TRANSFORMAÇÕES NA CONFIGURAÇÃO DA EJA: JUVENILIZAÇÃO DO QUADRO DISCENTE PROF. DRA. ARIANE DOS REIS DUARTE
A EJA NA ATUALIDADE Conforme CENSO 2024: “O Censo Escolar mostra ainda que, na EJA, o país não apenas não avançou como ainda retrocedeu. Desde 2019, o Brasil perdeu quase 1 milhão de matrículas nessa etapa. De 3,2 milhões de jovens e adultos matriculados, houve queda para 2,3 milhões.” Possí veis causas do cenário: Aplicado pelo Inep, o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) é uma alternativa para a obtenção do certificado dos ensinos fundamental e médio. Escolas privadas e ofertas variadas: EaD, semipresencial, carga horária reduzida.
A JUVENILIZAÇÃO DA EJA A Educação de Jovens e Adultos (EJA) tradicionalmente atendia adultos com escolarização incompleta, mas hoje é marcada por um crescente número de jovens , muitos abaixo dos 18 anos. Esse processo é chamado de juvenilização da EJA e está associado a fatores como evasão escolar, trabalho precoce e vulnerabilidade social, tais como maternidade/paternidade precoce, dificuldades de adaptação ao ensino regular. Muitos retornam à EJA buscando certificação rápida para o mercado de trabalho, mas enfrentam conflitos de identidade (não se veem como "alunos tradicionais"). É necessário superar a visão homogênea do aluno da EJA , compreendendo-o como um sujeito sociocultural com trajetórias diversas.
JUVENTUDE COMO CATEGORIA SOCIAL Juventude: aspecto biológico x cultural. A juventude é uma construção histórica e social, influenciada por fatores como classe, gênero, território e acesso à educação . Crítica ao modelo clássico de transição para a vida adulta (escolarização → trabalho → família), que não se aplica a todos os jovens, especialmente os de classes populares. JUVENTUDE S
MORATÓRIA SOCIAL E DESIGUALDADES Jovens de classes média/alta prolongam estudos e dependência familiar. Jovens pobres têm sua juventude "abreviada" pelo trabalho precoce, maternidade/paternidade antecipada e exclusão escolar. Inclusão precária (Martins, 2003): Jovens periféricos acessam consumo e identidade juvenil de forma marginal (ex.: imitação de marcas, informalidade). https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2024/11/29/perseguicao-ao-baile-funk-ao-menos-16-pessoas-foram-mortas-e-6-adolescentes-perderam-a-visao-em-operacoes-pancadao-em-sp-diz-pesquisa.ghtml Para Erikson a moratória psicossocial , seria algo especifico da juventude, no seu entender, como um lapso de tempo em que o indivíduo poderia experimentar, ensaiar e errar, provando distintos papéis até que consolidasse sua própria personalidade
TRABALHO, ESCOLA E CULTURAS JUVENIS Trabalho é central na vida dos jovens da EJA, muitas vezes levando ao abandono escolar e depois ao retorno via EJA. Culturas juvenis (moda, música, tecnologia) são estratégias de pertencimento e resistência, mas a escola frequentemente as ignora.
IDENTIDADES E BIOGRAFIAS NÃO LINEARES Jovens da EJA vivem tempos fluidos (Pais, 1994): "Geração iô-iô": entram e saem da escola/trabalho. "Geração canguru": prolongam dependência familiar. Geração “nem-nem”: experiências múltiplas com trabalho e estudos. Escola tradicional não dialoga com essas trajetórias, gerando resistência e evasão e reprodução de discursos generalizantes e estereótipos.
DESAFIOS PARA A EJA Como atender jovens e adultos na mesma sala? Jovens buscam certificação rápida para o mercado. Jovens buscam um ensino dinâmico e conectado com suas realidades. Adultos podem se sentir deslocados em turmas majoritariamente juvenis. Dificuldade da escola em lidar com culturas juvenis : A EJA muitas vezes mantém um modelo tradicional, ignorando as demandas por práticas pedagógicas mais flexíveis e significativas .
CONCLUSÕES POSSÍVEIS: REPENSAR A EJA A juvenilização exige: Currículos adaptados às trajetórias não lineares dos jovens. Diálogo com as culturas juvenis (música, tecnologia, linguagem). Políticas públicas integradas que combatam a evasão e garantam permanência. A escola precisa: Reconhecer as culturas juvenis como parte do processo educativo. Repensar currículos e metodologias para trajetórias não lineares . Articular políticas públicas que combatam a exclusão estrutural.
CONCLUSÕES POSSÍVEIS: REPENSAR A EJA A EJA deve olhar o jovem como sujeito de direitos , não como "problema social". É urgente dialogar com as juventudes reais , considerando suas demandas por trabalho, cultura e educação significativa. A EJA não pode ser vista apenas como "compensatória", mas como um espaço de reinvenção educativa para jovens e adultos.
PARA SEGUIR PENSANDO A EJA não é só compensação; é reinvenção. Seus jovens não são fracassados, mas sobreviventes de um sistema que os excluiu. Cabe à escola (e à sociedade) escutá-los.