Chico Xavier e o Natal - TEXTO

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About This Presentation

“O TEMPO é o nosso explicador silencioso e te revelará ao coração a bondade infinita do Pai”.
Emmanuel

Um Natal de nosso Amigo Chico Xavier nos demonstrará a eloquência dessa afirmação de Emmanuel.


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Chico Xavier e o Natal

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Chico Xavier e o Natal
SUMÁRIO

1 O Natal ............................................................................................................................... 1
1.1 O Natal – visão Espiritual ......................................................................................... 1
2 O Natal de Chico Xavier ................................................................................................... 7
2.1 Chico Xavier e as peregrinações de Natal................................................................ 7
2.2 O Natal de Chico Xavier com Maria da Conceição ................................................ 8
2.2.1 Maria da Conceição – O Depoimento .................................................................. 8
2.2.2 Maria da Conceição – O Presente ...................................................................... 11
2.2.3 Maria da Conceição – O Passado ....................................................................... 14
2.2.4 Maria da Conceição – O Natal ........................................................................... 16
2.2.5 Maria da Conceição – Passado/Presente – Cronologia ...................................... 20
2.2.5.1 O Presente ....................................................................................................... 20
2.2.5.2 O Passado ........................................................................................................ 29
3 O Natal - Mensagens selecionadas ................................................................................. 30
3.1 Emmanuel ................................................................................................................. 30
3.1.1 Natal ................................................................................................................... 30
3.1.2 O Natal do Cristo ................................................................................................ 31
3.1.3 Rogativa de Natal ............................................................................................... 33
3.1.4 Desce Elevando .................................................................................................. 34
3.1.5 Algo mais no Natal ............................................................................................. 35
3.1.6 No Natal .............................................................................................................. 36
3.1.7 Natal II ................................................................................................................ 37
3.1.8 Humildade Celeste .............................................................................................. 39
3.2 Joanna de Angelis .................................................................................................... 40
3.2.1 Atualidade do Natal ............................................................................................ 40
3.2.2 Orando no Natal ................................................................................................. 43
3.2.3 Ressonâncias do Natal ........................................................................................ 45

3.2.4 Insuperável Amor ............................................................................................... 47
3.2.5 Extremos de Amor .............................................................................................. 49
3.2.6 Festival de Amor ................................................................................................ 51
3.2.7 Ante o Amor ....................................................................................................... 54
3.2.8 Natal Íntimo ........................................................................................................ 57
3.2.9 Natal de Amor .................................................................................................... 59
3.3 André Luiz ................................................................................................................ 62
3.3.1 Nas Orações de Natal ......................................................................................... 62

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Chico Xavier e o Natal
3.4 Humberto de Campos .............................................................................................. 63
3.4.1 Crônica de Natal ................................................................................................. 63
3.4.2 Na Glória do Natal .............................................................................................. 65
3.4.3 Natal Simbólico .................................................................................................. 67
3.4.4 O Encontro Divino ............................................................................................. 70
3.4.5 O Natal do Apóstolo ........................................................................................... 73
3.4.6 O Conquistador Diferente ................................................................................... 77
3.4.7 Oração de Natal .................................................................................................. 80
3.5 Casemiro Cunha ...................................................................................................... 84
3.5.1 Bilhete de Natal .................................................................................................. 84
3.6 Cornélio Pires ........................................................................................................... 85
3.6.1 Natal de Maria .................................................................................................... 85
3.7 Maria Dolores ........................................................................................................... 86
3.7.1 Mensagem de Natal ............................................................................................ 86
3.8 Carmem Cinira ........................................................................................................ 87
3.8.1 Versos do Natal .................................................................................................. 87
3.8.2 Súplica de Natal .................................................................................................. 89
3.9 Vianna de Carvalho ................................................................................................. 90
3.9.1 Ante o Príncipe da Paz ....................................................................................... 90
3.9.2 Inversão de Valores no Natal.............................................................................. 92
3.10 Meimei ....................................................................................................................... 96
3.10.1 Natal do Coração ................................................................................................ 96
3.11 Wallace Leal ............................................................................................................. 97
3.11.1 O Natal e o Santo Graal – A História de Sir Launfal ......................................... 97
3.12 Jácome Góes ........................................................................................................... 103
3.12.1 Momento de Decisão ........................................................................................ 103
3.12.2 Nascimento do Cristo ....................................................................................... 105
3.13 Rui Barbosa ............................................................................................................ 106
3.13.1 Prece de Natal ................................................................................................... 106
4 Referências ..................................................................................................................... 109

Chico Xavier e o Natal
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1 O Natal
1.1 O Natal – visão Espiritual

Rememorando o Natal, lembramo-nos de que Jesus é o Suprimento Divino
à Necessidade Humana.
Para o Sofrimento , é o Consolo;
Para a Aflição , é a Esperança;
Para a Tristeza , é o Bom Ânimo ;
Para o Desespero , é a Fé Viva;
Para o Desequilíbrio , é o Reajuste;
Para o Orgulho , é a Humildade ;
Para a Violência , é a Tolerância;
Para a Vaidade , é a Singeleza;
Para a Ofensa , é a Compreensão ;
Para a Discórdia , é a Paz;
Para o Egoísmo, é a Renúncia ;
Para a Ambição , é o Sacrifício;
Para a Ignorância, é o Esclarecimento ;
Para a Inconformação , é a Serenidade;
Para a Dor , é a Paciência;
Para a Angústia , é o Bálsamo;
Para a Ilusão , é a Verdade;
Para a Morte , é a Ressurreição.
Se nos propomos, assim, aceitar o Cristo por Mestre e Senhor de nossos
caminhos, é imprescindível recordar que o seu Apostolado não veio para os Sãos e,
sim, para os antigos doentes da Terra, entre os quais nos alistamos...
Buscando, pois, acompanhá-lo e servi-lo, façamos de nosso coração uma luz
que possa inflamar-se ao toque de seu infinito amor, cada dia, a fim de que nossa
tarefa ilumine com Ele a milenária estrada de nossas experiências, expulsando as
sombras de nossos velhos enganos e despertando- nos o espírito para a glória
imperecível da Vida Eterna.
André Luiz - Os Dois Maiores Amores – Cap. 15

Chico Xavier e o Natal
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O Natal é dádiva do Céu à Terra como ocasião de refazer e recomeçar.
Detém-te a contemplar as criaturas que passam apressadas.
Se tiveres olhos de ver percebê- las-ás tristes, sucumbidas, como se
carregassem pesados fardos, apesar de exibirem tecidos custosos e aparência
cuidada.
Explodem facilmente, transfigurando a face e deixando- se consumir pela
cólera que as vence implacavelmente.
Todas desejam compreensão e amor, entendimento e perdão, sem coragem
de ser quem compreenda ou ame, entenda ou perdoe.
Espalha uma nova claridade neste Natal, na senda por onde avanças na busca
de Vida.
Engrandece-te nas pequenas doações, crescendo nos deveres que poucos
se propõem executar.
Desde que já podes dar os valores amoedados e as contribuições do
entendimento moral, distribui, também, as jóias sublimes do perdão aos que te
fizeram ou fazem sofrer.
Sentirás que Jesus, escolhendo um humílimo refúgio para viver entre os
homens semeando alegrias incomparáveis, nasce, agora, no teu coração como a
informar-te que todo dia é Natal para quem o ama e deseja transformar-se em
Carta-Viva para anunciá-lo às criaturas desatentas e sofredoras do mundo.
Somente assim ouviras no imo da alma e entenderás a saudação
inesquecível dos anjos, na noite excelsa :
“Gloria a Deus nas alturas, Paz na Terra, Boa Vontade, para com os
Homens” – vivendo um perene Natal de benções por amor a JESUS.
Joanna de Angelis – Espírito e Vida – Cap. 60
(...)
NATAL NO MUNDO é a epopéia do reconhecimento ao Senhor.
NATAL NO ESPÍRITO é a comunhão com Ele próprio.
Ainda que te encontres em plena solidão na manjedoura do infortúnio, sai
de ti mesmo e reparte com alguém o dom inefável de tua fé.
Lembra-te de que Ele, em brilhando na manjedoura, tinha consigo apenas o
amor a desfazer-se em humildade, e, em agonizando na cruz, possuía apenas o
coração, a desfazer-se em renúncia...

Chico Xavier e o Natal
3

Mas, usando tão-somente o coração e o amor , sem uma pedra onde
repousar a cabeça, converteu-se no Salvador do Mundo, e, embora coroado de
espinhos, fez-se o Rei das Nações para sempre.
Meimei – Antologia Mediúnica de Natal – Cap. 71

Jesus é um poema da Vida, uma canção de Amor. É a maior história dentro
da História da Humanidade, que a ultrapassa.
Uma gruta e um céu descampado são os dois pontos culminantes de uma
Vida que não começou no berço nem se esvaiu numa cruz.
Com Jesus surgem novas condições:
o PODEROSO é aquele que vence a si mesmo ;
o FRACO o que se submete às paixões;
o VITORIOSO é quem supera as imperfeições e não se propõe
predominar sobre os demais do caminho redentor.
Joanna de Angelis – Oferenda – Cap. 23 & Cap. 42
(...)
Anjo entre os anjos, faz-se pobre criança necessitada do arrimo de singelos
pastores;
Sábio entre os sábios, transforma-se em amigo anônimo de pescadores
humildes, comungando- lhes a linguagem;
Instrutor entre instrutores, detém -se, bondoso, entre enfermos e aflitos,
crianças e mendigos abandonados, para abraçar-lhes a luta, e,
Juiz dos juízes, não se revolta por sofrer no tumulto da praça o iníquo
julgamento do povo que o prefere a Barrabás, para os tormentos imerecidos.
Todavia, por descer, elevando quantos lhe não podiam compreender a
refulgência da altura, é que se fez
o Caminho de nossa Ascensão Espiritual,
a Verdade de nosso gradativo Aprimoramento
e a Vida de nossas vidas, a erguer-nos a alma entenebrecida no erro, para a
Vitória da Luz.
Emmanuel – Religião dos Espíritos – Cap. 28

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Um só conquistador houve no mundo, diferente de todos pela
singularidade de sua missão entre as criaturas. Não possuía legiões armadas,
nem poderes políticos, nem mantos de gala.
Nunca expediu ordens e soldados, nem traçou programas de dominação.
Jamais humilhou e feriu.
Cercou-se de cooperadores aos quais chamou "amigos".
Dignificou a vida familiar, recolheu crianças desamparadas, libertou os
oprimidos, consolou os tristes e sofredores, curou cegos e paralíticos.
E, por fim, em compensação aos seus trabalhos, levados a efeito com
humildade e amor; aceitou acusações para que ninguém as sofresse, submeteu -se à
prisão para que outros não experimentassem a angústia do cárcere, conheceu o
abandono dos que amava, separou- se dos seus, recebeu, sem revolta, ironias e
bofetadas, carregou a cruz em que foi imolado e na sua morte passou por ser a de
um ladrão.
Mas, desde a última vitória no madeiro, tecida em perdão e misericórdia,
consolidou o seu infinito poder sobre as almas, e, desde esse dia, Jesus Cristo, o
conquistador diferente, começou a estender o seu divino império no mundo,
prosseguindo no serviço sublime da edificação espiritual, no Oriente e no Ocidente,
no Norte e no Sul, nas mais cariadas regiões do Planeta, erguendo uma Terra
aperfeiçoada e feliz, que continua a ser construída , em bases de amor e concórdia,
fraternidade e justiça, acima da sombria animalidade do egoísmo e das ruínas
geladas da morte.
Humberto de Campos - Antologia Mediúnica do Natal – Cap. 3

Chico Xavier e o Natal
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(...)
Ele, porém, o Príncipe da Paz, que nascera na manjedoura, passou entre os
homens, sem distintivos e sem palácios, sem ouro e sem legiões.
Seu reinado foi a revelação do amor entre os simples.
Suas armas foram, em todos os dias, a bondade e o perdão.
Seu diadema foi a coroa de espinhos.
Seu salário foi a morte afrontosa entre malfeitores.
Por insígnia de poder, ofertou- se-lhe uma cana à guisa de cetro.
E, por trono de realeza teve a cruz de sacrifício, que converteu na espada
do mal, à ensarilhar-se para sempre no alto de um monte, como a dizer-nos que
apensa no esquecimento voluntário das exigências de nosso “eu”, pelo
engrandecimento constante do bem de todos é que poderemos atingir a senda do
luminoso Reino de Deus.
É por isso que, volvidos quase vinte séculos, ao recordar-lhe a suprema
renúncia, saudamo- lo em profunda reverência, ainda hoje:
Ave Cristo! Os que aspiram vencer a treva e a ani mal
idade em si
mesmos, a favor da verdadeira paz sobre a Terra, te glorificam e te saúdam.
Vianna de Carvalho – Comandos do Amor – Cap. 1

Quem O contemplasse entre as palhas ressequidas do berço improvisado não
suporia que ali estava o Rei do Orbe, e quem se detivesse a contemplá-Lo coroado
de espinhos, em extremo ridículo, silencioso e triste, não acreditaria que era o
Excelso Filho de Deus.
No entanto, foi entre aqueles dois pólos, o berço e a cruz, que Ele traçou
a Ponte de Libertação, instaurando, de logo, o primado do espírito, com o próprio
exemplo de renúncia total e total amor à humanidade de todos os tempos, de modo
a conduzir-te ainda hoje, na direção dos Cimos da Vida .
Joanna de Angelis – Espírito e Vida – Cap. 41

Chico Xavier e o Natal
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Outrora, convertíamos a existência corpórea em instrumento de preservação
da animalidade e do crime, depredando as promessas da luz, cristalizados que nos
achávamos na furna de nossa própria miséria!...
Hoje, porém, o Espiritismo é a nossa porta de trabalho para a benção
do reajuste.
Exumados da aflição e do nevoeiro que nos paralisavam os braços nos
precipícios da sombra, somos agora trazidos pela Misericórdia d`Ele, Nosso Mestre
e Senhor, à construção da felicidade humana que expressa nossa própria felicidade.
É por isso que, convidados ao campo de abençoada luta, não podemos
olvidar nossa responsabilidade maior...
Cristo em Nós para que o Mundo se renove nas excelsas realidades do
Espírito...
Jesus – E m nosso Pensamento para que saibamos entender e ajudar ;
– Em nossas Palavras a fim de aprendamos a soerguer e auxiliar, ao
invés de reprovar e ferir;
– Em nossos Olhos e em nossos Ouvidos para que venhamos a
encontrar o bem com o esquecimento do mal;
– Em nossas Mãos a fim de que nos decidamos a converter as horas
em cânticos de trabalho a favor do progresso comum...
E, sobretudo, amigos, Cristo em nosso Coração para que a Boa Nova não
seja um tema vazio em nossos lábios, mas sim a própria melodia do Céu a
exprimir-se na Terra, onde estejamos, em nome da nossa fé, cultivando a
fraternidade e a confiança, a paz e a beleza, em refulgente antecipação do Reino de
Deus...
Emmanuel – Através do Tempo – Cap. 34

Chico Xavier e o Natal
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2 O Natal de Chico Xavier
2.1 Chico Xavier e as peregrinações de Natal

A distribuição natalina que Chico Xavier promovia, juntamente com
diversos amigos, há vários anos, desde os tempos de Pedro Leopoldo, inspirou
diversos grupos espíritas de todo o Brasil.
As chamadas “repartições” de Natal constituem hoje o cartão de
apresentação do trabalho assistencial desenvolvido pelos espíritas.
(...)
O próprio Chico fazia questão de entregar simbolicamente, algum dinheiro
aos irmãos que têm, igualmente , as suas mãos osculadas por ele.
Mas quem imagina que o Natal de Chico Xavier se restringe a essa grande
distribuição que muitos interpretam erroneamente, estão equivocados.
Na véspera de Natal, na noite do dia 24, sem que ninguém o veja, Chico sai
com reduzido número de amigos para visitar aqueles que nem sequer podem se
locomover de seus barracos…
Acobertado pelo manto da noite, percorre vários bairros carentes de
Uberaba, visitando pessoalmente, em nome de Jesus, os doentes, as viúvas, os fi lhos
do infortúnio oculto…
Além de levar algum presente para cada um, Chico conta casos, sorri com
eles, lembra a sua infância, toma café e, depois de orar, segue em frente…
Poucas pessoas sabem que Chico passa o Natal peregrinando.
(...)
Na simplicidade de suas atitudes está a grandeza do seu Espírito.
Se a vida de Chico nas páginas abertas é bonita, nas páginas que ninguém conhece,
naquelas que só o Senhor pode ler, ela é muito mais, porquanto o seu amor pelo
Cristo é algo que transcende, se perdendo na noite insondável dos séculos…
O Natal de Chico Xavier era assim…
Carlos Antônio Baccelli - Chico Xavier Mediunidade e Coração

Chico Xavier e o Natal
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2.2 O Natal de Chico Xavier com Maria da Conceição
2.2.1 Maria da Conceição – O Depoimento

Aqueles que se entregam às lides espiritistas encontram, comumente,
surpresas consoladoras e emocionantes.
Visitáramos, várias vezes, Maria da Conceição, pobre moça que renascera
paralítica, muda e surda, vivendo por mais de meio século num catre de sofrimento,
sob os cuidados de abnegada avó.
Nunca lhe esqueceremos os olhos tristes, repletos de resignação e
humildade, e que a morte cerrou em janeiro de 1954, como quem liberta dos
grilhões da sombra infortunada criatura desde muito sentenciada a terríveis
padecimentos.
Pois foi Maria da Conceição a nossa visitante, no encerramento das tarefas
da noite de 30 de junho de 1955.
Amparada por Benfeitores da Espiritualidade, falou-nos em lágrimas de sua
difícil experiência.


Filhos de Deus, que a paz do Senhor seja a nossa luz.
Enquanto permanecemos no corpo de carne, não conseguimos, por mais
clara se nos faça a compreensão da justiça, apreender -lhe a grandeza em toda a
extensão.
Admitimos a existência do Inferno que pune os transgressores e acreditamos
no braço vingador daqueles que se entregam ao papel de carrascos de quantos se
renderam ao sorvedouro do crime.
Raras vezes, porém, refletimos nos tormentos que a consciência culpada
impõe a si própria, além-túmulo.
Fascinados pelo mundo exterior, dormitamos ao aconchego da ilusão e não
nos recordamos de que, um dia, virá o despertar no mundo de nós mesmos.
A morte arranca- nos o véu em que nos ocultamos e ai de nós quando não
temos por moldura espiritual senão remorso e arrependimento, vileza e degradação.
Achamo-nos em plena nudez, diante do autojulgamento, e somente
assinalamos os quadros e gritos acusadores que nascem de nossa própria alma,
exprimindo maldição.

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Nossos olhos nada mais veem senão o painel das lembranças amargas, os
ouvidos não escutam outras palavras que não as do libelo por nós e contra nós, e,
por mais vagueemos com a ligeireza do pensamento, através de milhares de
quilômetros no espaço, encontramos simplesmente a nós mesmos, na vastidão do
tempo, confinados ao escuro e estreito horizonte de nossa própria condenação.
Os dias passam por nós como as vagas do mar, lambendo o rochedo na
solidão que lhe é própria, até que os raios da Compaixão Divina nos dissipem as
sombras, ensejando-nos a prece como caridosa luz que nos clareia a furna da
inconsequência.
É então que a Bondade do Senhor interfere na justiça, permitindo ao
criminoso traçar mentalmente a correção que lhe é necessária.
E o delinquente sempre escolhe a posição das vítimas que lhe sucumbiram
às mãos, bendizendo a reencarnação expiatória que lhe faculta o reexame dos
caminhos percorridos.
Trazida até aqui por nossos Benfeitores, falo-vos de minha experiência.
Sou a vossa irmã Conceição, que volta a fim de comentar convosco o
impositivo da consciência tranquila perante a Lei.
Administrais o esclarecimento justo às almas desgarradas do trilho reto e
determinam nossos Instrutores vos diga a todos, encarnados e desencarnados,
daquele esclarecimento vivo que nos é imposto pelas duras provas da vida, quando
não assimilamos o valor da palavra enquanto é tempo!…
Paralítica, surda, muda e quase cega, não era surda para as vozes que me
acusavam, na profundez de minhas dores da consciência, não era paralítica para o
pensamento que se movimentava a distância de minha cabeça flagelada, não era
muda para as considerações que me saltavam do cérebro e nem cega para os quadros
terrificantes do plano imaginativo…
Dama vaidosa e influente da Corte de Filipe II, na Espanha inquisitorial,
reapareci neste século, de corpo desfigurado, a mergulhar nos próprios detritos,
corpo que era simplesmente a imagem torturada de minhalma, açoitada de angústia
e emparedada nos ossos doentes, para redimir o passado delituoso.
Durante mais de cinquenta anos sucessivos, por felicidade minha
experimentei fome, frio, enfermidade e desprezo de meus semelhantes…
Em toda a existência, como bênção de calor na carne devastada de
sofrimento, não recebi senão a das lágrimas que me escorriam dos olhos…

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Mas a doutrinação regeneradora que não recolhi da palavra de quantos me
ampararam noutro tempo, com amoroso aviso, fui constrangida a assimilá-la sob o
rude tacão de atrozes padecimentos.
Quando a lição do Senhor é recusada por nossos ouvidos, ressurge
invariável, em nós mesmos, na forma de provação necessária ao reajuste de nossos
destinos.
Dirigindo-me, assim, a vós outros que me conhecestes o leito atormentado
no mundo e a vós que me escutais sem a vestimenta física, rogo devoção e respeito
para com o socorro moral de Jesus através daqueles que lhe distribuem os dons de
conhecimento e consolação.
Quem alcança a verdade, sabe o que deve fazer.
Submetamo-nos ao amor de Deus, enquanto há tempo de partilhar o tempo
daqueles que mais amamos, a fim de que a dor não nos submeta, implacável,
obrigando- nos a partilhar o tempo da dificuldade e da solidão.
Essa tem sido para mim a mais severa advertência da vida. Com o Amparo
Divino, entretanto, sinto que o meu novo dia nasceu.
Aprendamos, pois, a ouvir e a refletir, sem jamais esquecer que o Amor
reina, soberano, em todos os círculos do Universo, recordando, porém, que a Justiça
cumprir-se-á, rigorosa, na senda de cada um.
Maria da Conceição – Vozes do Grande Além – Cap. 3 – Ensin amento
Vivo

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2.2.2 Maria da Conceição – O Presente

No ano de 1954, no mês de junho, eu [Divaldo Franco] me encontrava em
Pedro Leopoldo.
Como, na época, eu fazia viagens duas vezes por ano àquela cidade, na
ocasião, no dia 20 de junho, ao terminarmos a reunião em que Chico Xavier
psicografava, aos sábados à noite, depois do atendimento aos sofredores, nos
arredores da sua cidade, ele me disse, enquanto caminhávamos na direção da
residência do seu irmão André, que, naquela noite, experimentara um fenômeno
muito especial.
Estando desdobrado parcialmente, enquanto os Benfeitores psicografavam,
havia recebido a visita de duas damas espanholas (encarnadas) que estavam
recebendo a sua ajuda material durante a expiação redentora na atualidade, e
vinham pedir-lhe para que não esquecesse de levar-lhes comida, porque ainda não
havia terminado o seu resgate doloroso, mas a fome poderia interromper esse
processo libertador, e que, no domingo — já era madrugada de domingo — à tarde,
nós iríamos visitá-las. Chamavam-se Lia e Maria da Conceição as duas senhoras
muito pobres que residiam ali próximo, num lugarzinho conhecido como a Lapinha.
(...)
Dirigimo-nos à Lapinha, um lugar muito humilde. Fazia muito frio, porque,
àquela época, o inverno era rigoroso na região.
Em ali chegando, saltamos, enquanto o Chico foi nos contando que o drama
daquelas duas senhoras era tão grande que a sua genitora, antes de desencarnar, em
1914, já se referia que, toda vez quando experimentava grandes dores, encontrava
conforto no testemunho de D. Lia e na coragem de Maria da Conceição.
Isso havia ficado na sua memória, como resultado dos relatos maternos
dentro de casa — ele era criança de três para quatro anos. Nunca mais ele ouviu
falar sobre essas senhoras até que, mais ou menos pelos anos quarenta, Luísa, sua
irmã mais velha, narrou a história de D. Lia, elucidando que essa senhora se havia
casado com um homem portador de transtornos psiquiátricos muito graves.
Naquela época, ela residia com a família em uma das fazendas em torno do
Curral del Rei, quando esse senhor muito rico se apaixonou e pediu- a em
casamento. O pai dela aquiesceu, e ela viu o futuro marido apenas nesse dia e no
das bodas.

