5 revista o voo da gralha azul numero 5 julho agosto 2010

gralhazul 2,188 views 131 slides Jun 02, 2011
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Slide Content

 
Revista Literária  
“O Voo da Gralha Azul” 
    
nnnn
0000. 5 . 5 . 5 . 5 –––– Paraná, julho/agosto 2010 Paraná, julho/agosto 2010 Paraná, julho/agosto 2010 Paraná, julho/agosto 2010    

 
Idealização, seleção e edição: 
 José Feldman 
 
Contatos, sugestões, colaborações: 
[email protected]
http://singrandohorizontes.blogsp
ot.com
Endereço para correspondencia:
Caixa Postal 11
Cep.85440-000
Ubiratã/PR



 
Que a humanidade possa aprender com a nossa Gralha-azul e entender que o 
equilíbrio e o respeito ecológico entre fauna e flora é fundamental para a existência 
do Homem na face da Terra!!! 

 
 
 
Prezado LeitorPrezado LeitorPrezado LeitorPrezado Leitor    
 
      Esta  revista  não  tem  a  pretensão  e  nunca  poderá  ser  considerada  como  substituição  aos  livros, 
jornais, colunas, etc. que circulam virtualmente ou não, mas sim como mola propulsora de incentivo ao 
cidadão para buscar novos conhecimentos, ou relembrar aqueles perdidos na névoa do passado.  
     Por que o Voo da Gralha Azul? A Gralha Azul, que assim como semeia o pinheiro, ela alça voo e semeia 
no coração de cada um que alcançar, o pinhão da cultura, em todas as suas manifestações. 
     Ao leitor, novos conhecimentos.  
Ao escritor ou aspirante a tal, sejam poetas, trovadores, romancistas, dramaturgos, compositores, etc., 
um caminho de conhecimento e inspiração. 
                              Obrigado por me permitir dividir consigo estes breves momentos, 
José Feldman 

SUMÁRIO
ACADEMIAS 
Academia Maranhense de Letras .............77 
 
ANÁLISE DE OBRAS 
Mary ShelleyMary ShelleyMary ShelleyMary Shelley    
Frankestein ...............................................51 
Rinaldo de Fernandes Rinaldo de Fernandes Rinaldo de Fernandes Rinaldo de Fernandes  
O Perfume de Roberta ...............................19   
 
BIOGRAFIAS 
Amadeu Amaral ........................................47 
Ângela Bretas  ...........................................18 
Antonio Augusto de Assis..........................69 
Antonio Carlos Villaça ..............................38 
Antonio Prata  ...........................................50 
Antônio Torres...........................................64 
Apollo Taborda França.............................. 4 
Augusto Monterroso ..................................36 
Bisa Maith  ................................................24 
Danilo Corci...............................................89 
Deonísio da Silva .......................................85 
Geary Hobson ............................................68 
Ialmar Pio Schneider ................................60 
Ivanir Calado.............................................112 
Jeanette Monteiro de Cnop .......................76 
Marina Colasanti.......................................16 
Mary Shelley .............................................55 
Rabindranath Tagore ................................98 
Rachel Jardim............................................10 
Rinaldo de Fernandes................................21 
Risoleta Pinto Pedro..................................7 
Rubem Braga.............................................86 
Silviah Carvalho .......................................41 
Sylvio von Söhsten Gama..........................101 
 
CONCURSOS COM INSCRIÇÕES ABERTAS 
Concurso de Crônicas - Academia Pedralva de 
Letras e Artes ............................................122 
Concurso Nacional Intersedes ..................121 
3º Concurso Cidade de Gravatal de Literatura 
(Conto e Poesia)  ........................................122 
7
o
 Concurso Rogério Salgado de Poesia ....123 
II Concurso de Trovas Poeta Antônio Roberto 
Fernandes  –  Academia  Pedralva  Letras  e 
Artes ..........................................................122 
V  Concurso  Literário  “Cidade  de  Maringá” 
...................................................................121 
XVII Prêmio Cidade de Conselheiro Lafaiete
................................................................... 118 
XXIV  Jogos  Florais  de  Ribeirão  Preto  e  XII 
Jogos Florais Estudantis de Ribeirão Preto – 
2011........................................................... 124 
XXX  Concurso  Estadual/Nacional  e  I 
Concurso Interno de Trovas da Academia de 
Trovas do Rio Grande do Norte – Natal/2010
................................................................... 118 
 
ENTREVISTA 
Antonio Augusto de AssisAntonio Augusto de AssisAntonio Augusto de AssisAntonio Augusto de Assis 
O Escritor em Xeque..................................................69 
 
ESTANTE DE  LIVROS 
Ivanir Calado A Caverna dos Titãs .......... 111 
Mundo de Sombras: O Nascimento do 
Vampiro 
Rachel de Queirós (O Quinze) .................. 114 
Raul Pompéia (Tragédia No Amazonas) .. 112 
Raul Pompéia (As Jóias da Coroa) ........... 113 
 
FOLCLORE 
Folclore IndígenaFolclore IndígenaFolclore IndígenaFolclore Indígena    
Lenda Tolteca (Quetzalcoatl).................... 72 
Lenda dos Índios Sioux (O Falcão e A Águia)
................................................................... 73 
Folclore ParanaenseFolclore ParanaenseFolclore ParanaenseFolclore Paranaense    
ALMIRANTE TAMANDARÉ  
O fantasma das águas do Val Verde......... 89 
ALTAMIRA DO PARANÁ 
A noiva  ..................................................... 90 
ANTONINA 
Escravos da igreja de São Benedito ......... 90 
ANTONIO OLINTO 
Visagens .................................................... 90 
ARAPOTI 
O pinheiro da noiva................................... 90 
BOA ESPERANÇA 
Uma tal confusão ...................................... 90 
CALIFÓRNIA 
Cecília, a deusa da estrada....................... 91 
COLOMBO 
Lenda do Bradador ................................... 91 
CURITIBA 
A loira fantasma ....................................... 91 
O fantasma da grávida da Praça da Ucrânia
................................................................... 92 
FRANCISCO BELTRÃO 

Campo mal-assombrado ............................93 
GENERAL CARNEIRO 
Poço da visagem.........................................93 
IPIRANGA 
A noiva que ia se casar..............................93 
IRATI 
O garupeiro................................................93 
IVATÉ 
A bola de fogo.............................................93 
JAGUARIAÍVA 
Assombração da antiga Serrinha  .............94 
MATINHOS 
O carona da bicicleta .................................94 
MORRETES 
Fantasma do Central.................................95 
SÃO JOSÉ DOS PINHAIS 
O velório da virgem noiva .........................95 
TUNAS DO PARANÁ 
A caverna do jesuíta ..................................95 
 
HAICAIS 
Sylvio von Söhsten GamaSylvio von Söhsten GamaSylvio von Söhsten GamaSylvio von Söhsten Gama 
Água...........................................................100 
Caminhar...................................................100 
Corpo Celeste.............................................100 
Despedida ..................................................100 
Dúvida .......................................................100 
Espaço........................................................100 
Falar ..........................................................100 
Fim.............................................................100 
Flores .........................................................100 
As Formigas...............................................100 
Longe .........................................................100 
Pescar.........................................................100 
Sabedoria...................................................100 
Saudade .....................................................100 
A Sombra ...................................................101 
Tempos.......................................................101 
 
NOTÍCIAS 
Andrey do Amaral  – Livro com “QI” ........117 
Diretoria da UBT Estadual do Paraná  2009-
2010............................................................116 
Dinair Leite, de Paranavaí, PR, nomeada 
Presidente Nacional da União 
Hispanoamericana de Escritores – UHE ..115 
 
O ESCRITOR COM A PALAVRA 
Antonio Carlos Villaça Antonio Carlos Villaça Antonio Carlos Villaça Antonio Carlos Villaça     
Quando eu Chegar ao Céu….....................38 
Antonio PrataAntonio PrataAntonio PrataAntonio Prata 
Pra Lua...................................................... 48 
Antônio TorresAntônio TorresAntônio TorresAntônio Torres 
Por um Pé de Feijão .................................. 63 
Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola 
O Pródigo do Jardim ................................. 26 
Átila José Borges Átila José Borges Átila José Borges Átila José Borges     
O Pinheiro, O Casebre. O Quadro ............ 102 
Augusto Monterroso Augusto Monterroso Augusto Monterroso Augusto Monterroso     
O Macaco que quis ser Escritor Satírico... 36 
Bisa Maith Bisa Maith Bisa Maith Bisa Maith  
Sogra e Sogra  ........................................... 22 
Marina ColasantiMarina ColasantiMarina ColasantiMarina Colasanti 
Como é mesmo o nome? ............................ 15 
Olga AgulhonOlga AgulhonOlga AgulhonOlga Agulhon 
Sobre os Trilhos......................................... 74 
Rabindranath Tagore Rabindranath Tagore Rabindranath Tagore Rabindranath Tagore     
Nas Margens do Ganges ........................... 95 
Rachel JarRachel JarRachel JarRachel Jardimdimdimdim 
A Viagem de Trem .................................... 9 
Risoleta Pinto PedroRisoleta Pinto PedroRisoleta Pinto PedroRisoleta Pinto Pedro    
O Caderno ................................................. 4 
Rubem Braga Rubem Braga Rubem Braga Rubem Braga     
A Viajante ................................................. 85 
Vicencia Jaguaribe Vicencia Jaguaribe Vicencia Jaguaribe Vicencia Jaguaribe     
Sem Necessidade de Explicação ...............  1 
 
POESIAS 
Alba Albarello Alba Albarello Alba Albarello Alba Albarello  
É tempo de vencer..................................... 11 
Ângela BretasÂngela BretasÂngela BretasÂngela Bretas    
Mulher Abstrata ....................................... 17 
Carmo VasconcelosCarmo VasconcelosCarmo VasconcelosCarmo Vasconcelos    
Poetas?... ................................................... 38 
Dinair LDinair LDinair LDinair Leiteeiteeiteeite    
Ode ao CUPHI! ......................................... 115 
Eugênio de SáEugênio de SáEugênio de SáEugênio de Sá    
Fernando Pessoa ...................................... 37 
Gislaine Canales Gislaine Canales Gislaine Canales Gislaine Canales     
Liberdade .................................................. 11 
Jeanette Monteiro de CnoJeanette Monteiro de CnoJeanette Monteiro de CnoJeanette Monteiro de Cnopppp    
Dualidades  ............................................... 75 
Duas Crianças .......................................... 76 
Lígia Antunes Leivas Lígia Antunes Leivas Lígia Antunes Leivas Lígia Antunes Leivas  
Os beijos que não esqueci..........................12 
Luiz Eduardo Caminha Luiz Eduardo Caminha Luiz Eduardo Caminha Luiz Eduardo Caminha     
Contrastes ................................................. 12 
Maria Nascimento SantoMaria Nascimento SantoMaria Nascimento SantoMaria Nascimento Santos Carvalho s Carvalho s Carvalho s Carvalho     
Excesso de amor........................................ 12 
Marisa Cajado Marisa Cajado Marisa Cajado Marisa Cajado     
Sou a Música............................................. 13 
Paulo Jorge Brito e Abreu Paulo Jorge Brito e Abreu Paulo Jorge Brito e Abreu Paulo Jorge Brito e Abreu     
Fernando Pessoa, para sempre ................ 37 

Silviah CSilviah CSilviah CSilviah Carvalhoarvalhoarvalhoarvalho    
O Poeta  .....................................................39 
O Coração Que Ama  .................................40 
O Dia Perfeito ...........................................40 
Perdão .......................................................41 
Tchello d'Barros Tchello d'Barros Tchello d'Barros Tchello d'Barros     
A Flor da Pele ............................................13 
SOPA DE LETRAS 
AlAlAlAlberto Filhoberto Filhoberto Filhoberto Filho    
Uma Atividade Mágica para Cultivar o 
Hábito da Leitura ......................................25 
Amadeu AmaralAmadeu AmaralAmadeu AmaralAmadeu Amaral......................................... 
Novela e Conto: Psicologia do Boato - Prefácio 
de Franco da Rocha ...................................43 
Danilo Corci Danilo Corci Danilo Corci Danilo Corci  
O Romance Moderno .................................88 
Deonísio da Silva Deonísio da Silva Deonísio da Silva Deonísio da Silva  
De Onde vêm as palavras..........................81 
Dicas de Trabalhos EsDicas de Trabalhos EsDicas de Trabalhos EsDicas de Trabalhos Escolares colares colares colares     
Artigo Científico  .......................................32 
Monografia ................................................32 
Dissertação  ...............................................33 
Escolha do Tema .......................................34 
O Orientador .............................................34 
Projeto de Pesquisa ...................................35 
Geary Hobson Geary Hobson Geary Hobson Geary Hobson  
A Literatura Nativa Norte-Americana: 
recordações e renovação............................64 
Luiz Otávio Luiz Otávio Luiz Otávio Luiz Otávio  
Jogos Florais de Corumbá......................... 30 
 
TEATRO DE ONTEM E DE SEMPRE 
A Dama das Camélias............................... 60 
Pequenos Burgueses .................................61 
Pluft, o Fantasminha................................ 62 
 
TROVAS 
Apollo Taborda FrançaApollo Taborda FrançaApollo Taborda FrançaApollo Taborda França    
O Nosso Alfabeto em Trovas..................... 2 
42 Anos dos I Jogos Florais de Corumbá42 Anos dos I Jogos Florais de Corumbá42 Anos dos I Jogos Florais de Corumbá42 Anos dos I Jogos Florais de Corumbá.. 27 
IaIaIaIallllmmmmar Pio Schneiderar Pio Schneiderar Pio Schneiderar Pio Schneider    
Menestrel do Sul ....................................... 57 
Jeanette Monteiro de Cnop  Jeanette Monteiro de Cnop  Jeanette Monteiro de Cnop  Jeanette Monteiro de Cnop      
4 Trovas..................................................... 76 
 
INDICAÇÃO DE SITES DE LITERATURA  
Academia Brasileira de Letras ................. 126 
Jornal de Poesia 
(Soares Feitosa)............... 125 
Por Tras das Letras 
(Hélio Consolaro)........ 125 
Um Coração que Ama 
(Silviah Carvalho)... 125 
Portal Vânia Diniz .................................... 126 

1

A menina era filha única. De pele muito
clara, cabelos louros e olhos azuis, dava a
impressão de diafaneidade. Parecia que, a
qualquer momento, desafiaria as leis da
natureza, criaria asas e sairia voando. Para
completar a impressão de que, na realidade,
ela não pertencia ao triste mundo material,
comunicava-se com alguém completamente
invisível a olhos que não os seus. Vez ou outra,
dirigia o olhar para o lado e sorria. Às vezes,
balançava a cabeça, como se confirmasse ou
negasse alguma coisa. Em outras ocasiões,
abria um livro e passava as folhas, como se
estivesse mostrando as gravuras a alguém.
Quando começou a ler – e lia bem com quatro
anos –, fazia-o sempre em voz alta, ou melhor,
em meio tom, como se alguém a estivesse
escutando.
No início, os pais achavam aquilo
engraçado, mas, com o tempo, começaram a
preocupar-se, pois sentiam como se uma
presença acompanhasse a filha todo o tempo.
Levaram a menina a uma psicóloga, que teve
com ela algumas sessões e concluiu não haver
nada para gerar preocupação. A menina era
filha única, vivia só, por isso criara uma amiga
imaginária. Quando ampliasse seu círculo de
amizades, aquilo acabaria.
A amiga imaginária, no entanto, não
atrapalhava as relações da menina com as
outras crianças. Ela ia à casa das amigas,
convidava-as a irem à sua casa. Quando os pais
a levavam ao shopping, ao cinema, ao parque,
sempre pedia a companhia de uma criança.
Fazia amigos com facilidade. Mas, quando não
havia ninguém por perto, agia como se
estivesse acompanhada por alguém que só ela
via.
Para a menina, aquela presença era algo
natural. Desde que se entendera por gente,
tinha a sensação de que havia alguém ao seu
lado. Na verdade, era algo mais do que uma
sensação; mas não chegava a ser uma presença
física. Às vezes, ela pensava entrever um vulto
sem feições. Uma silhueta diáfana, que lhe
dava, no entanto, a impressão de que ouvia o
que ela dizia, via o que ela lhe mostrava, mas,
principalmente, entendia o que ela sentia e
como que lia seus pensamentos. Nos últimos
tempos, aquela presença vinha-lhe
antecipando acontecimentos, prevenindo-a dos
perigos, protegendo-a, enfim.
Quando se aproximou o dia dos seus
sete anos, e os pais lhe disseram que iam
preparar uma festinha, ela não quis. Como os
pais insistissem, ela disse que o dia de seu
aniversário seria muito triste.
- Mas triste por que, minha filha?
- Não sei. Ela não me disse.
- Ela? Ela quem?
- Ela, a minha amiga.

No dia do aniversário da menina,
chegou a notícia de que sua avó paterna tivera
um enfarto e passava mal.
Os pais pensaram em coincidência. Mas,
com a repetição de episódios como aquele,
começaram a desconfiar de que a filha tinha o
dom da premonição. E que aquela amiga
imaginária não era mais do que a manifestação
desse dom. E guardaram isso como um segredo
de estado. Nem mesmo os familiares tomaram
conhecimento do fato.
O dia amanhecera quente. E era
domingo. Os pais resolveram ir à praia para
escapar da sensação de sufocamento que
oprimia os bairros distantes do mar. Quando a
mãe tirou a entrada de banho e ficou só de
biquíni, a menina fez um carinho em sua
barriga:
- Meu irmão já tá aí dentro.
- Que história é essa, filha? Você sabe
que eu não posso lhe dar um irmão.
- Eu sei, mas ele já tá aí.
- Foi sua amiga que lhe disse isso?
- Foi. E ela disse também que ele vai

2
salvar a minha vida.

A mãe esboçou um sorriso e disse que
bom que ele vai salvar sua vida! E ficou
observando a filha, que abria um buraco na
areia molhada e, vez por outra, ria e balançava
a cabeça, como se ouvisse alguém lhe falar.
Uma semana depois, a menina começou
a apresentar manchas no corpo e a queixar-se
de fraqueza. Os exames confirmaram o
prognóstico do médico – leucemia. Única
possibilidade de cura: transplante de medula.
Mas, como ela não tinha irmão, era quase
impossível encontrar um doador compatível.
Os pais entraram em desespero. A mãe
chorava com frequência, mesmo na frente da
filha, que, um dia, sem mesmo desviar a
atenção do quebra-cabeça que montava em
cima da cama, encorajou-a:
- Não chore, mamãe, você não sabe que
meu irmão vai me ajudar a ficar boa!?

A mãe, então, lembrou-se do que a
menina dissera na praia, há mais ou menos um
mês. Ela não dera atenção àquela história e
nem mesmo a contara ao marido. Como podia
dar ouvidos à filha, se ela sabia que não podia
engravidar uma segunda vez? De repente, veio-
lhe à mente que já fazia quase dois meses que
não menstruava. Como, porém, suas regras
sempre foram irregulares, não dera atenção ao
fato. Mas, a partir daquele instante, para não
perder as esperanças, agarrou-se à
possibilidade de estar grávida. Na mesma hora,
pegou o telefone e marcou consulta com o
ginecologista. O exame clínico, confirmado
depois pelo exame laboratorial, disse-lhe que
ela, realmente, estava gerando um filho. O
médico, meio atrapalhado, tentou uma
explicação para o que chamou de fenômeno.
Mas ela não precisava de explicação. Aliás, não
queria explicação. O importante era que a filha,
agora, tinha uma chance.
No dia em que voltou do hospital, com o
bebê nos braços, viu a filha abrir a porta da rua,
dizer adeus e soprar um beijo para alguém,
exatamente como fazia quando se despedia
dela na porta do colégio.
- De quem você está se despedindo,
filha?
- Da amiga. Ela foi embora.
- Foi embora!? Por quê?
- Ela disse que agora, com a chegada do
meu irmão, eu não precisava mais dela.

Sem demonstrar tristeza, ou qualquer
outro sentimento, como se nada tivesse
acontecido, a menina abriu o livro de contos de
fadas cuja leitura interrompera. Deitou-se no
sofá e retomou a história do ponto em que a
deixara. Aquele foi o último dia em que ela se
referiu à amiga imaginária.

Fonte:
Colaboração da Autora

A na ordem é a primeira
Do ALFABETO, original;
Tem presença costumeira,
Vai num texto sem igual.

B se mostra importante,
Dentre as letras principais;
BRASIL a leva confiante,
É o país dos mananciais.

C tem ritmo completo,
Colorindo o seu CÉU;
Se sublima, som dileto,
Vale mais do que um troféu.

D é letra favorita,
DECISIVA e dá apogeu;
Valoriza toda escrita,

3
Replicando: estou no meu.

E é letra da ESPERANÇA,
Enriquece o fraseado;
E o sentido, de antemão,
Fica firme e bem postado.

F é uma letra mágica,
Que impressiona de saída;
FORTALECE a trova sáfica
E as demais, a toda brida.

G está em geralmente,
Tem GRANDEZA, é muito usada;
É importante integralmente
Sua presença numa toada.

H mostra ter talento,
Vem no nome de HEITOR;
O seu som é de acalento,
Sustentando o seu valor.

I é aquela letra base,
Que INSPIRA muito afeto;
Se impõe em qualquer frase,
É destaque no alfabeto.

J brilha em toda linha,
Joga o JOGO na jogada,
Tem sua verve, sempre tinha,
No alfabeto é a bem bolada.

K é letra motivada
É de uso bem correto;
Em KARDEC é badalada,
Mas sacaram do alfabeto.

L vai em LIBERDADE,
É o que todo mundo quer;
Sendo letra sem vaidade,
O servir é seu mister.

M tem a sua marca,
De letra sublimação;
Em MARIA bem abarca
O sentido da oração.

N nunca desfalece,
Lembrando a NATIVIDADE,
Calorosa como a prece,
É uma letra de verdade.

O é letra sintonia,
OPULENTA como o Sol;
Muito pura, sem mania,
Se repete em rouxinol.

P dispensa comentário,
Letra forte do PERDÃO;
Se mantém no itinerário
Do alfabeto, é bridão.

Q garante o rijo som,
É QUERIDA em qualquer texto,
Na poesia dá seu tom,
Na palavra é cabresto.

R é letra principal,
Ao ROSÁRIO dá estesia;
Tem um som monumental,
Flui no texto e na poesia.

S é um tanto sibilante,
SILVA a torto e a direito;
Mas, mantem-se firme e estuante:
É uma letra de respeito.

T é uma letra ponderável.
Que TEMPERA nossa língua;
Seu emprego é inumerável
E o pensar não fica à míngua.

U vogal maravilhosa
É de UNIÃO e de argumento;
Se diz muito caudalosa,
Na palavra é um sustento.

V tem som inimitável,
Ajuda muito no verso;
Em VITÓRIA é bem notável
Nos idiomas do universo.

W tem a sua saga,
É rejeitada por muitos;
Em WESTPHALEN afaga,
Da tradição, os seus mitos.

X é a base do problema

4
No mundo da Matemática;
Em XANGÔ é um emblema
De influência carismática.

Y era antiga
Letra assim convencional;
Na YOGA é muito amiga,
Com seu talhe bem sensual.

Z é a letra derradeira,
De nosso falar gentil;
ZODIACAL, é uma bandeira
No idioma do Brasil!...

APOLLO TABORDA FRANÇA
Apollo Taborda França, nasceu em
Curitiba, capital do estado do Paraná.
Filho de Heitor Stockler de França e
Brasília Taborda Ribas de França. Fez cursos
primário e ginasial no Instituto Santa Maria, dos
Irmãos Maristas. Posteriormente em Direito
pela Universidade Federal do Paraná, em
Jornalismo pela Universidade Católica (hoje
PUCPR), ainda em Curso Técnico de Construção
de Máquinas e Motores, pela Escola Técnica
Federal do Paraná que agora está transformada
em Universidade; e se formou em Ciências
Econômicas.
Possui 17 livros publicados, em prosa e
em verso. Inclusive cinco de Trovas. Passou a
fazer versos naturalmente, talvez por influência
sangüínea, uma vez que seu pai Heitor Stockler
de França era escritor, poeta, jornalista e
advogado e seus irmão também fazem poesias
e trovas. Suas composições literárias foram
publicadas em jornais, especialmente em livros
e coletâneas impressas em São Paulo e Rio de
Janeiro, etc.

– Cadeira n.36 da Academia Paranaense de
Letras
– Cadeira n.38 da Academia de Letras José de
Alencar
– Membro do Centro de Letras do Paraná
– Membro do Círculo de Estudos Bandeirantes
– Presidente da UBT/Curitiba 1984/86 e
1990/92.
– Membro do Instituto Histórico, Geográfico e
Etnográfico Paranaense

Publicações:
– Poesia (em colaboração)
– Sinfonia da Rua 15
– A lua escorregou pela parede
– Festa de amores– O nosso alfabeto
– Praças de Curitiba
– Constelação dos bairros de Curitiba
– Os nossos pés de todos os dias
– MPPr – Movimento Poético Paranaense
– Poesia do Paraná

Fontes:
– Antologia dos Acadêmicos: edição comemorativa dos
60 anosda Academia de Letras José de Alencar. São
Paulo: Scortecci, 2001.
– Apollo Taborda França. O Nosso Alfabeto. Curitiba:
Gráfica Vitória, 1982.
– Carlos Leite Ribeiro. Portal CEN.
– Vasco José Taborda e Orlando Woczikosky
(organizadores). Antologia de Trovadores do Paraná.
Curitiba: O Formigueiro – Instituto Assistencial de
Autores do Paraná, 1984.
(Este texto/reflexão deriva de uma
comunicação/aula/conversa/conferência para
alunos de uma escola de medicina holística no
passado ano letivo)

Com o caderno cada
Aluno aprende

Enquanto
Recebe
Na medida
Ótima. Oculta.

5

Do dicionário: na entrada: “Caderno”, a
etimologia aparece como remontando ao latim
“quaternus”, que significa “de quatro em
quatro”. Quádruplos, constante de quatro
elementos, porque eram as partes em que se
dobrava um “folio” (folhas de impressão com
quatro páginas impressas).
O que faz todo o sentido. O quatro é o
número da estabilidade e da matéria. O
caderno é a matéria na qual nós podemos
construir / observar o nosso mapa / processo /
estrada. É ele, bem enquadrado no solo, que
vai permitir-nos voar. Sem esse solo,
poderemos elevar-nos ao sol, mas em breve
estaremos no solo. Bem estatelados. Não
quadrados, mas esborrachados.
Na música, o compasso quatro por
quatro é de uma grande regularidade e
equilíbrio. Curiosamente, ou não, também se
representa por um “C”.
Enfim, podemos ficar por aqui no que
toca a especulações, embora fosse possível
continuar assim durante umas horas…
Qual é afinal, a idéia, com esta
conversa?
- Não vou dizer como se deve fazer um
caderno
- Não vou dizer como se faz um caderno
- Pensei não dizer, tão pouco, como não
se faz, porque isso seria dizer como eu faço;
mas depois, pensando melhor, decidi fazê-lo,
porque pelo menos sempre se fica a saber
como é que não se faz, o que é útil, porque
pode sempre aparecer quem queira fazer
assim, o que também é bastante legítimo… Mas
fica adiado mais para a frente…
- O que não vou certamente dizer é
como é que acho que se deveria fazer. Primeiro
porque não acho nada, segundo porque não
sei, terceiro porque não devo.

PORQUE:

- Não está no meu feitio dizer às pessoas
como devem fazer as coisas
- Ainda que estivesse no meu feitio, não
sei dizer como se deve fazer uma coisa destas.
- Ainda que fosse possível dizer uma
coisa destas, não o faria, porque o caderno
representa acima de tudo uma emocionante
DESCOBERTA PESSOAL

O QUE POSSO DIZER:

- Como já fiz…
- Como fui fazendo…
- Como venho fazendo…
- Como gostaria de conseguir fazer…
- Como fazem algumas pessoas que
conheço…
Um caderno é como o ADN, como a voz,
como as impressões digitais: não existem dois
iguais. Se houver, ou um deles está a mentir, ou
talvez estejam os dois.
Então, a idéia, é o caderno ser o mais
parecido possível com aquele/aquela que eu
sou, com a verdade deste meu momento. Mas
isso vai mudando, e assim, o caderno irá,
certamente registrar uma sucessão de
verdades, ele irá ser diferente ao longo do
tempo. Se assim não for, é mentira.

DIÁRIO DA LUZ E DA PELE

Foi um caderno que os meus alunos
fizeram.
Pensei falar sobre isto porque talvez
abra horizontes relativamente ao caderno.
Texto - próprio ou alheio
Escolha da cor que vai acompanhar este
processo (uma cor em todos os cambiantes,
modulações e tons possíveis) - O tema, que
apenas excepcional e justificadamente poderia
ser alterado durante o processo.
Forma, matéria objetos, texturas,
fotografia, desenho, colagem, pedaços de
coisas, da natureza, ou não (dar exemplos:
pacotes de açúcar, flores, sementes, incensos,
fechos eclair, etc.), sempre na cor escolhida.
- O nome pode ser importante; neste
caso ele foi dado por mim e era imutável,
porque os ajudava a orientarem-se, era a sua
bússola.
- Mas dar um nome ao caderno pode ser
uma forma de tomar consciência do processo.
Seria interessante que houvesse espaço para ir
rebatizando o caderno. No final, uma análise

6
dos vários nomes que o caderno foi tendo,
pode ser um indicador interessante de muita
coisa e pode ensinar muito.

- Em que consistia este caderno:
Alunos de uma escola de ensino artístico
(artes plásticas) na disciplina de Português.

- O que se pretendia:
Basicamente, o mesmo que em relação
a todos nós: que os alunos tomassem
consciência do seu crescimento. Crescer, se
cresce sempre, mas às vezes não se dá por isso
e portanto cresce-se menos. Se crescer com um
irmão gêmeo, que neste caso é o caderno,
sabemos do nosso crescimento através do
nosso irmão. Que é a imagem. O caderno é um
espelho. E eu posso intervir em mim através do
caderno, intervindo nele, porque o espelho
funciona nos dois sentidos.

- Para que servia o nome, que também
era um tema:
Para não se perderem, para terem um
fio condutor
Todos têm um fio condutor, podem é
não saber disso, mas se formos ver bem, não
anda muito distante da luz e da pele. Se calhar,
a pele é o nosso caminho para a luz.
Caminhamos sobre a pele com o olhar, com as
mãos, com as agulhas, com o olfato, com a
pele, com a nossa pele. A luz que procuramos é
a que está dentro do corpo e num local secreto
que o corpo ilumina. Mas temos de passar pela
pele, enterrar, aprofundar, mergulhar nos
poros, e penetrando no interior do corpo,
retificá-lo, trazer à luz a preciosa pedra unitária.
Quando falo em luz não me refiro
àquela luz artificial dos catecismos antigos, mas
à luz que realmente ilumina o interior do corpo,
a luz de profundidade, a visão do bem estar, da
saúde, da compreensão do eu como um ser
único, íntegro, indivíduo (in-dividuo), que
significa o que não está dividido, porque “in” é
um prefixo de negação.
A doença é quando o corpo se encontra
fragmentado dentro de si e em relação ao todo,
ao mundo, aos outros. No fundo, é isso que se
pretende: pelo mapa da pele, mas penetrando
para lá da pele, mergulhar e percorrer os
misteriosos corredores internos.

OUTROS CADERNOS

O CADERNO DOS SONHOS:

O lugar dele é sempre à cabeceira, Às
vezes debaixo da almofada, às vezes ao lado da
almofada, deve ter uma capa resistente para
resistir ao corpo dos sonhos. É inseparável da
caneta, que nunca deve afastar-se. Um caderno
à cabeceira sem uma caneta (já me aconteceu)
não serve para nada.
No caderno dos sonhos tanto posso
escrever como desenhar, porque há sonhos
que são desenháveis, que só podem mesmo ser
desenhados.
Mas há O CADERNO DAS ESCRITAS, que
deve colar-se ao meu corpo, porque posso
escrever a meio da noite à saída de um sonho,
na casa de banho, a fazer o jantar, a estender a
roupa, a ver um filme, a andar na rua….
Daria jeito ao nosso caderno ter um
corpo que lhe permitisse habitar vários meios:
da banheira à cama passando pela rua, pelo
autocarro ou pelo… cinema.
O fator presença, proximidade,
intimidade, é muito importante. Não me serve
de nada ter o caderno em casa se estou na rua,
ou no carro se estou no teatro, ou na escola se
estou a ver uma exposição.
Tenho também O CADERNO DA
MEMÓRIA, onde colo coisas: bilhetes de
espetáculos, postais que me enviam, moedas
encontradas na rua, fotografias que me
oferecem, espécies vegetais, cartões de visita,
pequenos catálogos de exposições, e um sem
número de coisas. (Este aprendi-o com um
amigo)
O CADERNO DAS VIAGENS, onde
escrevo percursos, sítios, desenho coisas que vi,
frases que retive, frases que criei, pessoas que
conheci, idéias que surgiram. Nesse caderno
preparo as viagens, vivo as viagens e recrio as
viagens. (Este aprendi-o com… talvez com
Deus)
Um caderno pode ser utilizado como um
diário, com a regularidade do sol, mas pode ser

7
quase um horário, se o usarem com a mesma
freqüência com que eu o faço. E não tenham
receio se emudecerem um dia. O caderno, se é
quadrado, pelo menos na origem, não tem de
ser rígido. Pode ser a quadratura do círculo, e
ser flexível, móvel, girar.
É claro que eu posso ser caótica,
totalmente indisciplinada e anarquista, porque
eu apenas tenho que o mostrar a mim mesma,
que foi quem docemente me ordenou que o
fizesse.
Quanto ao que se deve lá pôr, eu diria:
tudo!
Mesmo que pensem que não sabem
desenhar, não devem ter pudor em desenhar,
se isso fizer sentido para vós, se o impulso do
desenho saltar para a vossa mão
Eu não sou um bom exemplo, porque
não tenho um caderno, tenho vários, um em
cada sítio: cozinha, quarto, mochila, pasta, ao
pé do PC, carro, etc. Nem sei quantos tenho. Se
eu tivesse de fazer um caderno por me
mandarem fazer, ou teria de grafar os cadernos
todos, arquivá-los num dossiê, ou arrancar-lhes
as folhas e dar-lhes uma organização.
Realmente eu não sou um bom exemplo. Tenho
o caderno dos sonhos, o caderno dos
exercícios, o caderno de qualquer coisa que
ando a escrever (que pode ser romance,
cantata, musical, poemas, crônicas, este texto
que estou aqui a transmitir-vos hoje, foi escrito
assim, aos bocados…), o caderno dos alunos, o
caderno das reuniões, o caderno das coisas que
ando a estudar, o caderno dos desenhos, o
caderno onde colo coisas, e acho que não
acaba aqui… Se vocês forem assim pessoas
dispersas terão de arranjar um truque para
parecer que têm um caderno. Na verdade
vocês têm um caderno, e mais outro, e mais
outro…
Para as reuniões muito chatas (desde
que não estejamos nós a dirigir), à falta de
caderno, é sempre possível fazer poemas à
margem das notas oficiais. Fiz imensos poemas
numas reuniões assim… depois recortei os
poemas e colei num caderno… que já não sei
por onde anda.
E também podem dobrar em quatro os
vossos fólios, à maneira da palavra latina
“quaternum”, e fazerem, e até ritualizarem, o
momento de criação do vosso caderno. Para
quem isso for importante. Não há nada que
seja proibido se for para ampliar e crescer.
Alguns cadernos que referi são cadernos
parciais: de sonhos, de escrita, mesmo o dos
meus alunos, com escrita e objetos e fotografia,
mas o caderno é potencialmente, não
obrigatoriamente, mas potencialmente, mais
amplo, porque como terapeutas holísticos de
nós mesmos ( e por extensão, do mundo) que
todos deveríamos ser, nada poderá ficar de
fora, e, de acordo com as características de
cada um, que, naturalmente, dará diferente
peso às várias possibilidades, aí poderemos
incluir sonhos, reflexões, intuições, citações,
revelações, esquemas, grelhas, questionários,
listas, argumentações, entrevistas, reportagens,
notícias, crônicas, críticas, apontamentos,
descobertas, interrogações, dúvidas,
possibilidades, bílis, cartas de amor…
Sob as formas de texto, traço, desenho,
fotografia, objeto, colagem, corte, rasgão,
cheiro, sabor, beijo e até… som (por que não
poderá uma gravação num suporte qualquer
fazer parte de um caderno assim? Ou um
suporte multimídia?)
Enfim… acho que comecei a falar do
quadrado e terminei a falar do infinito, porque
o “problema” ou o encanto (depende do ponto
de vista) do quatro é que pode sempre
transformar-se num oito deitado, o sinal do
infinito. Cabe-nos a vós decidir se queremos um
caderno atado com uma corrente a uma
secretária, ou um caderno a voar por aí e nós
agarrados a ele a sobrevoarmos o mundo, ao
estilo Super-Homem, Mary Poppins, anjo ou
folha de árvore em outonal dia de vento e da
desarrumação que precede a ordem, o
compasso quaternário…

RISOLETA PINTO PEDRO
Foram-lhe atribuídos dois prêmios de
poesia e no drama escreveu O Deserto, o Mar e
o Tempo, peça representada pelo TE-ATO de
Leiria; a convite deste mesmo grupo, escreveu
Um Olhar Azul, também representada por esse

8
mesmo grupo.
Em 2001, no Solar dos Zagalos em
Almada, realizou-se um concerto com música
do compositor Paulo Brandão para vozes,
celesta, clarinete baixo e tímpanos, com
poemas seus sobre o 25 de Abril, também por
convite. No mesmo ano, um seu libreto, para a
cantata Conquistador, sobre D. Afonso
Henriques, com música do compositor Jorge
Salgueiro, teve, durante os meses de Maio e
Junho, espetáculos em Lisboa, Fátima e Coliseu
do Porto. Em Maio, no Teatro Maria Matos, em
Lisboa, realizou-se um espetáculo de bailado,
Viagens de Luar, com base em poema de sua
autoria, Sensualua. Participou ainda no Júri do
prêmio de poesia José Régio, da Câmara
Municipal de Celorico da Beira, onde também
apresentou uma comunicação sobre a poesia
de Mário Máximo. Em 2002, a participação no
3º número da revista temática de poesia
Saudade, de Amarante. Estreou, também, um
espetáculo de bailado pela AMALGAMA –
Companhia de Dança de Mafra, a partir de
texto seu (A LUZ E O DESEJO), encomendado
por essa companhia.
Participação, com o poema “Conquista-
me”, num projeto de Canções Eróticas
Portuguesas de vários autores, com música de
Jorge Salgueiro, interpretado pelo grupo
Negros de Luz.
Assinou uma crônica semanal, Quarta-
Crescente, transmitida às quartas-feiras na
rubrica O Sentido das Palavras, do Programa
“Despertar dos Músicos”, da RDP – Antena 2,
entre Janeiro e Setembro de 2003. Escreveu
quinzenalmente crônicas para os jornais Cidade
de Tomar e Despertar do Zêzere, mantendo-se
a colaboração com este último. A partir de
Outubro de 2003, iniciou a colaboração regular
com a revista O Professor, da Editorial
Caminho, que mantém. Registra também
participações ocasionais na revista História com
crítica de teatro e literatura. Estreou em
Outubro de 2003, no Convento de São Paulo,
na Serra D’Ossa, o espetáculo Mutações, com
base em textos seus, pela Amalgama –
Companhia de Dança de Mafra. Espetáculos
ainda em Novembro, no Convento de Mafra.
Uma ópera infantil em dois atos com
libreto seu e música de Jorge Salgueiro, O
Achamento do Brasil, com espetáculos
realizados em Abril de 2004 no Fórum Lisboa, e
Maio do mesmo ano em Fátima, Barreiro,
Sintra e Teatro Rivoli do Porto. Foi publicada na
altura uma Banda Desenhada com texto
extraído do libreto de sua autoria. Ainda para
este compositor escreveu o musical Kate e o
Skate (uma encomenda do Coro Infantil de
Setúbal) que será apresentado ainda em Julho.
Tem participado com textos seus em
catálogos de pintura e escultura dos artistas
plásticos Alcariota e Fernando Sarmento e
apresentou vários livros de poesia,
nomeadamente de Ana Viana, Daniel Domingos
Dias, Mário Máximo, Ana Cristina Peres,
Manuel Amaral, Orfeu B., Maria Virgínia
Monteiro e Isabel Millet.
Também escreveu para a fotografia de
Renato Monteiro, cujo livro sobre a Arte da
Xávega apresentou. Estreado a 1 de Outubro no
Convento de S. Paulo o espetáculo multicultural
Venite in Silentio (dança, representação,
música, artes plásticas) para o qual contribuiu
com a criação de uma narrativa que
acompanhou a criação do mesmo e vice-versa.
A estreia coincidiu com o lançamento do livro
de sua autoria com o mesmo título: Venite in
Silentio . Este espetáculo tem realizações
previstas para este verão, na Quinta da
Regaleira, em Sintra, e em Mafra. Escreveu
poemas e textos para os espetáculos e
catálogos de À Flor do Caos e De Olisipo a
Lisboa, produzidos pela Escola Secundária
Artística António Arroio, assim como para o
projeto “Espaço Habitado”, uma colaboração
desta escola com o CCB, no mês de Maio de
2005, numa performance onde colabora com
textos e voz off. Na Escola Secundária Artística
António Arroio estreou em Junho de 2005 uma
peça de teatro para marionetes de sua autoria
Adeus, inspirada em poema de Eugénio de
Andrade.
Também a cantata O Conquistador foi
reposta no passado mês de Maio em Lisboa
(Coliseu dos Recreios), Sintra (Centro Cultural
Olga Cadaval) e Fátima (Pavilhão Paulo VI). Tem
sido convidada pela Associação Fernando
Pessoa e Agostinho da Silva, a convite das

9
quais, como oradora, fez conferências e
participou em colóquios sobre estas duas
personalidades. Pela Fundação Cultural Sintra
foi convidada para a Quinta da Regaleira, como
escritora, no dia Mundial da Poesia de 2005, a
fim de ler poemas seus. Foi igualmente
convidada, recentemente, a realizar na SPA, um
colóquio sobre a sua experiência no âmbito da
escrita para música (canção, libreto, musical e
cantata), o que fez conjuntamente com o
compositor Jorge Salgueiro. Em Julho de 2005
estreou, em Setúbal, no teatro Luísa Toddi, o
musical Kate e o Skate, com libreto de sua
autoria e música de Jorge Salgueiro. Uma
encomenda do Coro infantil de Setúbal.
É cronista regular (“Quarta-Crescente”)
de uma página da editora Unicepe, no Porto, de
O Despertar do Zêzere e de O Progresso de
Gondomar Mantém o seu próprio blog, com o
seguinte endereço:
http://risocordetejo.blogspot.com/
Publicou os seguintes livros:
- A Criança Suspensa, Prêmio Ferreira de
Castro, de ficção narrativa, da Câmara de
Sintra, edição da Câmara Municipal de Sintra,
Dezembro de 1996
- O Corpo e a Tela, Hugin Editores,
Lisboa, Julho de 1997
- O Aniversário, Prêmio Revelação
APE/IPBL 1994, Ficção, Difel – Difusão Editorial,
Lisboa, Maio de 1998
- A Compreensão da Lua, Hugin
Editores, Lisboa, Abril de 1999
- O Arquiteto, Hugin Editores, Lisboa,
Março de 2002 - Venite In Silentio, Unicepe,
Porto, Setembro de 2004
- Contos de Azul e Terra, romance, em
co-autoria com Raquel Gonçalves, Hugin,
Lisboa, Novembro de 2004
Participou ainda nas seguintes
publicações:
- “O Teatro é como as Cerejas”, in Uma
questão de Tempo, de Jaime Salazar Sampaio,
Hugin Editores, Lisboa, Setembro de 1999
- “Um Pai Natal de Sonho”, in Contos
Eróticos de Natal, Hugin Editores, Lisboa,
Dezembro de 2000
- “O Pintor sem Rosto”, in O Homem em
Trânsito, Histórias de Intimidade e de Mistério,
col. Minimezas, Indícios de Oiro – Edições Ld.ª,
Lisboa, Dezembro de 2002.
- “O Homem da Minha Vida...”, in
MARGENS outros de nós, Padrões Culturais
Editora, Col. Paixões Mundanas nº 13, Lisboa,
Novembro 2004
- O Achamento do Brasil, uma Ópera em
Banda Desenhada, (libreto), Foco Musical-
Educação e Cultura Lda, Lisboa, 2004
- “Conquista-me” in Dez Anos de
Inquietação, CD dos Negros de Luz, concebido e
produzido por Jorge Salgueiro, compositor e
diretor do mesmo. Ed. Tradisom, 2005

Fonte:
http://triplov.com/letras/risoleta_pedro/index.htm

Conhecera, afinal, Florença e achava
que a vida já lhe tinha dado bastante.
Conhecera-a madura, depois de ter sonhado
com ela toda sua juventude. Chorara no Ponte
Vecchio, como se reencontrasse a mocidade, as
estranhas visões que a povoavam.
Desde menina a ponte a fascinava, com
suas casas entranhadas, mais rua do que ponte.
Algo absolutamente insólito, ocupando um
espaço e um tempo desarrazoados.
Deixou-se penetrar pelo encantamento
da cidade, vagando por ela, sem rumo, durante
dias.
Sem esgotá-la, tinha partido e agora,
enquanto o trem andava, começou a degluti-la.
Jantou só, no carro-restaurante, e
voltou para a cabine. Não desejava dormir e
teve curiosidade de ver a paisagem noturna
pela janela do trem. Nenhum passageiro
parecia estar acordado, apenas um silêncio
feito de sons abafados.
O barulho do trem nos trilhos era um

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ruído bom, familiar, que lhe devolvia a infância,
as longas viagens de noturno rumo à fazenda.
"Estou me sentindo estranhamente
jovem", pensou. Olhava pela vidraça fechada a
paisagem banhada de luar.
A solidão reinante fazia bem, deixava o
mundo à sua mercê, podia envolvê-lo na palma
da mão.
Uma voz. Olhou espantada. Uma voz ao
seu lado. Um homem a olhava e falava. Ia
retirar-se e fechar a porta da cabine, quando
alguma coisa a fez mudar de idéia. O homem
pedia-lhe que ficasse e a voz combinava com a
noite, o trem, o resto de Florença.
Ser jovem — ser jovem uma vez mais
numa noite, numa cidade estranha. Depois,
partir sem deixar rastro. Esgotar a vida, a
cidade, o tempo, num só dia. Não desejava
mais, ou melhor, só desejava isso. Qualquer
acréscimo e tudo estaria perdido.
Cogumelos e cerejas no restaurante.
Brilhantes e redondos. Tenros, devorados em
plena juventude. a vinho, velho, conservava a
mocidade, tinha também o poder de inebriar.
A cidade era feita de tempo, tempo
guardado, tempo preservado.
Amava sim, de um amor sem tempo,
sem limite, sem fim e sem começo.
Ele se chamava Alfredo e queria detê-la.
Procurava saber tudo, seu nome, sua cidade, o
que fazia, se era casada, se tinha filhos. Ela não
dizia nada. Ele fora casado e agora se dizia,
livre. Tinha o senso do limite. Queria-a para si
num tempo e num espaço certos. Guardada,
conservada. Que sabia ele?
Ela se sentia livre e aspirava até o último
sorvo essa liberdade, duramente conquistada.
Desistira das coisas concretas, uma posição
definida, um lugar no espaço. Seu espaço era
feito de muitos espaços; seu tempo, de muitos
tempos. Queria conhecer um dia que não
pudesse ser contado em dias. Que lhe daria
ele? a tempo aprisionado, a dor das coisas que
se perdem de momento a momento. Ela não
queria mais ganhar nem perder. O amor seria
agora assim, feito de instantes - instantes sem
tempo. Já perdera e ganhara seu espaço e seu
tempo. Sentia-se livre para viver sem medo de
perder.
A sensação de juventude vinha cada vez
mais forte, e ele participava dela. Estava lhe
dando de presente o tempo reconquistado, o
tempo de juventude, aquele que ninguém
conta.
Ainda no trem, quis detê-la e lhe pedia
que ficasse, que deixasse alguma coisa de
palpável, um endereço, uma pista para
encontrá-la um dia em algum lugar.
Resistiu.
Acenou pela janela e sentou na
poltrona.
O coração batia violentamente.
Teve vontade de parar o trem,
precipitar-se pela porta, voltar.
O trem, grande devorador, já
transformara em tempo o espaço percorrido.
Estava livre e só na manhã de verão.

RACHEL JARDIM
Rachel Jardim, romancista e
memorialista, nasceu em Juiz de Fora (MG) em
19 de setembro de 1926. Formou em Direito
pela PUC-RJ. Ingressou no funcionalismo
público. Fez estágios em museus de Nova York
e, de volta ao Brasil, dirigiu o Patrimônio
Cultural e Artístico do Rio de Janeiro. Tem
colaborado na imprensa (Jornal do Brasil-RJ,
Suplemento Literário do Minas Gerais, Correio
do Povo - RS).
Obras publicadas:
Os anos 40: a ficção e o real de uma
época, romance, 1973; Cheiros e ruídos,
contos, 1975; Vazio pleno, romance, 1976; O
conto da mulher brasileira, antologia, 1978;
Mulheres & mulheres, antologia, 1978;
Inventário das cinzas, romance, 1980; Muito
prazer, antologia, 1981; A cristaleira invisível",
contos, 1982; O prazer é todo meu, antologia,
1984; Crônicas mineiras, antologia, 1984; O
penhoar chinês, romance, 1985; Minas de
Liberdade, memórias, 1992.

Fonte
Contos de escritoras brasileiras. SP: Editora Martins
Fontes, 2003.
http://www.releituras.com/

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Tens vergonha
de chorar,
sofrer
dar um sorriso.
Frágil?
Mas quem não é...
Ser como um cristal!
Que pode estilhaçar.
Pense...
Enquanto não quebrar
Brilhe...
Lute!
Mergulhe?
Para se molhar!
Todos procuram
Carinho e afeição.
Sabem...ou
Estão buscando
Vagueiam..a paz
Descendo aos corações.

Me sinto livre, porque sou amada,
pertenço aos céus e corro como os ventos,
vou flutuando na noite enluarada,
nas doces asas dos meus sentimentos!

Faço da liberdade, a minha estrada,
e dou amor em todos os momentos,
transformando em meu tudo, um quase nada,
e em nada, todos os meus sofrimentos!

No azul do mar, a imagem refletida,
a imagem do meu próprio coração,
num renascer eterno de emoção!

Livre e feliz, eu sigo pela vida,
com mil estrelas a brilhar, converso,
plantando os sonhos meus pelo Universo!

Dentro de mim vive o consolo da saudade
sentida.

Saudade de teu beijo ardente
de nossos beijos loucos
que nos cansaram o corpo
nos fizeram tolos
na certeza pouca
de que o nunca mais
um dia chegaria.

Ah! teus beijos!.
Adrenalina pura!
Lânguidos
insanos
feitos de romance
de bem, de mal, de tudo;
de sonhos de paixão
de toques de ousadia
do fogo da emoção
do ardor da euforia.

Dentro de mim resta o consolo de sentir
saudade.

Vem!
Volta!

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Esgota-me com teu beijo!
Renova-me com teu beijo!
Me faz viver de novo
em meio a nossos beijos
desejos tão sentidos!

Deus se faz...

A cor azul turquesa
Faz o contraponto,
Com a palidez
Da linha do horizonte.

Acima de mim, o céu,
Vestido de azul claro,
Espera o manto dourado,
Dos raios vindos do Leste.

A última estrela da manhã
Vê, aos poucos, brilho apagado,
O nascer de um novo dia.

No meio do oceano,
Como uma casca de noz,
Flutuando na lagoa,
Eu sinto o Universo gigante.

Na madrugada de instantes atrás
Relâmpagos e trovoadas,
Faziam da chuva, tormenta
Contrastes da aurora iluminada.

Tantas forças que se opõem!
De noite o vendaval,
De dia, a serena paz.

Não há como negar:
Deus existe! E SE FAZ!!!

Amo o sol, amo a lua, o firmamento,
amo os montes, as serras, e arrebóis,
amo a terra, a beleza, o pensamento ...
Eu amo loucamente os rouxinóis.

Amo prados, colinas e amo os ventos,
e tudo desta vida passageira,
eu aprendi a amar os sofrimentos
e até mesmo a vizinha faladeira ...

Amo as flores, as aves, as florestas,
amo praias, jardins, e os coqueirais,
eu amo a solidão, bem como as festas,
também amo o frescor dos matagais.

Amo a sombra, o silêncio e a harmonia,
amo tudo o que traz felicidade,
o sereno, o ciúme, a cortesia,
amo a cor, amo o amor, e amo a saudade !

Amo o frio da noite enluarada,
amo os rios, o espelho e a amplidão,
amo a vida, sem mesmo ser amada,
porque amo ouvir a voz do coração ...

Eu amo o bem - estar da Humanidade,
seguindo o que me ensina a Lei Cristã...
Amo plantar, feliz, na mocidade
uma esperança a mais para o amanhã !

Amo a noite, amo o dia, a madrugada,
a chuva que dá viço a flor do agreste,
o sublime cantar da passarada,
e a vida sossegada do Nordeste...

Amo a fonte, os desertos, os rochedos,
amo a areia e amo a espuma do oceano,
o clarão, amo a réstia, amo os degredos,
e amo as quatro estações de cada ano ...

Amo o sonho, o talento, amo a pintura,

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a igreja com seu sino a repicar ...
Amo o riso depois da desventura
e amo o barulho ouvido à beira - mar ...

Amo o som, a ternura, amo a nobreza,
e o pranto quando fruto de emoção,
amo todo o esplendor da Natureza,
eu amo tudo, enfim, sem distinção...

Amo as nuvens com arte e com mesuras,
quando formam no espaço um longo véu ...
e as estrelas fazendo travessuras,
mudando de lugar, mesmo no céu ...

Eu amo os vegetais, toda a folhagem,
a garra da cigarra cantadeira,
as notas musicais, amo a friagem
e o calor insistente da lareira...

Eu amo o despertar da simpatia,
a velhice e também a juventude,
um semblante que vibra de alegria,
a força de vontade, amo a virtude !

Amo o lirismo, a paz, amo a cultura,
amo o trabalho, a luz e a inteligência,
amo as benesses da literatura,
amo a sabedoria da Ciência ...

Eu amo o campo santo, a nostalgia,
E o lazer no descanso após a lida,
e fervorosamente amo poesia ...
e amando o Ser Humano ... Eu amo a Vida !

Eu amo este Universo imenso e bom
com todo o amor que Deus me concedeu,
pois nem toda Mulher possui o dom
de Amar, com tanto excesso, assim com eu ...


No contexto do universo
Sou voz em tom expresso
Do som da divindade
Toco os acordes da alma
Que estimula e acalma
O cerne da humanidade

Onde o concerto Divino,
Profundo e Cristalino,
Exprime-se naturalmente,
Alcançando árvores ninhos
As vozes dos passarinhos
No som do eternamente.

Estou na voz do vento,
Suave ou em tormento,
Acompanhando a vida
Desde o princípio da Terra,
Nas lutas que ela encerra,
A dar-lhe paz e guarida.

Inspirei o guerreiro iludido
Também o homem vencido
Porque, a minha missão
É de acordar a grandeza
Que dormita na fraqueza
Dos pobres de coração.

Em tantos hinos de glórias,
Exaltei muitas vitórias,
Nas ilusões que traduzem.
Até, o homem encontrar
O vórtice angular
Representado nas cruzes.

Então, em elevação
A alma sem divisão,
Retornará ao seu lar.
Sou a música que embala
Enquanto à sua alma fala:
Amigo, Viver é amar!

