Cauquelin a invenção da paisagem

mailhena 5,427 views 40 slides Apr 27, 2017
Slide 1
Slide 1 of 192
Slide 1
1
Slide 2
2
Slide 3
3
Slide 4
4
Slide 5
5
Slide 6
6
Slide 7
7
Slide 8
8
Slide 9
9
Slide 10
10
Slide 11
11
Slide 12
12
Slide 13
13
Slide 14
14
Slide 15
15
Slide 16
16
Slide 17
17
Slide 18
18
Slide 19
19
Slide 20
20
Slide 21
21
Slide 22
22
Slide 23
23
Slide 24
24
Slide 25
25
Slide 26
26
Slide 27
27
Slide 28
28
Slide 29
29
Slide 30
30
Slide 31
31
Slide 32
32
Slide 33
33
Slide 34
34
Slide 35
35
Slide 36
36
Slide 37
37
Slide 38
38
Slide 39
39
Slide 40
40
Slide 41
41
Slide 42
42
Slide 43
43
Slide 44
44
Slide 45
45
Slide 46
46
Slide 47
47
Slide 48
48
Slide 49
49
Slide 50
50
Slide 51
51
Slide 52
52
Slide 53
53
Slide 54
54
Slide 55
55
Slide 56
56
Slide 57
57
Slide 58
58
Slide 59
59
Slide 60
60
Slide 61
61
Slide 62
62
Slide 63
63
Slide 64
64
Slide 65
65
Slide 66
66
Slide 67
67
Slide 68
68
Slide 69
69
Slide 70
70
Slide 71
71
Slide 72
72
Slide 73
73
Slide 74
74
Slide 75
75
Slide 76
76
Slide 77
77
Slide 78
78
Slide 79
79
Slide 80
80
Slide 81
81
Slide 82
82
Slide 83
83
Slide 84
84
Slide 85
85
Slide 86
86
Slide 87
87
Slide 88
88
Slide 89
89
Slide 90
90
Slide 91
91
Slide 92
92
Slide 93
93
Slide 94
94
Slide 95
95
Slide 96
96
Slide 97
97
Slide 98
98
Slide 99
99
Slide 100
100
Slide 101
101
Slide 102
102
Slide 103
103
Slide 104
104
Slide 105
105
Slide 106
106
Slide 107
107
Slide 108
108
Slide 109
109
Slide 110
110
Slide 111
111
Slide 112
112
Slide 113
113
Slide 114
114
Slide 115
115
Slide 116
116
Slide 117
117
Slide 118
118
Slide 119
119
Slide 120
120
Slide 121
121
Slide 122
122
Slide 123
123
Slide 124
124
Slide 125
125
Slide 126
126
Slide 127
127
Slide 128
128
Slide 129
129
Slide 130
130
Slide 131
131
Slide 132
132
Slide 133
133
Slide 134
134
Slide 135
135
Slide 136
136
Slide 137
137
Slide 138
138
Slide 139
139
Slide 140
140
Slide 141
141
Slide 142
142
Slide 143
143
Slide 144
144
Slide 145
145
Slide 146
146
Slide 147
147
Slide 148
148
Slide 149
149
Slide 150
150
Slide 151
151
Slide 152
152
Slide 153
153
Slide 154
154
Slide 155
155
Slide 156
156
Slide 157
157
Slide 158
158
Slide 159
159
Slide 160
160
Slide 161
161
Slide 162
162
Slide 163
163
Slide 164
164
Slide 165
165
Slide 166
166
Slide 167
167
Slide 168
168
Slide 169
169
Slide 170
170
Slide 171
171
Slide 172
172
Slide 173
173
Slide 174
174
Slide 175
175
Slide 176
176
Slide 177
177
Slide 178
178
Slide 179
179
Slide 180
180
Slide 181
181
Slide 182
182
Slide 183
183
Slide 184
184
Slide 185
185
Slide 186
186
Slide 187
187
Slide 188
188
Slide 189
189
Slide 190
190
Slide 191
191
Slide 192
192

About This Presentation

.


Slide Content

DA p A 1 s A G J..::::;::;'.
ANNE
N.Cham. 719 C374i
Autor: Cauquelin, Anne ·
1'ftulo: A invenção da paisagem .
Ao.286867
Ex.3 CAC

Ao detectar os sinais que se apre­
sentam sob a idéia
de paisagem
- a preocupação ecológica,
as
abordagens distintas da nature­
za, do real e de sua imagem
no mundo contemporâneo -, a
autora sugere
uma nova forma
de pensar a arte e o homem ante
as transformações tecnológi­
cas e perceptivas que introdu­
zem outra maneira de perceber
o fenômeno artístico: ''Tentei
descrever,
em A invenção da pai­
sagem, [ ... ] esse aprendizado da
realidade
do mundo por meio
das experiências daqueles que
nos cercam e Jegitimam para né>s
sua presença, mostrando,
para­
lelamente, o quanto esse tecido
de certezas é ao mesmo tempo
frágil e resistente''.

--
© 2000, Presscs Univcrsitaircs de Francc. O original desta obra foi
publicado em francês com o título L:1nvention du paysage
© 2007, Livraria Martins Pontes Editora Ltda., São Paulo, para a presente edição.
Publisher
Coordenação editorial
Produção editorial
Tradução
Preparação
Revisão
Evandro Mendonça Martins Fontes
Anna Dantes
Aly11e Ai.uma
Marcos Marcionilo
Maria do Carmo Zaniní
Eli
ane de Abreu Santoro
Regina L.
S. Teixeira
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(
Câmara Brasileira do Livro,
SP, Brasil)
Cauquelin,
Anne
A invenção da paisagem J Anne Cauquelin;
tradução Marcos Marcionilo. -
São Paulo: Martins, 2007. -
(Coleção Todas
as Artes)
Título original: L'invention
du paysage.
ISBN 978-85-99102-53-4
1. Arte -Teoria 2.
Natureza (Estética) 3.
Paisagem na arte
4. Paisagem na literatura
l. Título. IT. Série.
07-1485 CDD-111.85
Índices para catálogo sistemático:
1. Pai
sagem : Estética : Ontologia 111.85
Todos os direitos desta edição no Brasil
reservados à
Livraria Martins Fo1ites Editora Ltda.
N.Cham.
Av. Dr. Arnaldo, 2076
01255-000 São Paulo SP Brasil
Tel. (11) 3116.0000 Fax (11) 3116.0101
info@n 1a rtinseditora. con1.. hr
719 C374i
Autor: Cauquelin, Anne
Título: A invenção da paisagem.
Ex.3 CAC
8727384
286867
p
l

SUMÁRIO
--
UFPE/CAC
""·"" • '· i f"I f'ij l'f
' \,, .

Prefácio à segunda edição francesa ............... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 ...........
UM JARDIM TÃO PERFEITO .................................................. 17
AS FORMAS DE UMA GÊNESE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
1. A natureza ecônoma .................................................................. 44
2. Os jardins do ócio ...................................................................... 61
. isso e i.zanc10......................................................................... 6 7 3 E . " Bº A •
4. A questão da pintura ............................................. .................... 76
PAISAGENS IMPLÍCITAS ...................................................... 101
1. Um artifício invisível ................................................................ 108
2. Grande obra e pequenas formas ............................................ 113
O JARDIM DAS METAMORFOSES .................................... 129
1. A paisagem pela janela ......................................................... ... 136
2 Os quatro elementos
. .
.. .. . . . . .. .. .. . . . . .. . . .. . . . . . . . . . .. . .. . 143
• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

3. A prosa da paisagem ...... ...... · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · ·...... .. . . . . 153
4. Jogo de estiJos ............................................. ·········· ·················· 164
PAISAGENS DE SEGUNDA NATUREZA .......................... 175
1."Visão dos anjos, talvez o cimo das árvores ... " ....................... 177
2. A doadora....................................................... ............. 188 •••••••••••••
Referências bibliográficas.......................................................... .. 192
-

Este livrinho, que as Presses Universitaires de France
agora reeditam, propunha-se, dez anos atrás [1990), mostrar
de que maneira a paisagem fora per1sada e construída como
o equivalente da natureza, no decurso de uma reflexão sobre o
estatuto do
análogon e no decurso de uma prática pictórica
que, pouco a pouco, ia dando forma a nossas categorias
cog­
nitivas e, conseqüentemente, a nossas percepções espaciais.
Desse modo, a natureza só podia ser percebida por
n1eio de
seu quadro; a perspectiva, apesar de artificial, torna\
1
a-se um
dado de natureza,
e as paisagens em st1a diversidade pare­
cia rn uma justa e poética representação do mundo.
Rent1rtciar
a essa ilusão me parecia i1ecessário, e por isso co111ecei a i11e
dc~fazcr dessas construções tácitas ~1e\1.1s LlLtais fL1i c111l11.1lalia.
No cntn11to, se alt1al111c11tc se Jd111itc t1ttc a iliéia de
paisage1n e suu percepção depcnden1 da aprc'scntação que
se fez delas na pin t11 ra de) ()citicrltc rll) séct1 lo \', qt1e a pai­
sagen1 só parece "natural" ao preço de un1 artifício perma-

8
11
cntc, rc'"lta muito a fã~c r para def ender e dar continuidade
él essa pcJsíçao e ampliar seu alcance até a época inteira-
, , .
mente contemporanca, no propr10 mcJmento em que estªr-'
cm fase de constituição abordagens sensi :elmente dife­
rentes da natureza, do real e de sua imagem.
De fato, parece que a paisagem é continuamente con­
frontada com um essencialismo que a tra nsforrra em um
dado natural. Há algo como uma crença corrum em u~---.a
naturalidade da paisagem, crença bem arraigada e cli:íc:~
de erra dicar, mesmo sendo ela permarentemente de5:7'e;-­
tida por numerosas práticas.
Antes
mesmo de definir quais são essas
práticas., ;>::-e­
ciso destacar um traço do mundo contemporâneo que se
impõe fortemente: o de uma ampliação das esíeras cie a::­
vidade outrora limitadas, bem circunscritas .• . mesc:a dos
territórios e a a usência de fronteiras entre os domínios são
uma marca bem própria do contemporâneo; a paisager:''"
não foge a essa regra. Sua esfera se amplioit e oferece t:..m
panorama bem mais vasto em apoio à tese construti\is:a·
ela compreende noções como a de meio ambiente, co::l set:.
cortejo de práticas, ao passo que as no\·as tecnologias a~­
diovisuais propõem versões perceptuais inéditas ô.e paisa­
gens ''outras''. Longe de essa ampliação relegar a paisage:--l
a um segundo plano, ou de recobrir sua imagen1 essa ~ e\­
tensões dão a ver com muita preci ão o qt1anto .:i paisa;e11
é fruto de um longo e paciente a~1re11di zad 111ple\l
1
e l
1
quanto ela depende de di, 1ersos setores Lie ati, ·i1..i.c1\.ie ~ . \·ott
aqui me limitar à evocação de dt1(.1s espécies de ,1111pliação e
a seu impacto sobre a noção e a prática lia pai agen1.
·:en
.
arn
gac
••
··a ...... l

50~
me
:2J
Di

'
Q,
\ºj
e
ü
e
t
I
e

'2U1 1 I \1
Llicf·1 J
L ('l'
lJleir
u-
~ c:!Slc1Q
' ciife-
~ COt "'l-
11 ll 111
tin1u
:i i tícil
'llen-
pre-
1 e se
ati-
,
aos
-
sao
um
;ta;
•eu
u-
1a-
lTI
-,
11
)
'l J
A INVENC AC) l)A PAISA<';EM
9
Meio a m bie11tc/Ecc>l<>gia/Pai<,agern
A I'' 1111cí1a e ma is facilmente percc•ptível ampliação
vc111 (iuquilo que parece mais próximo da paisagem: o meio
,1mbiente físico. Desolado, degradado, poluído, sobrecarre­
gado, ele clama por socorro imediato, saneamento e reabi­
litação. Con10 esse mejo a1nbiente deplorável se apresenta
sob a forma de paisagens igualmente desoladas, assisti-
1nos a
uma identificação entre meio ambiente e paisagem.
A preocupação ecológica, com
efeito, vem se enxer­
tar no interesse pela paisagem, e ''meio ambiente'' se tor­
na uma palavra-chave.
Por uma espécie de deslocamento, que se deve em
parte à inquietude em face das poluições, das responsabili­
dades de tipo ºsaúde pública'', uma prática de saneamento
veio reco brir a idéia de harmonia natural, pela qual anti­
gamente se definia a ''bela paisagem''. Ecologia, ar puro
e saúde rimam com natureza verde e animais protegidos.
E
essa constelação ''em forma de paisagem" se estende às
práticas urbanas, pelas quais as lixeiras também são
\·er­
des, diferentes para cada tipo de lixo e assépticas. Prática
social, ela impõe prioritariamente aos paisagistas um a1n­
p1o leque de obrigações singulares: despoluição e proteção
o
que também significa cla ssificação das
esi.1écie naturais
e dos sftios. Assim co1no no caso de n1L1itas otttras profis­
'>Õcs, aqui se assiste él u111,1 t11cscla.
A profissão de ~1aisag ista Clluivale alLtalmente à do
administrador de espaços públicos 11ccessitados de renova-

10
ANNE CAUQUELIN
~·5<); C) LI rbíl 11 is la n5o cs t<:Í lo11gc d issc) assim
• 'e,. CC)mo tamb'
Jlfio <) csl5c) C) ecólogo ou <) agrô11omo ... l'or co .. .... ern
. - nscqucncia
cct)l'l<)n11a, gcstao calculada desse a111bicntc a d . . 'ª
- - ' a rn1n1stra-
çao, nJertadD pelas dcgradaçocs, a poJ ítica corn a d . _
, . ' s ec1soes
ncccssa rios acerca do quadro de vida a técnica
. . , . ' e as pes-
q L11sns tccnoc1ent.1 f1cas voltadas para o marl.eJ·o do
s solos
tLtdo isso for1na L1m tecido complexo e tende a trar"s . . '
e .I m1t1r a
idéia de paisagem em segLLndo plano, corno se se tratasse
de un1 estetismo inútil.
Contudo, não se pode negligenciar o papel da paisa­
gem na articulação desses diversos exercícios: o artifício
superior de uma análise e de uma encenação dos elemen­
tos
naturais -a água, a terra, o fogo e o ar-, que, separada­
mente, perma11eceriam invisíveis se não fosse pela arte do
enquadramento e da composição, é retomado e assumido
pelo conjunto dos atores.
Os setores de suas diversas ati­
vidades pormenorizam e definem essa construção, pois se
trata da vida dos homens em seu próprio planeta; trata-se
também, sempre, de formar e de garar1tir os quadros de
uma percepção comum. Muito mais que um ''rótulo" esté­
tico, a paisagem confere uma unidade de visão às diversas
facetas da política ambiental ...
A ecologia desempenha aqui o papel de guarda-natu-
reza e, portanto, de guarda-paisagem. Mesmo que con1 es­
se ''portanto'' a paisagem pareça ser uma área dependente
da ecoJogia e qu e, como seu ''supleme11to", p r111aneça de
fato como o valor in1pJícito ao <..1L1a l se refere toda opera­
ção de tipo ambiental. É sempre a idéia de paisagem eª de
A INVENÇÃO DA
sua construç
medidas a n•
tos de vista,
<lições de v
. -
uma visao
do ambienl
dos percep
quidar a n
formadorc
o saneam
de
uma"
Aqu
)ardim, e
cado, o j:
corresp<
sament
homen
revela
reza p·
que u1
borioi
• •
o 1arc
dupl<
,
e o 1
resf

eco

pr11

...
-
-
-
-
-


r.
i1
u una~ rma un' enqua ramen'"
i.1 ... a
... "I -di-.tânc1a onenta'sã
t ...
' :-ta
.., la. G.1ra1 tir o

om1ru da e a-

... '
.......

. . -
::::---..-
lI
• •
l::i .. 'i

' '" .....
••
. ., .
l •. t

t.: [lll .. 11.:

·'-n tint
ft:il ....
....
~
-
''"!!~ ...... l
.... -
1'"'"" 1. ... .
A
.....
... ..
•• . . -
...:l' ~- ..,,-..... "'"':
::-'--''-....... '--.. .;::
-~ -...-....
·-­---........


u~
.... ,_ ... º_ ..
.. ""'"' ... ~ ...... :::--
.... .,. ~ .............
-.._ .::-"'--

-... -.,.~-..Jlr.
~C .... -.i.C
4
• •
-""""'~':
-lo ""'"""-'....I.. ~ ~ ....



·-.... --_ .... _..,. .....
-....._::-~~e .... --"

-"1-. J....-:-I:
. ...
, -­": "-l • ...... _ .....
...
............. _ u --... i;.
. ·---
~ .... i. ....

er~ ·tia

ra -d. O:::.

O;::. ua-


.,. ' " 'l --..:>'"" " -'-•-\,,;...
'"'
"'"'1 e••
1ue ten
~ .
-e -... -'-.. -.......
---·o-·
.. ::::-...... ~çU ..

.1
-· • -. ... ..., ~ '""""-'7 -u-­
t 1 ...... 1. ~l. ... ~l e:-...! '-1..l
1
..... . .. -
, ... --· •
-..Jo~ -·-" -• .­
,\,,.. .... -~ . ... ...... "-

••
"'. "t ..
... .... ~
'-
----,
·­
~--'-

o e.o
··~ ~
-1.J.:.1,~ ..
---:-1-
L .. ---
e
\..:.
-
....,. "'""""'~-- ... ·-----.,._
.::;-......... '\,,. .......... -.......... '-'°-'"":. ........ t:"

... ,.:'.l. ..• _ ...
..... .. '-...... 11
..._., _ -~
_ ....... ---""--"""'
'"'"""'~···'""· '-, .._\_ ... i....... .. ............ u .. ---.... .. _ ..._.._


-

-
-~
• •
• - -1 .... •
-J.u i.
...:. ..:i-..::. -\,,,,. -........
r. • -1-'
l.. 1 ...... .__ .:. -
_'"" .. ""'" ~ ...;......:_'
... ... .. _ -\,..

.:e
, l"-
-1: -
-~ --... -. ~
------­. ....

.. ..,,. ...... -~ .........
.. .. ..... E. ..... _:;--.... ~
. ,_..._ .......
, ... , ....
~

-1-..-·-l .......... -~- ...
..... ' --"'"""''" .. ..
••
... .
-. -. -....... ...._, -
-
. .,
da
"",,e ...... -.... 1a.r
-i~i.. .... -........... .,,.. '
~ L.. e\..,,.. '" -
e
ndên("id e
a
te
~ . ... .. .....
.tti i
... . ' ... .. ._
.. l
••
• • .... f ·
-.. -. ., '
.. '' ..

t r
.. .. .. .,.
• ..... .. '

..... •
........ ... .
....
....... -~ ..,_ .....
~ ........ ~" ..
...

12
ANNE CAUQüan-.;
focalização, dispersão e, novamente concentr aça-o· b
' , a o
ra
é a visão de
uni conjunto ordenador das categorias de es-
~1aço e de tempo. Paralelame11te, eles transformam em obra
a tcr ntiva ética de devolver a terra a seu estado primeiro,
st1btrai11do-a às devastações humanas por meio de certa
d is posição particular do sítio e no sítio.
Par·ece, e11tão, que a proposição segundo a qual a no­
ção
de paisagem e sua realidade percebida são justamente
un1a invenção,.
um objeto cultural patenteado, cuja fun-
-
" . /
çao propr1a e reassegurar permanentemente os quadros da
percepção do tempo e do espaço,. é, na atualidade, forte­
mente evocada e preside a todas as tentativas de ''repen­
sar'' o planeta como eco-sócio-sistema.
Claro que se pode retorquir que uma recaída no abis­
mo da essência é sempre possível. Que o medo diante das
devastações de nosso ecossistema precipita alguns no re­
conforto de uma paisage1n-natureza, abrigo da pureza, e
re
fúgio. Que a deep
ecologtj preco11iza a paisagem edêni­
ca anterior às cat ástrofes planetárias, ou seja, a11terior à era
histórica. E que, ao invocar Gaia, eles parecen1 regressar a
um estatuto ''natural'' da paisagem, co11cede11do-lhe os :li­
reitos de um sujeito.
O paradoxo ao qual a deet1 cc.~o/()g:1 , co11tt1tio rl.11 f "'i
escapar é a obrigação de tc1· de la11ça r t11j 1 Lit' t li1.1s as 111 -
(ié1Jid"c.ics de tcc11ologia, Culia t1111l1111t1i~ lic ~"'L I1t1.1 llll' .. 1 l­
tra, ~1J rn cJl1tc.'r L"ssc 111 i lagrl': l.l1 i"1 rcss t1scitt1 Li1.1~
Nc.'sse L,Clso, ,_, téc11it,tl L' st)liL,ilt1li1.1 L1t1"1s~ 2\s } res~ .. 1s
111as, c111 t1111,1 \'isão ('()t1strt1ti\' istl1 litl ~)1.1is1.1g '111. ~11 te111 t1111
irnp
pecl
pen
lac1
ent
na1
ca1
de
e
t
t

.,
,
a
e
-
1
1mportan e pape a desemp ·nhar, mesrc e essa pei"S­
pect a amedronte mu1 os ·os teóricos da pa sauerr. 8(:5
pensam a realidade não estaria cantam1nai'1.~ pe os s~- ~­
lacros, o real pc:.o virtual? fa.inda se .. 1a poss~"e e· 1~ge· ..
en rc \erdace e 'Jerossimilhanca? .u.. "Elna díslJl!ta e ........ € a
• •
natur .:za e a técnica \em a tora :-ã".,, obs~2:-- -e tc...cas .::s :>""e­
cauçõcs: a pa1sagerr1, tod0s sa~m, nã0 é de ~.a .. ..::~~
mas ao TT'er'Js ... é mais "erclade;ra que o faniasrr ~ -:.:~:E:c.-
do oela r:.áau1ra'.
• l
Espaços de paisagens
sagens clássicas às qua:s estamos acostumaáos ?oce::a,
contud o, afastar esse rY'eào. Tanto num caso quanto :-.c~­
tro, nas paisage ns de Poussin ou nas paisagens dos '<icea­
games, não se trata de organizar oojetos em um espaço
que
os une e que possui proprjedades dadas?
O moáo co­
mo os eruditos artistas e os engenheiros da Renascer.ça
resoJver am o problema das duas dimensões determi.~a :-:­
do ]eis para uma perspectiva, que, ao iludir a \risão, le,-as­
se a acreditar na terceira d imensão, é uma das manei:as
possíveis de encontrar um equivale nte plausí\·el do e pa-
ço nrJ qual vivemos.
Ma<:> há outras, que oferecem espaços de propriedade ~
mentai s, literária s, simultaneamente poét ica e poiética_
cc>mo as que se podem encontrar no Oriente. Tanto lá co­
mo aqui,<> c1uc se pode ver, a paisagem pintada, é a concre-

14
hzação do ~.-:rcu:o entre os diferen te5 t?ler"'?ntos e 1al,..,:c:s Ct:
urna cultura, iigação que oferece um agenciamer
4r,., "J"; ,,,_
d t fi li d '' -enamen o e, por 1 m, urra or err a percepçar.1 e,., mc-t;S.-...
E isso foi claramer.te exposto por A...:;gus ín eeTque, • ':S'~
rresma linha de demorstração, a propós1t-r_, d~» Jaoãr}.
Coisa curiosa: aua:-do
~ se :rata
.. • • r •" +.. "' -
ge1ras, 1!l'aginamos ;ac:i.Il"er~e a :-e.açao err:-e os esti ~ ~ryg
. -
avreser~ados e os modos de ·,.ida, os csr.;s, as '';-;- -;.-e...:. ,~," .. """' . _ .. __ ,..... .,,
cuimra
1 re.a1os g:a_~de
re!acão co.:1w. o ::-u:-_::a ,
. " ·---
·--......--
,..._ -
~---._J
r .. ·_....-r -,,_.,. - ,...--~ -
----
._, _. --VJ J .--_,.:...,J..._ _.__,
-
r--
-~~-
- -.... __ ,,..__ , ....-----e.,..
1 ,,,,,.. ....... - ,,.. ,,,,-_ - -.,,_...... ..,._,_ . '""'"""'"'• _...._ --~ _,._

-,-,r• ..-­,.. _.._ r~--~
--'---V
..,.. ... --... .... ~-
••

• •
-~ ::::.-~- --"'" --
-_;:: _,::: -'--~ --C::. • G.
r ...... ,........._,...,.-. ,....e ........ ~--c ..... -...ric
\i..; _. .f4 •• .. -._ -...J "" -J - '----_, ..,,,
--...... -,.....r-~ ,... ,.. ,..._
----"------,J -
,
-.
...... --::> .,........,.... -se--,--­,... -,-....._ - ,,... -·---:w...,...__ ..._..._.._ __ ......._ .....
:;
,,.. .
..... -.......----~,,...... -,.
->--· ...... i........._ _,
~

-
-
,..
eo
.. ~ , .,
ueri e .a casa:--a.:ses que
,,..
za
rnosen
• •
n,aqu eu gos- arra a ena
..
ae -
caça o a
..
~ ,,.,,, __ _
• •
-..-.i. ----,......., ----,.. ... ,.. ., .. ,.. ....
J ....... *"-_; \..4. -__, -.---....
- ~
• •
-~--~--n::o
e._.~ -... r:. ......


.... ::;,
-
-
• •
~-ir
"
os e ere
~. e ~e er e e iear os e)e
-J ;,
---
-.... -r.-
.,.. .,,,-K ; -
-.. --- -.,J.
-
-_,_ .... ,
--
rn
--
~­_ ...
..
. --::: ..:r .. !!.!!
--

