nossa essência como as lentes de amor que nos fazem compreender o outro além do sorriso ensaiado. (Gabriel Chalita,
p. 62-63)
“Parece mais fácil escolher amparado no outro, desculpando o próprio fracasso por causa do outro. Mas é menos
nobre. Menos inteligente. Fracassar faz parte da trajetória. Quedas fortalecem a caminhada desde que se perceba a
queda e que se compreenda que ninguém, a não ser eu mesmo, é responsável por ela.” (Gabriel Chalita, p.66)
“Os amantes se socorrem em seus medos. Amparam, oferecem os ombros, estendem as mãos. O amor é gestual, passa
pela materialidade do corpo, mas nela não se esgota. Desdobra-se em presença espiritual e transforma-se em marcas
que não se apagam nem mesmo com o tempo. O que fica de mim no gesto que realizo? Onde termina a materialidade
do que faço? A mão que seguro na hora da fraqueza, o abraço que ofereço no momento do desespero, a palavra que
empresto no instante da solidão. Onde termina tudo isso? Quanto tempo dura no outro a caridade recebida? Eu vivo
para descobrir...” (Pe. Fábio, p. 78)
“É bonito reconhecer na experiência do amor frutuoso a superação criativa dos limites. Só o amor pode nos libertar
dos nossos medos, porque o amor sugere proteção. Nossos medos são muitos. Temos medo da morte, da doença, do
abandono, do fracasso, da solidão. Temos medo de não sermos compreendidos, e a resposta talvez esteja aqui. Não
estamos acostumados a encontrar misericórdia. Os verdadeiros amantes estão escassos nos dias de hoje. Faltam
pessoas que queiram entrar na tenda de nossa vida. Que queiram conhecer a lógica de nossas ações, os motivos de
nossas incoerências. Não querem entrar porque não querem se comprometer. É o que Bauman diz sobre a fragilidade
dos laços humanos. As sociedades contemporâneas estão cada vez mais indispostas a relações duradouras. A cultura
fast-food parece refletir a forma como compreendemos as relações humanas. Tudo é muito farto, rápido e passageiro.
Não há tempo para entrar na tenda. O máximo que nos oferecem é uma passada diante da porta. O mesmo acontece
conosco. Nem sempre temos disposição de sair de nosso lugar para encontrar o outro e suas fragilidades. É mais fácil
simplificar a questão, eliminar, jogar fora aquele que não corresponde às nossas expectativas.” (Pe. Fábio, p. 78-79)
“Meu caro amigo, fico pensando nos fracassos como rascunhos. Não são definitivos. São apenas caminhos que
sugerem grandes obras. Por isso não precisamos temer o insucesso. O fracasso só será definitivo para aqueles que o
compreenderem como ponto final da obra. É melhor encará-lo como reticências...” (Pe. Fabio, p. 81)
“Ao considerar o limite como mola propulsora para o nascimento do sentido, essa abordagem devolve à sociedade o
direito de ser espiritual. Uma terapia que considere as coisas do espírito é de fundamental importância na superação
dos medos. A materialização das questões não resolve nossos conflitos. O materialismo e sua tentativa de suprir todas
as necessidades humanas já chegaram ao extremo de sua inaptidão. Estamos com medo de viver, medo de envelhecer,
medo de morrer. Estamos com medo de nós mesmos e de tudo o que nos é próprio. Tememos nossas questões, nossos
conflitos, porque sobre eles não estamos muito dispostos a pensar. Queremos as soluções práticas, mas não queremos
passar pelo duro processo que pode fomentá-las. (...)
Distantes de gestos novos e ausentes de palavras novas, na tentativa tresloucada de se agarrar a alguma esperança, as
pessoas encontram esconderijo em realidades fugazes, transitórias. Mas não são capazes de preenchê-las de sentido.
Apenas entorpecem por um tempo cuja duração não sabemos precisar. E assim vivem, envelhecem e morrem. Morrem
antes do tempo, antes da hora. (...) a morte prevalece toda vez que perdemos as esperanças. O vazio, a falta de sentido,
apressa ainda mais os efeitos da finitude em nossa vida.” (Pe. Fabio, p. 129-130)
(...) a urgência é descobrir o vaso de flor, o apartamento a ser reformado, a terra prometida a ser conquistada. E,
mesmo que haja tristezas pelo caminho, o sentido há de prevalecer. Talvez tenha sido esse sentimento que
impulsionou os versos de Drummond no poema “Mãos dadas”: “Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão
taciturnos, mas nutrem grandes esperanças”. “Preso à vida” é uma expressão que parece sugerir sentido. O poeta não
se desprende de sua realidade. A experiência que tem do mundo é direta e sem rodeios. Mas a dureza da realidade não
lhe castra as expectativas. O mesmo acontece com seus amigos. Drummond não os coloca numa aura de felicidade,
fruto e resultado de uma promessa já atingida. Ele os reconhece tristes, mas esperançosos, porque presos a um sentido
que os dispõe para a vida.
O poeta conhece bem o poder criativo da tristeza. Sabe que é nela que as grandes esperanças são gestadas. (...) Quando
bem vivida e compreendida, a tristeza é serva da esperança. A ela presta o ofício de abrir caminhos, fendas, pequenas
frestas. É a partir dela que podemos redescobrir o desejo de dar novos rumos aos fatos, aos sentimentos e até mesmo
às nossas escolhas. Um estado de tristeza pode ser lugar propício para o início de novos tempos. A alegria faz ficar. A
tristeza faz partir. (...)
A segurança do lugar conquistado ou a aventura do desconhecido do que o espera? O que é mais saudável nessa hora,
ficar ou partir?” (Pe. Fábio, p. 131)