Chico Xavier e o Natal
12

Ele levou- a para a sua propriedade, após o consórcio matrimonial, quando
começou o calvário da senhora, porque, muito atormentado, entre os vários desvios
de conduta, ele era portador de um ciúme mórbido, e depois que nasceu a primeira
filha, desvairado, ele começou a atribuir que a menina não era sua filha e sim do
capataz.
Depois de mandar surrar o empregado e expulsá-lo da fazenda, ele queimou
com tição de fogo as partes pudentas da mulher, para que ela ficasse impossibilitada
de traí- lo outra vez com quem quer que fosse.
D. Lia criou a filha com abnegação, com muito sofrimento, sem nunca sair
daquela herdade.
A filha casou-se, mais tarde, conforme os padrões da época, e foi morar com
o seu marido em uma outra propriedade.
Dois anos após, estando grávida, mandou pedir à mãe que fosse acompanhá-
la no momento da délivrance e levasse também a aparadeira, uma parteira prática
muito famosa que havia na região.
Era a primeira vez que D. Lia saía de casa, para ir ajudar a filha numa
situação muito grave.
O parto foi muito difícil e, quando nasceu a criança, a parteira teve um
choque muito grande, porque a menina apresentava anomalias teratológicas muito
graves: a cabeça era normal, mas o corpo se apresentava retorcido como se fosse
moldado por mãos impiedosas que lhe mudaram a estrutura.
A parteira, assustada, mostrou-a à mãe, ainda no leito.
A senhora teve uma crise de loucura e atirou a filha pela janela.
Então D. Lia saiu correndo — a avó —, pegou a criança e desapareceu.
Não se soube, durante muitos anos, do paradeiro das duas, até que as notícias
começaram a aparecer, narrando a história dolorosa de uma senhora que carregava
um monstro, pedindo esmolas pelas cidades interioranas próximas a Belo
Horizonte.
D. Luísa se lembrou que chegou a vê-las e contou isso ao irmão comovido.
(...)
Subimos o aclive e, quando ele bateu à porta, D. Lia abriu- a.
Tratava-se de uma mulher nonagenária, e foi comovedor o encontro, porque
ela o olhou, teve uma exclamação, informando: — Seu Chico, essa noite eu sonhei
com vós.

Chico Xavier e o Natal
13

Eu dizia: Venha trazer comida pra nós, seu Chico, que nós tá morrendo!
Ele então olhou- me e sorriu, porque aí estava a confirmação do que nos
houvera contado.
Entramos. D. Luísa foi à cozinha, que era um pequeno vão ao lado, levar os
alimentos e preparar um lanche, enquanto nós fomos ao outro quartinho.
A cama era de varas, enfiadas no chão, com outras transversais, algum
capim coberto com tecidos velhos, sujos, e um corpo, que não deveria ter mais do
que seis palmos de uma mão adulta.
A cabeça era perfeitamente normal.
O cabelo, desgrenhado, não tinha nada a ver com aquele de que Chico falara.
Como ele possuía beleza nos olhos e na alma!
Eu olhei-a… era… engraçadinha…, mas não parecida à Rita Hayworth
como ele havia definido.
Nesse ínterim, ela se agitava, contorcia- se. Ele se acercou e disse- lhe: —
Pois é, Maria da Conceição eu aqui estou. E acarinhou- lhe os cabelos.
Ela precisava de higiene, porque era uma vez por semana que ele podia ir
ajudá-la. De imediato pôs-se a conversar, acalmando-a, suavemente.
Nesses comenos, D. Luísa veio da cozinha e, para que nós víssemos a s
deformidades da paciente, tirou o pano que a cobria.
Foi a cena mais chocante que eu já vi.
Era como se o corpo fosse retorcido, não exatamente como um parafuso,
mas algo parecido, pequeno, com muitas limitações.
Então ela gritou, e Chico elucidou: — Luísa, você sabe que ela tem pudor,
cubra-a!
Divaldo Franco - Caderno de mensagens – Cap. 2 - Encontro com
Divaldo Pereira Franco

Chico Xavier e o Natal
14

2.2.3 Maria da Conceição – O Passado

No começo dos anos 50, ele [Chico Xavier] estava numa das suas reuniões
de atividades mediúnico-doutrinárias, psicografando, quando, fora do corpo, ele viu
adentrarem-se duas damas muito belas, vestidas ricamente, à espanhola, e que se
lhe acercaram. Aquela que parecia ser a de mais idade perguntou-lhe em Espírito:
— Você é o filho de D. Maria João de Deus, o Chico Xavier?
Ele respondeu: — Sim, sou.
— Pois é, sua mãe foi muito amiga nossa. Nós estamos reencarnadas,
resgatando dolorosos crimes anteriormente cometidos.
Encontramo-nos numa situação muito lamentável e D. Maria João de Deus
sugeriu-me que viesse pedir-lhe socorro, porque você é dotado de sentimentos
cristãos e de muita misericórdia.
Nós estamos morando aqui próximo, na Lapinha, e precisamos de alimentos
para que nossos corpos resistam à expiação. Você poderia nos visitar, Chico?
Ele confirmou: — Mas com muito prazer.
Ela então explicou-lhe que havia exercido, na corte de Felipe II, uma
posição muito relevante, havendo sido mãe de uma personalidade de alta
significação no clero, tendo contribuído com a sua ambição para atormentar pessoas
que eram acusadas como dignas de processo inquisitorial, por heresia.
Ela e sua filha, irmã, portanto, da alta personalidade clerical, beneficiavam-
se das denúncias que eram feitas contra pessoas muito ricas, porque, segundo a lei
da época, os bens passavam a pertencer ao Estado, que ficava com 50%, outra parte
ia para a Igreja e a outra para o denunciante.
Elas compraziam-se nisso, mas nunca se deram ao trabalho de ver como
eram arrancadas as confissões das suas vítimas.
Sabiam, no entanto, que eram por processos muito bárbaros, e que, ao
desencarnarem os três — ela primeiro, o filho depois e a filha em último lugar —,
tiveram o despertar da consciência e encontraram grande número das suas vítimas,
que os infelicitaram de maneira impiedosa, quase hedionda.

Chico Xavier e o Natal
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A Misericórdia Divina, apiedada dos seus sofrimentos, trouxe-os a
expiações dolorosas e, durante várias vezes, reencarnaram-se sob os espículos da
lepra, mas esta, na qual se encontravam, seria a última fase de recuperação, e que
elas pretendiam — porque o filho já estava redimido — coroar a jornada com muito
êxito.
Chico ficou muito sensibilizado e prometeu visitá-las.
No dia seguinte, em companhia de D. Luísa, eles procuraram reunir alguns
víveres do pouco que tinham e foram visitar o casebre de D. Lia e D. Conceição.
Era uma dessas construções de pau-a-pique muito modesta, no cimo de um
aclive, num lugarejo separado do aglomerado de casas. A partir de então, vez que
outra, quando ele dispunha de qualquer recurso, comprava alimentos e ia levá- los
às duas senhoras.
D. Maria da Conceição era surda- muda, além da deformidade que
apresentava no corpo. E era quase totalmente cega.
Ela ouvia-o e sentia- o e os dois conversavam mentalmente.
Quando ele se acercava, ela se agitava de felicidade, porque lhe percebia a
presença. Então, com um jeito muito peculiar, ele disse-me: Pois é, eu sou o seu
cabeleireiro. Eu sou o seu manicure. Sou eu que lhe corto os cabelos… lindos!
Divaldo — ele me afirmou —, ela é linda! Parece Rita Hayworth.
Estava na época de Gilda, a célebre Rita Hayworth. E eu, com a minha
imaginação juvenil, naquela época, já mentalizei aquela mulher hollywoodiana,
fascinante, começando a concebê- la, deslumbrante.
— Agora o corpinho é deficiente, etc. — ele acrescentou, com um riso
maroto.
Divaldo Franco - Caderno de mensagens – Cap. 2 - Encontro com
Divaldo Pereira Franco

Chico Xavier e o Natal
16

2.2.4 Maria da Conceição – O Natal

Voltamos a Pedro Leopoldo, já noite. Eu viajei de retorno a Salvador. No
ano seguinte, no mês de março, quando eu retornei a Pedro Leopoldo, perguntei a
Chico: — E D. Lia, nós iremos visitá-la?
Ele me respondeu: — Ah, Divaldo, você não faz ideia do que aconteceu!
Eu não lhe contei tudo.
Naquele período, eu estava muito sofrido.
A imprensa… as acusações descabidas, incompreensões dentro e fora de
casa. Meu próprio pai não me entendia. Era muito severo com as pessoas que
vinham conversar comigo.
Às vezes, portava-se mal, dizendo que eu não era médium coisa nenhuma,
embora não o fizesse por mal.
Ele era vendedor de bilhetes da Loteria Federal, e afirmava que se eu fosse
médium e se existissem Espíritos, esses dariam o número do bilhete para ele e
acabávamos com a problemática da nossa pobreza.
Ele não entendia a mediunidade.
Eu estava, numa noite de Natal, muito amargurado!
Sem ninguém, fisicamente.
Luísa se encontrava com os seus filhos e esposo, no lar, e eu não queria
perturbá-los.
Os meus irmãos reuniam-se com as suas famílias modestas, e esse era o
momento deles.
Então, quando tomado pela tristeza e solidão, lembrei-me: Como estariam
Lia e Conceição?
E já que nós éramos, possivelmente, as pessoas mais isoladas que eu poderia
identificar, mais solitárias, resolvi visitá-las.
Tomei um táxi e fui correndo até a Lapinha.
Quando eu saltei do veículo e me aproximei do outeiro, eu vi uma espécie
de “spot light”, que descia de um ponto, que eu não podia identificar, do Infinito,
salpicado de estrelas.
Estrelas matizadas cobriam aquela choupana modesta.

Chico Xavier e o Natal
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Quando eu me acerquei, à porta estava Eurípedes Barsanulfo, porém com a
indumentária de Rufus.
Estava ali Rufus, o bem-aventurado, porque, se ele já era cristão desse jaez
àquela época, o seu ministério de apóstolo sacramentano era natural (numa
preparação para as tarefas do Chico no mundo social pela mesma região
triangulina).
E, então, era o Natal mais lindo que se podia imaginar.
Vozes, entoando hinos, e as duas, que uma visão apressada poderia
confundir com obsidiadas.
Então, ele passou o Natal mais feliz da sua atual existência.
A partir daquela vez, toda época de Natal, quando terminava as tarefas, ele
ia à casa de D. Lia e de D. Conceição.
Dando continuidade à resposta, ele me informou:
— Pois é, eu estava, no mês de janeiro último, psicografando, quando Dr.
Bezerra se me acercou, solicitando-me: — “Chico, assim que termine as atividades
programadas, não dialogue com os nossos irmãos, porque Maria da Conceição está
voltando ao Grande Lar.
Já estamos operando o processo de libertação do Espírito, desimantando-o
dos liames materiais e, logo, dentro de duas horas, no máximo, ela estará conosco.
Gostaríamos que você fosse participar desse momento.
Ele terminou o trabalho, desculpou- se, tomou um automóvel, seguiu à
Lapinha e, então, comoveu- se com a mesma presença feérica de Entidades nobres,
que ali visitavam o casebre modesto, e acompanhou o momento em que o próprio
Dr. Bezerra de Menezes desenovelou a moribunda, agindo no centro
coronário, libe rando- a dos últimos vínculos com a matéria.
Desprendendo- se, ela reconheceu-o, sorriu, e foi conduzida pelo Benfeitor
para o mundo espiritual.
Ante a nova realidade, ele ficou numa conjuntura dolorosa.
Que fazer agora com D. Lia, que já estava com mais de noventa anos?
Sepultou D. Maria da Conceição e levou D. Lia para Pedro Leopoldo.

Chico Xavier e o Natal
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Alugou um quartinho, próximo da sua casa, para dar-lhe assistência,
mandou comunicar ao Dr. Pereira de Andrade e, mais ou menos, quinze dias após,
também num sábado pela madrugada de domingo, o venerando Guia convidou- o,
novamente, explicando- lhe: — Estamos retirando Lia do invólucro carnal.
Conceição veio buscá-la, o filho e alguns beneficiários hoje dos seus
sofrimentos, dos seus testemunhos dolorosos encontram-se presentes.
Terminada a reunião, nós o aguardamos.
Concluída a reunião, ele correu à nova residência da anciã e, de longe, viu
sobre aquela ruela sem saída, as luzes e a movimentação de Entidades nobres,
ouvindo um coral, que houvera escutado anteriormente, quando a irmã
desencarnou, que entoava um hino à vida.
Quando D. Lia foi retirada do corpo, ele anotou, como houvera feito por
ocasião da desencarnação, o poema de exaltação da Vida, que diz, em parte:
Rasgaram-se os véus da noite,
Novo dia resplandece,
Viajor, descansa em prece
Ao lado da própria cruz.

No horizonte rebrilha
Nova aurora matutina,
Pois a morte descortina
Dia novo com Jesus.
A música continuava, e ele ainda pôde ver D. Lia sorrir-lhe, sem
possibilidade de agradecer-lhe, ser retirada do corpo, levada para o mundo de
origem.
Poucos dias depois de desencarnada, ela retornou, trazendo a netinha, que
falecera com cinquenta e cinco anos de idade, mais ou menos, a qual então
transmitiu uma mensagem de rara beleza, por psicofonia, que se encontra no livro
“Vozes do Grande Além” [ Ensinamento Vivo], publicado pela FEB, organizado
por Arnaldo Rocha, resultado das sessões mediúnicas do Grupo Meimei, de Pedro
Leopoldo, entre 1952- 1956.
Divaldo Franco - Caderno de mensagens – Cap. 2 - Encontro com
Divaldo Pereira Franco

Chico Xavier e o Natal
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Rufus:
Para quem não se recorda ou não leu o livro Ave Cristo!, ditado por
Emmanuel, Rufus era um escravo, que, no século II, na cidade de Lyon, deu seu
testemunho de fé, quando Taciano mandou matar os cristãos que viviam na então
chamada Gália Lugdunense.
A morte de Rufus foi muito dolorosa, porque ele foi amarrado à cauda de
um potro bravio, para sair em disparada e despedaçá-lo.
Quando Rufus estava nessa situação pungente, recordou- se que a esposa e
os filhinhos haviam sido vendidos a um mercador de escravos.
Ele reflexionava em agonia: Jesus, que fazer?
Eu poderei acabar com esta situação se abjurar à fé por amor a meus filhos
e à minha mulher.
Mas, que fazer? Ser fiel a Jesus…
A minha vida eu a dou, mas a dos meus filhos e da companheira?
Assim mesmo ele optou por permanecer fiel a Jesus.
Nesse transe, que são alguns segundos e parecem horas, o homem que
comprara a sua família como escravos acercou-se e deu-lhe uma bofetada.
Ao fazê- lo, abaixou- se e ciciou-lhe ao ouvido: Morre em paz.
Eu também sou cristão.
Cuidarei da tua família.
Ele então se entregou a Deus.
E o Chico me narraria, depois, que os pedaços de Rufus ficaram pelas
estradas, e que ele viu, psiquicamente, e essa parte não consta no livro, o
sepultamento dos despojos recolhidos pelos seus irmãos de fé naquela noite,
conduzindo archotes e cantando hinos de exaltação ao Bem.

Chico Xavier e o Natal
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2.2.5 Maria da Conceição – Passado/Presente – Cronologia
2.2.5.1 O Presente

 1860 – BRASIL - Lia Nascimento – Curral Del Rei
 1880 – Lia Casamento
− esposo distúrbios mentais, obsedado, ciúme doentio, marcada a fogo,
prisioneira no Lar
 1900 – Casamento da Filha
 1902 – Nascimento da Neta (Maria da Conceição)
− deficiente física, surda, muda quase cega
− repudiada pela Mãe, acolhida pela Avó e fuga com ela.
“O parto foi muito difícil e, quando nasceu a criança, a parteira teve um
choque muito grande, porque a menina apresentava anomalias teratológicas muito
graves: a cabeça era normal, mas o corpo se apresentava retorcido como se fosse
moldado por mãos impiedosas que lhe mudaram a estrutura. A parteira, assustada,
mostrou-a à mãe, ainda no leito. A senhora teve uma crise de loucura e atirou a filha
pela janela. Então D. Lia saiu correndo — a avó —, pegou a criança e desapareceu”.
Divaldo Franco – Caderno de Mensagens – Cap. 2

“Paralítica, surda, muda e quase cega, não era surda para as vozes que me
acusavam, na profundez de minhas dores da consciência, não era paralítica para o
pensamento que se movimentava a distância de minha cabeça flagelada, não era
muda para as considerações que me saltavam do cérebro e nem cega para os quadros
terrificantes do plano imaginativo…”
“Durante mais de cinquenta anos sucessivos, por felicidade minha
experimentei fome, frio, enfermidade e desprezo de meus semelhantes… Em toda
a existência, como bênção de calor na carne devastada de sofrimento, não recebi
senão a das lágrimas que me escorriam dos olhos…”
Maria da Conceição – Vozes do Grande Além – C ap. 3

Chico Xavier e o Natal
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 1950 – CHICO XAVIER e A IRMÃ LUÍSA
− 1º Visita – duas personalidades em desdobramento – Lia (Avó) e Maria da
Conceição
− Veio indicada pela Mãe do Chico Xavier
“No começo dos anos 50, ele [Chico Xavier] estava numa das suas reuniões
de atividades mediúnico-doutrinárias, psicografando, quando, fora do corpo, ele viu
adentrarem-se duas damas muito belas, vestidas ricamente, à espanhola, e que se
lhe acercaram. Aquela que parecia ser a de mais idade perguntou- lhe em Espírito:
— Você é o filho de D. Maria João de Deus, o Chico Xavier?
Ele respondeu: — Sim, sou.
— Pois é, sua mãe foi muito amiga nossa. Nós estamos reencarnadas,
resgatando dolorosos crimes anteriormente cometidos. Encontramo- nos numa
situação muito lamentável e D. Maria João de Deus sugeriu-me que viesse pedir-
lhe socorro, porque você é dotado de sentimentos cristãos e de muita misericórdia.
Nós estamos morando aqui próximo, na Lapinha, e precisamos de alimentos para
que nossos corpos resistam à expiação. Você poderia nos visitar, Chico?”.
Chico ficou muito sensibilizado e prometeu visita -las.
No dia seguinte, em companhia de D. Luísa [irmã do Chico Xavier], eles
procuraram reunir alguns víveres do pouco que tinham e foram visitar o casebre de
D. Lia e D. Conceição.
Era uma dessas construções de pau-a-pique muito modesta, no cimo de um
aclive, num lugarejo separado do aglomerado de casas. A partir de então, vez que
outra, quando ele dispunha de qualquer recurso, comprava alimentos e ia leva -los
às duas senhoras”.
Divaldo Franco – Caderno de Mensagens – Cap. 2

Chico Xavier e o Natal
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 1954 – JUNHO/20 – SÁBADO – CHICO XAVIER/DIVALDO FRANCO
− 2º Visita – duas personalidades espanholas em desdobramento – Lia e
Maria da Conceição
− Pedir comida
− Bairro Lapinha/Pedro Leopoldo
“Estando [Chico Xavier] desdobrado parcialmente, enquanto os Benfeitores
psicografavam, havia recebido a visita de duas damas espanholas (encarnadas) que
estavam recebendo a sua ajuda material durante a expiação redentora na atualidade,
e vinham pedir-lhe para que não esquecesse de levar-lhes comida, porque ainda não
havia terminado o seu resgate doloroso, mas a fome poderia interromper esse
processo libertador, e que, no domingo — já era madrugada de domingo — à tarde,
nós iríamos visita-las.”
“(...) Subimos o aclive e, quando ele bateu à porta, D. Lia abriu- a. Tratava-
se de uma mulher nonagenária, e foi comovedor o encontro, porque ela o olhou,
teve uma exclamação, informando: — Seu Chico, essa noite eu sonhei com vós. Eu
dizia: Venha trazer comida pra nós, seu Chico, que nós tá morrendo!
Ele então olhou- me [Divaldo Franco] e sorriu, porque aí estava a
confirmação do que nos houvera contado. Entramos. D. Luísa foi à cozinha, que era
um pequeno vão ao lado, levar os alimentos e preparar um lanche, enquanto nós
fomos ao outro quartinho.
A cama era de varas, enfiadas no chão, com outras transversais, algum
capim coberto com tecidos velhos, sujos, e um corpo, que não deveria ter mais do
que seis palmos de uma mão adulta.
A cabeça era perfeitamente normal.
O cabelo desgrenhado, não tinha nada a ver com aquele de que Chico falara.
(...) Nesses comenos, D. Luísa veio da cozinha e, para que nós víssemos as
deformidades da paciente, tirou o pano que a cobria. Foi a cena mais chocante que
eu já vi. Era como se o corpo fosse retorcido, não exatamente como um parafuso,
mas algo parecido, pequeno, com muitas limitações.
Divaldo Franco – Caderno de Mensagens – Cap. 2

Chico Xavier e o Natal
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 1954 – DEZEMBRO/24 – NATAL – RUFUS/EURÍPEDES
BARSANULFO
“Eu estava, numa noite de Natal, muito amargurado! Sem ninguém,
fisicamente. Luísa se encontrava com os seus filhos e esposo, no lar, e eu não queria
perturbá-los. Os meus irmãos reuniam-se com as suas famílias modestas, e esse era
o momento deles.
Então, quando tomado pela tristeza e solidão, lembrei- me: Como estariam
Lia e Conceição? E já que nós éramos, possivelmente, as pessoas mais isoladas que
eu poderia identificar, mais solitárias, resolvi visita -las.
Tomei um táxi e fui correndo até a Lapinha. Quando eu saltei do veículo e
me aproximei do outeiro, eu vi uma espécie de “spot light”, que descia de um ponto,
que eu não podia identificar, do Infinito, salpicado de estrelas.
Estrelas matizadas cobriam aquela choupana modesta.
Quando eu me acerquei, à porta estava Eurípedes Barsanulfo, porém com a
indumentária de Rufus.
Estava ali Rufus, o bem-aventurado, porque, se ele já era cristão desse jaez
àquela época, o seu ministério de apóstolo sacramentano era natural (numa
preparação para as tarefas do Chico no mundo social pela mesma região
triangulina).
E, então, era o Natal mais lindo que se podia imaginar. Vozes, entoando
hinos, e as duas, que uma visão apressada poderia confundir com obsidiadas. Então,
ele passou o Natal mais feliz da sua atual existência”.
Divaldo Franco – Caderno de Mensagens – Cap. 2

Chico Xavier e o Natal
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 1955 – JANEIRO – DESENCARNE – MARIA DA
CONCEIÇÃO/BEZERRA DE MENESES
“Pois é, eu estava, no mês de janeiro último, psicografando, quando Dr.
Bezerra se me acercou, solicitando-me:
— “Chico, assim que termine as atividades programadas, não dialogue com
os nossos irmãos, porque Maria da Conceição está voltando ao Grande Lar.
Já estamos operando o processo de libertação do Espírito, desimantando-o
dos liames materiais e, logo, dentro de duas horas, no máximo, ela estará conosco.
Gostaríamos que você fosse participar desse momento.
Ele terminou o trabalho, desculpou- se, tomou um automóvel, seguiu à
Lapinha e, então, comoveu- se com a mesma presença feérica de Entidades nobres,
que ali visitavam o casebre modesto, e acompanhou o momento em que o próprio
Dr. Bezerra de Menezes desenovelou a moribunda, agindo no centro coronário,
liberando- a dos últimos vínculos com a matéria”.
Divaldo Franco – Caderno de Mensagens – Cap. 2

 1955 – FEVEREIRO – DESENCARNE – LIA/BEZERRA DE MENESES
“Mais ou menos, quinze dias após [o desencarne de Maria da Conceição],
também num sábado pela madrugada de domingo, o venerando Guia convidou- o,
novamente, explicando- lhe:
— Estamos retirando Lia do invólucro carnal. Conceição veio busca -la, o
filho e alguns beneficiários hoje dos seus sofrimentos, dos seus testemunhos
dolorosos encontram-se presentes.
Terminada a reunião, nós o aguardamos.
Concluída a reunião, ele correu à nova residência da anciã e, de longe, viu
sobre aquela ruela sem saída, as luzes e a movimentação de Entidades nobres,
ouvindo um coral, que houvera escutado anteriormente, quando a irmã
desencarnou, que entoava um hino à vida.
Quando D. Lia foi retirada do corpo, ele anotou, como houvera feito por
ocasião da desencarnação, o poema de exaltação da Vida (Hino do Repouso), que
diz :

Chico Xavier e o Natal
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Rasgaram-se
os véus da noite…
Novo dia resplandece.
Viajor, descansa em prece
Ao lado da própria cruz.
No firmamento dourado
Rebrilha a aurora divina,
Porque a morte descortina
Vida nova com Jesus.