-

'AIJc >lJl.1.1 /\J
.1 lc >rc•s e lc.·
>, lf lll ()f
) Jlll1 r1c.f().
J e, 11 l'SSíl
:.>.
estrn 11
('S j1é.1 ÇCJS
inci r t.1s''
~<l l110S u
:ro 11cn1
própria
e 11ossa
ssa de­
ídas ao
1alquer
:>artes,
outro
1 disso
m sua
l pro­
~rtici -
r11cs-
,
~~~1C
'11 t Íl~
J ,,
,lll C.)
A JNVI 'i< AC> í>A PAISA< ,f:M
15
(<.JUl ~ nL1nca JJCrrnar1ecc n<> c•"ta,lc, ele· dé.ld<>, mas já ~stá sem-
1Jrc 11r<>ccssado) que lc.•nclc pnra a c<>nstituição desse teci­
tio L111ifor1nc, de grande scJlidc·z e certeza, que· é cl'amado
"rca 1 idade'' ou Nnatu reza".
Tentei descrever em A invenção da paisagem pelo me­
nos esse aprendizado da reaJjdade do mundo por meio das
expe
riências daqueles que nos cercam e legitimam para
nós sua presença. Mostrando, paralelamente, o quanto es­
se tecido de certezas
é ao mesmo tempo frágil e resistente.
Frágil, porque pode, a qualquer momento, aparecer como
uma mentira; resistente, porque as crenças
nos nutrem,
por assim dize
r, e regulam reflexos e sentimentos ... A pai­
sagem, no caso que descrevi, estava inteiramente submeti­
da às convenções pictóricas e literárias; exempli ficada sob
a forma de
quadros, ela dependia, de al gum modo, de cer­
to estado
da cultura.
Agora
que as artes visuais, sonoras e táteis se trans­
formaram, ao
mesmo tempo, em suas manifestações visí­
veis e,
simultaneamente, em sua constituição como
arte,
posso fazer as mesmas afirmações? Pinturas, escultu­
ra, fotografia, vídeo e
trilhas sonoras compõem paisagens
mestiças, híbridas,
nas quais o espectador se sente imer­
so. I
magens e sons digitais nos filmes e v ideogames, em
consoles ou em play stations, os
co-1~otv1 com filmador as ou
webcams, a educação da visão e da audição, da co1npr een­
são das coisas e dos ví11culos que elas i11antê 111 e11tre si, tu­
do isso é atualme11te bem difcreritc do que era típico das
..., .
gcraçoes anteriores.

16
ANNE CAl.iQUEL1 1'~
Contudo, o interesse não é constatar isso de um modo
qualquer (nostalgia ou triunfa
lismo), mas reconhecer que,
se os co nteúdos m udaram, a expe riência do mundo passa
sempre pelos mesmos caminhos: as paisagens digitais nas
quais
personagens heróicos evoluem (''a aventura na qual
vo
cê é o herói''), o ambie nte virtual no qual você adentra
munido de capacete e luvas não são ape
nas eleme ntos reais
do mundo em que vivemos,
mas, ainda por cima, desem­
penham sua função de aprendizad o, assim como o utrora a
arte pictórica,
determinando então um conjunto de valores
ordenados em uma
visão, ou seja: uma paisagem.
A virada -tecnológica -, longe de des truir o ''valor
paisagem'', ajuda, inversamente, a demonstrar seu estatu­
to: com efeito, a tecnologia
evidencia a artificialidade de
sua constituição como paisagem. Desse modo, a tecnologia
põe a paisagem a salvo de um retorno a uma natureza da
qual
ela, a paisagem, seria o equivalente exato. O fato de
em alguns filmes ser necessário muito trabalho (captação
de imagens pela câmera, processamento em computador e
digitalização,
modelagem parcial e montagem, inclusão de
cenas, colagem
de diferentes técnicas de reprodução) para
chegar a uma cena de paisagem que, segundo se pensa, se­
ria
possível ver naturalmente sem nada dessa tralha ...
re­
vela o trabalho que, sem saber, fazemos quando ''vemos"

uma pa1sagem.
E, não há dúvida, conviria seguir a via que a tecnolo­
gia abre no amontoado de nossas crenças ''naturais'', para
melhor penetrar seu enigma.

o
)
.,
UM JARDIM TÃO PERFEITO

Havia uma luz dourada que ilumina,·a a ,·ila. \·inda
do oeste (ela se mesclava com um \·erde, um ,·erde-mar,
se é que isso é possível), e em sua maneira oblíqua de
alongar
penosamente as sombras, torna''ª todas as coisas
frágeis
como uma última tarde de \rerão, ou como o últi-
-
mo verao.
' As vezes, também, a presença de um animal estranho
suspende o correr tão familiar
do tempo, que não tarda­
ria a retomar seu curso,
a não ser que, por uma espécie de
esquecimento estúpido, arriscássemos
,·irar muito brusca­
mente a página do livro, ou que uma pala\-ra deslocada
viesse romper o silêncio.
A casa, cujas janelas esta,·an1 entreaberta_ apre_sa\·a-
se a fruir esse brilho amarelo ante de er1trar 110 son1~rio
outubro ou na 11oite, quando, por u111a it1\· rsão de pareis
seria ela, a casa, que pr ojetaria a luz d '"alàL _obre o gra­
mado, luz tão n1elancólica qL1ant a do oe~ te 11orén1 n1ais

2()
ANi 'J.< /·IJ<;l;f,f,J''
alaranjacJa e• Lun1b0rn mélis cJ<Jmir1ávr·l: b<1<.;t;;iri;,i ar,·n<J,·r ,,-:_,
d<>Í<, C'1nclc·labr<><, <>ti d<•1xar filt r;Jr pc·J<, vié·,, cJa P<>rta-janl!­
Ja d<> c<Jrrc•c1r>r <> rc:flcxo da <,u<::ipc•n<,ã<J. lJma imag<·rn ª')sirn
I
CJtic• vi n hél él mc·u ('ncontr<J quandcJ C'u C<>mc.:çava a d<,r;rar a
e~(7uina dc·p<)ÍS cfo mcrcadinhí> no nm da rua, parC>c
1
a p(;r
tcncc .'r a u111 mundo c ujos cJcmcntcJs pedreg<>sos tc.:riarn
desaparecido para dar lugar a uma mistura de; íntima con­
vicção e de culpabilidade.
Em lodo cas
o, ela não me pertencia,
p<)rque vinha de
um sonho que não era meu. Não de um sonho abstrato, co­
mo o sonho de uma casa ideal, mas de um sonho particu]ar
com o qual
mjnha mãe me entreteve um dia
a<) despertar.
E
ela me descreveu com tamanha precisão e mara­
viJhamento o gramado, a janela entreaber
ta, o muro do
fundo do jardim e a Juz dourada na tarde que se ia, que
esse sonho era tão real quanto pode ser qualquer coisa
deste mundo. E, mesmo que eu esteja, aparentemente, usurpando
essa visão de uma outra pessoa, respjro o perfume suave
do alfeneiro, ou, quando é tempo (fim de maio), o olor dos
cravos-do-poeta à beira dos canteiros, o]or que pert ence
a meu pai. Esses perfumes destinavam-se a ele, e o senti­
mento da beleza jrremediáve] das coisas é del e.
Um jardim fechado, um gramado. É setembr o, o ,·en-
,
to. Ao longe, no rumo do oeste, atrás das ár\1orcs, o ceu
. . ;
tem o tom verde-azulado que se chama mar. Logo rna1s, Jª
estará violeta. TaJvez.
A<J f
com árvG
a visão. 1
de rnadE
Elas rec1
Clé
colhida
go. É a~
sonho i
E,
descre
1
que se
s
tonia
tenha
essa 1
te prE
insta
de re
la, p
''paii
titu1
pav<
me
ao~
res,
pat

•cender os
i:>rta-jane­
~rn asc;j rn,
'dobrar n
·ecia per-
teriam
ma con-
inha de
·ato, co­
rticular
ertar.
mara­
.lro do
a, que

co:sa
ando
uave
-dos
"n-
. ,,
)'
21
Ao fundo do jardim (um parque?), o muro é demarcado
c
om
ár,
1
ores frutíferas. Moitas de peónias oculta~ parte dele
à \
1
isão.
Para a direit a, construções baixas abrem suas portas
de madeira envelhecida sob o olho-de-b
oi das
marsardas.
Elas recebem essa luz familiar, impalpá vel, a se esvair.
Claro que
as maçãs já caír am, as framboesas foram
colhidas -já
é muito tarde: o utubro. Logo se ace nderá o fo-
,
go. E assim. Xão há nenhuma outra pessoa na imagem. O
sonho se deu assim, isolado.
E, s
em dúvida, eu tive a sorte de nele penetrar quand o,
descrevendo a si mesma não sei qual quadro de paisagem
que se teria
pintado por si só, minha mãe o confi ou a mim.
Seria possível
que essa perspectiva aber ta na mono­
tonia dos dias, esse jar dim tão precisamente descrito, me
tenha inclinado, impelido na direção da paisagem? Q ue
essa habitação de sonho tenha estado tão consta ntemen­
te presente sem que dela me desse conta, como se
ti,·esse
instalado as condições de uma visão ordenada, para que,
de repente, me tome o desejo, ou a exigência, de falar de­
la,
perguntando-me, por exemplo, o que teria signi ficado
''paisagem'' sem essa imagem? Sem o artifício de sua con s­
tituição ilusória? Não obstante, dado que os quadros ocu­
pavam um grande espaço em nossas vidas, eu poderia ter
me apaixonado por paisagens pintadas, tê-las substituído
ao sonho materno, ou ainda, cornpondo
detallles familia­
res,
reconstruído uma paisagem a partir de fragmentos es­
parsos de várias 0L1tras?

--
• •
.1
~ .. 1111.1 .Sc.'11. J1t.' t.'S~.1r1,1 c~~.1 'oz que narra o so-
t t , .
1 .~i'1t' .1 t.'11tr-L'.li"'crt3 t? a lu y da$ cinco horas da tarde.
,. h
-
111
~t' L"' ~t'.S'L) 11L' :.1:: st1rg1r a p.J1_ agem es ,·esse li-
..
~ .... : •• Jil'I ritti:il a u111 n10do de e'-.ist1r graças aos objetos
..
_ .
111
,1; "'r .. 1 i 1e 1'ate a }-.osiçào das n1ãos, minha mãe sen-
: ··"i.1 1 .1qu "'l.1 _roltrt n3 aquele gesto Oll un1 outro. Qual,
t.'l1"..1C' e L
111en1 reria a inge11uidade do sonho que acaba de
-::.. r ~0n -=11::id0 a seu :ern10.
p-.f •e t' \·erdade L1Ue aqui]O que Chamamos paisage111
se ... ~t?3~:1\.0l\ e cil1 :OIDO de Ul1l FOTitO, em Ondas OU em \-a­
~_:5 3
t: -es3i,-a::; ?arã ,-o]tar a se concentrar sobre esse lli1ico
...
c:-•e:t.""l :-eie\.O no qual ,-2n1 se dar ao mesmo ~empo, a ~uz J
r 5ei Ferei-ame:1fe que :erá ha\-ido OU:iOS ... z baía de
Ca:lnes a r:a:a das Perites-'Jalles ou a landa ao cair G.2
J.
:ioj-e na Bretanha, quando é preciso acender um :és:oro
para discernir as nguras esculpidas dos antigo5 L10nu:ri e=-:­
:os-tun1ba. o duro azul do _r\lriplano. no topo dcs _.\i1ces e
esse certame de ,-e-nto e de horizontes -inza que ~e::e:1:e~
' . .
a ;'Tessa aas \1.agens.
_ 1uitos
cu:ros. dent:-e
. . ' "'
os quais a_ c~c..aCtes.
-.... -_ ... __ ..,._
.-U..J.-.. -
- ..
.. oes e ernpare.i.nam na luz azu~ e:e nca. Per: s _.\s:. -:~~
-
.. a·e ' , um barulho. Cidade-de ~ 2de e , .1.er.. -::"'~ -:: -2 s-
.. "" "
ru1aas ª~ margen_ de um la o in ·"-: l '~·o . ~2 s 2 :-'"'-
'" .. - '
eno_, e, a meà1da que me ou onta :](' ·e J1_ 3" e'\..:::e:---.
marinh~iiios, caio da piatafiorn1a rlc~~ LS ~..;e s e:-s .... ·­
a porta. (ajo etername~1t ru110 a '---~J:10 s:"'\~er'..' " ::-::::
não o alcanço.
cerii
par<
rno

ter1
qu<
:ne
nh
COJ
SE
e
o
(
(

) () so-
larde.
~sse li­
>bjetos
.e ser1-
Qtla l,
lba de
;agem
[11 va-
, .
un1co
a lt1z,
LÍa de
.ir da
sforo
nen­
les/ e
1cem
fica­
)rtas
011s-

"1111-,
te111
A JNVI N('ÀO DA P/\JS/\GEM
23
E, de repente, lá cslél a paisagem. Será que ela apare­
cerin scr11 essa abertura, quando o sonho desliza da noite
parn a claridade ínfima do dia?
Essa dobra, essa imposição silenciosa a ser tomada co­
mo única e verídica paisagem no
instante dessa
aparição,
teriam elas atuado para produzir a percepção de tais ou
quais paisagens, sob ta] luz, en1 tal momento? Bastaria re­
meter-se
à imagem do jardin1 tão perfeito descrito por mi­
nha mãe? Seria ele justamente o paradigma de todas as
construções
que depois passei a chamar de
"paisagens''?
,
E certo que, ao escutar o relato do sonho de jardim
materno, senti tratar-se de
um quadro, disposto com ar­
te e fechado pela
moldura -as árvores, o muro do fundo, o
horizonte
que se percebe pela cor do ar. Evidente que es­
se quadro
era a figura perfeita da natureza, tal qual a per­
cebíamos
em sua aparência amável e tal qual a entregavam
os pintores preferidos de
minha mãe. Pois teria sido ine­
xato atribuir
essa imagem, com o ensinamento que pare­
cia acompanhá-la, a
uma pessoa singular e singularmente
original,
mesmo sendo ela minha mãe.
Pois
havia também, dobrada no sonho de minha mãe,
uma visão impressionista (como o jardim de Claude
110-
net, de Renoir) que contribuía para modelar seu paradig­
ma. Uma cultura completamente literária, que percorre11do
a produção
romanesca de Proust a Giraudoux, passando por
Virginia Woolf, trazia consigo algu1nas i1nagens pacíficas -
a
bela vida -e sugeria todo u111 aparato doméstico co1n o
ritual dos passatempos regrados de ltn1a vez por todas. O

24
ANNE CAUQlJELIN
horário das cinco da tarde, parece-me agora, não tinha si­
do escolhido em vão ou apenas por causa
da luz dourada,
0
sonho também fora educado: c inco horas era o instante e rn
que podíamos nos per1nitir ter prazer, ler, sonhar, atividades
proibidas
nas
p1·imeiras horas do dia. O sonho não infringia
as obrigações, respeitava s
ua letra. E, mesmo que à época eu
não tenha me dado perfeitamente conta do poder de infor­r11ação (de forn1ação) contido no relato sob a forma ''luz de
cinco horas
da
tarde '~ atribuindo-o a sua única e melancóli­
ca beleza, devo confessar
que essa pausa ritual das cinco ho­
ras
ainda cadencia o tempo para mim, como uma respiração
repentinamente tornada possível.
Ao mesmo tempo impressionista e clássico: eu podia
decifrá-lo
com facilidade e também percebia muito facil­
mente que o sonho de minha mãe não era nada de extraor­
dinário, a
projeção de um gosto fabricado ou a marca de
certa cultura, de uma norma. Tratava-se do que era ''preci­
so'' amar sob pena de retroceder. E que, aliás, realmente se
amava, aderindo-se aos modos do tempo com tocante boa
vontade. A paisagem impressionista estava dada e em har­
monia com o gosto declarado por Cézanne
e, em geral, por
toda pintura. Apenas Cézanne não dava espaço a sonhos
de jardim, assim como os Poussin, Lorrain e os clássicos
por demais afastados da vida tal con10 ela era i111agirlada e
desejada para que representassem outra coisa alén1 :.te l1111
depósito de cultura para pessoas ''ct1ltas''.
Seria, pois, necessário uLin1itir qL1e, se et1 \'ia toda pai­
sagem se constituir por n1eio do 1110Liclo-tela Lio so11ho de
AfNVEl
rninh
do e
vras,
jardi1
lecid
da ir.
reza
sage
da e

o rn
mel
ma1
sag
cor
na
''cé
A
el~
pt
n~
u
e
e

26
mos nos banhar na \lcrdade do mundo tal qual ele se =-'O<~
aprescnta\'a, não fazíamos nada além de rcpr0d1.Jz1r ~Ue­
mas mentais, plenos de uma evidência longínqua_ e rni­
lhares de projeções anteriores. Essa cons tante redu';à'J ar)$
limites de uma moldura, ali montada por gerações de olha­
res, pesa\'ª sobre nossos pensamentos, por ela :mpied
0
sa_
mente orientados.
Tratava-se
não de um olhar inocente, mas de um
p:-o­
jeto. A natureza se da\Ta apenas por meio de um pro~e: c
de quadro, e nós desenhávamos o ,·isí,·el com o a:.:xí::o de
formas e de cores tornadas de empréstimo a nosso a:se:ta ~
cultural. O fato de esse arsenal ser le\·ernenre diie:-e:i.:e :Ja-
ra outros indi,1duos ou outros grupos não conrrad:z:a o ia­
to mesmo da construção do \·isf,;el. i natureza pe:-ma::ec:a
bastante '',risível'' sob a forma de um quadro. Com se:.:s :.:­
mites (a moldura), seus elementos necessários for :..'"las ~e
objetos colorid os) e sua sintaxe (si metrias e associ.aç:Sc
de elementos). Que, para tanto, nós nos \"alêssemos desse
ou daquele exemplo -o impressionism o, o barroco a Re­
nascença italiana, os cartões-postais, o calendário ~e?ª­
rede ou a descrição literária e fi1mica -não muda,·a a Lc:~.:
em nada.
Desse modo, aquilo que olhá \·amo ~ apai'\0 :1..1-: 2~: ::e:' ­
te como a manifestação ab o luta da pre .. en ~~1 10 ~":.: :--: ...
em torno de nós, a natureza, ~1ara a tlllc. l lc:1nç'"1 c.111'-~ l :. J­
res admirativos e qt1a e r lligios 1~. crc1 0111 st111 .. 1 Ji-"t>i }5.:
convergência Cm llm Ú íl iCO r1t1nto liC ~"'lrOie tOS qLte t~I J. a:~ .
atra\
1
essado a história, obra .. que s~ ªl-"l°'ic:1 Jn1 un1as às\..:.:-
.... asa
-~
-.., .. e
co .. 1"
]
não
sas f
nós·
mui!

cos
:tOS
,,... .• a
.......... ..
D ..
q
s
t
1

LI LIN
') Jl'}j
o (;1os
1f J1'-1-
os'"1-
pa­
fa-

Cia
1 i­
de
es
,se
.e­
a-
sa
o
1
JN\
1
1NÇJ(J1 >; l~\IS1\G I i\1
27
tr«l!" t1lé lc>1111dr esSl' C<>11jL111l<> t<><..:re11tc n~ di· . ·d d
. . , vcrs1 a e P que
Ct>t11l'l'tut11 ,1c> L!S(Jel~1tt1lc) ,1 ('Vtd[·11c1d ele uma n· t
ü Uff•%a.
lr1<JLC11tc111cntc presos a arrnad1lha cr)ntn I'
1 ..!mp avarn(>S
11,1c) L1111a exterioridade, como acreditávamos .
, mas nos-
sas próprias cor1struçõec; intelectuais. Acreditando sair de
r1ós mesmos inediantc um êxtase providencial, estávamos
n1uito
simplesmente admirados com nossos próprios
mo­
dos de ver.
E era, sem dúvida, o acúmulo de tão nobres traços de
nossa atividade cerebral (não exatamente os nossos, dos
. ,, . .
qua1s estavamas inconscientes, mas os da espécie huma-
na de certo tipo) que conferia profundidade ao quadro,
à paisagem. Que, de alguma maneira, fazia as vezes de
"fundo''.
CJaro
que essa constatação não se deu de imediato, ela
me permaneceu oculta durante um bom tempo, dissimu­
lada pelo exercício do olhar, que carrega em si sua própria
recompensa e seu peso de legitimidade. Mesmo assim, a
evidência
cedeu, a partir do momento em que foram reco­
nhecidas a importância e a potência dos
imperati,·os im­
plícitos que governan1 nossas atividades. Porqt1e é certo
que existe um saber não sabido, aqL1ilo que r1ão sc.1be111os
saber daqui lo que sa ben1os. Sobreveio, 11aquclc n10111e11-
l<>, L1n1 esluclo cie suspe1 1sãc) ti,1s Ct'rtc1c.1s c.ltL' cr1tãc.1 posstt1-
dns. JJrrig<,h<) excrcíci c) 11c) <.JllC ci i7 rt'S~1('ilo àqttilt1 qLt€ er11
b<>a-fé, 8<..·rc.'c lil<1n1c>~ ~<.'1 ''t
1vi<.lt'11lt'
11
,
Ct)íl1<.1 c.• forr1eci111ento
de vcrclc.1cle (]li<! 11c.>s ()ÍCt cct'111 <>S sc11li<..ios,
particularmen-

l
28
.!;. ., -,_ ..... ·o
'~ •. e. ...r-.. _ C-.:.ti:-
te aqueie sobre 0 qual se furda nossa crença mais ir..a:-:-E­
dá\·ei: a \,.isão.
foi e:1tão que comecei a u\·erificar' -poder-se-ia c:ze:
a abalar, com sacudidelas -a :ort na desse ;ardim per:e:: ~
Jeaado cor:io herança, confrontando-a com sua géPese.
o
Será que antes de sentir ou ressenrir uma paisagem, a
mesma que me parecia tão próxima, tão naturalmen:e ''no
:ugar'', eu de,·eria fLtrá-~a peia exigéncia absoluta àe ~~
Íorrna, que ent.L.'1ciaria imperatiT.·amente a mane~a àe ?e­
ceoê-:a e, aré no mínimo pormenor, aqui:o que et:. acred:­
:a\·a ser 1'.:Únha própria sensibL.idaàe à paisagem?
Será aue há espécies de a priori de nossa sens:o:Jà2ri
2
~
à paisagem, de modo que, ao acioná-:as, de:as nos es~..re­
ceríamos e acreditaríamos sempre estar em perfe::o e ori­
ginal acordo com a ''natureza''?
E mais: a paisagem parece traduzir para nós urna re­
lação estreita e privilegiada com o mundo, repres en~a ce­
rno que uma harmonia preestabelecida, inquesZ: o~ -el,
impossí\Tel de criticar sem se cometer sacrilégio. Onde es­
tariam, pois, sem ela, nossos aprendizados àas ?:c~or­
ções do mundo e o de nossos próprios limites. peq'J.e::.e:
e grandeza, a compreensão das coisas e a de noss os se:-. -
timentos ·? Intermediário obrigatório de urna con,·ersaçãc
l. Os belos textos que P. San ot, em Variatio1t' l'ª""' .... 1 ~res '."'.a~·' : .:..:.,-
5!eck,
19
83}, co.nsagrou a Nsuas" paisagen de infânci.~ a ~ "ª euucaçâJ .:io serL~
tim:nt? que orienta as solicitações da inteligência, a Ja .. e '°'i'J mo:s::-.ur t:err. ~
pot~naa das formas sob as quais percebemo no 5d rt:;a~ã v cvm o r:i...: . .:o, e r ~
quais · •
ªpaisagem nos introduz a no-sa re ef ia ...
,,._
innJ
sos
', e

insl
tifi•
ci.e~
no!
·'aI
e
or
re
p
n
a
f

1
QUl· f.JN

rn(lrre-
l dizer
~rfeito
se.
e no
uma
per­
red
i-

or1-
re­
o-
es-
1-
l ( )
J,.
,


, l\J l .N~-\C) [)i l~JSA < ;1~M
29
ii1íiriilél, vcíct1lo cic c111oçõcs colidia11os, i11vólucro de nos­
sos !1t1111c1rcs -"Co1110 o te1npo está lirzdo hoje, como 0 céu es­
lrf c!nro!" -, seria preciso pensar que esse acordo perfeito,
instantâneo, é comandado a distância por operações ar­
ti fiei aj s? Recusamos co11stan. ternerl te uma desapropriação
dessas, ten1os a in1pressão de que a paisagem preexiste a
nossa consciência, ou, qua11do menos, que ela nos
é dada
"a11teriormente" a toda cultura.
Originária, a paisagem? Isso
não seria confundi-la
com aquilo
que ela manifesta a seu modo, a Natureza?
O
originário, sob a forma, entre outras, da Natureza perma­
nece fora de alcance: a Natureza é ''uma idéia que só apa­
rece vestida'', isto é, em perfis perspectivistas, cambiantes.
Ela aparece
sob a forma de
''coisas" paisagísticas, por meio
da
linguagem e da constituição de formas específicas, elas
próprias
historicamente constituídas
2
.
Contudo, se pode­
mos distinguir esses a priori ''culturais'' pela reflexão e pela
análjse, sua unidade se reforma permanenten1ente, as
di­
ferenças se apagam para suscitar em nós o sentimento de
uma só e única presença: um dado de si.
Sentimento tanto mais poderoso qL1anto mais a i11e­
mória subjetiva ligada às impressões da irtfância, à lí11gua
que falamos e ao co11texto em que aprc11dc111os a decifrar o
1nt111do faz causa cornu1n pélra objetivar ,1 ~1crcc11ção. É Liifícil
2 Mrkel l)uf rl'l111t..', L'tr1 / '111i1c11tnirc de·:; "11 J'' ior1 ·: l~cc/1crclrc de l'origi11nirt'
(l't1ri<o, C'h1ist1an Hourgnis, 1 981), 1no:;l1lHt hl'l1' dl• quL' 111t'tio t)$ a priori forn1ais
(<1s cundiçot•s L'~p..ic1nll'1npo1,tis de nos~.1 Sl'ns1b1lidnLit..') nZh) toc,\111 .:tS 'coisas", mas
suu 111uldu1.1, e <.Jlll', p<11.i pL'l'Cl'bL'l "rni~.1s", l' prL'L'i~t1 l1pt'l,1r .1 u1na diversidade de
n 111in1i, rcl,1tiv1í"ados pel.1 histori,1 .

30
••
-a""'~ .::r-,_ . za ce .... e:
-~ ..... ~o .. -.1 os.sa..s _, -~ .. \....t.. • ..... -.. -
't.:. a... -..,, ~ - """"
:eiorr arrL.OS semare a~ -.;; -_
. .-

ª ~ íor ~anha. O ma=~ -ern:n-
·=~ --e ... 1.~e1··0 ao Rio. ao Ccea...,o
u •Li ..,, - • ' •
• • • '"'i ,, ,
-a~e .... -e .,...,.e ~==:to~ ::0s .e=::cra-ae no5 mesmos~ .n.._-
',;,_ .J. 1 1 • ... '-"' -...6. ..... -v ....:;;:--~ - ,, --"J;::.
. -
- - • ..1
encon~a~os :á a~ a :1ossa ª?:ee:-sao. ~oena~35 ~
-
.... - -
a
--·•=:.7"'.:>.17 -
- -:..4.1. ~ --=--::.~e~
---
-. , ... . -
u· . 'I -c....-.er.o ~a ,......,ocrno .... :::1-a:--~ co-----
t...i:100 q:ie a ..._e:l JL L •'-';:;• 1 J..ll~~Ua Ll'-i • •U.V Ül C, .~-
- . . --
, . . , -az ª'"' .. .,...ece-nor ....,,..., ........ e·-o ~'3--ai-~ ..:i
-o :'.""1 a G as ·o.: :::: ia5, • _,.a.... -'.J -...... ,._ ..... • "' , ;,.n;;c a. ::::-.Jl 1 \uil::: ~
... .&.. - ... .... .... 1 --
• .. - -i: .. .. .. • - -· •
. · .. a e ae . '"'°"" ~-~-o ~=ro ce......,.n ... e ,,.. ~GO e-~-;:,.-.. ,..,. ~ cu.....·fliI ·Ã J • '"-...... ~'-li UI\....~"-..'- _, .........._ L .-.&.. u~ I --"--'-''---"""'"'-• u~-
~
-r-c- ~-, .. ..,.. ...... - .. --.. ~ - ~---... · -... , , -~ ·p·
11aaae em gera.., rrara- ::>e ua -a ........... eza. e uC:. ... éi::>Ggê-:'--~ ..... e
as duas nocões-9erceocões se cor ..... -i..ü1de::-i, as d:s-..:::.:2-e5 ~2
, ... .J., ,
apagam. G"ma espécie de ingenuidade :105 :o:::a ~~ ~
,·erência. Ou ainàa uma necessiàade ':':-e.r:1e~:e · ::'a.:-a :c.:.a::
~ -
francamente, não será preciso retomar sem?re .:0 2:::3 .:::.­
mento de uma primeira \isào, ao reconheci.;.-:1e:::-c ~
o percurso que tracei nessa tloresta ue: :::~ .15 3ef...':~
o caminho imperioso dos saberes in1F:i(it s J_s :~~:::-.. : ~ ~3
mil \·ezes repetidas, e, mesmo que elas n s :'--· .. ~-::: .: ~:::~
. " .
e>Jgenc1as, pretendemos tambén1 n1ante-l .. 1s .. : ::s~.:~~.:-.::
criticar sua autoridade, mo strar qt1e elas r t r ~ l .. 1 ~= ·:-'­
decem a artifícios de con1po içào. :\ão 11 .. 1 :it1 ~ ~ .. 1 ~ --:~~'
,
e essa dupla entrada que é preci.. l~r J 1l.ti .. ·:. " .. 1 '-...:'.
que me aproxima e, ao 111e. mo te1n~"' º 111e af:tst .. 1 : .. 1 ~ 1 : '
3
-.. ,;;.. --;= ~ ,,,.., __ .......
..
-----::z-·
~ ............... ~
--
....... ---1 ----
:::. -.......... .::.: __ ., .. --

---..::
~~ .... -
-
--·J
--~-...
]
.
..... --,
--·--...
-
-· . ....
.... """"' , ...

11 IN
, J f, ,
t r 1 e ,
''• e >t~
I ,, >'

l JS-
f 1.1 s

1·1-
lo.
(a

1-
-
o
.._
/ INVl!N< A<> 1 J/ l'A/IJ A< ,f M
31
<.jllt' 1 r;1t:Jr<1r11 '' fJr1Í <..,;1~~<·1n c•1r1 '>lJí"i rc·J:ic,ár, C<Jrr <J <>r1gíná-
1 IC). f'c>l<.Jllt' es~t· <Jri1~111fir1c> e~, '' rnc·us <1lh<>',
1
C<>rr p<1st<J d<~
111ill1c11t'"> <.' 111ill1n1c•" (ft• c..lc1l>r<1<,, c.J(• rnilharC><, r· rnilhare:s d~
111t'r11c)riél~, <.', !-><.· {o p<J~ .">ívc l que· t•lac, St· tc·nham c<1nstituí
tio l'orquc crélm cc>nvc>cadas pelo "fundo'', nós, C<Jntud<J,
1150 lcríam c's por testemunho nada além da multiplicidade
dessas mcs111as formns, suas ,.'variações".
Desdobrar essas dobras é, claramente, criticar as 11e·1i­
dê11cias',. que nos dizem ser a paisagem idéntica à naturez a.
Subir o penhasco: a constituição da paisagem em natureza foi
algo que teve longos sécu los de preparação. Nascimento e
credenciamento de uma forma simbólica. E tal forma sim­
bólica, atuante em tudo o que se refere ao espetáculo da na­
tureza, não é
fácil de analisar: eJa só se deixa surpreender
em pequenos passos, prudent es. Mal creríamos ser a pai­
sagem mero artifício. M
esmo que tenhamos a prova disso.
É que a paisagem já está ligada a muitas emoções, a muitas
infância s, a muitos gest os e
1 parece, sempre realizados. Li­
gad.a a esse so nho sempre renascente da origem do mundo -
ela te
ria sido
''pura'', de uma pureza na qual nos mantêm os
édens e
à qual retornam os, não obstante nosso saber.
Partir de um grau zero da paisagem, quando nem a
palavra nem a coisa forçavam essa idéi a. Do grau zero da
imagem,
simples cópia insuficiente das maravilha da na­
tu rcza, para chegar a se interrogar sobre o
n1on1ento de
sua emergência e sobre a maneira qLtC temo de proceder
a sua manutenção. Cor110, pois, pôde essa i1nagern se ins­
tituir como moldura e co11dição de possi bilidade de uma
visão da natureza co1no paisagcn1? E, se111 dúvida, devere-

\:\;\F L'\l ~l 111:-..
111c. s 1~, .. 111t,11 .1 l1i~"lt)t1..'S1. ' 1..i1..' t1111.1 11..'ll)t i <:.1 0111 .1ç.lr., t"lt) t'llt'­
tlt)r 1.it' l1()~$ S g 'Stt)S r'•lt~.1g 1~ltt't''I~ ti' ~tt.1 .1scc11d011ci,
1
,
it..' ti 111,1
t '11.1 "'ili.11..i(' 1.i,1 l 111g t1.1~1.'111 1..'111 !"t1.1s fig t11 .ls.
l .1r.1 ·h1..".;ar ,1 t1c.)$ i 11t01r0g.11 ~t)l)t (' t1111 "t1111 ~)tO\a
, t'I -ott si111i1les111e11tc ~)t)SSt\ cl. ~ l.1s St..'t.11.1t1"' e ~1o~SÍ\ 'l rc
11t111 ·i,1r à 1.ionçào -1.1c.1t1t.."l.1 lllt ' ~., "r111a 110c0 s0111..io para
1105
) dest'I1 ~,, :fen r de t1111a ~1crce~1ç3o Li,1s ·o isas, de toda Js
·c.)isas -11a f r111a 1..iora\·n11t0 co11gcl.1d~1 tia ~1er s r)ecti ·a? Re
11t111cia r à fi0 u ração pi ~tóricu e .1os jogos Lie n1a Llt1terlçào
d s i11itos, es as co11diçõe do se11tiLio.
Da G1·écia à Renasce11ça, L1111 \'asto e ~1aço de te111po
en1 que a natureza - u111a idéia -se co11tenta co n1 L1a fi­
gt1ração plástica. Ali re idir é te11tar co111preer1der a prodLi­
ção do estatuto da
image111 dada posteriormente
con10 ~eu
equi\raJente. Te11ta1· co111preender, en1 segt1ida, con10 a re­
petição dessa consti tuição de L1111a forn1a i1os le\'a a er11-
pregar os r11esmos instrL1n1entos, cada \rez qt1e pensa111os
constatar i11genuan1ente a prese 11ça da paisagem. É ta111-
bém suscitar a questão de u1na i11udança possível :ie i1os­
sos dispositivos perceptuais, se o in1pulso téc11ico ja111ais

i1os permitisse cons truir outras in1age11 e, por 11 .. egL1111
te, outras teorias de seu esta tuto. Se a i111ao-e111 te "'11 ll)gi­
ca não é mais tida corno aquilo que ela fio-Lira, e111 1t1 se
transforma a paisagem en1 relação à i1atL11· za L1ll :-.i,1, •1l)
mesmo tempo, vela e desvela?
-
E, nesse caso, em llLlC se trt111sf r111cJ o ~1t i Li J 'lll)
pelo qual minha n1ãe ~1ro 1110 ett sct1 s 11l10 Lic jarLii111 à ~)l) ­
sição de começo absoluto?



AS FORMAS DE UMA GÊNESE

Gênese de uma forma. Quem diz gênese diz "come­
ço''. Ora, é sempre difícil dizer ''et1 vou começar pelo co­
meço''. Impossível
apontar o dedo para esse
"começo".
Cada vez que tentamos datá-lo, o encontro repentino de
algum acontecimento nos provoca, desmente de modo
cruel
nossa afirmação, mostra-nos a inanidade desse pre-
tenso co1neço.
A decisão arbitrária é o único modo de evitar esse
inau
passo. O mesmo vale para a paisagem. Quando é que ela
surgiu como noção, como conjunto est ruturado, dotado de
regras
próprias de composição, como es quema simbóli co
de nosso contato próximo com a natureza?
Autores confiáveis situam seu nascimento por volta
de 1415. A paisagem (termo e noção) nos viria da Holan­
da,
transitaria pela Itália, se instalaria definitivamente em
nossos espíritos com a longa elaboração das leis da pers­
pectiva e triunfaria de todo obstáculo quando, passando

:/
" r li " < I· ' Jc;r 1 1
1 II~
íl ('XÍSI ;, ,,,,, ,;; 111 ·srn.i, (H,( ,,,,,,.,.,,. ,1 .,,.,, ,,,,,,,., ,,,., ''t' I
,, l /1 J '
C>< 'llj> ír~;f; c• ;1 l><>Crl clt• e t'llíl.
'f";1is ds·~<·1~'C><" 1 '"''' J>l'I f<•Ílí1111c·11lt• '" <·11,Í·;r·" <j•J
' ~ t1r11j,>
St' l r;1f(l ,11><
1
llíl!; cli1 11i11l 11111, f',fCJ t·, cL1 •IJ>ft•
1,c·r1t,-
1
c,;
1
,, ,j,. ,.
1
,
111c•r1t c>~, l'1 1ic.,11<
1
Íslic«J~ Jlíl 111c1 lcl11r;1c lc ·1~1r1 <jlJí1cJr<>
;. lt
n ' I'/( 'Tl
~·fie> cl::1 11t•rs11ec·r ivé1 (. jl1st;1111c·11lc· '' 11c) cJ;1 c111c",lfic,. f\,, fii :~r
,1 c>rtft•r11 tlc.• 111Jrt ·sc ·11tn~ ·5c> (' <Jh 1nc •ic>~ cJc· r<·nli%ft J,
1

rn tJ
Ífl
c·c>rJJC) ele.' d<>ul ri11<:1, 11 1)c•rsr> <'<
1
t iv;1 1 icl11 <'C>tnc> ''lc ·í~Í I irna// ju·.,tí
ÍÍCé:l e> tlJ'.>éJrc.•cimc•nlc) da p[1Í<.;<1gt•n1 nc> 'JU;1cJr<J: C<Jm c·fr•il<J, d,.
ir1fcic> c.•nc'<>11lrn1nc>s 11a pinl uru <>LJ 11<>s ir1/arsia (m<.!rch<·
t ;:i ri '1 e,) D s scvc·ra s a rg u j te 1 u rêl <? d é.l '?
11
e i dadc·c, ide· ti i'>". l~la·,
11E1<> p<1ssnrn de praças dc'SC'rla'>, cl(• c·sc1uina<, de· r·dificaç0<·s,
de rccc>rtcs de janela s, de a rc<JS q u<• ~e.· a brc·m pnru <>ut rrJ~
traçados, de monum entcJs de' divc ·r~as fcJrmac,, CJUC parC!ccm
ser um rcpcrtóricJ para a ccJnstruç5<J. (~idades C'ib<JÇO, de·
núcleo estrito, sem nenhuma vcgrtação nem arbustC>5, c,em
a emoção desordenada do& ccJrpos, nem a cmoçã<J, tem­
p
estuosa,
das nuvens. Ac> longe, nGJ ponta seca do olho, o
ponto de fuga. A pcrspcctjva - que é passagem através,
abertura (per-scapere) -aJcança o infinito, um ''além" que
s
ua linha ev oca. Mas é um
além nu, uma geometria, o nú­
mer<> de uma busca. A scnsua 1 idade está ausente, assim
C<Jm<J <> acascJ, mas eles logo v5cJ vc>ltar à cena e exercerão
seu encante': aqui, uma planta se apcJiará sc>bre um balcão;
ali, <> pináculcJ aért,<) cit· t1m<1 árvcJre iltrás tlt tlU •lc
1
1
1tiro;
enfim, um mar qut•, bem na lir1t1,1 li<> l1clriZtl1 1l ', \'i1,1 C<)n
10
um falar tcntadc>r de) ab:-;<>ltttu. A J)~1isr 1g '111 11t11 t'tl' se ii
1
s-
t J
.
'd h .
· 1 l li. s S'·' 1 fi rn1'1 r.
a ar t1m1 a mente, es 1tar, v'1c1 ~ir, J1t1ra l l'J1C ~ ... '
,, 11.111 f
;
()·,1r1
lírn <J'
fJ~ í' ,<JI
( ~,,.t ;
dr·<, I~
mG1d
e' >rr'I
nat
ra
cita
C()n
ap
d~

Sl~
"11
re
hj
q
e

1 J IN
'() '
l tf e,
' 1 \; '
11 l)
t i­
li L'
"'-
clS
)S
le
11
-
o
I
A INVI N<. A<> IJA l'Al'-iA< ,f.M
37
()~ t1(•s e (;lt'l)tt•s J)élÍ11(•i", cjt• lJrbin c>, de• l~altim<Jr(l P de Ber
11111 clclc> tc•sl('ITllltll1<> tlt•!-,t.,C• 1 i~~<>r <1pc•nac., c•c.,bc>çadc> de uma
J1tlisi1gt'Jll ni11cltl C..'Xl)C'Cltllllt'. ÜU<lnt<> a', intrincada$ mar­
t•l1c•t,1 ric.1s c1uc• aprcsc11l él rn ns mesmas perspc ~ctiva $ decida­
clcs icicais, é ao polimento, ao grão, ao lustro, ao cal<)r das
111nc.lcírDS 11obrcs que elas devem o poder de evocar algo

como LI 111a pa1sagc1n.
Ton1ada exclusivamente no co ntexto da pintura, a pai­
sagem se reduziria, poi s, a uma r epresentação figurada,
destina
da a seduzir o olh ar do espectador, por meio da ilu­
são
de perspectiva. A inesgotável riqueza dos elementos
naturais encontraria
um lugar privilegiado, o quadro, pa­
ra aparecer
na harmonia emoldurada de uma forma, e
in­
citaria então o interesse por todos os aspectos da Natureza,
co
mo por uma realidade à qual o quadro daria acesso.
Em suma, a paisagem adquiriria a consistência de
uma realidade para além do quadro, de uma realidade
compl
etamente autônoma, ao passo
que, de início, era
apenas urna parte, un1 ornamento da pintura. Aqui já po­
deríamos nos admirar com tamanha autonomia para un1
simples elemento técnico, com um vôo desses, con1 u1na
''
naturalização'' dessas. Mas, para podermos nos ad111irar
realmente, é necessário ainda sair do
círctilo encarttado da
história da arte. Abandonar as obras, os artistas -nles1no
qL1e esse sacrifício seja pc11osc) -e ~1crgt111tar pelas no\·as
cstrL1turns da ~1crcc~1çã o irtlrc.,liLtZilic1S pela perspectiva. A
n1cu ver, só c11tã() 11os fixn111os 110 n1 istério da paisagem, de
scL1 nasci rne11to.

38
ANNECAUQ t~
vc1..JN
Pois essa ·"'forma s imbólica'' estabelecida pela
Pers­
pectiva
1
não se limita ao dom í11io da arte; ela envolve de
tal
rnodo o conjunto de nossas construções mentais que só
cor\seguiríamos ver através de seu prisma.
Por isso é ue
1 " 1 d d li • b "i · // l ' q
e a e e 1a1na a e sim o ica : iga, num mesmo disp ositi-
vo, todas as ativ idades 11uman.as, a fala, as sensibilidade
s,
os atos. Parece bem pouco verossímil que uma simples téc-
nica - é verdade que longamente regulada -possa tra ns­
formar a visão global que temos das coisas: a visão que
mantemos da natureza, a idéia que fazemos das distân cias
I
das proporções, da simetria. Mas é preciso render-n os à
evidência: o mundo de antes da perspectiva legítima n ão é
o mesmo em que vivemos no Ocidente desde o século xv.
Parece que se deu um salto que leva mais longe que a
mera possibilidade de representação gráfica dos luga res e
dos objetos, que é um salto de outra espécie: uma ordem
que se instaura, a da equivalência entre um artifício e a na­
tureza. Para os ocidentais que somos, a paisagem é, com
efeito, justamente ''da natureza''. A imagem, construída
sobre a ilusão da perspectiva, confunde-se com aqttilo de
que ela seria a imagem. Legítima, a perspectiva também
,
é chamada de ''artificial''. O que, então, é legitimado e o
. . fi l 1 · t t1· ' •.. .;.:ai<; (Paris, 1. r~. f'anofs ky, Ln perspect1ve COllTO or111c Slflll 10 1']111.' t' ª" (~ ~-· : ·.
(. " • • f.
1111
.;
11
11ról1u1,
f,cs t!dilionc; de Minuit, 1976 [e111porlu~uc s:A11er s11t•cf1vn co1110 ,ori • . _
· b · · - · · " · l · ·Lo1·ica e social Pª Lis c>a, J~cJ1çc,cs 70 1999)). Co11sc1cnlc de suo 1111pc)1lanc1a 11s •
0
1
. • 'I'. " Forn1a n
ra o ()cidcntc, l)anc)fsky nomeia a 1)c1 s11cclivt1 C l>n1c1"lt>1111.1 s1n1bn lC<l · icl de a
sentido de que é inevitável para lc>dc) Cl>ntcúdt) visual l' ticscn11>t'nha 0 PªF ·a que
. . s· b 'I' · ' f' · · · - lt l"l
0
lS d l Rcnascenç<
11r1or1. 1n1 o Jca por unir nurn so CIXt> as élljlllSlÇl>CS cu ~l e • < l Gr11nd) de
ai11da <:stão cm vigor cn1 nossos dias e t}UL' co11stituen1 () tu11do, o so 0 (
nossa
n1odcrnidadc.
• ?
A
tx
o

Sl
d
n
z
n
e
a
r
(
]
]
l

'
'

'•·

' ..
' .,
• .. '
' .
' '
~.
'

' . ' '
'
'
' '


'

. '
'
' '
'

' '
" ' ''
. .. .. ....
..
• ••

....
••
'
:s
' , ,

,, \, .
• " . ~ '1''' ' . .. '

1 1'
' •
•.
'
~,,
li ( '

'' • 1"
'' . '
'
' ' .
' • •
. , ..
• •

'
'. 1
"
'
~ll
.. ' .
'
••
'
'

.
'\'
..
. ' ,., ,. ....
• • . '. , .

• •
• •• ' ••

.. .
· ""', .....
...

