do solo
ppoderiam ser determinadas; as rochas seriam paridas para
procura da vida na subsuperficie; poderiam ser realizados
centenas de testes de química orgánica e de vida, inclundo o
exame microscépio direlo sob uma grande gama de condigóes.
Poderiamos utilzar até as técnicas de marcagáo de Vishniac.

Toadas para um Planeta Vermetho - 129

Embora razoavelmente cispendiosa, uma missäo deste tipo está.
entro da nossa capacidade tecnológica,

Entretanto, ela encorrarä um novo perigo: a contaminagáo.
‘Se desejamos examinar, na Terra, as amostras do solo marciano à
procura de micróbios, náo devemos, naturalmente, esterlizar as
amostas antes de tocé-ias. O problema da expodigäo € trazé-los
vivos, Mas, o depois? Representaráo os mierorganismos marcianos
trazidos para a Terra um perigo para a saúde pública? Os
marcianos de H. C. Wells e Orson Welles, preocupados com a
supressäo de Bournemouth e Jersey City náo tinham notado, a náo
ser quando era tarde demals, que suas detesas imunolégicas eram
Inateis contra os micróbios da Terra. Será o inverso possivel? Este
é um aspecto séro e difícil. Näo devem existir micromarcianos. Se
existem, talvez possamos ingerir um qulo deles sem nenhum
eleito. Mas näo temos certeza e os riscos sáo altos. Se descjamos
lazer amostras nao esterizadas do solo marciano para a Terra
devemos ter um procedimento comedie allamente seguro, Há.
nagôes que desenvolvem e estocam armas bacteriologieas. Parece
ter havido acidentes ocasionals, mas até agora, que eu tenha
conhecimento, nao produziram uma pandemia global. Talvez as
amostras marcianas possam ser trazidas para a Terra com
Segurança, mas quero estar bem certo antes de considerar uma
missäo com retorno de amostras.

HA uma outra maneira de investigar Marte, e a gama inteira
de prazeres e descobertas que este planeta heterogéneo guarda
para nés. Minha maior omogáo no trabalho com as fotos da Viking
fol a fustrapäo perante a nossa imobiidade. Descobrime
Inconsciente ansiando pela volta da espaconave, como se este
laboratório, destinado A imobildade, estivesse porversamente
recusando a execular um pequeno salto. Como suspiramos para
fesquadrinhar aquela duna com o brago de recolhimento de
amostras, procurar pela vida por trás da rocha, e verificar se aquela
Colina distante seria o bordo de uma cratera! E nao muito distante,
na diregáo sudeste, eu sabia estarem os quatro canais sinuosos de
Chryso. Por todas as caractersticas torurantes e provocadoras dos
resultados da Viking, sei de centenas de locals em Marte bem mais
Interessantes do que os escolhidos para o pouso. O instrumento
ideal 6 um veículo motorizado transportando avangados
equipamentos para experiéncias principalmente sobre imagens,
química e biología. Protólipos desses veículos esto sendo
desenvowidos pela NASA. Sabem por si mesmos como ultapassar
rochas, descer ravinas e como sair de locais dices.” Está dentro
das nossas Imiagées fazer pousar um veiculo destes em Marto
que seja capaz de examinar cuidadosamente as vizinhancas,
¡deniicar o local mais interessante dentro do seu campo de visäo ©
estar lá, na mesma hora, no dia seguinte. Cada dia um novo lugar,
seguindo um caminho e atravessando a topografía variada deste
atraente planeta.

“A mar presta quimeras debas 1 quldmeto de altura, muto maior do
que as prämdes da Sumara, Egto, ou Nóxio.Parecem srosadas e antgas. ©
{fiver soja somente pequenas mönlannas, gasas pea tempo. Mas scam
una nvestgacio cuidadosa

A

As prmide do Eau. Foto Marina 9
Corea ASA.

130- Cosmos.

escenico de curo mundo: setos
cspabacos e duras do arin ohne
local de pus da Viking 1. om Enno
Core da NASA.

Fotegraña a stanca do Maro om ces
Era na Ens Por Nowe © an

Sogenicas a sotavento do grande wc.
marca, Om Mone Corea ca

Uma missáo deste tipo traria beneticios enormes, mesmo
se no houver vida em Marte. Poderiamos vagar nos vales dos
antigos rios, subir encostas de grandes montanhas vulcánicas,
passear ao longo das estranhas lormagées nas calotas polares.
geladas ou revistar mais de perto as convidativas piramides de
Marte. Seria palpável o Interesse público em uma missäo assim. A
cada dia chegaria em nossas casas pela televisdo uma nova série
de imagens. Poderíamos tragar a rota, ponderar suas descobertas.
e sugerir novos destinos. À jomada seria longa e o rover
obediente aos comandos do radio da Terra. Haveria tempo
suficiente para Idéias novas serem incorporadas A missäo. Um
binäo de pessoas poderia panicipar da exploraçäo de um outro
mundo.

IA área da superficie de Marte é exatamente tao grande
‘quanto a da Terra. Um reconhecimento completo nos ocuparia por
‘séculos. Tempo virä em que Marte estará todo explorado, um
tempo depeis das naves.robós lerem-no mapeado do alto o os
rovers vascuhado a superficie, um tempo em que as amostras JA
retomaram à Terra com seguranga e seres humanos passearam
nas arelas de Marte, E ent, o que faremos com Marte?

Ha tantos oxomplos de má utlizagäo humana da Terra que
basta lembrar o assunto para sentir calafios. Se há vida em
Marte, ereio que nao devemos fazer nada lá. Marte pertence
‘eno aos marcianos, mesmo se eles forem somente micróbios. A
existencia de uma blologia independente em um planeta próximo
6 um tesouro além dos nossos direitos, e a preservacáo daquela
vida deve, acredito, exceder qualquer outra ullizagáo de Marte.
Gontudo, suponho que o planeta náo possua vida. Náo 6 uma
fonte plausivel de matérias-primas, e o freie de Marte 4 Terra
sería muito dispendioso por multos séculos ainda. Seremos
capazes de viver em Marte? Poderíamos toá.o, de certo modo,
habitave!?

ertamente um mundo adorável, mas há, no nosso ponto
de vista provinciano, muitos aspectos errados com Marte, prin-
ipalmente a escassez de oxigénio, auséncia de água em forma
líquida e o alto fluxo de ultravioleta. (As temperaturas balxas nao
säo um obstáculo insuperável, como demonstram as estaçües
dlentlieas durante todo o ano na Antánica) Todos estes
problemas poderiam ser resolvidos se pudössemos fazer mais ar.
A pressües almosféricas mais altas, a agua liquida seria possivel.
‘Com mais oxigénio poderiamos respirar a almosfera e haveria
‘zonio para proteger a superficie da radiacáo ulravioleta solar.
Os canals sinuosos, placas polares superpostas e outras
evidencias sugerem que Marte já possuiu uma atmosfera mais
densa. É improvavel que estes gases tenham escapado de Marte.
Esto, portanto, em algum lugar do planeta. Alguns estäo qui
micamente combinados com as rochas da supericie, outros no
elo abaixo da superficie, mas a malaria deve estar nas atuais
calotas polares de gel.

Para vaporizar as calotas, teremos que aquecéas. Talvez
possamos cobrias com um pó escuro, aquecendo-as pela maior
absorçäo de luz solar, o oposto do que fazemos na Terra quando
estruimos florestas e pastagens. Mas a área da supertice das
calotas 6 muito grande. A poelra necesséria requereria 1.200

Toadas para um Planeta Vermetho - 191

reger
een
ee
og bester Stumo 5 pra vr tansporda de Tora à onsen spe’ Su à
Marte: mesmo assim, o vento poderia rolrar a pocira das rn Sea Aaa aca do
eee tate Caw ces erica ove hale aime ata
D de em una ram de on Queen fone crouse at
A se agg ied ln CD ery TES
Sens ea dune de ma nie oa ts Une rome
Mn ms eue an neon dau noie tt tie a

terrestres conseguem sobreviver em Marte. O que se tama sae vinge

Lacais do Sistema Sola: A exquerds, em
Ghee More. À tela, acia, nas ver
nés do Maure ‘Kea, Hava” A deta,
embao. em Utopia, Mare, com a grade
Strives. Corea da NASA e de Richard

necessário & um programa de selegáo artificial e engenharia
genética de plantas escuras, talvez liquens, que possam
sobreviver no meio ambiente muito mais severo. Se tas plantas.
Puderem ser criadas, imaginamo-las sendo semeadas na vasta
expansäo das calotas geladas marcianas, langando raízes,
espalhando-se, escurecendo as calotas, absorvendo a luz solar
aquecendo o gelo e liberando a antiga atmoslera marciana de
seu longo caliviro. Podemos até imaginar um tipo marciano
como Johnny Applesced, robó ou humano, vagando nas
imensiddes polares geladas em um esforgo que beneficia
somente as geragdes de seres humanos que viráo.

Esto concoito geral 6 chamado de formagáo de ambiente:
a alteragä de um panorama allenigeno em um outro mais apro-
priado para seres humanos. Por mihares de anos os seres hu-
‘manos conduziram-se de modo a alterar a temperatura global da
Terra em somente cerca de um grau através das alleragdes no
leo de estuta e no albedo, embora no ritmo atual de queima de
Ccombustivel f6ssil e destruigáo de florestas © pastagens pos-
‘Samos agora allerd-la em mais um grau em um século ou dois.

Estas e outras consideragées sugerem que uma escala de tempo
para uma lormagáo de ambiente signllcallvo de Marte seja
provavelmente entre centenas e milhares de anos. Em um tempo.

futuro de tecnología altamente avangada devemos ansiar näo Pod

somente para aumentar a pressäo almoslörica total e liquefazer
toda a Agua possivel, mas também transportar a água das calolas
polares derretidas para as regides equatorals mais quentes. Há,
naturalmente, um meio de fazé lo: podemos consruir canals.

9 gelo derretido da superfície e da camada abaixo podería
ser transportado por uma grande rede de canals. Isto 6 precisa-

134- Cosmos.

Dot propos ao tutos rover” do Mar, engennosa maquina
pudo one consi po Renaanser Roya Battle à
tm Ving Lander morado om chases de al. Os andan.
racional reta o thu incurs, prenante, Seaton So
oe oe pre

mente o que Percival Lowell, há menos de cem anos,
erroneamente propos que estava de fato acontecendo em
Marto. Ambos, Lowell o Wallace ontenderam que a
inospitablidade comparativa de Marte era decorrente da.
escassez de agua. Se existisse somente uma rede de
‘canals, a falta soria romodiada, a habitablidade de Marte
seria plausivel. As observagées de Lowell foram feitas
sb condigöes de visblidade extremamente diticeis.
Outros, como Schiapareli, já tinham observado algo
elhante a canais; foram chamados de canal antes de
Lowell ter iniciado o seu caso amoroso com Marte. Os
seres humanos tém demonstrado um talento para a
autodecepçäo quando suas emogóes sáo despertadas, o

Toadas para um Planeta Vermolo - 195

há poucas nogóes mais exeitantes do que a idéia de um planeta
vizinho habitado por seres intligentes.

O poder da idéia de Lowell pode talvez té: tornado uma
premoniçäo. Sua rede de canais foi construída por marcianos.
Talvez até isto possa ser uma profecia cometa: se for formado
um ambiente, será felo por seres humanos cuja residencia
permanente e afliagäo planetária € Marte. Os marcianos sere-
mos nés.

Aroa pequenas podras depostadas peto
rag de tecolimento de Amos da
Vi 2, na vi de acaso de expecta
e morasconcia de rl X (ora de co, no

Seterminar à quimica organica do solo
arcano. Cañas de sense promos
renta as experiencias mo campo da
Quimica orgánica © ca miccnalega.
Ecran da NASA

A Grande Mancha Varela de pte, giganatc sistema de lompostados de 40.00 quidmetos de comprimanto © 11.000

ulömotos e augura que se olor ac tna Gas nuvos ajacenios, Fo obrera pola primera voz am 1664 por Robert Hooke

{ pontesormentecootmnda por Chastaan Huygens. mera na Marcha Vora gra uma vaz a casos as toners,

8 eal braco, embabo, à dla, gra no svt oparo. No cant eequordo zupmio vores nuvns alcançando a Manch

‘errata ca rota para a osqurda. À rzáo pola qual a mancha vumaha 6 descanhwach, bom come o porgud de hav
mola dat amante, magem da Voyager 2 asia da NASA.

Capitulo VI

HISTORIAS
DE VIAJ ANTES

Existem muitos mundos ou haverá um só? Esta é uma das
Perguntas mais nobres e elevadas no estudo da Natureza.
‘Albertus Magnus, século XII

Nas primeiras épocas do mundo, os héus julgavam-se os únicos
habitantes da Terra, ou, se existiam outros, eles náo concebiam de que
‘maneira paderiam comercializar com eles sendo limitados pelo mar pro-
fundo e imenso; mas tempos depois inventaram os navios... Entáo talvez
existiam outros meios inventados para o transporte à Lua... Näo temos.
agora nenhum Drake ou Colombo para empreender esta viagem, ou um
Dédalo para inventar um transporte através da atmosfera. Entretanto,
néo duvido de que o tempo, que ainda 6 o pai de novas verdades e que
revelou para nös colsas que mossos ancestrals ignoravam, se
manifestará na nossa posteridade, naqullo que desejamos agora, mas
ainda näo sabemos.

— John Wilkins — A Doseoberta de um Mundo na Lua, 1638

Podemos nos elevar desta Terra insipida, véda do ato ©
considerar-mos se a Natureza delxou todas as suas dosposas e luxo
sobre este pequeno ponto de Sujeira. Entäo, como Viajantes em cidades
distantes, será melhor julgarmos aqull que 6 feito em casa, saber como
fazer uma estimaliva verdadeira e determinar o valor proprio de todas as
coisas. Estaremos menos aplos para admirar aquilo que este Mundo
chama de grande, desprezar nobremente as Frivolidades com que os.
homens em geral dedicam sua Afeiçäo quando soubermos que há uma
muliplicagäo de Terras habitadas e embelezé-las como a nossa.

