Higienização das Mãos em Enfermagem Docente: Millena Tauane Gabrecht Ottenio Disciplina: Semiologia e Semiotécnica Turma: 4º Período de Enfermagem
Agenda da Aula 1 Perspectiva Histórica Ignaz Semmelweis e Louis Pasteur: os pioneiros do controle de infecções 2 Microbiologia da Pele Estrutura, microbiota transitória e residente 3 IRAS Definição e impacto na saúde pública 4 Técnicas de Higienização Métodos, procedimentos e momentos indicados pela OMS 5 Atividades Práticas Análise de antissépticos e debate sobre estudos científicos
Objetivos da Aula Ao final desta aula, você será capaz de: Compreender o impacto das IRAS Entender as Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde e o papel fundamental da higienização das mãos na prevenção. Dominar as técnicas de higienização Executar corretamente as técnicas (simples, antisséptica, fricção com álcool e cirúrgica) conforme protocolos nacionais e internacionais. Identificar os 5 Momentos Reconhecer os 5 Momentos para Higienização das Mãos definidos pela OMS e aplicá-los em cenários clínicos. Analisar aspectos microbiológicos Compreender a microbiologia da pele e sua relação com a transmissão de patógenos no ambiente hospitalar.
Perspectiva Histórica O Início da Prevenção de Infecções Antes das descobertas científicas, as infecções hospitalares eram consideradas inevitáveis, com taxas de mortalidade extremamente altas, especialmente em procedimentos cirúrgicos e partos. Os primeiros estudos sistemáticos sobre higiene das mãos revolucionaram a medicina e salvaram inúmeras vidas.
Ignaz Semmelweis (1846) O Pai do Controle de Infecções • Problema identificado: Febre puerperal matava 12,2% das parturientes no Hospital Geral de Viena • Hipótese: Médicos realizavam autópsias e depois examinavam parturientes sem lavar as mãos, transmitindo " partículas cadavéricas" • Intervenção: Imposição da lavagem das mãos com solução clorada (antisséptico primitivo) • Resultado: Queda da mortalidade para 1,2% em apenas um mês Lição: Primeira evidência científica de que higiene das mãos previne infecções
Louis Pasteur (1850) A Teoria Microbiana das Doenças Antes de Pasteur, predominava a teoria da geração espontânea (crença de que microrganismos surgiam espontaneamente da matéria orgânica). Pasteur foi o primeiro a provar experimentalmente que: 1 Microrganismos são seres vivos que se reproduzem e causam doenças 2 Estão presentes no ar, superfícies e mãos 3 Forneceu base científica para as observações de Semmelweis Fundamento para a Medicina Moderna: Teoria microbiana das doenças estabeleceu que infecções são causadas por bactérias, vírus e fungos
Microbiologia da Pele A Pele como Barreira e Habitat Microbiano A pele humana é um órgão dinâmico que funciona como: Barreira física contra patógenos externos Habitat para diversos microrganismos Sistema de regulação homeostática Em 1938, Price dividiu as bactérias das mãos em duas categorias principais: transitória e residente .
Microbiota Transitória Características Coloniza a camada superficial da pele Sobrevive por curto período de tempo É removível pela higienização simples com água e sabonete Composição Microrganismos não-patogênicos ou potencialmente patogênicos Bactérias, fungos e vírus que raramente se multiplicam na pele Podem provocar infecções relacionadas à assistência à saúde Transmissão Contato direto com paciente colonizado ou infectado Ambiente e superfícies próximas ao paciente Equipamentos e produtos contaminados
Microbiota Residente Características Está aderida às camadas mais profundas da pele Mais resistente à remoção apenas com água e sabonete Composta por bactérias menos prováveis de causar infecções por contato Colonização Profissionais de saúde podem ser persistentemente colonizados Patógenos como Staphylococcus aureus e bacilos Gram- negativos Possível causa de IRAS quando há quebra de barreiras Transmissão Direta: pele a pele Indireta: superfícies e ambientes compartilhados Requer técnicas específicas para redução significativa
Definição de IRAS As Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) são eventos adversos persistentes nos serviços de saúde, levando ao aumento considerável da morbidade, mortalidade e do tempo de internação (ANVISA, 2021) IRAS são infecções adquiridas durante o processo de atendimento em hospitais, clínicas ou outros serviços de saúde , que: Não estavam presentes no momento da admissão Não estavam em período de incubação quando o paciente foi internado Podem se manifestar durante a internação ou após a alta Incluem infecções ocupacionais em profissionais de saúde
IRAS e Higiene das Mãos 1 As IRAS afetam centenas de milhões de pessoas no mundo e constituem um grande problema global para a segurança do paciente. 2 A higiene das mãos é a principal medida necessária para reduzir as IRAS: PREVENÇÃO E CONTROLE. 3 Embora a ação da higiene das mãos seja simples, a falta de adesão entre os profissionais de saúde continua sendo um problema em todo o mundo. "5-15% dos pacientes hospitalizados no mundo desenvolvem IRAS."