º'
••
. ·' ..
. ' ,.
••
,. 1

•• • •
'
,. ·' '

' '

• -"

'


l
:"'\'ll
\11)), 1)1.'t. ,, l .l l .l 1. ,
l 'l.'
11.lt\li '· ,)-
• 1 ' l .,.

' t
l
. ·' . 'l. .. .... , ..
'
. ' .. ' .. , t .. )

ll ' . l l'i

r:
........
• 1
• ...
............ " ... "".. .... .

• • ' .
' :---,
• •
.· l
tl t:
"
·'
'
.....
...
..
't.
.... ~ ....... , ............ ~~
..... , -
'-" .. .. '-
' .. , --... ... ......_ ..... . .
.... ,.._ ., '"""~

"' •••

. '
' .... '
-·" .....
• . ...
., ...... , . , .... _, ....
'-.. , .. , ....... ....._,,..._ ...... ..._
..
4 ..... t
,•
,.
• •
• • •
.....
m .
..... ... .
.. l .......... .:--.

l \.
-..
'
.. ... ..
1


••
'
• ••

1
••


• •

.... ~
.•• t.
'



'
. ' .
' .


~l l
. .........
• l
, ..
,,,
••
..._ .. 1 l .t
-

... .
' ...... l
• . . ...
1 ....... .._ ...
• •• •
(
• •
••
... 1'
• l 1
-•
{.
...
'
l
l
~,, .... "'-'
""" ..... ... ...,.._
. .... ....
• ....
'
.., ,j •
'

...
• ..
• ,.
. '
, .
l .. , ... ..._ ...
'


'




... ... .,.
....
l t

l"
i
·' , ..
" ' l '
.......
. ' 1
••
. ' '
.. , , .... ·-·""-
• .. ..._ ...... ......_ .. i,' .......
'

. ' . ,. ,,..._,
...
•••
t '
....
• • 1
. . .. 'l' '"
-~~· ~ ,~ l •


v::t--::..
• .... l'-~
• .......
•••
• ..
...
••
.. . ., .....
'-"' .._ ....

.....
-
··~

40
A.'-~'E CACQLl:LJN
be, exalta essa preeminência e anterioridade. A pintura é
variação a partir do princípio. Nada além. a verdad
e, se
é mediadora, não é indispensável, é um adendo atrativ ,
o, as
vezes emocionante e, por sorte, desvinculad o, no domínio
especializado que
é o seu, de toda a distância que a estéti­
ca
mantém ''[d]a vida''.
Do contrário, acrescenta-se, seria preciso
fiar-se ape­
nas nos críticos de arte para perceber a naturez
a?
Con­
cepção elitista que favoreceria por demais os eruditos
e privaria cada qual de
sua relação com a natureza. Em
tais condições, não haveria paisagem para o diletante em
arte? Absurdo.
Esses
argumentos defendem e ilustram a relacão
>
confusa que mantemos com. essa paisagem-natureza,
ou com essa natureza-paisagem. Uma dupla operação se
manifesta aqui: de um lado, restituir a paisagem à na­
tureza como a única forma de torná-la visível (logo, de
transformá-la por intermédio do trabalho paisagísti co);
de outro lado, desdobrá-la em direção do princípio inalte­
rável
da natureza, apagando então a idéia de sua possível
construção. Confusão bem marcada no fluxo de noç ões
de ''sítio'', de ''meio ambiente'', de ''ordenamento'' ou de
''integração''. Pois os mesmos que querem salvaguardar a natu­
ralidade da paisagem como dado primitivo se dedicam
também a proteger os ''sítios'' depositários de uma certa
memória, histórica e cultural. Ora, o ''sítio'', o que "per­
manece ali'', designa tanto o monumento (esse arco, essa

l 1 lt\J
• 1 ( •
J 1 1' )
• 1 1
( .
• l"Jl
, ,,
1 ()
J,
J
),
-
A llllVI f 1<.A111 >A l'/'.AI .1 M 41
ciil.111 1· .11 1'11~.i, , .. ,•.1· v1o1,111~111) 1p1.a1t111" ''''''''' í~''''''''~~" d,,;,,
'~ 111, 11 11111 • 111l1·1 V'· 111 1111111 '111 • tt' 11 r1 l 111 r11.
N
, li 1 j
1·•,•111 '''" .i, .i l'·''',: 11~1·111 ,. 11111 111<1111J1111·r1IC> 11í1l1Jrí1 ( 1·
1
.11,ít1·1 í1tll'.l1C' <1
11
1
n llt>1<·•.lt1
1 11111t1 "j~t1l1·1tí1 <11· <:11r,1<1r<>', r1flllJ
t'r11•
1
,
1111111111
11<·11 v1•11lr·" J•::,•,r1 <lc·fi11i<,;,,,, r•l,1IH>1:j<lí~ f>''''' tl1111í
1

,,:1i11clíl 111~.1111<,íl<J l
1
i'd>lí<·:i c·(J:1·. l~<·l:1·. A1l<·
1
;(rr1r1<'Í•
1
,1·rr1 l'J'~(J,
<l{·qlí1<'í1 tt dltl~JÍfjtÍÍ< J;1< l<•i t'f•1Í1 1<· c•111111r1f"1Í<JI1111JlrJ <11,<l<>Í', ;1
1
,1Jr·c
l<>h :11ilíJf)fH1Í<' <J
1
, <lí1 ll<Jl<J <Jc· 1,n1
1
u1;~c·1r1 .
'' <1r<lt·11;11r11·11I<> e <Jrt'.
l 1 l I Í ( 1 < > < • t J j J r Í l l (' Í Í) Í < > < · 1 C · 1 J l < >; l · 11111 1<'Í;1 11 r r l í 1 J J( 'r (< · Í 1 í 1 < ·( j LI Í Vrt 1 { · r 1 C J 1J
c•11frc· éJ ,1rlc· (CJ1lí1e.lr<>, 111LJ',r·11, c·;1r;:íl1·1;1tlÍ
1
,f1C'tJ) e· :.J r,;1f 11rc·í'.íl
lJrr1D <J<·fi11Í<.'fi<, cJc·
1
1f.í1', 1 í11l1í1í•''1r1<·11<J
1
,
cJ 1r1í·ril <> d<· 11,1<>

c·l11r1111<1r ~ ciific 1JlcJ;1(Jc·
1
cJc· t<·c <11111<·< c·r c111c·
1
,c·
t f,Jtri dr· LJ1(1t:1
Í<>rtr1éJ C'CJJr11,Jc·.1íJ
1 e''''' cl1J[J!1 vc·rl<·r1 l<·t, 'llJC' 111tc·rc i1tr11"Ji<11r1
(JfrírJIJl<JS ',<·fjUr1<J<> 1J1r1:1 r<·~~r;J lJ<·
1
.C<>t1l1c·( ícJ[! e· cujD u11icl.JcJ<·
( 1r11Jr1t ifJâ 11<J e: 1Jc·l~1 c·/1,<·r1{·11<·i;1 <>tcl i 11ftr Í<J.
111.r>c;rié·11c i;J cpJ<·
1 cJc· 1r1i11l1<1 111.irlc:, ttfl cJc·
1
1<
ric~,)c, cJr, c.,c,
..
r1hc> cJc· rr1irll1«1 1r1f.i<·, íJ~J!i<>tví í1ilc·1j1<.il1r1<·1111·1 l)'' ''~;anc lc, tJLJc·
t1c~1Jc ilc; jíJrcJí1r1 c:11Lr11c j11v;J <> rí11rq><> 'I'''' c·1111nrínvn rJ IJ,JÍ',,J
f~<.;rr1 <jlJ(' c·r1unc·i;JVíJ ;,i tJiJI 1Jrr·:r.;1, <·11r<111I r:111cJ,, 11c·<Jsr1 c·111 r,1cL1
1r11Jltir>lirarJrJ <.J rl·vc•líJ Çfi<, ri<> ''~J<• I<> 11,Jt1Jr;1l
11
• ('c1rr1<J 1>c1clc·1Í.J
<·u cJ(· <1t1trr, rr1<>rJ<, íJIJt<J/Í1r1;1r-1r1<· clc•lc·, ít 11í1<J c.,c;1 1>c·I<> <jll11
cJr<> (·rr1<,Jdur;J ci'' cJc· 1J1r1 j1Jr<J1111 e ,,,,,,,,,,,1,,, ,,,.1,, ,1rt1ÍÍ< 1c1 tl1·
',IJ(J cJ Í
11p<J'1Í<,fí<J fJ(•f (r·1I ;J'I
Mc ·rf~tJll1 íJ<JíJ, ;11 1ic111íl ~1r l;1 '''' ',c•11l11111·11l<J 111· tltf\,1 l''L'
,,,·11<,í1
1
1
,<·rr1 fc11r1r1r c.:<111
1
.c 1f·11t 1.1, 11c·111 11111 C1111c '' i11l t.111lt! 'l'
<jlJc•r, cl;1 ''l ''·r .1<~;Í< J c111r· 111·
1
,
1
,;1 f1,11r1t1
'' 11l1·11·t i.1 .t 1r1i111, li<>
íJJ1r<·11cJ1zí1d<, <111r·, cl1· 1111111<1 lr1tlfjC', 11;1r,1 .1l{•111 llc1 jítt<l1111 !1(>
r1l1;1 cfc,
1
<<1t1 t1l111ír ,1 ,1
1
,1 ·1~111,111 c;,1111· 1p1<• 1·1,i 1 •J<,1l,1111<
1
11t1• .11111i

f -
---
-
:ie -·-e
e a. na ireza
... u a
a
... ~- -
- •
_-.... a .. -
J -..
----
-----...
• -~ ... -
.... "-1.- -...
--
-
,,,,,,_ ........ e-
----
---.... --
-:: ... """"' -.......
..,_
_,_, __
-

-.. ~-
.... .3-..:, -~ -J­
-c--~~
-;.::>. • - -!:ti -
"'-CL'-_ --
••
-.::!---
....
----
---.....
---
--
-.:a....::--.... -
.. -....._ --
-----..

---
• • ... ---. ---"" -....
"-------~----""'-==-
....... ___ ....._ -.,, -­
.... -
• •
~ "" . ~ ---..:: .,:).
, .
-
...... _ ....... _ -----~-~
__ u
---~- "--·---"­

- ;;-.:::s.~,. -~_,, ........ _ -
........ ___ '-·---...... ...__ ~
-~--""-... ... -...

-1'~~
::: -_x_
-..----,... --
--
_.__
--
----. --
li.. ::..ll ... ............
----
....,. _
-
_, -
i:l-­
.!.'-~----,._._ --~ ---,.. ...... -_,..
----'--"'--~
-
. -
-·--....=--
""'--'-........ e~
I
-

...:) p -:.:i --~ .:::
"'"'--... ...... -'--\,,.1 -
' ---


• .. •
--·.=:-1-.....
---\.. .....
-~ ~-·-
..... ~-
-:<
- - -·
'li' • • • .. •
~ ~.::.,· -· • -;J
-'------! --
• •
- -

---.,
e. ... ,


• -...
....... ::.
Roà e.
...._ ......,. ___ ._
-
~· -,:::-~ ......
,,_;..,. __ _.. --"-
• •
..
-·. 7
--------


,:: ~·--.;; .:::. --. ~ ~- .. """'-­....

----. --
~ .... ---._ __

---­
'""" .. ... -
--.... -... .... . ....
-----
~- ·-.... .--
. , ___ _
-_..___ _ -._ "--·
. -
..,, . .::>, ____ ,
-------"''"" -..
--..-........ _
-\.. --
~ '--
,
0
-e---;:i .......
--.1 l-- _ ...
-,...,.. ----.. _._,._
... ------... _ -
--~---....... -_ _,,,_,_

-
• • • ..
--
Esse

-..::>. -.-=:. ~ .:1,_ --"'"

-----.... ..... -"--_, -"-"'--.......
.... _ ............ -


·~ .... -T':':1 -"-"--e:.. __ ...
• • •
ce .::a'1C.
• •
........_----~ _.. , ....... ,.
_. _ __,_ ...... ~ '-

~:::-a
_......__
..
• -
-
---.. _ ....................... -..-. .... - ....
___ ... _...._._ __

..::e
.. ...._.,
"""" ..... --... --.....

• • • .-.. --...... ,.,..
......... ~ ..... -

-~ -... ----'--"'--"'"
• • --..... _..,. __
_ ... __ ..... --.
• •
... ..,. ._...,..._ _ ----
ao ae se \o..

u.e
.... -... ... , ......... ......
... •,.:>• ... _
-;:>m
'
con.uao, a
-

.... ,

ças,
m que o .... oi não -e põe,


. -
n (1 , 1 -oe.:::
. u.. \,,..._ -.
->
..: iz Ga~:ar e ..
ue ele se põe, e -
. ,,
ao o er· •
-
a ua 1z com a justeza

ntir 1ent
In\er am nte, ur11 -
i 1 na
e crença e mun nti
'
-
,.
...

1


••
11 •• ...,
• • •
• ..
... ---
-. ' ...

'
..
... '-... '-'
• ...
. ... .
---... -"'-'•-~ -
••
-
... --.. , .. _
....
'. ....

J~ 1 IN
11-
do,
"
~li.-
tar
1sa
--
m
.
:10
~r-
15.
e-
n,
io
)-
1-
43
11ós. Snbcr ignora r1te de si mesmo, que forma, a nossa re­
clin, a 1naioria de 11ossos juízos de gosto.
É para o reconhecimento dessa mescla e para o misto
de con1posições que ela gera em nossas avaliações comuns
que se volta essa "gênese".

l
. N. \'l'l ll~ l ·'/,1\ I·:<. '()Nt )M/
1 t) li111il1r tiL' t1t1ssa ~1es<.1l1i ·a, L1111a SLtrpresa nos esper a.
i: tit'' t1 lt). Nl1 ,·erdadc, 1130 ,·olta111os a ela e a ela dificilmen­
tt:' rt'tt)rr1 ... 1re111t)S. H'-1 tlt1e1n te11ha dificuldade em acreditar
11isst) e tt'11te ti'-11· 111il \'l1ltas à dificttldade: é que não há. en­
trt' )~ g rcgt•S l1 nti:--.os. 11t!111 !-"'>ª la\·ra nen1 coisa semelhante
i' i"l't·t ot1 tie lc111g . àt1t1ilo Llt1e chan1an1os ''paisagem" ...
Pr 1t.lll1Lill eStl1~1cf3 -ão t:: 111 1·elaçào a 110~Sa admiração Se(~­
fl1r f"c..1r t' ~ t cet1 est"1 te1·rJ, as il l1a ao lor1ge, a praia~ a3
(l'lin"1s ,ir·iLi~s e '"1s tll1r :)st ... 1s delicilt.ia-, e a luz .
.-\tt'rr riz ~Lios ~"el"1s recl1r"'i'"1ç -es literarias e ~"'e:0~ --~­
tt'rt~t)tiF't)S Lit" t1111'3 ct1ltt1ra 11ertiJLia \·e111 s 3 --r~- :..: ·'" 1·
lt1art.:':' t'11a111t)r ... 1Lil1s L' l'a111i11l1a111l' ~e las 1 '~ ,r: ·; :-,: ... :
11t -
it
"
'
.. ,. ....
re ll ~ tl t.." l
t • •
l ) J'1.llS~l~t lll. •
... ....
t

.. l lt
• ..
111 t1111 brill1
• • ..
~ ,l ·,1

r 111 l~ lll l
,.
~ l\'lllJ l
-~
.. ,.,"
n1 rn1 re l
,. . 11 .. t
'

\, ' l' , .... ,, l
.. , 'l t.l .... l.\~, 'l 111. "' ''tl\, \lll t t til '1 l't f,'il, '· l i.1111\, 'l\l,l l l•
t' .~ l l l, ~., '. 't'~~ ''''li.li t'. ,ll' \ll\l.l l .l .ll I\,\•,, l'lllt , tll :-.ll,l
i .. , ), 1.. ·~"\ 1 • 1 ''~"l\ l \~lll lll ll lll1 lll fl
,,,,,1,.1 ~i,i,' '''11)\.\l,l 1,)l llllll,1 .. i l l l l
.• , ' '.li~.·~~ 'l ., • ,, • oi: ~
1 ..
'

, ' 't 1.lill\'~ ~"'1,,i,11 l'"'t)l t'~:-- .l .. lt1~t;11"·t.l . I'"'' 111.1i~ ~tti
~'~ '-' 'i :,,, r' ' r: t1~t1.l11t "' l'-lt' t'l,1 ~ '1 .. 1 ~·'"' ''"'~ tt'~t.lt i,1 .11-
' •
••
'
~111

l ' .
~ .. ;,, { .. l~ 1111 i i, l 1.1~ it' l) :':'.l tllt't)), 't t,l' ~l.'l l,llllt\~ i ~
:' .. · 1,·' ~~i '~~\. ~ t.'111 .. 11!~\lll) .1~1 e..' ·t .. '\, l .. 1 .. , lt'll~'.1 l11~t .. 't t.l
~ ' ' f '-"""'
. . ~~ 11 .. ·1.1.' l 'i "ltlc..' ~ ',) l .11~ .l~~t'l)l t c..'~J'1.. 11\it' .ltl~ \'lltc..' .1 11.l
'.:: ,_. ,l '~t .. 1 ~.l. l l.1 t'l l,l t'llt,11. ' \111).1 it~t .) 11 .. ·i.1 tl 111 l"tll .1 ...
'~ ."l 'e..:' i '1~ .... 11 'c..'llt ~ lllc..' l1 lt' tt'lllt'~ ) l1.1l'1t) it' '1..'ll~tlt)
1ll t't 111111.1 lllc..':'111,l tt~llt.1'
'
:-\.)1,' 11,1 itl i i.1 it' \.lllt' ,) ~.lttllt'.· ,111,1) t'l.) tl~\tt,1 i.1 t ,)
t 'rt11.1 "i,1 ~ ,11~ .l~t.'111. ~e..' t.'l,1 .1 'c..'tt ,1 .1 ~t t t 'l l t'~ '11t.1 i.1 "." 'l'l
'it't.lt11t'I1tt' t'r.1 t'tl1 ft't t11t ~ ic..' r ic..'t1,lt11t't1t' .it.' i1~t1 il'~1~ ­
",} l. ·~.111 i:.1 i,1. l e.. lt~l1 ·i,1 .. 1t11.1 11tt' llt s t'll Jt't1. ~ .1111111,1 i ~
i11.111i 111.1 i ....... ~ ,1 tllt'1,ltt r,1 c..lllt ~"' t'll 1..',llft'~~.l\ ,1 i 'l.1 1 ,11,1
11.1 l.1 i11tt '1i~ 1\ t'1 c..'r,1 1.it " 1 "ic..'111 .111t t 'l'"'tll rfi ·.1.
; .
• l
t'c..'111 t'r°t'tt1.-. .. \ri~tt,ft' lt'~ ,1 .11 rc..':'c..'11t.1"'\ 1111..' t1111.1 l .. 1 ~
fl,l i' ·,1,,1. l '111.1 t'1..'1, ) )lll,) 1..'tti i,lll i i.1~ l t.'~t'l ,):' 'lll,l ~~ i,11"
'
lllt' f1)l1.i.11.i.1 1.ii~tt tl tlllltic.' ,l~ \'l'lll ll '\.il\.i,l t.' l 'lll ~ 'l\~
~l),l~ l l'~t 'I ,l~ fc.'~t \lt 1. '~ lllt'~ttlll ,l\ t'l~ t.'l,l ,l:' it li' i
lllr~11 1l}r llll'ltit) l lS~t \ "c.'l J'·ll,l .l J lt'St'l .l\,lt'I i1.)~ ~ 'l '~ lll 'l t '
tilJ itt ,1 ll.ltlllt' .~.1 11.11.i.1 f,l: l'll ,},,) \.it'f. ltl i\' 1,' l lll .... ,, ll
tl il1tii,ltlll lit' 1.illf'tl~ t-.lSt'\'IS lll,llS ltlc.'lS J'.ll",l t'lt' tl1.':- l ''ll\.' it :'

46
· . :f ~ :fo citi•' se ti\iessc cl1 ifrcs 11,1 ll''>lél. De rcc:,to, boa moça ar1cOSl ·1 ..... • ~ ,
ela 111c co11ccc.i ', co11tudo, t1111 só cl1if re, fJara se defender.
E co1110 tt)dc.1 bon 111ãc de fn ni íl in que, por vezes, se
engar1a riél rcpélrtição, priviJegiél11do uni, ela fica sem na­
tii'l ~..,c:ira c.inr ao ot.1tro ... Ou dá n111ito, ou o insuf iciente:
05
111c.111stros são erros por excesso ou faJta, assim como os aci­
tientes. Uni proble1na de gestão.
Ivfas se recebem dons apropriados a suas constitui ções,
os seres também são instalados em lugares específico s, pla­
nícies, rios, n1ontanhas, desertos. A natureza se mostra ge­
nerosa (ou avarenta) em sua atribuição: há condições de vida
e de sobrevivência, um meio ambie nte necessário que expli­
ca as particularidades de suas formas e de suas ''partes". A
relação entre uma suposta pais agem e o a nimal que nela
se instala é da ordem da economia das partes que a corn­
põem. Um pântano é indispensável para um elefante, que,
andando pesadamente
pelo fundo lamacento, tira a tron1ba
da água para respira r. A planície árida é necessária ao
ª'Tes­
truz, para que ele possa ali escon der seus ovos. Esse curio­
so bípede de pálpebra humana, que n ão anda nem \·oa, está
instalado em seu mei o, o deserto de areia.
Contudo, esse ambiente -o ''n1eio'' qt1e detern1it1a
os comportamentos animais e a eles está lio-aLio de 111~-
v
neira estrita -n ão apresenta ne11l1t1111a cartlCl 'r1 ~ti ~1.1 l-t'l~1
qual pudesse valer por si n1es1110. Ele c11\.()l\·L' c.)S L'c.)l'~1l)S l1t•t
contém, não é t1n1 ''1nur1do'' t1l) sc11tiLiC) l't11c.1t1L'111.1t1 L' ~1,1rti­
cularmentc visado i1or 111eio e.ias fc1r111"1s c.il' Sl't1sil1ilili,lLit' ~
de percepção - uma forma si 111 bt1l il'tl ot1 t1111"1 c.'()t1strtiçJ<).
que
de s
tica
um
-
çao
do

pr11
a
cor
lide
co
,
-o
\·e]
cl
lo~
un
eh
pa
-
na
s
d~

A JNVFNC.;A< > 1 >A l'AISA< ,f·M
47
1~111 <<>tllttlJ>t11licl;1, e> ''111L111c.l<1" clf'J t\latur<·;,i;a, aqu<~lc·
CJlll' C>'-i gtl'l~<>S l1r11<.''-;t:lllélJ'[llll CC>tn<> <'VÍ(Jf·11c1,1 cl<J JrnpJícit')
1
(._ ' li 1 li , d 1
< L' ~l1,1 ,,,s,1c>, .~<.ti 111L111<. <>, <.' <J <> cJg<J~, (·~sn ra%ã<J Jingüís
t it\1 t}Ltt' ~lrêlvt•ssa as coiszi~ de IDcio u laci<> e· ciu0 instaura
L1111 c11lc11clirnc11to, urna escuta, mais que uma visu-aliza
ç5o, cios objetos desse muncio. 1 JcrácJjto vive no~ repetin­
do isso i1a rnaior parte de seus fragmentos. Basta que um
prir1cípio (o logos como princípio da natureza) assegure
a coesão, o ajuntamento dos cle111entos políticos, sociais,
conceituais, para que a unidade esteja presente
como tota­
lidade indivisív
el.
''Pois uma só é a (coisa) sábia, possuir o
conhecimento que tudo dirige através
de
tudo
1
."
Dessa forma, é inútil-de verdade, com toda a certeza
-destacar
um fragmento dessa unidade.
O invólucro visí­
vel, o lugar dos seres, é entendido -compreendido ou in­
cluí do -no estado das coisas tal qual elas se apresentam ao
logos integrador.
O templo não está sobre o rochedo, não se situa em
uma paisage
m; reúne em si uma totalidade.
O templo-ro­
chedo
é atravessado pe1a linguagem que o faz existir
con10
parte do estado de coisas que revela ao se n1anter ali. Ele
não designa, não signifi ca: é o conjunto de um inundo que
se deixa compreender em sua
exte11são.
Co111 ele estão da­
cios, ao mesmo temp o, a }1jstório, a le11da, o 111 ito.
1. l ll'ráclit<>, "r101gmt>nl <> 11", o;cgundo l)1ogl'l1l'" 1 ,lL'll.'lO, 1\, 1. 0n1 Pré-socrá­
ticos (l1<1d. de josL' ('c1valcanlc de Souz,1, S.10 l\1ulo, No\'.l Cullur,11, 2000. coleção
"Os I'c11sadorl's
11
), p. 92.

48
Temos de reler Pausânias:
No cun1e do teatro se encontra uma gruta nos roche­
dos,
ao pé da Acrópole; lá também há um
tripe' s
r US-
ter1tando uma cena que representa Apolo e Ártemis
f
azendo perecer os filhos de Níobe. Essa Níobe
, eu
inesmo a vi subindo ao monte Sípila; visto de perto -
'e
um rochedo escarpado que não tem nada da forma de
uma mulher, muito menos de luto, mas, se nos afastar-
1nos um pouco" teremos a i mpressão de ver uma mu­
lher em prantos e devastada pela t risteza2.
A distância, reconhecemos a lenda que a totalidade
desse rochedo concentra. Isolado, visto como
fragmento
ou detalhe, ele não con seguiria e ncher a vista e, especial­
mente, a compreensão das coisas.
Só podemos percebê-lo
como um ''mundo''.
Nenhuma pedra, nenhum rochedo que seja pedra ou
rochedo para Pausânias, mas signo para uma memoriza­
ção de valor pedagógico ou apologético.
O mesmo ocorrerá com os historiadores-geógraf os da
Antiguidade. Heródoto ou Xenofonte não são nada ava­
ros em descrições de ''lugares''. Mesmo assim, não cons­
tituem o que chamamos de paisagens: simples condições
materiais do evento, uma guerra, uma expedição, t1ma len­
da, é a ele que estão submetidas. Fatores de causalidade e
,
2. Descrição da Atic:a, 1, XXJ, 3.

. !'-"'-"E.'(.ÃO O ,. P.<\JS \GE}.f
49
de significação organizando o discurso e ser\rindo de mol­
dura aos saberes i1t1merosos: o rele\' O, a flora, a fauna, os
arra11jos humanos, os ,·estígios do passado: tantas ''loca­
ções" indispensá,·eis às narrati\•as e que a elas estão li­
gadas. O objeto paisagem não preexiste à imagern que 0
constrói para um desígnio discursi'' º·
1 imagem não está \'Oltada para manifestações ter­
ritoriais singulares,
mas para o acontecimento que solici­
ta
sua presença. E assim como o lugar (topos) é, segundo
a definição aristotélica, o invólucro dos corpos que limit
a,
a pretensa
''paisagem',, (lugarzinho: topio11) nada é s em os
corpos
em ação que a ocupam. A narrativa é primeira e sua
localização é
um efeito de leitura
3
.
?\essa qualidade, o que vale como paisagem não tem
ne11hu1na das carac
terísticas que estamos acostumados a
lhe atribuir: relação existencial
com seu preexistir, sen­
sibilidade ou s entimento, emoção estética ausente. Sua
-
, , . , .
apresentaçao, portanto, e puramente retor1ca, esta orien-
tada para a persuasão., serve para convencer, ou ainda, co­
mo pretexto para desenvolvimentos, ela é cenário para u1n
drama ou para a evocação de um mito.
Quanto às paisagens estrangeiras (a cheia do ilo)
c
om as quais Heródoto nos encanta, elas são a exploração
de uma opinião, segundo a qual tudo o que se oferece fora
da Grécia é curiosamente o reverso, excitante, misterioso.
3. Cf. o belo texto de Christi an Jacob, "Logiques du pa
·sage dans les textes

ographiques
grecs", em Lire /e pnysage, /ire les paysages, Colloque de l'Uni\•ersité
de Saint-Etienn e, 1982 (Actes ... , Saint-Etienne, CIERF.C, 1982).

50
ANNE CAUQU'EL!N
Sua descrição é fictícia, deriva do ro1nanesco, da peripéc·
ia.
Essas ''paisagens'' descritas são conjun tos nos quais se ins-
talam
seres exóticos, de com portamentos curiosos. Te nha
ou não Heródoto ido
ao Egito, fato é que ele, sobretud
o,
ouviu co ntar -rumores - o relato de viaj antes dos qua is ele
se fez eco. É o fio da narrativa, as eta pas de um périplo que
fazem exis
tir os lugares suc essivos. Desse mod o, os
"diz-se
que'' e os ''diz- se que se diz'' se acl.tmulam, traçando cír­
culos cada vez mais longínquos através de um mapa fant a­
sioso. A voz de Heródoto é uma voz em
11
off '', que fala p or
meio de uma multidão de outras vozes
4
.
O exemplo extremo desse tipo de desc rições, talvez, se
encontre em Plínio, o Velho, que, no livro VII de sua História
natural, sobrepõe os prodígios dispensados pela Natureza,
essa parens melior homini [mãe benevolente para o home m],
que também pode se transformar em tristior noverca [ma­
dastra severa].
Aqui, as anotações ambientais destinam-se a indicar,
pela extravagância de suas formas, a extravagância dos se­
res que habitam as regiões remotas.
Quanto às árvores, conta- se que elas são tão altas que é
impossível lançar flechas acima de seus topos. A fecun­
didade do sol, o clima do céu, a a bundância das á guas
fazem com que (si libeat credere [caso se possa crer]) u1na
única figueira possa abrigar e sqt1adrões de cavalaria ...
. ·t .. tlier (Paris,
4. Como o nota C. Darbo PeschanLtki c1n Lc d1scours dt1 i
1111 1
'1
SeuiJ, 1987).
Al
ja
sai
a
a
Ct
le
tE
o
I
a
d
(
,


A INVE ÇÃO DA PAlSAGEtvJ
51
. "
Que a natureza seJa economa, que seu princípio se-
ja 0 aprovisionamento, eis-nos num mundo no qual a pai­
sagem não pode ter valor em si, trata-se de uma peça útil
a sua economia, como lugar-invólucro dos seres que ela
aprovisiona.
Que não faça nada em vão, mas tire partido dos re­
cursos disponíveis, em nada indica que o território que ela
leva em conta preexista a sua obra. Justo ao contrário, o
território é "
dado com'', não constitui ''caso à parte''. E, so­
bretudo -e é isso o que nos interessa aqui -, ela não se
"diz" sob a forma figurativa da paisagem visual, mas vem
a se apresentar sob a forma de um poder, cuja descrição é
da
ordem do discurso, não da sensibilidade.
O fio da narração e a viagem do pesquisador têm pre­
cedência sobre os lugares, que, por sua vez, acompanham
a história; não são o objeto principal, apesar de serem in­
dispensáveis à compreensão das coisas.
'
A semelhança do que ocorre com a tragédia na Poética
de Aristóteles, a visão (opsis) -todo o lado espetacular do
espetáculo -é secundária. Já tendo indicado que a opsis é
uma das partes constitutivas da tragédia, depois da fábula,
dos personagens, da elocução e do pensamento, Aristóte­
les,
com efeito, acrescenta:
O espetáculo (opsis), mesmo sen do de natureza a se­
duzir o público, é tudo o que
há de 1nais estranho à
arte e menos adequ.ado
à poética, porque o poder da
tragédia subsiste mesmo sem multidão nem atores e,
além disso, para a encenação, a arte do
homem pre-

-,
7'-
~o ans aressó:íos é aJS ún~...a .iw::· ·
ta i~.50 '"'17-: .
A fábula (myihos) e a r.a...-,:ari\a sãnl ?ií ;aiê ~ ..... 0-..
q
ue ieúne num i:odo 2 ação ; umana. É a ial.a é. r~;:: -,, ~;
# ~e.: .... ~ -,.
I l.:,, )--L.;;
H ... ,., "• .._~e
OU?â.a como er :enúlii1€Ii t o.1 com o :Je:s\:.a.São e -:: ,.
• ~ - -~ .J o =--
ce
.
fiJ• ro ~ ~!T •,e;; "" e,,. C"01r"r" r!..,.P - º fil íl. •
ga .. ·' r : ~ 'C' ' •
'--' _.,. " .wocl.-. ~·..;. ....,.._ ...... ~ • ...... .. '""-·º . L; e e so--~
~ -li. 1 !..ir .... ::::. :';r'
.._ ... :J-
m.aóo r.a "'uridaée rei.""lanre ée ..:mã re:açãc cue c"r--...,,__
- ~ e;.__ ::. T-~ .,,.
,..,, -'>J'.::"
um 'r.-·...;r:c!o' ... E só assi4 c-ue e :cchecio (o ::tgar ~r:., ,.. .,...,___
A Ul~~ V~U·~~
-• .,;-.. 1_•
se ergue) marifesta a cbsc.1:ieade ce se-~ ~..: :-c(J w:--.~
.. ~ .. .,_ -
-
ro/'
5
.
Torrado ass..r:l :::--.a ::epet:ção
e ros es:e:-eé::?CS : exirz.:s.
S
. . .
aoe-se aerr. q::e os zr..:rores ce":err. passa:-pc:-issç e ~::e J :;-
. , . ,,,,,,. .
cer:r:r UlT cer.af!O oara O acor.:eClinefitO, c-:;.e é a ?aic;: r,,,.;--
• ... --"--"lJ .J.X._
que importa, basta q:Ja:~::ca: soor~:rer.: e os e~er:- .e:-xs 2:-
"-"
gráficos que o acorr.panham. E isso por urr. ;ogo êe :e:::~
opostos: árido/fértil, planície montanhas, seco ~-nici o_, 'C1ü­
voado/despovoado. S obriedade que não exclui a ài,-erS::Zd.:
de termos, mas designa o parco interesse pelas part:c:·a:-:_­
dades sensíveis. O regato será sempre fresco; o bosqüe ?:2-
fu ndo; a planície, vasta Vocabulário testad o, de co:1c:açêes
antropomórficas, ligadas à metáfora fundadora da na~cza
como boa ecónoma
6
.
,,
E, se ainda fosse necessário desdobrar essa ào1'ra a:t:
sua raiz, para aJém da Natureza pro,·edora e gestora cc
:• ...... -e..-
. " d ,, (uD I' . ·n • dt? l't.~U\ re ua .
5. lic1deggcr enfatiza e~sl' mun o e or1gi t: _
1
; ard .--~~
Chemíns quine 1ne11enl 11ulle pari, trad. dt.> E. ~1artinl!au , Par'' uJL·.:
1
J Eu·\l~
• d l f ' lTf t .~L '\.
1
fCf., em p<lrtuguês: Martin fil!idegger, A or1gt•111 a o irn
1
t
1
70, 2000. (N. de E .))
6. Christian Jacob, cit., p. 164.
quan
elha-
111od
ele n
gare
rime
que.
a ca'
seus
nhaJ
pelo
d

53
. tSl<.)lL'll'S, i11sislir tlf"sse "es<.lltt'ci111c11t<)
11
'ia dime11são vi­
sl1l1l St'll"'I l"I r'l'l'"l llll\11 tllltlltÍIL,1tl1C>S 11<>Jl' C) que é Ja natu­
lt'Zll tit'\l"l'Í~1 111ll S cit\1r l lt)n1crc). Nc' Ct111lc> x111 (il· A odisséia
I
'-lltl111tl t1 lll1sse~, ~1or fi111 aportando JS praias de Ítaca, ajo­
t"I t1l1 SL' l' l')l'ija a terra de seus a nccstrais, não é o entusias-
11'\c.) liL' t1n1 reconl1ecimento visual qLte o move. Aquela ilha,
clt' r1âo a reconhece. Ele não a "vê''. O sentimento do lu­
gar con10 1L1gar próprio por fim alcançado, ele não o expe-
,.
rin1enta. Aliviado de estar em terra firme. Só isso. E preciso
que Atena se desvele, e desvele para ele, por meio da fala,
a
ca\'erna e o bosque sagrado, a gruta e a oliveira, para que
set1s olhos enfim se abram, para que a lembrança sobreve­
nha, não a propósito dos objetos que a ele se oferecem, mas
pelo artifício de uma comemoração.
-... Diga-me: é \
1erdade que ali está minha
Pátria?
-Vê comigo o solo de tua Ítaca, o porto de Forco, o
velho do mar, e eis a oliveira que fronde ia ... eis a ca,·er­
na arqueada, eis a grande sala onde vinhas, tantas \·ezes
oferecer uma hecatombe perfeita às Náiades, e eis re-
vestido
de madeira, o
1 érito.
D1í'endo isso, Ate na disper ~ou a 11oitt"" .. .\. tctTa ªl',1rt'-
c >tJ. Qt1a11ta nlcgria <.1 l1crcJ1 C'\l
1
t"ri111l"11t~)ll.

1\NNI l J\llt .)llli IN
,\l11.'rl,1 lllli1.·.11111.'till' ,)1.) t))lllilll) til) lt)g<.)~ , l"L'Lllilllí:l
0111
ll)flll) 1.i1.' llll) 1)ritll'l()il) 1.it' rt'Llt1i,)l), 1.il' L\l)),) l111ilit1tl(' llllC fu.
1,
1
,1
1.]ttl''"' ,, 1.'~l' L1lt1 , ,1 "r>;1i~,1~;t' 111 '' ~~rL'p;n 0 t)111iliLio. l~ltl só
l'l)lllJ)1, rt'l'l' ,\l> 1.·l1 .. 1111t1Lit') til' LI 111t1 Vl)Z., t..il' li 111t1 11()111Cu\5l) li.t)S
t'h .'tll1.'11t1.)~ 1.1t1t' L't)111~~õc111 tt111l1 l'L'r11.1. 1 ~1l1 r'IUO s' t)Í 'rccc n vi­
~.1l) 111,1~ r1.'~S1.),1 t'lt) l)lt\
1
iLiL1, 11a ILtZ Li1.1 i11Lcligêr1 'ia. o res­
t<.) l' l'~lllll'Cit11<.' 11lt1 ~1rofLtl1Li<.) , CL'P, LICir~l. ,,.l'<.1LiO o privilégio
1.1 t11.' st1 l"t r .. 1 i ~1t)~ t)l llt)S, l" lt1 o Li l'Yl) l vc t'l<) OLt\1 iclo", diz PlLttn r­
L't) llt1S Qllil'Sfi()//l'~ c·()//?li(lf7/t•s (\'lll, 3, l).
1111 itiLit1. CÃp1·ess5o ticsig1 1a o ato pelo qt1al negli-
gL"nci,1111os <) tc.1<.io OL1 }')<1rte tic t1111a t11ct1saget11; essa orr\is­
SJl), llF>I icnLit1si11gt1 lar111e11tc à paisagc111 grega, diz respeito
c.1 ccgt1ci rn pn rticL1 lar dos grcgoq ~)ara a cor uzLt l
7
.
Tei11os gra11dc dificl1lliade 0111 i111agit1ar a Grécia pri­
\11.1(ia Lio nzLti L1t1e barll1a as ilhas, i11tl11da o céu, transforn1a­
se e111 violeta nas coli11as lo11gí11t1t1as, i11atiza-se c111 rosa e
er11 \'CrLie-ci11za ao cair da 11oitc. Mas dcvc111.os t1l1s rentier
c.ll)S fatos: as cores são idéias de cores, e l1ucrl1 não te111 J
-
a 111ostra (o pa rati ig111a) não tc111 a coiSt1. ()ra, os gregL1s t"l~lO
ti11}1a111 a111ostra Lic azt1l. As llL1atrL) Cl)rcs Liis~ 1l) tl.í\·cis cr
3111
l) l)f,
() ,,.,
lt.'ll1
\11<''
{) t•I
111 ().
l' Sl.

rio
ta
ºª
ra
br
...
a
p

o

-
s
e
s
e

:>go ,,
eles
em
fa-
,,
so
los
.
\!-
~s-

'"10
)
lr-
li-
s-
to

1-
l-
e
)
1
t tN\'EN(i\O t); 1>1\JS,\Gl l'vl
55
e> bt«111cc), o preto, o an1élrclo/o ocre e o vermelho. Para eles
I
0 111ar crél verde-pardo e ver1ncll'10-violácco nos tempos de
tcir1pestade, glauco, e o céu unicamente "lu1ninoso", bri­
lhai1te pelo fogo do éte r. O brill1arlte e o baço, 0 sombrio e
0 claro, o sol e st1a sombra. Muita s ombra cerca.ndo 0 bri­
llio. Na verdade, pr eto e branco compõem o mundo visual,
e sua
mistura dá as outras cores.
E1npédocles
dá, segundo Teofrasto
8
, "o branco ao fo­
go, o preto à água", e assegura, diz Plutarco
9
, que "a cor do
rio surge
da sombra
it.egra'', conhece apenas "quatro cores,
tantas
quanto os elen1entos: o branco, o preto, o vermelho,
o
an1arelo"
1
º.
São três apenas as que bastam a Platão, no Timeu, pa­
ra recompor os outros matizes: em princípio, o preto e o
branco,
respectivamente ligados à dissociação (o branco) e
à co11centração (o preto) das partíct1las da chama emitidas
pelos objetos na direção do fogo dos olhos.
Pois, se as par­
tículas ígneas que entram em movime11to a partir de un1
objeto são inaiores que o órgão a que visam (o olho), elas
dissociam (diacriticon) o corpo da visão. Se, ao contrário,
são menores, elas o unem (sy11cri1ion). Além do n1ais, no
caso em que a grandeza é a mesma que a do olho, obté111-
se o diáfano, o transparente. O vermell10 (er}1tro1z), a ter­
ceira cor,
provém do choqt1e dos dois fogos
e1111110\·in1e11to,
o das partículas das flamas saídas do objeto e o Lio fogo irt-
8. Tcof rasto, De se11siln1s, ~ 5Q .

9. I>lulatco, Q11<t!stio11es 11nt11rnlcs, § 39.
10. Aécio, 1, 15, 3; e l'línit1, o Vt.•lho, \\, 12.

56 ANNE CAUQlJEL!N
. . dade do olho. Quando seu efeito se rnescl
ter1or; propr1e a,
vê-se vermelho ... 11
Todas as outras cores provêm da mistura dessas três,
e 0 azul (cyan), que é na verdade a cor lápis-lazúli, é Obtido
pelo branco combinado com a cor brilhante (lampro te leu-
12
kon) caindo para o preto .
Claro e escuro, obscuridade e luz, são assim os olhos
que Aristóteles se empenha em classificar como glaucos e
pretos13. Isso se aplica ao rio, que, segundo ele, deve ser
pintado de uma cor amarela (ocros), ao passo que o mar de­
ve assumir a cor verde amarronzado
14
.
A partir daí, metáforas se desenvolvem, ligando a su­
perfície ao brilho, a profundidade ao terroso, ao negro abis­
mo. ''A água na superfície parece branca, e preta no fundo;
a profundeza seria a mãe da escuridão 15''.
Os olhos de Minerva, glaucos, são olhos de coruja que
enxergam à noite, por causa da indeterminação mesma de
sua cor, cujo matiz vê o semelhante: a ob sct1ridade t inta da
noite.
Quanto aos mares cantados por Homero, eles tam­
bém serão glaucos, mistura de claridade e de profundida­
des fuscas.
11.
Ti1neu, 67d. "As partículas provindas dos outros corpos e projetadas 1~0
órgão da visão são umas menores, outras maiores, outras, erin1, de n1es111ª di-
-f J É :i · -' preto o que mcnsao ... J preciso chamar brat1co o que disso cia o corp() {a v1sao, e or
i')roduz o efeito contrário ( ... J pelo efeito da n1c:-;cla Lic.11 etlc\o do iogo~con 10 hum
do olho, se prc)duz umn cor sangüínea t1ue chJ111an1t)S de vcrn1elho.
12. 'fi111e11, 68d.
13. Aristóte les, Problc111ns, X 1, 14.
14. Aristótel es, ibid., '\X111, 6.
15. I'Jutnrco, ibid., § 39.
qu
jet
ªº
po
de
a1
Er
co
ur
m

Sl
ti
q
r
ti
q
d

l 1 '
ti )
. , , ...
l-
)'
-
L"
n
. 'l \\ll l\l'\l'-i\l.l~I
''"''''
57
'll'tll lcl li, l'tll lllll' l,lllll1t'lll lllt>l t•tlt• tl<)S éll<>J) )j~lc lS, l)(Jí-
lllllll ll L'~tt>.11 \ll'l)l(> ll,1~ jldl lÍCttlíl'-l Vlllllé.1s tic.>s <>b
ljlll' l' • ' . .
t
. ,
1
,
1
1
lll•l,111\l.'tllL',
llt>..., l1s1t>l<>~~1sl,1'-l 11<> lllle (111 ICSj)Ctt<J
JL'tl~l <' • •
1 li
,,
lJlll' s,1i llt' <)ll1t>. ()s Lit>ts 111t>\
11111L'11\c)t; <il' 1111sturam
,(.l l ,,l '
l't>tllllL' Sl> t.1 Sl'llll.''ll1l111IL' ,1lt1c1 s<>L1rL' t) sc111cll1a11le Lralu-se
Llt• 1.ILliS ftlgt>S , e ~1 '-lltL't\1 Ç5l) (llLIC 11r<>llt1í' íl C()r) é atribuída
, lllll L'lt'llll'llll) tiiVCl'S() lit) lt)gt>: t 6gLlt.l LlLIC o oll10 contém.
1:
11
L·t111l rt> til' clt•r11c11los. tvl istL1 ra.
l ,
1
lic11tr<.), nl1Li,1 tic gco111él rico. O processo da visão das
t\lt'l'S rlJt1 é tiescrito CL)rt10 o CSLlLten1a tic ti n1 cone visltal, de
lllll<l r(•tri;1ç3o OLt tie L1111n rcflc\àO da lLtZ, 111as como abrasa-
, .
tllL'11tc.1 t1Llt' escnpa ac.1 pc11sa n1c11tt) geo111etr1co.
\~)t't1 <1s L1111 Ot~tLs sabe con10 111csclar en1 um n1esn10
toLiO, ~1ara, l'111 segt1idn, Liissociá los, clc111cntos di,•cr­
sos, e ta1T1bén1 só ele t" c~1p;.1z tic fazê lo. N1as ner1hun1
l10111ct11 e real111cnte ca~1az Lie fazer nen1 t.1n1a coisa,
i1c111 ot1tra (Ti111c11, 68d).
Tu.111bé111 é adet1t1atio desistir tic se oct11-1ar da cor, co11-
siLierc.i 1,1 como t1111 n1istério no t1Ltal o l10111c111 n<lo ter111-1ar­
tici1-1<1ção a lgL1111a. É asst1nto tie Dct1s, ott <.1té 111esn1() algo
tlltC 11ão seria ve1~tiatiei ra 111c11 te Ltti l 1-1c.1r~1 t) co11 l1eci n1t'11t .
. istt1telt'S, COl1tLILil), tL'l1lJ (t1l1\l-1l't'Ct\1..it'l L'~~ .. 1 \11l$tll
lc.l 111trt)tlltli111.it) {.) "tiiG~c.ll1L1 l'L)l\" ) i11tt'l'll1t'tli,1ri) ,.lli l) '11
ltt l)'> lt)g()S 1..'f'll/c.)tit)S tic.1 ltl/ Lit) t.iic.l l' til.) ('ll\1(\, N .. 1i ... 1111 .. 1i:3
til' ~)c.1tlll'lllc.1S ~"li ()\ it1Lic.1S tit) t)l'ljt'lt) t'llll\l1\.it'I t~l11 l'S( .. ll,1 r~­
t.illlitic.1, 11<) t)rgl1l) t.i .. 1 is(il> 111,1s 111,1 lt't.)ri,1 L.it.) · 111 'it) 'll-

t\t Ir li.< AI J( )1 Jl~l .lt"
j>1t:I 1l1· l11111 1<>j~ l ' lll 'IZ1 ll 1·•,•,1·:. <l<>Í!i '1('IJl<'ll1;111lt ·•, clc·riv:HIC)•, cJc.:
fcullc·:i 11111.1,.1111
11
: 'I'"' ·~rH > ít!. cl11r 1•. rrHlí11<.,'''''', Íj~ 11c·: 1•,
< > <li,if,111,,, ,, 11.111:.111111·1!11·, <lc·ixci ele.; :,c•1 <> c·nc·c>ritrc,
;111 .. ,
1
,t•i.ul<> cl<> l;1111;111l1c> ele· 11111 <>l'J<'I<> <' <>111 ,1 cl11n c·11<1~1,, cJc>
ltlllC>, l'(llllC> Cl ilÍÍllllCIVíl í>J;-1f,1CJ, llrllél ~,(' I 11111 1>rÍ l1C'ÍpÍ<> í:llÍVC)
</IH' i><>h~ lltt íl vi1lt1{.lc· cl1· ;1c·1c·sc·c·11l111 <1 <'<>r ti SLll)<•rfíric• clcJs
<>lljt•l<is lc>r 11:111clc> :-il1 ;1il 11 111i 1 1 ;1~:fi<> 1><>11sívc ·I.
(~ 11111.i c•c·r1·n 11af111l·Y.•1, 111r1n rc·r'l<11><>lf·11ci<1 rc)murn '1 t()
cl<>H 11s C'<>J J)C>S, t-111<' 11iic> c·xi
1
,fc· H<'IJéJrílcla, rnas l(·rn sua
t·xi•,lc·11cir1 11c·ssl'8 c·c>11><>fi ... n rc>r jJ<)Clt•, e11t5 c>, ser clcfi
11iclt1: e> li111ilt• '''' cli iiín11c> c.·111 t11r1a fc>rm,1 cl c•tcrminada"
(/ )f• ,c;c•11:;11, Ili, J ()).
/ C<>r cJ(• Ll111 ('()I i)() ( ô SLl!)CíÍÍCÍC, não do corpo pro­
j)l'iíl111(\11IC, rnDs ele> cJinf<:i11cJ qL1c ... cslá nele e que passa ao ato
<JL1t111cf c) é i ILI 1n i 11ado por u n1 clcmcn te> de mesma natureza
(o s<.'111c.
1
ll1011tc ilL1tni11a o se111cll1a11Lc ), 0L1 seja, o fogo do céu.
Vcrnc>s, <.'11tão, ns difcrc11tes cores se 111odclarcm segundo os
,,.,,, . . " .
C<)rpos cn1 qu<.'Stao apresc11tcn1 mais OL1 menos res1stcnc1a
D<J ditíféJ110: se forc1n terrosos, ou 111ais aquosos, ou mais íg­
r1cc)S. É a partir daqui que se pode esperar estabelecer u1T1a
ccrtél fJroporção r1uméri ca cr1trc bra 11co e preto.
('<>r11 <.'feito, é a partir da oposiç 5c) prclc)/bra rtco que se
rc>11st rc>c.'rn tocf ns DS CJU tras cc>r<.'S l'111 <.lcl ri 111c11 to do ... azL1l,
<JLJ( st1r~~<.' rc>111c> t11nél irrc.'gL1lariclnlil', 11tl() Llcfi11icia ~)t)r t1111
11 tÍ 111 ~' rc > cf íl e 1 e>.
