Em 1942, Radcliffe-Brown interrompe suas atividades na Inglaterra para vir ao Brasil como professor
visitante da Universidade de São Paulo (na Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo). Tratava-
se de uma missão empreendida sob os auspícios do Conselho Britânico para manter uma ligação cultural
entre a Grã-Bretanha e a América do Sul. Essa missão por pouco não se teria realizado, pois o comboio
em que Radcliffe-Brown embarcara foi atacado por forças inimigas, tendo de voltar à Inglaterra pouco
depois de sair (MELATTI, 1978).
Em 1944, Radcliffe-Brown, à época residente em São Paulo, concedeu uma entrevista ao jornal Diário da
Noite (27 de maio de 1944), opinando no sentido de retalhamento da Alemanha, e Antonio Candido, que
escrevia regularmente para a Folha da Manhã, viu-se compelido a publicar uma resposta, dedicando uma
coluna a contradizer as opiniões do mestre inglês. Nesse período, Radcliffe-Brown tinha 63 anos e
Antonio Candido 26. A função de Radcliffe-Brown no Brasil era de diretor da Cultura Inglesa, mas também
dava aulas na Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, na Divisão de Estudos Pós-graduados,
onde era assistido por Antônio Rubbo-Muller (em 1939, Radcliffe-Brown recebeu Rubbo-Muller na
Universidade de Oxford para fazer seu doutorado, solicitando-lhe que redigisse um trabalho sobre os
índios da América do Sul). Antonio Candido era assistente de Ciências Sociais na USP, apesar de ter
feito sua Livre-Docência em Literatura Brasileira. O jovem conheceu pessoalmente o mestre quando quis
ter acesso à biblioteca da Cultura Inglesa, mas apesar de o ter vislumbrado várias vezes passando pelas
ruas da cidade, Antonio Candido não voltou a encontrar-se com Radcliffe-Brown. Segundo Thomaz e
Cabral (2011), na tese de doutoramento de Antonio Candido, Os parceiros do Rio Bonito, a inspiração do
estrutural-funcionalismo de Radcliffe-Brown é patente. Tanto a entrevista com Radcliffe-Brown como a de
Antonio Candido encontram-se no artigo Radcliffe-Brown v. Antonio Candido: um debate inacabado,
disponível nesse blog.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ERIKSEM, Thomas Hylland Eriksen; NIELSEN, Finn Nielsen. História da Antropologia. 4 ed. Petrópoles:
Vozes, 2010.
KUPER, Adam. Radcliffe-Brown. In: Antropólogos e Antropologia. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978.
LAPLANTINE, F. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1988.
MELATTI, J. C. (Org.). Radcliffe-Brown: Antropologia. São Paulo: Ática, 1978.
RADCLIFFE-BROWN, Alfred R. Estrutura e Função na Sociedade Primitiva. Rio de Janeiro: Vozes, 1973.
THOMAZ, O. R.; CABRAL, J. P. Radcliffe-Brown v. Antonio Candido: um debate inacabado. Mana, Rio de
janeiro, v. 17, n. 1, p. 187-204, 2011