O Amor-perfeito veio
Nascer na tela do artista

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E nasceu em nossos olhos
Amor à primeira-vista

As Avencas hoje dançam
Ao vento que vem soprar
Essa brisa diz-me algo
Vem teu nome sussurrar

As Azaléias formosas
Fazem sombra pro besouro
E sem sombra de dúvida
Nosso amor é um tesouro

As Acácias abraçadas
Tão juntinhas neste ramo
Olho dentro dos teus olhos
Então digo que te amo

As Adálias tão formosas
Parecem obras de arte
E bate forte o meu peito
Simplesmente por amar-te

Os Antúrios corações
Lá no jardim à crescer
Bate-bate e faz tum-tum
Cada vez que vou te ver

Os Agapantos ao vento
Como azuis olhos de Venus
Com afagos e carícias
Assim nós nos amaremos

As Begônias são a causa
De um jardim tão colorido

Sem teu amor minha vida
Não teria algum sentido

As Bromélias são encanto
Magia de belos matizes
Essa paixão é o feitiço
Que nos faz sorrir felizes

As Camélias tem um ar
De quem vibra de paixão
Escrevo hoje teu nome
No livro do coração

Oh Crisântemos divinos
São as flores de um adeus
Jamais morre esta chama
Que me une aos olhos teus

Os Cravos estavam tristes
Pois o sol havia se posto
Vi nas nuvens deste céu
O desenho do teu rosto

A Flor-de-Liz e suas cores
São matizes da beleza
Mantemos em nosso peito
A chama do amor acesa

Os Gerânios nos jardins
Ornamentam a cidade
Assim é o nosso amor
Jardim de felicidade

A Gérbera apaixonada
Na primavera nascia
Em mim nasceu o amor
Que renasce à cada dia

Os Girassóis apaixonados
Sorriam ao astro-rei
Te amarei eternamente
Jamais te esquecerei

Os Hibyscus perfumavam
O vento do entardecer
Meu coração será teu
Cada vez que ele bater

As Hortências tão sublimes
De fragrância tão pura
Mais sublime é nosso amor
Puro afeto e ternura

Os Ipês na primavera
Vestem traje amarelo
Teu amor vestiu meu mundo
De um sonho doce e belo

O Jasmin enamorado
Floresceu até que enfim
O romance de nós dois
Tem começo e não tem fim

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Os Lírios perto do mar
Inesquecível paisagem
Assim é o teu semblante
Em sonho vi tua imagem

Nos Lisiantus do jardim
Pisca-pisca um vagalume
O teu amor me completa
Como a flor e seu perfume

As Margaridas não mentem
Respondem à quem quiser
Perguntei de nosso amor
Terminou em bem-me-quer

A Miosótis tão singela
Sempre me enterneceu
Estarei junto de ti
Sempre sempre ao lado teu

As Orquídeas com seu néctar
Onde pousa o beija-flôr
Nesses lábios pousam beijos
Também a palavra amor

As Petúnias se destacam
No céu de azul profundo
Te quero muito meu amor
Mais que tudo neste mundo

As Prímulas elegantes
Como asas de querubim
No céu brilha o arco-íris
Como este amor sem fim

A Rosa disse ter visto
Borboletas no jardim
E falou do teu amor
A melhor parte de mim

As Tulipas são tão raras
Tão difíceis de encontrar
Encontrei o meu amor
E meu destino é te amar

As Violetas violácias
Ou da mesma cor do céu
Não acaba este beijo
Com doce sabor de mel

Fonte:
Colaboração de Iara Melo
Gruta da Poesia - Nº 07 da 2ª série – Abril de 2008
http://www.caestamosnos.org/Revista_A_Gruta_da_Poe
sia/08.html
Levou o manequim de madeira à festa
porque não tinha companhia e não queria ir
sozinho.
Gravata bordeaux, seda. Camisa
pregueada, cambraia. Terno riscado, lã. Tudo
do bom. Suas melhores roupas na madeira bem
talhada, bem lixada, bem pintada, melhor
corpo. Só as meias um pouco grossas, o que
porém se denunciaria apenas se o manequim
cruzasse as pernas. Para o nariz firmemente
obstruído, um lenço no bolsinho.
No relógio de ouro do pulso torneado, a
festa já tinha começado há algum tempo.
Sorridentes, os donos da casa se
declararam encantados por ter ele trazido um
amigo.
— Os amigos dos nossos amigos são
nossos amigos — disseram saboreando a
generosidade da sua atitude. E o apresentaram
a outros convidados, amigos e amigos de
nossos amigos. Todos exibiram os dentes em
amável sorriso.
Recebeu o copo de uísque, sua senha. E
foi colocado no canto esquerdo da sala, entre a
porta e a cômoda inglesa, onde mais se
harmonizaria com a decoração.
A meia hilaridade pintada com tinta
esmalte e reforçada com verniz náutico
exortava outras hilaridades a se manterem
constantes, embora nenhuma alcançasse

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idêntico brilho. Abriam-se os transitórios
vizinhos em amenidades que o compreensivo
calar-se do outro logo transformava em
confidências. Enfim alguém que sabia ouvir.
Relatos sibilavam por entre gengivas à mostra e
se perdiam em quase espuma na comissura dos
lábios. Cabeças aproximavam-se, cúmplices.
Apertavam-se as pálpebras no dardejado do
olhar. O ruge, o seio, o ventre, a veia expandida
palpitavam. O gelo no uísque fazia-se água.
A própria dona da casa ocupou-se dele
na refrega de gentilezas. Trocou-lhe o copo
ainda cheio e suado por outro de puras pedras
e âmbar. Atirou-se à conversa sem
preocupações de tema, cuidando apenas de
mantê-lo entretido. Do que logo se arrependeu,
naufragando na ironia do sorriso que lhe era
oferecido de perfil. A necessidade de assunto
mais profundo levou-a à única notícia lida nos
últimos meses. E nela avançou estimulada pelo
silêncio do outro, logo úmida de felicidade
frente a alguém que finalmente não a
interrompia. No mais frondoso do relato o
marido, entre convivas, a exigiu com um sinal.
Afastou-se prometendo voltar.
O brilho de uma calvície abandonou o
centro da sala e coruscou a seu lado,
derramando-lhe sobre o ombro confissões
impudicas, relato de farta atividade
extraconjugal. Sem obter comentários, sequer
um aceno, o senhor louvou intimamente a
discrição, achando-a, porém, algo excessiva
entre homens. Homens menos excessivos
aguardavam em outros cantos da sala a
repetição de suas histórias.
Não acendeu o cigarro de uma dama e
esta ofendeu-se, já não havia cavalheiros como
antigamente. Não acendeu o cigarro de outra
dama e esta encantou-se, sabia bem o que se
esconde atrás de certo cavalheirismo de
antigamente. Os cinzeiros acolheram os
cigarros sem uso.
Um cavalheiro sentiu-se agredido pelo
seu desprezo. Um outro pela sua superioridade.
Um doutor enalteceu-lhe a modéstia. Um
senhor acusou-lhe a empáfia. E o jovem que o
segurou pelo braço surpreendeu-se com sua
rígida força viril.
Nenhum suor na testa. Nenhum tremor
na mão. Sequer uma ponta de tédio.
Imperturbável, o manequim de madeira varava
a festa em que os outros aos poucos se
descompunham.
Já não eram como tinham chegado. As
mechas escapavam, amoleciam os colarinhos,
secreções escorriam nas peles pegajosas. Só os
sorrisos se mantinham, agora descorados.
No relógio torneado do pulso rijo a festa
estava em tempo de acabar.
As mulheres recolhiam as bolsas com
discrição. Os amigos, os amigos dos amigos, os
novos amigos dos velhos amigos deslizavam
porta afora.
Mais tarde, a dona da casa, tirando a
maquilagem na paz final do banheiro, dedos no
pote de creme, comentava a festa com o
marido.
— Gostei — concluiu alastrando preto e
vermelho no rosto em nova máscara —, gostei
mesmo daquele convidado, aquele atencioso,
de terno riscado, aquele, como é mesmo o
nome?

MARINA COLASANTI
Marina Colasanti (Sant'Anna) nasceu em
26 de setembro de 1937, em Asmara (Eritréia),
Etiópia. Viveu sua infância na Africa (Eritréia,
Líbia). Depois seguiu para a Itália, onde morou
11 anos. Chegou ao Brasil em 1948, e sua
família se radicou no Rio de Janeiro, onde
reside desde então.
Possui nacionalidade brasileira e
naturalidade italiana.
Entre 1952 e 1956 estudou pintura com
Catarina Baratelle;
Em 1958 já participava de vários salões
de artes plásticas, como o III Salão de Arte
Moderna.
Nos anos seguintes, atuou como
colaboradora de periódicos, apresentadora de
televisão e roteirista.
Ingressou no Jornal do Brasil em 1962,
como redatora do Caderno B, desenvolveu as
atividades de: cronista, colunista, ilustradora,
sub-editora, Secretária de Texto. Foi também
editora do Caderno Infantil do mesmo jornal.

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Participou do Suplemento do Livro com
numerosas resenhas.
No mesmo período editou o Segundo
Tempo, do Jornal dos Sports. Deixou o JB em
1973.
Assinou seções nas revistas: Senhor,
Fatos & Fotos, Ele e Ela, Fairplay, Claudia e Jóia.
Em 1976 ingressou na Editora Abril, na
revista Nova da qual já era colaboradora, com a
função de editora de comportamento.
De fevereiro a julho de 1986 escreveu
crônicas para a revista Manchete.
Deixa a Editora Abril em 1992, como
editora especial, após uma breve permanência
na revista Claudia, tendo ganho três Prêmios
Abril de Jornalismo.
De maio de 1991 a abril de 1993 assinou
crônicas semanais no Jornal do Brasil.
De 1975 até 1982 foi redatora na
agência publicitária Estrutural, tendo ganho
mais de 20 prêmios nesta área.
Atuou na televisão como entrevistadora
de Sexo Indiscreto - TV Rio, e entrevistadora de
Olho por Olho - TV Tupi.
Na televisão foi editora e apresentadora
do noticiário Primeira Mão -TV Rio, 1974;
apresentadora e redatora do programa cultural
Os Mágicos -TVE, 1976; âncora do programa
cinematográfico Sábado Forte -TVE, de 1985 a
1988; e âncora do programa patrocinado pelo
Instituto Italiano de Cultura, Imagens da Itália-
TVE, de 1992 a 1993.
Em 1968, foi lançado seu primeiro livro,
Eu Sozinha; desde então, publicou mais de 30
obras, entre literatura infantil e adulta.
Seu primeiro livro de poesia, Cada Bicho
seu Capricho, saiu em 1992.
Em 1994 ganhou o Prêmio Jabuti de
Poesia, por Rota de Colisão (1993), e o Prêmio
Jabuti Infantil ou Juvenil, por Ana Z Aonde Vai
Você?
Suas crônicas estão reunidas em vários
livros, dentre os quais Eu Sei, mas não Devia
(1992) que recebeu outro prêmio Jabuti, além
de Rota de Colisão igualmente premiado.
Publicou vários livros de contos,
crônicas, poemas e histórias infantis. Dentre
outros escreveu E por falar em amor; Contos de
amor rasgados; Aqui entre nós, Intimidade
pública, Eu sozinha, Zooilógico, A morada do
ser, A nova mulher (que vendeu mais de
100.000 exemplares), Mulher daqui pra frente,
O leopardo é um animal delicado, Gargantas
abertas e os escritos para crianças Uma idéia
toda azul e Doze reis e a moça do labirinto de
vento.
Colabora em revistas femininas e
constantemente é convidada para cursos e
palestras em todo o Brasil.
É casada com o escritor e poeta Affonso
Romano de Sant'Anna com quem teve duas
filhas: Fabiana e Alessandra.
Em suas obras, a autora reflete, a partir
de fatos cotidianos, sobre a situação feminina,
o amor, a arte, os problemas sociais brasileiros,
sempre com aguçada sensibilidade.

Fontes:
COLASANTI, Marina. O leopardo é um animal
delicado. RJ: Editora Rocco, 1998.
http://omundodemarinacolasanti.blogspot.com
/

Sou quem sou, simplesmente mulher, não fujo, nem nego,
Corro risco, atropelo perigo, avanço sinal, ignoro avisos.
Procuro viver, sem medo, sem dor, com calor, aconchego,
Supro carências, rego desejos, desabrocho em risos...

Matéria cobiçada... na tez macia, no calor ardente.
Alma pura, envolta em completa fissura. Sem frescuras!

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Encontro prazer na forma completa, repleta, latente.
Meretriz sem pudor,mulher no ponto, uva madura!

Sou quadro abstrato, me entrego no ato à paixão que aflora.
Sou enigma permanente, sem ponto final, sem continências,
Sou mulher tão somente, vivendo o momento, sorvendo as horas.

Sou pétala recolhida, sem forma, sem cor, completa em essência.
Exalo a esperança, transpiro vontades. Não me tenhas senhora.
Sou mulher insolúvel, nada volúvel. Vivo a vida em reticências...

ÂNGELA BRETAS
Ângela Bretas é natural de Santa
Catarina. Sempre gostou de escrever prosa e
versos. Mudou-se para os EUA em 1985 e
cursou língua inglesa no Lynn Community
College, em Massachussetts. Tem três livros
publicados e dois no prelo, e atua como free-
lance para diversos jornais no Brasil e nos
Estados Unidos, trabalhando como colunista e
jornalista. Reside em Boca Raton - Florida/USA.
No momento ultima a produção do livro
“BRAVA GENTE BRASILEIRA EM TERRAS
ESTRANGEIRAS”, uma coletânea de poesias e
crônicas de 29 brasileiros residentes nos mais
diversos lugares desta Terra. O livro deverá ser
lançado na Feira Internacional do Livro de
Miami - "Miami International Book Fair" -, em
agosto de 2004, e na Bienal Internacional do
Livro de São Paulo, em 2006.

Livros e trabalhos publicados:

- “Éramos quatro”, 1983
- “Sonho americano”, 1997
- “Conversando com as estrelas”, 2002
- American Antology of Poetry. 1999
- Antologia de Poesias, Contos e Crônicas
17ª Bienal Internacional de São Paulo, 2002
- Antologia diVersos – Grupo Pax Poesis
Encantada, 2002
- Antologia Poetrix – Movimento Internacional
Poetrix, 2002
- Talento Feminino em Prosa e Verso
Rede Brasileira de Escritoras, 2002
- Antologia Tempo Limitado – Scortecci Editora,
2002

E- books:
- Poetrix
- Ecos Inspiracionais
– Prosas Poéticas
- 1º Concurso Verso e Prosa da Florida –
coordenadora

Alguns prêmios, troféus e participações:
- Recebeu o prêmio Troféu Brasil 2001 na
categoria jornalismo, evento realizado em
Miami anualmente homenageando brasileiros
que lutam para manter a cultura brasileira em
terras norte-americanas.
- Foi indicada, através do voto popular, pelo
terceiro ano consecutivo ao Brazilian Press
Awards de Miami 2001.
- Finalista do prêmio ''Eccho of Literature'' com
base em Londres – Inglaterra, pela editora
Rickmarck Publishing.
- Homenageada com o Troféu Imigrante 2002 –
Miami – categoria jornalismo.

Fonte:
http://www.releituras.com/

19
O primeiro livro de contos de Rinaldo de
Fernandes, O Caçador, é de 1997. Meticuloso,
sem pressa, em 2005 apresentou o segundo
volume, O Perfume de Roberta (Rio de Janeiro,
Editora Gamamond), juntando cinco daquelas
narrativas a treze inéditas.
Os narradores de Rinaldo ora são
protagonistas, ora meros observadores. Ou
principiam como espectadores e terminam
como protagonistas. De alguns o leitor conhece
duas ou três características ou traços
fisionômicos, físicos, socioculturais. Muitas
vezes não sabe sequer o nome.
Em “Ilhado”, um homem toma uísque
numa praia de uma cidade onde não mora. E
pouco mais se sabe dele: (“Cheguei ontem aqui
na cidade. Vim fazer uma conferência, vai ser
na segunda. Estou num hotel mais adiante.”). O
narrador de “O cavalo” apenas espreita, de
longe, do alto, da varanda do apartamento, as
cenas que constituem a peça ficcional. Quase
nada diz de si mesmo: “moro aqui já tem três
anos, após me aposentar como advogado”;
“Dia seguinte, viajei para o Rio de Janeiro, fui
visitar meu neto.” Em “A morta”, o ser fictício
também não se exibe com clareza, porque não
passa de testemunha dos fatos. O protagonista
de “Oferta” apenas se diz “velho vendedor” e
revela ter 48 anos. O de “A poeira azul” se
mostra o tempo todo: “Já dez anos que eu
vendo camisas!”, “já estou com trinta e quatro
anos”, “já fui garçom”, não é casado, não tem
filhos, embora não diga o próprio nome. Em “O
perfume de Roberta”, cabe relatar os fatos ao
pai da personagem Roberta, mera figurante na
trama. Esquisito, tudo faz para se esconder,
não se revelar, sobretudo porque age de
madrugada, às escondidas de todos: “eu falei
pra ela que me chamo Pedro”. Entretanto, não
oculta outros dados importantes: “Sou
funcionário da prefeitura e advogado”; “Eu sou
um homem de quarenta e seis anos.” Em
“Confidências de um amante quase idiota” – no
outro livro, “Eu não sou um idiota” –, o
protagonista nada diz de si mesmo. Roberto faz
a narração de “Pássaros”. E é neste tipo de
narrativa que o escritor declara ao leitor, desde
o início da narrativa, quem é o vencedor do
duelo final, o sobrevivente da tragédia. É como
se o narrador dissesse ao leitor, desde a
primeira linha: “Veja, eu vou narrar uma
tragédia, da qual sou protagonista. Eu sou o
vencedor do duelo final, porque sou o
narrador”. O perdedor (ou a perdedora) é o
outro (ou a outra), a que morreu no último ato.
O vencedor, porém, é também perdedor.
Talvez um perdedor menor, porque lhe restou
a vida. Ora, é o narrador, mas não narra a
História dos outros. Não é historiador, mas
protagonista de uma narrativa.
Em “Borboleta” – outra história da
coleção de estréia de Rinaldo –, o narrador é
obscuro e a peça de feição rara. Também já
publicado é “A tragédia prima de Sílvia
Andrade”, no qual o narrador se diz escritor e
relata fatos (o conto) a um delegado.
São poucas as histórias contadas por
mulheres. A narradora de “O mar é bem ali”
confidencia: “Sou uma velha poeta”, moradora
de uma quitinete. Em “Duas margens” uma
mulher narra no presente: bebe cerveja no
“mais pobre dos bares”, é casada com Marcos e
tem uma filha de nome Juliana. Ao mesmo
tempo em que conta a própria história (o
desenlace amoroso), que julga catastrófica,
observa (vê e ouve) personagens de outra
narrativa há muito iniciada e que em breve terá
desfecho trágico.
“Rita e o cachorro” (o título – que não
faz parte da narração – revela o nome da

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narradora) apresenta “Uma mulher vivendo só,
sem emprego certo, pedindo a um e outro para
fazer revisões de todo tipo de texto, teses,
artigos, dissertações, o diabo.”
A narradora de “Sariema” – recriação de
“A hora e a vez de Augusto Matraga”, de
Guimarães Rosa – se desvela desde o título.
Pode-se falar em clonagem literária. De um ser
(composição) se extrai uma célula-tronco e dela
se cria novo ser, semelhante ao original. Ou
remeter ao mito bíblico da criação da mulher:
de uma costela de Adão se fez Eva. Neste conto
se repete o esquema do vencedor e do
perdedor. Se a história é contada por Sariema e
se dá o embate entre ela e Nhô Augusto,
logicamente (mas poderia não ser lógico) ela é
a vencedora e ele o morto.
Nas demais peças não há personagens
narradores. O primeiro é “Negro”, conto
reproduzido da primeira obra. Em “O último
segredo”, o narrador, pode-se dizer, é semi-
onisciente. “Passarinho” se assemelha àquele
também neste aspecto, além de serem curtos e
de tratarem de problemas sociais ou de
relações sociais. Em outras composições pode-
se ver a preocupação de Rinaldo com os
dramas sociais, pessoais e domésticos. O
narrador de “Procurando o carnaval” – também
da primeira coleção – é espécie de alter ego do
protagonista sem nome explícito, sua sombra.
Um dos temas predominantes em
Rinaldo é a solidão. Enquanto as pessoas se
debatem entre a vida e a morte, há sempre
alguém (o narrador, no mais das vezes) em
plena solidão, embora por alguns instantes ou
momentos se envolva num turbilhão de fatos
alheios à sua vontade ou expectativa. É o caso
do narrador de “Ilhado”: tomava uísque numa
barraca de praia, certamente para espairecer,
quando se viu envolvido numa tragédia. Em “O
Cavalo”, o narrador é um solitário observador
(“com a insônia, me levantei, fui à cozinha”).
Parecida com ele é a narradora de “O mar é
bem ali”: uma moradora solitária de uma
quitinete, que termina imaginando um diálogo
com um suposto visitante. Em solidão também
está o protagonista de “Oferta”, assim como os
demais personagens, que mal conseguem se
comunicar. A solidão da protagonista de “Duas
margens” se mistura à angústia de ter sido
traída no amor. A narradora está só, bebe
cerveja num bar, enquanto outra mulher
desesperada se debate também na solidão,
após ter sido abandonada pelo marido.
Algumas obras de Rinaldo têm desfecho
trágico. A carnificina em “Ilhado” vai num
crescendo. O leitor nem percebe a lenta
transformação do lirismo dos namorados à
beira-mar em tragédia. A tragédia de “A morta”
se dá de forma inesperada, porque nenhum
conflito se manifesta no decorrer na narração,
a não ser de forma sutil: “Não tem ninguém aí,
não é possível!” (os três visitantes acreditavam
encontrar o casal à sua espera); “E, quase que
ao mesmo tempo, algo tombou na estrada. Não
sei se tombo ou o tropeço de alguém.” Em
“Duas margens” a morte da criança é algo
escabroso. A mãe enterra o filho vivo, com a
ajuda da narradora, que acreditou na afirmação
da outra: “– Ele está morto”. Na última
tragédia, Sariema, mulher de Osório, esfaqueia
Nhô Augusto, após este matar aquele.
O mar é uma constante nas peças
ficcionais de Rinaldo. Não exatamente o mar.
Na verdade, não se vêem pescadores, banhistas
ou surfistas. O mar é muito mais referência de
ambiente, às vezes pano-de-fundo (“O mar
espuma, adiante, nos arrecifes.”), mas sempre
presente. Toda a tragédia de “Ilhado” se inicia à
beira-mar e termina em pleno mar, num barco.
Em “O mar é bem ali”, o próprio título diz tudo.
Na verdade, a trama se dá num apartamento à
beira-mar. A tragédia de “A morta” também
não se dá no mar. Entretanto, o mar está muito
presente: “A lâmina do mar apareceu lá
embaixo, depois do descampado e de uma
ponta de duna.” Veja-se “Oferta”, que se passa
num boteco de beira de estrada no sertão.
Entretanto, o narrador lembra uma propaganda
de televisão em que um rapaz se aproxima de
um casebre à beira-mar. O narrador olha em
volta “procurando o mar”, que muito longe
dele está. “Não há mar, mas uma paisagem
rubra, de pedras pretas e raros arbustos,
paisagem seca, de muitos gravetos.” Logo no
início de “A poeira azul” se lê: “Só foi possível
ver a faixa verde de mar depois da curva.” Em
“Rita e o cachorro” o mar também está

21
presente: “Ontem o mar estava todo
esmeralda”.
Entretanto, nem só de paisagens
marinhas vivem os personagens de Rinaldo.
Alguns estão no sertão, em estradas
poeirentas, outros na cidade grande, em
apartamentos, ruas.
A estrutura das narrativas de O Perfume
de Roberta é, quase sempre, linear no tempo.
Nada de retrospectos, a não ser em
elucubrações ou monólogos. Ou quando dois
tempos se fundem: o presente da narração e o
passado narrado, como se vê em “Sariema”.
Isto é, quando o narrador está contando
(presente) uma história (passado) para um
ouvinte. Na maioria dos contos, o narrador
conta uma história, sem se dirigir ao leitor ou a
um ouvinte. Algumas obras de Rinaldo,
constituídos de breves quadros, lembram
roteiros de cinema. Divididos em blocos,
geralmente em razão da mudança de tempo.
Assim, em “Ilhado”, cortado em três
segmentos, se pode ver claramente que no
primeiro a cena é quase parada, com pouca
movimentação dos seres: o narrador, a mulher
sentada num banco, a chegada do homem num
barco, a cozinheira do bar e o garçom. No
segundo segmento surge o mendigo, que será o
personagem central da trama. E, por último, a
cena do ataque do mendigo ao narrador, à
mulher e ao homem do barco. Tudo em alguns
minutos.
Em outros contos, embora a ação
principal se dê em poucos minutos ou horas, há
referências às conseqüências dele na vida dos
seres fictícios num tempo futuro, como em “O
cavalo”: o narrador, numa noite, vê do alto da
varanda de seu apartamento um cavalo solto
na rua, a chegada de um homem num carro à
casa vizinha, a briga do homem com uma
mulher, etc. Tudo em poucos minutos. Após
isso, refere-se ao dia seguinte e, no último
parágrafo, há alguns meses depois.
A linguagem de Rinaldo é simples,
próxima da oralidade, porém sem uso de gírias
urbanas ou expressões regionais. A estrutura
dos composições também é singela, exceto em
“Borboleta”, pleno de ousadia formal. As
narrações, sejam de personagens, sejam do
narrador onisciente ou do escritor, não se
amarram a pormenores. Os diálogos e as falas
são curtos. As narrações elidem a necessidade
deles. Também nada de descrições minuciosas
de seres fictícios ou paisagens. Essa economia
verbal dá aos contos de O Perfume de Roberta
um ar de novidade, apesar da simplicidade
estrutural e de linguagem. Um quê de cheiro de
fruta madura.

RINALDO DE FERNANDES
Rinaldo de Fernandes, nasceu em
Chapadinha, MA, e morou por muitos anos em
Fortaleza, CE. Graduou-se em Letras, na
Universidade Federal do Ceará. Doutor em
Letras pela UNICAMP, é professor de literatura
na Universidade Federal da Paraíba.
Organizou os livros
- O Clarim e a Oração: cem anos de Os sertões
(São Paulo: Geração Editorial, 2002),
- Chico Buarque do Brasil (Rio de Janeiro:
Garamond/Biblioteca Nacional, 2004),
- Contos cruéis: as narrativas mais violentas da
literatura brasileira contemporânea (São Paulo:
Geração Editorial, 2006) e
- Quartas Histórias, contos baseados em
narrativas de Guimarães Rosa (Rio de Janeiro:
Garamond, 2006).

Com o conto "Beleza", conquistou o
primeiro lugar no Concurso Nacional de Contos
do Paraná de 2006.
Como pesquisador, fez os textos da
antologia Os cem melhores poetas brasileiros
do século, organizada por José Nêumanne Pinto
(São Paulo: Geração Editorial, 2001).
Já teve contos publicados, entre outros
suplementos, pelo "Rascunho", de Curitiba.
Autor dos livros de contos “O Caçador” (1997) e
“O perfume de Roberta” .

Fontes:
artigo de Nilto Maciel para
http://www.cronopios.com.br/site/resenhas.asp?id=107
9
http://triplov.com/contos/rinaldo/index.html
http://argiladapalavra.softservice.info/

22

Armando e Carol resolveram casar-se. Já
eram namorados há algum tempo, mas ainda
não conheciam as famílias. Agora estava na
hora da aproximação e os dois estavam
preocupados.
Armando dizia:
- A minha mãe é muito legal. Você vai
gostar dela e ela de você, tenho certeza!.
Carol também afirmava:
– Mamãe está ansiosa para conhecê-lo.
Você vai ver que boazinha que ela é. Chegou o
dia marcado para Carol fazer a primeira visita
para a futura sogra e ela estava nervosa sem
saber como se comportar para melhor
impressioná-la.

Que vestir? Será que podia ir de calças
compridas ou seria melhor um vestido? E o
sapato? Não queria usar salto muito alto para
não ficar mais alta do que o Mando, mas, salto
baixo, também, não fazia nenhuma vista Tênis,
nem pensar! Se fosse de calças até que podia,
mas, não sei. . . É tão esporte!
E como se comportar na casa dele?
Se falasse muito alto, Ela a acharia
vulgar, mas se cochichasse poderia parecer
tímida. Tinha que medir muito bem (quantos
decibéis?) para parecer uma pessoa fina,
equilibrada, bem educada, etc.
Se mostrasse muito carinhosa com o
Mando, podia parecer assanhada, mas se se
mantivesse muito distante ela a acharia muito
fria.
Se comesse muito, pareceria gulosa,
mas, se comesse muito pouco, ela podia pensar
que ela não gostou da sua comida.
Como é difícil encontrar o ponto de
equilíbrio!
(A única coisa que não lhe ocorreu foi
ser autêntica. Mostrar-se tal qual era na
realidade para que ela já ficasse sabendo como
era a mulher que estava levando embora o seu
filho.).
E os possíveis acidentes? Já pensou se
virasse a xícara de café, derrubasse alguma
coisa no chão ou tropeçasse no tapete?
Quando se defrontaram, mediram-se
por um instante de alto a baixo. Carol não pode
deixar de comparar a mãe do Mando com a
sua, (ela era bem mais sofisticada e isso a
preocupou um pouco.) e a sogra pensou:
“Que menina feiosa”! Pernas finas, nariz
chato e sardas no pescoço! ´´, mas falou,
sorrindo:
- Olá, querida, o Armandinho não
exagerou quando disse que você era linda!

Surpresa, Carol não lembrou de nada
inteligente para dizer e balbuciou tolamente:
- ... ...gada…
- Meu nome é muito feio
(Hermengarda!) cochicha-lhe no ouvido, mas
quero que você, como todo mundo, me chame
pelo apelido, Meg, e, por favor, nada de dona
nem de senhora.
- Eu sou Carolina, mas todos me
chamam de Carol.
- Eu já sabia, o Armandinho me disse.

O Armandinho procurou desanuviar o
ambiente contando mil casos, mas a Carol não
achava graça em nada. Queria sumir dali.
Nunca pensou que fosse tão difícil relacionar-se
com uma sogra em potencial.
Finalmente foram para a mesa e ela
obrigou-se a se servir de tudo e comer um
pouco.
E, então já, podia despedir-se.
- Volte sempre! Esta casa agora é sua!
-....gada... Ufa!

Na semana seguinte foi a vez do
Armando conhecer a mãe da Carol.
Esta visita foi bem mais tranqüila. O
Armando estava muito à vontade e a Berta,
mãe da Carol recebeu-o carinhosamente, sem

23
exageros.
Ofereceu, logo após os cumprimentos,
uma latinha de cerveja que ele aceitou e trouxe
uma bandeja enorme, de plástico, abarrotada
de salgadinhos feitos por ela mesma
(deliciosos).
A Carol ficou meio preocupada. Será
que ele ia achar sua mãe muito brega?
Mas ele comeu à vontade, aceitou a
segunda cerveja, e, quando ela ofereceu uma
fatia de bolo, disse francamente que não
gostava de bolo, mas que aceitava mais uma
latinha.
- Meu Deus! Será que a Mamãe vai
achar que ele bebe demais?
Berta era uma mulher simples, não se
incomodava com etiquetas, mas, detestava
beberrões e Carol sabia disso, é claro.
Carol estava com medo de que ele
comparasse a sofisticação da mãe dele com a
simplicidade da dela, mas ele nem reparou
nisso. Aliás, já havia dito a Carol que a amava
mesmo sem conhecê-la, pelo simples fato dela
ser sua mãe e que a única queixa que tinha dela
era o limite que ela punha no namoro dos dois.
Mas, faltava a terceira e mais
complicada etapa. O confronto das duas
futuras sogras.
Dentre os problemáticos relacio-
namentos familiares, é, sem dúvida, o das
sogras o mais problemático de todos. Não por
culpa delas, coitadas! (não conheço uma só que
não diga: “eu não dou palpite, respeito às
decisões de minha nora (ou genro)”. “A mãe
dele (a) é um amor! Somos grandes amigas!”).
Berta e Meg se encontram num
Restaurante. Um jantar para toda a família para
oficializar o noivado, combinar o casamento.
As duas examinam-se, por um
momento, cumprimentam-se e trocam frases
polidas que não têm nada a ver com o que
estão pensando.
Numa coisa as duas estavam de pleno
acordo: o casamento de seus filhos tinha que
ser um acontecimento para ser lembrado por
muitas décadas. Uma festa de arromba, nem
que para isso tivessem que empenhar tudo que
tinham ainda ficar devendo.
O problema era o conceito que cada
uma delas tinha de uma grande festa.
Berta sugeriu que a festa fosse na
fazenda (uma grande fazenda de sua
propriedade). Uma festa para o civil, outra para
o religioso e depois que os noivos se fossem,
uma terceira festa para o enterro dos ossos.
Podiam convidar a cidade inteira que espaço
não faltaria, muito menos comida e bebida.
Meg achou um absurdo. “Só faltou
sugerir que os convidados fossem vestidos a
caráter e dançassem uma quadrilha no terreiro
ao som de violas e sanfonas”, pensou, mas
disse:
- Eu acho que a festa num clube da
cidade seria mais chic, mais apropriado. Pouca
gente, um bom bufet, um decorador
experiente, boa música, isto, naturalmente,
depois da cerimônia na Catedral com toda a
pompa a que temos direito.
Os próximos meses foram cheios de
trabalhos, apreensões e desencontros.
Meg e Berta, embora se declarassem
amicíssimas e fossem vistas juntas por toda
parte no afã dos preparativos para A Festa,
desentendiam-se o tempo todo.
Meg, não satisfeita em escolher o seu
próprio vestido, queria escolher também o da
Berta, pois não ficava bem as Mães
apresentarem-se muito diferentes e a Berta
queria usar o que gostava, independente do
que a Meg ia vestir.
Berta queria sempre fazer pesquisa de
preços e, muitas vezes, optava pelo mais barato
achando que tanto fazia, mas a Meg não
admitia que se falasse em economia quando se
tratava da grande festa do filhinho querido, e
achava que a outra era mesquinha.
Quando os noivos começaram a montar
sua casa, as duas se alvoroçaram a ajudá-los,
cada uma querendo que suas idéias
prevalecessem, é claro.
Os garotos começaram a perder a
paciência. Carol pediu a mãe
- Não deixe a Meg mexer no nosso
quarto. O Mando e eu queremos arrumar do
nosso jeito, pelo menos o nosso quarto.
- Como é que eu vou fazer isso? Antes
de eu começar a pensar ela já tinha
providenciado tudo do seu gosto, até o

24
cortinado da cama (será que ainda se usa
isso?).
O Armando reclamou para a Carol:
- Sua mãe cismou de arrumar o meu
escritório e agora eu não acho mais nada lá
dentro.
- Mãe, por favor, não mexa nas coisas
do Mando que ele não gosta.
- Vocês são mal agradecidos! A Meg e
eu temos tido um trabalhão danado para que
vocês tenham tudo do bom e do melhor. Se
deixássemos por sua conta queria ver se saia
casamento.
- Claro que saia. A gente casava em
surdina, ia morar embaixo de uma ponta, e
seríamos muito felizes!
- Deixe de falar bobagem e vá escolher o
jogo de malas para a lua de mel.
- Ah! Mãe! Venha comigo. Eu não
entendo nada de malas. . .
- É assim que é independente? Que
podia casar em surdina e morar embaixo da
ponte?
- Ah! Mãe! Isso é só modo de dizer. . .
Mas, de uma forma ou de outra o
casamento realizou-se e as duas sogras
continuaram se debicando amistosamente.
Berta gosta muito do Armando:
- Ele é um santo! A Carol tem um vidão.
Não trabalha fora, tem empregada para todo o
serviço da casa. Compra tudo o que quer e ele
nunca a contraria em nada.
E, olhe, não pense que ele é rico. Faz
sacrifícios, mas dá a ela tudo o que ela quer!
A Meg, porém, não vê as coisas pelo
mesmo prisma:
- Coitado do Armandinho! A Carol é uma
inútil! Não faz nada em casa. Gasta o que não
tem e obriga-o a sacrifícios para satisfazer-lhe
os caprichos.
Bem, Sogras à parte, Carol e Armando
foram felizes para sempre. Afinal de contas,
isto é o que importa, não é verdade?



BISA MAITH (MARIA THEREZA MOREIRA
PEREIRA)

Desde criança ela gostava de escrever e
almejava tornar-se um dia uma grande
escritora. Queria muito estudar, freqüentar
uma escola mas isto lhe foi negado. Não foi
além de Grupo Escolar, como se chamava então
a escola primária, fato que, no entanto, não a
impediu de sonhar, pois, os sonhos não estão
condicionados a regras de gramática,
ortografia, lingüística ou seja lá o que for.
O seu anseio, porém, se lhe afigurava
impossível. Os escritores lhe pareciam tão
distantes e inatingíveis quanto os consagrados
artistas e desportistas com que sonham a
maioria dos adolescentes.
Seguiu o caminho da maioria, trabalho,
casamento, filhos ... e o seu sonho ficou
guardado no coração. Nunca se desfez dele.
Satisfazia-se escrevendo alguma coisa
que mandava para os jornais sempre que havia
uma oportunidade.
Setenta e muitos anos, aposentada,
filhos casados, viúva, só então tinha todo o
tempo do mundo e o direito de fazer loucuras,
como editar um livro, mil exemplares dos quais
muito poucos foram vendidos, alguns doados e
a maior parte lotou o seu armário.
Ela era inexperiente. Não conhecia nada
do ramo e não procurou ajuda profissional. Deu
seu livro para ser editado numa editora
qualquer e o livro saiu com muitas falhas.
Ela ficou aborrecida, mas nem tanto.
Orgulha-se dele como uma mãe que ama o seu
filho mesmo que ele não seja o mais belo bebê
deste mundo.
Graças a uma reportagem no jornal O
Cruzeiro do Sul (de Sorocaba), ficou conhecida,
seu blog (bisavo.blogger.com.br) teve muito
acesso, foi convidada a participar do Roda
Mundo 2005 e seus contos foram publicados
em Cabo Verde, na África.
E vieram os convites para eventos
literários. Tudo que ela desejou sua vida toda,
mas, já então, sem condição de locomover-se,
não pode aceitar.
Agora, consciente de estar trilhando o

25
fim de sua estrada terrena, está vivendo talvez
a mais gratificante etapa de sua vida, vendo seu
trabalho ser reconhecido, conquistando novos
amigos e procurando semear a sua volta
sementes de alegria, de paz, de otimismo e de
felicidade.

Fonte:
http://www.sorocult.com/el/colunistas/bisavo.htm


E se as crianças pudessem ler para os
adultos, o que aconteceria...?
É uma atividade que vai estimular,
firmar ou mesmo fazer com que seu filho ou
aluno, tome gosto de vez pela leitura.
O primeiro passo é conversar com a
criança e descobrir seu gosto literário. Gosto
literário aqui significa, saber de que tipo de
história ela mais gosta.
Feito isso, provoque ela à leitura. Isto é
feito do seguinte modo: Primeiro leia você
mesmo um livro, sobre o assunto do qual ela
gosta. Deixe que ela veja você lendo. Se fizer
isso sutilmente, será melhor ainda. Não tente
chamar atenção para o fato de estar lendo,
especialmente se você não tem o hábito de ler
regularmente, pois ela pode perceber o artifício
e estragar a tática.
Se o adulto é do tipo que gosta de ler e
ela já sabe disso, então pode agir de forma
natural. Ao ler o livro, procure demonstrar as
emoções que sente a partir do que está lendo.
Isto é, ria, faça comentários baixinho como se
estivesse falando sózinho etc., Isso vai deixá-la
bastante curiosa.
Ao perceber que você gosta da mesma
coisa que ela, sua auto-confiança, vai receber
uma enorme injeção de ânimo. Imagine só, um
adulto que gosta do mesmo que eu - pensará
ela - e sem ninguém pedir para que ele fizesse
isso!
Quando terminar de ler, não lhe ofereça
o livrinho. Ao invés disso, coloque-o em lugar
visível, converse com ela sobre outros assuntos,
e finalmente sobre histórias do tema que ela
prefere; então comente sobre o que acabou de
ler. Como isso é feito por partes, a pressa pode
estragar tudo. Assim, em outra ocasião, diga
que comprou um livro para ela ver, e que é
muito bom.
Importante: Em momento algum a
obrigue a ler. Dê-lhe o livrinho e pronto. Pode
ser que no primeiro contato, ela apenas vá
folhear as páginas para explorar o terreno onde
vai pisar.
Aqui vale uma interrupção para algumas
observações importantes, que vão determinar
o sucesso ou o fracasso do seu plano. Veja
bem, não é que "pode determinar", é que "vai
determinar".
Toda criança, com raras exceções, gosta
de livrinhos com:
Desenhos bem feitos. Tem que ser
desenhos ou ilustrações; elas acham fotografias
deprimentes e sóbrias demais para seu mundo,
pode até ser uma fuga da realidade, mas é
assim, e nesse momento não adianta entender
porque. Saiba apenas que fotos para elas são
menos interessantes que ilustrações.
Os desenhos ou ilustrações devem
refletir claramente o que está no texto que ela
está lendo, para que possa associar o mesmo
com a idéia visual da situação, já que ela
sozinha ainda é incapaz de fazer isso, e ainda
está construindo associações de palavras com
imagens.
Folhas com pouco texto. Texto claro, de
preferência com palavras que ela já conheça
(isso não é obrigatório). livro com poucas
páginas; média de 20.
Assim, é chegado o momento de você
agir. De posse do livro, após tê-lo folheado, use
então o argumento mágico.

PEÇA QUE ELA LEIA O LIVRINHO DELA PARA
VOCÊ!

26

Ao pedir isso, demonstre que tem total
confiança nela (isso se consegue com a
entonação certa da voz, tom firme, normal,
como se fosse a coisa mais natural do mundo,
sem titubear). Diga também que tem interesse
no livro. Nesse ponto, toda insegurança comum
na criança, ao oferecer ou compartilhar alguma
coisa com os adultos, tende a sumir.
Durante a leitura, se quiser, você pode
interromper para fazer algum comentário com
relação a história. Também, antes de começar,
diga-lhe que se tiver alguma dúvida sobre o
significado das palavras, que pergunte; ou
melhor, use seu bom senso e faça comentários
complementares sem que ela peça, ao menos
sobre aquelas que você julgue mais
apropriadas, e até com uma forma de
enriquecer o texto. É importante que você
saiba, que ela só vai perguntar se confiar em
você, ou se você tiver lhe dado autorização
explícita para fazer isso. Está feito então, ela
está pronta e sem mais nenhuma inibição.
Finalmente, seja paciente e nunca a
corrija, diga apenas que não entendeu direito,
algum parágrafo, etc. Nesse caso, você pode
pedir que ela comente o que entendeu... Pode
ser que durante a leitura ela baixe um pouco a
voz o que é normal. Peça, sem mandar, com
muito humor e gentileza, que ela fale um pouco
mais alto. Isso, só vai significar para ela que
você está de fato interessado na leitura, e sua
motivação aumentará ainda mais.
Ao perceber que ela está cansada, peça
para fazer uma pausa. Os sintomas de cansaço
são: mudança constante na posição, olhadas
sutis para o lado, tentativa de deitar no chão,
etc.
Por fim, comente com ela a história que
foi lida. É provável que ela não tenha entendido
bem o conto, já que apenas crianças maiores,
conseguem ler para os outros e prestar atenção
no que estão lendo.
Diga que a história foi muito boa, que
você gostou, e lhe dê a sugestão de que ela
deve ler quando estiver com vontade.
Mesmo que ela não aceite na hora, o
que é mais provável, deixe o livro em local
visível e acessível, e incite-a outras vezes para
que leia, sem forçar ou exigir. Faça isso em tom
de comentário.
É importante que você saiba que, ao
pedir para ela ler, você lhe deu confiança;
confiou a ela uma tarefa de gente grande, e
gostou do que ela fez; isso a fez se sentir
importante. Melhor de tudo, essa é a
impressão que ela terá de você a partir daí.
Os efeitos benéficos disso para sua
personalidade são definitivos. Assim, a semente
do hábito da leitura foi plantada de forma
simples, natural, sem as pressões da obrigação,
em clima de harmonia, como tudo que é
verdadeiro deve ser.
Um último aviso: Peça que leia para
você outras vezes. Dê-lhe mais livros, valorize e
incentive a sugestão dela; acompanhe-a na
hora de comprar ou escolher o livro. Use sua
criatividade para usar essa mesma abordagem
em sala de aula!

Fonte:
http://sitededicas.uol.com.br/

Um bom jardineiro morre anônimo
porém não morre sozinho. Com ele se vão
zínias, calêndulas, miosótis, margaridas,
gramados, pés de caqui, de manga e abacate,
tumbérgias, orquídeas, trevos de quatro folhas,
agapantos, rosas, rabos de gato, petúnias,
marias sem-vergonha, hortaliças, camarões
magoados, capuchinhas, ah quantas flores
morrem com o jardineiro.
Não mais sua boa mão, o saber plantar
e esperar, tempos certos, esta dá de galho,
aquela de estaquia, esta outra só semeando.
Seu Fernando Mayworm era magro,
alto, origem alemã, tinha mais de setenta e oito

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anos. Seco, altivo e resistente como um bambu.
Chegava cedinho em seu fusca velho que ainda
dirigia. Sabia, descia, abaixava-se, levantava,
ordenava aos auxiliares; às onze e meia nem
um copo d'água pedia. Recolhia-se ao fusca,
abria a marmita quentinha e a garrafa térmica.
Educado. Estirpe. Homem discreto e educado
oriundo de alemães antigos de Petrópolis de
quem herdara a seriedade e a disciplina.
"Esta não vai pegar aí!", sentenciava. E a
planta obedecia. "Vamos ver se salvamos esta".
O caule se recuperava. Se pedíamos alguma
bobagem ele fazia a nossa vontade. E onde a
gente não palpitava ele operava na moita e
plantava algo mais belo.
Quantas vezes me comovi, desejando
para meu envelhecer a paz daquele homem
calado e severo, que cumpria seu dever com as
mãos, honrado, sereno, já sem ilusões mas
silencioso enamorado das reações da terra, a
felicidade por ver algo brotar, o riso raro na
contemplação da flor que "vingou" graças a ele!
Era a paz de quem não cobiça, vivia para criar e
elegera a flor e o fruto como objetos sagrados
do seu existir.
Sem quase nada dele saber. Sempre
recatado. Sem reclamar (salvo dos cachorros
que fazem pipi em hortas baixas), sem
proclamar. Sem nada contar de sua vida, qual
seu time de futebol ou preferência política,
aprendi a gostar à distância daquele homem
idoso, cuja vida foi prodigalizar mudas e
sementes e mudo morreu a trabalhar, na
beleza serena e serrana de Petrópolis.

Fonte:
http://www.arturdatavola.com/






Foto da Esquerda = Monumento à Trova, em Corumbá. Nas placas de bronze, a trova primeiro lugar nos I JF (A. A. de Assis) e a
trova primeiro lugar nos II JF (Waldir Neves)
Foto da Direita = Recepção aos trovadores no aeroporto. Em destaque: Durval Mendonça, Colbert Rangel Coelho, governador
Pedro Pedrossian, Margarida Lopes de Almeida, A. A. de Assis (olhando para trás), J. G. de Araújo Jorge, Rubens de Castro e Luiz
Otávio
I Jogos Florais de Corumbá

Realização: 09 a 14 de junho de 1968

Presidente de honra: prefeito Breno de
Medeiros Guimarães

Presidente da Comissão Central Organizadora:
Lécio Gomes de Souza

Patrono: J. G. de Araújo Jorge

Grande homenagem: Luiz Otávio

Patrocinadores: Governo do Estado
(governador Pedro Pedrossian); Prefeitura
Municipal de Corumbá; industriais Irmãos
Chamma; Curso de Declamação “Maria Sabina”
(direção Lucy Maria Bonilha de Souza)

Comissão Selecionadora em Corumbá: Alceste
de Castro, Carlos de Castro Brasil, Clio Proença,
Gabriel Vandoni de Barros, Lécio Gomes de
Souza, Magali de Souza Baruki, Osório Gomes
de Barros

Comissão Julgadora no Rio de Janeiro: Helena
Ferraz, J. G. de Araújo Jorge, Luiz Otávio,
Margarida Lopes de Almeida, Maria Sabina,
Murilo Araújo
Musa: Nancy Scaffa

Processo de julgamento: Dentre as mais de 3
mil trovas recebidas de todo o Brasil, foram
selecionadas pela Comissão de Corumbá as 100
finalistas, as quais foram encaminhadas à
Comissão Julgadora do Rio de Janeiro, para a
classificação final.

28
Vencedores

1º lugar

Num tempo em que tanta guerra
enche o mundo de terror,
benditos os que, na Terra,
semeiam versos de amor!
A. A. de Assis (Maringá)

2º lugar

Este amor, grande e profundo,
feito de paz e verdade,
dá-me, segundo a segundo,
um sabor de eternidade.
Durval Mendonça (Rio)

3º lugar

Decantado eternamente,
o amor em tudo figura:
– ora é bem que cura a gente,
ora é mal que não tem cura...
Agmar Murgel Dutra (Rio)

4º lugar

Entre nós dois, volta e meia,
ao amor fazendo jus,
muita coisa se clareia
quando a gente apaga a luz...
Colbert Rangel Coelho (Rio)

5º lugar

De gota em gota, pingando,
sem ver que a chuva parou,
goteira é a casa chorando
porque você não voltou.
Rubens de Castro (Corumbá)
.
6º lugar

O meu velho amor tristonho
é como nave perdida
pelo Mar-Morto do sonho,
pelo Mar-Negro da vida...
Vasco de Castro Lima (Rio)
7º lugar

Miséria de pão maltrata...
Mas quanta gente, Senhor,
sabeis que morre ou se mata
quando há miséria de amor!
Lilinha Fernandes (Rio)

8º lugar

Naquele quarto onde outrora
nosso amor viveu... sonhou...
sua boneca que chora,
me vendo triste... chorou!
Rubens de Castro (Corumbá)

9º lugar

Faz-se tarde... A noite é plena...
Suspiros de amor... Inverna.
– Tu nos meus braços... É pena
que a noite não seja eterna!
David de Araújo (Santos)

10º lugar

Quando começa o fragor
e a guerra acende a centelha,
há sempre um gesto de amor
nos braços da Cruz Vermelha.
Durval Mendonça (Rio)

Menções Honrosas

11º lugar

Um grande amor, palpitante
de vida e de sonho, é assim:
nasce, às vezes, num instante
e depois não tem mais fim.
Walter Waeny (Santos)

12º lugar

Não quero a glória que passa,
nem beleza nem dinheiro;
quero o brilhante, sem jaça,
de um grande amor verdadeiro!
Lúcia Lobo Fadigas (Rio)

29
13º lugar

Vendendo amor, esquecida
por essas ruas além,
vive a moça que, na vida,
não teve amor de ninguém!
Alves Costa (Rio)

14º lugar

Sou nau de leme partido,
galho sem folha nem flor,
que a vida perde o sentido
quando se perde um amor...
Elton Carvalho (Rio)

15º lugar

Não graves, na árvore, as formas
de um coração, por favor:
numa ferida transformas
o emblema de nosso amor.
Walter Waeny (Santos)
.
16º lugar

Ao que pede, à tua porta,
dá, também, tua afeição!
Um pouco de amor conforta
mais que um pedaço de pão!
Rodolpho Abbud (Nova Friburgo)

17º lugar

Numa alegria incontida,
vivemos um sonho em flor:
eu sou toda a tua vida,
tu és todo o meu amor!
Aparício Fernandes (Rio)

18º lugar

Ela de amor não se farta,
e comovido hoje vejo
que o final da sua carta,
em vez de um ponto, era um beijo.
Adhemar Mendonça (Juiz de Fora)


19º lugar

Você partiu... quantos anos...
nem sei se o mundo parou!...
E, apesar dos desenganos,
você partindo... ficou!
Rubens de Castro (Corumbá)

20º lugar

Ponho meus olhos no espaço
e tropeço entre as estrelas.
Penso em ti: entre elas passo
e nem sequer chego a vê-las.
Maria Thereza Cavalheiro (São Paulo)

Outros semifinalistas –
Além dos 20 trovadores premiados
(cujas trovas foram transcritas acima), figuram
também na relação dos semifinalistas os
seguintes (alguns com mais de uma trova):
Alfredo de Castro (Pouso Alegre), Andrônica
Pereira Moura (Rio), Araife David (Taubaté),
Aristheu Bulhões (Santos), Aristides José de
Campos (São Paulo), Carlos Guimarães (Rio),
Carolina Azevedo de Castro (Petrópolis),
Carolina Ramos (Santos), Cesídio Ambrogi
(Taubaté), Constantino Gonçalves (Campos dos
Goytacazes), De Paula Mádia (Taubaté), Eno
Theodoro Wanke (Santos), Geraldo Pimenta de
Moraes (Pouso Alegre), Idália Krau (Rio), Isabel
Cholby Santos (Santos), Jenny Teixeira Gomes
(Bauru), Jorge Beltrão (Pouso Alegre), Jorge
Rocha (Rio), José Coelho de Babo (Nova
Friburgo), Joubert de Araújo Silva (Rio), Júlio de
Mello e Silva (Itaquera), Magdalena Léa (Rio),
Maria Idalina Jacobina (Rio), Marília Fairbanks
Maciel (São Paulo), Marina Tricânico (São
Paulo), Octávio Babo Filho (Rio), P. de Petrus
(Rio), Roberto Medeiros (Juiz de Fora), Severina
Dumas Cavalcanti (Campos dos Goytacazes),
Sinval E. da Cruz (Juiz de Fora), Sidney G. Wyss
Barreto (Rio Claro), Têula Athayde de Souza
Dias (Belo Horizonte), Vera Azevedo de Castro
(Petrópolis), Wandisley Garcia (Jales), Wilson
Montmor (Resende).