Se 11ãc) r 111nis () <>111<) <llll' ÍélZ ('()tlllll<) e ilL11llÍl1(l o ob
jt
1
t(), se as J1D rtíct1 las n5c> Sl' cil'Sl()t'é.1111 111'1 is cf<)S cc)rpos purn
p
ta
e
r
a
d
u
p
P.

-
êl() d()
ativo
~ lios
1-
a
-
I
iro-
ato
~za
,,.
2U.
os
g-
1a ;e
],
11
. r J..C > l JA J'AJSAC ,J•.M
/ 1NVl·N-..
59
. cJllic' se<> clinf;111<> l'u(,,,;1 '' ~,L1~J',t111Jir (•ss<·s cr,n
JcrcL1t1r <> ' ,
1 .
1
irllí(JCILrzi1 cJ fll<J rlc• tJ111:1 f><>l<•ncJ<J 1nst::Jlacla nas
j[llC>S j1'1 íc .
. . oltninc)S DO 111c•s111<> p<Jr1l<>, ('<Jnt ud<J, n;:1c~u1I<> que<,(•
C() JSíl~, V
r "cor Nem a geo111cl ria 11crn a físicl1 c•<;tãc> hçibilitadac,
rc1crc ,, ·
ta
r
0
méltiz e o fenômc1 1(> cia cor é trabalhado segun-
a cap ... ,
do Lrina ''forma'': a aparência de um C<)rpo ()U a marca de
utn espelha111et1to. Ern nenhum caso existiria para nós uma
paisagem coJorida, em sua presença separada, insistente.
Essa cegueira ao azul é justamente o efeito de uma
dificuldade
para pensar a
cor, de uma tentativa de sim­
plificar, com os mejos teóricos de que dispõem os antj­
gos, um fenômeno catjvo do ''contato'' e dos ''elementos'':
a essência eleme ntar da luz -fogo - e dos corpos -terro-
sos ou aquosos.
Uma teoria dos eflúvios, das marcas, como a dos ato­
mistas, ou a do ''meio'' a mbjente -o diáfano que permite a
continuidade de
uma visão em Aristóteles-, manifesta es­
sa outra cegueira, que é a das formas concretas da sensibi­
ljdade
ao que é da ordem da visão.
A economia da natureza, então, pouco atenta a distri­
buir
uma fruição suplementar, porque não tem os meios
para isso, contenta-se em oferecer à compreensão pla­
nos de funcionamento - um desígnio e um
desenl10. Cabe
aos pintores preencher os co11tornos das forn1as assim re­
particias. Mas sobria mcn te.
J>ossucrT"I se pi11lL1rl1s dt1tigc1s CLtjo coloriLio é trabalhado
com a 111aior si111~) liciLinL ie (/1a11lc>s) e l1UC r\ão apresen-

60
ANNE Ú\UQLF.Lt\:
tam vari<-·dac.fe algL1ma na~ l<Jnalidadc·s. Mas as linhas
h d
( 1111,
c;au c.f l'c;en a as C<>111 per1c1çac' .
/ cc>r é subsid iória. "O criador (a natur eza) de&enha
j)riniciro 05 contorr1os, depois (hysleron ), ele escolhe as
CC)rCS ...
1711
A forma da idéia atravessa o mundo; e, se ela s upor­
ta depois o brilho que vem cumulá-la, n ão se encontra, por
isso, submetida a seu aparecimento.
Fortemente estruturado, o mundo grego se defende
da invasão dos brilhos disper sos e contra tudo aquilo qu e,
separado, poderia prejudicar sua unidade: a natureza não
tem necessidade al guma da paisagem sensível para revelar
seu desígnio. O preto e o branco 1 hc convêm, lhe fornecem
os cheios e os vazios de uma escrita pura.
O azul, vindo do Oriente, sintoma de uma decompo­
sição, traz em si algo de se1vagcm, de bárbaro. Co1n ele,
uma gama cromá tica enriquecida dispersa a idéia única,
fragmenta o desenh o, convoca à fruição, ao passo que au­
menta a
diversidade d os atores, que se cruzam e mistura n1
as linhas de for ça de um ''mundo''
que se distan cia sen1
cc>ssar. Essas separações exigem Ltn1a n1cdiação, Ltma figu­
ra d( J)élSsagt\m, que se esforça pnra rc1?ro dL1zir, por artifi­
ri<J, a simplici <.fade d(> 'l'c><.ic> nc> i11tcric>r Llc L1111 lugarzi
11l
10
si1nbc)lircJ: <> j~1rc.fir11 .
16. f )it>ní~i<> llt• f f,1l1r,11 ndb..,tl, I )e• /sttt'O, ·I
17. Ari~h>l t•h·~, l>11
1
i.:c•rt1ç1To 1/0~ 1111i111111s, 11, h
2
e

1111,,\J
1 • '
(' •''' {,,
J l l ~,,
C111
)()-
~a ,
Ll-
Jll
111
J-
. ,
1-
()
2
c>S l/\ l{l>IN~1 1><>C>< 1<>
" ... f, t1 ra1nt~ r'1r1 r1ue <J párnpanrJ a rosa SP alia"
J~ is a 1011ga teoria clcJ~ jardins, kepos-hortus, lugares
de repouso e de mcditu ção, CJUC, ao romper com o espaço
indcterrni nado ou supc ri nvc5lido de marcas por e para
Ltma hjstória, constroem seus traços distintivos lon ge da
cidade. Essa forma, que os romanos levaram à perfeição,
aproxima-se de uma noção ainda não estabel
ecida, a de
paisagem. Trata-se, precisamente, de um impulso rumo a
uma natureza, de um recolhimento no seio de elementos
natura
is, mesmo que os traços característicos do jardim o
distingam nitidame
nte daquilo que ele toca de raspão: a
paisagem está fora de sua visão .
l
Encontranlos ke11os c1n l'l.ilao, no '/'i1111·11 (77), !'l't\'tnd1l dl' comr aração ao
corpo hun1,1no. /\.., V('l<.lS l' .is ,11 ll'l hl" .. :to, cn1n l'll•ihl, ,\n.\log,1.., .lO' conduto .; de 1r­
rigaç.10
cJ,1s ho1 til~. ('<>11lp.11,1ça11
r 1•1< 11n.1d.1 l'll 1 1 i~h >ll' ll·~ (Da~ partr .. dtl!' n11iruai~ ).
l_{cferl'nl1,1t1tllllil11lili1.1\lll p1.1l1L.l, o 1,11di11l .1p.11l'll' ... ul, ·rl'l'liciaml'nl~ , ma~ nao
l' di•sl. • ílo po1 si 111t•s1n<>. Fk· dL'VP, l'<lnt udn, "l'l un1 lu~ .11 dl! Lielíc1J ... , ~~ tL>rmo:, dar
crc<lito as l'XJ1ll'SS<ll'S "Jtlrdin1 d,ls n1u• .. 1s'', '1,11d1n1 lll! ll'US".


62 ANNE CAUQlJt:LlN
E primeiramente para si, isolado, r etraído. Isolan do
também 0 que parece melhor nas disposições da natu
re-
za a respeito de suas criaturas, a forma-jardim se apóia ern
uma dupla disjunção, em duas subtrações conjuntas.
Se 0 ''Jardim de Epicuro'' designava um lugar,
0 lugar
singular de um ensinamento, não conhecemos sua forma
concreta, porque a fórmula
substituiu sua forma material
até recobri-la inteiramente. ''Jardim
de Epicuro" é metáfo­
ra para
uma filosofia, sabedoria de uma vida ao abrigo d as
tempestades do mundo. Esse afastamento conduz a uma
cerca, quase um claustro - um anteparo ...
A descrição desses espaços desconhecidos que nos é
oferecida pelas Investigações (História) de Heródoto, que
deles se encarregavam, dobra-se no espaço mensurado de
uma disciplina interior, concentra-se no sujeito que habi­
ta e modela seu próprio espaço. Lugar isolado de um espa­
ço típico: o campo, cuja existência é assegurada pelo corte
com a Cidade:
Urbis amatorem, diz Horácio no princíp io
,,.
da Epístola x. E assim que ele cumprimenta Fusco, aman-
te da Cidade, ele que amava os campos, Ruris amatores. O
campo oferece tudo o que a cidade subtrai - a calma, a
abundância, o frescor e, bem supremo, o ócio para medi­
tar, longe dos falsos valores.
Como um duplo invertido, o campo oferece o nega­
tivo da cidade, que, não obstante, toma dele einprestados
alguns traços sem os quais não poderia passar: o que se­
riam, pois, as colunas de márn1ore que adornam as casas
-. er ter visão
senao a imagem das florestas? E por que quer
doca~
d ade?
,,.
J-Ioraa
longe
1

tes, n:
1'
tão lo
de ec
rizav;
e ma1
cios e
tamb
ou d
(ama
de R
ness
com
Fugi
cida
hor1
garE
der
da~
ma
liza
COJI

'
1
vl J J I' \J
( ,
~fl'JJ"
'J ' f f
1) t..,.

,
'~ m' áf<,
brig' da·
/ ;J uma
~u · nos á
jc,tc,, qu'
.urad!' d'~
JU'" habj-
1rn , .. F>pa­
c.:1 } r rJr+t;;:
; ,
or ,. r p1r1
'Jtores. r J
.. aJrr &, ó
,, J1f g~
f, ª'jrJl
~f)' b'~
~ c.ZJ"'ª
r VJfiíJr)
,J<J, arrp<> l<1r í)'r r Ut' '""lt?il? rJ<1: ·,1: ff q ,,, .. 'A• , '•,..,a ~ í'''
dad<·' r; ''l;..iud!J ur 'J'J'' ,., '1'•íj(' qt,:1 ~)'
1,·~-:1,, :,~ ... ,,·,'' ,,,(
J ftJrár <J I''<• '>6•'J , <l íJ c.;:J·,:~ < ~'· , '' ;Jr1'< (J;,.. "~ t ,..·, r:.;. .. , ?'/.> ~' .J
'(
,.,,f<•''· / pf'.,Lola 1J ,,_ urr '''Jí~
1> 'J ';;, rr :~ ',..')', ''',,v;;,.t.1',, ó~' "< •
1 )''Jj , , , f ,.,
- -::a ''v1·, ~(J'' , ,,r, í·r1•I
t1:<,, na<J ~ ,y , '
:v1a<, <:·..,·.,<• rarrip<J (ru1, r ampu',, a:,:er), ' J,,,-, rr0;+,,,·, ·,~ .. .,,
tã'J JrJU ,rad,Js, ',,Ó t b<1rn :;;, rn<·d11Ja qu<: r<,fr.:r< .. i;j",, ,
1
.,,~ •• <.1~' .... t:',
d~ r;:r<Jn<JTl1Ía1 dr.: rJpr<1'/J';,J<1n'1rr <•r t<; )~< .:r '!T'J'v'J q1;<~ (:;Y~r t~
riza·1arr1 a physís ~rJ',tfJt~J;rí) r~ pap'~· d<1 ,;;rdirr '.:',,té.1~~-';':~;'
!: rnant~r a rJí?t1r çãrJ <:rtr<· <J'.:J t<:rT<Jf'.:'., ratvra1~ <,; <i";, ~~ ~ff
rj<J;, de~$a parens mater '.1~ ,, Jard,rr ',,(:"',(:para o~ cidad<~, ~,':
tarr bérr ',f.! ';>'~parô d<.: Jrr a r íJ+ur(:%a ft;rj<J~a, terr P'.:":Jt:...if.,,;,~
(JJ d~~~rtícá. ' :<:':.~Ô d ,JfJJâ rr;rdíç~<J, ',6 () jardírr f ôff'!n()
famr.enUSJ, pra;cr.:nt<.:1r<1. (-,, pr<:cí~<J, pr,1-,, fugir da C'"Jrf'J$ã<J
<J<:: Y<Jína ~ di: <,'.:U <.Jírrc in'-;aJubri::, pas·7ar seU.~brc.1 fr1ra,
ri<:',~(! f<Jt8 que ~ urn p~qu<:n<; d<.:ntr,1. O jardírn (Jf~rece,
CíJífJ ~fejt<; 1 ~S '"'.: parad<1/.<; amá·;~J de ~,.(!r ''ur;1 frJra d(:rtrr,".
J·ugir tar11b~r11 porqu~ a Jíb~rdad<: ~-:,tá na fuga -da fer<J
rid~d~ cl0·., ônírnaj,, s<;Jvag<:ns qu~ ·1agam pr.:Jos carrp<1s
1
d0
h<Jrrr;r da,, rnata-, funda-, <: da~ aJta~ mrJntar has: "~f ais lu­
;~~rc r,'', di% f.;uc r~<i<; n<J Jivr<J ·1 (39 42), ''e~tá ~m nosso po­
dr:r <:vitá J<>',
1
'.
A rnr:irJ c:arnjnh'J '.:ntr'' <>'> d,Jj', pc.:rigr;c, da na urcza e
d!.1 ',,<J< Í'.:<lad'.:1 <> j~rrJirn <;f,·r<:r<..! <> ac,11<> <Je<>CJado.
lJ':'>~,<; rr1t;d<J
1 <c;r1',tru1r a d1';tánria (~c,sa pí"qu<:na for­
rri:1, ''',',<: P''(jU'·n<J lugar. tr1píanrJ qu<· (. r, Jardim, v1abi­
Ji%a 'J '">fJ:J'.'J ,Ja f r1JJC.u'J '' rJltLí1n, <J IJZ<
1r
1 a J1bcrdadc. /
''
1
r
1
'1
lru<,Ü<> 1d<•;JJ d11 '1abc
1cJurí;1
-;:i cJ<>br4J (<1ra d<> mundcJ

64
r .J. ,r .J • J •
tem como correspondente material a instalaçãr" dr, jarr..;í i"
prazenteiro. As duas vertentes, sabc>dor1a e lugar pr0pr '>
para exercer a sabedoria, estão unidas. f:rri uma frJrrr" .... .;;:
ção rápida, podemos pretender que a forma da 'ttda sá OJ;;,
é ilustrada pela forma-jardim, cuidadosamente filtrada pe­
la tela de uma abundáncia magnánima (numera naturõ!,,
cujos elementos são escolhidos com cuidad o. São neces s~_
rios a fonte ou o regato, o campo fértil, o bosque e a 'fÍPha
I
0 rochedo musgoso e, por vezes, a vista (prospectus). "Eg
0
laudo . .. rivos et musco circumilita saxa nemusque" ["Lou­
vo 0 campo a meno, com seus regatos, seus rochedos reco­
bertos de
musgo e suas florestas''].
Reunidos esses eleme
ntos de amenidade, podem os
então nos entregar a uma descrição, a fazer deles um
"qua­
dro'' para seduzir os recalcitrantes. ''Ut pictura poesis" [o
poema (deverá ser) como uma pintura], dirá ainda Horá-
,.
cio, fórmula que se dissipou. E, sem dúvida, necessário
co
mpreendê-la como r esultado desse mesmo jardim que
descrev
emos aqui: com efeito, a pintura é o que melho:
dá conta da moldura-cenário montada com cuidado e cii­
ligência e que vale como a própria mo ldura da
\rida feliz. O
quadro ''mostra'' e, com isso, desempenha seu ofício apo­
logético e pedagógico. A poesia mo ral é quadro sedutor,
colorido com
todas as virtudes do jardim.
O jardim é, com
efeito, a imagem do que de me lhor há no hom en1; ao re­
sidir no jardim, o homem se torna semelhante aquilo que
o circunda. A alegria e a mans idão do cam po pro\·ocarn ª
p.

Sl
ª'
g
Si
d
e
-
)
,
!

1 I , , 1
11 I
11
•11,
1 1
••1111.,
11111.,
·1.11,,,,
• 1 I '• 1
'''·' ),
• • •
• • 1 1
t 1 •
'·}',• l
1 11 1
lt.f 1
C>

I 1 < )
( )
)1,
111
( .
. )
(/ I
ll
,
1
,11
,111if1•111111
1
.1111.111·,1J,1111f1,,,,,ftl1•r ',<•, I, J' l'.t <
·'
,, ,, ,,~li"''}
, ,
11
,
1,,, 1,, 1,
.. ;1
,,,,,11 •• ,11,. ,,,.,,,., ,.,, ,, l/''Jí~·•1 /,, ,, i''','f'' ,,'',, .,
.,,. 1111~.11:1'1111111 11•111 ',,,,,,, ',,, ,, .. ,,,,,,,,J,.,,,t. '/~ J!JI lJrr ,, 'J''
1"11.1 IJll.llf/11 J~1d11• (>'• IJ< •, 11 llfl<J',, 11/f),J <<1rr1 • r l)f' ( r'
1
1
1
J 1•)
•,lllll/1111111 jlltJj)(/I' '111
11 /J)tl 111:1<,tJIJ t;I<•' 'I• 'J {,
I f f l1Jj~Jf1§Jff' 1J(l'
7
,111•, ,,111111
1
., l'''' ',JJ1Jil1111<l<· 1l1• ,.,,.,;.,,, 1:1
I J,HLI ,,,.
11
1J,ll'1:11~r·111
11
:1<1111, ,,,. l1tJfJ%f1r1I<· r<·({1t;f1,, f) ,1J
;~.i 1;. 111l1<1 f1·c·l1;1 :1 v1·,;i1, t·tr1 ·,<•tJ :~1r1;'J
11<·I c<·r 1~rÍ<J lA<;',ft(,
•,1·iHI'' 11111 ''11< :11!1<1 :-1 1r1:11
1
., :i
11
\/J
1
,liJ
11
:1<1 l<,rt~j'' r1:1<> <.:, f<Jr tu­
<l<i, 111•c 1",: .. 111:1 IJ;Jr,1 íl f 1111<~ ~j,, <1<1 jíJr<J1rr1:
"íJ1·c111<· c•11i1r1111;1rc·1•1 11111•, ·,<'<l I<·, <Jtium J1br·rtatcrn
·,1·c111<J1", c·:,c 1c·vc· I,lí111<>1 '' J<>v<·1r1 (<;1rl1J 11
1 1!JJ í"J J(·m 0 mar,
111•111 •;11;1<'<>t.1;1,1r1;1•, l 11, <> r<'f'''''',<> e· ;1 libc·rd8dt· que; bu'>C<>"J.
C > J•t1cl111c·11<111;1<> vc·r;í rr1;11', l<Jtlí~c· <jlJ<• '' ,Ji<-,t5ncia de 'JC:U pé -
111<•c;;1111 ~;e· <1 i·;~,c> . l';1r;'l c•lc•, '' '1<Jl lt
1m n léJrguro dcJ pé de um
llCJltlC'lll () clc·lc
1
ITlC'C.,ITlC) ... "Mc·liri ')(' CjU(•mquc C,UCJ modu­
le> il<' 1>c•clc•
1
'
l''Mc•(l
ir :;e' c·;1cl<1 tJLl<tl c·c,m seu própri<> pé, eis a
vc•rcl;1(lc
1
'
1
J (1 J<Jr{i,·ic>, I :pfs/rJ/u v11).
,,
I~ í1 clis1)('11s'1 e' ti cl,·sr>c.·11st:1 c1L1<' <) jar<Jim designa, e não
<>ri<> e•<> rn<11, <> lc>r1gí11c1L1<> e· ~1 c·c>11 tc.~1n1)1élç5c) de) mundo em
L;c·11 ('<>11j1111lc>. 1:rL1ic;íl<> clcJ ''1Jr<'>1)rÍ<>'', cl<:l suspcns5o mcnsu
lítcl,1, tlc
1
Lt111;1 vt•sl i111c
111ln fc•iln t1 111c.'clid'1 de seu proprie
llí1 ic>. 1:111i~ ;;1c> ele' 11111;1 j)orlc' clt
1 trrn IJ<'clnç<> cscolhicio eia
1),Jl 111c•z,1, e• J1íl<> s11;1 111t
1líÍÍc>r'1 l'<>ll(lc
1
11sacl0.
() Jrl1cli11111;1c> e~, J><>tl1ltll<>, 1l j)1liSi:l~~l'lll L't1l Í<)l11l(llt) rc
cl11/1clc>; <·lc• lc·111 st'll c•sc111L'r11,1si11ll)c'>lic·c>111<>1)1ic>. Na ~
1
crs
j)<'< 1 tv;i ele> t)/i11111, t'lc· rlíl<> e' ;1 1c·cltt\'<l<> 11;1 l'SCt1l,1 rl1n111nc.la
I
1111111;111,1 c lí11~l'll<'l <>S'l Nt1l111c
1z;1, 11,l() 111.1is tJLIC' L1111~
1
n
1ctíl

66
ANNF: CAUc~UE r
~IN
bole ou s i11édoque pela qual e la se apresentaria. É, bern ao
contrári o, por meio de uma separação da Natureza que ele
se constitui - e quase en1 sentido oposlo.
E, se inanté1n relações de proximidade e de conflito_
a cerca é, ao mes mo tempo, defesa e proximidade _ com a
natureza en1 seu todo, ele não se transforma, por isso, em
for1na de passagem entre a ausência de paisagem (termo
I
noção e descrição) que destacamos entre os gregos e sua
aparição mais tardia.
O jardim não é um intermediário, um feto, ou um
germe de paisagem, mas ele entrega, na forma da éclo­
ga, das bucólicas, da ode, os elementos da constitui ção do
''campestre'' - a árvore, a gruta, a fonte, o prado, o outeiro,
torrão ou talude, os animais e os instrumentos que co m­
plementam seu léxico próprio. Eles serão retomados na tra­
dição
medieval e seguem, até nossos dias, inseparáveis d os
atributos que conferimos à natureza na forma de pais a­
gem. Nós os reencontraremos nas artes contemporâne as
da paisagem, intocados.
O jardim desenha uma das dobras
da memória e ali permanece, ao lado da paisagem, como
um modelo de naturalidade.
A fim de passar para o lado da paisagem, precisare-

mos voltar à fórmula de Horácio e transformar seu i~t pic-
tura poesis em ut poesis pictura. É sem dúvida aqui, 11essa
inversão semântica, que se decide o estatuto da imagem,
do quadro como paisagem, como figurabilidade da Natu­
reza ... e isso é Bizâncio.
3
• •• EI
breo
sa a q

se ins
po, n
ção i·

pa1sa
têncié
tame1
]
zantiJ
turai~
-

'N
a
n
l

'
3 É "
E ISSO BIZ ANCIO
...
É paradoxal constatar que é pelo desvio do debate so­
bre o ícone -de
sua condenação e de sua defesa
1
-
que pas­
sa a quase imperceptível
linha de
fuga, a fina fratura onde
se instalará a possibilidade de figuração
da paisagem.
Paradoxal porque, naquele lugar e naquele tem­po, nenhum signo icônico, assim como nenhuma descri­
ção literária,
trata de perto ou de longe do que chamamos
paisagem. A
questão de sua existência ou de sua não-exis­
tência, assim como a
de sua representação, está comple­
tamente
ausente.
Paradoxal
porque nada mais que a pintura mural bi­
zantina
dá provas de perfeito desdém pelos elementos na­
turais de
qualquer paisagem. Não obstante, é justamente
1.
Cf., para tudo o que se refere a Bizâncio, o ad1nirável trabalho de t\1. ].
Baudínct, Les a11tirrltétiques de NictJ1Jltore patrinrcl1e de Constn11tinople (Paris, Klin­
cksiek,
1988). Cf. também
seu artigc> "l~a relatic>n d'in1agc à Byzancc dans les an­
tirrhétiqucs de Nicéphc >rc, au delà tlt• l'aristot <!lisme", Lt•s ttudes PJ1ilosoplriques
(jan. 1978).

68
ANNh ('.AU()UEl.JN
. . t nesse ponto preciso de formulação teórica, que
aqui, JUS o . . .
. t a condição de sua poss1b1J1dadc.
se cog1 a
Dobra bem oculta, que a história da arte não r ecomen-
daria_ ela só vê o fogo, só olha para o que é dado como vi­
sível: a rígida, reta, frontal figura de madej ra dos ícones.
Contudo, dobra
que necessitamos desdob rar, pois ela
contém em germe, com a fortuna do quadro e de t oda obra
pictórica futura, o simultâneo infortúnio de suas futuras
transformações.
Momento curioso, difícil
de imaginar, indubitavel­
mente único
na história do Ocidente, no qual o estatuto da
imagem -questão teórica que aparentemente deveria sus­
citar apenas
um ''debate'' -se torna questão de vida e de
morte, de ultrajes e de
insultos, de exílio e de destruição.
Guerra de
Religião, para falar a verdade, devastações. A
imagem sangra por todos os lados. Má-fé, de um lado e de
outro, e
Fé má. Tudo isso sob o signo do signo. O estatuto da imagem é
1 inicialmente, a questão da
validade de
uma representação mimética.
Ou mais exata­
mente,
no que diz respeito a esse momento preciso, a de
sua verdade.
Claro que não se trata da Natureza como princípio
nem de sua relação com sua figuração sob a forma da pai­
sagem, mas do princípio divino, o Deus cristão em três
pessoas, e de sua figuração sob a for1na de imagens a sua
semelhança. Contudo, ao formular essa questão, e ao pro­
videnciar uma resposta para ela, é tan1bé 1n a relação da na­
tureza com sua representação que está posta.
sel
es~
j)U
co·
dl!
tu1
ur
pz
e
5€
n

51
d
n
ei
ç;
a
l<
p
G
r

.1

'
.l
'

\1 ' ,, ' '1
l ,
1
\,'
1
'
l
' 11 \1 1\' '
1 1 l I 11\,
1
1
1
1 11
1
1
1
111t • '111111111 1 '111 11111 1 l 1 11 111 1
,' '' 1
~\1 1\11) ,h' 1lllth' \Ili ~11
1
li 1111111l1 11) ll 1111p11
,'~•,,\
_)\,\,\ :•l' \'ll'tl'l,,11
1
'•1'l\1
1
ll1.11)l1
1
. :11
1
\I ll\\1!1•\,, 1l1 1
''l' I' 111\.1~;1'''' 1\1.1t\
1
11.1l t
1
11.11\.1l1 1'''1:: ,. ti,,, ·''l'''''' '1'1'' 1',
1't\l \1:~:\1,ll\
1\,I ll\l:·l\l'l \1
1
111
11\ll' }ll'l\!1\1
1
1,,,.111\.l \11\''•\'1
\'.l 1,\1'. 1'1.l ,it 1,f,
1
,,
11111
1
1
1 \11\l\I ,, 1111\I ,1111,\, !·ltl1·.l1t111
, ,,1,\,•111
,f,, ,·~1'1t1l1' l'''l.1 ,11,11
1
111 ,\.1 111.11,•11,1.
l l.1l,11.1,l.1 1'''
l.1 '1111111'1111~~111 1\l :.1•1111
1111.111,-.11
1
11111
1
\"1:11
1
1\'l.1
1

,.\.1 \1'
1
\ll\'1l ·'
l''•"1",l\1'I, ,f,l1l\lll \l\11' ·~\' \\l\-.1\\
1
1,I 11\l\
1
\1
1.1 \11 ∀㄀: ~.l lt~~\11,\I 1
1
'•l'
,\,11\l\.I 11.l\l\ll\1 'l\11' 1\,\1 \l\\{\
1
!•\'I r,,,\, ll\\,l~~l'I\\ 1' \, \
1
\'I'•
1'''''''·1 ,,,,,,,,,1.1:.1.1 1,,111.1,l.1 t\1 I''~~,, ,\,· :1\1\1:,ttl l\1111 t.1111
1'111• •• 1 ,l.1 l111111111111: ~ir1. l\11 1: "·' t' l'\\l\\11
1
1\.1\~'l

(
70
sa in1agern fundada na scme ll1ança de essência te rnos, ela
ra111e11te, u111 e o 111ais él]to cxc111pl o: o Cristo, imagem do
r)ai, é a ele idêntico e111 essência, e contudo é também sua
imagc111 de car11e, a cr1carnação. Mas é aqui justamente
que se tem u111 caso particular, urna divirla exceção ao ca­
ráter dél in1agen1. Inútil pe11sar que 11ós outros, criaturas
f
poderíamos rivalizar co1n essa homoousia. Condenar s ua
prática é, por isso, abs urdo. Seria o mesmo que castigar e
fustigar algo que nos é impossível por natureza.
Porque se Deus ''realiza'' absoluta e perfeitamen te a
operação
da homoousia, a saber, a adequação perfeita e es­
sencial do modelo e de sua
imagem, nós outros só pode­
mos
admirar e venerar sua obra, t entando simplesmen te
dar, para fins apologéticos, a imagem da i magem. Se assim é, o perigo passa a ser, então, o de confundir
em uma mesma vindita toda forma de produção de ima­
gens, s upondo que toda forma de semelhança é do tipo
dessa única homoousia.
Ora, existem imagens de outro tipo, não apenas viá-
. ·- " ,,..
veis, sem tra1çao, mas ate mesmo necessar1as para co1n-
preender o mistério divino e convocar a graça de sua
contemplação p
erfeita.
Para tanto, basta estabelecer a legi­
timidade de se entregar a uma análise, de tipo aristotél ico,
dos diferentes sentidos do termo ''i111itação''.
Levar em conta e apoiar-se 11a i111age1n-produção,
aquela que Aristóteles cha111a de 1111"111esis. Aqt1i, não é
0
modelo que é diretame11tc iinitado, mas o modo de pro-
" dução do modelo. Assi1n, o célebre ''i111itar a natureza
E

1 "\J
()
e
-
,
l
71
115() sig11ifica c.1L1e se \Zil)
11
C()f1inr" o<-i <Jbjctos que ela ofe-
" li ,, 1
rL>cc. 1nas n cco11<.>1111a 11c a <.JLta n nalurcza ()U Deus age
tlL) 111L111Li<.). 1\t1t1i, a relaç5c.) e.la i111agc111 con1 o modelo não
e ti111,1 re1Jç5o de identidade, 111as uma relação homônima:
u111 111es1110 no1ne designa aqui dois objetos diferentes.
Co1110 se diz no livro r das Categorias:
são chan1adas de ho1nônimas as coisas que só têm em
comum o nome, mas a noção segundo a qual o nome é
diferente pela essência
...
"homem" indica, desse modo,
o
homem vivente, mas também o homem representa­
do
em uma pintura.
Relação de heterogeneidade que não suprime a
relação,,
mas a assegura ao separar os termos. Com efeito, para que
haja relação,
é necessária a esquiz(o), a separação do que é
posteriormente reunido -toda a questão do símbolo deri­
va dessa constatação.
Podemos, pois,
produzir a homonímia, a homoiesis,
sem para isso substituir -por metáfora ou metonímia -a
coisa pela
imagem que ela iconiza. Nesse sentido, o ícone
não é a
parte de um
todo, nem sua repetição material.
Do
mesmo
modo, a mímesis aristotélica não é simples
cópia, mas produção original: poíesis. A tragédia rlào é si­
mulacro
das ações humanas, mas produção de
u111 co11jtln­
to de trélços, que por u111a lir1guagc 111 elcv<.1da, pro\·oca11do
piedade e temor, obedecendo a leis específicas, às regras
do gênero, propõe ações cxer l.1~')la rcs à ati 111 i ração e ao re-

72
conhecimento dos ateniet1ses. Cabe a eles preencheres
ses
traços, reunir os fragmentos em uma totalidade mnêrnica.
Do mcsn10 rnodo, o poeta "in1.ita'' o processo produtivo d
, a
11ntureza, cuja palavra de ordem e a economia. A distribui-
ção e a partilha de un1 bem comum em fragmentos que re-
,... .
tleteo1 inteiran1ente sua potencia.
U1n distanciamento produtivo gove rna, desse modo, a
fabricação do ícone, distinto por natureza daquilo que e le
evoca. O íco11e, produzindo-se como imagem artificial, pro­
duz ele mesmo uma tensão para, um :n:pó01:t. [prosti]. Ele
pertence à ordem da prática, está voltado para o uso.
Em
resumo, ele pertence à ordem da sedução e da per­
suasão retórica. Ele
é, antes de qualquer coisa, um "traco"
, .
Traço de união ou flecha atirada, apelo e convocação de
uma unidade - a da Santíssima Trindade -no fragmento
material. Longe de estabelecer aí uma similitude, ele pro­
põe simplesmente um suporte para o reconhecimento.
Desse modo, ele manifesta a potência do princípio di­
vino, que se mostra em todos os pontos da natureza, não
por efeitos isolados uns dos outros, mas de maneira total e
única até naquilo que nos parecen1 fragmentos. Essa facul­
dade de se dividir em mil fragmentos permanecendo único
provém justamente da natureza divina, e o ícone, essa for­
ma construída para a arte, esse artifício hu111ano, parti ii.
1a
do desígnio geral da Providê11cia, ao qual obedece.
Com efeito, se a natureza se co111~1c)rtc.1 co1110 econo111a
e dispensa seu estoqt1e, partilha11dt)·-o co111 C\atiLiàL1 (sal\·c
1
erros mínimos), vê-se Detts agir Lio i11cs1110 nlOLio, i11stalt-
d d
. · -oen tte
ran o o plano geral de urna partilha. (()t11 a ist1nça
arqt

Jll.l
íJll.Ít
trat
tUf(
de~
m dis
.
u
ca
ca
se
se1
to
IH

Sl
nE

$)!
fu
e
,
e
s

I '

.,
>
J.
-
-

-


73
't'po e imagem .. fc C)fer,•rP <J rn<>d, .. Jí, d, ..
arque 1 '
mia distribu' í :a. l:.ssc é o g( ·., ', r11J
1

<> p<}<
1
t.a d" ,
1
.. • .. " 0 ri.~
- ,
imita, e é o gesto quê o art(:!>íJ<J º'" 1cf:;r><:<> "'.:PT'JC .. í'. ~ .... n SE. 1
trabalho. Desse rn0dr.1, a m~dia,~â<J d<J r_r:<"t0, ... ,,.. :;;g<:-"' ... ~­
tural, é fundadora d'J íc<Jre, 1rnagc:rr art,fit:,al. fi~<.:r~=-~·; ê
de signos, sem a qual nenhuma mímesís seria p<.;ssf·:t:::.
• • •
o traço que c1rcur5cre'1e a 1magern S~?a::-a-2 ce se.:
modelo, mas, ao mesmo terr1po, instaura pr.1r ::-reir.> dess.8
disjunção um chamado a reunificação. O !:ra';O c:::-c'.;:--.:z
um vazio, não um chejo. A pretersão da irragerri icó:1i­
ca não é dar positi,1amente um subsrítut0 esse!""'éa:, =--~s
cavar uma diferença. Diferença que ·:irão escla:e~e: cc;::-­
seus brilhos as cores resplandecent es da graça e a :ig-..:;a,
sempre ausente, do Cristo.
Portanto, o ícone e seu hieratismo auster o, o :r .. a_i­
to de dobra rígida, os olhos circunàados de preto, os •oe­
lhos e a nuca que se pressentem retos. Uma econo::nia de
signos que remete à Economia divina, mas, curiosamen:e,
nenhum traço de paisagem, de natureza, de floração ru~:er ­
sificada: a natureza está inteira dobrada e como que ::'."e­
fugiada no manto de seu Senhor. É idéia dele, ne:e es~á
contida. Evocá-lo, ele, o Senhor, por meio do traço icôaico,
é designar economicamente o que ele criou para en,·o~\-e ..
sua obra, o homem. 1 ~ão há, portanto, a mínima necessi­
dade de insistir nesse invólucro.
Onde estão, então, os jardi115 do otiit111 e do i1ti con1
que Horácio e Plínio nos encantan1? A bttcólicas de \1r­
gíJio, com Títiro tocando flauta sob o olmos, enquanto

74
CJS J:>equc•nos deuses campestre~ pr<Jtt?gem os rebanhos?
Nada de "bucólicas''. Não se encontram mai~ nem fontes
nem bosques sagrados, relvados floridos de mil flores, scJ­
pro do zéfiro, e os próprios pássaros já não misturam mais
suas vozes aos murmúrios do vento. Onde está a poesia
que toma a pintura como modelo? Ao contrário
1
é a pin­
tura que, em Bizâncio, toma por modelo a poesia: a repre­
sentação icónica, o traço que circunscreve a ausência é um
traço retórico, uma figura do nome. Na verdade, sua figu­
ração. Dessa manejra, a apresentação de um pedaço da na­
tureza, apresentação que era habjtual entre os latinos, cede
passagem a
um dispositivo completamente distinto: da ho­
moousia passou-se à homoiesis: agora a imagem é uma fa­
bricação, distante daquilo que ela ''iconiza'', é um ícone (e
não um eídolon) onde se mostra a potência do nome,
in­
termedjário obrjgatórjo de toda construção p ictórica. Com
efeito, o jardim latino não podja ser pajsagem
1
visto que
era um pedaço arrancado da Natureza, da mesma espécie
ou essênci
a. Ele era uma parte
dela, separada
1
e era justa­
mente essa separação que o tornava incapaz de designá-la
por inteiro.
Ao rcnc>var o estatuto da imagem, Bizâncio, mes1110
sem se· interessar pelo meio ambie11lc natural, tor11a pela
prírnc•irél vc·z pcJssfvcl a operaç5o c.fc sL1bsliLL1ição artificial
c1ue a pa isagc·m i lt1st rará.
. "
Na naturclzo em CJLlc., sL1a élJ'rcse11tnç5o é Lic orden1 ico-
nica, a paisage111 rc.
1spcJr1dt
1rci, co111 efc.
1it<1, à regra de sepa-
-
raÇ ~
ícor
art ~
end
AS
re
de11
Re1
ti
d
ta
s
ta
li
e
e
r

i !NVFN(."'.i\C) 1)1 P1\ISACEfl. 1
75
i~iç5t) e cic sL1l1slill1iç~() (icls lc'1 rt1c>~ ele' un1a relação: será
ic<>l"lC lltl Nt1l t1 rc;;,1, e nao se111cl l1ü 11lc a t)I,1; será C<)nstruída,
,1rtifici,1l111c11tc J)rO(fL1zicln i1arn cc)11vocar a natureza apre­
ciicl1cr o vélzio que o traço pcrigráfico estcride ao olhar.
Assi111 é que se tor11ou possfvcl a relação paisagem-natu­
reza co1110 a de L11na Verdade indizível e de seu correspon­
dente gráfico, de uma Voz ausente e do nome pront1nciado.
Relação
de homo11ímia.
Mas,
no mesmo movimento, a travessia do signo ar­
tificialmente constituído
em sua produção econômica ru­
mo ao modelo - Deus ou a Natureza -produz uma espécie
de confusão e incita
(o que os iconoclastas temiam) à iden­
tificação abusiva
das duas extremidades da cadeia. Tan­
to mais que o
Oriente liberou, para o prazer dos olhos, as
suntuosas
riquezas de suas cores: o ouro e o púrpura, mas
também o azul que se vê no céu das cúpulas, violetas de­
licados, matizes de verde, u1na profusão de ocres pálidos. Claro que era necessária essa passagem teórica, essa argu­
mentação densa que estabelece a imagem em seus direitos
e em
seus limites, mas, sem dúvida, tambén1 era necessá-
. ' .
ria essa passagem a cor para que a in1agem, agora capaz
de funcionar como ligação entre dois mu11dos, pudesse ser
vista, sentida e imaginada er1qt1anto n11á/(Jgo11 \.ia Natt1re­
za ... até tomar o lugar dela e respt1t1Licr c111 sct1 110111.ê. Isso
decorrerá da rintura, de Slltl llllCSlâ{1, liC sua i111portà11cia.

4
A QUESTÃO DA P
Até aqui, a pintura fez apenas uma tímida apariçã o.
De modo geral, sem dúvida, com o ut pictura, onde o ter mo
aparece, mas ainda na forma de simpl es promessa, dispo­
sição do espírito. Sim, seria preciso que a poesia pintasse
(
pintar ou repres entar?), que ar rastasse e incitasse ao visí­vel, que fizesse quadro. Mas que espécie de quadro?
Ou teríamos falado da cor, de fo rmas por meio das
quais a
natureza podia ser evocada; mas qual natureza? Uma natureza idealizada - a economia divina, a Provi­
dência, o destino. De pintura propriamente dita, nem uma
palavra, apenas a possibilidade de um ícone, signo de sua
duração como imagem.
Tempos da pintura, de sua questão. Con10 e\ritá-la? E
de situá-la em seu lugar: a Renascen ça. Não para, dora­
vante, passar a residir
com ela, e com ela perman ecer de­
finitivamente, dizendo: ''A paisagem é a pintura '', como ª
//
ta
n<
VE
s

A JNVENÇÃO DA PAISAGEM 77
d
Orn
ento na evjdêncja implícita do natural, dizemos:
to o 01 I
"Bem, a paisagem está a nossa frente", apontando o dedo
na direção desse ''a nossa frente''. Agora, bem que podería­
mos dizer, fundamentados em tanta arte, em tantos qua­
dr
os, em tantos planos azulados das telas quatrocentistas: "A paisagem nos é dada pelo artiff cio da técnica, aqui e
também acolá
... ". Não teríamos nomes suficientes para no­
mear todos os pintores, todas as obras.
E, mais uma vez,
nos encontraríamos numa dobra, numa sombra. E, dessa
vez, no quadro.
Com efeito, a questão - a da pintura propriamente -
não está em: ''Como fazem
os pintores com a paisagem?''. Seria fácil e, por assim dizer, apaixonante responder a isso.
A questão é, sobretudo, a seguinte: como pode ocorrer
que, em um domínio tão restrito -tela, madeira, paredes,
cores -, aquilo que os pintores da Renascença fabricaram
tenha se tornado a
própria escrita de nossa percepção visu­
al? Teriam eles projetado uma espécie de máquina de olhar
a paisagem, ou melhor, de fazê-la aparecer em um lugar
onde ela não tinha a mínima razão de ser, impondo-a
assim como o único olhar possível para a natureza e em
vista da mesma? Pergunta que não deixa de nos surpreender e que ma­
nifesta o estatuto singular da pintura, sua originalida­
de
em comparação com as outras artes.
Porque ninguém
contestaria, por exemplo, o poder de a arquitetura mode­
lar nossos comportamentos, gestos e maneiras, à medida
que sabemos perfeitamente que os espaços estruturados

/\~~N I l Al lt li 11.t IN
lltl:• tllll l,\,ll\, .l\.ltl t 1l1llC'tlitl.I 11.t l\Ír1:1!l llll\, ,l\'.lt) t' ll '.l~,lt)
1
•f • llltl' l\tl : 1~1tl :l 1't)tlll>Cll l.lllltlf\lt1:1, '1tllllt
1
11 :lt'l llt
1111.1;.1' 1 llt .1 ,1(
1 1
'I l
c• ilil
1. l<l :11>IH1
1
,1:1 tll t1•11l.l\<l1':1, .1•1 tli:il.iii
1111
1
11111111111 1
• '
• , • ti li •'i) lll<' , !lltl!ll 1.1 t'C)l\: 1t'lt
1
lll'l,I lllll' lt'll)C)•, th•
1·1.1:; .1 11•:·1·
1
• , ·'
'l ll<l t' llt' 'tll l•i jHl:1:1il1il1 1l.ltlt•:1tll
1
1li\il 1)() l':11),1 ) lllll'
t\1l:1:•<ll<• .••
Ili\:
1
,
.i:;::itll t>lt'tc•1•itl c>. N.1 t'itl11tlt
1
tl )1l1
1
l'l\,\1 .\t-l t'Slt.\tl ~\S e• ::i~:;
• I' '\l'I' '"•' \•,· \·~ ll(ll\11
1
:1 t' .11; 111,11;, ;1:; j)I :l\',):i l
1
clH ltt\ln1't•c \l,:1( f(,,,, •• ,.I () 1,"J
.11,1•1!1): lt\ll\:1ltll'll).ltll llt)!i:!t)H (IH()S, lil)t'l'(\1)
l)ll L'l)ll':\y(\I)) ,
t'. llirlll.l<l.l, j lf'tl c>c'.11 .11~
1
,11 11 ~) clt
1
ll<lSS<)~ !\<':ill)S ll ltt' Sl' lt>r
tl.11,lll ll,lllilt1.li:i l
1 c'<llltlt'l\,)I)) <llll tt)S.
S1
1
1 clll\'i1l,1, <) rll< '~itlltl <)t'<)l l <
1
t't)tl) t) l)(\l ltll1<), 1
1~1
ll<l <jlt<' l l<'i\.lll\clS <lt
1
~llj)tl r l.11 l)l't11 e) si10r1<'i<); viVl't)l<)S c
1
1
1
lll)\, l'Sl)l'l'il' <h.
1
/.llll)l)iti<l t'()lll tl)ll<), 1)() <llltll ,) c.'SI ritlê11ci,1
S<' l'<)l)[)ill, <'<)lll <) 1'1111..ic> til' l lt11clt >. l,t'l't'1..'l)t'lll<)S ciS ~1r lt'S <ic)
l'<>ll~ I l'll lt.lc> <' tfc) :-l<)llc)f'<) <'<) 111<) , l)l'l'SL'11\,l clt' li 111.-.l S()Cit' <.i~1 c.IL'
lfl'f<.'l'l)li11.11.i.1, <' C)llV<.'lli0 11c.'iclS tlt
1
<'j)()l'tl, <>l 1rii~< lÇ<) <.'S rit Ll.liS <'
s11l)111issr'ic) ;te) '':1s t'<)isi1S Stl<) ~1ssi 111 ''. Mns t1L'111 l)l1ss ~1ri <l j)<)r
llC)S~C) t':-lJ)Íl"ilc) l't)I) ft1 fl<.i ir ()~ clt'itlt'l)lt'S 11<.'<.'t'SS:l ri<)S t'<)t)) ,)
"Vt'f'<.icllft'ir ~l 11;1tt1rt.'Zcl ti\1S t'C) iS~1s'', ll)tlilc) ll'lt'l)C)S ('C)l)i () l)t'l)
J)f'itl 11,ll t I l'L'J.'.[l. 1 )<'11s;1111c )S <.'ivi 1 i z:l\ ~lt) , <'<)Sl li l))l'S, Sl)L'l<.'c.10li<.',
rt'l.11 ivi<.i,1tic'.
() lllt'Sl11C) 11,l<) S<.' J)tlSStl t'<)l)) tl ViStlC), <.llll', l),)t\'t.'t' Sl'
1
lJ)C>cfl'l'1l tfc> <lll<' ''rc',1l111<.'11lL''' c'\istc'. 1 ~)i11 l tlt\l, t'tlt.)cl J t\11..'
tfitf,1 <)lll
1
llclS ftll'll<'<' t' l'SSt' c)ll1tll' Sl)l)l"t' t.'l)iS,lS <.'11,111 1,lli,\~ l.it.'
rt',1is, t' ,lJ)t's,1r cic' 11,1<> 1),\SS,1r cit' t1111,l rt'l)lt'St't\l,1\,l<) 1~'111
'
1 \'t'r t'<lr11 ,1 Vt'rtf,1lit' ftll\l lil' t(lcf,1 rl'l,l\', ) t.'l)tll , t't)tlfl.,1111i
<.f,1tfl' S<ll'i,11. / <fllt'Sl,1tl tf,1 J)i11lt1r\l t.i<'l'<'tlt.il' ciis~ cl : l'l,t l)rl)
jt't~l lii.;l11fl' lil' 11<lS
lllll ''J)l,ltl<l'', llll\, f<ll'I\, J l\ll,\l ~l' t.'c)},) ,

1ç ª\.)
\11 li
t'") 11
s ct~
\.1 llt::
111 a
t~ r-
.
:1 ~ia
:; do
ade

. 1s e
por
11 a
,,
>rO-
SL..,
I ~
·e 111
1fl
Trntnr-sc-io ~t1t 1i da ~1i11tL1ra Ct)tl1<) lc L1111ll llt1cstão que
."te
ria
estado <:1li, i111plíciln, 111as <.lLtC se \'itt, subita
St:tll~1t e
111011
tc, ticsdobrada co1110 qt1 ')st5o?
Por<.iuc, se se trata de ~1n isagc11s, e tie paisagens pi n­
tadas, elas esta a111 ali n1t1ito nt1n11t ln lettre, a11tes da Re-
11ascença. As vilas de Pon1péia co111 st1as cenas de ilusão:
as paredes são crivadas de céus e de pássaros, de t11a­
rinas e de barcos. Ilusão que dão as ja 11elas pi i1tadas,
e11cai adas e 111 enquadran1e11tos de colL111as e de balau -
trad
as, r\o
desdobrari.1ento das verticais, ''vistas" se ofe­
rece1T1 à vista. Perspectivas de perspectivas: as ja11elas