— Chrisiaan Huygens, Os Mundos Celestiais Descobertos, c. 1690

138 Cosmos

‘Acepagenave Voyage em eig no Jot
Pron Lar, e cto à er
(Gere exo os porciones e ana Ne
‘Soar Doro do ago hexagonal wire
eo eno os compulacoas de Bordo; ©
‘Seno dourado po exar! 4. à Voyager
irersatar Recor (Capindo 11. No en
‘ono à drets ata laters de con
{ole ra que recemnacem varcs Ine
Homes) auto a camera Ge ala
Prosese,embano, a Grat, Corel cn.
Rx

ESTAE A ÉPOCA EM QUE OS SERES HUMANOS comegaram a
viajar na imensidäo do espago. As naves modernas que ocupam
as trajetorias keplerlanas dos planetas náo sáo tpuladas. Sao
bolamento consiruldas, robós semiinteligentes explorando
mundos desconhecidos. Viagens para o sistema solar exterior
so controladas de um único local no planeta Terra, o Jet Pro:
pulsion Laboratory (Laboratério de Propulsáo a Jato (sigla om
inglés, JPL)], na Administragäo Nacional de Aeronáutica e Espaco
‘em Pasadena, California,

A 9 de juino de 1979, uma espagonave chamada Voyager
2 chegou ao sistema de Jupiter. Levou quase dois anos viajando.
através do espago interplanetáro. A nave 6 feita de minôes de
partes separadas pereitamente unidas, de modo que se algum
{dos componentes lalhar, os outros tomaráo para si as responsa-
bilidades. A espagonave pesa 0,9 toneladas, © ocupara um
grande salto, Sua missáo a leva 130 distante do Sol que nao
pode ser carregada por energía solar, como as outras
espagonaves. A Voyager conta com uma pequena forga motriz
nuclear, aspitando centenas de watts da decomposigáo de uma
pila de plutónio, Seus trés computadores integrados e a maioria,
das suas fungdes de manutengäo — por exemplo, seu sistema de
controle de temperatura — estáo localizados no seu meio. Re.
cebe comandos da Terra e transmite pelo rádio suas descobertas.
de volta à Terra através de uma grande antena de 3,7 metros de
diámetro. A maloria dos seus instrumentos cientificos está em
uma plataforma de exploragáo que segue a pista de Jupiter ou de
qualquer uma de suas luas quando a espaconave passa
rapidamente por elas, Há muitos instrumentos cienticos —
espectrómetros ultravioleta e infravermelho, sensores para medir
particulas carregadas © campos magnéticos, e a radioemissáo de
Jupiter, mas as mais produliwas tém sido as duas cameras de
televisio, projetadas para trar dezenas de mihares de fotografías.
das has planetarias no sistema solar exterior

Hséris de Vijates- 139

Jupiter 6 rodeado por uma cobertura de particulas muito
carregadas invisiveis, porém extremamente perigosas. A espa:
gonave tem que alravessar 0 limite extemo deste cinturáo de
Fadiagäo para poder examinar de perto o planeta e suas luas, e
continuar sua missä em Satumo e além dole. As partículas
caregadas podem danificar os delicados instrumentos © tigir os
eletiónicos. Júpiter € também circundado por um anel de debris
sóldos, descoberto quatro meses antes pela Voyager 1, e que a
Voyager 2 teria que atravessar. Uma colisäo com um pequeno
seiro poderia ter feito a nave sallar loucamente, fora de controle,
sua antena incapaz de contatar a Terra, e seus dados perdidos
para sempre. Um pouco antes do Encontro, os controladores da
mssäo estvam apreensivos. Howe alguns alarmes e
emergéncias, mas a intelizéncia associada dos seres humanos na
Terra e dos robós no espago suplanlou o desaste.

Langada a 20 de agosto de 1977, movewse em uma
traelôria em arco depois de Marte, através do cinturáo de
asteröides, para aproximar-se do sistema de Júpiter e percorrer o
caminho entre o planeta e suas quatorze ou mais luas. A passagem
da Voyager por Júpiter acelerou-a em diregäo ao encontro de Sa-
tumo, A gravidade deste a impelrä para Urano. Após Urano, a
Voyager mergulhará além de Netuno, defxando o sistema solar e
tormando-se uma espagonave interestelar, fadada a vagar para
‘sempre no grande oceano entre as estela.

Estas viagens de exploraçäo e descoberta säo as últimas de
{uma longa série que caracterizou e distnguiu a históña humana.
Nos séculos XV e XVI podiamos viajar da Espanha aos Agores em
poucos dias — o mesmo tempo necessário agora para ir da Terra a.
Lua, Levävamos, naquela época, alguns meses para alravessar o
Oceano Állántico e atingir o que era conhecido como o Novo
Mundo, as Américas. Hoje levamos alguns meses para atravessar o
oceano do sistema solar interior e realizar uma descida em Marte
où Vénus, que sao, verdadeira e Iteralmente, novos mundos à
nossa espera. Nos séculos XVII e XVII podíamos viajar da Holanda
à China em um ano ou dois, o tempo que a Voyager levou para ir
a Terra a Jüpier O custo anual fol relativamente maior do que o
atual, mas em ambos os casos menos de um por cento do que o
Produto Nacional Bruto. Naves espacials atuais, com sua tipulagáo
de robos, sáo 08 precursores, a vanguarda das futuras expedigóes
humanas aos planetas. Já teremos trlhado o caminho antes.

A época entre os séculos XV e XVII representa um ponto
decisivo, importante, em nossa história. Ficou claro que poderíamos
nos aventurar em todas as partes do planeta. Embarcagóes à vela,
valentes e intrápidas, de mela duzia de nagdes européias
dispersaram.se nos oceanes. Havia muita motivagio para estas
viagens: ambigáo, avidez, orgulho nacional, fanatismo relgioso,
degradaçäo, curiosidade cientica, sede de aventura e a inutiidade

Ou, Utizando uma comparacdo rente um evo rliza ava, para exar da
trompa de Pepo implanta. vo ero, mesmo fompo que à Apo 11 low
fm La vagon Lun, fra Socenverso am um DO, à emo, 0 tempo que à
"ing hood or ss viajen à Male, O loro de apo da vis ura rl
MA que © rag pla Voyager para aorta 0 alam d Sota e PLR,

Sala de Contele no Jl Propuion Labo
valo, NASA.

140 Cosmos

Beci de Middeburg, Holanda, no ini do
cdo XVI. Phare do Adraon van de
Verne. Garona de Feiamossum, Ars
tor

Atas, susoniando of ofus salades.
Erculura quo so econta no Ei ea
Chiara Mona’ Astor

{do empreondimentos apropriados om Estromadura. Trabalhavam
tanto pelo mal quanto pelo bem, mas o resultado final foi unir a
Terra, diminuir o provincialismo, unilcar as espécies humanas e
ampliar poderosamente nosso conhecimento sobre o planeta e
‘sobre nós mesmos,

Símbolo da época da exploragäo e descobertas dos
barcos à vela é a revolucionaria República Holandesa do século
XVII. Tendo recentemente declarado sua independéncia do
poderoso império espanhol, aceïlou com mais ardor que
‘qualquer outra nagäo da época o Esclarecimento Europeu. Era
uma sociedade racional, organizada e criativa. Mas por estarem
fechados o comércio e os portos espanhöis à navagagäo
holandesa, a sobrevivencia económica da diminuta república
dependeu da sua hablidade para formar homens e desdobrar
uma grande tota de veleiros comerciais

AA Companhia Holandesa das indias Orientals, uma em-
presa estatal e privada, enviou navios aos cantos do mundo para
“dquiir mercadorias raras e revende.las com lucro à Europa,
Estas viagens eram o sangue para a vida da República. Cartas e
mapas de navegaçäo eram cassilicados como segredo de es.
ado. Os navios embarcavam, com fregúéncia, com ordens se
ladas. O Mar de Barents, no Oceano Arico, © a Tasmania, na
‘Australia, receberam nomes de capes holandeses. As expedi-
es náo eram meramente exploragóes comerciais, embora isto
‘existsse em grande escala, mas também elementos poderosos
de aventura cientca e deleite pela descoberta de novas terras,
plantas, arimais e povos: a busca de conhecimento para a
própria seguranca.

A Cámara Municipal de Amsterdá rellete a autoimagem
secular e conliante da Holanda do século XVII. Foi construida
‘com mármore trazido pelos navies. Constantin Huygens, poeta e
diplomata da época, observou que a Cámara Municipal dissipou
*o estrabismo e a sordidez góticos". Alé hoje hä, em seu sagudo,
uma estétua de Atlas sustentando os c&us enteitados de
constelages. Abaixo está a Justiga, brandindo uma balança e
uma espada de ouro, entre a Morte e a Punicdo, e pisando a

Hsérias de Vijantes- 141

Avareza e a Inveja, deusas do comércio. Os holandeses, cuja
economia era baseada no lucro privalwo, mesmo assim com
Preenderam que a busca desenireada do lucro colocava em risco a
alma da nagáo.

Um Símbolo menos alegórico pode ser encontrado embaixo
de Atlas e a Justiga, no piso da Cámara Municipal. € um grande
‘mapa embutido, datando do final do século XVII ou principio do
XVII, mostrando do oeste da Áltica ao Oceano Palco. O mundo
intero era a arena da Holanda. E, neste mapa, com uma modéstia
desarmante os holandeses se omilram, utilzando somente o antigo
nome latino Belgium na sua parte da Europa.

Era um ano pico, muitos navios salam com destino ao
mundo inteiro. Descendo a costa oeste da Alrica, através o que
chamavam de Mar Etiope, iam até o sul, passavam pelo Estreito de
Madagascar e alingiam a extremidade sul da india, e dal iam a um
dos principals locos de seu interesse, as thas Spice, hoje
Indonesia. Algumas expedigóes pariam dal para uma terra
chamada Nova Holanda, hoje Australia. Poucos se aventuraram
polo Estreito de Malaga, passando pelas Filipinas em direcáo à
China. Sabemos de um relato datado da metade do século XVI, de
uma "Embaixada da Companhia das indias Oreentais das
Provincias Unidas dos Países Baixos, para o Grande Tártaro
Cham, Imperador da China’. Os burgueses, embaixadores ©
capláos holandeses ficavam de olhos arregalados de espanto face
à Cwiizagäo na cidade imperial de Pequim.”

‘Aig entäo a Holanda jamais tinha possuido tal poder mun-
dial. Um país pequeno, forcado a viver do seu talento, sua política
‘externa encerrou um forte elemento pacificador. Pela sua toleráncia
com as opinides heterodoxas, era um paraíso para os inelectuals
ue se refugiavam da censura o controle do pensamento existentes
em toda a Europa — quase como os Estados Unidos que se
beneticiaram enormemente na década de 1990 com o éxodo de
intelectuais que fugiam da Europa dominada pelo nazismo. A
Holanda do século XVII fol o lar do grande flósoto judeu Spinoza
que Einstein admirava; de Descartes, um elemento-chave na
historia da matemática © da filosofia, e de John Locke, cienista
Político que infuenciou um grupo de revolucionários de incinagdes
flosétieas chamados Paine, Hamilton, Adams, Franklin o Jefferson
‘Nunca antes a Holanda tinha sido agraciada por uma galáxia de
aristas e cientstas, flósolos e matemáticos. Foi a época dos
mestres da pintura Rembrandt, Vermeer © Frans Hals; de
Leeumenhoek, o inventor do microscóplo; de Grotlus, o fundador do
rat ineraconal; de Wera Sei, que descobru oda
relraçäo da luz,

Seguindo a tradigäo holandesa de estimular a Iiberdade de
pensamento, a Universidade de Leiden olereceu a cadelra de
Professor a um cientsta italiano chamado Galileo, que tinha sido
forçado pela Igreja católica, sob tortura, a renegar sua visio

+ Sabemos att os presentes que rouceram para a oro. A mperatz fl agrada
com "so pequenas ras de veras pure © © impure reco os.
Faces decane

alco Galle’ (1564-1642. Nesta pintura
0 an Leon tons, Gale 20 orcnırn
8 que havin montana na Lua 0 que ©
anota upter possula wars Las. A
rar exten permaneceu desert
Em 1688 ali o obrgado a superar um.
dgameno por Nolte suis de
here. Condenado or uma even de
{un document load, Galeo passos os
últimos ote anos de sua isa Sob peso
‘dora, em sun pequena casa nos
arocotes de Florence Fol 0 pimero à
Aer um toescapo para esc os ces.
Pira ce JeanLson Hosns, “Natal
‘Geograph Sede

142 Cosmos

herética de que a Terra se movia em tomo do Sol e náo vice-ver-
sa Galleo tinha ligagdes profundas com a Holanda, e seu
Primeiro telescópio astronómico foi um apertelgoamento, de um
óculo para ver de longe, de um projeto holandés. Com ele,
Galileo descobriu as manchas solares, as fases de Vénus, as
crateras da Lua e as quatro grandes luas de Júpiter chamad
agora de satéltes gallleanos. A descrigáo do proprio Galileo da
‘sua agonia eclesiástica está contida em uma carta que escreveu
em 1615 a grá-duquesa Christina:

‘Aiguns anos alrás, como Sua Alleza bem sabe, descobri
nos céus multas coisas que náo tisham sido vistas antes de nós,
A novidade destas coisas, bem como as conseqüéncias que se
seguiam em contradigáo com as nogóes ísicas comumente
sustentadas entre flésolos académicos, initaram contra mim um
"número nao pequeno de professores [muitos deles eclesiásticos]
‘como se eu Ivesse colocado estas coisas no céu com as minhas
próprias máos para alterar a Natureza e destruir as ciöncas.
Parecem esquecer que o crescimento das verdades conhecidas
ostmula a Investigacáo, estabelocimento © crescimento das
artes."

A conexäo entre a Holanda como poder exploratério e a
Holanda como centro Intelectual e cultural era muito forte. ©
desenvolvimento dos veleiros encorajou a tecnología de todas as
áreas. O povo gostou de trabalhar com as máos. As invençées
‘eram premiadas. O avanco tecnológico requereu uma busca de
conhecmento a mais liberia possivel, de modo que a Holanda
omow-se © principal editor e vendedor de livros na Europa,
raduzindo trabalhos osortos em outras linguas e permiindo a
publcagäo de Ivros prolbidos em outros países. Aventuras em
terrae exóticas e encontros com Sociedades estranhas agitaram
‘a complacäncia, desaflaram os pensadores a reconsiderar o con-
ceito dominante e mostrou que as idéias que tinham sido aceitas
por mihares de anos, por exemplo em geografia, estavam fun-
damentalmente erradas. Em uma época em que reis e impera:
ores dominavam a maior parte do mundo, a república holan-
desa era govemada, mais do que qualquer outra nagáo, pelo
ovo. A abertura da Sociedade e seu encorajamento do desper-

“Em 1979 o papa Joso Paulo | catobsamente propos a Ivan da
(oma de Gao, ou 245 anos ans, ola Santa quisas”

A coragem de Gallo (o Kepler em propor a tee han náo era
“scene ot alos des oto, mamo nacen que resta an Io monos
‘Seto 100, rane Boca a a Pons eme

‘Som divida, voce abo quo Gato a 1econtemanto consurado polos
Inquiceros da FS, a qu sous conotos core o memo da Tora
Horn condenados como rd, Bove aio o quo loas ae eta
uo Sup no mes ria, que num a sauna do moto cn
Ton, rindo wmerdopandenee quo aii doscosr-s0 quo una.
elas 6 lla para cor que odos os argumortos ulizados aan
nénacs. Embira ponsase" strom Dasosdds om provas seguras ©
‘gorse, no deseo. por nada dora mundo, manioios coma
‘Sttonaad da ij" Bobo ver om paz y ona! a vda quo
00 a masons: pra or bom dove 0 wor doper.

