Bairro colonia santana-Sao jose-SC

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About This Presentation

TRANSFORMAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL
DO BAIRRO COLÔNIA SANTANA


Slide Content

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE BACHARELADO EM GEOGRAFIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO







Ademar Fernandes










TRANSFORMAÇÃO SÓCIO -ESPACIAL
DO BAIRRO COLÔNIA SAN TANA














Florianópolis
2012

Ademar Fernandes










TRANSFORMAÇÃO SÓCIO -ESPACIAL
DO BAIRRO COLÔNIA SANTANA







Trabalho de Conclusão de Curso,
apresentado como requisito para
obtenção do título de Bacharel em
Geografia da Universidade Federal
de Santa Catarina.
Orientador: Prof. Dr. Nazareno
José de Campos














Florianópolis
2012

Ademar Fernandes




TRANSFORMAÇÃO SÓCIO -ESPACIAL
DO BAIRRO COLÔNIA SANTANA



Este Trabalho de Conclusão de Curso foi apresentado no
Curso de Bacharelado em Geografia da Universidade Federal de
Santa Catarina, obtendo como nota final ________ atribuída pela
banca examinadora constituída pelo professor orientador e
membros abaixo mencionados.

Florianópolis, 05 de julho de 2012.


______________________________________
Profª. Rosemy da Silva Nascimento, Drª.
Coordenadora do curso


Banca examinadora:



______________________________________
Prof. Nazareno José de Campos, Dr.
Orientador


______________________________________
Prof. Clécio Azevedo, Dr.
Membro


______________________________________
Profª. Cristiane Fortkamp Schuch, M.e.
Membro

AGRADECIMENTOS

Este trabalho é fruto de um conhecimento adquirido
durante quatro anos na Universidade Federal de Santa Catarina,
por isso, meu agradecimento maior a minha noiva Andréia, que
foi a pessoa que mais incentivou desde o começo a entrar na
universidade para cursar Geografia ajudando em todas as etapas
do curso.
Agradeço o professor Nazareno por acreditar na minha
proposta de Trabalho e no auxilio da confecção do mesmo com
dicas e correções importantes para monografia.
Um agradecimento especial a Cacilda Limas e Gilson
Luiz que forneceram fotos e materiais bibliográficos
interessantíssimos sobre o bairro Colônia Santana, cujas fotos e
materiais, abriram um leque de entendimento sobre as
transformações que vem ocorrendo ao longo dos anos no bairro.
Agradeço minha mãe Jandira, que sempre apoiou-me a
estudar e fazer as coisas que gosto.
Agradeço a todos de forma geral que contribuíram com
partes importantes da monografia durante o seu desenvolvimento
e as novas amizades adquiridas ao longo desta jornada que
realizei na Universidade Federal de Santa Catarina. Com certeza
o aprendizado que tive, levarei para todo o resta da minha vida.

RESUMO

O bairro Colônia Santana está localizado no município de São
José, a 22 Km da capital Florianópolis. Sua transformação Sócio
Espacial ocorre mais intensamente desde a implantação do
hospital Colônia Santana. A região da Colônia Santana tornou-se
transitável pelos tropeiros no século XIX até as primeiras
décadas do XX, passando por uma transformação sócio espacial
intensa, a partir das trocas comerciais que passavam pela
localidade conhecida como Salto do M aruim. A Usina
Hidrelétrica, o Hospital Colônia Santana e a Escola Estadual
Joaquim Santiago são algumas das obras implantadas pelo
Estado na localidade no século XX. A obra mais recente do
estado na região é a duplicação da rodovia SC 407, que
resolverá um problema de mais de 30 anos de um acesso que
se tornou precário e que ajudará no desenvolvimento local,
principalmente no bairro Sertão do Maruim e Colônia Santana.


Palavras chaves: Transformação Sócia Espacial, Colônia
Santana, rio Maruim.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa de Localização do bairro Colônia Santana.......13

Figura 2 – Distribuição das comunidades e dos pontos principais
que contribuíram pra o crescimento do bairro Colônia Santana
conforme imagem adaptada do Google Earth............................51

LISTA DE TABELAS


Tabela 1 – Elementos constituidores da formação e dinâmica
sócio-espacial do bairro Colônia Santana...................................52

Tabela 2 – Zona em que se encontra o bairro Colônia Santana e
seus objetivos conforme revisão do plano diretor de 2004.........58

LISTA DE FOTOGRAFIAS


Foto1 – Transporte coletivo da década de 1940 que levava os
passageiros de Angelina, São Pedro de Alcântara, Santa Tereza
e Colônia Santana para Florianópolis.........................................30

Foto 2 – Residência dos trabalhadores do abatedouro de carne
de Raulino Koerich que ficava na vila Koerich como era chamada
antigamente...............................................................................32

Foto 3 – Museu da família Koerich. Antigo mercado onde era
realizado o comércio de secos e molhados na época em que os
tropeiros utilizavam o trajeto como passagem para o litoral com
destino a Florianópolis................................................................32

Foto 4 – Do lado esquerdo, antiga estrada que era utilizada pelos
tropeiros para fazer o comércio entre o planalto e o litoral. Do
lado direito a SC 407, atual estrada usada como passagem
principal pelos moradores da Colônia Santana e do Município de
São Pedro de Alcântara..............................................................34

Foto 5 – Usina hidrelétrica construída no inicio do século XX,
localizada no bairro Colônia Santana..........................................35

Foto 6 – Vista Parcial do Hospital Colônia Santana....................39

Foto 7 – Na foto de baixo, atual acesso à escola cujo era o
principal acesso pela a estrada antiga, aberta outrora pelos
tropeiros na caminhada do litoral ao planalto lageano. Já, na foto
de cima, o novo acesso asfaltado tendo a escola ao fundo
reformada e ampliada com ginásio esportivo..............................42

Foto 8 – Primeira capela construída em 1923, dando lugar mais
tarde a atual Matriz......................................................................47

Foto 9 – Área central do bairro Colônia Santana, tendo a igreja
como destaque e o Hospital Colônia Santana logo a
frente...........................................................................................49

Foto 10 – Festa de Santana 2010...............................................55

SUMÁRIO


1. INTRODUÇÃO........................................................................10

2. SÉCULOS XVIII E XIX: OCUPAÇÃO DE SÃO JOSÉ
CONJUGANDO DESBRAVAMENTO E IMIGRAÇÃO ATRAVÉS
DO VALE DO RIO MARUIM.......................................................14
2.1 Dinâmica sócio espacial indígena e seu legado ...................14
2.2 A natureza como elemento influenciador no processo de
ocupação...............................................................................15
2.3 A imigração açoriana, sua expansão pelo vale do rio
Maruim e as primeiras relações com o planalto....................17
2.4 Imigração Germânica pós-meados do século XIX................20

3. CARACTERIZAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DOMINANTE
NO SÉCULO XX ........................................................................24
3.1 Economia rural agrícola e artesanal-manufatureira .............24
3.2 O importante comércio entre Litoral e Planalto .....................26
3.3 Usina, Hospital, Colégio Estadual: novos elementos na
paisagem influindo no processo econômico e social............34
3.4 Migração, urbanização, ampliação do comércio, evidenciam
as transformações pós anos 1980........................................44

4. A LOCALIDADE D E COLÔNIA SANTANA NA
ATUALIDADE.............................................................................50
4.1 Aspectos da economia, sociedade e cultura atual ................50
4.2 Diferenciação e problemática social interbairros.................. 57
4.3 Deficiências e/ou possibilidades de crescimento futuro........60
4.4 Duplicação da Rodovia SC-407 provoca novas
transformações na região......................................................61

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................65

6. REFERÊNCIAS.......................................................................68

10

1. INTRODUÇÃO

O município de São José vem ao longo das ultimas
décadas sofrendo uma alteração no modo de ocupação de seu
território. As transformações da paisagem totalmente rural para o
um modo de vida urbano nas áreas de periferia do município, se
tornaram mais evidentes pós meados do século XX. Neste
período, o município de São José passou a agregar indústrias
em terras antes não ocupadas por moradias, onde
posteriormente sofreu adensamento maior por conta da migração
ocorrida por causa da procura de empregos e de melhorar sua
condição perante as transformações que estavam ocorrendo no
campo. Por fazer parte da periferia do município de São José, o
bairro Colônia Santana apresenta suas especificidades na
ocupação de seu território.
Alguns dos questionamentos feitos ao iniciar esse trabalho
de pesquisa, foi tentar entender como o Instituto de Psiquiatria do
Estado de Santa Catarina conhecido como Hospital Colônia
Santana (HCS) teve participação na ocupação da localidade.
Porque a Usina Hidrelétrica construída da década de 1910 não
obteve tanta importância na ocupação e povoamento do bairro?
Por contribuir para a formação do bairro, o caminho das tropas
influenciou no comércio e na economia local? A Escola de
Educação Básica Professor Joaquim Santiago, construída na
segunda metade do século XX, teve intenção de segurar os
moradores no bairro, ou foi uma necessidade do governo na
época pela ocupação crescente que já ocorrera nesse período?
A troca na economia predominantemente rural para uma
economia do setor terciário nos dias atuais teve influência das
transformações que estavam ocorrendo no município de São
José ou foi o Hospital Colônia Santana que ditou essa mudança?
A duplicação recente da rodovia SC 407 resolverá o problema da
segregação no setor rodoviário do bairro pela razão de seu
distanciamento das outras regiões? O que se pode saber
inicialmente é que o Estado esteve sempre presente na
localidade e a sua influência o torna o principal formador do
espaço local.
A partir do aprendizado sobre organização espacial e
transformação sócio espacial, obtido no curso de Geografia na
Universidade Federal de Santa Catarina, penso em colocar
como ocorreram as transformações da paisagem do bairro e os

11

agentes modeladores do seu espaço. O desenvolvimento de São
José, aliado às transformações no ambiente rural e à migração
do campo para a cidade aparecem como fatos determinantes
para um esquecimento por parte do poder público com a
localidade de Colônia Santana durante três décadas. A
pavimentação da rodovia SC 407 ocorrida na década de 1970,
asfaltada e duplicada apenas na ultima década, evidencia como
os bairros distantes dos centros se tornam lugares esquecidos e
sem valorização fundiária quando este lugar possui um difícil
acesso. A imigração açoriana e germânica, aparece como um
dos fatores determinantes para o povoamento e transformação
na região do vale do rio Maruim, sendo, que a migração recente
também influencia no processo atual de urbanização da
localidade.
Intenciona-se com este trabalho sobre a Transformação
Sócio Espacial do bairro Colônia Santana, mostrar a organização
espacial da localidade, principalmente as mudanças ocorridas na
paisagem do local outrora dominantemente rural e que hoje se
encontra em um processo de urbanização. Para Correa (2000),
mudança na paisagem se caracteriza como sendo uma
“segunda natureza” onde os campos cultivados, os caminhos, os
moinhos e as casas, entre outros, compõem um conjunto de
formas espaciais onde configuram a organização espacial. Desta
forma, o objetivo geral para este trabalho foi de fazer uma
análise da evolução urbana no bairro Colônia Santana
conjugando o papel do Estado no seu desenvolvimento direto ou
indiretamente da região, através da implantação de obras como
a Usina hidrelétrica, o Hospital Colônia Santana, a Escola de
Educação Básica Professor Joaquim Santiago e mais
recentemente a duplicação da rodovia SC 407.
Para Correa (2003), o Estado mostra como o seu poder
de alteração da paisagem de um determinado lugar é muito
grande aparecendo este como produtor do espaço e de
localizações específicas, como também os proprietários
fundiários, os promotores imobiliários e os agentes de regulação
do uso do solo. Assim, os objetivos específicos tiveram a
intenção de analisar a mudança ou não da cultura do local por
parte das migrações recentes na localidade e verificar in loco as
comunidades do bairro e suas mudanças ao longo de tempo
estritamente rural para locais densamente ocupados com
comércios variados, e a importância fundamental destes para o

12

desenvolvimento atual do bairro. A fundamentação de tais
análises passou por uma pesquisa bibliográfica, que analisasse
histórica e geograficamente a ocupação do município de São
José e a bacia do vale do rio Maruim.
A pesquisa fundamentou-se nos autores que deram
ênfase à colonização do vale do rio Maruim até o Município de
Angelina, que tratasse principalmente do caminho das tropas
que ligava São José ao planalto lageano. Conforme aponta
Jochem (1992), essa necessidade de abrir um caminho pela
Coroa portuguesa no final do século XVIII que levasse ao
Planalto-lageano foi de suma importância para o
desenvolvimento da região e consequentemente sua
colonização ao longo desse trajeto. Para Campos (2004), o
comércio que se configurava entre a região do planalto lageano
e o litoral foi importante para o povoamento no trajeto que fazia
essa ligação atribuindo aí um processo de colonização, efetivado
pela produção primária. A questão da analise do uso e ocupação
do solo naquela bacia foi de fundamental importância para o
entendimento da economia existente que era basicamente de
agricultura e pecuária predominante.
O recorte espacial e temporal da pesquisa se deu na
bacia do rio Maruim, mais especificamente, onde está localizado
o bairro Colônia Santana, entre as coordenadas geográficas
27º34’52” e 27º35’59” de latitude sul e 48º41’51” e 48º44’04” de
longitude oeste, possuindo seus limites entre o município de São
Pedro de Alcântara e o bairro Sertão do Maruim em São José,
logo, temporalmente foi necessário pesquisar sobre o
povoamento desta região desde a ocupação indígena até os dias
atuais, observando-se sua localização na figura a seguir.

13

Figura 1. Mapa de Localização do bairro Colônia Santana
Elaborado por: José Guilherme Fronza

Desta forma, a compreensão abrange um período de
transformações não apenas no bairro Colônia Santana, mas
também na região da grande Florianópolis, principalmente no
município de São José. Tais transformações ocorridas na
paisagem do vale do rio Maruim ao longo dos anos teve
momentos de ascendência e decadência da economia
predominante da época, tendo como fator principal dessa
mudança a implantação do hospital Colônia Santana na
localidade alternando as características da região e o modo de
viver da população local.