pi11tadas se abre1n para outras ja11elas, ar111ários se en­
treabren1 para prateleiras c arregadas de objetos, enquar1-
to Ulisses aparece ao lo r1ge, et11 utl'. ce11ário de gruta,
de portos ...
Co11tudo, a questão da pi11tu ra não está p sta .• ..\. l-1ai-
sagem " . d ''
p111ta a pe rrnanece cativa i1as parcLi 'S 'c.'gas, é
h.istória, narrativa. Não abre a natL1rcza õ is3L) ~1 (.)r t11:i li\?
51
n
1
esrna. Não é de dt1pla face. A ~1 lás t ica llltl' J ''rcl~1tl1 " se­
gue encerrada en1 seu liornf11i() Lél'lli l'<J. l~l~1 ~1e 11sJ l'l.'1 llit1ra
e quadros is<.)lados, eln ~1ensa "ilLtS3<)''. 1~1~1 n~1arc 11ta ~1ar -
ce.ndo A regra ll · , 1.
· 'lue n o r1cr1tn ( () L1t)t11 Sl't1S(l, '1 r11ticJ, ~1rova

,, ) ,
. ;

. fl' Tl • p I ,,, ,, ' ;•1. , . ; • ,
dr· qur· 5 ·v ('r1•f.r1<J r)r!Jf)íJ;Jr • - ~ ••• ., ; . ,,_ ..
(f•U / '<1rtâT t<,, l•!>SfJ 1sfr1r1a flí~IJTa C5:J !' iJIJ,, f .-,,. W :, :.~ .',
·t·<Jr· (irJ c.; c<1rn '' .,./.,, rn1 ,,f,,;, '''
cc1rn o rea 1<Ja _, "
' • • • u · ,.,, • ,,;.;r ''I ::J q ,. '· /' ,, . fJr·ssc m<J<Jr1, r· f.J tr-/ r, e ~ ... , ..... ,.. ,,, .. ,,.. e~-·~, ·
<> que o olhrJ p~rrr·or· fJ!! ,,. dí>br;; r ;;f· ;,; a,, rr :,..
ça, permarr:cc:r rv~ :1m itr·~ <;<' ')r,rr F,,,,.,,.,,, 'n;j'-;_:, ', , :~.. ·,
mo. Pr1rqu~, se a ·1írt 10s'aód': 1f: ia" rr {:.r 'Jr, ~':'' ·~· .• ,,
·1ezes urr abu!>o de cr1rt;:S, <J':~p':rc:r,r.1, :,: ... "'',,, '; :ç::' ,,.'·
dedínho de '
1
•1erdade''.
( -9 - p1'r tuy~ o'i:-·;c. .,.. P[Y'"1"1 l~ ..-{•r(.Y ~r • 'l () ( ,. ,f ,,
• , r ! I J I ) q U e d J a - iÇ,.. r' ._ 1 4 V ' _. .. -• - -,_, ,.. • -'"j 4' _ ·:., ,,,
11 - •
conjurto de !rragers; acrJrS~.ra â "'ór.J ?::-:é:",,,.-;-·,,:,--·.::-
.. 1i ,, , ,, "' •
• -d f pr P/e,...,.,n r 11...-.-• ·-rr ~..---..-. ,.,., ,
rr1J_, a rao e enaer, Jr -.. r' .J, li..<,. J..,,. _,,, ·· -==?~· --= -:-~
.. .., .. • <f' •
t t tia - ,.., rrc.1r rerr -n·,.... ~-.... r;;,, ... ,,-~ -~~r -..--~ --:a ue as par as c•J '-'J, ~· f"'•· ~e. _ ....... __ ..::; ,.,,,~ J., --· _
. ~ . ... .
suporte de eà:ffcíos que carregarr ~a, ~r ."')S CE.g~s s-:.. e:-.. :---
panhados de espi:ais, sobre as q:;a:s, c0:-~:-e:- :2:-.:- ~-=- :=-~ -­
bom senso (sine ratúmeJ, ·:ée1:1-se es:á::Jas ass~:"'::a.:2. s 1.
fa .. razão julga aqu:Jo que ·.-i:..r. E:a á:z: ''!s.:o :-':ê:. ?':­
de''. É impossÍ'tel ·1er construções aci~a do cé'...:, ja.ré:.:-5 ~ -:.­
bre tetos, sustentando eles próprios ott: ~as co!"'.s::--..:çse5 =~
diz: ''Isso é falso''. _ ·ada há acima do oue es:á a.c:::-.2.. _!.~ :-::-
1
zão julga a pintura de acordo com a ordem rio r:-.:::--.::o, ~ _ _::
idéia. Ela que conhece as leis põe as coisas ::o :::ga:-P:: -:­
;egia a soJidez, a coeréncia. _ -u1 idades, esses ce. á-:o~.
E, cJaro, a visão não é solicitaàa: não se rrara ue e::
pintura. De mostrar algo, de le\·ar a \Ter, rra .. ~e i::.:.~::- ~;
d0 melhor modo possí\·el, o relato, de maneira e :-'\·i--e-­
te. L'm ·1ocabuJário de elemento e tá à d1 -~o-1ç.:o, e 3 ~~=---

'
lS-
as
ca
m
,
1-
o
L-
o
-
3.
-
, ÇAC) DA PAISAGf ·M
A rNVI ~N
81
n rticL1 ln 1)t'rtt•11rc• c1 ic:,f vrit1. É n ruZél(J que· vê, e
taxe c1t1c os ,
não 0 c>l l1c>.
Seria preciso pen sar o n1omc nlo deu 111a qucstãcJda pin-
110 LIJTia inversão de prioridades. De repente, dá se
tura cor
·
1 .. te· 0
11
111ostrar o que se vê'' toma a dianteira da re-
0 segt1L l •
presentação de u1na idéja do mu~do. Mostrar o ~ue se vé,
esse é 0 novo imperativo que vai abalar as relaçoes entre
realidade razoável e aparência, fazendo da técnica pictórica
0 pedagogo de uma ordenação. Parece que existe uma or­
dem da visão, distinta das construções mentais pelas quais
estaríamos certos até mesmo da realidade.
E nenhuma outra lição, só a da pintura, pode nos en­
sinar essa ordem. Até valer para uma formalização do que
devemos ver, impondo uma construção simbólica (um elo)
entre
os elementos -forma rigorosa que leva o olhar a re­
presentar o mundo para si
mesn10 segundo a pintura.
Quadro, forma, tela, como se queira, armadilha
on­
de se cativa a natureza. Doravante, podemos recorrer ao "mostrar" da pintura para organizar as aparências, e a
razão, que nada mais pode, dobra-se a esse imperati\ ~o,
recupera o atraso e justifica o conjunto. São as leis da pers­
pectiva, ela dirá.
Esse
"mostrar o que se vê'' faz 11ascer a paisage111, a
separação do simples ambie11te lógico -essa torre ~1c1ra sig-
nificar o pode .. · . ··
r, essa arvore parn s1g11tt1car o ca111~10, esse
rochedo escavado para abrigar o crc111 itc.1. ; isf()J'i11 e suas
razões d i se · ·
t1rs1vas pass8m l1arn scgu11dt) pla110: e, veja, fa-


82
ANNE CAUQUELtN
la 11105 de "p1a nos'', de proxi m idélde e de lon ges, de distân­
cia e de por1tos de vista, ou sejél, de perspectiv a.
Luta, discórdia e reenc or1tros, comprem isso entre
aqLiilo que é próprio da pintura e aquilo que ainda é pró­
prio da solid ez da coerência e da continuidade que atribuí­
mos ao inundo. Nasci1nento difícil q·uando, hesitando entre
razão do rnundo, b
on1 senso e a loucura do ver que
des­
trói sua prioridade, os artistas só a muito custo encontram
seu próprio caminho. Nascimento tão vertiginoso que de­
le
ainda não nos restabelecemos.
Passagem inevitável para
quem toma a iniciativa de dizer o que é a visão, o que é que
o olho vê a
propósito da natureza, como ele constrói esse
filtro,
dá-se a si mesmo uma cena, instala uma perspecti­
va.
São incontáveis os estudos eruditos sobre esse tema, e
cada autor que se põe a estudá-lo -mesmo que se trate de
uma análise das ''novas imagens'', as imagens da tecnolo­
gia
contemporânea -vê-se levado a voltar à fonte, à ques­
tão da pintura: à invenção da perspectiva.
Ainda preso nesse conflito de nascimento, Leonardo
da
Vinci recomenda observar uma coerência espacial nas
diferentes cenas de urna mesma ''história'' (istoria). Elas
,
devem ser mantidas na unidade do sujeito. Isso é ben1 pro-
prio da Jógjca da idéia -pelo artifício de urna perspecti,·a
em pJanos escalonados -, n1as i 111põc tat11béi11 L1r11a lógi­
ca do olhar
1

1.
l .. t•onurd'' dn Vínci, 'J'rnitc ~ tlc la /lt'i11t11rc (l1\lLI. de A. Kclle1 ~ F'aris, Berger
Lcvrault, 1987).

~lltte
Ptó_
bl, ~
'-ll-
ntre
ies­
·arn
:ie­
:ira
'Ue
ti-
e
le
)-
)
'
'
NÇA~ O DA PAISAGEM
AINYE
83
É
· articular du as coerências: uma é adqujri-
prec1so .
, d ntido narrativo; a outra, que tenta construir
da, e a o se . ,, , ,,
Ih ictórico ainda esta por nascer. Esse e o ponto
o traba o p ' - . .
S·tua a questao da pintura. Organizar e cons­ern que se 1
. . erência do ponto de vista seria mostrar que se
t1tu1r a co .
,. aquilo que se vê: ou seja, o est ado de coisas ta] como a
ve d'
,.., cognosce11te as apreende. Trata-se, portanto, e in­razao
entre a
impressão dos sentidos e o conhecimento ter por,
das leis da realidade necessária, um protocolo de acor­
do: um ''
quadro'' ou uma ''forma'' que os una fortemen­
te, de tal maneira que uma não possa dispensar a outra
e vice-versa.
Porque a pintura dá a ver não os objetos, mas o elo
entre
eles, como se tentasse também tecer um vínculo in­
corruptível entre o que se sabe e o que se vê. E se existis­
se uma relação oculta entre essas duas ordens, relação que
a pintura mostraria?
Hipótese frágil, sempre carente de ser reanimada,
consolidada.
Por meio de qual conivência quase-divina o que eu sei
que sei sobre o estado das coisas que me cercan1 poderia
coincidir com as impressões de meus sentidos? Isso deriva
de uma verdade oculta, de uma ordem da transparência do
sensível ao intelectual, ordem permanentemente desn1en-
tida p I ·1 - 1
e as 1 usoes, pe a relatividade das se11sações, por sua
falta de constância e de consistência. Enquanto eu repro-
duzia ·d ,, · d ·
a
1
e1a as coisas tal como as concebia, a torre bem
que pod· fi · 1
ª gurar a cidade e seu poder, a palmeira resumia

84
ANNE CAUQU~L IN
-Jerô nimo podia brincar com um Jeão três
o deserto, e sao . .
. e a gruta que lhe servia de abrigo ... Mas, se
vezes maior qu
fi J.,....eus olhos, se existe uma ordem da visão
eu con o em J • '
- cazer para coi11cidir a idéia da torre (potência
entaocomo1, '
. e grar1deza) -torre que se oculta no cen tro da cidade tr1un10, .
e da qual só parcialmente ine apercebo -com sua peque-
n
ez ou quase-desaparição? Isso só é possível em virtude
de um plano preestabelecido, de
um desígnio geral, forte­
n1ente ''mostrado'': a exibição do vínculo existente entre
0
pensamento e a visão.
É a lei da perspectiva que tece, entre os elementos ar­
mazenados
no saber, a tela de uma visão sintética. A pro­
porção e a superposição
dos planos levam a ''ver '', ou seja,
a compreender aquilo
que a visão sensível, particular, mui­
tas vezes dissimula. A
organização do conjunto terá vali­
dade
para o conhecimento da istoria, cujos reféns são os
objetos pintados.
Passagem, ligação
original, que reconcilia dois mun­
dos preservando sua relativa independência.
Dessa conjugação nasce a pintura, terceiro mundo.
Lugar onde,
pouco a pouco, se arma e se desarma o vín­
culo, o
olhar e a razão em acordo e desacordo, negando­
se mutuamente, ora para que a aparência triunfe, ora para
sua derrota. Quem dirá se as Demoiselles
d'Avig1ion dão
razão à razão que analisa, discute, sabe, ou à lógica do
olho, que só vê azul ali? Quem dirá a verdade acerca da
Sainte-Victoire? A reconstrução de Céza11ne está n1ais
,. .
proxima de enunciar a estrutura das colinas que a própria

j J
!latl
oC
ve
/
so
pre
la,
Fa2
me
COI
no
q
de
da
m
pr
e
o
ra

JU
es
t
çã
f ei

J

t

Ç
ÃC> f)/ l'/\IS/\C :Htvl
/ 1NVEN
~,
', J
li 1, I f
Uma consta nle rL'V< >lt r~·nc > ;11~11, 1 ,, I'·'' ''''''f', •1•1j'f' r
e mp
reendo püí(jLI(.' vc•jc>, <' íl 1111'<l1cl,1 'l'''' I' J'1, ,, ,,.,
ver. o
,, ·
0
por n1eio e com o DLrxíli() cl<) <li"' t '''''l'r1·1 ,,,J,, 'I )' /
so veJ
preciso ver ,naquilo que vc j<).
A imagem, ao mcsm<) lcm p<), mt· cic·',<J fi;J <· rr1'· t tJffttJ
la, dá e retira uma realidade, aquela CJ uc C<>n hc·c ~'' e' 1r1 r,,., '~f.
Faz esse frágil saber vacilar. Visão, caminh<> cl<J c<Jnh'.;(.1
mento além do conhecimento, o olho é a janela pela qua,
compreendo as coisas. Trata-se da vigília da ra~ão e do sr)­
no dos sentidos? Ou o contrário: o olho, ob scurjdade pela
qual me vem a dúvida, v ela pela alma adorm ecida?
A
questão da pintura não cessa de su scitar a questão
desse confronto, numa dialética compact a. Ela faz o papel
da importuna, despe gradualmente de s uas vestes tanto a
mulher casada quanto as solteiras. Pela janela pintada na tela ilusionista, vê-se o que é
preciso ver: a natureza das coisas mostradas em sua vin­
culação. Então, o que se vê não são as coisas, isoladas, mas
o
elo entre elas, ou seja, urna paisagem.
Os objetos, que a
razão reconhece separadamente, valem apenas pelo con-

)Unto proposto à visão. Porque a invenção da perspecti,·a
estabelece as regras de uma redução e de um ajuntamento.
Toda a natureza (o exterior) está lá, em uma aprese nta-
-
çao que reduz sua dimensão ao que pode ser captado no
fejxe visual; mas essa redução só pode se dar à medida

86
...
1
-d de for mantida .. a unidade constí" .. f-:.;a -~ "''é
que a to'"a 1 a ,; _ .. ~ _ :::: ,
. t 1 isto e uma construçao. 1 aí'a'J, C' ~;.r;
unidade men a, '
, :1 pré-renascentista, transformau-se em Jó9'í-
do ,:eross1m · o
ca visual. ,
E se pode dizer, tanto dos oo;etos c0mo cas pa,a·, re:s
1 50, i-e"m tr;:;lor ou.ando se corrp0em en ~re si E: e:;~
queees L ~~ 1 • -
se refulgem com algum brílho .. é porque estão dispos-
tos com arte em algum ponto do discur s0 que os c1rc:ir-­
da. Os objetos da paísagem, essa ár:ore .. essa for:e, essa
fronde encrespada ou inciinação de nu·,.ers rão ~erre:e~ri,
parre por parre, às coisas da rtatureza :0rracas sep2:2ea­
rr-en::e; é a ordenéição de sua apariçã0 q~e sign:5cá: ''na-
. d d ,, . -/f ,. 1
turezã ". P. .. rnane:ra e or enar essas c01sas , o T:1r ~c::..s
que as une depende en:ão de uma retórica. O que eYiste
de .. 'natura]'' na natureza, sua sensualidaàe imeci ia~ . sé
é percebido como enigma, por meio do artifíc:o de ur:-ta
construção mental.
~ :inguém duvida de que a paisagem não nasce a~·r ,
no momento da pintura, porque, por sua complexid2de
, .. natural'~ ela responde melhor à questão do \Ínculo. _;. r .. a­
tureza, sive Deus, exprime ao mesmo tempo o sens{~;e i e o
inteJecto, é sua própria idéia, que ela mesma mostra soo a
forma e no espaço da paisagem ... O ''mostrado'' (natureza)
e a ''mostrar'' (a arte) concorrem então para sit uar a àe­
manda e a resposta e se conser\·am juntos.
A arte se alicerça sobre o conceito de ''mara\1ilha da
natureza'~ diz L. Wittgenstein. Um broto que eclode, que
tem isso de magnífico? Mesmo assim, é por meio da arte
tãi
-· ...
o
r

1
1

'
'
i
' •
'
1

i ' \, 'I ' 1 ' 1 ~I
\
,
,,,.,,
1 '\I\' ,,,, 1 1 \Ih'' \1' 11 i'I ,,, '
,I,• , 1,,,,,,,,,,,, ,. 1'·'' ··'''·'''''
,, .
,,
t I'' ., 1 ,, ,,,, ',., ,11.11111· ,1,, •• , ,,,, ,, ,
1111
• ,, ,1,
1
,1,, ,
1
,1
,
•.
,\',li \,.li', 1
11\11' il 11
1
1111 1' 11'\,11 '''1\,11 ''"'•\' \,,,\,,
111111
,
, \I' , ~l,t:· \Ili '1 i'
'\\' \'•.t,1 \'l\1 ,\111•~:.1111' ,\,, ,\1\1111111·,
f\,\I 1 l'I \\\'l\1 ,\ll,\' 'ti\'\ 1\1
1
1\111' \'11111'\1''-\ .11\111\li'll''•
i'' 1 l'I\ 'I '\' ,., '•\I, 1\, \ l\1' 'l \11111• \li\''·\' ,1\•11' , \'ll
,,,,,1' ( t\I '''' ,'1\I,
1
11 l'''
1
11•t,
1
l.111\'''' .1\'t11\1 •11,1 l''' \1,1 ,\,·
\li t111 .,,, ,\,, 1 ,1l ,11\\l1 !!1'11\1''· 1\lll\1'"' \i.
1
111,1 ,\' ·,111t11'
\,
1
1,.\,\'· 1\l'.\I 1'll1\\l1\
1
~ , '\i1•l (1''• 1'1 li 1111
1
•. 1l\' \'1''•i\I\•!,\•,
'1l1''•(,\1' , 1\'l\
1
•ll \l\\\' \•\li\, 1\\l\'ll\'ll\I, ,\, \'ll\l\I
,, ,l '• '\l 11•.(,\ '\,\l) 'lll1' ,t,, \'l,1t1' ,\,, ·~\\,\ \"',\' ~'-·,\~ : 'l \',\,
,,
1
,
,·,, ,\, \\\' \l' •l,
l ''·ll,\! , \',\\'-.\~: '\
l't tt' t,\t\(,\~ ,,l,,,, .. , •• ;,·,,ll 'l 'l \\\, \'''' ~: ' . \l, '
\','\\,\ ' (,'\I '\{ ,., 1i:111,1t1 \'
'
', t 'l, ~~\\~~, ·11,\ , l 1 l t. 'l' l '~.{.\\
\\ '\,\,: t 'l l l (, '·~~
'·~ ,· 't \\~,\ t 1 ·~: ·:' l 'l :\l\l,\l ~~
1
\1, \. \, \ t'
' ' ~: ' •, 'I l ' ' ~ '

: •l, t''' ·~:t \l \, ~\ll '1,\1' 'l\l , l'\\l\l\,
' \ ' ' l, ~\\~ \'\\,{ \'
\l , tl\ 1~t t ,\, ,, \ , l '\\} ,,~t.l l'

l ' t l l l ' ' ·~ ~ t ' '' 1 l \' ' i
1
l l '
('\,l 'l''' ~t '\,l, ~\\,\ l •l, , (\\ '\ t, ',
'l
1,,:,lt '" ,f( 'l ' t '~ ~t;~\\ ,,~ \' ·t,,, \,.,, ~
1 ,,,, ,\,l ',\ 't\l, ,, , t ·l. l'lt\{, l,\'
:: ' ' i ' •
i
(
'\\, l, (\'\\} , .. ,,,, t t, 'l ,,. , ,~, , '( '\\~
t, t '\\, l \ll\, ' 'l ,,,,,, t \,\l \,\l \ , t
\\,~'.~
' '' \' ,,
' '
~\t\'\ ~
1 • .
'
''''\'' ' " . ' " ',,
' ' \'• ,,
' '1 '

88
ANNE CAUQlJEllN
. , ,
1
.
A
teinp e~tnrie é precisamente um qu adro é
111co11torna e · ~ , . '
. t" p i·ntura e não tem tcn1a cxpl 1c1to, nem mes-
prc:c 1~a n1e11 e / .
lt
Qu.,nto aos Licfcnsorcs do tema na pintura A
f110 QCU Q. U ~ I
f 1" llies fornece o e>.en1plo ideal para exercitar seus
fl'lll/1l'S flt t: ~
tillei,to de e"egetas. O que é LlUC 1nostra esse quadro, a
iião ser 0 relato? Se o rela to for diffcil de encontrar? Não
niostraria ele nada além de si mesmo? E o que é, então, es-
se ''si mesr110''?
o interesse de A te1npestade é levantar essa questão.
Até Giorgion e, não se to n1ava isolad amente o fundo em
forma de pais agen1 das telas. Dado que o tema já era muito
e pl
ícito por si
mesmo, o fundo ser\
1ia de cenári o, instalava
a distância, dava o
tom geral.
Por sua vez, com A tempesta­
de, parece que não ha ·~.'ia i1ada além disso: árvores, céu, nu­
,·ens, un1a ruína, um regato e, perdidos, isolad os nos dois
ca
ntos extremos do quadro, dois per sonagens que parecem
se ignorar mutuamente.
Desde
então, os comentários tivera1n livre curso: o pri­
meiro (1530) inenciona ''uma paisagem sobre tela, con1 a
tempestade, a cigana e o soldado''. Vasari declar a, pol1co de­
pois, não e 11tender o te ma e pensa que não se trata de i110-
do algum ''de personagens ilus tres da Antiguidade ne111 j s
,
tempos modernos''. E preciso esperar o eruditos d :. ~t1-
lo x1x e o ateliê exegético2
para en contrar di L1s .. -s s tr 1.1
significação da tela. Ou ela te n1 sL1a --ig11ifi .,a "à) '111 si t11 s
ma, e o tcn1a pretexto é de poLtca i111~) t)rt '"111 --i"1 tli )11 l \·en-

'
'
89
t t11 i), (1t1 pc1de111os nos e11lrcga r a todo tipo de hipóteses. o
f'í(}l.,I '111,1 é llllC, cn1 111cio às 28 exegeses diferentes (compi­
lll il1s e t'l,1. si fi ""adas pt)r Salvatore Scttis) que se abateram
s1.)l.,rc A tc1111>l'Sfnde, nen l1u ma é realmente sa tisfatória, nem
1.il1 Cl111tu Lic todos os elementos do quadro. Qualquer que se­
jl1 t"I ~., 'rs~1ectiva e1n que ele seja encarado, alguns pormeno­
r~s ~no refratários a uma e
1
plicação global.
Qt1en1 é a n1ull1er amamentando uma criança de ar
r11ela11cólico, o hon1em que monta gttarda no outro canto
1.io qttadro? Onde estão essa cidade, esse rio, essas colunas
rJcl1adas e, ao longe, o que é esse céu tumultuoso de tem­
pestJde e111oldurado por grandes ár\rores tristes, arbustos
111~gro e a terra ocre do primeiro plano?
Diante da hipótese de que se pode tratar ali da ''fa­
n1 ílin de Giorgione'', referindo-se a uma infância bastar­
da, ti da fan1ília humana e111 geral, abandonada por Deus,
1t1 ai11da de UJTl ''repouso no Egito", quen1 poderia concor­
tiar e 111 t1n1a delas se i1ão se \'Ísse ali u1na cidade e um rio
atrás da 111l1lher e da criança? Tratar-se-ia de uma danaide
a n1 a rnentando set1 filho Perseu na pre ença de um raio ju­
piterian , 111a_, então, que fazer con1 o hon1em no prin1eir
~"1}(111 à sqt1erda. De t1n1a n1t1lh r tcigana) sedl1z.in ~ ~:
~OlliJ :io pr ,. cando-o, para que a1'and ne a ~uarda ,a -i-
'"'<.)111 t1111il criíln-a a sei() n3 l J1·e'e lll r~r s ju::i-! .
t11J11 11i11tll Rn1a :iu l'"' 1f lt111iter -Zt.'t1s s' 111a11if st~1n
~t'tt tl'1 .. 1111 1"t1~ t1111 s,1t '-''lltt' 'ttt\.1:ltr :i.1 it~te ... ~5
t,1s a~ F't"'~sibil i iJtlt'S 1..lttt' ,1tt' \1~ t'~ ltl ' ... :~ ilti1 1.. n
.... , r
Í
r-

e
(
r
e
r
(
f


'

-
\"'I l \111 ..
1111•11N
'
\'(1'\'.,ll\1'lll1' ,11 ~~\ll \\\'l\l,1~1.1
,,, .. ,,,, (, !'·''·'"'('

t',ll~,l~t'lll tt'lll~ eStll $d ~i ~ Sll-.1 ~ f0Sl'l1 .. 1 C..)~1r 'SSl\'a, l1lte tl
qt• '~t.l ~i'-' te111._1 · ~us ·it .. 1<..i .. 1. ~."' 111..11..1 t'l1' l1lr"1t11os urr1 te­
ll ._1._lf rúf ri,1'-i • se as :lu.:1s figt1r._1s l1l1t11at1as d<."l l1U ... 'ldro pa­
re· 111 ter ~,Oltt: .. 1 relaçã cot11 l) Llll" s ' ~1,1ssa atr'-is Licl s, ~
·0111 qualquer outra l1istóric1, é ~1t L1Lte a lio111i11Jç5o tia t ai-
sage111 tela ocupa d is terços Lia tel,1) i111~1õe SLtG orde111 11.1 '
l1ur11a11:i . .- ~"artir daí, toLio co111et1tario <.ltte to111c ._1 ~ ... 1i,~1-
.:-e111 f' r u111 si111ples íu11d , co11c lic11Li) <.1 ~1rot~1g 11istl\l'I
ao relato. frustra o próprio objeto. E o frustr,1 porqut' ,1 jul
ga ·e\ce. sh·o ... Ora, o que parece sob1-.1r ::;J,) o::; pl'r:;nn,1
gen. · Como que e. 1na gados Pl' 1 i t'S pt' t ,1cti 1 ,1 1 q u ,1 Y ir .11n
asco tas, <'que. O o espcctatk1r pode Yt'r. ele::; parecL'l\1 C\-
pulsos não do , - i
' ~)ara1sc.l terrestrl", 111l1s llll rci)rL'Se11tl1çl10 L \.1


a
ea
-

91
~atureza. Seus oll1ares n1editati os (o homem) e melancó­
licos (a n1ul11er) ~\.: ... at1~e11tan1 , ao passo que atrás deles se
deser
1r<.1la a cena ~1rin1ordial: o quadro pintado deixa apa­
recer a erd,1de-paisagen1 da Natureza .
. .\lgo parecia sobrar, algo do qual história alguma po­
de resultar ... .\Igo como a in\·enção da pintura de paisagem.
o tema ,;oculto", que assim se ausenta da representação co­
lorida do quadro, n1anifesta em sua nudez o fato-pintura,
sen1 o álibi ilusório de um tema qualquer. O fato-pintura: o
nascin1ento
conjunto da paisagem e da pintura. O ·'tema" do quadro bem que poderia ser a própria
pintura, e, particularmente, o 'rínculo que a cor e a foima
inrroduzen1 entre objetos: simples disposição das 'Jcoisas
da natureza'' numa n1oldura. Os olhos dos personagens
pintados se des,-iam para deixar a natureza se expressar.
l\-ão ternos necessidade deles para '',-er'' a paisagem, dora­
,·ante nós n1esmos a ,·eremos. Ela foi descoberta.
Li\Tes estão
os romancistas, fazedores de histórias
en1 seqüência, para comentar essas \isões ofertadas uni­
camente ao olhar. Eles contam fábulas para ninar a
\isào
falas que se ligam em arabescos aleatórios às cores e às ..:cr­
mas do quadro.
Proposições. Bt1tor embarca a rainl1a "'ie Sa'='..1 r10
poema ritmado dos remo qt1e le,·am seus tt:?Sl""tlr 15 ate o
grande na\
1io, que se n10,·e ao largo~.
3 -fichei Butor, L'e111H11q11e1 zr11f de 11 rrr rt• :{· ~~.::-J # ti u;
Pan::-La D1f.ércncC', t 9).
-· .. ' . . .:ut.:e .... rnr. •

s
-
,
'
J
,
(
e
,
(
'
'
'
1
92
ANr.!h ( AlJCJIJFi I
.. N
É um pc)rl<), D 11c,il<' c;1i. lJrnél luz cl<>Uré.1da cvc>lvc.• <>~
cdifíci c>s, tlLIC têrn t1l1~<> ti<.• rt1í11r1 <1111 su;J ftich<lJa till<lnc•i
ra. () mélr, D<> nível c.lc> ,-,1is1 ln11çí1 S<'ll'> (rllirnc>s t:irnpJc•xcJ<,. ()
cor~lçãc.) ta111brrn c.·111btirr·a. 1 J8 nt 't'ssic.Jadc' d<• lJm;J hi<,tt)
riD? De um tc111éJ? / pi11tura rcful gc'. ()s barco<; sãcJ de pra
ta sobre
0 n1ar brilhant e. Um sonho, o de I3utor, se esfcJrça
,
em seguir a bruma dourada, ao passo que a paisagem es-
tá lá, simplesme nte lá.
Como são inventadas as paisagens
''Devo'' ver. Esse imperativo se dá inicialmente como
um todo. Contudo, ele é construído com mil estratos jus­
tapostos, que até mesmo o historiador mais minucio so e
mais bem d ocumentado não consegue apreender separa­
damente, no pormenor de s
ua exigência.
É o que se passa, por exemplo, com a descoberta da
montanha ou do
litoral
4
• A sensibilidade social a essas '' pai­
sagens'' é historicame
nte atestada em épocas determinadas
e bastante recentes. ''Descobre-se'' a beleza,
freqüentam -se
os lugares até então considerados desertos maléficos, at er­
radores. Eles entram na
moda, primeiro para a elite da so­
ciedade, depois entram no vocabulário das ''necessidades"
naturais, são um bem comum, disponível a todos.
Essa passagem de um estado a 0L1tro, con10 ela ocorre,
como e quando têm início as diferentes viradas, que levam
L'H
4
· A l'SSt' J>r<>pt'>sit<>, rf. fi. Ka lll<l1,1 l' A. S.1v,lyt
1
, J,a filrft. 1111c1fiét• (I:a~~:
armattan, 1986); Alain ('l>rbir1, Lt• t1•rritoire '''' t1icl1• (JlJr1s, At1b1l'r, 1988), e
gel. /ournal d'un voyage dat1s lt•s Al11t•s bt•r11oist•s (l;rcrl<>blc, Jérônic Mil lon,
1988
).
'
l

e\.. mo
)~ lUS-

J s~ e
:?para-
rta da
s ''pai­
nadas
an1-se
1 ater-
"
da so-
iades
,,
A JNVEN(ÃO DA rAISAC;EM 93
rnLiltidõcs à praia ou a ]Jréllicnr csc1ui (o mesmo valendo pa­
ro
0
c.icscrto, Ct)fll ou scn1 sn fá ri)?
t lui, as a11c>taçõcs se ucumu lél rn, se dispersam. Uma
t)nlin de 110111cs e de déltas me submerge. Qual é a chave
desse n1ovin1ento? Ten1os de udmitir que se trata de uma
tran
1a de ele111entos heteróclitos que governa a sensibili­
dade de uroa
época a esse ou àquele aspecto da ''Nature­
za". Tambén1 temos de admitir a importância da arte nessa
fabricação.
A arte, muito bem, mas qual?
Parece que, para as duas
descobertas da montanha ou do litoral, a literatura foi a
primeira. Poemas, meditações, relatos de viagem abriram
caminho. A pintura vai no encalço. Ela abre uma segunda
vez o caminho e leva a partilhar a visão da imagem des­
crita pela língua. Uma vez representada em desenho e cor,
a
paisagem que suscitava a emoção dos escritores adqui­
re certa realidade. Ela existe. A prova: eu estava lá, sentada
diante de meu cavalete.
A visualização de um lugar, qualquer composição fei-
ta pelo
artista, atribui àquilo que é representado um va­
lor de verdade que o texto ainda não oferece: as palavras
podem mentir; a imagem, por seu lado, parece fixar o que
existe. Ela espera, porém, por seu turno, a ciência (a geo­
morfologia
ou a geologia), para ton1ar assento entre as rea­
lidades
comprovadas. Viollet-le-Duc dese11ha o
n1apa do
Mont Blanc com o traço de dcsc11.h is ta obstirtado. Ruskin
, -
e, por seu lado, sentimental e lírico: sugere, mas t1ao prova.

-
.l

11
,li
i
0cl ~
'
"''

l)
li

'
rt
d
) l
',1111\\l)~l'Sl\l ' \.'\ll' ll)ll,\\1,.'t\l(' ('$
,. )li\',, l\'11 ll\ll I\' l' li
\'l lf) \' 11.'\il'~l't\l\,\\.il.'
l'.11\'\'1.' '-llll' ~\' ~,, l'1.)1..i1.' '1.'1 ,11..1tt1I\'' '-1ltt' J.l l)l i~lt' i8
t l
J) J '~·'t\l\ 11.i1.) ''ll\l,11.i1.) 11.'.ll\1.lli), 1: i1.) l\'l1.ll1.) i.)()
t1.) 1.' \'\li • \1 \.lt'" ' [
i1.'~t.'tll\1. 1 t.' ('1 1.il':-'1..'i'll\l"' "lllt' t' t' ltl~t 1 t11111..'11t1.' l.'i)ist1..'r )lt)p,i
\' f'l''l l.'\1.:1.'l1.~i,~·i,1 t.'l''t111."I ,, .1tl.'~l.1l11 t,"lt) F'1..'rt i11l''11.te1l1{'lllc
l l1..'t,l1.'1.' l~1.'tl1.'1.ii1.·t 1.i1.' ~.111~~t111..' 1..'t\1 ~l'lt ' ·tl.t/tl~t' 1f1111~ lt·~ f'\lpt's,
t.' 't1.'lll1..'t 11..' l til' '-lllt' i,1·1.il.'
1
it' tltll l'I i111.'LF'l1..) ~l.'t\.1l
1
'.
l\'r lllt' ~l' ,1 (it.'~l.'t i~-_).,"I l'l't'ti1..\1 t\'tY\., '\l'$t.:.1, g\.'r,:1l1lt0rlt~
\1..'111 J'1.'t i'ritl'\l.'tt 11.1 t)l i1..'1111.it)~ t,11'-"S .1 i111"1g~111 ~"'li11tr 1da O
", '"i1.. '~t'tl 111..', '~~ 'l.'1.:i,1 li: ,11.i(' ;111 <1111 l"1.)S l"1.. 't I-'t i 1110i ro 11~1 or1.ien1
1.i,1 ,1tlrt11,1· .. 11..'l1.il' t1111.1 1\',1li1.'l .. .lt.it.'. l"' .. 1s~ .. 1111l1s s0111 111..1~ t.i,1r co11-
t.1 1.i1..' t1111 .. 1 ~1,11-...1 1..'lL1t 1 a ~'l,.11 ,1 1.·l11..'~<11 .1 t"'Sl,1l1t..'lt:-ct.'r t1111. .. 1 e\.istcn-
1:i,1 ,1tl' l.'11t,)1.) i~111..1r,11..i. .. 1. l')r t1111 t."fl"lt() til' rt..'t1.)rr\1..), 1..1t1 .. 1s~ t1111.a
.111,11111."tf~)~t.' .1 ii11 .. 1~t.'111 e11tJt), r"·1r0ct"
1
lt1111,1r t1 1..ii .. 111tc·irl1: é o
. ... . , - ...
rt'i,1r1...) lLtt' ~ .. 1t\'l't' ~t gt11r .. 1 t\."l-)rt•s '11t .. 1 1L) l-)tCtL)rtcn... ll() f'l()S-
:->t) lt.'r R1..1ttSSt.),1t1 s ~111 tllt' rt-t11l"tL'r ~lt) 1-1-.11·1..1ttl" 1..ic Fr111cr10\·ille,
~('111 't'f t) j .. 11·1..ii lll
.1jttli,1 t.it1s Bt)t11...iir1.
=ie )t1li ,. 111.l(.1 11t sst) 1-1 't1s~1r "F)rl'.\1ü" se1T' .. 1
}1i11t1..1r-1,.._1isngista e ll ,1rt1t1itetl) cl~ 1-)ais,1-
~t'11s se st1l)~titt1e1 11 ~en1 lt1t ... 1 r l'l)r11 ,1 l itet\.1tt1 ra.
r1ss.1g-tll1 tZtu SU~1\'0 C()ll10 $L' ft)S$L' 11 \.1tt1r\.1l t.1llt' A~l~ill
""1..)rl
1
in ~111 St'U L1elo li,·ro St"'ll11·0 ,1 irt\'L't1\JO li,1s i11· ... 1i,1s rtt:-111
, :-, ', \l.\1tl l..'\'f~in , L\' t1..'t t 11\'ltl' 1.'\'tlll\\' l',llín1l':'1..'~l'' t'l l Z\'~c"''I<' \l
r." •.t I · n1,? 1 \i t •>$,~\
f' 1~~\) t' J't'l lt'it.11111..'nl\' ~.\l'1\l\) l'\'h\$ ~"'''n\,\t\t\':' \i\' l )t tt'l l' ~ t\•,lit.' i\,:
t'~ill\lt'' f'ft'!'.lt, \llt)$ ~'.lt,\ .l lll~l,\l,l\\l\) t'll)' UH' ~Ili\' ,ll'l'l.ll \',lt.l lll\,l ~t",\.l\'l''
~u .. lntt\i,tdt' lii' 1.it'$1'nh1.'~ t\lO\,t\i,)~ ,1 p,1rt11 \it' l\'tl\'~ \)~ ,\t\~t1h.'~ l'\'~~t Yt.'l$~ :' 'ti,l
1
ntl''t''"
1nt' ·,
J '

1 l \.t llll\ll, \'~$\'~ \lt'~t'l11\\l~ )1 \~~ ,1,, \·h,ll1.'l \,•
1 li' \llll' l'''"i''''' $\'t'
l
\;)n~ult,ltl\lS t'Jll F 'icl//1•t-/r-nu1· c'f lt• ,,,,,~srf 1#11 . ftlt1t-f ~l.111t' l .. ~t-~ ,~-~ ~l ,\\$,'\l1.'
l lt 1 '>s~) 't l
' ' \' · •
1
~ p1.1n1.· 1,t$ .1nt..'\,h.i,1~ ,\,, tt'\l\'.
l
l
{

~,...
'~.e[.
~U""'
··-<:
-~ .. ~ira:éo
:\ão f '~­
rmenmiLe
p:a a sema
-"6~ •• ~ .. o, de pà~'d-
' ,.,~ D \..., \l E:-.t
chcg .. 1 ,l n1Jf(\Í-l .. 1. >- ~) .. l'-'!'-.. 1gc1l lil' t1111,1 ~rtc a OLttra não l"Jre
(~ ~~rc•l"ll('111Jt1c ,1 l")._11 .. 1 ele t ()n"\l) se t1111 rt111101 gcr a 1 se csten
1.i.C~SC 1.ie l!I11 ~
1
0Tltl) a úlltro t)()f 11'\CIO llC Cl)llt .. 1t()S SllCe$Sl\'OS
.. 1barcando todo o c .. 1111l10 1..ias rct1rcs011tações t1oss1\eis se­
jc.1 ~is qtle são suste11tad,1s pelo escrito, seja as que são st1ste11 .
tadas 1-1elo mostratio, logo ape la11do ao se11tin1e11to popttlar.
Ele relata apenas, de u111 lado, a batall1a ~1ictórica entre ita­
lianos e
flan1e11gos, a
11ecessidade de os t1ar11e11gos assegu­
raren1
sua ide11tidade nórdica pela produção de paisagens
marinhas.
Por outro lado, a curiosidade dos pintores estimu­
lada pelas produções literárias
de algt1ns
"loucos" por mar,
pelas considerações
da teologia natural e pela paixão inédita
pelos
fundos submari11os.
Se o "princípio" é quase indeci­
dí\1el, o que se pode é dar atenção ao movimento do público
para
beira-mar a partir dos quadros.
Um tiso social se ins­
taura, pro,D.ndo da imagem. Função ptiblicitária da pintura.
Mas quem, dentre o paisagista-pintor e o pa isagista­
artesão de parques e jardins, leva adia11te a q11estão?
Ninguém chama de "verdadeira" essa arte, a ilt1são
e a
imitação são igualmente distribuídas, e tanto o arte­
são in1ita o pintor co1no o pintor imita o que o artesão pro­
duz. Tanto no plano da cronologia como do
conl1ecir11ertto,
as práticas se mesclam para forn1ar t1n1 todo, u1n arrarljo a
"
tres com a natureza.
A história não decide, OLl as respostas são, sobrett1-
do,
circulares. Porque, se o pintor
proLiLtz Ltn1 rnodelo -por
exemplo, as paisagens-rnodclo de Lorrai11 e de Pot1ssin pa-

(
(
' •
J

'
s
-
a
2
r
a
(
(
I
96
ANNE CAUQlJELIN
.
1
_ 0 J·ardinciro- dcmiurgo
produz, por sua
gentry J ng esa ' .
ra
ª .d d gue servirá de modelo para o p1ntor- pai-
uma rea
l1 a e . .
,,. .
vez,
5
retornos, circu1tos de 1 n fluenc1a7.
sa ·sta. Numeroso .
gi depois de Hegel, ele volta a abr1r, segue
0 Turner vem ,.. . . - ,,
//Cojncide ncJa? Contam1naçao? Por sua
mesmo percurso. . ,,. _ ,,. _ ,,
''â bre'' a montanha: ela Jª nao e tao hor r1vel as-
vez ele esco
1
• ode ser ''representada'' ... Onde Hegel narra e
sim, visto que p . ,,. '' ,,
''caos indescnt 1vel , Turner mostra, da a ver. Lo­
descreve um
l
oortes de pjntores assocjados passarão a se chamar
go, ogo, e
"pintores da montanh~:, ~ par:i ci~~rão da defe~a. de suas b~­
lezas naturais (leia-se p1cturave1s ) em uma ot1ca do patri-
mônio. Passagem obrigatória para os pintores de paisage m.
Só vemos o que já foi visto e o vemos como deve ser
visto. ''Vê, corno é belo ... "
O mesmo se dá com a paisagem, sua ''realidade'' so­
cial, uma construção que é passada por filtros simbólic os,
antigas heranças. Uma forma mista, tanto mais pregnan te
quanto mais finamente trançada, a ponto de não se ver seu
início e de ela poder passar por original, como se não ti­
vesse origem determinável. Viagens de modernos Telêma­
cos, com a cabeça povoada de poemas antigos, nos passos
de Virgílio, e portanto de Enéias, ou nos de Cícero, de Dan­
te, de Fenjmore Cooper, de Dickens, de Thackera y, de Jane
Austjn (ah! o encantamento retrospectivo de Bath!), de Jú­
lio Vcrne-onde está, então, l) capitão Grant?
7
· ('f. <> J">C>hf ácH> dt• M ('c'n 111 .1 1 · 1 w 11 · (' · 1 · ·r · ·,. s11r /e
b . · l 'C) 1vr<> l t' 1 1nn1 i1 11111 ro1~ l'!' ·a1:-
enu p1fturl'S'fUl' (l'uris ~· f · • ' h
publicad , ~ · ~, ~< ~t.ic>ns tlu Mc>nitc.•ur, tt>H2), l' ~l'lt<; 11urnl·rc>sc1s trabal os
<>s na C<>lcçnc> 1 .. c l t'll)J'>s <.les )J rd i ns".
tC
t<
1
j.
e
1
1

~
;t ll
lllJ\I Ni \i' I' 1'\1 \1,l l\l
I )'/
1111• 1,11111.1 1
1
1111111.1 1· I'•''" 11•1·11• 1
' t ' • 1 li 1 l . 11 111) 1 ,
1 li
1111111111
l\l 111111!"•\lt I, I' I' \1 11\l' il l'\l'll\11111 ll\11' 1 •'
1 1, •ll '.1' 11r11lt•
1
,
111,111 11· ,. •.1• 111 1111' hl.1, I >1· /11 <'11111
1
11
1~.1
1
11111
I ••
• ( 1 • l''"l'•ll,4\1''•, t:lt•
l\1•1 ' 1 (llll!: ,,,. ( 1ll1llllt11, lllll' "lt"l..
11
l•:1111t:•11) li
1 l\Vl l' () lt•X
j,i ,H'(lllll'.11111,1 1l
1
tlt1l11,\lltl11 ~;l'll t:'lc.'il(l 1 llllllll' . I
I ' 1, 1 (', 1i'ol\d(),
l't.il,l St' ,,,, 111 <'~.t\l<l ll
1
tt\l)t1, 1.lt• 11111 111
1
111
111
1 •I, j) l I
' ' l 111 LI l\l t l'
• • I
11111 l;tti1.I I'"''' ,11 '·'' ~'·'1',l~t.1 ,\1\1t1ilt'ltl 1.' til· \11 l~LIÍ,\ l1111:-;liC<).
·\11•1111li ~~,l. t•lt' 11,111 l1<'~il.1 l't11 t'\ltlV<>t \lr lt'>..ltis tlt• ji•aii J.ir
~111 ,,~: 1.•is 11111.1 1l\t'11 s.1i~1.·11111,11 liç11l,111111•111 · ~ii~ 11ifi t':tliv1.1 .
\t!lli, llllt'l11 fllÍ l'lll,ltl (l J11 it1 'Íltl? l'(lllSS1.',\ll, ,)() C'S(l' 'V •r
ll 111>1'tl f /c'/< >l~11, <..~tl1lt\ii11 , ,\(1 lt'I ) l<'\ltl l' 1 ) ftll'lll,\1 , it10ia llt'
11111,1 ,.,,11~.1!~1..'1\1 "111tl1 ~1l", '' r1i11l111-.1 ~ tll1,1I ~ll' se 1cle1c.' (Nc.lr\'t1
tl.ll) 1..lil" lllll' t) l,1~~c.1 St' i11~1)i1,1 L'll) \rV,1llt'l lll, tlll vi1c1ge1r1 a CilL'
r,1.1), )S j,11\ii11s 1)l1i~l1!~t: 111 i11glL' ~l'S til) S('t'ttl() \'li, l)ll a "ser
sil)ilit:i,lli(•" i11i~ll' S,1, t'l,1 1\11.'Sl)),1 J11'()Vi111.l,1 c.l()S fi~i()(r;Jltl S~?
t l1lS, iSS() l' l'L'l lC), l e> <'<Jll/1111/cJ t'llt'lltÍCtlrfc> C.llll' \I C.'111 r>t)l'
~1ri1111.•irc.): ''t) ~)I Ílll 'l~1l{.) t' lllll' l lttl() l'Slc.'j ~l jLll'\lt) (.' tlll(' l\.llll)
Sl'j,1 l1c.•111 t'1'lt:',1c.it:'i.l<.it)''. l
1
rt)j1t)Si\·5c.) <.ltte ,1l1rc.' l) rt.1111lt1lc.) 111..i.L'
/,11 c'c>JllJJC>Sil ic>/t tf1·~ JJll ,l/~tl
1
~t 'S .
S41t) t'l('t:'t'sscirit:1s c.'SSL'S rt:'l()J't'\<)S, L'sscs (1tra,
1
c·ssa111c11
tc)s c.i,1 li11l1,1'
1
,
e, t:i() 111i11 ~1 11<.it) lt1c.i<1 isst), ,1 i)crsr'c.'cli''·' ~
1
r 'S

1



,

lfJl1I '/1 'ilJllJ
1

11i1t1111.111111• "t• 111.i1li ld
111
1'>''''''''''1)t11: ''· 1)
1•1•)(.ll.tlJll'll
( • 1 •
IJ 1
1
11•l1J1Ítd IH'.)111 J111111.t1l.1, ;
1
,'1/I Ili· 1i1 .,,,, jft
'
111111/'.d, li• I I;
1
( lllfllt'I jtltl 11 1111 ~/l'1J {I 1, 1 J',',11Jl,J11/ffl•J:n 1J11 /I
J ( • l. 1 e. ( )1 .. , ' (,
11
• 1 ) I ) 1 1" I I '1 j J t 1 1 j. 1 '>I •1 lt 11 .11 I
,,, ... ,,,,, t /1
/ ( J 111 '· 1 I " ( , ( 1.1 J )j 1 d 1 1 J ' 1 J ) .. ) , 1 .l J "' 111 ' f : J • 1
1
/' I ' 1 J I J 111 { I ', 1 /( II
t' tfit•1 JJlC)tl.IJJLl ,ll.J1u, JJ,J',''"Íj()ÍJft:1 ~jll fl I 11:1 ÍJ dj>tt l•tl'-;:1<11!1'
li
' jOt'lll ljll<' f)tlJ'('('('t 11:11;1 lll~l'11 I' /JtJt•J)i1•,
1111),J j)• I• f1
j ,cHll~íl fJ,IVt ''J', l~I .cfl• •,Íí~lll J'1 J1f:1'1 '' '/1 11{1~·, C#f)1ft• J Jsl:l
J~t 'll1 (' {;iJ.i, t•Jdl(' jJÍ>Í:J c• JJll:Jí~l'IJI , J;11JJJljlJ', '>IJI ( ',',J'/<1'11 '111
tlf• <'JllJ'r!Jll()!-, ,~,)Jll cJífic IJJ(jfj(~t· ( ''~)IJC )ÍJ ,j ,j,. Jl(J'/,:'t l)iJfl.c
.itJllÍllJ CJLI'' ,·J1ri1nat)l()'., C''í)lJt!Í(:J JJ()'> fJIJ1r<1'1 !A<1/lríl<·rl1.!/,
Jivc•r'-,<J"> <.JUC' 11<1
1
, ílj~Í lü111 rt>1rl <''>llJJJ'>r J~1z :1r 1<
'''' <t,11 ',,.,,
r
1
1ui1d<> d<) i111atsct1<,
1 rnai"> fJr<'1/11r1<> ,J,,·, ~)I' 'í'./' '' '~U '· <J1,
1
1 f'>
111
a
11
<J">, c
1
uc•, fJOrérn, par<'<JíJ111 t<JJJlíJf ';<•tJ 111<J<J<·I<> /. 11atiJ
r<>%a, d<• pr<>pricdadc.>'-, dc·'/-,<·rr1<•J}1í.Jr1l'·',, :J<> 1nc·'>If'> t<:rrr.1(1