Hséris de Vijates- 149

tar da mente para ser usada e a autorizaçäo para exploragáo e
vllizagáo dos mundos novos geraram uma confianga sadia no
empreencimento humano.”

‘Na lala, Galle tinha anunciado outros mundos, e Giordano
Bruno especulara sobre outras formas de vida. Por isto sotreram
brutalmonto, Na Holanda, © astrónomo Christiaan Huygens, que
acreditava em ambos, fora coberto de honraras. Seu pal era
Constantin Huygens, um grande diplomata da época, um Iterato,
poeta, compositor, músico, amigo íntimo e tradulor do poeta inglés
John Donne, e o chefe de uma grande famlia-modelo. Constantin
admirava o pintor Rubens o "descobriu” um jovem arista chamado
Rembrandt van Rijn, om cujos trabalhos apareceu värlas vozos
depois. De Constantin, Descartes escreveu apés o primeiro
encontro: "Näo posso acreditar que uma única mente consiga
ocuparse com tantos assunlos e conseguir sairse tao bem de
todos". A casa de Huygens era repleta de pecas de todas as partes
do mundo. Pensadores Ilustres de outras nagdes eram convidados
treqúentes. Crescendo neste ambiente, Christiaan Huygens tormou-
se simultaneamente perito em linguas, desenho, direito, ciéncia,
matemällca e música, Seus Interesses e dedicaçäo eram vastos, "O
mundo $ 0 meu país”, disse ele, a ciöneia, a minha regio”.

A luz era o assunto da época, o esclarecimento simbólico da
Iiberdade de pensamento e de religño, da descoberta geográfica; a
luz que penetrava nas pinturas da época, particularmente no
trabalho primoroso de Vermeer; a luz como um objeto de pesquisa
cientca, como no estudo de refragäo de Snell, a invengáo do
Imicroscópio por Leeuwenhoek e a propria teoría de Huygens sobre a
luz em ondas."* Todas eram alvidades afins, o seus accionados
misturavamse livremente. Os interiores” de Vermeer säo
caractersticamente repletos de artefalos e mapas nâuicos.

Est taco exporiótapodojustica 0 lo a Holanda poss, at s is do
how, à maior proposa de atnomes famosos, one alas Gerad Peter Kuper
quo, ero as ceca de 40 © 0, era 0 Uno ostsee de lempo integral no
Mundo © assu era endo Conrado por astónemos profi, bos no
inn, como corompnapaosaxcasosloméllanes, ou gato por todo AU
pres

tssac Newton sónicos o tabalno de Chistaan Huygens e 0 ta "como ©
mateo mals Gin” da sua época e 0 verdadero sogucr da radio
matemática dos antgos gegen, anio, Como gora, um grande so. Newon
{rectou, em pare, porque a8 sombraspossuar Bros Coates, que a luz se
omporava como se 1069 um Tuto de pacas Gus. Pencou que a luz
‘armel ex conposta pelas pacas macres e a Voie paar mores
Huygens argumenta, pr Sua ver, que az se compota como co fos uma
propagacao de ondas no vies, Como as ondas da um Gosamo,sendo esla ©
Mono de Lamas sobre compimonto de onda © aglönda da uz, Mulas
optics da lu, rend tags, so expicadas nalramanto pel wort
sorda, e nos anos sempente nia de Huygens sa mou. Mas am 1906
En domerstos que a ra do pacua da lus poda osplea o cat
fotoo, aero de sérons de um mat 80 expect ca um aa do luz. Oz
mmocansmas quam, madermos cama ambas ab ola, Sono conum
Pensarse hoje om da na luz conporando se em agumas crcunsiancas como um
(eve do parca 0 en auras come onda, Eo ardlemo onda partes poda nto
Gorespohder a nossas noes de bom senso, mas el am oxcleio acero com
Agulo quo as exponóncas mostrara sora lu eames Ha ago Go Moose o
asustado nora un co posts vse asta ala que Newien © Huygens
Amos cototaros, am os pas de hossa al eanpreorsae da nan da luz

Retato de Chstaan Huygens, (1628-
1695) por Sema Var Conia de
Haygersmuseum "Hohriek, Veorug,
Nolan

A

Done db um enderme do note de
{Shralsan Huygons,rogitando suas ob-
o sepetmateseset es igs
‘oe nas a um 60 a oequras) 030
Sim nome, tetas Som um dee moe
pos do Leevwonnook

Os microscópios eram curiosidades da sala de desenhe.
Leeuwenhoek foi o testamento das propriedades de Vermeer e
um vistante assíduo da casa de Huygens em Hotwiick

© microscópio de Leeuwenhoek evolu do éculo de au-
mento utiizado polos negociantes de pano para examinar a
‘qualidade do tecido. Com o instrumento, Leeuwenhoek descobriu
‘um universo em uma gota dagua: os mieróbios, que descreveu
‘como “animélculos e pensou serem “inteligentes”. Huygens
particpou do projeto dos primaires mieroscépios, e ee proprio ez
multas descobertas com o instrumento, Leeuwenhoek e Huygens
foram dos primeiros a ver uma célula de espermalozôide
humano, um pré-requisito para a compreensäo humana. Para
explicar como os mierorganismos se desenvolvem lentamente
fem água previamente esterlizada por fervura, Huygens propós
serem eles pequenos © sulciente para fluluar no ar o se
reproduzirem aos poucos na água. Estabeleceu deste modo uma
allemaliva para a geragáo osponiänea, a nogáo de que a vida
poderia surgir na lermentaçäo do suco de uva ou na came
putrefata, intoiramente independente da vida preexistente, Só na
época de Louis Pasteur, dois séculos mais tarde, que a
especulaçäo de Huygens provou ser correta. A procura pela
Viking da vida em Marte pode ser identlicada em mais de um
aspecto com o trabalho de Leeuwenhoek e Huygens. Eles 580
também os avós da teoria da doenga contida em germes e, deste
modo, de grande parte da medicina modema. Náo línham
propósitos práticos em mente, pois eram meramente pensadores
‘om uma sociedade tecnológica.

O microsctpio e o telescópio, ambos desenvolvides no
Início do século XVII na Holanda, representam uma extensäo da
visdo humana aos dominios do muito pequeno e muito grande.
Nossas cbservagóes de átomos e galáxias foram lançadas ne
quela época e naquele local. Christiaan Huygens adorava esm
rinar e poli lentes para telescópios astronómicos, e construl um
com cinco metros de comprimento. Suas descobertas com o
telescóplo asseguraram o seu lugar na historia do conhecimento
humano. Nas pegadas de Eratóstenes, ele foi a primeira pessoa
a medir o tamanho de outro planeta. Foi também o primeiro a
especular que Venus era interamente coberto por nuvens, 0
rmeiro a tragar uma característica de supericie de Marte (uma
vasta colina escura varrida pelo vento chamado Syrtis Major); e
observando O aparecimento e desaparecimento destas
características à medida que o planeta girava, o primelro a
determinar que o día marciano, como o nosso, durava aproxi-
madamente vint e quatro horas. Fo o primelro a reconhocer que
Saturno era rodeado por um sistema de anéis que no o tocavam
em parte alguma.” E descobriu Tit, a maior lua de Satumo, e
‘que agora sabemos ser a maior lua do sistema solar, um mundo
de Interesses e promessas extraordináras, A maioria destas
descoberias ele fez aos vinte e poucos anos. Também tinha a
astrología como uma insensatez.

“Gallo descbr os ands, mas no sala que fazer com els. Arnés do
0 teesapi porno, perenn so Gua prjpps Emancaonto prosas à
Sumo lemon, eo elo usado, raro

Hsérias de Vijantes- 145

Huygens fez ainda mais. O principal problema da navegaçäo
‘maritima naquela época era a determinagao da longitude. A latitude
era facimente achada pelas estrelas, quanto mais ao sul
estivessem, mais constelagóes austrais seriam visiveis. Mas a
longitude requería anotagées precisas de tempo. Um relógio de
bordo perelle daria a hora em seu porto de origem; o nascer e o
Pór-do-sol e das estrelas especticaria a hora local a bordo, o a
dilerenga entre as dues seria a longitude. Huygens inventou o
relógio de péndulo (seu principio tnha sido descoberto ante-
riormente por Galileo), que foi entáo aperfeigoado, embora nao
Inteiramente bem-sucedido, para calcular a posiçao no meio do
grande oceano. Seus esforgos Introduziram uma precisäo sem
precedentes nas observagóos astronómicas e em outros campos
cieníicos, e estimularam outros aperteicoamentos em relógios
náuticos. Inventou a mola da balanga em espira, utlizada ainda
hhoje em alguns relógios; fomeceu contibuiedes fundamentais para
a mecánica, p.ex. o cálculo da forga centrifuga o, parindo de uma
pesquisa sobre 0 jogo de dados, chegou à teoria da probabildade.
Aperleigoou a bomba a ar, que revolucionou posteriormente a
indistía da mineragäo, e a “lanterna mágica”, o antepassado do
Projetor de sides. Também inventou algo chamaco "máquina de
pólvora”, que influenciou o desenvolvimento de outra máquina, a de
Vapor.

Huygens estava encantado com o fato da opiniso coperni-
cana, da Terra como um planeta que gira em tomo do Sol, ser
amplamente acelta, mesmo pelo povo da Holanda. Realmente,
disse ele, Copémico fol reconhecido por todos os astronomos,
exceto por aqueles que * eram um pouco sem talento ou estavam
sob supersticóes Impostas pela autoridade meramente humana’.
Na Idade Média os flósotos crstéos gostavam de argumentar que
ÍA que os céus giravam em tomo da Terra uma vez a cada dia,
¿iliclmente seriam infinitos e, portanto, um número infinito de
mundos ou um grande número deles (ou até um outro) era
Impossivel. A descoberta de que era a Terra quem girava e nao o
Sol encerrava implicagóes importantes para a unidad dela e para a
Possibildade de vida em outros lugares. Copérnico sustentava que
nie somento o sistema solar, mas também o universo intoiro era
heliocäntrico, e Kepler negava que as estrelas posculssem
sistemas planetärios. A primeira pessoa a tomar explícita a idéia de
{um grande, talvez até ininio, número de outros mundos em órbita
em torno de outros sóls parece ler sido Giordano Bruno, Outros
pensavam que a pluralidade de mundos era consequéncia das
idéias de Copérnico e Kepler, e ficaram harrrizados. No inicio do
Século XVII, Robert Merton contestava que a hipötese heliocénirica
implcava em uma mulidáo de outros sistemas planetérios, sendo
este um argumento do tipo chamado reductio ad absurdum
(Apéndico 1), demonstrando o erro da suposigäo inicial, Escreveu
um argumento que pode ter soado como inconsistente,

Pois se o firmamento Iver a grandeza incomparável, como a
tam os gigantes de Copémico.. tdo vasto e repleto de
incontaveis estrelas, como se fossem infintas em quan-
tidade... por que náo podemos supor... que estas estrelas

Detaho do Systoma Saturn, de Che
Ian Muygore,puicado ar 166, Agora
Sun plagas (Corel) pra as muancns
na aparencla dos ande do Saumo no
Somalía rata das rages ca Tora
Sc Sauna. Na pose 8, 8 ani, com
à arpasurs de ua fa de papa, desa
Parecem quando was de perl, Na po.
Sao Axiom sua exteraaa máxima Val
‘ara Tera, coniguagso que prono
‘om Gates, quo 20 tiara de Im tale
Pe gafa ire “uma
Prés aga a abetmanto

145 Cosmos

Infintas visiels no frmamento sejam tantos s6is, com
centros particulares fixos; que tenham também seus pla-
netas subordinados, como o Sol possul seus dancarinos à
sua volta? E eniäo, como consegúéncia, há uma
infinidade de mundos habitäveis; o que impede?... estas e
utras tentativas insolentes e intrépidas, paradoxos
Prodigiosos, as inferóncias devem prossogui... se foram
uma vez admiradas por... Kepler... e outros que sustentam
o movimento da Terra

Mas a Terra se move. Merton, se vivesse hoje, seria obri-
gado a concluir por uma “infnidade de mundos habitáveis.
Huygens náo colocou restrigöes a esta conclusäo, mas aceitou-a
com satisfagáo: no mar do espago as estrelas sáo outros séis.
Por analogía com 0 nosso sistema solar, Huygens concluiu que
stas estrelas deveriam ter seus própris sistemas planetärios e
que multos desses planetas soriam habitados. Näo devemos
atrbulr nada a estes planetas a ndo ser um vasto deserto... e
suprimir deles todas as criaturas que simplesmente mostram a
arqutelura divina; deveremos rebalxá-las em beleza e digridade
em relagdo à Terra? Nao é razoävel.