14

2. SÉCULOS XVIII E XIX: OCUPAÇÃO DE SÃO JOSÉ
CONJUGANDO DESBRAVAMENTO E IMIGRAÇÃO ATRAVÉS
DO VALE DO RIO MARUIM

2.1 Dinâmica sócio espacial indígena e seu legado

Pesquisar um determinado lugar, e compreender sua
dinâmica sócio espacial remete a uma análise que vai além do
que o mesmo apresenta no presente. Por vezes torna-se
necessário um apanhado histórico-geográfico que leve a
compreensão do processo de ocupação do lugar em que se quer
pesquisar. Assim, as paisagens percebidas no presente e no
passado, são de grande importância para o entendimento da
organização social espacial de cada localidade. Nesse sentido
nos chama atenção Santos (2008) para o fato de que,

[...] a paisagem é formada pelos fatos do
passado e do presente. A compreensão da
organização espacial, bem como de sua
evolução, só se torna possível mediante a
acurada interpretação do processo dialético
entre formas, estruturas e funções através do
tempo. (SANTOS, 2008, p.89)

Esse processo passa por uma análise histórica que
envolve a ocupação humana não apenas do bairro Colônia
Santana, que é o objeto de estudo nesta pesquisa, em especial a
partir de meados do século XX, mas também do município de
São José em seu processo histórico.
É a partir de meados do século XVIII, com a chegada dos
casais açorianos advindos das diferentes ilhas do arquipélago
dos Açores, que se dá mais efetivamente o processo de
povoamento. Todavia, embora os açorianos tenham sido os
primeiros imigrantes a aportarem o litoral catarinense e, através
da ilha de Santa Catarina adentrarem o continente, originando a
freguesia e fundando a vila de São José, já haviam por toda a
região grupos indígenas aí vivendo, com predomínio do tronco
cultural Guarani, vivendo próximo ao mar e aproveitando-se dos
recursos naturais do mar e da floresta, e igualmente praticando
agricultura. Segundo afirma FARIAS (1995):

15

Estes índios conhecidos por carijós
formavam várias aldeias que disputavam
entre si os melhores locais de caça, pesca e
agricultura. Seminômades, mudavam de
local na região sempre que alguma coisa
interferia na sua maneira de viver. […] as
formações de casqueiros, conhecidos por
sambaqui, e as oficinas líticas (ranhuras e
cavidades nas pedras, utilizadas pelos índios
para amolar as ferramentas) são traços que
atestam a presença dos indígenas na faixa
litorânea catarinense. (FARIAS, 1999, p. 55)

Embora estes fossem encontrados na faixa litorânea
catarinense, os índios Xoklengs eram os que habitavam a região
entre o planalto e a serra catarinense. Todavia, o modo de vida
que predominava entre a população indígena em São José,
sofrerá com a chegada dos imigrantes açorianos e mais tarde os
alemães na área litorânea catarinense, respectivamente nos
séculos XVIII e XIX. As razões que influíram na vinda desses
imigrantes para o Brasil meridional, tanto internas quanto
externas nos leva a compreender o processo de ocupação e
dinâmica econômica-social do litoral catarinense com reflexo
direto no desenvolvimento do município de São José e entorno.
Isso, no entanto, não nega a presença e influência indígena
anterior, assim como a importância da natureza em todo o
processo de colonização.

2.2 A natureza como elemento influenciador no processo de
ocupação

O povoamento do interior de muitas áreas do interior
catarinense, principalmente como foi o caso das áreas de serra
do leste catarinense, ocorreu de modo bastante difícil para os
imigrantes que foram instalados nessas regiões, pois se
depararam com muitos problemas com relação à morfologia do
terreno, o que fez muitos deles se mudarem com o tempo para
outras localidades. Além da morfologia, o trajeto escolhido para
essa ocupação se caracterizava por ter uma mata muito fechada
e de difícil penetração. Considerando ainda a presença dos
grupos Xoklengs, que já viviam por toda faixa florestal, entre a
serra e o litoral, que se sentindo ameaçados em relação ao

16

território que ocupavam, tinham frequentes atritos com os
imigrantes. Como esse povoamento ocorreu em todo trajeto que
fora aberto para fazer a ligação entre o litoral e o planalto, muitas
colônias se instalaram ao longo do rio Maruim. A colônia de
Angelina foi uma das que sofreram e ainda sofrem com o solo de
baixa fertilidade e da localização geográfica que era distante de
tudo e perto de nada, como afirma Perardt (1990, p. 62);

A má escolha das localidades para a
fundação das colônias, aliada à ignorância e
desconhecimento das condições climáticas,
sem nenhum preparo do terreno a ser
distribuído, punha em risco qualquer
empreendimento colonizador. A colônia
Nacional de Angelina também vai sentir,
ainda mais que as outras, os efeitos dessa
má localização geográfica. [...] a primeira luta
do elemento humano estabelecido nessas
condições, foi contra os solos inférteis e a
tropicalidade do ambiente. As encostas
cobertas com uma vegetação exuberante,
desde que despidas da sua cobertura
florística, produz intensa erosão, face aos
altos índices de precipitação, existentes na
área da colônia.

A dificuldade primeira de plantio, por causa das terras mal
distribuídas aliadas a baixa fertilidade e a precariedade da
estrada, contribuíram de forma significante para a mudança de
localidade desses colonos. De acordo com Perardt (1990) a
estrada que ligava litoral e planalto, passando por Angelina e São
Pedro de Alcântara, fica em desuso por um certo tempo, não
sendo possível escoar a produção, repercutindo diretamente no
desenvolvimento econômico da colônia . Isso ocorre
principalmente após a mudança do trajeto que liga o litoral com o
planalto para a região da bacia do rio Cubatão.
Segundo a mesma autora, o governo imperial ditou as leis
escolhendo os lugares onde as colônias iriam ser instaladas, sem
preocupação de desenvolver economicamente e socialmente o
lugar de fixação desses imigrantes. Desta forma, evidencia que
apenas meia dúzia de comerciantes, a preços baixos e
desestimulantes, consegue adquirir a produção agrícola da

17

região e revender nos mercados de Praia Comprida e na capital
Desterro. Embora a natureza tenha dificultado no avanço da
agricultura na região do vale do rio Maruim, a forma de
povoamento mal organizada pela coroa portuguesa, teve uma
contribuição maior para o fracasso no desenvolvimento da
região, acarretando em uma migração para outras regiões
próximas e até mesmo para a região do vale do Itajaí.

2.3 A imigração açoriana, sua expansão pelo vale do rio
Maruim e as primeiras relações com o Planalto

Os açorianos começaram a povoar o litoral catarinense em
meados do século XVIII. Sua vinda se conjugava a uma série de
elementos interligados a uma conjuntura depressiva do comercio
ultramarino português, cujo capital comercial diminuíra a sua
lucratividade e ao mesmo tempo sentia a necessidade de um
melhor aproveitamento dos recursos portugueses, tanto na
metrópole, quanto na colônia. (CAMPOS, 1991). Assim a
ocupação do litoral catarinense pela metrópole era de suma
importância para a coroa portuguesa, pois segundo argumenta
esse mesmo autor;

Sendo parte integrante da colônia
portuguesa, a costa litorânea do sul brasileiro
se integraria também à conjuntura geral da
economia lusa. Logo, a vinda de açorianos
para o litoral e ilha de Santa Catarina
resolveu problemas importantes que possuía
a metrópole. Não apenas supriu
demograficamente a região, como favoreceu
sobremaneira aos interesses que aquela
possuía sobre a área (CAMPOS, 1991, p.21)

Tais interesses significavam o domínio territorial do litoral
sul, em constante disputa com a Espanha, e a importante
economia que se iniciava a configurar na região, a pesca da
baleia. De modo que o açoriano se distinguirá como sendo um
“colono-soldado”. Especificamente em São José. Vilson Farias
(1999, p. 86) argumenta que,

A colonização de São José pelos imigrantes
açorianos em 1750 fez parte da grande

18

imigração açoriana para o Brasil meridional,
ocorrida de 1748 a 1756. Neste período
desembarcaram na ilha de Santa Catarina
mais de 6.000 dos quais aproximadamente
4.500 fixaram-se no litoral catarinense, os
demais foram embarcados para o Rio
Grande do Sul. […] no litoral catarinense
foram fundadas as freguesias (distritos) de
São José, Enseada de Brito, Lagoa da
Conceição, São Miguel da Terra Firme, Santo
Antônio de Lisboa, Vila Nova, etc.

Dentro das dificuldades encontradas pelos açorianos
durante a chegada ao litoral catarinense, colocava-se a falta de
alimentos frescos e água, as péssimas condições higiênicas, e
as doenças contraídas a bordo nas embarcações. Logo que
desembarcam, se depararam com uma morfologia acidentada,
com presença de animais ferozes, provocando alguns contra
tempos. Mas também, encontraram terras novas e férteis com
excelente potencial a serem aproveitadas. Gradativamente os
imigrantes açorianos foram ocupando as terras férteis do vale do
Rio Maruim e dos atuais bairros de Roçado, Barreiros, Praia
Comprida, além de localidades que na época faziam parte do
município de São José aí incluindo Coqueiros e Estreito e que
hoje pertencem a Florianópolis.
Por sua vez, o Planalto Catarinense, mais especificamente
o Planalto Lageano, se configurava como sendo uma economia
de característica latifundiária e de produção bovina
1
. Nesse

1
“Fundada pelos paulistas, há mais de dois séculos, Lages era um
posto avançado da colônia portuguesa contra penetração de
bandoleiros, gaúchos, soldados, castelhanos e padres jesuítas que
queriam avançar sobre o rico planalto, e anexá-lo à Coroa Espanhola.
Correia Pinto assumiu o compromisso de fundar o povoado na região de
Lages. Aos 22 de novembro de 1766, dá início a uma nova povoação
sob a invocação de Nossa Senhora dos Prazeres das Lajens. Aos 22 de
maio de 1771, é elevada a categoria de Vila. Somente por Alvará Real
de 09 de setembro de 1820, Lages passou a pertencer à Capitania de
Santa Catarina. Aos 25 de maio de 1860 é elevada a categoria de
cidade chamada Campos de Lajens, devida à abundância de Pedra
Laje (arenito) em certos pontos da região. Em 1960, por decreto
assinado pelo Sr. Prefeito Vidal Ramos Júnior, ficou estabelecido o
topônimo de Lages com "G" ”. Disponível em: <http://www.uso

19

sentido Simas (2010, p. 48), afirma que:

A partir da fundação e desenvolvimento de
sua vila (1771), importantes transações
mercantis se estabeleceriam por meio das
tropas, assim como o surgimento de novos
núcleos populacionais. Esta forma de
organização, baseada no latifúndio e
produção bovina, teria como uma das
principais características o papel das tropas
(fluxos), tanto relacionados ao sudeste
brasileiro, quanto ao litoral catarinense.

Devido ao aumento da produção mercantil e para facilitar a
comunicação, a agricultura, o transporte e o comércio entre o
planalto e a capital Desterro, o então governador da Capitania,
em meados do século XIX, José Pereira Pinto, sob o comando
do vice-rei Luís de Vasconcelos e Souza, ordenou que se
construísse uma estrada que ligasse o planalto serrano e o litoral
catarinense (JOCHEN, 1992). O Alferes de Cavalaria Antônio
José da Costa, descendente de açorianos que chegara em Santa
Catarina no ano de 1749, fora autorizado pelo então Governador
Sargento-mor José Pereira Pinto em 11 de Janeiro de 1787 para
explorar o sertão rumo a Lages. Consigo Levava uma expedição
de doze homens armados, doze escravos e sete bestas de
cargas. (PHILIPPI, 1995).
O caminho inicial rumo a oeste iniciou às margens do Rio
Maruim. Sobre essa exploração, Jochen (1992) descreve,

Marginaram o Rio Maruim até certa altura e
daí em diante pela floresta ínvia, cumpria o
alferes cabalmente a incumbência que lhe
fora investido, estudando a nossa fauna,
observando e anotando altitudes,
conhecendo de perto as riquezas de nossas
florestas, fugindo ao contato dos aborígenes
em busca do planalto e da natural
comunicação com Lages. […] um trecho do
itinerário foi mudado, embora não
definitivamente, substituindo o vale do Rio

facio.com.br/lagesrural/historialages.php>. Acesso em: 21 Abril 2012.

20

Maruim pelo vale do rio Cubatão. (JOCHEN,
1992 p.10)

Muitos produtos produzidos em São José no século XVIII e
XIX pelos habitantes de origem açoriana, como farinha, melado,
milho, feijão, café, entre outros, com eçaram a ser
comercializados com o Planalto depois da ligação Desterro-
Planalto ser concretizada. No entanto, essa comercialização com
o mercado de Desterro, e outras capitanias da Colônia brasileira,
já existia, dando uma maior representatividade para o município
de São José em meados do Século XIX.
Em 1845, a estrada que tinha destino a Lages, teve sua
rota definitivamente mudada para o vale do rio Cubatão
2
, e por
consequência dessa mudança todo o trânsito da época foi
transferida para esse novo trajeto que era bem mais fácil e
menos sofrido (JOCHEN, 1992). Isto gerou dificuldades às
comunidades localizadas próximas ao rio Maruim, fortemente
dependentes do comércio Litoral-Planalto. Seu ritmo de
crescimento diminuiu drasticamente entrando num processo de
decadência e mesmo estagnação, situação que permanece,
após a imigração germânica e, até mesmo na atualidade em
relação as comunidades acima de São Pedro de Alcântara em
direção a Angelina. Abaixo da sede daquele município em
direção ao litoral, até a Colônia Santana, a pavimentação da
estrada após a década de 1980, facilitou a relação econômica
com São José e Florianópolis, favorecendo a expansão
demográfica e desenvolvimento econômico.

2.4 Imigração Germânica pós-meados do século XIX

O interesse maior na vinda de imigrantes germânicos para
Santa Catarina já na década de 1820, parte do governo imperial
dirigida principalmente para a região sul brasileira, fomentando a
produção agrícola, manufatureira e promovendo aumento no
contingente populacional. Assim os primeiros imigrantes alemães
que foram destinados a colonizar a província de Santa Catarina
desembarcaram em Desterro nos dias 7 e 12 de Novembro de

2
Por conta dessa mudança, o comércio diminuiu bastante mas ainda
continuava com os tropeiros passando pela rota antiga, mesmo que
fosse com menor frequência.

