O pecado da inveja. A segunda face do pecado original. Como lidar com ciúme.
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Added: Nov 12, 2017
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Escola Bíblica - Por que Caim matou Abel? - Segunda face do pecado original. - Como lidar com o ciúme e a inveja? 3º encontro Gn 4, 1-18
O enigma de uma esposa – Gn 4,17 Chama-nos, porém, a atenção uma série de perguntas. Começa dizendo que Caim era lavrador e Abel pastor de ovelhas (v. 2). Mas se ambos são filhos dos primeiros homens isso é impossível. Segundo a paleontologia, os primeiros seres humanos que surgiram sobre a terra, há dois milhões de anos, viviam da caça, da pesca e dos frutos naturais do solo. A domesticação de animais só apareceu 10.000 anos a.C. e a agricultura mais tarde ainda, uns 8.000 a.C. Como poderia Caim conhecer a agricultura e Abel ser pastor? No versículo 4 conta-se que Abel oferecia a Deus as primícias do rebanho e a gordura dos animais. Mas foi no Monte Sinai, muitos séculos depois, quando Deus ordenou a Moisés que o povo lhe oferecesse os primogênitos dos rebanhos (Êx 34,19) e as gorduras dos animais (Lv 3,12-16) . Como poderia Abel oferecer o que ainda não estava mandado? Mais adiante Caim convida seu irmão a ir para o campo com ele (v. 8). Mas por acaso já habitavam cidades, quando não existiam senão eles dois e seus pais? Depois de seu crime, Caim exclama: “Quem me encontrar, matar-me-á” (v.14). Quem poderia matá-lo, se até que Abel morreu não existiam senão Adão e Eva? Mas, talvez o que mais assombre os leitores seja a leitura do versículo 17, onde se afirma que Caim se casou e sua mulher ficou grávida. De onde apareceu essa mulher?
O primeiro homicida Conta a Bíblia que, pouco tempo antes de serem expulsos do Paraíso, Adão e Eva tiveram dois filhos chamados Caim e Abel (cf. Gn 4). O mais velho dedicava-se à agricultura e o mais novo era pastor. Eram muito religiosos e ofereciam os frutos de seus trabalhos a Deus: Caim, o produto do campo e Abel, as primícias do rebanho. Deus, no entanto, só se comprazia com a oferenda de Abel. Não se esclarece a razão de tal preferência, nem como os jovens perceberam as diferenças que Deus fazia. Apenas se descrevem o desgosto e a amargura de Caim diante dessa atitude de Deus. Então Deus dirigiu-se a ele com uma frase misteriosa: Caim, porém, não quis escutá-lo e começou a alimentar o ódio contra seu irmão Abel. Até que um dia convidou-o a ir ao campo e aí o atacou e o matou.
A expulsão do campo Deus, então, se apresenta a Caim e lhe pergunta: “Onde está o teu irmão Abel?” E ele respondeu com sua famosa frase: “Não sei. Acaso sou o guarda de meu irmão? ” “O que fizeste? ” — perguntou ele — “Ouço da terra a voz do sangue de teu irmão, clamando por vingança! Agora serás amaldiçoado pela própria terra que engoliu o sangue de teu irmão, derramado por ti. Quando cultivares o solo, negar-te-á o sustento e virás a ser um fugitivo, errante sobre a terra” (Gn 4,10-12). Caim toma consciência do que fez e lança um grito de profunda dor: “O castigo é grande demais para suportá-lo. Eis que hoje me expulsas da face deste solo fértil e devo ocultar-me diante de teu rosto. Quando estiver fugindo e vagueando pela terra, quem me encontrar, matar-me-á” (Gn 4,13-14). Deus, comovido diante de seu pranto desesperado, com um gesto de bondade promete vingá-lo sete vezes se alguém tentar matá-lo, e põe-lhe um sinal de proteção e salvação para que quem o veja o reconheça e o respeite. Assim Caim sai da terra que costumava cultivar e se refugia no deserto, onde é condenado a uma vida errante e de sofrimentos.