30
Os Jogos Florais de Corumbá, segundo Luiz
Otávio

Ontem estávamos no extremo oeste
brasileiro – na cognominada “Cidade Branca”,
Corumbá, onde assistimos, encantados e
entusiasmados, aos seus I Jogos Florais. Foram
cinco dias inesquecíveis de sonho, de
confraternização, de uma hospitalidade
carinhosa.
Partimos do Rio de Janeiro num turbo-
hélice japonês, no domingo, 9 de junho. A
caravana era formada pelos premiados Durval
Mendonça, Colbert Rangel Coelho, Lúcia Lobo
Fadigas, Luiz Alves Costa, Elton Carvalho,
Rodolpho Abbud e membros da Comissão
Julgadora: Margarida Lopes de Almeida, Maria
Sabina, Helena Ferraz e o autor destas linhas
(Luiz Otávio).
O primeiro colocado, de Maringá, A. A.
de Assis, incorporou-se ao grupo em Campo
Grande, em companhia de Ary de Lima (poeta e
vereador), representante da Câmara Municipal
de Maringá. J. G. de Araújo Jorge (também
membro da Comissão Julgadora) seguira por
terra, por sofrer de “alergia” aérea...
Cada um de nós – membros dessa
comitiva – só teve expressões de
encantamento para qualificar a beleza desses
festejos tão bem idealizados e organizados pelo
distinto casal Dr. Hélio Sachser de Souza, com a
cooperação da Prefeitura, do Governo do
Estado, da sociedade local, dos clubes, do
comércio e indústria, dos Irmãos Chamma, do
Exército e Marinha, da imprensa e rádio, da
mocidade estudantil e de todo o povo da
cidade. Todos, enfim, prestigiaram, ajudaram, e
deram a sua presença ativa nas festas dos I
Jogos Florais de Corumbá. Para relatar, ainda
que resumidamente, todas as solenidades e
passeios, para citar todos aqueles que com seu
trabalho ou sua gentileza colaboraram para o
grande brilho das festas, precisaria escrever
várias crônicas.
Que me relevem, pois, os amigos de
Corumbá e os leitores. Assim, faço um breve
relato: no aeroporto, aguardavam-nos o
governador do estado, o prefeito, a Comissão
Central, os membros da Comissão
Selecionadora, os trovadores locais, as musas, e
inúmeras figuras da sociedade, que, em seus
carros, nos levaram ao hotel.
O almoço foi na casa do casal Lucy-
Hélio, e constou de uma caprichada feijoada de
autoria da genitora de Dona Lucy.
À noite, na Praça Dom Bosco, o coral
Cecília Meireles iniciou as solenidades com a
Oração de São Francisco de Assis, nosso
padroeiro, o que muito nos comoveu. A seguir,
Gabriel Vandoni de Barros fez o discurso de
inauguração do monumento ao corumbaense
Pedro de Medeiros, saudando também os
trovadores visitantes e exaltando os Jogos
Florais. Logo depois, J. G. de Araújo Jorge, em
breves palavras, fez uma saudação à cidade,
enaltecendo os Jogos Florais e focalizando a
beleza daquele espetáculo, com tanto povo em
volta de um coreto para assistir à inauguração
de um monumento a um poeta e ouvir trovas,
sendo, pois, um verdadeiro “Comício de
Poesia”. A seguir, os organizadores solicitaram-
me que comandasse a apresentação dos
trovadores ao povo e também aos ouvintes de
duas estações de rádio que transmitiam a festa.
Desfilaram os trovadores da comitiva e os
locais, cada um dizendo cinco trovas.
No dia seguinte, segunda-feira, 10,
fomos visitar a fazenda Itacupê, do sr. Angelito
Albaneze, onde nos foi oferecido um churrasco
pelo cronista social Admar Amaral. À tarde,
fomos visitar o Quartel General da Segunda
Brigada Mista, comandada pelo general
Mendonça Lima, que, com sua oficialidade,
recebeu com grande atenção a caravana dos
trovadores. A seguir, visitamos o Museu
Regional, uma obra notável de Gabriel Vandoni
de Barros. Às vinte horas, houve uma recepção
na Câmara Municipal, quando o vereador e
trovador Clio Proença saudou os visitantes e,
por coincidência, teve sua oração respondida
por outro vereador, de Maringá, Ary de Lima.
Outros vereadores e trovadores usaram da
palavra. A seguir, todos se dirigiram para o
navio paraguaio “Presidente Carlos Antonio
Lopes”, onde nos foi oferecido um belo
banquete, com a presença do prefeito, do
cônsul do Paraguai e de outras autoridades. Foi
uma bela noite, com poesias ditas pelos
trovadores e declamadas por Margarida Lopes

31
de Almeida, Maria Sabina, Lucy Maria Bonilha
de Souza e pela musa Nancy Scaffa. Um
conjunto paraguaio apresentou belíssimas
músicas típicas. Esquecia-me de dizer que pela
manhã desse dia fizemos um belo passeio às
minas de manganês de Urucum.
Na terça-feira, dia 11, fomos à Base
Naval de Ladário, e assistimos às
comemorações do aniversário da Batalha do
Riachuelo. A parte da tarde foi ocupada na
visita a indústrias locais. À noite fomos
convidados pelo comandante da Base Naval de
Ladário para a festa e coquetel em
comemoração ao Dia da Marinha. Houve
danças, e os trovadores apresentaram as suas
trovas.
No dia 12, quarta-feira, pela manhã,
fomos de ônibus até Puerto Suares, na Bolívia.
Na fronteira, tiramos uma fotografia com um
pé no Brasil e outro na Bolívia. À tarde, fizemos
um belíssimo e agradável passeio pelo rio
Paraguai, a bordo de um navio da flotilha. Havia
um conjunto orfeônico estudantil, que
apresentou vários números, e alunas de
colégios de Corumbá e Ladário chegaram a
fazer filas para que os trovadores escrevessem
trovas nos seus cadernos. À noite, tivemos
excelente programa de declamação, de
responsabilidade de Lucy Maria Bonilha de
Souza, que recebeu de todos os maiores
aplausos. Inicialmente, foram coroadas as
musas pelos trovadores. Na primeira parte,
vários grupos, muito bem ensaiados,
apresentaram poemas e as trovas vencedoras.
Na segunda parte, houve um desafio estilizado,
muito bem apresentado por seis pares. Na
terceira parte, tivemos a saudação aos
visitantes pelo dr. Lécio Gomes de Souza, um
poema de exaltação aos Jogos Florais e aos
trovadores, por Lucy Maria Bonilha de Souza, e,
finalmente, em agradecimento, aos
organizadores, e à sociedade que lotava o
Corumbaense Futebol Clube, eu disse algumas
palavras e apresentei os trovadores, que
declamaram suas trovas. Maria Sabina fez um
poema para a ocasião, que foi muito aplaudido.
Às 23 horas fomos todos homenageados no
baile do Riachuelo Futebol Clube.
No dia 13, pela manhã, assistimos ao
desfile escolar-militar pelo transcurso do 101º
aniversário da Retomada de Corumbá. Abria o
desfile uma grande faixa com saudação aos
Jogos Florais. A musa desfilou num carro
alegórico que trazia, num enorme quadro, a
trova vitoriosa, de A. A. de Assis. Às 11h30, no
salão nobre da Prefeitura, com a presença do
general comandante da Segunda Brigada Mista,
do contra-almirante comandante da Base Naval
de Ladário, do bispo, do prefeito, de outras
autoridades, de elementos da sociedade local,
além dos trovadores, o prefeito saudou os
visitantes e, a seguir, como presidente nacional
da UBT, instalei oficialmente a UBT de
Corumbá, dando posse ao seu presidente,
Gabriel Vandoni de Barros. À tarde, alguns
trovadores foram ao Clube de Tiro, onde
assistiram à prova “I Jogos Florais”, enquanto
Colbert, Elton, Rodolpho e eu fizemos um
belíssimo vôo de teco-teco, graças à gentileza
do comandante Carneiro. À noite, tivemos o
Baile das Musas, no Corumbaense Futebol
Clube, quando os trovadores visitantes foram
homenageados por D. Lucy.
Na sexta-feira, dia 14, pela manhã,
fomos levados por grande caravana ao
aeroporto, onde houve trovas improvisadas e
lágrimas...
Tomamos um DC-3 até Campo Grande
e, ali, o Caravelle que, a oito mil metros de
altura e 850 quilômetros por hora, nos trouxe
de volta, tão rapidamente, na ilusão de que
poderia voar mais depressa que a saudade que
já voava ao nosso lado...
----------
Fonte:
Colaboração do trovador A. A. De Assis

32

ARTIGO CIENTÍFICO

De acordo com a vivência científica, os
acadêmicos são confrontados seguidamente
pela necessidade da redação de textos de
cunho variado. Seja para disciplinas específicas,
atividades de pesquisa, dentre outros, os
alunos devem escrever seguidamente artigos
sobre um ou mais assuntos.
Assim, um artigo científico pode ser
conceituado como um estudo realizado de
maneira resumida sobre uma questão que se
fundamenta em alguma natureza científica.
Devido à sua dimensão, assim como conteúdo,
visa a representação de um resultado de
estudos efetuados.
A finalidade primordial de um artigo
científico seria trazer a público resultados de
pesquisas realizadas ou estudos efetuados,
sendo este o cunho exercido na quase
totalidade dos cursos de graduação ou pós-
graduação.
O artigo científico conta com uma forma
de realização relativamente distinta de uma
monografia convencional, devido à maior
concisão e natureza dos dados tratados.
No entanto, da mesma forma, o artigo
científico é dividido em partes pré, textuais e
pós textuais, sendo que também estas partes
se encontram em menor número.
A linguagem própria a ser utilizada para
a realização de um artigo científico deve primar
pela concisão e objetividade, buscando dar
maior relevância para os dados a serem
apresentados.

MONOGRAFIA

Inicialmente, deve-se conceituar a
palavra monografia. Uma monografia pode ser
definida como um estudo aprofundado de um
determinado assunto e realizado a partir de
uma rigorosa metodologia.
No entanto, outras definições também
poderiam ser apresentadas para monografias,
tais como as de que a monografia seria uma
delimitação realizada por escrito de um assunto
qualquer, ou ainda de que a esta seja um
estudo científico que apresente uma
determinada relevância, de modo sistemático e
completo. A palavra monografia significa a
“escrita sobre um único assunto”.
Apesar de existir na prática uma divisão
nominal de textos, tais como a dissertação, o
TCC, a tese, entre outros, todos são tipos de
monografia no seu sentido lato.
Esta monografia geralmente ronda um
assunto específico de acordo com sua
relevância, sendo elaborada de maneira
sistemática e organizada visando uma melhor
construção das idéias e conceitos expostos e
construídos. No entanto, como questão
fundadora da necessidade de elaboração de
uma monografia pode-se encontrar como a
resposta de um problema de pesquisa.
Como propósito gerador de toda
monografia, existe a necessidade de
tratamento de um tema específico de modo a
fundamentá-lo suficientemente, sendo mais
importante a qualidade do texto que o seu
tamanho, mas não se deve confundir uma
monografia pequena com um artigo científico.
De acordo com seus propósitos, a
monografia é construída a partir de inúmeras
regras que visam basicamente o melhor
tratamento da idéia ou assunto tratado assim
como também gerar uma certa homo-
geneidade em relação à metodologia utilizada
para sua criação.
A monografia se baseia a partir de fatos
ou ainda conceitos, devendo-se fundamentar o
assunto de modo a que se obtenha uma
coerência e relevância científica e/ou filosófica.
Para tanto, a monografia necessita ser
elaborada a partir do embasamento existente
em bibliografias, que irão fundamentá-la ou

33
ainda a partir de resultados práticos de
pesquisa científica, como um modo de
apresentação, racionalização e discussão dos
mesmos.
É desejável que a monografia possua o
máximo de vieses possíveis sobre o assunto
tratado, de modo a possibilitar ao leitor o
entendimento substancial do mesmo. Para
tanto, as monografias são compostas de
inúmeras partes, textuais, pré e pós-textuais
que possuem funções específicas de relevância
conhecida. A possibilidade e limites de
realização de uma determinada monografia
varia de acordo com o tema de monografia.
As diversas regras e normas existentes
para a elaboração de uma monografia são
provenientes da Associação Brasileira de
Normas Técnicas ou ABNT, entidade máxima
brasileira no que tange a esta questão. No
entanto, em muitos casos, cada instituição
educacional pode optar por adotar regras
próprias de elaboração, devendo estas serem
observadas rigorosamente.
O MEC, ou Ministério de Educação e
Cultura, determina a necessidade da realização
de ao menos uma monografia no final de
muitos cursos de graduação ou pós-graduação
como pré-requisito parcial para a titulação.
Reconhece-se que a etapa de
elaboração de uma monografia é uma das mais
difíceis da vida acadêmica de um estudante,
devido à necessidade de união de uma série de
fatores como a observância às regras exigidas,
o tratamento metodológico de busca de fontes
bibliográficas, a experimentação científica, a
uniformização dos diversos dados exigidos e a
redação clara e objetiva, de modo a expor o
assunto de maneira clara e aberta.

DISSERTAÇÃO

A partir do exposto no Decreto-Lei nº
216/92 de 13 de Outubro, que tem como
finalidade a regulamentação das atribuições
dos graus de mestre e de doutor, "O grau de
mestre comprova nível aprofundado de
conhecimentos numa área científica específica
e capacidade para a prática da investigação".
Da mesma forma, o parágrafo único do
artigo 2º da RESOLUÇÃO CNE/CES Nº 1, DE 3 DE
ABRIL DE 2001 determina que “ emissão de
diploma de pós-graduação stricto sensu por
instituição brasileira exige que a defesa da
dissertação ou da tese seja nela realizada”,
sendo também necessária a realização de uma
dissertação .
A dissertação , desta forma, faz parte do
cotidiano dos alunos de mestrado stricto-sensu
no Brasil.
Pode-se apontar dois modelos básicos
de dissertação : a dissertação expositiva e a
dissertação argumentativa. A dissertação
expositiva visa a exposição, explicação ou
interpretação de idéias; já a dissertação
argumentativa tem como finalidade a
persuasão do leitor em relação a uma hipótese
ou proposição lançada, formando opiniões e
formulando novas questões.
No modelo de dissertação expositiva,
torna-se possível a construção de uma
explanação sem que haja um embate
discordante de idéias ou temas, servindo-se da
impessoalidade ao mesmo tempo em que o
contrário pode se dar com a tentativa de
convencimento, no caso da argumentativa.
Para que a dissertação argumentativa
tenha sua finalidade cumprida, os argumentos
necessitam apresentar uma importante
consistência de raciocínio e de provas. A
consistência do raciocínio consistente consiste
no apoio sobre os princípios da lógica, em que
não se perde em especulações vãs, na
esterilidade vazia e sem conteúdo. Ao mesmo
tempo, em uma dissertação , deve-se servir de
provas específicas, de acordo com a área, no
sentido de reforçar os argumentos. Os tipos
mais comuns de provas são: os fatos-exemplos,
os dados estatísticos e o testemunho.
Nossos professores se encontram
plenamente capacitados para a realização de
monografia de suporte para sua dissertação
com qualidade, pois já passaram pelo estágio
necessário de suas vidas já que apresentam,
EM SUA TOTALIDADE, o grau de mestres ou
doutores.

34
ESCOLHA DO TEMA

A seleção de um apreciável tema de
monografias é um núcleo do sucesso da escrita
de sua monografia ou TCC e deve ser tratada de
acordo com sua importância.
Você deve considerar o tema para uma
monografia que fornecerá a oportunidade de
sintetizar suas experiências e características
pessoais de modo coerente ao se dirigir a seu
desejo para alcançar as audiências específicas
que deseja com sua monografia ou TCC.
Da mesma forma, a confiança em um
tema de monografia deve ser altamente
considerada.
Ao escolher um tema para sua
monografia, as seguintes perguntas devem ser
consideradas:
- Você escolheu um tema para sua
monografia que descrevesse algo de
importância em sua vida, e com a qual você
possa usar a experiência pessoal? Como
exemplo, observe o artigo relacionado ao tema
para monografia e TCC sobre dado e
informação.
- É um tema de monografia que refletirá
o pensamento de outrem? Se a resposta for
positiva escolha acima uma abordagem nova
para discutir em sua monografia.
- Seu tema de monografia pode
fornecer parágrafos com interessantes
citações? Se citar parágrafos com exemplos
bibliográficos concretos for algo você não pode
facilmente realizar em sua monografia,
considere um argumento diferente.
- Existe bibliografia suficiente para a
realização de seu tema de monografia? Um dos
problemas mais freqüentemente detectados
durante a elaboração de uma monografia ou
TCC é a descoberta de que não existem fontes
bibliográficas disponíveis. Um exemplo seria o
artigo relacionado ao tema para monografias e
TCC sobre oligoterapia, que contém uma
abordagem inovadora e pouco investigada no
meio acadêmico.
- Você está certo de que pode
responder integralmente à pergunta central de
sua monografia ou TCC? Você pode processar o
seu tema, durante a elaboração de sua
monografia ou TCC em todos os pontos dentro
da limitação, ou limitações existentes?
- Você conseguiria prender o interesse
dos leitores desde o primeiro parágrafo de sua
monografia?
Sua monografia, TCC ou qualquer outro
trabalho deve ser interessante e memorável.
Um dos aspectos os mais importantes a ser
considerado ao escolher o tema de sua
monografia ou TCC é se seu interesse sobre o
mesmo é correspondido por um número
significativo de pessoas, sendo este um índice
da qualidade da monografia.
Tente evitar ao máximo temas de
monografias que tratam de doutrinas políticas,
religiões específicas e opiniões controversas se
sua abordagem for denegrir as mesmas. No
entanto, se você conseguir ser imparcial em sua
monografia, estes são temas que sempre
atraem a atenção sobre monografias ou TCC. Se
você apresentar um tema de monografia
controverso, deve reconhecer argumentos
contrários sem soar arrogante. Um exemplo é o
artigo desenvolvido por nós sobre o tema para
monografia – O negro no Brasil.
Após ter avaliado o tema de monografia
com os critérios acima, você deve ter diversos
argumentos interessantes para a definição
deste.
Outra questão a ser levantada é a
influência do orientador da monografia ou TCC
na definição do tema.

O ORIENTADOR

Uma indefinição, infelizmente, para
todo aluno que realiza sua monografia ou TCC é
a participação do orientador no processo.
Afinal, seu orientador é um parceiro ou um
carrasco em sua monografia?
Infelizmente, a grande parte dos alunos
que procuram a Monografia AC não percebe a
importância do orientador em todos os níveis
de produção de monografias, da escolha do
tema de uma monografia até a defesa de sua
monografia ou de seu TCC.
Em relação a monografias, dentro de
sua função, a função do orientador advém do
próprio termo: aquele que orienta, que guia,

35
que sustenta e auxilia. No entanto, nem
sempre esta função é cumprida como deveria e
a culpa não é somente do orientador, mas
também do aluno.
Em algumas universidades, o aluno
procura aquele orientador com quem sinta
afinidade, estando mais à vontade para discutir
detalhes e o andamento de sua monografia, já
em outras, este mesmo orientador é imposto.
Em alguns casos, cada orientador segue
somente algumas monografias por semestre ou
ano, já em outros, um mesmo orientador
precisa coordenar mais de 50 monografias
simultaneamente. Sem contar a apresentação
do projeto de pesquisa, etapa muitas vezes
essencial para o aluno e seu TCC ou
monografia.
É óbvio que quanto mais exclusivo for o
seu orientador, mais auxílio ele poderá dar em
sua monografia, e menos reclamações você
terá.
Torna-se muito comum a procura por
parte de nossos clientes para que possamos
definir um tema para sua monografia. No
entanto, aconselhamos a você procurar seu
orientador para definirem, em conjunto, as
melhores diretrizes para o seu trabalho e sua
necessidade.
Caso ele lhe sugira um tema que você
não domina para sua monografia ou TCC,
procure se informar sobre o mesmo, lendo
artigos, como por exemplo.
A idéia é que você procure seu
orientador sempre que necessário, tirando
dúvidas, questionando, com a humildade de
aceitar e acatar o que ele tem a lhe oferecer.
Peça sempre mais do que ele dá, já que um
aspecto que sempre notamos é que muitos
alunos esperam que o seu orientador sempre
tome a iniciativa.

PROJETO DE PESQUISA

“Pesquisa é o conjunto de atividades
intelectuais tendentes à descoberta de novos
conhecimentos” (SAAVEDRA, 2001, p. 61)

A melhor definição para o projeto de
pesquisa é um plano de trabalho da pesquisa a
ser realizada, visando primordialmente a
definição dos rumos a serem adotados de
acordo com a natureza específica do seu
estudo, de modo a facilitar sobremaneira seu
trabalho futuro.
Via de regra, o projeto de pesquisa se
encontra orientado para a resposta de
perguntas conceituais como: O quê? Para quê?
Por quê? Onde? Como? Quando?
Assim, a construção do projeto deve ser
específica para ordenar de maneira metódica e
completa aquilo que o aluno realizará
posteriormente.
Para a consecução dos seus objetivos, o
projeto de pesquisa é dividido em partes
específicas do mesmo. A definição do tema é
uma das partes essenciais do projeto, onde
ocorre a seleção do objeto de estudo.
A justificativa de um projeto de
pesquisa consiste na apresentação das razões
por que se busca realizar tal pesquisa, sendo
complementada pelo problema, que é uma
pergunta ainda sem resolução, seja uma
dúvida, uma vontade de testar ou compreender
ou ainda alguma lacuna existente do
conhecimento ou metodologia.
Os objetivos são as indicações do que se
pretende estudar, quais os resultados que se
procura alcançar, auxiliando ainda a
identificação da natureza de pesquisa, assim
como da delimitação da mesma.
A fundamentação teórica do projeto de
pesquisa tem a finalidade de nortear a
pesquisa, apresentando fontes de pesquisa já
realizadas sobre o mesmo tema, ou altamente
correlato, sendo a hora do levantamento das
publicações existentes, assim como do teor das
mesmas, relacionadas ao mesmo tema do
projeto.
Todo projeto de pesquisa indica uma
metodologia, que consiste na explanação do
método, do modus operandi a ser adotado pelo
aluno para a realização do seu trabalho. O
tratamento oferecido aos dados a serem
obtidos também faz parte da metodologia.
A definição dos custos do projeto
também deve estar indicada, demonstrando-se
detalhadamente os gastos futuros a serem
realizados para a consecução do trabalho.

36
Já o cronograma, parte constante do
projeto de pesquisa, serve como ponte de
relação entre o tempo e o trabalho a ser
realizado, devendo estar indicado por etapas
visando a compreensão do aproveitamento do
período disponível por parte do aluno.
Termina-se o projeto de pesquisa com
as referências bibliográficas adotadas para a
realização do mesmo, assim como para as
escolhidas para o norteamento do trabalho a
ser realizado.

Fonte:
http://www.monografiaac.com.br/index.html

Na Selva vivia uma vez um Macaco que
quis ser escritor satírico.
Estudou muito, mas logo se deu conta
de que para ser escritor satírico lhe faltava
conhecer as pessoas e se aplicou em visitar
todo mundo e ir a todos os coquetéis e
observá-las com o rabo do olho enquanto
estavam distraídas com o copo na mão.
Como era verdadeiramente muito
gracioso e as suas piruetas ágeis divertiam os
outros animais, era bem recebido em toda
parte e aperfeiçoou a arte de ser ainda mais
bem recebido.
Não havia quem não se encantasse com
sua conversa, e quando chegava era recebido
com alegria tanto pelas Macacas como pelos
esposos das Macacas e pelos outros habitantes
da Selva, diante dos quais, por mais contrários
que fossem a ele em política internacional,
nacional ou municipal, se mostrava
invariavelmente compreensivo; sempre, claro,
com o intuito de investigar a fundo a natureza
humana e poder retratá-la em suas sátiras.
E assim chegou o momento em que
entre os animais ele era o mais profundo
conhecedor da natureza humana, da qual não
lhe escapava nada.
Então, um dia disse vou escrever contra
os ladrões, e se fixou na Gralha, e começou a
escrever com entusiasmo e gozava e ria e se
encarapitava de prazer nas árvores pelas coisas
que lhe ocorriam a respeito da Gralha; porém
de repente refletiu que entre os animais de
sociedade que o recebiam havia muitas Gralhas
e especialmente uma, e que iam se ver
retratadas na sua sátira, por mais delicada que
a escrevesse, e desistiu de fazê-lo.
Depois quis escrever sobre os
oportunistas, e pôs o olho na Serpente, a qual
por diferentes meios — auxiliares na verdade
de sua arte adulatória — conseguia sempre
conservar, ou substituir, por melhores, os
cargos que ocupava; mas várias Serpentes
amigas suas, e especialmente uma, se sentiriam
aludidas, e desistiu de fazê-lo.
Depois resolveu satirizar os
trabalhadores compulsivos e se deteve na
Abelha, que trabalhava estupidamente sem
saber para que nem para quem; porém com
medo de que suas amigas dessa espécie, e
especialmente uma, se ofendessem, terminou
comparando-a favoravelmente com a Cigarra,
que egoísta não fazia mais do que cantar
bancando a poeta, e desistiu de fazê-lo.
Finalmente elaborou uma lista completa
das debilidades e defeitos humanos e não
encontrou contra quem dirigir suas baterias,
pois tudo estava nos amigos que sentavam à
sua mesa e nele próprio.
Nesse momento renunciou a ser
escritor satírico e começou a se inclinar pela
Mística e pelo Amor e coisas assim; porém a
partir daí, e já se sabe como são as pessoas,
todos disseram que ele tinha ficado maluco e já
não o recebiam tão bem nem com tanto prazer.

AUGUSTO MONTERROSO
Augusto Monterroso nasceu em 1921,
na Guatemala. Em 1944, mudou-se para o

37
México e, depois de muito observar a fauna
daquele país e de outros, se convenceu de que
"os animais se parecem tanto com o homem
que às vezes é impossível distingui-los deste".
Assim surgiu "A ovelha negra e outras fábulas",
lançado pela Editora Record - Rio de Janeiro,
1983, com tradução de Millôr Fernandes e
ilustrações de Jaguar.
Dele disse o escritor russo que se criou
nos Estados Unidos, Isaac Asimov: "Os
pequenos textos de A ovelha negra e outras
fábulas, de Augusto Monterroso,
aparentemente inofensivos, mordem os que
deles se aproximam sem a devida cautela e
deixam cicatrizes. Não por outro motivo são
eficazes. Depois de ler "O macaco que quis ser
escritor satírico", jamais voltei a ser o mesmo."
Foi agraciado, em 2000, com o Prêmio
Príncipe de Astúrias de Letras. Um dos
escritores latinos mais notáveis, Monterroso
tem predileção por contos e ensaios. "O
dinossauro", uma de suas obras mais célebres,
é considerado o menor conto da literatura
mundial: "Quando acordou, o dinossauro ainda
estava lá". Augusto Monterroso faleceu em
fevereiro/2003.

Fonte
http://www.releituras.com


Cantaste toda a gente e toda a parte,
Preste canto, presságio e profundo,
«Et coetera», automóvel e estandarte,
Canto mar, canto livre e canto fundo.
Te anelo rododendro em rodapé,
Eu rapsodo, sinal, revolução;
Te saúdo carioca e busco até
Canto mar, canto anil e cantochão.
Sonhei que tu nascias dentro em mim
E eu te apadrinhava. Éramos seis.
Eras Álvaro, Alberto e o Latim,
O teutónico, e o Ricardo Reis.
E sonhei que na «Ode Triunfal»
Eu era Autor de láureas dadivosas,
A libido, o licor e o real
Guardador de rebanhos só de rosas.
Pois quando agora em álcool for compor
O aljôfar, e alucinogénio,
Não confundam mais dinheiro com Amor,
Não matem, outra vez, o verde Génio.

Foste quatro em vez de um
Até nisso foste um mestre
E em todos e cada um
Pra falar por eles nasceste
Foste Caeiro, foste Reis
Foste Campos e Pessoa
Podias ser cinco ou seis
Pois nenhum de ti destoa
Mestre foste e serás sempre
Desta orgulhosa linguagem
Que nos embala p’lo mundo;
Pois tu Fernando fizeste
Renascer nos portugueses
O amor p’lo mar profundo!

38

Poetas nos dizemos, tu e eu...
Mas a Divina Mestria
está para além do que somos
Nossos versos... Poesia?...
São apenas magros gomos
duma iguaria completa
Gotas breves
dum mar que imortalizou
o verdadeiro Poeta
Que a dor nunca nos doa
do poeta que não fomos
do estro que não floriu
E bendigamos a asa
que ao de leve nos tocou
poeira que se espargiu
e nós pegámos à toa
quando a “esquina dobrou”
o grande mestre PESSOA

Fontes:
– Varanda das Estrelícias (de Joaquim Evónio),
http://www.joaquimevonio.com/
– Douglas Lara , www.sorocaba.com.br/acontece
Quando eu chegar ao Céu, de manhã,
de tarde ou de noite, não sei ainda, pedirei
para ir à biblioteca de Deus, onde curiosamente
bisbilhotarei — com respeito — algumas obras.
Quero reler a Invenção de Orfeu, de nosso
Jorge de Lima, sofredor, telúrico e místico,
homem bom, cirenaico, assim lhe chamou
Rachel de Queiróz, quando ele morreu,
novembro, 15, do ano de 1953.
E pedirei, sim, para conversar com
Manu, Manuel Bandeira, que se chamava
Neném. Matarei saudades do dentuço Manuel,
que foi o melhor ser humano que conheci,
neste mundo. E gostaria de conhecer Chiquita
do Rio Negro, que recusou casar se com Ataulfo
Nápoles de Paiva, conviva do baile da ilha
Fiscal. Escrevi sobre Chiquita. Li a sua biografia,
escrita por Garrigou-Lagrange.
Meu Deus, convocaria Jaime Ovalle, o
tio Nhonhô, que morreu com a idade de Jorge
de Lima. Ali, na biblioteca do Céu, conheceria o
estupendo Ovalle, o do Azulão, o bêbedo
místico, o amigo de Manuel, íntimo de Londres
e de Nova York.
Por fim, suplicaria para falar com João
Guimarães Rosa, poliglota, com quem tão
poucas vezes falei. E evocaria a posse do seu
sucessor, na Casa de Machado. Esqueci-me
completamente dessa posse, ai de mim.
E fui. Lá estava eu, 1968. Um ano depois
da morte de Rosa. Mário Palmério falou sobre
ele, como seu herdeiro. E gostei tanto do
discurso, equilibrado, lúcido, original. Se me
lembro. Foi procurar cartas íntimas de Rosa
para grande amigo, médico e fazendeiro em
Minas, Moreira Barbosa. Cartas de outrora.
Deliciosas, fraternais, confiantes, de pura
entrega. Reveladoras do ser complexíssimo,
fechado, carente, que gostava de disfarçar,
despistar, ir e vir, comensal do mistério.
Saudarei a uns e outros na largueza dadivosa
do Céu, turbilhão de amor, como dizia o
insaciável Léon Bloy.

ANTONIO CARLOS VILLAÇA
Antonio Carlos Villaça nasceu na cidade
do Rio de Janeiro (RJ), aos 31 de agosto de
1928. Jornalista, conferencista e tradutor, é
reconhecido como um dos mais importantes
memorialistas do Brasil. É autor de mais de 20
livros, dentre os quais destacamos “Perfil de
um estadista da República” (edição do autor,
1945), pequena biografia do Barão do Rio

39
Branco, organizou, em 1962, um livro sobre o
poeta romântico Junqueira Freire para a
coleção “Nossos Clássicos” (Agir), como
memorialista estreou com “O nariz do morto”
(JCM, 1970; Rocco, 1975; Ediouro, 1990 e
1996), ao qual se seguiram “O anel” — seu livro
preferido — (Editora Rio, 1972), “O livro de
Antonio” (José Olympio, 1974), “Monsenhor”
(Brasília/Rio, 1975), “Degustação, memórias”,
(José Olympio, 1994), “Os saltimbancos da
Porciúncula” (Record, 1996), “A descoberta do
morro” (Vigília, 1984), “Manuel Bandeira” (Agir,
1984), “O desafio da liberdade” (Agir, 1983),
“Alceu Amoroso Lima” (Agir, 1984).
Com o conhecimento adquirido em sua
frustrada vida religiosa que, segundo alguns
críticos, é a espinha dorsal de sua obra — vide
“Villaça: Um noviço na solidão do mosteiro” —
produziu ensaios fundamentais, dos quais
destacamos “História da questão religiosa”
(Francisco Alves, 1974), “O pensamento
católico no Brasil” (Jorge Zahar, 1975), “Tema e
voltas” (Hachette, 1976), “Literatura e vida”
(Nova Fronteira, 1976), “Místicos, filósofos e
poetas” (Imago, 1976).
Muitos escreveram sobre sua obra e sua
posição importantíssima na literatura brasileira
deste século: os poetas Cassiano Ricardo e
Carlos Drummond de Andrade, o crítico Wilson
Martins, o romancista Octávio de Faria.
Conviveu com Alceu Amoroso Lima, Gilberto
Amado, Augusto Frederico Schmidt, Gilberto
Freyre, Manuel Bandeira, Pedro Nava. Na
livraria José Olympio, conversava todas as
tardes com Graciliano Ramos.
Em “Memórias de um eterno menino ao
sol”, resenha do livro “Os saltimbancos da
Porciúncula”, de autoria de Isabel Lustosa, diz
ela:
“Villaça é o flaneur, é o homem das
multidões, testemunha discreta e atenta, ávida
de ver, de compreender, de entrar em contato.
Seu olhar contemplativo percorre com calma e
volúpia a paisagem e os homens em volta.
Retira deles o que apenas a sua sensibilidade, o
seu paladar, enfim, os seus sete sentidos
apuradíssimos são capazes de apreender.
Transforma tudo em palavras. Porque para ele,
no principio não é a ação, é o verbo. Villaça
defende a primazia da palavra sobre a ação. E
as palavras brotam dele com uma naturalidade
prazerosa, parecendo nascer assim ao correr da
pena, revelando as coisas conforme elas vão se
apresentando à memória do que escreve. E,
com elas, as sensações que evocam, renovadas,
vívidas, palpitantes, como se o narrador
estivesse a vivê-las naquele momento, a
experimentar de novo a volúpia do sol sobre a
pele no quintal da sua infância”.
Antonio Carlos Villaça foi agraciado, em
2003, com o Prêmio Machado de Assis,
concedido pela Academia Brasileira de Letras,
pelo conjunto de sua obra.
O autor faleceu no dia 29 de maio de
2005.

Fontes
VILLAÇA, Antonio Carlos. Os saltimbancos da Porciúncula.
RJ: Editora Record, 1996.
http://www.releituras.com

O POETA

É aquele que ama um pouco mais,
E nunca ama por amar
E sonha um pouco mais, voa um pouco mais
alto
E um pouco mais longe...

Chega onde poucos conseguem chegar
Entra nos labirintos da mente
Conhece o passado e presente
Deduz o futuro com tanta exatidão
Que parece viver um passo a frente

Nele existe um pouco mais de emoção
Um pouco mais de atenção

40
Um pouco mais de alegria
E um pouco mais de solidão

Um pouco mais de sinceridade
Coisa pouca dentro de muita gente
Um pouco mais da louca igualdade
Que o faz assim, tão diferente

Ele tem um pouco mais de quase tudo
Guardado dentro da mente
De tudo faz um poema, revela tudo que sente

Assim é o poeta
Ama sem ser amado; espera sem ser esperado
E muitas vezes, morre abandonado

Por vezes, só depois da morte
Tem seus poemas lembrados...

O CORAÇÃO QUE AMA

O coração que ama,
É oásis no deserto e alimento ao faminto,
Água ao sedento, força para o fraco,
Consolo ao aflito.

É paz em meio à guerra,
Não tarda, não se esconde,
É um pouco do céu aqui na terra.

O coração que ama
Não busca glória e nem recompensa,
A ninguém diminui, a ninguém entristece,
Na bonança está presente,
Na tormenta não desaparece.

O coração que ama tudo suporta,
Perdoa sem ser perdoado,
Ama sem ser amado,
Não maltrata quando maltratado,
Não julga quando é julgado.

O coração que ama
Não se cansa de fazer o bem,
Não difama, não agride, não acusa,
Sabe a hora de ouvir e a hora de falar,
E se nada pode fazer, sabe a hora de calar.

O coração que ama desse jeito,
Aprendeu com a crucificação,
Que se não pode pôr nos ombros sua cruz,
Te sustenta, te carrega e te ajuda em oração.

O DIA PERFEITO

Para mim será quando acordar
De manhã e te ver ao meu lado,
Poder te preparar um café,
Voltar e te ver ainda deitado,

Poder segurar sua mão e,
Andar livremente pelas ruas da cidade,
Saber que és totalmente meu e,
Que nunca mais sofrerei a saudade.

O dia perfeito
Para mim será lembrar que fiz uma oração
Te pedindo como milagre,
E poder tocar em ti, e ver na viração do dia
Este milagre em sua totalidade,

Pode um construtor, não amar
A obra que construiu com tanta dificuldade,
Olhar e não sentir-se feliz vendo que o
Que era sonho tornou-se realidade?

Pois eu tenho medo que isto um dia aconteça,
Que o dia perfeito chegue e eu, talvez não
mereça,
Que diante de ti, eu fique extasiada,
E ao invés de amar, para sempre adormeça,

Que não suportes meu tremor,
A força do meu amor e
Em meus braços, desfaleça.

O dia perfeito
Para mim será tê-lo ao meu lado
Sem que haja para isso juramento,
Que tudo aconteça livremente,
Que tudo se revele e que seja lindo,

E para o que não foi dito,
Que haja perdão e caia no esquecimento.

O dia perfeito
Para mim será quando o amor esconder nossos
defeitos

41
E nos deixar viver o momento,

Pois para mim este amor vem sendo construído
Através de tempos... Eternidade até,

O dia perfeito
Para mim será ver concretizado
Aquilo que um dia era apenas fé.

PERDÃO

(Poema realizado em parceria com Aparecido
Raimundo de Souza [à esquerda])

É como se fosse um poço profundo
é como se a questão maior do mundo
fosse apenas o fim do poço

No poço sem fundo, um mundo sem poço
um sem fim de mundo mas tudo é simples...
só o fim do mundo no fundo do poço,
tudo faz parte da vida do sofrimento

Até a alegria o espaço finito
entre dois sentimentos
é o burburinho misterioso
de todos os outros momentos

E todos os momentos
também passam e tem fim
infinita é apenas a eternidade

Mas inexorável é a vida
posto que tudo voa de repente
alucinadamente, irrevogavelmente
mas eu te perdoo

Eu também te perdoo
por que fostes embora
deixando este vazio em mim
saiu pelo mundo a fora

Eu te perdoo
por teres me dado a vida
me teres feito frágil e covarde

eu te perdoo
por teres mostrado a mim
apenas coisas da natureza
e no misterioso universo
te escondeu de mim

É pouco...? Mas eu te perdoo

Por teres me feito guloso e insaciável
por viveres tão oculta
e não me teres revelado tantos
segredos que quero desvendar

Mas eu te perdoo
sobretudo e principalmente
por me teres deixado
te amar

Palavras que me dão liberdade
eu,
você
e nunca nós e, eu também te perdoo
por ter me feito acreditar
na felicidade, na existência do amor

E agora não creio mais
todas as possibilidades você me tirou
mas eu também te perdoo

Então moça...
canta vitória
com riso chorado
e mata a vitima de amor

Quem é a vitima?

Eu...

Se falasse comigo agora
não saberia quem sou
posto que de tanto amor por ti
minha vida evaporou

Por isso moço...
meu coração te perdoou

SILVIAH CARVALHO
Silvia Helena de Carvalho, nasceu em
Goiás, em 7 de julho de 1970, filha mais nova
de 7 irmãos. Morou um tempo ao relento até

42
que o pai conseguiu emprego em Cuiabá/MT.
Aí não conseguiu estudar, e aos 9 anos sairam
para Rondônia. Fantasiava suas histórias com
sua boneca, e guardava consigo, para que,
quando aprendesse a escrever, passasse para o
papel.
Ingressou na escola aos 10 anos de
idade, onde se dedicou com afinco. Quando já
sabia ler e escrever fez seu primeiro poema
"Terra Natal". Começou a trabalhar com 11
anos.
Sempre fazia poemas, seus professores
a incentivavam muito, até que um dia, aos 17
anos, quando trabalhava num despachante de
automoveis, estava escrevendo e chegou um
senhor que pediu pra ler o que escrevia. Era o
poeta Dr. José Calixto, que lhe disse: "moça
todas as quartas e sextas eu passarei aqui,
tenha sempre um poema novo". Ele levou e
passou a publicá-los no Jornal "O Estadão", o
maior jornal de Rondônia e lhe deu um livro
dele. A partir daí os poemas de Silviah eram
usados nas aulas de português, para
interpretação de texto e foi chamada para um
entrevista no jornal, sendo publicada uma nota
a seu respeito. Tomou impulso e continuou,
possuía muitos poemas.
Casou-se e foi morar em Manaus/AM,
onde escrevia menos, sendo seu tema
predileto: o amor, apesar de seu marido não
compreender esta sua paixão, o que a
desmotivou. Viveram juntos 6 anos, ele
adoeceu e faleceu com um cancer no intestino.
Após a sua morte entrou em depressão
muito forte e parou de estudar, de escrever e
trabalhar por cerca de 1 ano. Recuperada
voltou a trabalhar e estudar, para terminar seu
segundo grau (ensino médio). Antes de
terminar fez um pré-vestibular para Teologia no
IBADAM/AM, e passou em 8º lugar. Não sendo
possível conciliar varias coisas pois trabalhava
numa empresa de transportes como chefe de
RH, não podia fazer a faculdade sem terminar o
ensino médio, além de trabalhar com os jovens
dependentes quimicos, mais de 50 jovens, era
lider do grupo que os buscavam nas ruas pelas
madrugadas e cada dia aumentavam mais.
O diretor da faculdade na época disse
pra fazer a faculdade e fazer objetivo, assim
terminaria ao mesmo tempo, então fez isto por
dois anos, era a única maneira pra não perder o
emprego, o estudo e os jovens, de forma que
seu tempo era totalmente consumido, tinha 5
horas de sono, não tinha sabado nem domingo,
nem namoro, nada, entregou-se ao trabalho.
Não conseguia esquecer o marido, por
mais que não tivesse tempo, nesta solidão,
mesmo rodeada de gente e muitas promessas
de "amor" preferiu a solidão e um dia deixou
tudo, jovens, emprego, estudo, familia e foi
para um lugar distante. Tinha 28 anos e só
escrevia sua solidão, até que um dia fatídico a
casa onde estava incendiou-se, sua sobrinha
estava dentro, e no desespero, pegou no fio de
alta tensão, perdendo a memória e ficando 4
anos sem a memória.
Perdeu muitas poesias sem saber se
eram suas ou não. Não andava e nem falava.
Recuperou-se e foi trabalhar na empresa do
irmão (uma retifica de motores, como uma
fonte de terapia, conhecer todas as peças de
motores de todos os tipos de carros e outros e
guardar na memória). Foi melhorando, quando
se recuperou voltou a estudar, desta vez na
CEIFA/FAIFA - GO, no geral FAIFA é faculdade
por correspondencia, mas em Manaus ela
funciona normalmente. Abriu também o IBAD e
Silviah migrou para ele, ganhou de um parente
a edição de 2000 cópias do livro, das poesias
que conseguiu recuperar em 2007. Destas,
vendeu 1000 em menos de 3 meses, foi uma
produção muito simples, não tinha ISBN e só
conseguiu uma livraria que aceitasse.
Agora mora em Curitiba e ainda sem
transferência, sem saber se vai poder terminar
no IBAD ou se terá que procurar outra
faculdade pra concluir os dois periodos que lhe
faltam mais bacharelado.
Ela e sua irmã foram consagradas as
missionárias pela CONAMAD a nivel nacional,
pelo trabalho que exerceram em Manaus.
Está em fase de Abertura de uma
fundação beneficente, um trabalho com
recuperação de jovens, oficinas, artes,
literatura, tudo que puder alcançar, graças ao
auxílio de empresarios donos de fabricas no
Distrito Industrial, a ser montado em galpão
para as oficinas, padaria, etc.

43
Em Curitiba conheceu alguns grupos do
Rio de Janeiro, Pó-de-poesia, Gambiarra
profana (é só o nome, não são profanos), Folha
Pataxó, Ventos na primavera, que divulgam,
declamam, fazem musicas de seus poemas.
Mesmo sem conhece-los pessoalmente este
ano foram distribuidos dez mil zines com seus
poemas na Baixada Fluminense, num evento,
encontro de poetas e artistas plasticos, grupos
de teatros e etc.
Participou do concurso de poesia para o
dia dos namorado Radio FM/Jovem pan/AM
em 2001, ganhando 1º,2º e 3º lugares.
Participou do concurso Brasil 500 anos
da lingua portuguesa, ficando entre os 10
primeiros lugares.
Possui poemas no livro Ventos na
Primavera, de Arnoldo Pimentel/ RJ
Compositora, com mais de 30
composições, algumas ja gravadas por cantores
cristãos e uma musica gravada pelo grupo Pó-
de-poesia
Possui participação nos sites Recanto
das letras: www.silviah.net, Jornal da Poesia,
Rede Cultura, Para Ler e pensar, Clube de
Autores, O melhor da web Espaço Literário, Pó-
de-poesia, Gambiarra Profana, Folha Pataxó,
Super texto, Poemas de amor, Pavilhão
Literário Singrando Horizontes.
Convidada a integrar o hall dos Imortais
da Academia de Letras do Brasil, pelo estado do
Paraná, em agosto de 2010.

Fontes:
– Colaboração da Autora

http://umcoracaoqueama.blogspot.com
Prefácio de Franco da Rocha

O boato é um fenômeno social que bem
merece uma preleção psicológica, como um
capítulo, que de fato o é, da psicopatologia das
multidões.
Nas multidões, ou nas turbas, os
elementos estão reunidos em massas, num
momento dado; os fenômenos sociais aí se
realizam por explosão, por contágio súbito que
tem como ponto de partida o estado afetivo
exagerado de um ou de alguns elementos
influentes - os chefes de revolta, de arruaças
etc.
É da natureza humana o não agir sem
um estímulo exterior; nossa vida mental não
passa de sugestão de célula a célula e nossa
vida social uma contínua sugestão de pessoa a
pessoa. Isso se conclui da opinião dos
psicólogos que têm tratado desse assunto. A
sugestão é um fenômeno geral no meio social.
A imitação, a repetição universal, de que G.
Tarde se ocupa largamente no seu livro - Les
Lois de l'Imitation - demonstrando sua
universalidade, nada mais é do que a
"sugestão" na significação mais ampla dessa
palavra. O hipnotismo faz o papel de
microscópio, mostrando-nos a sugestão muito
aumentada. S. Sighele, no seu livro sobre a
"turba criminosa", esboçando em traços gerais
a psicologia das turbas, aceita as idéias de
Tarde e mostra sua coincidência com as de
Sergi (Psicose Epidêmica).
Com o boato as coisas se passam de
modo um pouco diverso; o fenômeno se realiza
lentamente, porque os indivíduos estão
esparsos; mas o fenômeno é da mesma
natureza essencial dos que se dão nas turbas.
Que é o boato? É quase sempre uma
criação fantasiosa de um indivíduo mau, de
caráter abjeto, fantasia essa que se espalha em
horas, ou em dias, numa coletividade humana,
num povoado, numa cidade, num Estado. O
boato nasce como realização ilusória de um
desejo perverso, originário de uma paixão
inconfessável - raiva, vingança, interesse torpe,
seja este pecuniário, político ou sexual.
O criador de um boato é sempre um
imbecil (moral). A vítima é, em regra geral, uma
pessoa que tem algum valor social; é esse o seu

44
único consolo…
O boateiro escolhe um momento
oportuno para lançar a sua mentira, a fantasia
perversa. Esse momento é de alta importância,
porque nele se acha a circunstância que dá
aparência de verdade ao fato que se pretende
propalar. Essa circunstância é mui variável de
um caso a outro. Não é possível, por exemplo,
divulgar a notícia de que um certo financeiro
importante está louco (para dar-lhe,
suponhamos, um golpe de momento) se estiver
ele presente e visível a todo o mundo; é preciso
que esteja ausente, fortuitamente. É a
circunstância oportuna.
Não basta, porém, como explicação
para o boato, essa circunstância e a
possibilidade ou verossimilhança do fato a
divulgar. É necessário o meio social apropriado
para que o fenômeno se realize. A sociedade
espelha o caráter de seus fatores
antropológicos. A explicação é bem escabrosa e
desoladora para o homem civilizado, mas é
preciso repetir a verdade, ainda que muito nos
custe.
"Dizer mal e gostar de ouvir falar mal de
alguém é um velho cacoete da alma humana.
Talvez seja a música mais harmônica que existe,
porque vibra bem com qualquer espírito". A
frase é de Austregésilo, no livro O Mal da Vida.
Há em toda a criatura humana um misto
estranho de bondade e de maldade, de infâmia
e de perversidade. As proporções dessa mistura
é que variam ao infinito. Desde o tipo bom,
completo, que sufoca perfeitamente o que há
de mal dentro de si mesmo, porque a lucidez e
a largueza de sua consciência lhe permitem
reconhecer e dominar a própria tendência
perversa, até o malvado arrematado, cuja
consciência estreita e sensibilidade moral
embotada lhe não permitem reconhecer o mal
que vive dentro dele, há nessa vasta série, a
infinidade de caracteres que vemos
diariamente na sociedade.
Devo a fineza de um amigo o
conhecimento de um trabalho de Conceptión
Arenal (Delito Coletivo) em que se repete a
noção acima exposta, apenas por outras
palavras; "lo más grave y lo más triste es ver
que cuanto mal son capaces los buenos, los que
portales se tenian y lo habian sido hasta que la
lucha vino a desnaturalizarlos, como se dice, o,
para hablar con más propriedad, a revelar su
naturaleza. Esta terrible revelación no es obra
de ningún principio, de ninguna idea; es
consecuencia del combate, que depierta malos
instintos dormidos y pone en el caso y hasta en
la necessidad a veces de satisfazerlos".
O trabalho secular da civilização tem
sido exatamente o de reprimir ou recalcar o
elemento mau e dar expansão e força ao que é
bom. Aquele, porém, não se extingue; existe
sempre, embora sufocado, como os Titãs da
fábula que, vencidos pelos deuses e soterrados
sob o peso das montanhas, se revelam de
tempos em tempos pelas convulsões de seus
membros, e sacodem as entranhas da Terra.
Canto e Melo, no seu recente romance -
Relíquias da Memória - lá diz a mesma verdade,
à página 67: "pela primeira vez na vida, pensei
na crueldade dos homens. Só os conhecera até
então através dos artifícios da civilização e do
convencionalismo da sociedade. Ao vê-los
agora, no pleno viço das suas inclinações
primitivas e bárbaras, convenci-me de que o
homem é mais feroz do que as feras e, se não
exerce a todo o momento contra os outros
homens a sua crueldade, é porque o medo da
represália lhe arrefece dentro do coração os
nefandos impulsos da ferocidade inata".
A concepção freudiana, seguindo as
pegadas do Prof. Bergson, admite na alma
humana o inconsciente dinâmico como sede de
todas as tendências e instintos maus recalcados
pela civilização no correr dos séculos.
Nada, entretanto, é novo neste mundo.
Os doutores da Igreja, finos observadores e
psicólogos, conheciam muito bem esses
assuntos e deles trataram nos seus escritos
sobre teologia, embora disfarçados pelo
simbolismo de sua linguagem.
Sabido isto, ainda que em súmula,
temos aí o núcleo indispensável para a
explicação do boato.
Toda a pessoa de valor social,
vencedora na luta pela vida, bem sucedida em
todos os seus esforços, tem na sociedade
número incontável de desafetos gratuitos,
instintivos, mesmo entre os que lhe são

45
absolutamente estranhos, não se tratando já
de oficiais no mesmo ofício, conhecidíssimos
como inimigos natos.
"A felicidade de qualquer é desespero
para muitos", diz muito bem Austregésilo no
Mal da Vida.
Quem não tem desafetos, tem com
certeza passaporte para o reino do céu.
O sucesso, por si próprio, cria má
disposição de ânimo nos outros. E essa
indisposição vive no inconsciente; não é
raciocinada. No seu fundo se encontra a inveja,
disfarçada sob múltiplos aspectos. Na espécie
humana é a política o melhor campo de
observação.
Entre os animais o fenômeno é
grosseiro e por demais visível. Repare-se
quando diversos cavalos comem numa só
manjedoura, cada um com seu quinhão de
alimento, como sai sempre um deles do seu
lugar, para ir escoicear os outros, embora não
lhe falte comida. É o mesmo fenômeno que se
encontra no meio social, muito abrandado, está
visto, pelo grau superior de desenvolvimento
em que se acha o homem.
É inegável, pois, que no meio social, por
toda a parte, existe sempre uma atmosfera de
insidiosa e inconsciente hostilidade contra a
pessoa que vence na vida. Haverá alguém tão
ingênuo que a desconheça?
Nessa atmosfera é que se acha o
elemento vital indispensável à germinação e
rápida florescência do boato.
A escuridão do anonimato dá ao
boateiro o ânimo e a proteção de que carece
para agir, como a escuridão da noite protege
certos insetos nojentos que propagam
repugnantes infecções. É mesmo essa uma das
feições que distinguem o boato de outros
fenômenos sociais da mesma natureza, como o
tumulto das ruas, por exemplo, que se realiza
em pleno dia, por contágio quase explosivo.
No fundo, na essência, os fatos são
idênticos. As coisas se tornam mais claras por
meio de exemplos banais. Barnabá, da ópera
Gioconda, provoca na praça um tumulto contra
a cega, mãe de Gioconda, lançando
sorrateiramente no meio dos marinheiros
descontentes a convicção de que fora a cega
quem exercera "malefícios" e ocasionara o mal
que os magoava no momento. O desejo de
possuir a Gioconda foi a verdadeira origem
daquele tumulto. O infame Barnabá é uma
criatura eterna na sociedade.
Mais belo exemplo se acha na tragédia
Júlio César, é o magnífico discurso de Brutus ao
povo romano. Grande conhecedor de sua alma,
Shakespeare pôs na boca de Brutus as palavras
inflamadas que levariam o povo a assassinar
Antônio, se este não possuísse também a
poderosa arte de dirigir a fera - a multidão -
que o ameaçava.
A habilidade do boateiro está, como em
regra nos fenômenos desse grupo da
psicopatologia social, em saber despertar e
açular a besta humana mal amordaçada pelas
coerções do meio civilizado.
O boateiro é sempre, como se disse,
uma alma defeituosa, que se agita por
mesquinhos interesses. Ele tem a maldade
indômita que existe na maioria dos homens,
embora mais ou menos escondida. Individual
no nascedouro, o boato passa logo a ser
coletivo em virtude da consonância que sua
tendência encontra nas almas do mesmo
estofo. Despine compara a propagação dos
estados afetivos nas multidões ao efeito da
onda sonora de uma nota musical, que faz
vibrar todas as notas iguais existentes dentro
da esfera atingida pelas suas ondulações. É um
principio geral nos fenômenos de contágio
moral.
A perversidade influi com prontidão,
porque é uma qualidade mais ativa do que a
bondade, afirma Sighele. Os bons em regra, não
procuram fazer o mal, são passivos; os maus
"querem" fazer o mal, são ativos.
Felizmente existem também almas
nobres em que essa lepra já se acha, por assim
dizer, extinta. Por meio dessas pessoas o boato
não caminha. Isso quer dizer que a alma
humana, em geral, é suscetível de
aperfeiçoamento com o envolver da civilização;
a consciência se alarga no correr da evolução. É
ao menos um consolo lembrar que a civilização
irá melhorando cada vez mais a sociedade,
onde vicejam ainda esses males, por enquanto
irremediáveis. Também, se o conhecedor da

46
alma humana só enxergasse ai o que há de mal,
morreria de pavor.
O aperfeiçoamento da consciência
chegará a extinguir o boato no dia em que a
maioria dos homens tiver clara intuição do que
acontece atualmente, em casos raros, quando
um cúmplice do boateiro encontra um homem
bom ele narra uma calúnia, mais ou menos
nestes termos:
"Sabe que "se anda dizendo" de F...?
Dizem que fez isto, aquilo e mais aquilo. Eu não
creio, mas me garantiram e de fonte limpa.
Estou dizendo só aqui entre nós; não convém
falar, porque talvez seja invencionice. Em todo
o caso é uma pena, se é verdade.”
O homem bom fixa então os olhos
semicerrados sobre o narrador e diz
mentalmente:
"Miserável, infame! Não tens nem força
para sufocar o prazer que isso te causa. Não
inventaste, talvez, a mentira; mas o inventor
contava contigo, com a tua covardia, com a
torpeza de tua alma igual à dele, para colaborar
no trabalho essencial - o da divulgação da
infâmia. E tu contavas comigo, salafrário!
porque não tens consciência do vil papel que
neste momento representas."

Ora, aí está como as coisas se passam,
embora excepcionalmente. Na quase
generalidade dos casos, entretanto, o patife
encontra um homem de sua igualha, que sente
o mesmo prazer que ele e vão logo adiante,
confidencialmente, com ar muito contristado,
na rara infâmia a um outro, e assim se espalha
o boato com extrema rapidez. Ainda há pouco
vimos como se espalhou no norte do Brasil o
boato de uma vaia ao presidente da República,
aqui em São Paulo, Vaia que não passou de
pura fantasia de um boateiro soez.
Há indivíduos mais afoitos, felizmente
raros, que vão a um jornal e dão a falsa noticia
da morte de um cidadão que está bem vivo em
sua casa, onde recebe com espanto a lutuosa
noticia... Os jornais já tomaram, entretanto,
suas cautelas e esses casos são raríssimos.
Vimos essa maldade praticada em São Paulo e
não há muito anos.
Há uma diferença enorme entre o
indivíduo que recebe com verdadeiro pesar
uma falsa notícia e o cúmplice do boateiro, isto
é, o que tem prazer em espalhá-la. O primeiro
cala-se, ou procura saber de quem partiu a
notícia; vai ao encontro da vitima e diz
francamente quem lhe comunicara o fato. O
outro não; esconde a fonte de onde lhe viera a
notícia; pactua com os malfeitores e finge
pudor ou discrição, sem se lembrar que em tal
caso não se trata disso; ao contrário, deve-se
pôr tudo à luz do sol.
É muito difícil descobrir no meio dessa
obra de colaboração anônima, o verdadeiro
autor dessas infâmias. O professor Jung, de
Zurique, conseguiu, no caso fácil e no meio
restrito de um colégio de meninas, averiguar de
onde partira o boato que difamava um
professor. Fez com que todos os conhecedores
da notícia a escrevessem como a receberam.
Notou ele o fato que nós expressamos no
ditado português: "quem conta um conto
aumenta um ponto". Cada um contou o fato
com particularidades que variavam entre os
diversos narradores; só o núcleo essencial do
boato era o mesmo para todos. A invencionice
era narrada como um sonho e deixava perceber
um desejo erótico que inconscientemente
dominava a menina, autora do boato. Tratava-
se de um caso típico da mitomania de que
tanto se ocupou Dupré, médico da prefeitura
de Paris.
Fora desses casos, assim limitados a um
meio restrito, é impossível descobrir o
verdadeiro autor, no meio de tantos
colaboradores.
Há épocas mais propicias, como todos
sabem, para o nascimento e divulgação do
boato como há tanto tempo favorável às
plantações na vida agrícola. São as épocas de
intensas agitações emotivas - de guerra, de
epidemia, de revolução política etc.
A ambição, outra tendência
fundamental humana, permite também do
mesmo modo que a maldade, a criação de uma
atmosférica especial em que se observam
curiosos episódios de sugestão e contágio,
alguns dos quais revertem em castigo cômico
contra os próprios ambiciosos. Temos o
exemplo na célebre fortuna que se acreditou

47
existir num banco inglês, pertencente a
brasileiros, descendentes de Amador Bueno da
Ribeira. Um advogado velhaco, psicólogo
prático, mandou do Rio de Janeiro, noticiar em
São Paulo, há mais de trinta anos, que tinha
meios de liquidar essa fortuna e distribuí-la aos
supostos herdeiros de Amador Bueno. Para
tanto exigia ele que cada um lhe mandasse
apenas cinqüenta mil réis junto ao nome que o
habilitasse como herdeiro. Eram herdeiros
todas as pessoas que tinham no sobrenome -
Bueno, Silveira etc.
Ora! formigaram descendentes de
Amador Bueno e choveram notas de cinqüenta
mil réis que deram magnífico resultado ao
pândego mistificador.
Vimos nessa ocasião muita gente séria,
carrancuda e circunspecta, entrar com o seu
dinheirinho e discutir convictamente sobre a
parte que lhe poderia caber.
Passado algum tempo, o insaciável
advogado, precisando de mais dinheiro,
mandou um mensageiro fazer nova colheita,
para a qual trouxera instruções muito especiais.
Só podiam pagar novo tributo os que tinham
tais e tais sobrenomes; os outros estavam
excluídos. Muitos dos excluídos importunavam
a gente para conseguir entrar com as suas
cotas. Nada o demovia; era preciso dar uma
feição de seriedade a tal bandalheira. A nova
colheita deu ainda magnífico resultado. A
herança não apareceu até hoje, mas os
contribuintes tiveram seu momento de prazer...
de viver um sonho por algum tempo.
É de crer que ainda existam por esse
mundo alguns dos sonhadores que naquela
época concorreram para os regabofes do
advogado.
O boato nem sempre é expansão de
malvadez recalcada; há o boato tendencioso e
o boato inócuo. Sua origem primeira é sempre
um desejo inconfessável e freqüentemente
inconsciente.
A perversidade geral da alma humana
que serve de terreno onde se desenvolve o
boato, é sempre inconsciente.
Caminha para a perfeição espiritual
aquele que consegue tornar consciente a maior
parte da maldade que lhe existe no
inconsciente, e assim pode dominá-la. Ainda
estamos longe da perfeição; não podemos
exigir a extinção do boato.
Buscar na literatura, na obra de arte, o
exemplo concreto, confirmador de uma
doutrina exposta em princípios gerais, é hoje
moda e fundada em boas razões. Quem quiser
ler um belíssimo exemplo de boato em lugarejo
do interior, encontrá-lo-á na novela de Amadeu
Amaral A Pulseira de Ferro. Aí se acha o
fenômeno magistralmente descrito.