21

1828 (JOCHEM, 1969). Constituíram-se por populações que à
época passavam, em sua terra de origem, grandes dificuldades,
haja vista as transformações que estava ocorrendo em seu país
nesse período. Assim, segundo Jochem (1969, p. 41) “a vontade
de pisar na “Terra Prometida” era grande... Era esquecer o
passado, as dificuldades, os parentes que ficaram, os amigos, a
pátria mãe e recomeçar.
Em 1829 a colônia de São Pedro de Alcântara surgiu
exatamente junto ao caminho que margeava o rio Maruim e que
levava ao planalto catarinense, sendo este aberto no fim do
século XVIII. Embora tenha sido formada principalmente por
imigrantes de origem germânica, já havia na região além dos
povos originais indígenas, contingentes de origem açoriana que
se aventuraram no vale do Maruim acima. (JOCHEM, 1999) Não
obstante, os colonos germânicos tiveram muitas dificuldades com
a morfologia do terreno e o caminho que os mesmos tinham que
enfrentar toda vez que necessitavam vender suas mercadorias
em São José ou Desterro.
Citam Machado e Gerlach (2007) uma narrativa descritiva
sobre a viagem do reverendo Charles Samuel Stewart à São
Pedro de Alcântara, fazendo referencia ao caminho que levava
ao planalto catarinense, e que facilitou o processo de ocupação
ao longo do rio Maruim,

Ao alcançarmos o topo do primeiro cume,
tivemos uma extensa visão sobre um amplo
vale coberto de floresta. Fiquei surpreso ao
ver uma tão vasta planície, aparentemente
de ricas terras, imediatamente logo após a
costa. No caminho para lá, constatamos que
abaixo daquela floresta estava um pântano.
Terras mais elevadas faziam fronteira,
apresentando evidente abundância em sua
produtividade: plantação de café, mandioca,
algodão, milho, com a mamoneira se
expandindo ao redor, enquanto bosquetes de
laranjais arcados de frutos pareciam vir do
sol como blocos dourados. O caminho por
várias milhas, era amplo e uniforme, alinhado
com cercas vivas de mimosas e laranjas do
campo, ornamentado aqui e acolá por
ramalhetes de rosas e jasmins. Passo a

22

passo, contudo, como avançávamos entre
montanhas, subindo e descendo os ramais
das colinas, isto acabou se tornando difícil
pelo acidentado do terreno, um pouco mais
que uma trilha de cavalo. A região renovava-
se proporcionalmente e não havia cultivo das
terras; ainda assim, em muitos lugares este
caminho era confortável, pelas campinas e
pelas ricas terras de aluvião que bordejavam
o curso da montanha, agora, seguido de
perto pela nascente do rio. (MACHADO;
GERLACH, 200, p. 39)

O relato do citado referendo, evidencia não apenas
algumas características físicas do terreno, como também a já
presente produção agrícola variada, por parte dos moradores de
origem açoriana. A forma que as colônias europeias, neste caso,
as colônias germânicas se desenvolveram em Santa Catarina se
faz muito diferente da forma que os imigrantes açorianos
desenvolveram sua produção. Os descendentes açorianos eram
herdeiros diretos de uma estrutura baseada na pequena
produção de subsistência associada a elementos pré-capitalistas,
comum em Açores no século XVIII e que aqui permanecem,
sofrendo exploração direta por parte dos setores administrativos,
através da requisição de colonos e soldados (Campos, 1991),
dificultando sobremaneira a contingência desta pequena
produção, em efetiva e dominante pequena produção mercantil
independente. Por sua vez, os colonos europeus do século XIX,
segundo Cruz (2008), aperfeiçoaram a pequena produção
mercantil, dando outra realidade social se comparado aos modos
de produção que ocorriam naquelas colônias. Em Santa Catarina
isso foi comum nas áreas fronteiriças à Desterro onde a
produção se concentrava na pequena propriedade. Ainda neste
contexto, Cruz destaca que:

As Colônias alemães, localizaram-se em
áreas ainda não ocupadas por brancos,
imprimindo-lhes um ritmo de
desenvolvimento que nasceu de dentro pra
fora, com uma produção comunitária
(sistema colônia-venda) concentrada em um
transporte mais facilitado e barato [...]

23

Diferentemente da aristocracia originada do
latifúndio, a implantação da pequena
propriedade nas áreas de colonização foi
responsável pelo surgimento de uma
democracia rural em terras herdadas de
antigas sesmarias. Contudo, nem todas as
colônias baseadas no minifúndio tiveram a
geografia e os recursos disponíveis como
facilitadores de sua expansão, como foi o
caso das colônias de Sã o Pedro de
Alcântara, Vargem Grande, Santa Isabel,
Leopoldina, Piedade e Teresópolis, próximas
a Desterro. (CRUZ, 2008, p. 18)

Mesmo as regiões próximas a Desterro, possuindo várias
colônias antigas
3
se comparado às outras colônias de Santa
Catarina, o contingente encaminhado para estas áreas foram
bem menores. Tudo isso por causa das grandes dificuldades de
plantio devido à morfologia dos terrenos encontrados nos
caminhos que levavam à Lages. Embora a terra ofertada fosse
barata, as formas acidentadas dos terrenos provocaram muitos
protestos e não demorou muito para aparecer as primeiras
reclamações dos colonos, que de imediato solicitaram ao
presidente da província, terras nas caldas do Norte em troca das
terras de São Pedro de Alcântara (JOCHEM, 1969). Cruz reforça
a ideia de que as terras às margens do rio Maruim foram
propositalmente distribuídas para os imigrantes, os quais tinham
a função de salvaguardar os caminhos até Lages pelos colonos e
isso fica evidente na forma de como se está disposto os lotes
lado a lado confrontando-se aos acessos da estrada até Lages.
Com isso os imigrantes descontentes com a situação
exposta, começaram a abandonar a colônia de São Pedro de
Alcântara, indo para as margens do rio Biguaçu, onde é hoje
Antônio Carlos. Outros foram para a localidade de Praia
Comprida no litoral josefense, ou para o vale do Rio Itajaí Açu, ou
ainda, se estabelecendo próximo da nova estrada que margeava
o curso do rio Cubatão. (JOCHEM, 1999) As primeiras décadas
do século XX foram bastante conhecidas no estado de Santa

3
Colônias alemãs que estão localizadas próximas a Capital Desterro e
que possuem um comércio mais movimentado de áreas povoadas do
litoral catarinense.

24

Catarina pelas migrações das gerações dos imigrantes europeus.
Isso aconteceu por causa da necessidade de mais terras para a
agricultura, completando assim o povoamento das próprias
colônias e das terras em torno da primeira ocupação por parte
destes imigrantes (PELUSO JUNIOR, 1991).
Nesse contexto Campos (2009) reforça que as dificuldades
físicas naturais para a expansão da produção agrícola fizeram
com que muitos dos colonos migrassem para outras áreas,
inclusive para as partes mais litorâneas do município, onde
muitos deles se tornaram comerciantes, passando a viver em
localidades como Colônia Santana, Sertão do Maruim e
Forquilhas desenvolvendo nestes lugares importante produção
agrícola e pecuária.

3. CARACTERIZAÇÃ O ECONÔMICA E SOCIAL DOMINANTE
NO SÉCULO XX

3.1 Economia rural Agrícola e Artesanal-Manufatureira

Em São José a economia que se caracterizava como
dominante era e da pequena produção, por motivos decorridos a
partir da colonização açoriana
4
e posteriormente pelas
imigrações europeias do século XIX. De acordo com Campos
(2009), existiam duas frentes econômicas que conservavam o
uso da terra na sua base que iniciara em meados do século XVIII
indo até as primeiras décadas do século XX, sendo elas “a
agricultura, com produção de mandioca como base, aliada à
pesca, e, a comercialização de gado proveniente do planalto”
(CAMPOS, 2009, p. 5).
A produção que fora realizada por estes imigrantes na
forma de pequena propriedade, propiciou posteriormente a
formação de um pequeno produtor independente e dono de seus
meios de produção, garantindo a sua autossuficiência e um
excedente exportável
5
. (CAMPOS, 1991)

4
“Desenvolveu-se com o tempo uma importante economia com base
em uma estrutura agrária de pequena propriedade. Destaca-se o cultivo
de mandioca, cuja produção de farinha constitui-se no principal produto
de exportação, além de produção de pescados, algodão, óleo de baleia
melado, aguardente, feijão, milho, arroz etc.” (CAMPOS, 1991, p. 26)
5
“A manufatura escravista das armações articulava-se à pequena

25

Embora a produção não fosse em larga escala, Campos
(1991) coloca que o pequeno produtor desenvolvia uma
importante atividade de produção manufatureira, como engenhos
de açúcar, de farinha, alambiques, confecção de roupas em
teares próprios, produção de móveis, louças de barro ,
ferramentas, utensílios caseiros, etc. No entanto, tal
autossuficiência não permitia desenvolver um artesanato com
solidez o bastante para se expandir promovendo o surgimento de
manufaturas de considerável porte. Embora, mesmo que tenha
havido um processo de diferenciação entre os pequenos
produtores, não foi o suficiente para a transformação de alguns
deles em empresários capitalistas. (CAMPOS, 1991). Afirma este
autor que os problemas ocorridos durante o processo de
colonização e fixação desses açorianos em São José, tiveram
como resultado o abandono da terra por parte dos produtores,
levando-os a diferentes situações como: mudança para outras
regiões; manterem a terra, mas se assalariarem em outras
atividades; ou simplesmente perderem totalmente a propriedade
e meios de produção. Até mesmo a produção rural alemã pouco
se desenvolveu. De acordo com Cruz (2008), o empobrecimento
e a declividade do solo, aliada a queda de preços da mandioca
para a exportação ao Rio de Janeiro, acarretaram crises ao meio
rural levando à redução das áreas de plantio, à policultura como
característica da produção agrícola e ao abandono de terras.
Segundo a mesma autora, “na virada do século XX, pequenos
produtores ainda possuíam obrigações no pagamento dos lotes e
dificuldades na quitação de dividas nas ex-colônias alemãs”.
(CRUZ, 2008, p. 41). Muito deles, porém, se favorecem do

produção agrícola familiar cujos excedentes eram comercializados,
alçando o litoral catarinense a uma posição de destaque no contexto do
Brasil-colonial como uma das áreas fornecedoras de gêneros
alimentícios. Diferentemente de outras regiões brasileiras onde
predominava a exploração monocultora em vastas glebas de terra
utilizando mão-de-obra escrava, no litoral catarinense a colonização
açoriana alicerçada na pequena propriedade familiar permitia ao colono
a prática de uma policultura de subsistência que, somada à produção
pesqueira, garantia os excedentes que ampliaram as relações
comerciais da antiga vila de Nossa Senhora do Desterro, transformada
em capital com a criação da capitania de Santa Catarina, em 1738.”
(PEREIRA, 2003, p. 105-106)

26

comércio litoral-planalto, acumulando assim mais e se
diferenciando econômico e socialmente.

3.2 O importante Comércio entre Litoral e Planalto

São José cada vez mais vai se desenvolvendo em sua
relação com o planalto através do comércio que iniciara na
segunda metade do século XVIII se torna muito importante para
uma continuidade da sua expansão comercial na região próxima
a Desterro. Enquanto no Planalto era imprescindível o papel das
tropas, em São José tinha-se a necessidade de expansão na
exploração das terras, bem como o conhecimento do sertão
(SIMAS, 2010). Segundo este autor, tal iniciativa de ligação com
o planalto, e consequentemente com seu comércio, ia ao
encontro do desenvolvimento econômico de São José,
aproveitando o desbravamento de terras e abertura de caminhos
que levava ao planalto para inventariar espécies e
especificidades do terreno. Com a concretização da estrada,
passando por São Pedro de Alcântara e Colônia Santana, São
José passa a ser um entreposto estratégico. Neste contexto,
GERLACH; MACHADO (1982) colocam que,

São José era nesse tempo, com uma
extensão territorial enorme, um dos
Municípios mais populosos e ricos da
Província de Santa Catarina. Sua produção
dava para o gasto e exportava café, tapioca,
açúcar, lenha em achas, farinha de
mandioca, cachaça e algodão. A cultura do
linho, muito grande no século anterior, já
nesta época desapareceria por completo. A
cidade dispunha de um porto marítimo
apreciável, frequentado por grande número
de embarcações de cruzes e outras de
pequena capacidade. Uma estrada de
cargueiros punha a região serrana em
contato com litoral. O comércio progredira
consideravelmente e os partidos políticos que
disputavam o domínio dos mandatos tinham
a chefiá-los os importadores e exportadores,
proprietários das senzalas, onde se

27

aglomeravam dezenas de pretos escravos.
(GERLACH; MACHADO, 1982, p. 21)

Os tropeiros nas suas viagens do planalto ao litoral traziam
variados alimentos como o charque, o queijo e o pinhão, além do
gado e levavam para o planalto, aquilo que tinha sua produção
reduzida ou pela sua inexistência própria (SIMAS, 2010). São
José demonstrava neste período, forte influência no comércio
catarinense. Os engenhos de mandioca, que produziam farinha
até a altura da década de 1970, se localizavam em diferentes
localidades, hoje bairros como Forquilhas, Picadas do Norte,
Serraria e Barreiros, são indícios da importância desta produção
na economia local (SILVA, 2006). Ainda segundo esta mesma
autora, o algodão e o linho, este último utilizado para a confecção
de tecidos, apetrechos de pesca como redes, tarrafas, espinhéis
e cordas, eram cultivados em Barreiros, Sertão do Maruim,
Picadas do Norte e Serraria. Neste sentido Farias (2001)
completa ao afirma que:

A produção das pequenas propriedades e
das maiores gerava um volume significativo
de farinha, milho, feijão, açúcar, café,
cachaça, vinho e frutas diversas que,
somado ao peixe seco, abastecia o comércio
de Desterro, do planalto catarinense e de
outras partes do Brasil. Foi graças a este
comércio que São José se tornou um grande
centro sociocultural em meados do século
XIX. Para fazer funcionar esta engrenagem
socioeconômica de produção e prestação de
serviços havia inúmeros profissionais
autônomos: ferreiros, pedreiros, carpinteiros,
seleiros, construtores de embarcações,
oleiros, cartorários, artesãos, sapateiros,
padeiros, classificados como artistas, os
quais somados aos comerciantes,
agricultores, militares, funcionários públicos,
dinamizavam a economia local. (FARIAS,
2001, p. 124)

