O POETA DOS ESCRAVOS Antônio de Castro Alves Nasceu na Bahia e estudou Direito em Recife e em São Paulo.
Poesia romântica 3ª Geração Escritor baiano de maior destaque da terceira geração romântica, Castro Alves, chamado de " Poeta dos Escravos ” apresenta uma poesia dividida em duas temáticas: a poesia social e a poesia lírico-amorosa.
Condor
O condoreirismo – Poesia Social Foi chamada de condoreira ou de poesia social, pois buscava demonstrar em sua obra os problemas sociais do Brasil da época, como escravidão, proletariado e outros.
O condoreirismo – Poesia Social poesia social: poeta da liberdade, Castro denuncia as desigualdades sociais e a situação da escravidão no país , além de solidarizar-se com os negros, que eram trazidos de modo precário dentro dos navios negreiros. Castro clamava à natureza e às entidades divinas para que vissem a injustiça cometida pelos homens sobre os homens e intervissem para que a viagem rumo ao Brasil fosse interrompida. Graças a sua obra empenhada na denúncia das condições dos negros, ficou conhecido como "o poeta dos escravos", por solidarizar-se com a situação dos que aqui vinham e eram submetidos a todo tipo de trabalho em condições desumanas.
O condoreirismo – Poesia Social Participantes e influenciadores do processo político, social e cultural do Brasil da época, os autores dessa geração tinham o tema da liberdade como principal de suas produções. Esse fato contribuiu para o uso da ave “ Condor ” como símbolo desse período do Romantismo. Por conseguir voar muito alto e, por isso, ter uma visão mais ampla , os românticos identificaram-se com a liberdade do animal.
O condoreirismo – Poesia Social Nesse período, a literatura sofre forte influência do escritor francês Victor-Marie Hugo (1802-1885) recebendo o nome de " Geração Hugoniana ". → Características do Condoreirismo: Abolicionismo - a poesia desse período volta-se para a defesa da República e do abolicionismo e, com isso, o foco das produções está concentrado nos pobres, marginalizados e negros escravizados;
O condoreirismo – Poesia Social Liberdade – munidos de um sentimento de revolta ante as injustiças sociais, os autores acreditavam que , assim como o condor, tinham a capacidade de olhar de um ponto mais alto as questões sociais e, por isso, informar a sociedade sobre a realidade em que viviam de forma a conscientizá-la do ideal de liberdade, ou seja, eles se sentiam capazes de influenciar a forma de pensar e colaborar para mudanças sociais.
O condoreirismo – Poesia Social Composta para ser declamada; Tons característicos da oratória; Uso intenso de vocativos e de pontos de exclamação; Apreço às imagens exageradas; Frequente uso de hipérboles
Obra condoreira Navio Negreiro O navio negreiro é um poema de Castro Alves e um dos mais conhecidos da literatura brasileira . O poema descreve com imagens e expressões terríveis a situação dos africanos arrancados de suas terras, separados de suas famílias e tratados como animais nos navios negreiros que os traziam para ser propriedade de senhores e trabalhar sob as ordens dos feitores .
Navio Negreiro O Navio Negreiro é uma poesia de Castro Alves que integra o livro chamado Os Escravos. Escrita em 1868 na cidade de São Paulo, a poesia relata a situação sofrida pelos africanos vítimas do trafico de escravos nas viagens de navio da África para o Brasil. Ela é dividida em seis partes com metrificação variada.
Navio Negreiro Primeira Parte : O céu e o mar como infinitos que se aproximam tanto pela cor azul como pelo amplo espaço são os lugares centrais da poesia. No meio dessa infinitude é que se encontra o barco, que navega com o vento e com o esforço dos homens queimados de sol. Bem feliz quem ali pode nest'hora Sentir deste painel a majestade! Embaixo — o mar em cima — o firmamento... E no mar e no céu — a imensidade! O poeta observa essa cena com amor e com simpatia pela travessia poética do barco. Ele quer se aproximar do navio que cruza o mar, mas o navio foge do escritor.
Navio Negreiro
Navio Negreiro Segunda Parte : O poeta começa a imaginar de que nação é aquele barco que segue em alto-mar. Mas, na realidade, isso não faz muita diferença. Todo navio no oceano é cheio de poesia e de saudades. Que importa do nauta o berço, Donde é filho, qual seu lar? Ama a cadência do verso Que lhe ensina o velho mar! Cantai! que a morte é divina! Resvala o brigue à bolina Como golfinho veloz. Presa ao mastro da mezena Saudosa bandeira acena As vagas que deixa após.