Esquece a aflição do mundo!
No seio da crença, olvida
Todas as sombras da vida,
Todo sonho enganador…
Sob a bênção da alegria,
Na esperança que te veste,
És a andorinha celeste
Voltando ao ninho de amor.

Repete, agora conosco —
“Bendita a dor santa e pura
Que me deu tanta amargura
E tanta consolação”.
E orando, em paz, no repouso,
De alma robusta e contente,
Agradece alegremente
A própria libertação.

Descansa! que além da sombra,
Outra alvorada te espera!
Abençoa a nova Esfera
A que o Senhor nos conduz.
Dilatarás, muito em breve,
Todo o júbilo que vazas,
Desdobrando as próprias asas
No Reino da Eterna Luz!
Cartas do Coração – 2º Parte – Cap. 5 – Hino do Repouso

Chico Xavier e o Natal
26

A música continuava, e ele ainda pôde ver D. Lia sorrir-lhe, sem
possibilidade de agradecer-lhe, ser retirada do corpo, levada para o mundo de
origem.
Poucos dias depois de desencarnada, ela retornou, trazendo a netinha, que
falecera com cinquenta e cinco anos de idade, mais ou menos, a qual então
transmitiu uma mensagem de rara beleza, por psicofonia, que se encontra no livro
“Vozes do Grande Além” [Ensinamento vivo], publicado pela FEB, organizado por
Arnaldo Rocha, resultado das sessões mediúnicas do Grupo Meimei, de Pedro
Leopoldo, entre 1952/1956.
Divaldo Franco – Caderno de Mensagens – Cap. 2

Chico Xavier e o Natal
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 1955 – JUNHO – DEPOIMENTO/GRUPO MEIMEI – LIA

Filhos de Deus, que a paz do Senhor seja a nossa luz.
Enquanto permanecemos no corpo de carne, não conseguimos, por mais
clara se nos faça a compreensão da justiça, apreender-lhe a grandeza em toda a
extensão.
Admitimos a existência do Inferno que pune os transgressores e acreditamos
no braço vingador daqueles que se entregam ao papel de carrascos de quantos se
renderam ao sorvedouro do crime.
Raras vezes, porém, refletimos nos tormentos que a consciência culpada
impõe a si própria, além-túmulo.
Fascinados pelo mundo exterior, dormitamos ao aconchego da ilusão e não
nos recordamos de que, um dia, virá o despertar no mundo de nós mesmos.
A morte arranca- nos o véu em que nos ocultamos e ai de nós quando não
temos por moldura espiritual senão remorso e arrependimento, vileza e degradação.
Achamo-nos em plena nudez, diante do autojulgamento, e somente
assinalamos os quadros e gritos acusadores que nascem de nossa própria alma,
exprimindo maldição.
Nossos olhos nada mais veem senão o painel das lembranças amargas, os
ouvidos não escutam outras palavras que não as do libelo por nós e contra nós, e,
por mais vagueemos com a ligeireza do pensamento, através de milhares de
quilômetros no espaço, encontramos simplesmente a nós mesmos, na vastidão do
tempo, confinados ao escuro e estreito horizonte de nossa própria condenação.
Os dias passam por nós como as vagas do mar, lambendo o rochedo na
solidão que lhe é própria, até que os raios da Compaixão Divina nos dissipem as
sombras, ensejando-nos a prece como caridosa luz que nos clareia a furna da
inconsequência.
É então que a Bondade do Senhor interfere na justiça, permitindo ao
criminoso traçar mentalmente a correção que lhe é necessária.
E o delinquente sempre escolhe a posição das vítimas que lhe sucumbiram
às mãos, bendizendo a reencarnação expiatória que lhe faculta o reexame dos
caminhos percorridos.
Trazida até aqui por nossos Benfeitores, falo-vos de minha experiência.

Chico Xavier e o Natal
28

Sou a vossa irmã Conceição, que volta a fim de comentar convosco o
impositivo da consciência tranquila perante a Lei.
Administrais o esclarecimento justo às almas desgarradas do trilho reto e
determinam nossos Instrutores vos diga a todos, encarnados e desencarnados,
daquele esclarecimento vivo que nos é imposto pelas duras provas da vida, quando
não assimilamos o valor da palavra enquanto é tempo!…
(...)
Mas a doutrinação regeneradora que não recolhi da palavra de quantos me
ampararam noutro tempo, com amoroso aviso, fui constrangida a assimilá-la sob o
rude tacão de atrozes padecimentos.
Quando a lição do Senhor é recusada por nossos ouvidos, ressurge
invariável, em nós mesmos, na forma de provação necessária ao reajuste de nossos
destinos.
Dirigindo-me, assim, a vós outros que me conhecestes o leito atormentado
no mundo e a vós que me escutais sem a vestimenta física, rogo devoção e respeito
para com o socorro moral de Jesus através daqueles que lhe distribuem os dons de
conhecimento e consolação.
Quem alcança a verdade, sabe o que deve fazer.
Submetamo-nos ao amor de Deus, enquanto há tempo de partilhar o tempo
daqueles que mais amamos, a fim de que a dor não nos submeta, implacável,
obrigando- nos a partilhar o tempo da dificuldade e da solidão.
Essa tem sido para mim a mais severa advertência da vida. Com o Amparo
Divino, entretanto, sinto que o meu novo dia nasceu.
Aprendamos, pois, a ouvir e a refletir, sem jamais esquecer que o Amor
reina, soberano, em todos os círculos do Universo, recordando, porém, que a Justiça
cumprir-se-á, rigorosa, na senda de cada um.
Maria da Conceição – Vozes do Grande Além – Cap. 3 – Ensinamento
Vivo

Chico Xavier e o Natal
29

2.2.5.2 O Passado

 1560 - ESPANHA
− Reinado de Felipe II da Espanha
− Damas da Corte – Mãe, filha e filho (cardeal)
− Inquisição Espanhola – delatoras
− Arnaldo Rocha = Duque de Alba, Meimei = Condessa de Alba, Chico
Xavier = jovem aristocrática francesa protegida da Condessa de Nemours =
Esmeralda Barros/Noite de São Bartolomeu
“Ela [Lia] então explicou- lhe que havia exercido, na corte de Felipe II, uma
posição muito relevante, havendo sido mãe de uma personalidade de alta
significação no clero, tendo contribuído com a sua ambição para atormentar pessoas
que eram acusadas como dignas de processo inquisitorial, por heresia.
Ela e sua filha, irmã, portanto, da alta personalidade clerical, beneficiavam-
se das denúncias que eram feitas contra pessoas muito ricas, porque, segundo a lei
da época, os bens passavam a pertencer ao Estado, que ficava com 50%, outra parte
ia para a Igreja e a outra para o denunciante.
Elas compraziam-se nisso, mas nunca se deram ao trabalho de ver como
eram arrancadas as confissões das suas vítimas ”.
Divaldo Franco – Caderno de Mensagens – Cap. 2

“Dama vaidosa e influente da Corte de Filipe II, na Espanha inquisitorial,
reapareci neste século, de corpo desfigurado, a mergulhar nos próprios detritos,
corpo que era simplesmente a imagem torturada de minhalma açoitada de angústia
e emparedada nos ossos doentes, para redimir o passado delituoso.
Maria da Conceição – Vozes do Grande Além – Cap. 3

 1600/1700 – Reencarnações Expiatórias
“A Misericórdia Divina, apiedada dos seus sofrimentos, trouxe-os a
expiações dolorosas e, durante várias vezes, reencarnaram-se sob os espículos da
lepra, mas esta reencarnação , na qual se encontravam, seria a última fase de
recuperação, e que elas pretendiam — porque o filho já estava redimido — coroar
a jornada com muito êxito”.
Divaldo Franco – Caderno de Mensagens – Cap. 2

Chico Xavier e o Natal
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3 O Natal - Mensagens selecionadas
3.1 Emmanuel
3.1.1 Natal
As legiões angélicas, junto à Manjedoura, anunciando o Grande
Renovador, não apresentaram qualquer palavra de violência.
Glória a Deus no Universo Divino. Paz na Terra. Boa- vontade para com os
Homens.
O Pai Supremo, legando a nova era de segurança e tranquilidade ao mundo,
não declarava o Embaixador Celeste investido de poderes para ferir ou destruir.
Nem castigo ao rico avarento. Nem punição ao pobre desesperado. Nem
desprezo aos fracos.
Nem condenação aos pecadores. Nem hostilidade para com o fariseu
orgulhoso.
Nem anátema contra o gentio inconsciente.
Derramava-se o Tesouro Divino, pelas mãos de Jesus, para o serviço da
Boa-Vontade.
A justiça do “olho por olho” e do “dente por dente” encontrara, enfim, o
Amor disposto à sublime renuncia até à cruz.
Homens e animais, assombrados ante a luz nascente na estrebaria,
assinalaram júbilo inexprimível...
Daquele inolvidável momento em diante a Terra se renovaria.
O algoz seria digno de piedade. O inimigo converter-se-ia em irmão
transviado. O criminoso passaria à condição de doente.
Em Roma, o povo gradativamente extinguiria a matança nos circos. Em
Sidon, os escravos deixariam de ter os olhos vazados pela crueldade dos senhores.
Em Jerusalém, os enfermos não mais seriam relegados ao abandono nos vales de
imundície.
Jesus trazia consigo a mensagem da verdadeira fraternidade e, revelando-a,
transitou vitorioso, do berço de palha ao madeiro sanguinolento.
Irmão, que ouves no Natal os ecos suaves do cântico milagroso dos anjos,
recorda que o Mestre veio até nós para que nos amemos uns aos outros.
Natal! Boa Nova! Boa- Vontade!...
Estendamos a simpatia para com todos e comecemos a viver realmente
com Jesus, sob os esplendores de um novo dia.
Emmanuel – Antologia Mediúnica do Natal – Cap. 17

Chico Xavier e o Natal
31

3.1.2 O Natal do Cristo

A Sabedoria da Vida situou o Natal de Jesus frente do Ano Novo, na
memória da Humanidade, como que renovando as oportunidades do amor fraterno,
diante dos nossos compromissos com o Tempo.
Projetam-se anualmente, sobre a Terra os mesmos raios excelsos da Estrela
de Belém, clareando a estrada dos corações na esteira dos dias incessantes,
convocando-nos a alma, em silêncio, à ascensão de todos os recursos para o bem
supremo.
A recordação do Mestre desperta novas vibrações no sentimento da
Cristandade.
Não mais o estábulo simples, mas nosso próprio espírito, em cujo íntimo o
Senhor deseja fazer mais luz...
Santas alegrias nos procuram a alma, em todos os campos do idealismo
evangélico
Natural o tom festivo das nossas manifestações de confiança renovada,
entretanto, não podemos olvidar o trabalho renovador a que o Natal nos
convida, cada ano, não obstante o pessimismo cristalizado de muitos
companheiros, que desistiram temporariamente da comunhão fraternal.
É o ensejo de novas relações, acordando raciocínios enregelados com as
notas harmoniosas do amor que o Mestre nos legou.
É a oportunidade de curar as nossas próprias fraquezas retificando atitudes
menos felizes, ou de esquecer as faltas alheias para conosco, restabelecendo os elos
da harmonia quebrada entre nós e os demais, em obediência à lição da desculpa
espontânea, quantas vezes se fizerem necessárias.
É o passo definitivo para a descoberta de novas sementeiras de serviço
edificante, através da visita aos irmãos mais sofredores do que nós mesmos e da
aproximação com aqueles que se mostram inclinados à cooperação no progresso, a
fim de praticarmos, mais intensivamente, o princípio do “amemo-nos uns aos
outros”.
- Conforme a nossa atitude espiritual ante o Natal, assim aparece o Ano
Novo à nossa vida.
- O aniversário de Jesus precede o natalício do Tempo.
- Com o Mestre, recebemos o Dia do Amor e da Concórdia.

Chico Xavier e o Natal
32

- Com o tempo, encontramos o Dia da Fraternidade Universal.
- O primeiro renova a alegria.
- O segundo reforma a responsabilidade.
Comecemos oferecendo a Ele cinco minutos de pensamento e atividade e, a
breve espaço, nosso espírito se achará convertido em altar vivo de sua infinita boa
vontade para com as criaturas, nas bases da Sabedoria e do Amor.
Não nos esqueçamos.
Se Jesus não nascer e crescer, na manjedoura de nossa alma, em vão os Anos
Novos se abrirão iluminados para nós.
Emmanuel - Fonte de Paz – Cap. 12

Chico Xavier e o Natal
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3.1.3 Rogativa de Natal

Senhor Jesus!
Quando chegaste à Terra, através dos panos da manjedoura,
aguardava-te a Escritura como sendo a luz para os que jazem assentados nas
trevas!...
E, em verdade, Senhor, as sombras dominavam o mundo inteiro...
Sombras no trabalho, em forma de escravidão...
Sombras na justiça, em forma de crueldade...
Sombras no templo, em forma de fanatismo...
Sombras na governança, em forma de tirania...
Sombras na mente do povo, em forma de ignorância e de miséria...
Pouco a pouco, no entanto, ao clarão de tua infinita bondade,
quebraram-se as algemas da escravidão, transformou-se a crueldade em apreciáveis
direitos humanos, transmudou- se o fanatismo em fé raciocinada, converteu-se a
tirania em administração e, gradualmente, a ignorância e a miséria vão recebendo o
socorro da escola e da solidariedade.
Entretanto, Senhor, ainda sobram trevas no amor, em forma de
egoísmo!
Egoísmo no lar...
Egoísmo no afeto...
Egoísmo na caridade...
Egoísmo na prestação de serviço...
Egoísmo na devoção...
Mestre, dissipa o nevoeiro que nos obscurece ainda os horizontes e ensina-
nos a amar como nos amaste, sem buscar vaidosamente naqueles que amamos os
reflexos de nós mesmos, porque, somente em nos sentindo verdadeiros irmãos uns
dos outros, é que atingiremos, com a pura fraternidade, a nossa ressurreição para
sempre.
Emmanuel - Antologia Mediúnica do Natal – Cap. 31

Chico Xavier e o Natal
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3.1.4 Desce Elevando

Desce, elevando aqueles que te comungam a convivência, para que a vida
em torno suba igualmente de nível.
Se sabes, não firas o ignorante. Oferece-lhe apoio para que se liberte da
sombra.
Se podes, não oprimas o fraco. Ajuda-o, de alguma sorte, a fortalecer-se,
para que se faça mais útil.
Se entesouraste a virtude, não humilhes o companheiro que o vicio
ensandece. Estende- lhe a bênção do amor como adequada medicação.
Se te sentes correto, não censures o irmão transviado em desajustes do
espírito. Dá-lhe o braço fraterno para que se renove.
Se ajudas, não recrimines quem te recebe o socorro. Pão amaldiçoado é
veneno na boca.
Se ensinas, não flageles quem te recebe a lição. Benefício com açoite é mel
em taça candente.
Auxilia em silêncio para que o teu amparo não se converta em tributo
espinhoso na sensibilidade daqueles que te recolhem a dádiva, porque toda caridade
a exibir-se no palanque das conveniências do mundo é sempre vaidade, em forma
de serpe no coração, e toda modéstia que pede o apreço dos outros, para exprimir-
se, é sempre orgulho em forma de lodo nos escaninhos da alma.
Nesse sentido, não te esqueças do Mestre que desceu, até nós, revelando-
nos como sublimar a existência.
Anjo entre os anjos, faz-se pobre criança necessitada do arrimo de singelos
pastores; sábio entre os sábios, transforma- se em amigo anônimo de pescadores
humildes, comungando- lhes a linguagem; instrutor entre os instrutores, detém-se,
bondoso, entre enfermos e aflitos, crianças e mendigos abandonados, para abraçar-
lhes a luta, e, juiz dos juízes, não se revolta por sofrer no tumulto da praça o iníquo
julgamento do povo que o prefere a Barrabás, para os tormentos imerecidos.
Todavia, por descer, elevando quantos lhe não podiam compreender a
refulgência da altura, é que se fez o caminho de nossa ascensão espiritual, a verdade
de nosso gradativo aprimoramento e a vida de nossas vidas, a erguer-nos a alma
entenebrecida no erro, para a vitória da luz.
Emmanuel – Religião dos Espíritos – Cap. 28

Chico Xavier e o Natal
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3.1.5 Algo mais no Natal

Senhor Jesus!
Diante do Natal, que te lembra a glória na manjedoura, nós te agradecemos:
a música da oração;
o regozijo da fé;
a mensagem de amor;
a alegria do lar;
o apelo a fraternidade;
o júbilo da esperança;
a bênção do trabalho;
a confiança no bem;
o tesouro da tua paz;
a palavra da Boa Nova;
e a confiança no futuro!...
Entretanto, oh! Divino Mestre, de corações voltados para o teu coração, nós
te suplicamos algo mais! ...
Concede-nos, Senhor, o dom inefável da humildade para que tenhamos a
precisa coragem de seguir-te os exemplos!
Emmanuel – Luz do Coração – Cap. 73

Chico Xavier e o Natal
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3.1.6 No Natal

É inútil que se apresente Jesus como filósofo do mundo.
O Mestre não era um simples reformador.
Nem a sua vida constituiu um fato que só alcançaria significação depois de
seus feitos inesquecíveis, culminantes na cruz.
Jesus Cristo era o esperado.
Pela sua vinda, numerosas gerações choraram e sofreram.
A chegada do Mestre foi a Benção
Os que desejavam caminhar para Deus alcançavam a Porta.
O Velho Testamento está cheio de esperanças no Messias.
O Evangelho de Lucas refere- se a um homem chamado Simeão, que vivia
esperando a consolação de Israel.
Homem justo e inspirado pelas forças do Céu, vendo a Divina Criança, no
Templo, tomou- a nos braços, louvou ao Altíssimo e exclamou: Agora, Senhor,
despede em paz o teu servo, segundo a tua palavra.”
Havia surgido a consolação.
Ninguém estaria deserdado.
Deus repartira seu coração com os filhos da Terra.
E por isso que o Natal é a festa de lágrimas da Alegria.
Emmanuel - Fonte de Paz – Cap. 21

Chico Xavier e o Natal
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3.1.7 Natal II

"Glória a Deus nas Alturas, paz na Terra e boa vontade parai com os
Homens." Lucas, 2:14.

As legiões angélicas, junto à Manjedoura, anunciando o Grande Renovador,
não apresentaram qualquer ação de reajuste violento.
Glória a Deus no Universo Divino.
Paz na Terra.
Boa vontade para com os homens.
O Pai Supremo, legando a nova era de segurança e tranqüilidade ao mundo,
não declarava o Embaixador Celeste investido de poderes para ferir ou destruir.
Nem castigo ao rico avarento.
Nem punição ao pobre desesperado.
Nem desprezo aos fracos.
Nem condenação aos pecadores.
Nem hostilidade para com o fariseu orgulhoso.
Nem anátema contra o gentio inconsciente.
Derramava- se o Tesouro Divino, pelas mãos de Jesus, para o serviço da Boa
Vontade.
A justiça do "olho por olho" e do "dente por dente" encontrara, enfim, o
Amor disposto à sublime renúncia até à cruz.
Homens e animais, assombrados ante a luz nascente na estrebaria,
assinalaram júbilo inexprimível...
Daquele inolvidável momento em diante a Terra se renovaria.
O algoz seria digno de piedade.
O inimigo converter-se-ia em irmão transviado.
O criminoso passaria à condição de doente.
Em Roma, o povo gradativamente extinguiria a matança nos circos.
Em Sídon, os escravos deixariam de ter os olhos vazados pela crueldade dos
senhores.
Em Jerusalém, os enfermos não mais sofreriam relegados ao abandono nos
vales de imundície.

Chico Xavier e o Natal
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Jesus trazia consigo a mensagem da verdadeira fraternidade e, revelando-a,
transitou, vitorioso, do berço de palha ao madeiro sanguinolento.
Irmão, que ouves no Natal os ecos suaves do cântico milagroso dos anjos,
recorda que o Mestre veio até nós para que nos amemos uns aos outros.
Natal! Boa Nova! Boa Vontade!...
Estendamos a simpatia a todos e comecemos a viver realmente com Jesus,
sob os esplendores de um novo dia.
Emmanuel – Revista Reformador – 1950 – Dezembro – Natal II

Chico Xavier e o Natal
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3.1.8 Humildade Celeste

Ninguém mais humilde que Ele, o Divino Governador da Terra.
Podia eleger um palácio para a glória do nascimento, mas preferiu sem
mágoa a manjedoura simples.
Podia reclamar os príncipes da cultura para o seu ministério de paz e
redenção; contudo, preferiu pescadores singelos para instrumentos sublimes do seu
verbo de luz.
Podia articular defesa irresistível a fim de dominar a governança política;
no entanto, preferiu render-se à autoridade, presente em sua época, ensinando que
o homem deve entregar ao mundo o que ao mundo pertence, e a Deus o que é de
Deus.
Podia banir de pronto do colégio apostólico o amigo invigilante, mas
preferiu que Judas conseguisse os seus fins, lamentáveis e escusos, descerrando-lhe
aos pés o caminho melhor.
Podia erguer-se ao Sol da plena vida eterna, sem voltar-se jamais ao
convívio humilhante daqueles que o feriram nos tormentos da cruz; no entanto,
preferiu regressar para o mundo, estendendo de novo as mãos alvas e puras aos
ingratos da véspera.
Podia constranger o Espírito de Saulo a receber-lhe as ordens, mas preferiu
surgir-lhe qual companheiro anônimo, rogando- lhe acordar, meditar e servir, em
favor de si mesmo.
Em Cristo, fulge sempre a humildade celeste, pela qual aprendemos que,
quanto mais poder, mais amplo o trilho augusto aberto às nossas almas para que nos
façamos, não apenas humildes pelos padrões da Terra, mas humildes enfim pelos
padrões de Deus.
Emmanuel - Antologia Mediúnica do Natal - Capítulo 13 - Humildade
celeste

Chico Xavier e o Natal
40

3.2 Joanna de Angelis
3.2.1 Atualidade do Natal

Andando sem rumo, sob o flagício de mil aflições, o homem moderno deixa -
se dominar pelo desânimo ou pela ansiedade, malbaratando o valioso contributo da
inteligência e do sentimento com que a vida o enriqueceu, exaurindo-se, ora no
consumismo insensato, ora na revolta desastrada por falta de recursos econômicos
ou emocionais para realizar-se.
A insatisfação é a tônica do comportamento individual e social que vige na
Terra.
Aqueles indivíduos que experimentam carência de qualquer natureza,
lamentam-se e rebolcam-se na rebeldia que degenera em violência, enquanto
aqueloutros que se encontram afortunados, deixam-se dominar pelas extravagâncias
ou pelo tédio, derrapando, uns e outros, nas viciações perturbadoras ou na
dependência de substâncias químicas de funestas conseqüências.
As admiráveis conquistas da Ciência e da Tecnologia não os tornaram mais
felizes nem menos tensos, pelo contrário, empurraram-nos na direção trágica da
neurastenia ou da depressão nas quais estorcegam.
Indubitavelmente, trouxeram incomparável ajuda para a solução de diversos
sofrimentos e situações penosas, de progresso material e social, porém, não
conseguiram penetrar o cerne dos seres humanos, modificando-lhes as disposições
íntimas em relação à existência terrena e aos seus objetivos essenciais.
Considerando a vida apenas do ponto de vista material, sem as conseqüentes
avaliações em torno do Espírito imortal, o comportamento materialista domina as
mentes e os corações que acreditam na felicidade em forma de valores amoedados,
satisfações dos sentidos, destaque social e harmonia física ...
Vive-se o apogeu da glória tecnológica diante dos descalabros
comportamentais que jugulam os seres humanos aos estados primevos da evolução.
Há conquistas do Infinito sem realização pessoal, sorrisos de triunfo sem
sustentação de felicidade, que logo se transformam em esgares, situações invejáveis
mas alicerçadas na miséria, na doença e no desconforto das pessoas excluídas ...
Faltando-lhes, porém, a vivência dos compromissos ético-morais, logo se
lhes apresentam os desapontamentos íntimos e os conflitos se lhes instalam
devoradores.

