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O modelo experimental que descrevemos aqui foi proposto por Murray Sidman e publicado pioneiramente em 1971. Sidman (1971), apresentou os primeiros resultados de um experimento no qual, através do procedimento de pareamento ao modelo (através do qual se estabeleceram discriminações condicionais), um adolescente com desenvolvimento severamente retardado demonstrou ter estabelecido muito mais relações entre estímulos do que as diretamente ensinadas na fase de treino. De acordo com Sidman (1971) aquelas relações que o comportamento daquele adolescente exibiu só foram possíveis porque alguns estímulos se tornaram equivalentes naquele contexto de pareamento de estímulos. Em 1982, Sidman e Taibly publicaram um trabalho complementar em que sistematizaram o modelo experimental e o relacionaram ao modelo matemático de equivalência entre conjuntos. Desde então, a demonstração relações arbitrárias entre estímulos não diretamente treinadas (também chamadas de relações emergentes), em testes apropriados após treino de discriminações condicionais (utilizando, por exemplo, um procedimento de pareamento com o modelo), passou a ser um importante modelo experimental para se estudar o fenômeno da equivalência de estímulos. Portanto, o fenômeno da equivalência em si consiste na substitutabilidade entre os estímulos, implicando a emergência de comportamento(s) novo(s) (produtividade de comportamento). Diz-se “comportamento(s) novo(s)” porque, quando se obtém equivalência, o sujeito emite uma resposta especificada não apenas frente ao estímulo particular diante do qual foi diretamente treinado, mas também diante de outros estímulos que se tornem equivalentes ao primeiro. Você, por exemplo, deve se lembrar que, na suas primeiras aulas de inglês, quando aprendeu a relação entre as palavras “one” e “um”, você passou a relacionar a palavra nova (one) a todos os estímulos que você já relacionava à palavra “um”, ou seja, a quantidade 1, o algarismo 1, a palavra falada “UM” etc. Certamente não foi necessário que seu(ua) professor(a) de inglês lhe ensinassa cada uma dessas relações separadamente. Essa é uma área de estudos ainda em desenvolvimento. As pesquisas nessa área, contudo, apresentam um grande potencial de aplicação. Já há estudos bastante avançados sobre o uso da tenologia gerada por essa área de estudos na aquisição de leitura e também de conceitos matemáticos (ver, por exemplo, Hanna, Souza, De Rose e Fonseca, 2004; Souza e De Rose, 2005). A formação de classes de equivalência parece ser um bom modelo experimental para o comportamento simbólico, este definido como comportamento produtivo controlado por relações arbitrárias entre símbolos e seus referentes. Nesse sentido, uma vez compreendidas todas as condições necessárias para a formação de classes de equivalência, esse modelo experimental poderá ser útil para outras áreas de pesquisas, como as Neurociências, que estiverem interessados em desvendar, sob diferentes pontos de vista, os processos envolvidos no comportamento simbólico. O modelo de formação de classes de equivalência também tem sido usado para compreender e até expandir o potencial simbólico de crianças com desenvolvimento severamente atrasado e repertório geral rudimentar. REFERÊNCIAS E LEITURAS COMPLEMENTARES Barros, R. S., Galvão, O. F., Brino, A. L. F., Goulart, P. R. K. e McIlvane, W. J. (2005). Variáveis de procedimento na pesquisa sobre classes de equivalência: contribuições para o estudo do comportamento simbólico. Revista Brasileira de Análise do Comportamento, 1, 1, 15-27. Catania, A.C.(1999). Aprendizagem: Comportamento, linguagem e cognição. Porto Alegre: Artmed. CAPÍTULO 9 Cumming, W. W. & Berryman, R. (1965). The complex discriminated operant: studies of mathing-to-sample and related problems. Em D.J. Mostofsky (Org.) Stimulus generalization (pp.284-330). Standford CA: Standford University Press. Hanna, E. S. ; Souza, D. G. ; de Rose, J. C. C. e Fonseca, M. L. (2004). Effects of delayed constructed-response identity matching on spelling of dictated words. Journal of Applied Behavior Analysis, 37, 2, 223-227. Sidman, M. & Tailby, W. (1982). Conditional discrimination vs. matching -to-sample: An expansion of testing paradigm. Journal of Experimental Analysis of Behavior, 37, 5-22. Sidman, M. (1971). Reading and auditory-visual equivalences. Journal of Speech and Hearing Research, 14, 5-13. Sidman, M. (1994). Equivalence relations and behavior: a research story. Boston: Authors Cooperative Publishers. Sidman, M.(1971). Reading and auditory-visual equivalence. Journal of Speech and Hearing Research, 14, 5-13. Souza, D. G. e Rose, J. C. C. . Desenvolvendo programas individualizados para o ensino de leitura e escrita (in press). Acta Comportamentalia.