AMADEU AMARAL
Amadeu Amaral (A. Ataliba Arruda A.
Leite Penteado), poeta, folclorista, filólogo e
ensaísta, nasceu em Capivari, SP, em 6 de
novembro de 1875, e faleceu em São Paulo, SP,
em 24 de outubro de 1929.
Fez o curso primário em Capivari e aos
onze anos veio para São Paulo para trabalhar
no comércio e estudar. Assistiu algumas aulas
do Curso Anexo da Faculdade de Direito, foi um
autodidata, pois não concluiu o curso
secundário. Ingressou no jornalismo,
trabalhando no Correio Paulistano e no O
Estado de S. Paulo. Em 1922 transferiu-se para
o Rio como secretário da Gazeta de Notícias.
Do Rio mandava para O Estado de S. Paulo a
crônica diária “Bilhetes do Rio”. Voltando a São
Paulo exerceu cargos na administração pública.
Autodidata, surpreendeu a todos por
sua extraordinária erudição, num tempo em
que não havia, em São Paulo, as universidades
e cursos especializados. Dedicou-se aos estudos
folclóricos e, sobretudo, à dialectologia. No
Brasil, foi o primeiro a estudar cientificamente
um dialeto regional. “Dialeto caipira”,
publicado em 1920, escrito à luz da lingüística,
estuda o linguajar do caipira paulista da área do
vale do rio Paraíba, analisando suas formas e
esmiuçando-lhe o vocabulário. Visando à
formação dos jovens, assim como Bilac
incentivara o serviço militar, Amadeu Amaral
procurou divulgar o escotismo, que produziu
frutos, certa época no país.
Sua poesia enquadra-se na fase pós-
parnasiana, das duas primeiras décadas do

48
século XX. Como poeta, destacou-se pelo
desejo de contribuir, com suas obras, para a
elevação de seus semelhantes, em todas as
suas obras, a ponto de seu sucessor, Guilherme
de Almeida, ao ser recebido na Academia, ter
intitulado o seu discurso: “A poesia educativa
de Amadeu Amaral”, mas porque visava
indiretamente ao aperfeiçoamento humano.
Por ocasião do VI centenário da morte
de Dante, proferiu, no Teatro Municipal de São
Paulo, uma conferência, enfatizando
justamente os aspectos de Dante que exaltam a
elevação do espírito humano através da
Sabedoria. Também soube ressaltar as
qualidades morais de Bilac no discurso de
posse, mostrando-o como homem preocupado
com os problemas da sua pátria e escritor que
evoluiu em sua poesia para um grau maior de
espiritualidade.

Obras:
Urzes, poesia (1899);
Névoa, poesia (1902);
Espumas, poesia (1917);
Lâmpada antiga, poesia (1924),

Títulos que integram as Poesias, publicadas
postumamente em 1931;
Letras floridas, ensaio (1920);
O dialeto caipira, filologia (1920);
O elogio da mediocridade, ensaio (1924);
Memorial de um passageiro de bonde, obra
póstuma;
Tradições populares, folclore (1948);
Obras completas de Amadeu Amaral, com
prefácio de Paulo Duarte (1948).

Fontes:
www.biblio.com.br
Academia Brasileira de Letras

Não foi assim logo de cara. Claro, seu
Julião e dona Neuza já tinham reparado numa
coincidenciazinha aqui, uma sorte acolá, mas só
foram perceber que Julinho tinha mesmo um
dom especial no verão de 1984, em
Caraguatatuba, assim que o moleque acabou
de chupar o quinto picolé, de manga.
Quinze minutos antes, ao acabar o
primeiro sorvete, um Fura-bolo, Julinho pulou
de alegria: o palito viera premiado, dando
direito a mais um. Até aí, nada de mais...
Acontece que o segundo sorvete (um Esquimó)
também dava direito a outro, assim como o
terceiro (de coco), o quarto (tangerina) e
provavelmente todos os que chupasse se, no
quinto picolé — a barriga do garoto já estava
parecendo uma tela do Pollock, tantas as gotas
de diversas cores que escorriam em direção à
sunga verde-limão—, o sorveteiro não tivesse
dado com a tampa de isopor em sua cabeça e
saído soltando os palavrões mais cabeludos,
cujos significados Julinho só viria a descobrir
muitos anos mais tarde, na perua do colégio,
numa tarde de maio — o que não vem,
absolutamente, ao caso.
O que nos interessa é que nessas férias
Julinho ganhou três quilos e o respeito de toda
a criançada de Caraguá, com quem trocava os
palitos premiados por pipas, baldinhos de areia,
favores e até uma bicicleta com buzina,
cestinha e farol. (A bicicleta, infelizmente, teve
que ser devolvida assim que uma mãe apareceu
no guarda-sol da família, trazendo um filho
choroso numa mão, 45 palitos premiados na
outra e exigiu a anulação da troca.)
Apesar de já saberem que ali tinha
coisa, foi só quando Julinho estava na quinta
série, na época que surgiram as Raspadinhas,
que seus pais realmente se deram conta do
potencial econômico de seu dom. Enquanto a
maioria dos mortais gastava tubos do dinheiro
naqueles cartões lotéricos e, na melhor das
hipóteses, ganhava 50 centavos — gastos em
mais uma Raspadinha que, claro, não dava em
nada —, Julinho sempre tirava a sorte grande:
era só raspar a camada prateada e sair pro

49
abraço.
Em alguns meses, a família comprou
uma cobertura, casa na praia, carro importado
e jet ski. Não fosse o processo promovido pela
Associação Brasileira dos Donos de Casas
Lotéricas — que deu queixa na polícia dos
prejuízos causados pelo gordinho que aparecia
sempre chupando um picolé, comprava uma
Raspadinha e limpava os caixas dos
estabelecimentos — e a família, em pouco
tempo, entraria nas listas das mais ricas do
Brasil.
Em entrevista ao vivo no programa do
Gugu, logo após serem absolvidos no processo
— com o acordo de que Julinho jamais jogasse
em qualquer tipo de loteria federal —, seu
Julião, o pai, disse que não tinha truque
nenhum: "O garoto é assim, desde pequeno:
rabudo. Pede par, sai quatro, ímpar, dá cinco e,
no amigo secreto do Natal, sempre é tirado
pelo tio Leôncio, meu cunhado, que dá os
melhores presentes." Dona Neuza, a mãe,
acrescentou orgulhosa: "Hum-hum..,"
Desde o lance das Raspadinhas, seu
Julião e dona Neuza já não trabalhavam: como
os pais de um craque ou de um desses cantores
mirins, dedicavam-se exclusivamente a
desenvolver o talento do filho. Passavam o dia
colocando tampas de margarina e embalagens
de chocolate em envelopes e respondendo a
perguntas tipo “qual é o sabão que deixa
limpão"; "a bateria que nunca arria"; "o
refrigerante que faz splash" ou "o absorvente
da executiva moderna". Toda manhã, antes de
ir para a escola, Julinho punha as cartas no
correio: eram casas, caiaques, home theatres,
férias em estâncias hidrominerais, fins de
semana em hotéis-fazenda, um ano de
supermercado grátis e outros prêmios que não
acabavam mais.
Dona Neuza pôs botox, silicone, clareou
os cabelos e entrou numas de Feng-Shui; seu
Julião fez implante capilar, montou um bar
espelhado na sala da cobertura e fazia
churrasco todos os domingos; Julinho tinha um
minibugue, fã-clube, todos os bonequinhos dos
Comandos em Ação, Passaporte da Alegria
vitalício no Playcenter e a Tilibra estava prestes
a lançar uma linha de cadernos com sua foto na
capa.
Apesar de todo o sucesso, Julinho
estava entediado. Não havia nada que quisesse
que não conseguisse: quando jogava futebol,
para qualquer lugar que chutasse, a bola
entrava; todo dia tropeçava com carteiras
cheias de dinheiro e, quando ficava doente e
perdia uma prova na escola, o professor
faltava. Era muito fácil. Além do quê, não
agüentava mais chupar picolé. Sem uma
dificuldade, por menor que fosse, um
empecilhozinho qualquer, as coisas perdiam a
graça. Andando de lá para cá com seu
minibugue pelas ruas do condomínio, Julinho
lamentava: "Se ao menos eu tivesse que
preencher algum formulário, ou pagar uma
mensalidade, ou fazer duzentas abdominais
toda manhã, eu sentiria que estou tendo algum
trabalho, mas assim, do nada, não tem graça!".
Tudo o que ele queria, como sempre nesse tipo
de história, era ser como as outras crianças.
Mas como?
Foi por acaso, caminhando pelo Centro
de São Paulo, num dia desses em que o céu
cinza parece apenas a metáfora que um
escritor previsível criou para espelhar a nossa
nublada configuração interna, que Julinho deu
de cara com o lugar mais impressionante que
seus olhos já haviam visto, um mercado onde
se podiam encontrar ovos de dinossauros
vietnamitas, videocassetes chineses, múmias
maias, DVDs pornográficos da Hungria,
parentes distantes, lança-mísseis russos e até
amor verdadeiro — a galeria Pajé. E foi ali,
entre um Rolex falsificado e um cachorrinho de
pelúcia (que era ao mesmo tempo dicionário
eletrônico, liquidificador e chapinha para
cabelos), que Julinho encontrou a lâmpada
árabe. Haddad, o vendedor, garantiu que a
preciosidade era do século XIII e havia sido
roubada pessoalmente do Museu de Bagdá,
durante a invasão americana. Julinho,
contando, como sempre, com a própria sorte,
não vacilou.
Assim que chegou em casa e começou a
lustrar a lâmpada com a manga da camisa, o
ambiente encheu-se de fumaça, ouviu-se uma
explosão e, depois de uma chuva de purpurina
e lantejoulas, lá estava ele, translúcido e obeso,

50
pairando a um metro do chão: o gênio da
lâmpada!
— Ó amo querido, me libertaste da
terrível prisão! Como recompensa, concedo-te
três pedidos. Diz-me apenas quais são teus
desejos e logo os satisfarei!
Julinho nem pestanejou:
— Primeiro eu queria ser como os
outros, não ter tanta sorte: me dar bem às
vezes, mal em outras, ter que me esforçar para
conseguir o que quero. Segundo, já que a sorte
me abandonará, quero apenas garantir uma
regalia: que todas as mulheres que posam para
a Playboy queiram fazer sexo comigo até o fim
da vida. Terceiro, desde criança que penso
nisso: por que chamam esse objeto dourado de
lâmpada, se ele mais parece um bule?
O gênio, com aquela cara séria e atenta
que gênio faz nessas horas, respondeu:
— Meu amo: teus desejos são uma
ordem!

Mais fumaça, mais chuva de purpurina e
lantejoulas e, quando tudo se acalmou, no
lugar que antes o gênio sobrevoava, havia um
bilhete:
“Caro amo, temo avisar-te que ocorreu
uma falha na execução de teus desejos.
Acontece uma vez a cada mil anos o que nós,
gênios da lâmpada, chamamos de paradoxo
retroativo. Teu primeiro desejo foi
imediatamente aceito e teu azar, portanto,
começou ali mesmo, fazendo com que os
efeitos desse gênio não tenham efeito nenhum.
Em outras palavras: tudo continuará como
antes, tu continuarás sortudo. Se fizeres sexo
com playmates ou descobrires por que esse
bule é uma lâmpada será porque nasceste
virado para a lua, não por conta de meus
serviços. Agora, devo ir-me, haverá uma
convenção de gênios da lâmpada no Rotary
Club de Ribeirão Preto e não posso perdê-la por
nada. Adeus e obrigado."
Julinho, desesperado, resolveu jogar a
toalha. E a toalha, no caso, era ele mesmo:
olhou seu quarto pela última vez, derramou
uma lágrima de despedida e saltou pela janela
da cobertura. Enquanto caía, pensava no
infortúnio de não ter nenhum infortúnio, na
desgraça da graça a ele concedida e, sabe-se lá
por quê, num short amarelo de que gostava
muito quando era pequeno.
Vinte e cinco andares e sete segundos
depois, para surpresa dos pedestres, lá estava
ele, vivo e consciente, estatelado sobre uma
Kombi azul. Naquele momento, ainda zonzo
por causa da queda e surdo com o esporro do
japonês, que reclamava dos estragos causados
ao veículo e perguntava como era que ele ia
fazer agora para trazer o shimeji de Cotia todo
dia, Julinho compreendeu sua sina: era imortal,
sortudo demais para morrer.
Uns dizem que foi o tombo, outros
comentam que a coisa já vinha de longe, que
ele sempre teve um parafuso a menos, mas o
fato é que todo dia, desde o salto, Julinho
tenta, inutilmente, tirar a própria vida. Depois
de beber cianeto (estava vencido), cortar os
pulsos (a faca quebrou), enforcar-se (a árvore
tombou) e tentar todos os outros métodos
conhecidos e desconhecidos de suicídio —
chegou até a alimentar-se por uma semana só
de detergente de maçã —, Julinho perdeu de
vez o juízo. Vaga doido pelo mundo, magro,
descalço e barbudo. De vez em quando, engole
espadas, caminha sobre brasas, deixa jamantas
passarem por cima de seu corpo e faz cooper
em campos minados de Angola, sempre em
vão. Para piorar, uma multidão de fiéis o segue
aonde vá, acreditando ser a volta de Jesus à
Terra. Alguns rabinos discutem se é ou não o
messias, as playmates não lhe dão sossego e
produtores de televisão ligam todo dia,
insistindo em fazer um documentário para o
Discovery Channel.
Agora, por exemplo, Julinho está em Foz
do Iguaçu, chorando arrependido da remota
manhã em que foi pedir aquele maldito Fura-
bolo em Caraguatatuba. Em instantes se atirará
do alto da mais alta das cataratas — de onde
será resgatado, alguns minutos depois, vivo e
limpinho, pelos bravos homens do Corpo de
Bombeiros do Brasil.

ANTONIO PRATA
Antonio Prata nasceu em São Paulo, em

51
24 de agosto de 1977. Escritor desde os catorze
anos, abandonou o curso de filosofia na USP
depois de um ano e meio, o curso de cinema na
FAAP depois de seis meses e quase se formou
em Ciências Sociais na PUC, fato que não
ocorreu porque próximo ao fim do curso foi
chamado para trabalhar como colaborador de
texto numa novela e se mudou para
o Rio.
Publicou livros como "Cabras, Caderno
de Viagem", com Paulo Werneck, Chico Matoso
e Zé Vicente da Veiga, "Douglas e outras
histórias", “As pernas da tia Corália”, "Estive
pensando" e "O inferno atrás da pia". Além de
contos e crônicas, escreveu episódios de
seriados de TV e dois roteiros de cinema ainda
inéditos. É agnóstico, corintiano, míope, meio
intelectual, meio de esquerda e publica
domingo sim domingo não uma crônica na
última página do caderno Metrópole.

Fontes:
PRATA, Antonio. O inferno atrás da pia. RJ: Editora
Objetiva, 2004.
http://literatura.moderna.com.br

Frankenstein ou o Moderno Prometeu
(Frankenstein; or the Modern Prometheus, no
original em inglês), mais conhecido
simplesmente por Frankenstein, é um romance
de terror gótico com inspirações do movimento
romântico, de autoria de Mary Shelley,
escritora britânica nascida em Londres. O
romance relata a história de Victor
Frankenstein, um estudante de ciências
naturais que constrói um monstro em seu
laboratório. Mary Shelley escreveu a história
quando tinha apenas 19 anos, entre 1816 e
1817, e a obra foi primeiramente publicada em
1818, sem crédito para a autora na primeira
edição. Atualmente costuma-se considerar a
versão revisada da terceira edição do livro,
publicada em 1831, como a definitiva.
O romance obteve grande sucesso e
gerou todo um novo gênero de horror, tendo
grande influência na literatura e cultura
popular ocidental.

Enredo

Ao contrário de Drácula — aquele seu
colega de repartição que vivia se gabando dos
antepassados hunos, vikings, saxões e magiares
—, o ser criado pelo cientista Victor
Frankenstein num laboratório em Ingolstadt
não tinha história. Sua dinastia começava com
ele. Tudo teve início quando Frankenstein se
decidiu a aplicar alguns conhecimentos teóricos
de fisiologia e filosofia natural, a fim de
descobrir se o princípio que animava a
estrutura do corpo humano sobrevivia, depois
que o indivíduo baixava os sete palmos.
Revoltava-o a corrupção da matéria inanimada
e o fato de que “o verme era o herdeiro das
maravilhas de um olho ou de um cérebro”.
Incentivado por uma série de pesquisas prévias,
Frankenstein pôs-se enfim ao trabalho de criar
um ente, a partir de materiais roubados em
túmulos, casas funerárias e laboratórios de
dissecação.
O trabalho não era fácil: ele teria não só
que dar animação à matéria, como preparar
toda uma estrutura para recebê-la, com seus
complexos de fibras, músculos e veias. Para que
o leitor não dormisse nos primeiros capítulos,
Mary Shelley omitiu a maior parte dos
processos científicos que Frankenstein teria
usado para levar adiante o projeto. A própria
necessidade de violar sepulturas e dissecar
cadáveres é apenas sugerida pela narrativa: os
mais mórbidos podem suspeitar da origem do
material pelas constantes exclamações de asco
do cientista ao lidar com ele.
Como a extrema minúcia da mais
insignificante das partes do organismo lhe
trazia grandes dificuldades, Frankenstein

52
resolveu o problema criando um indivíduo de
estatura gigantesca, cerca de dois metros e
meio. O tempo gasto na criação é medido na
narrativa pelas estações se alternando,
enquanto Frankenstein trabalha em seu
laboratório, isolado do resto da casa. Dois anos,
a obra-prima fica pronta, e Frankenstein,
encontrando os óculos que perdera no inverno
passado, pode finalmente contemplar o
resultado do seu trabalho. E, naturalmente, fica
horrorizado com a aparência física da sua
criação: olhos aquosos e amarelados, pele
enrugada, beiços retos e negros, estatura
descomunal, membros desproporcionados.
(Pitanguy já deu jeito em coisa pior.) O insano
entusiasmo com que Frankenstein se entregara
ao trabalho é agora superado por um súbito
acesso de náusea e lucidez. Seguem-se várias
considerações filosóficas sobre o Direito da
Criação, não faltando sequer uma carapuça
para a criação divina. Enquanto isto,
Frankenstein foge apavorado e o monstro se
evade.
Em seu espontâneo exílio, Frankenstein
pode finalmente se entregar às delícias de uma
tensão nervosa e passa vários meses em
recuperação. Nunca mais ouve falar no
monstro. Anos depois, regressa a Genebra,
onde vive sua família, e fica sabendo da morte
de seu irmão caçula, William, estrangulado por
mãos poderosas. Sua irmã de criação, Justine, é
acusada do crime e executada. Frankenstein
sabe que o monstro é o responsável e começa a
se torturar por ter criado um ser que já lhe
provocou duas mortes na família. Sai então à
procura do monstro e o localiza escondido bem
no finalzinho de um capítulo.
A partir daí, grande parte do relato é
ocupado pelo ogro, que descreve ao cientista
todo o seu itinerário, desde a fuga do
laboratório. Conta como se refugiou nos
arredores do casebre de uma família francesa
refugiada e, pela constante observação,
aprendera-lhe os costumes, além daquilo que
para ele era o mais importante: a linguagem.
Imitando os sons humanos e conferindo-lhes
significado, exatamente como um personagem
de Vila Sésamo, ele era agora capaz de se
comunicar sem mais grilos. Narra então a
clássica cena: ao mirar-se no regato, constatou
que sua aparência era monstruosamente
diferente dos demais seres que observara.
Depois, aprenderia noções elementares sobre a
propriedade, os direitos e o reconhecimento
social. Progressivamente foi ganhando
consciência de que era um pária, sem passado
e sem futuro, sem posses e com uma aparência
física que o tornaria rejeitado por quantos de
quem se aproximasse. Um dia, aguardou que o
velho cego ficasse a sós no casebre e
apresentou-se a ele como um viajante em
busca de acolhida. Mas, no exato momento em
que o velho ia oferecer-lhe o cafezinho, os
demais membros da família chegaram,
agrediram-no e o expulsaram como se ele fosse
um monstro. Completamente só e já sem
esperanças de ser integrado ao convívio
humano, a criatura passa a detestar seu criador
e procura localizá-lo, o que consegue através
dos documentos no bolso das calças de pescar
siri que roubara no laboratório. Finalmente em
Genebra, descobrira uma criança no bosque e,
ao saber que se tratava do irmão caçula de
Frankenstein, estrangulara-a.
Mary Shelley chega agora à melhor
parte da história: o monstro exige que
Frankenstein lhe construa uma fêmea, tão
abominável na aparência quanto ele, a fim de
não ficar sozinho. Promete retirar-se com ela
para locais que o homem não possa alcançar,
mas Frankenstein recusa-se a duplicar o mal
que já havia cometido. Sob as ameaças de
destruição de toda a sua família, no entanto,
Frankenstein é obrigado a concordar. O
monstro o adverte de que o seguirá o tempo
todo, para acompanhar o trabalho e certificar-
se de que não ficará um único parafuso solto na
sua companheira.
De volta ao laboratório em Ingolstadt,
Frankenstein ainda hesita em repetir o
processo, pensando que também a fêmea
poderia voltar-se contra o seu companheiro,
repelindo um pacto anterior à sua criação e
preferindo a beleza superior (não muito) do
homem. Ou poderiam igualmente unir-se e
começar a produzir ogres em série, como os da
família Kennedy. Mas, sentindo o halo da
presença da criatura, Frankenstein volta ao

53
trabalho. Certa noite, com este já bastante
adiantado, o cientista percebe o olhar do
monstro espreitando pela vidraça, e,
impulsivamente, destrói o material inanimado
que viria a ser a fêmea. Não ficou uma costela
inteira. Revoltado, o monstro lhe jura eterno
ódio e a toda a humanidade.
O resto da narrativa é uma sucessão de
mortes, com o monstro eliminando um por um
todos os membros da família de Frankenstein,
inclusive a sua noiva, em plena noite de
núpcias. O clímax só acontece quando
Frankenstein parte em perseguição à criatura,
entre as geleiras do mar do Norte, aonde viria a
morrer. O monstro lhe aparece pela última vez,
mas já o encontra sem vida. Anuncia então que
irá atingir a extremidade mais setentrional do
globo para deitar-se numa pira funerária, cujas
chamas destruirão de vez a carne de segunda
com a qual foi criado. Mas atenção: nada faz
garantir que ele tenha morrido, nem o leitor
assiste ao seu fim. Mary Shelley esqueceu a
porta aberta e deve ter sido por ela que saíram
os monstros que andaram assombrando os
críticos de cinema nos anos 50. Enfim, ainda
sobrou muito material, não apenas para vários
filmes em 3-D, como para diversas tragédias
gregas e comédias de televisão.
Por falar em gregos, outro personagem
da lenda de Prometeu capaz de ser localizado
em Frankenstein é Pandora, aquela que Zeus
teria enviado aos homens, depois que eles se
apoderaram irreversivelmente do fogo. A idéia
de Zeus era a de que Pandora, com a sua
caixinha de maldades e armadilhas, seria “o
preço do fogo”. Mais ou menos como o
monstro, ao exigir que Frankenstein lhe
construísse uma fêmea, como o preço pela sua
própria existência. No fundo, o que Zeus queria
era fornecer aos homens os motivos para se
exterminarem, agora que tinham os meios para
isso, e, depois de limpa a área, criar uma
humanidade novinha em folha.
Frankenstein, que já havia lido Ésquilo e
Hesíodo, não foi na conversa do monstro.
Enfim, a se acreditar na história da pira
funerária, o fogo de Prometeu até que acabou
servindo para alguma coisa.
Claro que Frankenstein sempre foi um
livro muito divertido. Por isso, até pouco
tempo, ninguém tinha se interessado em levá-
lo a sério. Mas, assim como há livros que são
salvos pelos leitores, o de Mary Shelley foi salvo
pelo cinema. Foram aquelas versões horrendas
com Boris Karloff, Lon Chaney Jr. e outros que,
por comparação, transformaram o livro numa
obra de “arte”, e fizeram com que o público
fosse procurar nele os sustos que os filmes
transformaram em gargalhadas. (Vide, na
versão de 1932, com Karloff, a seqüência à
beira do lago, em que a garotinha oferece
flores ao monstro e este fica sem saber se a
afoga ou se lhe serve de baby-sitter.)
Aliás, o cinema tem sido responsável
por vários desvios à interpretação correta do
monstro. Para começar, não é verdade que ele
tivesse um parafuso no pescoço. O parafuso só
apareceu quando os maquiladores da Universal
precisaram de alguma coisa para fixar a
máscara sobre os ombros de Boris Karloff —
cuja carantonha foi registrada sob copyright,
certamente para impedir que José Mojica
Marins viesse a lançar mão dela. Além disso, os
filmes nunca deram a devida atenção aos bons
sentimentos do monstro. Sempre o
apresentaram como uma múmia ou vampiro
vulgar, e nem levaram em conta a sua condição
de underdog social, sem direito a greve ou
sindicato.
Mary Shelley não foi a primeira a ter a
idéia do boneco animado. O folclore judeu,
algumas passagens da Bíblia e as lendas
medievais estão cheios dessas histórias. Talvez
ela tenha sido a primeira a usar o golem para
fazer crítica social. A partir daí, as histórias de
golens ficaram tão freqüentes na literatura
gótica quanto as de fadas na literatura infantil.
Os golens hoje andam tão fora de moda quanto
as fadas, porque os romancistas descobriram
bonecos de carne e osso mais adaptáveis à
realidade — embora ainda não tenham achado
substitutos para as bruxas.

Origens

Em 1815 o Monte Tambora na ilha de
Sumbawa, na atual Indonésia, entrou em
erupção. Como conseqüência, um milhão e

54
meio de toneladas de poeira foram lançadas na
atmosfera, bloqueando a luz solar, deixando o
ano de 1816 sem verão no hemisfério norte.
Neste ano, Mary Shelley, então com 19
anos e ainda com o nome de solteira Mary
Wollstonecraft Godwin, e seu futuro marido,
Percy Bysshe Shelley, foram passar o verão a
beira do Lago Léman, onde também se
encontrava o amigo e escritor Lord Byron.
Forçados a ficar confinados por vários dias em
ambiente fechado pelo clima hostil anormal
para a época e local, os três e mais outro
hóspede, o também escritor John Polidori,
passavam o tempo lendo uns para os outros
historias de horror, principalmente histórias de
fantasmas alemãs traduzidas para o francês.
Eventualmente Lord Byron propôs que
os quatro escrevessem, cada um, uma história
de fantasmas. Byron escreveu um conto que
usaria em parte mais tarde na conclusão de seu
poema Mazzepa. Inspirado por outro
fragmento de história de Byron desta época,
Polidori mais tarde escreveria o romance “O
Vampiro”, que seria a primeira história
ocidental contendo o vampiro como
conhecemos hoje, e que décadas depois
inspiraria Bram Stoker no seu Drácula. Porém,
passados vários dias, Mary Shelley ainda não
conseguira criar uma história. Eventualmente
ela veio a ter uma visão sobre um estudante
dando vida a uma criatura. Essa visão tornou-se
a base da história de Frankenstein, a qual Mary
Shelley veio a desenvolver em um romance,
encorajada pelo seu futuro marido.
Desta forma, é curioso notar que o
Frankenstein e o Vampiro vieram a ter sua
gênese literária na mesma ocasião.
Shelley relatou sua versão da gênese da
história no prefácio à terceira edição de seu
romance.

O nome da criatura

Embora a cultura popular tenha
associado o nome Frankenstein à criatura, esta
não é nomeada por Mary Shelley. Ela é referida
como “criatura”, “monstro”, “demônio”,
“desgraçado” por seu criador. Após o
lançamento do filme Frankenstein em 1933 o
público passou a chamar assim a criatura. Isso
foi adotado mais tarde em outros filmes.
Alguns argumentam que o monstro é de certa
forma, um “filho” de Victor, e, portanto pode
ser chamado pelo mesmo sobrenome.
Frankenstein é o antigo nome de uma
antiga cidade na Silésia, local de origem da
família Frankenstein. Mary Shelley teria
conhecido um membro desta família, o que
possivelmente influenciou sua criação.

Edições

Mary Shelley completou o romance em
1817 e Frankenstein ou o moderno Prometeu
foi publicado em 1 de janeiro de 1818 por uma
pequena editora de Londres, a Lackington,
Hughes, Harding, Mavor & Jones, após ter sido
rejeitada por duas outras editoras. A publicação
não continha o nome da autora, somente um
prefácio escrito por Percy Bysshe Shelley, seu
noivo, e uma dedicatória a William Godwin, seu
pai. A primeira edição foi feita em três volumes
e teve impressas somente 500 cópias.
Apesar das críticas desfavoráveis, a
edição teve um sucesso de público quase
imediato. Ficou bastante conhecida,
principalmente através de adaptações para o
teatro e a obra foi traduzida para o francês. A
segunda edição de Frankenstein foi publicada
em 11 de agosto de 1823 em dois volumes,
desta vez com o crédito como autora para Mary
Shelley.
Em 31 de outubro a editora Henry
Colburn & Richard Bentley lançou a primeira
edição popular em um volume. Esta edição foi
significativamente revisada por Mary Shelley, e
continha um novo e longo prefácio escrito por
ela, relatando a gênese da história. Esta edição
é a mais conhecida e mais usada como base
para traduções.

Temas
Frankenstein aborda diversos temas ao
longo do texto, sendo o mais gritante a relação
de criatura e criador, com óbvias implicações
religiosas. Uma influência notável na obra é o
poema Paraíso Perdido de John Milton, que
aborda a criação do homem e sua subseqüente

55
queda. A influência torna-se explícita tanto
através da epígrafe que cita três versos do
poema, quanto aparecendo diretamente em
Frankenstein: é um dos livros que a criatura lê.
A queda, ou a ruína, está bastante
presente no livro de Shelley, que traça a
destruição física e moral de Victor
Frankenstein, e é aludida não só nas citações
de Paraíso Perdido, como no próprio título da
obra: O Moderno Prometeu. Prometeu é um
personagem da mitologia grega, um titã que,
ao roubar o segredo do fogo, o qual era
reservado aos deuses, para doá-lo a
humanidade, é severamente punido por Zeus.
O paralelo com a trajetória de Victor
Frankenstein é direto, e o livro deixa claro que
o segredo da criação da vida a partir de matéria
inanimada é de natureza divina.
O poder exercido pela humanidade
sobre a Natureza através da ciência e da
tecnologia é outro tema principal da obra, e
encaixa-se no espírito da época, o estágio
inicial da Revolução Industrial.
Outros temas são abordados com
menos ênfase. A amizade verdadeira é tratada,
com o Capitão Walton desejando tornar-se
amigo de Victor, e Victor elaborando sobre ela
ao se referir a sua amizade com Clerval.
Preconceito, ingratidão e injustiça
também estão presentes. A criatura é sempre
julgada por sua aparência, e agredida antes de
ter uma chance de se defender. Em um
episódio, o monstro salva uma garotinha
inconsciente e, ao tentar devolvê-la para seu
pai, é baleado e acusado de tê-la agredido. A
inveja também aparece, ao subverter os bons
sentimentos iniciais do monstro.
A expressão do sublime através da
grandiosidade da Natureza é um tema caro ao
Romantismo, e aparece em Frankenstein nas
descrições das grandes planícies de gelo e das
paisagens da Europa.
Por fim, a inevitabilidade do destino,
tema muito desenvolvido na literatura clássica,
é constantemente aludida ao longo do
romance, que é uma obra que se presta a
múltiplas interpretações e leituras.


Adaptações
O romance foi primeiramente adaptado
para o teatro, e posteriormente para um
grande número de mídias, incluindo rádio,
televisão e cinema, além de quadrinhos.
A primeira adaptação para o cinema foi
feita pelos Edison Studios em 1910. Foi
produzida por Thomas Edison e trazia Charles
Ogle no papel da criatura. Uma das mais
famosas transposições do romance para as
telas é a realizada em 1931 pela Universal
Pictures, dirigida por James Whale, com Boris
Karloff como o Monstro (veja a entrada na
IMDb). Esta adaptação deu a aparência mais
conhecida do monstro, com uma cabeça chata,
parafusos no pescoço e movimentos pesados e
desajeitados (apesar do livro descrever a
criatura como extremamente ágil). Este filme
tornou-se um clássico do cinema. Um grande
número de continuações seguiram-se, mas
desta vez divergindo bastante da história
narrada no romance.
Em 1994 foi lançada uma adaptação
cinematográfica dirigida por Kenneth Branagh
de nome Mary Shelley's Frankenstein (veja a
entrada IMDb), com o próprio Branagh no
papel de Victor Frankenstein, Robert De Niro
como a criatura e Helena Bonham Carter como
Elizabeth. Apesar de o título sugerir uma
adaptação fiel, o filme toma uma série de
liberdades com a história original.
As representações do Monstro e sua
história têm variado bastante, de uma simples
máquina de matar sem capacidade de reflexão
a uma criatura trágica e plenamente articulada,
o que seria mais próximo do retratado no livro.
O romance Frankenstein ainda serviu
como inspiração para o filme Edward Mãos de
Tesoura (1990), de Tim Burton.

MARY SHELLEY
Mary Wollstonecraft Shelley (Londres,
30 de agosto de 1797 - idem, 1 de fevereiro de
1851), mais conhecida por Mary Shelley foi
uma escritora britânica, filha do filósofo
William Godwin e da pedagoga e escritora
Mary Wollstonecraft. Casou-se com o poeta

56
Percy Bysshe Shelley em 1816, depois do
suicídio da primeira esposa.
Seu pai, William Godwin, influenciou
toda a geração de 1790, com algumas idéias
que pediu emprestado a Rousseau e que nunca
se lembrou de devolver. Sua mãe, Mary
Wollstonecraft (ou seja, a avó de Frankenstein),
foi uma das primeiras feministas da História,
autora de uma famosa Declaração dos direitos
da mulher, e só não queimou espartilhos em
praça pública porque tinha vergonha de sair
exibindo suas peças íntimas pela rua. Ela
morreu quando Mary nasceu, em 1797, e o
velho Godwin, depois de percorrer em vão
terras distantes em busca de uma noiva,
acabou se casando com uma vizinha, a Sra.
Clairmont, a qual o viu na janela e o laçou com
a seguinte cantada: “Será possível que eu
esteja a contemplar o imortal Godwin?” O que
era apenas uma força de expressão porque,
embora célebre, Godwin já estava naquele
tempo mais para moribundo do que para
imortal. Seja como for, ela ainda lhe deu outra
filha, Jane, que viria a ser a amante de Lord
Byron.
Em 1811, logo após ser expulso de
Oxford, Shelley se casara com Harriet
Westbrook, uma dondoca londrina. Ele com 19,
ela com 16. O casamento foi um fracasso desde
o começo, porque Harriet achava Shakespeare
muito mais poeta do que Shelley, e escolhia os
momentos mais impróprios para lhe dizer isto.
Esta brincadeira durou três anos — até Shelley
ser introduzido na casa de Godwin. As
testemunhas afirmam que foi amor à primeira
vista: Shelley olhou para Mary, que olhou para
Shelley, que foi examinado dos pés à cabeça
por Godwin, o qual não gostou nada da
história. Mas Shelley puxou um revólver, e
Godwin, que sempre pregara o primado da
razão sobre todas as coisas, preferiu não
discutir. Shelley e Mary zarparam em ilícita lua-
de-mel para Paris, com a Sra. Godwin nos
calcanhares. Despistaram-na na Suíça, onde
Mary botou Frankenstein para dormir, e
pularam grandes carnavais em Veneza, na
companhia de Lord Byron, entre outros
nudistas e vegetarianos. Já então Byron estava
de amores com Jane Clairmont, a outra filha de
Godwin — e este, mais do que nunca, sabia
agora por que Platão não admitia poetas na sua
República.
Dois anos depois, Harriet, a primeira
mulher de Shelley, foi encontrada morta,
boiando num rio. Shelley apresentou vários
álibis diferentes, todos perfeitos, e pôde
finalmente se casar com Mary, para grande
satisfação de Godwin, que nunca aplicou na
prática as suas teorias sobre o amor livre. E só
não se pode dizer que foram felizes para
sempre porque Shelley, que já havia driblado
várias gripes (dessas mortais em poetas),
acabou morrendo em 1822, aos 30 anos,
naufragando nas costas da Itália a bordo de um
veleiro chamado Don Juan. O corpo de Shelley
foi jogado à praia, em Viareggio, ali ficando
enterrado pelo vento e areia durante mais de
um mês. Pouco antes, Aleggra, a filha de Byron
e Jane, também morrera de tifo. E daí a dois
anos seria a vez do próprio Byron. Mary ficou
sozinha, com seus fantasmas, para contar a
história. O que teve tempo de sobra para fazer,
pois só morreu em 1851, aos 54 anos, e mesmo
assim de tédio — um recorde, na época.
Mas não se pense que toda a vida de
Mary Shelley tenha sido um romance gótico,
com seqüestros, amantes no armário, acessos
de tosse e baratos de ópio. Foi também muita
cultura, muita filosofia. Frankenstein, apesar de
todos os sustos, era um livro sério quando foi
escrito, e só começou a perder a seriedade
quando os leitores também começaram a
perder a inocência. (Parece que agora
começaram a recuperá-la.) Frankenstein é um
coquetel das idéias de Rousseau, através de
Godwin, da mitologia grega e de preocupações
religiosas — tudo isto com uma cereja gótica
por cima. Está cheio de implicações metafísicas
sobre Deus e o homem, e, principalmente,
daquelas conotações sociais vigentes em 1818
— como, por exemplo, se era mesmo o pecado
original o responsável pelas mazelas humanas,
ou se o homem nascia bom e era a sociedade
que o corrompia. A segunda hipótese, na qual
Mary apostava timidamente, já estava
ganhando por vários corpos de frente, mas
ninguém se atrevia a botar a mão no fogo.
O fogo que Prometeu roubou de Zeus

57
para levar aos homens também é um dos
motivos subjacentes em Frankenstein. Zeus, o
profeta do óbvio, achava que os homens ainda
não eram bastante sábios para possuir o fogo,
porque do fogo se fundem os metais, e dos
metais tanto pode surgir a civilização, como
podem ser fabricadas as armas que significam a
guerra e a destruição. No fundo, apenas uma
maneira diferente de contestar a fábula do
pecado original, e de insinuar que não há nada
como uma boa sociedade injusta para estragar
um produto perfeito na origem, ou seja, o
homem. Esta é simplesmente a história de
Frankenstein e, não por coincidência, o título
completo do livro de Mary Shelley é
Frankenstein, ou o moderno Prometeu. Eu só
queria saber se ela estava pensando em tudo
isto ao escrever a sua historinha de terror, ou
se foram os críticos que, habituados a extrair
sangue de pedra, descobriram essas
implicações. Nenhuma dúvida. Se os críticos
tivessem tanta imaginação, estariam
escrevendo os romances que criticam.

Fontes:
http://www.digestivocultural.com/

http://pt.wikipedia.org
http://www.laurahird.com (imagem)
A minha infância tão pobre
com tantas dificuldades,
mas não deixou de ser nobre,
pois dela sinto saudades.

Amor de triste memória
que me envolveu tantos dias,
hoje é uma simples estória
de falsas alegorias...

Ando à procura de alguém
que me venha dar carinho,
como estou não me convém,
não quero viver sozinho.

À noite sonho contigo
em meu céu de fantasia,
mas depois pra meu castigo
não te encontro noutro dia.

A noite toda em vigília
esperando amanhecer,
pois quando enfim o sol brilha
hei de te ouvir e te ver.

A poesia que me invade
em horas de inspiração,
além de cantar saudade,
também canta solidão!

As cartas que me escrevias
com tanto amor e saudade,
acalentavam meus dias
cheios de felicidade.

As trovas que aqui deponho
à apreciação dos leitores,
são os frutos do meu sonho
que colhi nos meus amores...

Cada dia uma rotina
que devo sempre seguir,
entretanto a vida ensina
que não posso desistir.

Certa saudade descobre
o que ficou à distância:
velha esperança de pobre
dos tempos da minha infância...

“C’est la vie!”, diz o francês
em meio do burburinho...
“Time is money!”, diz o inglês
ao seguir o seu caminho...

Contigo no pensamento
não lembro de mais ninguém:
és meu prazer e tormento,

58
mas algo que me faz bem...

Contigo no pensamento
tento dormir e esquecer;
no entanto, pra meu tormento
tu não sais do meu viver...

Dediquei-me tanto ao estudo
que quase fiquei mais louco,
procurando saber tudo,
vejo que aprendi tão pouco...

Deve a trova ser singela
e atingir os corações;
quanto mais simples mais bela,
embora tenha “chavões”.

És a musa dos meus versos
que me inspira quando canto
e nos momentos adversos
o motivo do meu pranto.

Esperava compreender
o que me causa aflição,
para não permanecer
nesta horrível confusão.

Esperava o teu sorriso
em teus lábios e nos olhos;
quase perdi o juízo
quando me lançaste abrolhos...

Esta grande desventura
que me causa tanta dor;
eu já creio: não tem cura...
pois perdi o teu amor.

Eu faço trovas sentidas
nestas noites de luar:
são as “paixões recolhidas”
que não consigo olvidar.

Eu que já fiz do meu sonho
um castelo de ilusão,
hoje somente componho
pra matar a solidão.

Faze o verso sem barulho
de trovador solitário,
que se usares falso orgulho
não passarás de um otário.

Já fiz trovas de improviso,
mas com muita reflexão,
pois de uma coisa preciso:
é não perder a razão...

Meus versos estão presentes
na tristeza e na alegria,
e nisso são procedentes
da luta do dia-a-dia.

Minha vida está repleta
de amores incompreendidos
que me fazem ser poeta
de versos arrependidos.

Não adianta querer tanto,
nem amar sem ser amado,
foi assim meu desencanto
ao me sentir desprezado.

Não tarda vir a alvorada
trazendo nova esperança
de prosseguir na jornada
com mais fé e mais confiança.

Não te direi novamente
de minha mágoa sem causa,
ficarei indiferente
como quem pede uma pausa.

Na trova tudo acontece,
que o diga meu coração,
pois amei quem não merece
possuir minha paixão !

Nesta vida quotidiana
cuja rotina me cansa,
apesar do que me engana
sempre resta uma esperança.

No “Meu Caminho até Ontem”
busquei no amor esperanças,
pretendendo que despontem
“Minhas Amáveis Lembranças”.

Nosso amor sem persistência

59
teve pouca duração,
assim foi sua existência
como chuva de verão.

No tumulto desta vida
nos encontramos um dia,
e sendo minha escolhida
você não me escolheria.

Ouvindo o rumor das águas
eu me ponho a suplicar:
que levem as minhas mágoas
e as afoguem lá no mar.

O verso nasce espontâneo
quando surge a inspiração;
é tal qual um ritmo estranho
a formar uma canção.

Pablo Neruda, o cantor
que leio de madrugada:
“Veinte Poemas de Amor”
e a “Canción Desesperada”.

Perambulando sozinho,
andando por aí a esmo,
eu vejo que este caminho
me faz fugir de mim mesmo.

Por que será que a saudade
traz tanta contradição?!
Pode ser felicidade
e também desilusão...

Quando te vi num relance
meu coração despertou,
sonhando um novo romance
que não se concretizou.

“Quem ama sempre perdoa...”
diz um dito popular,
mas o desprezo magoa
por mais que se queira amar.

“Quem canta os males espanta...”;
certo ditado assim diz,
porque chorar não adianta
e torna o ser infeliz...

Quem fizer a gentileza
de não levar por ofensa,
que me ame sem recompensa,
porque vivo na pobreza...

ou melhor

Quem fizer a gentileza
de não levar por ofensa,
que me ame até na pobreza
sem esperar recompensa.

Quem ler meus versos verá
que procurei ser feliz;
e afinal entenderá
que nunca tive o que quis.

Quem namorou algum dia,
sabe o quanto se requer,
para ter a simpatia
e o coração da mulher.

Se a tristeza me visita
canto uma trova somente,
e desta forma a desdita
foge e me torno contente.

Sou um simples trovador
que vive cantando ao léu
e faço apenas do amor
o meu precioso troféu.

Tantas trovas, tantos versos...
afinal me convenci,
que embora sejam diversos
são dedicados a ti.

Tens razão quando me dizes
que não queres meu amor,
para os pobres infelizes
existe somente a dor.

Uma trova pequenina
demonstra como um teorema,
a realidade que ensina
e diz mais do que um poema.

Vamos em frente, vencendo
as agruras da jornada

60
e estaremos compreendendo
que não lutamos por nada.

Vem reclinar-te em meus braços
para que eu sinta em meu peito
o calor dos teus abraços
e viva assim... satisfeito.

Viver contigo não posso,
te deixar é o meu destino;
pois quero ver se remoço
e retorno a ser menino.

Vou cantar a noite inteira
até surgir a alvorada,
que minh’alma seresteira
vive sonhando acordada.

IALMAR PIO SCHNEIDER
Nasceu no município de Sertão, RS, em
26/8/1942.
Residiu por mais de 20 anos em Canoas,
e atualmente reside em Porto Alegre.
Poeta, advogado, cronista e bancário
aposentado,
Entidades a que pertence:
Casa do Poeta Rio-Grandense,
União Brasileira de Trovadores - Sede de
Porto Alegre,
Grêmio Literário Castro Alves,
Agei - Associação Gaúcha dos Escritores
Independentes,
Casa do Poeta de Canoas, entre outras.

Fonte:
Colaboração do Autor
A DAMA DAS CAMÉLIAS
6/ 11/ 1951 - São Paulo/SP
Teatro Brasileiro de Comédia

Luxuosa e não muito bem-sucedida
encenação destinada a comemorar os três anos
de existência do Teatro Brasileiro de Comédia,
montagem de Luciano Salce, com destaque
para Cacilda Becker à frente de numeroso
elenco.
A encenação é primorosamente
preparada pela direção do Teatro Brasileiro de
Comédia - TBC, que a concebe para o amplo e
tecnicamente bem guarnecido palco do
Theatro Municipal, e não para o espaço
acanhado da rua Major Diogo.
A exuberante cenografia é de Aldo
Calvo, assistido por Geraldo Ambrossi, Eleonora
Koch e Rina Fogliotti, estando sua execução sob
os cuidados de Tulio Costa e Bassano Vaccarini.
Com tecidos especialmente importados de
Paris, a indumentária exige dezenas de
costureiras, sob o comando de Leonardo Villar,
Rina Fogliotti e A. Soares de Oliveira. O
eletricista Joaquim Pesce compõe a iluminação
e o maestro Enrico Simonetti encarrega-se das
partituras.
Esse esforço de produção, todavia, não
garante a qualidade da encenação de Luciano
Salce, fria e açucarada, longe de concretizar em
cena os confrontos morais expostos no texto de
Alexandre Dumas Filho. A trama é centrada no
amor entre um rico rapaz da alta burguesia
parisiense e uma bela cortesã, relação
impossível para os rígidos padrões da época.
Cacilda Becker vive Margarida e
Maurício Barroso, o jovem Armand; o elenco
inclui ainda Paulo Autran, Carlos Vergueiro, Ruy
Affonso, Luiz Calderaro, Elizabeth Henreid,
Cleyde Yáconis, Labiby Maddy, Wanda Primo, à
frente de numerosa comparsaria.
O público prestigia o evento e o
acontecimento social, mais pelo aparato do que
por seus méritos artísticos. A crítica aponta
vários problemas no ritmo cênico e na
interpretação dos atores. A realização

61
impressiona, mas não alcança sucesso. Sobre o
espetáculo, Ruy Affonso, um dos integrantes do
elenco, dá seu depoimento: "A parte plástica
era muito bonita, mas o lado humano se
perdeu. Quando esse espetáculo, despojado de
todo esse aparato, foi apresentado no TBC, cujo
palco era pequeno, ganhou imensamente e aí
ficou comovente".
1
Franco Zampari, todavia, não se dá por
vencido e resolve deslocar a produção para o
Rio de Janeiro. Além de desfavorável à
produção, a crítica carioca aponta uma
característica que virá a se tornar um estigma
para o TBC: acusa o elenco de italianismo vocal.
Embora esse traço deva-se exclusivamente ao
modo típico de falar do paulistano, não sendo
imposição dos diretores da casa, o fato é que o
TBC fica marcado como "o teatro dos italianos".
Outra polêmica agita os ânimos, aberta
por Paschoal Carlos Magno em sua coluna no
Correio da Manhã, na qual ataca a encenação
de Luciano Salce. Este replica, na revista
Anhembi e uma tréplica de Pachoal descamba
para o âmbito pessoal, apontando um defeito
físico do encenador, vitimado na Guerra. As
relações entre ambos tornam-se tensas e
acirra-se a divisão de campos entre cariocas e
paulistas.
Como que resumindo os comentários
desfavoráveis, o crítico paulista Miroel Silveira
registra: "Cacilda Becker fez o seu teatro
encenar, a 132 cruzeiros a poltrona, os suspiros
de um problema extinto, numa encenação que
Salce deve ter feito com a melhor de suas más-
vontades...(...) No conjunto infeliz perde-se a
bela voz de Paulo Autran e sua esplêndida
caracterização, perde-se a esplêndida figura de
Maurício Barroso, perde-se a curiosa
desenvoltura de Labiby Maddy, perde-se até o
grande talento de Cacilda Becker, submergido
por uma desmedida e inflexível ambição".
2


Notas
1.
PRADO, Luís André do. Cacilda Becker: Fúria Santa. São
Paulo, Geração Editorial, 2002, p. 349.
2.
SILVEIRA, Miroel. A Camélia caiu do galho. In: ______.
A outra crítica. São Paulo: Símbolo, 1976. p. 54.

PEQUENOS BURGUESES
30/ 8/ 1963 - São Paulo/SP
Teatro Oficina

Montagem do Teatro Oficina, sob a
direção de José Celso Martinez Corrêa, que
coroa o ciclo de produções realistas com
emprego da metodologia stanislavskiana.
Ao lançar-se à produção de Pequenos
Burgueses, o Teatro Oficina já conta com bem-
sucedida seqüência de realizações, em geral no
horizonte do realismo. Encontra nesse texto de
Máximo Gorki não apenas o apoio
dramatúrgico para aprofundar suas pesquisas
ligadas à interpretação de base psicológica e
expressividade realista, como a abordagem de
uma temática interessante para o período. A
peça enfoca a Rússia às vésperas da Revolução,
evidenciando numerosos pontos de contato
com a realidade nacional anterior ao golpe
militar de 1964.
O núcleo familiar é dominado pelo pai,
Bessemenov, que convive com uma variedade
de posições políticas e sociais, representada
pelos filhos e agregados da casa. Os conflitos
entre eles engendram permanentes disputas
que, acompanhando os acontecimentos
externos, fazem explodir as relações ao final.
A montagem cai como uma luva para a
platéia estudantil do Oficina, ela mesma presa
às contradições explicitadas em cena, num
momento em que a tomada de posições torna-
se urgente e necessária. Mas não apenas esse
clima externo ao fato teatral contribui para o
sucesso da iniciativa. Durante meses, o elenco é
treinado por Eugênio Kusnet nas técnicas de
Stanislavski, encontrando nesta produção o
natural desaguadouro de uma pesquisa de
linguagem cuidadosamente elaborada. Eugênio
Kusnet, Etty Fraser, Renato Borghi, Célia Helena
e Fauzi Arap acumulam as críticas mais
entusiasmadas, à frente de um numeroso e
homogêneo elenco. Estreado em agosto de
1963, o espetáculo é suspenso pelas
autoridades militares em 2 de abril de 1964.
Para retornar ao cartaz, no mês seguinte, o
teatro paga a alguns agentes um forçado
'pedágio' e substitui a Internacional pela
Marselhesa, cantada no final.

62
A montagem fecha um ciclo dedicado
ao realismo, e o estudioso Armando Sérgio da
Silva assim avalia a evolução da equipe:
"Pequenos Burgueses foi o fechamento, com
chave de ouro, de uma aprendizagem que,
apesar de algumas ligeiras distorções, foi
finalmente e perfeitamente concretizada.
Serviu, quase como prova, de que o Método
Stanislavski, quando bem usado e descoberto
em toda sua riqueza, pode ser aproveitado para
se atingir o grau de perfeição realista e como
base para outros estilos. Sentia-se, durante o
espetáculo, os atores como verdadeiros
artesãos da arte cênica - minuciosos,
detalhados, impregnando seus gestos de tal
intensidade emocional - que os espectadores se
encaminharam, pouco a pouco, para dentro da
casa dos Pequenos Burgueses plena de uma
atmosfera angustiada, cinzenta; por vezes, de
gritos de esperança dos trabalhadores. Nunca a
caricatura e sempre a humanidade pobre,
doída, mas verdadeira, da classe média".
1
Pequenos Burgueses arrebata os
prêmios Saci e Governador do Estado de
melhor espetáculo paulista do ano de 1963.

Notas
1.
SILVA, Armando Sérgio da. Oficina: do teatro ao te-ato.
São Paulo: Perspectiva, 1981. p. 128.