Chico Xavier e o Natal
41

Uma tormenta inigualável paira nos céus da sociedade moderna,
ameaçando-a com tragédias inomináveis.
Em período idêntico, no passado, salvadas as distâncias compreensíveis,
veio Jesus à Terra.
O mundo encontrava-se conturbado pelo poder mentiroso, pela falácia dos
dominadores, pelas ambições desmedidas, pelas conquistas arbitrárias, pelas
ilusões tresvairadas ...
Predominavam o luxo e a ostentação em alguns segmentos da humanidade,
enquanto nos porões do abandono em que desfaleciam, incontáveis criaturas
espiavam angustiadas o passar do tufão devorador ...
Apareceu Jesus, e uma aragem abençoada varreu o mundo, modificando- lhe
a psicosfera.
Sua voz levantou- se para profligar contra o crime e a insensatez, contra a
indiferença dos fortes em relação aos seus irmãos mais fracos, contra a hipocrisia e
o egoísmo então vigentes e dominantes como hoje ocorrem ...
Misturando-se aos mutilados do corpo e da alma, ergueu-os do pó em que
se asfixiavam, conduzindo- os na direção da glória estelar, demonstrando- lhes que
a vida física é experiência transitória, e que os valores reais são os que pertencem
ao Espírito imortal.
Utilizou-se da cátedra da Natureza e ensinou a felicidade mediante o
desapego e o despojamento das alucinantes prisões às coisas e às paixões materiais.
Cantou a esperança aos ouvidos da angústia e proporcionou a saúde
temporária a quantos se Lhe acercaram, alentando-os com a certeza da plenitude
após vencidas as etapas de regeneração e de resgate que todos os seres se impõem
no processo da evolução.
Atendeu a dor de todos os matizes, defendeu os pobres e oprimidos, os
esfaimados e sedentos de justiça, aos quais ofereceu os preciosos recursos de paz.
No entanto, quando acusado, abandonado, marchando para o testemunho, elegeu o
silêncio, a submissão à vontade de Deus, a fim de ensinar pelo exemplo resignação
e misericórdia para com os maus e perversos, confirmando a indiferença pelos
valores do mundo físico destituídos de utilidade.

Chico Xavier e o Natal
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... E permanece até hoje como o Triunfador não-conquistado, que prossegue
alentando os padecentes, convocando- os à transformação moral para melhor e à
conquista dos imperecíveis tesouros internos do amor, do perdão, da caridade, da
paz ...
Recorda-te de Jesus neste Natal, e reaproxima- te d'Ele, analisando como te
encontras e de que forma deverias estar moralmente, conscientizando-te do que já
fizeste e de quanto ainda podes e deves investir em favor de ti mesmo e do teu
próximo mais próximo, no lar, no trabalho, na rua, na humanidade ...
O Natal é presença constante do amor e do bem na atualidade de todos os
tempos.
Não te esqueças que a evocação do nascimento do Excelente Filho de Deus
entre as criaturas humanas, é um convite para que O permitas renascer no teu
íntimo, se estiver desaparecido da tua emoção, ou prosseguir vivo e atuante nos teus
sentimentos convidados à construção da solidariedade, do dever e da lídima
fraternidade que deve viger entre todos os seres sencientes que vagueiam no Planeta
... E deixa que Jesus te fale novamente à acústica do coração e aos
escaninhos da mente, repetindo-te o poema imortal das Bem-aventuranças.
Joanna de Ângelis – Diretrizes para o Êxito – Cap. 36 – Atualidade do
Natal

Chico Xavier e o Natal
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3.2.2 Orando no Natal

Senhor!
Enquanto vibram as emoções festivas e muitos homens se banqueteiam,
evocando aquele Natal que Te trouxe à Terra, recolhemo-nos em silêncio para orar.
Há tanta dor no mundo, Senhor!
Os canhões calam os seus troares, momentaneamente, as bombas
destruidoras cessam de cair por alguns instantes, nos países em guerra, enquanto
nós oramos pelos que mercantilizam vidas, fomentando conflitos e beligerâncias
outras;
pelos que escorcham as populações esfaimadas sob leis impiedosas e
escravizantes;
pelos que se comprazem, como se fossem abutres em forma humana, com a
renda nefanda das casas do comércio carnal;
pelos que exploram os vícios e acumulam usuras com o fruto da alucinação
dos obsidiados ignorantes da própria enfermidade;
pelos que malsinam moçoilas e rapagotes inexperientes, deslumbrados com
o fastígio mentiroso da ilusão;
pelos que difundem a literatura perversa e favorecem a divulgação da
criminalidade;
pelos que fazem enlouquecer, através dos processos escusos, decorrentes da
cultura que perverte mentes e corações;
pelos que se locupletam com as moedas adquiridas mediante o infanticídio
hediondo; pelos que dormem para a dignidade e sorriem nos pesadelos do torpor
moral, que os invadem!
Senhor!
Diante das crianças tristonhas e dos velhinhos estropiados, dos enfermos ao
abandono e dos atormentados à margem da sociedade, lembramo-nos de rogar por
todos eles, mas não nos esquecemos de Te suplicar pelos causadores da miséria e
do infortúnio.
"Não sabem o que fazem!" - perdoa-os, Senhor!

Chico Xavier e o Natal
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Neste Natal, evocando o momento em que as Altas Esferas seguiram contigo
à Terra, até o singelo recinto de animais, para o Teu mergulho na névoa dos homens,
esparze, novamente, misericórdia e esperança para todos, a fim de que o Ano Novo
seja, para sofredores e responsáveis pelo sofrimento, a antemanhã da Era do
Espírito Imortal, de que Te fizeste paradigma após o martírio da Cruz.
Joanna de Ângelis - Celeiro de Bênçãos – Cap. 11

Chico Xavier e o Natal
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3.2.3 Ressonâncias do Natal

Na paisagem fria e sem melhor acolhimento, a única hospedaria à disposição
era a gruta modesta onde se guardavam os animais. Não havia outro lugar que O
pudesse receber.
O mundo, repleto de problemas e de vidas inquietas, preocupava-se com os
poderosos do momento e reservava distinções apenas para os que se refestelavam
no luxo, bem como no prazer.
Aos simples e desataviados sempre se dedicavam a indiferença, o
desrespeito, fechando-lhes as portas, dificultando-lhes os passos.
Mas hoje, tudo permanece quase que da mesma forma.
Não obstante, durante aquela noite de céu transparente e estrelado, entre os
animais domésticos, em uma pequena baia, usada como berço acolhedor, nasceu
Jesus, que transformou a estrebaria num cenário de luzes inapagáveis que
prosseguem projetando claridade na noite demorada dos séculos, em quase dois mil
anos...
Inaugurando a era da humildade e da renúncia, Jesus elegeu a simplicidade,
a fim de ensinar engrandecimento íntimo como condição única para a
felicidade real.
O Seu reino, que então se instalou naquela noite de harmonias cósmicas,
permanece ensejando oportunidades de redenção a todos quantos se resolvam
abrigar nas suas dependências.
E o Seu nascimento modesto continua produzindo ressonâncias históricas,
antes jamais previstas.
Homens e mulheres, que tomaram contato com Sua notícia e mensagem,
transformaram -se, mudando- se-lhes o roteiro de vida e o comportamento,
convertendo-se, a partir de então, em luzeiros que apontam rumos felizes para a
Humanidade.
*
Guerreiros triunfadores passaram pelo mundo desde aquela época,
inumeráveis.
Governantes poderosos estabeleceram reinos e impérios, que pareciam
preparados para a eternidade, e ruíram dolorosamente.

Chico Xavier e o Natal
46

Artistas e técnicos, de rara beleza e profundo conhecimento, criaram formas
e aparelhagens sofisticadas para tornarem a Terra melhor, e desapareceram.
Ditadores indomáveis e aristocratas incomuns surgiram no proscênio
terrestre, envergando posição, orgulho e superioridade, que o túmulo silenciou.
.... Estiveram, por algum tempo, deixando suas pegadas fortes, que tornaram
alguns odiados, outros rechaçados e sob o desprezo das gerações posteriores.
Jesus, porém, foi diferente.
Incompreendido, o Cantor do Amor aceitou a cruz, para não anuir com o
crime, e abraçou a morte para não se mancomunar com os mortos.
Por isso, ressurgiu, em triunfo e grandeza, permanecendo o Ser mais
perfeito que jamais esteve na Terra, como modelo que Deus nos ofereceu
para Guia.
*
Quando a Humanidade experimenta dores superlativas, quando a miséria
sócio-econômica assassina milhões de vidas que estertoram ao abandono; quando
enfermidades cruéis demonstram a fragilidade orgânica das criaturas; quando a
violência enlouquece e mata; quando os tóxicos arruínam largas faixas da juventude
mundial, ao lado de outros males que atestam a falência do materialismo, ressurge
a figura impoluta de Jesus, convidando à reflexão, ao amor e à paz, enquanto as
ressonâncias do Seu Natal falam em silêncio: Ele, que tem salvo vidas incontáveis,
pede para que tentes fazer algo, amando e libertando do erro pelo menos uma
pessoa.
Lembrando-te dEle, na noite de Natal, reparte bondade, insculpe-O no
coração e na mente, a fim de que jamais te separes dEle.
Joanna de Angelis - Momentos Enriquecedores – Cap. 10

Chico Xavier e o Natal
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3.2.4 Insuperável Amor

O momento fazia-se grave e as circunstâncias apresentavam-se negativas.
Os ódios incidiam virulentos, grassando entre as várias facções que se
hostilizavam reciprocamente, somando-se contra o conquistador romano que
humilhava a raça, desrespeitando os costumes e as tradições mais antigas.
Intrigas e disputas cruéis acendiam vorazes desejos de vingança, a que se
atiravam, quanto lhes permitiam as oportunidades, dos homens fazendo chacais
sanquissedentos.
As esperanças de consolação e os anelos de paz cediam lugar ao desalento e à
revolta surda que ensombreciam as vidas.
O culto religioso repetia as fórmulas da ortodoxia longe dos sentimentos de
legítima adoração a Deus e de respeito ao homem, enquanto as ambições políticas
substituíam as expressões da verdadeira fraternidade.
A bajulação e o servilismo rebaixavam o homem às manifestações primárias
do atrevimento e da vil hipocrisia.
A dúvida e o desinteresse pelo "reino dos Céus" tomavam os lugares da fé
ardente e da fidelidade aos deveres espirituais, que ficavam à margem, nos cultos e
ritos externos, sem o sentido de profundidade.
O silêncio da Espiritualidade traduzia o abismo a que se arrojaram o povo e os
seus condutores tresvariados.
Nos momentos de maior provação Israel sempre ouvira a boca profeta e sentira
nas carnes da alma o apelo da Vida Triunfante através dos mais categorizados
Mensageiros.
Não agora, porém. A caravana dos desalentados era conduzida pela argúcia dos
ambiciosos desmedidos.
Este era o clima emocional e tais as condições dominantes nas vésperas do
Nascimento do Cristo.
Subitamente, na capital do Império, as musas corporificaram -se e um período
de prosperidade e beleza, de cultura e de arte distendeu-se sobre a Terra...
Mãos angélicas entreteciam a túnica de ternura para o noivado que logo se
iniciaria entre as criaturas sofredoras e o Amado. A belicosidade geral amainou e
os ventos de branda alegria começaram a soprar por toda a parte, amenizando a
ardência das paixões dissolventes.

Chico Xavier e o Natal
48

Nesse hiato de harmonia nasceu Jesus.
Na paisagem agridoce de uma noite fria e estrelada o Conquistador mergulhou
nos fluidos densos do mundo terrestre, a fim de que nunca mais houvesse sombras...
Discreto, como o sutil perfume das flores silvestres, impregnou a Natureza e
penetraria, pelo futuro afora, a sensibilidade das almas.
Nenhum alarde, nem anúncios bombásticos expressaram a Sua chegada.
Entre os animais domésticos e humildes pastores que O visitaram, deu início à
mais excepcional experiência de todos os tempos: a eloquente realização do amor
sem fronteiras nem dimensão.
As vozes que O cantaram foram percebidas somente na acústica da alma e
olhos que O identificaram estavam além das dimensões físicas.
Nunca mais a Sua presença seria diluída na mente humana ou na Terra.
Campeiem as misérias humanas ou triunfem as urdiduras temporárias do mal
da astúcia e da loucura; predominem as acirradas lutas da ignorância e da
arbitrariedade; permaneçam as encarniçadas paixões de domínio e orgulho, de
poder e glória passageira; Jesus é o vencedor da morte, do tempo, Vida
permanente expressando triunfo real.
Desde o Seu berço até hoje, por mais que se haja procurado sepultá-lO no
olvido, nas liturgias retumbantes, nos cultos da opulência, ou se deseja colocá- lO a
serviço dos interesses mesquinhos e subalternos, ei-lO renascendo sempre, pulcro
ideal, nos corações transformados em novas manjedouras de Belém, para que
não tarde demasiadamente o momento da união da criatura humana com Ele no Seu
reino de insuperável amor.
Joanna de Ângelis – Otimismo – Cap. 60

Chico Xavier e o Natal
49

3.2.5 Extremos de Amor


Exaltando o berço de palha humilde não esqueçamos a glória estelar da
crucificação.
O Natal é uma perene promessa, mas a Glória é uma grave advertência.
Na manjedoura inicia-se o messianato sublime, mas no acume do “morro da
Caveira” desdobra-se a tragédia que Ele soube transformar em estrada venturosa
para os que desejem segui-lO.
Na mansarda singela aparece aos homens; da cruz extenuante marcha para
Deus.
A estrebaria é o nadir da humildade e a cruz é o zénite do sacrifício.
Transitando entre um e outro extremo de amor, toda uma via de abnegação.
Sua vida são os Seus feitos, Seu pensamento os Seus conceitos de luz.
Com um grão de mostarda, Ele compôs uma balada sobre a fé; com o feixe
de varas, lecionou um tratado sobre a filosofia, a força da solidariedade e da união;
utilizando-se de redes, propôs um poema à abundância junto ao mar; com grãos de
trigo e com ramos de joio, entreteceu uma coroa de sabedoria com que nos adverte
sobre a perseverança e os cuidados em torno da gleba a joeirar.
Uma dracma perdida na Sua voz é uma canção de esperança, quando
encontrada por quem a busca; com incisão conclama à decisão entre Deus e
Mamon; na severidade contra a hipocrisia, modulou uma patética sobre os túmulos
caiados por fora, guardando podridão na intimidade.
E soube ativar a vida através da rearticulação de membros hirtos, de ouvidos
moucos, de olhos apagados, de língua sem movimentação, através de uma sonata
por meio da qual a Sua palavra se transformava em vida ante os que jaziam na
limitação e na dor.
Senhor dos Espíritos, jamais se utilizou da potência de que era investido
para os azorragar. Entrementes, abriu-lhes a alma com misericórdia,
encaminhando- os ao Pai em nome de quem falava na jornada messiânica da Terra.
Seus amigos eram discípulos dúbios uns débeis outros, fieis alguns. Todos,
porém, fascinados pela Sua pujante presença, pela Sua transparente bondade.
Jesus é um poema da vida, uma canção de amor. É a maior história dentro
da História da Humanidade, que a ultrapassa.

Chico Xavier e o Natal
50

Uma gruta e um céu descampado são os dois pontos culminantes de uma
vida que não começou no berço nem se esvaiu numa cruz.
Por isso, diante dEle, todos nos sentimos fremir, tocados pela Sua
magnânima presença que venceu os séculos de desolação, de dor, de crime, de
hediondez, em que se tentou ocultá-lO entre mentiras, fantasias e corrupções.
Ressurgindo desses escombros morais, Ele sempre saiu ileso qual o sol, Sol Divino
que é, clarificando cada madrugada, após a mentirosa vitória da noite em triunfo
efêmero.
Joanna de Ângelis – Oferenda – Cap. 23

Chico Xavier e o Natal
51

3.2.6 Festival de Amor

"Reina lá a verdadeira fraternidade, porque não há egoísmo; a verdadeira
igualdade, porque não há orgulho, e a verdadeira liberdade por não haver desordens
a reprimir, nem ambiciosos que procurem oprimir o fraco."
O CÉU E O INFERNO - 1ª parte - Capítulo 3º - Item 11.

Canta, alma, as bênçãos da fé viva na ação edificante do bem sem limite.
Não indagues qual a técnica perfeita da arte de ajudar.
Não esperes um curso especializado para o apostolado do melhor servir.
Abre os braços e agasalha a luz do dia no coração. Sai, depois, a dilatar
claridade em festa incessante de alegria.
Se te perguntarem porque, embora a dor que te oprime, sorris, responde, que
apesar do lodo junto à raiz, e por isso mesmo, o lírio esplendente de imaculada
alvura esparze aroma.
Se te interrogarem quanto à utilidade do teu mister, reflete no mecanismo
da vida, que transforma a abelha diligente em serva da tua mesa, e reparte a
grandeza do serviço beneficente.
Ama, e coroarás as horas de luz; serve, e adornarás o coração de intérmina
ventura.
No turbilhão do vozeiro moderno ausculta a pulsação do progresso e ouvirás
a rés-do-chão um débil gemido ou um choro cansado que não cessa; vasculhando a
noite com intensa expectativa identificarás homens fracos que o cansaço venceu;
flamando pelas rotas do abandono tropeçarás em retalhos de gente, emaranhados na
sarjeta do esquecimento, em trapos lodosos e despedaçados; vagueando nos lagos
onde a dor se agasalha verás o azeite da vida se acabando nos vasos ressequidos,
em que se transformaram organismos estiolados pela fome e pela enfermidade.
Muitos desses, ainda crianças, seriam os homens do amanhã que o presente
tudo faz por negar a oportunidade de avançarem na rota da jornada evolutiva.
A destinação histórica do futuro vai esmagada no frenesi teimoso do
"agora".
Escuta- os sem as palavras que não ousam articular e recebe -os no coração
sem exigências punitivas. Dês que os não podes levar para o lar que te agasalha,
sorri e ajuda-os como puderes, considerando que sempre podes fazer algo por eles.

Chico Xavier e o Natal
52

Se, todavia, te for possível recebê-los, ama-os como se fossem
enflorescências da tua carne.
Pouco te importe sejam grandes ou pequenos, os sofredores.
O amor verdadeiro não escolhe dimensão nem seleciona aparências. É
santificante concessão de Deus para enriquecimento da vida.
Urge fazeres algo por eles, os teimosamente abandonados do caminho:
órfãos dos teus olhos não os vias; aflitos, que em soluços junto à tua companhia,
não tinham ninguém...
Quando alguém ama realmente uma criança que recebe e lhe não pertence
pela carne, a humanidade consegue um crédito da vida.
Quando um espírito valoroso derrama a taça da afeição e do socorro legítimo
no gral de quem sofre, o mundo se engrandece com ele.
É graças a esses, os irmãos pequeninos e sofredores, que a esperança se
envolve de bênçãos e permanece entre as criaturas.
Faze da tua comunhão com o Cristo, a Quem dizes amar, um ato de
abnegação junto aos que necessitam de carinho, produzindo o teu nobre esforço ao
lado deles um excelente festival de amor.
Olhos marejados de pranto, além-da-sepultura fitam os filhos que ficaram
ou afetos que permaneceram na retaguarda e corações que não cessam de pulsar
embora a desencarnação, latejam em apressado ritmo, quando te acercas desses
filhos desses quereres...
Não justifiques enfermidade, se pretendes disfarçar a indiferença em que te
comprazes discretamente, nem te apegues aos sofrimentos da leviandade se queres
desculpar a impiedade que te cerceia os passos.
Os que hoje são pequenos amanhã crescerão. Evita avinagrares a água da
misericórdia que lhes ofereces, sem o azedume da infelicidade que dizes sofrer.
Talvez eles sejam o sorriso dos teus lábios, mais tarde, se souberes o que fazer.
Os que já viveram, sofrem e podem compreender.
Sai da tua enfermidade imaginária para a ação curadora e faze uma doação
de ternura, saudando neles, os amargurados que Jesus te apresenta, o sol formoso
do dia sem fim da tua Imortalidade.