Estas idéias aparecem em um lvro extraordindrio que os-
tentava o titulo tunlante de Os Mundos Descobertos: Conjec-
turas Concementes aos Habitantes, Plantas e Produçées des
Mundos nos Planetas. Escrito pouco antes da morte de Huygens
‘em 1690, o trabalho foi admirado por muitos, incluindo o czar
Pedro, o Grande, que o transformou no primeito produto de
ciéncia ocidental a ser publcado na Rüssia. O Ivro é, em grande
parte, sobre a natureza ou ambiente dos planetas. Entre as
figuras na primeira edigäo, primorosamente composta, estáo, em
escala, o Sol e os planelas gigantes Júpiter e Satumo. Sao
comparativamente bem menores. Ha também uma gravura de
Satumo próximo à Terra: o nosso planeta é um círculo pequeno,

De um modo geral, Huygens imaginou os habitantes e os
meios ambientes de outros planetas um tanto semelhantes à
Terra no século XVI. Concebeu os "planetarianos” como "corpos
interios, e cada parte deles bem distinia e diferente das
nossas... é uma opinido muito ridicula... pois 6 impossivel uma
‘Alma racional habitar outra forma que no a nossa". Voc® pode
‘ser esperto, dizia ele, mesmo se parecer diferente. Mas entáo
argumentava que náo pareciam tao diferentes, que deveriam ter
maos e pés, e andar eretos, que lerlam escrita e geomettia, e
‘que Jupiler possui quatro satéltes galleanos como auxilo à
navegagáo, 20 marinheiros, nos oceanos jovianos. Huygens
era, naturalmente, um cidadáo da sua época. Quem de nés náo o
67 Dizia que a ciéncia era a sua relgläo e entáo argumentava
‘que os planetas deveriam ser habitados, porque senäo Deus te-
ría fito outros mundos para nada. Por ter vivido antes de Darwin,
‘suas especulagóes sobre a vida extraterrestre estáo lora da

“Aiguns aros sustntavam ops simios. No ou Harmonic Mun, Kopior
“sanas qu e opio de Tjeho ezendo que no ná andez © eto no
anos, pol aso hand”

Hsérias de Vijantes- 147

perspectiva evoluciondria. Era capaz de desenvolver em etapas
observacionais algo semelhante à perspectiva cósmica moderna:

Que esquema maravihoso e estupendo temos aqui da
magnífica vastidäo do universo... Tantos Séis, tantas Ter
ras... © cada uma delas contendo tantas ervas, árvores ©
animals, adornados com tantos Mares e Monianas... E
‘quanio crescerá nossa Vontade e Admiragäo quando con-
siderarmos a prodigiosa Distancia e a Mulidäo de Estreas.

As espagonaves Voyager säo 0s descendentes lineares
destas viagens de exploragäo em veleiros, e da tradigäo especula
tiva e cientiiea de Christiaan Huygens. As voyagers sao caravelas.
cercadas de estrelas explorando os mundos que Huygens
conheceu e amou tanto.

Um dos principais aspectos que permaneceram destas via
gens de séculos alrás foram as histéias* dos viajantes, naralivas
de terras alenigenas e criaturas exólicas que evocavam nosso
sentido de curiosidade e estimulavam a exploraçäo futura, Havia
relatos de montanhas que alinglam o céu, de dragôes e monstros
marinhos, de utensils de uso diario fetos de ouro, de um animal
com um brago no lugar do nariz, de povos que achavam bobagem
as disputas das doutrinas entre protestantes, católicos, judeus e
mugulmanos, de uma pedra prela que queimava, de seres
humanos sem cabega, com a boca no peito, de cameiros que
davam em árvores. Algumas historias eram mentras, outras
verdadeiras. Outras possuíam um núcleo de verdade, distrcido ou
exagerado pelos exploradores ou pelos narradores, Nas mäos de
Voltaire, por exemplo, ou Jonathan Swift, estes relatos estimulavam
uma nova perspectiva na sociedade européia, forçando uma
relormulagño daquele mundo insular.

As modernas Voyagers também enviam histrias de viajan
tos, relatos de um mundo fragmentado como uma esfera de cristal,
{um globo onde o cháo 6 coberto, de pölo a pólo, com o que parece
uma teia de aranha, de pequenas luas com forma de batatas, um
mundo com um oceano no subsolo, uma terra que cheira a ovo
podre e parece uma pizza, com lagos de entore derretido e
erupçées vulcánicas ejetando fumaga diretamente no espago, um
planeta chamado Júpiter que faz o nosso parecer um anáo, tio
grande que cabem dentro dele 1.000 Terras

Os satéites galleanos de Júpiter sño, cada um, tio grandes
‘quanto Mercúrio. Podemos medir seus tamanhos e suas massas, e
assim calcular as suas densidades, o que nos diz alguma coisa a
respelto da composicdo de seus interiores. Descobrimos que os
dois mais internos, lo o Europa, tém uma densidade táo grande

“Estas stos fram a tio humana antiga; mutas dels Ivo, desde o
rico da exporagao, um motte cosmo. Por oxampo, a oxperacóos do secu
AN da Indonesia. Sr Lanka, in, Arab o Ática pla Gnas chnasa Ming ram
{hase por ol Hain, um doe propane, om um sro de gras preparado
Para o parador como “ho Vistas Taras da Bala Estos" Inara,
Égranre nd eto, tram pocas

Una grata, lead da Aca par a China
por vata de 1420, no Inc ds grandes.
Wagens de combrcio a dessen de
dni! Chang Ho, da rasta Mig. A
Pose Gesto animal das Tablas na.
ore impel chvasa (or conaiurda.
omo um sina aurpcose, As primates
Matos dos novoganies otro" a gala
{sive tenham age sauéades com um
ale conidrdvl A dpoca Wing do
‘xporagio, um ombareagees de neo
ols oceanos — que quase certamen
Écran tlvapassar © Cabo. de Don
Espora. e à apurocmant da marta
‘hina na Otomo Aldea — lomos
Sin pouco ars de regada portuguesa
30 Öcoane inca, rvertende a. rocio.
os doscntriments. Shen Tu: TUE à
Gi com Tratar Coren do Pia
‘pte Mc of Ar Dong de Loin
Dornen

Hséris de Vijates- 149

quanto a rocha. Os dois mais externos, Ganimedes © Calisto,
passuem uma densidade menor, entre a da rocha e a do gelo. Mas
a mistura de gelo e rochas nestas luas externas deve conter, assim
como as rochas na Terra, tragos de minerais radioativos, que
laquecem as áreas vizimhas. Nao há um caminho eficaz para este
calor, acumulado por bihöes de anos, atingir a superficie e se
perder no espago, e a radioatvidade intema de Ganimedes ©
Calisto deve, portanto, dereter seus Interieres gelados
Antecipamos, como sugestäo, oceanos submersos de neve
derretida e agua nostas luas, antes mesmo de termos visto de pero
as superficies dos satéltes galleanos, que deviam ser bem
diferentes uma da outra. Quando pudemos fazé-lo, através dos
‘los da Voyager, esta previsäo fol confrmada. Nao se parecem
um com 0 outro, Sáo muito dierentes dos outros mundos vistos
antes.

A espaçonave Voyager 2 nunca retornará à Terra, mas suas.
descobertas científicas, seus dados épicos, suas histórias de
viajantes retomaräo. Por exemplo, 9 de julho de 1979. As 8.04 da
manhä, hora padráo da costa do Pacífico, EEUU, recebemos na
Terra as primeiras fotos de um mundo novo, chamado Europa.
¡Como uma foto do sistema solar exterior chega até nos? A luz do
Sol briha em Europa em sua órbita em torno de Júpiter sendo
relleiéa no espago, onde parte dela atinge os sensores das
cámeras de televisäo da Voyager, gerando uma imagem que &
Ontäo montada polos computadores, enviada polo radio através da
distancia imensa de meio biháo de quiómetios para um
radiotelescóplo, uma estaçäo de solo na Terra. Há uma na Espa-
ha, uma no deserto de Mojave no sul da Calfémia e uma na
‘Australia. (Naquela manha de julho de 1979 foi a da Australia que
estava voltada em diregäo a Jupiter e Europa). A Informagäo 6
pasada via satéite em órbita da Terra para a Califia, onde &
transmitida por uma série de torres de retransmissáo de microondas.
para um computador no Laboratório de Propulsäo a Jato, onde &
Processada. A foto se parece muito com uma telefoto de Jona, feta
talvez de um mihdo de pontos separados, cada um de gradagáo
dilerente de cinza, téo pequenos e unidos que, à distancia, os
pontos constilintes säo invsiveis. Vemos somente o eieilo
Cumulativo. A informaçäo da espagonave especifica o briho ou a
capacidade de cada ponto. Após o processamento, os pontos säo
armazenados em um disco magnético semelhante ao fotográfico.
Há perto de dezoito mil fotografias tiradas do sistema jupiteiano
pela Voyager 1 guardadas nestes discos magnéticos, e um número
equivalente da Voyager 2. O produto final deste admirável grupo de
elos e reansmissäes € um fino pedago de papel lustroso, neste
caso mostrando as maravihas do Europa registradas, processadas.
+ examinadas pela primeira vez na história humana a 9 de julho de
1979,

O que vimos nestas fotografias & absolutamente surpreen-
dente. A Voyager 1 obleve uma imagem excelonte dos outros trás
satéltes galleanos, mas náo do Europa. Este foi deixado para a
Voyager 2 a fim de trar as primeiras fotos dele em close, quando
vimos aspectos de somente poucos quildmetios de extensáo. A
primeira vista lugar parece lembrar a rede de canais que Percival
Lowell imaginou enfetar Marte e que agora sabemos, pela

150- Cosmos

Bols de vbo da Voyager 1 (cruzando a
Voyager 2 (rtscopiando Ware em Ja
ato d 196) Moda tam ajena
loma na qua 2 Voyager 2 tor
pronmado basant de Th come o
Voyager

Passage da Voyager 1 (acia) o da
Voyager 2 (abana) paro dos sähe ga
Jo de 1979,

‘Aan pana Ep, vr pt Vorne
1978, Europa tom, aproximadamente, ©
ran non a, ma step
amas a crains sugee quo uma grossa
ost de gua vor de 100 qulémenos
Ge protnaado, enovn o hir ds
cdo. O compl paar m
‘hr podem dr rachas no quo, que
foram prsonciis com mata que ea
Seon por bano ca esta O Minze
Sin de Enge coma añ mp

Hsérias de Vijantes- 151

exploragáo de veículos espaciais, näo exist. Vemos em Europa
uma rede intrigante e espantosa de linhas retas e curvas que se
¡nterceptam. Serño sulcos criados? Seráo canaletes escavados?
Como seráo ellos? Seräo parte de um sistema tectónico global
produzido pela lragmentaçäo do planeta em expansäo ou
contraçao? Estardo conectados ao sistema tectónico na Terra?
Que luz se desprende deles para os outros saléltes do sistema
Jovian? No momento da descoberta, a tecnologia produziu algo
surpreendente que permanece para um outro engenho, o cérebro
humano, desvendar. Europa $ táo liso como uma bola de bihar, a
despaito da rede de linhas. A ausencia de crateras do impacto pode
ser decorrente do aquecimento e liquefaçäo do gelo da superficie
sobre o impacto. As Inhas so estitas ou rachaduras; sua origem
ainda sendo debatida por muito tempo após a missäo.

Se as misses Voyager lossem trinuladas, o capitäo mante
ria um diario de navogagäo e um regis, uma combinagáo dos
eventos das Voyagers 1 2, que seria mais ou menos assim:

1." Dia—Após varias consideragdes a respeito de provisöes.
+ instrumentos, que pareciam nao funcionar bem, deixamos
‘Cabo Canaveral com sucesso para a nossa longa viagem
205 planetas e estrelas.

2.* Día— Um problema no desdobramento da baliza que
‘suporta a plataforma cientíica exploratéia. Se o problema.
näo for resolvido, perderemos a maioria das fotos e outros
‘dados cientíicos.

13.° Dia — Olhamos para trás e tiramos a primeira foto,
nunca oblida anteriormente da Terra e da Lua como mundos
próximos no espago. Um par bonto.

150.° Dia — Motores acionados nominalmente para uma
correçäo detrajelória de curso.

170.* Dia — Fungées de manutengäo de rotina, Alguns
meses sem novidades,

185.° Dia — Imagens de calbraçäo tradas de Jupiter com

207.* Dia — Problema da baliza resolvido, mas falha no
radiotransmissor principal. Tivemos que utlizar o trans-
missor back-up. Se ele falhar, ninguém na Terra saberá
mais de nés.

215.* Dia — Cruzamos a órbita de Mare. O planeta se
“encontra do outro lado do Sol

295.* Dia — Penetramos no cinturáo de asteröldes. Há
‘muitos soixos grandes rolando por aqui, bancos o baxios de
arela do espago, A maioria deles sem carga. Mantvemos
vigläncia. Esperamos evitar colisdes.

(alu sstornonal 6 atra cr forgo
quo aavessa dagoramont a ermagao
Eos mone one ca moverdo à ma
vase de cota de 24D quemas
por era As repos azus ostranqugados
a parto ert mom Iomupgoos ns
‘ovens de amênia superiors. Rimagom 6
Go. moumaamante 00 uote
bano Cotosa da NASA

Uma intorupedo nas wens. mations
as de super (com nentuma nu
banca de amén ‘soma dels) nos par
(mie vaumizor uno camada mas SAR
Possvelmete um comple organico
Modes om intavermeine roream que a
em marron esca 6 mas qunte que
25 quo se rcontam a su vo, image
a Voyager. Coria da NASA

152- Cosmos

“Pelo de cobra", ou projsgo clindrca dos pacte de nuvom joins, como visto pola Voyager 1, Aa longs sio
fornocida na par ieñor, ss laude à osquenda Os simbolos (om ins na igure) à drehe ado, em cfm, Zona
‘Temporada Not, Zona Tropical Nodo, Cato Eater None, Zona Equa, ines Equnera Sul Zona Hoc Sal
9 Zona Temporada Su. As zonas tender a sr encobartas por raver ñas brncas de amónia,dleantos ds circos
solides, À Grande Mancha Varna (gi om inglés GS), a orca de 75° glude, sluaso próxima à fonte do
Soli Equatoral Su o da Zona Tropea Sul Os locals mas polos o queries 186 as como azuadas ras partos
parer das proindncias branes encontadas a espapesrogdares no Curso Equatoral Note, Conesa da NASA.

Imagem com cor flsa da Grande Marcha Veoh, na qual © computador oxagerou nos vom azus a custa dos
vers. Nuns as cobro ompearamento cren de um rg da GM Imagem da Voyage 1. Corosia da NASA.

Hséris de Vijantes- 159

um co rcaenerte em

154- Cosmos

Dois when em enpeáo no Immo où
Dodo do cresoeta de lo, Apart:
ment les ttm esta em ru son
{in por quatro meses À prosminenca
inter 6 vlc Ma Para mager
a Voyager. Cotesia. de NASA.

‘edo Ra Patera, em lo, Veta quiso
que armen some à calera do
cogen ea Voyage 1. Cota

475, Dia — Emergimos salvos do principal cinuräo de
asteróides, contentos de termos sobrevivido.

570.* Dia — Júpiter está se tornando proeminente no céu,
Podemos agora obter detalhes melhores dos que existem
revelados polos maiores telescópios na Tera,

615. Dia — Os colossais sistemas de tempo e nuvens de
fumaga de Jupiter, girando no espago à nossa trente,
hipnotizaram-nos. O planeta 6 imenso. É duas vezes mais
massivo do que todos os outros planetas juntos. Náo há
montanhas, vales, vulcdes, ros, fronteras entre a Terra e o
ar, somente um vasto oceano de gás denso e nuvens lu
tuantes — um mundo sem superficie. Tudo o que pode-
mos ver om Jüpltor ests utuando om seu cóu.

