É possível que ela sinta que vai morrer. Mas, ao final do canal apertado, a obstetrix a
acolhe, como se fosse a mãe... É ela, a parteira, a primeira experiência do mundo que a
criancinha tem, a Virgem bendita.
A vida começa com uma chegada. Termina com uma despedida. A chegada faz
parte da vida. A despedida faz parte da vida. Como o dia, que começa com a
madrugada e termina com o sol que se põe. A madrugada é alegre, luzes e cores
chegam. O sol que se põe é triste, orgasmo final de luzes e cores que se vão.
Madrugada e crepúsculo, alegria e tristeza, chegada e despedida: tudo é parte da vida,
tudo precisa ser cuidado. A gente prepara, com carinho e alegria, a chegada de quem a
gente ama. É preciso preparar também, com carinho e tristeza, a despedida de quem a
gente ama.
Os orientais sabem mais sobre isso do que nós. Sabem que os opostos não são
inimigos: são irmãos. Noite e dia, silêncio e musica, repouso e movimento, riso e
choro, calor e frio, sol e chuva, abraço e separação, chegada e partida: são os opostos
pulsantes que dão vida à vida. Vida e morte não são inimigas. São irmãs. Chegada e
despedida... Sem a frase que a encerra a canção não existiria. Sem a morte, a vida
também não existiria, pois a vida é, precisamente, uma permanente despedida...
A medicina criou a obstetrícia como uma especialidade cuja missão é “estar
diante”da vida que está chegando. Acho que ela, por amor aos homens, deveria
também criar uma especialidade simétrica à obstetrícia, cuja missão seria “estar
diante”daqueles que estão morrendo. A morte também está cheia de medos, de dor. A
morte também é um angustiante canal apertado e escuro. É solidão. O nenezinho, na
passagem escura e apertada, está totalmente sozinho e abandonado. Aquele que está