tão <,ÍmpJc<, na (,Jrrnulaçâ(> d<' '<·U'> atr íbul<>'> <; tã<, d1·")tar1
cjada da p<>S'>ibílídade de• ,,,. d;Jr 1<JlíJ)rr1<)nl<· f·rn 1rna 1~<·r',,
Seu rei rat<), pcJr m€'Í<J d<>'> a ri íffri<J', r ud;J '/<>z rr1:.JÍ', nurr<·((J'"
<,(>1'. /\crescente multíplicid;Jd<· <l<· urna
11
<)ni~<·r 1haría
11
'')ríl
<J crc
1.,cimcnt'J das técn íca'? -<·, <·m e <Jnt rapart íd;j, <J ·,<:nti­
r11cnt0 cada vez mais vivo de uma
11
• Jalur<·za'' a r1·;,p<·.tar.
Um r<~lralc> qu<· s<> <·nv<>I v<· a si rnc brr•' 1 <:rn e· qu
1
>cí­
mcnt<> <· qu<~ 1 nã<J cJb', tantc ~, <,t• dí~.,tír'/SLI' na fJf<Jf Js5o Ó"
tcrrra<,') <Ja J1nguag<.:rn <<1f1d1;Jtl(J /.,,, fJalavraH J'ara J 1' lo
nunca ~à<1 pl<·r1arn<·nt<· ''rJr6
1
;rí;1•,
1
'
J{etr,,n,
1rn,,s, portanto,
tais paJ;JVfíJ'), íJju·,tar1<j,) t:1s ''111 u111 turl,illl5<J d
11
11
1,gativas
''M ·u J<Jr<Ji111'', <Jiz fJ)(>tJ VJZJ11}1<J,
1
'11.ic1, ti.<) s
o cainpo, o

camJJ'> '>il<1 i1<, l·1f•;1 (>Õ' 1.1 l:LJlt iv:l,1 •11-1 ••• ,,, e>, 115c.1 ~unia pai·
'11..
' '"
n .. , ,, 1
ll fif•'('
11l···
1
1
IJ J 11 1
:3Ji'~ ss
,j ti j
,Jarr1
J • I J

m1
nh

gar
r1a
t. r
tra
mi

JU

~'1tr

.. s l' • l 111a,'
, Q]\·o
los s, 011 ..
sa
1
. PUrte
()\·1n1
. entos
to co
nt seu
que dos ro-
~Jo. i natu­
s1110 tempo

1 distan-
11 imagens.
A JNVENÇÃO DA PAISAGEM
99
sagen1; a paisagcrrl é a vastidão e 1ncu J·ardim ,
_ , ' e pequeno;
rlão, 11ao e a 11atu reza, a natureza são a floresta
, as monta-
1111as ... n1eu jardi111, não sei, cu quis que ele fosse .
· ass1m ...
, .
n1as, ao menos, e mais 11atureza que a cidade ... ".
O "ao rnenos" e o "mais ... que" são as exp ressões de
tii11 afastamento e de un1a aproximação, de um "passo
além" que 11esita e retorrl.a sobre si mest110. Eles marcam
a distâ11cia entre o evide11te e a re to1nada. Eles remen­
da1n co11tinua1nente o se11timento da totalidade, ao n
1es­
mo tempo em que desvela1n seu afasta1ne11to. Que crença
s
urge para manter unidos movimentos contrários? Quem
nos
garante que é justamente
ali que se encontra a resposta
adequada
à questão de nossa pertinência a um
"mundo"?
Não é necessário e ntender o "eu quis que ele fosse assim"
de meu vizinho como a afirmação de uma adequação per­
feita entre a realidade e a linguagem?
O mesmo teria acontecido com o jardim descrito por
minha mãe, e que ela recebeu do so·nl10; e ainda que ela te­
nl1a tido a impressão de que ele era autônomo, de que sur­
gira
por si mesmo, exprimi11do a verdade tanto quanto a
natureza pode exprimi-la, ele tinha, com tudo isso, de es­
tar vinculado a
uma disposição geral da linguagem.
O imperativo ''Olhe isto, é uma paisagem" podia ser
traduzido
por
''Veja como a natureza está toda ligada, ad­
mire a
harmonia que se manifesta aqui". Obviamente, é
justo na qualidade de imperativo que tenho de ver o que
está diante de meus
oll1os. E, ao contrário do que exigiria

11111


..
-


'
'
'


' '
'
--
,
-
~ -
' - --
-
' '
....
-..
-

A percepção da pajsagem é uma ''e·.;'idércía'', ::rna :n­
junção implícita, e não é preciso dizer que a paisagerr é be­
la. Nada se pode jgualar a uma bela paisagern. Ela está dadâ,
apresentada aos sentidos, como uma fruição, um repouso.
''Ali está a natureza, ela que te espera e que te ama ... "
Como toda coisa evidente, essa percepção não lança
a sombra de um problema, e a clareza dessa evidéncia re­
pousa sobre a segurança da linguagem. Clareza que, cor. -
tudo, desaparece a partir do momento em que se tenta a
explicação, a exteriorização, o desdobramento. Todas as
proposjções que falam da paisagem compõem um \·asto
tecjdo, cujas referéncias são implícitas (dobradas para den­
tro). São elas as proposições -assim como projetos -das
quajs se espera o ''preenchimento'' e a satisfação que for­
mam a sinfonia da expectativa.
Abro minha janela e espero ver a paisagem -qualquer
uma, mas sempre uma paisagem. Ela me salta aos olhos


1 ( )lf
1 1 li li· ( t 1 ,, )11 J 1 .111
11
l
tlllll.t c•c111tfll1•l11, 1>1•1lc·ll.1. l~l. 1 .,,ili·,f.1/ 1>l1•11.11111•11fc•
c
•111:1. 1 1
1
,
.1,· Ili <jlll .1 e 11v11 .;1 ,. ,J ,f/ 11.1•,11 J ,,,,
d t'< > 1 l:: l r 11 ~· .1 ( > < .1 1 li < '1 u " ,
'llCJ t'JI) tjlll' ,1 C"1jH'ICI,
t'\.ll<l ll l<>llll 1 •
1
>llll' c'c>ll' 1<'h 'l l<~1.1 ele• <jll'' :.,. 11. 1:1 :1tp1í ele•
1
1
d 1 d ( li f(
1
t' l I ' •
1
'
,
'"''l
l j),1f• 1:111c•111 t• <'t111:.l1111cl.1 jJ<>J :
111.1 ,j
1
1
,
'1
( ) (. {' {, , l ' • ,, ' • '
llfl)J)f()( I
• . , ,·
1,.<> Cjll(' :1l1>c> 111;111c111c•, <jll<' :1lj~<> clc•f/<• ,j, .. i,·i
li1111.;nc>, t' 1>t(t ·" '
. , ,,,, r<.'jJ<'Jlf<· L1111:1 1>cl1f11rl>í1<;:1<> !.<• j>t<><J1s%iJ;
t'Vltl
t'l1lC', <}11(
f I
";\Ji!, lliílS iific) (> 1 LICI<) íl<fllÍI<> tjll (' <'li J>C~J t l~~IV~ 1J () :Jrr 1~1rt•lcJ
- ) f'()J 1i CjlJ(' CLI C'8j)(
1
r;1Víl, () lllílt l l:'IC} e• l{J(J ;Jí'.tJl <~UfJtl~
rlD<> IL'll1 <
1
. li 1
te> ( c..•v 1'1 sc•r... .
fssc) 1150 ''c<>Jn
11

/ [lt lc.·s~ <> St' (i~~;1 11 11 c•111 nltjl.Jtn fJ<Jtlt <J
Sc111 111nis nc111 1 11c11os
1 co111c•c;c> ;1 cluvi(lc11 dn C<>nvc'nié·nti:-
1
dos clcmc11t os c11trc si; issc> é Lfi<> j)('rl urbnd c>r c1uar1l<J um cr
ro cic gra111ática cm trma frase CJU<..' a l<>rne incc>mprecnsí vel.
É assi111 que a fall1a faz aparecer o implíc ito cm toda a
sua extensão: a decepção faz 11asccr a aceitação global da coi­
sa que se esperava. O choque da falha faz surgir ·um mundo
que até então não se con.hccia, descobre o horizonte que a
coisa ocultava: ''Mas essa árvore era urna floresta!''.
Encontramos um exemplo desse fenômeno no quadro
de Giorgion e, A tempestade. É porque o que ali se apresenta
não
é evidente que não encontramos referên cia alguma a ele nem nos t extos nem nas histórjas legendárias, que nós
percebemos bruscamente que esse quadro é sirnpl esn1en­
tc ... pintura; ela pode dispensar a }1 istc)ria, ela tc1n autono-
7nia. É c1uando a pintura (icscc)brc n si 111csn1a.
J • A bl' 1 ti ( fi.I St' d 1 1 • . ' C· 1 li • d. . ,, dá
a ft) . d , · l .cwis Jr rc>, C > 1n,11 l'IJ t.l<l u1111ll<> 'luantcl po 1a ser /
'
rrnt1
o que t• cv1,l • it . J .
t
1
~'eia l''<J>et"lJttvJ e llt• sua !:>Jt1sfnçã(>.

P
0nto

niência
urn er-
,
nc;·\el.
toda a
da coi­
nundo
que a
A JNENÇÃO DA PAISAGcM
105
É no desapontamento, na ''fa 1 ha" e na ausência da his­
tória que esse quadro surge. Como cu, então, saberia
0
que
espero se sou cumulada por uma presença imediata?2
. . . ,,
Nunca ex1st 1u rna1s que um so campo de trigo. Ele
abraçava estrejtamente a encosta da colina, ao pé da gual
se estendia a casa. Férias do mês de julho, o trigo já estava
maduro. À direita do campo, a massa sombria do bosque,
e
à esquerda, não sei mais. Vejo apenas o
campo, que pre­
enche
quase toda a moldura. Entre a casa e o campo, a fai­
xa azul-rio da estrada. Quadro. Procurei a fotografia no álbum antigo. Buscando-a,
reencontrei o
nome que vinha com a
casa, com o campo,
com o bosque, com o verão.
Mas
é a massa dourada do trigo que permanece ali
plantada,
apagando em torno de si toda outra lembrança.
Essa
massa -um mar até o horizonte -pesava sobre a
co­
lina, delimitada pelo duro azul do céu. Um mar com suas
ondas,
seu barulho. A eternidade. Imagem nítida (mesmo
que
seu lado esquerdo siga ausente).
Proposição: ''campo
de trigo''. Todo
campo deve agora responder a essa propo­
sição, ocasionalmente e para sempre construída -naquele
verão, naquele lugar.
- -
2.
"A martelidade do martelo", diz Heidegger, "só aparece quando o mar­
telo me escorrega das mãos <>u quando me gc>lpcia os dedos." Essa "falha" é reco­
nhecida por numerosos autores como
d<>adora de
sentido, especialmente J. Searle,
L'intenlionnalité (Paris, Scuil, 1986) [cm português: /11/encionnlidnde, S~o _Paulo,
Martins Fonte s, 2002 (N. de E.)J, c>u Winograd e Flores, l11telligence artíftc1e/le en
questíon/ (Paris, PUF, 1988). Cf. também: A. Cauquelin, "No tes sur la panne", An­
nales de la Recherche Urbaine (Paris, n1139, sct.-out. 1988).

1
106
ANNE CAUQUELIN
A expectativa é a segL1 inte: que todo campo seja seme­
lhante a esse campo. A sombra da expectativa espera por
preench i111e11 to.
Estou na RER. Não sej por quê, gu.ardej na mão 0 bi­
lhete
amarelo da
RATP .. , com listras marrom. Bruscamente,
passo a achá-
lo ''me11os amarelo do que pensava ... ". Mas de
que amarelo eu pensava que ele devia se r?
O que me l eva
a pensar que ele é ''menos amarelo''? Menos amarelo em
comparação a quê? Então
me corrijo: ''Não é exatamente
- • I 1
0 amarelo que eu pensava, nao que seJa menos amare lo,
mas é que ele não é 'do amarelo que eu imaginava'''.
Tento representar
para mim mesma, ao lado do amare­
lo do bilhete, o
amarelo
que, a meu ver, ele deveria ter tido.
Mais limão, mais claro, mais alaranjado? Não consigo deci­
dir.
De onde vem a idéia que eu tinha da cor do bilhete?
Como
eu podia ter uma idéia de cor na ausência de
qualquer cor concretamente presente diante de meus
olhos?
E como guardar essa idéia de cor de um outro ama­
relo
diante da realidade daquele amarelo ali? (É um
''falso"
amarelo, eu pensava.) Você poderia me dizer: ''Está bem,
então me pinte o amarelo que você acha ser o 'verdadeiro'".
E, naturalmente, eu seria incapaz de pintá-lo.
De muito longe, sem dúvida, o carnpo de trigo dou­
rado impõe sua
regra. Assim como o
jardin1 so11hado por
* ' .
'º R: Réscau Exprcss l~egional [l~l'rr<1via E\.prcssa l~eg ior1 .. 1l}. R \TI': Regi:
Aut .o~ome dcs Transports JJn risicns [Ali mi 11 ist raçâo Autôt10111a dc>s Trans~
1
orte:>
Par1s1enses]. (N. de T.)

107
111
j11t1a 111ãc e cm comparação com o qual todo jardim deve
preencher sua condição de satisfação. Os jardins do implí­
cito são os jardins do retorno.

1 IVE.. L
UI\f ARTIFf 00 INVIS
Tendemos a opor a retórica, obra um pouco demoníaca,
que cob
re o campo da persuasão, do falso- aparente e das
argumentações viciosas, ao justo sentimento do verdadei­
r
o, à reta razão, à ''verdadeira'' filosofia. Desse modo, ge­
ralmente limitamos
nossos direitos às operações pontuais
indispensáveis à condução de um discurso convincente,
em outras palavras, às ''figuras do discurso ''. Dispositivos e
efeitos especiais, adjuvantes da fala, que o reto pensamento
deve gerir em prol de seus interesses. Herdeiros involuntá­
rios de
Platão e formados pelo sistema educacional
1
, man­
temos o rétor na superfície das coisas, no artifício da arte, e
concedemos um lugar restrito a suas malícias .
.
1
·
~obreª
retirada do ensino da retórica cm proveito da ciência nas escolas
e universidades cf 0 t' d A C , · d ·n-
~ . ' · ar 1go e . ompagnon "1-tart)·re et resurrect1on e sai
te Rhetonque" em B b C · ( '. . . -r . · d ~l i-
nuit,
1986
). ' ar ara ass1n org.), Le pla1s1r de parler (Paris, r.d1t1ons e t'

r.;:.
--
...
:::
05 p-~OC.é'S.5-05 Cm- :!'J{ ..


-.. ..
!.'.
..-;;: cr. e:.:
--.... -
---
-
-JS
.,
.rl ~
!'..;_
--
----
~-
_._ -
- -.o;:
• •
..,e-'<l
----
ri---,,_,,..,. __
~- 1.C: ~=-----
"'
-.
,.. .... 9tf.,,.... ~-
_ _.. . --.---
.---1'1...,,-. -----
.. -
~----....,-.~ .,,,-. -..-.. .­
_,..,_ ,,.. ----
,,. -• ,-..,,....,, ~,.._ --1 --.. -. ,,,,.._ ._._..,,...__ _,,.
..
,. -
_,e.
---
• •
.,~,.. ,. ,,---:::.-
' --~ --
----,

-~r.- ,.._A:'"':'
-.-.-
__ ,_ __ J
-
- •
---~ --

_,,_ .......... _ ~~ ..... ~
-,,., ~ -----~ ,,,, ......

e
--
-JI"*----
--..,,. ____ _
~ ,,... .,--~ -
-
~-...--~ -­--;---------
,.. ..
... ,,. .. y:
---
-----

,...
-----...-.,
-
,,. -----,.,.........: .~.....----.,::::.__ ----..::.
-----
·------
____ ,....
,,.. -
-----
--
---
-
--~-
,..,,..... ,,,,,,._ -.,,. --~­--....--
- - .... ~-- ---J
-
.,,
_,. P".""'.--~--- ~ ·
---1 l '~ ______ ... ____ -
,
!!:.,._,.._..,,.._,.,,,.. ---A'
---
------... --
----='------~- ----·---> -
--,..
-
-~
....,,, __ _
--
-ri-; ....... ~...,.. __ .. ._.-;;.
-,,._ ---_...___ ' -
..,
--
--
• •
--
.. ,,. . _, -
----OW'S -e -.-
-·-
• ,._,..
• J
({]

-e -* ...,.,....,.
_,,. ---_;,.... ......
e
---

-..--,-...
---
---..r-.
1.t.:: ~'J
-
• ,.
e
_e,

-
G
r
_,,,....,... .. -
-----~ ~
~.~l!l_ ----...
-··,.,<1
- ..,ot_ _,
-::e-.f;;
---.... ---::1 "'.'. -

"
..
e. --
-e
----
e ....
--
-
-
-~--
1.c~ .1. ::G.
-..
e ..w~i..:~rra t:1í~a.-

110
ANNE CAUQlJELIN
1 05 tDi1to só nos é perceptível por meio de
do n'1 qt1a cren1
, . e 15 él po11to ci(' qL1crc11do rasgar esse véu
t1111 vct1 de 'n1ag r '
, trar11105 muitas vezes confro ntados corn
0 _ nos nos ei1con , .
vaz10. 1 t1 1Cl e . A . . ·t' ·0 da iinagem ncccssar1a para que se assegu-
·d de para que dure o prazer, a tensão da vida
re a pere11.i a , . . ·
N , ·a transformação da realidade em 1magem e ou-ccessar1 . '
tra vez, da in1agem em realidade: nesse duplo movimen-
to, algo, um sopro é transmitido: a retórica pôs sua pitada
de
sal.
Pois, revirada, a realidade não é mais exatamente a
mesma: ela é duplicada, reforçada pela ficção.
Tornemos o exemplo
das xênias
2
,
para tentar perceber
essa operação mágica:
escamoteamento e reflexos da reali­
dade
em espelhos, com seus numerosos duplos.
Tomemos o costume
de enviar ''reco rdações'' aos con vi­
dados que foram recebidos
para jantar. Trata-se de presentes
''in
natura'~ cestas de frutas, co midas especiais, pr atos prontos
que serão consumidos como recordação do jantar. Pereniza­
ção de
um momento que se repetirá no dia seguinte.
"Co­
mei isto em memória de mim." Freqüentemente, esses dons
in natura se fazem acompanhar de um quadro representando
o envio.
Consumindo-se as espécies, olha-se para o quadro:
''Isto é uma maçã''. Desdobramento da coisa em seu ícor1e.
Entre o tempo da refeição já passado, o da refeição que se po-
de refazer e a recordação desses dois tem pos, insinua-seª
·
imagem desse duplo momento qttc eter11iza sua eÀistên-

1 12 ANNF <'AllQlJHl.lN
llfirrll .. l\.lt), ,1lg() 1..'<H11t) 11111.1 rt'Vi11illtl\.1<> tl«l rt'tlli<.1'1cle, Ctlfin'l
l'.lllllllil.i,1 fll)r t1111 .. 1 l1g,)<.:n<> <.'()111 <) ll' lc> c.lt' LIS(> C<>rnLirn . . ~
1•ss1..' 1..'s11,1 ) tll' 1 Í!~·l\ 'tl<) 1tt11c.·ic>11.1 t' <>111c) <l (111 icn rcf erên
1..·i.l 11c..)SSl\'t'l l1tlri1 tl r<.'t1liti.1llc tl .. 1 i111nge111. Cc>tTl cfcit c>, C> <.lue
l) liisc.'ttrS<) J~">rl'St'11Ln 115<) l .,n1 n1<.1is lignç5o corn urn objeto
1..it) 111tttltit) 11t1tt1rnl, 111as co111 <) "tiilo" que o <lntcccde. Seu
''lllt)r c.i<.' ,,crcittdc se instala 110 tecido dns citações invoca ~
1..iélS L'<>nio OLlÀ ílio, e st1n cocrêncin advérrt não de st
1
a rela­
çii<.1 c.·o111 ns coisas, n1as de sua relação con1 os outros textos
qt1e o uso co111un1 dá como referências.
Interpen etram-se no mesmo movimento realidade
st1~1osta e ficção presente, até que sua diferença se esvae-
~
ça e111 ttn1a passagen1 quase-invisível. E o caso de Quíron,
o ce11tauro, do qual Fi1ostrato diz que suas duas partes he­
terogêneas formam um todo, sem que se possa dizer onde
acaba
o l1on1em e onde começa o cavalo ...
Essa passagem é exatan1ente o lugar do discurso retó­rico, que permit e, por suas figuras, a transfor111ação do 110-
me em coisa e do real em s i1nulação.
Com as xênias, não estamos mais no desígn io do pa­
triarca de Constantinopla, qL1e era o de uma ultrapassa ge111
do ícone rumo ao que ele designa inas não pode nomear -
o que exigjria recorrer a um pla110 superior de r ealidade e -
pi ritual-, e sim em uma prática qL1e pcr111 ite e sL1scita t1111a
trar1sação, um transporte da coisa ~1ara o LiiscL1rs e LlO Li1s­
ct1rso run10 a si n1csr110.
De fato, csta1nos llél raiz das co11Li içõcs de possibiliLia­
de para que un1a in1agem assL1111a o lt1gar de natL1reza.
'

'
l

2
Cl<1\1' f )f ()f~ l<A 1: l'J,,QUf :NJ\S f·(JJ{MA S
A operação que garante o transporte de uma realidade
. ,, . - , .
para sua 1magem e JUStamente uma operaçao retor1ca, per-
tence
à grande arte da
ilusão sedutora que os gregos, ao
mesmo tempo, instalaram e renegaram
1
. As xênias e o en­
gano que solicitam de nossa inteligência são um exemplo
consumado dessa grande arte. Quase exatamente, seu pa­radigma, a própria essência do transporte, está ali repre­
sentada.
Ali o artifício alcança a natureza que ele suplanta
ou
à qual substitui.
Desse modo e no
que se refere à questão da paisagen1,
essa grande forma
da retórica oferece sua estrutura geral à
elaboração de uma articulação específica entre irnagen1 e
r<."talidadc: a perspectiva legítima. Con1 efeito, a perspecti­
Vél 1)r('t\11chc a condição c1L1c ri I<ctórica exige: ela gara11te o
l f~ Cl <flll' lllllH 110\Hll l'<llllO ,1 .lSllll'l,l l'Vltll'nl'IJ, ('()Ili() bênl O 010Straram
] 1
1
V1•1nc111I l' M. f)1'lll'n11e L'n1 /,e•:.'""''-; d1• l'i11t1•/l1,~1•11c1• , 111111t'fi$ eles Grecs (l.,aris,
f lrllll lll1ll llHl
1 f
1174).

114
. r· . 1 (a representação de objetos naturais
te do art1nc1a
transpor tural
(é quando veremos todo objeto no
lano) para o na .
no P . formaliza a
realidade e faz dela
uma
aço) A perspecnva
esp . ,. considerada reaJ: operação bem-suced1-
imagem que sera
lém
de toda esperança, porque permanece oculta,
da para a
,. . . ~ .
.
seu poder, sua propr1a ex1stenc1a, e acre-
porque ignoramos
.
. fir mente perceber, segundo a natureza, aquí-
d1tamos me
11
,. •
, lizamos por meio de um habito perceptual"
lo que iorma '
implicitamente. A própria dificuldade de tomar con sciência
dessa ''evidência-'' implícita que é a percepção em perspec­
tiva mostra bem a fundura de nossa cegueira: nós não po­
demos ver o órgão que nos serve para ver, nem o filtro nerr
a tela p elos quais e com os quais vemos. E, do mesmo mo­
do
que não podemos nos situar fora da linguagem para falar
dela, não poderíamos nos localizar fora da persp ectiva para
perceber: mancha cega do olh o, da linguagem, macula.
Então, é essa perspectiva, invenção histórica data da,
que ocupa o lugar de fundação da realidade sens ível. Ela
instaura urna ordem cultural na qual se instala impe rati­
vamente a percepção.
Mas também
é precis o, para que eu a des encadeie, que
a realidade física seja tornada
por operações complementa­
res
de adequação, de adaptação do percebido ao
de,·er ser
percebido, e isso por
meio de um reajuste pe rmanente por
meio da linguagem.
Domínio dessas ''pequenas fo
rmas'' que são as figuras
de estilo. Com elas ornamos a realidade, transformamos a
aparência
a1·ust f .
' amos os atos a nossos deseJOS, nossas as-

o po,
) n~rn
> rno.
t falar

ta a a
• Eia

.. an-
• ..
..
A tNVFNÇÃO DA PAISAGLM
113
pirações, OLt 11ossos fantasmas, sejam elas a metáfora, a
111ctoní111ia, a lftotes, a hipérbole, a ironia, o contraste, a con­
de11suç5o ot1 qualquer outra "figura" de estilo ou "efeito" de
lingL1age1n
2
.
Se o implícito se instala justamente no quadro da re­
tórica
é porque não temos consciência de utilizar artifícios
para perceber,
admirar e desfrutar uma paisagem: acre­
dita1nos
estar simplesmente fazendo uso de nossos sen­
tidos
... nunca o céu foi tão puro, a realidade mais real do
que
quando contemplamos essa fuga, ao longe, do mar in­
finito
... Conjugação de uma forma simbólica e de transla­
ções
mínimas de sentido, esse mar se torna uma planície e
o campo
de trigo, um mar ... E, se o trabalho do artista-pai­
sagista
nos aparece exatamente como uma formalização
estilística - e ali
reconhecemos facilmente que sua obra é
retórica
-, deveríamos confessar a nós mesmos que efetua­
mos
um trabalho de composição semelhante quando nos
aparecem as paisagens de nossa predileção.
Para não sermos explícitos, nossas próprias constru­
ções paisagísticas,
sejam elas reais (nossos jardins) ou fic­
tícias (nossos sonhos),
são da mesma têmpera de nossas
figuras de linguagem.
2. Em suas clássicas Figures du discours,
Pierre Fontanier enumera os d~­
ferentes "tropos" (ou figuras de linguagem), bem como as "figuras", pelos quais
dizemos maís ou menos o que dizemos. São essas figuras e disposições que são
igualmente convocadas
em atividades práticas como a manipulação de mapas e

desenhos, de "figuras", agora concretas, das atividades criativas, e ate a perc~p-
ção sensível dessas criações. Aliás, a estrutura dessas "figuras:' ~u tra~~formaço~s
e transportes do sentido são utilizadas, como sabcn1os, por varias a nal1ses da psi­
que (Lacan, por exemplo), dos fenômenos sociais e das instituições, e, no plano
das imagens,
por uma certa
se1nio-análise .



........ .. , ...

. ......_ ...
.........
_,
• -...



, .. ·-. ....
.... ...

' .... ... ..
-...
•••
...


....
.......
-
-· ...
....
-
•••


·-' ...
.. .
...
....
..............

..
... ..



..
.....
••
~
......
... ...
••

'
......



....
. ' . ...
••
.;:
-
..


'

••
,,
' ' •
. '
• ••
....
..
--

-
.. ..
---

-
...
--
. ,,_ ...
.... ..........
..... ' .... ~
....................
...... .. ... ., ... . . ...... ... ••
• -. .,... ..
::... ............. ..
...


-
• • ..
·--
• •
'
••
..

••
... ... _,
~ ::_
'
••

...
·-_,""'
'-...._.. .. ...

·-' . -
••
... •
_, ... .
.. '" .. ..._ ... ...
-
. ..
• ....

,,
...
...
'.
... ~
• .. , ................. ....
... ... ...... ' "''""
-... .... .......
• .... ... .. ,-..., --...
...... -....":""" ........ __ -...
-...... .,.,,,._, ..........
... -
' _ ............ -"' ..... ., =-~:"'":: ':
....
.......... . ' ....
• .:>
. ...
·-
---•
-
--........
..............
• --.. --.............. _
-__ ...._ ... , '
::-........ .._ "t" ....... \..
..... _,_ ....
-----'-........

.,... -

-·-
-....,.-.... ...,.__ ..::. _._ ...... _....__ ....... -




........ -..:::::
........ , .....
..

---.
-""'"-'
-
~ -

--............... , .................
-.... ~~-' _.., ... '-:_,_ ...

-..

-
•'-.
--
\;..... ... :..
........ -: ,..... ... -.:ac-~
.... ..... ..... ""-'---~ ............
••
-
------
•• ..
...
-..... -.._.. --· ...... --
' ~ ....................... ~ ..._:.
• ..,
'
J:
.;:

.. , .......... ,
.. "" ........... _
... • ...
• . ... -






., ·" ......._,-.. .... , ...................
-""'
•'---" ... "' '-•• ........... ·-
=--... ..... ..._;. ',_
-....
., __ ... ,_
...... '-......


' ....
' ..... ,
.. ..
• .... -~ '.-.. ...
...... .. .., ..........
, . ..
• ....

-...

. ' ....


.,, ' . ...
............... ...._ ....
-··
...
. ...
• •
... " • .. '.
... ' ...

' " .
-
-,. -~ ~
"-... _,,......_ ... ..._ \... <...\. --•""
•••
..... •'-
.. ""'"" ....
........... '"'""
-· ...
'--....:..-
e.r.
-
-.)
.. ...... 1~

.... __

.. ':l -'
... -···-
• •
J .. n'"1a r
"


-"

• ..... ,

--.. -.

-~,_ ..... ~
~ ............. ....
••
.. ~ "' -.....
......................
J. l

-. ....
---..
-
• . -~
" . "
. . '
. "'r) .,
....... '"' .....


• • ........
. '
t l :ic
' ..


... , ~
""'
• ..


• ..
.,
-
......
•••

,.,. ' .. -
r
'
t
• ...
• •

' . ....
. ,

•• ....
• •
' . ..

• ..

....
-
~ ' ..::
-...
.... .
l


••


' •


'

au
• •
-

E
• •
d es~n ·a\.: 1 l ••• f l
• ....
• -




,,
' . ,.
... :1

..
. ' . .. ..

'l


. .

''l


'
..... ·-

• ..
.,
• •
••


• ••
t • ••

t
ti"


'l\,, ,,
.,
l .li!.t
' '


J' ,_
f i
, ... . ~ ....
'
t l . .. •
t'' (.l ..
,tt'li
l '
l l~l·
t l 7
J ~l ]lll '1.): :\:11. tt"t111t) '1.)Illii 'l t'S tit' \'t'r 1111.. l1lll11t't1t"lli i.,1 lt'~
it'~C'jc.) \:'Ir :il~ ) 1.i : r1.'F 1.1t1s .. 111t1.' l1lt :-.rl ir i~.Jr,1 l11t i il 111 .. 1-
r1. .... : i ri.tt'11 ',1t) 1.ic rL'F'l1.)t1~ .. 1 r 1.it s ' t11t' '1· e' :it' it'~t rtt t .. 1 r
p.1iStlgt !IS tl'n1 lt"lll ltir l.1s t',)llS.lS 11 .. 1 \'i(l,1 St.)1.'i,1 l t' i11lil\'l it1.1 l.
Pt ,lt-rnmo$ pni 'Ut\1 -la~ ~t'n1 ,1 'l'rlt'. ·;i dl' l'lll'~.1r .1 t't ' 1
tf:lr .. 1 rç~l t)stn.
s 11' )tl\'l)S, l1Llt11t)rt'S, l')}'lt'il'l11..)S r.1.'t.)t'S .. 1 lt)t~ll) 'i,,
c1.)~tt1111e 1s e s
1
· l · l
• l '•' ~ lltllll t.)lt ,l. ,1~ t.)l 'l~t'l1~ : l)t'l) 1tll11,1 i '~$,1.S
'
! ít'tl'íl~, s 'OUS,L t'Sd,l!t>t'(' ,1 l \J't'.:t,11i\ \l t' su.1 :-,ttis(\,1 . ,
r:\
1
'1.)f1.)lli1 111) , · i ,
o l l)()~ ,lJlll 1.1 t'l)) 11,11.i,1. t· \1..'t..'1t '· t, l ': 11 ) ',)~ i
lll))i) fl)l)i l ii l' . i
•l , . , . ~ ' g llll~ltl\ \t ,\. l::sl l ! <li jllt' St'I \1 d li i j,1 .1J~;l11\1,\
... lt1~t<l\ ,)() li l l' )' 't t. ..
,,.. • · t r l L 1.l l\',l 11,lt.) l\.'~)llll~,) t1~1 i11t 'tl\, l ~i l'
t-H:n.
1 l'l'l'Ssitlll1)t.)S l')tl~
'l . ' . . '
ti t ,,... ' ' l l
1
,\!" l't ~'111 t~~,l~ ~\.'t1t t l1lt.'t1t.1 ·~ \i,1 ~'
,)~\ll) l'lll 111 li ) • .
l n11n1,l l]lll' n.1d,1 h'1n .1 \'1 r i\1111 ~<'nti1n1 nt '

-...
-r·~c-: •
-

..
..

; 1'1\'LNÇAC) 01 PAIS1\GFt\1
117
u111 Re11oir, u111 Matisse ... "; "Sim cu e> imagi·na -
' va, nao o
. . "" .
i111ag1nJ\,',l ass1n1 ... e n1a1s ... como dizer? ... ".
[: tcrí~111 1os o sentimento confuso de que há condições
,1 scrt.~11 1 prccnch idas ou não em nossa expectat iva. Satis­
feit,1 ou não em nossas " intenções". Mas o que se espera
que
seja preenchid o? E considerando que não o soubésse­mos, estando simplesmente no fluxo dessa expectativa im­
precisa, corno poderíamos estar satisfeitos em apreender
algo que se assemelharia ao que esperáva mos sem saber?
Em outras palavras, corno definir a satisfação, o prazer da
paisagem, se a forma ainda vazia de sua expectativa não
está de ant emão esboçada?
O que causa ou impede a satis fação bem pode ser, à
primeira vista, da ordem de um estado de humor, de matiz
psíquico: // ão tenho condições de ver monumentalidades,
desejo
ver algo de repousante, quero ir para o meio do ma­
to ...
". A "intenção" de repousar, de se mexer e de desfrutar
paisagens ten1 múltiplas causas na \rida social e indi' idual .
Poderíamos procurá-las sem a certeza de chegar a encon­
trar a resposta.
Os motivos, hun1ores, caprichos, razões, a infància, o
cos
tume, as casas aqui ou lá, as origens: nenhuma dessas
pretensas causas esclarece a
e>.pectati''ª e sua satisfa ção. _-
psicologia não nos ajuda em nada. E-xceto, tal,·ez, no caso de
uma fobia diagnosticada. Isso porque, sen1 '-iu,·ida al...,un1a
a satisfação da expectati,·a não repou 'ªna ir1tençã' r si, "'l ' -
gica. ecessitamos buscar as premissas se11tin1~11tJis '-"la sa­
tisfação num don1ít1 io que 11aLiti te111 l1 ,·cr ~ )tl1 l s 11tin1entc


1

'
J

'
r

1
f
'

1

118
ANNE CAUQUELIN
111as com ... a retó rica. A satisfnçã() de que falo está relaciona­
tia co111 n satisfação de u n1 cnt.1nciado. É preciso que as con­
dições de sua enunciação seja1
11 satisfeitas
3
.
Que a paisage n1 que se e nuncia diante de mim e me
oferece s
t1a proposta preencha as condições de sua produção
entre o espetáculo que te nho diante de mim e a forma geral
na
qual ela deve se inover para que eu possa apree11dê-la.
Dito desse modo,
tenho de concordar, a afirmação é um
pouco dura. É difícil de aceitar. Como a
"natureza'' pode ter
necessidade
de um simples enunciado? E mais: como pode
ter a obrigação de
responder a uma exigência lingüística?
Is
so realmente pode parecer absurdo, se considerar­
mos o fato de que a paisage1n não é a natureza, mas sua
''fábrica'', e que, como tal, obedece às leis de uma produção
de inspiração lingüística. Asserção que também parece­
ria absoluta demais se não admitíssemos o ajuste constan­
te dos dados sensoriais às formas-molduras por meio das
operações que os transformam para a elas sujeitá-los.
A
''retórica'', tal como a entendo
aqui, compreende o
conj
unto das operações que tornam os objetos da percep­
ção adequados à forma simbólica: a passagem da realidade
à
imagem, por um lado, e, por outro, as operações feitas so-
,
3. "As condições de satisfação de um estado mental ou de um ato ilocuto-
rio são as condições do mundo que estão represe11tadas 110 conteúdo representa­
tivo e que de vem prevalecer para que esse estado ou esse att) seja satisfeito ... To~o
ser portadc>r de tal estado intencional, na dircç ã<) do ajustan1cnto, é capaz de di_:·
tinguir entre a satisfação ou a frustração dl'SSe l'Stado 11or t1ue ele~ a representaçao
d~_suas ~ondi~õe s de satisfação ... " É assin1 tjur o trndut<>r francês de J~hr i ~ea rl:
(L
111
te11t101111a/11é, I'aris, Éditions de Mi11uit, 1986 [c1n pc>rlLtgLtês: l11tt'11c1011nlidari'
São Paulo, Martins Fontes, 2002 (N. de E.)I) a~1rc sc11la a nt)ção de "condição desa­
tisfação" (p. 325).
b
p
g
r
r
r
t
(

(
]

y~\.[l\.Ç \O D PAISAGEt\.1
119
t1re o se11tido dos termos. Passagem de
. -. . - um termo a outro
P
or assoc1açao l1tcra1, por ad1çao ou subt -
. _ raçao, por conti-
O'ti idadc ou tragrnentaçao ...
o
É assim, por exemplo, que determinad i· h
,, a in a no ho-
rizo11te e11trara, por contigüidade na desi·g -,
' naçao 'coli-
r1a"; que o vapor cinza gue percebo no horizonte marinho
11ão será visto como montanha, apesar de ter exatamen­
te a rnesma forma,
mas como nuvem; que os planos se es­
calonarão em perspectiva, mesmo que eu não distinga as
arestas; que o prado será verde, mesmo que o matiz esteja
mais
para o violeta; que os gregos não viam o azul, porque
a forma não lhes foi dada no conteúdo representativo do
mundo tal qual ele devia ser ... Todo um empreendimento
de retificação
se apodera dos objetos da visão para torná­
los
semelhantes ao enunciado ''paisagem'', que é um enun­
ciado cultural.
Se existe um sentimento de satisfação conferido pela
paisagem, é que existe uma forma que espera uma satisfa­
ção,
um preenchimento. Isto é, trata-se aqui da adequação
de um modelo cultural ao conteúdo singular que é apre­
sentado. E, a meu ver, a satisfação aqui é justamente da or­
dem da retórica quando, fato bastante comum, uma forma
cultural é preenchida por um conteúdo que a ela adere, ao
passo que, ignorando a grande operação geral de
inter\·er­
são da paisagem em natureza, os espectado res acreditam
''ver'' o que esperam de uma paisagem natural, sem reco­
nhecer, a esse espetáculo, uma arte ou um estilo particula-
,, .
res que possam dar ocasião a um juízo estetice.

-
-

-
-
-..
-
-
--
-
-
-
-... .,,
• •
-
"' -• •
. .,.
...
--
• ....
'"' -~ --....
-
---
., ....
--------
-=----:...""
-

. -
-3 .,, _ ..... -.. ... ...... -· -----
. ., -
" _ ....... ---"' .::---.. --_ ....
.. .-.......
---
..
-
-
--~ ...
-
---
----
--------
--., ""'--.,-
.J.:J :...;;..» ....__~
--
-----... - ---
~~ ~--
-
. -
,.-- ~ ----~
~=--~ -l:
~ .... -
--~---­
" -
-
.:..,-.::.:-------::,
_ .. , __ -"""' ... ---

-...
-~ --~
----
__ ...,_
.,. _....,, __ _
--.::i.::.:::.,._,_ ----...:::--
----~- --- --
--~-­_ .... _ .. -
-~--- .......... -
--------------
~ -:-.......~-~-...
z
----
......... -_...._ ___ _
--
..
:.------ .... --­
.... J.
______ .....,
• .::...::---11 _......__
--
--_..,. _____ _
---
--

-----,---~ -
_ .. ...,._ -
... -__ ,., __ ...

°"' .... -.,
'1..:,&J'll, ... __,:....~
-
.::.~.:1.-- -... -.....__ -........ __ ....._ °"-
-

::s-~--~---­-'-· --..-.::...-_ ~
-
-
" ---.----
..._., -' ---'
---~~
~
-
~--
--
--.. ....::-

---
-
--....--.::i .... _ -.. •-"'--. -----
--
·­............

--
..
-...
--
~ --
. -
----~ .... -
- - -'li....~-~ ........ ::;_ .•

--
.....
-----
-
--~-~ ---..: .... ~.,.
=--~
---
--
-
.....:.
--
--
-~ .. -~ ·---
-._::,;-' . ---~---.. :::--::::.. . __ ..... -..,_ "--------
. ..,
------_._ --
------
---
--
----
~ --... _..._,
--
-.... .....,. __ --.;
--., " ----... ... -----------
--
___ ,
--_,, --.. ---------'-------"-
_..._. _ _.
-~ ----
-- ---------~:..:.t-
--..:;---.,
--. -'---
--
~
---- ~
~ -
--- .. ---
--
-:-~--
-.--..... --"---
--
-
..... ---------........ _._ __ ;: U!J .. ::-_ .. fio,,.
-
--~-----
- - .... o •
-~----~ ......... .-.
~
....
...

---..._ ..... --­
__ u
-
---._..-= --
-
-
.._ ------­.. -
----
... _ """"""'--·-----
-~---
--- ..
-"':' -~ --z -.;:,.
---~--"'"--
--
-
-,.::) -..::> - ..:>
-----·--
----
--~-
- -~
-
..:::::.-.. - - .;::;;,• ... -~ - :.:::.~ -.:l ------..,,.,____ ____ .........._ _~ .... -~ -~'
--.;:a·-~ -...,---,.-.----...
--------
• •
--·
~--.:::t __ ._

-
-
-
_...., __ _
-------
~-----... --.... -- -_:..-. .... --
__ , _____ ..._.
--..--'"' -­----- ,.._..__ ----
---.-----..... ...--... -----"' ---
......,,-.....-­
' -....... __ -----
_..__.._ ___ _
_,e:-' ~~~-.:::"
-
.:::......._---.:: -
• -----------
-----
"""--... ....,._......_ -
-
-----
--------"'-----------'-----.... ----..
..... ...__ ---,..._ -----
~-
----
-
---
--~­.. -­---------·--

-.:::.
---
::----··---­--
_..,,.,. .... ---~
----
....
-
-.::.-~--~ __ ...._..._ .............
-
...
..
-.... _ ..... __
-
_.._ __ _
--
·--

--
......... --
..... .........
-..
....
-
...... _ .... _ ...
--
• ---. ----.. -
-------------
-
._ __
-.... ... _ ..
-....

..

-_.......,_ .... -... .. ' -
---........... ----

------· --___ .....
--.... , __
--
-. -
-
, ....... -
-· ..
• •
o
-
-~ -
a
-

.. -.. .
-----
---:=...--
---7il ---
---..... --
--
--
: ..
-
e -
--
----------
-
------
-..::.-es:
---
-
--~~
---~ ~
-·--~
--- -~...::J
""
-----
_, ___ _
-
~----... _
-
-~ ..:-
--..
--........ .:.
..
-

• ...

A Jf'.f\'ENÇÃO DA PAJSAGB.1
121
ção, o sentimento de uma legitimidade ,
. possivel se confunde
com o prazer proporcionado pela coisa. "Está muito bem-
feito! Belo trabalho!'' e, prova a contrario d
1
, .
, esse egitimo pra-
zer se passa à legitimidade: "Está concluído d .
,
na a mats há
a
fazer" ... Desse modo, a satisfação aquela q
_ ' ue acompanha a
contemplaçao de uma obra ou o mane
1
·o de um· t .
ins rumento
alimenta-se de
um acordo expl ícito e, se resta alguma
dú ~
vida acerca desse acord o, parte, para satisfazer a si mesma,
em busca de um fun~arnento possível. Por trás da obra, ela
buscará o
plano de fundo -o criador, sua inspiração ou sua
intenção
-, buscará causas, explicações. Julgar e avaliar, no­
mear e denominar fazem parte da satisfação. Um prazer que
vem coroar o esforço, corno
bem diz Aristóteles. Por sua vez, a paisagem não tem a mínima necessi­
dade de legitimação. Ela parece se bastar a si mes ma, em
sua perfeição ''natural''. Tudo se passa como se se estabe­
lecesse
uma transparência entre a ''natureza'' e nós, sem
intermediário. A paisagem seria transparente àquilo que
apresenta. Teríamos, graças à paisagem, um olhar
"verda­
deiro'' sobre as propriedades da natureza, que aliás, com
o
conhecimento científico, por exemplo, deveríamos penar
por muito tempo para perceber e conceituar.
Essas reações comuns diante da paisagem são uma
exceção a nossas condutas habituais: pomos à parte a pai­
s
agem, ela não deriva das categorias de juízo habituais que
jncidem sobre a adequação de um objeto a seus critérios de