Este comércio que se configurava de forma forte entre a
região do planalto lageano e o litoral, foi importante para o
povoamento da região, pois, concomitantemente com a

28

consolidação dos caminhos das tropas, juntamente com a sua
melhoria, decorrente da sua importância comercial, núcleos
populacionais foram estabelecidos ao longo desse trajeto,
atribuindo aí um processo de colonização, efetivado pela
produção primária (CAMPOS, 2004). Entretanto, a produção
primaria que se estabelecera nesse trajeto, dependeria muito do
tipo de solo e de sua composição orgânica para poder realizar
uma produção inicial de subsistência e poder até mesmo mais
tarde comercializar com a região de Desterro. De acordo com
Ferreira (1994) os solos encontrados ao longo desse trajeto
propiciavam uma agricultura de subsistência e de baixa
fertilidade nas áreas próximas ao leito do rio Maruim. Segundo a
mesma autora,

[...] a sua utilização racional com emprego de
praticas adequadas de conservação, é de
fundamental importância a fim de impedir que
esses solos se tornem futuramente
inadequados ao uso agrícola. (FERREIRA,
1994, p. 36)

Com esses núcleos populacionais
6
surgindo desde a
colônia de São Pedro de Alcântara até a região de Desterro, a
produção primária se torna fundamental para o abastecimento
desta última, aumentando o desenvolvimento da região, que está
localizada basicamente na bacia hidrográfica do rio Maruim
7
.
Ainda nesse sentido, Ferreira (1994) chama atenção para o fato
de que, ao longo da rodovia SC 407, que segue em grande parte
o antigo trajeto que levava ao planalto lageano, ainda são
encontradas edificações de grande porte em estilo germânico ou

6
Os bairros como o Centro, Santa Tereza, Boa Parada em São Pedro
de Alcântara e Colônia Santana e Sertão do Maruim em São José, são
algumas desses núcleos que se formaram ao longo do rio Maruim.
7
A bacia hidrográfica do rio Maruim faz parte da vertente hidrográfica do
Atlântico, localiza-se entre as bacias hidrográficas do rio Tijucas (ao
norte) e do rio Cubatão (ao sul). Drena a maior parte do município de
São José, o extremo sul do município de Biguaçu, a porção
Norte/Nordeste do município de Palhoça e a pequena parte
Norte/Nordeste do município de Santo Amaro da Imperatriz. Ao norte faz
divisa com o município de Antônio Carlos e a oeste com o de Angelina,
totalizado numa área de 190,342 Km². (FERREIRA, 1994)

29

mesclado com a arquitetura luso-brasileira, as quais eram
utilizadas como importantes entrepostos comerciais e
hospedarias, sugerindo que existissem ali, atividades mercantis
entre o litoral e o planalto. Segundo a mesma autora,

[...] o transporte era moroso, porém
relativamente denso, à base de veículos à
tração animal, como os carroções, ou a
lombo de mulas, tropas, que transitaram
praticamente, até a década de 1960.
(FERREIRA, 1994. p. 104)

Macedo (2005, p. 118) completa afirmando que:

Em torno de 1929, a produção de alimentos
era doméstica e apenas o que sobrava era
vendido com o objetivo de conseguir dinheiro
para comprar outros produtos que não eram
produzidos ou não haviam na comunidade.
Por exemplo, os pombeiros compravam meia
dúzia de cabeças de repolho de um, outras
cinco de outros, alguns quilos de tomate de
um e outro, um porco aqui e outro ali, ovos e
galinhas. Com alguma quantidade de
produtos, tinham que vendê-los o mais
rápido possível, pois as estradas eram
precárias e não havia sistema de transporte
como hoje. Os produtos chegavam no lombo
de burros e cavalos com um cesto de cada
lado, chamados bruacas. Com o dinheiro
obtido através da venda do seu excedente,
os produtores compravam tecido, trigo,
açúcar refinado, que era raro, e querosene, o
combustível utilizado para a iluminação, além
de outros itens necessários para a família.

Com o passar dos anos o transporte de cargas e pessoas
foi sendo melhorado. Já nas décadas de 1920 e 1930 o
transporte era feito por carros que vinham de Angelina até
Florianópolis para trazer passageiros que tinham interesses
diversos, mais principalmente para compra de produtos
comercializados na região próxima a Florianópolis.

30

Foto1: Transporte coletivo do final da década de 1940 que levava os
passageiros de Angelina, São Pedro de Alcântara, Santa Tereza e
Colônia Santana para Florianópolis. Fonte: Gilson Luiz

O desenvolvimento dessas pequenas vilas ao longo do rio
Maruim se deu aos poucos. A Colônia Santana foi uma dessas
vilas que se desenvolveu por causa dos pontos onde se dava a
passagem dos tropeiros. Por mais que a morfologia do terreno
não ajudasse nas construções de casas e por consequência de
vilas, já existia uma pequena população morando na localidade.
Segundo Silva (2001), essa ocupação remonta à década de
1930, quando a família Koerich
8
, descendentes de imigrantes
alemães, se estabeleceu na localidade com seu comércio de
secos e molhados, fazendas, e um depósito de estalagem aos
tropeiros que por ali passavam vindos do planalto serrano. O
comércio da família Koerich ganha força e variedade na sua
produção. Macedo (2005), neta do Senhor Engelberto Koerich
confirma esse crescimento argumentando que:

8
De acordo com Macedo (2005), a família Koerich já residia na vila do
Sertão do Maruim (atual Colônia Santana) no inicio do século XX,
década de 1910. O senhor Eugênio Raulino Koerich casou-se com a
senhora Zita Koerich, e foi morar em Rancho de Tábuas, distrito de
Angelina. Em 1929, voltaram para o Sertão do Maruim se
estabelecendo como comerciante.

31

O tempo foi passando até que meu avô
começou a abater cabeças de gado e suíno,
que comprava aqui e ali, para levar ao
Mercado Público em Florianópolis. Em torno
de 1934, foi construído o abatedouro de
gado, pois no começo os animais eram
abatidos no campo, ao ar livre. Com a
construção do abatedouro, na década de 40,
o vô começa a produzir charque,
aproveitando os subprodutos para fazer
linguiças e mortadelas. A qualidade dos
produtos fez crescer a demanda pelos
produtos “Koerich” e a produção teve que
aumentar. (MACEDO, 2005, p. 121)

O abatedouro de carnes chegou a ter 70 empregados e
o comércio de carnes tornou-se a atividade mais importante da
família Koerich
9
. Seus produtos se tornaram apreciados em toda
a região. Nesse sentido, Campos (1983) afirma que o rápido
crescimento demográfico de Florianópolis, aliada as melhorias
ocorridas no sistema rodoviário pós década de 1970,
principalmente com o asfaltamento da BR-101 e BR-470, ajuda
aumentar o comércio dos derivados da carne tanto suína quanto
bovina, facilitando o escoamento desses produtos nessas
regiões
10
. Esse aumento da produção de carne e
consequentemente sua comercialização na grande Florianópolis,
ajudou não só a família a crescer e expandir seus produtos e
serviço, como também, ajudou a dar inicio a uma vila, pois
próximo a esse abatedouro existiam casas que eram
disponibilizadas para os empregados residirem. Hoje ainda se

9
Em 1974, Walter e Antônio Koerich entram como sócios na frios
Macedo Ltda. Onde mais tarde se transforma em Macedo Koerich Ltda.
A Macedo Koerich é uma empresa que foi fundada por José Ferreira de
Macedo e Ester de Souza Ferreira de Macedo. Ela começou em 1973
abatendo 300 frangos por dia e em 2004 abatia 101.000 frangos por dia,
com tecnologia de ultima geração. (MACEDO, 2005)
10
Mesmo havendo pós década de 1970 um aument o na
comercialização de carne na região da grande Florianópolis, nas
décadas anteriores o consumo desses produtos era bem menor, pois a
a população local, principalmente a açoriana, nunca se acostumou em
consumir a carne suína e seus derivados, preferindo em contrapartida o
pescado e a carne bovina (CAMPOS, 1983).

32

encontra resquícios dessas moradias próximas à SC 407, mais
conhecida como vila Macedo.


Foto 2: Residências dos trabalhadores do abatedouro de carne de
Raulino Koerich que ficava na vila Koerich como era chamada
antigamente. Fonte: Gilson Luiz

Atualmente se encontra nessa localidade, o Museu da
Família Koerich. Ele recebe visitantes de todas as partes e tem
por finalidade mostrar a trajetória da Família Koerich, que hoje é
considerada uma família tradicional na grande Florianópolis.


Foto 3: Museu da família Koerich. Antigo mercado onde era realizado o
comércio de secos e molhados na época em que os tropeiros utilizavam
o trajeto como passagem para o litoral com destino a Florianópolis.
Fonte: Ademar Fernandes

33

O comércio em meados do século XX era bastante intenso
nessa região, mesmo com o trajeto alterado para a região do rio
Cubatão em 1845, a produção primária continuava forte na bacia
do rio Maruim. Sendo que o caminho antigo não fora
abandonado de imediato pelos tropeiros. Com a diminuição das
trocas de produtos devido àquela mudança, as localidades que
se encontram ao longo do trajeto se tornam menos povoadas.
Embora, mais tarde, por volta da década de 1980 e 1990 passem
a ser mais procuradas para moradia, acarretando um
adensamento populacional maior, próximo às margens do rio
Maruim, se tornando mais tarde bairros do município de São
José e São Pedro de Alcântara. Mais ou menos por esse
período, o trajeto que passava pela Vila Koerich é praticamente
abandonado, tendo em conta a criação e imediata pavimentação
de um novo e curto trajeto, um pouco mais afastado do rio
Maruim, passando por trás do terreno do Colégio Estadual
Joaquim Santiago. Assim, naquele curto trajeto antigo, que
margeava a Usina, a ocupação diminuiu consideravelmente.
Existe hoje neste local, grandes terrenos vazios, usados como
pasto, esperando uma futura ocupação.

34


Foto 4. Do lado esquerdo, antiga estrada que era utilizada pelos
tropeiros para fazer o comércio entre o planalto e o litoral. Do lado
direito a SC 407, atual estrada usada como passagem principal pelos
moradores da Colônia Santana e do Município de São Pedro de
Alcântara. Fonte: Ademar Fernandes

Embora a ocupação do bairro Colônia Santana ocorra de
forma mais perceptível no final do século XX, ela acontece
efetivamente em meados do século, logo após a implantação do
Hospital Colônia Santana e da Escola Estadual Joaquim
Santiago, pelo Governo do e stado, iniciando assim, o
aprofundamento do povoamento na região. Tiveram mais
influencia neste sentido na ocupação o hospital e a escola do
que a Usina Hidrelétrica construída no inicio do século XX.

3.3 Usina, Hospital, Colégio Estadual: novos elementos na
paisagem influindo no processo econômico e social

O bairro Colônia Santana, localizado no distrito sede do
município de São José, distante 12 km do Centro Histórico, e 22
km de Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina. Já no
inicio do século XX, notam-se as primeiras transformações na
paisagem local com a implantação da Usina Hidrelétrica no rio
Maruim. Na época de suma importância para o desenvolvimento
de São José e Florianópolis. A usina Hidrelétrica do Sertão do
Maruim, localizada as margens do rio Maruim, foi inaugurada em

35

1910 pelo governo de Gustavo Richard
11
, mostrando que desde
o inicio do século, o estado esteve presente na mudança da
paisagem do lugar.
















Foto 5: Usina hidrelétrica construída no inicio do século XX, localizada
no bairro Colônia Santana. Fonte: Ademar Fernandes

Para Silva (2000) “ela substituiu lampiões a gás e
representou um salto de modernidade para Santa Catarina”,
porém, não representou efetivamente um desenvolvimento local.

11
A lei de n.687 de 15 de outubro de 1906 dizia que “O poder executivo
é autorizado a promover a realização dos serviços de iluminação, água
e esgoto na capital do Estado, fazendo as despesas necessárias e
assumindo as responsabilidades que forem convenientes, entretanto
para isso em acordo com a respectiva municipalidade”. Assim foi que,
no Governo de Gustavo Richard (1906-1910), se construiu a primeira
usina hidrelétrica para iluminação pública e domiciliar de Florianópolis.
Neste sentido tomou uma série de medidas para a construção do
objetivo. Pela Lei n. 752 de 12 de setembro de 1907 sancionou: “Fica o
Poder Executivo autorizado a estabelecer as condições para concessão
de aproveitamento das Forças hidráulicas pertencentes ao Estado,
podendo dar privilégio de zona e a contratar com quem mais vantagens
oferecer o fornecimento de energia elétrica, proveniente de motores
hidráulicos, para o abastecimento de energia elétrica, proveniente de
força, luz e tração, ressalvados os direitos de terceiros” Disponível em:
<http://tinyurl.com/cjeu4yq>. Acesso em: 20 março de 2012.

36

Durante quatro décadas foi a única fonte de energia para a
capital, Florianópolis, e município de São José. Entretanto, essa
comodidade de ter energia, só era válida para os lugares mais
densamente ocupados como a região de Florianópolis e São
José. Segundo Macedo (2005), os fios de luz passavam direto
pelas propriedades próximas à usina e a sua distribuição não
acontecia para as comunidades locais. De acordo com a mesma
autora, só após a década de 1950 que a usina passaria a
fornecer energia para as comunidades vizinhas.
De fato uma obra como essa, implantada pelo Estado,
altera a dinâmica da localidade. No entanto, essa alteração não
aconteceu de forma perceptível na região próxima a usina. Isso
porque, se deu mais preferência pela distribuição de energia
apenas para Florianópolis e regiões próximas e
concomitantemente na década de 1950, inaugura-se outras
usinas hidrelétricas, e inclusive a Usina Termoelétrica Jorge
Lacerda no sul do estado (SILVA, 2000).
De acordo com Oliveira (2010) a usina passará por uma
revitalização que será realizada pela CELESC (Centrais elétricas
de Santa Catarina), que investirá R$ 8 milhões para reativação
da comporta, instalando novas turbinas e adaptando para um
futuro centro de visitantes. Hoje a usina está sob os cuidados de
um caseiro que faz a limpeza do quintal e cuida para que não
aconteça invasões e depredações no local
12
. As edificações
construídas, em sua maior parte pelos imigrantes alemães e
seus descendentes entre os séculos XIX e início do século XX,
possuem grande interesse arquitetônico. Tem como exemplo a
Igreja matriz de São Pedro de Alcântara e Usina hidrelétrica de
Santana como citado anteriormente, formando assim um acervo
histórico da região. (FERREIRA, 1994) Incluir-se-ia também, o
Museu da família Koerich (Colônia Santana) e a casa que
abrigava o comércio da família Kretzer na localidade de Santa
Filomena.

