Brasil Colônia
A
intimidade da Igreja com a Coroa por
tuguesa vinha desde as Guerras de Re
conquista da península Ibérica, no
século XII. A união com a Igreja levou o Estado a
sustentá-la no regime de Padroado, que permitia ao rei
opinar nos assuntos religiosos. Em contrapartida, o
clero também estava presente na Corte, interferindo
nos assuntos políticos e nas decisões mais
importantes do rei. Nada mais natural, portanto, que
na colônia houvesse presença marcante de religiosos
para garantir e assegurar o catolicismo entre o gentio.
Na visão da Igreja, a imensa população indígena da
colônia deveria, rapidamente, se converter ao
catolicismo. Com esse intuito, desembarcaram no Brasil
dezenas se jesuítas, formando o batalhão de choque
da Igreja, imbuídos na tarefa de catequizar os índios
ateus e pagãos.
A catequese na América insere-se no contexto
das decisões do Concílio de Trento e da Contra-Refor-
ma. As monarquias ibéricas, em sintonia com a Igreja
Católica, franquearam o continente americano para os
jesuítas desenvolverem a catequese. Em 1532, veio para
o Brasil o primeiro grupo comandado pelos padres Ma-
nuel da Nóbrega e José de Anchieta. Tendo como alvo
a população indígena, os jesuítas arregaçaram as man-
gas para conseguir um contato mais próximo, que lhes
permitisse ganhar a confiança dos índios. Porém, logo
de início apareceram problemas difíceis de contornar.
A língua tupi-guarani era incompreensível para
a maioria dos padres. Os costumes diferentes provo-
cavam, às vezes, situações engraçadas, pois os índios,
ao receberem os hóspedes, choravam bastante, en-
quanto que os jesuítas riam muito,
na intenção de manifestar um clima
de alegria. O jeito falador dos
padres chocava-se com a atitude
mais silenciosa e respeitosa, habi-
tual entre os índios. A liberdade
sexual, a nudez, a antropofagia e a
poligamia dos índios deixavam os padres deses-
perados, e, às vezes, não tinham como evitar a tentação
da beleza das índias nuas ou seminuas.
A dificuldade em conseguir resultados concre-
tos nas primeiras décadas da colonização levou os je-
suítas a optarem pela submissão dos índios através da
força, como comprova a carta de Manuel da Nóbrega,
enviada ao rei em 1558: “A lei que lhes hão de dar é
defender-lhes de comer carne humana e guerrear sem
licença do governador, fazer-lhes ter uma só mulher,
vestirem-se, pois têm muito algodão; ao menos
depois de cristãos, tirar-lhes os feiticeiros, mantê-
los em justiça entre si e para com os cristãos,
fazê-los viver quietos sem se mudarem para
outra parte, se não for para entre cristãos,
tendo terras repartidas que lhes bastem, e
com estes padres da Companhia para os
doutrinarem”.
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Para quebrar a resistência dos “sel-
vagens” que não se dobravam ao apelo
religioso, os jesuítas valeram-se da posi-
ção inteligente de contestar os excessos
da escravidão indígena. O início da
lavoura de cana-de-açúcar exigiu grande
quantidade de mão-de-obra. Os colonos,
“naturalmente,” encontraram nos índios
a solução para o problema, desencade-
ando a captura ostensiva dos índios para suprir a lacu-
na do trabalho. Os jesuítas tiveram posicionamento con-
trário à captura indiscriminada, aceitando a escravidão,
quando houvesse as “guerras justas”. Para os índios, a
opção de ligar-se aos jesuítas era menos traumática do
que a escravidão no engenho açucareiro. Daí para fren-
te, os índios aproximaram-se dos jesuítas, procurando
escapar do trabalho obrigatório.
AS MISSÕES
À medida que as tribos iam se escondendo nas
regiões mais interiores, os padres faziam o mesmo mo-
vimento, permanecendo meses a fio nas imediações das
aldeias, até que conseguissem abordar os índios. Há de
se registrar a coragem e o empenho de alguns padres,
que cometiam o absurdo de amarrarem-se na cruz, para
ensinar aos índios como foi o calvário de Cristo! ApósOs Jesuítas
Ajoelhado, Inácio de Loyola recebe as bençãos do papa Paulo III pelo sucesso das missões