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— É patente que suas parentes têm uma lamentável propensão para
atrair as indesejáveis atenções da Detestável Mãe Oceano — segredou ela
ao marido pouco depois de chegar. — Caso Ela pretenda apossar-se delas,
que o faça longe de onde meu filho estiver brincando.
A recém-enviuvada Sra. Dashwood sentiu tão agudamente esse compor-
tamento descortês que, à chegada da nora, teria deixado a casa para sempre —
se as súplicas da filha mais velha não a tivessem persuadido, primeiro, a refletir
sobre a adequação de partir e, depois, sobre a sandice de fazê-lo antes que um
navio armado pudesse ser montado para escoltá-las e protegê-las na viagem.
Elinor, essa filha mais velha, possuía uma capacidade de discernimen-
to que a qualificava, embora tivesse apenas 19 anos, para ser a conselheira
da mãe. Tinha um excelente coração, costas largas e vigorosas panturri-
lhas — e era admirada pelas irmãs e por todos que a conheciam por ser
uma magistral entalhadora de madeira de naufrágio lançada à praia. Elinor
era estudiosa, tendo intuído desde cedo que a sobrevivência dependia do
entendimento; passava noites em claro debruçada sobre vastos volumes,
memorizando as espécies e os gêneros de cada peixe e mamífero marinho,
decorando suas velocidades e seus pontos fracos, bem como quais possuíam
exosqueletos espinhosos, quais possuíam caninos e quais possuíam presas.
Os sentimentos de Elinor eram fortes, mas ela sabia como administrá-
-los. Esse era um conhecimento que sua mãe ainda estava por adquirir e
que uma de suas irmãs decidira jamais assimilar. As habilidades de Marianne
eram, sob muitos aspectos, equiparáveis às da irmã. Era uma nadadora qua-
se igualmente vigorosa, dona de notável capacidade pulmonar; era sensata
e inteligente, mas ansiosa em todos os assuntos. Suas dores, suas alegrias
não conheciam nenhuma moderação. Era generosa, amável, interessante;
era tudo, menos prudente. Falava suspirando das cruéis criaturas da água,
até mesmo daquela que tão recentemente investira contra seu pai, empres-
tando-lhes nomes arrebicados como “Nossos Pérfidos Atormentadores” ou
“Os Insondáveis”, e refletindo sobre seus terríveis e impenetráveis segredos.
Margaret, a irmã caçula, era uma menina bem-humorada e bondosa,
mas com uma propensão — mais condizente com sua tenra idade do que
com a delicada natureza de sua situação numa região litorânea — a sair
para dançar sob temporais e chapinhar na água suja. Vezes sem conta Elinor
tentava demovê-la desses entusiasmos pueris.