PLUFT, O FANTASMINHA
1955 - Rio de Janeiro/RJ
Teatro Tablado

O texto de Maria Clara Machado que
estréia com elenco de O Tablado torna-se um
clássico da literatura dramática brasileira,
inaugura, em sua síntese poética, uma
linguagem teatralmente elaborada para
crianças.
Os atores e os artistas que assinam a
ficha técnica já trabalham juntos há alguns anos
e formam uma equipe afinada - o que confere
alto nível aos desempenhos. O clima de
cumplicidade entre os interpretes garante a
homogeneidade da atuação e dá o tom do
espetáculo.
A peça conta a história do rapto da
Menina Maribel pelo cruel e ridículo Pirata
Perna-de-Pau. O vilão esconde a menina no
sótão de uma velha casa abandonada, onde
vive uma família de fantasmas: a Mãe, que faz
deliciosos pastéis de vento e conversa ao
telefone com Prima Bolha; o fantasminha Pluft,
que nunca viu gente; Tio Gerúndio, que passa o
dia inteiro dormindo dentro de um baú; e
Chisto, o primo aviador que surge apenas no
final para fazer um salvamento espetacular da
menina. A trama se concentra na procura do
tesouro do avô da menina, o Capitão Bonança,
que morreu no mar deixando lá no fundo a sua
herança. Mas a grande chave da poesia teatral
criada pela autora é a amizade que surge entre
a Menina Maribel e o Fantasminha Pluft. Os
momentos de comicidade ficam por conta dos
amigos de Maribel, o trio clownesco João-
Julião-Sebastião, que vai a sua procura para
salvá-la.
Definindo o texto como uma "carta de
poesia, bom humor e maliciosa inocência", o
crítico Yan Michalski considera que "(...) o
relacionamento mútuo entre todos estes
personagens é impregnado de um tocante calor
humano, embora a autora saiba sempre evitar
o perigo da pieguice, geralmente através de
incisivas intervenções cômicas; e a qualidade
lírica e inventiva dos diálogos é
admiravelmente inspirada".
1
Um dos momentos de maior
encantamento está já no início, no encontro
entre Pluft e a Menina, que, com medo do
Pirata, chora, o que arranca do fantasminha a
exclamação: "Que lindo, que lindo, que lindo...
Mamãe, mamãe, acode! A menina está
derramando o mar todo pelos olhos." Diante da
explicação da mãe, Pluft diz que também quer
chorar e a mãe torna a explicar: "Fantasma não
chora, Pluft, senão derrete".
2
Na opinião de Yan
Michalski este diálogo "deveria ter desde já a
sua inclusão garantida em qualquer antologia
dos grandes trechos da dramaturgia nacional".
3
Depois da estréia, a peça é montada em
outras cidades brasileiras e no exterior e passa
a integrar o repertório de muitos grupos
amadores e grêmios teatrais de colégios de
todo o país.

63

Notas
1.
MICHALSKI, Yan. O tesouro de Maria Clara Bonança.
Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 5 set. 1969.
2.
MACHADO. Maria Clara. Pluft, o Fantasminha.
3.
MICHALSKI, Yan. O tesouro de Maria Clara Bonança.
Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 5 set. 1969.

Fonte:
Itaú Cultural
Nunca mais haverá no mundo um ano
tão bom. Pode até haver anos melhores, mas
jamais será a mesma coisa. Parecia que a terra
(á nossa terra, feinha, cheia de altos e baixos,
esconsos, areia, pedregulho e massapê) estava
explodindo em beleza. E nós todos
acordávamos cantando, muito antes do sol
raiar, passávamos o dia trabalhando e cantando
e logo depois do pôr-do-sol desmaiávamos em
qualquer canto e adormecíamos, contentes da
vida.
Até me esqueci da escola, a coisa que
mais gostava. Todos se esqueceram de tudo.
Agora dava gosto trabalhar.
Os pés de milho cresciam desem-
bestados, lançavam pendões e espigas imensas.
Os pés de feijão explodiam as vagens do nosso
sustento, num abrir e fechar de olhos. Toda a
plantação parecia nos compreender, parecia
compartilhar de um destino comum, uma festa
comum, feito gente. O mundo era verde. Que
mais podíamos desejar?
E assim foi até a hora de arrancar o
feijão e empilhá-lo numa seva tão grande que
nós, os meninos, pensávamos que ia tocar nas
nuvens. Nossos braços seriam bastantes para
bater todo aquele feijão? Papai disse que só
íamos ter trabalho daí a uma semana e aí é que
ia ser o grande pagode. Era quando a gente ia
bater o feijão e iria medi-lo, para saber o
resultado exato de toda aquela bonança. Não
faltou quem fizesse suas apostas: uns diziam
que ia dar trinta sacos, outros achavam que era
cinqüenta, outros falavam em oitenta.
No dia seguinte voltei para a escola.
Pelo caminho também fazia os meus cálculos.
Para mim, todos estavam enganados. Ia ser
cem sacos. Daí para mais. Era só o que eu
pensava, enquanto explicava à professora por
que havia faltado tanto tempo. Ela disse que
assim eu ia perder o ano e eu lhe disse que foi
assim que ganhei um ano. E quando deu meio-
dia e a professora disse que podíamos ir, saí
correndo. Corri até ficar com as tripas saindo
pela boca, a língua parecendo que ia se arrastar
pelo chão. Para quem vem da rua, há uma
ladeira muito comprida e só no fim começa a
cerca que separa o nosso pasto da estrada. E foi
logo ali, bem no comecinho da cerca, que eu vi
a maior desgraça do mundo: o feijão havia
desaparecido. Em seu lugar, o que havia era
uma nuvem preta, subindo do chão para o céu,
como um arroto de Satanás na cara de Deus.
Dentro da fumaça, uma língua de fogo
devorava todo o nosso feijão.
Durante uma eternidade, só se falou
nisso: que Deus põe e o diabo dispõe.
E eu vi os olhos da minha mãe ficarem
muito esquisitos, vi minha mãe arrancando os
cabelos com a mesma força com que antes
havia arrancado os pés de feijão:
- Quem será que foi o desgraçado que
fez uma coisa dessas? Que infeliz pode ter
sido?
E vi os meninos conversarem só com os
pensamentos e vi o sofrimento se enrugar na
cara chamuscada do meu pai, ele que não dizia
nada e de vez em quando levantava o chapéu e
coçava a cabeça. E vi a cara de boi capado dos
trabalhadores e minha mãe falando, falando,
falando e eu achando que era melhor se ela
calasse a boca.
À tardinha os meninos saíram para o
terreiro e ficaram por ali mesmo, jogados,
como uns pintos molhados. A voz da minha
mãe continuava balançando as telhas do
avarandado. Sentado em seu banco de sempre,
meu pai era um mudo. Isso nos atormentava

64
um bocado.
Fui o primeiro a ter coragem de ir até lá.
Como a gente podia ver lá de cima, da porta da
casa, não havia sobrado nada. Um vento leve
soprava as cinzas e era tudo. Quando voltei,
papai estava falando.
- Ainda temos um feijãozinho-de-corda
no quintal das bananeiras, não temos? Ainda
temos o quintal das bananeiras, não temos?
Ainda temos o milho para quebrar, despalhar,
bater e encher o paiol, não temos? Como se
diz, Deus tira os anéis, mas deixa os dedos.


E disse mais:
- Agora não se pensa mais nisso, não se
fala mais nisso. Acabou. Então eu pensei: O
velho está certo.
Eu já sabia que quando as chuvas
voltassem, lá estaria ele, plantando um novo pé
de feijão.

ANTÔNIO TORRES
Antônio Torres nasceu no dia 13 de
setembro de 1940 num lugarejo chamado
Junco (hoje município de Sátiro Dias), na Bahia.
Aos 20 anos, em São Paulo, foi chefe de
reportagem de esportes do jornal "Última
Hora". Redator de publicidade desde 1963,
trabalhou em algumas das principais agências
do País, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Sua
estréia literária se deu com o romance "Um Cão
Uivando nas Trevas", publicado em 1972. Em
seguida, viria a publicar mais quatro romances:
"Os Homens dos Pés Redondos" (1973), "Essa
Terra" (1976), "Carta ao Bispo" (1979), "Adeus,
Velho" (1981), "Um Táxi para Viena D´Áustria"
(1991), "Balada da Infância Perdida" (1996), "O
Cachorro e o Lobo" (1997) e "Meu Querido
Canibal" (2000), entre outros. Pelo conjunto de
sua obra, foi agraciado com o Prêmio Machado
de Assis da Academia Brasileira de Letras, em
2000.
Embora se considere essencialmente
um romancista, Antônio Torres tem alguns
contos, que publicou em livros e antologias, no
Brasil e no Exterior.

Fontes:
– Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século. RJ:
Editora Objetiva, 2000.

http://www.releituras.com/
Em 1969, o comitê de ficção do
prestigioso Prêmio Pulitzer de Literatura
concedeu a sua distinção anual a N. Scott
Momaday, jovem professor de inglês da
Universidade Stanford na Califórnia, pelo seu
livro intitulado House Made of Dawn.
O fato de que o romance de Momaday
lidou quase que exclusivamente com nativos
americanos não escapou à atenção dos meios
de comunicação ou dos leitores e estudiosos da
literatura contemporânea, nem os
antecedentes indígenas kiowa do autor.
Conforme ressaltaram os artigos dos jornais,
desde que Oliver LaFarge recebeu o mesmo
prêmio por Laughing Boy, exatamente 40 anos
antes, um romance dos chamados "indígenas"
não recebia tal distinção. No entanto, enquanto
LaFarge era um homem branco escrevendo
sobre os índios, Momaday era um índio; o
primeiro nativo americano laureado com o
Pulitzer.
Naquele mesmo ano, 1969, outro jovem
escritor, um advogado sioux de nome Vine
Deloria Jr., publicou Custer Died for Your Sins,
cujo subtítulo era "An Indian Manifesto". Ele
examinou de forma incisiva as atitudes norte-
americanas da época em relação aos assuntos
nativos americanos, surgindo quase
simultaneamente com American Indian Speaks,
uma antologia literária de vários jovens e
promissores índios americanos, dentre eles
Simon J. Ortiz, James Welch, Phil George, Janet

65
Campbell e Grey Cohoe, todos os quais haviam
sido publicados apenas vagamente até então.
Esses desenvolvimentos que
estimularam interesse novo ou renovado pela
literatura nativa americana contemporânea
foram acompanhados pelo surgimento naquela
época de duas obras de conhecimento geral
sobre o assunto, Man's Rise to Civilization
(1968), de Peter Farb, e Bury My Heart at
Wounded Knee (1970) de Dee Brown. Cada qual
atingiu uma corrente receptiva no gosto
popular norte-americano e as estatísticas
demonstram que, ainda hoje, cerca de 30 anos
depois, sua popularidade permanece.
Serenamente, surgiram outros livros e
outros autores. "Ceremony, de Leslie Marmon,
A Winter in the Blood, de Welch, as ficções pós-
modernas de Gerald Vizenor e a poesia de
Paula Gunn Allen, Simon J. Ortiz e Linda Hogan
deram lugar, ao longo dos anos, a escritores
mais novos, como os romancistas Sherman
Alexie, Greg Sarris e Thomas King e os poetas
Kimberly Blaeser, Janice Gould e Janet
McAdams.
Em 1992, um grupo de acadêmicos e
ativistas norte-americanos criou um festival
internacional de escritores, que reúne 360
artistas de nove países, principalmente dos
Estados Unidos. Cerca de metade desse
número já publicou pelo menos um livro:
ficção, drama, autobiografia ou até livros de
culinária. A partir dessa convocação, surgiram
duas organizações: o Círculo de Escritores
Nativos das Américas e um grupo mentor,
Wordcraft Circle, que reúne os escritores
nativos americanos estabelecidos com
talentosos aprendizes.
A cada ano desde 1992, o Círculo dos
Escritores Nativos apresentou prêmios para
"primeiros livros" de poesia e de ficção. Para
aqueles que imaginam qual será o futuro da
literatura nativa americana, esses livros
premiados oferecem resposta ampla e positiva.
Observe-se, por exemplo, um jovem artista
como o poeta chippewa Blaeser, cuja evocativa
coletânea inicial de versos, Trailing You (1995),
seguiu-se por uma obra apreciada de
conhecimento, um estudo da prosa complexa e
até surpreendente do colega escritor nativo
americano, o satírico pós-mordernista Gerald
Vizenor.
De fato, a expansão da criatividade e do
interesse na literatura nativa americana é
muito mais que uma explosão. Ela representa,
coletivamente, um renascimento. Mais de uma
geração após o seu início, ela é uma parte da
literatura norte-americana como renovação, ou
continuação. Ela traz reminiscências.
Pode-se melhor ilustrar o fenômeno do
renascimento através da experiência de uma
sala de aula voltando muitos anos no tempo.
Meus alunos leram cópias de poemas de índios
mohawk da parte setentrional do Estado de
Nova Iorque e o tema voltou-se para os
diversos escritores nativos americanos em
outras partes do país. Um estudante,
provavelmente refletindo o pensamento de
diversos na sala, espantou-se: "não é
maravilhoso como a literatura nativa
americana emergiu tão repentinamente no
cenário?”
A questão soou atordoante na época e
assim permanece na minha memória. Porque a
literatura nativa americana não "emergiu"
simplesmente. Como a vida e a cultura da qual
é parte, ela tem séculos de idade. Suas raízes
são profundas na nossa terra; profundas
demais para que meros cinco séculos de
influência de outras civilizações modifiquem-na
de forma duradoura, completa e irrevogável.
Reminiscências, continuidade,
renovação. Os nativos americanos se
acostumaram a contar suas histórias e suas
formas de vida através de processos intrincados
de contar histórias comprovados pelo tempo.
Somente nas últimas décadas, os acadêmicos
identificaram essas formas de contar histórias
como "tradição oral". Por milênios, os nativos
americanos carregaram suas tradições desta
forma. Para nada mais que uma geração antes
da extinção, como escreveu Momaday, há
sempre mais a ser lembrado pelas pessoas
devido a essa ligação tênue. Ao relembrar, tem
havido força, continuidade e renovação ao
longo das gerações.
Nas palavras do poeta do povo acoma
Simon J. Ortiz, "os índios estão em toda parte".
Desde o Refúgio Savala de Sonora, no México,

66
até a Montanha Mary Tall, da tribo koyukon do
Alasca; do país navajo de Geraldine Keams e
Larry Emerson até o nordeste do Maine de
Joseph Bruchac, os nativos americanos estão
escrevendo sobre si próprios e sobre seu povo.
Seus escritos são baseados em terra firme,
nutridos por raízes fortes e têm flores
crescentes invencíveis.
É interessante notar que, mesmo na
forma escrita, em inglês, a literatura nativa
americana é bastante venerável na estrutura da
própria literatura norte-americana,
remontando ao início do século XIX, quando os
primeiros escritores (dentre eles, William
Apess, da tribo pequod, George Copway
(ojibway) e o chefe Elias Johnson (tuscarora)
publicaram livros relacionados às suas culturas
tribais. Há também evidências de que muitas
tribos possuíam variantes de linguagem escrita
muito antes de Sequoyah alfabetizar a nação
cherokee virtualmente do dia para a noite.
Ainda que os livros dos índios delaware e da
Confederação iroquois fossem repassados
oralmente por muitas gerações, no início eles
foram reproduzidos em diversas formas
escritas. Ironicamente, mesmo quando
escritores norte-americanos como James
Fenimore Cooper e Henry Wadsworth
Longfellow apresentaram o índio americano a
partir das suas perspectivas, os nativos
americanos estavam escrevendo seus próprios
livros e, nesse processo, desenvolvendo
literatura.
Se, no começo, a literatura nativa
americana consistia em contar histórias (ou,
como definiríamos, ficção), uma ampla
mudança teve lugar na segunda metade do
século XIX, principalmente com o
desenvolvimento do sistema de reservas
indígenas nos anos 1870 e 1880. A biografia e a
auto-biografia tornaram-se a forma mais
popular e permaneceram dominantes até o
século XX.
Essas biografias eram muitas vezes
escritas por outros; antropólogos ou poetas
registravam e editavam as histórias de vida de
nativos americanos que eram encontrados nas
estradas dos séculos XIX e XX. Talvez o mais
famoso deles seja Black Elk Speaks (1932), de
John G. Neihardt. De acordo com Neihardt, Alce
Negro contou a história ao seu filho no idioma
oglala lakota. O filho então a traduziu para
inglês para Neihardt, que então a reescreveu.
Era uma prática comum, com muitos exemplos
em meados do século passado, presentes entre
tribos desde crows e cheyenne no extremo
norte dos Estados Unidos até os apaches e
navajos no sudoeste.
Naturalmente, nem todos os relatos
pessoais eram "contados" a outra pessoa.
Apareceram alguns escritores individuais,
dentre eles Charles A. Eastman, um médico
santee sioux treinado em universidade que
escreveu livros como Indian Boyhood (1902) e
The Soul of the Indian (1911), e o Chefe Luther
Urso em Pé, autor de My People The Sioux
(1928) e Land of the Spotted Eagle (1933). O
livro de Momaday The Names, de 1975, foi
parte dessa tradição.
À medida que decorria o século XX, a
literatura nativa americana ampliou-se para
além da biografia e relatos para a ficção,
jornalismo e até dramaturgia. D'Arcy McNickle
foi o melhor escritor de ficção do período da
década de 1930 a 1970, com livros como The
Surrounded (1936) e Runner in the Sun (1954).
Ele foi também extremamente ativo como
proponente de assuntos indígenas. Will Rogers,
o popular colunista de jornais norte-americanos
que se tornou humorista, cujo período áureo
foram os anos 1920 e 1930, foi um índio
cherokee, bem como o dramaturgo Lynn Riggs,
cujo drama mais famoso, Green Grow the Lilacs
(1931), foi transformado no clássico musical da
Broadway dos anos 1940, Oklahoma!
Nas primeiras décadas da segunda
metade do século, principalmente a partir dos
anos 1960, o desenvolvimento da literatura
nativa americana deveu-se a diversos
periódicos, que incluem publicações mais
estabelecidas, como o South Dakota Review e
Cimarron Review, e diversas publicações,
revistas e editoras menores, dentre elas "Sun
Tracks", "Blue Cloud Quarterly" e "Strawberry
Press". Os poemas de Hogan, Joy Harjo, William
Oandasan e muitos outros apareceram
primeiramente nessas e em outras publicações.
Muitos escritores e acadêmicos nativos

67
americanos fizeram suas primeiras aparições
escrevendo sobre temas não-indígenas. A
primeira empreitada de Momaday foi uma
coletânea das obras de Frederick Goddard
Tuckerman, um poeta menos conhecido do
círculo de Emerson na Massachusetts de
meados do século XIX. Louis Owens, que
reconsiderou e afirmou extensamente sua
herança choctaw/cherokee em seus últimos
escritos, começou com estudos sobre as obras
de John Steinbeck. (Como parêntese, eu
comecei minha carreira na educação, poesia e
literatura como especialista em Emerson,
Henry David Thoreau e Herman Melville.)
Quem são os escritores nativos
americanos? Esta questão preocupou-me por
anos, mesmo antes de compilar minha
antologia de 1979, The Remembered Earth.
Para aquele livro, decidi manter o mais amplo
espectro de definição possível. Incluí, por
exemplo, Dana Naone, uma jovem e talentosa
escritora havaiana nativa, pois nós, nativos
americanos do continente, estamos nos
tornando cada vez mais conscientes de que,
embora os havaianos não sejam índios
americanos propriamente falando, eles são,
entretanto, nativos americanos em sentido
real. De forma não surpreendente, os versos de
Naone continham temas e preocupações
similares aos de Allen e Silko.
Os antropólogos e historiadores
postularam que a inclusão como nativos
americanos depende de três critérios
essenciais: genéticos, culturais e sociais. A
distinção genética é "sangue total", "meio
sangue", "um quarto" e assim por diante.
Culturalmente, uma pessoa é caracterizada em
termos do local de onde ele ou ela é
proveniente e suas formas distintas de vida,
religião e idioma. Socialmente, alguém é
considerado nativo americano devido à forma
com que ele ou ela vê o mundo, terra, lar,
família e outros aspectos da vida.
Mas, à medida que os anos passam, a
identidade torna-se fator menos motivador
entre os temas literários que a soberania e,
como parte dela, a reivindicação do passado.
Os nativos americanos estão preocupados
sobre quem são eles enquanto povo e
escrevem de perspectiva comunitária (seja o
ambiente urbano ou rural) e esse senso de
comunidade reafirma e ampara a soberania.
Os romancistas Louise Erdrich e
Sherman Alexie e poetas como Linda Hogan e
Ray Urso Jovem são exemplos de escritores
que, na verdade, estão fazendo o que Charles
Dickens fez em Londres há mais de um século.
Ou seja, eles estão criando um senso local. A
literatura emerge invariavelmente disso e,
embora os melhores escritores lutem para
serem universais, é o senso local com que estão
profundamente imbuídos. Erdrich, poetisa e
escritora de ficção, é mais conhecida pela sua
tetralogia nativa americana: Love Medicine
(1984), The Beet Queen (1986), Tracks (1988) e
The Bingo Palace (1994). Ela recentemente
trouxe à tona suas raízes ojibwa em The
Antelope Wife (1999), um retrato de duas
famílias nativas americanas urbanas
contemporâneas em comparação com um
mosaico de cem anos de história. Os versos da
poetisa chickasaw Linda Hogan (ligados ao sul e
centro de Oklahoma) concentraram-se na
paisagem e na história. Mais recentemente,
entretanto, à medida que cresceu e se
desenvolveu, ela vem lidando com questões
como preservação animal e feminismo.
Alexie, um dos melhores jovens
escritores a misturar realismo e humor
sarcástico com forte lirismo ao escrever ficção,
poesia e dramaturgia, é mais conhecida por
Indian Killer (1996), um romance trágico sobre
a busca de um assassino em série em ambiente
urbano contemporâneo. Greg Sarris, um
escritor californiano nativo de raízes miwok e
pomo, atingiu ampla quantidade de leitores
com seu primeiro livro Grand Avenue (1994),
uma coletânea de contos passados na sua
vizinhança multicultural nativa na urbana Santa
Rosa, na Califórnia, povoada por gerações de
índios pomo, bem como portugueses,
mexicanos e afro-americanos. Seu primeiro
romance, Watermelon Nights (1998), é uma
visão urgente da tradição, crise e renovação em
uma família nativa americana. Nos últimos
tempos, ele moveu-se também para a
dramaturgia.
Em análise final, entretanto, a

68
preocupação mais importante não é se alguém
é mais ou menos índio que o seu companheiro
índio americano. É muito mais importante que
ambos reconheçam sua herança comum e
lutem juntos pela melhoria dos nativos
americanos no seu todo. Ao final, a literatura
que deixamos para a posteridade estará
disponível para as pessoas que vieram depois
de nós. E, ainda assim, é dever do escritor
individual comentar sobre coisas que ele ou ela
acredita serem importantes,
independentemente do tema da literatura lidar
ou não exclusivamente com preocupações
nativas americanas. Se não tivéssemos os
escritos de Momaday sobre a Rússia, os curtos
poemas de Aaron Carr sobre o espaço exterior
ou os contos de ficção científica e roteiros de
televisão de Russel Bates, a literatura nativa
americana seria mais pobre pela sua ausência.
(À medida que os índios escrevem sobre
temas diferentes da sua comunidade, diversos
escritores não-nativos, antes e depois de
Laughing Boy, de Oliver LaFarge, investigaram a
vida nativa americana, alguns com muito
sucesso. Mais de meio século atrás, Frank
Waters elaborou o que pode ser seu melhor
romance, The Man Who Killed the Deer (1942),
um estudo dos conflitos culturais entre os
índios taos do norte do Novo México.
Atualmente, ao escrever sua série de romances
"best-sellers" centralizados na polícia tribal
navajo, Tony Hillerman esforçou-se para
aprender a cultura e tradições para criar suas
histórias.)
Por fim, os escritores nativos
americanos são aqueles de sangue e
antecedentes nativos americanos que afirmam
sua herança de formas individuais, da mesma
forma que os escritores de qualquer cultura.
Alguns escrevem sobre a vida reservada, outros
descrevem ambientes urbanos. Alguns
investigam a história, outros são ferozmente
contemporâneos. Joseph Bruchac, que teve
enorme influência sobre uma geração de
escritores mais jovens como mentor e
capacitador, é conhecido hoje como escritor de
histórias infantis, tais como Between Earth and
Sky (1996) e The Arrow Over the Door (1998),
que apresentam lendas tribais em contexto
moderno para novas audiências.
" A literatura é uma faceta de uma
cultura", escreve Paula Gunn Allen, e, como tal,
oferece algo de valor ao povo do qual é parte.
Herança é povo. Povo é terra. Terra é
herança. Ao relembrar esses relacionamentos
(com o povo, o passado e a terra), renovamos a
força de nossa continuidade como povo. A
literatura, em todas as suas formas, é nossa
forma mais durável de conduzir essa
continuidade. Ao fazer literatura, como os
cantores e contadores de histórias de
antigamente, servimos ao povo bem como a
nós mesmos em um duradouro senso de
recordação.
Nunca devemos esquecer esses
relacionamentos. Nossa terra é nossa força e
nosso povo é a terra, uma e única, como
sempre foi e sempre será.
A memória é tudo.

GEARY HOBSON
Geary Hobson, poeta e ensaísta de
herança cherokee/quapaw, é membro do corpo
docente do Departamento de Inglês da
Universidade do Oklahoma. Este artigo é uma
expansão da introdução do professor Hobson a
uma antologia, The Remembered Earth,
publicada originalmente por Red Earth Press,
Albuquerque, Novo México, 1979, e reimpresso
pela Imprensa da Universidade do Novo México
em 1981. Ele foi utilizado com permissão do
autor.
-------------
Fonte:
http://usinfo.state.gov/journals/itsv/0200/ijsp/ijsp0210.
htm

69
(entrevista realizada pela escritora Agenir
Leonardo Victor)

A trova é apaixonante

Antonio Augusto de Assis, mais
conhecido como A. A. de Assis, 71, nasceu em
São Fidélis-RJ. Veio para Maringá em 1955,
retornou ao estado do Rio em 1959 e
novamente transferiu residência para Maringá
em 1963, aqui permanecendo até hoje.
Aposentou-se em 1997 como professor do
Departamento de Letras da Universidade
Estadual de Maringá.
Desde a juventude tem-se dedicado à
poesia. Em 1960, residiu em Nova Friburgo-RJ,
berço da trova moderna no Brasil. Nesse
período, conviveu com os mais importantes
trovadores da época, tais como Aparício
Fernandes, Delmar Barrão, Luiz Otávio, J.G. de
Araújo Jorge e outros, daí surgindo seu
entusiasmo pela quadra setissilábica.
Assis é autor de vários livros e também
da Missa em trovas, que tem sido celebrada em
quase todo o país em festas de poesia. Tem
uma estante cheia de troféus ganhos em
concursos literários realizados Brasil afora e em
Portugal.
Para a entrevista que transcrevemos a
seguir, o poeta maringaense recebeu em sua
residência, onde conversaram durante cerca de
uma hora.

AGENIR – Qual a diferença entre poeta e
trovador?

ASSIS – A mesma que existe, por exemplo, se é
que existe, entre médico e cardiologista. Todo
cardiologista é médico mas nem todo médico é
cardiologista. Assim também, todo trovador é
poeta mas nem todo poeta é trovador.
Digamos que a trova é uma especialidade
dentro do gênero poesia.

AGENIR – Como se define a trova?

ASSIS – É um micropoema sem título, composto
de quatro versos de sete sons (sete sílabas),
rimando o primeiro com o terceiro e o segundo
com o quarto.

AGENIR – Mais ou menos como o haicai?...

ASSIS – O haicai é menor ainda: compõe-se de
três versos, sendo o primeiro e o terceiro com
cinco sons e o do meio com sete sons. Uns
dizem que a trova é o haicai ocidental; outros
que o haicai é a trova japonesa. Tanto a trova
quanto o haicai primam pela síntese.

AGENIR – A trova deve ser muito antiga...

ASSIS – Tem mais de mil anos, e no entanto
continua cheia de vida. Suas origens remontam
à Idade Média, a partir do sul da França, de
onde se expandiu por toda a Europa,
encontrando seu canteiro mais fértil na
Espanha e em Portugal. A língua portuguesa
nasceu cantando trovas, na voz dos antigos
jograis e menestréis. Ao Brasil a trova chegou
de carona nas caravelas de Cabral, sobreviveu
às diversas escolas literárias que andaram na
moda nestes últimos quinhentos anos, e
permanece até hoje na boca e no coração do
povo como a mais natural das modalidades
poéticas.

AGENIR – Ainda existem jograis e menestréis?

ASSIS – De certo modo, sim. Os jograis e
menestréis da Idade Média saíam de corte em
corte cantando suas trovas, nas quais contavam
novidades, espalhavam fofocas... eram os
repórteres da época. A cantoria deles era um

70
verdadeiro jornal em versos. São seus
sucessores, hoje, os cantadores do Nordeste e
do Sul do Brasil, com seus repentes e cordéis. O
cordel é, em última análise, uma grande
reportagem sobre algum assunto em evidência
no momento.

AGENIR – E qual a diferença entre os
cantadores populares e os trovadores
literários?

ASSIS – Uma diferença importante está na
maneira de compor a trova: os cantadores não
seguem uma forma fixa, enquanto os
trovadores conhecidos como "literários"
seguem as normas da UBT (União Brasileira de
Trovadores) e obedecem ao padrão culto da
língua, utilizando vocabulário acessível, mas
valorizando a correção gramatical.

AGENIR – Pode-se então enquadrar a trova
como um modo de comunicação...

ASSIS – Claro que sim. Comunicar é transmitir a
alguém uma informação, um pensamento, um
apelo, uma emoção, e isso se faz de muitas
formas: mediante um gesto, um desenho, um
sinal sonoro, um texto oral ou escrito, em prosa
ou verso. A trova é um modo de comunicação
em versos, tal como o haicai, o soneto, o
poema livre, a letra de música etc.

AGENIR – Haveria lugar para a poesia, hoje, na
mídia?

ASSIS – Parece que cada vez menos. Houve
tempo em que todos os jornais e muitas
revistas, bem como as emissoras de rádio e
algumas de televisão abriam espaço para a
literatura. Hoje, porém, os tempos são outros.
Há uma tremenda disputa pelo leitor e pelo
ouvinte, de modo que a matéria precisa
interessar ao maior número possível de
pessoas, sob pena de queda no ibope.

AGENIR – E literatura não dá ibope...

ASSIS – Pelo menos não tanto quanto futebol,
polícia, política, economia, fofoca,
humorismo... O romance, outrora tão popular,
foi quase totalmente substituído pela
telenovela...

AGENIR – Poesia, nem pensar... Seria um
produto em extinção...

ASSIS – (risos) ...Não exageremos. Não tenho
notícia de que a mídia em algum lugar se ocupe
em divulgar, por exemplo, o futebol de botão.
No entanto, há um sem-número de meninos
(de todas as idades), a começar pelo Chico
Buarque de Holanda, que são apaixonados por
esse esporte. As pessoas jogam botão pelo
prazer que isso lhes dá, independentemente da
repercussão que possa ter na mídia o seu
divertimento. Da mesma forma se comportam
os que escrevem, lêem e até colecionam trovas.

AGENIR – Quantas pessoas gostariam de trovas
no Brasil?

ASSIS – Não há uma estatística... Só de
trovadores conhecidos, temos uns 5 mil. Mas
não há como saber quantas pessoas, não-
poetas, se deliciam lendo essas quadras.
Ninguém sabe também quantos brasileiros
apreciam palavras cruzadas, mas é difícil achar
um jornal que não as ofereça aos seus leitores.
O jornal Diário Gaúcho, de Porto Alegre, publica
uma coluna com o título "A Trova do Dia", e o
retorno em forma de correspondência é
surpreendente. É difícil fazer uma boa trova,
porém é muito fácil entendê-la; por isso tanta
gente gosta dela. E depois que a pessoa "prova"
algumas, acaba se apaixonando...

AGENIR – Livro de poemas vende nas livrarias?

ASSIS – No Brasil, muito pouco. O único que
conseguiu ganhar dinheiro vendendo poesia foi
J. G. de Araújo Jorge, cuja popularidade chegou
a fazer dele um dos deputados federais mais
votados no Rio de Janeiro. No romance, Jorge
Amado foi um dos campeões. Mas o que mais
se vende nas livrarias é livro didático, religioso,
de receitas culinárias, de esoterismo e de auto-
ajuda. Paulo Coelho, sozinho, vende mais que
todos os outros escritores brasileiros juntos.

71

AGENIR – Como é que os trovadores se
comunicam uns com os outros?

ASSIS – Pelo velho correio; pela Internet; por
telefone; e por meio de uma grande rede de
periódicos publicados mensalmente pelas
muitas seções da UBT – União Brasileira de
Trovadores. Aliás, uma das razões do sucesso
da trova é o fato de ela ter mídia própria.
Alguns desses informativos têm tiragem
superior a dois mil exemplares, com assinantes
em todo o Brasil e em Portugal. Ali saem, além
de trovas, também notícias e comentários, e os
editais e resultados de todos os concursos de
trovas. A média tem sido de 60 concursos por
ano.

AGENIR – Há prêmios em dinheiro?

ASSIS – A UBT não apóia nenhum concurso que
ofereça prêmio em dinheiro ou que cobre taxa
de inscrição. O amor à arte é levado muito a
sério. Os vencedores recebem troféus,
medalhas e diplomas, além de hospedagem e
refeições na cidade-sede do concurso durante a
festa de premiação.

AGENIR – Há trovadores profissionais?...

ASSIS – São trovadores profissionais muitos dos
cantadores e repentistas do Nordeste e do Sul
do país, dos quais já falamos, e que se
apresentam como artistas em festas e shows.
Os trovadores ditos "literários" são todos
amadores: fazem trovas por diletantismo, sem
nada receber em troca. Até quando publicam
livros, distribuem-nos de graça aos amigos, ou
por preço de custo.

AGENIR – Mas, afinal, quem são esses
trovadores chamados "literários"?

ASSIS – São pessoas comuns, como todos nós,
cada qual com sua profissão: professores,
jornalistas, médicos, militares, advogados,
engenheiros, bancários, operários,
comerciários, empresários, agricultores etc., os
quais, nas horas vagas, se divertem fazendo
trovas. Nota-se entre eles, sobretudo, um
grande número de aposentados.

AGENIR – Deve ser mesmo um bom
divertimento para idosos.

ASSIS – Costumo dizer que a trova é um ótimo
brinquedo de velho... É a "trovaterapia". Você
faz uma bela ginástica cerebral na construção
de cada quadra. Além disso, a trova faz amigos,
por meio da correspondência mantida e dos
freqüentes encontros da "tribo".

AGENIR – Há muitos trovadores no Paraná ? E
em Maringá?

ASSIS – O Paraná tem longa tradição em trova.
Atualmente, as principais praças trovistas
paranaenses são Curitiba, Maringá,
Bandeirantes, Ponta Grossa e Londrina, mas
não sei dizer quantos trovadores existem hoje
no estado. Em Maringá, estão filiados à seção
local da UBT 32 trovadores, alguns
simplesmente como "gostantes"...

AGENIR – Parece que vocês são mesmo bem-
organizados...

ASSIS – Somos sim. O trovismo, embora não
faça disso grande alarde, é o movimento
literário mais amplo, mais animado e mais
organizado que até hoje se conheceu no Brasil.
É uma verdadeira confraria.

AGENIR – Além de concursos, o que mais vocês
fazem?

ASSIS – Os concursos são apenas um dos itens
da atividade trovista. Realizam-se também
congressos, recitais, festas de musas, sessões
de autógrafos, palestras e oficinas de trovas em
escolas, exposições... Em Bauru, por exemplo,
todos os anos, é feita uma exposição chamada
"A Trova no Parque", com centenas de trovas
escritas em cartazes que são colocados entre as
árvores. Na abertura do evento, é costume
fazer uma "chuva de trovas", com milhares
delas lançadas de avião sobre a cidade. Em
Pouso Alegre-MG, foram pintadas trovas

72
educativas em todos os prédios públicos da
cidade. Em Curitiba, durante a semana dos
Jogos Florais/2003, todos os ônibus do
transporte urbano circularam expondo cartazes
com trovas. Em outras cidades têm sido
realizados "comícios de trovas" (e Maringá foi
pioneira nisso, em 1966), com os trovadores
apresentando seus versos em praça pública.

AGENIR – E sonetos, ainda há quem os escreva?

ASSIS – Há sim, muita gente. Temos ótimos
sonetistas, tão bons quanto os do tempo de
Bilac, ou até melhores. A única diferença é que
o tempo de Bilac as pessoas tinham mais
tempo para ler: não havia cinema, nem
televisão, nem shopping... Hoje talvez haja
menos leitores, porém a qualidade dos versos é
a cada dia melhor. A poesia não morrerá nunca.
Aliás, toda arte é eterna. Se assim não fosse,
ninguém mais ouviria Bach, Beethoven, Chopin,
Mozart, Strauss...

AGENIR – Você se dedica exclusivamente à
trova?

ASSIS – Preferencialmente, mas não
exclusivamente. Gosto muito da trova e do
haicai, porque sou fascinado pela síntese. Da
trova mais ainda, por sua musicalidade e por
ser um poema fácil de ser compreendido. Mas
faço também soneto, verso livre, concreto...

AGENIR – A trova tem trazido algum benefício
especial para Maringá?

ASSIS – Não sei o que você chama de "benefício
especial". Traz alegria para nós, que temos
nisso o nosso recreio intelectual. Mas deve
beneficiar também Maringá, pela divulgação
que faz da cidade. Cada vez que aqui
promovemos um concurso, um congresso ou
uma festa de trovas, todos os trovadores do
Brasil e de Portugal ficam sabendo. Os que aqui
vêm participar pessoalmente do evento saem
sempre dizendo maravilhas da cidade. E toda
vez que um de nós é premiado lá fora, o nome
de Maringá é publicado junto com o da gente.
Aliás, há muitas cidades onde as festas de
trovas fazem parte do calendário turístico
oficial.
E são festas lindas.

Fonte:
VICTOR, Agenir Leonardo. A Trova: O Canto do Povo.
Trabalho apresentado ao Curso de Comunicação Social
das Faculdades Maringá, para habitlitação em
Jornalismo. Maringá: Dezembro, 2003.
LENDA TOLTECA (QUETZALCOATL)

Quetzalcoatl, Deus Serpente, entrou no
México à frente de um grupo de estranhos, os
Toltecas, vestidos com longas túnicas de linho
negro. O povo deu-lhes boas-vindas, e ele
tornou-se o rei da Cidade dos Deuses, Tollan.
Neste tempo, as maçarocas de milho eram tão
grandes que um homem não conseguia
transportar mais do que uma cana de vez, o
algodão com tantas cores, que não necessitava
ser tingido. Uma grande variedade de pássaros
de penas coloridas invadiam os ares com suas
canções, e abundavam o ouro, a prata e as
pedras preciosas. Quetzalcoat introduziu uma
religião que apregoava paz para todos os
homens. Ele era totalmente puro, inocente e
bom. Nenhuma tarefa era humilde para ele. Ele
até varria os caminhos para os deuses da
chuva, para que eles pudessem chegar e fazer
chover.
Com o tempo, seu irmão esperto ,
Tezcatlipoca, invejoso da sua felicidade,
juntamente com mais dois feiticeiros
Huitzilopochtli e Tlacahuepán viraram-se contra
Quetzalcoat e seu povo. Tezcatlipoca, ficava
furioso com tanta bondade e perfeição.
Juntamente com os dois feiticeiros, ele decidiu

73
lançar um feitiço negro em Quetzalcoatl e
transforma-lo em um ancião preocupado
apenas com seu prazer. -Vamos dar a ele um
corpo e cabeça humanos, disse. E mostraram a
Quetzalcoatl seus novos traços em um espelho
de fumaça. Quando Quetzalcoatl olhou no
espelho e viu sua face, foi possuído por todos
os desejos terrenos que afligiam a humanidade.
Gritou de horror. "Já não posso mais ser rei.
Não posso aparecer assim diante do meu
povo". Ele chamou o coiote Xolotl, que era tão
próximo dele quanto sua própria sombra. O
coiote fez para ele um manto de plumas
verdes, vermelhas e brancas, do pássaro
Quetzal. Também fez uma máscara turquesa,
uma peruca e uma barba de penas azuis e
vermelhas. Pintou de vermelho os lábios do rei,
de amarelo sua testa e pintou seus dentes para
que parecessem os de uma serpente. E assim
Quetzalcoatl ficou disfarçado de Serpente
Emplumada.
Mas Tezcatlipoca tinha pensado em
uma nova peça para pregar no irmão.
Disfarçado de velho, visitou o irmão, e
preparou um remédio que, como assegurou a
Quetzalcoat, o embriagaria, apaziguaria o seu
coração e iria curar seu problema. Com um
pouco de boa vontade, Quetzalcoatl, bebeu o
remédio e assim que o saboreou, bebeu cada
vez mais até ficar embriagado e
choramingando. O que ele havia bebido era o
vinho feito de pita, chamado a "Bebida dos
Deuses". Quando ele estava em estupor,
Tezcatlipoca persuadiu-o a fazer amor com sua
própria irmã, Quetzalpetatl.
Quando Quetzalcoatl acordou, ficou
amargamente envergonhado com o que tinha
feito. "Este é um mau dia", disse e resolveu
morrer. Quetzalcoat ordenou a seus servos que
fizessem uma caixa de pedra, e ficou dentro
dela quatro dias. Depois se levantou e pediu
aos servos para encher a caixa com todos os
seus maiores tesouros e depois selá-la. Foi até
o mar e lá colocou seu manto de plumas de
Quetzal e sua máscara de turquesa. E então pôs
fogo em si mesmo e queimou até que só
restassem cinzas na praia. Dessas cinzas, aves
raras se levantaram e voaram para o céu.
Quando Quetzalcoat morreu, a aurora
não se levantou por quatro dias, porque
Quetzalcoat tinha descido para a terra dos
mortos com seu duplo, Xolotl, para ver seu pai,
Mictlantecuhtli. Ele disse a seu pai, o Senhor
dos Mortos, "Vim buscar os preciosos ossos
que o senhor tem aqui para povoar a Terra."
E o Senhor dos Mortos respondeu: "Está
bem". Quetzalcoat e Xolotl pegaram os ossos
preciosos e voltaram à terra dos vivos. Quando
a aurora se levantou outra vez, Quetzalcoat
borrifou seu sangue sobre os ossos e deu-lhes
vida. Os ossos se transformaram nas primeiras
pessoas. Quetzalcoat ensinou à humanidade,
muitas coisas importantes. Ele encontrou o
milho, que as formigas tinham escondido, e
roubou um grão para dar ao povo que tinha
criado para que eles pudessem cultivar seu
próprio alimento. Ensinou-lhes a polir o jade, a
tecer e a fazer mosaicos. O melhor de tudo,
ensinou-lhes a medir o tempo e a entender as
estrelas, e distribuiu o curso do ano e das
estações.
Finalmente chegou o tempo de
Quetzalcoat deixar os humanos cuidarem-se de
si mesmos. Quando a aurora surgiu, no céu
apareceu a estrela Quetzalcoat, que
conhecemos como Vênus. Por essa razão,
Quetzalcoat é conhecido como Senhor da
Aurora. Alguns dizem que Quetzalcoat partiu
para o leste em uma jangada de serpentes, na
qual se sentou como numa canoa, viajando em
direção a Tlapallán, o país misterioso de onde
tinha vindo e um dia retornará.

LENDA DOS ÍNDIOS SIOUX (O FALCÃO E A
ÁGUIA)

Conta uma velha lenda dos índios Sioux,
que uma vez, Touro Bravo, o mais valente e
honrado de todos os jovens guerreiros, e
Nuvem Azul, a filha do cacique, uma das mais
formosas mulheres da tribo, chegaram de mãos
dadas, até a tenda do velho feiticeiro da tribo:
- Nós nos amamos, e vamos nos casar -
disse o jovem. E nos amamos tanto que
queremos um feitiço, um conselho, ou um
talismã, alguma coisa que nos garanta que
poderemos ficar sempre juntos, que nos
assegure que estaremos um ao lado do outro

74
até encontrarmos a morte. Há algo que
possamos fazer?
E o velho, emocionado ao vê-los tão
jovens, tão apaixonados e tão ansiosos por uma
palavra, disse:
- Tem uma coisa a ser feita, mas é uma
tarefa muito difícil e sacrificada... Tu, Nuvem
Azul, deves escalar o monte ao norte dessa
aldeia, e apenas com uma rede e tuas mãos,
deves caçar o falcão mais vigoroso do monte e
trazê-lo aqui com vida, até o terceiro dia depois
da lua cheia. E tu, Touro Bravo - continuou o
feiticeiro - deves escalar a montanha do trono,
e lá em cima, encontrarás a mais brava de
todas as águias, e somente com as tuas mãos e
uma rede, deverás apanhá-la trazendo-a para
mim, viva!
Os jovens abraçaram-se com ternura, e
logo partiram para cumprir a missão
recomendada. No dia estabelecido, à frente da
tenda do feiticeiro, os dois esperavam com as
aves dentro de um saco. O velho pediu, que
com cuidado as tirassem dos sacos, e viu eram
verdadeiramente formosos exemplares...
- Agora - disse o feiticeiro, apanhem as
aves, e amarrem-nas entre si pelas patas com
essas fitas de couro; quando as tiverem
amarradas, soltem-nas, para que voem livres.
O guerreiro e a jovem fizeram o que
lhes foi ordenado, e soltaram os pássaros. A
águia e o falcão tentaram voar, mas apenas
conseguiram saltar pelo terreno. Minutos
depois, irritadas pela incapacidade do vôo, as
aves arremessavam-se entre si, bicando-se até
se machucar.
E o velho disse:
- Jamais esqueçam o que estão vendo;
este é o meu conselho: Vocês são como a águia
e o falcão; se estiverem amarrados um ao
outro, ainda que por amor, não só viverão
arrastando-se, como também, cedo ou tarde,
começarão a machucar-se um ao outro.
Se quiserem que o amor entre vocês
perdure, voem juntos, mas jamais amarrados.

Fontes:
http://www.xamanismo.com/lendas.asp?c=7

http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2
002/06/o_falcao_e_a_ag.html
(Crônica vencedora nos “II Jogos Florais de
Caxias do Sul”)

Nada havia… Ninguém jamais tinha se
aventurado pelas entranhas da floresta
misteriosa.
Por respeito ou medo, nenhum homem
pisara, ainda, o solo escuro e úmido. Apenas a
mata reinava, triunfante, majestosa, numa paz
que se perderia para sempre.
De outras plagas, vieram homens
barulhentos, com seus machados e serrotes,
quebrando o silêncio de pássaros dormindo.
Cortaram árvores e atearam fogo, clareando as
noites com o cheiro de óleo queimado, cheiro
de morte e progresso. Fizeram picadas, abriram
clareiras. Sem dó nem piedade, violentaram a
mata, rasgaram o ventre da terra virgem.
Sob lonas pretas, de mulheres valentes
nasceram os primeiros filhos desta terra
inóspita, onde construiriam suas vidas com
suor e sangue.
Depois vieram os trilhos, o trem
cortando a mata desbravada. Sobre os trilhos,
encarrilhando a história, tudo vinha, tudo ia,
tudo se transformava.
A madeira tombava, as casas eram
erguidas. Ao redor da primeira igreja, a
primeira hospedaria, a primeira escola, o
primeiro boteco, o primeiro comércio de secos
e molhados.
Sobre os trilhos, e depois sobre jipes e
caminhões, que cortavam estradas
esburacadas, empoeiradas ou lamacentas,
levas e mais levas vieram, e continuaram vindo.
Eram homens e mulheres cheios de esperança,
coragem e vontade de enriquecer na terra
prometida.

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Do trem desceram também as primeiras
mulheres pintadas, de vestidos rodados e
cheiro de colônia, que alegravam os homens
sozinhos, e também os casados. Tantas
histórias… Personagens de muitas delas,
mulheres encostadas no fogão, alisando chão
de terra batida com barro e carvão, parindo os
filhos na garra, lavando as roupas debaixo de
um vento feito de pó, fazendo novenas…
Mulheres cansadas da lida! De outro lado,
maridos suados, no trabalho pesado, e, noutras
cenas, fazendo filhos ilegítimos com aquelas
que vendiam o que tinham… Mulheres
cansadas da vida!
Contam-se ainda histórias de anjinhos
que não sobreviviam à rudeza da falta de
conforto e assistência, de homens que
matavam por mais um palmo de terra, de
amores e traições… Tantas histórias…
Com meus pais e uma irmã mais velha,
chegamos com quase nada. Era pequena a
mudança, tudo que tínhamos cabia na
carroceria de um caminhãozinho velho.
Eu também faço parte dessa história.
Vim menina, magricela, e nada mais trazia
comigo além de um pequeno embornal com
algumas pedrinhas de jogar e um punhado de
sonhos, não muitos, apenas o quinhão que me
cabia aos cinco anos.
A cidade aberta na mata já era uma
moça bonita, viçosa e cheia de promessas.
Perdi de vê-la engatinhar, de dar os
primeiros passos… Não vi a derrubada da mata,
não vi ser levantada a primeira casa nem ser
aberto o primeiro comércio, mas ainda havia
muitas ruas e estradas a sua volta onde se
podia atolar.
Com o tempo, meu pai também
comprou um jipe e era comum encontrá-lo
colocando correntes nos pneus… Era uma
estratégia utilizada para vencer as subidas e
outros trechos mais difíceis das estradas em dia
de lamaçal.
Para quem tinha pouca idade e pouco
juízo, tudo parecia muito divertido. Poeira?
Desenhávamos nos vidros dos carros e das
casas, e nasciam ali as primeiras letras e as mais
belas paisagens. Lama? Fazíamos panelinhas e
bonecos de barro… Verdadeiras estatuetas,
dignas de exposição. Era a arte, ou a “arte”,
brotando da fértil terra vermelha que a floresta
nos deu como resposta.
Se o começo foi difícil, se nem todos os
valentes pioneiros têm busto na praça, se
existem deslizes e trechos menos poéticos
nessa caminhada, se algum sangue foi
derramado junto com o suor de uma brava
gente, parece-me tudo perdoável…
Este é o lugar que se fez nosso ninho e
nele deixamos nossas marcas.
Da esperança aqui plantada, quantas
bênçãos já colhemos!
Nascidos aqui ou de outras paragens,
somos, todos, filhos desta terra por escolha e
pelos mandos do coração.
As estações não são mais as mesmas e o
trem não mais apita pelos caminhos, mas
entramos para sempre nos trilhos dessa
história.

Fonte:
Academia de Letras de Maringá
Dualidades

Não sei se te quero homem velho:
cheio de histórias e segredos
e formalidades…
ou se te quero menino-moleque
entre ansiedades
e fantasias,
pedindo meu colo…
Não sei se te quero entre trabalhos:
máquinas modernas,
empenhos e responsabilidades…
ou se te quero criatividade,
fazendo brotar, ludicamente,
mil programações…

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Não sei se te quero razão:
maduramente se posicionando
acerca de problemas, carências e dores…
ou se te quero sonhando acordado,
cheio de emoções,
a curtir sua música predileta…

Tens um lado de brilho que me encanta,
e um lado de sombras que me assusta…

Enquanto isso,
sou festa e arrebatamento
– adolescente-poeta abrindo o coração –
e sou receios,
sem saber como lidar
com o sentimento novo
que me invade…

Ambigüidades à parte,
só sei – por inteiro –
que sonho acordada
te ver chegando
(sorriso-chamego),
nas asas da ternura,
numa tarde de sol,
pro meu aconchego…

Duas Crianças

Em alguma folha
do livro competente,
no cartório da vida,
arquive-se o acordo,
como segue.

Prometo :
a menina curiosa,
arteira e sensível
que aflora, irrompe, desabrocha
e explode em mim
acolhe você,
moleque travesso, irreverente,
deliciosamente sedutor
(ainda que envolto em dualidades e mistérios)
para juntos caminharem
sonhadoramente,
em meio a castelos de nuvens
branquinhas, gordas de fantasias
e desejos compartilhados,
em direção
à porta do céu.

4 Trovas

Nem sempre a felicidade
vem da vitória ou da fama:
pode estar numa saudade
ou nos sonhos de quem ama!

Um desejo singular
me ocorre claro e preciso:
devagarinho beijar
ternamente o teu sorriso!

Se sofres, poeta, canta,
que essa cantiga, aonde for,
consola, embala, acalanta,
quem vive pobre de amor!

Meu coração sofre tanto,
padece e não sei por quê.
Deve ser porque esse pranto
se deriva de você...


JEANETTE MONTEIRO DE CNOP
Pertence à Academia de Letras de
Maringá, Cadeira nº. 01 – Patrono: Adelmar
Tavares.
Professora universitária, doutora em
Letras. Nasceu em Itaperuna – RJ, no dia 14 de
novembro de 1944. Autora dos textos
acadêmicos Discursos de professores
aposentados: perspectivas de vida e Produção
de textos em cooperação por pessoas da
Terceira Idade, e do livro: Tecelã de textos –
vivências de uma professora de Língua
Portuguesa. Tem participado de várias
coletâneas.

Fontes:
http://www.afacci.com.br/2007/j3.htm
60 Trovas de Saudade. (A.A. de Assis – Org.) – 2005 .
Disponível em
http://www.arturdatavola.com/60_Trovas_de_Saudade.
html

77
Primórdios
Como resultado da intensa vida literária
que São Luís conheceu entre a última e a
primeira décadas dos séculos XIX-XX, diversas
agremiações culturais foram fundadas, duas
das quais tiveram particular importância: a
Oficina dos Novos e a Renascença Literária,
destacando-se a última, pela saudável
emulação que estabeleceu com a primeira.
A Oficina dos Novos, criada a 28 de
julho de 1900, tinha estrutura organizacional
semelhante à das Academias. Dava a seus
membros o título de operários e editava um
boletim oficial denominado Os Novos, em cujo
frontispício se lia: “periódico evolucionista”.
Constituída, inicialmente, com 20
cadeiras, a Oficina ampliou seu quadro para 30,
em 1904. Afora os membros efetivos, tinha-os
honorários e correspondentes. Cada cadeira
estava sob o patronato de um vulto eminente
da cultura maranhense.
Como é natural, muitos desses patronos
também seriam adotados como patronos das
cadeiras da Academia, da mesma forma que
diversos “operários” viriam integrar o grupo
dos fundadores desta Instituição ou nela
posteriormente ingressaram, o mesmo
cabendo dizer relativamente aos sócios
honorários e correspondentes.
Tendo Gonçalves Dias como seu
patrono geral, a Oficina escolheu o poeta
Sousândrade para seu presidente honorário. O
culto a Gonçalves Dias estava representado
pelos propósitos, declarados em estatuto, de
organizar uma estante gonçalvina que fosse a
mais completa possível, editar a obra do poeta
e, futuramente, transformar a Oficina em
Grêmio Literário Gonçalviano.
Ainda sobre a Oficina dos Novos,
contradiga-se, por oportuno, a errônea versão
segundo a qual essa entidade desapareceu para
que em seu lugar surgisse a Academia. Além de
um jantar de confraternização que as duas
entidades promoveram no Hotel Central, a 15
de dezembro de 1908, diversos fatos atestam a
co-existência da Oficina e da Academia, por
alguns anos. Um deles foi a reorganização que a
Oficina realizou em 1917, quando ocorreram a
aprovação de novos estatutos, a eleição de
diversos “operários” e da diretoria.

Fundação
A Academia Maranhense de Letras,
oficialmente instituída às 19 horas de 10 de
agosto de 1908, data do 85º aniversário de
nascimento do poeta da Canção do Exílio,
também já demonstrava claramente, com esse
fato, sua resolução de adotar Gonçalves Dias
como seu nume tutelar.
Fundada no salão de leitura da
Biblioteca Pública do Estado (prédio onde, a
partir de 1950, tem sua sede própria), compôs-
se, inicialmente, de 20 cadeiras.
Dispunham os estatutos que ao grupo
dos 12 fundadores – Antônio Lobo, Alfredo de
Assis, Astolfo Marques, Barbosa de Godois,
Corrêa de Araújo, Clodoaldo Freitas, Domingos
Barbosa, Fran Paxeco, Godofredo Viana, I.
Xavier de Carvalho, Ribeiro do Amaral e Vieira
da Silva – viriam juntar-se os oito membros
restantes, admitidos mediante eleição, e
também com as honras de fundadores.
A 7 de setembro desse ano realizou-se a
solene sessão inaugural da Academia, que,
assim, iniciava oficialmente as suas atividades.
Por força de disposição estatutária, foi o
primeiro presidente da agremiação o professor
e historiógrafo José Ribeiro do Amaral, que era,
aos 55 anos, o mais idoso entre seus confrades.
A Academia contou, entre seus
integrantes dos primeiros tempos, a figura de
líder e agitador de idéias que foi Antônio Lobo.
E adotou, por isso, o cognome de Casa de
Antônio Lobo. Mas com o trágico
desaparecimento desse vulto notável de nossa
vida literária, a 24 de junho de 1916, entrou a

78
Instituição numa fase de instabilidade, marcada
por alguns períodos de reação vivificadora, em
meio ao generalizado estado de apatia em que
se arrastou até a década de 40.
As sucessivas reformas estatutárias (em
1916, 1934, 1942, 1947, 1949, 1957 e 1979)
introduziram diversas modificações na
estrutura e funcionamento da Academia, sendo
particularmente interessantes, no que respeita
a seus quadros, a de 1934, que fixou em 25 o
número de membros titulares, e a de 1946, que
elevou esse quadro ao número clássico de 40
poltronas, estabelecendo que seriam 60 os
membros correspondentes. Este quadro
honorífico acha-se, pela reforma de 1957,
fixado em 30 cadeiras, às quais foram
atribuídos patronos pela Resolução Nº 6, de 20
de setembro de 1987, da Diretoria.
O não dispor de sede própria durante
longos anos, levou a Academia a funcionar,
provisoriamente, na residência do presidente
Ribeiro do Amaral, até seu falecimento em
1927. Depois teve abrigo nos baixos da
Assembléia Legislativa do Estado, por achar-se,
durante o Estado Novo, esse Poder suprimido.
A seguir seus arquivos estiveram guardados em
casa do acadêmico Ribamar Pinheiro, que
faleceu no exercício da Presidência. O
presidente seguinte, Clodoaldo Cardoso,
conseguiu que o Governo do Estado alugasse o
sobrado da Rua de Nazaré, Nº 200, para sede
provisória da Academia. Enquanto isso, ia ela
realizando suas sessões em auditórios cedidos
pela Assembléia Legislativa do Estado, Teatro
Artur Azevedo, Casino Maranhense, Grêmio
Lítero-Recreativo Português, Associação
Comercial do Maranhão e outras entidades.
Houve, nesse período adverso da
Entidade, deserções, esmorecimentos e
descasos. Estes, principalmente dos Poderes
Públicos, apesar de se contarem, entre os
acadêmicos de todos os tempos, deputados
estaduais, deputados federais, senadores,
governadores, prefeito e titulares de outros
cargos e funções relevantes.
Algumas cadeiras ficaram vagas por
longos anos. As sessões, em diversas fases,
eram realizadas a espaços irregulares.

