JB News – Informativo nr. 1.977 – Florianópolis (SC) – terça-feira, 1º de março de 2016 Pág. 7/3177
Mario Gentil Costa.
O autor é médico em Florianópolis.
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“A PENUMBRA D O INEXPLICADO”
Às vezes, plena madrugada, perco o sono, acossado por instigantes conjeturas em
que minha mente irrequieta se debate. Mas fico tranqüilo. Não é delírio. É no silêncio da
noite, enquanto a malta do populacho, extenuada do trabalho braçal, entra em coma
profundo, que as cabeças menos indiferenciadas produzem a verdadeira abstração.
Essa sensação esquisita de que há algo vago no ar, algum conceito nebuloso que
excita nossos sensores mentais com sinais obscuros e imprecisos, porém insistentes e
repetidos, ocultos pela névoa do nosso despreparo perceptivo, já me acometeu
inúmeras vezes, embora, no meu caso, o percentual de aproveitamento nem sempre
tenha sido compensador.
Há ocasiões em que desperto em plena noite e fico tão carregado, que, sem
alternativa, salto da cama, tomo um cafezinho, acendo um cigarro e me ponho à frente
deste teclado a escrever freneticamente, na esperança de que a idéia fugidia não se
esvaia.
Não raro, no outro dia, nem entendo o que escrevi, quando, na ocasião, tudo
me soava tão lógico; retinia como a bolinha que corre sobre a roleta de um cassino, e
não se sabe em que número vai parar. Ou figurava como um calidoscópio de imagens
fugazes e simétricas, que jamais se repetem; como uma intuição indefinida, a requerer
tradução em seqüência lógica.
E dessa inquietação, não raro, resultou um texto quase esotérico, como se ditado
por alguma entidade confusa que estivesse tentando penetrar no raio de ação de minha
mente sobrecarregada. Já rasguei muito papel por causa disso, mas, vez por outra, tirei
da experiência idéias que serviram de base para desenvolver minha modesta ficção.
Outras vezes, dormi, perplexo e cansado, diante de uma vereda estreita e sinuosa,
quase impenetrável, e, no meio da noite, acordei com o caminho já traçado.
2 – Opinião – A Penumbra do Inexplicado
Mario Gentil Costa