validade. Nem das categorias de juízo estético, nas quais
sempre intervêm o trabalho da história, o tempo da obra,

-
a
z
n
a
e
ê
(
(
f
' •
122
ANNE Ú\UQU111
· .IN
)tl f)t'Vl'll1()S rl'C.'llCILI DCI rn r, jLl 11ltl r, ílSS<'gurar no
o J)l'SS< ' · ssos
't 1 >s cri·1r ví11cL1lc>s, int's1nc> <1L1t', C<)m<> f rogmc nt1· t
r<>t1<., • sas
tit'll'S r1t>s al1ste11l1n 111c>s'' · Nncln ~ I issc) ~C<> 11tcce diante d~
').
1,·snt,eiii é1Lilor éllgu111 él cc>1111)<)S
, eis a 11éllurc%a 5,, .
1 < ·'., \,Arg1-
ti,1 cc>r11r">lctc.1111c11Lc nt.1a cios ()11clas cio lcrnpo, cabeleira des-
grcrthntici, nll1ci t:1 à l1istória, nll1cia à mcnlira.
Ccrtaincnte cegos a todc) o Lraba 1110 de formalização
p()r
111
cio da tela simbóJ ica da perspec tiva, acreditamos es­
tél r c
111 relação direta co1TI aql.1i lo que ali se apresenta in­
getiLia1nente. O ii1termediário labo rioso se apaga. Nós
atingjmos, ó que felicidade!, a divina transparê ncia de um
sujejto e de outro; un1, humilde e minúscula p oeira da vi­
da; outro, a eterna e inominável nature za.
Não obstante, deveríamos desconfiar dessa fábula, à
qual aderimos tão forteme nte. Com efeito, por vezes, a per­
feição nos escapa. Sentimos falta da entrada transpar ente:
ela não é dada por si ... visto que penamos em sua bu sca ... A
paisagem pode nos aparecer como o resultado
de um traba­
lho e assim escapar a s ua perfeição: quando supom os que
a natureza foi desgastada, aviltada, con taminada pela m a­
nipulação humana, dá-se a falha. Ela se manifesta no d e­
sacordo existente entre o que pensamos ser a natureza e o
que vemos nela.
A paisagem não se cola mais a seu
''fundo",
a seu solo nativo, ela está como que deslocada, n1udou de
lado; há um hjato, um passo em falso, e não co11seguinios,
r enridade
4. Uma filosofio do fragrnc11l<) rcal1111.'ntc tcnt;;i ron1~1cr con1 a !º . , _
d
... · S "ra ciuc ~cin
as causas t' se cc)11re11tr í.l 11a l'rórriri (>l1ra t'111 ~ul1 '1Ltlc) r1.'fcrcnci,l. 1;; ·
1
(P ·5
. " f t!ll t ar1 ,
prc cc>nscgue? A esse resf>l'iltl, cf. A. t.,nuc.1uclin, Co11rt trc11té 11u. ragni
Aubicr, 1986).
A'
q
f c
d
tl
tJ
a
'
e

123
c..1t1alc..1ltCr c.1t1e seja <> esfc>rçc> quC' façam
~ ~~ . , . . . os, atravessar esse
ft)~~ o. 1 11(1lltrLzJ sai 111tnctn clcssa ave t
. . . n ura, mas a noção
c..lL' r1\11~\1gc111 ll>t élbnlatl a; "iua pc•rft•icãc>-;
~ '-menos certa e, se
tr,1l11.11}1 (11111c)~ f)Jra re"itabclcccr esse ac<>rd · · / .
. · · o or1g1nar10 en-
tre 11,1tltll"/íl e ~1a1sagcrn, o resultado de noss f
<>s es orçc>s se
1.1~1ro'\11nará bastante tanto da satisfação (do de · .
ver curnpr1-
tio) co1no do sentimento de uma perfeição.
Experimentamos o mesmo tipo
de sentimento diante
do embelezamento, quando os criadores de paisagens aca­
baram, poliram a natureza, dando-nos então a impressão
de que essas mesmas qualidades são levadas
a seu ponto
extremo por
um artifício que podemos analisar.
K esses casos, a paisagem provoca uma decepção ou
uma satisfação, do mesmo modo que um objeto fabricado
provoca
um juízo a partir de critérios explícitos.
Mas,
na verdade, na maior parte do tempo, é o caráter im­
plícito da paisagem que convoca ao sentimento de sua perfei­
ção. A rosa é sem
porqitê. E é por isso que ela está na perfeição ...
uma obra de arte pode às vezes induzir esse mesmo senti­
mento de perfeição.
Ela também é ''sem
porquê", apresenta­
se como
uma natureza, posta ali, em sua própria essência de
coisa natural. Não se pode explicá-la, isto é, desdobrar a do­
bra profunda em que ela se funda, nem
excesso nem
ralta_, na­
da de mais, nada de menos. De modo que, sem
esforço, ela
'
pôde nascer de si mesma, no mistério de uma autogenese.
A obra é perfeita quando se apresenta como natureza,
a paisagem é perfeita quando é natural. Nos doi~ ca~os, ª
expectativa é preenchida porque há uma transparencia en-

•\NNI t :\l ll )l 111 IN
l2..
. , 'l l~ <.!lliliS t'llll!-íl 1 llllllllS llllSS, 11t'I
tr" t1S ftlr111.1~ i11L't"\l.1t!"i l')t , • . • .. .
L: l • J J)
1
l)L'rt'L'l)l'I, l' ,l l'<llllc'tlll
1
lll'1,1 l'lll tc'
- ) lLI•' L' ll•lll< •
·c~1~·c1 C> l' t l '" .
' i ; 1 )l")t_)lll"\.1 tllll' j1111l
1
l'l
1
11lll1l!~f() ~l1l .
ft)fll1 ~1 l.' l'()llll lll () (
J • ' '''Sl)~ 1 l)t't'Sl'11\'tl til' llll) • llf()I 1)()1 1 rfis tlf1
t)~ l lt)l~ ll•· '' l t
obra Oll Litl ~1n isng '111 {' n~1:1gt1<.i8: j)<.'l)S; lt1lC)S lt'I' ílc't'SS() cli
rct<.) n tii
11
l1 r "i.11 id,1tic to ln 1. / j)C•rÍt'i<.:fi<) r l1t i 111~ i(l i'.1 (Jt1,111c h)
se crê <.lLIC
1150 h8 111cdiaç5t) L1lgL 11110 t'11t·rc' (l r1<1t 11rcz<1 l'X
tcrioridéldC totnl -e n formn scguncl c> 8 Clllé:tl t'l;1 r ~)t'rt 't'l) i
da. Apagados o trabalho, o lobc)r, n ft1bril'(1\5<>. J\1)ng<1tlf>!:> f)S
intermediári os, as cadeias de rnzõcs <.' cft' jt1st ific·nt iv ~1s. l·'rt'
qücntemente, no caso dn pa isagc111, <.' n lg t1111ilS vt'zcs ílj)('l'ltls
no caso de ti lgu ma obra, o q uc é dnll<) t'C)lll<) j)<l ri e' cll' LI 1l1 s i~­
tema radicalme11tc estranho a 11c>ssc> fL111c:ic>r1t1111e11lc> 111c'111al
(a natureza físicti, o Outro) c r1tra t
1
111 (l<'<>rclc> <' r('SS()(1 11c·ssi1
mesma construção: a na tu rc%:a, l't1 rn l'X l<'ric> ritl~1c lc', j1ílSSil ;1
ser também pura intcrioridudc. 'lt'l11<>S <> í11li111<> sc'1lli111c'11
to de uma perfeição, de umn rcl D\'Ó<> ti<..' 11~1lt1rc
1z; 1 111)nl111c •
za. fssc) dccc)rrc de uma dUJ)lél g~ ra111 i<1: {l 1l<ll L1r<
1z;1 (c•xlc'r icli)
garante a paif>agcm, e D pnisé:lgc.
1111 f~<1r,111t c• 1><>l lt1 se• ccn11c>
fiad<)ra de> natural dt• 11c)~sa 11nlt1r<·z;1 ( i11lc•1 ic>1).
J:<,<,a duplci goront in fc·c·l1é1cl'1 c.,c>l)r <' ~; i 111c· ~111.1 <~111c>tlc •lci
<JU rc·f<·r<·nc ia p8rt.1 urn<1 <'C>rnL111ic·;1ç,1<> j>t'J f1•it:1. ( ·,,,,, t•fc•ilc>,
rr>m<><·'<'J f>~·r,. . -1 í 1 1 "Mt"i
> ' .... i.J e e> ri v 1 e e,· ;1 < > e < • e 111 t · 1 1 z, • 111 e > • , 1 >. 11 < • t t >
rn<J" <J<·'' (• ,.,, J ..
1
, 1
11u1
' •
1 1 nt1r1< ,,, <> 11<>•,
1,c,, cl•· 'I'''' 11c>'1'•'' c"•I,''' t> 1'
rJa O<•' ('IJ <•' , 1
J J 1 .,,, 1V<' tl11
I
1 í>ll 1 <), ( ílC () c.111c
1 íl ,,,,;.,, ,,~ , ·111 llCl'1 { .1 .1 e
1
tJ(<JTCJ<,~1 'Jí '
I ITl<JtlJ((J((JJfl Íl 11, 11 11 11·~; 1'1
A <>~>Tíj cJc· (Jrl'• ',1•1;í, I'''''•, JJ'''' < l11<L1 I'''' 1111•111ilr>1111 ~
,J,•l<><J<"•c•'
1
• , ,
1111,1111.ll
11
(•/ tl
1
1('1
1
1('/ (j
r )l•J f (•Jf 11 ,J l 111 '( J JI l,1 ( jl 11' j
1
1
l

•• 4
• t
1 • 11 1
111
1
1<
1 l 'li 1
l l 1 1 l
1 1 1 1
lc•tll
11.111
ll1lt1
'
• ' l 1 1
1 l 1 •
1 1
111, , ,
1 •
' 1 1
''11111
1'1·111
1 1 t
1 1
li l 11,
1 ' 1 ,,, •11
l Ji 1
1 ., 1
' ' • '1 1

A 11 IVI I l 1 I 1 >I ''/ I ,/ t .. 1 IA
1 ?."'
J,~ ,,,.,,,. ,,, ()
1 ( '''lJJl' 1 I J' 'JI ., ..... '
1 9 '· , )( J ( 1' ' • J
•,11u l''''J'1r J, ·•J''' ''rl',,111 '''''''' J'·, ,. '' 11 A 11
I /'.t '>J1 1 j ')l"'J' j
l11i,f~1 ;IJ.111fc•r11JfJt,ft,Jt){(/Jfl, ,
1
'
1
~

J Jf,j ,, ' ',• ,., .,..,,.. ,,
' , I~~ J;J .JJ' a
11.111111 /.1
J
1
111 lllJlll1I (.f.1 '1(JJ fc; 'JIJ < IJJll'J,
1

I I 'l "''Jf,,/ fll)( ,.r<" 'JÍ-,.'~
(fc li'<) t t)J l'>f Jf lJf JV<> (J;J fJ:JJ',íJ''''JII ,, <J·, 1
l , j ,,
1, , )í)f•J' t
1
:jfll1/.i'.1 ',f ,,
'·•'> , •• ,.,, •·:,f rr111J1c1 f<•11<Jrr1<•J1'>' lJrn;J tt<ic :J<> 11i;t• f
1
, , , • , ,
1 1 J 1) ( I ,1 ) Z .1;:
l'''lcJ l1.1IJ:1Jl1<J J,,., :1rli· ,l~t·1 1t1·>f;J1Jr' •1J'• P' j, .
11
·,, Â
I t,1 •,1 ) (•', ')'' )(r f;"')
< <
1
cl111t('Jll<J ff.c JlÍ< '' :1 fJ''f'~J> '''1 J l<J
1
'iUfíjj<J:; ,j, • .;r,,., ó"( 'rí'J
t''1JJ<
1
< ÍÍJC.<) <JU<' Jt•V:J () n<Jfflt• <J<•
11
1"JjnfLJ(;J
11
·1& ';<• <<J r +;;r ~
f' I ~ ~ 1 .-"'1' I
J'<JJ<l 11;jc> <Jií',<•r itrlfJ''r:.Jt1va1n,·nl<· c<Jnv<;< ada, C<Jtf'> r':f, .. ,..;, _
t i;1 1ílt i1r1;1 Jc•,,·,;1 rn(•·,rrlíJ f>Jntura que.) Jh<· d''U <Jrig< .. rr .•.
IJt
1
'>,c..
1
trllJO<J, <J "><·r1t1rnc•ntcJ d~ p<'rfciçâ<J está <:ego ao
;JrlÍÍÍ( ÍCJ cJ ' !>Utl JJr(Jpria f>rt''1<.
1
nça. Ü que nCJ'-, arrebata na
<'<J11lc..·rn f)la\â<J de• urna nut u r<.'Z(.) t,<>b a f<Jrma de pai~agem
11r1c> juJt ~ti a '7alj·)f<J<)tJ<> <>u a d<>cc'pç.ão cc>m um enurciado
t t1lt uruJ <J s1J;J~ rc.•f<>r(•nc..ia..,: inlc.'ircJ, indecomponível, ele
11;Jc> diviuc..' c•n1 rc <> bc.
1
lc> e<> fc..
1
i<>, <J
11
é a<,sím'' e o ''não & as­
<,i1n11. J>l)rft
1íliJrnc.•nlc
1 aut<> ~u fic icnlc, tautológico e, por is­
•;cJ t(l(
1Sm<>
1
parnd<>xal
1 <.'IC C'<Jnfirma cm nós O sentimento
ti(.• 1Jrt1 inntism<J f ur1dadc>r. / natureza é o todo indistin-
1<), ele> tjtJal sc>m<>S un1n ínfima parte, mas uma parte que
,~ <> l<>U<>. 'f'c>talmetilt) i111rJlícita, l()lalmcnte evidente, sem a
1,<Jt11~JrD dc.1 L1111;1 p<)rf~ t1nlD t;c>br() '>UD íabricaç5o, a paisagem
1
,e.•1 ft•itn i1l1e. 1r1~it 1 11c> t111ivt
1r';<> clac., Íc>rç,1~ elementares. É o

. --
---
m. O que p r·r11anec em úl i--:.i ~ .
.... mu --
---
~i.... .....
-
o: la o-cer za o,a em os
ua
.--

. rrr1açao e s1 como na ureza e o
€ ... ·-me-.. e
---
.. ,
-
T
.... m o uc: na a .. em e con enciona.
-- ~,~ ---..... - ...
-~ ---~
• ---

-~
--
·a-...... ----

-------. ,. _e -------. -----
-

eza
-
aue es:ende seus bentf:ri'JS ao Ct)!i-
~
• -.
-a--e;
.. ..... ...... ==-:Jes:e moào -
:;ma

e; .... ::::.,.-.. zo .. -__ ......,_ .........
i
........ ·~i i1:a'adT e.
• _. • .. 1 ._.1

S
:::; rç.-
"""' ...> --
~ --~ ·s-r --G. e:; -~ ~ , C

---.----.-
-.=-e--z
-----ª
___ ....... ___ r
i.::_ -- _e_-· .J
-
o S
ç:;.-""T rn ~---r
~---J..l.. -· --J


..,.c;
-. ---
o
------
-
----.....
-----
--
=c----w1-
---'"'=-. --- -')
~---G.. -
----
-ri'Íil -;;
-----
, .
...... -e ----___ ,,..
,,,,. ---,,.,--_......, ----__ ,,,,.. _____ _

------....... -
CI
;. ~-
------~ ,,.. -.... --
-,
-;. --C-"---~---
------ _J _ _,_,.._
-.-
--
-----,, ----
-
-. ,
-------,,.. ---

,
~-­
--V-
----..........

rc.-._. _
os
• . , .......
_..

ersos EXDa




cer
ae r..::s--c.s
~ ..... --­


-ESS<:
s2ber aue
~ -......
-. -. ,,.
r-- r,~ r-n !"'l :c---.--r.~;; . l!..~.• .. d~J .. ~ ;U..J ... G.1.t a ... _,,.,.,
#
. ,, ..
--a.e.e ~ 'ffiOS COntSCiffi (lá~
..J~-

i:ípos de opera-
-
-__ _,
"°'.: t"'.
--- -
-.......--,,.
,,,... ,..,
1' ..... ~ L-~~
-..-.. ,.,, _,_ -VlJ, .
••
..-;
•• --
,..
;:.-
-- ---,G 1:

-
(J
,,
• t
i: -
-í .. .
. ,
mpecZtie
como 2 perfeiçã
e .. C"'""br a S
· err1
pa-

A INVI NC À(> l)A í,A l~/\(,f·.M
127
r<>fi '"1 Sl' 11rc'C>CL111ar C<)111 ''f<>1111<1c.;'' <>u ''figura'"-'' ·
"' nac; quais a
11t11sng<'111 st' tlt.l. 'lc><.l<lS, S<'j<1111<>'> 11<'>s Cjltc•rn f<>rmr>s, u<:>amcJs
i11st 1 t1111e11l<>s <jltl' 111(11 c' c>11l1t•<'<•1n<>'1. "J:u%c•tnc,<.;'' paisagem.
Stltll<ls 1<.'l<)t ic.'<lS s 'tll tjll(' <> S<1ib<11r1<>'>. lJtili%amc>s procc­
lli111l'lll<lS CjLtl' snc> cc>rn1)lt'lnn1t•ntc !,cmc·lhantcs _ apcc,ar
lll' i 111111 iciln rr1c11tc cc>11 hcciclos como ta 1 a<)"> que
05
pai
sug
istJs
Ltti 1 iza m. Nós emold u réJ mos, nós nos ~ítuam<>s a
ciistâ11ci a.1 procedemos por metáforas e metonímias-' con­
tcxtualizan 1os, chegamos até a ''intertextuaJizar'', mesmo
que nun
ca te11hamos tido contato com essa noção: ''Es­sa árvore é toda a floresta, mas também toda a Provença''.
Pomos em jogo todos os recursos da Jjnguagem. Procedi­
mentos que podemos descrever e que são os a
floramen­
tos visíveis dos processos invisíveis a eles subjacentes.
Eles
exibem em pl ena luz os elementos da ''grande'' forma sim­
bólica que os rege.
Sem levantar uma lista exaust iva, podemos detalhar
alg
uns dos mais conhecidos e tentar ver por meio deles o
trabalho ao qual cada um de nós se ded ica por conta pró­
pria em pres
ença de uma paisagem.
Uma vez estabelecido que a ''paisagem'' está no lugar
de e vale pela natureza, que a per cepção sensível vale pe­
la idéia ou pelo princípio natural, uma vez estabelecidas as
regras a priori do funcioname nto dessa art iculação (a gran­
de forma), erttramos então nos po r111e11ores das operações
CJLI<? pcrrnjtem a passagem dn paisagcn1 à r1atL1reza e que
~5c) C'C)ílV<)Ca(ias c111 face c.ic Lt 111n pa isngc 111 si11gular, para
que ela rcspondü i1rJr SL1~1 ~)resl)11ç c.1 .

O JARDIM DAS .METAMOl~FOSES

Eis-nos na esfera das transformações criad0ras
1
n0 pJanrJ
das citações floreadas, na exploração das paisagens comp1C!­
tas reaJizadas ou modificadas, onde atuam todas as figuras
do discurso que combinamos guaJjficar de retóricas.
É esse o lugar de PoJifiJo e de Versalhes, dos labirin­
tos e dos percursos, das associações que fazem
11sentido''
1
das alusões mais ou menos ~1eJadas, pelas quajs a nature­
za se mostra em sua 'f/ersão mundana. Lugar de todas as
operações que presidem à arte paisagística, tanto em seu
aspecto de jardinagem quanto em seu aspecto pictórico,
fíJmico ou 1iterárjo.
Parques régios
ou modestos jardins nos quais se exer­
ce a
·1erf1e dos arquitetos paisagistas ou a dos simples ha­
bitantes que utilizam os mesmos artifícios, as mesmas
''figuras'' de Jinguagem, e, como o 1obo da história, usam
G': ar ificírJs com a Mãe-natureza ... ''para te comer melhor,
rainha neti nha
11

132 ANNI! C'.AlJQUEl.IN
Trate-se de Versa lhes -e nós con l1ece111os seus bas
tidores -ou dos loteamentos de perife ria, sempre se tr ata
de passnr da desn1cdida, do descon l1ecido, do "sem-no­
me" que é a natureza, para o medid o, o normatizado,
0
nomeado. Mas, ao mesmo tempo em que se 111uda assim
de dom ír1io, indo da orden:l do obscuro à ordem da clare­
za, precisamos também preservar essa obscurid ade, com
sua superabundância e seus terro
res, encontrar um meio
de evocá-la, de fazê-la entrar no traçado do jardim.
Diante
de um canteiro de couve delimitado peJa cerca de madei­
ra descorada, teríamos de pensar o mar e suas o ndas ver­
des, o longínquo, o sem-li
mite, o fora da borda.
Como se
pode isso? Pensemos em Versalh es: passagem da flores­
ta tenebrosa -onde Charles Perrault perderá os Peque11os
Polegares e que preencherá de bruxa s, ogros e lobos - pa­
ra os grandes espaços claramente organizad
os dos pa rques
e dos canais. Num canto, árvores dera magcns desordena­
das fazem caretas
com todas as suas sombras entr egues
ao<; terrores noturnos. Nenhuma civilidade lingüísti ca vcni
atenuar esses lugares i nominávejs. Na tu reza? Sem dúvi­
da, e C<Jmo ela ainda era percebida por Lucréci c>: sclvagcn,,
pc:rvc:r ~a, p<JbrC'. .
/
. , . d , lc'nl ,, bt•lcza, r1
qu1, a<> C<Jntrar1c>, tu <)e <:ipc11as c)rc ....
1
•I s (c>rn1n1n,
qu<•%r.i, div<,r'l1UD<Jc; <:i<, á rv<>fC'S s5<J pcJcl<'lc ns; t íl.
j 1 I'' c>leÇ<IC) cl
aí> l<>ri~ç<> d<JC, ~J<J<,<JU<'"> '1c•lvagt·n~ 1 lllllél Ct'l<'•
1 <. < • •
. l Jlll'J() ( •
1
rnr•J<J C arn 1nh<1 (]C• í1 ír1CJÍI pc•rf c•r1< c•r ti ',c•lv.iJ~<'I lol, '
. , ,
1111'"'( s,
rnir1h<> J~ d<· ü'1'1t11nir (c,r1r1n l111111<111t1. 1•:111 <>1
1111
'''
1
.,·,,
. ···111<.
• J 1 1 1 <I<' fcJt Ili.,·'
c·1 as tranc,[<,rrn<:JcJat,
1
'jít<> r11,t<•ln
1
, ( c· 1><'< ''
(
-
nao o equ1\,
um. f)oi l1j
Ü 111('SJ1
1 '1 1 (
'·• 1 ' I
1 ,,, 111.,
•1,, ,,,
1 ,,,,,
, , 4
l 1
1

resta
u JU ar ma a a
~ pa em, como se f ma ra..~- . r~:>res-
a-na .. ureza a u contrário, a pa·sager11 m .7..arla se fzz
1m rce i e men e,, de g ... au ent o·au, e .~ .......... -.. ,,...,.,.., h--~!""! .:Jy-
ra de li g •acem: com ef ci•o, o que 52n ~izs ce Dee:ra
meio-cab-a, meio-coruja, meio-ome[:t, mero-CZ' a_~-.....:. se­
não o equi\·a enie àe uma pala-,. ra-a ise: Dois -e--~· J """"·
um. Dois d.:1jet ::: em urn.
O mesmo pa-a a árvore poda

--... _
---
ánores desordertada-da :loíesta, oa;a as :or:e.s · --~-:es
a exem ~to da-o:n les ocu tas a \"asta na ..i~ez.a, :-as -_:: . ~
aqui, falam ... e falam err. \e-.-s
:o de ersalhes: ali a Ra sa

. . -
: como o :-az.ern :-n ~~ir..:-
ções ao Con o sob a iorrr.a de ·..im ja-o ..: ág' ..... 2 os ar~ir:- .::~
de chumbo colorido tíocam assim ~ase ~'"1:..osa:; .:; ~a~­
so que., em terras dou:-ada ....
1 o iexto de Berl.5.era.:e 5<: ·:-~cre-
e na beira àa fon e
1


EsteJ·am
os oaisagi_~J -.2rtis·as .; s ?..:.:-qt:. ::. :-::: -, .::--. -.;
solu a men e con ciente-ou meio e ... ' ~ ra '' ..
mos de que lançam mão, na a rr·u 'a. P : ·~t:~icµ..v.r
p nsar o parque, Luí 1 eria º 1 rt • uei:i'to

as ·"""'r· as e ta ónícas, ransmi idas por extos mais e
d
li ' li 1
_,tt,~~
1
e50~éricos, ao longo e uma co1una na qua se en-
. .--~.. ~ro1ío Fícino, G:rJvann ;.1:t::0 oe11a . Airand<Jl2 e
am. u
óa
0
, ou então seguic0 :;r.a :rad:~ã0, urra cer~a ':'::r'"_,
a OJ tura reraascer tis:a, quf: 0ferecia a ·/iagem ir1c1á-
ícz Re .. egrí. o o rept::~:ó!':0 de s:Jas fíg:iras s:rr 00::cas: a
Sa . < r·a, rJ ~..r.agãrJ, a ?irá~ide, 0 E:efarte, o Dia, a ~ :r;,:­
te, ~A .. "'()"a, (J ~r): ..
1? ;ssrJ p0'J(r; T"OS jr:--p0rta aqui, p0rq:;e
p:"rosan .. os rrtes;-:-0 e§, sr-'~rt:t•Jd0, s€gui r essa cenografia,
!.--sc,.ever s .. ;;s c.g-;~Zl':> (; çryr'-r_,rr0s, a·,a:,ar sua irrpor:ár.-
!"e':(:SSídade, para a crJrsti:U1ção
,,, ' A , ,. "'~ ( r , .; , í ,, J •• • f d
~, t.;~ ~-,,, .01,r..,c.0';, ra aqJe a'> r4Jr.: sa<J mais un a men-
ta '1 (~ .... ~. (.1 ,,~{(;', r: r..1 J<:. rJ,;tf.:rr (j Sf;grr.:dc;, ()
11
abrc te, Sésamo"
,,., , ~ ,, 1 ,, f ... /( ""
, , , , .1 ·,;;; li ;( rar,
r
/ f I I, rt , f
1

d f 1/í',
}'( I J I
1
,,, , í~I .t (/ 1 j
' ''I' '' r ri /u '"'l ·'''I"" ,J,· /u /'"'''"
I
,
1
nr1/1t1
.1Jllt1 ''''' 1 ~-rt: t /l1l1• 11 L•1n
1
(
, 1 • • JIJH i)
""''' (l'.1rl, 1 l' l~ ·li· ttrt:'

A l N fNÇÃO DA PAISAGEM
135
Primeiro trabalho, bastante considerável, na origem
do estabelecimento dessa paisagem que tenho diante de
meus olhos. E se111 o qual não poderíamos pronunciar o
nome do que vemos e não poderíamos exclamar "esponta­
neamente'': ''Que paisagem estonteante!".

~ PAISAGEM PELA JANE/ ,A
Por esta janeJa é que me dou C(;nta da paibagem. f:,Ja
está enquadrada pelos montantes de madeira que rcc(;rtam
díJÍ~ Jado5 paraJe](J& no tecidcJ contfnur; do CYtcrior. ApostrJ
que ele é contfnurJ1 mas não o vej<> a~sim. ()e, postíg0s ri~
cama Juz cc;m fai/as negrab, ou
1 ao C<JntráricJ, riscam de 1u%
'1 rJb<)curídade Ó(J quarto, rcc<Jrtam falhas de s0mbra
1
cinti­
Jar1dr; nr; pá1i<lc"J \1,:nto de <JutcJn<J.
/, t<::fo d<:: um ·1éu m<:/C <Jc Jevr"m<'nt<: diante da paisa­
g(;rr já r<.:<:<Jrt&dó pr~Ja rn<Jldura da janr.:Ja, atc·nua a cJaridad<'
dr, <lí<i, <::nwA·1i:: ô ·,r,rn bra c1 Jrn urna d<Jbra rna j<, dara, frr·m<',
d<-·,rr ,,r t:,i ,, 'flJ<·l <·/cr ~·,.,,, d<J "'JJ,
1,u r·ntií<J rr·lf.rn nlgurnas
iór~'·jt)"" l<J', d<· J J% n;J ',up<·rfíc Í<! d< J f r·c írJ<;.
• •
• ';·1<·r'1 J.1;1'>',;Jrr1, rJ'·',fJ;Jrr1 t,<·. !-.rc1u1f,·t1Jr;1 (vrr1b1,Jn-
f(~ tJ<· :)r f (t•( • d<'
1
'..1)
1
<
1
rn ;J '·'1f:)<,;J<J
1 <J <JJ;J, f)<Jrt;1rl<>r;1«., fJU rlfJ<J
1
''(( ;.1< ';t;JíJ'·'1.
j:;r •·J:,., r 'Jfflf1 , .. 111:ir w·r nt•):i., ;, rn1•t{,f,,r;, du oJJio? 1
. . ( ~' 1 d
' <'J, ;( I Ó ( • , f j , f •J 'J (} 1
' 1
1
t''' 'JZ
1
1IJ;J', f'f'Jf1r 1:1
1
, ',UtJrt1<•f;)f,JríJl,;
' '
,
'
a


...

!'-.' 1-..:Ç\C) D P\lS \Gf-\l
137
,
'L'Lt pontt) cego, estria meti tos do b t d ,
ª er e palpebras, hu-
111<.) íl'~ lil) corpt), esta lágri nia c~ tc .
' sorriso, as nuvens dos
~1c11s~ 111c11tc)s da tarde ou da nia n hã t b,
. . , / e am em a alma,
c111"1 1a11cl,1 e o olho, que governa a visã o.
ão 115 dú\rida de que temos aqui uma co d' - .
n 1çao szne
q11n 11011: a janela e a n1oldura são " passagens''
para a s
ve-
tittfe, para ver paisagem ali onde, sem ela s, haveria ape-
11as ... a natureza.
Onde venlos o mais simples captador de imagens, fo­
tógrafo
de domingo, franzir os olhos: e nquadrar.
O enqua­
dre e/ ige o recuo, a di stância certa. Tudo ver, claro, mas
apenas aquilo que está no campo. E, ain da, o enquadra­
mento inspira a ordem, dá a regra dos primeiros planos e
dos planos de fundo, porque suas bordas são orien tadas de
baixo para ci ma e da direita para a es querda. Embai xo, o
mais próximo; no alto, o mais distante. Entre as duas bor­
das,
verticais, uma superposição de planos. Horizo ntal­
me
nte, o campo é
aper1as ''bordejado'', s em outras regras
além
das regras da possibilidade de abarcar um conjl1n-
to infinito.
Po
rque a moldura corta e recorta, vence sozinha o in-
finito do mundo natural, faz recuar o excedente, a diversi­
dade.
O limite que ela impõe é indispensável à constituição
de uma paisagem como tal. Sua lei rege a relação de nosso
ponto de vista (singular, infinitcs in1al) con1 a ''coisa" n1úl­
tipla e n
1
onstruosa. En1 todo caso, interpon1os não apenas
essa moldura da intenção entre o mundo e nós, con10 tam-
bém redobramos os véus, as telas.

138 1\NNE C\UQUELl~
Un1 papel, t1111a tela st1l1rc Lt 111 cava lcte, o cadcr1 10 de
esboços o t1 o guia tt11·ístict) sãl), sol1rctt1do, a 11tcpa ros ex­
pressa111e11te 111011tatios pa1 ·a ''11âo ver''. Se faltn, se não
co11segt1 i111os ajt1star nosso olhar 110 li111ite fictício de t1ma
n1oldt1ra absoluta, então recuamos para tomar distân­
ci
a: ''Não esto t1 ve11do nad a, está confuso''. E pisca111os os
olhos, u samos a
inão con10 viseira para focalizar· a visão,
usan1os
lunetas, máquinas fotográficas. Sub i1nos
par·edes,
esterlden1os telas (o muro do jardim co1n suas árvores ao
fundo), toldo, pórticos.
Arcos para o deserto. SL1as ''portas'', diremos.
Divisórias,
corredores e o batente da porta-janela. Tudo
é bom para fechar a paisagen1, para dar-ll1e acaban1e t1to.
Não obstante, não se trata, com a 1 11oldt1ra, de t1 n1a in­
tenção deliberada, não se trata de
pt·eserv ar un1a i11ti111ida­
de, ou de fazer i 11tervir co11trastes estilís ticos, son1bra co11tra
luz, por exemplo. Não. Trata-se s i111plesmc 11te de t1n1a qt1es­
tão de definir, de delirnitar um fragn1c11to co111 valê11ciD de
,
totalidade, sabendo que só o frogn1ento dnrá conta do qL1c :>
implicitamente visado: a natureza e111 seLt co11junto.
Constituir o fragn1e11to é Ltt11a opcr~ 1ç5o n 11ricJ1·i, iS('
11
ta de lodu inlc11ç5o particulnr. l~la é ~1atc11tc , ~?Ort 1t1r · t' t'<J
11
dição de satisfnç5c) do e11L111ciaLi<) "p;.1isngL'111''.
Sern dt'1vititt, lc.1111b0 111 t.l jl111clc1, tiéllit> tllll' t'ltl t'Slll <lli,
pronta pura rcccbt'r t1 i111 ~1gt'111 L'111<)1tit1r,1tic.1 Lil' lt111l1 ~
1
l
1 is,
1
gcr11, é o inslíl1111('tllC> ])~lÍSilt~ tsliCt) l)l)I l' <.'t'IL;l' 'il1, (.) i11Slt'LI
111c11lo pcrfcil<) de. SL1u pr(>1)ril1 11<.>ssil)i 1 itlc.11.lt'. l )fc·rl'L'('tlli<) tl,
portanto, n1as a c.iistâr1cin, c.1 jc.111t'l '"1 .. 1 111,111lL't11 sol1 St'Ll t't>rlt',
...
l•
...
a
~ .. j

1 IN\'I N<, /\e> 1 >A 1 'AISA< :t•M
119
l'Clllll> tjlll' ll'S('I V1l<l,1. /\~, ill)f IJ'cl'l IJ('fftlf, I , ~
1
l ' t ;i
1 <" ,n~ r<>1nanns
cll''i<' lll j>l' lll1 ,1v,1111t' t.;~.,l'
1
>,l i)c•I C'<>ltl
1
,, f,
t t < 1ç,1c ,, <•, '><' <)lns apre'·
Sl'lll1l 1111) l'l'll,IS lllll' jltl<'
111l)()' l><>llC'C , " ·
e-, .1 > V< í<>'>'1llJ)C'f'l1 llí)C) cJ(•j.
,l\'11111 til' l 1,1ç'11 ,is <'<>11tl ic,·c><.'s tlt• l<><lc, IJr<Jc.,J><·c '''·
l'c>11lt1<lc1, Sl' é.1 r11c)ltlL1rn é i1c.•ct•ssnrin, 8inci~ falta n<>s
i11l l,1!~c. 1r scJbre SLtô Cc)111pc>siçâo. O ciuc é CJLIC' c.'c>nc,tilui mc,I
tlt1r,1 -ulé111 do é:lrlifícic) cxcmpl élr da jc:incla para que a
J)t1isDgcrn seja vista como tal?
O l1orror do desmesurad o, él selvageria de uma tal for­
ça irruptiva da natureza co11duz a esse encolhimento em
torno de objetos mensurávei s, '10 núcleo traçado pelo olho
em redor do que ele quer ver. Recordemos que Lucrécio já
nos dizia que a natureza é para ser evitada, e n ós pode-
1nos evitá-l a, acrescentava e Jc: sim, porque temos a pre-
. . '
ciosa pa1sagem que, ao remeter a natur eza, a domestica,
interpondo entre ela e nós seu análogon civilizado.
A janela, como tudo o que constrói, lembra o esforço
de manter o selvagem a
djstância, o arco que emoldura, a
coluna que designa e corta, uma simples extensão de um i11uro, que detém a invasão da floresta, a ruína que marca o
tempo e
é signo de que ele pode ser ton1ado por uma mar­
ca: todos esses aparatos são os mesmos que o temor esta­
beleceu
para que a natureza-arti fício triunfe, aquela que
sabemos poder domar (olhar).
AqL1i vai se tramando L1111 jogo sutil, c11tre aquilo que,
ili111itado cm princípi o, é, co11tL1do, li111itado pela n1oldu­
ra a priori de nossa visà<J, segL111do t1111111olielo sirnbólico -
a pcrspccti vn -e segt 111do aqL1ilo c.1uc 11os esforçamos por

ANNí· CAU(1UELIN
140
b t (
'
r·tqttCZLl SL'l11 fit11 ci,1 llLllllíCZ(l). r'cJrquc CCr-
mantcr a c' o ,, ~e. •
-rnr
1
·.,. J"CCcssáric> qt1C a J'a11cla n<)S
11
C>blurac,sc a
tamcnt' na <) ..,~ '' ' ~ ~
• - 11 , "
1
Y\oldura obscurecesse e conge lasse a paisa-
,·1sao I t1uc u ''
gcm. Senti ría nios então como se nos tivessem j ludidol que
a presença esperada e desejada da natureza se retirou de
. , . . -
nossas pn rcas e m 1serave1s compos1çoes.
Dispositivos que funcio
nam por
si se estabelecem a
nossa rcvel ia, de modo que eu levantav a, no início des­
te capítulo, a hipótese de uma continuidade da paisagem,
apesar da interrupção que o parapeito de minha janela
instala. Suponho -e crejo firmemente - que a paisagem
"continua'' atrás da moldura, a seu lado, longe, bem lon­
ge, para sempre, até o infinito. Que
existe uma outra fa­
ce da montanl1a, outra pra ia para esse n1ar. Aquj reside a
hipóte
se fu11dan1entaJ de
mi11l1a crença no análogo11 que a
pa isagcn 'l me dé.1. Se assi rn 11ão fosse, o que eu veria pela
ja nclD não seria nada além de um si rn u lacro, u n1a espécie
dr cc,prl l1c>, sem cc>nsislênci a. Atr8s dcssu nlonla n ha
1
des­
S<.l tela, cJc.•ssa parede, air1du l1á a néllL1rcza, e CLI podcrié.l, se
n1t• dc•c., lc>cn~sc da · f -
' · ' r-mc a SDL1s açac) c.lc.' cc>11Lcr11r>lllr Lic 110-
v<, LJ 1)1[1 j)tl jc.,( l~~l' l1"1 .
l~x it,lc·, l)<>is, l11na c.lt•s1l'lL'c.lic.l,111t 'l l'l'lt'c.iitl.1, <>ti, 111,1is t'>.cl
tr1111c·11lt· c1 111t. 1· I· • ,
1
.
' (. ((ti 'i() 1)()(. l' St'r (.'()llSI l'll ltl.1 l'lll lllll ll<)rt-
Í'.()(\lt• clc• clt•l 111c•cl' I A 1
, lt ti '' 111<> c.ILllí'l ll'<'lí 1111,1 "'llcl t'\lt,lt11<llt.ILll'í1
(.()())()'-,('li (''('ll)l'lll ' t• • • •
(· . <> < <>
1
1
1
t li t1l1v<>, ~•l ltl t'l111tli<.,\l<l 11c.'t'ess.1r1.1.
~ l)l l'('l•1() L!Lll' ti l'l l'I ,, .
1
. 1 l lÇ,I c·~ ll')< I clll('Xcltlcl 11 l)l"t)l)C)S l<,.'•1<> c.IC.' lc>tD
ll tl( l' lllll' l 1
<. C<> Jl'L' t) 1 r~1g 111t' 11lc ,.

t

I 11 I 1
11 f 1 1
1
'''' 'r11111 l1,1f, ,,
'
11
<·1
1
''
1
'''' f ir 11111 Ir 1,,,
f I f t /
1
I I
'' '''"''''
1
f' · ,,J.,1, l 1flf rt ''rrr r"
1
,
1
11111
I(,
1
rrt<•lfll•I 1 ,(r Jf l1 lfr1(,f,, / !
1 1
( (1 ,,,
, '1 t
r
r I '
1 IJ •
1
f~ 1
1
1 f(J ,ff1(, • 1(1(1, (Jt li(( f
1 • 1 ' ,
/ I ' ,
,
1
(, ' ' ,
, , ,

{ I ( ,/..
{, , 1
r ·(111/11 '' ,,,f,/111111
1 1 lc· (·r1f:rt1r1clc·((• (, l<,r 1~í1 r11r1 I 1t1Jr 11-!t.
r 1/ 11 t1t1 rlt• <1f•J'''''; tl1·J''''·''',1·rf1 11rt1 (• :in1r.1, '((1(.1l{ltlf!:(!(1 f(·
'
11 11 '''' ''~:1r1 ,1r t> 111r, 1r11t1l
1lt1rt1 (frr1 rr1<11nr1(, (Í(· 1<1'1t1,1 rr1
.11J11f111r 111,
1
11f111 ft,rrt· J~r(f (·I ,,t,rc·rt1I''1 ·í•!·(trvt: .,
(11 t'~ ,, , (l(·t.t 1( ,,< f ,, (•rf1 rr1t 1 t< 1 •
1·t1 t' ·J ,, ' ., , f 1' .1f <, t· .. · . ·n
t1rl1,,, ·'·<·, 1,t'J' f(,. rc .
1
,1,11(l(·rt1 ,,,,. <.(rr1t1r1l(1'. cfc, 1,:rcf1rr1 cf<1 .
.c.r1t1l1. (1 .11lrrf1t111r11,' /<>'<t> '' t1(l •c:F1<11 (1 rt1(11r1t1(> (f(· V(·r1tf>
((111V(1 li f(1(lt1 ,, ((<ti f f,1!1111r1I(• .• 1rr1f
16l1Cf1. (l,1. (i(1T(· .ttJ. ff·
f:f•ft( (,, r 1,1t,, ( I. ''i 1/'(jl (1'11() ." 11li(1{''·, f ~r 1 r1c ,, (I(· Nc·vc·, ri lc·t>r(· (·
1
t
11
1
11
, i;:
1
rt· ,l,1t1<·lc·(('rl'1 ,, f,1111j~1·rr1 1
,, ,,t,11r1(J,1r t1,1, <1 ~,,,.r1
1
( ( ,, ,,,, ,
1
,11
,
11
f.r tr ,i, ,fl11,. d< (:f•f•• ,, 1 f , , , I'''
r f1<•v 1r 1rr1 • l • •
f
1, 11111111
",'
11
/ttH/•ll"''''' fl' ,f1 ,1 Wt ~., ,, 1
1
111, r l f11r l''''{/1ff''' tlu r111v "K" lt
1 ' ( 1 ,, ' (
//i11rr i11tfl,J1 (r• ''' '1: ''' ,, 11 ' ·li •r 1 i/I,)

ANNE CAUQUELIN
142
zonte verdejante dos contos. Eles não são apenas "kitsch",
eles têm un
1
a função precisa: com os olhos fixos ao longe, 0
que conten
1
pla essa "imensa" Branca de Neve? Por sua sim­
ples presença, o aterro se transforma em pequeno vale, bos­
qt1e de Merlin, o Encantador ...
Se esses dispositivos do olhar que restabelecem a dis-
tância jogando com diferenças
de escala são justamente
operações retóricas das quais voltaremos a falar dentro em
pouco, decorre
também que é pela necessidade da moldu­
ra, pela condição incontornável de sua presença na condi­
ção de instituinte
da paisagem, que eles podem chegar a
se enunciar.

2
OS QUATRO ELEMENTOS
Pela janela, vejo, portanto, algo da natureza, extraído
da natureza, recortado em seu domínio. A paisagem é jus­
tamente a apresentação culturalmente instituída dessa na­
tureza que
me envolve. Mas o que é que, nesse espetáculo
paisagístico que
tenho diante de mim na moldura da jane­
la, me
diz que há ''natureza'' ali?
Para que eu esteja segura
disso, necessito de garantias, mesmo que implícitas. Ora, o
que compõe a
physis, a ''física'' natural, são, desde os antigos
gregos, naquilo que diz respeito a nossa cultura, os quatro
elementos: a água, o fogo, o
ar e a terra. Qualquer que seja a
apresentação que a pai
sagem me der, será preciso, para que
eu creia nela, que esses elementos de referência apareçam.
Com os ''quatro elementos'' -o
ar, a terra, a água, o fo­
go -a tradição pré-socrática chegou até nós por meio da
doxa, portadora de imaginári o. O n1ito, aqui, é poderoso.
Devanei
os em repouso, sonhos em nuven s, os quatro ad­quirem direito de ci dadania. Eles freqüentam nossos medos

AI li li~< 1\1 JCJIJl.1 li 1
l '14
·~ i>t• t 'lt)<í l"i e· l<·111c J!1 íl<'t'l(«I tl<•lc ·:. ;1tit11clc•! <l c· c~1c·11c •íi
(' f)(JC..,L.,c l'; ( 1 (. , I t
·1 , .,.L () (,,,,,, t" iJUt<J (t'CJ11l e> t ,,,,·;1clill1c> c·t i111<>l<;>11
ic·c, ,.,,
1111 ('l)cll •· f) J
li<',, t~IC'!~'' JJVr, JJ.ljfÓ.') (' () l;1I Íll JllAYIA:;') (', (:1() 111 c·~1 JIJ() lc•1111J<1,
cJc11,ti Liic.J<>t, guc.11 rc·i1c>. A n171J<l e;''''' 111 c·~; 111<> tc•1111>t> !i;1Jv;1<J <Jt11 c·
iii1i11
1
<1n, ;1 1c•rr:1 (• í~er 111c • e· l 1J1n11llJ, <> C'c~u <~ jJ(>rlí1U<>r d<· !<·111
JJt"il;1cJc 111 c• lu1r1i11<>8<J, 1111mí1 11<>1";1 11<>Ílc•, ll<JLll r;1 OÍtl.
e)'} ,
1
u;il r<J 1~clrn 111, <
1
111 r<>11:;c·c1í'1 (•11ci11 ele• fii, viíri <J!i nl ri
btJI<>', c1uc· valc:1r1 C<JJll<> ~jL J IJt, lf111c ·i ;1, 11111<1 <'<><>ri<' cl0 lci11cl<1s
(lllC' 1,i111l><Jlizn1n t1IÍI LJClt
1
!1. lf'. ('()Ili() ()('llj)íllll l l(J <..·~; ,),'~ '()t i<>
1111111<Jc, ltJf~íJ(t''i 1)riv ilL'f~Í í'1<l<>~1, '' ~1 l lc> ,. <> l>:1ix<>1 <> l1<>riz<>ll
f;JI <· íJ v<·1 I ic '-li, c·lc·~, vc l<>I ÍÍ'.íltrl 11<>:1'•'''' c·c,1rlj)C>t IF1111c•11lc'!i ;1
( • 1 1 í 1 (. í 1111 (' í 1 l' 11 I ( ) !-i ( 1 ( •

'Jl''''1ffJ', c·c,1n ,,,, (jLJíti:; cl<·vc
1
111<> ~1 c't>11lí1f': <> c111( •11I<' ,. <J (1ícJ
1
;1 ',c,11ilJtfi e·'' l l;11 icJ;1,l c•
1
'' 1;1111icl<> e·'' !:C'<'<>. A f(>rc:í1 llt• ~d lrt
Ítr)ílf~<·1r1, cl1111lt> J>~Jr~ r c·;1<lr1 c111;1I clc•11t11• 1•lc•1;
1
11<>'1 lc·v,111111ilt1!
'l'''l',(''5 ;, 1•'1<p1c
1
<'<•1 'Jllc' l1fi !>llltc>:l c• l1·111c· 1 1 lc>~i: r11·r1 111c· 1• '' !irllt
)jlll·, íi l"'cJ1,J t· l> (c•tr<>, <' ítlj 1
1
1111 ~. t>11lt <>:1 111 :1i~, 11<•111 tl<>t111· c·111
Jl(l'/iil
11
IÍJtí'
1
lld'1I'
1
11'111 f('j)ll'l1<'tlf1tt;:1cJ !dlllll<Jllt'1I 1llj~ lllll1 I ,
l•.tt111· <n1l1,1•, j11· 1 1 1 ",1 •1 1 l :1c~' ''" :I :i111d>c1l 11',1'1, lcu11c•1 1111•,,
j>(il l•/l'lllj>lt,, 11', 'jlll· 11 í~f 'IJ J l l1l lll1 • 1
1
111111"1 l>j)l'l1I
11
1•:11• lllfl'I
Jlfl'fd 11'1 ffJfffl 1' ,, I 1 I 1 1
' • • •I 11
11 flll'Z1I 'i1')'
1
llllt 1) 11')'
1
111!• t llll'll I' d!•,
r1•1)11••,1·11t.1,,11
,1, i 1 (1 1
' ' 'Ili J l JC 11'1 ljlfl' fl,l!J ! !)ltl11•11'lllll'1 ()li' l
1
V<I, ,1
fl•11i1 d'.11111111 111 •'
I •I 1 •l 11 l'(f'1 jJl'f11'1
1
11'1 1 llf' ()'1 1l',1)
1
1
(f11
1
11'1
Vl'll
j I
11
'1
I I
1 ,t 1 I 11
1
1 • f f J
' ' ',, i.11~' ''"•, ,,. v1•il,1•., ,, v1·1•,1 ·l.1\11C, , •• 1·. ,., Hl'il i 11
11
J
1
1j~
1
1•IJ111•1l11t'f11 11J• 1 J 1 111
11.,11., 11lj•f) 1 ' ll•lllifolltidllf• 111111•111l1111111h1,jfl•l •ldll111111•1
1
11
11
/l1/l!11 )'flj 1 d i I l I 'I , 1
/Ili/ Jlff/ll
1 11
111
1
1 J
1
1111 Ili jllll11li111111111 d11 11 1111•• j\1•'1\ll llhl
, .,, 'Ili', f 111 jt1 i1 I llJ1111 i 11 1 1 1111
, • .,,, ,,,,,, 1111 1
1
1
'li 111111111 1!111 '''"''''"' fit
'' "'''' ,, ''''""'/li/• /l /I
,,,, '"'''' llltflli• ,, 1 "' 1}
1
'
'
1

144 ANNI: (.AlJQUl· l.JN
. içns e tc1n<)s acerca dclt'S atitudes de cre11ça e r1ossa cspe1 a' (. . , .
1111Jc11a rcs. '' . . 0 t'ogo é f)Uro rcc)l11 <) trocadill1c> ctin10/c)giccJ <..'n-
O
P
11r. 1,
11r6s e o lati 111 purus') e, ao mcs111cJ tempcJ, tre o grcg :; 1 .'l •
d truidor, guerre iro. A água é ao mesmo tempo salvadora c.
1
iiiiunda, a terra é germe e túmulo, o céu é portador de tem­
pestades e luminoso, numa 11ora nojte, no utra dia.
Os quatro geram, em conseqüência de si, vários atri­
butos que
valem como substância, uma coorte de lendas
que simbolizam
atitudes. E como ocupam no espaço do
mundo lugares privilegiados, o alto e o baixo, o horizon­
tal e a vertical, eles vetorizam nossos co mportamentos -a
caminhada, a
corrida, o vôo, o nado -e traçam círculos de
opostos com os quais deve mos contar: o quente e o frio,
a sombra e a claridade, o úmido e o seco. A força de sua
imagem, duplo para cada qual de
ntre eles, nos leva muitas
vezes a esquecer que há outros elementos: a c arne e o san­
gue, a pedra e o ferro, e alguns outros mais sem nome cn1
nossas línguas e sem representação simbólica algum a.
Entre outras [representações) simbó licas, tomemos,
por
exemplo, as que o geomante chinês opera.
"Ele inter
pre
ta as formas da 'natu re%a' scgu ndo r egras
co111plc\,1s,
reprcscntaçc · b'I·
>cs sim o 1cas (1ue n5() cor1l1c.ice111(>S. ()rei('\ <), ,1
terra, as mon lanha~, seus pcrfi s, O!, cu 1 ~os d ',1gu,1, o~ cn -
t()c,, O S<J 1 tl <., (• rn ~ - ·
' annçc)t'<.,, as v1c.,tc1s, 1.1 Vt'gt'l,1\\l<> l' t1S cc>11strL1
• <>11>gc11·t11n1,J6s•u1 f l
r1acJ,,<.1dJ1·t I ' '"·
1

11
11 "tn.ir:->tl.11111111 J1.tnt1". 11c11 rc11l1.1tl,1pro11un IVI) />ur l'YY l 1· J • ,,
pur, puro.., ou. • '·
1
lr.u,.,1,1 .. r.i~ ·.111 l'·"· ' 1 1 l1.111t 1'" tl11 lllltlc> ~ll'H'' "fogo
' i , , ''" I''" tui.11, .. f1 l l '""'
Pdra trc.1n~ltter · ,,_
1
' 1
" 1
11.1 •, < .11.1 t ju.1nd11 sc• s1·gul' .i l11fn1.11>111. PY ·
