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faziam-se, eles mesmos, servos daqueles que recebiam. À atitude do que receber, o convidado
respondia, na oração de ação de graças no fim da refeição, pedindo a bênção para este e para a
sua família»
6
.
b) Tradição de ungir (os pés):
Tendo em conta as “cinco leis da tenda”, o expectável é que Simão, anfitrião da
refeição para a qual Jesus fora convidado, lhe tivesse oferecido água para lavar os pés e ele
mesmo se tivesse prestado a esse serviço de “bem receber” (Lc 7, 44). Todavia, não tendo isto
acontecido, ele e os comensais ficam mais preocupados pelo contacto que Jesus permite à
mulher pecadora, caindo em descrédito diante das categorias de “profeta” ou “puro” (cf. Lc 7,
39).
Aquela mulher consegue surpreender, age mais além do que seria expectável: «com
um vaso de perfume, chega-se ao hóspede de honra e, ao invés de ungir a cabeça dele em
sinal de veneração e respeito, como era costume em tais circunstâncias, dobra-se a seus pés,
unge-os, beija-os e os enxuga com seus cabelos. É um comportamento não só impróprio mas
equívoco»
7
. Sem desprezar os vastos significados que a unção acarreta
8
, «a unção dos pés,
nesta época, “encontrava-se dentro do esmero de uma esposa pelo seu marido ou de uma filha
pelo seu pai”, não havendo modo melhor de uma mulher poder demonstrar o seu amor erótico
ao marido»
9
.
6
Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Bíblica, 2017), 33.
7
Rinaldo Fabris, “O Evangelho de Lucas”, in Rinaldo Fabris e Bruno Maggioni, Os Evangelhos, Vol. II (São
Paulo: Ed. Loyola, 1992), 88.
8
O óleo como símbolo da prosperidade e fertilidade (Dt 33,24; Sl 133,2; Jb 29,6; Dt 33,24), das bênçãos de
Deus (Dt 7,13; 2 Rs 20,13), iluminação da habitação (Mt 25, 1-13), higiene-beleza-alegria (Sl 133,2; Sl 141,5; 2
Sm 14,2; Mt 6,17), respeito e tratamento prestado ao hóspede (Sl 23,5; Lc 7, 36-50; Jo 11,2; Jo 12,3), amor
conjugal (Ct1,12; Jo 12,1-8), alívio da dor física e espiritual (Sl 109,18; Mc 6,13; Tg 5,14), é um dos elementos
oferecidos nos sacrifícios no Templo (Gn 35, 14; Ex 29,2.7.23; Lv 2,4-10), mantém a lâmpada sempre acesa
diante do Senhor (Lv 24,2-3; Nm 4,16; Sir 38,11), constituinte dos perfumes, utilizado para massajar os atletas,
guerreiros ou os que tinham trabalhos pesados, símbolo escolha do rei por Deus que lhe dá autoridade, poder e
glória (1 Sm 16,1-3; 2 Sm 2,3-4), sinal de consagração do profano a Deus e dos sacerdotes (Ex 29,4-7; Ex 40,12-
15; Gn 28,18.22; Gn 31,13), Jesus Cristo é o Messias, isto é, o ungido de Deus (Mt 16,16; Mc 8,29; Lc 9,20; Jo
6,68).
9
Susana Vilas Boas, O amor que salva (Fátima: Difusora Bíblica, 2017), 66.
Universidade Católica Portuguesa, Faculdade de
Teologia (Centro Regional de Braga)
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Seminário sobre a oração, no evangelho de Lucas
“A (ad)oração em Lucas” 7, 36
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50, por João Miguel Pereira
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[email protected]