A espiritualidade da mesa.pptx entrando pela porta da cozinha

richardsias5 0 views 25 slides Oct 08, 2025
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entrando na biblia pela porta da cozinha


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Hermenêutica Prof. Marcio Cappelli e -mail: [email protected]

A espiritualidade da mesa Um exercício hermenêutico sobre a comensalidade no evangelho de Lucas

Introdução Leitura infinita da Bíblia: Os comentadores judaicos do AT diziam que para cada passagem da Torá existiam 49 ( = 7x7) possibilidades de interpretação. Sete é o símbolo do infinito. A palavra bíblica é um espelho, janela, fonte, lâmpada, etc. Gregório Magno: “A escritura cresce com quem a lê.” Provérbio inglês: “ Clarity , charity ” – A claridade atinge-se percorrendo a via do amor. A arte de ler não é senão uma arte de amar.

Leitura dev-orante da Bíblia Ação Contemplação Oração Partilha Meditação = ruminar Leitura “Aproximei-me do anjo e pedi-lhe que me desse o livro. Ele disse-me: Toma-o e devora-o.” (Ap. 10,9)

A reconciliação com a espiritualidade Divórcio entre teologia e espiritualidade. Até hoje em alguns espaços a teologia acadêmica não se vê devedora nem vinculada a certo tipo de obras qualificadas, dentro do conjunto da vida eclesial, como “espirituais” ou “piedosas”, onde se inserem os escritos dos místicos. Para Barcellos uma excessiva intelectualização da teologia reforçada com a escolástica e com o Iluminismo provoca um divórcio entre ciência teológica e a experiência de fé. BARCELLOS, J. C. Literatura e Espiritualidade: Uma leitura de Jeunes Années de Julien Green . Bauru: EDUSC, 2001. p. 26-27.

“ O cristão do futuro, ou será um místico ou será tudo menos cristão.” K. Rahner É importante repatriar o mistério. Re-velar é velar, dizer é desdizer.

A reconciliação com a matéria Deus se fez carne ! Espiritualidade dos sentidos. “O corpo é a gramática de Deus”. J. T. Mendonça Somos poemas de Deus!

O cotidiano invisível Michel de Certeau dedicou uma grande atenção ao cotidiano como lugar onde a história se faz. No cotidiano se percebem as formas referenciais para o entendimento do ser humano. O cotidiano no seu entender é o que nos revela mais intimamente. É isso que a muitos historiadores não interessa que não devemos esquecer: o invisível do cotidiano . Imanência, transcendência e transparência (L. Boff)

Entrando na Bíblia pela porta da cozinha Se atentarmos para o extenso volume das prescrições culinárias presentes na Bíblia não parecerá bizarro falar nela como como veículo de uma teologia alimentar. Dt 14.4-8; Lv 7.26-27; 11.9-12; 11.20-23; 17.10-14; Ex 12.8-9; Is . 66.17; Ez 4.14.

são estes os animais que vocês podem comer: o boi, a ovelha, o bode, o veado, a gazela, a corça, o bode montês, o antílope, o bode selvagem e a ovelha montês. Vocês poderão comer qualquer animal que tenha o casco fendido e dividido em duas unhas e que rumine. Contudo, dos que ruminam ou têm o casco fendido, vocês não poderão comer o camelo, o coelho e o rato silvestre. Embora ruminem, não têm casco fendido; são impuros para vocês. O porco também é impuro; embora tenha casco fendido, não rumina. Vocês não poderão comer a carne deles nem tocar em seus cadáveres. De todas as criaturas que vivem nas águas vocês poderão comer as que possuem barbatanas e escamas. Mas não poderão comer nenhuma criatura que não tiver barbatanas nem escamas; é impura para vocês. Vocês poderão comer qualquer ave pura. Mas estas vocês não poderão comer: a águia, o urubu, a águia-marinha , o milhafre, qualquer espécie de falcão, qualquer espécie de corvo, a coruja-de-chifre, a coruja-de-orelha-pequena, a coruja-orelhuda, qualquer espécie de gavião, o mocho, o corujão, a coruja-branca, a coruja-do-deserto, o abutre, a coruja-pescadora, a cegonha, qualquer tipo de garça, a poupa e o morcego. Todas as pequenas criaturas que enxameiam e têm asas são impuras para vocês; não as comam. Mas qualquer criatura que têm asas, sendo pura, vocês poderão comer. Não comam nada que encontrarem morto. Vocês poderão dá-lo a um estrangeiro residente de qualquer cidade de vocês, e ele poderá comê-lo, ou vocês poderão vendê-lo a outros estrangeiros. Mas vocês são povo consagrado ao Senhor, ao seu Deus. Não cozinhem o cabrito no leite da própria mãe. Deuteronômio 14:4-21

O primeiro mandamento divino na narrativa de Gênesis é também um mandamento alimentar: “Não comerás da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comeres terás de morrer.” ( Gn 2.16-17) O êxodo era celebrado com uma refeição. ( Ex 12) A terra prometida é definida em termos de recursos alimentares – Terra onde corre leite e mel ( Dt 6.3) O banquete se torna na literatura profética o símbolo dos tempos messiânicos. ( Is 25. 6,8 e 55.1)

Fariseus: movimento religioso ou grêmio gastronômico Um dos grupos do judaísmo mais citados pelos evangelhos é o grupo dos fariseus. O estudioso Jacob Neusner lembra que eles concediam uma grande importância as refeições. 67% do seu código legal era composto por questões ligadas à comida. A cozinha e a mesa eram entendidas como lugares preferenciais para estender pureza ritual fora do templo.