12
“O único som que se ouve no entorno da bucólica usina é o das
águas do rio Maruim. Envolta por colinas, as antigas tubulações que
outrora recebiam e transformavam águas em energia para mais de sete
mil pessoas agora estão tomadas pela ferrugem. O maquinário alemão
que executou com esmero suas funções conta de forma silenciosa a
história do espaço outrora importante para o desenvolvimento do
estado”. (OLIVEIRA, 2010)

37

A necessidade de projetos de revitalização, através de
restaurações de bens públicos ou privados que mostram a
história de desenvolvimento de certo lugar, é de muita
importância para a compreensão da formação do espaço no
entorno dessas obras, pois é com esse tipo de valorização que o
entendimento sobre a dinâmica de ocupação ou não dessas
áreas, se torna imprescindível por parte do poder público projetos
que visam buscar o resgate histórico geográfico destas
localidades. Mas é a partir, de meados do século XX, com a
implantação do Hospital Colônia Santana (HCS) que as
transformações do lugar acontecem.
Não obstante, até a década de 1960 a economia da
localidade de Santana se caracterizava como
predominantemente rural. De acordo com os mapas de uso da
terra de 1957, 1978 e 1989, elaborados por Ferreira (1994), a
área próxima ao hospital Colônia Santana se caracterizava como
área mais densamente ocupada e suas proximidades eram
denominadas por áreas de pastagem com a criação de gado ou
áreas de agricultura. De acordo com a análise feita pela autora
através dos mapas de uso da terra, a área de agricultura na
região do médio vale do rio Maruim decresceu entre os anos de
1957 e 1978.
O hospital Colônia Santana só foi implantado na década de
1940, fato este que contribui consideravelmente para a ocupação
e mudança da atividade econômica da localidade. De acordo
com Silva (2001) a instalação do hospital não foi aleatória e nem
desinteressada, mas obedeceu a objetivos claros e definidos.
Segundo a mesma autora, um desses objetivos relaciona-se ao
assistencialismo
13
do governo de Nereu de Oliveira Ramos
14
.

13
“As representações que o político Nereu Ramos despertara, o período
em que esteve à frente do governo estadual ficou conhecido como de
prosperidade administrativa, estando fundamentada nos princípios
ditados pelo discurso estado-novista, que se traduziu em investimento
sobre a sociedade catarinense passando por uma ampla campanha
sanitária com serviços de saúde, higiene e reclusão, vindo ao encontro
do processo de modernização da cidade, que foi bastante intensificado
neste momento, mas que já havia iniciado na transição Império –
República.” (SILVA, 2001, p. 16)
14
Político influente, natural da cidade de Lages (SC) que governou o
estado de Santa Catarina de 1935 a 1945. Chegou a exercer
interinamente a presidência da república (1949 e 1955).

38

Outro motivo trata-se do discurso da intelectualidade das
primeiras décadas do século XX, que revelava um novo
significado para a política de saúde pública no combate às
endemias, nas campanhas de saneamento básico em igual
medida, com tratamento e isolamento dos doentes. Várias
intervenções na saúde foram realizadas nesse período para que
pudesse ordenar o crescimento das cidades e das populações,
isso visava a criação de uma nova imagem, atendendo aos
interesses da classe dominante, os quais almejavam o
afastamento da população pobre e inculta da cidade. De acordo
com Costa (2010), por causa de várias mudanças econômicas e
sociais que estavam ocorrendo no Brasil neste momento, se
fazia necessário o uso de medidas de controle como a criação de
um espaço que recolhesse das ruas aqueles que de uma forma
ou de outra ameaçasse a ordem social. A localização que seria
construído o hospital também é considerado um motivo que
reforça a implantação na localidade de Colônia Santana, pois
esta encontrava-se bastante isolado. Isso tudo, com a intenção
de afastar ao máximo do espaço urbano, que se pretendia que
fosse este, reordenado e reorganizado (SILVA, 2001). Tal
concepção instituída até então na psiquiatria francesa, passou a
fazer parte da filosofia brasileira na construção dos hospícios até
meados do século XX. Borenstein (2004) afirma essa ideia
colocando que;

[...] hospitais colônias, distante das cidades e
destinados a grandes hospícios, cuja
finalidade era manter os internos agrupados,
segregados, ‘trabalhando e produzindo,
grande parte do que consumiam, para que o
Estado tivesse o menor ônus possível com a
manutenção destes doentes e dos
respectivos hospitais (BORENSTEIN, 2004,
p. 65).

39

Foto 6: Vista Parcial do Hospital Colônia Santana. Década de
1940. Fonte: Costa (2010)

O paciente quando internado precisava de um lugar
afastado, tranquilo e calmo. Seu tratamento precisava ser feito
por especialistas. Sobre a escolha do local para a implantação do
Hospital Colônia Santana, Silva (2001) descreve que,

“[...] a sua característica eminentemente
rural, permitindo assim a instalação de uma
colônia agrícola, onde os próprios pacientes,
através da praxiterapia, trabalhariam para
suprir suas necessidades, diminuindo os
gastos do Estado, e com uso de cura, serem
devolvidos à sociedade, adequados ao
trabalho.” (SILVA, 2001. p.28)

Embora para o Estado esse afastamento geográfico fosse
defendido como importante para a cura dos pacientes e
necessário para se ter uma sociedade na área urbana mais
organizada e higiênica, a distância do hospital Colônia Santana
ocasionou vários problemas para os familiares e enfermeiros que
nele trabalhavam. Nesse sentido, Fontoura (1997) coloca que as

40

condições geográficas, o afastamento da cidade e o
distanciamento dos familiares, ainda é questionado quando se
discute a localização do HCS em São José. Mas a presença do
hospital fez com que a comunidade, antes pequena, começasse
a aumentar. Como o trajeto era dificultado por causa da estrada
estar em más condições de uso, os próprios funcionários
passaram a ganhar terrenos para a construção de suas casas.
De acordo com Silva (2001), dentro dos limites do Hospital,
foram construídas residências paras as famílias do Diretor,
médico auxiliar, administrador, pároco e as freiras da irmandade
da divina providência
15
. Os funcionários, como vigilantes e
serventes, recebem um abrigo como alojamento de funcionários
residentes. Essa pratica de ceder terras por parte do estado por
intermédio do Diretor do hospital fica evidente na história de
povoamento da localidade Colônia Santana. Silva (2001) reforça
essa ideia colocando:

[…] é possível perceber a presença de uma
prática clientelista, um certo jogo de
compadrio, favorecimento que com o passar
do tempo ia ficando mais resistente por se
constituírem em práticas já moldadas na
trama nacional, onde o diretor, investido de
autoridade, cedia terrenos aos funcionários
não havendo nenhum tipo de documentação
que regularizasse a referida cessão de
terras, conseguindo assim, uma maior
vinculação do funcionário ao hospital, e para
garantir a assiduidade do mesmo ao
trabalho. (SILVA, 2001. p. 40)

Para Koerich (2008), a política da época fazia com que o
trabalho no Hospital Colônia Santana fosse almejado pelos
moradores locais, pois o salário, mesmo sendo baixo,
possibilitava uma vida mais tranquila na localidade, pois o
pagamento de contas públicas como alimentação, aluguel,

15
Provenientes do hospital de Azambuja, as freiras da irmandade da
Divina Providência chegaram ao HCS junto com os primeiros 28
internos em 04/01/1942. (FONTOURA, 1997. p. 76)

41

energia, entre outros era feita pelo estado
16
. Embora,
inicialmente essas propriedades fossem para um auxilio ao
funcionário de forma a compensar a longa distancia das outras
localidades, isso se tornará mais tarde, com o desenvolvimento
de Florianópolis e região, concomitantemente com o município
de São Pedro de Alcântara, uma localidade mais densamente
ocupada, tendo sua ocupação mais efetiva, próxima ao hospital e
a rodovia SC 407.
Por sua vez, a Escola de Educação Básica Professor
Joaquim Santiago
17
começou a funcionar na localidade de
Colônia Santana na década de 1960. Na época, a implantação
de uma escola pública em um local afastado do centro de São
José, parecia um pouco precipitado por parte do governo, no
entanto, esse tipo de obra mostra como o interesse do governo
naquela localidade já aparecia de forma direta, pois com a
implantação do hospital Colônia Santana, três décadas antes, a
localidade passou a ter mais habitantes, logo, a distancia que o
lugar tinha para o centro, dificultava muito o acesso para as
crianças se deslocarem até a escola.

16
“Dessa forma, se observa como uma política de saúde implementada
numa sociedade determina o modo de vida das pessoas, favorece a
formação de aglomerados residenciais, determina uma forma de
sobrevivência, contribui para o desenvolvimento de uma cultura local
com mitos e preconceitos que vão sendo transmitidos de geração em
geração, deixando seus reflexos durante anos”. (KOERICH, 2008. p. 61)
17
A escola de Educação Básica Professor Joaquim Santiago foi criada
sob a denominação de Escola Mista Salto do Maruí a 20/11/1921,
visando oferecer a escolarização básica aos membros da comunidade
de salto do Maruí. Em 15 de março de 1952, pelo decreto nº196 passa a
categoria de Escola Reunida no então Governo do Sr. Irineu
Bornhausen. É publicado no Diário Oficial de Santa Catarina em 28 de
março de 1962, através do Decreto nº1150 sua elevação a grupo
escolar com a denominação Professor Joaquim Santiago (homenagem
prestada ao Professor, Político, Escritor e sobretudo Espírita de grande
atuação na cidade de São Francisco do Sul/SC). Em 1964 é criado o
Ginásio Normal Agripa de Castro Farias. A união do Ginásio Normal e
do Grupo Escolar dão origem em 1971, através do Decreto 10.401 a
Escola Básica Professor Joaquim Santiago. A transformação em
Colégio Estadual ocorre a 19/03/1985, com o Parecer SED nº107/85. A
denominação de Escola de Educação Básica Joaquim Santiago nasce
no início do ano 2000, enquanto prerrogativa assinada pela Lei nº
9394/96 Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

42

Foto 7: Na foto de baixo, o principal acesso à escola era pela a estrada
antiga, aberta outrora pelos tropeiros na caminhada do litoral ao
planalto lageano. Já, na foto de cima, o novo acesso, asfaltado tendo a
escola ao fundo reformada e ampliada com ginásio esportivo.
Fonte: Ademar Fernandes

Com a Escola Estadual Joaquim Santiago implantada na
localidade, muitos estudantes de outras localidades como Pagará
e Mariquita, começaram a frequentá-la, pois o trajeto diminuíra
bastante, se comparado às instituições de ensino na região
central de São José. Por ocupar uma área de considerável
tamanho, a escola também passa a ser um local com moradias
próximas, apresentando um novo espaço de adensamento
populacional. Uma obra como esta denota certa demanda de
tráfego, aumentando consideravelmente a importância de morar
próximo por apresentar característica de um possível
crescimento econômico e valorização da terra.
Obras como usinas, hospitais, escolas, postos de saúde,
duplicação de estradas, entre outras, mostra como o Estado, em
qualquer instância, está presente no desenvolvimento regional,
independente da escala, sendo de um bairro, município ou
regiões metropolitanas. Nesse contexto, Corrêa (1989) coloca
que com a implantação de uma obra de interesse direto do

43

Estado, por exemplo, de uma refinaria de petróleo, o espaço
geográfico passa a ser reorganizado, ao mesmo tempo em que
interfere indiretamente na natureza do desenvolvimento da
região, aumentando o uso das terras nas áreas próximas dessas
construções.
A complexidade das relações que transforma a paisagem
local é considerada pela geografia como sendo um passo muito
importante para o entendimento da construção do espaço atual.
Conforme Santos (2008):

[...] o espaço constitui uma realidade objetiva,
um produto social em permanente processo
de transformação. O espaço impõe sua
própria realidade; por isso a sociedade não
pode operar fora dele. Consequentemente,
para estudar o espaço, cumpre a apreender
sua relação com a sociedade, pois é esta
que dita a compreensão dos efeitos dos
processos. (SANTOS, 2008, p. 67)

O bairro é o lugar em que fica mais evidente essas
transformações sócio espaciais. Nelas, as características
próprias de um bairro afloram de forma que se torna
inconfundível aos moradores locais e aos conceitos básicos da
população. De acordo com Jesus (2006):

[...] o bairro não pode ser visto como uma
unidade territorial rígida, definida politica e
administrativamente e com caráter físico-
material delimitado a partir de estratégias
governamentais ou de planejadores urbanos.
Conceber o bairro desta forma seria aceita-lo
como espaço abstrato (geométrico, vazio,
ideal) e nega-lo como espaço de
potencialização do sentimento coletivo (que
legitima a vida de bairro) enquanto espaço de
realização do vivido. (JESUS, 2006, p. 11)

As transformações e evolução sócio espaciais de bairros
nos municípios de Santa Catarina são de grande riqueza no que
se refere às características culturais de cada localidade. O
estudo dessas relações é de extrema importância para o

44

entendimento dos processos de ocupação e uso do solo, as
quais podem auxiliar no entendimento da dinâmica da sociedade
que muda a todo instante de forma diferente, levando em
consideração os atores da construção do espaço urbano da
sociedade como um todo.

