17/03/2023, 14:59 Avaliação em fisioterapia neurofuncional
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DIAGNÓSTICO FISIOTERAPÊUTICO NEUROFUNCIONAL NAS LESÕES MEDULARES
O raciocínio para a elaboração do diagnóstico fisioterapêutico nesse grupo de pacientes segue o mesmo já descrito,
porém, apresenta nomenclaturas diferentes e algumas particularidades importantes de serem observadas e
discutidas.
Vamos relembrar também alguns pontos anatômicos importantes sobre a medula espinhal, que é uma
estrutura cilindriforme, localizada no canal vertebral, fazendo parte do sistema nervoso central. Ela
é uma continuação do bulbo, uma estrutura que compõe o tronco encefálico, e sua porção terminal,
no adulto, está no nível da primeira ou segunda vértebra lombar. Ela é responsável pela transmissão
de informação provenientes das áreas centrais para a periferia (informações motoras) e da periferia
para as áreas centrais (informações sensoriais).
Medula espinhal.
Sendo assim, fica fácil compreender que, após um dano nessa estrutura, o paciente, provavelmente, apresentará
distúrbios motores e sensitivos, entre outros, tais como os relacionados ao sistema nervoso autônomo, que possui
seus centros na medula espinhal.
O que diferencia no diagnóstico nesses pacientes é o tipo de lesão (completa ou incompleta) e o nível
neurológico, ou nível da lesão, que apresenta grande impacto no processo de reabilitação e será discutido a
seguir.
De maneira geral, a nomenclatura correta para classificar o paciente que sofreu uma lesão na medula espinhal é a
tetraplegia, ou tetraparesia, quando a lesão comprometeu qualquer nível do segmento cervical, e a paraplegia
ou paraparesia, quando a lesão atingiu os segmentos torácicos, lombares ou sacrais. Porém, apenas essa
informação não é suficiente para o fisioterapeuta, necessitando de diagnóstico mais elaborado. A definição da
tetraplegia/paresia ou da paraplegia/paresia leva em conta o grau de movimentação do paciente, e isso é realizado
a partir do exame de motricidade. Mas devemos lembrar que os segmentos medulares (cervical, torácico, lombar
e sacral) apresentam níveis, e é essa observação que faz com que o diagnóstico fisioterápico seja mais detalhado.
Exemplo: Um paciente que apresente uma tetraplegia com nível motor C2 é totalmente diferente de um paciente
que apresente também uma tetraplegia com nível motor C7. E a mesma definição vale para os demais segmentos.
Existem músculos-chaves já definidos, que representam os respectivos segmentos medulares e, durante a avaliação
de força muscular, o profissional gradua a força desses músculos por meio da escala MRC (conforme visto no
módulo 1). Uma graduação de, no mínimo, 3 é classificada como o segmento preservado, expressando, assim, o
nível motor do paciente.
Exemplo: A musculatura flexora de cotovelo representa o segmento medular cervical C5; os extensores de punho,
o segmento C6; e os extensores de cotovelo o segmento C7. Sendo assim, se um paciente apresentar graduação
de força, segundo a escala MRC de 3 na avaliação do grupo que representa o nível C6 e a graduação de 0 no grupo
que representa o nível C7, ele será classificado como um paciente tetraplégico com nível motor C6. A mesma
interpretação vale para o membro inferior. Por exemplo, os flexores de quadril representam o nível medular L2,
os extensores de joelho o nível L3 e os dorsiflexores o nível L4 e, se o último grupo muscular íntegro, ou seja,
com graduação de no mínimo 3 na escala MRC, forem os extensores de joelho, ele será classificado como um
paciente paraplégico de nível motor L3.
Também vale chamar a atenção que o nível neurológico do paciente com lesão medular, além de levar em conta o
nível motor, também envolve o nível sensitivo, que, na maioria dos casos, é o mesmo. A avaliação sensorial nessa
população deve ser realizada por meio dos dermátomos, que, conforme já estudado
no primeiro módulo, aponta em qual segmento medular ocorre o comprometimento
sensitivo (CARR; SHEPHERD, 2008).
O fisioterapeuta é o profissional que apresenta o conhecimento de toda a
musculatura íntegra, ou seja, preservada, e de todas as capacidades e as
potencialidades ligadas à independência funcional que o paciente apresenta após
uma lesão medular, de acordo com cada um dos níveis medulares (cervicais,
torácicos, lombares e sacral). Portanto, a partir do diagnóstico fisioterápico bem
estabelecido, o planejamento acerca das estratégias de tratamento será mais bem
elaborado e desenvolvido.