Profa. Ms. Karlliny Martins da Silva
cerebrais, por conseguinte, pode ser instigada ou reduzida por agentes químicos que atuem diretamente
ali.
Aprofundando sua tese acerca do papel do tônus, Wallon o utiliza como critério classificatório: identifica
emoções de natureza hipotônica, isto é, redutoras do tônus, tais como o susto e a depressão. Um medo
súbito é capaz de dar instantaneamente a um corpo humano a consistência de um boneco de trapos.
Outras emoções são hipertônicas, geradoras de tônus, tais como a cólera e a ansiedade, capazes de
tornar pétrea a musculatura periférica. A concentração, sem escoamento, do tônus, nestas últimas, é
percebida como extremamente penosa. Vem daí o caráter prazeiroso das situações afetivas onde se
estabelece um fluxo tônico, de tal sorte que ele se eleva e se escoa imediatamente em movimentos
expressivos: é o caso da alegria[...]
Características do comportamento emocional
Dos seus traços essenciais decorrem os efeitos que a caracterizam. Por exemplo, sua função basicamente
social explica o seu caráter contagioso, epidêmico.
Sendo estas seres essencialmente emotivos, e trazendo a sua emoção a tendência forte, porque
funcional, a se propagar, resulta daí que os adultos, no convívio com elas (as crianças), estão
permanentemente expostos ao contágio emocional.
A ansiedade infantil, por exemplo, pode produzir no adulto próximo também angústia, ou irritação. Resistir
a esta forte tendência implica conhecê-la, isto é, corticalizá-la, condição essencial para reverter o
processo.
A emoção traz consigo a tendência para reduzir a eficácia do funcionamento cognitivo; neste sentido, ela é
regressiva. Mas a qualidade final do comportamento do qual ela está na origem dependerá da capacidade
cortical para retomar o controle da situação.
O caráter altamente contagioso da emoção vem do fato de que ela é visível, abre-se para o exterior
através de modificações na mímica e na expressão facial. As manifestações mais ruidosas do início da
infância (choro, riso, bocejo, movimentos dos braços e das pernas) atenuam-se sem dúvida, porém a
atividade tônica persiste, permitindo ao observador sensibilizado captá-la. A
A longa fase emocional da infância tem sua correspondente na história da espécie; nas associações
humanas mais primitivas, o contágio afetivo supre, pela criação de um vínculo poderoso para a ação
comum, as insuficiências da técnica e dos instrumentos intelectuais.
Afetividade e inteligência
A afetividade, nesta perspectiva, não é apenas uma das dimensões da pessoa: ela é também uma fase do
desenvolvimento, a mais arcaica. O ser humano foi, logo que saiu da vida puramente orgânica, um ser
afetivo. Da afetividade diferenciou-se, lentamente, a vida racional.
A idéia de fases do desenvolvimento da inteligência é bastante familiar, bem menos comum é a noção de
etapas da afetividade, fora da psicanálise, onde ela se aplica a uma sexualidade que se desenvolve à
margem da racionalidade.
As formas adultas de afetividade, por esta razão, podem diferir enormemente das suas formas infantis. No
seu momento inicial, a afetividade reduz-se praticamente às suas manifestações somáticas, vale dizer, e
pura emoção. Até aí, as duas expressões são intercambiáveis: trata-se de uma afetividade somática,
epidérmica, onde as trocas afetivas dependem inteiramente da presença concreta dos parceiros. Depois
que a inteligência construiu a função simbólica, a comunicação se beneficia, alargando o seu raio de ação.
Ela incorpora a linguagem em sua dimensão semântica, primeiro oral, depois escrita.
Tudo o que foi afirmado a respeito da integração entre inteligência e afetividade pode ser transposto para
aquela que se realiza entre o objeto e o sujeito. Deve-se então concluir que a construção do sujeito e a do
objeto alimentam-se mutuamente, e mesmo afirmar que a elaboração do conhecimento depende da
construção do sujeito nos quadros do desenvolvimento humano concreto.
As etapas da construção do eu