Uma figura desfigurada. Caim bom ou mal? E Abel? Quando lemos esse capítulo dessa forma, aparece uma figura de Caim bem diferente daquela que tradicionalmente nos era apresentada. Ele não aparece tão mau, nem tão perverso, como também não vemos em lugar algum que Abel tenha sido bom, como sempre temos acreditado. Que Deus tenha preferido as oferendas de um mais do que as do outro não significa que um era bom e o outro mau. Isto se deve a uma livre escolha de Deus. Tal escolha não suscitava, entre os antigos, problemas de moralidade, nem de bondade. Para eles era uma experiência cotidiana ver, muitas vezes, o rei, o faraó ou o imperador fazer o que lhes parecesse melhor com as pessoas, sem que isso significasse alguma injustiça, nem desprezo aos demais, nem maldade com eles. Foi a tradição que, por causa de uma valorização negativa de Caim, interpretou seu grito — que na verdade é de dor e de penitência — como se fosse de desespero e de obsessão; de forma que teria dito: “meu pecado é tão grande que não mereço perdão”. O que não está de acordo com o texto. E para piorar, o sinal de misericórdia e de salvação que Deus lhe coloca para protegê-lo foi entendido como sinal de maldição e de vergonha diante do pecado cometido.
O irmão que faltava Antes de tudo, o fato da narrativa bíblica coloca Caim como protagonista principal. Com efeito, fala-se apenas dele; é o único que desempenha um papel ativo; o único com quem Deus conversa. Por outro lado, Abel é uma figura decorativa; seu papel é secundário e sem importância; não diz nenhuma palavra, só sofre; Deus nunca fala com ele. E sua única razão de estar no relato é a de completar o protagonismo de seu irmão.
As oferendas de dois irmãos Deus agradou-se de Abel e de sua oferenda. Mas não se agradou de Caim e de sua oferenda (Gn 4,4-5). Não sabemos por que aconteceu assim. A Bíblia não revela o segredo. Podemos achar uma dica na Carta aos Hebreus ( Hb 11,4). “Foi pela fé que Abel ofereceu a Deus sacrifício melhor que o de Caim...” Você pode dominar sobre o pecado - (Gn 4,6) Deus como primeiro começa a conversa com Caim para o livrar daquela situação, o mau estar espiritual, a inveja. “Por que estas triste e irritado...?” Essa é uma pergunta curadora. Deus não quer que Caim se deixa mover pelo mau impulso e sentimento. - 1P 5,8
De onde veio o mal? É que, diante da angustiante pergunta sobre a razão do mal, do sofrimento, de tantas penúrias sofridas pelo homem, nosso autor teria respondido com a história de Adão e Eva: porque o homem desobedeceu a Deus. Comendo do fruto proibido, preferiu sua própria vontade à vontade do Criador e cortou relações com ele. Contudo, esse diagnóstico ainda era insatisfatório. Nosso autor o sabia. Dizer que só quando o homem peca contra Deus é que se produz uma desordem no mundo, era dizer a metade. Ao contrário, com a história de Caim, condenado a uma vida penosa e dura por faltar contra seu irmão, pode completar seu ensinamento, dizendo que o mal também vai crescendo no mundo pelos delitos contra os demais homens. Por isso, ao falar de Abel destaca com insistência sua condição de “irmão”, que é apenas a única coisa que lhe interessa. Essa ideia é tão obsessiva que chega a repeti-la até sete vezes neste breve texto. Como se quisesse ensinar que todo homem, por pertencer à humanidade, é irmão do resto dos homens.
A segunda parte do pecado original O relato de Adão e Eva tinha quatro partes: O pecado de Caim e Abel tem a mesma estrutura: I - O mandato de Deus “Não comerás da árvore da ciência do bem e do mal ...” (Gn 2,17) “Se ages bem, poderás levantar a cabeça, mas se não...” (Gn 4,7) II - Desobediência do homem “Tomou o fruto e o comeu...” (Gn 3,6) “Caim matou seu irmão...” (Gn 4,8) III - Castigo de Deus “Porque fizeste isto...” (Gn 3,14) “Agora, és maldito e expulso do solo fértil...” (Gn 4,11) IV - Esperança da salvação “Javé reveste o homem e sua mulher com túnicas de pele...” (Gn 3,21) “Javé pôs um sinal em Caim para que ninguém o matasse.” (Gn 4,15)
A origem do mal No relato de Adão e Eva o escritor sagrado explicava que o mal no mundo dependia das relações do homem com Deus. Neste, completa a informação e acrescenta que o mal não nasce unicamente pela ruptura do homem com o Criador. Há como que um segundo “pecado original”: o da ruptura de relação com o irmão. Por isso na narrativa de Adão e Eva é a voz de Deus que adverte os primeiros pais que pecaram. Na de Caim, porém, é o sangue de Abel o acusador: “Ouço da terra a voz do sangue de teu irmão, clamando por vingança! ”. O ensinamento da história de Caim é realmente revolucionário para sua época. Pretende deixar estabelecido que o crime contra o irmão é tão grave quanto o delito contra Deus. Que a responsabilidade do homem para com seu próximo é a mesma responsabilidade que tem diante de Deus. Como dissemos, o autor inspirado escreve esta página da Bíblia durante o governo do rei Salomão. Nessa época, tanto a classe governante como os funcionários e sacerdotes ensinavam oficialmente que só era um bom israelita aquele que cumprisse suas obrigações para com Deus. Lá nos começos da pré-história bíblica, o relato de Caim ensina-nos que, para encontrar o equilíbrio da vida é necessário levar a sério os dois.