Mudanças
Na Presidência de Clodoaldo Cardoso,
deu-se o processo de revigoramento da
Instituição. Contando ele com a sensibilidade
do Governador Sebastião Archer da Silva, cujo
nome é aqui inscrito como preito de
reconhecimento e gratidão, a Academia
recebeu, por doação do Estado (Lei nº 320, de 3
de fevereiro de 1949), o prédio em que hoje se
acha instalada, e que a devolveu ao lugar de
sua fundação.
Providenciou-se o preenchimento das
cadeiras vagas, fez-se a reorganização do
Quadro de Membros Titulares e adotou-se uma
série de outras providências necessárias. Entre
elas, a edição da Revista (de que até 1948 só
haviam sido publicados três números), a
aprovação, em 3 de abril de 1948, do desenho
do sinete e ex-libris, este posteriormente
adotado como medalha do colar usado pelos
acadêmicos em sessões solenes.
Entre os novos membros então eleitos,
teve a Academia a felicidade de incluir o
professor e historiador Mário Martins Meireles,
que, feito secretário, vice-presidente e depois
presidente, em sucessivos e profícuos
mandatos, muito deu de si à organização e
movimentação que então se processaram.
É dessa fase a decisiva contribuição
prestada pela Academia para o
desenvolvimento e consolidação do ensino
superior no Maranhão. A Faculdade de Filosofia
de São Luís, instituição matricial dos atuais
cursos de Letras, Filosofia, Geociências e
História da Universidade Federal do Maranhão,
contou com o decisivo apoio da Academia, em
cujo salão nobre ocorreu a aula inaugural,
proferida pelo acadêmico Bacelar Portela. Além
disso, eram acadêmicos diversos professores de
que a Faculdade precisou, e aos quais, nos
primeiros anos, nada podia pagar.
A partir de 1966 e até 1983, na condição
de secretário, depois vice-presidente e por fim
presidente, a figura dominante da Academia,
sua alma e seu principal animador, foi o
professor Luiz de Moraes Rêgo. Ao trabalho,
dedicação e empenho desse saudoso confrade,
muito deve a Academia. Foi esse um período de
conferências, cursos, concursos literários e

79
sessões comemorativas inesquecíveis.
Ao lado de Sebastião Archer, na galeria
dos benfeitores da Instituição, estão
governadores e prefeitos, como Urbano Santos
da Costa Araújo, João Castelo Ribeiro
Gonçalves, João Alberto de Souza, Jackson
Lago, Tadeu Palácio.

A sede própria
Imóvel construído para sediar a Escola
de Primeiras Letras da Freguesia de Nossa
Senhora da Vitória e solenemente inaugurado a
28.jul.1874. Além de sediar, em épocas diversas
diferentes escolas, esse imóvel abrigou, em
duas ocasiões, a Biblioteca Pública do Estado.
Tinha tal função quando, em seu salão nobre,
foi fundada a Academia, que nele passou a ter
sua sede própria, graças à Lei N° 320, de
3.fev.1949, sancionada pelo Governador
Sebastião Archer da Silva.

Reformas
A Diretoria presidida por Jomar Moraes,
que, com exceção de alguns de seus membros,
foi reeleita de 1984 a 2006, desenvolveu, a
contar desse ano, diversas atividades voltadas
para o melhor e mais dinâmico funcionamento
da Academia.
Tornou-se isso possível graças à
completa reforma do prédio-sede,
compreendendo obras ali iniciadas em abril de
1984 e concluídas em janeiro de 1986, e que
constaram da restauração de todo o imóvel, da
ampliação e adaptação de espaços, bem assim
da aquisição de móveis e equipamentos. Esses
trabalhos, para os quais contribuíram órgãos
públicos e empresas privadas, foram ultimados
graças à substancial ajuda financeira do
Governo Federal, à época chefiado pelo
acadêmico José Sarney.
Concluída essa tarefa absolutamente
prioritária e indispensável para dar à Academia
uma sede condigna, seguiram-se outras
iniciativas. Destacam-se, entre elas: a realização
de cursos e concursos literários; a cessão do
auditório para diversas atividades culturais; a
promoção de lançamentos literários, palestras,
conferências e exposições de artes plásticas; a
criação da Livraria Maranhense Ltda.; a
manutenção de um programa editorial; a
retomada da publicação da Revista; a
restauração de um sobrado em Alcântara, onde
funciona, desde 6 de maio de 1988, a Pousada
do Mordomo Régio; a reorganização da
Biblioteca da Academia, que passou a ser
denominada Astolfo Marques, especializada em
literatura maranhense, e cujo acervo é um dos
mais importantes, em sua especialidade, da
capital maranhense.
Em 2007, durante a presidência do
acadêmico Joaquim Itapary, foi realizada nova
reforma no prédio-sede, com substituição das
cadeiras do auditório, troca das tribunas,
ampliação do espaço físico da biblioteca e
catalogação eletrônica de seu acervo.

Membros Atuais da Academia
1 – Sebastião Moreira Duarte
2 – Waldemiro Viana
3 – Antônio Martins de Araújo
4 – Joaquim Itapary
5 – Clovis Sena
6 – Laura Amélia Damous
7 – Carlos de Lima
8 – Lino Raposo Moreira
9 – José Maria Ramos Martins
10 – Jomar Moraes
11 – José Ewerton Neto
12 – Evandro Sarney
13 – Benedito Buzar
14 – Edson Vidigal
15 – Milson Coutinho
16 – Neiva Moreira
17 – Ivan Sarney
18 – Manuel Lopes
19 – Américo Azevedo Neto
20 – Sônia Almeida
21 – Hélio Maranhão
22 – José Sarney
23 – José Filgueiras
24 – Joaquim Campelo
25 – José Louzeiro
26 – Carlos Gaspar
27 – Magson da Silva
28 – José Chagas
29 – Mont´Alverne Frota
30 – Alex Brasil
31 – Ronaldo Costa Fernandes

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32 – Sálvio Dino
33 – José Carlos Sousa Silva
34 – Alberto Tavares
35 – Lourival Serejo
36 – Ubiratan Teixeira
37 – Joaquim Nagib Haickel
38 – J. M. Cabral Marques
39 – Ceres Costa Fernandes
40 – Ney Bello Filho

Publicações da Academia
A canção inicial – José Sarney
A épica e a época de Sousândrade – Sebastião
Moreira Duarte
A esfinge do Grajaú – Dunshee de Abranches
A falência do ilusório – Joaquim Itapary
A herança de João de Barros e outros estudos–
Antônio Martins de Araújo
A Nação Guesa de Sousândrade – Ana Santana
Souza
Academia Maranhense de Letras: Livro do
Centenário 1908-2008
Alcântara - Negociação do azul ou a castração
dos anjos – José Chagas
Alcântara no seu passado econômico, social e
político – Jerônimo Viveiros
Almanak do Maranhão 1849 – Edições AML
Ana Jansen, rainha do Maranhão – Jomar
Moraes (Org.)
Anais históricos do Estado do Maranhão –
Bernardo Pereira de Berredo
Antologia da Academia Maranhense de Letras,
1908-1958
Antropogeografia – Raimundo Lopes
Após a solidão de certas horas – Manoel
Caetano Bandeira de Mello
Baú de juventude – Josué Montello
Bumba-meu-boi no Maranhão – Américo
Azevedo Neto
Catálogo dos manuscritos avulsos relativos ao
Maranhão existentes no Arquivo Histórico
Ultramarino – Caio C. Buschi e Jomar Moraes
Coisas da vida – Alfredo de Assis
Crônica da Cia de Jesus no Maranhão – Jacinto
de Carvalho, S. J.
Dez estudos históricos – Mário Meireles
Dez Estudos Históricos – Mário Meireles
Dicionário Histórico-geográfico da Província do
Maranhão – César Marques
Do incerto ócio – Joaquim Itapary
Estrela do céu perdido – Lago Burnett
Fachada de azulejos – Josué Montello
Folhinha de Algibeira 1843 – Edições AML
Fundação do Maranhão – Ribeiro do Amaral
Gonçalves Dias: vida e obra – Jomar Moraes
Harpas de fogo – Corrêa de Araújo
História do Maranhão – Barbosa de Godóis
História dos animais e árvores do Maranhão –
Frei Cristóvão de Lisboa
João de Barros, primeiro donatário do
Maranhão – Mário Meireles
Jornada do Maranhão – Autoria incerta
Jornal de Tímon – João Lisboa
Livro do sesquicentenário de Celso Magalhães –
Jomar Moraes
Maranhão 1908 - Álbum Fotográfico –
Gaudêncio Cunha
Missas negras – I. Xavier de Carvalho
Natal – Astolfo Marques
O Brasil e a partição do Mar-Oceano – Mário
Meireles
O cativeiro – Dunshee de Abranches
O Maranhão, subsídios históricos e
coreográficos – Fran paxeco
O meu próprio romance – Graça Aranha
O Palácio das Lágrimas – Clodoaldo Freitas
Obras de João Francisco Lisboa
Os Novos Atenienses – Antônio Lobo
Panteon Maranhense – Henriques Leal
Poesias – Armando Vieira da Silva
Por onde Deus não andou – Godolfredo Viana
Primórdios da telefonia em São Luís e Belém –
Luiz de Mello
Revista da academia Maranhense 1916-1918
Revista da Academia Maranhense 1919
Silhuetas – Domingo Barbosa
Sob o sol – Joaquim Itapary
Traduções de Voltaire – Odorico Mendes
Um pouco acima do chão – Ferreira Gullar
Velhos ritmos – Mata-Roma
Versos de Natal – José-Chagas
Vida do Padre Antônio Vieira – João Lisboa

Biblioteca
O acervo da biblioteca Astolfo Marques,
da Academia Maranhense de Letras, destinada
a reunir e manter o acervo bibliográfico
maranhense mais completo possível, compõe-

81
se, aproximadamente 6 mil títulos. Do total,
cerca de 200 títulos se referem a obras de arte,
a exemplo de álbuns fotográficos, gravuras, etc.
Contam-se, ainda, diversas obras de
referências, cabendo fazer destaque de
enciclopédias e dicionários do século XIX, obras
raras dos séculos XVII, XVIII e XIX, em particular
as de origem portuguesa e francesa, e coleção
de originais manuscritos dos séculos XIX e XX.
Algumas das primeiras edições são:
1) O mulato, de Aluísio Azevedo, de 1881.
2) Obras, de João Lisboa, de 1864-1865, em 4
volumes.
3) História da Independência do Maranhão:
1822-1828, de Luís Antônio Vieira da Silva, de
1862.
4) Pantheon Maranhense: Ensaios biographicos
dos maranhenses illustres já falecidos, de
Henriques Leal, de 1874, em 4 volumes.
5) Annaes históricos do Estado do Maranhão,
de Bernardo Pereira de Berredo Castro, de
1749, impresso em Florença, obra que serviu
de referência a Robert Southey e Varnhagem.
Há também as outras três edições dos
Annaes.
O acervo da Academia tem ainda
extensa camoniana com títulos de Camões e
sobre Camões.

Fonte:
http://www.academiamaranhense.org.br/
A bom entendedor, meia palavra basta
Esta frase, dando conta de que não são
necessárias muitas palavras para um bom
entendimento entre as pessoas, está coberta
de sutilezas, pois sugere que os interlocutores
compreendem o sentido exato do que se disse
por meio das mais leves alusões. Às vezes, é
pronunciada também como advertência ou
ameaça disfarçada de boas intenções. Os
franceses são ainda mais sintéticos: para bom
entendedor, meia palavra. E os espanhóis
dizem: a bom entendedor, meio falador. A frase
consagrou-se no famoso livro Dom Quixote de
la Mancha, do celebérrimo Miguel de
Cervantes Saavedra (1547-1616).
Abre-te sésamo
Esta frase reúne as palavras mágicas e
cabalísticas que, proferidas pelo herói do
episódio "Ali-Babá e os quarenta ladrões", das
Mil e uma noites, resultam na abertura da
porta misteriosa da caverna onde eram
guardados os tesouros. Aqui está presente
também a etimologia para explicar o significado
de sésamo, em latim sesamum, que é uma
planta em cujas sementes, muito pequenas e
amareladas, está contida numa cápsula que se
abre sem muita pressão. O sésamo nada mais é
do que o nosso popular gergelim, utilizado nas
padarias para o fabrico de pães especiais e
outras delicadezas de sabor muito raro.
A casa da mãe Joana
A expressão ‘casa da mãe Joana’ alude a
lugar em que se pode fazer de tudo, onde
ninguém manda, uma espécie de grau zero de
poder. A mulher que deu nome a tal casa viveu
no século XIV. Chamava-se, obviamente, Joana
e era condessa de Provença e rainha de
Nápoles. Teve vida cheia de muitas confusões.
Em 1347, aos 21 anos, regulamentou os bordéis
da cidade de Avignon, onde vivia refugiada.
Uma das normas dizia: "o lugar terá uma porta
por onde todos possam entrar". ‘Casa da mãe
Joana’ virou sinônimo de prostíbulo, de lugar
onde impera a bagunça, mas a alcunha é
injusta. Escritores como Jean Paul Sartre, em A
prostituta respeitosa, e Josué Guimarães, em
Dona Anja, mostraram como o poder, o
respeito e outros quesitos de domínio conexo
são nítidos nos bordéis.

82
A pressa é inimiga da perfeição
Esta frase antológica passou ao acervo
de ditos célebres pela pena do famoso
jurisconsulto brasileiro Rui Barbosa de Oliveira
ao comentar a rapidez com que se redigia o
Código Civil Brasileiro, que trouxe em sua
versão final preciosas anotações do mestre. Os
detalhes sempre foram importantes, nas
redações das leis como nas obras artísticas. Ao
longo dos carnavais, várias foram as escolas de
samba que perderam pontos importantes pelo
desleixo com pormenores. O águia de Haia,
como era chamado por sua atenção em famosa
conferência que pronunciou na Holanda,
acrescentou que a pressa é também "mãe do
tumulto e do erro".
A voz do povo é a voz de Deus
A expressão veio do latim vox populi,
vox Dei, traduzida quase literalmente. Há
milênios o povo simples considera que o
julgamento popular é a voz de Deus. Tal crença
tem raízes na cultura das mais diversas
procedências. Tudo começou em Acaia, no
Peloponeso, onde o deus Hermes se
manifestava em seu templo do seguinte modo:
o consulente entrava, fazia a pergunta ao
oráculo, depois do que tapava as orelhas com
as mãos e saía do recinto. As palavras errantes
ditas pelos primeiros transeuntes seriam as
respostas divinas. Perguntava-se a um deus,
mas era o povo quem respondia. No Brasil, um
instituto de pesquisa de opinião pública chama-
se Vox Populi e foi um dos primeiros a prever a
vitória de Fernando Collor nas eleições
presidenciais de 1989 por larga margem.
Curiosamente, não previu seu afastamento.
Teria faltado a vox Dei?
Chegar de mãos abanando
Os primeiros imigrantes deviam trazer
as ferramentas indispensáveis ao cultivo da
terra, entre as quais eram importantes a foice e
o machado, para a derrubada de matas. Dos
colonos europeus esperava-se que trouxessem
também galinhas, porcos e vacas, bases de uma
economia auto-sustentável. Quem chegasse,
pois, de mãos abanando, não vinha disposto a
trabalhar. Manter, pois as mãos ocupadas era
sinal de disposição para o trabalho e ajuda
mútua. O imigrante, que no dizer de Ambrose
Bierce (1842-1914), é um indivíduo mal-
informado, que pensa que um país é melhor
que outro, não poderia chegar de mãos
abanando.
Custar os olhos da cara
A história desta frase começa com um
costume bárbaro de tempos muitos antigos,
que consistia em arrancar os olhos de
governantes depostos, de prisioneiros de
guerra e de indivíduos que, pela influência que
detinham, ameaçavam a estabilidade dos novos
ocupantes do poder. Cegos, eles seriam
inofensivos ou menos perigosos. Naturalmente,
a expressão alude também ao incomparável
valor da visão. Por isso, pagar alguma coisa com
a perda dos olhos passou a ser sinônimo de
custo excessivo, que ninguém pode pagar. A
expressão tem servido para designar preços
exagerados em qualquer produto. Um dos
primeiros a registrá-la foi o escritor romano
Plauto (254-184 a.C.), numa das 130 peças de
teatro que escreveu.
Dois bicudos não se beijam
Ao contrário do que se possa parecer, o
vocábulo não se aplica às aves, mas aos
homens. Antigamente eram chamados de
bicudo tanto estiletes compridos e armas
pontudas, como certos valentões que, nas
bodegas, festas e ajuntamentos diversos,
patrocinavam arruaças. Indivíduos de pouca
conversa e gestos grosseiros, brigavam por
qualquer coisa. O brasileiro, tido por cordial e
afável no trato entre colegas e amigos, sempre
se caracterizou por abraços, afagos, beijos e
outras efusivas demonstrações de carinho. Daí
o contraste de dois bicudos que não se beijam,
de que são exemplo célebres parcerias
impossíveis como certos presidentes e vice-
presidentes do Brasil, entre os quais Janio
Quadros e João Goulart. O primeiro mandou o
outro para a Cochinchina – oficialmente, seria a
China, mas conhecendo as intenções ocultas de
Jânio, sabemos que ele queria o vice ainda mais
longe – e renunciou para ver que bicho dava.
Deu o maior bode, como a História mostrou,

83
resultando, por fim, na deposição do
presidente que os militares não queriam
empossar.
É do tempo da onça
Foi governador do Rio de Janeiro, de
1725 a 1732, o capitão Luís Vahia Monteiro,
apelidado o Onça. Em carta que escreveu ao rei
Dom João VI, declarou: "nesta terra todos
roubam, só eu não roubo". A frase acima foi
sempre utilizada para aludir a coisas muito
antigas, vigentes naquele tempo. Entretanto,
outras autoridades, com o mesmo apelido,
podem ter fomentado ainda mais a expressão,
homenageando a energia, a coragem e a
honestidade do antigo governante. Os novos
tempos, infelizmente, não tornaram exceção
aquilo que era norma nas práticas dos
governantes no tempo do Onça. O pobre
homem, a deduzir por sua carta ao rei
português, comportava-se como uma virgem
num bordel.
Em terra de cego, quem tem um olho é rei
Esta frase, que não é exclusiva da língua
portuguesa, dá idéia de que entre gente ignara,
quem é só um pouquinho menos ignorante do
que os outros ganha prestígio e recebe
tratamento de rei. O filósofo e humanista
holandês Desiderius Erasmus, dito Erasmo de
Roterdam (1469-1536), foi um dos primeiros a
registrá-la. Sua obra mais famosa é Elogio da
loucura, em que tenta definir um humanismo
cristão, desligado de polêmicas religiosas. Um
dos principais nomes da Renascença na Europa
do Norte, foi um dos primeiros editores do
Novo Testamento. Destacou-se, não em terra
de cego, mas em meio a uma constelação de
outros renomados filósofos e teólogos do
período.
Entrar com o pé direito
Esta frase revela antiga superstição que
o Império Romano espalhou no mundo inteiro.
Nas festas realizadas na antiga Roma os
convidados eram avisados de que deveria
entrar nos salões dextro pede (com o pé
direito) para evitar o agouro. Famosas
personalidades brasileiras seguiram essa
recomendação, entre as quais Rui Barbosa, que
a registrou em discurso proferido às vésperas
da posse do marechal Hermes da Fonseca
(1855-1923): "que o novo presidente entre com
o pé direito". Mas ninguém acatou mais a
superstição que Alberto Santos Dumont, que
mandou construir em sua residência escadas
por onde só era possível subir ou descer
iniciando-se o percurso com o pé direito.
Fazer uma mesa redonda
Hoje é comum organizar mesa-redonda
para discutir esse ou aquele assunto, mas
raramente o móvel ao redor do qual os
participantes tomam assento tem forma
circular. É tradução da expressão inglesa round
table, mesa da lendário corte do rei Arthur (séc.
VI d.C.), que não tinha cabeceira, nem lugar de
honra e ao redor da qual o rei e os cavaleiros
sentavam-se como iguais. Suas aventuras foram
tema de numerosas novelas de cavalaria
narradas sob o título geral de Os cavaleiros da
távola redonda. A frase passou a ser usada
politicamente a partir de 14 de janeiro de 1887
na residência de Sir Willian Harcourt, quando o
Partido Liberal Inglês discutiu a questão
irlandesa.
Foi o maior arranca-rabo
Esta frase, que exprime grande
confusão, nasceu do deplorável costume que os
primeiros guerreiros adotaram nos campos de
batalha, consistindo em cortar os rabos das
montarias dos inimigos. Um oficial do exército
do faraó Tutmés III (1504-1450 a.C.) ensejou
um de seus primeiros registros ao vangloriar-se
de ter decepado a cauda do cavalo do próprio
rei adversário, para ele um ato tão importante
que o inscreveu em seu epígrafo. O costume
chegou a Portugal, de onde veio para o Brasil,
tendo sido aplicado não somente aos cavalos,
mas também ao gado das fazendas inimigas,
para humilhar seus proprietários. O escritor
José Lins Rego (1901-1957) refere o costume
nos livros Fogo morto e Meus verdes anos.
Levou um puxão de orelhas
A origem desta frase, expressão que
significa repreender, está ligada a antigas
tradições populares, que a recolheram de usos
e costumes nem sempre vagos, já que

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inspirados também em documentos jurídicos.
As Ordenações Afonsinas prescrevem que os
ladrões tenham as orelhas cortadas. O grande
navegador português Vasco da Gama (1469-
1524) relatou o corte de 800 delas. E Gomes
Freire de Andrade, o conde de Bodadela (1685-
1763), governador e capitão-geral do Rio de
Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, personagem
do filme Xica da Silva, de Carlos Diegues,
recebeu 7800 delas. Depois as orelhas
deixaram de ser cortadas e foram somente
puxadas. Por fim, tudo virou apenas metáfora
de admoestação.
Não entendo patavina
Esta frase, que significa declaração de
ignorância total sobre determinado assunto,
originou-se em certos descuidos gramaticais do
historiador romano Tito Lívio (59 ou 64 a.C.-17
d.C.), nascido em Pádua, em italiano Padova, e
em latim, Patavium. Outros escritores latinos,
tidos por mais cultos, reprovaram suas
expressões, próprias do dialeto da região em
que o historiador viveu, o que dificultava o
entendimento. Alguns estudiosos dão como
explicação o fato de os portugueses terem
dificuldade para entender os mercadores e os
frades franciscanos patavinos, isto é, originários
de Pádua. O próprio Santo Antonio de Lisboa
(1195-1231) é o mesmo Santo Antonio de
Pádua. Quem não compreende bem certos
usos e costumes religiosos, não entende
patavina disso também.
Navegar é preciso, viver não é preciso
A expressão já foi creditada a Caetano
Veloso, porque muitos de nossos jovens
iletrados, mas bons de ouvido, somente a
aprenderam da boca de seu ídolo. Entretanto, o
próprio baiano já admitiu que a leu em
Fernando Pessoa. A autoria não cabe, porém,
nem ao poeta português, nem ao compositor
baiano. Quem a tornou famosa foi o general
romano Pompeu (106 a.C.-48 d.C.) para
persuadir marinheiros a zarpar com os navios
carregados de alimentos, mesmo em meio a
uma tempestade, porque havia muita fome em
Roma. Somente o circo, como sabiam os
imperadores, não era suficiente para conter
rebeliões, se faltasse o pão. Pompeu a
pronunciou num latim desjeitoso, segundo nos
informa Plutarco: navigare necesse, vivere non
necesse, mas a frase já existia também em
grego
O viaduto é a menor distância entre dois
engarrafamentos
Frase do ex-prefeito de Curitiba e
governador do Paraná, Jaime Lerner, já famosa,
mas que se tornou ainda mais célebre depois
de proferida na Conferência Internacional do
Meio Ambiente, denominada Hábitat 2,
realizada em junho de 1996, em Istambul,
principal cidade da Turquia. O autor da frase
imprimiu à cidade de que foi prefeito por
muitos anos um projeto urbanístico marcado
por eficiente rede viária para os transportes
públicos, tornando-a cidade-modelo no mundo,
segundo critérios adotados pela Unesco. Para
substituir os viadutos, evitados pelo
governador, são feitas propostas alternativas
de trânsito, como as vias expressas e o ônibus
conhecido como Ligeirinho, a grande vedete
daquele evento internacional.
Que bicho foi que te mordeu?
A história desta frase diz respeito à
estranheza que sempre espertou o
comportamento surpreendente de alguma
pessoa da qual não esperaríamos alteração
brusca de humor ou de opinião. Está presente
em numerosos autores, mas um dos primeiros
a registrá-la foi o escritor francês, muito citado
por nossos poetas românticos, Nicolas Boileau-
Despréaux (1636-1711), numa de suas sátiras.
Mas em francês o bicho era uma mosca, dado
que antes de Boileau, a expressão já andava na
boca do povo com essa redação: quelle mouche
vous pique? (que mosca vos pica?). A mudança
havida do inseto específico e caseiro para o
abstrato bicho pode Ter explicações na
diversificação de animeis presentes em nossa
fauna.
Ripa na chulipa e pimba na gorduchinha
Esta frase foi criada pelo locutor
esportivo Osmar Santos, um dos mais criativos
narradores de jogos de futebol. Inconformado
com os modos tradicionais de transmitir as

85
partidas, ele foi inventando expressões que
logo caíam na boca do povo. No caso, apesar da
complexidade da frase, todos entendem seu
significado. Chute dado na bola com a parte
exterior do pé. Não se sabe onde o famoso
locutor se inspirou para criar a frase, mas é
provável que tenha juntado ripa, sinônimo de
sarrafo, com chulipa, sinônimo de dormente de
ferrovias, para designar a forma de se chutar a
gorduchinha, isto é, a bola.
Vá plantar batatas
A origem desta frase é portuguesa.
Antigamente, em Portugal, país mais voltado às
navegações e à pesca, a agricultura, conquanto
fornecedora de alimentos básicos, era vítima de
certo desdém. Algumas de suas culturas eram
ainda mais depreciadas, como era o caso da
batata, que demorou a entrar para a culinário
portuguesa e brasileira. Era tida como alimento
vulgar, e quem se dedicasse a plantar batatas
estava se sujeitando a uma atividade
desqualificada. A expressão aparece registrada
em O povo português, obra do famoso poeta,
folclorista e político lusitano Teófilo Braga
(1843-1924), comentando a decadência das
pequenas indústrias, ocasião em que
trabalhadores qualificados, de repente sem
emprego, foram aconselhados a plantar batata.

DEONÍSIO DA SILVA
Deonísio da Silva é catarinense, ou
catarinauta, como diz, de Siderópolis, onde
nasceu em 1948. Em 1976, pelas mãos de
Rubem Fonseca, publicou seu primeiro livro,
Exposição de Motivos, logo premiado pelo MEC
e transposto para teleteatro por Antunes Filho,
ao qual seguiram A Mulher Silenciosa, Orelhas
de Aluguel, A Cidade dos Padres. Em 1991
recebeu o Prêmio Internacional Casa de las
Américas pelo romance Avante, Soldados: para
Trás. Seu romance Teresa, lançado em 1997,
baseado na vida de Teresa D'Ávila,m foi
premiado pela Biblioteca Nacional e transposto
para teatro antes mesmo de ser publicado.
Doutor em letras pela USP, é professor da
Universidade Federal de São Carlos.
Com franqueza, não me animo a dizer
que você não vá.
Eu, que sempre andei no rumo de
minhas venetas, e tantas vezes troquei o
sossego de uma casa pelo assanhamento triste
dos ventos da vagabundagem, eu não direi que
fique.
Em minhas andanças, eu quase nunca
soube se estava fugindo de alguma coisa ou
caçando outra. Você talvez esteja fugindo de si
mesma, e a si mesma caçando; nesta
brincadeira boba passamos todos, os inquietos,
a maior parte da vida — e às vezes reparamos
que é ela que se vai, está sempre indo, e nós
(às vezes) estamos apenas quietos, vazios,
parados, ficando. Assim estou eu. E não é sem
melancolia que me preparo para ver você sumir
na curva do rio — você que não chegou a
entrar na minha vida, que não pisou na minha
barranca, mas, por um instante, deu um
movimento mais alegre à corrente, mais brilho
às espumas e mais doçura ao murmúrio das
águas. Foi um belo momento, que resultou
triste, mas passou.
Apenas quero que dentro de si mesma
haja, na hora de partir, uma determinação
austera e suave de não esperar muito; de não
pedir à viagem alegrias muito maiores que a de
alguns momentos. Como este, sempre
maravilhoso, em que no bojo da noite, na
poltrona de um avião ou de um trem, ou no
convés de um navio, a gente sente que não
está deixando apenas uma cidade, mas uma
parte da vida, uma pequena multidão de caras

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e problemas e inquietações que pareciam
eternos e fatais e, de repente, somem como a
nuvem que fica para trás. Esse instante de
libertação é a grande recompensa do
vagabundo; só mais tarde ele sente que uma
pessoa é feita de muitas almas, e que várias,
dele, ficaram penando na cidade abandonada.
E há também instantes bons, em terra
estrangeira, melhores que o das excitações e
descobertas, e as súbitas visões de belezas
sonhadas. São aqueles momentos mansos em
que, de uma janela ou da mesa de um bar, ele
vê, de repente, a cidade estranha, no palor do
crepúsculo, respirar suavemente como velha
amiga, e reconhece que aquele perfil de casas e
chaminés já é um pouco, e docemente, coisa
sua.
Mas há também, e não vale a pena
esconder nem esquecer isso, aqueles
momentos de solidão e de morno desespero;
aquela surda saudade que não é de terra nem
de gente, e é de tudo, é de um ar em que se
fica mais distraído, é de um cheiro antigo de
chuva na terra da infância, é de qualquer coisa
esquecida e humilde - torresmo, moleque
passando na bicicleta assobiando samba,
goiabeira, conversa mole, peteca, qualquer
bobagem. Mas então as bobagens do
estrangeiro não rimam com a gente, as ruas são
hostis e as casas se fecham com egoísmo, e a
alegria dos outros que passam rindo e falando
alto em sua língua dói no exilado como
bofetadas injustas. Há o momento em que você
defronta o telefone na mesa da cabeceira e não
tem com quem falar, e olha a imensa lista de
nomes desconhecidos com um tédio cruel.
Boa viagem, e passe bem. Minha
ternura vagabunda e inútil, que se distribui por
tanto lado, acompanha, pode estar certa, você.
Rio, abril de 1952.

RUBEM BRAGA
"Sempre tenho confiança de que não
serei maltratado na porta do céu, e mesmo que
São Pedro tenha ordem para não me deixar
entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser
em voz baixa: "Eu sou lá de Cachoeiro..."

Na noite de segunda-feira, 17 de
dezembro de 1990, o escritor Rubem Braga
reuniu um pequeno grupo de amigos, cada vez
mais selecionados por ele, na sua cobertura em
Ipanema. Foi uma visita silenciosa, mas
claramente subentendida pelos amigos Moacyr
Werneck de Castro, Otto Lara Resende e
Edvaldo Pacote. Às 23h30 da noite de quarta-
feira, sedado num quarto do Hospital
Samaritano, Rubem Braga morreu, sozinho
como desejara e pedira aos amigos.
A causa da morte foi uma parada
respiratória em conseqüência de um tumor na
laringe que ele preferiu não operar nem tratar
quimicamente.
Rubem Braga, considerado por muitos o
maior cronista brasileiro desde Machado de
Assis, nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, ES, a
12 de janeiro de 1913. Iniciou seus estudos
naquela cidade, porém, quando fazia o ginásio,
revoltou-se com um professor de matemática
que o chamou de burro e pediu ao pai para sair
da escola. Sua família o enviou para Niterói,
onde moravam alguns parentes, para estudar
no Colégio Salesiano. Iniciou a faculdade de
Direito no Rio de Janeiro, mas se formou em
Belo Horizonte, MG, em 1932, depois de ter
participado, como repórter dos Diários
Associados, da cobertura da Revolução
Constitucionalista, em Minas Gerais — no front
da Mantiqueira conheceu Juscelino Kubitschek
de Oliveira e Adhemar de Barros.
Na capital mineira se casou, em 1936,
com Zora Seljan Braga, de quem
posteriormente se desquitou, mãe de seu único
filho Roberto Braga.
Foi correspondente de guerra do Diário
Carioca na Itália, onde escreveu o livro "Com a
FEB na Itália", em 1945, sendo que lá fez
amizade com Joel Silveira. De volta ao Brasil
morou em Recife, Porto Alegre e São Paulo,
antes de se estabelecer definitivamente no Rio
de Janeiro, primeiro numa pensão do Catete,
onde foi companheiro de Graciliano Ramos;
depois, numa casa no Posto Seis, em
Copacabana, e por fim num apartamento na
Rua Barão da Torre, em Ipanema.
Sua vida no Brasil, no Estado Novo, não

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foi mais fácil do que a dos tempos de guerra.
Foi preso algumas vezes, e em diversas
ocasiões andou se escondendo da repressão.
Seu primeiro livro, "O Conde e o
Passarinho", foi publicado em 1936, quando o
autor tinha 22 anos, pela Editora José Olympio.
Na crônica-título, escreveu: "A minha vida
sempre foi orientada pelo fato de eu não
pretender ser conde." De fato, quase tanto
como pelos seus livros, o cronista ficou famoso
pelo seu temperamento introspectivo e por
gostar da solidão. Como escritor, Rubem Braga
teve a característica singular de ser o único
autor nacional de primeira linha a se tornar
célebre exclusivamente através da crônica, um
gênero que não é recomendável a quem almeja
a posteridade. Certa vez, solicitado pelo amigo
Fernando Sabino a fazer uma descrição de si
mesmo, declarou: "Sempre escrevi para ser
publicado no dia seguinte. Como o marido que
tem que dormir com a esposa: pode estar
achando gostoso, mas é uma obrigação. Sou
uma máquina de escrever com algum uso, mas
em bom estado de funcionamento."
Foi com Fernando Sabino e Otto Lara
Resende que Rubem Braga fundou, em 1968, a
editora Sabiá, responsável pelo lançamento no
Brasil de escritores como Gabriel Garcia
Márquez, Pablo Neruda e Jorge Luis Borges.
Segundo o crítico Afrânio Coutinho, a
marca registrada dos textos de Rubem Braga é
a "crônica poética, na qual alia um estilo
próprio a um intenso lirismo, provocado pelos
acontecimentos cotidianos, pelas paisagens,
pelos estados de alma, pelas pessoas, pela
natureza."
A chave para entendermos a
popularidade de sua obra, toda ela composta
de volumes de crônicas sucessivamente
esgotados, foi dada pelo próprio escritor: ele
gostava de declarar que um dos versos mais
bonitos de Camões ("A grande dor das coisas
que passaram") fora escrito apenas com
palavras corriqueiras do idioma. Da mesma
forma, suas crônicas eram marcadas pela
linguagem coloquial e pelas temáticas simples.
Como jornalista, Braga exerceu as
funções de repórter, redator, editorialista e
cronista em jornais e revistas do Rio, de São
Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife.
Foi correspondente de "O Globo" em Paris, em
1947, e do "Correio da Manhã" em 1950.
Amigo de Café Filho (vice-presidente e depois
presidente do Brasil) foi nomeado Chefe do
Escritório Comercial do Brasil em Santiago, no
Chile, em 1953. Em 1961, com os amigos Jânio
Quadros na Presidência e Affonso Arinos no
Itamaraty, tornou-se Embaixador do Brasil no
Marrocos. Mas Braga nunca se afastou do
jornalismo. Fez reportagens sobre assuntos
culturais, econômicos e políticos na Argentina,
nos Estados Unidos, em Cuba, e em outros
países.
Quando faleceu, era funcionário da TV
Globo. Seu amigo Edvaldo Pacote, que o levou
para lá, disse: "O Rubem era um turrão, com
uma veia extraordinária de humor. Uma pessoa
fechada, ao mesmo tempo poeta e poético. Era
preciso ser muito seu amigo para que ele
entreabrisse uma porta de sua alma. Ele só era
menos contido com as mulheres. Quando não
estava apaixonado por uma em particular,
estava apaixonado por todas. Eu o levei para a
Globo... Ele escrevia todos os textos que
exigiam mais sensibilidade e qualidade, e fazia
isto mantendo um grande apelo popular."

Bibliografia:

CRÔNICAS:
- O Conde e o Passarinho, 1936
- O Morro do Isolamento, 1944
- Com a FEB na Itália, 1945
- Um Pé de Milho, 1948
- O Homem Rouco, 1949
- 50 Crônicas Escolhidas, 1951
- Três Primitivos, 1954
- A Borboleta Amarela, 1955
- A Cidade e a Roça, 1957
- 100 Crônicas Escolhidas, 1958
- Ai de ti, Copacabana, 1960
- O Conde e o Passarinho e O Morro do
Isolamento, 1961
- Crônicas de Guerra - Com a FEB na Itália, 1964
- A Cidade e a Roça e Três Primitivos, 1964
- A Traição das Elegantes, 1967
- As Boas Coisas da Vida, 1988
- O Verão e as Mulheres, 1990

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- 200 Crônicas Escolhidas
- Casa dos Braga: Memória de Infância
(destinado ao público juvenil)
- Uma fada no front
- Histórias do Homem Rouco
- Os melhores contos de Rubem Braga (seleção
Davi Arrigucci)
- O Menino e o Tuim
- Recado de Primavera
- Um Cartão de Paris
- Pequena Antologia do Braga
ROMANCES:
- Casa do Braga

No volume publicado, também de crônicas, "As
Coisas Boas da Vida", em 1988, Rubem Braga
enumera, no texto que dá título ao livro "as dez
coisas que fazem a vida valer a pena". A última
delas: "Pensar que, por pior que estejam as
coisas, há sempre uma solução, a morte — o
assim chamado descanso eterno".

Fontes:
"A Borboleta Amarela", Editora do Autor - Rio
de Janeiro, 1963, pág. 145.
http://www.releituras.com/
Em "Reflexões do Romance Moderno",
Anatol Rosenfeld discursa sobre os mecanismos
que compõem a temática e o estilo da obra
literária no Século XX após a ruptura brutal com
as formas determinadas por um passado
clássico. E a primeira noção absoluta para criar
uma discussão como esta, consiste em
enxergar o romance e sua análise como ideais
de uma cultura exclusivamente ocidental.
O mecanismo escolhido pelo autor foi
uma comparação direta da literatura com a
pintura. Ao partir deste esquema, Rosenfeld
apresenta os fatores determinantes para a
mudança das artes plásticas, que também
podem ser encontradas nos textos literários.
Uma delas é a "desrealização", ou seja, a obra
deixa de ser mimética por excelência e
abandona por completo a idéia de cópia, na
completa negação do realismo em forma e
conteúdo.
Assim sendo, a perspectiva central é
completamente limada de consideração
primordial na composição do trabalho. Esta
perspectiva, resultado direto da observação
entre dois pólos, o do homem e o do mundo,
foi forjada na Grécia Clássica, o que originou
trabalhos tridimensionais e coesos. No
romance moderno, a preocupação vai na
direção contrária. Vai pela explosão desta
perspectiva. Acontece a ruptura com a
linearidade e com a cronologia. O espaço e a
sucessão temporal são eliminados. Os
exemplos cabais desta nova percepção estão
nas obras de Proust, Joyce e Faulkner.
Tanto tempo e espaço deixam de ser
entidades absolutas. Passam a serem vistos de
maneira objetiva e relativa. Não existem mais
certezas. A visão de uma realidade mais
profunda, mais real do que o senso comum
passa a ser a referência e é absorvida pela
literatura. A expressão total disto vem com o
romance de consciência, uma vez que não
vivendo mais "no" tempo, o homem agora
passa a ser o tempo, tempo este não
cronológico, mas sim uma atualidade que
engloba tanto o passado, o presente e o futuro,
misturados e quase sem identificação. A
consciência flutua entre estas referências de
maneira completa. A narrativa fica sem
fronteiras em seu contexto.
Portanto, a partir deste entendimento,
Rosenfeld compreende que este fluxo de
consciência caminha para a radicalização do
monólogo interior, característica crucial do
romance moderno. Some-se o narrador. A
consciência da personagem se manifesta em
sua atualidade. Acabam-se, então, as leis de
causa e efeito, o começo, o meio e o fim.
Porém, o autor observa que esta radicalização
foi produzida com base no romance psicológico

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e realista do Século XIX. Ou seja, se perde a
noção de personalidade total. O ser humano,
no romance moderno, se fragmenta, se
individualiza. Beckett seria um dos principais
vetores deste estilo.
Assim, esta individualização facilita a
busca dos mesmos padrões arquetípicos dos
mitos, como em um eterno retorno já que o
tempo mitológico é circular e não cronológico.
"Ulisses", de James Joyce faz esta
fragmentação. Fragmentação esta que
representa a busca da superação da realidade
sensível numa procura incansável de algo por
de trás da aparência em que vivemos.
Outras possibilidades apontadas pelo
autor são o geometrismo, onde um Eu narrador
se aproxima do mundo narrado para mostrar
um novo mundo sem tempo algum. Proust
seria um dos mestres disto. Ao mesmo tempo,
este mesmo narrador se ironiza tanto por saber
de tudo e busca a sua justificativa nos
mecanismos psíquicos de todos os seres
humanos, uma vez que o narrador também é
um ser humano. É a cultura do relativismo, da
transformação.
Uma outra forma encontrada no
romance moderno é o Behavorism. Usado por
Hemingway e por Camus, este estilo cria um
estranhamento total. Não existe plano
psicológico. Tudo é sem profundidade, sem
mergulhos internos, um verdadeiro mundo
estranho e indevassável. Um mundo de seres
humanos sem alma, chapados, externos. Kafka,
por sua vez, usava a espera como condição
primordial. Seu tempo é a eterna espera.
Anatol Rosenfeld ainda identifica outra
ruptura com a técnica clássica. Trata-se do
tempo simultâneo, onde grandes espaços e o
coletivo são as principais fontes da técnica. Ali,
os indivíduos são lançados no fluxo de
consciências e do mundo, num verdadeiro
redemoinho urbano e caótico. Ao identificar os
fatores de ruptura, o texto apresenta um
panorama da complexidade estética e das
questões filosóficas discutidas pelo romance
moderno. O que não deixa de ser um ambicioso
mergulho no espírito de nossa época.

DANILO CORCI
Danilo Corci nasceu em Itapetininga, a
30 de Dezembro de 1974. Jornalista, começou
sua carreira no Jornal de Jundiaí, rumando
depois para a Folha de S.Paulo. Criou a revista
cultural Speculum ao lado de Renato Roschel.
Também criou e dirigiu a redação do portal
BrTurbo, da Brasil Telecom. Em 2007 fez sua
primeira incursão literária com a novela Black
celebration, publicada pela editora Mojo Books.
Em março de 2008 lançou sua segunda
aventura literária, agora um microconto,
Sympathy for the devil, também lançado pela
Mojo Books. Atualmente é redator da agência
publicitária JWT.

Fontes:
http://www.speculum.art.br/module.php?a_id=526#
http://pt.wikipedia.org/wiki/Danilo_Corci
Em maiúsculo, antes do nome da lenda, o nome
da cidade a qual pertence.

ALMIRANTE TAMANDARÉ
O fantasma das águas do Val Verde

Funcionários que trabalhavam no
Parque Aquático Águas de Val Verde relatam a
lenda do fantasma. Conta-se que as luzes
apagavam e acendiam, portas se abriam
sozinhas, escutavam-se passos estranhos nas
escadas e os ventos eram bastante estranhos,
como uivos. As pessoas que trabalhavam no
local diziam ter a impressão de que alguém as
observava. Por várias vezes os funcionários
presenciaram tais fatos e, até hoje, não

90
descobriram o que é.

ALTAMIRA DO PARANÁ
A noiva

Contam os moradores mais antigos de nossa
cidade, que antigamente na Praça Nossa
Senhora Aparecida, mais conhecida como a
praça do hospital, sempre havia uma aparição.
Neste local havia o antigo cemitério da cidade.
Dizem que vaga por lá uma moça muito bonita,
vestida de noiva. Nenhuma notícia se tem
sobre o que leva a noiva a vagar pela praça,
mas muitas pessoas garantem ter visto a
aparição.

ANTONINA
Escravos da igreja de São Benedito

A igreja de São Benedito, igreja dos escravos,
recebe esse nome justamente pelo fato de este
santo ser o protetor dos escravos. Assim, como
em outras cidades, a igreja de São Benedito de
Antonina também foi construída pelos
escravos. Eles, além de levantarem com as
próprias mãos as paredes da igreja, gastaram o
dinheiro de suas cartas de alforria para custear
este refúgio. Dizem que durante a construção,
alguns escravos acabaram morrendo e foram
sepultados nas paredes da própria igreja. Por
isso, ainda hoje, podem ser vistos na igreja,
cuidando do templo que construíram.

ANTONIO OLINTO
Visagens

Dizem que antigamente no município de
Antonio Olinto, mais precisamente na
localidade do Imbuial, havia muitas visagens. À
noite, escutavam-se os gritos e choros delas.
Meu avô conta que saía e via uma mulher com
uma criança correndo pela estrada, pois sua
casa estava pegando fogo; se andasse mais um
pouco via um porco muito bravo com as presas
de fora, que atacava as pessoas e mordia.
Logo depois, no portão velho, havia
uma coruja que andava seguindo as pessoas e
gritando. Dizem, ainda, que existia um caixão
no meio da estrada que assustava os
transeuntes que ali passavam. O pior delas era
uma bola de fogo que andava devagar ou
rápido pelo céu, atacava e queimava as
pessoas.

ARAPOTI
O pinheiro da noiva

Há muitos anos, na estrada que liga o
km 39 à fábrica de papel, uma noiva e seus
convidados viajavam em um caminhão, para a
celebração do casamento, que se realizaria na
capela do vilarejo. Em um declive, a mais ou
menos 2 Km do local da celebração, o
motorista do caminhão perdeu o controle dos
freios, chocando-se contra um pinheiro. O
motorista e alguns convidados ficaram feridos,
mas a noiva morreu no local.
Até hoje, muitas pessoas que passam
pela estrada em noites enluaradas dizem que
ao lado do pinheiro aparece uma noiva,
pedindo que alguém lhe ofereça uma carona
até a capela.

BOA ESPERANÇA
Uma tal confusão

No local chamado Estrela D’Alva, perto
de onde havia uma olaria, até o sítio do senhor
Luís Felipe, já falecido, várias pessoas que por
ali passaram relatam que foram acompanhadas
por um caixão, que saía do sítio do senhor
Natalício Marcelino, que na época pertencia à
família Farias. Tal caixão saía dali e
acompanhava as pessoas até o sítio do senhor
Luís Felipe.
Certo dia, o senhor Manoel Coimbra
saiu de casa para vir à cidade e sua vizinha
pediu-lhe um favor. Dona Maria Paraíba
encomendou-lhe açúcar e erva-mate. Quando
voltava para casa, chegando ao rio Barreiro,
avistou de longe um homem sentado na
barranca do rio pescando e o cumprimentou.
Ele respondeu com opa. Então o senhor
Manoel, achando que era uma pessoa
conhecida por nome Gerônimo, filho do senhor
Valdete, sentou-se perto do local onde o
pescador estava e tirou de seu bolso um
canivete e um rolo de fumo para fazer um

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cigarro.
De repente, por baixo da aba do seu
chapéu percebeu que o homem vinha em sua
direção, quando foi levantar a cabeça não deu
tempo e o tal cara pegou-o pelo pescoço e
jogou-o dentro do rio. Ele, assustado, soltou
um palavrão e com raiva foi para casa.
Chegando a sua casa pediu para sua mulher
acudir-lhe rápido, porque a encomenda se
tinha molhada toda, devido ao acontecido; e
passou a contar a história toda. Então, todos
deram-se conta de que ele não estava molhado
nem a compra também se molhara. Só então
ele se deu conta da situação que tinha
enfrentado.

CALIFÓRNIA
Cecília, a deusa da estrada

Era uma linda jovem, de cabelos negros
e longos, pele clara e aveludada, igual a uma
rosa, com toda a sensualidade dos seus 17
anos. Alegre e apaixonada pela vida e pelo
primeiro amor. Em sua primeira desilusão
amorosa saiu para afogar as mágoas e tristezas
junto com seus amigos. O lugar era lindo,
maravilhoso. Essa linda jovem perdeu a vida ao
lado dos seus amigos numa represa,
enroscando-se num galho no fundo das águas.
Ali se foi a vida de sonhos e esperanças.
Passados muitos anos, um
caminhoneiro, ao cruzar a Br 376, no sentido
Califórnia-Curitiba, vê ao longe uma linda
jovem pedindo carona, isto próximo ao local
daquele acontecido. Sem saber do fato
ocorrido, o caminhoneiro deu carona a ela. Ela
solicitou que ele voltasse para a cidade onde
residia e fosse ao cemitério fazer uma oração
num determinado túmulo. O caminhoneiro
ficou assustado e antes que respondesse, a
jovem desapareceu. O caminhoneiro, porém,
atendeu o pedido da moça. Chegando ao
cemitério avistou a foto dela na lápide,
reconhecendo-a imediatamente.
Estes fatos são reais. Você pode visitar o
túmulo no cemitério municipal de Califórnia,
ele fica logo na entrada da cidade. Familiares e
amigos foram atrás de explicações para essas
aparições; acredita-se que a jovem Cecília
desvia os motoristas de algum acidente que
estava por vir.

COLOMBO
Lenda do Bradador

A lenda do Bradador é conhecida na
comunidade do Capivari, área rural do
município de Colombo. Desde a sua fundação,
os moradores desta localidade são
surpreendidos por grandes brados, gritos
durante a noite. Os brados são ouvidos
principalmente nos arredores da igreja de São
Pedro.
E a lenda diz que o Bradador é a alma de
uma pessoa, que morreu antes de chegar a sua
hora e hoje fica vagando e bradando para todos
os moradores.

CURITIBA
A loira fantasma

Prestem atenção na história que vou contar...
Pois, este conto é de arrepiar!
É uma lenda famosa dos anos setenta...
E que até hoje faz sucesso e arrebenta!

Lurdes era uma loira muito bonita,
Que morava na cidade de Curitiba!
Certa noite,ao sair muito tarde...
Ela resolveu pegar um táxi sem alarde...

Mas, o taxista era um psicopata tarado,
Que estava muito perturbado!
Então, ele levou a loira para o matagal...
Estuprou e matou a pobre com todo o seu mal!

Mas, o que ele não sabia...
É que a loira pertencia...
A uma seita de magia!

Por isto,o espírito da loira ainda rondava...
A cidade como uma escrava!
Um mês se passou e o mesmo taxista...
Ainda trabalhava na estrada e na pista!

Ele estava trabalhando numa noite de chuva e
de frio,
Que a todos causa um tremendo arrepio!

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Então, uma mulher com capa preta e escura...
Pediu para que o táxi parasse de uma forma
dura!

O táxi parou e a mulher entrou no carro com o
rosto coberto...
No meio daquele caminho deserto...
Pedindo para o motorista seguir em direção ao
Cemitério Municipal...
Com uma voz misteriosa e nada normal!

Chegando na rua nebulosa do cemitério...
A mulher disse ao motorista com todo o
mistério:
“– Pode me deixar aqui, minha morada é um
túmulo decente...
Mas, você gostaria que fosse diferente... “

O motorista então, falou:
“– Não estou entendendo nada...
Pare de brincadeira , pois já é madrugada!”
Então, a moça tirou o seu escuro véu,
Que mostrou o seu rosto de um jeito cruel!

A loira assim, falou:
“– Sou a mulher que você matou com loucura,
Que, agora, deseja colocar seu corpo numa
sepultura! “

O motorista reconhecendo o fantasma...
Teve um ataque de asma...
E morreu asfixiado...
No seu carro, todo congelado!

Mas, o fantasma da loira continuou assustando
vários taxistas...
Porém, sua alma nunca deixou rastros e nem
pistas.

CURITIBA
O fantasma da grávida da Praça da Ucrânia

Por favor, não se surpreenda...
Contarei mais uma lenda:
Em Curitiba, toda a sexta-feira...
Havia uma tradicional feira,

Na praça da Ucrânia...
Toda espontânea!
Mas, num inverno de gelar...
Bem numa noite sem luar...

Uma grávida passeava com o seu marido,
Fiel, amado e querido,
Pela feira da Praça da Ucrânia...
Numa sexta-feira espontânea!

Então, esta grávida bela...
Numa barraquinha cor de canela...
Pediu um sanduíche com mortadela!

Enquanto ela esperava o lanche
ansiosamente...
Aconteceu algo que embaralhou a mente...
Das pessoas no local:
Um motoqueiro mau...
Desceu da moto e começou a disparar...
Tiros, bravamente, pelo ar!
Mas, ao ver o marido da grávida,
Que já estava toda pálida...

Este motoqueiro tentou acertar vários tiros
sem paz...
Naquele pobre, assustado e indefeso rapaz!
Mas, alguns tiros atingiram a gestante...
De um jeito nada elegante!

Então, levaram a grávida para o hospital...
Porém, aconteceu algo mau:
A grávida faleceu...
No meio do breu!

Então, a partir daquele dia...
Começou a ocorrer algo com toda a agonia:
Toda a sexta-feira espontânea...
Bem na praça da Ucrânia...
Uma grávida...
Misteriosa e pálida...
Começou a aparecer de um jeito ruim,
Pedindo para alguém, bem assim:

– Sou uma gestante...
Faminta e nada brilhante!
Porque numa noite nada singela...
Eu tive uma morte nada bela...
E nem tive o meu último pedido...
Socorrido e atendido,
Que era comer um sanduíche de mortadela...

93
Numa barraca cor de canela!

Mas, como eu sei que você não é ruim:
Você poderia pagar um sanduíche para mim?
Dizem que toda a sexta-feira, de um jeito
dolorido...
Ela aparece na Praça da Ucrânia e faz este
mesmo pedido.

FRANCISCO BELTRÃO
Campo mal-assombrado

Até 1957, a Companhia Clevelândia
Industrial e Territorial Ltda. – CITLA, tinha
acabado com tudo: a cidade tinha parado de
crescer. Ninguém se sentia protegido, seguro
para investir nas propriedades, com aquela
jagunçada andando por ali. Isto não foi só em
Francisco Beltrão, mas aconteceu de Capanema
a Santo Antonio.
Quem comandou a revolta dos
moradores contra a CITLA foi o Dr. Walter
Pecois. Deu muita sorte e da jagunçada
ninguém tinha nome, era tudo apelido, era
Maringá, Mato Grosso, Chapéu de Couro,
Dente de Ouro. Eles pegavam homens para
trabalhar e na hora de pagar, matavam. Onde
fica o campo de aviação enterraram algumas
pessoas. Dizem que muitos pilotos, na hora de
aterrissar, já viram vultos assustados saindo do
chão.

GENERAL CARNEIRO
Poço da visagem

O município de General Carneiro é
privilegiado por circundar as margens do rio
Turino. Conta a lenda que neste rio existe um
poço, mais especificamente nas proximidades
do bairro Planalto. Moradores do local, que
tinham por hábito a pesca, visualizavam
sempre que por ali passava a figura de uma
bela mulher. Curiosos e encantados por sua
beleza tentavam aproximar-se, porém sua
imagem sumia dentro das águas do poço. Por
esse motivo o local, até hoje, é conhecido como
poço da visagem.