620.° Dia — O tempo de Júpiter continua a ser espetacular
Este mundo importante gira em seu eixo em menos de dez
horas, Seus movimentos atmostéricos sáo diigidos pela
rolaçäo rápida, pela luz solar e pelo calor brotando e fer-
vendo do seu interior.

640. Dia — Os padrées de nuvens do distintos e magni
cos. Lembram-nos um Van Gogh — Noite Estrelada, ou os
‘rabalnos de Willam Blake ou Edvard Munch, mas só um
pouco. Nenhum artista jamais pintou o que vemos porque
nunca debxaram o nosso planeta. Nenhum pintor baseado
na Terra jamais imaginou um mundo to estranho e adord
vel.

Observamos de perto os cinurdes e as faixas multicolor
das de Júpiter, Pensa-se que as faixas brancas sejam nuvens
altas, provavelmente cristals de amónia; os cinturdes marrons,
lugares mais profundos e mais quentes, onde a almostera está
‘submergindo. Os locals azuis sáo aparentemente buracos pro-
fundos nas nuvens subjacentes através dos quais podemos ver o
cóulimpo

'Nio sabemos a razäo da cor marrom-avermelhada de Jüpi
tor, Talvez seja devido à química do fóstoro ou do enxotre. Talvez
seja decorrente de moléculas orgánicas complexas de cor
brihante produzidas quando a luz ultavioleta do Sol rompe o
metano, a amónia e a agua na atmostera joviana, e os fragmentos.
moleculares se recombinam. Nesle caso, as cores de Jupiter nos
revelam acontecimentos químicos que há quatro bihides de anos
na Tera levaram à origem da vida.

647. Dia — A Grande Mancha Vermelha. Uma grande
coluna de gas atingindo bem acima das nuvens adjacentes,
to grande que poderia conter meia dúzia de Terras.
Talvez soja vermelha por trazer para cima as moléculas
complexas produzidas ou concentradas a grande
Profundidade. Pode ser um grande sistema de tempestade
‘com um mihäo de anos.

Hsérias de Vijantes- 156

roomie wu se vicio 10 Par, em A ue à LE rata om ano, Chetan à
promis, om uz vel, eat una grande nor, nando ra hz star irrt falda © compost de parias
Mato pequenas. O slo 6 emir so mono azul da ur retarda palas Mas parie do Ammaga O topo da Tatar
Uhrardl ata» mais de 20) quiémotes ca sopaic do iver jonc paris e toros examen mice
‘etamonto o page À melena ejpaca laos anda osea om ora am omo de pte, Sam Como lo, o EPA ©
{rand u de alos qu cc apor a ora 0 Image da Voyager Y. Coon da NASA

156- Cosmos

Amal, a pequena tua de format ine
(guar de po como (à vila paa
Voyager 1. As mancnas bananes sa,
‘rovvelmentecatras de impacto, Acar
Eromonaca iavez "soa uma cons
{cia de male peri por lo e cap
las por Amalia. ca da ost à
600 qs an pt, arr da
Gomas de amero, 6 seu obo major
Eo votado” ma erento de per
Corea NASA

Model om corto do tro de Jr
Ima do que a Pia no Outer da
Suporte do meda. Mo corto esta una
lea de mot echa um poux somo
Mares à Tara, ereundada por um vaio
enano d histogenio mural ud.

650.° Dia — O Encontro. Um dia de assombros. Negocia
‘mos, com sucesso, 05 Irigosiros cinturdes radioativos de
Jupiter com somente um instrumento, o fotopolarim
¿aniicado. Eletuamos a travessia do plano de anéis sem
Solrer colisdes com as partículas e seixos dos andis
recentemente descobertos. Imagens magníficas de
‘Amaltéia, um pequeno e oblongo mundo vermelho que
mora no coragäo do cnturáo radioativo, do mullicolorido
lo, das marcas lineares do Europa, das características
teias de aranha de Ganimedes, do reservalério grande
com muitos anéis em Calsio. Rodeamos Calísto e
alravessamos a órbita do Júpiter 13, a mais externa de
suas luas conhecidas, Estamos na frontera externa,

662,° Dia — Nossos detectores de campo e de partículas
indicam que deixamos os cinturdes radioatives de Júpiter.
A gravidade do planeta diminuiu a nossa velocidade.
Estamos pelo menos livres de Júpiter e viajando
Rovamente no mar do espago.

874.° Dia — Perda da orientagäo da nave pela estrela Ca.
opus — na linguagem das constelagdes, o leme de um
velero. É o nossa leme também, escencial para a orient
go da nave na escutidéo do espaco, para descobrir
Rosso caminho nesta parte inexplorada do oceano
cósmico, Readquirida a orientagao de Canopus. Parece
que o sensor óplico enganou-se trocando a Alpha e a
Beta Centauri por Canopus. Próximo porto de chamada,
daqui a dois anos: o sistema de Saturno.

De todas as histérias de viajantes que retomaram da
Voyager, as minhas favoritas falam das descobertas realizadas
no mais interno dos satéltes galleanos, lo. Antes da Voyager,
estávamos ansiosos sobre algo estranho referente ao lo. Pode.
ríamos resolver algumas caracteristicas em sua supericie, mas
sabíamos que era vermelho, muito vermelho, mais do que Marte,
talvez o objeto mais vermelho no sistema solar. Por um período
de anos, alguma coisa parecia estar se alterando nele, a luz
infravermelha e talvez suas propriedades de reflexáo ao radar.
Também sabíamos que circundando parcialmente Jupiter na
Bosicäo orbital de lo, havia um grande tubo em forma de rosca de
átomos, enxofre, sódio e polässio, material de alguma forma
perdido de lo.

‘Quando a Voyager se aproximou desta lua gigantesca,
vimos uma estranha superficie mulicolorida diferente de qual
quer outra do sistema solar. lo está próximo ao cinturáo de
asterôides. Dove ter sido interamente bombardeado no decorrer
da sua história por selkos cadentes. Devem terse formado
crateras de impacto, embora náo haja nenhuma à vista, Portanto,
deve haver em lo algum processo extremamente eficiente em
desmanchar ou preencher craleras. Este processo nao pode ser
atmosférico, uma vez que a atmostera de lo escapou em sua
maior parte para O espaco, em decorténcia de sua pouca
gravidade. Nao haveria agua corrente, pois a superficie de lo ©

Hsérias de Vijantes- 157

extremamonto fria. Há poucos locals que lembram os topos de
vuledos. E fil tor corteza.

Linda Morabito, membro do Grupo de Navegaçäo da
Voyager, responsável por manter a nave precisamente em sua
trajetria, estava ordenando, como de rotina, um computador a
realgar uma imagem do bordo de lo para exbir as estrelas além
dole. Para surpresa sua, viu uma pluma brühante deslocando-se na
escuridäo, proveniente da superficie do satélte, e logo foi
determinado que a pluma estava exalamente na posigäo de um dos
vuledes suspeltos. A Voyager descobr o primelro vuledo alvo fora
da Terra. Sabemos agora de nove grandes vulcdes langando gases
+ debris, e centenas, lalvez mihares, de vulcdes extintos em lo. Os
debris, rolando e finde pelos lados das montanhas vulcánicas,
arqueando em grandes jatos por cima do panorama policrémico,
sño mais do que suficientes para cobrir as craleras de impacto,
Estávamos olhando para um panorama planetério novo, uma
superticie recentemente delineada. Como Galileo e Huygens teriam
se maravilhado!

(Os vuledes de lo foram preditos, antes de serem descober-
tos, por Stanton Peale o seus auxliaros, que calcularam as marés
que se levantam no interior sólido de lo pelos infuxos combinados
da lua Europa, próxima, e por Jupiter. Eles descobriram que as
rochas no interior de lo devem ter derretido, nao pela
radioalividade, mas pelas marés; que a maior parte do interior de lo
evo ser liquida. Agora parece provavel que os vulcses de lo so
uma saída do oceano sublerräneo de enxotre líquido, derretido e
concentrado próximo a superficie. Quando o enxofre líquido 6
aquecido um pouco acima do ponto normal de ebuligäo da agua,
fom tomo de 115°C, ele derrete e muda de cor. Quanto mals alta a
temperatura, mais escura a cor. Se o enxolte derretido for
rapidamente estriado, reteré a cor. O padráo de cores que vimos
em lo parece muito com aquilo que esperariamos, se ros, torrentes
e lengóis de enxolre derretido estivessem se derramando das
bocas dos vuledes: o enxofre negro, o mais quente, próximo do
topo do vulcáo, vermelno e laranja,Incluindo os rios, em regles
próximas e grandes planicies cobertas de enxofre amarelo mais ao
longe. A superficie de lo está mudando em uma escala de tempo
de meses. Os mapas devem ser publicados regularmente, como os
registros meteorológicos na Terra. Os exploradores do futuro, em
lo, teráo que conservar sua capacidade em alerta.

A atmostora muito ténuo o escassa de lo fol doscoberta pela
Voyager, sendo composta principalmente de dióxido de entre
Mas esta atmosfera ténue pode servir a um propósito úl, porque
pode ser espessa o sufiiente para proteger a superficie das
partículas muito carregadas do cinturdo radioativo de Jupiter, no
qual lo está contido, A noite, a temperatura cal tanto que o dióxido
de enxolre pode condensar como um tipo de geada branca; as
partículas carregadas entáo se chocam com a superficie, e será
Provavelmente prudente passar as noites em subterráneos.

As grandes plumas vulcánicas de lo atingem uma altura tal
que ficam perto de ejetar seus átomos diretamente no espago em
toro de Júpiter. Os vuledes säo a fonte do grande anel de átomos

Solo anno de lo. Pode sr sta wna
arde prousto de panoramas, I
Xing planes iss, Store wed
Es, teens de ence, escamas In
ones e, erbabo à drei. creundeco
Forum Rao brane, montartas ola:
as sbrupls. A 10 abrang cera de
1706 quiemevos e rgura. nano sta
um coseup de um aspecto da ura
‘atmo cor, A esquord, um paste
e Mu vlcnio de 225 quiömetos de
larga, proveniente de uma crea que
em uma Ina regu Imagens da
Voyage 1. Cosa da NASA

‘em forma de rosca que circunda Jupiter na posigáo da órbita de
lo. Estes átomos, espiralando gradualmente em direçäo a Jupiter
devem cobrir a lua interna, Amaltéia, podendo ser responsävel
pela sua coloragáo avermelhada. E ainda possivel que este
Material, que escapa do lo, contrbbua, após mulas collsöes e
‘condensagées, para © sistema anelar de Jupiter.

‘Uma presenca humana substancial em Júpiter € ainda
mais dificil de ser imaginada, ombora eu suponha que grandes
cidades-baldes flutuando permanentemente na atmosfera sejam
‘uma possiilidado tecnológica em um futuro remoto. Visto pelos.
lados mais próximos de lo e Europa, este mundo imenso e
variävel prooncho a maior parto do cóu, e elevando-se acima do.
tudo, nunca se levantando ou se pondo, pois quase todo satélte
no sistema solar mantém uma face constante voltada para o seu
planeta, como o faz a Lua com a Terra. Júpiter será uma fonte
Continua de provocagáo e exctamento para os futuros explora
dores humanos das luas jovianas.

‘A medida que 0 sistema solar se condensou da poeira e
945 imerestelares, Jupiter adquiriu a maloria da materia que ndo.
foi eletada para o espago interestelar e náo se uniu para formar o
Sol. Se Jupiter fosse algumas düzlas de vezes mais massivo, a
matéria em seu interior teria sofrido reagdes termonucieares, e
ele teria comegado a brilhar com luz propria. O maior planeta ©
uma estela que nunca existu como tal, Mesmo assim, suas
temperatures interiores so sulicontemente altas para iberar
duas vezes mais energia do que a que recebe do Sol. Na parte
Infravermelha do espectro, & correto considerar-se Júpiter uma
strela, Se tivesse so tomado uma ostrela na luz visivel, habita-
ríamos hoje um sistema binário ou de estrela-dupla, com dois
Sôls em nosso céu, e as nolles seriam raras, um evento comum,
credito eu, nos incontáveis sistemas solares na Via-léctea. Sem
divida acharíamos as circunstancias naturals o adoráveis.

[Bem abaixo das nuvens de Júpiter, o peso das camadas.
subjacentes da atmosfera produz pressäo bem malor do que
‘qualquer uma na Terra, pressäo esta tio grande que os elétrons.
‘880 espremidos dos átomos de hidrogénio, estado físico jamas
observado nos laboralórios terrestres, pois as pressöes reque-
ridas nunca foram atingidas na Terra. (HA alguma esperanga de
que 0 hidrogénio metálico seja um supercondutor em lempera-
turas moderadas. Se pudesse ser manulaturado na Terra, faia
‘uma revolugáo eletrónica,) No interior de Júpiter, onde as pres:
bes £20 em tomo de tres mihdes de vezes a pressáo atmosté-
rica na suporticie da Terra, náo há quaso nada a näo ser um
grande oceano derretido e escuro de hidrogénio metálico. Bem
no centro de Júpiter deve haver uma massa informe de rocha e
Terr, um mundo semelhante à Terra no que se relere à pressäo,
‘escondide para sempre no centro do maior dos planetas.

As correntes elötieas no interior de metal líquido de
Jupiter devem ser a fonte do campo magnético enorme do
planeta, o maior no sistema solar e de seu cinturdo associado de.
Prötons e elétrons aprisionados. Estas partículas carregadas S30
ejetadas do Sol no vento solar e capturadas e aceleradas pelo
campo magnético de Jüplter. Um grande número delas &

Hséris de Vijantes- 159

aprisionado acima das nuvens e condenado a salar de um pélo a
Outro, até encontrar por acaso alguma molécula em uma alta
camada atmosférica o ser removido do cinturáo radioativo lo se
move em uma órbita 1äo próxima de Júpiter, que sulca no meio
desta radiagño intensa, criando cascatas de partículas carregadas
que. por seu tumo, geram explosöes violentas de radioenergi
(Também podem influenciar os procesos eruptivos na superficie
de lo)

É possivel predizerem se as tempestades do rádio de
Júpiter com uma certeza maior do que os prognósticos meteoro»
lógicos na Tera, verificando a posigáo de lo.