Chico Xavier e o Natal
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Quem O contemplasse entre as palhas ressequidas do berço improvisado não
suporia que ali estava o Rei do Orbe, e
quem se detivesse a contemplá-Lo coroado de espinhos, em extremo
ridículo, silencioso e triste, não acreditaria que era o Excelso Filho de Deus.
No entanto, foi entre aqueles dois polos, o berço e a cruz, que ele traçou a
ponte de libertação, instaurando, de logo, o primado do espírito, com o próprio
exemplo de renúncia total e total amor à humanidade de todos os tempos, de modo
a conduzir-te ainda hoje, na direção dos Cimos da Vida.
Joanna de Ângelis - Espírito e Vida – Cap. 41

Chico Xavier e o Natal
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3.2.7 Ante o Amor

"625. Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe
servir de guia e modelo?"
Jesus
O LIVRO DOS ESPÍRITOS

Considerando a alta significação do Natal em tua vida, podes ouvir e atender
os apelos dos pequeninos esquecidos no grabato da orfandade ou relegados às
palhas da miséria, em memória de Jesus quando menino;
consegues compreender as dificuldades dos que caminham pela via da
amargura, experimentando opróbrio e humilhação e dás-lhes a mão em gesto de
solidariedade humana, recordando Jesus nos constantes testemunhos;
abres os braços em socorro aos enfermos, estendendo- lhes o medicamento
salutar ou o penso balsamizante, desejando diminuir a intensidade da dor, evocando
Jesus entre os doentes que O buscavam, infelizes;
ofereces entendimento aos que malograram moralmente e se escondem nos
recantos do desprezo social, procurando-os para os levantar, reverenciando Jesus
que jamais se furtou à misericórdia para os que os foram colhidos nas malhas da
criminalidade, muitas vezes sob o jugo de obsessões cruéis;
preparas a mesa, decoras o lar, inundas a família de alegrias e cercas os
amigos de mimos e carinho pensando em Jesus, o Excelente Amigo de todos...
Tudo isto é Natal sem dúvida, como mensagem festiva que derrama bênçãos
de consolo e amparo, espalhando na Terra as promessas de um Mundo Melhor, nos
padrões estabelecidos por Jesus através das linhas mestras do amor.
Há, todavia, muitos outros corações junto aos quais deverias celebrar o
Natal, firmando novos propósitos em homenagem a Jesus.
Companheiros que te dilaceraram a honra e se afastaram;
Amigos que se voltaram contra a tua afeição e se fizeram adversários;
conhecidos caprichosos que exigiram alto tributo de amizade e avinagraram
tuas alegrias;
irmãos na fé que mudaram o conceito a teu respeito e atiraram espinhos por
onde segues;

Chico Xavier e o Natal
55

colaboradores do teu ideal, que sem motivo se levantaram contra teu
devotamento, criando dissensão e rebeldia ao teu lado;
inimigos de ontem que se demoram inimigos hoje; difamadores que sempre
constituíram dura provação.
Todos eles são oportunidade para a celebração do Natal pelo teu sentimento
cristão e espírita.
Esquece os males que te fizeram e pede- lhes te perdoem as dificuldades que
certamente também lhes impuseste.
Dirige-lhes um cartão colorido para esmaecer o negrume da aversão que os
manteve em silêncio e à distância nos quais, talvez, inconscientemente te
comprazes.
Provavelmente alguns até gostariam de reatar liames...
Dá-lhes esta oportunidade por amor a Jesus, que a todo instante, embora
conhecendo os inimigos os amou sem cansaço, oferecendo -lhes ensejos de
recuperação.
O Natal é dádiva do Céu à Terra como ocasião de refazer e recomeçar.
Detém-te a contemplar as criaturas que passam apressadas.
Se tiveres olhos de ver percebê-las-ás tristes, sucumbidas, como se
carregassem pesados fardos, apesar de exibirem tecidos custosos e aparência
cuidada.
Explodem facilmente, transfigurando a face e deixando- se consumir pela
cólera que as vence implacavelmente.
Todas desejam compreensão e amor, entendimento e perdão, sem coragem
de ser quem compreenda ou ame, entenda ou perdoe.
Espalha uma nova claridade neste Natal, na senda por onde avanças na busca
da Vida.
Engrandece-te nas pequenas doações, crescendo nos deveres que poucos se
propõem executar.
Desde que já podes dar os valores amoedados e as contribuições do
entendimento moral, distribui, também, as jóias sublimes do perdão aos que te
fizeram ou fazem sofrer.

Chico Xavier e o Natal
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Sentirás que Jesus, escolhendo um humílimo refúgio para viver entre os
homens semeando alegrias incomparáveis, nasce, agora, no teu coração como a
informar-te que todo dia é natal para quem o ama e deseja transformar-se em carta-
viva para anuncia -lo às criaturas desatentas e sofredoras do mundo.
Somente assim ouvirás no imo d’alma e entenderás a saudação inesquecível
dos anjos, na noite excelsa:
"Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade, para com os homens"
- vivendo um perene natal de bênçãos por amor a Jesus.
Joanna de Ângelis - Espírito e Vida – Cap. 60.

Chico Xavier e o Natal
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3.2.8 Natal Íntimo

Pairam sobre a grave noite moral que se abate sobre a Humanidade as
promessas consoladoras de Jesus, enunciadas em época relativamente semelhante,
quando a estroinice e a miséria disputavam destaque, e o sofrimento, cavalgando o
poder usurpador de Roma, reduzia o mundo à ínfima condição de escravo.
O homem ensoberbecido pelas conquistas que o arrojaram para o mundo
exterior, estorcega-se nas constrições da angústia, padecendo os rudes efeitos da
descrença a que se entregou, olvidando Deus e a alma, enquanto entronizava o
corpo e as paixões dissolventes, em aventuras que se converteram em pesadelos
torpes.
Não obstante as reivindicações de paz que propõe, ainda espalha os focos
das guerras, e, embora fomente o progresso tecnológico, arroja-se aos desgastantes
campeonatos do prazer, entorpecendo os sentimentos e avançando na direção dos
despenhadeiros da loucura e do suicídio.
São estes os dias de opulência e de mesquinhez, de exuberância e escassez,
demonstrando que a única ética portadora de esperança é a do Evangelho.
A cultura enlouquecida prossegue ultrajando a consciência humana, porque
a ética permanece fundamentada no imediatismo dos interesses materiais.
*
Ante os paradoxos que se chocam, nos arraiais da civilização, o homem vê-
se impelido a examinar a vida com mais respeito e o seu próprio destino com melhor
raciocínio.
Nessa busca, inevitavelmente, descobrirá que é um ser imortal,
compreendendo que a proposta do momento é a mesma que ressuma do pensamento
cristão primitivo.
Nessa criatura, que se candidata à renovação, nasce Jesus, silenciosamente,
no seu íntimo, iniciando uma etapa nova.
Esse, qual ocorreu com aquele Natal há dois mil anos, iluminar-lhe-á a vida
e o conduzirá à plenitude, fazendo-o volver os olhos para o seu redor e experimentar
a solidariedade com os que sofrem, espalhando dádivas de esperança e de
misericórdia com que os felicitará, mudando a paisagem onde se encontram, ao
embalo das vozes angélicas, novamente repetindo o inesquecível refrão:

Chico Xavier e o Natal
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“Glória a Deus nas alturas; paz na Terra e boa vontade para com os
homens!”
Joanna de Angelis - Alegria de Viver – Cap. Natal Íntimo
Joanna de Angelis – Revista Reformador - 1983 – Dezembro - Natal
Íntimo

Chico Xavier e o Natal
59

3.2.9 Natal de Amor

Jesus transcende tudo quanto a Humanidade jamais conheceu e estudou.
Personalidade singular, tem sido objeto de aprofundadas pesquisas através
dos tempos, permanecendo, no entanto, muito ignorado.
Amado por uns e detestado por outros, conseguiu cindir o pensamento
histórico, estabelecendo parâmetros de felicidade dantes jamais sonhada, que
passaram a constituir metas desafiadoras para centenas de milhões de vidas.
Podendo ter disputado honrarias e destaques na comunidade do Seu tempo,
elegeu uma gruta obscura para iluminá-la com o Seu berço de palha e uma cruz
hedionda para despedir-se do convívio com as criaturas em Sua breve existência,
na qual alterou totalmente as paisagens culturais do planeta.
Vivendo pobremente, em uma cidade sem qualquer significado social ou
econômico, demonstrou que a inteligência e a sabedoria promanam do Espírito e
não dos fatores hereditários, ambientais, educacionais, que podem contribuir para
o seu desdobramento, nunca, porém, para a sua gênese.
Movimentando- se entre multidões sequiosas de orientação, numa época de
inconcebíveis preconceitos de todo gênero, elegeu sempre os indivíduos mais
detestados, combatidos, perseguidos, excluídos, sem que abandonasse aqueles que
se encontravam em patamares mais elevados na ribalta dos valores terrestres.
Portador de incomum conhecimento da vida e das necessidades humanas,
falava pouco, de forma que todos lhe apreendessem os ensinamentos e os
incorporassem ao cotidiano, sem preocupar-se com os formalismos existentes.
Utilizando-se de linguagem simples e de formosas imagens que eram parte
do dia-a-dia de todas as criaturas, compôs incomparáveis sinfonias ricas de
esperanças e de bênçãos que prosseguem embalando o pensamento após quase dois
mil anos desde quando foram apresentadas.
Nunca se permitiu uma conduta verbal e outra comportamental
diferenciadas.
Todos os Seus ditos encontram-se confirmados pelos Seus feitos.
Compartilhando da companhia dos párias, não se fez miserável;
atendendo aos revoltados, nunca se permitiu rebelião;
participando das dores gerais, manteve- se em saudável bem estar que a
todos contagiava.

Chico Xavier e o Natal
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Jovial e alegre, cantava os Seus hinos à vida e a Deus, sem nunca extravasar
em gritaria, descompasso moral ou vulgaridade de conduta.
Amando, sem cessar, preservou o respeito por todos os seres vivos,
especialmente dignificando a mulher, que sempre foi exprobrada, incompreendida,
explorada, perseguida, humilhada...
Ergueu os combalidos, sem maldizer aqueles que os abandonavam.
Socorreu os infelizes, jamais condenando os responsáveis pelas misérias
sociais e econômicas do Seu tempo.
... E mesmo quando abandonado, escarnecido, julgado e condenado sem
culpa, manteve a dignidade incomparável que Lhe assinalava a existência, não
repartindo com ninguém Suas dores e o holocausto a que se submeteu.
*
Jesus é mais do que um símbolo para a Humanidade de todos os tempos.
Mudaram as paisagens sociais e culturais no transcurso dos séculos,
enquanto os indivíduos da atualidade continuam mais ou menos semelhantes
àqueles do Seu tempo.
A dor prossegue jugulando ao seu eito as vidas que estorcegam em sua
crueza;
o orgulho enceguece vidas;
o egoísmo predomina nos relacionamentos e interesses sociais;
a violência dilacera as esperanças;
o crime campeia à solta, e o ser humano parece descoroçoado, sem rumo.
Doutrinas salvacionistas surgem e desaparecem, propostas revolucionárias
são apresentadas cada dia e sucumbem sob os camartelos dos desequilíbrios,
filosofias multiplicam- se e generaliza- se a loucura dizimando as vidas que lhes
tombam nas armadilhas soezes...
Jesus, no entanto, permanece o mesmo, aguardando aqueles que O queiram
seguir.
Uns adulteraram-Lhe as palavras, outros tentam atualizá- lO, mesclando Sua
austeridade com a insensatez que vige em toda parte, procurando assim confundir
a Sua alegria com a alucinação dos sentidos exaltados pelo sexo em desalinho, e,
não obstante, nada macula Suas lições, nem diminui de intensidade a Sua proposta
libertadora.

Chico Xavier e o Natal
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Educador por excelência, despertava o interesse dos Seus ouvintes,
mantendo diálogos repassados de incomum habilidade psicológica, de forma a
penetrar no âmago dos problemas existenciais, sem permitir-se reproche ou
desdém.
Psicoterapeuta excepcional, identificava os conflitos sem que se fizesse
necessária a verbalização por parte do enfermo, auxiliando- o a dignificar-se e
liberar-se da injunção perturbadora em clima de verdadeira fraternidade.
Os poucos anos do Seu ministério, todavia, assinalaram a História com luzes
que jamais se apagarão e continuarão apontando rumos para o futuro.
*
Por tudo isso, o Natal de Jesus é sempre renovador convite a uma releitura
da Sua mensagem, a novas reflexões em torno das Suas palavras de luz, à
revivescência dos Seus projetos de amor para com a Humanidade.
A alegria que deve dominar aqueles que O amam, evocando o Seu berço, ao
invés de ser estrídula e agitada, há de espraiar -se como contribuição para diminuir
as aflições e modificar as estruturas carcomidas da sociedade atual, trabalhando-as
de forma a propiciar felicidade, oportunidade de trabalho, de dignificação, de saúde
e de educação para todas as pessoas.
Distende, portanto, em homenagem ao Seu nascimento, a tua quota de amor
a todos quantos te busquem, de forma que eles compreendam a qualidade e o
elevado padrão do teu relacionamento espiritual com Ele, interessando-se também
por vincular-se a esse Amigo de todas as horas.
Não desperdices a oportunidade de demonstrar que o Natal de Jesus é
permanente compromisso de amor entre os Céus e a Terra através dEle, que se fez
a ponte entre os homens e Deus, e que continua, vigilante e amigo, pronto para
ajudar e conduzir todos aqueles que desejem a plenitude.
Joanna de Angelis – Desperte e Seja Feliz – Cap. Natal de Amor
Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, na noite de 7 de
setembro de 2000, em Salvador, Bahia.

Chico Xavier e o Natal
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3.3 André Luiz
3.3.1 Nas Orações de Natal

Rememorando o Natal, lembramo-nos de que Jesus é o Suprimento Divino
à Necessidade Humana.
Para o Sofrimento, é o Consolo;
Para a Aflição, é a Esperança;
Para a Tristeza, é o Bom Ânimo;
Para o Desespero, é a Fé Viva;
Para o Desequilíbrio, é o Reajuste;
Para o Orgulho, é a Humildade;
Para a Violência, é a Tolerância;
Para a Vaidade, é a Singeleza;
Para a Ofensa, é a Compreensão;
Para a discórdia, é a Paz;
Para o egoísmo, é a Renúncia;
Para a ambição, é o Sacrifício;
Para a Ignorância, é o Esclarecimento;
Para a Inconformação, é a Serenidade;
Para a Dor, é a Paciência;
Para a Angústia, é o Bálsamo;
Para a Ilusão, é a Verdade;
Para a Morte, é a Ressurreição.
Se nos propomos, assim, aceitar o Cristo por Mestre e Senhor de nossos
caminhos, é imprescindível recordar que o seu Apostolado não veio para os sãos e,
sim, para os antigos doentes da Terra, entre os quais nos alistamos...
Buscando, pois, acompanhá-lo e servi-lo, façamos de nosso coração uma luz
que possa inflamar-se ao toque de seu infinito amor, cada dia, a fim de que nossa
tarefa ilumine com Ele a milenária estrada de nossas experiências, expulsando as
sombras de nossos velhos enganos e despertando- nos o espírito para a glória
imperecível da Vida Eterna.
André Luiz - Os Dois Maiores Amores – Ca p. 15 – Nas Orações de Natal

Chico Xavier e o Natal
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3.4 Humberto de Campos
3.4.1 Crônica de Natal

Desde a ascensão de Herodes, o Grande, que se fizera rei com o apoio dos
romanos, não se falava na Palestina senão no Salvador que viria enfim...
Mais forte que Moisés, mais sábio que Salomão, mais suave que David,
chegaria em suntuoso carro de triunfo para estender sobre a Terra as leis do Povo
Escolhido.
Por isso, judeus prestigiosos, descendentes das doze tribos, preparavam-lhe
oferendas em várias nações do mundo.
Velhas profecias eram lidas e comentadas, na Fenícia e na Síria, na Etiópia
e no Egito.
Dos confins do Mar Morto às terras de Abilena, tumultuavam notícias da
suspirada reforma...
E mãos hábeis preparavam com devota mento e carinho o advento do
Redentor.
Castiçais de ouro e prata eram burilado s em Cesareia, tapetes primorosos
eram tecidos em Damasco, vasos finos eram importados de Roma, perfumes raros
eram trazidos de remotos rincões da Pérsia...
Negociantes habituados à cobiça cediam verdadeiras fortunas ao Templo de
Jerusalém, após ouvirem as predições dos sacerdotes, e filhos tostados deserto
vinham de longe trazer ao santuário da raça a contribuição espontânea com que
desejavam formar nas homenagens ao Celeste Renovador.
Tudo era febre de expectação e ansiedade.
Palácios eram reconstruídos, pomares e vinhas surgiam cuidadosamente
podados, touros e carneiros, cabras e pombos eram tratados com esmero para o
regozijo esperado.
Entretanto, o Emissário Divino desce ao mundo na sombra espessa da noite.
Das torres e dos montes, hebreus inteligentes recolhem a grata notícia...
Uma estrela estranha rutila no firmamento.
O Enviado, porém, elege pequena manjedoura para seu berço de luz.
Milícias angelicais rejubilam- se em pleno céu...
Mas nem príncipes, nem doutores, nem sábios e nem poderosos da Terra lhe
assistem a consagração comovente e sublime.
São pastores humildes que se aproximam, estendendo-lhe os braços.

Chico Xavier e o Natal
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Camponeses amigos trazem-lhe peles surradas.
Mulheres pobres entregam-lhe gotas de leite alvo.
E porque as vozes do Céu se fazem ouvir, cristalinas e jubilosas, cantam eles
também...
*
“Glória a Deus nas alturas, paz na Terra , boa vontade para com os
Homens!...”.
Ali, na estrebaria singela, então Ele e o povo...
E o povo com Ele inicia uma nova era...
É por isso que o Natal é a festa da bondade vitoriosa.
Lembrando o Rei Divino que desceu da Glória à Manjedoura, reparte com
teu irmão tua alegria e tua esperança, teu pão e tua veste.
Recorda que Ele, em sua divina magnificência, elegeu por primeiros amigos
e benfeitores aqueles que do mundo nada possuíam para dar, além da pobreza
ignorada e singela.
Não importa sejas, por enquanto, terno e generoso para com o próximo
somente um dia...
Pouco a pouco, aprenderás que o espírito do Natal deve reinar conosco em
todas as horas de nossa vida.
Então, serás o irmão abnegado e fiel de todos, porque, em cada manhã,
ouvirás uma voz do Céu a sussurrar-te, sutil:
*
Jesus nasceu “Jesus nasceu!...”.
E o Mestre do Amor terá realmente nascido em teu coração para viver
contigo eternamente.
Humberto de Campos - Antologia mediúnica do Natal - Cap. 47

Chico Xavier e o Natal
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3.4.2 Na Glória do Natal

Senhor – Rei divino projetado às sombras da manjedoura -, diante do teu
berço de palha recordo-me de todos os conquistadores que te antecederam na terra .
Em rápida digressão, vejo Sesóstris, em nome do Egito sábio, e Cambises,
o rei dos persas, ocupando o vale do Nilo, antes poderoso e dominador.
Recordo as lutas sanguinolentas dos assírios, disputando a hegemonia do
seu império dividido e infeliz.
Nabopolassar e Nabucodonosor reaparecem à minha frente, arrasando
Ninive e atacando Jerusalém, cercados de súditos a se banquetearem sobre presas
misérrimas para desaparecerem, depois, num sudário de cinza.
Não observo, contudo, apenas o gentio, na pilhagem e na discórdia,
expandindo a própria ambição; o povo escolhido, apesar dos desígnios celestes que
lhes fulguram na Lei, entrega-se, de quando em quando, á sementeira de miséria e
ruína; revoluções e conflitos ceifam as doze tribos e o orgulho de svairado compele
irmãos ao extermínio de irmãos.
Revejo os medos, açoitados pelos cimerianos e citas.
Dario surge, ao meu olhar assombrado, envolvido nos esplendor es de
Persépolis para mergulhar-se em seguida, nos labirintos do túmulo.
Esparta e Atenas, entre códigos e espadas, se estraçalham mutuamente, no
impulso de predomínio; numerosos tiranos, dentro de seus muros, manobram o
cetro da governança , fomentando a humilhação e o luto.
Alexandre, à maneira de privilegiado, passa esmagando cidades e
multidões, deixando um cortejo de lagrimas, atrás da fanfarra guerreira que lhe abre
caminho à morte, em plena mocidade.
E os romanos, Senhor? Desde as alucinações dos descendentes de Príamo
ao último dos imperadores, deposto por Odoacro, jamais esconderam a vocação do
poder, arrojando povos livres ao despenhadeiro da destruição ...
Todos os conquistadores vieram e dominaram, surgindo na condição de
pirilampos barulhentos, confundidos, à pressa, num turbilhão de desencanto e
poeira. Tu, porém, Soberano Senhor, Te contentou com o berço da estrebaria!
Ministros e sábios não te contemplaram, na hora primeira, mas humildes
pastores se ajoelharam sorridentes, diante de Ti, buscando a luz de teus olhos
angelicais...

Chico Xavier e o Natal
66

Hinos de guerra não se fizeram ouvir à tua chegada libertadora; todavia, em
sinal de reconhe cimento, cânticos abençoados de louvor subiram ao Céu, dos
corações singelos que te exaltavam a Estrela Gloriosa, a resplandecer nos
constelados caminhos.
Os outros, Senhor, conquistaram à custa de punhal e veneno, perseguição
e força, usando exércitos e prisões, assassínio e tortura, traição e vingança,
aviltamento e escravidão, títulos fantasiosos e araçás de ouro...
Tu, entretanto, perdoando e amando, levantando e curando, modificaste a
obra de todos os déspotas e legislador es que procediam do Egito e da Assíria, da
Judéia e da Fenícia, da Grécia e de Roma, renovando o mundo inteiro.
Não mobilizaste soldados, mas ensinaste a um punhado de homens
valorosos a luminosa ciência do sacrifício e do amor .
Não argumentaste com os reis e com os filósofos; no entanto, conversaste
fraternalmente com algumas crianças e mulheres humildes, semeando a
compreensão superior da vida no coração popular...
E por fim, Mestre, longe de escolheres um trono de púrpura a fim de
administrares o Reino Divino de que te fizeste embaixador e ordenador, preferiste
o sólido da cruz, de cujos braços duros e tristes ainda nos envias compassivo olhar,
convidando- nos à caridade e à harmonia, ao entendimento e ao perdão...
Conquistador das almas e governador do mundo, agora que os teus tutelados
afiam as armas para novos duelos sangrentos, neste século de esplendores e trevas,
de renovação e morticínio, de esperanças e desilusões, ajuda- nos a dobrar a
cerviz orgulhosa, diante do teu singelo berço de palha!...
Mestre da Verdade e do Bem, da Humildade e do Amor, permite que o astro
sublime de teu Natal brilhe, ainda, na noite de nossas almas e estende-nos caridosas
mãos para que nos livremos de velhas feridas, marchando ao teu encontro
na verdadeira senda de redenção.
Humberto de Campos - Antologia mediúnica do Natal - Cap. 29

Chico Xavier e o Natal
67

3.4.3 Natal Simbólico

Harmonias cariciosas atravessavam a paisagem, quando o lúcido
mensageiro continuou:
- Cada Espírito é um mundo onde o Cristo deve nascer...
Fora loucura esperar a reforma do mundo, sem o homem reformado.
Jamais conheceremos povos cristãos, sem edificar a alma cristã...
Eis porque o Natal de senhor se reveste de profunda importância para cada
um de nós em particular.
Temos conosco oceanos de bênçãos divinas, maravilhosos continentes de
possibilidades, florestas de sentimentos por educar, desertos de ignorância por
corrigir, inumeráveis tribos de pensamentos que nos povoam a infinita extensão do
mundo interior.
De quando em quando, tempestades renovadoras varrem-nos o íntimo,
furacões implacáveis atingem nossos ídolos mentirosos.
Quantas vezes, o interesse egoístico foi o nosso perverso inspirador?
Examinando a movimentação de nossas idéias próprias, verificamos que
todo princípio nobre serviu de precursor ao conhecimento inicial do Cristo.
Verificou-se a vinda de Jesus numa época de recenseamento.
Alcançamos a transformação essencial justamente em fase de contas
espirituais com a nossa própria consciência, seja pela dor ou pela madureza de
raciocínio.
Não havia lugar para o Senhor.
Nunca possuímos espaço mental para a inspiração divina, absorvidos
de ansiedades do coração ou limitados pela ignorância.
A única estalagem ao Hóspede Sublime foi a Manjedoura.
Não oferecemos ao pensamento evangélico senão algumas palhas
misérrimas de nossa boa vontade, no lugar mais escuro de nossa mente.
Surge o Infante Celestial dentro da noite.
Quase sempre, não sentimos a Bondade do Senhor senão no ápice das
sombras de nossas inquietações e falências.
A estrela prodigiosa rompe as trevas do grande silêncio.