IRAS: Cenário Global 5-10% Países desenvolvidos Taxa de pacientes que desenvolvem IRAS em países como EUA e Canadá. 10-25% Países em desenvolvimento Taxa de pacientes que desenvolvem IRAS em países como Brasil e Índia, devido à falta de recursos e superlotação. 40-70% Redução possível Percentual de redução de IRAS alcançável com campanhas efetivas de higiene das mãos, segundo a OMS. Fonte: Relatório da OMS (2023): "Global report on infection prevention and control"
IRAS: Dados do Brasil 25% Mortes em UTIs Percentual de mortes em UTIs brasileiras ligadas a IRAS, segundo a ANVISA (2022). 18-30% Pacientes de UTI Percentual de pacientes de UTI que desenvolvem IRAS, segundo estudo do PROADI-SUS (2023) em 200 hospitais. R$28mil Custo médio Custo médio adicional por paciente com IRAS em cirurgias, segundo a ANVISA (2021). "Aumento de 10-20 dias na hospitalização e gastos de R$ 15-50 mil por paciente."
Iniciativas de Prevenção OMS: "Clean Care is Safer Care" Em 2004, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, com foco em reduzir danos evitáveis na assistência à saúde. A higienização das mãos foi eleita uma das metas internacionais prioritárias. Estima-se que 70% das IRAS poderiam ser evitadas com higiene adequada das mãos (OMS, 2009).
Legislação Brasileira: MS nº 2.616/1998 Portaria do Ministério da Saúde A Portaria nº 2.616 de 12 de maio de 1998 regulamenta a obrigatoriedade de programas de controle de infecções em hospitais, com ênfase em: Prevenção de IRAS por meio de medidas como higienização das mãos Educação continuada para profissionais de saúde Vigilância epidemiológica das infecções hospitalares Impacto Prático Hospitais fiscalizados quanto à existência de protocolos de higiene das mãos Exigência de comissões de controle de infecção hospitalar (CCIH) Padronização de indicadores e notificações
Legislação Brasileira: A Resolução da Diretoria Colegiada RDC nº 50/2002 Resolução da Diretoria Colegiada da ANVISA A RDC nº 50 de 21 de fevereiro de 2002 dispõe sobre Normas e Projetos Físicos de Estabelecimentos Assistenciais de Saúde, definindo: 1 Necessidade de lavatórios/pias para a higienização das mãos 2 Localização estratégica dos pontos de higienização 3 Especificações técnicas para instalações Características Obrigatórias Torneiras sem contato (acionamento por pedal ou sensor) Dispensers de sabonete líquido e álcool gel Distribuição adequada de papel-toalha
Dia Mundial de Higienização das Mãos 5 de maio: Dia Mundial de Higienização das Mãos Data estabelecida pela OMS para conscientização global sobre a importância da higienização das mãos na prevenção de infecções hospitalares. No Brasil, diversas instituições realizam campanhas e ações educativas nesta data.
Higienização das Mãos: Conceito Segundo o Ministério da Saúde (2016), recentemente o termo "lavagem das mãos" foi substituído por "higienização das mãos" devido à maior abrangência deste procedimento. O termo engloba desde a higienização simples até a antissepsia cirúrgica das mãos. Para que higienizar as mãos? Remoção de sujeira, suor, oleosidade e células descamativas Eliminação de microrganismos transitórios Interrupção da transmissão de infecções por contato Prevenção de transmissão cruzada
Tipos de Higienização das Mãos 1 Higienização simples Remoção dos microrganismos que colonizam as camadas superficiais da pele, assim como sujidades, suor e oleosidade. 2 Higienização antisséptica Remoção de sujidades e microrganismos com uso de um antisséptico (exemplo: clorexidina). 3 Fricção antisséptica Aplicação de preparação alcoólica (álcool gel 70%) para reduzir a carga microbiana das mãos. 4 Antissepsia cirúrgica Eliminação da microbiota transitória e redução da residente com efeito residual na pele do profissional. A eficácia da higienização depende da duração e da técnica empregada. Antes de iniciar qualquer técnica, é necessário retirar anéis, pulseiras e relógios.
Higienização Simples das Mãos Finalidade Remover os microrganismos que colonizam as camadas superficiais da pele, assim como o suor, a oleosidade e as células mortas, retirando a sujidade propícia à permanência e à proliferação de microrganismos. Duração do procedimento A higienização simples das mãos deve ter duração de 40 a 60 segundos.
Higienização Antisséptica das Mãos Finalidade Promover a remoção de sujidades e de microrganismos, reduzindo a carga microbiana das mãos, com auxílio de um antisséptico. Duração do procedimento A higienização antisséptica das mãos deve ter duração de 40 a 60 segundos. Técnica A técnica é igual à utilizada para a higienização simples das mãos, substituindo-se o sabonete comum por um associado a antisséptico (por exemplo, antisséptico degermante).
