arquitetos em maringá
o desenho
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círculos do poder, verdadeiros quistos,
anacronismos ambulantes, que não sabem senão se
curvar diante do imediatismo do interesse privado,
“nadando no caldo grosso da ganância e da
especulação”. Tudo isso só acontece quando se
coloca em primeiro plano o prestígio pessoal e os
interesses particulares, ao invés dos compromissos
éticos, estéticos e socioculturais inerentes ao
nosso ofício.
Para alguns, os queimadores de incenso
profissional, esses maria-vai-com-as-outras da
inteligência, esses bajuladores movidos pelo desejo
inconfessável de controle do mercado e do poder de
fogo da mídia, só o sucesso interessa e causa
alívio.
Mas, para muitos outros, desprovidos de
oportunidades, só existe a tensão sem descarga e a
irritação que não produz nenhuma crença.
Sobretudo aqui, num país como o nosso, onde
proliferam as vaidades mais ocas e um
profissionalismo pedante tão ao gosto das mais
iluminadas estrelas. Se o objetivo é a discussão, o
sentido da descoberta, a ilustração do indivíduo,
nossos encontros devem possuir algo de mais duro
e positivo. Devem materializar a grandeza da
expressão arquitetônica, como também, um
propósito político, símbolos capazes de criar, em
nossa confusa e atormentada realidade, o sentido
da participação, da dignidade profissional e o
compromisso em se reduzir a distância entre o
resultado do trabalho dos arquitetos e os anseios e
necessidades coletivas dos brasileiros.
O processo de crescimento observado em vários
aspectos da vida metropolitana, o caos urbano que
toma conta do planeta, a explosão demográfica, a
industrialização, os irreversíveis processos
migratórios, o desenvolvimento dos meios de
comunicação, mostram que devemos redobrar
nossas atenções às influências que possamos
exercer sobre os valores da existência e da
sobrevivência sobre a Terra.
A paisagem e os homens exibem cicatrizes
irreparáveis. Tudo conspira a favor do deserto.
Perderemos os nossos rios, montanhas, animais,
plantas e o próprio ar que respiramos se não
encontrarmos o novo clima de convivência entre
os homens, clima capaz de sustentar todas as
modalidades de respiração. O processo de
isolamento nas grandes metrópoles e a acentuada
solidão das pessoas são decorrência da
decomposição do social, da exacerbação do
privatismo e da incontida angústia infantil de
possuir só para si, sem admitir a comunidade de
participação, o valor social dos meios e do próprio
indivíduo.
Assim falava Flávio Motta.
Aguçou-se a tendência, tantas vezes denunciada,
da homogeneização da cultura, segundo os padrões
e a lógica hegemônica dos meios de comunicação de
massa. O objetivo é incorporar o Brasil inteiro, com
sua diversidade e antagonismos, a um padrão
cultural, de forma unilateral e autoritária. A
indústria cultural, nesse sentido, converte-se em
instituição disciplinadora que age enrijecendo a
produção cultural.
Uma das consequências disso consiste na
despolitização da sociedade, como verifica-se no
Brasil. Não obstante, os graves acontecimentos e
conflitos sociais, políticos e econômicos, as
manifestações e os movimentos surgem meio sem
rumo, falta de maior suporte coletivo e ideológico.
Nós, os arquitetos, os desenhadores, devemos
buscar outros caminhos que tornem menos árdua a
existência.