2. Três momentos do romance No século XIX, o romance em alta era o “gótico”, uma história de mistério e vaga ameaça sobrenatural, passada em lugares assustadores (ou na Europa Central, o que, para a maioria dos leitores, era a mesma coisa). As heroínas góticas definhavam em castelos em ruínas, ameaçadas por feitiços antigos, esposas enlouquecidas e nobres misteriosos, que evitavam a luz do sol e os espelhos. O romance do fim do século XIX não pretendia ser um produto da mente de um escritor, ele tinha a intenção de ser um registro acurado da vida cotidiana. [...] no final do século XIX e nos primórdios do século XX, o realismo desenvolveu ramificações. Dostoiévski e Kafka aperfeiçoaram um “realismo psicológico” que prestava menos atenção a detalhes físicos e mais aos psicológicos. [...] Outra forma de realismo – até mais moderna do que o “realismo psicológico” – foi o naturalismo. Escritores realistas estavam convencidos de que podiam escrever os romances puramente “científicos”. [...] O eu era apenas um produto de peculiaridades herdadas, combinadas à influência ambiental. [...] os modernistas, que escreveram entre e depois das grandes guerras, viram que os ancestrais vitorianos estavam iludidos. Os vitorianos pensavam que eram capazes de compreender a essência da vida, mas os modernistas sabiam que a “verdadeira vida”, de fato, estava além de sua compreensão. [...] A ausência de enredo tornou o romance modernista muito difícil de ler, especialmente para o leitor comum que anseia por uma história . [...] O romancista pós-moderno considerou que todas as tentativas prévias de escrever sobre o eu individual eram falhas, porque insistiam em ver o eu como essencialmente livre. Não, não, diz o pós-modernista; o eu privado [...] não é uma espécie de ser independente, livre, capaz de achar o próprio caminho em meio aos obstáculos, derrotando a hipocrisia da sociedade. Em vez disso, esse eu privado foi produzido pela sociedade.