Albatroz
Navio Negreiro Terceira Parte : Através dos olhos do Albatroz, o poeta consegue se aproximar do navio e observar o que acontece lá. Para a sua surpresa o canto não é de saudades ou de poesia, mas sim um canto fúnebre e o que se vê no navio é vil. Desce do espaço imenso, ó águia do oceano! Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano Como o teu mergulhar no brigue voador! Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras! É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ... Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
Navio Negreiro Quarta Parte : O poeta descreve a horrível cena que se passa no convés do navio: uma multidão de negros, mulheres, velhos e crianças, todos presos uns aos outros, “dançam” enquanto são chicoteados pelos marinheiros. A descrição é longa, feita em seis estrofes. As principais imagens são as dos ferros que rangem formando uma espécie de música e da orquestra de marinheiros que chicoteiam os escravos. A relação entre a música e a dança com a tortura e o sofrimento dão uma grande carga poética à descrição da cena. No final quem ri da dança insólita é o próprio Satanás, como se aquele fosse um show de horrores feito para o diabo.
Navio Negreiro E ri-se a orquestra irônica, estridente. . . E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais... Qual um sonho dantesco as sombras voam!... Gritos, ais, maldições, preces ressoam! E ri-se Satanás!...
Navio Negreiro Quinta Parte : O poeta mostra a sua indignação perante o navio negreiro e roga à Deus e à fúria do mar para que acabe tal infâmia. A primeira estrofe é repetida no final, como se o pedido fosse reforçado pelo poeta. Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus, Se eu deliro... ou se é verdade Tanto horror perante os céus?!... Ó mar, por que não apagas Co'a esponja de tuas vagas Do teu manto este borrão? Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão! ...
Navio Negreiro No meio da quinta parte, as imagens da liberdade no continente africano são intercaladas com a prisão no navio negreiro. A noite escura e aberta da savana se transforma num porão escuro, cheio de doenças e de morte. As condições desumanas do transporte de escravos são descritas de forma poética , realçando a desumanização deles.
Navio Negreiro Sexta Parte : O poeta questiona qual a bandeira que hasteada nesse navio é a responsável por tal barbaridade. É uma retomada da segunda parte do poema. Se antes a bandeira não importava, pois o que se ouvia era a poesia e o canto, agora ela é essencial diante do sofrimento que o navio carrega. O que se vê hasteada é a bandeira do Brasil, pátria do poeta. O sentimento de desapontamento é grande, ele realça as qualidades do seu país, a luta pela liberdade e toda a esperança que reside na nação e que agora é manchada pelo tráfico de escravos.
Navio Negreiro Auriverde pendão de minha terra, Que a brisa do Brasil beija e balança, Estandarte que a luz do sol encerra E as promessas divinas da esperança... Tu que, da liberdade após a guerra, Foste hasteado dos heróis na lança Antes te houvessem roto na batalha, Que servires a um povo de mortalha!...
Navio Negreiro O poema “épico” é eloquente e verborrágico . Embora o último navio negreiro que tenha chegado ao país date de 1855, a escravidão ainda era parte do sistema econômico brasileiro. eloquente - que é convincente, persuasivo e expressivo; que se expressa de maneira loquaz. verborrágico - que se expressa utilizando muitas palavras nem sempre providas de uma ideia lógica
Navio Negreiro IV Era um sonho dantesco... o tombadilho Que das luzernas avermelha o brilho. Em sangue a se banhar. Tinir de ferros... estalar de açoite... Legiões de homens negros como a noite, Horrendos a dançar... Negras mulheres, suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas Rega o sangue das mães: Outras moças, mas nuas e espantadas, No turbilhão de espectros arrastadas, Em ânsia e mágoa vãs! E ri-se a orquestra irônica, estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais ... Se o velho arqueja, se no chão resvala, Ouvem-se gritos... o chicote estala. E voam mais e mais...
Navio Negreiro (...) Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdade Tanto horror perante os céus?! Ó mar, por que não apagas Co'a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão?... Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão! (...) Ontem a Serra Leoa, A guerra, a caça ao leão, O sono dormido à toa Sob as tendas d'amplidão! Hoje... o porão negro, fundo, Infecto, apertado, imundo, Tendo a peste por jaguar... E o sono sempre cortado Pelo arranco de um finado, E o baque de um corpo ao mar...