Fol descoberto acidentalmente que Jupiter era uma fonte de
emissáo de rädio no inicio da década de 50, nos primeros dias da
radioastionomia. Do's jovens americanos, Beard Bueke e
Kenneth Franklin, estavam examinando o céu com um
radiotelescópio recentemente construído e muito sensivel para a
época. Estavam procurando pela radiagáo de fundo cósmico, isto 6,
fontes de rádio além do nosso sistema solar. Para surpresa deles,
encontraram uma fonte intensa náo registrada anteriormente, que
no parecia corresponder a nenhuma estrela, nebulosa ou galäxta
destacada. Além disso movia-se gradualmente em relaçäo às
estrolas distantes, muito mais rápido do que poderia fazélo
qualquer objeto remoto.* Após näo descobrir nenhuma explcaçäo
plausivel para isto em suas cartas do Cosmos distante, um dia
permaneceram fora do observatério e alharam o céu, sem
Instrumentos, para ver se achavam alguma coisa Interessante
acontecendo. Abismados, notaram um objeto excepcionalmente
brihante no local exato, que logo iseniicaram como o planeta
Júpler, Esta descoberta acidental é, incidentalmente, típica na
historia da ciéncia,

A cada final de tarde antes do encontro da Viking 1 com
Júpiter, eu podía ver o planeta gigante cintlando no céu, uma viséo
que mossos ancostras teriam apreciado e dosejado por um miháo
de anos. E na tarde do Encontro, a caminho para estudar os dados
que chegaram da Voyager no L.P.J, pensel que Júpiter jamais
vollaria a ser o mesmo, nunca mais sería somente um ponto de luz
no céu notumo, mas um Local a ser explorado 9 conhecido. Júpiter
+ suas luas sáo um tipo de miniatura do sistema solar, de mundos
¿diversos e delicados com multa coisa para nos ensinar

‘Quanto à composigäo e em muitos outros aspectos, Satumo
6 semelhante a Jupiter, embora menor. Girando uma vez a cada 10
horas, exibe uma falxa equatorial colorida sendo, contudo, menos
Proeminente do que a de Jupiter. Possul um campo magnético ©
um cinturdo radioativo mais fraco do que os de Júpiter e um grupo
mais vistoso de antis cicumplanetários. É também circundado por.
{uma düzia ou mais de satéles.

A lua mais interessante de Saturno parece ser Tita, a maior
lua do sistema solar e a única com uma almostera substancial,
‘Antes do encontro da Voyager 1 com Tita, em novembro de 1980,
nossas informagdes sobre ole eram dispersas e confitantes. O
único gás existente comhecido, do qual náo tinhamos

Por ser fra avoid tz (ojo Capi 8

Ganimodos, a maior ua do Jer As
menores Tomas visvol nosia loo da
‘Voyager 1 tem ceca és qumetos
Sorgen. Sto eudetee rumores ca
oras de paco. mulas com ratos Br
nantes. As tas que se nreepam 0 30
Geste sto composts de suas e ot
(om descomec Cela da NASA.

Imagem amada pela Voyager 2 do
‘Ganumodos, om 8 de uo Go 1978, Ae
lame Padoue nantes que

recta à panico Ossa à desta
ram posswelmente casas, como
ondas ‘om um lago, per um ano
Impacto em sua suport geada. No
a mama eat no ea o mpacto
Prosswpoco, tavoz om decor da
ni domage vaanea staves dos
tone. Contain da NASA,

160 Cosmos

Catsto,otogratado pol Voyage 1, 6 de
mao go 1970, à une dino de
350000 qumetos. Cas fom cora do
atras do impacto om Calcio sugorem
que tena a Epic mas antga do oda
3 as" gallenas do JU
posstwmeno aso Inal Jo acisame
{sta oo a a 48 Dies de amos amas
‘Ganmodes, sugonndo que a sua cosa
gula a "eu (6 alas ver mas
nar do que à nae lu), À aran,
Ata, 10 formada. par um grande
Impact, Amara rar ao conto tom
Sn So game nate

Dore desanhos de TA, de Auen Dal
‘he lolo ne Obseratro Pi de Mid, nos
Prous tanoteea, Via da Tera, à
Fogar de Th à do poquena que mesmo
Sbtarastes “sugoram uters beancas
uma camada mals era que sabe a
vers de mena ones sugeraa om
‘wa evdénca, À neceseldade de um
Veco espacial que env fogatas em
cose, como as programadas para à
Voyager 1, em noveno do 1880, dvi
‘Cotesia de cion Dolls.

vida, era o metano, CH, descoberto por G. P. Kuiper. A luz
ultravioleta do Sol converte este gás em moléculas mais com
plexas de hidrocarboneto e gás hidrogénio. O hidrocarboneto
deve permanecer em Tits, cobrindo a superficie com uma lama
orgánica alcatroada marrom, algo semelhante à produzida em
‘experiéncias sobre a origem da vida, na Terra. O leve peso do
gs de hidrogénio deve, pela baixa gravidade de Tita, escapar
rapidamente para o espaco por um processo violento conhecido
como "explosáo”, que deve cagar o metano e outros
consituintes atmostéricos com ele, Mas TIA possul uma pressao
atmosférica pelo menos tao grande quanto a do planeta Marte. A
“oxplosdo" näo parece estar acontecendo. Talvez haja um
consituinte principal e ainda näo descoberto, nirogénio por
exemple, que mantém allo peso médio molecular da atmosfera
evitando a explosáo, Ou talvez esteja acontecendo a “explosño”
mas os gases perdidos no espago säo abastecidos por outros
liberados do interior do satte. A densidade de volume de Tita é
140 baixa que deve haver um vasto suprimento de água e outros
elos, incluindo provavelmente © metano, que sáo, em timo
desconhecido, liberados para a superfície por aquecimento
interno.

Quando examinamos Tita pelo telescópio, vemos um
disco avermelhado pouco perceptivel. Alguns observadores
regisiraram nuvens brancas acma deste disco, mais
provavelmente nuvens de crstals de metano. Qual será o
responsável pela coloragáo avermeihada? A maioria dos
estudiosos de Tita concorda que a explicado mais razoável sáo
moléculas orgánicas complexas. A temperatura de superfície e a
‘densidade da almostera ainda estáo em debate. Houve algumas
úsugestóos de uma elevagáo da temperatura de superficie devido
ao olello de estula atmosférico. Com moléculas orgánicas
abundantes em sua superficie e em sua atmostera, TA 6 um

estrangelro único e notável do sistema solar. A história de nossas
viagens anteriores de descobertas sugerem que a Voyager e outras.
missées espaciais de reconhecimento revolucionaráo nosso
conhecimento deste loca

‘Airaves de uma brecha entre as nuvens de Tita, podemos.
vislumbrar Satumo e seus anéis, sua cor pällda díusa pela
atmosfera. Por estar o sistema de Saturno dez vezes mais longe do
Sol do que a Terra, o bio solar em Tité tem somente um por
cento da intensidade a que estamos acostumados, e as
temperaluras devem estar bem abaixo do ponto de congelamento
dda água, mesmo com o efeto de estuta atmosférico considerável
Pela abundancia de maléria orgánica, luz solar e talvez pontos.

Imagen de Calo com cor taa. ada.
paco. Foo da Voyage 1. Conesia da
BR

162- Cosmos

O ana de ii, descobero pala
Voyager 1 0 qui logrado, pla
Voyager 2. spor o Tor da lt, à
(ira, abaño. Compsto de paguen.
pates, le parece se estunder por
Fo à von do Slo ds nuvon ova
goto um sg esladenare erro
2 rodugde, Wer de malaria! que
decapo de lo, © à deat pola
Benevagde nas nuyens de copter E
Isto menor © mais opaco do que os
And do Sarno, stcands fo de
{que nune En so visto d Ter ante
Éa'ouctnan de Voyager, Coros de
Nasa

volcánicos quentes, a possiblidade de vida em TA" náo pode
ser prontamente descartada. No há nenhuma evidéncia real
contra ou a favor da vida em Tita. É meramente possivel. Näo
podemos determinar a resposta a esta pergunta sem antes en-
ar veículos de pouso com instrumentos para a superfície de
Tia

Para examinar as partículas individuais que compúem os
andie de Saturno, temos que nos aproximar bastante, pols as
partículas so pequenas bolas de neve, aparas de gelo e peque-
has massas de gelo rolando, com um metro ou mais. Sabemos
que säo compostas de gelo de água porque as propiedades
úspoctrale da luz solar refetida nos antis condizom com a do
¿elo nas medigáos laboratoiais. Para nos aproximarmos das
Partículas em um veículo espacial temos que diminuir a veloc
ade, para podermos acompanháas à medida que elas giram
‘em tomo de Saturno, a cerca de 45.000 mias por hora (83.340
Km), isto é, temos que estar também em érbita do planeta,
movendo-nos na mesma velocidade das partículas, Somente
deste modo seremos capazes de vé-las individualmente, © näo
‘come gotas ou risas.

Por que nao há um único satélte grande em lugar de um
Sistema anelar em tomo de Satumo? Quanto mais perto do
planeta estiver uma particula do ane, maior será a sua
velocidade orblal (a mais rápida está “caindo” em tomo do
planeta — terceira lei de Kepler); as mais internas esto voando
entre as extemas (o corredor da passagem", como o vemos,
está sempre à esquerda). Embora O todo esteja ce
despedagando em tomo do préprio planeta a 20 quiómetros por
‘segundo, a velocidade relativa de duas partículas adjacentes à
muito baixa, somente alguns centímetros por minuto. Em virtude
deste movimento relativo, as partículas nunca conseguem se unir
pola sua gravidade mútua. Logo que tentam, suas velocidades
orbiais ligeiramente diferentes as separam. Se os anéis náo
estvessem tdo próximos a Satumo, este efeito náo seria tao
forte, e as particulas poderiam se juntar, formando pequenas
bolas de neve, © eventualmente tomando-se satéltes. Assim,
no é provavelmente uma coincidéncia que no lado externo dos
andis de Satumo haja um sistema de salólos variando em
tamanho de algumas centenas de quilómetros de diámetro, até
‘Ti, uma lua gigante quase to grande quanto o planeta Marie. A
matéria em todos os satélites e nos próprios planetas pode ter
sido otiginalmente distribuida em forma de anéis, que se
condensaram o se acumularam para formar as luas o planetas

“A concopgáo de Huygens, que desctr TRA om 1855, 1 “Agora ninguóm
poder mais ohar o Comparar estes Stlomas (de Jupter o Salma] som 0
arnrar cam a vasa Maghtude e neres Aconpanhantes dois doe Pinel
Im rro a ett posca pobre Tera. Ou poder fosarsa a pensar que 9
‘Grado 5 coloco aqu todos os seus Armas Patas, basiocu eee.
tou sen ose Pont a deso dos ses Mundos despide e dans.
de hablaros, qu dover adorado e vnark o, ou que oe 08408 copos
prodigies foam os samen paa car o sr estados por uns PO
Bu rubros abs” A que Salmo so move em tomo do Sa uma Vor am
ina an, a duras do suas oagbos © sus fases lunares 6 mul male do
que a de Toro. À rspolo dos prunes Nablarr des lus de Saluno,
Buygons aceros; "6 impossva, mas vou modo de vier dove sor malo
een do nas, haverdo invemoe lo adoos”

Hséris de Vijantes- 169

Foto de Salmo e seus andi, obtds pala
Flonoor 11 ume dei do 25 mindes de
lios 28 e ago 0 1970, as
NASA

Gros compatacorzacos de Satumo om woe
porspocivas tera, que väo dos and
{pase co pat (ama) a os ans por
penca! ivmupcio orto os ande © a Dio
o Cass: ae estoi podem cer viso
Aravoc dla, quo mio à dooprovda das
parus dos ans. Por esta razo, um pan
{Se Pango’ 11 para abavossar a Died do
‘Cavs foi abandonado. O nümere proce,
posan o pacte das curas Imariupedos
Fes, ashe" pomarecn manors,
Propulsion Laboratory

164: Cosmos

Mapas dos novos mundos. Aca, cag poo Survey, aseaca nos dados das Voyager 1 2.
Eco ingcadae ae formas chamadas Ra. Lok, Maul © Prometo, mostradas nas cios dae Voyager apocen
‘api. Enano, o primero mapa a mosbar as Amereas, Compaado no ano So 1900 pr Jun de

‘com Colombo, Cotesia a Amotican Geographical Sody Callcton, da Une ol Weconen

Hitöras de Vijantes- 185

aluais. Tanto o campo magnético de Satumo como o de Jupiter
caplam e aceleram as partículas carregadas do vento solar.
‘Quando uma partícula dessas salta de um polo magnético a outro,
deve atravessar o plano equatorial de Satumo. Se houver uma
partícula do ane! no caminho, o próton ou elétron & absorvide por
esta pequena bola de neve. Como resultado, em ambos os
planetas os anéis limpam os cinturdes radioativos, que existem
somente intema o extemnamente aos anéis. Uma lua próxima de
Júpiter ou Saturno traga as partículas do cinturáo, sendo uma das
ovas luas de Satumo descoberta desta forma: a Pioneer 11
descobriu uma falha inesperada nos cinturdes radioalvos, causada
pola varredura das partículas cargadas por uma lua náo
Conhecida anteriormente.

© vento solar deslza no sistema solar exterior bem além da
rtita de Saturno, Quando a Voyager chegar a Urano e ás órbitas
de Neluno e Pluldo, se os instrumentos ainda estiverem
funcionando, cortamento sentráo a sua presonga, o vento entro 08
mundos, o topo da atmosfera do Sol levado ao dominio das
estrelas. A duas ou tés vezes a distancia do Sol a Plutdo, a
Pressäo dos prótons e elétrons se torna maior que a exercida lá
Polo vento solar. Aquele local, chamado heliopausa, 6 uma
defiigäo da Irontera externa do Império do Sol. Mas a espagonave
Voyager mergulhara e penetrara na helopausa em algum momento
na motado do século XXI, deslizando no oceano do espaco, nunca
penetrando om outro sistema solar, destinada a vagar pela
elernidade entre as linhas estelares e a completar a primeira
Greunavegaçäo do centro masivo da Via-lactea, daqui a algumas
centenas de milhöes de anos. Aventuramo-nos em viagens épicas.

Capitulo VII
AESPINHA DORSAL
DA NOITE

Eles vieram de um buraco redondo no céu ... que brihava como
Togo. Isto, disse o Corvo, foi uma estrela.
— Mio esquimó da erlagäo.

Entenderia melhor uma origem do que ser rei da Pérsia
— Demécrlo de Abdera

Mas Aristareo de Samos encontrou um Ivre que consiste de
algumas hipóteses nas quais as premissas levam à conclusäo de que o
Universo é muitas vezes maior do que o alualmente reconhecido. Suas
hipóteses säo de que as estrelas fxas e o Sol näo se movem, que a Terra
¡ita em toro do Sol na cireunferéncia de um circulo, o Sol repousando no
meio da órbita, o que a esfera das estrelas ficas, situada perto do mesmo
contro em que est o Sal, 6 tio grande que 0 círculo em quo ele supde
que a Terra esteja se encontra na mesma proporçäo da distancia das
estrelasfixas quanto o centro da estera está para a sua superficie.