3.4 Migração, urbanização, ampliação do comércio,
evidenciam as transformações pós anos 1980

A dinâmica que se insere o município de São José hoje,
fazendo parte da área conurbada de Florianópolis, mostra que o
município não se caracteriza mais como uma “cidade dormitório”
e sim como município com atividades próprias e totalmente
independente dos municípios vizinhos de Biguaçu, Palhoça,
Santo Amaro da Imperatriz e mesmo Florianópolis. Segundo o
Censo Demográfico do IBGE de 1940 a 2000, a ocupação do
território brasileiro vem se tornando cada vez mais urbanizado, e
consequentemente a sua população se tornando mais urbana.
Na década de 1940 a população correspondia a um total de 12,8
milhões de habitantes morando nas cidades, chegando no final
do século XX a 137,7 milhões.
Esse processo de urbanização ocorre em toda grande
Florianópolis, principalmente a partir de meados do século XX,
conforme coloca Silva (2006):

Como reflexo da conjuntura política e
econômica no país, a paisagem urbana da
Grande Florianópolis também sofreria
alterações irreversíveis nas décadas de 70 e
80. A execução do aterro da Baía Sul e de
parte da via de contorno norte, que liga o
centro da cidade à Universidade Federal,
foram as principais obras do período, bem
como as pontes Colombo Salles e Pedro Ivo,
de ligação entre a ilha e o continente. Até
então a passagem era feita somente pela
ponte Hercílio Luz. (SILVA, 2006. pg. 72)

Em São José essa mudança do rural para urbano não foi
diferente. A migração, a industrialização e a ampliação do
comercio alavancaram o aumento populacional dando uma nova
cara para um município que até meados do século XX era

45

considerado como sendo de característica rural. Todas as áreas
que antes dominavam a produção agrícola em São José, no
modo tradicional da produção açoriana, se voltaram para o novo
modo de produção destinado ao grande mercado consumidor de
alimentos. Uma parte delas acaba se tornando pastagens sem se
caracterizar como uma economia rural marcante
18
.
A migração entre os municípios vizinhos da região da
grande Florianópolis também contribuiu para o aumento
populacional em São José. Neste sentido Ferreira (1994)
completa:

Atualmente, a bacia do Maruim é palco de
fixação de migrantes provenientes de várias
áreas do estado, de estados vizinhos e,
mesmo das regiões Sudeste, Centro-Oeste,
Nordeste e até mesmo do exterior. […] parte
da população veio do crescimento de
Florianópolis, que passou a contribuir com a
imigração
19
da população economicamente
menos favorecida, se instalando nas cidades
periféricas. (FERREIRA, 1994. p. 79)

A construção da BR 101 e de outras ligações com o
planalto e oeste catarinense e as campanhas e divulgação de
Florianópolis como destino turístico fizeram com que aumentasse
de forma considerável a procura por imóveis nas áreas próximas
à capital de Santa Catarina. De acordo com Farias (2001) o
aumento da população josefense foi espantoso. Em 1960 eram
31.192 habitantes, em 1970 somavam 42.235, em 1980 o

18
Essa fase anteriormente exposta tem, no município de São José, um
período de existência bastante curto, visto que, já a partir dos anos
1990, esse tipo de agricultura diminui drasticamente. Não tanto pela
concorrência que municípios vizinhos, como Santo Amaro da Imperatriz,
Águas Mornas e Antônio Carlos, que pelas condições físico naturais
mais apropriadas e processos de urbanização ainda reduzido,
continuem a serem fortes produtores agrícolas. Mas principalmente, em
decorrência do rápido e pronunciado processo de urbanização que São
José, e também Palhoça, vem sofrendo, valorizando rapidamente as
terras periféricas às áreas já urbanizadas, ampliando-as. Inclusive,
neste sentido, os perímetros urbanos destas cidades foram tomando
áreas tipicamente rurais. (CAMPOS, 2012 p. 11)
19
A autora quis dizer “migração”.

46

número pulou para 87.818, passando em 1998 para 152.734
20
.
Hoje supera os 200 mil. Todo esse movimento de pessoas entre
cidades próximas e bairros vizinhos contribuiu para o aumento da
população na bacia do rio Maruim. Esse povoamento mais
adensado se deu nas proximidades da BR 101, pois nesta
região, conhecida como setor de baixo vale
21
, se encontram
bairros como Sertão do Maruim, Potécas, Forquilhinhas, fazendo
Santo Antonio e Ponte do Maruim.
O bairro Colônia Santana, que está localizado no setor de
médio vale
22
recebeu muitos habitantes logo após a implantação
do Hospital Colônia Santana na década de 1940. No entanto,
esse aumento foi diminuindo nas últimas décadas do século XX,
por causa da migração para as áreas mais urbanizadas,
próximas de Florianópolis e região. De acordo com o censo
demográfico realizado pelo IBGE, em 2000 a população do bairro

20
“Inicialmente, a partir de 1960, foram populações oriundas da grande
Florianópolis, Alfredo Wagner, Bom Retiro, Água Mornas, Garopaba,
Paulo Lopes, Enseada de Brito, Governador Celso Ramos, Tijucas, que
vinham em busca de empregos e/ou p or terem vendido as suas
propriedades para especulação imobiliária balneária. Esta primeira leva
ocupou Estreito e Campinas. No Segundo momento, a partir de 1980,
com a crise no campo, e a propaganda da possibilidade de emprego e
das belezas da região, vieram para São José “serranos” tanto da região
de Lages quanto do oeste e meio oeste catarinense. Simultaneamente
uma verdadeira avalanche de gaúchos, paranaenses e nordestinos
migraram para esta área. Esta segunda leva se localizou em
Forquilhinhas, Kobrasol, Bela Vista, e tantos outros loteamentos e
bairros de origem recente no município de São José”. (FARIAS, 2001, p.
113)
21
Área situada entre as encostas cristalinas das Serras do Leste
Catarinense e a planície sedimentar que se estende ate a foz do rio
Maruim na Baía Sul. Constitui-se nessa região, áreas planas de baixa
declividade, mais propícias a moradias e de fácil acesso. (FERREIRA,
1994)
22
Corresponde a parte central da Bacia hidrográfica do rio Maruim.
Encontra-se encaixada no relevo apresentando altitude em torno dos
300m. Dessa forma, o povoamento dessa região se torna mais difícil,
pois existe poucas áreas planas e a ocupação da localidade acaba se
dando mais nos encostas do morros.(FERREIRA,1994)

47

Colônia Santana era de aproximadamente 3.400 pessoas e no
último censo realizado no ano de 2010, a população aumentou
apenas 3% chegando a 3.500 pessoas aproximadamente.
Contudo, o bairro continuou se desenvolvendo próximo a
SC 407 e nas proximidades do HCS e da Igreja Santana. Esta
ultima, inaugurada na década de 1920 pela família Koerich
ajudando mais tarde a dar o nome ao bairro.

Foto 8. Primeira capela construída em 1923, dando lugar mais tarde a
atual Matriz. Fonte: Cacilda Limas

A construção da igreja mobilizou várias pessoas da
comunidade. Cada um ajudava da forma que dava, e aos poucos
a igreja passou a funcionar e celebrar missas na colônia,
realizando festas na localidade com data específica todo ano.
Conforme coloca Sandim (2006, p. 29);

A capela de Sant’Ana foi construída numa
área de terra doada pelo Sr. Engelberto
Koerich, que também prestou significativa
cooperação financeira para a realização da
obra. Os moradores do lugar também deram
sua modesta colaboração, fazendo -se
presentes na comemoração do
assentamento da primeira pedra. Uma
decisão interessante foi adotada para que
todos pudessem livremente fazer a sua

48

opção, em termos de au xilio financeiro:
colocaram sobre a pedra fundamental da
obra três martelos feitos de madeira, um
dourado, um prateado e um preto. Quem
batesse com o martelo dourado, chamado
martelo de ouro, pagaria 50$000 (cinquenta
mil réis). Quem escolhesse o martelo de
prata pagaria 30$000 (trinta mil réis) e quem
optasse pelo martelo chamado martelo de
ferro pagaria 5$000 (cindo mil réis). De um
lugar tão pequeno e de uma comunidade
pobre, não se poderia esperar uma boa
arrecadação, mas, apesar de tudo, a ideia foi
válida.

Com o tempo, a população começou a residir próximo à
Igreja, acarretando um adensamento maior nas suas
proximidades. Um dos aspectos apontado por Correa (2003)
sobre a área central é referente o uso intensivo do solo onde
existe uma maior concentração de atividades econômicas,
sobretudo no setor terciário, onde são encontrados nestes locais,
o maior preço da terra, justificando a intensidade no uso do solo.
Estas colocações são mais bem detalhadas e visualizadas em
cidades grandes com uma maior densidade urbana, entretanto
as suas características não terão grandes mudanças quando
relacionas a centros de bairros pequenos, dos quais a dinâmica
de expansão ao seu entorno se caracteriza por crescimento do
bairro a partir da sua área central.

49

Foto 9: Área central do bairro Colônia Santana, tendo a igreja como
destaque e o Hospital Colônia Santana logo a frente.
Fonte: Ademar Fernandes

No caso da Colônia Santana, essa urbanização está
evidenciada. A quantidade de construções e moradias ao longo
da rodovia SC 407 que corta o bairro e nas proximidades do
Hospital Colônia Santana e a Igreja Matriz, mostra como o bairro
se urbaniza de forma parecida as grandes cidades, partindo do
centro para as áreas ao entorno do bairro. Para Correa (2000) a
organização espacial é condição de reprodução, sendo que a
concentração de atividades localizadas em um determinado
ponto do território condiciona o aumento do capital para o
comércio da região ao entorno desses pontos de concentração.
Nota-se que os estabelecimentos comerciais do bairro Colônia
Santana, são na sua grande maioria, de pessoas da região que
possuem as moradias de melhor qualidade.
Outro ponto de grande aglomeração no bairro é no local
conhecido por “Atrás da Colônia”. Esta parte do bairro possui o
maior mercado e uma ocupação recente que vem crescendo
muito, principalmente nas duas ultimas décadas. Por fazer parte
de uma área cujas terras ainda pertencem ao Estado, a
comunidade aos poucos foi se apossando e hoje já existe uma
pequena vila dentro do próprio bairro Colônia Santana. Assim, a
configuração do espaço e da paisagem do bairro Colônia

50

Santana se mostra muito dinâmica, cuja concentração de
moradias acontece em setores do bairro bastante distintos. No
entanto, a ligação de uma área com outra fica dificultada pela
presença do rio Maruim, da morfologia da região e da separação
que ocorre entre as comunidades locais, esta última ocasionada
pela chegada anteriormente das pessoas que trabalharam ou
trabalham no hospital Colônia Santana e que conseguiram um
terreno maior e próximo ao Hospital Colônia Santana. Por isso,
as pessoas que migraram posteriormente para o bairro, ocupam
lugares um pouco mais distantes do HCS e da Igreja Matriz.

4. A LOCALIDADE DE COLÔNIA SANTANA NA ATUALIDADE

4.1 Aspectos da economia, sociedade e cultura atual

O bairro Colônia Santana, apesar de pequeno, já possui
certa independência em relação a outros que tem um
adensamento populacional maior e por consequência disto, um
maior centro comercial e áreas de serviços disponíveis em suas
localidades. O Bairro possui características próprias de sua
população e seu desenvolvimento ao longo de seu território se
caracteriza de forma única. Jesus (2006) coloca que cada bairro
é o resultado da vida pratica daqueles que nele habitam como
fruto do movimento dos elementos concretos associados aos
contextos prático sociais, provenientes das atividades culturais,
religiosas e econômicas. As diferentes áreas que fazem parte da
paisagem do bairro Colônia Santana e stão distribuídas
basicamente ao longo da rodovia SC 407, que passa à frente
Hospital Colônia Santana e da Igreja Matriz, mas hà também
outros, como ao longo do trajeto que segue por trás do HCS,
bem como mais afastados na direção oeste, caso de Mariquita
de Dentro e Mariquita de Fora, conforme visto na figura 1. A
tabela a seguir evidencia diferentes elementos constituidores da
formação e dinâmica sócio-espacial do bairro Colônia Santana e
definidores e/ou influenciadores de seu processo de
transformação da localidade.

51

Figura 1: Distribuição das comunidades e dos pontos principais
que contribuíram para o crescimento do bairro Colônia Santana
conforme imagem adaptada do Google Earth

52

Tabela 1: Elementos constituidores da formação e dinâmica
sócio-espacial do bairro Colônia Santana
1 - Instituto de Psiquiatria Colônia
Santana (IPQCS)
Fundado em 1941 , o Hospital
Colônia Santana junto com o
Hospital de Santa Tereza em São
Pedro de Alcântara, foram os
primeiros hospitais a cuidarem da
saúde mental e dos pacientes
portadores de lepra no estado de
Santa Catarina respectivamente,
sendo o primeiro, o principal
responsável pela ocupação do
bairro Colônia Santana em meados
do século XX.
2 - Igreja Matriz Santana
Localizada próximo ao HCS, a
Igreja Matriz foi fundada pela
Família Koerich e hoje é palco das
tradicionais festas do bairro.
3 - Área detrás do Hospital
Comunidade de ocupação recente
no bairro, se caracteriza por ter
moradias próximas umas das
outras e com terrenos menores se
comparados aos terrenos próximo
ao hospital.
4 - Usina hidrelétrica
Primeira Usina Hidrelétrica do
Estado de Santa Catarina, fundada
em 1910, surgiu como uma solução
para a falta de energia na região de
Florianópolis e localidades
próximas. Hoje ela está sem uso
e aguardando uma possível
restauração para receber visitantes.
5 - Vila Koerich
Local onde a Família Koerich iniciou
sua trajetória. Os Koerich iniciaram
com um pequeno comércio de
secos e molhados e hoje possuem
uma rede diversificada de produtos
e serviços na região da grande
Florianópolis.
6 - Frigorífico Tyson (Macedo)
Localizado bem na divisa do bairro
Colônia Santana com o bairro
Sertão do Maruim, a Macedo iniciou
suas atividades em 13 de julho de
1973, sob o nome de Frios Macedo
Ltda. Hoje a empresa faz parte do
grupo Tyson Foods.