Chico Xavier e o Natal
68

Quando o gérmen do Cristo desponta em nossas almas, a estrela da divina
esperança desafia nossas trevas interiores, obscurecendo o passado, clareando o
presente e indicando o porvir.
Animais em bando são as primeiras visitas ao Enviado Celeste.
Na sociedade de nossa transformação moral, em face da alvorada nova, os
sentimentos animalizados de nosso ser são os primeiros a defrontar o ideal do
Mestre.
Chegam pastores que se envolvem na intensa luz dos anjos que velam o
berço divino.
Nossos pensamentos mais simples e mais puro s aproximam-se da claridade
sublime, oriunda de gênios superiores que nos presidem aos destino s e que se
acercam de nós, afugentando a incompreensão e o temor.
Cantam milícias celestiais.
No instante de nossa renovação em Cristo, velhos companheiros nossos, já
redimidos, exultam de contentamento na esfera superior, dando glória a Deus e
bendizendo os espíritos de boa vontade.
Divulgam os pastores a notícia maravilhosa.
Nossos pensamentos, felicitados pelo impulso criador de Jesus,
comunicam-se entre si, organizando-se para a vida nova.
Surge a visita inesperada dos magos.
Sentindo- nos a modificação, o mundo observa-nos de modo especial.
Os servos fiéis, como Simeão, expressam grande júbilo, mas revelam
apreensões justas, declarando que o Menino surgira para a queda e elevação de
muitos em Israel.
Acalentamos o pensamento renovador, no recesso d’alma, para
a destruição de nossos ídolos de barro e desenvolvimento dos germes
de espiritualidade superior.
Ferido na vaidade e na ambição, Herodes determina a morte do Pequenino
Emissário.
A ignorância que nos governa, desde muitos milênios, trabalha contra a
idéia redentora, movimentando todas as possibilidades ao seu alcance.
Conserva-se Jesus na casa simples de Nazaré.

Chico Xavier e o Natal
69

Nunca poderemos fornecer testemunho à Humanidade, antes de fazê- lo
junto aos nossos, elevando o espírito do grupo a que Deus nos conduziu.
Trabalha o Pequeno Embaixador numa carpintaria.
Em toda realização superior, não poderemos desdenhar o esforço próprio.
Mais tarde, o Celeste Menino surpreende os velhos doutores.
O pensamento Cristão entra em choque, desde cedo, com todas as nossas
antigas convenções relativas à riqueza e à pobreza, ao prazer e ao sofrimento, à
obediência e à mordomia, à filosofia e à instrução, à fé e à ciência.
Trava-se, então, dentro de nosso mundo individual, a grande batalha.
A essa altura, o mensageiro fez longa pausa.
Flores de luz choviam de mais alto, como alegrias do Natal, banhando- nos
a fonte. Os demais companheiros e eu aguardávamos, ansiosos, a continuação da
mensagem sublime; entretanto, o missionário generoso sorriu paternalmente e
rematou:
- Aqui termino minhas humildes lembranças do Natal simbólico. Segundo
observais, o Evangelho de Nosso Senhor não é livro para os museus, mas roteiro
palpitante da vida.
Humberto de Campos - Antologia mediúnica do Natal - Cap. 19

Chico Xavier e o Natal
70

3.4.4 O Encontro Divino

Quando o cavaleiro D´Arsonval, valoroso senhor em França, se ausentou do
medievo domicílio, pela primeira vez, de armadura fulgindo ao Sol, dirigia -se à
Itália para solver urgente questão política.
Eminente cristão trazia consigo um propósito central – servir ao Senhor,
fielmente, para encontra-lo.
Não longe de suas portas, viu surgir, de inesperado, ulceroso mendigo a
estender-lhe as mãos descarnadas e súplices.
Quem seria semelhante infeliz a vaguear sem rumo?
Preocupava-o serviço importante, em demasia, e, sem se dignar fixa- lo,
atirou-lhe a bolsa farta.
O nobre cavaleiro tornou ao lar e, mais tarde, menos afortunado nos
negócios, deixou de novo a casa.
Demandava a Espanha, em missão de prelados amigos, aos quais se
devotara.
No mesmo lugar, postava-se o infortunado pedinte, com os braços em
rogativa.
O fidalgo, intrigado, revolveu grande saco de viagem e dele retirou pequeno
brilhante, arremessando-o ao triste caminheiro que parecia devora-lo com o olhar.
Não se passou muito tempo e o castelão, menos feliz no círculo das finanças,
necessitou viajar para a Inglaterra, onde pretendia solucionar vários problemas,
alusivos à organização doméstica.
No mesmo trato de solo, é surpreendido pelo amargurado leproso, cuja velha
petição se ergue no ar.
O cavaleiro arranca do chapéu estimada joia de subido valor e projeta-a
sobre o conhecido romeiro, orgulhosamente,
Decorridos alguns meses, o patrão feudal se movimenta na direção de porto
distante, em busca de precioso empréstimo, destinado à própria economia,
ameaçada de colapso fatal, e, no mesmo sítio, com rigorosa precisão, é interpelado
pelo mendigo, cujas mãos, em chaga abertas, se voltam ansiosas para ele.
D´Arsonval, extremamente dedicado à caridade, não hesita. Despe fino
manto e entrega-o, de longe, receando- lhe o contato.

Chico Xavier e o Natal
71

Depois de um ano, premido por questões de imediato interesse, vai a Paris
invocar o socorro de autoridades e, sem qualquer alteração, é defrontado pelo
mesmo lázaro, de feição dolorida, que lhe repete a antiga súplica.
O Castelão atira- lhe um gorro de alto preço, sem qualquer pausa no galope,
em que seguia, presto.
Sucedem-se os dias e o nobre senhor, num ato de fé, abandona a respeitada
residência, com séquito festivo.
Representará os seus, junto à expedição de Godofred o de Bouillon, na
cruzada com que se pretende libertar os Lugares Santos.
No mesmo ângulo da estrada, era aguardado pelo mendigo, que lhe reitera
a solicitação em voz mais triste.
O ilustre viajor dá-lhe, então, rico farnel, sem oferecer-lhe a mínima
atenção.
E, na Palestina D´Arsonval combateu valorosamente, caindo, ferido, em
poder dos adversários.
Torturado, combalido e separado de seus compatriotas, por anos a fio,
padeceu miséria e vexame, ataques e humilhações, até que um dia, homem
convertido em fantasma, torna ao lar que não o reconhece.
Propalada a falsa notícia de sua morte, a esposa deu-se pressa em substituí-
lo, à frente da casa, e seus filhos, revoltados, soltaram cães agressivos que o
dilaceraram, cruelmente, sem comiseração para com o pranto que lhe escorria dos
olhos semimortos.
Procurando velhas afeições, sofreu repugnância e sarcasmo.
Interpretado, agora, à conta de louco, o ex- fidalgo, em sombrio crepúsculo,
ausentou- se, em definitivo, a passos vacilantes...
Seguir para onde? O mundo era pequeno demais para conter -lhe a dor.
Avançava, penosamente, quando encontra o mendigo.
Relembrou a passada grandeza e atentou para si mesmo, qual se buscasse
alguma coisa para dar.
Contemplou o infeliz pela primeira vez e, cruzando com ele o olhar
angustiado, sentiu que aquele homem, chagado e sozinho, devia ser seu irmão.
Abriu os braços e caminhou para ele, tocado de simpatia, como se quisesse dar -lhe
o calor do próprio sangue. Foi, então, que, recolhido no regaço do companheiro
que considerava leproso, dele ouviu as sublimes palavras:

Chico Xavier e o Natal
72

- D´Arsonval, vem a mim! Eu sou Jesus, teu amigo. Quem me procura
no serviço ao próximo, mais cedo me encontra....
Enquanto me buscavas à distância, eu te aguardava, aqui tão perto!
Agradeço o ouro, as joias, o manto, o agasalho e o pão que me deste, mas há muitos
anos te estendia os meus braços, esperando o teu próprio coração!...
O antigo cavaleiro nada mais viu senão vasta senda de luz entre a Terra e o
Céu...
Mas, no outro dia, quando os semeadores regressavam às lides do campo,
sob a claridade da aurora, tropeçaram no orvalhado caminho com um cadáver.
D´Arsonval estava morto.
Humberto de Campos - Antologia Mediúnica do Natal – Cap. 15

Chico Xavier e o Natal
73

3.4.5 O Natal do Apóstolo

Quando Simão Pedro foi arrancado aos grilhões do cárcere para o derradeiro
sacrifício, sentia o coração varado de angústia, conquanto mostrasse o passo firme.
O velho apóstolo, que transpusera os oitenta de idade, levantava a cabeça
branca, destacando-se na turba à maneira de um pai atormentado por filhos
inconscientes.
Irmãos do Evangelhos ladeavam-no, tristes, escondendo o próprio
desespero, diante da serenidade com que ele, encanecido em duras experiências,
acomodava ao martírio.
Mulheres e crianças emaranhavam-se, cortejo a dentro, para beijar-lhe as
mãos. Transeuntes, ainda mesmo adversos ao Cristianismo nascente, fitavam-no,
respeitosos, qual se vissem um soberano humilhado e pobremente vestido, a
caminho de inesperado triunfo... E até soldados da escolta, recordando vários
companheiros de Simão transfigurara, ao curar -lhes os parentes enfermos,
abeiravam-se dele com veneração e carinho...
Apenas um dos pretorianos, Sertório Aniceto, destacado elemento na
expedição, não poupava o sarcasmo.
Desejando quebrar a atmosfera de reverência e de êxtase que se fazia,
desdobrava impropérios:
- Para diante, velho impudente! Judeu sujo! Lixo humano, que
envergonharia os postes da arena!...
E mais à frente:
- Não abuse da crendice do povo! Ladrão imundo, chegou seu fim!...
Pedro, entretanto, contemplava o céu escaldante da tarde orava em silêncio...
Sentia-se, agora, fatigado e incapaz! Compreendia que a Boa Nova exigia
servidores robustos e rogava ao Cristo enviasse obreiros novos e valorosos para a
vinha do mundo... Mas não era só isso... No imo do coração, ardia-lhe a saudade do
Mestre e ansiava retomar -lhe a companhia para sempre...
Escalando a colina, via não longe o Campo de Marte, assinalado pelo
monumento de Augusto, as cintilações do Tibre espreguiçando ao sol, o casario
imenso, as termas e os jardins; no entanto, regressava pela imaginação à Galileia
distante, buscando Jesus em pensamento...

Chico Xavier e o Natal
74

Revia o lago de Genesaré, em seus dias mais belos, e as multidões simples
e generosas com que o Senhor repartia o pão e a verdade, o consolo e a esperança...
Por estranhos mecanismos da memória, respirava, de novo, o perfume das
rosas de Betsaida, das romãzeiras de Magdala e dos pequenos vinhedos de
Cafarnaum...
Apesar do calor reinante, rememorava a pesca e supunha- se envolvido pelo
sopro da brisa, quando a barca sobrestava as ondas calmas.
Reconstituía, enlevado as pregações do Divino Amigo e parecia-lhe
jornadear de retorno à família das crianças e dos enfermos, das mães sofredoras e
dos velhinhos que ele próprio lhe entregara ao coração...
Atingido o local do suplício, confiou-se automaticamente aos soldados que
o desnudaram, e, como se estivesse hipnotizado pela idéia do reencontro,
sofregamente aguardado, quase nada percebeu dos martelos, rudemente
manobrados, que lhe apresavam pés e mãos ao lenho que se lhe erguia de
improviso...
Em derredor, escutava os protestos velados das centenas de espectadores da
lamentável exibição, de mistura, de mistura com as preces dos companheiros
agoniados.... Detido, porém, na ânsia do repouso, Pedro não via que o tempo se
escoava, sem que lhe desfechassem qualquer golpe...
Aqui e além, grupos em oração e lágrimas salientavam-se de mãos postas;
contudo, a morte tardava... Aniceto, entretanto, não o perdia de vista, e, reparando
que o crepúsculo baixava, atirou- lhe pontiagudo calhau à cabeça e gritou:
- Morre, bruxo!
O apóstolo observou que o sangue esguichava, mas, sem qualquer reação,
rendeu- se a invencível torpor, qual se fosse repentinamente anestesiado por brando
sono.
Semelhante impressão, contudo, perdurou por momentos. O ancião, após
desalgemar-se do corpo, identificou- se espiritualmente, livre e eufórico, ao pé dos
próprios despojos, e, alheio à algazarra em torno, contemplou o firmamento, onde
os astros se inflamavam, como se dedos invisíveis acendessem lumes
deslumbrantes para uma festa no céu...
Espantado, observou que um homem descia do alto, como que materializado
pela fulguração das estrelas, e, decorridos alguns instantes de assombro, viu Jesus
a dois passos, a endereçar-lhe o inolvidável sorriso.

Chico Xavier e o Natal
75

- Mestre! - Exclamou, inclinando-se para beijar o chão que ele pisava. O
Messias redivivo tomou-os nos braços e partiu, conchegando- o ao coração, qual se
transportasse frágil criança.
Por várias semanas restaurou-se Pedro na estância de luz que o Cristo lhe
reservara.
Junto dele, visitou paragens de inexprimível beleza, recolheu lições
preciosas, presenciou espetáculos soberbos da grandeza cósmica e abraçou afeições
inesquecíveis...
Quando mais integrado se reconhecia no Plano Superior, eis que o Celeste
Companheiro lhe anuncia nova separação. Que o discípulo descansasse quanto
quisesse, elevando-se às excelsas regiões... Ele, porém, devia ausentar-se...
- Senhor, aonde vais? - Indagou o apóstolo, penosamente surpreendido.
E Jesus, indicando-lhe escuro recanto da vastidão, em que se adivinhava a
residência planetária dos homens, informou sereno:
- Pedro, enquanto houver um gemido na Terra, não me será lícito
repousar...
- Então, Senhor, eu também...
E, como outrora, demandaram juntos, atravessaram Roma, parando, por fim,
em espaçoso cemitério da Via Ápia, mergulhado na sombra noturna...
A multidão cantava, glorificando o Senhor...
Não obstante o Natal estivesse na lembrança de poucos, rememorava-se,
ali, diante da imensidão constelada, a melodia dos mensageiros angélicos. Simão,
fremindo de emotividade, começou a chorar de alegria. Anelava ser bom, aspirava
a ser irmão da Humanidade, queria auxiliar a construção do Reino de Deus e
homenagear a manjedoura de Belém, ofertando algo de si mesmo, em louvor do
Evangelho...
Nesse ínterim, aproximou-se Jesus e disse- lhe ao ouvido:
- Pedro, alguém te chama...
O apóstolo voltou- se e, admirado, enxergou na pequena comunidade um
homem triste, carregando nos braços um pequenino agonizante... Era Aniceto, a
rogar-lhe, mentalmente, se lhe compadecesse do filhinho que a febre devorava.
Qual se lhe registrasse a presença, expunha-lhe os remorsos que amargava e
pedia-lhe perdão...

Chico Xavier e o Natal
76

O antigo pescador não hesitou. Depois de oscular-lhe a fronte suarenta,
afagou a criança atribulada, impondo- lhe as mãos, e, ali mesmo, magneticamente
tocado por forças renovadoras e intangíveis, o menino despertou, lúcido e refeito,
enlaçando-se ao pai, à feição da ave assustada que torna à segurança do ninho.
Aniceto, no íntimo, compreendeu o socorro e a bênção que recebia e,
renovado, começou a cantar em lágrimas de júbilo: "Glória a Deus nas alturas,
paz na Terra e boa vontade para com os homens!..."
Para o rude legionário de César começava nova vida e para Simão Pedro o
serviço continuou...
Humberto de Campos - Antologia Mediúnica do Natal – Cap. 61

Chico Xavier e o Natal
77

3.4.6 O Conquistador Diferente

Os conquistadores aparecem no mundo, desde as recuadas eras da selvageria
primitiva.
E, há muitos séculos, postados sem soberbos carros de triunfo, exibem
troféus sangrentos e abafam, com aplausos ruidosos, o cortejo de misérias e
lágrimas que deixam à distância.
Sorridentes e felizes, aceitaram as ovações do povo e distribuem graças e
honrarias, cobertos de insígnias e incensados pelas frases lisonjeiras da multidão.
Vasta fileira de escritores congrega- se-lhes em torno, exaltando-lhes as
vitórias no campo de batalha.
Poemas épicos e biografias romanceadas surgem no caminho, glorificando-
lhes a personalidade que se eleva, perante os homens falíveis, à dourada galeria dos
semideuses.
Todavia, mais longe, na paisagem escura, onde choram os vencidos,
permanecem as sementeiras de dor que aguardarão os improvisados heróis na
passagem implacável do tempo.
Muitas vezes, contudo, não chegam a conduzir para o túmulo as medalhas
que lhes brilham no peito dominador, porque a própria vida humana se incumbe de
esclarece-los, através das sombras da derrota, dos espinhos da enfermidade e das
amargas lições da morte.
Dario, filho de Histaspes, reis dos persas, após fixar o poderio dos seus
exércitos, impôs terríveis sofrimentos à Índia, a Trácia e à Macedônia, conhecendo,
em seguida, a amargura e a derrota, à frente dos gregos.
Alexandre Magno, por tantos motivos e admirado na história do mundo,
titulou-se generalíssimo dos helenos, em plena mocidade e, numa série de
movimentos militares que o celebrizaram para sempre, infligiu inomináveis
padecimentos aos lares gregos, egípcios e persas; todavia, apesar das glórias bélicas
com que desafiava cidades e guerreiros, fazendo-se acompanhar de incêndios e
morticínios, rendeu-se à doença que lhe imobilizou os ossos em Babilônia.

Chico Xavier e o Natal
78

Aníbal, o grande chefe cartaginês, espalhou o terror e a humilhação entre os
romanos, em sucessivas ações heróicas que lhe imortalizaram o nome, na crônica
militar do Planeta; contudo, em seguida à bajulação dos aduladores e à falsa
concepção de poder, foi vencido por Cipião, transformando- se num foragido sem
esperança, suicidando-se, por fim, num terrível complexo de vaidade e loucura.
Júlio César, o famoso general que pretendia descender de Vênus e de
Anquises, constitui um dos maiores expoentes do engenho humano; submeteu a
Gália e desbaratou os adversários em combates brilhantes, governando Roma, na
qualidade de magnífico triunfador; no entanto, quando mais se lhe dilatava a
ambição, o punhal de Bruto, seu protegido e comensal, assassinou-o, sem
comiseração, em pleno Senado.
Napoleão Bonaparte, o imperador dos franceses, depois de exercer no
mundo uma influência de que raros homens puderam dispor na Terra, morre,
melancolicamente, numa ilha apagada, ao longo da vastidão do mar.
Ainda hoje, os conquistadores modernos, depois dos aplausos de milhões de
vozes, após a dominação em que se fazem sentir, magnânimos para os seus amigos
e cruéis para os adversários, espalhando condecorações e sentenças condenatórias,
caem ruidosamente dos pedestais de barro, convertendo- se em malfeitores comuns,
a serem julgados pelas mesmas vozes que lhes cantavam louvores na véspera.
Todos eles, dominadores e tiranos, passam no mundo, entre as púrpuras do
poder, a caminho os mistérios do sofrimento e dos desencantos da morte.
Em verdade, sempre deixam algum bem no campo das relações humanos,
pelas novas estradas abertas e pelas utilidades da civilização, cujo aparecimento
aceleram; todavia, o progresso amaldiçoa-lhes a personalidade, porque as lágrimas
das mães, os soluços dos lares desertos, as aflições da orfandade, a destruição dos
campos e o horror da natureza ultrajada, acompanham-nos, por toda parte,
destacando-os com execráveis sinais.
Um só conquistador houve no mundo, diferente de todos pela singularidade
de sua missão entre as criaturas.
Não possuía legiões armadas, nem poderes políticos, nem mantos de gala.
Nunca expediu ordens e soldados, nem traçou programas de dominação.
Jamais humilhou e feriu.

Chico Xavier e o Natal
79

Cercou-se de cooperadores aos quais chamou “amigos”.
Dignificou a vida familiar, recolheu crianças desamparadas, libertou os
oprimidos, consolou os tristes e sofredores, curou cegos e paralíticos.
E, por fim, em compensação aos seus trabalhos, levados a efeito com
humildade e amor; aceitou acusações para que ninguém as sofresse, submeteu-se à
prisão para que outros não experimentassem a angústia do cárcere, conheceu o
abandono dos que amava, separou-se dos seus, recebeu, sem revolta, ironias e
bofetadas, carregou a cruz em que foi imolado e na sua morte passou por ser a de
um ladrão.
Mas, desde a última vitória no madeiro, tecida em perdão e misericórdia,
consolidou o seu infinito poder sobre as almas, e, desde esse dia, Jesus Cristo, o
conquistador diferente, começou a estender o seu divino império no mundo,
prosseguindo no serviço sublime da edificação espiritual, no Oriente e no Ocidente,
no Norte e no Sul, nas mais cariadas regiões do Planeta, erguendo uma Terra
aperfeiçoada e feliz, que continua a ser construída, em bases de amor e concórdia,
fraternidade e justiça, acima da sombria animalidade do egoísmo e das ruínas
geladas da morte.
Humberto de Campos - Antologia Mediúnica de natal - Cap. 3 - O
Conquistador Diferente

Chico Xavier e o Natal
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3.4.7 Oração de Natal

Senhor Jesus. Há quase dois milênios, estabelecias o Natal com tua doce
humildade na manjedoura, onde te festejaram todas as harmonias da Natureza.
Reis e pastores vieram de longe, trazendo-te ao berço pobre o testemunho
de sua alegria e de seu reconhecimento.
As estrelas brilharam com luz mais intensa nos fulgores do céu e uma delas
destacou-se no azul do firmamento, para clarificar o suave momento de tua glória.
Desde então, Senhor, o mundo inteiro, pelos séculos afora, cultivou a
lembrança da tua grande noite, extraordinária de luz e de belezas diversas.
Agora, porém, as recordações do Natal são muito diferentes.
Não se ouvem mais os cânticos dos pastores, nem se percebem os aromas
agrestes da Natureza.
Um presepe do século XX seria certamente arranjado com eletricidade,
sobre uma base de bombas e de metralhadoras, onde aquela legenda suave do
"Gloria in excelsis Deo" seria substituída por um apelo revolucionário dos
extremismos políticos da atualidade.
As comemorações já não são as mesmas.
Os locutores de rádio falarão da tua humildade, no cume dos arranha-céus,
e, depois de um programa armamentista, estranharão, para os seus ouvintes, que a
tua voz pudesse abençoar os pacíficos, prometendo- lhes um lugar de bem-
aventurados, embora haja isso ocorrido há dois mil anos.
Numerosos escritores falarão, em suas crônicas elegantes, sobre as crianças
abandonadas, estampando nos diários um conto triste, onde se exalte a célebre
virtude cristã da caridade; mas, daí a momentos, fecharão a porta dos seus palacetes
ao primeiro pobrezinho.
Contudo, Senhor, entre os superficialismos desta época de profundas
transições, almas existem que te esperam e te amam.
Tua palavra sincera e branda, doce e enérgica, lhes magnetiza os corações,
na caprichosa e interminável esteira do Tempo. Elas andam ocultas nas planícies da
indiferença e nas montanhas de iniqüidade deste mundo.
Conservam, porém, consigo a mesma esperança na tua inesgotável
misericórdia.