— Arquimedes, O Calculsta do Tempo.

Se for interpretado um registro fiel das idélas do Homem sobre a
Divindade, ele será obrigad a reconhecer que, na maioria das vezes, a
palavra "deuses” fol uiizada para expressar as causas ocultas remotas,
desconhecidas de efeitos testemunnados por ele; que ole aplica est
termo quando a origem do natural, a fonte das causas conhecidas, cessa
de ser visivel: assim que perde o lio de continuidade das causas, ou logo
que a sua mente ndo consegue mais seguir a cadela, ele resolve a
diliculdado, termina sua busca, alribuindo-a aos seus deuses... Quando,
Portanto, imputa a seus deuses a produgäo de algum fenómeno... náo
estará ele fazendo nada além de substiuir a limitagáo da sua própria
mente por um som que está acostumado a ouvir com respeito e temor?

= Paul Heinrich Dietrich, Bardo von Haibach, Sistema da Natureza,
Londres, 1770

168 Cosmos

‘Quando eu era pequeno morava no Bensonhurst, Brook:
lyn, na cidade de Nova lorque. Conhecia meus vizinhos próximos.
Intimamente, cada ediicio de apartamentos, gaiolas de pombos,
pátios internos, entradas, terrenos baldios, o olmo, a balaustrada.
‘omamental, a chaminé o a parede de jogar handball chinés, ©
entre isto tudo o exterior de tjolos de um tealro chamado Loew
Sülwll om destaque. Sabia onde morava multas pessoas: Bruno
© Dino, Ronald e Harvey, Sandy, Bernie, Danny, Jackie e Myra. À
alguns quarteiées, ne norte do barulhento tránsito no elevado da
Rua 86, situava-se um teritöri estrangeiro e desconhecido, fora.
des limites das minhas andangas. Poderia ser Marte para mim.

Mesmo deltando-nos cedo, no Invemo, podemos algumas
vezes ver as estrelas. Podía olhar para olas, piscando distantos, o
imaginar como seriam. Podia perguntar As criancas mais velhas e.
£208 adults, os quais driam: "Säo luzos no cu, garoto". Eu podía
ver as luzes no céu. Mas o que elas seriam? Somente luzes.
suspensas no ar? Para qué? Sentia uma espécie de pena del
vulgares, cuja singularidade permanecia de alguma forma oculta
205 meus amigos nao curiosos. Deveria existir alguma resposta.
mais profunda.

Assim que cresei o bastante, meus pais deram-me meu
primeira cartäo de empréstimo da biblioteca, que ficava na Rua.
85, tomóro estrangeio. Imediatamente pedi à bibliotecaria
alguma coisa sobre as estelas. Ela vollou com um Ivro de
{gravuras com retratos de homens e mulheres, com names como.
Clark Gable e Jean Harlow. Suspiel, e por uma razáo obscura.
para mim, ela sor e achou um outro Ivro — o tipo certo. Eu o
abi, com a respiracdo presa, e l até encontrar. O Iwo dizia algo.
chocante, uma grande idéla, Revelava que as estrelas eram séis,
‘muilo distantes. O Sol era uma estrela, só que estava próxima de
nes.

Imaginemos desiocar o Sol para 180 longe que ele se tomo.
somente um diminuto pont de luz piscando. Quanto terlamos de
afastá-lo? Eu ignorava a nogáo de tamano angular, bem como a
lei do inverso do quadrado em relacáo à propagagäo da luz. Nao
possuía nem um vislumbre da possibildade de calcular a
distancia das estelas. Mas podía dizer que se as estelas eram
‘63s, Inham que estar bem longe, muito mais longe do que a Rua.
85, Manhattan e até provavelmente Nova lorque. O Cosmos era.
‘Muito maior do que eu supunha.

Depols li outro fato espetacular. A Terra, o que incluía
Brooklyn, era um planeta que girava em tomo do Sol. Havia
outros planetas que também giravam em tomo do Sol, alguns
mais próximos dele e outros mais longe. Os planetas nao tinham
luz própria como o Sol, mas meramente relleiam a sua luz. Se
vocé estivesse a uma distancia muito grande, nao vera a Tera e.
08 oulros planetas; oles seriam somente pontos pálidos de luz,
perdidos no resplendor do Sol. Bem, entáo pensei: "£ razoável
que as oulras estrelas possuam planetas também, que ainda nao
detectamos, e que alguns desses planetas devam ter vida (por
que ndo?), um tipo de vida provavelmente diferente da nossa,
como a conhecíamos, a vida no Brooklyn’. Decidi entäo ser um
astrónomo, aprender sobre estrelas o planetas, o, se possivel
Visité os.

A Espinha Dorsal a Note - 169

Fol um bom imonso ter pais o protessores que oncorajaram
esta ambigäo, e viver em uma época, o primeiro momento na
historia da humanidade, que estava realmente viitando outros
mundos e engajando-nos em um reconhecimento mais profundo do
Cosmos. Se eu tivesse nascido antes, a despeito da minha
dedicaçäo, nao teria comprendido o que sao estrelas e planetas.
Näo teria sabido que há outros sóls e oulros mundos. Este 6 um
dos grandes segredos, arrancado da natureza através de um
mihäo de anos de observaçäo paciente e idélas arrojadas de
nossos ancestral.

O que sáo as estreias? Esta pergunta ¢ tá0 natural como ©
sorriso de uma crianga. Sempre fizemos este tipo de pergunta. O.
que é diferente agora 6 que pelo menos sabemos algumas
perguntas. Livros e bibliotecas sáo meios prontos para a desco-
berta delas. Em biología há um principio da aplicablidado
poderoso, embora imperfeto, chamado recapitulagäo: em nosso
desenvolvimento embrionário individual, delineamos a história
evolucionária das espécios. Há, penso eu, um tipo de recapitulagäo
que ocore também em nosso desenvolvimento intelectual
individual. Inconscientemente delineamos os pensamentos de
nossos ancestrals remotos. Imaginemos um tempo anterior à
Giéncia e as bibliotecas. Imaginemos um tempo, há centenas de
mihares de anos. Éramos entáo somente alvas, curiosos ©
envolvidos em aspectos socials e sexuais. As experiencias nao
tinham sido fetas, as invençôes nao tinham surgido, Era a infancia
do género Homo. Imaginemos quando o fogo fo! descoberto. Como.
era a vida do ser humano? O que acrecitavam nossos ancestrals
serem as estelas? Algumas vezes, em minha fantasia, imagino.
¿que houve alguém que pensava assim:

Comemos sementes e raizes. Nozes e folhas. E animals
morts. Alguns nós descobrimos, outros malamos. Sabemos quals
os alimentos bons e quais os perigosos. Se provamos alguns,
somos abatidos como punieäo por té-los comido. Nao temos
intençäo de fazer coisas ruins. Mas a dedaleira e a cicuta podem
matar. Amamos nossas criangas e nossos amigos. Prevenimo-ios,
‘estes alimentos

‘Quando cagamos animais, também podemos ser mortos
feridos, pisoteados ou comidos. O que os animals fazem significa
vida e morte para nés — como se comportam, quals as pistas que
deixam. a época do acasalamento © procriaçäo. a época de
vaguear. Tomos que sabor estas coisas. Nós dizomas as nossas
crianças. Eles dizem as deles.

Dependemos dos animais. Nós os seguimos, especialmente

ho inverne, quando há poucas plantas para comer. Somos
‘cacadores e cobradores errantes. Chamamo-nos povo capador.
A maioria de nós dorme ao ar lvre, debaixo de uma árvore ou em
‘seus galhos, Usamos pele de animais como roupa — para nos
aquecer, cobrir nesses compos e algumas vezes como cama,
Quando usamos as peles dos animals, sentimos o poder detes.
Pulamos com a gazela. Cagamos com o urso. Há uma ponte entre
n6e e 06 animals. Cagamos e comemos animals Eles nos cagam e
os comem. Somos parte um do outre.

170- Cosmos

Fazemos ferramentas e nos mantemos vivos. Alguns de
nos sáo bons em trar lascas ou láminas, afíáas e pol.las, bem
como achar pedras. Algumas rochas nds amaramos com
fondées de animals a um cabo de madera e fazomos um
machado, Com ele balemos em plantas e animals. Outras rochas.
520 atadas a longas varas. Se ficammos quielos observando,
podemes algunas vezes chega próximo a um animal e entrar
uma lança.

A came se estraga. Algumas vezes estamos com fome e
ltentamos ndo nos incomodar. Misturamos ervas com a came
‘im para disfarçar o gosto. Nós embrulhamos alimentos que náo.
estragam em pedagos de pale de animal, em grandes folhas ou
na casca de uma noz grande. E aconselhável separar a comida €

ila. Se comermos logo esta comida, alguns de nés
Senträo fome depots. Temes que ajudar os outros. Por Iso e por
muitas colsas temos regras. Todos devem obedecé-as. Sempre
tivemos regras. Elas sáo sagradas.

(Um día houve uma tempestad com muito rao, mulo to
vo e muita chuva. Os pequenos tim medo de tempestades.
Algumas vezes eu também. O segredo da tempestade está es.
Gondide. O troväo 6 profundo e alto; 0 ralo & breve e luminoso.
Talvez alguém muito poderoso esteja zangado. Penso que deva
seralguem no eau,

Avós as tempestades houve movimentos e estalos na fo
resta próxima, Fomos ver. Havia uma coisa saltando, quente,
brihanto, amarela o vermeiha. Nunca tinhamos visto isto antes.
Agora a chamamos de "chama". Tem um odor especial De certo
‘modo 6 viva. Come alimentos. Come plantas e galhos de arvore e
até ärvores interas, se vocé deixar. E forte, mas náo muito
esperto. Se acabar toda a comida, more. No consegue andara
distancia de um olsparo de lança, de uma árvoro para outra, se
náo houver comida no caminho, Näo pode andar sem comer.
Mas onde há bastante comida, ela cresce e faz multas criangas.
chamas.

Um de nés teve um pensamento bravo e perigoso:
capturar a chama, alímontá.la um pouco 6 lomé la nossa amiga.
Descobrimos alguns galhos longs de madeira dura. A chama os
comeu, mas lentamente. Nós podíamos segurádos polo lado que
ndo tinha chama. So vocé correr com uma pequena chama, ela
more, Suas criangas so fracas. NOs ndo corremos. Andamos e
¡gritamos coisas boas. “Nao morra”, nds dizemos para a chama. O
Oro povo cagador olhou com olhos compridos,

‘Mesmo depois, caregamoa conosco. Temos uma
chama-mäe para alimentar lentamente para que náo mora de
ome." A chama 6 uma maraviha e também é uti, certamente um
presente dos poderosos, Séo eles os mesmos seres zangados
das tempestades?

“Esto sans do logo como uma cosa Wis, para sor protegido caco, no
exo ser encarado como uma nega primita. € arcade na az de motas
clragées modernas, Cada casa da anlga Gröss, de Rama © ano os
brömanee d anta nd possua una aaa uma sai d lis ross para
‘har dn chama. À poto 8a carios ram coboros cam cane para slr pol
‘mana adicoravam novas varas para rover a chama. A mode da Chama na
lava oa considorada andnimo de mert a ari. E os as oy cultas, à
‘al d aa estava conectado com o cli die ances Eta a orge da
hama stoma, um símbolo ainda muto uilrade om cormonis rosea,
‘omomoraivos polos llos or lodo o mando.

A Espira Dorsal da Note 171

A chama nos mantém aquecidos em noltes fas, Nos dé a
luz. Faz buracos no escuro quando 6 Lua nova. Podemos fazer
lanças para a cagada do día seguine. E se ndo esiivermos cansa.
dos, mesmo no escuro, podemos ver os outros e conversar.
Podemos ser lerides à noite. Algumas vezes somos comidos,
‘mesmo por pequenos animals, hienas e lobos. Agora 6 diferente.
‘Agora a chama afasta os animals, Nós os vemos ladrando balxinho,
ho escuro, rondando, seus olhos brihando na luz da chama, Eles
tém medo dela. Nós náo. A chama 6 nossa, Cuida-mos dela, Ela
cuida de nee.

© céu 6 importante. Ele nos cobre à nos lala. Antes de
descobrimos a chama, podiamos deltar no escuro e olhar para
cima para os pontos de luz. Alguns deles se juntam e formam
figuras no céu. Um de nés pode vé-las melhor do que os outros.
Ela nos ensina as figuras e nos diz os nomes para chamd-as.
Sentamos em roda, tarde da noite, e fazemos histórias sobre as
figuras no cóu: ledes, cachorros, ursos, povos cagadores. Outras
figuras säo estranhas. Seráo as figuras dos seres poderosos no
‘cou, aqueles que fazem tempestades quando ficam zangados?

‘Na sua maior parte, o cóu ndo muda. As mesmas figuras de
estelas estáo lá ano apés ano. A Lua cresce do nada, de uma
lasca fina a uma bola redonda, tomando entao ao nada, Quando a
Lua muda, as mulheres sangram. Algumas tnbos possuem leis
contra o sexo em determinadas épocas do crescimento e enco:
mento da Lua. Algumas tnbos riscam os días da Lua, ou os dias
que as mulheres. sangram, em ossos de veado. Podem entäo
planejará rente e obedecer suas regras. As rogras sáo sagradas,

‘As estelas estáo mul distantes. Quando subimos uma
colina ou em uma arvore náo lícam mais próximas. As nuvens
ficam entre nés o as estrelas: olas devem estar depois das nuvens.
A Lua, enquanto se move lentamente, passa na frente das estrelas
Depots podemos ver que as estrelas náo ficam daniicadas. A Lua
nao come as esirelas. Elas devem estar depois da Lua. Elas
piscam. Uma luz estranha fa, branca e distante. Sáo multas no
‘c6u todo. Mas somente à noite, Pergunto-me o que seráo.