53


7 - Morro da Caixa

Conhecida como morro da caixa por
causa de um Reservatório de
tratamento de água da Casan, a
comunidade está localizada no
morro e é umas das poucas que se
encontram no bairro em um terreno
com elevação superior a 100m.
8 - E.E.B. Professor Joaquim
Santiago
Escola que foi implantada para dar
a iniciação básica par a os
moradores do Salto do Maruim, se
tornou hoje uma escola de Ensino
Médio atendendo populações não
só da localidade, mas também das
localidades vizinhas.
9 - Mariquita de Fora
Localizada próxima a Mariquita de
Dentro, a comunidade de Mariquita
de Fora possui um maior
adensamento e uma característica
mais urbana. Suas moradias são de
padrões melhores e os terrenos são
maiores.
10 - Mariquita de Dentro
Comunidade com características
rurais. É o local que se encontra o
menor número de habitantes por
metro quadrado do bairro. A rua
principal ainda é de chão batido.
11 – Cemitério
Localizado no “morro do aipim”, o
cemitério é usado tanto pela
comunidade quanto pelo hospital,
que faz o enterro dos pacientes que
não possuem familiares.
12 - Campo de Futebol
Destinado a jogos de futebol, o
campo também serve para
comunidade fazer exercícios, como
caminhada e corrida.


A distribuição do comércio no bairro Colônia Santana se dá
de uma forma ampla, abrangendo tipos variados de produtos, e
serviços que servem para a necessidade im ediata dos
moradores locais. É composto por mercados, armazéns,
farmácia, loja de matérias de construção, fábricas de móveis,
lojas de vestuário, agropecuária, feira de verduras, bares e
lanchonetes, lojas automotivas, lojas para conserto e venda de

54

motos, posto de gasolina, padarias, locadora de vídeos,
restaurante, entre outros. Devido à sua diversidade, o comércio
local serve não apenas para suprir as necessidades da
comunidade, mas também para as localidades próximas como
Sertão do Maruim, Pagará Grande e do município vizinho de São
Pedro de Alcântara.
Tendo origem em diferentes etnias, como diferentes no
bairro, alemã, açoriana e negra, a cultura atual se destaca como
sendo preservada na sua grande maioria. O terno de Reis
23

realizado no inicio do ano, acontece de forma marcante nas
casas do bairro, principalmente na localidade de Pagará, vizinha
a Santana. Teve grande importância cultural no passado, como
evidenciado por Sandim (2006, p.33).

[...] Costumavam também cantar o Terno de
Reis, o que faziam todos os anos após o
Natal. Em cada casa, pediam uma esmola
depois dos cumprimentos e, para encerrar,
entoavam um verso agradecendo a oferta.
Nesse mister, permaneciam, muitas vezes,
noites inteiras, principalmente na noite de
véspera do dia 6 de Janeiro, dia dos Reis
Magos. O dinheiro que arrecadavam servia
para ajudar o custeio das famílias visto tratar-
se de pessoas muito pobres.

Por outro lado, a festa de Santana e a do Cristo Rei são as
festas mais tradicionais do bairro, sendo que a primeira é a mais
festejada. De acordo com Sandim (2006), após a inauguração da
Capela de Sant’Ana no inicio do século XX, a comunidade do
sertão ganhou mais uma festa. Nela havia bailes com orquestras
de Florianópolis que eram realizadas nos salões da residência do
Sr. Engelberto Koerich. A festa ocorria com muita animação em
decorrência de pessoas que ali compareciam as quais eram
procedentes de municípios adjacentes.
Na festa de Santana, a família Koerich sempre está
presente, ajudando e participando da mesma. De acordo com o

23
O Terno de Reis é realizado por moradores locais que passam de
casa em casa cantando versos nas datas do nascimento de Jesus
Cristo, primeiro do Ano e data de Santo Reis, com intuito de levar essa
celebração aos moradores e alegrar as casas de quem os recebem.

55

Padre Neri Hoffmann
24
a família Koerich nunca esqueceu das
suas origens e tem prazer de participar da festa, patrocinando e
ajudando na organização das festividades.

























Foto 10. Festa de Santana 2010. Fonte: Paróquia Santana – Álbuns.
Fonte: Paroquia Santana.

A festa de Santana é caracterizada por um momento
religioso onde a comunidade se reúne para festejar. Essa
confraternização acontece desde quando a capela foi
inaugurada, conforme coloca Sandim (2006, p. 29);

No dia de Sant’Ana, entre 9 e 10 horas da
manhã, o padre celebrava a Santa Missa,
momento em que a capela,
maravilhosamente ornamentada, ficava
lotada de fiéis. Depois a festa continuava
com o memorável baile. A boa e variada
comida nunca faltava para aqueles que
pretendiam fazer uma refeição completa,

24
Entrevista realizada com o Padre Neri Hoffmann na Secretaria da
Paróquia Santana em 24 maio de 2012.

56

caprichosamente preparada e bem servida,
tudo num ambiente atraente, alegre e
aconchegante. Os salões permaneciam
cheios até a madrugada do dia 27.

Em meados do século XX, segundo o Padre Neri, a igreja
de Santana era a única igreja das proximidades, e as missas
eram realizadas na região pelo padre que saía da igreja de
Santana para realizar missas, em São José, Palhoça e Santo
Amaro da Imperatriz. Em vista disso, as pessoas mais antigas
destas localidades, sempre comparecem à festa de Santana,
contribuindo no aumento da renda e ajudando a manter a festa
como uma tradição do bairro.
Mesmo com o aumento da população na ultima década e
com novas culturas vindo com essas pessoas, a cultura local
ainda é bastante presente e sem muita mudança. De acordo com
o morador e Vereador Moacir da Silva
25
, os novos moradores se
incorporaram à cultura existente do local ou não acabaram
expressando bem a sua cultura de origem. Segundo afirma, na
localidade de Santana, chegou a existir um cinema
26
que na
época era levado ao local por um frei e que só tinha na Colônia
Santana e na região Central de São José
27
. Quando se fala do
campo religioso, a abertura de novas igrejas e religiões
aconteceu normalmente, sendo que a igreja católica ainda é a
mais frequentada pela grande maioria da população do bairro.
Para Moacir da Silva, a igreja católica realiza um trabalho social
muito importante no bairro, com grupos jovens, grupo de idosos,
apostolados da oração, grupos bíblicos, entre outros ajudando no
desenvolvimento social e profissional na vida dos moradores da
comunidade.



25
Entrevista concedida pelo Vereador Moacir da Silva no gabinete da
Câmara municipal de São José em 24 de maio 2012.
26
De acordo com Sandim (2006), havia indivíduos que percorriam as
localidades do interior dos municípios levando para as pessoas simples,
algo sempre curioso. Eles alugavam salas ou galpões e realizavam ali
sessões como truques e contorcionismos.
27
Para o referido vereador, o cinema acabou porque veio em um
pacote pronto, não nascendo da necessidade das pessoas e por isso a
desvalorização do cinema acabou sendo maior.

57

4.2 Diferenciação e problemática social interbairros

As diferenças entre os bairros de São José são bastante
perceptíveis, quando se trata de infraestrutura, principalmente na
malha viária. Alguns bairros são mais privilegiados do que outros.
Isso se dá por causa da necessidade de cada bairro, da urgência
de cada localidade nas suas necessidades primárias, mas muitas
vezes, por meras decisões políticas ligadas a interesses dos
mais diversos. Isso veio favorecer ao projeto de revisão do plano
diretor atual, com o intuito de dar uma finalidade melhor para
cada bairro e região do município de São José.
O projeto de revisão do plano diretor de São José de 2004,
e que ainda não foi aprovado, tem como base os princípios
estabelecidos no estatuto da Cidade
28
. Esse projeto foi resultado
de um processo participativo, onde toda a população teve a
oportunidade de colocar todos os seus problemas e assim definir
os principais eixos estratégicos de intervenção para o
lançamento das diretrizes do plano diretor.
Entre os seus vários objetivos definidos para construir uma
São José cada vez melhor, encontra-se a divisão territorial, mais
conhecida como zoneamento. Este consiste na divisão do
território em macrozonas, que se caracterizam como zonas e
áreas especiais de interesse, nas quais se estabelecem as
diretrizes para o uso e a ocupação do solo. Estas macrozonas
servem como referencial mais detalhado para definir as áreas de
interesse de uso onde se pretende incentivar, coibir ou qualificar
a ocupação. O bairro Colônia Santana está localizado em uma
dessas macrozonas e de acordo com projeto de revisão do plano
diretor, ele faz parte das áreas de Preservação de Mananciais
29

(APM).




28
A Lei nº 10.257, de 10 de Julho de 2001, estabelece de forma geral,
normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da
propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-
estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental.
29
Estas áreas são regiões do território municipal de domínio público ou
privado, destinadas à proteção e recuperação de mananciais e recursos
hídricos, e de suas características ambientais relevantes.

58



Tabela 2: Zona em que se encontra o bairro Colônia Santana
e seus objetivos conforme revisão do plano diretor de 2004
Zona Definição Objetivos
Zona Rururbana
da Colônia
Santana
Um núcleo de
povoação bem
definido que
preserva suas
origens rurais, mas
desenvolve
atividades próprias
dos núcleos urbanos
com problemas de
regularização
fundiária e carência
de infraestrutura e
de equipamentos
urbanos.
Garantir a
manutenção da
ocupação de baixa
e média densidade;
implementar
programas de
regularização
fundiária; promover
a manutenção da
qualidade
ambiental;
Fonte: Projeto de revisão do Plano Diretor 2004.


A Macrozona Urbana II tem como definição áreas com
ocupação rarefeita, uso residencial predominante, infraestrutura
deficiente, malha urbana irregular, grande quantidade de vazios
urbanos e localização distante das áreas centrais
30
. No bairro
Colônia Santana essas deficiências ficam bastante evidentes, e o
interesse de melhorar a infraestrutura do bairro parte do governo
municipal, no entanto, como especifica o Vereador Moacir da
Silva, as terras da Colônia Santana são na sua grande maioria
do governo estadual, dificultando os investimentos na localidade.
Embora esse seja um dos entraves para se investir em
melhorias, o município de São José, aos poucos vai conseguindo
melhorar a infraestrutura local. A construção de uma ponte de
concreto para interligar duas comunidades dentro do bairro, o

30
Para saber mais sobre as macrozonas e suas subdivisões consultar o
projeto de revisão do plano diretor do município de São José. Disponível
em:<http://www.urbanidades.arq.br/docs/pdsj/pdsj_projeto_de_lei.pdf>.
Acesso em: 29 de abril 2012.

59

asfaltamento da via principal do bairro, a reforma do posto de
saúde, a escola profissional e a implantação da Escola municipal
aparecem como obras para melhorar o dia a dia da população
local.
Entretanto, o quesito relacionado ao saneamento básico é
bastante carente no bairro. Não é encontrado uma rede de
tratamento de esgoto e os moradores que não tem condições de
ter uma fossa séptica acabam jogando o seu esgoto no rio
Maruim. Uma das situações que mais incomoda a comunidade é
referente às enchentes. De acordo com alguns moradores
31

quando ocorre enchente, vários estabelecimentos comerciais são
prejudicados, principalmente aqueles que ficam próximo à beira
do rio. Um morador relata que com um metro de altura, a água
impossibilita a entrada para seu estabelecimento comercial,
fazendo com que fique sem trabalhar durante esses dias. É de
evidenciar o conhecimento da comunidade local sobre os seus
direitos perante ao poder público. Manifestações realizadas à
época que ainda não era asfaltada e duplicada a rodovia SC407
aconteceram de forma bastante forte, chegando a ser fechada a
rodovia algumas vezes para chamar a atenção do poder público
para essa necessidade que é fundamental para o
desenvolvimento do bairro. Esta reinvidicação por parte dos
moradores já acontece a mais de duas décadas e
coincidentemente a duplicação ocorre ao mesmo tempo em que
um Shopping está sendo construído no inicio da rodovia e lotes
de valores elevados sendo vendidos no bairro Sertão do Maruim.
A falta no pagamento de impostos dificulta a implantação
de serviços essenciais na localidade
32
. A melhora no atendimento
de segurança pública, investimentos no saneamento básico,
entre outros, se tornam difíceis a sua realização, pois com o
pagamento de impostos o município conseguiria implantar mais
serviço atendendo de forma mais abrangente as necessidades
da comunidade. Entretanto, o bairro Colônia Santana continua a
se desenvolver estando sempre em um crescente

31
Entrevistas tiradas do blog: <http://blogdacolonia.blogspot.com.br/>
desenvolvido por Guilherme Gabriel Lopes com finalidade acadêmica do
curso Comunicação Social - Mídia Eletrônica das Faculdades integradas
ASSESC.
32
Muito tem haver com o fato de boa parte das terras da localidade se
ocupada e fazer parte das terras do HCS, logo, terras do estado.

60

desenvolvimento econômico e social, tendo a participação dos
moradores e a participação discreta do estado.


4.3 Deficiências e/ou possibilidades de crescimento futuro

Um dos grandes aspectos da paisagem do bairro Colônia
Santana é a sua localização em meio a morros que a rodeiam na
grande parte de sua extensão territorial. Ferreira (1994) coloca
que, a área da vila Santana, na sua grande maioria tem
característica de acumulação coluvial
33
e um relevo forte
ondulado e montanhoso. Por esse motivo, a sua expansão não
se torna favorável para condomínios e casas de conjuntos
populares. No entanto, se percebe ao longo do rio Maruim e nos
altos dos morros ocupações desordenada por parte de
moradores que tem baixa renda e que vão a procura de terrenos
baratos e de tamanhos pequenos para construir suas moradias.
Entretanto, próximo a subida dos morros, perto da rodovia SC
407, o padrão das casas já muda, pois a população residente
dessas áreas possuem uma renda melhor, dos quais na sua
grande maioria são ou foram funcionários do hospital Colônia
Santana e acabaram ocupando essas áreas próximas ao
mesmo.
O fato de o bairro Colônia Santana estar localizado a 10
quilômetros da BR101 não o deixa de ser considerado um bairro
da periferia urbana que cada vez mais recebe habitantes.
Segundo Corrêa (1986) o preço da terra em área periurbana é
influenciado pela expectativa da demanda para fins posterior de
urbanização, deixando-a esterilizada e em pousio social pelos
proprietários a espera de uma futura ocupação e urbanização da
localidade
34
. O município de São José nas ultimas décadas,

33
“Corresponde a áreas rampeadas com declividades variadas,
levemente convexizadas, resultantes da concentração de depósitos
provenientes dos fluxos torrenciais, localizados nas partes mais
afastadas dos pedimentos e/ou de leques e cones de dejeção
deslocados em período de rompimento de equilíbrio
morfogênese/Pedogênese”. (FERREIRA, 1994. p. 34)
34
No município de São José essa pratica de deixar a terra em pousio
acontece de forma bastante visível. Segundo Simas (2010), o valor da
atividade pecuária não se dá em função do desenvolvimento das

61

passa por uma transformação na sua paisagem. Os lugares que
antes eram considerados rurais e sem uso, começam a ser
ocupados densamente por pessoas que vem de fora a procura
de trabalho e pela expansão urbana no município nestas áreas.
Simas (2010) coloca que a partir desta evolução as áreas
periféricas destinadas a empreendimentos urbanos passam a ter
uma valorização considerável levando a diminuição das áreas de
agricultura. Uma das atividades decadentes no bairro Colônia
Santana é a bovinocultura mista, que acaba sendo apenas uma
geração de renda complementar para os caseiros e pequenos
proprietários da região. (SIMAS, 2010)
Essa diminuição nas atividades rurais como a agricultura e
a pecuária no bairro Colônia Santana, mostra como a
importância de usar o terreno para produzir alimentos vem
decrescendo ao longo dos últimos anos. A expansão urbana, não
apenas no próprio bairro, mas também nos bairros vizinhos, está
alterando a forma de usar a terra nessas localidades mudando
consideravelmente sua paisagem. O crescimento urbano no
bairro Colônia Santana já é evidenciado e com a duplicação da
rodovia SC 407, este crescimento só tende a aumentar para as
áreas até então rurais e de uso basicamente para agricultura e
pecuária. A pavimentação asfáltica da via que liga o centro da
Colônia Santana com o Pagará, tende a aumentar ainda mais a
ocupação na direção de trás do HCS.