Navio Negreiro (...) Existe um povo que a bandeira empresta P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!… E deixa-a transformar-se nessa festa Em manto impuro de bacante fria!… Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta, Que impudente na gávea tripudia? Silêncio. Musa… chora, e chora tanto Que o pavilhão se lave no teu pranto! … . Auriverde pendão de minha terra, Que a brisa do Brasil beija e balança, Estandarte que a luz do sol encerra E as promessas divinas da esperança… Tu que, da liberdade após a guerra, Foste hasteado dos heróis na lança Antes te houvessem roto na batalha, Que servires a um povo de mortalha!… . Fatalidade atroz que a mente esmaga! Extingue nesta hora o brigue imundo O trilho que Colombo abriu nas vagas, Como um íris no pélago profundo! Mas é infâmia demais! … Da etérea plaga Levantai-vos, heróis do Novo Mundo! Andrada! arranca esse pendão dos ares! Colombo! fecha a porta dos teus mares!
Vozes da África Deus! ó Deus! onde estás que não respondes? Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes Embuçado nos céus? Há dois mil anos te mandei meu grito, Que embalde desde então corre o infinito... Onde estás, Senhor Deus?...
POESIA LÍRICA-AMOROSA Poesia lírico-amorosa: Está associada ao período em que o poeta esteve envolvido com a atriz portuguesa Eugênia Câmara. Assim, a virgem idealizada dá lugar a uma mulher de carne e osso e sensualizada. No entanto, o poeta ainda é um jovem inocente e terno em face a sua amada corporificada e cheia de desejo. Seus poemas mais famosos dessa fase estão presentes em sua primeira publicação, Espumas Flutuantes (1870), conjunto de 53 poemas que versam sobre a transitoriedade da vida frente à morte, sobre o amor no plano espiritual e físico , que apela para o sentimental e para o sensual e sensorial. Além disso, o romance com a atriz portuguesa acendeu no poeta o desejo de escrever sobre esperança e desespero
POESIA LÍRICA-AMOROSA Neste poema, o poeta, apaixonado, não se contenta com apenas uma amante, e mostra envolvimento com diferentes mulheres (Maria, Marion, Consuelo...), todas belas e sensuais, se oferecendo para que o poeta, meigo e “inocente”, não vá embora. (...) Que escalas de suspiros, bebo atento! Ai! Canta a cavatina do delírio, Ri, suspira, soluça, anseia e chora... Marion! Marion!... É noite ainda. Que importa os raios de uma nova aurora?!... Como um negro e sombrio firmamento, Sobre mim desenrola teu cabelo... E deixa-me dormir balbuciando: — Boa-noite!, formosa Consuelo!... Boa-Noite Boa-noite, Maria! Eu vou-me embora. A lua nas janelas bate em cheio. Boa-noite, Maria! É tarde... é tarde... Não me apertes assim contra teu seio. Boa-noite!... E tu dizes — Boa-noite. Mas não digas assim por entre beijos... Mas não mo digas descobrindo o peito — Mar de amor onde vagam meus desejos.
POESIA LÍRICA-AMOROSA Outro poema famoso deste conjunto é O Livro e a América , em que o poeta incentiva a leitura e a produção literária no país: (...) Por isso na impaciência Desta sede de saber, Como as aves do deserto -- As almas buscam beber... Oh! Bendito o que semeia Livros... livros à mão cheia... E manda o povo pensar! O livro caindo n'alma É germe -- que faz a palma, É chuva -- que faz o mar. (...)
POESIA LÍRICA-AMOROSA O "adeus" de Teresa A vez primeira que eu fitei Teresa, Como as plantas que arrasta a correnteza, A valsa nos levou nos giros seus E amamos juntos E depois na sala "Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala E ela, corando, murmurou-me: "adeus!" Uma noite entreabriu-se um reposteiro. . . E da alcova saía um cavaleiro Inda beijando uma mulher sem véus Era eu Era a pálida Teresa! "Adeus" lhe disse conservando-a presa E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!" Passaram tempos sec'los de delírio Prazeres divinais gozos do Empíreo ... Mas um dia volvi aos lares meus. Partindo eu disse - "Voltarei! descansa!. . .” Ela, chorando mais que uma criança, Ela em soluços murmurou-me: "adeus!" Quando voltei era o palácio em festa! E a voz d'Ela e de um homem lá na orquesta Preenchiam de amor o azul dos céus. Entrei! Ela me olhou branca surpresa! Foi a última vez que eu vi Teresa! E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"