Depois que descobrimos a chama, eu estava sentado pré-
ximo do logo do grupo pensando nas estrelas. Lentamente me velo
uma idéia. As estrelas sáo chamas. Endo tve outro pensamento:
as estrelas säo logos de grupo que os outros povos caçadores
‘acendem à noie. As estrelas co uma luz menor do que a do logo
do grupo. Entäo as estrelas devem ser grupos muito distantes
“Mas,” elas me porgunlaram, “como pode haver fogos de
acampamento no osu? Por que os logos do grupo © 0 povo
‘cacador om volta da chama näo caem em nossos pés? Por que
Iris estranhas náo caem do céu?*

Säo boas perguntas, que me confundem. As vezes penso
que o céu 6 melade de uma grande casca de ovo, ou de uma
grande casca de noz. Penso que este povo, em volta dos logos
distantes, olha para nós, exceto que para eles parece que nds &
‘que estamos em cima, e dizem que nds estamos em seu céu e se
Perguntam por que ndo caímos em cima deles. Penso que voce me
‘entende. Mas o povo capador diz, “Embaixo 6 embaixo, em cima 6
‘em cima”. É também uma boa resposta

172 Cosmos

Ha um outro ponsamento que um de nés teve. Ele pensou
que a noite d uma grande pele prota de animal jogada no eau. Há
buracos na pele. Ohamos através dos buraces. E vemos a
chama. Seu pensamento náo 6 que haja chama em alguns luga-
ros onde vemos estelas. Ele pensa que a chama está em toda
parte. Ele pensa que a chama cobre o osu todo, mas a pele
esconde a chama, exceto onde há buracos.

‘Aigumas estrolas andam, como es animals que cagamos.
Como nds. Se olharmes com cuidado por mutes meses, sabe-
romos que elas so mover. Há somente cinco delas, como os
dedos da máo. Vagueiam lentamente entro as estelas. Se o
pensamento do logo do grupo lor verdadeire, estas esirelas
Giver sor bos de capadores erants, transportando grandes
foges. Mas náo veo como estos andantes possam ser buracos
em uma pote. Quando lazomos um buraco ele ea la. Um buraco
é um buraco. Buracos náo vaguelam. Também néo desejo ser
rodeado por um cau de chama. Se a pelo cal, 0 céu natume
bitará, como Se houvesse uma chama em todos 0s lugares
Penso que um céu de chama nos comerá a todos. Talvez hala
os pos de seres poderosos no céu. Os maus, que desejam que
a chama nos coma, eos bons, que colocam a pele para afastar a
chama. Temes que encontar um modo de agradecer aes bons.

Nao sel se as esirelas sáo fogos de grupo no céu. Ou
buracos em uma pele através dos quai a chama do poder oa
para né. As vozos, penso do um mado, em outras, penso
Gilerente. Uma vez pense! que náo havla logos nem buracos,
mas outa coisa muito dc para eu comproender.

FRepouse o pescogo em uma tora. Sua cabega var para
trás e voce 20 verá o céu. Nom montanhas, nem arveres, nem
cagadores. nem fogo. Somente o céu, Algumas vezes penso que
cari dentro do céu. Se as estelas forem logos de grupos,
gostaria de visitar alguns outros capadores, os que vagueiam.
Enido acho que sera bom cal. Mas se as estelas sfo buracos
em uma pete, co com mod Náo quero car em um buraco o
¿entro da chama do poder.

Gostaia de saber o que 6 verdadere. No gosto de ndo
saber.

Imagino que nem todos os membros de grupos de
cagadores tenham tido pensamontos como esses sobre as
estelas. Talvez, através dos tempos, alguns os tvessem, mas
nunca todos om uma só pessoa, embora idélas sofisteadas
sejam comuns nessas comunidades. Por exemplo, o aborigine
Kung do deserto de Kalahar, em Bolswana, possui uma
explicacño para a Via-léctea, que na sua latitude está sempre
acima dele. Chamam-na de "a espinha dorsal da note”, como se
‘© céu fosse um grande animal dentro do qual vivéstemos. A
explcagáo deles toma a Vialácioa tanto ui quanto
compreensivel. Os Kung acreditam que a Vie-lictea sustenta a
role, que se nao fosse por ela, ftaqmentos de escurdao se
<despedacariam aos nossos pés. É uma déia elegante.

Metaloras como logos celostals de grupos ou espias
dorsas gldcicas foram eventualmente substiuidas na maitia

A Espa Dorsal da Note 173

das culturas humanas por outra Ida: os seres poderosos no
cu foram promovidos a deuses. A eles foram dados nomes e
parentescos e responsabildades especiais nos servigos cósmi-
os, os quals eram esperados que eles se incumbissem. Havia
um deus ou deusa para cada assunto humano. Os deuses
coordenavam a Natureza. Nada podia acontecer sem a sua
intervençäo direta. Se estivessem alegres, havia muta fartura,
e os seres humanos ficavam contentes. Mas se alguma coisa
os desagradasse, e algumas vezes era algo mínimo, as
consequéncias eram aterrorizantes: inundagóos, tempestades,
guerras, terremotos, vulcdes e epidemias. Os deuses tinham
que ser agradados, e uma vasta indústria de sacerdotes e
ordculos surgiu para aplacar os deuses. Mas por serem
caprichosos, ndo havia certeza do que faziam. A Natureza era
lum mistério. Era il entender o mundo,

Pouce resta do Templo de Hora na iha de Samos no
mar Egeu, uma das maravilhas do mundo antigo, um grande
templo dedicado a Hera, que comegou sua carrera como a
deusa do céu. Era a deidade protetora de Samos,
desempenhando o mesmo papel de Atenas em sua cidade,
Mais tarde Hera casou-se com Zeus, o chefe dos deuses do
Olimpo. Sua lua-de-mel fol em Samos, 6 o que nos dizem as
histérias antigas. A rigido grega explica que a faixa difusa de
luz no céu notumo 6 o lite de Hera que esguichou do seu selo
atravessando o céu, uma lenda que € a origem do nome ainda
usado no Ocidente — a Vialácien. Talvez representasse
originalmente o conhecimento profundo com o qual o céu nutre
a Terra; se assim o for, o significado parece er sido esquecido.

Somos, quase todos, descendentes de povos que
responderam aos perigos da existéncia inventando históias
sobre deidades imprevisiveis ou descontentes. Por muito tempo
instinto humano da compreensáo fol frustrado por explicagóes
reliosas fáceis, como na antiga Grécia, no tempo de Homero,
quando havia deuses do céu e da Terra, a trovoada, os
oceanos e o submundo, o fogo, 0 tempo, o amor e a guerra,
onde toda árvore e prado possulam seu duende e seu gnomo.

Por milhares de anos os seres humanos foram
oprimidos, como © somos ainda alguns, por uma nogáo de que
© universo 6 uma marionete culos cordées so movidos por

Reconsiugdo de templo do Hera, na tha
Jede do Samos. En © malo tempo da
Spots, som 120 metas Go comprinero.
Sia consvueto comegeu am 530 AC. 2
comiraos a9 esco IN AC, Do Der
Heratampal von Samos, de Ones Raunar
(1887,

Única cotuna scbroxstento do Tempo de
Mora, om Samos

174- Cosmos

Um mapa do Medieräneo loto nos
ompios Cässcos, mostrando as ces
‘eeocodas com cs andes dert
nacos

ÁSIA MENOR

deuses ou deusas, ivisiveis e inescrutávels. Entäo, há 2.500
“anos houve um glorioso despertar em Jónia: em Samos e outras.
colónias gregas próximas que cresciam entre has e enseadas
do leste movimentado do mar Egeu." Repetidamente surgiram
pessoas que acreditavam que tudo era feito de átomos; os seres
humanos e 08 outros animals tinham surgido de formas mais
simples, que as doengas náo eram causadas por demónios ou
‘deuses, que a Terra ora somente um planeta girando em toro do.
Sol, e que as estrelas estavam muito longe.

Esta revolugáo fez surgir do Caos, o Cosmos. Os antigos.
gregos acreditavam que no principio havia © Caos, correspon:
Sendo à trage no Génesis "sem forma’. O Caos eriou e se unlu a
‘uma deusa chamada Nolte, o sua prole produziu todos os deuses
e 05 homens. Um universo criado do Caos possuia uma
Continuidade perfeita, de acordo com a crenga grega em uma
Natureza imprevisivel governada por deuses caprichosos. No

“para aumanar à const, Ja nto et no mar Joc; reebeu sau name
dos colonos de cota d ma rice

A Espnha Dorsal da Note - 175

Século VI A.C. em Jénia, fol desenvonido um conceito novo, uma
das grandes idéias da espécie humana, O universo era cognoscivel
argumentavam os antigos jönicos, porque apresenta uma ordem
intema: há regularidades na Natureza que permitem que os seus
segredos sejam desvendados. A Natureza náo & inteiramente
imprevisivel, há regras a serem obedecidas. Esta caracterísica
ordenada e admirävel do universo foi chamada de Cosmos,

Mas por que Jonia, por que nestas terras modestas e bucöl-
cas, estas ihas e enseadas remotas no leste do Mediterráneo? Por
que náo em grandes cidades da india e do Egto, Babilénia, China
où América Central? A China possula uma tradigáo astronómica
milenar. tinha inventado © papel, a imprensa, foguetes, relégios,
seda, porcelana e navios de altomar. Alguns historiadores dizem
que fol por ser uma sociedade muito tradiconalista, näo predisposta
a aceltar inovacóes. Por que ndo a india, uma cultura extremamente
fica, que pendia para a matemática? Sustentam alguns
historiadores, em decorréncia de uma fascinaçäo rigida por uma
ideia de um universo infinitamente vetho condenado a um ciclo sem
fim de mortes e renascimentos, de almas e universos, nos quais
nada fundamentalmente novo podia jamais acontecer. Por que näo
as sociedades Maia e Asteca, perfetas em astronomia e cativadas,
como a india, pelos grandes números? Declaram alguns
historiadores, por terem perdido a aptidio ou o impeto pela
invengáo mecánica. Os Malas e Astecas näo inventaram nem —
‘exceto em brinquedos — a roda,

05 jónicos tinham varias vantagens. Jónia era uma regido
insular. O isolamente, mesmo incompleto, gera a diversidade. Com
muitas ihas diferentes havia uma variedade de sistemas politicos,
Nenhuma concentraçäo de poder poderia forçar uma conformidade
sociale intelectual em todas as ihas. A live investigagáo tornou-se
Possivel. A promogao da supersigáo no era considerada uma
necessidade política, Diferente de muitas outras culturas, os jénicos
estavam na encruzihada das cidizacóes, e ndo em um de seus
centros. Na Jenia, o alfabeto fenicio fol primeiro adaptado ao uso
grego, tomando possivel a expansäo da aptidao para as letras. A
escrita ndo era mais monopólio dos sacerdotes e escribas. Os
pensamentos toravam-se disponiveis a consideraçäo e ao debate,
O poder poltico estava nas mäos dos negociantes, que
promoveram ativamente a tecnología, da qual dependia a sua
prosperidade. Foi no leste mediterráneo que as civiizagóes
africanas, asíálicas e europélas, incluindo as grandes culturas do
Egto e da Mesopotamia, se encontraram e se mesclaram em uma
controntacdo vigorosa e impeluosa de preconceitos, linguagem,
idéias e deuses. O que fazer quando nos deparamos com varios
deuses diferentes, cada qual ciamando pelo mesmo tenrtório? ©
babllónio Marduk e o grego Zeus eram considerados senhor do céu
+ rei dos deuses. Teremos que decidir se Marduk e Zeus eram
realmente o mesmo, Teremos também que decidi, já que possuem
atributos bem diferentes, se um dos dois foi meramente inventado
pelos sacerdotes. Mas se um o fo, por que náo ambos?

176: Cosmos

Maganeta ce pone em torna de máo, ne
19 de I na Somes con

Foi assim que a grande idéia surgiu, a conscientizagä de
que deveria haver um meio de se saber do mundo sem a hipé-
tese divina, que deveriam existir principios, forgas, leis da natu-
reza através dos quais o mundo podia ser comprendido sem se
aribuir queda de cada pardal à intervençäo direta de Zeus.

Penso que a China, a India e a América Central teriam se
votado também para a ciäncia se tivessem tido um pouco mais
de tempo, As culturas näo se desenvolvem no mesmo ritmo ou
evoluem através das mesmas formas, Surgem em épocas dife-
rentes e progridem de diferentes modos. A visio do mundo
Cientifico funciona bem, explica muita coisa e ecoa te harmo-
nicsamente com as partes mais desenvolvidas de nossos cére-
bros, que no tempo certo, penso eu, virtualmente todas as
culturas na Terra, deixadas a seus próprios destinos, descobrem
3 ciéncia. Alguma cultura tem que ser a primera. Quando acon-
teceu, a Jónia foi o local onde nasceu a ciëncia

Esta grande revolugäo no pensamento humano comegou
entre 600 e 400 A.C. A chave para a revolucáo foi a mao. Alguns
dos brihantes pensadores jónicos eram fihos de marinheiros,
fazendeiros e teceldes, Estavam acostumados a labutar e a esco.
ther, o que nao acontecia com os sacerdotes e escribas de outras
nagdes, os quais. criados na opuléncia, relulavam em sujar as
mäos. Rejeitavam a superstigäo e eles próprios faziam os mila-
gres, Em muitos casos temos somente fragmentos ou relatos de
segunda mio do que aconteceu. As metáforas ullizadas entáo
podem ser obscuras para nés agora. Houve quase que certa-
mente um esforgo consciente alguns séculos depois para abafar
esses novos conceitos. As figuras eminentes nesta revolugäo
foram homens com nomes gregos, na maloria das vezes näo
familares a nés, mas os verdadeiros pioneiros no desenvohi-
mento da nossa civilzacio e humanidad,

© primeiro cientista jónico foi Tales, de Mileto, cidade da
Asia, separada da ha de Samos por um estret canal, Viajou ao
Egito, sendo versado no conhecimento da Babilénia. Diz-se que
prevu um ecipse solar. Sabla como medi a altura de uma
pirámide pelo comprimento da sombra e pelo ángulo formado
pelo Sol com o horizonte, um método ullizado hoje para de-
terminar a altura das monlanhas na Lua. Foi o primeir a provar
teoremas de geometria do tipo codífcado por Euclides très
séculos depois — por exemplo, a proposicäo que os ángulos da
base de um triángulo isósceles sáo iguais. Ha uma clara contr
nuidade do esforco intelectual de Tales e Euclides e a compra,
por Isaac Newton, do Elementos de Geometria no mercado de
‘Stourbridge em 1663 (pág. 68), evento que acelerou a ciéncia e
tecnología modemas.

Tales tentou compreender o mundo sem invocar a inter-
vençäo dos deuses, Como os babllónicos, acreditava que o
mundo já tinha sido agua, Para explicar a terra seca, os babilén-
cos diziam que Marduk tinha colocado uma esteira na face das
Aguas e amontoado areia sobre ela." Tales tina um ponto de

TH olgumes ons que os mios da creo dos melo sumenanos ron
isleagdos anglemerte nourisas,pestonamonte codhendas por vata de
1000 AC. no Enuma elen (ue no a" sho as pimaras para de
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