IPIRANGA
A noiva que ia se casar

Na estrada de Lustosa aparece, à meia-noite,
uma mulher bonita vestida de noiva, com
dinheiro ao seu lado. Conta a lenda que quando
essa mulher ia se casar guardou muito dinheiro,
mas no dia do casamento morreu
misteriosamente. Agora, quem estiver
passando pela estrada onde essa noiva aparece
e com coragem de aproximar-se dela, pedindo-
a em casamento, ganhará o dinheiro que está a
seu lado.

IRATI
O garupeiro

O rio da Prata é uma comunidade
distante e o meio de transporte mais utilizado é
o cavalo. Quando alguém fica doente o
remédio é buscado por alguém, a cavalo. Nesta
localidade existem muitos paióis de roça, onde
não reside ninguém, é aí que moram as almas
penadas. Quando passa algum cavaleiro,
principalmente à noite, essas almas pegam
carona na garupa de seu cavalo. E esse é o
maior temor dos cavaleiros da localidade.

IVATÉ
A bola de fogo

Acontecia na estrada indo para Ivaí,
contada por muitos moradores. Dizem que uma
bola de fogo, ou de luz, não se sabe o que é,
acompanha as pessoas a pé, de carro ou
carroça. Quando se passa próximo à mata esta
bola os acompanha. E é tão forte que as
pessoas perdem até a direção do carro, se
estiverem dirigindo.
Isto acontece, sempre, de meia-noite às
três horas da madrugada. Algumas vezes, ao
invés de acompanhar as pessoas ela fica em
cima de uma árvore parada. Mais interessante
ainda é que ela é veloz e chega à velocidade de
um carro. Outro fator importante é que ela só
aparece próxima a esta mata; só acompanha as
pessoas nesta travessia, depois desaparece.
Conta-se que a luz aparece porque há
algum tempo atrás um policial foi assassinado

94
no fundo da mata. Outra versão é que a bola
seja a “mãe do ouro”, ou seja, antigamente as
pessoas tinham o hábito de enterrar ouro e as
almas daquelas que morreram sem contar a
ninguém ficaram penando pelo mundo.

JAGUARIAÍVA
Assombração da antiga Serrinha

Esta história eu ouvi no norte do
Paraná, quando ainda era menino. Meu avô
materno Miguel Oleranos estava relatando a
outra pessoa e eu memorizei a história.
Antigamente, a estrada que dava acesso
a Jaguariaíva saía pela Chácara Santa Luíza,
hoje propriedade da família Nanni, em frente
ao Bairro Samambaia, e subia aquela serra das
pedras, até ao topo do morro. Passava pela
fazenda de Juviniano Carneiro Lobo, hoje
Fazenda Santa Rosa, até o pouso dos tropeiros,
no lugar conhecido como Cinco Pinheiros,
fazenda de João Pivovar. Esta propriedade
pertenceu antigamente à falecida mãe do Átila
Xavier, hoje sede da Fazenda Rincão da Serra. E
ia em frente, rumo ao bairro Pesqueiro e
Fazenda Diamantina. Um cidadão antigo, das
bandas do Barreiro, do qual não me lembro o
nome, vinha seguindo para Jaguariaíva a cavalo
e lhe disseram que embaixo da serra, depois
que anoitecia, era mal-assombrado.
Este se exaltou e disse:
– Qual o quê? Eu não tenho medo! Pois
vou a Jaguariaíva e volto de noite de lá, com
meu revólver na cintura, no lombo do meu
cavalo. Não tenho medo de nada. E veio para a
cidade. Ficou até tarde e altas horas da noite
pegou seu destino, rumo ao Barreiro.
Quando passou o portão que dava
acesso às terras do então Coronel Antônio
Roque de Lima, percebeu que alguém montou
na garupa de seu cavalo. O animal, sentindo o
peso no lombo, diminuiu seus passos e o
valente começou a sentir arrepios. Mas ainda
tinha que subir a serra. Olhava de relance sobre
seus ombros e via que havia alguém na garupa.
Ao terminar de subir a serra, o pobre animal
estava arquejando e ao chegar no próximo
portão, que dava acesso à fazenda do Pivovar,
o cidadão invisível desmontou.
O pobre animal sentindo-se aliviado,
deu um arranco pra frente. Nosso amigo, que
era valente, passou o portão aliviado,
desmontou e foi apertar os arreios que
estavam todos frouxos. Foi-se embora e nunca
mais passou à noite por essa estrada.
Passaram-se muitos anos. Um dia o
senhor Valfrido Wallis me contou que o senhor
Luís Cava foi pescar no rio da serrinha, rio
Sabiá, e levou uma cortadeira para tirar
minhocas. Ao voltar, altas horas da noite, sei lá,
onze horas ou meia-noite, ao abrir o portão,
quando levou a mão na tronqueira* recebeu
um tapa no rosto. E o gringo, do estopim
bastante curto, disse, no escuro, a quem lhe
bateu:
– Bate outra vez, seu filho da...!!!.
Tomou outro tapa, tornou a repetir a ofensa,
levou outro “pé de ouvido”. Na quarta vez o
camarada se materializou e disse: – Embaixo do
mourão, isto é, da tronqueira do portão, existe
um pote de moedas de ouro enterrado! Tire
que é teu.
Foi só tirar do lugar a tronqueira, estava
lá embaixo o pote.
Dizem que dali em diante sumiu a
assombração do local, pois a alma penada se
salvou. Sei lá. Nunca estive no inferno nem no
céu pra averiguar!!!

* Tronqueira – mourão no qual se prende a
tranca do portão.

MATINHOS
O carona da bicicleta

Acontecia sempre na rua próximo à
caixa d’água em Caiobá, na via que vai para
Prainha e Guaratuba. Altas horas, quando os
moradores passam por ali de bicicleta, ouvem
uma voz que pede licença para ir na garupa.
Certa vez, um senhor chamado Carlos
permitiu a carona e pouco adiante disse:
– Sai coisa feia, você é muito pesado.
E a partir daí a bicicleta ficou leve e ele
pôde seguir seu caminho. Os moradores evitam
passar por este caminho à noite.

95
MORRETES
Fantasma do Central

Por volta de 1930, num bairro de
Morretes chamado Central, surgiu a notícia de
que um fantasma andava aparecendo,
esgueirando-se pelas casas, altas horas da
noite. Era um vulto branco, rápido, que
aparecia e desaparecia. O medo se espalhou.
Até que um dia o Adão, um mulato
decidido, enfezou-se e resolveu encarar o
fantasma. Uma noite, armou-se de um
porrete e ficou na campana, observando onde
geralmente surgia o fantasma. Uma porta
abriu-se, Adão aproximou-se da casa onde viu o
fantasma entrar, fazendo um barulho estranho.
Aproximando-se, percebeu do que se tratava. O
fantasma era um operário que visitava uma
viúva da localidade e cobria-se com um lençol,
para afastar os curiosos e as comadres
fofoqueiras.

SÃO JOSÉ DOS PINHAIS
O velório da virgem noiva

São José dos Pinhais, aí pelos anos de
1928, tinha ainda poucas casas, sem luz e sem
água, nem esgoto, e havia muito mato e
árvores com troncos enormes. Nessa época,
não havia capela para velar os mortos e as
pessoas velavam seus entes queridos em suas
próprias casas. Havia dois compadres muito
engraçados, que compareciam em todos os
velórios para distrair do sono, os parentes e
amigos do finado. Sabemos, quanto é difícil
noites de inverno ter que passar em claro.
Certo dia, faleceu uma moça já de
idade, mas muito séria e moralista. Vestiram-na
toda de branco. Véu, grinalda, uma noiva
completa. Estavam todos reunidos, velando a
moça. Quando aí chegaram os compadres, por
volta das 21 horas, pararam na porta um tanto
assustados, olhando um para outro, disseram:
– Santo Deus do céu, será que era
virgem mesmo? Cochichando nos ouvidos com
olhar de malícia.
Lá pela meia-noite, deu uma dor de
barriga em um dos compadres, ele foi até um
bosque próximo do velório, fez suas
necessidades; quando voltava, no pátio da casa,
em noite de luar, viu a noiva que vinha toda de
branco, passo a passo, pé por pé, aproximando-
se cada vez mais. Chegando bem perto, ela
disse:
– Ainda duvida de mim?
O compadre deu um salto para dentro
da casa do velório, todo assustado, branco
como a neve e disse ao seu companheiro:
– Não devemos brincar com quem já
morreu.

TUNAS DO PARANÁ
A caverna do jesuíta

Conta uma lenda de nossa região que
atrás do Morro da Cruz existe uma gruta que dá
acesso à uma outra, ainda mais profunda.
Segundo a lenda, ela tem três andares, muito
fria e sombria. Ela possui água que vai até a
cintura de um adulto. Diz-se que um sinistro
senhor, uma aparição que só vê quem lá entra,
manda os aventureiros passarem, indicando o
caminho. Porém, todos aqueles que entraram
nunca mais voltaram.

Fonte:
Lendas e Contos Populares do Paraná/ coordenador Renato Augusto
Carneiro Jr. Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005. (Cadernos
Paraná da Gente ; 3)
Se gostas de ouvir narrações dos
tempos passados, então senta-te nesse degrau
e presta atenção ao chapinhar da água.
Estávamos nas proximidades do mês de
Ashwin (Setembro). A ribeira ia cheia. Da
escadaria que descia, somente quatro degraus
estavam fora da água. Na margem da ribeira
cresciam tufos de plantas compactos sob os

96
ramos dos bosques de mangueiras, onde a
corrente formava um ângulo e deixava a
descoberto três grandes montões de tijolo As
barcas de pesca, amarradas aos troncos de
babilas, balouçavam-se indolentemente. Os
grandes caniços que cobriam o banco de areia
captavam os primeiros raios de sol e
começavam a florir antes de atingir o seu pleno
desenvolvimento.
Os barcos abriam as suas velas sobre a
ribeira cheia de sol. O sacerdote, com os seus
vasos rituais, dispunha-se a tomar o banho. As
mulheres, em grupos, vinham buscar água. Era
a hora em que Kusum tinha o costume de
aparecer no alto da escadaria e tomar banho.
Mas naquela manhã não a vi chegar.
Diante do ghât (Escadaria onde se toma
banho), Bhudan e Swarno lamentavam-se. A
sua amiga - diziam - tinha sido levada para casa
do marido, uma localidade muito afastada da
ribeira, e que se distinguia por uma população
estranha, casas estranhas e caminhos
estranhos.
Entretanto ela quase desapareceu da
minha memória. Passou um ano. As mulheres
que vinham tomar banho falavam novamente
de Kusum. Uma tarde, porém, estremeci ao
reconhecer dois pés familiares. Mas ai, eles não
traziam anéis e tinham perdido o seu tilintar
musical de outrora!
Kusum estava viúva. Dizia-se que o
marido fora chamado a uma cidade longínqua e
que ela apenas o vira uma ou duas vezes. O
correio trouxera-lhe a notícia da sua morte.
Viúva aos oito anos, apagara na fronte o sinal
vermelho de casada, despojara-se dos seus
braceletes e voltara para a velha casa à beira do
Ganges. Mas encontrou poucas amigas dos
tempos de solteira. Bhudan, Swarno e Amala
tinham casado e partido; só Sarat ficara; mas
afirmavam que se dispunha a casar em
Dezembro.
Da mesma forma que o Ganges, na
estação das chuvas aumenta gradualmente de
volume e transborda, assim Kusum se
aproximava, dia a dia, da plena floração de
beleza. Mas com vestes brancas e sem enfeites,
de rosto pensativo e atitude calma, lançavam-
lhe um véu sobre a juventude e ocultavam-na,
como uma bruma, aos olhos dos homens. Dez
anos tinham decorrido sem que ninguém
reparasse que Kusum se desenvolvia.
Uma manhã, há muitos anos e por esta
mesma temperatura de fim de Setembro, um
sannyasi (Asceta ou monge) jovem e de pele
clara, chegado não se sabe donde, veio abrigar-
se no templo de Sivá, na minha frente. A notícia
da sua chegada em breve se espalhou por toda
a aldeia. Abandonando as bilhas, as mulheres
acorriam ao templo para saudar o santo
homem.
A multidão aumentava de dia para dia.
A fama do sannyasi depressa se espalhou entre
as mulheres. Ele, ora recitava o Bhagvat ora
comentava o Gita (Bagvat-gita: obra filosófica
que faz parte do Ramugana), ou pregava no
templo acerca do tema que escolhiam num
livro santo. Uns pediam-lhe conselhos, outros
os seus sortilégios ou a sua ciência de curar.
Passaram-se meses. Em Abril, na época
do eclipse solar, os banhos do Ganges atraíam
uma multidão considerável. Uma feira se
organizou sob as árvores de babla. Entre os
numerosos peregrinos, acorridos para saudar o
sannyasi, vinha um grupo de mulheres da
aldeia onde Kusum fora casada.
Era uma manhã. O sannyasi, sentado
num degrau, rezava, quando, de súbito, entre
os peregrinos, uma mulher fazendo sinal a uma
das suas companheiras, murmurava:
- Mas é o esposo de Kusum!
A companheira, afastando um pouco o
véu exclamou:
- Palavra, é bem ele! É o filho mais novo dos
Chattergi, que habita na minha aldeia!
Uma terceira, disse por sua vez:
- Ele tem exatamente a mesma testa, o
mesmo nariz e os mesmos olhos.
Enquanto uma outra, sem mesmo olhar
para o sannyasi, agitava a sua bilha na água,
suspirando:
- Ai! Ele não é nem será o que foi! Pobre da
Kusum!
Uma delas objectou então: «Ele não
tinha uma barba tão grande»; e outra: «Ele não
era tão magro»; uma outra ainda: «Parecia-me
mais alto». E a discussão ficou por aí.

97
Uma noite de lua cheia, Kusum veio
sentar-se perto da água, no mais alto dos meus
degraus.
A sua sombra projetava-se sobre mim.
Estávamos sós junto do ghât. Os grilos
cantavam à nossa volta. O tanger dos gongos e
das sinetas do templo tinham cessado e o
murmúrio da água era cada vez mais fraco,
para se perder em breve, como a saudade dum
som, nos bosques indistintos da margem
oposta. Um raio da lua brilhava nas águas
escuras do Ganges. Ao montante do rio, sob as
sebes e arbustos, sob o pórtico do templo e sob
os bosques das palmeiras, perfilavam-se
sombras de formas fantásticas. Os morcegos
balouçavam-se nos ramos de chatuns. Na
proximidade das habitações, os chacais
soltavam uivos arrepiantes e prolongados.
O sannyasi saiu do templo com o seu
passo lento. Desceu alguns degraus ghât e viu
uma mulher só. Ia afastar-se quando de súbito
Kusum ergueu a cabeça; voltou-se. O véu caiu e
a lua iluminou-lhe o rosto.
Um mocho voou por cima da sua
cabeça. Ao ouvir o pio da ave ela estremeceu,
ajustou o véu e prosternou-se aos pés do
sannyasi.
O Sannyasi deu-lhe a bênção e
perguntou:
- Quem sois?
Ela respondeu:
- O meu nome é Kusum.
Nessa noite não trocaram mais palavra.
Kusum voltou para casa, lentamente, e o
sannyasi permaneceu durante longas horas nos
degraus do ghât. Quando, enfim, a lua emigrou
do este para o oeste, o Sannyasi levantou-se e
entrou no templo.
Vi todos os dias Kusum vir prosternar-se
aos pés do sannyasi. Quando ele comentava os
livros sagrados, permanecia a um canto e
escutava-o; quando acabava as suas orações da
manhã, ele chamava-a para junto de si e
conversava com ela sobre assuntos religiosos.
Kusum não podia compreender tudo, mas
escutava-o com atenção e fazia esforços para o
compreender. Ele dirigia-a e ela obedecia-lhe
escrupulosamente. Kusum ajudava o serviço,
sempre pronta à adoração de Deus, colhendo
flores para a oferenda e indo buscar água ao
Ganges para lavar o chão do templo.
O inverno ia terminar. Os ventos eram
ainda frios, por vezes; à noite, a brisa quente da
primavera soprava bruscamente do sul e o céu
tornava-se azulado; depois dum longo silêncio
ouvia-se novamente o som das flautas e a
música da aldeia. Os barqueiros deixavam ir os
barcos ao sabor da corrente, paravam de remar
e entoavam cânticos a Krishna. Era a primavera.
Nesta altura, perdi Kusum de vista. Havia
alguns dias que ela deixara de aparecer no
templo, no ghât ou diante do sannyasi.
Ignoro o que se passou então, mas,
pouco depois, os dois encontraram-se de novo,
uma noite, nas escadarias.
Com os olhos baixos, Kusum perguntou:
- Senhor, chamou-me?
- Sim, porque não vinhas? Porque esqueceste,
há algum tempo, o serviço de Deus?
Ela ficou silenciosa.
- Diz-me o teu pensamento, sem receio.
Voltando o rosto, ela respondeu:
- Senhor, eu sou uma pecadora, faltei ao meu
dever de adoração.
O sannyasi disse-lhe:
- Kusum, eu sei que a tua alma está perturbada.
Ela estremeceu ligeiramente; depois,
cobrindo o rosto com o Sari, sentou-se no
degrau aos pés do sannyasi e começou a
chorar.
Ele recuou um pouco e continuou:
- Diz-me o que tens no coração; eu te mostrarei
o caminho da paz.
Ela respondeu com fé e palavras
entrecortadas:
- Se me ordena, falarei. Mas receio que
não possa exprimir-me com clareza. Mestre,
certamente adivinhou tudo. Eu adorei um ser
humano como a um Deus, venerei-o, e, ao
render-lhe este culto, o meu coração
transbordou de felicidade. Mas uma noite, eu
sonhei que o Senhor da minha alma estava
sentado num jardim, estreitando a minha mão
direita na sua mão esquerda e murmurava
palavras de amor. A cena não parecia de forma
alguma estranha. O sonho desfez-se, mas a sua
impressão ficou. No dia seguinte, quando os
meus olhos se levantaram para ele, pareceu-me

98
diferente. A imagem que me apareceu no
sonho continuava a perseguir-me. Atemorizada
tentei fugir para longe, mas a imagem não saía
do meu espírito. Desde então, a minha alma
não conhece a paz, e tudo em mim se tornou
sombrio!
Enquanto enxugava as lágrimas ao
mesmo tempo que falava, o Sannyasi martelava
convulsivamente, com o pé, o degrau de pedra.
Quando ela acabou de contar, o
Sannyasi perguntou:
- Diz-me: quem viste no teu sonho?
Com as mãos juntas, ela suplicou:
- Não posso.
Ele insistiu:
- Deves dizer-me tudo.
Ela contorceu as mãos e interrogou:
- Assim o deseja?
- É teu dever! - respondeu o sannyasi.
Então ela exclamou:
- Senhor, fostes vós que eu vi!
E deixando-se cair no degrau, começou
a soluçar profundamente.
Quando sossegou e pôde levantar-se, o
Sannyasi disse numa voz meiga:
- Deixarei este lugar esta mesma noite e não
me verás mais. Sabes que sou um sannyasi e
que não pertenço a este mundo. Deves
esquecer-me.
Kusum respondeu em voz baixa:
- Assim farei, Senhor!
O sannyasi murmurou:
- Digo-te adeus...
Sem dizer palavra, Kusum inclinou-se e
tocou os pés do sannyasi com a fronte.
E o santo homem deixou a aldeia.
A lua desaparecera; a noite tornou-se
escura. Ouvia-se o chapinhar da água. O vento
soprava furiosamente nas trevas, como se
quisesse varrer as estrelas do céu.

RABINDRANATH TAGORE
"No dia em que a flor de lótus
desabrochou / A minha mente vagava, e eu não
a percebi. / Minha cesta estava vazia e a flor
ficou esquecida. / Somente agora e novamente,
uma tristeza caiu sobre mim. / Acordei do meu
sonho sentindo o doce rastro / De um perfume
no vento sul. / Essa vaga doçura fez o meu
coração doer de saudade. / Pareceu-me ser o
sopro ardente no verão, procurando completar-
se. / Eu não sabia então que a flor estava tão
perto de mim, / Que ela era minha, e que essa
perfeita doçura / Tinha desabrochado no fundo
do meu coração."

Esse poema mostra o lirismo suave e
contido de Tagore; seu nome é "Flor de Lótus".
Rabindranath Tagore nasceu em 7 de
maio de 1861, em Calcutá, Índia, então sob
domínio britânico. Tagore era filho do
reformador religioso hindu chamado
Devendranath Tagore, que se encarregou de
sua educação por não concordar com as
coerções do ensino clássico. Entre 1878 e 1880,
o escritor esteve na Inglaterra e conheceu a
literatura e a música européias. O gênio
prolífico e criativo do escritor se traduziu ao
longo da vida numa vasta obra que abrangeu
todos os gêneros e estimulou a renovação da
literatura em língua bengali.
Poeta, contista, dramaturgo e crítico de
arte hindu, seu pensamento abre novos
caminhos a interpretação do misticismo,
procurando atualizar as antigas doutrinas
religiosas nacionais.
As atividades literárias e educativas do
poeta e místico bengali Rabindranath Tagore
contribuíram de maneira significativa para o
melhor conhecimento mútuo das culturas
indiana e ocidental.
Filho de uma família de reformadores
religiosos e sociais, que a todo custo procurou
libertar a Índia dos preconceitos milenares que
esmagavam o povo.
Tagore é uma ocidentalização do nome que em
sânscrito quer dizer "homem nobre", "senhor".
Em casa era chamado de Rabi que no idioma
dos seus quer dizer "o Sol".
Bem cedo se revelou artista
profundamente identificado com a natureza,
apaixonado pelo povo e, sobretudo aberto para
o INFINITO. Com 8 anos de idade já fazia
versos, aos 12 teve a satisfação de ver a sua
poesia aprovada pelo seu venerando pai que
exclamou: "Se o rei conhecesse a língua da

99
nossa terra e pudesse apreciar-lhe a literatura,
recompensaria por certo o poeta".
Com 15 anos foi para a Inglaterra
estudar Direito, 3 anos após regressou à pátria
a chamado da família. Ao regressar recebeu do
pai a incumbência de administrar a propriedade
da família.
Casou-se aos 23 anos. E, nesta época, já
havia publicado 2 livros de poemas: Canções da
Noite e Canções da manhã, com destaque para
o poema O Despertar de uma Fonte.Bem como
a novela para crianças O Sábio Real, que mais
tarde serviu de tema à peça intitulada O
Sacrifício.
Em 1891 Tagore estabeleceu-se em
Shilaidah para administrar a fazenda paterna.
Viveu então em contato direto com o meio
rural de Bengala, cuja influência se expressou
nos dramas líricos Chitrangada (1892) e Malini
(1895) e numa série de coletâneas poéticas,
como Citra (1896), Kalpana (1900; Sonhos) e
Naibedya (1901; Sacrifício), obras nas quais a
comunhão com a natureza é realçada pela
linguagem cristalina e emotiva. Em 1901 Tagore
criou em Santiniketan uma instituição
educativa denominada A Voz Universal, na qual
combinava elementos da cultura hindu e
ocidental. Em clima de liberdade, com aulas ao
ar livre, a escola logo se converteu em centro
de difusão do panteísmo espiritualista,
relacionado com as doutrinas védicas, e dos
ideais de solidariedade humana preconizados
pelo fundador.
Em 1901, com a venda de uma casa e
das jóias da esposa, fundou uma escola
superior de filosofia em Santiniketan (que
depois foi transformada em Universidade, em
1921).
As preocupações sociais do escritor, o
levaram a defender a independência da Índia
em diversos ensaios, embora sempre tenha
considerado que a mudança individual deve
preceder a social. A dor pela morte da esposa e
de dois de seus filhos, entre 1902 e 1907,
inspirou a Tagore alguns dos mais profundos
poemas místicos, entre os quais os incluídos em
Gitañjali (1910; A oferenda lírica). A
repercussão internacional dessa última obra
influiu na decisão da academia sueca em
conceder ao escritor o Prêmio Nobel de
literatura de 1913. Tagore recebeu também o
título de cavaleiro britânico em 1915, ao qual
renunciou quatro anos depois em protesto
contra o massacre de Amritsar.
A partir de então, Tagore desenvolveu
intensa atividade como conferencista em
diversos países e em 1921 passou a dedicar
grande parte de seus esforços na promoção da
universidade internacional Visva-Bharati, que
fundou nesse mesmo ano no centro de
Santiniketan.
Recebeu o Prêmio Nobel de literatura
em 1913 e tornou-se mundialmente famoso
graças ao seu livro de poemas Gitanjali
(Oferenda Lírica).
Isso não o impediu de continuar a
literatura, além da pintura e da música,
atividades nas quais também obteve prestígio
nacional.
Tagore faleceu em Santiniketan,
Bengala, 1941, em 7 de agosto de 1941.
Aclamado por Gandhi como "o grande mestre"
e reconhecido por todos os indianos como "o
sol da Índia".

Principais Obras

Poesia:
Manasi (1890) [The Ideal One]
Sonar Tari (1894) [The Golden Boat]
Gitanjali (1910) [Song Offerings]
Raja (1910) [The King of the Dark Chamber]
Dakghar (1912) [The Post Office]
Gitimalya (1914) [Wreath of Songs]
Achalayatan (1912) [The Immovable]
Gardener (1913)
Balaka (1916) [The Flight of Cranes]
Fruit-Gathering (1916)
The Fugitive (1921)
Muktadhara (1922) [The Waterfall]
Raktakaravi (1926) [Red Oleanders]

Contos e Romances:
Gora (1910)
Ghare-Baire (1916) [The Home and the World]
Yogayog (1929) [Crosscurrents]

100
Peças Teatrais:
O Rei no Seu Quarto Escuro
O Carteiro do Rei
Sacrifício
Chitangrada
Balka
A Corrente Livre

Fontes:
http://biografias.netsaber.com.br/ver_biografia_c_1097.
html
http://www.beatrix.pro.br/literatura/tagore.htm
http://www.geocities.com/toshiko.geo/biografia.htm
ÁGUA
É vida da vida.
Querida mas prescindida...
Gostosa, temida.

CAMINHAR
Um passo, outro passo!
Indo... Descendo e subindo...
- Demora o abraço.

CORPO CELESTE
No nada se expande.
Flutua no onde atua.
Do pequeno ao grande.

DESPEDIDA
Lenços acenando...
Sai alguém. Se outrem não vai;
Dois lenços pingando.

DÚVIDA
– De dia e é escuro.
Sombra de noite assombra
– Pensar inseguro.

ESPAÇO
Ausência se sente.
Abundância faz distância.
Ínfimo o da gente.

FALAR
O cachorro late,
o vento uivando lento,
inútil debate.


FIM
Na sala, um velório.
Passado mais que exaltado.
Presente inglório.

FLORES
Iguais, deslumbrantes.
Quanto ao perfume, no entanto?
Entre si, distantes...

AS FORMIGAS
Qual seja o caminho!
Labor imposto a terror,
Vazio o ninho.

LONGE
Não vejo um alguém.
Vejo a quem não almejo
Aquém do além.

PESCAR
Pescar é vitória.
Luta, artimanha, disputa.
Merecendo história.

SABEDORIA
- Disseram. E era?
Oi! Disseram e inda não foi?
Espera, espera.

SAUDADE
- De alegria? Pouca.
- De pranto carrega um espanto.
- Gostosamente louca.

101
A SOMBRA
Jamais é perfeita.
Beira apenas ou inteira,
à cama se ajeita.

TEMPOS
De tudo bem antes!
Do infinito ao finito.
Pequenos... Gigantes...

SYLVIO VON SÖHSTEN GAMA
Nascido em Maceió (AL), em 25 de
junho de 1923. Filho de Arthur Peixoto de
Carvalho Gama e Elsa von Söhsten Gama.
Casado desde 24 de junho de 1944 com
Alba Ramos Costa, que passou a se chamar
Alba Costa Gama.
Cursou a Escola Militar do Realengo
(1943) e Escola de Engenharia do Recife (1949).
Exerceu a atividade de construtor na
construção civil, em Recife, de 1949 a 1972
quando, comprando duas fazendas com área
total de 528 hectares, em Gravatá,
Pernambuco, dedicou-se à pecuária leiteira até
1986.
Vida literária iniciada realmente em
1937 com as primeiras produções poéticas,
veio a ser verdadeiramente exercida a partir de
1994 com a publicação de "MEMÓRIA" e
"Poesias no Espelho".
Eleito para a Academia Alagoana de
Letras, cadeira 14, em 2000.

Livros publicados:

Memórias
Memória - Vida em história
– Histórias da vida
Na Era dos Motorromes
A Fazenda Santa Helena
Eu Acuso
O Engenheiro
O Oficial do Exército
Foi Assim
Contos
Acontecidos
Sabedoria Popular
Contos e Mais Contos
Motes Glosados
Desafio Sem Viola
Romances
O Bastardo
A Doida
O Revide
O Encontro
A Maquina
O Pensamento
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Crônicas da Vida Civil
Crônicas da Vida Militar
Crônicas Daqui e Dali

Fontes:
http://universodohaicai.vilabol.uol.com.br/sylviogama.ht
ml
http://www.gama.von.nom.br/bibliografia/bibliografia.h
tm
Gama, Sylvio von Söhsten. Miscelânea : do haicai à glosa.
Maceió: Ed. do Autor, 2002.

102
Dedicado a um cãozinho chamado FLUFFY*

Aquele velho pinheiro já tivera vistas
deslumbrantes e vivera histórias
emocionantes... Estava plantado na região
Oeste de Santa Catarina, onde teve lugar uma
das mais sangrentas revoltas populares
ocorridas no Brasil, chamada de Guerra do
Contestado (1914-1918), que deixou um saldo
de mais de vinte e cinco mil mortos nos
conflitos armados entre a população cabocla e
os representantes do poder estadual e federal
brasileiro.
Na margem de cá da lagoa, só aquele
pinheiro dignificava a espécie. Era só, mas fora
sempre feliz. Apreciara belíssimos e
esplendorosos pores do sol dourados. Vivera
feliz e sempre altivo. Sentira-se poderoso,
embora tivesse obtido uma classificação
feminina, dada pelos botânicos, ou seja,
Araucaria Angustifolia. Não tivera angústias e
nem folias. Gostava quando, aos seus pés, o
apontava como “pinheiro macho”. Macho, sim
senhor, isso era inquestionável. Diziam que não
produzia frutos, o que era verdade, e que sua
sina era viver solitariamente. No entanto, ele
participava da perpetuação da espécie... Ele
fornecia o pólen que era transportado pelo
vento até aos óvulos da planta fêmea que
produzia a pinha, que, por sua vez, abrigava os
pinhões, suas verdadeiras sementes.
Apregoavam também os botânicos que ele não
possuía estróbilo feminino (pudera, era
macho!), ou pinha (ou ovário), onde se
aglomeravam os frutos em uma carcaça sólida,
verdolenga e elegante.
Lá do cimo dos seus galhos, voltado
para o Leste, onde o Sol, com seus raios
benfazejos, sempre o acordara, para aquelas
bandas, avistava uma paisagem bucólica. A uns
quinhentos metros, um pequeno lago e, mais
adiante, uma cabana. Sabia que seus
habitantes haviam acordado quando, da
pequena chaminé, saía sinuosa fumaça
procurando alcançar o espaço. À noite, quando
o sol morria no Oeste, sabia também quando os
habitantes daquele rude abrigo iam dormir,
pois as luzes bruxuleantes dos lampiões iam se
extinguindo. Foi testemunha ocular dos
viventes daquele casebre. Já estavam na
terceira geração. Agora o que restava vivia lá:
Bozsik e sua mulher Mihaly. Tinham dois filhos:
Polycarp e Kovács. Logo que se tornaram
adultos, deram no pé. Deixaram os pais e foram
viver suas vidas mundo afora.
Os pais de Bozsiki, Janusz e Gyula,
durante a Guerra do Contestado (Paraná/Santa
Catarina), acolhiam no já velho casebre os
combatentes das porfias entre pica-paus e
maragatos, peludos e pelados e, para melhorar
a cultura: adventícios e ádvenas, isto é,
segundo o Aurélio, forasteiros.
Sempre davam um jeito de agradar os
forasteiros e o que serviam aos abrigados era
um café de produção própria, servido sem
açúcar, que para eles era difícil conseguir. O
café era acompanhado de pinhões, que sempre
mantinham em estoque, servidos assados na
chapa, sapecados (usando sapés dos pinheiros)
ou cozidos. Não é que os visitantes gostavam e
sentiam-se alimentados!
Embora fossem oriundos da Hungria,
mais precisamente da região da Transilvânia, os
raros e esparsos vizinhos teimavam em chamá-
los de polacos. Até usavam aquele casebre
como referencial: a “cabana dos polacos” entre
um lago e um pinheiro macho. Não tinham
nenhuma criação. Cultivavam uma horta, muito
bem cuidada, repleta de variadas hortaliças.
Tinham também plantações de alguns pés de
café, isso mesmo, só a natureza podia explicar,
frutificavam... Herdaram do pai de Bozsik, que
assimilara o cultivo com os vizinhos. Era
estranha a plantação de café, pois a cultura
húngara nada especificava sobre o seu plantio.
Não os deixavam de tratar, muito bem,

103
capinando, adubando, podando e lutando
sempre contra a “broca” ou ferrugem. A
colheita era entre abril e junho. Sabiam como
colher, secar, torrar, armazenar, eliminar as
impurezas, afinal o café era o complemento
indispensável para consumo dos pinhões.
A poucas dezenas de metros do casebre, havia
um majestoso capão de pinheiros.
Quando era “tempo dos pinhões”, as
pinhas se desprendiam dos galhos dos
pinheiros, caindo verticalmente sobre a área
delimitada pelas projeções das suas copas. Os
galhos sustentando as pinhas proporcionavam
um belo espetáculo. No capão forrado de
pinhões, os bichos mais variados, entre os quais
pacas, cutias, ouriços e outros mais, faziam
festa deleitando-se com a polpa generosa e
apreciada dos pinhões. Então entra em cena a
ave querida, folclórica, endeusada e lendária
dos paranaenses, chamada de gralha-azul. Ela
também é considerada a ave símbolo do
Paraná. É uma ave portentosa, de envergadura
de até 40 cm. Diz a lenda que ela é responsável
pela formação e manutenção dos pinheirais.
Quando as araucárias frutificam, bandos de
gralhas laboriosamente estocam os pinhões
para se alimentarem posteriormente. O
esquecimento do local de plantio faz germinar
os frutos ali depositados. De vez em quando, a
quietude da área era quebrantada por sons
emitidos por bando de gralhas que, segundo
consta, emitem, para se comunicarem, pelo
menos quatorze ternos vocais (gritos) bem
distintos e significantes... Aliás, uma grande
mágoa do nosso pinheiro solitário é que nunca
um roedor, ou mesmo a beatificada gralha-azul,
escondeu um único fruto ao seu redor, o que,
por certo, acabaria com o seu isolamento.
E o pinheiro... perdão, leitores, divaguei
outra vez. A nossa história é, na realidade, de
Bozsik e Mihaly. Não é de pinheiros nem de
gralhas...Dentro daquele rústico casebre, entre
o lago e o nosso pinheiro macho, os “polacos”,
isto é, os descendentes de húngaros, uniam
suas misérias havia mais de seis décadas.
Usavam os ombros, uns dos outros, para se
acalentarem. Viviam cantando cantigas
folclóricas, dolentes e nostálgicas, dos seus
antepassados. Não tinham nenhum meio
elétrico ou eletrônico, viviam alheios ao que se
passava no mundo. A saúde dos dois era
sobrecomum. Naturalmente a higidez física
ficara debilitada pela “marcha inexorável do
tempo”.
Bozsik já não usava mais cueca e Mihaly,
obviamente, não usava sutiã e seus seios iam
até abaixo do umbigo. A dupla possuía três
dentes, isto é, um na boca do Bozsik e dois na
de Mihaly. Para deglutir os pinhões, ou eram
bem amassados quando assados, ou
sapecados, ou bem cortadinhos quando
cozidos. O único pente era solidário ao casal,
pois também tinha três dentes...
Não tinham espelho de qualquer tipo e
quando queriam mirar-se, usavam a água
espelhada do lago. Naturalmente não tinham
nenhum artigo de perfumaria... Os raros sabões
apareciam quando conseguiam amontoar a
gordura de alguns animais que caçavam e
prepará-los artesanalmente. Com a gordura
ainda faziam velas e lamparinas, usando fibras
trançadas como pavio.
A caça era relativamente boa. A herança
de uma armadilha trazida da Europa pelos pais
era extremamente útil. Está certo que não era
para animal de grande porte, mas de vez em
quando sobravam, na ferragem da armadilha,
vários roedores e até pacas! Com a carne
faziam uma boa sopa à moda húngara ou um
ensopado, também de carne, chamado gullash.
Para a sopa húngara, tinham quase todos os
ingredientes plantados ao redor do casebre,
tais como: tomate, pimentão-vermelho, batata,
cebola, pimenta-do-reino, sal e banha, na falta
de manteiga; integravam ainda a carne de
músculo dos animais que caçavam, e o
cominho era substituído pelo europeu alcaravia
(kümmel). Sabiam destilar, grosseiramente,
uma bebida oriunda não sei do quê, mas que
substituía a vodca europeia. Um acontecimento
assim não passava sem comemoração. Aliás,
qualquer coisa boa era usada como pretexto
para dançarem. Só os dois participavam da
festa... Esqueciam os reumatismos, dores nas
colunas e outros males da velhice. Mas era
empolgante ver a dupla que somava quase
duzentos anos em suas danças, naturalmente
típicas. Mihaly, com o seu indefectível lenço

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espalhafatosamente multicolorido na cabeça,
em pé, batia palmas e cantava em voz alta
músicas folclóricas trazendo Bozsik para o
centro. Ele era sempre o primeiro a dançar.
Evocava a “dança de kalotaszegi”, típica da
região em que nasceram seus pais.
Era nessa dança que os rapazes da sua
terra demonstravam os seus talentos e
virtuosismos. A dança era repetida até a
exaustão. Depois ele dava a vez para Mihaly,
que se exibia coreografando a “dança das
garrafas”. Bozsik abria o berreiro e se
empolgava nas canções. Acompanhava o seu
próprio canto com estrepitosas palmas
cadenciadas. A velha garrafa, enchida com
água, Mihaly equilibrava na cabeça sem perder
o ritmo. A maior prova da sua habilidade é que
a velha garrafa de vinho, quase centenária, com
o rótulo bastante descolorido, permanecia
incólume. E tinha um detalhe, o invólucro de
vidro havia sido trazido da Europa por seu pai.
Levavam um bom tempo se divertindo,
cantando, dançando, puramente.
Sobreviviam das plantações de
hortaliças bem diversificadas e dos animais que
caçavam. A propósito, a caça era abundante. A
velha armadilha europeia, em contraste com os
velhinhos, parecia que ficava cada vez mais
eficiente ao passar dos anos.
De herança, também tinham duas
preciosidades. Uma era um alfanje com um
cabo de quase dois metros de comprimento; a
outra, um quadro tosco contendo uma
litografia, preciosa naquela época. O amor ao
quadro era imenso. Era a jóia da família. Janusz
Széil, pai de Bozsik, fora quem trouxera o
quadro da Europa. Dizia que a moldura era feita
de madeira de lei da Hungria. Quando batia a
saudade da sua terra, ele cheirava
repetidamente a madeira, procurando absorver
o seu odor, e nela dava lânguidos beijos. Era o
seu coração beijando resquícios de sua pátria.
Quase todos da família seguiam esse hábito e a
profusão salivar ia se depositando fazendo com
que a madeira fosse perdendo sua coloração.
Era um quadro místico para eles.
Sempre provocou a imaginação dos moradores
da casa, desde quando foi fixado na parede
pelo pai de Bozsik. Durante décadas, ficou
dependurado no mesmo lugar... Eram comuns
as mais diversificadas conjecturas sobre a cena
impressa na velha litografia húngara. O quadro
intrigava a mente de todos. A impressão no
rodapé era mal impressa e descolorida. Alguma
coisa se lia, tal como Grof Szecent... 1825 ... a
magyar akademia. O pai de Bozsik também
sabia muito pouco sobre os personagens do
quadro. Pinçou nas memórias do seu pai, que
uma vez dissera que o quadro representava
uma reunião da nobreza que discutia em
manter seus privilégios, como a as
prerrogativas eleitorais exclusivas, imunidades
fiscais e outras benesses, tal como ocorre hoje
em nossa política tupiniquim. No quadro em
pé, com dedo em riste, o único que contestou
os privilégios foi o afamado escrito magiar
Janusz Pannonius. Ele é considerado, até hoje,
como o mais significativo – quase único – poeta
e humanista do renascimento húngaro.
Uma vez, nos tempos difíceis da Guerra
do Contestado, dissera que aquele quadro era a
maior herança que deixava para a família e
seria a redenção da miséria em que viviam...
Tinha seus motivos, que julgava muito bem
fundados, aguardando o momento oportuno
para desvendar o segredo. Pedia que nunca se
desfizessem do quadro, de nenhum modo,
assim como do velho alforje. Nada mais a
comentar... E nada mais seria dito...
Na Guerra do Contestado, ocorreram
alguns combates na proximidade do casebre
dos Széil, assim era o sobrenome da família. Os
tiroteios na área eram comuns. Em um deles, a
família de Bozik, escondida embaixo de mesa,
cadeira, enfim, no que fosse possível, não
evitou que uma bala perdida atravessasse o
casebre de madeira e fosse se alojar na testa do
pai de Bozik, que morreu na hora. Com a morte
dele, fora o segredo do quadro...
Os filhos de Bozik e Mhaly, quando
estavam entrando na adolescência,
costumavam dar umas saídas esdrúxulas. Sem
falar nada aos seus pais, escapavam e, às vezes,
demoravam dias para retornar. Visitavam os
distantes vizinhos e iam até mesmo à cidade
mais próxima, demorando dias para retornar.
Voltavam sempre com surpresas.
Em um dos retornos trouxeram quatro

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pombos-correio, dois machos e duas fêmeas.
Os pais não sabiam, mas seus filhos já tinham
planos para deixar a casa. Os pombos já
prenunciavam isso. Como não havia nenhum
tipo de comunicação entre moradores do
casebre com qualquer vizinho, em caso de
emergência os pombos poderiam ser
acionados. Contando com o auxílio do vizinho
doador dos pombos, eles ensinaram os pais
como enviar mensagens por intermédio das
aves.
Os filhos de Bozsik e
Mihaly, ainda preocupados com a segurança
dos pais, na ausência deles, trouxeram,
surpreendentemente, um cãozinho, filhote
mestiço da raça vizsla, ou “braço húngaro”, de
pelo curto. O casal abraçou comovidamente o
cãozinho. Choraram tudo a que tinham
direito... A emoção tinha sido muito grande,
pois embora o cão não fosse tão puro, trazia
características marcantes dos genuínos da
região deles, a Transilvânia. Aquele cão era um
pouco da Hungria. Deram-lhe logo de início o
nome complicado de Rövidszorü Magyar, mas,
com o passar dos anos e até o fim da sua vida,
chamaram-no simplesmente de Rovi.
É bom que se diga que, segundo os
historiadores, os caçadores magiares, no século
VIII, possuíam cães sabujos e galgos que
deveriam ser os ancestrais mais prováveis do
atual Viszla. Para o casal, não interessava a
história dos antecessores do cãozinho. Ele
agora era a paixão deles.
Rovi, agora adulto, tinha uma pelagem
amarelada. Sua altura não passava de sessenta
e cinco centímetros. Era um cão de caça muito
inteligente e versátil, e bastante apegado aos
donos. Costumava deitar aos seus pés e os
seguia como se fosse a própria sombra deles.
Gostava de afagos e sabia como retribuir,
lambendo ou esfregando o focinho em quem o
acariciava. Como os cães sempre elegem um da
família como “tutor”, no caso dos Széil, o eleito
era Bozsik. Dizer que era impressionante a
fidelidade de Rovi talvez seja pleonasmo...
Todo cão é fiel ao seu dono, mas Rovi era
realmente muito especial...
Como disse, Polycarpo e Kovács, já
adultos, estavam decididos a tomar novos
rumos. Tinham que viver uma nova vida, longe
dali. As dificuldades impediram que eles
frequentassem uma escola e agora eram
broncos por circunstâncias. Mesmo assim, não
deixavam de pensar na segurança dos pais, na
ausência deles. Assim como os pombos-correio
que haviam dado aos pais, Rovi também fazia
parte dos planos e já estava com mais de um
ano. Quando iam visitar o vizinho amigo,
levavam junto o simpático cão, que os seguia
muito feliz abanando a cauda incessantemente.
Rovi sabia muito bem o caminho e era
isso que eles queriam. Instruíram seus pais que,
em caso de dificuldade, dessem a ordem a Rovi:
“vá, Zé”; e ele iria até a casa do vizinho, que,
por sinal, se chamava Zé. O casal, de vez em
quando, fazia testes mandando Rovi à casa e
ele ia direitinho transpondo obstáculos e, em
grande velocidade, retornava sempre com um
graveto na boca, colocado pelo Zé.
Finalmente os filhos de Bozsik
arrumaram o pouco que lhes restava e, entre
choros e
lamentos, despediram-se dos pais sem saber ao
menos qual seria o destino. Rovi parecia que
havia descoberto o intento dos irmãos e os
acompanhou por alguns quilômetros. Os
irmãos tentaram de tudo para fazer Rovi
retornar, até que este acabou compreendendo
que deveria voltar para casa, pois a finalidade
da sua vida era cuidar dos seus amigos Boszik e
Mhaly.
E o tempo foi caminhando, caminhando
e consumindo o casal naquela velhice, naquela
solidão solidária
Bozsik e Mihaly conservavam como
relíquia as suas certidões de nascimento,
expedidas na Hungria. Eram muito bem
conservadas, com extremo carinho.
Comparando-as, concluía-se que Bozsik tinha
93 anos e Mihaly 91. A longevidade é uma das
características dos magiares, principalmente da
região onde eles nasceram...
Ah, sim. Uma outra das relíquias

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conservada pelo casal era um livro de poesias
que o pai de Mihaly dera quando deixava a
Hungria para vir ao Brasil. O livro continha
poemas do consagrado poeta húngaro Sandor
Petöfi. Embora o autor tivesse vivido um
período áureo do Romantismo, ele também se
notabilizou por ter sido um revolucionário. Esse
livro já estava pra lá de ensebado de tão
manuseado. Pudera, era praticamente um dos
poucos meios de comunicação com o mundo. O
livro ora era lido por Bozsik, ora por Mihaly, e
presenciou os primeiros eflúvios amorosos do
casal. Os versos foram lidos, por ambos, desde
o namoro.
As saudades dos filhos eram imensas e
agravadas. Nenhum queria demonstrar esse
sentimento para o outro e os profundos
suspiros exalavam-se pelo rústico casebre. Mas
Bozsik sentia que a saúde de Mihaly, outrora
sempre bem disposta e alegre, havia mudado o
seu humor. Já não tinha paciência com Rovi.
Certa feita ele veio agradá-la e ela respondeu
com um pontapé e com impropérios, mas
mesmo assim o cão se aproximava ainda mais
da dona. Boszik sentiu que em pouco tempo a
sua querida companheira começara a ter
dificuldade em falar e o seu vocabulário tinha
diminuído significativamente. Ela não tinha
mais iniciativa... Antes tão caprichosa, não
ligava mais para roupas e aparência. Não se
lembrava de recentes acontecimentos, até
mesmo os ocorridos no dia, mas evocava, com
facilidade, principalmente, a sua infância na
Transilvânia. Há muito tempo que ela não
reconhecia seu companheiro e, para ele, isso
era o pior da doença. Boszik acompanhava,
pesarosamente, o declínio daquela que lhe
dera toda a sua vida desde os albores da sua
juventude. A irritabilidade e a instabilidade
emocional recebia colheradas de sopa que
carinhosamente Boszik preparava e lhe dava.
Ele não se lamentava pelos sacrifícios
que advieram em consequência da doença que
não sabia definir, mas à qual o psiquiatra
alemão Alois Alzheimer dera o nome. levavam-
na a constantes crises de choro, involuntárias e
sem afeto. Às vezes queria se expressar, mas a
doença impedia que ela transformasse os
sentimentos em palavras que ela não sabia
mais nem quais eram. E a crise foi piorando...
Agora ela era totalmente dependente dele.
Ficava o tempo todo na cama, não comia mais
sozinha e Rovi passou a ficar quase todo o
tempo deitado ao lado da sua dona. Às vezes
procurava chamar-lhe a atenção arranhando
seu corpo com as patinhas, sem obter
nenhuma resposta, mas não desistia. Mhaly
manifestava agora tremores assíduos e os
voluntários movimentos eram mais intensos.
Demonstrava, às vezes, que queria sair da
cama. A incontinência urinária e fecal foi
agravada. Boszik e Rovi, obsessivamente, não
tiravam os olhos dela. Ele então passou a
colocá-la na cadeira e na posição Rovi passou a
ficar quase todo o tempo Desde os bons
tempos que aquilo passara a ser até um
cerimonial. Mihaly gostava de sentar defronte
ao quadro que o pai de Bozsik trouxera da
Hungria e que tanto debate proporcionara
entre os familiares. Apreciando o quadro de
frente, transportava-se para o seu país. Boszik,
sentado embaixo do quadro, lia versos do
famoso poeta magiar do século XIX Sandor
Petöfi. Um dos preferidos era “No fim de
setembro”, que era lido constantemente com
muita emoção e, todas às vezes, Mihaly não
continha as lágrimas.
Mesmo com o estado deplorável da
esposa, ele lia todos os dias os versos daquele
livro, um verdadeiro relicário de emoções, mas
que nada mais despertava na esposa. Era
sempre uma cena deveras comovente. Mihaly,
sentada à sua frente, curvada na cadeira e
imóvel, tendo aos pés Rovi, recebia
vegetativamente os sons da leitura que não
encontravam mais guarida em seus
sentimentos. Bozsik não desistia nunca, mesmo
sabendo que a leitura dos versos não
provocava um mínimo de emoção na ouvinte.
O leal companheiro de tantos anos
também começava a declinar. As geadas
começaram a cobrir as plantações da horta e
foram rareando. O alimento começava a faltar.
Boszik sabia o quanto era importante manter
alimentada a sua idolatrada esposa. A caça
agora era rara. Só pequenos roedores caíam na
armadilha. Mesmo porque ele não queria se
afastar do seu casebre e da sua Mihaly,

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companheira querida.
A solução, para a alimentação, era
começar a abater os pombos-correio da sua
criação. Eram três bocas para alimentar. E ele,
em detrimento da sua própria saúde,
misturando a pouca farinha de mandioca
estocada com a carne de pombo, conseguia
ainda fazer uma sopinha para Mihaly e um
“grudezinho” para o cãozinho com o pouco de
fubá que tinha em estoque.
Um dia Rovi desapareceu por um longo
tempo, deixando seu dono seriamente
preocupado. Eis que um dia ele retorna
arrastando uma cutia com grande esforço. Ele
estava todo lanhado, pois certamente lutara
com o animal que oferecera tenaz resistência.
Sabe lá onde Rovi encontrou aquele animal
naqueles campos cobertos de geada.
O mais emocionante foi que Rovi
depositou a caça aos pés de Mihaly. A comoção
de Bozsik foi extremada, chegando até aos
soluços pela atitude do cão e a impassividade
da mulher. Naquele dia foi uma festa, isto é,
para o cão e dono, pois para Mihaly nada
alterava seu comportamento emocional.
A vista de Boszik já estava seriamente
afetada e, mesmo com os óculos deixados por
seu pai, consistia em tremendo esforço cumprir
o ritual da leitura dos versos para a
companheira. Lá fora, o sol ainda não
conseguira derreter toda a geada. Boszik
preparou-se para cumprir o ritual, colocando
primeiramente Mihaly na cadeira defronte ao
quadro que ela nem mais percebia. Apanhou o
carcomido e seboso livro de poesias, abriu-o e
olhou para sua mulher. Ela estava ali, na sua
frente, mas ausente para o mundo. Curvada e
com os braços estirados, era um vegetal. Rovi
logo se aninhou aos pés da dona, lambendo-lhe
as mãos. Os olhos de Boszik marejaram-se.
Balbuciantemente iniciou a leitura, sem
perder a entonação habitual:

FIM DE SETEMBRO – DE SANDOR PETÖFI

...Enquanto a geada do inverno tomar suas
contas.
A vida voa para longe, como cai a flor fugaz...
Sente-se em meu colo, querida esposa, como
agora imploro!
Você agora coloca sua cabeça em meu peito,
Você amanhã colocará a sua cabeça na minha
sepultura?
Ah, me diga, se antes eu deveria morrer...