- Onde você está? - Onde está o seu irmão Abel? Eis a prova que embora homem deixe de buscar Deus, o Deus mesmo o chama e procura, como o pastor da ovelha perdida. A liberdade do homem e o seu amor a Deus foram colocados à prova, pois Deus quer ser amado livremente pelas criaturas que Ele mesmo criou e colocou em sua amizade. Sem liberdade o amor não é autêntico, não tem valor. O demônio é a origem da primeira desgraça da humanidade. Ele que já tinha rompido com Deus, e que, por inveja, deseja afastar o homem de Deus. A primeira consequência do pecado original foi colocar no coração do homem m “medo de Deus”. Após o pecado, Adão e Eva se esconderam de Deus. Desconfiamos da vontade de Deus, e muitas vezes nos revoltamos contra Ele. Nós também, como Adão e Eva nos escondemos de Deus. Suas relações começaram a ser deformadas por acusações recíprocas.
O ciúme e a inveja
A inveja O que é inveja? Inveja vem do latim invidia, que, por sua vez, é uma declinação do verbo invidere : olhar com malícia. Não é a toa que quando as pessoas falam em inveja, mencionem o “olho gordo”. De acordo com o dicionário Michaelis, existem três significados para inveja: 1. Desgosto, ódio ou pesar por prosperidade ou alegria de outrem. 2. Desejo de possuir ou gozar algum bem que outrem possui ou desfruta. 3. O objeto que provoca esse desejo. Os três significados podem estar relacionados quando se diz que alguém inveja algo de alguém, ou seja, há o desejo de possuir ou ter o que outra pessoa conseguiu, o foco também está no objeto, e, ao mesmo tempo, há certo desprazer pelo fato de que a outra pessoa tenha conseguido.
No Catecismo da Igreja Católica O DÉCIMO MANDAMENTO NÃO COBIÇARÁS... COISA ALGUMA QUE PERTENÇA A TEU PRÓXIMO (EX 20,17). Tu não desejarás para ti a casa de teu próximo, nem seu campo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, qualquer coisa que pertença a teu próximo ( Dt 5,21). O décimo mandamento proíbe a cobiça dos bens dos outros, raiz do roubo, da rapina e da fraude, que o sétimo mandamento proíbe. A "concupiscência dos olhos" (1 Jo 2,16) leva à violência e à injustiça, proibidas pelo quinto preceito.
A DESORDEM DAS CONCUPISCÊNCIAS O apetite sensível nos faz desejar as coisas agradáveis que não temos. Por exemplo, desejar comer quando temos fome, ou aquecer-nos quando estamos com frio. Esses desejos são bons em si mesmos, mas muitas vezes não respeitam a medida da razão e nos levam a cobiçar injustamente o que não nos cabe e pertence, ou é devido a outra pessoa. O décimo mandamento proíbe a avidez e o desejo de uma apropriação desmedida dos bens terrenos; proíbe a cupidez desmedida nascida da paixão imoderada das riquezas e de seu poder. Proíbe ainda o desejo de cometer uma injustiça pela qual se prejudicaria o próximo em seus bens temporais: Quando a Lei nos diz: "Não cobiçarás", ordena-nos, em outros termos, que afastemos nossos desejos de tudo aquilo que não nos pertence. Pois a sede dos bens do próximo é imensa, infinita e nunca saciada, como está escrito: "Quem ama o dinheiro nunca se de dinheiro" (Eclesiastes 5,9).
