Quanto mais negra era a noite que nos circundava, mais bela,
verdadeira e brilhante era a luz da mensagem divina.
"Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou
angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou es-
pada?... Em todas estas cousas, porém, somos mais que vence-
dores, por meio daquele que nos amou."
Eu corria os olhos ao redor, enquanto Betsie lia, vendo a luz
tremular de rosto em rosto. Mais que vencedores... Não era um
pedido, era um fato. Nós sabíamos disso; nós o experimentávamos a
cada minuto - pobres, odiadas, famintas. Somos mais que
vencedores! Paulo não diz: "Seremos", mas, "Somos".
A vida em Ravensbruck decorria em dois níveis totalmente
diversos. Um era o da vida exterior, visível, que a cada momento era
mais terrível. O outro, o da vivência que tínhamos com Deus,
melhorando dia a dia, verdade após verdade, glória após glória.
Houve vezes em que, ao retirar a Bíblia de sua sacola, eu
sentia as mãos trêmulas, pelo mistério de tudo aquilo. Ela parecia
totalmente nova, parecia ter sido escrita recentemente. Às vezes eu
me espantava de a tinta não estar molhada...
Eu sempre crera na Bíblia, mas sua leitura agora não tinha
nada a ver com aquela crença. Era uma descrição do modo como a
nossa vida era na atualidade - era o céu, o inferno, a maneira de os
homens agirem e de Deus operar. Eu lera o relato da prisão de Jesus
milhares de vezes, como os soldados o haviam espancado, rido dele,
e o chicoteado. Tais acontecimentos, agora, tinham corpo.
Sexta-feira, era repetida a humilhação da inspeção médica. O
corredor do hospital, onde esperávamos nossa vez, não tinha
aquecimento, e as paredes guardavam o frio do outono. Apesar