De repente, o pesado quadro de
madeira da Hungria desprende-se da parede
atingindo, em cheio, a cabeça de Bozsik, que
sente o impacto e responde com um urro que
desperta Rovi em um pulo. O sangue corre pela
velha madeira da litografia encharcando as
surradas roupas de Boszik. Rovi pressente
qualquer coisa e corre para o dono tentando
reanimá-lo. Late desesperadamente e lambe-o
agitadamente. Puxa-o pelas roupas chegando
até a rompê-las. Está desesperado. Olha para a
sua dona, que permanece imóvel, alheia a
tudo. Late para ela pedindo socorro e nada
acontece. Rovi, em sua privilegiada inteligência,
percebe que seu dono precisa de socorro. Não
necessita ser comandado. Sabe a quem pedir
auxílio e o caminho até lá.
É bom que se saiba que Rovi está com
quatorze anos, portanto tão velho como os
donos. Está quase surdo, com as forças bem
minadas devido à precária alimentação. Seus
olhos estão turvos pela idade, quase não
enxerga. O seu então apurado faro
praticamente não existe. Mesmo assim Rovi
decididamente parte à procura de socorro. Para
dificultar sua espinhosa jornada, os campos
ainda estão cobertos por grossas camadas de
gelo da geada que se distribuíra pela região.
Cada vez mais ofegante, escorrega, cai, levanta-
se, escorrega, mas se mantém firme no
propósito.
Depois de quase duas horas de ingentes
esforços, chega à casa do Zé. Devido ao grande
frio externo, a casa está toda fechada. Late
insistentemente. Arranha a porta com
violência... Ninguém escuta! Um rádio em alto
som, lá dentro, transmite uma canção
sertaneja. Rovi não desiste. Agora morde a
porta e lança seu corpo contra ela várias
vezes... Sente que está ficando cada vez mais
enfraquecido. Com um empenho desmedido, a
intensidade das latidas vai diminuindo e nem
arranhar ele pode mais. Os esforços foram

108
violentos demais... Vê a casa girando ao seu
redor e desmaia. Fica ali, estático, aguardando
seu final. De repente, o som vindo da casa não
é mais ouvido. Rovi levanta-se, então, reunindo
todas as suas forças, volta a latir com
intensidade e mesmo com os latidos uivados
ninguém o ouve. Aguarda um bom tempo até
que finalmente alguém abre a porta, é o Zé.
Rovi então late do que sobrou da sua carcaça.
Conclui que dera o recado e volta a desmaiar.
Zé entende a mensagem do cão. Sabe
que os velhos no casebre estão precisando de
auxílio. Chama os seus dois filhos, pedindo para
sua mulher e filha que cuidem do cachorro e
partem celeremente em direção ao casebre. Lá
encontram Bozsik. Ele está morto e deduzem
que ele se arrastara até Mihaly para morrer
segurando suas mãos.
Zé e seus filhos, estarrecidos e
comovidos, percebem que Mihaly, arfante, está
ainda com vida. Desprendem as mãos de Bozsik
dos braços de Mihaly e notam que ela levanta a
cabeça, olha para o quadro, desvia para o livro
caído no chão e fixa o olhar no marido. Dá um
leve suspiro e deixa a vida para sempre.
Com trapos de um lençol e de um
cobertor, improvisam macas, conduzindo os
corpos para a casa do Zé, onde,
posteriormente, uma carroça os levaria até a
cidade.
Enquanto isso, na casa do Zé, a sua
mulher e filha tentam reanimar o Rovi.
Tentaram de tudo e custou muito para ele dar
uma resposta. Um pouco melhor, ele foi
alimentado muito bem. Rovi não comia bem
havia muitos dias. O carinho das duas para com
o animal era surpreendente e ele sentiu isso.
As coisas pareciam ir bem quando Rovi
lembrou-se dos donos e como os havia
deixado. Ágil, colocou-se em pé, deu fortes
latidos dirigidos aos que o trataram, como que
agradecendo a pródiga recepção. Refeito,
partiu na velocidade máxima que pôde, mesmo
com os sentidos debilitados. Meio surdo, quase
cego e com o faro praticamente inexistente,
concentrou-se para definir qual o caminho a
tomar. Deduzida a rota, seguiu em direção
definida, desabaladamente. Rovi, no entanto,
depois de caminhar horas, sentiu que fora
traído pelos resquícios que sobraram dos seus
sentidos. Perdera-se! Procurou
desesperadamente o caminho que conhecia...
Tinha que voltar para casa para rever os
donos. A noite estava chegando e o seu
desespero aumentava. Suas forças tinham
chegado à exaustão. Mal conseguia caminhar.
Não encontrava nenhum lugar para se abrigar
da geada que iria cair, na madrugada, com
certeza. Arquejando e num último esforço, viu
que não poderia mais avançar... e a noite
chegou. Finalmente se prostrou. Deitou a
cabeça entre as patas e, mirando o horizonte,
seus olhos foram se esmaecendo e ele se
esforçando para não fechá-los... A intensa
geada que caiu à noite cobriu o corpo, já sem
vida, do “branco húngaro vizsla de pelo curto”,
cujos ancestrais haviam acompanhado os
magiares em sua invasão ao território húngaro.
Ele soubera honrar sua raça.
Finalmente a família do Zé conseguiu
chegar até a cidade com os corpos dos vizinhos.
Católicos fervorosos os deixaram na capela da
igrejinha para o velório, no qual só a família do
Zé esteve presente. Posteriormente seriam
sepultados no cemitério da municipalidade.
Numa daquelas coincidências
extraordinárias, os filhos de Bozsik e Miahly
estavam de volta à região. Chegando de
madrugada à cidadezinha que naturalmente
não tinha hotel e nem mesmo pensão, os
irmãos Polycarp e Kovács, que se deram
financeiramente muito bem na vida e sabendo
que havia um velório na capela, resolveram
passar a noite lá. Fariam um ato de caridade e
se abrigariam para, de madrugada, partirem em
busca dos pais. Quando entraram na capela,
foram logo reconhecidos por Zé, que os saudou
afetuosamente. Zé não perdeu tempo em
contar que naqueles caixões estavam seus pais.
Os irmãos se abraçaram pesarosamente ao
lado dos pais e os prantearam. Durante a noite,
em conversa com o Zé, decidiram que os
corpos dos pais deveriam ser sepultados
próximo do local onde viveram praticamente
toda a sua vida. Certamente Zé seria
generosamente gratificado pelo que fizera por
seus pais.
Sabedores da nobre ação de Rovi por

109
seus pais, não viam a hora de rever aquele que
demonstrara ser mais generoso que muitos
seres humanos e até de muitos cristãos que
tinham como dogma o amor. Aquela atitude
era a verdadeira, verdadeira síntese do amor.
Ao passarem de retorno pela casa do
Zé, não viam o momento de abraçar, com
imensa alegria, aquele cão tão querido que
lealmente acompanhou seus pais até o fim da
vida deles... No entanto, como não sabiam da
sua morte, supunham que Rovi deveria ter
voltado para a casa dos pais deles.
Pesarosamente, nunca mais se teve
notícias do extraordinário cãozinho Rovi.
Polycarp e Kóvacs enterraram os pais ao lado
do pinheiro solitário... Agora, não mais...
Ao retornarem ao
casebre, recolheram o velho quadro que seu
avô apregoara que mudaria a vida deles, mas
não dissera como. Já não sentiam nada por
aquela peça de madeira com uma litografia
velha. Não esboçaram nenhum sentimento pela
relíquia. Polycarp, o irmão mais velho, pediu
que o irmão queimasse aquela peça de madeira
que ocasionara a morte violenta do pai. Kovács
pegou o quadro e ia dar o destino sugerido
quando notou, no verso do quadro, alguns
escritos rabiscados. Chamou o irmão e juntos
partiram para decifrá-los. As letras tinham sido
arranhadas na madeira e eram de difícil leitura
e, ainda mais, escritas em húngaro. A
mensagem sugeria que verificassem o verso da
litografia. Abriram o quadro e tomaram contato
com a mensagem deixada pelo pai. Nela ele
contava que durante a Guerra do Contestado,
quando ele estava descansando próximo do
pinheiro macho, ou solitário, ouviu vozes e
então se escondeu. Pelo traje de um deles,
identificou-o como sendo um dos chefes. Os
dois outros que o acompanhavam eram
escravos e conduziam um baú e pás às costas.
O chefe contou, em linha reta, em
direção ao lago, alguns passos e mandou que
cavassem ali. Pelo esforço com que carregavam
o baú, o conteúdo deveria ser bem pesado. De
fato, por um descuido o baú caiu no chão e
abriu-se. De dentro dele rolou o corpo de uma
mulher, logicamente morta, e o chão forrou-se
de moedas e joias. Aos gritos, o chefe mandou
que colocassem tudo de novo no baú e
cavassem. Depois de haver sido feito um bom
buraco, os escravos receberam ordens para que
o baú fosse depositado ali. Isso feito, o patrão
matou, a tiros, os dois, jogando-os no buraco e
enterrando-os junto com o baú. O que mais
impressionou o pai de Bozsik foi que o
assassino colheu algumas flores do campo e
depositou na cova. Em seguida fez algumas
orações e, em pranto, partiu. Bozsik deduziu
que a mulher que caíra do baú certamente era
alguém muito amada pelo senhor dos escravos.
Disse que tivera que guardar aquele segredo,
pois receava que o dono do baú voltasse
qualquer dia. Na verdade, o maior receio, e que
fizera o pai de Bozsik manter o segredo, era o
fato de naquele buraco estarem sepultados três
corpos, a mulher e os dois escravos. Na sua vã
filosofia, nunca se deveria violar uma sepultura.
Certamente um dia iria contar à mulher e os
filhos, mas em época oportuna...
Como se passaram os anos e nunca o
dono do baú aparecera, supunha que ele havia
morrido em combate. Mas se não houvesse a
oportunidade de contar o local, o que ocorreu
com sua morte repentina, no quadro dado por
seu pai havia a resposta. E no verso estava
também escrito: (as deduções, entre
parênteses, são dos irmãos) – Aprecie a cena
magiar (o quadro).
Janusz Pannonius sabia sempre apontar
em direção ao obstáculo a ser vencido (o único
obstáculo, em linha reta, era o pinheiro). Dois
foram levados pela morte (no livro de poesias
tinha a gravura da morte). Um portava o alfanje
simbólico ( tal qual a morte) e outro, com a
cabeça meneava para a direita (indicando uma
volta, em relação à direção de Janusz). Dois, ou
duas (seriam as medidas com o alfanje,
naturalmente partindo do pinheiro em direção
oposta ao casebre). O que segura
simbolicamente o alfanje, segura o baú (morte
- tesouro)...
Não sei como os irmãos concluíram isso,
só posso afirmar que as deduções estavam
corretas... Conclusão: siga em direção ao

110
pinheiro solitário. De lá, retorne contando duas
medidas de alfanje... Eis o tesouro.
Seguiram todas as recomendações...
Convidaram a família do Zé e até o padre da
paróquia para a abertura da sepultura. O padre
faria a parte que lhe cabia em prol das almas
dos sepultos. Dentro do baú de metal
encontraram mais de mil moedas de ouro e
porção considerável de joias. Era uma fortuna!
Dos corpos só restaram ossos que, dignamente,
foram sepultados também ao lado do pinheiro.
Os irmãos já eram prósperos
negociantes e então deram boa parte da
fortuna para o
Zé e para a igreja. Rogaram os irmãos que
fizessem a promessa de encontrar o cãozinho
Rivo. Eles ainda confiavam na inteligência do
animalzinho e, supondo que tivesse morrido,
por certo estaria por perto da trilha entre a
casa do Zé e dos Széil.
E assim foi que, depois de intensa busca
que envolveu a família por alguns dias,
acabaram encontrando, com muita emoção, a
carcaça do Rovi. E ele foi sepultado, também ao
lado do pinheiro, com muita pompa.
Ah, e o pinheiro macho? Ele não se
sentia mais tão solitário. Sentia um orgulho
enorme por ter sido referencial na descoberta
do tesouro. Sentia-se também feliz por ter ao
seu lado direito o casal cujas vidas ele
acompanhara. E do Rovi também, pois o
conhecera desde filhotinho. Parece incrível,
mas o velho pinheiro gostava quando Rovi,
quase todos os dias, vinha regar seu pé. E na
vida do velho e outrora solitário pinheiro
macho, acabou acontecendo o máximo de sua
aspiração...
Um dia notou que uma gralha-azul,
perto dele, começou a enterrar pinhões... Um
milagre em sua vida! Sonho (pinheiro sonha,
sim) em realidade! Por certo agora viriam
outras e ali poderia ser formado um
esplendoroso capão de pinheiros.

E realmente, lá de cima, podia ver os pinhões
brotando, aos montes...

*Fluffy era um cãozinho que não
foi um herói, nem era muito corajoso, mas muito
encrenqueiro, contudo ele ensinou, assim como todos os
cães, o significado do respeito e do amor incondicional.
Fluffy morreu 3 dias antes de completar 10 anos de uma
vida saudável. Este conto, o confrade Átila dedicou a este
cãozinho que deixou muitas saudades e um buraco muito
grande no coração. (José Feldman)

Fonte:
Colaboração do Autor

111


Alienígenas e mitologia grega: A
Caverna dos Titãs
Uma história em que sátiros, ciclopes,
górgonas e demais criaturas da mitologia grega
aparecem em um shopping center de uma
cidade do interior do Rio de Janeiro pode
parecer, em uma primeira análise, totalmente
nonsense. Ainda mais se esse fato só for
percebido por crianças e adolescentes. Mas o
Livro do Mês de abril da Capital Nacional da
Literatura A Caverna dos Titãs é uma grande
aventura de ficção científica que não deve nada
às histórias desse gênero.
Um grupo de adolescentes que adora
jogar vídeo-game no OuterPlanet
Megashopping – um shopping recém-
inaugurado em Morro Queimado – descobre
que o estabelecimento é somente uma fachada
para uma invasão alienígena de seres
estranhamente similares aos monstros
fantásticos das narrativas da Grécia antiga.
Em um clima de mistério investigativo
Fred, seu amigo Sumô e sua prima Ana acabam
descobrindo que o shopping só serve para a
seleção e treinamento de crianças e
adolescentes para auxiliar na segunda invasão
alienígena – sim, segunda invasão, pois a
primeira tentativa foi na Grécia antiga, o que
deu origem às criaturas da mitologia e acabou
rechaçada por famosos heróis, como Perseu,
Belerofonte, entre outros.
Os alienígenas testavam as habilidades
dos jovens em máquinas de fliperama do
shopping especialmente desenvolvidas para
esse fim. Os mais talentosos eram abduzidos e
controlados pelos extraterrestres. Mas os
heróis adolescentes, assim como os heróis
míticos, não deixam barato e utilizam todas as
suas habilidades forjadas nos games para livrar
o planeta dessa ameaça.
Através de descrições muito detalhadas,
onde os games se unem à realidade, e muitas
situações de suspense, A Caverna dos Titãs
merece lugar de destaque entre a boa
literatura infanto-juvenil produzida hoje no
país.

Dois amigos, Júlio e Daniel, são
adolescentes, se conhecem há muito tempo,
estudam na mesma escola e vivem numa
cidade interiorana - Morro Velho. A vida corre
fácil, mas a súbita morte de Lucinha aos 15
anos coloca a cidade em polvorosa e atiça a
imaginação dos colegas, principalmente Júlio,
fã de histórias de ficção científica e horror, que
suspeita que a profunda anemia causadora da
morte da menina havia sido provocada por um
vampiro. A princípio Daniel não aceita as idéias
absurdas do amigo, mas acaba sendo
convencido a embarcar numa investigação mais
e mais perigosa, à medida que terríveis
descobertas vão sendo feitas.
O autor, Ivanir Calado, é um profissional
que já escreveu vinte livros infanto-juvenis.
Sabe usar uma linguagem antenada com seu
público, sem infantilismos. Manipula com
eficiência o suspense da trama, que flui com
agilidade e interesse crescente. Aborda os
problemas inerentes a todo jovem: as
dificuldades escolares, o fracasso nos esportes,
a descoberta do amor, o ciúme, a insegurança,
o risco de perder amizades. Tudo isso
misturado com um personagem maligno, duas

112
velhinhas estranhas, uma antiga mansão
soturna, e elementos clássicos das histórias de
vampiro, claro, como estacas de madeira e
violação de túmulos.
Mas Calado insere uma subtrama
científica conduzida pelo pai de Júlio, o médico
Paulo, que em suas pesquisas descobre uma
bactéria infectando as vítimas da estranha
forma de anemia - o que pode explicar as
mortes que se sucedem. Não é exatamente
uma idéia original - veja, por exemplo, o
romance Eu Sou a Lenda, de Richard Matheson,
para encontrar um precedente - mas que bem
colocada funciona como uma interessante
variação num gênero que atualmente parece
que se esgotou, tantos os livros publicados.
O desfecho não apela para o tradicional
final feliz. Ocorrem muitas perdas, difíceis
decisões são tomadas, o amor, a coragem e a
lealdade vão ser postos à prova.
Ivanir Calado demonstra, com este livro,
que acreditar na inteligência do leitor jovem é o
que de melhor um escritor pode fazer para
despertar o interesse desse público pela leitura,
tão envolvido com computadores ou
videogames, mas capaz de se encantar com
textos de boa qualidade, que enfoquem temas
atuais, como já provou um certo bruxinho
inglês. Vale a pena conferir O Nascimento do
Vampiro, de Ivanir Calado.

IVANIR CALADO
Ivanir Calado nasceu em Nova Friburgo,
cidade do Estado do Rio de Janeiro, na
localidade conhecida como Morro Queimado,
que tem servido de cenário para algumas obras
do autor.
Estudou artes plásticas e trabalhou com
música e teatro antes de começar a escrever.
Publicou os romances Imperatriz no fim do
mundo e A mãe do sonho, além de cerca de
vinte livros para crianças e adolescentes. Já
recebeu prêmios como escritor e autor de
teatro, e vários de seus livros têm o selo de
"altamente recomendável" da Fundação
Nacional do Livro Infantil e Juvenil.

Testemunhe o nascimento do vampiro.
Por Finísia Fideli e Roberto de Souza Causo
em http://noticias.terra.com.br/imprime/0,,OI2308167-
EI6622,00.html

Fontes:
Jornadas Literárias de Passo Fundo
Boletim Eletronico – n. 52 – ano 3 – 11/04/08
http://www.planetanews.com/autor/IVANIR%2
http://www.ivanircalado.net/ (foto de Ivanir)

Uma tragédia no Amazonas é uma
historia envolvente que narra como o ódio e o
desejo de vingança pode arruinar muitas vidas,
e como uma pessoa pode ser odiada e amada
ao mesmo tempo. O conto é cheio de detalhes
faz a pessoa sentir o clima selvagem e hostil
vivido por pessoas que vivem na região do
Amazonas, onde a lei raramente chega, e onde
as pessoas muitas vezes fazem suas próprias
leis.
Com maestria o autor narra a historia
de Eustáquio, sua esposa Branca, e a enteada
Rosalina, que passaram a ser vitimas de
perseguição, que incluíam tanto danos à
propriedade da família, que ficava no vilarejo
de São João do Príncipe no Amazonas, como
tentativas de matar Branca e Rosalina;
Curiosamente em duas tentativas contra as
mulheres um misterioso protetor da cabo dos
agressores, o que não acontece com um
escravo e um soldado contratados para
defender a casa do subdelegado.
Começa por parte de Eustáquio uma
caça aos agressores, aos poucos o editor trás a
lume fatos que culminam com a identificação
dos mesmos como sendo um grupo de negros
que após assassinarem seu feitor e o dono da
fazenda, saqueiam a sede e fogem, sendo
capturados e presos pelo subdelegado, no
entanto pouco depois eles fogem da
improvisada cadeia, para a floresta, e começam
a maquinar a vingança; A morte de um dos
escravos pelo misterioso defensor da família faz

113
com que eles acuem um pouco, e passam dois
anos sem fazer novas ameaças, no entanto a
chegada ao vilarejo de salteadores espanhóis
interessados em roubar a Eustáquio porque
foram informados que ele possuía uma grande
riqueza, reacendeu nos escravos fugitivos a
chama da vingança, encorajados pelos
espanhóis voltaram a tramar contra a família.
Nesta ocasião Eustáquio, que já não é
mais subdelegado, passa a espionar o bando,
descobrindo que tramavam atacar a casa no dia
seguinte, recorre à ajuda do padre que no afã
de proteger a casa indica quatro lavradores da
cidade para reforçar a segurança, Eustáquio os
contrata, sem saber na verdade que eles faziam
parte dos seus inimigos, num plano do líder
espanhol de infiltrá-los na residência de
Eustáquio fato que o padre também
desconhecia.
Enquanto aguardavam o ataque
protegendo a casa, o padre revela que o
misterioso protetor que por vezes defendeu a
família, era na verdade um jovem que teve sua
vida salva pelo pai de Rosalina, a enteada da
família, só que embora salvasse o garoto o
homem não sobreviveu ao acidente, em
retribuição a isso o garoto vigiava a casa para
proteger seus moradores.
Neste mesmo dia os vingadores
conseguem invadir a casa matam Branca,
Eustáquio, bem como outros que ali estavam,
incluindo uma criança que ainda a pouco havia
nascido, filho de branca com Eustáquio;
Quando o jovem que protegia a família chega já
é tarde e o malfeitor lhes tira a vida , como
ultima vitima Rosalina é barbaramente
torturada e morta. Finalizando o conto o pai do
jovem chega de uma viaje mas já encontra
todos mortos e o fim é dramático com o pai ao
lado do corpo do filho lamentando sua morte.
O conto é cheio de detalhes faz a pessoa
sentir o clima selvagem e hostil vivido por
pessoas que vivem na região do Amazonas,
onde a lei raramente chega, e onde as pessoas
muitas vezes fazem suas próprias leis.

Fonte:
http://www.netsaber.com.br/resumos/ver_resumo.php?
c=1275

Manuel Paiva é um malandro que tenta
roubar as jóias pertencentes ao duque de
Bragança, no inicio parecia que tudo ida dar
certo até que..., Mas vejamos esta trama desde
do inicio, Paiva era amigo pessoal do duque de
Bragança Sardanapolo a ponto de
secretamente conseguir programar encontros,
às escondidas, para o duque com garotas para
fins sexuais inclusive estava negociando com o
avo de uma garota de 14 anos certa soma em
dinheiro para que ela se deitasse com o duque.
Ao combinar o assalto Paiva solicita a
ajuda do criado da casa, Inácio, passando para
ele detalhes do plano arquitetado, embora de
princípio ficasse temeroso Inácio acaba
aceitando participar, ao mesmo tempo em que
planejam o assalto Paiva programa o encontro
do duque com a garota que desconhece a má
intenção de seu avo e o senhor Paiva.
De inicio o assalto é bem sucedido,
roubando o senhor Paiva, muitas jóias e um
caríssimo anel que pertencia à esposa do
arquiduque; O cenário vem bem montado até
uma corda na janela simulava a forma que os
ladrões entraram, mas na verdade o criado foi
quem facilitou a entrada do ladrão das jóias. No
dia seguinte ao assalto há uma grande comoção
na mansão do duque e toda vizinhança fica
sabendo do ocorrido, a policia chega e mal sabe
por onde começar a investigação, no entanto o
duque de Bragança se mantém calmo todo o
tempo.
Chamando o senhor Paiva ao seu
gabinete acusa-o veemente de ser o ladrão
apresentando enes evidencias para pensar
assim, de inicio Paiva nega tentando se escusar
mas acaba admitindo, e ameaça contar tudo
que sabe da vida errada do duque se for
entregue a policia; Os dois conversam algo não
revelado pelo autor, voltando para sala o
duque entrega Paiva a policia, no entanto o

114
esperto Paiva consegue se livrar da prisão, num
acordo onde devolve todas as jóias roubadas.
Há, quanto ao encontro do duque com a
garota ele é frustrado por Emilia que revela ser
a mãe da garota, e que ela é fruto de um
estupro cometido pelo próprio duque há 14
anos atrás.

Fonte:
http://www.netsaber.com.br/resumos/ver_resumo.php?
c=1217

O título se refere a grande seca de 1915,
vivida pela escritora em sua infância. O
romance se dá em dois planos, um enfocando o
vaqueiro Chico Bento e sua família, o outro a
relação afetiva de Vicente, rude proprietário e
criador de gado, e Conceição, sua prima culta e
professora.
Conceição é apresentada como uma
moça que gosta de ler vários livros, inclusive de
tendências feministas e socialistas o que
estranha a sua avó, Mãe Nácia - representante
das velhas tradições. No período de férias,
Conceição passava na fazenda da família, no
Logradouro, perto do Quixadá. Apesar de ter 22
anos, não dizia pensar em casar, mas sempre se
engraçava à seu primo Vicente. Ele era o
proprietário que cuidava do gado, era rude e
até mesmo selvagem.
Com o advento da seca, a família de
Mãe Nácia decide ir para cidade e deixar
Vicente cuidando de tudo, resistindo.
Trabalhava incessantemente para manter os
animais vivos. Conceição trabalhava agora no
campo de concentração onde ficavam alojados
os retirantes, e descobre que seu primo estava
de caso com uma caboclinha qualquer.
Vicente se encontra com Conceição e
sem perceber confessa as temerosidades dela.
Ela começa a tratá-lo de modo indiferente.
Vicente se ressente disso e não consegue
entender a razão. As irmãs de Vicente armam
um namoro entre ele e uma amiga, a Mariinha
Garcia. Ele, porém, se espanta ao saber que
estava namorando, dizendo que apenas era
solícito para com ela e não tinha a menor
intenção de comprometimento.
Conceição percebe a diferença de vida
entre ela e seu primo e a quase impossibilidade
de comunicação. A seca termina e eles voltam
para o Logradouro.
Esta é a parte mais importante do livro.
Apresenta a marcha trágica e penosa do
vaqueiro Chico Bento com sua mulher e seus 5
filhos, representando os retirantes. Ele é
forçado a abandonar a fazenda onde
trabalhara. Junta algum dinheiro, compra
mantimentos e uma burra para atravessar o
sertão. Tinham o intuito de trabalhar no Norte,
extraindo borracha.
No percurso, em momento de grande
fome, Josias, o filho mais novo, come mandioca
crua, envenenando-se. Agonizou até a morte.
Uma cena marcante na vida do vaqueiro
foi a de matar uma cabra e depois descobrir
que tinha dono. Este o chamou de ladrão, e
levou o resto da cabra para sua casa, dando-
lhes apenas as tripas para saciarem. Léguas
após, Chico Bento dá falta do seu filho mais
velho Pedro. Chegando ao Aracape, lugar onde
supunha que ele pudesse ser encontrado,
avista um compadre que era o delegado.
Recebem alguns mantimentos, mas não é
possível encontrar o filho. Ficam sabendo que o
menino tinha fugido com comboeiros de
cachaça.
Ao chegarem no campo de
concentração, são reconhecidos por Conceição,
sua comadre. Ela arranja um emprego para
Chico Bento e passa a viver com um de seus
filhos. Conseguem também uma passagem de
trem e viajam para São Paulo, desistindo de
trabalhar com a borracha.
Fontes:
http://www.netsaber.com.br/resumos/ver_resumo.php?
c=2777
http://www.pipaproducoes.com.br/ (imagem)

115
Poetas de mais de quinze países do
mundo participaram do I Congreso Universal de
Poesía Hispanoamericana (CUPHI) realizado en
Tijuana, México, de 8 a 14 de agosto de 2010,
reconhecendo o valor da obra literária do
laureado poeta peruano Carlos Garrido Chalén,
Prêmio Mundial de Literatura "Andrés Bello"
2009 de Venezuela; e concordaram através da
Sociedad Internacional de Poetas, Escritores y
Artistas (SIPEA), com sede no México, propor-lo
ao Prêmio de Literatura "Miguel de Cervantes"
2010, de Espanha, prêmio que se outorga aos
escritores hispanoamericanos que mais tenham
contribuído con sua obra de modo a fortalecer
o acervo da língua castelhana.
Carlos Garrido Chalén, que se encontra
atualmente no México, é autor de obras
publicadas nos gêneros de poesía, novela,
conto e ensaio. O Instituto Nacional de Cultura
(INC) do Perú lhe outorgou em 1997 a distinção
"Patrimonio Cultural Vivo de la Nación".

A poetisa paranaense, de Paranavaí,
Dinair Leite, Imortal da Academia de Letras do
Brasil/Paraná esteve presente neste seleto
grupo internacional, tendo a honra de indicar o
nome de Chalén para o Premio Nobel de
Literatura, de 2011.
Indicação consequente dos
inquestionáveis méritos de Chalén, além de ser
considerado como " uma das raras gemas
preciosas que aparecem a cada certo tempo na
história humana" na voz de Ernesto Kahan,
Prêmio Nobel da Paz, que desde 2008 respalda
a candidatura do escritor.
Na ocasião, Chalén, presidente
fundador da União Hispanoamericana de
Escritores - UHE nomeou Dinair Presidente
Nacional da renomada instituição no Brasil.
Dinair declara: “Divido com vocês este
momento especial, contando com o Poder
Superior para me fazer desempenhar este papel
à altura e honrar as expectativas de tão nobres
companheiros que distinguiram o nosso Brasil e
minha humilde pessoa para compartilhar este
caminho.
E agradeço de modo especial ao
Movimento Poético Nacional, sediado em São
Paulo e presidido pelo estimado Dr. Válter
Argento, creditando esta abençoada conquista
principalmente aos trabalhos,
encaminhamento, orientação e acolhimento
dos saudosos baluartes do MPN, minha
primeira Casa Cultural, poetas Dr. Silva Barreto,
Sylvya Reys e especialmente Jacintha Karelisky.
Dedico esta poesia ao Comite
Organizador do Congreso Universal de Poesia
Hispanoamericana (CUPHI) e a todos os
participantes do magno evento

ODE AO CUPHI!

Chorei...chorei com a dor
da tristonha despedida,
de um povo que é puro amor,
num país que vibra vida!

Viva emoção o meu peito
preencheu... e quase explodiu!
Mas meu coração com jeito,
vibrou no peito...e sorriu!

CUPHI foi iluminado
por corações varonis
bebendo seu mel sagrado
espargido em mil barris...

Tom certo, com maestria,
MANUEL LEYVA ofertava
noite a dentro e pelo dia,
glorioso ele brilhava!

116
MARTÍNEZ , sua família,
honrados agradecemos
o saber vivo em vigília
que tão felizes bebemos

Família culta e unida
com sua equipe gentil
que em transparência luzida
acolheu nosso BRASIL!!!

Tantos poetas eu vi
a receber e doar
buquês...e com frenesi
a Liberdade cantar!

Escritores também vi,
chegarem de tantas partes,
com mesmo ideal dali,
abraçando irmãos em artes...

Tijuana! És tão linda...
e abrigastes com afeto
poetas,canções infindas,
em teu coração dileto...

Para ti hei de voltar
um dia se Deus quiser!
Com teu povo eu hei de orar
à Virgem Santa e mulher...

Senhora Guadalupana!
Que tanto me comoveu...
fêz-me sentir mexicana
pela fé que me envolveu...

Vivi doce experiência
com um cultor envolvente
que impôs a sua gerência
feito um correr de nascente!

Maestro LEYVA! Meus vivas!
Pelo CUPHI eu te bendigo:
- Sempre a Liberdade avivas!
Que a Paz esteja contigo!

TIJUANA foi celeiro
de Grãos de Milho de porte!
Foi um útero-viveiro,
foi nosso ninho e suporte!

Poetas Del Mundo eu choro
a dor....saudade sem fim,
de um choro bom e sonoro:
MÉXICO! Lembra de mim!


A UBT no Estado do Paraná há 44 anos
vem estimulando a agilidade mental dos
trovadores que aspiram esta magia poética
contagiante, no contínuo ideal pensado por
Luiz Otávio, o trovador do Século XX e exemplo
futurista da arte das emoções que une os
trovadores.

PRESIDENTE DE HONRA: ORLANDO
WOCZIKOSKY

Presidente: Vânia Maria Souza Ennes (Curitiba)
Vice Presidente: Maria Lúcia Daloce Castanho
(Bandeirantes)
Secretário: Nei Garcez (Curitiba)
Conselho Estadual: - Presidente: Maurício
Norberto Friedrich (Curitiba)
1º Vice Presidente: Dari Pereira (Maringá)
2º Vice Presidente: Apollo Taborda França
(Curitiba)
Secretária: Maria Aparecida Frigeri (Londrina)
1º Secretário: Luiz Hélio Friedrich (Curitiba)
2º Secretário: Lairton Trovão de Andrade
(Pinhalão)

01. Seção de Curitiba: Maria da Graça Stinglim
Araújo
02. Seção de Ponta Grossa: Sônia Maria Ditzel
artelo
03. Seção de Maringá: Dari Pereira

117
04. Seção de Bandeirantes: Istela Marina
Gotelipe Lima
05. Seção de Londrina: Maria Aparecida Frigeri
(Cidinha)
06. Delegacia de Rio Branco do Sul: Sara
Furquim
07. Delegacia de Joaquim Távora: Adilson de
Paula
08. Delegacia de São Mateus do Sul: Gerson
Cesar Souza
09. Delegacia de Ubiratã: José Feldman
10. Delegacia de Pinhalão: Lairton Trovão de
Andrade
11. Delegacia de Ibiporã: Maurício Fernandes
Leonardo
12. Delegacia de Apucarana: Fahed Daher
13. Delegacia de São Jorge do Ivaí: Hulda
Ramos Gabriel
14. Delegacia de Piraquara: Horácio Ferreira
Portela
15. Delegacia de Campo Mourão: Sinclair Pozza
Casemiro
16. Delegacia de Arapongas: Maria Granzoto
da Silva
17. Delegacia de São Jerônimo da Serra:
Déspina Athanásio Perusso
18. Delegacia de Paranavaí: Dinair Gomes C.
Leite
19. Delegacia de Irati: Luiza Nelma Fillus
20. Delegacia de Campo Largo: Miguel Angel
Almada (em processo de oficialização)

. Delegacia de Ivatuba: Elidir D’Oliveira –
Desativada pelo falecimento do delegado
. Delegacia de Tomazina: Cecim Calixto -
Desativada pelo falecimento do delegado
“Os representantes dos autores levam a obra
diretamente ao dono da editora, ao editor ou
ao chefe do departamento editorial, ou seja, as
pessoas que decidem o que vai ou não para o
mercado. E eles sabem que estão recebendo um
bom material, um original que foi avaliado
como promissor”
Andrey do Amaral

No Brasil, ser um famoso jogador de
futebol, ator de uma grande emissora ou
escritor é quase tão difícil quanto acertar numa
loteria. O primeiro e o segundo fatalmente vão
chegar lá se tiverem talento e um bom
empresário, que conseguirá testes com os
presidentes de clubes e os diretores de TV. O
terceiro geralmente bate de porta em porta
esperando que um dia seu livro seja publicado.
E desiste sem nem mesmo saber que concorre
com outras centenas de originais (cópias de
livros ainda não publicados) que chegam à
mesa do departamento editorial todos os anos.
Pois saiba que há um profissional que
pode lhe ajudar a“furar a fila” e colocar sua
obra no mercado: o agente literário. É ele quem
vai convencer o editor de que aquilo que você
escreveu merece estar na prateleira de uma
livraria. Muitos sonham em editar pelo menos
um livro na vida, e buscam seu espaço por
conta própria, mas esbarram no maior
problema do mercado editorial brasileiro: a
falta de estrutura. As editoras recebem, por
ano, centenas de obras para avaliação. Com um
número reduzido de funcionários, muitas
oportunidades se perdem ou passam
despercebidas no meio das pilhas de livros que
chegam pelos Correios. Geralmente, as obras
que vão direto para a mesa do editor foram
indicadas por agentes literários.
A profissão ainda engatinha no Brasil,
mas no mercado internacional (principalmente
nos Estados Unidos), editoras dificilmente
publicam o livro de alguém que não é
representado profissionalmente. O agente faz
praticamente o mesmo trabalho que a editora:
peneira o que há de melhor no mercado e
seleciona apenas o que tem chance de ser
publicado. “Os representantes dos autores
levam a obra diretamente ao dono da editora,
ao editor ou ao chefe do departamento
editorial, ou seja, às pessoas que decidem o
que vai ou não para o mercado. E eles sabem

118
que estão recebendo um bom material, um
original que foi avaliado como promissor”,
aponta o agente Andrey do Amaral. “Os
editores sabem que aquele livro entregue por
um agente já passou por uma peneira, por um
processo criterioso de análise e seleção”,
completa o brasiliense e também autor
deMercado Editorial.
O motivo desse privilégio?
Conhecimento de mercado e um bom
networking. Os agentes não representam
qualquer escritor. Mesmo que este pague rios
de dinheiro. Esses profissionais recebem os
candidatos, cobram pela análise inicial da obra
e, se ela realmente tiver algum valor de
mercado, aceitam agenciá-lo. “Muitas pessoas
pedem agenciamento, mas quando seu livro
não tem uma mínima chance de dar certo,
dificilmente um agente irá apresentá-lo em
uma editora. Se ele faz isso, perde a
credibilidade com o editor e, numa tentativa
futura, pode ter um best-seller na mão que não
será recebido”, explica Andrey.
Além de uma extensa rede de contatos,
o agente literário possui um conhecimento de
mercado que o autor não tem. Cada editora
trabalha com um tipo de livro e uma simples
abordagem equivocada pode colocar tudo por
água abaixo. “O agente sabe que aquele livro
tem potencial para ser publicado nessa ou
naquela editora. Ele tem uma noção clara do
que o mercado absorve. É a história do livro
certo, no momento certo e para a editora
certa”, pontua Alessandra Pires, da agência O
agente literário, de São Paulo. “Nós fazemos a
ponte entre o autor e a editora. Ou seja, ele é
representado por um profissional que busca a
editora adequada aos perfis da obra e do autor.
Alguns agentes sabem, inclusive, que tipo de
publicação esse ou aquele editor está
procurando.”
Assim como o empresário do ramo
artístico, que gerencia a carreira do cantor ou
ator, o
agente cuida dos interesses do escritor. Além
de oferecer melhores chances de publicação,
zela pela questão burocrática— vendagem,
pagamento de direitos autorais e assessoria
jurídica — e trata de encaminhar as demais
produções, aquelas que vão levar o autor a
construir sua carreira literária.

Fonte:
Reportagem de Luciano Marques para o Jornal
Correio Braziliense, Diversão&arte • Brasília,
sexta-feira, 3 de setembro de 2010.
XXX Concurso Estadual/Nacional e I
Concurso Interno de Trovas da
Academia de Trovas do Rio Grande do
Norte – Natal/2010

Prazo: 30/09/2010.

1) ESTADUAL – Tema: AUSÊNCIA e cognatos.
Coordenador: José Lucas de Barros
Travessa Alda Ramalho Pereira, 1010 – Tirol
Natal – RN
CEP: 59014-605.

2) NACIONAL – Tema: INSPIRAÇÃO e cognatos.
Coordenador: Francisco Neves de Macedo
Rua Ribeirão Preto, 218 – Gramoré
Natal – RN
CEP: 59135-550.

3 trovas por concorrente.
Remessa, pelo sistema de envelopes, para os
respectivos coordenadores.

XVII Prêmio Cidade de Conselheiro
Lafaiete

Inscrição até 30 de setembro de 2010

A ACADEMIA DE CIÊNCIAS E LETRAS DE

119
CONSELHEIRO LAFAYETTE torna públicas as
normas para o XVII Concurso Literário
Internacional “Prêmio Cidade de Conselheiro
Lafaiete”, que será regido pelas seguintes
disposições:

DOS OBJETIVOS
Art. 1º. O “Prêmio Cidade de
Conselheiro Lafaiete” foi instituído em 1994
pela Academia de Ciências e Letras de
Conselheiro Lafayette – ACLCL – e vem sendo
concedido anualmente, ininterruptamente,
com o objetivo de incentivar e divulgar a
cultura literária, tanto em prosa como em
verso, e estimular a produção e a divulgação
das obras de poetas e prosadores em língua
portuguesa.

DA ABRANGÊNCIA
Art. 2º. Poderão participar do concurso
quaisquer escritores em língua portuguesa, que
possuam maioridade civil na data da inscrição,
observada a legislação dos países de origem.

DAS CATEGORIAS
Art. 3º. Os trabalhos poderão ser
inscritos nas categorias abaixo discriminadas e
deverão obedecer às características a elas
pertinentes:
a) Conto;
b) Crônica;
c) Poema (exceto soneto);
d) Soneto.

Art. 4º. Os trabalhos deverão ser inéditos,
inclusive em meio eletrônico.
Parágrafo único – Caso seja detectada a
participação de trabalho que não seja inédito,
se a detecção for feita antes da premiação, o
trabalho será desclassificado; se for feita
depois, o prêmio será cassado, sem prejuízo
das ações judiciais cabíveis.

DA INSCRIÇÃO
Art. 5º. A inscrição dar-se-á com o envio
dos trabalhos e da documentação exigida para:

Concurso Literário Internacional “Prêmio
Cidade de Conselheiro Lafaiete”
Caixa Postal 111
Conselheiro Lafaiete – MG
CEP.: 36.400-000.

Art. 6º. O prazo de inscrição é de 1º.
(primeiro) de junho a 30 (trinta) de setembro
de 2010 (dois mil e dez).
§ 1º. Para a inscrição de trabalhos será
considerada a data da postagem.
§ 2º. Os trabalhos inscritos fora do
prazo estarão automaticamente desclas-
sificados.
§ 3º. Deverá constar como remetente o
mesmo endereço do destinatário, ou seja, Caixa
Postal 111, 36.400-000, Conselheiro Lafaiete,
MG, para que não haja identificação.

Art. 7º. Os trabalhos deverão ser
enviados em 3 (três) vias, impressos em um só
lado do papel, e deverão conter, no cabeçalho
da primeira folha, nesta ordem: a categoria em
que concorrem, o pseudônimo do autor e o
título do trabalho.
Parágrafo único – Qualquer informação,
no trabalho ou em seu teor, ou em qualquer
parte do envelope externo, que identifique o
autor, tornará o trabalho, automaticamente,
desclassificado.

Art. 8º. Juntamente com o(s)
trabalho(s), deverá ser enviado um envelope
lacrado, identificado externamente apenas com
o pseudônimo do autor e o nome das obras
com as quais concorre, e dentro do qual
deverão estar:
a) O nome completo do autor e o seu
pseudônimo;
b) As categorias e os nomes dos
trabalhos com os quais concorre;
c) O endereço convencional completo
do autor e o número de ao menos um telefone
para contato;
d) Endereço eletrônico (e-mail) para
contato, se possível, podendo ser de uma
pessoa conhecida;
e) Cópia legível do documento de
identidade do autor;
f) Comprovante de depósito da taxa de
inscrição.

120

Parágrafo único – Será automa-
ticamente desclassificado o concorrente que
usar o mesmo pseudônimo com que concorreu
na versão 2009 deste concurso.

Art. 9º. A taxa de inscrição é de R$10,00
(dez reais) por trabalho inscrito.
§ 1º. – Cada autor poderá concorrer
com até 3 (três) trabalhos por categoria.
§ 2º. – O depósito deverá ser feito na
conta corrente n. 11229-3 da agência n. 1429
do Banco Itaú S.A, em favor da Academia de
Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette,
CNPJ n. 73.716.680/0001-18.
§ 3º. – As inscrições que partirem de
fora do território brasileiro ficarão isentas do
pagamento da taxa de inscrição que, sendo
simbólica, ocasionará mais ônus com o envio
do dinheiro do que com a própria taxa de
inscrição, ficando substituída pelas majoradas
despesas de postagens internacionais.

DO JULGAMENTO
Art. 10. O julgamento dos trabalhos
será feito por uma junta de 3 (três) julgadores
para cada categoria.
Parágrafo único – Os nomes dos 12
(doze) julgadores, de ilibada reputação e de
reconhecida capacidade lingüística e literária,
serão indicados pela Comissão Organizadora e
aprovados pela Assembleia Geral Ordinária da
ACLCL.
Art. 11. O julgador atribuirá a cada
trabalho, individualmente, nota de 5 (cinco) a
10 (dez), admitidas três casas decimais.
Art. 12. Não será admitido empate em
uma mesma categoria, nas 5 (cinco) primeiras
colocações. Havendo notas coincidentes, o
desempate será feito pelo critério idade, saindo
vencedor o concorrente mais novo, com o
objetivo de incentivo.

DA DIVULGAÇÃO DO RESULTADO
Art. 13. O resultado estará disponível
no site da ACLCL (www.aclcl.org.br) a partir do
dia 30.10.2010 (trinta de outubro de dois mil e
dez).
Parágrafo único – A ACLCL enviará
comunicado aos classificados até o 5º. (quinto)
lugar em cada categoria.

DA PREMIAÇÃO
Art. 14. Serão concedidos, aos autores
dos trabalhos que obtiverem as 5 (cinco)
primeiras colocações em cada categoria, os
seguintes prêmios:
1º. lugar – troféu, certificado e publicação, sem
ônus para o autor, em antologia;
2º. e 3º. lugares – medalha, certificado e
publicação, sem ônus para o autor, em
antologia;
4º e 5º. lugares – certificado.
Parágrafo único – As publicações em
antologia dependerão de autorização prévia,
por escrito, do autor, que, autorizando,
receberá 1 (um) exemplar da publicação.
Art. 15. Independente da classificação
anterior, a mesma premiação será concedida,
sob as mesmas condições, como prêmio
especial, aos trabalhos que versarem sobre a
cidade de Conselheiro Lafaiete.
Art. 16. Os originais não serão
devolvidos sob nenhuma hipótese e, após
divulgados os resultados, serão incinerados.
Art. 17. A solenidade de premiação será
realizada na festividade de fim de ano da
ACLCL, no Município de Conselheiro Lafaiete,
em data, local e horário a serem divulgados
juntamente com o resultado do concurso.
Parágrafo único – Caso não possa
comparecer à solenidade de premiação, é
facultado ao ganhador fazer-se representar.

DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 18. A ACLCL não remeterá os
prêmios, por qualquer meio, aos ganhadores.
Parágrafo único – Os prêmios dos que
não comparecerem e não se fizerem
representar, ficarão à disposição na sede da
ACLCL, mediante contato prévio, até 90
(noventa) dias após a solenidade de premiação,
quando serão inutilizados.
Art. 19. Os inscritos, pelo
simples ato de inscrição, declaram concordar
com todas as disposições do presente edital.
Parágrafo único – O não cumprimento,
por qualquer inscrito, das disposições deste

121
edital,tornará a inscrição sem efeito.
Art. 20. Os casos omissos serão
resolvidos pela Comissão Organizadora, cuja
decisão será irrecorrível, respeitadas as leis
maiores.

Conselheiro Lafaiete, 29 de maio de 2010.
Douglas de Carvalho Henriques (Presidente)
Academia de Ciências e Letras de Conselheiro
Lafayette – Caixa Postal 111 – Conselheiro
Lafaiete – MG – CEP.: 36.400-000 –
[email protected]

Concurso Nacional Intersedes

Tema: "Imagem" - apenas uma trova
por concorrente
Sistema de Envelopes
Prazo máximo (prorrogado): as trovas
precisam chegar até o dia 30 de setembro.

Endereço para Remessa:
Concurso Intersedes 2010
A/C de Elisabeth Souza Cruz
Rua Santa Marta, 70
Nova Friburgo / RJ
CEP: 28 633-080

V Concurso Literário “Cidade de
Maringá”

Prazo: 15 de outubro de 2010.

Promoção: Academia de Letras de Maringá
Apoio: União Brasileira de Trovadores

Modalidades:
1. TROVA (lírica ou filosófica)
2. SONETO (decassílabo)
3. POEMA LIVRE (máximo 30 linhas)
4. CRÔNICA (máximo 30 linhas)

Tema (único) para todas as modalidades:
CELEIRO
(Não há necessidade de usar a palavra
“Celeiro”)

Endereço:
Academia de Letras de Maringá
Caixa Postal 982
Maringá – PR
CEP: 87001-970

Normas:
1- Máximo 03 (três) trabalhos em cada
modalidade.
2- Trova: Sistema de envelopes.
3- Demais modalidades: Papel A-4, em
quatro vias, Times New Roman, corpo 12,
usando pseudônimo. Anexar envelope menor
(fechado) indicando externamente a
modalidade, título e pseudônimo, e,
internamente, identificação do concorrente:
nome, endereço completo, telefone, assinatura
e e-mail. Todos os textos devem ser inéditos e
não poderão ser divulgados por quaisquer
meios, total ou parcialmente, até a data da
publicação do resultado da seleção.
4- Os resultados serão divulgados, a
partir do dia 15 de dezembro de 2010, no site
da ALM: www.academiadeletrasdemaringa.com.br.
5- Premiação: Troféu e diploma para 10
(dez) vencedores na modalidade Trova e 05
(cinco) vencedores em cada uma das demais
modalidades, em festa programada para junho
de 2011.
6- Os trabalhos premiados serão
publicados em livro a ser editado pela
Academia de Letras de Maringá.
7- Os autores dos trabalhos premiados
autorizam sua publicação pela Academia de
Letras de Maringá, sem ônus de nenhuma
espécie.
8- As decisões das comissões julgadoras
serão definitivas.
9- A participação no concurso significa
aceitação plena das normas aqui relacionadas.
10- Não poderão participar do concurso
os membros efetivos da Academia de Letras de
Maringá.

Academia de Letras de Maringá
Olga Agulhon (Presidente)

122

Concurso de Crônicas - Academia
Pedralva de Letras e Artes

PRAZO – 15 de outubro de 2010, valendo a
data da postagem.

TEMA – Raquel de Queiroz (Centenário
de Nascimento).
NÍVEL – Nacional.
Máximo – 02 trabalhos inéditos por
autor.
Premiação: 10 Vencedoras.
FORMA DE ENVIO – Papel A-4, em duas
vias, Times New Roman, corpo 14, com
pseudônimo. Junto, pequeno envelope, tendo
por fora, o título do trabalho, pseudônimo, e,
por dentro, o nome do autor, endereço, e-mail
(se tiver), assinatura.

Endereço:
Concurso de Crônicas – Academia Pedralva
Letras e Artes
A/C Sueli Petrucci.
Rua Benedito Queiroz, nº 20 – Bairro Turf-Club
Campos dos Goytacazes – RJ
CEP: 28.024-040.

USAR COMO REMETENTE:
Sueli Petrucci
Rua Benedito Queiroz, nº 20 – Bairro Turf-Club
Campos dos Goytacazes – RJ
CEP: 28.024-040.

OBS. Crônicas com 40 linhas, no
máximo.
Em caso de dúvidas, enviem correios
eletrônicos para [email protected] ou
[email protected] ou
[email protected] .

II Concurso de Trovas Poeta Antônio
Roberto Fernandes – Academia
Pedralva Letras e Artes

PRAZO – 30 de novembro de 2010, valendo a
data da postagem.

Trovas líricas e/ou filosóficas.

TEMA – NOEL ROSA (centenário de
nascimento).

NÍVEL – Nacional.

Máximo – 3 trovas inéditas por autor.

FORMA DE ENVIO – Sistema de envelopes.

Endereço:
II Concurso de Trovas Poeta Antônio Roberto
Fernandes.
A/C Roberto Pinheiro Acruche.
Caixa Postal 123.192
São Francisco de Itabapoana – RJ
CEP: 28.230-000.

USAR COMO REMETENTE:
Luiz Otávio. Caixa Postal 123.192
São Francisco de Itabapoana – RJ
CEP: 28.230-000

OBS. É obrigado constar o Tema.

Em caso de dúvidas, enviem correios
eletrônicos para
[email protected] ou
[email protected] ou
[email protected] .

3º Concurso Cidade de Gravatal de
Literatura (Conto e Poesia)

Prazo: até 30 de Novembro de 2010

A Prefeitura da cidade de Gravatal e a
Academia Gravatalense de Letras, visando
valorizar a atividade literária, promovem o 3º
CONCURSO CIDADE DE GRAVATAL DE

123
LITERATURA de acordo com o regulamento
abaixo:

REGULAMENTO

1. Os candidatos podem concorrer em
duas modalidades literárias: Conto e Poesia,
com até (3) três trabalhos por modalidade.
2. Os textos deverão ser originais, isto é,
nunca terem sido anteriormente publicados em
jornal, revista ou livro.
3. Os trabalhos deverão ser escritos em
português, com tema livre, datilografados ou
copiados em papel A 4, em uma só face do
papel, enviados em (4) quatro vias.
4. As poesias não têm limitação mínima
ou máxima de extensão. Os contos terão limite
máximo de (5) cinco páginas, em letra 12, fonte
Arial, espaço 1.5.
5. Cada texto deverá ser identificado
apenas pelo titulo e pelo pseudônimo, não
podendo constar, de nenhuma forma, algo que
identifique o nome do autor.
6. Os até (3) três textos de cada
categoria deverão estar contidos em um só
envelope, e com um mesmo pseudônimo. Este
envelope será acompanhado por um envelope
menor, lacrado, que terá na parte externa a
indicação da modalidade a que concorre, conto
ou poesia, titulo(s) do(s) trabalho(s) e o
pseudônimo do autor. No interior deste
envelope uma folha indicará: nome do
concorrente, pseudônimo, título(s) do(s)
trabalho(s), endereço completo, com telefone e
e-mail, se houver.
7. Caso o concorrente desejar participar
das duas modalidades – Conto e Poesia –
deverá enviar seus trabalhos em envelopes
distintos.
8. Serão premiados os três melhores
trabalhos de cada categoria. Recebendo os
vencedores diárias para um fim de semana,
com direito a um acompanhante, em hotel da
cidade de Gravatal, em data previamente
agendada. Farão juz, também a diploma
alusivo.
9. A Comissão Organizadora do
concurso poderá, a seu critério, editar ou não
uma coletânea com os trabalhos premiados.
Para tanto, os concorrentes, ao enviarem seus
textos, concordam em ceder seus direitos para
a referida edição.
10. Os trabalhos serão enviados,
diretamente ou pelo correio, até o dia 30 de
novembro de 2010 para:
SECRETÁRIA MUNICIPAL DE TURISMO DE
GRAVATAL,
SC-438, TREVO DAS TERMAS – Termas
CEP 88735-000
GRAVATAL – SANTA CATARINA

11. Informações adicionais poderão ser
prestadas pelo telefone (48) 3648 2376 ou pelo
e-mail: [email protected] .
GRAVATAL – Capital Catarinense das Águas
Minerais.

7
o
Concurso Rogério Salgado de Poesia

Prazo: até o dia 30 de novembro de 2010

Devido ao sucesso obtido com as
edições anteriores, a Promotora Cultural
Virgilene Araújo institui o 7o Concurso Rogério
Salgado de Poesia, com o objetivo de incentivar
a cultura, a poesia e a leitura de modo geral,
além de homenagear este poeta que
comemora, este ano, 35 anos de poesia.
Poderão participar poetas de todos os
estados do país.
Cada autor poderá inscrever até três
poemas, que deverão estar digitados ou
datilografados, de no máximo uma lauda (30
linhas, incluindo espaços de uma linha para
outra), e enviados em 03 vias cada um.
Os poemas não poderão ter
identificação de sua autoria, sendo que no
rodapé da página deverá constar apenas o
pseudônimo do autor.
Anexar à parte, envelope lacrado
contendo em seu interior o nome, endereço e
telefone e e-mail para contato (se tiver).
Por fora do envelope, constar o(s)
título(s) do(s) poema(s) e pseudônimo do
autor.
No ato da inscrição será cobrada uma

124
taxa de R$ 5,00 (cinco reais) para despesas de
manutenção do concurso, enviada em forma de
cheque nominal a Virgilene Ferreira de Araújo.
Caso ache mais prático enviar o valor em
espécie, será enviado recibo para o poeta
inscrito.

As inscrições deverão ser enviadas para
a
Caixa Postal 836
Belo Horizonte/MG
Cep: 30.161-970,

até o dia 30 de novembro de 2010, fazendo
valer a data da postagem.

Serão selecionados por um júri
composto de dois poetas, convidados pela
organização do concurso, além do poeta
homenageado, três primeiros lugares, que
receberão, além de certificados, um pacote
literário composto de excelentes livros e Cds,
como incentivo a uma maior incidência de
leitura. Caso os jurados achem necessário,
serão conferidas menções honrosas.
Maiores informações pelos telefones:
(31) 3464.8213, 8421.6827 e 8416.8175.
Obs: as inscrições enviadas que não
obedecerem o regulamento, serão
automaticamente desclassificadas.

CONCURSO PARA 2011

XXIV Jogos Florais de Ribeirão Preto e
XII Jogos Florais Estudantis de Ribeirão
Preto – 2011

Prazo: de 2 de janeiro a 15 de abril de 2011

Temas – Âmbito Nacional / Internacional:
VÍCIO (trovas líricas/filosóficas),
LOROTA (trovas humorísticas).

Temas – Âmbito Municipal (somente para
trovadores de Ribeirão Preto):
BRILHANTE (trovas líricas/filosóficas),
PROMOÇÃO (trovas humorísticas).

Temas – Âmbito Estudantil (para alunos de 5ª a
8ª e ensino médio de todas as redes de ensino
de Ribeirão Preto):
PERSONAGENS DO FOLCLORE NACIONAL
(trovas líricas/filosóficas),
SACI (trovas humorísticas).
- Não se aceitam variantes.
- 3 Trovas por concorrente
- Recepção das trovas: de 2 de janeiro a
15 de abril de 2011.
- Divulgação da listagem dos
vencedores: até 20 de maio de 2011.
- As festividades acontecerão durante as
atividades da Feira Nacional do Livro de
Ribeirão Preto e Aniversário da Cidade, na
semana de 19 de junho.

Premiação:
05 vencedores (troféu e diploma)
05 menções honrosas (medalha e
diploma)
05 menções especiais (medalha e
diploma)
- Os primeiros cinco vencedores em
cada tema do concurso nacional terão direito a
estada paga (pernoite e refeições) em hotel,
como convidados dos organizadores nos três
dias de festividades. Todos os concorrentes
estão convidados a participar das festividades.

- Apoio: Instituto do Livro e Faculdades
COC

mais dados poderão ser obtidos na próxima revista.

125


www.umcoracaoqueama.blogspot.com

Blog da poetisa Silviah Carvalho (veja biografia nesta revista), composto de poemas de sua
autoria e de diversos outros poetas.


http://www.vaniadiniz.pro.br/

Site da escritora Imortal, Dra. Vania Diniz, ph.I., presidente estadual pelo Distrito Federal
da Academia de Letras do Brasil
Lançamento de livros, artigos, crônicas, prosas, sonetos de sua autoria e de outros autores,
escritores consagrados, autores convidados, notícias da Academia de Letras do Brasil, etc.


www.portrasdasletras.com.br

Site do escritor, prof. Hélio Consolaro.
Este sítio é destinado aos estudantes do ensino médio e vestibulandos, atende também,
em parte, às expectativas dos estudiosos de língua portuguesa.
Sua existência na rede é resultado de esforços da parceiria entre o provedor Folhanet
(Araçatuba-SP- Brasil) e o professor, escritor e jornalista Hélio Consolaro. O primeiro hospeda o
sítio, o segundo coordena o seu conteúdo.
Ele é totalmente mantido pela iniciativa privada e não cobra de seus usuários por seu
conteúdo.
A reprodução de seu conteúdo é livre, desde que o usuário cite o autor do texto e a fonte,
no caso, www.portrasdasletras.com.br
O site possui artigos/ensaios, como corrigir redação, curiosidades, dicionários, entrevistas,
resumos de livros, orientações, vestibulares, etc.

126

http://www.jornaldepoesia.jor.br/

Site do poeta Soares Feitosa. Composto de milhares de poetas e poesias, artigos,
biografias, ótima fonte de pesquisa.

www2.academia.org.br
Academia Brasileira de Letras é uma instituição que foi fundada em 20 de julho de 1897.
Composta por 40 membros efetivos e perpétuos, eleitos em votação secreta e 20 sócios
correspondentes estrangeiros, tem por fim o cultivo da língua e a literatura nacional.
No site pode-se encontrar a biografia e bibliografia de todos os seus membros desde a sua
fundação, além de textos selecionados de cada um deles.


Observação:
Algumas imagens utilizadas na revista foram obtidas na internet, e não pôde ser
dado os devidos créditos aos autores, por não ter sido possível obter os nomes dos
mesmos.
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