A preocupação com a pureza não era simplesmente higiênica, mas demarcava uma fronteira religiosa e moral entre a ordem e a desordem e integrava todo o sistema religioso tutelado pelo templo e pelo paradigma sacerdotal.

Jesus foi crucificado pela forma como comia? As imagens que triunfaram na comunicação sobre Jesus foram: O Jesus dos milagres, o contador de parábolas, o Mestre que transmitia a sabedoria do Reino, o Profeta, o Messias de Deus. Preocupamo-nos mais com em afirmar sua singularidade a partir dos seus gestos extraordinários. O material narrativo dos relatos evangélicos, a quele mais ligado a sua vida ordinária, ocupou um lugar de pouco destaque do ponto de vista teológico. Por isso, por alguma razão aquilo de que falamos quando falamos de Jesus não é tanto de suas refeições, por exemplo.

Destaca-se que, para além da Eucaristia, os evangelhos estão costurados pela memória de outras refeições. Há particularmente no relato de Lucas uma reconhecida insistência numa série de passagens sobre as refeições de Jesus e seu conflito com os fariseus. Lc 5.29-32; 7.36-50; 11.37-44; 14.1-6 (seguido de duas parábolas sobre banquetes) 24.28-31 (já ressurreto)

Segundo Robert Karris este foi provavelmente um dos aspectos mais significativos do ministério de Jesus para os seus seguidores e ao mesmo tempo mais ofensivo para os seus críticos. Esses últimos se sentiam desconfortáveis com o modo de Jesus de se portar à mesa e diziam: é um “glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores”! Por isso, Karris defende que Jesus, foi também crucificado pela forma como comia. ( KARRIS, R. Luke, artist and theologian : Luke passion account as literature . New York: Paulist Press, 1985. p. 47-70)

Uma comensal incoveniente Uma particularidade de Lucas é o fato de Jesus por três vezes ter sido convidado pelos fariseus para uma refeição. (7.36; 11.37; 14;1) Passagem 1 - Jesus permite que uma mulher pecadora o toque, contaminando de impureza aquela situação. Passagem 2 - Jesus profere um discurso violento contra a hipocrisia ritualista dos que cuidam obsessivamente do exterior enquanto o interior está cheio de perversidade – discurso que desencadeia uma perseguição contra ele. Passagem 3 - Jesus cura um hidrópico em dia de sábado e critica o protocolo da mesa – a seleção dos convidados e as suas posições)

Os banquetes com os fariseus, no caminho de Jesus, representam uma experiência de confronto. Ele contraria a lógica dos fariseus. O problema não era tanto que Jesus comesse e bebesse, pois o ascetismo de João Batista também foi criticado. O problema para os fariseus era: Jesus comia com de qualquer maneira e com toda espécie de pessoas fazendo da mesa um encontro para além das fronteiras impostas pelas regras.

Comer com todos Aceitando comer com pecadores, Jesus está infringindo um poderoso sistema de pureza, mas também dando o tom do seu ministério. Na parábola que conta sobre o banquete messiânico Jesus reivindica uma vivência religiosa que promova o retorno dos excluídos. Isso pode ser visto com mais clareza na primeira refeição em Lucas que ele faz com os pecadores na casa do publicano Levi. Após Levi ter aceitado o chamado para se tornar um discípulo oferece um banquete. Os fariseus questionam Jesus sobre a mistura com aqueles “impuros”: Por que comeis e bebeis com os publicanos e pecadores? ( Lc 5.30) A resposta que Jesus dá é uma chave para entendermos todo o seu ministério: “Os são não necessitam de médicos e sim os doentes.” ( Lc 5.31)

Nesta afirmação Jesus se compara ao médico que se expõe ao contágio para realizar o propósito irrecusável de atender o doente. Para os escribas e fariseus Jesus levava longe demais a sua convivência ao sentar-se à mesa com pecadores, já que a comunidade da mesa une os comensais entre si. Mas, essa extravagância de Jesus constituía a oportunidade para uma radical transformação que inaugurava no tempo daquelas vidas um novo tempo,

Essa ação de Jesus clarificava o sentido da sua missão: anunciar e concretizar o perdão de Deus. Na singular hermenêutica daquele camponês do mediterrâneo o Reino de Deus era prefigurado naquele espaço ao redor da mesa. A mesa é uma espécie de fronteira simbólica que testemunha para além das diferenças uma possibilidade radical de comunhão.

Nos preocupamos muitas vezes em ler os evangelhos somente pelo viés do extraordinário e do maravilhoso e esquecemos do ordinário (invisível) que tem muito revelar . Assim, deslocamo-nos de uma espiritualidade que se funda apenas na experiência do extraordinário para uma complexa mística do cotidiano onde a mesa ocupa um lugar importante.

A leitura do evangelho de Lucas, sobretudo a partir das refeições de Jesus, pretende mudar nossa geografia existencial. Agora sabemos que somos chamados a viver pela gratuidade e na comunhão, sem preconceitos. Com quem temos partilhado a mesa?

A mesa é o lugar dos gostos, dos cheiros, dos afetos, das histórias, das transformações e esperanças. A mesa é o lugar da desehierarquização . Lugar de compaixão e misericórdia. Lugar da hospitalidade. Do encontro com Deus.

“Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo.” ( Ap 3.20) Talvez não consigamos mudar tanta coisa, mas podemos começar arrumando a nossa mesa!