4.4 Duplicação da Rodovia SC-407 provoca novas
transformações na região

De acordo com o estudo intitulado “Leitura da Cidade” que
também faz parte do projeto de revisão do plano diretor de São
José, os bairros Sertão do Maruim e Colônia Santana, entre
outros, sofrem uma segregação por causa da malha viária, pois
se encontram distantes e desconectados dos bairros mais
próximos, dificultando o acesso da população às áreas de
interesses comuns como as áreas centrais de Florianópolis e

atividades como uma economia rural marcante, mas acontece no
sentido de valorizar as terras onde essas atividades são desenvolvidas.
As terras acabam se tornando vazias e subaproveitadas, sen do
supervalorizadas no contexto de um avanço urbano no município de
São José.

62

São José. Isso foi uma característica do município de São José
até meados do século XX. São José até então era considerada
uma cidade jovem no processo de urbanização por conta de seu
território ter predomínio rural. Passa a partir da década de 1960,
a receber indústrias às margens da BR-101
35
dando uma nova
característica ao município, aumentando a oferta de emprego e
por consequência o aumento da migração. A procura por
moradias passa a ser uma resposta dessa urbanização
desordenada ao longo de seu território.
Sua função na região da grande Florianópolis muda de
município tipicamente rural até então, para ser conhecida como
centro industrial daquela região. Nas três ultimas décadas o
processo de conurbação na grande Florianópolis é intensificado
e a expansão urbana sem planejamento nos municípios vizinhos
como Palhoça, Biguaçu e São José, aumenta
consideravelmente, principalmente neste último que faz fronteira
direta com Florianópolis. Conforme aponta o estudo Leitura da
Cidade, o rápido e desordenado crescimento urbano acarretou
problemas na organização espacial e na infraestrura destes
municípios.
De acordo com o mesmo estudo, por vários anos o espaço
da região conurbada assumiu o papel de periferia da expansão
urbana de Florianópolis com características de baixas
densidades, altas taxas de crescimento demográfico e
concentração das populações de baixa renda. As rodovias
estaduais servem de ligação entre as áreas centrais dos
municípios e as áreas mais distantes dos mesmos. Por anos,
essas rodovias tinham apenas interesses de facilitar o acesso
dos bairros mais distantes às regiões centrais de cada município.
A rodovia SC 407 é uma exemplo do descaso que o estado
teve com os moradores das localidades em regiões bastante
distantes da área central de São José. Houve por muito tempo
segregação de certas localidades, como o atual município de
São Pedro de Alcântara, os bairros Colônia Santana e Sertão do
Maruim, com o resto do município de São José. Entretanto, a
duplicação da SC 407 pode vir a mostrar que essa segregação

35
“Iniciou-se, nas regiões contempladas pela rodovia, uma profunda
transformação na ocupação espacial. O território foi explorado, de forma
diferenciada, com instalações voltadas para o comércio, a indústria, o
turismo e a hotelaria”. (NUNES, 2008. p. 32)

63

pode ser diminuída, fazendo com que os bairros Colônia Santana
e Sertão do Maruim se integrem ao sistema viário da região de
forma a melhorar a locomoção dos moradores locais.
Embora, isto aumente o fluxo de veículos e pessoas
naquela região, existe uma possibilidade grande de aumento na
construção de moradias próximas à rodovia duplicada. É de se
considerar que a paisagem mudará significativamente no bairro
Sertão do Maruim. Muito da sua área consiste de grandes pastos
e de locais pouco utilizados para moradia próxima a rodovia SC
407. Essa alteração na paisagem ocasionada por conta da
duplicação da rodovia é demonstrada de forma direta como o
poder público age na formação do espaço geográfico. Correa
(2003) coloca que é a partir da implantação de serviços públicos,
como sistema viário, calçamento, água, esgoto, iluminação, que
o estado aparece de modo mais corrente.
Todo esse tipo de obra influenciado pelos formadores do
espaço urbano
36
traz uma nova formação para as localidades
que antes eram pouco povoadas e passam a ter uma migração
por causa das facilidades que passam a se instalar
posteriormente à implantação de grandes obras. Como é o caso
da duplicação da rodovia SC 407 até o Sertão do Maruim e o
asfaltamento da mesma rodovia que vai desde o bairro Colônia
Santana até o município de São Pedro de Alcântara.
Neste sentido Nunes (2008) enfatiza mostrando que;

O arranjo espacial das atividades
econômicas, ao longo do perímetro da
rodovia, motivado pelos fluxos de
investimentos, tornou-se o principal incentivo
às migrações internas, sobretudo do campo
para a cidade. O surgimento de
oportunidades de empregos, aliado às
expectativas de diferenciais de rendas entre
regiões, representam elementos
fundamentais na decisão de migrar. Além

36
Segundo Corrêa (2003) os formadores do espaço Urbano são: os
proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais;
os proprietários fundiários; os promotores imobiliários; o Estado e os
grupos sociais excluídos. Para um maior entendimento sobre os
formadores do espaço Urbano, é interessante a leitura de O espaço
urbano, de Roberto Lobato Corrêa.

64

disso, os diferenciais de gastos dispensados
com serviços públicos também influenciam
nos fluxos migratórios. Uma vez iniciado o
crescimento demográfico, acompanhado pelo
crescimento das atividades econômicas, tem-
se uma pressão, cada vez maior, sobre a
oferta de serviços públicos, de assistência
social e de apoio à produção que são
ampliadas e neutralizadas pela dinâmica do
processo de migração, em um movimento
cíclico. (NUNES, 2008. p. 10)

O aparecimento de lotes e o aumento de moradias nas
proximidades da SC 407 se tornam inevitável. Grandes
imobiliárias veem com bons olhos essa duplicação da Rodovia
SC 407. Tanto é, que nesse local já tem lotes a venda e com boa
valorização de mercado. Ao mesmo tempo, está em construção o
maior Shopping do estado de Santa Catarina as margens da BR
101 que dará uma maior visibilidade e aumento no preço da terra
aos bairros mais próximos desta obra. O bairro Sertão do Maruim
já vive esse momento de expansão urbana. Na localidade, já
existe vários condomínios financiados pelo programa Minha
Casa Minha Vida do Governo Federal. O bairro Colônia Santana,
terá uma valorização menor se considerado ao seu bairro vizinho
Sertão do Maruim.
O fato de o bairro estar localizado em uma região de pouca
planície e com uma morfologia pouco apropriada pa ra a
construção de residências leva a entender que as
transformações no espaço na localidade de Santana por conta da
duplicação da rodovia SC 407 devam aparecer não de imediato e
sim aos poucos, como vem acontecendo ao longo do processo
de urbanização que o próprio bairro vem sofrendo desde a
implantação do Hospital Colônia Santana até os dias atuais.

65

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do exposto, percebe-se que o bairro Colônia
Santana teve uma transformação sócio espacial com certas
especificidades. O fato de se localizar na área de passagem que
levava ao Planalto mostra que a localidade teve uma
contribuição considerável no seu desenvolvimento, pois foi por
este caminho que grande parte das trocas comerciais ocorridas
nos séculos XVIII, XIX e até meados do século XX entre o
planalto catarinense e o litoral aconteceram. Não apenas esse
trajeto auxiliou no povoamento da localidade, mas também o
processo de ocupação que ocorreu nessa região que vai desde
a imigração açoriana, passando pelos imigrantes germânicos até
as migrações regionais atuais.
Por sua vez, uma obra que poderia mudar a dinâmica do
local por conta da sua importância na época, como foi a Usina,
não obteve um sucesso tão significativo como teve o hospital
Colônia Santana. Talvez o interesse do governo da época era de
apenas gerar energia elétrica para a região de Florianópolis e
São Jośe, e não povoar e região ao entorno da usina, pois o
trajeto que levava à usina sempre foi de mau estado de
conservação e bastante distante das áreas centrais. O que
contribuiu consideravelmente para a ocupação do bairro Colônia
Santana foi o Hospital Colônia Santana. A distância do hospital
das áreas centrais de Florianópolis e São José foi um fator
determinante para o povoamento próximo à área que foi
construída o hospital. As casas até então edificadas eram uma
necessidade na época para um melhor atendimento aos
doentes. Além disso, a construção de moradias próximas era
uma possibilidade concreta, considerando a permanência do
hospital no bairro.
A presença do Estado no bairro a partir das obras
implantadas na localidade mostra como este não teve uma
participação direta no desenvolvimento da região e na paisagem
geográfica local. A paisagem que tinha uma característica
totalmente rural até a implantação do HCS mudou de forma
significativa. Além do que, as transformações do rural para o
urbano que ocorreram em São José, refletiram na localidade
Colônia Santana, acarretando no processo de mudança da
economia local que passou de economia primária para uma
economia de setor terciário. A Escola de Educação Básica

66

Professor Joaquim Santiago que inicialmente foi construída para
dar assistência educacional aos moradores locais, apresentou-
se como uma obra que influenciou direto no desenvolvimento do
bairro. Suas áreas ao entorno valorizaram -se
consideravelmente, agregando mais pessoas, próxima a sua
área construída. O atendimento aos alunos do ensino
fundamental e médio ajudou na permanência dos moradores na
localidade, pois não tinha mais necessidade de os alunos irem
até o centro de São José para estudar.
Embora o hospital ainda faça parte da paisagem do bairro,
o mesmo não exerce tão fortemente a influência que teve outrora
na sua ocupação recente. O que mais atrai moradores para a
localidade atualmente é em parte o modo de ser dos habitantes
locais, aliado ao fato do lugar ainda ser tranquilo. O mais
provável, contudo, é o valor da terra ser ainda mais baixo e
acessível se comparado a outros bairros do município. No
entanto, isso não deve permanecer assim, com a duplicação e
asfaltamento da rodovia SC 407, o preço da terra certamente
sofrerá valorização imobiliária ao entorno desta rodovia e
igualmente mudará a forma de como bairro é visto sobre os
olhares das pessoas que já o conhecem. O acesso ao bairro
sofrerá uma grande melhora e o seu desenvolvimento
acontecerá de forma crescente como já vem ocorrendo ao longo
dos anos. Por sua vez, ressalta-se a importância que o bairro
Sertão do Maruim terá no desenvolvimento atual do município de
São José, pois este possui áreas de interesse tanto na questão
da expansão de moradias, quanto de indústrias.
Por muito tempo o hospital Colônia Santana foi o principal
influenciador no processo de ocupação do bairro Colônia
Santana, no entanto, esse processo de migração e
desenvolvimento local passa a ter uma característica de
“travamento” na sua expansão. Por ser o Estado, dono de
grande parte das terras e a regularização fundiária das mesmas
estarem atrasadas, a cobrança de impostos realizada pelo
município de São José se torna quase impossível. Serviços
essenciais como bancos, melhora e aumento do posto policial
com maior efetivo para assegurar a segurança no bairro,
infraestrutura como rede de tratamento de esgoto e
pavimentação de estradas dentro do bairro, entre outros, ficam
impossibilitados de serem implantados, por conta da dificuldade
de levantar recursos para investimento na localidade. A não

67

aprovação do projeto de revisão do Plano Diretor atrasa ainda
mais os desenvolvimentos levados diretamente a cada bairro do
município de São José. As ocupações irregulares tendem a
aumentar cada vez mais e obras de infraestruturas “maquiadas”
começarão aparecer de forma corrente para apenas “tapar
buracos” e não resolver problemas básicos como os de
saneamento básico. No momento em que se tem certa evolução
urbana no bairro, a necessidade de infraestrutura se torna
imprescindível para a continuação do desenvolvimento, não
apenas local mais também regional.
Como todo bairro, Colônia Santana teve uma característica
própria no seu desenvolvimento. Os moradores atuais,
principalmente os mais antigos, contribuíram para a construção
do espaço e a paisagem atual. O fato é que a ocupação e o
desenvolvimento local ocorreram principalmente por causa da
influencia do Estado nas transformações, fosse através de obras
como a SC 407 ou mesmo pelo surgimento de in dústrias,
hospitais, etc. Cada bairro se desenvolve por conta de suas
necessidades primárias e essa formação de espaço vai
depender de como o Estado atua neles e quais interesses ele
pretende para cada região.
Não obstante, há também de se considerar as iniciativas
privadas locais no processo de dinâmica e econômica na
transformação do espaço, a exemplo do grupo Koerich, sempre
presente no bairro e região, mas também grupos industriais,
como famílias Kretzer, Kremer, Zimmermann, Deschamps, entre
outras. Quanto à presença de capitais externos como a Tyson
Foods, pouco tem influído no processo de transformação local,
além do que já proporcionara (em termos de empregos,
produção, problemática ambiental) a empresa anterior que
Macedo koerich.

68

6. REFERÊNCIAS

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Florianópolis: fragmentos de memórias coletivas (1940 – 1960).
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