A catequese tradicional indica com realismo "aqueles que mais devem lutar contra suas concupiscências criminosas e, portanto, que e preciso "exortar o mais possível à observância deste preceito": São os comerciantes que desejam a carestia ou os preços excessivos das mercadorias, que veem com pesar que não são os únicos a comprar e a vender, o que lhes permitiria vender mais caro e comprar ao preço mínimo; os que desejam que seus semelhantes fiquem na miséria, para tirarem lucro, quer vendendo para eles, quer comprando deles... Os médicos que desejam que haja doentes, os legistas que desejam causas e processos importantes e numerosos.... A inveja é um vício capital. Designa a tristeza sentida diante do bem do outro e do desejo imoderado de sua apropriação, mesmo indevida. Quando deseja um grave mal ao próximo, é um pecado mortal. Sto. Agostinho via na inveja "o pecado diabólico por excelência”. "Da inveja nascem o ódio, a maledicência, a calúnia, a alegria causada pela desgraça do próximo e o desprazer causado por sua prosperidade."
O que fazer com a inveja? Todo homem possui dentro de si um apetite sensível que o faz desejar coisas agradáveis que não possui. O problema surge quando o desejo saudável passa a ser “avidez”, pois ela remete ao pecado da inveja. O homem moderno acredita que a justiça de Deus significa que todos devem ser iguais, o que não é verdade. Deus distribuiu seus dons de modo que uns precisem dos outros. Para a luta contra a inveja a melhor arma é a ação de graças. “Que Deus seja louvado”.
O pecado da inveja O invejoso é infeliz com a própria desgraça Não é sem razão que a Igreja classifica a inveja como pecado capital. Muitos e muitos males provém dela. Diz o livro da Sabedoria que é por causa da inveja que o demônio levou ao pecado nossos primeiros pais no início da história da humanidade. “Ora, Deus criou o homem para a imortalidade e o fez à imagem de sua própria natureza. É por inveja do demônio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demônio prová-la-ão” (Sb 2,23-24). O primeiro pecado dos filhos de Adão e Eva foi cometido por inveja. Caim matou o irmão Abel. Abel era pastor e Caim lavrador (cf. Gen 4). Pior do que um homicídio (assassinato de um homem), o crime de Caim, movido pela inveja, foi um fratricídio (assassinato de um irmão). Também por causa da inveja os filhos do patriarca Jacó venderam o seu filho caçula, José, para os mercadores que o levaram para o Egito.
A inveja é companheira daquele que não suporta o sucesso dos outros e não se conforma em ver alguém melhor do que ele mesmo. Está sempre com aquelas pessoas soberbas, que querem sempre ser melhores do que as outras em tudo. Muitas vezes, ela também é companheira das pessoas inseguras, fracassadas ou revoltadas, que, não conseguindo o sucesso das outras, ficam corroídas de inveja e desejando-lhes o mal. Fica torcendo pelo mal do outro, e quando este fracassa, diz em seu interior: “bem feito!”. O pior de tudo para nós cristãos é constatar que ela se entranha até mesmo nas obras e nos filhos de Deus. Podemos dizer seguramente que muitas rivalidades e disputas que surgem também no coração da Igreja, tristemente são causadas pela inveja, pelo ciúme e despeito. Ao invés de se alegrar com o sucesso do irmão no seu trabalho para o Reino de Deus, a pessoa fica remoendo a inveja, porque não consegue o mesmo sucesso. O que importa afinal, é o meu sucesso. O invejoso é infeliz com a própria desgraça e com a felicidade do outro.
Será que para a inveja existe algum remédio? A caridade (amor) é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (1 Cor 13, 4-8). A admiração como remédio para o vício da inveja Contudo, existe também outro remédio que está intimamente ligado à virtude da caridade, e acreditamos ser um dos principais antídotos contra a inveja. Esse remédio chama-se admiração. Admirar é lançar um olhar consciente para aquilo que é superior; é maravilhar-se com a obra da graça atuando na alma do outro; é louvar a Deus que se manifesta na criatura. O admirar consiste em desapegar-se de si mesmo e está ligado à capacidade de reconhecer que não se tem direito a nada, pois de acordo com São Paulo (1 Cor 4, 7): “Que é que possuis que não tenhais recebido?”. Convém recordar que tanto a palavra inveja quanto a palavra admiração tem ambas uma mesma origem e se caracterizam por um impulso do olhar. Invejar é lançar um olhar negativo para aquilo que se considera superior; enquanto que a admiração consiste num olhar benévolo e enlevado para aquilo que é excelente.