material dos elementos se acha diminuída nele.
O ritmo pressupõe uma imanentização de seu próprio sentido à vivência como tal, de
sua própria finalidade à tensão interna como tal: o sentido e a finalidade devem ser apenas
um
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elemento da vivência-tensão em seu valor próprio. O ritmo pressupõe uma imanentização
de seu próprio sentido à vivência como tal, de sua própria finalidade à tensão interna como
tal: o sentido e a finalidade devem ser apenas um elemento da vivência-tensão em seu
valor próprio. O ritmo pressupõe certa predeterminação da tensão interna, do ato, da
vivência (certa desesperança do sentido). O ritmo supera o futuro real, absoluto,
irremediável, incerto, e supera a própria fronteira entre o passado e o futuro (e o presente,
claro) em proveito do passado. O futuro do sentido se dissolve num passado e num presente
que lhe predeterminam o princípio artístico (pois, de fato, o autor-contemplador engloba
sempre um todo temporal: situa-se mais tarde não só no tempo, mas também mais tarde no
sentido). A passagem enquanto tal que leva do passado e do presente ao futuro (ao futuro
absoluto do sentido e não a um futuro que deixa todas as coisas no lugar, ao futuro que
deve, enfim, concluir e realizar, ao futuro que opomos ao presente e ao passado e que
encerra salvação, transfiguração, redenção; em outras palavras, ao futuro que não é uma
categoria de tempo, mas uma categoria de sentido a categoria daquilo que, no plano dos
valores, ainda não aconteceu, não está predeterminado, não está desacreditado pela
existência, maculado pelo dado-existência e que, isento dessa impureza, não pode ser traído
e beneficia-se de uma descontinuidade. ideal, não gnosiológica e teórica e sim prática no
sentido de dever ser), essa passagem corresponde ao meu puro caráter de acontecimento,
situa-se onde, de dentro de mim, participo do acontecimento único da minha existência,
onde o resultado do acontecimento é incerto e não está predeterminado (o que não está
predeterminado é o sentido e não o caráter de acontecimento este, do mesmo modo que o
ritmo e que toda vivência estética, é orgânico e interiormente predeterminado, e ele pode e
deve ser apreendido em sua totalidade, do começo até o fim, por um olhar interior que o
engloba, pois apenas um todo, ainda que potencial, é esteticamente significante); é aí,
justamente, que passa a fronteira absoluta que demarca o domínio refratário, o domínio que
por princípio é extra-rítmico, inadequado ao ritmo. O ritmo torna-se aí distorção e mentira.
É o domínio onde, em mim mesmo, a existência deve ser superada em nome do dever ser,
onde o dever ser e a existência entram
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em conflito, no interior de mim mesmo, onde ser e dever ser excluem-se mutuamente.
É aí o ponto de uma dissonância fundamental, pois a existência e o dever ser, o dado e o
pré-dado, não podem, dentro de mim, no meu interior, juntar-se no ritmo, não podem situar-
se em um único e mesmo plano de valores, não podem tornar-se uma fase de evolução
numa mesma seqüência de valores positivos (tornar-se ársis e tese do ritmo, dissonância e
cadência, pois essas duas modalidades se situam num mesmo plano de valores positivos
já que a dissonância no ritmo é sempre convencional). Mas é precisamente nesse domínio
que, no meu interior, sou confrontado com o dever ser (que percebo como outro mundo)
que é o domínio da minha criatividade mais séria e da minha produtividade mais pura.
Assim, o ato criador (a vivência, a tensão, o ato) que enriquece o acontecimento existencial,
que inicia o novo, é por princípio um ato extra-rítmico (por ocasião de sua realização, claro,
pois uma vez realizado, ele se afasta e retorna à existência onde, em mim mesmo, adquirirá
um tom penitente e, no outro, um tom heróico).
O livre-arbítrio e a atividade são fatos incompatíveis com o ritmo. A vida (a vivência, a
tensão, o ato, o pensamento), vivida nas categorias da liberdade moral e da atividade, não
pode ser ritmizada. A liberdade e a atividade criam um ritmo para uma existência passiva e
que não é livre (no plano ético). O criador é livre e ativo, a coisa que se cria é passiva e não
é livre. O que é verdadeiro, necessário, e não é livre, numa vida à qual o ritmo deu sua