Chico Xavier e o Natal
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É com elas e por elas que, sob as tuas vistas amoráveis, trabalham os que já
partiram para o mundo das suaves revelações da Morte.
É com a fé admirável de seus corações que semeamos, de novo, as tuas
promessas imortais, entre os escombros de uma civilização que está agonizando, à
mingua de amor.
É por essa razão que, sem nos esquecermos dos pequeninos que agrupavas
em derredor da tua bondade, nos recordamos hoje, em nossa oração, das crianças
grandes, que são os povos deste século de pomposas ruínas.
Tu, que és o Príncipe de todas as nações e a base sagrada de todos os surtos
evolutivos da vida planetária; que és a Misericórdia infinita, rasgando todas as
fronteiras edificadas no mundo pelas misérias humanas, reúne a tua família
espiritual, sob as algemas da fraternidade e do bem que nos ensinaste!...
Em todos os recantos do orbe, há bocas que maldizem e mãos que
exterminam os seus semelhantes.
Os espíritos das trevas fazem chover o fogo de suas forças apocalípticas
sobre as organizações terrestres, ateando o sinistro incêndio das ambições na alma
de multidões alucinadas e desvalidas. por toda parte, assomam os falsos ídolos da
impenitência do mundo e místicas políticas, saturadas do vírus das mais nefastas
paixões, entornam sobre os espíritos o vinho ignominioso da Morte.
Mas, nós sabemos, Senhor, como são falazes e enganadoras as doutrinas que
se afastam da seiva sagrada e eterna dos teus ensinos, porque dissipas
misericordiosamente a confusão de todas as almas, ainda que os seus
arrebatamentos se apoiem nas paixões mais generosas.
Tu, que andavas descalço pelos caminhos agrestes da Galiléia, faze
florescer, de novo, sobre a Terra, o encanto suave da simplicidade no trabalho,
trazendo ao mundo a luz cariciosa de tua oficina de Nazaré!...
Tu, que és a Essência de nossos pensamentos de verdade e de luz, sabes que
todas as dores são irmãs umas das outras, bem como as esperanças que desabrocham
nos corações dos teus frágeis tutelados, que vibram nos mesmos ideais, aquém ou
além das linhas arbitrárias que os homens intitularam de fronteiras!

Chico Xavier e o Natal
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Todas as expressões da filosofia e da ciência dos séculos terrenos passaram
sobre o mundo, enchendo as almas de amargosas desilusões. numerosos políticos
te ridiculizaram, desdenhando as tuas lições inesquecíveis; mas, nós sabemos que
existe uma verdade que dissimulaste aos inteligentes para a revelares às criancinhas,
encontrada, aliás, por todos os homens, filhos de todas as raças, sem distinção de
crenças ou de pátrias, de tradições ou de família, que pratiquem, a caridade em teu
nome...
Pastor do rebanho de ovelhas tresmalhadas, desde o primeiro dia em que o
sopro divino da vontade do Nosso Pai fez brotar a erva tenra, no imenso campo da
existência terrestre, pairas acima do movimento vertiginoso dos séculos, acima de
todos os povos e de suas transmigrações incessantes, no curso do tempo, ensinando
as criaturas humanas a considerar o nada de suas inquietações, em face do dia
glorioso e infinito da Eternidade!...
Agora, Senhor, que as línguas da impiedade conclamam as nações para um
novo extermínio, manifesta atua bondade, ainda uma vez, aos homens infelizes,
para que compreendam, a tempo, a extensão do seu ódio e de sua perversidade.
Afasta o dragão da guerra de sobre o coração dilacerado das mães e das
crianças de todos os países, curando as chagas dos que sangram de dor selvagem à
beira dos caminhos.
Revela aos homens que não há outra força além da tua e que nenhuma
proteção pode existir, além daquela que se constitui da segurança de tua guarda!
Ensino aos sacerdotes de todas as crenças do globo, que falam em teu nome,
o desprendimento e a renúncia dos bens efêmeros da vida material, afim de que
entendam as virtudes do teu Reino, que ainda não reside nas suntuosas organizações
dos Estados deste mundo!
Tu, que ressuscitaste Lázaro das sombras do sepulcro, revigora o homem
modesto, no túmulo das vaidades apodrecidas!
Tu, que fizeste com que os cegos vissem, que os mudos falassem, abre de
novo os olhos rebeldes de tuas ovelhas ingratas e desenrola as línguas da verdade e
do direito, que o medo paralisou, nesta hora torva de penosos testemunhos!
Senhor, desencarnados e encarnados, trabalhamos no esforço abençoado de
nossa própria regeneração, para o teu serviço divino!

Chico Xavier e o Natal
83

Nestas lembranças do Natal, recordamos a tua figura simples e suave,
quando ias pelas aldeias que bordavam o espelho claro das águas do Tiberíades!...
Queremos o teu amparo, Senhor, porque agora o lago de Genesaré é a
corrente represada de nossas próprias lágrimas.
Pensamos ainda ver-te, quando vinhas de Cesaréia de Felipe para abençoar
o sorriso doce das criancinhas...
De teus olhos misericordiosos e compassivos, corria uma fonte perene de
esperanças divinas para todos os corações; de tua túnica humilde e clara, vinha o
símbolo da paz para todos os homens do porvir e, de tuas palavras sacrossantas,
vinha a luz do céu, que confunde todas as mentiras da Terra!...
Senhor, estamos reunidos em teu Natal e suplicamos a tua bênção!...
Somos as tuas crianças, dentro da nossa ignorância e da nossa indigência.
Humberto de Campos – Novas Mensagens – Cap. 11

Chico Xavier e o Natal
84

3.5 Casemiro Cunha
3.5.1 Bilhete de Natal

Meu amigo, não te esqueças,
Pelo Natal de Jesus,
De cultivar na lembrança
A paz, a verdade e a luz.

Não olvides a oração
Cheia de fé e de amor,
Por quem passa, sobre a Terra,
Encarcerado na dor.

Vai buscar o pobrezinho
E o triste que nada tem...
O infeliz que passa ao longe
Sem afeto de ninguém.

Consola as mães sofredoras
E alegria o órfão que vai
Pelas estradas do mundo
Sem o carinho de um Pai.

Mas escuta: Não te esqueças,
Na doce revelação
Que Jesus deve nascer
No altar de teu coração.
Casemiro Cunha – Antologia Mediúnica do Natal – Cap. 40

Chico Xavier e o Natal
85

3.6 Cornélio Pires
3.6.1 Natal de Maria

Noite... Natal!... Na hora derradeira,
Sozinha num brejão, com sede e fome,
Morre jogada à febre que a consome
A velhinha Maria Cozinheira...

Lembra o Natal dos tempos de solteira,
Olha a esteira enrolada e o chão sem nome,
Mas, de repente, vê que tudo some,
Está livre do corpo e da canseira!...

Ouve cantos no céu que se descerra:
- “Glória a Deus nas Alturas!... Paz na Terra...”.
Maria, sem querer, sobre espantada...

Nisso, irrompe do Azul divina estrela...
Alguém surge!... É Jesus a recebe- la
No sublime clarão da madrugada.
Cornélio Pires – Antologia Mediúnica do Natal – Cap. 6

Chico Xavier e o Natal
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3.7 Maria Dolores
3.7.1 Mensagem de Natal

Desejava, Jesus, ter as palavras certas
Para exaltar-te o Luminoso Dia!...
Do pouso humilde às mansões opulentas,
Tudo é festa de Paz e de Alegria.

Recordamos Belém, na noite em que surgiste.
A Estrela...O vento frio... As casas às escuras
E as vozes cristalinas que cantavam:
- "O Enviado nasceu! Glória a Deus nas Alturas!...

Entretanto, depois de teus ensinos,
Veio o dragão do ódio, armando a guerra,
E separou, em fúria, os grupos e as nações,
Marcando a sangue e pranto os caminhos da Terra...

Passam conquistadores inclementes,
Reclamando o poder, no ouro que os seduz;
Matam, furtam, mas, morrem esquecidos
E a multidão prossegue: "ampara-nos Jesus!"...

É por isso que hoje repetimos,
Enquanto vinte séculos se vão:
- "Fica, Jesus, guardando-nos a vida,
Celeste Amor de nosso coração!..."
Maria Dolores – Dádivas de Amor – Cap. 16

Chico Xavier e o Natal
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3.8 Carmem Cinira
3.8.1 Versos do Natal

Enquanto a glória do Natal se expande
Na alegria que explode e tumultua,
Lembra o Divino Amigo, além, na rua...
E repara a miséria escura e grande.

Aqui, reina o Palácio do Capricho
Que a louvores e júbilos se entrega,
Onde a prece ao Senhor é surda e cega
E onde o pão apodrece sobre o lixo.

Ali, ergue-se a Casa da Ventura,
Que guarda a fé por fúlgido tesouro,
Onde a imagem do Cristo, em prata e ouro,
Dorme trancada em cárceres de usura.

Além, é o Ninho da Felicidade
Que recorda Belém, cantando à mesa,
Mas, de portas cerradas à tristeza
Dos que choram de dor e de saudade.

Mais além, clamam sinos com voz pura:
— «Jesus nasceu! » — o Templo dos Felizes
Que não se voltam para as cicatrizes
Dos que gemem nas chagas de amargura...

Adiante, o Presépio erguido em trono
Louva o Rei Pequenino e Solitário,
Esquecendo os herdeiros do Calvário
Sobre as cinzas dos catres de abandono.

Chico Xavier e o Natal
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De quando em quando, o Mestre, em companhia
Daqueles que padecem sede e fome,
Bate ao portal que lhe relembra o nome,
Mas em resposta encontra a noite fria.

E quem contemple a Terra que se ufana,
Ante o doce esplendor do Eterno Amigo,
Divisará, de novo, o quadro antigo:
— Cristo esmolando asilo na alma humana.

Natal!... O mundo é todo um lar festivo!...
Claros guizos no ar vibram em bando...
E Jesus continua procurando
A humilde manjedoura do amor vivo.

Natal! eis a Divina Redenção!...
Regozija-te e canta, renovado,
Mas não negues ao Mestre desprezado
A estalagem do próprio coração.”
Carmem Cinira – Instruções Psicofônicas – Cap. 40

Chico Xavier e o Natal
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3.8.2 Súplica de Natal


Senhor, tu que deixaste a rutilante Esfera
Em que reina a beleza e em que fulgura a glória,
Acolhendo- te, humilde, à palha merencória
Do mundo estranho e hostil em que a sombra ainda impera;

Tu que por santo amor deixaste a primavera
Da luz que te consagra o poder e a vitória,
Enlaçando na Terra o inverno, a lama e a escória
Dos que gemem na dor implacável e austera…


Sustenta-me na volta à escura estrebaria
Da carne que me espera em noite rude e fria,
Para ensinar-me agora a senda do amor puro!…

E que eu possa em teu nome abraçar, renovada,
A redentora cruz de minha nova estrada,
Alcançando contigo a ascensão do futuro.
Carmem Cinira – Vozes do Grande Além – Cap. 29

Chico Xavier e o Natal
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3.9 Vianna de Carvalho
3.9.1 Ante o Príncipe da Paz

Antes d’Ele, numerosos conquistadores passaram em nome da paz na
Terra…
Ramsés II, adorado como um deus, marcou o pináculo da civilização
egípcia, derrotando hititas e sírios, mas, deixou no próprio rastro o pranto com que
as viúvas e os órfãos lhe amaldiçoaram a vida.
Sardanapalo, o protetor das artes, saqueou Tebas e guerreou Babilônia,
sequioso de chacina, entretanto, assediado em Nínive, precipitou- se, infeliz, com
todos os seus tesouros, numa fogueira extensa.
Dario I, o grande rei da Pérsia, ampliou o seu império, espalhando ruínas,
todavia, retirou- se do mundo numa torrente de intriga e ódio.
Alexandre Magno, o condutor dos macedônios, senhoreou vários povos, à
custa de sangue, contudo, expirou ainda jovem, legando vasto espólio à cupidez de
seus generais.
Aníbal, o famoso cartaginês, humilhou espanhóis e gauleses, cruzando os
Alpes para vencer o exército romano, mas, em seguida à largas exibições de
autoridade, roído de amargura e desconfiança, desertou da própria luta, através do
suicídio.
Todos desfilaram, usando opressão e rapina, guerrilheiros e mercenários,
azorragues e lanças, carros e catapultas, veneno e punhal, acreditando- se
missionários do progresso e da concórdia, da unificação e da cultura, quando mais
não eram que tiranos da evolução, enfeitados de pedrarias e sedentos de sangue
humano…
Ele, porém, o Príncipe da Paz, que nascera na manjedoura, passou entre os
homens, sem distintivos e sem palácios, sem ouro e sem legiões.
Seu reinado foi a revelação do amor entre os simples.
Suas armas foram, em todos os dias, a bondade e o perdão.
Seu diadema foi a coroa de espinhos.
Seu salário foi a morte afrontosa entre malfeitores.
Por insígnia de poder, ofertou- se-lhe uma cana à guisa de cetro.

Chico Xavier e o Natal
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E, por trono de realeza teve a cruz de sacrifício, que converteu na espada do
mal, a ensarilhar-se para sempre no alto de um monte, como a dizer-nos que apenas
no esquecimento voluntário das exigências de nosso “eu”, pelo engrandecimento
constante do bem de todos é que poderemos atingir a senda do luminoso Reino de
Deus.
É por isso que, volvidos quase vinte séculos, ao recordar-lhe a suprema
renúncia, saudamo- lo em profunda reverência, ainda hoje:
— Ave Cristo! os que aspiram vencer a treva e a animalidade em si mesmos,
a favor da verdadeira paz sobre a Terra, te glorificam e te saúdam.
Vianna de Carvalho – Co mandos de Amor – Cap. 1

Chico Xavier e o Natal
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3.9.2 Inversão de Valores no Natal

Durante o solstício de inverno na Roma pagã, período que abrange os dias
17 a 23 de dezembro, celebravam-se as Saturnais, também denominadas como as
“festas dos escravos”, em razão de ser-lhes concedidas oportunidades de
prazeres, aumento da quota de alimentos, diminuição dos trabalhos a que se
encontravam submetidos especialmente nos campos.
Homenageando- se o deus Saturno, os participantes entregavam- se aos
mais diversos abusos, especialmente na área da sensualidade, da falta
de compromissos morais, assemelhando- se às bacanais...
Quando o Cristianismo primitivo passou a dominar as mentes e os orações
do Império, aqueles afeiçoados a Jesus, desejando apagar a nódoa moral que vinha
do paganismo e permanecia atormentando a cultura vigente, transferiram a data do
Seu nascimento para aquele período, aproximadamente, destacando- se o dia 25 para
as celebrações festivas.
Havendo nascido o Mestre de Nazaré entre 6 e 8 de abril, segundo os mais
precisos cálculos dos estudiosos do Cristianismo contemporâneo, o alto significado
da ocorrência, pensavam então, teria força suficiente para apagar as lembranças dos
abusos praticados até aquela ocasião.
O ser humano, nada obstante, mais facilmente vinculado às paixões
primitivas, lentamente foi transformando a data evocativa da estrebaria de palha
que se transformou numa constelação de estrelas, a fim de dar expansão aos
sentimentos desequilibrados, assim atendendo às necessidades das fugas
psicológicas, em culto externo de fantasia e de prazer.
Posteriormente, São Francisco de Assis, símile de Jesus pelo seu inefável
amor e entrega total da vida, desejou recompor a ocorrência natalina, e realizou o
seu primeiro presépio, a fim de que o mundanismo não destruísse a simpleza da
ocorrência, apresentando o evento sublime na forma ingênua das suas emoções .
Durante alguns séculos preservou- se a evocação do berço dentro das
modestas concepções do Cantor de Deus.

Chico Xavier e o Natal
93

À medida que a cultura espraiou- se e as modernas técnicas de c omunicação
ampliaram os horizontes das informações, as doutrinas de mercado, assinaladas
pelas ambições de compras e vendas, de extravagâncias
e de presentes, de sedução pelo exterior em detrimento do significado interno
dos valores, propôs novos paradigmas para as comemorações do Natal.
Na atualidade aturdida dos sentimentos, a figura de Jesus lentamente
desaparece da paisagem do Seu nascimento, substituída pelo simpático e gorducho
velhinho do norte europeu, Papai Noel, e o seu trenó entulhado de brinquedos para
as crianças e os adultos que se entregam totalmente à alucinação
festiva, distante da mensagem real do Nascimento.
Atualizando-se no Ocidente e, praticamente no mundo todo, as doces lendas
sobre São Nicolau, eis que também a árvore colorida vem substituindo o presépio
humilde nascido na Úmbria, e outro tipo de saturnália toma conta da
sociedade, agora denominada cristã...
Matança de animais, excesso de bebidas alcóolicas, festas exageradas,
extravagâncias de todo porte, troca de presentes, abuso de promessas e ânsia de
prazeres tomam lugar nas evocações anuais, com um quase total esquecimento do
Aniversariante.
A preocupação com a aparência, os jogos dominantes dos relacionamentos
sociais e o exibicionismo em torno dos valores externos aturdem os indivíduos que
se atiram à luxúria e ao desperdício, tendo como pretexto Jesus, de maneira idêntica
ao culto oferecido a Saturno.
Propositalmente, os adversários da ética-moral proposta pelo Mestre
procuram apagar a Sua lembrança nas mentes e nos corações, em tentativas
covardes e contínuas de O transformar em mais um mito que se perde na escura
noite do inconsciente coletivo da Humanidade.
Distraídos em torno da ocorrência perversa, pastores e guias do rebanho
confundido deixam-se, também, arrastar pela corrente da banalidade,
engrossando as fileiras dos celebradores do prazer e da anarquia.
É certo que Jesus não necessita de que se Lhe celebrem as datas de
nascimento nem de morte, mas deseja que se vivam as lições de que se fez o
Mensageiro por excelência, propondo novos conceitos e comportamentos em
torno da felicidade e da responsabilidade existencial, tendo em vista a imortalidade
na qual todos nos encontramos mergulhados.

Chico Xavier e o Natal
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Nada obstante, é de causar preocupação o desvio, a inversão de valores que
se observam nas evocações festivas e na conduta dos celebradores, muito mais
preocupados com o gozo e o despautério do que com os conteúdos memoráveis dos
ensinamentos por Ele preconizados e vividos.
Por compreender as fraquezas morais do ser humano, Jesus entendia,
desde então, tais ocorrências que hoje acontecem, as adulterações que se
produziram nos Seus ensinamentos, e diante da indiferença que tomaria conta
daqueles que O deveriam testemunhar, foi peremptório ao afirmar: – Quando eles
[os seus discípulos] se calarem as pedras falarão... [Lucas, 19:40.]
Concretizou-se o Seu enunciado profético, porque, nestes dias tumultuosos,
nos quais não se dispõe de tempo, senão para alguns deveres de
trabalho que proporcione compensações imediatas, o silêncio das sepulturas
quebrou- se e as vozes da imortalidade em grande concerto vêm proclamar e
restaurar a mensagem de vida imperecível, despertando os adormecidos para a
lucidez e a atualização da conduta nos padrões elevados do Bem.
Não mais os intérpretes que adaptam os ensinamentos às suas próprias
necessidades, distantes do compromisso com a Verdade; que se deixam dominar
por excessos de zelos desnecessários, transferindo os seus conflitos para os
comportamentos que os demais devem vivenciar; que se refugiam nos arraiais da
fé, não por sentimentos elevados, mas procurando ocultar os conflitos nos quais
estertoram...
As vozes dos Céus, destituídas dos ornamentos materiais e das falsas
necessidades do convívio social, instauram a Nova Era, trabalhando pelo
ressurgimento das lições inconfundíveis do Amor, conforme Ele as enunciou e as
viveu até o holocausto final...
O Seu Natal é um momento de reflexão, convidando as criaturas humanas
a considerarem a Sua renúncia, deixando, por momentos, o sólio do Altíssimo para
percorrer os caminhos ásperos da sociedade daquele tempo, amando
infatigavelmente e ensinando com paciência incomum, de modo a instalar na rocha
dos corações os alicerces do Reino de Deus que nunca serão demolidos.

Chico Xavier e o Natal
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Assim sendo, embora a inversão de valores em torno de Jesus e de Sua
doutrina, que se observa nas leiras do Cristianismo nas suas mais variadas
denominações, nenhuma força provinda da insensatez conseguirá diminuir a
intensidade de que se revestem, por serem os caminhos únicos e de segurança para
que a criatura, individualmente, e a sociedade, em conjunto, alcancem a plenitude
a que aspiram mesmo sem o saber.
Vianna de Carvalho – Inversão de Valores no Natal

Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na manhã do
dia 17 de novembro de 2008, na cidade do Porto, Portugal.

Chico Xavier e o Natal
96

3.10 Meimei
3.10.1 Natal do Coração

Abençoadas sejam as mãos que, em memória de Jesus, espalham no Natal,
a prata e o ouro, diminuindo a miséria e a necessidade, a fome e a nudez!…
Entretanto, se não forem iluminados pelo amor que ajuda sempre, esses
flagelos voltarão amanhã, como a erva daninha que espreita a ausência do lavrador.
Não retenhas, assim, a riqueza do coração que podes dar, tanto quanto o
maior potentado a Terra!
Deixa que a manjedoura de tua alma se abra, feliz, ao Soberano Celeste,
para que a luz te banhe a vida.
Com Ele, estenderás o coração onde estiveres, seja para trocar um
pensamento compassivo com a palavra escura e áspera ou para adubar uma semente
de esperança, onde a aflição mantém o deserto!
Com Ele, inflamarás de júbilo os olhos de algum menino triste e
desamparado e uma simples criança, arrebatada hoje ao vendaval, pode amanhã ser
o consolo da multidão…
Com Ele, podes oferecer a bênção da tolerância aos que trabalham contigo,
transformando o altar de teu pão em altar de Deus!…
Que tesouro terrestre pagará o gesto de compreensão no caminho
empedrado, o sorriso luminoso da bondade no espinheiro da sombra e a oração do
carinho e do entendimento no instante da morte?
Natal no mundo é a epopeia do reconhecimento ao Senhor.
Natal no espírito é a comunhão com Ele próprio.
Ainda que te encontres em plena solidão da pobreza e do infortúnio, sai de
ti mesmo e reparte com alguém o dom inefável de tua fé.
Lembra-te de que Ele, em brilhando na manjedoura, tinha consigo apenas o
amor a desfazer-se em humildade, e, em agonizando na cruz, possuía apenas o
coração, a desfazer-se em renuncia…
Mas, usando tão somente o coração e o amor, sem uma pedra onde repousar
a cabeça, converteu-se em Salvador do Mundo, e, embora coroado de espinhos, fez-
se o Rei das Nações para sempre.
Meimei – Antologia Mediúnica de Natal – Cap. 71

Chico Xavier e o Natal
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3.11 Wallace Leal
3.11.1 O Natal e o Santo Graal – A História de Sir Launfal

Na maior parte das vezes o amor de Sir Launfal se expressava em forma de
adoração. Ninguém sabia de seus pensamentos e anelos, porém ele se sentia ébrio
de felicidade ao pensar que, por um golpe-de-sorte, poderia encontrar o graal, o
cálice em que Jesus bebera na derradeira ceia com seus apóstolos.
Naquela véspera de Natal, enquanto a festa decorria ruidosa e descuidada
no interior do castelo, ele se encontrava exposto à neve e ao vento, ansioso, alerta,
olhando os quatro pontos-cardeais que a branca cortina de neve ocultava.
Desde menino ouvia falar de cavaleiros que tinham partido em busca do
“graal”, e, só a custo, conseguia ocultar as manifestações de sua inveja. Era muito
pequeno quando presenciara o fato pela primeira vez. Saltara afetuosamente ao
pescoço do pai a fim de pedir explicações.
O velho castelão tomara-lhe da mão e subira com ele ao mais alto dos
torreões – exatamente esse em que se achava.
Assentara-o sobre as pedras das seteiras e ficara a olhar um audaz cavaleiro,
com um brasão no manto, que ia em direção ao horizonte distante, muito além das
pradarias recobertas de montes de feno.
– Quase todos partem e nunca mais regressam. Ou se voltam, trazem as
mãos vazias. Um dia, entretanto, surgirá aquele que trará o cálice em que o Senhor
bebeu.
– Mas, o que é o “Graal”?
O pai costumava prodigalizar-lhe imensa bondade, não apenas porque
Launfal era o seu caçula, mas, também, por ele ser um menino que lhe dava orgulho,
pois crescia forte e generoso, capaz de vencer em todos os jogos sem, contudo,
permitir que nenhum dos adversários se sentisse abatido ou caísse em ridículo.
Launfal era igualmente capaz – (Ele, o velho pai, tinha disso certeza!) – de abrigar
muito Amor em seu coração, um puro e apaixonado Amor.
Ele conhecia a natureza do filho e já a experimentara.
O castelão, ao contrário dos outros membros da nobreza, não dava aos filhos
uma pomposa tutela; preferia, ao invés disto, uma dignificante amizade pessoal.

