Edgard Armond
106
memória de João Batista e até hoje ainda existem, realizando os ritos
que o profeta estabeleceu na forma essênia.
31
Na prisão, passado tempos, a aparência de João Batista
tornar-se-ia ainda mais estranha e impressionante; era um verdadeiro
homem do deserto: alto, maltratado, esquelético, moreno-amarelado,
mais ainda dotado de forte e agigantada constituição. Da fimbria da
túnica de estopa pendia a franja de rabi; e seus olhos, que pareciam
dois carvões em brasa, não se despregavam do interlocutor enquanto
falava, com acento poderoso, alegórico e místico.
E já estava acorrentado há dois anos, quando Herodes veio
com uma grande comitiva formada de cortesões, oficiais de serviço,
visitantes e funcionários romanos, passar uns tempos na fortaleza,
onde, diariamente se banqueteavam. Em um desses festins,
entediado pela rotina, desejou que a pequena Salomé, ali presente,
filha de Herodíades, menina de dezesseis anos, criada junto às tribos
do deserto, na corte de seu pai, dançasse para ele as danças estranhas
e voluptuosas daquele povo, mas ela recusou várias vezes até que,
por insinuação de sua mãe a qual, pressurosa, apegou-se à
oportunidade de satisfazer seu ódio, declarou ao rei que poderia
dançar para ele desde que, como prêmio, lhe mandasse trazer ali,
numa bandeja, a cabeça do profeta encarcerado.
Herodes assustou-se com o pedido, procurou furtar-se a ele,
mas a menina, sempre insinuada por sua mãe, pô-lo em brios pela
palavra dada e então, muito a contragosto, Herodes concordou e,
logo após a dança, o chefe de sua guarda desceu ao cárcere, mandou
degolar o profeta, e, o carrasco, espetacularmente, entrou na sala do
banquete, apresentando à menina a cabeça sangrenta e ainda
semiviva, cujos olhos a fitavam muito abertos.
31
Existem na Ásia Menor, sob a denominação de “Sabeos”; guardam o domingo
e, uma vez por semana, fazem o batismo, num cerimonial em que entram o pão e
o vinho. Também o próprio livro Os Atos dos Apóstolos: 17:24-28 e 19:1-5,
referem-se a Apolo, discípulo de João, residente em Alexandria. Esses discípulos
de João, em geral, negavam que Jesus fosse o Messias esperado.