Fricção das Mãos com Preparação Alcoólica Finalidade Reduzir a carga microbiana das mãos (não há remoção de sujidades). A utilização de gel alcoólico – preferencialmente a 70% – ou de solução alcoólica a 70% com 1%-3% de glicerina pode substituir a higienização com água e sabonete quando as mãos não estiverem visivelmente sujas. Duração do procedimento A fricção das mãos com antisséptico deve ter duração de 20 a 30 segundos.
Antissepsia Cirúrgica das Mãos Finalidade Eliminar a microbiota transitória da pele e reduzir a microbiota residente, além de proporcionar efeito residual na pele do profissional. A antissepsia cirúrgica das mãos constitui uma medida importante, entre outras, para a prevenção da infecção de sítio cirúrgico. Duração do procedimento A antissepsia cirúrgica ou preparo pré-operatório das mãos deve durar de três a cinco minutos para a primeira cirurgia e de dois a três minutos para as cirurgias subsequentes.
Antissepsia Cirúrgica das Mãos Passos adicionais Escovar unhas e espaços interdigitais com escova específica Manter braços elevados e afastados do corpo Secar mãos e antebraços com toalha ou compressa estéril Após secagem, manter as mãos acima dos cotovelos É fundamental garantir que o antisséptico permaneça em contato com a pele pelo tempo necessário para uma ação efetiva.
Os 5 Momentos para Higienização das Mãos A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu os 5 momentos cruciais para a higienização das mãos, visando garantir a segurança do paciente e do profissional de saúde.
Outros Aspectos da Higienização das Mãos Unhas Manter as unhas naturais, limpas e curtas Não usar unhas postiças em contato direto com pacientes Evitar o uso de esmaltes nas unhas Adornos Evitar utilizar anéis, pulseiras e outros adornos durante assistência Adornos dificultam a higienização adequada Podem acumular microrganismos e material orgânico Cuidados com a pele Aplicar creme hidratante nas mãos (uso individual) diariamente Evitar o ressecamento da pele devido à frequente higienização Pele ressecada pode apresentar fissuras e aumentar colonização
Quem Deve Higienizar as Mãos? Devem higienizar as mãos todos os profissionais que trabalham em serviços de saúde, que mantêm contato direto ou indireto com os pacientes, que atuam na manipulação de medicamentos, alimentos e material estéril ou contaminado.
Equipe Multiprofissional e Higienização das Mãos Enfermagem Responsável pela maior parte dos cuidados diretos ao paciente, com múltiplas oportunidades de contaminação. Médicos Envolvidos em procedimentos invasivos e exame físico, com necessidade de higienização rigorosa. Limpeza Contato com superfícies potencialmente contaminadas e agentes químicos de limpeza. Nutrição Manipulação de alimentos e contato com pacientes durante distribuição das refeições.
Antissépticos para Higienização das Mãos Diversos agentes antissépticos são utilizados para a higienização das mãos nos serviços de saúde, cada um com características específicas.
Atividade 1: Estratégias de Conscientização Formação dos Grupos A turma será dividida em 6 grupos, cada um responsável por um antisséptico: Sabão Líquido, Glicerina, Álcool, Clorexidina, Compostos de Iodo e Triclosan. Pesquisa e Análise Cada grupo deve pesquisar sobre seu antisséptico respondendo: O que é? Como age? Contra quais patógenos age? Quando e como usar? Elaboração de Estratégia Desenvolver uma estratégia criativa para conscientização dos profissionais de saúde sobre o uso correto do antisséptico designado. Apresentação Compartilhar as estratégias com a turma, destacando eficácia e aplicabilidade em diferentes contextos de assistência à saúde.
Atividade 2: Debate Científico Seleção de Artigos Os mesmos grupos da atividade anterior devem encontrar um artigo científico sobre higienização das mãos, preferencialmente relacionado ao antisséptico estudado. Estudo em Grupo Análise crítica do artigo, identificando metodologia, resultados principais e aplicabilidade na prática clínica. Preparação Organização dos pontos principais para apresentação em formato de debate, com ênfase nas evidências científicas. Debate Cada grupo apresenta os achados e participa de discussão moderada, relacionando o artigo às práticas de higienização das mãos.
Referência BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Plano Nacional para a Prevenção e o Controle da Resistência aos Antimicrobianos no Âmbito dos Serviços de Saúde (PNPCiras) 2021-2025. Brasília: ANVISA, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/servicosdesaude/publicacoes/pnpciras_2021_2025.pdf . BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Manual de Referência Técnica para Prevenção e Controle de Infecções e Resistência Microbiana. Brasília: ANVISA, [ano de publicação]. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/servicosdesaude/prevencao-e-controle-de-infeccao-e-resistencia-microbiana/ManualdeRefernciaTcnica.pdf . BRASIL. Ministério da Saúde. Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Higienização das Mãos. Brasília: Ministério da Saúde, [ano de publicação]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/seguranca_paciente_servicos_saude_higienizacao_maos.pdf . RIBEIRÃO PRETO (SP). Secretaria Municipal da Saúde. [Título do documento]. Ribeirão Preto: Prefeitura Municipal, 2021. Disponível em: https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/portal/pdf/saude479202112.pdf .