Chico Xavier e o Natal
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Assim, naquele dia de Outono, ele assentara Launfal sobre os joelhos e, com
palavras próprias, narrou -lhes a história do graal. Lembrou a ceia em que Jesus
reunira seus companheiros e explicou-lhe o sentido das palavras do Senhor. Launfal
compreendeu que Jesus viera ao mundo para a sublimação dos homens e, desde
aquele instante, fez dEle o seu ideal.
Arrepiou-se quando o pai descreveu o momento em que o Senhor levara aos
lábios o cálice agora desaparecido. E ouviu avidamente a narrativa lendária de como
José de Arimatéia guardara- o e passara- o às mãos de seus descendentes.
Os depositários deveriam ser castos e puros de pensamento, palavras e
ações.
Todavia um deles quebrara o voto e o Graal misteriosamente desaparecera.
Desde então, reencontrá-lo, se tornara a empresa predileta dos cavaleiros do
Rei Artur, os célebres homens da Távola Redonda. Eles partiam em busca do
lendário cálice e cada um guardava a esperança de resgatá- lo.
Launfal relembrava o episódio naquela noite de Natal, enquanto, entre
danças, comidas e músicas, as pessoas se divertiam no castelo. Era agora um
garboso jovem, mas seu pai dormia sob a pesada laje e a rústica cruz de pedra, no
cemitério da igreja.
Launfal amadurecera o seu plano e não sentia nenhum receio em pô-lo em
execução, ainda que a empresa custasse a sua morte. O desejo de partir em busca
do cálice ligava o seu passado ao seu presente e, igualmente, à eternidade onde vivia
o Senhor. Tudo isto era uma palpitação, um ritmo vital, poderoso e a ele se inclinava
como se inclinam, no tempo certo, as ondas e as estações.
Célere desceu às estrebarias, deixando, atrás de si, um rastro polvilhado de
neve cintilante e lívida que, também, se lhe acumulava sobre o fato de veludo.
O escudeiro dormitava junto ao fogo, mas o cavalo ruminava arreado, com
seus jaezes, rebrilhando na cintilação das labaredas. Os cães ladraram quando ele
montou e atravessou o pátio, mas o ladrido se perdeu entre os sons álacres de risos
e a música da festa.
Todavia, o retinir de um guizo varou a sombra das arcadas e lhe chegou, de
bem perto, aos ouvidos atilados. Um leproso acercava-se da ponte levadiça.
– Pelo amor de Cristo, uma esmola! –
Solicitou a voz trêmula e abafada.
Launfal olhou a figura que o luar banhava.

Chico Xavier e o Natal
99

Envolto em trapos, era um jovem ainda.
Mesmo sem se deter retirou da bolsa uma moeda de ouro e atirou-a ao outro.
Nem ao menos viu quando o enfermo penosamente se curvou para retirar da vê o
pequeno disco rebrilhante. Ele parecia sonhar, e o cavalo, a passo seguro, levava-o
pelo mesmo caminho em que, menino ainda, um dia cavalgara assentado à garupa
de seu pai.
Naquele instante do passado, ele era um dos audazes cavaleiros da Távola,
que seguia em busca do cálice. Embora não houvesse agora os doirados montes de
feno e nem a relva fofa, mas, tão somente, as alvas cortinas da neve, era ele, Launfal
que partia em busca do Graal. Tomou pelo atalho que cortava o bosque azulado
pelo luar que varava a neve. O gelo fazia estalar os ramos e afogava o murmúrio do
regato. As sombras moviam-se como lenços agitados, a lhe dizerem:
– Adeus, Launfal! Adeus! …
A noite não era muda, tinha mil vozes, todas elas velhas conhecidas do
garboso rapaz. Seu cavalo trotava pela neve que caía silenciosamente, enquanto ele
ouvia os ruídos familiares da natureza noturna.

* * *
Os anos correram. Launfal passou a maior parte de sua vida em longínquos
climas sem poder encontrar o Graal.
Seu pai dissera- lhe que alguém o traria de volta e ele julgava ser aquele o
maior serviço que poderia prestar a Deus.
Fidelidade e devoção!
Até que, um dia, as forças lhe faltaram e ele buscou o caminho de seu antigo
lar.
Velho, encanecido, curvado. A neve de dezembro confundia-se em seus
cabelos e em sua barba farta. Vencido, Launfal era ainda amável e bom, pois o amor
não se esgotara em seu coração. Um mandado que provinha das profundidades do
tempo, punha-o de volta. E ele obedecia-o.
A noite caíra e, tal como sucedera no momento de sua partida, havia festa
no castelo. Então ele se lembrou: era véspera do natal do Senhor. Deteve-se à
sombra de um dos altos muros e viu, à luz das tochas, os convidados que entravam
e saíam. Eram-lhe desconhecidos! Uma lágrima toldou-lhe a visão; agora era um
estranho, um estrangeiro em seu próprio lar.

Chico Xavier e o Natal
100

Não poderia apresentar-se, pois trazia o manto roto e coberto de remendos
e, em vez do fogoso corcel, com gualdrapas de ouro, que montara ao partir, na
plenitude de sua juventude, referto de ambições e esperanças, retornava a pé,
apoiado em um cajado. Launfal, entretanto, trazia consigo um tesouro. Ele
aprendera a unir o amor à misericórdia e pouco lhe importavam os dons que o
mundo pode oferecer.
Enquanto olhava os convidados que chegavam para a festa, envoltos em
mantos de seda, forrados de peles raras, alguém se aproximou pelas suas costas e
uma voz o despertou de sua melancólica meditação:
– Pelo amor de Jesus!
Ele voltou-se e deparou com um mísero leproso. Launfal reconheceu -o. Era
o mesmo ao qual, ao abandonar o castelo, lançara a sua moeda de ouro.
– Em nome de Cristo, peço- vos uma esmola. Mais ditosos do que eu, são os
animais que chegam à fonte que a sede lhes aplaca.
Sir Launfal olhou o velho roído pelo terrível mal. Como pudera sobreviver
durante tanto tempo? Era apenas uma ossada descarnada, envolta na crosta gelada
da neve.
Launfal atirou a cabeça para trás e lançou ao castelo um novo olhar. Depois
voltou- se para o leproso e caminhou em sua direção, obediente ao que lhe ditava o
coração. Pôs-lhe a mão sobre o ombro envolto em trapos e lhe disse:
– Vejo em ti a imagem do que morreu na cruz. Embora ninguém o perceba,
também estás coroado de espinhos; e recebes insultos e sarcasmos do mundo. Não
te faltam chagas nos pés, nas mãos e no flanco. O filho de Maria conhece- me, pois
me pus espontaneamente a Seu serviço.
Eu te socorrerei.
Então a alma do leproso mostrou-se toda em suas pupilas.
– Tu também me conheces! – Disse-lhe Sir Launfal. – Viste-me em uma
noite como esta, de postura galharda quando, fogoso e jovem, parti em busca do
Graal.
Lancei-te de longe uma moeda. Tinha-me por bom, mas em meu coração
havia pó e cinzas. Vem, senta-te ao meu lado.
Os dois assentaram-se abrigados pela arcada de pedra, envolta em heras
ressequidas. Sir Launfal retirou do alforje o último pão que lhe restava. Estava duro
e feio. Foi recolher a água do arroio, cujo gelo quebrou com o troço do seu bordão.

Chico Xavier e o Natal
101

A água estava turva e acinzentada.
Lado a lado, os dois homens puseram -se a comer. E, ainda que o pão fosse
duro e a água turva, em suas mãos eram como o macio pão de trigo e o cordial
mosto das vinhas, que retemperam a alma ressequida.
A música do castelo chegava alegre e vivaz aos seus ouvidos. Launfal
olhava os vitrais acesos na cintilação de mil velas.
As silhuetas dos azevinhos anunciavam a lauta festa do Natal.
Foi quando uma luz, uma luz diferente, iluminou a arcada sombria. Launfal
voltou- se ofuscado e não mais encontrou o leproso ao seu lado. Todavia, em seu
lugar, se erguia a figura dominadora e serena de Jesus. Uma glória de luz aureolava-
lhe o semblante de alabastro e Launfal podia ver os seus olhos e cabelos que tinham
a cor doirada do vinho e da avelã.
– Sabes quem sou? – A radiosa figura perguntou -lhe.
– Tu és a coluna que sustenta a formosa porta por onde entraremos um dia
no templo de Deus, construído dentro de nós mesmos. – Disse Sir Launfal com
humildade.
Uma grande fadiga se apossou dele quando prosseguiu explicando:
– Não pude encontrar o Teu Graal e trazê-lo.
Pus todo o meu coração no trabalho, mas foi inútil. Um dia, um outro, que
não eu, o encontrará!
Os suaves lábios da aparição pareceram sorrir compassivamente:
– Não te lamentes! – Disse- lhe. – Sem proveito malbarataste tua vida em
longínquas terras. Tinhas o Graal, mas não sabias. Ei-lo aqui. É a caneca de chumbo
rude onde me deste de beber. Este pão duro, que comigo partilhaste, é o meu próprio
corpo, e a água do arroio enregelado se tornou em meu sangue quando me deste a
beber. Minha ceia se perpetua onde quer que o pão seja repartido com o faminto.
Não vale o que damos, mas o que compartilhamos.
A mão luminosa de Jesus estendeu-se para Sir Launfal. Ele disse
meigamente:
– Em verdade te digo que vã é a dádiva sem o doador. O que se compartilha
com o necessário, alimenta a três: ao doador, ao faminto e a mim. Aprendeste a
lição.
Vem comigo!
* * *

Chico Xavier e o Natal
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Conta-se que Sir Launfal, partindo em busca do Santo Graal, nunca mais
voltou ao lar. Nas vésperas de certo Natal, entretanto, um homem roto e
encarquilhado pelos anos, foi encontrado morto numa das arcadas do castelo.
Saindo o Sol na paisagem enregelada, viram-no coberto de neve, à feição de
uma estátua de gelo. Tinha os braços hirtos erguidos para o alto, como se, ao
expirar, tentasse segurar invisíveis mãos que se lhe estendiam. Assim, foi levado à
cova por caridosas almas. E, por não lhe saberem o nome, marcaram-lhe a tumba
com o rústico caneco de chumbo.
Sir Launfal trouxera o Graal.
Wallace Leal V. Rodrigues - Remotos Cânticos de Belém – Pag. 242

Chico Xavier e o Natal
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3.12 Jácome Góes
3.12.1 Momento de Decisão

... E mais uma vez as luzes são acesas; o coro dos louvores expanda- se pelo
mundo; as expressões de fraternidade multiplicam- se, envolvendo os homens na
colorida atmosfera Natalina.
O cenário encontra-se artisticamente montado, desenvolvendo- se a grande
comemoração em homenagem ao aniversário do Cristo.
Nestes dias, a cada ano, repete-se o milagre do amor, que de maneira
efêmera, materializa- se em encontros e reencontros; que faz uma breve trégua entre
os inimigos das guerras fratricidas; que alimenta os famintos do ano todo; que leva
conforto aos doentes nos hospitais; esperança aos presos; presentes às crianças
abandonadas; alegria aos velhos nos asilos; enfim, por uns dias, o homem pode ter
a feliz experiência sobre os benefícios da paz.
Neste momento, porém, em que o mundo sofre a patologia da ansiedade, e
no qual a violência generaliza-se nos sombrios processos de desamor, cabe ao
verdadeiro cristão assumir um firme posicionamento, num trabalho de
demonstração individual, através do legado dos seus exemplos.
Não podemos mais permanecer em atitudes de misticismo estático e
cômodo, quando sentimos na realidade, que a hora é de sacrifício no testemunho da
mais absoluta fé. Afinal de contas, o nosso Mestre deu -nos o exemplo de
dinamismo, ferindo os pés nas estradas da Galiléia, a fim de despertar no homem,
o verdadeiro amor a Deus, que só pode ser provado, no amor que se dedica ao
semelhante.
ESTE DEVE SER UM MOMENTO DE DECISÃO CORAJOSA , de
propósitos renovatórios e de obstinação na persistência dos ideais, a fim de
conseguirmos a qualificação espiritual de instrumentos vivos do Senhor. É bom não
nos esquecermos de que o trabalho primeiro e maior, é o da construção íntima.
VALE MUITO MAIS O SACRIFÍCIO DE MATARMOS EM NÓS AS
DEGRADAÇÕES DO CARÁTER, DO QUE AS ESMOLAS QUE DERMOS
NAS RUAS, OU VISITAS AOS TEMPLOS DE PEDRA. - A CARIDADE
MAIS DIFÍCIL E MAIS GRATIFICANTE, É A DA AUTO -ILUMINAÇÃO.

Chico Xavier e o Natal
104

Tudo mais é simples e de natural conseqüência. Citamos Lucas, em seu
Evangelho, o seguinte roteiro dado pelo Cristo : - “ qualquer que não levar a sua
cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo”.
Devemos entender como CRUZ, o sacrifício primeiro das transformações
interiores, e a adaptação da nossa vida aos preceitos Divinos.
Seguir o Nazareno, é palmilhar os caminhos luminosos da dignidade,
deixando as marcas das realizações, desde os mínimos gestos de compreensão, até
os heróicos testemunhos de renúncia.
Jácome Góes – Jornal da Ci dade/Sergipe – Momento de Decisão

Chico Xavier e o Natal
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3.12.2 Nascimento do Cristo

Meu Amigo, que neste Natal brilhe intensamente a Luz dos seus Ideais e se
projete os Sons Harmoniosos da sua Alegria.
Que você possa celebrar a Missa Leiga de Amor, no Templo do seu Lar .
Que você possa dar a todos, o Presente de sua Esperança, e o Testemunho
da sua Fé.
Que realmente possa firmar o propósito de Apagar as Mágoas, e Acender o
Perdão.
De Anular os Conflitos, e Reviver a Serenidade.
De Vencer os Impulsos, e Ouvir a Razão.
De Dominar as Sensações, e Sublimar os Sentimentos.
Que você possa Conquistar Amigos, permanecendo Vivo em seus Corações.
Que possa Constatar a Admiração de Todos, pelos Testemunhos de seus
Atos e Gestos, compensando, assim, o Sacrifício das suas Transformações.
Que na Luta contra os Vícios, Vença o seu Ideal pela Preservação da Saúde,
e pelo Enriquecimento do Espírito.
Que possa nos Momentos de Dor, ativar a Resignação, para não Demonstrar
a Deplorável Indigência da Fé.
Que possa Dialogar com o Cristo antes das Decisões, e que em todas as
Circunstâncias, possa Respeitar o seu Próximo, em seus Limites Individuais.
Por fim, que este Natal venha a ser um Marco em sua Vida, definindo
uma Realidade de Propósitos Renovatórios, com uma Presciência de Sucesso,
na Constância da Paz.
Se você Conseguir a Realização desse Milagre, tenha certeza absoluta de
Ter Conquistado o Amor, e de Ter Gerado em seu Coração, o Nascimento do
Cristo.
Jácome Góes – Jornal da Cidade/Sergipe – Nascimento do Cristo

Chico Xavier e o Natal
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3.13 Rui Barbosa
3.13.1 Prece de Natal

Mistério Divino, em cujo seio, há mil e novecentos anos, se desenvolve a
civilização humana, perdoa aos que, deste lugar de fraquezas e paixões, ousam
explorar com o pensamento a tua pureza.
Os moldes da única eloqüência capaz de te não profanar quebraram-se com
a última inspiração dos teus livros sagrados.
Desde então, de cada vez que o homem se desengana do homem, e a alma
precisa do ideal eterno, na melancolia das épocas agitadas e tenebrosas diante da
injustiça ou da dúvida, da opressão ou da miséria, é no cristal das tuas fontes que se
vai saciar a nossa sede.
Deixaste-as abertas na rocha da tua verdade, e há dezenove séculos que
borbotam, com o mesmo frescor, sempre, das primeiras lágrimas daquela, cuja
maternidade desabotoava hoje na flor da redenção cristã.
Tamanha é a tua grandeza, que excede todas as do Universo e da razão; o
espaço, o tempo, o. infinito, acima dos quais a cruz da tua tragédia espantosa parece
maior que os vôos da metafisica, as imensidades do cálculo e as hipóteses do sonho.
Dai a palavra e a imaginação recuam assombradas, balbuciando.
A criatura sente o teu amor, mas tremendo.
Vê-se alvorecer a eternidade na magnificência de um abismo que se rasga
no céu; mas, nas suas arestas, alguma coisa há de sombra e ameaça.
De onde, porém, Tu penetras no coração de todos com a doçura de uma
caricia universal, é daquele presepe, onde a tua bondade nos amanheceu um dia no
sorriso de uma criança.
Enquanto César cuidava do Império, e Roma do mundo, assomavas tu ao
canto de uma província e na vileza de um estábulo, sem que Roma, nem o Império,
nem César te percebessem, para ficar à posteridade a lição indelével de que a
política ignora sempre os seus mais formidáveis interesses.
Tiveste por berço as palhas de um curral.
A última das mães sentir -se-ia humilhada, se houvesse de reclinar o fruto do
seu regaço no sitio abjeto, onde recebeste os primeiros carinhos da tua.

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Mas a manjedoura , onde, só, abriste os olhos á primeira luz, recende até hoje
o perfume da mais esquisita poesia, e o dia do teu Natal fez-se para a Cristandade
o mais famoso dia da Terra, o dia azulado e cor-de-rosa entre todos, como o céu da
manhã e o rosto das crianças.
Elas, de geração em geração, ficaram sabendo para todo o sempre a história
do teu nascimento.
E nessas festas do seu contentamento e da sua inocência tens, ó Senhor dos
mansos e dos fracos, dos humildes e dos pequeninos, a parte mais límpida do teu
culto, o raio mais meigo da tua influência benfazeja.
Esses ritos infantis estrelam de alegria as neves polares, orvalham de suave
umidade os fulgores tropicais, estendem o firmamento, debaixo dos nossos tetos, e,
dentro do nosso espirito mortificado, inquieto, triste, põem uma hora de alvorada
feliz.
Cristo, como te sentimos bom quando te vemos entre as crianças, e quando
as crianças te encontram entre si.
Despindo a tua majestade toda, para caberes num seio de mulher e no
tamanho de um pequenito, assentaste sobre as almas um império sutil e irresistível,
por onde a espontaneidade da nossa adoração continuamente se renova e
embalsama nas origens da vida.
Todos aqueles, pais, irmãos, ou benfeitores, a quem concedeste a bênção de
amar um menino, e o tem nos braços ou o prenderam, vêem nele a tua imagem, a
cópia, idealizada pela fé e pelo amor, do eterno tipo do belo.
Divinizando a infância, nascendo e florescendo como ela, deixaste à espécie
humana a reminiscência mais amável e celeste da tua misericórdia para conosco.
De cada casa, onde permitiste que gorjeie e pipile esta manhã um desses
ninhos tecidos pela providência das mães no meio das nossas agonias, se estão
exalando para ti as súplicas e os hinos do nosso alvoroço.
Por essas criaturinhas, Senhor, é que o nosso espirito se peja de cuidados, e
a nossa previsão, agora mesmo, enoitecera de agoiros funestos, se te não víssemos
de permeio entre elas e o futuro carregado e temeroso.
Senhor benigno e piedoso, que em cada uma delas nos deixaste a miniatura
da tua face desnublada, poupa-as à expiação das nossas culpas.

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Multiplica os nossos sofrimentos em desconto dos seus. Doira-lhes o porvir
de teu riso compassivo.
Cura a nossa pátria da aridez da alma, que mata, semeando a tua semente
nesta geração que desponta.
Permite, enfim, que nossos filhos possam celebrar com os seus, em dias mais
ditosos, a alegria do teu Natal.
Rui Barbosa – Remotos Cânticos de Belém – Pag. 11

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4 Referências

Esta relação bibliográfica não está, intencionalmente, seguindo os padrões
usuais – está numa forma mais sintética.

# Autor – Livro ou Revista – Cap. ou Item – Título
1 André Luiz - Os Dois Maiores Amores – Cap. 15 – Nas Orações de Natal
2 Carlos Antônio Baccelli - Chico Xavier Mediunidade e Coração
3 Carmem Cinira – Instruções Psicofônicas – Cap. 40
4 Carmem Cinira – Vozes do Grande Além – Cap. 29
5 Cartas do Coração – 2º Parte – Cap. 5 – Hino do Repouso
6 Casemiro Cunha – Antologia Mediúnica do Natal – Cap. 40
7 Cornélio Pires – Antologia Mediúnica do Natal – Cap. 6
8 Divaldo Franco - Caderno de mensagens – Cap. 2 - Encontro com Divaldo Pereira Franco
9 Emmanuel – Antologia Mediúnica do Natal – Cap. 17
10 Emmanuel - Antologia Mediúnica do Natal – Cap. 31
11 Emmanuel - Antologia Mediúnica do Natal - Capítulo 13 - Humildade celeste
12 Emmanuel – Através do Tempo – Cap. 34
13 Emmanuel - Fonte de Paz – Cap. 12
14 Emmanuel - Fonte de Paz – Cap. 21
15 Emmanuel – Luz do Coração – Cap. 73
16 Emmanuel – Religião dos Espíritos – Cap. 28
17 Emmanuel – Revista Reformador – 1950 – Dezembro – Natal II
18 Humberto de Campos - Antologia Mediúnica de natal - Cap. 3 - O Conquistador
Diferente
19 Humberto de Campos - Antologia Mediúnica do Natal – Cap. 15
20 Humberto de Campos - Antologia mediúnica do Natal - Cap. 19
21 Humberto de Campos - Antologia mediúnica do Natal - Cap. 29
22 Humberto de Campos - Antologia Mediúnica do Natal – Cap. 3
23 Humberto de Campos - Antologia mediúnica do Natal - Cap. 47
24 Humberto de Campos - Antologia Mediúnica do Natal – Cap. 61
25 Humberto de Campos – Novas Mensagens – Cap. 11
26 Jácome Góes –Jornal da Cidade/Sergipe Nascimento do Cristo
27 Joanna de Angelis - Alegria de Viver – Cap. Natal Íntimo
28 Joanna de Ângelis - Celeiro de Bênçãos – Cap. 11
29 Joanna de Angelis – Desperte e Seja Feliz – Cap. Natal de Amor
30 Joanna de Ângelis – Diretrizes para o Êxito – Cap. 36 – Atualidade do Natal

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# Autor – Livro ou Revista – Cap. ou Item – Título
31 Joanna de Ângelis - Espírito e Vida – Cap. 41
32 Joanna de Angelis – Espírito e Vida – Cap. 60
33 Joanna de Angelis - Momentos Enriquecedores – Cap. 10
34 Joanna de Ângelis – Oferenda – Cap. 23
35 Joanna de Angelis – Oferenda – Cap. 23 & Cap. 42
36 Joanna de Ângelis – Otimismo – Cap. 60
37 Joanna de Angelis – Revista Reformador - 1983 – Dezembro - Natal Íntimo
38 Maria da Conceição – Vozes do Grande Além – Cap. 3 – Ensinamento Vivo
39 Maria Dolores – Dádivas de Amor – Cap. 16
40 Meimei – Antologia Mediúnica de Natal – Cap. 71
41 Rui Barbosa – Remotos Cânticos de Belém – Pag. 11
42 Vianna de Carvalho – Comandos de Amor – Cap. 1
43 Vianna de Carvalho – Inversão de Valores no Natal
44 Wallace Leal V. Rodrigues - Remotos Cânticos de Belém – Pag. 242