dt 1tup, 1l11pc1r
(N clc• 1 .)
1
I

145
ções"
1
siio kvndos C' m conta. ln lc rvêm a ná !ises derivadas
dd 111orfologi.i, di! estética e da semântica, mediante uma
l 1.i11 s pos iç Jo a kgcír i ca e 111 e la fôrica rcgu la da. Desse modo,
a .111a1 iSL' de u 111 sítio cs lá 1 i gada a um a orga n i %ação glo­
L1l1 l c.i<) r11L111c.io, D L1111 Ltnivcrso, que inclui e compõe com as
forças da natureza as leis que as regem, as proporções, nú-
111cros e figuras e as forn1as ou aparências de que ela se re-
cstc, setn esquecer a mitologia, forte e poderosa: dragões
do Ocidente e do Orient e, potências do ferro e da água ape­
lando para s ua simples evocação das imagens benéficas
ou
n1a léficas
2
.
O trabalho de minuciosa descrição, que se
apóia
em escritos teóricos e exige uma longa prática, não
tem
paralelo no Ocidente.
Por isso tem importância prio­
ritária
sondar a natureza do lugar e as forças que ela ocul­
ta, antes de solicitar-lhe auxilio
ou de exigir o uso de seus
recursos.
A água não é sin1plesme nte água, nem o ferro,
ferro;
eles ainda estão revestidos de ''a parências'' que não
são nulas,
nem neutras. Essas práticas sutis, tão distancia­
das de nossa imperiosa necessidade, no Ocidente, de tudo
fazer e de
tudo dominar instantaneamente, estão, entre­
tanto,
mais próximas do que acreditamos de nos guiar na
escolha de ''nossas'' paisagens. É verdade que elas perma­
necem sem formulação, c omo que implícitas; dobradas no
interior de nossas crenças e dos movimentos de si111patia
ou de antipatia que julgamos irracionais.
Para nós, elas não
I. Sopl1iL' Clérnent, I'icrre Clén1c11t e Shin \{)ng Hal-., L'nrcl1ift'cture du
l'tllf Sat~t· e1t Cxlrt1111c-Ori1.·11t (f)J1 is, École Nati(1nJlc Supéricure des Beau -
Arts, 1987).
2. Cf a prancha anc\ada uo te O sut1racitado.

146
ANNE CAUQUELIN
são neni teorizadas, nem mesrno cntinc1adas, atuam em
uni grau zero de consciê11cia ou de fo rmulação, mas bem
que poderíamos at ualizá-las em caso de ''falh a'' ...
To111ando, porén1, em consideração apenas os quatro
elenientos, sem nos ocupar dos outros em sua r iqueza ex ó­
tica, já temos com que compor toda uma gramática da pai­
sagem, com seu léxico, sua sintaxe e sua interpretação.
Os elementos são como uma língua que encontramos
pronta diante de nossas aprendizagens e que se nos des­
vela
em nossas primeiras experiências: nós soletramos os
e
lementos como os componentes indiscutíveis, o bê-á-bá
do
mundo, aprendemos a distinguir suas formas, a compô­
las entre si em proposições, a reconhecer suas marcas.
Poderíamos enunciar, por exemplo, que não exi ste
paisagem sem o combate ritual de ao menos dois elemen­
tos
entre si.
-
O campo de trigo (terra) luta com o 11ori zonte (o ar);
o mar (água), c om a costa (t erra) e o ar (o céu como li1nite).
Assim c omo a montanha luta com o céu e, algumas vezes,
com a á
gua (torrente) ... Não há paisagem sem conflito que
r
emeta à Juta primordial (talvez), m as sobretudo ao víncu­
lo que a paisagem instaura e ntre elen1e ntos desarticulados.
Entre
uma paisagem ''esco lhida'' (discreta) e
Ltn1 panora­
ma compJcto (um sftio), él dj fcrc11ça csl8 na prcse1 1ça ou 118
ausência de um dc)s quatro clcml'r1tc)S.
J Já quem se pcrgL111Lc 11c>r c.1L1e, j)üt«.1 alé111 c..ins rnzõcs
literárias que irnpul sic>r1t1ran1 <)S vit1janlcs c.I<) sécul<> VIII
8
f . . . . ,
requei1Lar as coslas da C'nn1pâr1ia IL'111bran Çé,l de Vlrgi-
lio, marcas da hislórici ro111a 11u e lc11c.lé1s poéticas -, a baía
J •
• l
1' •

:a

d · ,' p J ( (JJ , (1 n tJ
b 1 a J a 1 iJ ., rn d 1 mu , , '
ntd(> , 1 qua rc' 1 ·m ~ ,. t'm ,ua ~ í .. ;_,' J.
1, '' e 'u, "' t · ra ilha ª'i (rr ~
u a rcc' p "rf ·ít<)
1 <' f g,, <:
,
ív i~ rn
7
JTIO la 1 U rrl( , C()5p .. scrnr1rc f-Jl ,,, S C~ a "f 2'7 r;; r' ~r r : ,, z~ , }.
prÓJ'r1a cidade joga ccJrn ,.J,·rr1c,. ., 1'., a rrrf"tra
1 o; ,,
5
,
~- ~· ..
vara ampliar sírntrJ, r;"'r" <•r (; (} incér (,J() 5-!-"{' ')"<• , ... e".Y..!'" "<;,

cav
1•rna;, é 2fJtÔr:> ~utf..J(()f,;_,<,
Ju a.-r•(, ,.,,.,. EL' r:;:.._,,_.,..,, r /
:...1 J ,J .1 v.::> -... ,/ ,.,..,, -
bÍC)S, o mar pc,r t od' 1r d~ tr-r ... , )r ~' ª'' rr '·S'"'" ". ·v"'"' .. J ,. ~ ... ,. ,. ~
"-"' , ~I# ./•J, ~. __,,,
A "Oá '>ô?''!fY' r0rr.rJ scnt(: .. ,.a '
1
~"arr1~ ·jr~I'' rCç,-c,rc, e.~-
• ry ' ':> :..t ...... ..., .JJ. -· -___ , -
ãcJ, '' r!:p!.:r~0r 0 C'.>S ri'"' att.:ríaís dP ~
11 '.:li )·....,~·:::. ~e:. ........ e. :-:. -ç_
- ""'~"' ,, oi..-tv'? ...... ,, -..,iJ "-
gra<;, dt: .,rar 5f'J":-r a~ãr, q ·...i':: p~,.mi em, r a e:ivs~:-c:a ~== :;:-
)
., . "' .
e emer•r.J, suos+1+:;;-0 p0; qua quer 0.;tr0 ~q ..... -:~.ef r.é.
Em face r:o ,.. 0 ... ~z0r ~º rf. •
1a~ r
1
'J r:::. ... ""'no rc. _..,;r,.r-' ... ~ .... _
- """""' ,. .,._ ~ .. --'-"' / •""''~""' .A~1o. ... ;:;J l._1 . ...,
raJ ·1€: se rrudado er'l rra:; fág·JaJ p€::a rrE=:áf0:-a é0 D!"'d"J:~;
ir(essanté das espigas, a0 passo que a rrassa r::a:s sc:7-
bria das ár~1ores do bosque que: o erro1dura perrriariecerá
crJrrrJ terra. ( ,Luant<J ao fogo que parece auserte, e:e será
~·1r)cado pe1o reluzir dourado do trigo e pelo brilho áo sol
r<.:~pJaridE:cen te.
1~ paisagem marir ha que cor sideramos :l~:ca, ''O
r(' ar, <J mar sempre recorreçado'', co mpõe, ambém ele,
,.,,rr ,, rr,rizrJntE: tarJ e a costa ou o rochedo (terra). E é o _ol
-<·~t ' JD ,.J,~ nasccnclrJ ou se pondo -que lanç ará st.u~ ra:rs
v >rm, .. Jh!.!ja nte~ s<Jbre a extcnsâ<> das águas.
, .
fJ1•'1'J' c,f•U na<,c 1mcntr>, u pinturn, que e aqui nossa
qu!.:sli:J,,, f,,, cJ riu ·sta<J lia paisagem, a ponto de urna não se

148
ANNE CAUQUELIN
desligar da outra, nem fazer nada além de tecer esses laços
substitutivos e de nos apresentá-los como
pontos pacíficos. Os sóis de Van Gogh atestam a presença desse fogo turbu­
lento, ao passo que a ondulação
marinha atravessa os cam­
pos e os objetos terrosos. Turner, o
mais heraclitiano dos
pintores, parece falar exclusivamente
da água; de fato, ele
joga com a transformação da água em ar, e do ar em
água,
enquanto as chamas dos navios condenados atingem o co­
ração
da cor abrasadora e a costa úmida da terra participa
da transubstanciação dos elementos
3
.
Então, tudo se passa como se, sensíveis à composi­
ção física elementar, só encontrássemos a paisagem ali on­
de podemos reconhecer os elementos ''primeiros'' ou,
na
ausência de um ou na presença de vários dentre eles, nos
entregássemos a
uma operação de substituição, graças à
virtude metabolizante desses mesmos elementos.
Não
é justamente assim que construiríamos o que cha­
mamos
de ''paisagens urbanas''? Expressão
q11e parece con­
traditar a noção natural de paisagem, ta
nto porque n ega a
r
elação
·t ,, ·
mui o prox1ma entre paisagen1 e Natureza, con10
pe1o conteúdo, heteróclito, muitas vezes sórdido, l)fcrcci­
do pela visão de uma cidade criçalin cn1 torrl'S ci is~1arata ­
~as, trespassada de terrenos vagos, s<1t u ríldi.1 de sujcirJs €
anhada pela fumaça opaca das essênci t1S n rl i fici,1 is ... e, 11ão
obstan te tudo ,
1 vemos o cspcl acL11() co111()
1
)nisagc 111. Isso se
3 "P ·
·
0
•~qucamor tcd t• • d'S~
tornar a1 e a do d ª ~ rra l! <> dt• ~e l<>11l,l r .ip u,1, a nltH ll' da agu.1, a e
' ar,ª e se lornar fogo e vice Vl''""" (l ft•1.1clitt1, "Fragn1L•ntt> 76").

·~

o.
'

ANNE CAUQUELIN
148
. d tra nem fazer nada além de tecer esses laços
desligar a Oll '
substitutivos e de nos a presentá-los como po ntos pacíficos.
Os sóis de Van Gogh atestam a presença desse fogo turbu­
lento, ao passo que a o ndulação marinha atravessa os cam­
pos e os objetos terroso s. Turner, o mais heraclitiano dos
pintores, parece
falar exclusi vamente da água; de fato, ele
joga com a transformação da água em ar, e do ar em água,
enquanto as chamas dos navios condenados atingem o co­
ração
da cor abrasadora e a costa úmida da terra participa
da transubstanciacão
dos elementos
3
.
>
Então, tudo se passa como se, sensíveis à composi­
ção física elementar,
só encontrássemos a paisagem ali on­
de podemos reconhecer os elementos ''primeiros'' ou, na
ausência de um ou na presença de vários dentre eles, nos
,,
entregassemos a uma operação de substituição, graças à
virtude metabolizante desses mesmos elementos.
Não
é justamente assim que construiríamos o que cha­
mam d ''
· os e paisagens urbanas''? Expressão que parece con-
tradit -ar a noçao natural de paisagem, tanto porque nega a
relação m ·t ,, ·
u1 o prox1ma entre paisagem e Natureza, como
pelo conteúdo, heteróclito, muitas vezes sórd ido, ofereci-
do pela visão
de
·d d . uma c1 a e eriçada crn torres disparata-
das, trespassada d t . .
e
errcnos
vDg<)S, c,,atl1r,1c.i,1 ele suJc1ras e
banhada pela fu -
b
maça opaca dac; c~sc'nciJc, ,1rtifici,1is ... e, nao
o stante tudo v ,
' emos o cspetacu lc) cc>tno p<:l i'-l8gen1. Isso se
3 "Po
· s que a morte da lE.! , d <l e
tornar ar e a do a d rra l! e, e: '>e t<>rn<Jr át>'lJu iJ rn<>rtc Ja água, a e~
' r, a e se tor f
0
' 76")
nar ogc, e vice vcrsJ" {I fcr.íclito, "Fragmente) ·
o
v.

IN\
11 N<.1 > 1 li l '/\l ~i/\l ,J..M
149
Ll(1ri~1 jl<>llllll' l'l.1 t; "1>ic'll11,\vt'I "? /
11
évc>n d".'l m
1
-b
' u él n 1a so re
,1 < :,11l' tltr N(llll, c>s 1)<>11tc>s tlc
1
l)1 t11110 e.' íl C<>r cambiante do
~t·11,1 . 'l11tlS 1lli <>s M,1t'(jllt'ls e• <>S LJt1illc>s? Ser~
• , . ... v que, para
~t'l t'lll l't'1 t't'l1itl,1s, t'SStlS 11,1i s,11~t
1
11s c.lt• cic.lnde têni de passar
(>l'' i1~,1lt>1 i~11ltl'11l l' l)t'ltl 11i1 "llL1rn? / 111t
1L1 ver, Lrnla se sobrctu­
tit1 til' t1111,1 1.il·s~, 1s t r(l11sfc)r111nçõcs r1cccss8rius dos elemcn­
ll>~ 1.it1 l1111L1il'11tc lllll' 11t)s circL1r1da. limolduramos, fazemos
tl1.l l'Íti 1.l<.il' r>n isngcrr1 ~1c ln ja 11cla que i ntcrpomos entre sua
f()r111t1 l' 11<)~. NL1n1crosas 'l1cti1,1te, urna esquirta de ru a, uma
j~111 l' l1.1, t1111 ba leão uva11çado, a perspectiva de uma avenida.
) 11rt)s~1cc to aqL1i é pern1a11ente. A cidade participa da pró­
~1ri,1 ft1r111D pcrspcctivista qt1c produz iu a paisagem. Ela é,
~1t1r SLtJ origct11, r1atureza cm forma de paisage m. Vendo-a
"1ssi i11, rendemos homenage 111 a sua constituição, recompo-
111l)S os elct11crttos de sua própria gênese e transformamos
L'Jd,1 se11saç ão, visual, a Ltditiva, tátil OLl olfativa, em tantos
OLttros ele111erttos de unia paisagem idealizada.
Aci1na dos terraços sobre os tetos que vejo a partir de
i11i 11 l1a jan la, s urge111 as estrt1turas metálicas de Beaubourg.
Na i-1onte supe r·ior, as chaminés em círculo parecem pres­
te a apitar, anL1nciar1do a hora da partida. O barco, ainda
aportad
o, logo, logo
deixar·á o cais. Lá do alto, un1a n1ultidâo
Lie passageiros conten1pla a cidade uma última vez, ou se
ai1ro11ta para descer, para aportar. O mar, a brun1 a, o infinito
estão prEsentes; 1noro e n1 un1 porto onde dor111en1 os na\ios
ele ~1c.1rtiLin . O 111onL1111ento Lie \
1idro, Lie co11creto e Lie ferro
111stc.1la L'111 tor110 de si Ll n1 a 111bic11tt" de ~,a isagen1; trarlsfor-
111a C) bctu111c 0111 ocean c.1, o céL1 c111 l1L)rizo11te n1arinho, os
i111Ó\'Cis ''izi11l1os e111 rocl1cLios.

150
ANNE CAUQUELIN
O inipulso do metrô aéreo, repentin amente surgido
da pertumbra subterrânea, explode no dia azul-cirlzen-
t evoca a vertige n1 do ar que as torres jmóveis pontuam
O,
e evoca111. o traço branco de t1m jato desenha um arco es-
tendido 11a impecável esfera circul ar do universo; ali nada
falta, os elementos desempe
nham nos quatro cantos seus qt1atro papéis de referência.
Provocando, pois,
por meio do jogo, o amante da natu­
reza-natureza,
eu poderia antecipar que a paisagem urba­
na é mais nitidamente paisagem que a paisagem agreste
e
natural ... sua construção é mais marcada, mais constant e,
ainda mais coagente. Ali tudo é moldura e enquadrament o,
jogos de sombra e de luz, clareira de encruzilhadas e sendas
tortuosas, avenidas do olhar e desregramento dos sentidos.
Reconhecimentos de formas e s
urpresas elegantes.
O can­
to do bosque, o recanto de rua onde todo mundo teme pe­
la própria integridade, a praça do ócio
(o jardim público, tão
anticidade como antinatureza) são ali co ntíguos aos altos e
majestosos pilares das catedrais- florestas. Não está at1sen­
te um só elemento, nem
i11esmo o regato subterrâneo cujo
murmúrjo incessante e1nbala nossas n oites urbat1as e jorra
de ''bocas'', tal como f onte nas fendas dos roc l1cdos.
Uma cosmoJ ogja i mpJ íci La 11os i 11sla LI rn L1111 sistci11a de
percepção fundamentado nos tlLttil rc) cll't11c11l<JS e Ot'llic <)S
senlicicJs jogam uns C<J111 ()S C)Ltlr<)S: l1 viSt.ll) (ccJrcs e for111ª
5
'
distâncius e prc>Sj)CCL<>), C) lalt) (liS(), rL1g()SO, (rio, ú111id~,
quente, SCCO), a ~Ud içãc) (O 80111 l'rislc.1lirlC) Lltl DgLtél, O ge J~lJ ­
do do ferro terra) e() oJ f él lcJ (as cslt1Ç<)L\S Jos element os tc111
todas o próprio odor).

'
J ~
l 1 ( f
/ / I'
1
/
' I
I
I
r
I I I
, , } /
I j li ' I , I , )/. ''/ ' ,/ I ,, ,1
,
,
I) J 11 :, () 'J 'I' (' , ( I 1' , ''I, , , I I , ( "
I ~ - / ,,. )~ /" ~
tfll' Jll1'1 1f1/. I~ l ,:1',',IJ'/~1
11
:J 11:-jillfi•/;:· .. 1j:, :.~,,:~é' '/t1:., .!'·l~":O
'1 , ""'''"" •
}1.11/<J, ,, ftíJ'' ',<' (1/111 '''' íJ 1,, ,j, t1rr ;"', ,, .. n;; (.i<·, .:;';<cu,''.
1
JIJ~J';f Íf IJJf <JIJ '1lliJtfí.1J{
1
<1jJ<•(;_.t,<1< '> <~ -''' {<•'., '/,~""'-'',, 1.J{­
t1Íl1íJflíJl11<'fl(t• fJíJfíJ Trl:Jrll<·r <; <·r~ J :r1( 'J f _.f<j{;."'"<",;:'" ?JJ Ó<)',,
'J IJ :J f I < J < 'J < • f I 1<'11 f < J',
( <J111<> ',' cJ<· 1<•'/)' 1r1<J', tr:J~)íJ]t1:Jr 1rr<·'>',~rt<.:rr<·rt<: 1 <.
11<J'/,:1 t(•'1<·J1:J
1 1
1:1r;1 < '>1r ,~11r1íJr ,, c.<,rr p<1r f,;s Jra'> '~ ._.r. r,;
1
}')ff:­
r)<111•1:Jrr1 <J', ~lrl~JU l<J
1
1 <•J<•rn<·r1tar<.:'1 aqui]<) qJr:. r1,•, ~ dad<)
f>''r' ''l;<·r, <lr• tr1<1<l<) <jur· fJUdf;
1
;',<.:rn';', rn<1nlar r, arl1f;< i'' <lc
lltfl:J r):JÍ')t11j<'tn
11
naf lJ((JJ
11
, r<
1
',p<1nd<·nd<J a<,<,)(() {J <·A.p(·<tativa
t1 í•,f <Jri<';j m~nl <· <. <1r1
1
-,I íl 1J í<la <J<· ',tJa pr<JprJ<,JÇâ'J
/ r1<J'>'>o r<
1v<·lit.i, P''J', a r(•f<·ré·nc Í;J 8'J'-> ,,J,·ment<)S que
:1< i1~> :J1f 1<J'1 (j,, <J<•',cr<·,1c·r <·',fá r;r<JÍundam<.:rtc dcJbrada no
i11l<
1r1<,r (J<· r1<>'1',tJ e ult ura, e•, ,,,, ('la s<· difcr<>ncia dos ele-
1r1,·r1f,,,, e '>t tV<J< <1J<J'1 J><Jr 'JtJI r<J', -rr1(Jr< <111dc1 assim sua rela-
, -
fJ 11,J:1<J,. (j<J cit<·i ;1 •.,1l<Jl' >í~1;J :~c·<Jrn~11t1c.J c<1rcélnn, que e tao
'1,111r1lc•1:J)
1 1
1r1<J f. 1r1t·r1c,·, vc
1rcl,1tl<
1
ir<J <JllC n regra geral sc­
J'' ·1ftl1cJ;1c•1 r111111:1e11ll1JJ,11l<
1
l<
1
J'rr1i11nc.líi.
li f ~' 111111 d / 1,11
1
-;11•,, / 11ft//tfJ11 /1
1
1 /ti/,,., 1•/ t 1
1
/ilf Hiii 1 p. 15(1.

152
ANNE CAUQUELIN
Aqui se trata, com a paisagern, de um a priori (a forma
simbólica
que filtra e emoldura nossas percepções da paisa­
gem),
mas esse a
prio1'i está incluído num sistema de orien­
tações e
de valores combinados, produto de uma gênese.
Estamos, então,
do lado das operações de transformações
intencionais
que provocamos ao trabalhar conscientemen­
te
na constituição de uma paisagem, do lado das descober­
tas desse
ou daquele aspecto da ''natureza'', montanhas ou
praias.
Quando essas descobertas se produzem, pelo traçado
da repetição, pelo retorno, elas se apóiam na forma que toda
paisagem necessariamente convoca para existir como tal.
O mesmo se dá com o trabalho do paisagista -inde­
pendentemente de realizá-lo como jardineiro da nature­
za ou de concebê-lo como uma interpretação literária ou
pictórica -,
que se funda em uma estrutura implicitamen­
te
consentida, à qual ele se refere de modo tácito, sem con­
t
udo se sentir coagido em seu processo de criação.
Com
efeito, a coação da forma simbólica ''paisagem'' não é per­
cebida e
se desenvolve ao abrigo de toda investigação.
O
que, em contrapartida, pode fazer o objeto de uma com­
posição o riginal ou de um sentimento singular pertencer
à ordem de uma ''poética'', expressan1ente reivindicada.
Tra
tar-se-á, nesse
caso, de u n1a retórica em se11tido estrito,
aquela que oferece o repertório de suas ''figuras do d is­
curso'' e da qual se vaJerão, ao 111csmo ten1po, os simples
amadores, fazendo urna obra de rcco11l1eci 111c11to e de co
111
-
posição irnplfcita, por uma eslilfstica que class ificarei de or~
d
. , . d zir na busc
inaria, e os criadores, paru convc 11ccr e se u / ·
de um estilo.
r ...
.... u ...


-, ..


3
A JJJI( J':>A f J/., J 'Â f ')/-.(J f:: A
Em geral supomos que as figuras de estilo, dispos­
tas e classificadas por ordem em um dicionário, es:ariarr
à disposição dos artistas do ''estilo'', que ali esgotari~T os
jnstrumentos de sedução de que necessitam. Essa é arr'â
representação habitua 1, que não leva em conta a realidade
e a banalidade de
um uso: a ''esti1fstica'' - em outras
pa~a­
vras, a prática de um ''estilo" - é a coisa mais bem parti:ha­
da do mundo . .. e, a exemplo da prosa de )..1. Jourdain, até
mesmo
na ignoráncía de sua existência. Essa caixa de ferra­
mentas lingüísticas
é uma espécie de instrumento, ampla­
mente
disseminado, que nos serve para fabricar dia a dia
nosso ambiente de objetos e nos permite adaptar as coi­
s
as da percepção a nossas exigências culturais.
O mesmo
se~ passa com a paisagem, para a qual são con\·ocadas, uma
pr;r vez, as figuras de circulação indispensá\'eis a seu esta­
beJccímento. Porque nos é necessário, para fazê-la existir,
passar
da árvore à floresta, do reservatório d'água ao ocea-

l .. 4
l l :{'-' \ll .. lti: J · 't ,ltltt;t1tit· .. 1 1..lt'~St' tlll'tlll' \.it' l''-'lil"'-'gttll1 '"
J. rtltt ,
1 lllt' '\.l
t it11t' l l11t'tl11. 'ri,1 ll' l',lS~,1'-i1.) , \ti 1Çl1t'S 1.' ,11,,
tt-..l() '~ l t 't.'11 ·l1itlll'lllt'I~ tl1.l l'\~' 'l't,ll l 1.l. 1~ St' '111 t.l'l l1l 11j
11
.._ ~ ) ·t1i .. 111lt'S 111t1it1..' ... i1.1s l1i: 'r .. 1ç ~ l'S f 1,..'l .. 1~ '-lL1 .. 1is "l1c~',1111l'~
.. 1 tlll tl'Sltlt,11..ii..) t .. 11 llll"-ll O "'l'llll'(lJliO, .\11! l~'j ~ Lll113 ~'dt~a
~ ,111! ~ .. 1l t'n1 )s $ t11 saber qt1 sat ~111 s utiliza-l c1 · co111
\.
( 't1l1c ·i111er1tL liê ~ausa.
e a á1,·ore fosse t1111a ár\· re e si111ples111 'l1te u111a ár­
\·ore se o rocl1edo fosse ape11as lt111a 111ass~1 f ~Lircao~a lie
forn1as atorn1entadas, e o regat f ssc agt1~1 ªf cr\as 11ào co11-
te111plaría111os u111a paisage111, 111as t1111c1 SLtC 'Ssào lie objetos
justapostos. Ora, 11ós pree11cl1c111os essas ( r111c1s co111 con­
teúdos por 111eio de u1n trarlsport<.: de nlribLttos cot11ut11et1-
te admitidos. O conto, a fábl1la, ~1 lcr1d0, .. 1 ric1J:n 11os JjLti..i .. 1111
nisso. Sabe111os que o car alho ~ igoroso, llLI '.) é ''\· 'tL1Stt
1
'
de toda a potência do 111ito, velho ''cot11(1o111L111lit ''. Sc111 (l -
nhecer sua eli1nol ogin -o rl1·.11s grl'g<) dcsi~~11(1\ · .. 1 J ~lr\ e re c
1
1
1
geral e<) CJ rva ll1c) c111 JJa rticL1 lar, <..'<..1111<1 ~L' ele t(
1
11rL'S(•11t~1~ Sl' ~
1
essénc1ê.1 <..le tc)dcl'i CIS 51 vares-, 11c>1., e) l't111l1l'C1..'lll(l~ (llll ) '-' 1l'
1
das fl(>ít'Slélt,, "<> ~t1 11c1r lc <..l<1 CL'Lt, <) L'i\c) tl(1 111t111cl1..1 •
() Cc1rv~1ll1cJ tllVcll i11l1c> (rc1/111.., /11~) <.' i111l· 1,1l11\1..'11l1..' ',1,ll \'
re rttÍVcl'', cl<'fl<>I~ V '111 .1 !;Íj~tlilit '.11 tcll1ll ~,(,l , ll"· l~·ll'l\ll' Nl)~ l'
l'l1( 1 1 1 ,, 11 ll'lj lll \:~
C)ll l(llllCIS '111 (()( 11 ~1 1 \
1
1 )',1'
1lllllt••, 1\,111,1(1\,l'• l ll', 1
1
2'1 I' . ,. , .. lll lll
11'-1 11 J lít, tl<J~ (,11v,1111<>1,1.I(' l l.11111l', 11,1 l ,,, 1.1 i.'lll
11
l ·'
tl(lS; lltl (~tél 'l<I, <> IT1\ll'll1lll l<l ll111·
111\,1ll11l tlt• 1 )tlli(llll' l' 1
1111
'
....

1 IN 1 NÇ1\< > l)A l)AIS A< ,f•J
155
félilC> /\.., fc>ll1ns 1..ll' Cc1rv.1ll1c>, 11<>~ ll)tlj)-; .
. · ' <LI<.;, 1narcarn <J p<Jder
~tt j)l"l'll1<> <.'111 111t'111r111,1 cl<> i1111J('1 nclo
1
J\ug
1
1
1
.
, , T LJ<; <J • ud(J 1ss<J es
t,1 j)l l'~l'llll' e111 11(>~, L,1Jvc% 111c..•smc> scrTI ciuc.: . 'b
<J sa 1 a mos pelo
cl!~l) l li 111C11 ele qt1c se a 1 i lTlCJl lél 11" 11ossos con hn . I •
\,;cimentos 1m-
11lícilcJs. Mesmo qLrc n5o víssemos carvalho algu
m em carne
~osso, éli11da te~ía1nos seu mode lo retórico, transmitido pela
l 1 ngt1agcn1, assim como aconteceu com a oliveira, por exem­
plo, qt1e e11contramos J1a poesia da Idade Média, entre os re­
tóricos do Norte, gue nunca viram nem mesmo a somb ra de
t1n1a. Objeto privilegiado das paisagens bucólicas, a olivei­
ra, acompanhada de pastores, de flauta agreste e de prada­
rias fluidas e
ondulantes, é indispensável ao pensamento de
uma paisagem amena, prazenteira (amcena). Com ela, e sem
a mínima referência a uma recordação concreta, propaga-
se
o perfume da azeitona, a presença imóvel e milenar da ter­
ra portadora de frutos, um certo azul do céu e o barulho es­
tridente das cigarras. ''Essas árvores e animais exóticos não
provêm dos jardins zoológicos nem de fazendas
de criação,
,,
amigos da poesia e da retórica antigas
2
". E que o jardim edê-
njco atravessou os séculos, trazido pelos poetas, assim como
a floresta sombria de forças vigorosas. Somos alimentados
por fábulas que jamais lemos e por sertsações
qt1e ja111ais
prova mos.
Carvalho, oliveira, mas tambén1 pinho, ála1110,
. , .
olmo, f<Jia estão lado a lado em nossa cultl1ra pa1sag1st1ca
c·c)1n a nascente, a pradaria, a fo11lc. Estão ali o qLte i101nea-
1 ( > t.11vnlho, c1s:-.in1 con10 lnd.i'i ,1s ,11 \'lltl'S d.1 f101l'~l,1,l' d.1~ l.dJs, é eYo-
ct1dcJ n.1 t1h1,1 dt.' J. Hru'>l'll', Lc::; ar/1rc ~ tl1• l"rn11c1· (l\111s 1111111, 19t'7)j ~[ Â" · lat'11
2 ('f cl ob1.1 dt• E. 1-l. ('urlillS, J" lifft'/'llflllt' ('/l/'tll't'l'll/11' <'f l' I ll,l/l.'/I, °ti( 1
(l'.11 is, l'l 1
1 19'56, lt11111) 1
1 p. 303).

156
i\NNE CAUQUEf.1'
n
1o e
n10 "lt1gares", os famosos topoi da retórica, os obje­
tos necessário à constituição de um conjunto argumentado.
egt1in1 . a t-'">ropensão de uma reminiscência contínua, ao
n1esn10 ten1po em que pensamos estar diante de dados pri-
,
n'liti\·os dos sentidos. E que, por trás da constituição des-
sa paisagem concreta, sensível,
atua uma tópica particular:
a dos panegíricos, compostos em louvor
à natureza.
O laus
-o louvor - é um exerácio que, por meio de topai específi­
cos, canta a bela e prazenteira natureza. Assim como ocorre
com os
topai da retórica judiciária, enumerados por
Aristó­
teles e sem os quais todo discurso de acusação ou de de:esa
não poderia se sustentar, uma tópica que se chama "epidíri­
ca'' go,·erna as descrições da natureza. ~1as nessa época, :-ia
qual os ''lugares '' do orador ou do juiz se medem pelas cate­
gorias do ,·erdadeiro, do ,·erossímil, do possí,·el e do impos­
sí,·el, do mais e do menos, do caráter, do acidente, da pai'\ào
e da ação -.i\.ristóteles
3 relaciona nada menos que 1 , ape­
nas para os raciocínios que partem de premis as pro\·á\eis­
são os objetos (o que), as situações (onde e en1 qual esta\âOJ
que a tópica epidítica propõe como modalidades necessan..1
5
para a descrição das paisagen ·.
Esse ''lugares' são pois ob1eto.:; pri tleg1ad .:: e~·~ 'hi-
dos no repertório d~ objetoc; naturais, t or lt1e li\?~ig11~
1
n
1
f ~ ·­
feitamente o que e de e ec;p r<1r de u111 t. -..r'(' .. í ·til •
1
~rt'::.tt? .
, . l ' 1 l .... "'t.' tl -
Em Ü ídio, reu11ida en1 lt111 ltt11co ti ~
1
' - •
. . , b d" i)i :r-..ii.11..1et.1
Cla aear\Oíe rnarcan1ac Lln ._11c1,1 '
-


A 11 IVI / lf / 1 > 1 >I l 'I 1' ,f\t ,1 • .1
,,,,11111·z,1, ·''' ,,,,.,.,,, 'l'''' 'i''' '111t1·í l , ,, i
, ' '', ' ''' ;Jrl ff <•',r1 ,, ( Ji
111.1 {· 1111jJ
1
J'/,1v1•I < J f'·'''' í'Ít 1, 11 'I'' J' ,.
, , ' ' I •l'J ~,,. '1' ;~,;-, ,j~
vt•t e,.,.,,, r11ll1.111t •. 1 ( J 'I' ''' 1•l1· < íl r1t ;, /, 'J ,,, , ;. , , J
I , ' I ( J1J J{ '':J) l'<•!(•
11111•, ,,., l1,1c.,''''• < .11;1< l<·rí•,t1c ,,,, cJc•'/,1• rr
11,,j, )< •
4
,
J, (< Í''' J(,<J pt·,:,,
vc>:t, ,,,. 111111'''''1:1',, ,. <J1·l1· i1<J', l,1•r•1irf1<J' <·rr1 t<,<J· .,
' - ,., ( Jf ~-•• ;J( J: ;;
,1l)1111clf1111·í;1 ,. ;,1cJív<·r
1
,ítJrJ<I<·
1
,fJ<J r<•<11J<·r
1·,J·J' '.r,, r"'
1 ' ;, j {J.' ,,,, ',<;, (t;
cl11:1.i11cJ<> <'fi' .~ l ul>lJ11<JfJt1ci;1 11<Jr ,., <>r1<>rr1í:.J, <J j~)rcjírn ''prr,rt<J
1><1r:1 11~,,,'' lí•11lt.J í1r1if';Jr '' j;1rcJirr1 icJc·al, pr<>P'Jnd<, urr ~al
f~L1c•irc>, lJJll (.lbc·fc>, urn 61arn<J <·m 2()() rnc~tr'J', quadr~d<JS!
J~c· 11cJc• <,e• l1<>m<·n(lgc·m rJ<> rncJdc·Jc, C<JmrJ se p<>de ... Alfrr
cio 111~1 i~, nãcJ falta rãc) nc·m <J fcJntc•, <,cJb a f0rma d<: um tan
c111c• de· ccJncr('l<>, nC'm ''" tcJp(Ji C<Jmplcmcntarcs: a pradaria
nn f<Jrmn de gram(lci(J, <J r<JchcdcJ na fcJrma de cascalho, (J~
D 11 i ma is, c
1
n fim, de gesso C<)Jorido: cordci ros, cães e pás­
sa rc>s d i vcrsc)S, até mc~mcJ Jcõcs, companheiros dos terri­
t()rjc)S de J iomcro. É o que pc)dcmos ver em Shakespear e,
c1ua ndc) cJc descreve as fl c>rcstas das Ardena s! No jardim
''prcJnto para uso'', eles dominarão, com ar melancólico,
élS cc>lunas do p<Jrtal.
''O que nos provoca alegria'', escreve Libânio, "são as
nascentes, as plantações, os jardins, a brisa leve, as flores e
<>S Célntc)S d(JS pássaros ...
4
'' Especificação do prazer da na-
1 ur('za cc>m referência aos sen tidos da visão, da audição, do
, .
<>lf(ltcJ, dcJ talo. CJassjficaçãc> completamen te rctor1ca.
1 Jc•ss() n1c>d<>, esses luga rcs são permanentemente ati­
v<:1Uf)S ('fl1 r1c>ssa pc.'rc.'c.'pçãc> s<.)11sívcl da paisagem, e a a11áfora
4. I~ J<. ('ur tiu~, <JJJ. t:Jt.

--------..----.....--------
158
ANN I~ CAUQUELIN
(aii
1da t1111n
figt1ra!, que desig1 1a o todo pelo qual o pas­
s
ado
se ir1tr0Liuz i10 ~1rese 11te co1110 se fosse a rrastado por
tti1
1
a 10
11ga
percl1a de so11l10) nos leva a pree11cl1cr o n1ode­
lo a
11tigo
co111 tt1do o que de pe rto ou de 1011ge possa apre­
se
11tar algun1a se111elhança con1 a descrição ideal. Central,
essa figura da reminiscência, ao articttlar 11ossas percep­
ções sobre a le111brança de costt1mes dos quais
11ão ternos
corll1eci111ento, nem co11sciê11cia, gera nossa relação com
os modelos culturai s: aqui se te 1n trarlsporte e tan1b é111
uma estilísti ca.
Alén1 desses ''lugares '', tão utilizad os, as
figt1ras do dis­
curso vên1 con1pletar, perfazer a construção da paisage1T1,
fazendo-os tra1 1sitar uns i1os outros. Real 111ci1te, i1ão aper1as
''uma ár vore pode esconder outra '', n1as, para qL1e l1aja pai­
sagem, um ele1 ne11to (árvore, rlasce11tc, lago, praciaria) de\rc
imperativa111er1te poder se substitLtir a u1n 0L1tro.
Definidos os lt1gares, fixados por L1111n t·rad içâl) (te­
mos um reduzido nú n1ero desses '' lLtga rcs'', porl1uc liclcs
excluímos tudo o qt1e é co11trá rio D ''bclczn'', n l181'11"10L1.ltl,
mesmo que nosso gosto rnodcr110 tc11 l1a fi 11l1l111c11te Lit1Lio
'
lugar 8 mor1tnnha, ao deserto, nc) cac)s Li~1s l<)rr L'tl lL'~ <.1Lt l
1
s
costas do J11ar cm ít'1ria), tc 111os 11CCl'ssiLil1 1..it' til' t1lili.1.1.1r L)~

rCCUíS()S cln lí11gL1l1 J1'1íé) ºl)L'rtir lrt111Sf<)rt11l1\'l) l'S, l' ~')I itlll'I •
ramc11tc i11crc1nc11Lnr o 11C1111l'rt> Llt' t1l 1jL'lt)S <.ll tl~ 1'',11 liL'ir
1
'11
l
1
da dcscriç oo e tin n11rct '11s5<) (lt' t1111r1 11ítiS tl!~L'111 .
U
. l , . l ' 1 l 1 l 1 l t l t l 1 ll
111 j<)g<) e e n1cta Í<>r\ls l r~111s lt>r111, 1 11 1l' lt '
J
·o 1 r ; . "lt'\l'llllt) l'lll
VC11l, C()l11() (' n lcx1vcl L' CC)l))() l'l,1 l'S !~ lt J,l, l) li
1
in" en!e
ra

no "' . '

159
iLi<)S<), <1 r('gc1lc) l'\r11 ft1gc.1 ele) lcri1pc> <> 1 .
.. _ ' age> cm eternidade.
l~SSJ 1t"111Sfc>l111"1Ç'1C) c1lllé 11C>S clc>is St'nl'd

1 oc,, p<>rquc tam-
l1L'111 Sl'r\tt' j)c.1 rc.1 11e11s"1r n clt'r11 idade '-" ·Ih'
' u vc ice robusta a
fLtgc1 til) lt'111pc) e a jovcrr'I ... Os lugares dn q f
1
/
'-uc a am os os
• - • I
ft)J1CJI, 11no scr1am o que são se não fossem t f ,, .
rans ormave1s
por 111ctáfor as: os atributos morais das árvores fazem com
que elas sejam escolhidas para entrar no jardim ideal; as­
sin1 como a transparência da água que não pode mentir
(ela se opõe à opacidade da mentira): ela é fresca, portanto
inoce11te, ingênua, cristalina, pura. E se liga ao fogo, tam­
bém ele puro, e à luz do dia -''O dia não é mais puro que
o fundo de meu coração'' ...
Graças a essa operação efetuada sobre os objetos de
paisagem, um conjunto pode ser montado em ligação in­
terna consigo mesmo. Mais que um deslocamento arbitrá­
rio,
mas em relação com esse mesmo deslocamento, é a
ligação que a metáfora realiza.
Para a paisagem, a metáfo­
ra permite e solici ta a passagem a uma visão moral da na­
tureza. Nada é mais moral que uma paisagem. Se a altr1a
é uma paisagem escolhida, todas as metáforas secundárias
que surgem daí vão se encontrar sob sua dependência: os
maus sentimentos são ervas daninhas a serem arrancadas.
tr
igo e
joio, aveia e aveia selvagem, aln1as desregradas ou
disciplinadas, sombras frescas ot1 1nela11cólicas, idades da
. -,
aln1a e das estações, regatos secos co1110 a i11sp1raçao, agua
que dorme e pedra qtte rola, anfitriões falantes ou ardilo-
sos, diligentes com o an1anl1ã ou fúteis ...

160
ANNJ! CAUQUEl IN
A
1
net6 fora trn 11sfor1 11n, at LID sc)brc for111as (rnetél rnor
foses ''egctnis cic Filê111011 e Bat1cis). Outras figuras atua
rão na sel1i.iência: elas a11u 11cia rão a floresta pela árvore,
0 111und i-1 la pradaria, o mar por um pedaço de lago; ou
ainda obre o próprio termo com o qual elas farão o sentido
e estilhaçar em diversas direções: a ''charmille'' é ''char­
me''* (a árvore), mas também c harme (a graça, o carisma),
mas também raminho (os ga
lhos finamente ramifi cados), a
galhada (o cervo, sob os galhos), r
amagem (e os pássaros
tagarelas)
... os poetas nos iniciar am nessas associações,
das quais nos valemos
continuamente.
Sem elas, não veríamos nada além daquilo que ve­
mos, limitados à visão próxima e quase justaposta, e não
teríamos o sen
timento do ilimitado típico da paisag em. E
mais, não teríamos referênc ia comum alg u1na para desig­
nar nosso ambiente, ampliar
seus limites, passar de un1
objeto a outros.
~Aqui ,J dlll<•rél "i(' v,ilt• de> troe ,1dilh1i t•11l1t• clt111111illt• (,1l.11nt•do1 hlltthldlt dt.'
charmr•s), rhortnf• (ci1r1>•1 ;J1 V<>1t· dt• í1t(• tr inl,1 n\vl1<1s IC11111ii111s /11•/11/11:.l, d.i f,ltnillii
dtJ • r~·l 11J;j,,."'•, pr1·•,1·11l1· cl,1 l•u1r1p.i ;1<1 l1o1) 1• tl1r11111c (q11.tl1do1d1
1
d.iqud11qut•
1111
'
11
'
•JY,r11d:1) (' .. <I•· 1 J
(
. 1 'I: i1•..,,,,d,l(l1
:> <1rn!1 '' 11111,11,1111 1a·rf1·1t .11111•11l1• 1 .1~ c11f 1• lc> 111"1111 111 1
1
• •
tl(I
1 1 1 f

I' 1•11 l\llh,111
1
l·Jrlci <e 1n1rn11, n rcal1d.11Jc• 1•111 11•11111,., d1• 1111•l.ifc11,1•. 1• .1g111
1

(l1·la"'
( J l · 11 • lt· 111
1
'""' 1''
"' .. t:<11n 111 •t•rr1urnt1P,l1u1111.i~.11111111•.11 1•11li·111111111111"'" '
11
.
•• I • 11•t1111li1111'
pi•r11·nc1i.1a11art 1 <I • rr11•t,1í111.1," ((,1'111vl' 1 .i 11111• 1'\11.11~ Juh11·
1•lll '•
11
\I'
d I
ri 1 1111•111'" 1 1
a11s ll l11~11uol1d11·1111r, l'.111u, l·rl1t 11111 d1• l'v1111111l, lllHIJ, 11 !hK)
1
•111
1
1111
r> ,
1 1
~ 111
ldforas da vida 111/11/1(11111, C:.i1111111i.11, lv11•11 .11111 d1· 1 .,,,,,.,, 'tlll
1 (N di· I· )1
11
' ;,
dt' ' • I 1 .• 1 tlll'l·llP• •l'• 11
1 Xpi•r11•11t:l11 C (>Ili C111hJl'll1 de• f'XjH'l lllrtl j 1 c• dt•f1111cl1111llll ld'•
1
I
t1 Ili
vil•• ·1 1
S • 111111•1.iln1<
1
"· ll•
11;1íl1JoJt., tr.in 1r11t11!.1t1111•111 tc1•tlu1 11P ,. e 11111111~ul.1•. 111•1 1li'•º ··
1 1
e,,
J
)
i
' 1 • 11 dl' 11h11•lll"
''' l r1an1t' 1111111 rnc•s11111 11111n1·.11 1111 11t'llt•l11•1 1111( 1•111111 1• 1111
1111 1
1 1 1 t'
n 1 1 111t•l,I li •
mo rc snltnr. ir1, e• da qunl il •·u 11u1d(1, V11 <•, 1•, ,ui;•,1·.J1111u N11·t1• 1 11', •
• nc1ul I'ª'• a h11gung ·in
,, ...... ,
'


'· ....

/ JNVENÇÃO f)A PJ\JSJ\GT~M
161
7AC
O mes n10 se dá com o trocad ilho etimológico ou
0
jo
0
li d o 116, li I t // g
segt.1 n o o n me . o c es assez do 7 AC ou 0 ''Sam suffit''
pertencem à inesma categoria que ''La Hétraie'', ''Les Mimo­
sas" ou ''La Châtajgneraie'', que nomeiam e, com isso, defi­
nem a paisagem. Rabelais já dava o nome de
La Beauce:
"Je
trouve beau ce ... ", e Paris, para um autor da Idade Média, vi­
nha de Isie quasi par (semelhante à Ísia, que se supunha fosse
uma cidade)*. O nome é definição essencial, é parte consti­
tuinte
do objeto que nomeia. Ele evoca ou interpela uma ori­gem, marca um desígnio, um uso, faz valer aquilo que nesse
lugar é mais lugar que o próprio lugar. A aposição do nome
é um ato de fundação, para o qual os elementos de paisagem
facilmente se
prestam. Eles dispensam a proteção de sua vir­
tude moral,
é sob sua proteção que nos situamos.
6. Aristóteles já o definia como um dos lugares do epidítico (discurso lau­
datório).
* A autora se refere primeiramente ao filme Final Fantasy VII Advent Chil­
dren, cuja forma reduzida Final Fantasy VII AC resulta em francês em "Final Fan­
tasy 'c'est assez"', expressão muito
usada e que quer dizer "basta!", "chega!",

suficiente", a exemplo de como no Brasil escrevíamos K7 para falar das fitas "cas­
sete" -a autora não deixa clara, porém, sua intenção ao fazer essa relação com o fil­
me,
que é evolução de um jogo para
PlayStation e PCs. E ela segue com o exemplo
do longa-metragem Sam suffit, de 1992, filme de Virginie Thev:~e.t: "S_ar;;. suffit"
pode
ser pronunciado de modo muito semelhante a "ça me s uffi.t
, isto e: isso me
basta, é suficiente". E, para exemplificar a persistência d:sse m_es~o,,fe~ome~o,,na
toponímia, ela avança falando de localidades francesas: La Hetra!; ( O ~ai~l,
0
lugar das faias), "Les Mimosas" (as mitnosas, um tipo de planta), La.Chataign~ ­
raie'' (
1'0 Castanhal", o lugar das castanheiras). É corno falar, n~ , Brasil, de locali­
dades como '
1Timbaúba'',
"Oliveira", "Jaboticabal ", "Pastos Bons · U~ exemplo de
topônimo brasileiro d erivado de uma expressão, à semelhança da origem do no­
me de Paris aqui aventada, é Olinda, nascida da frase dita por Duarte Coelho em
1535: "Ó linda situação para se fundar uma vila''· (N. de T.)

162
A perfeição l; ati11gi(il1 t 1t1n11,ic) t~c) isn <.' 11c>111t st' t<>rt1íl
111
un
1
só. Daí r c.1t1l' vcn1 t> ritc> ti<) 11c>111t' t' 11grn(1(1<>, irf>tlir<>,
no qLtal atL1a111 lítc.)tcs L' 11ii1rrl1c)lt'S. l)é1í <.' <.Jtlt' vf'111 ,1 irc>rli,
1
ott a alegt1ri(,1 ct>111c) figL1rn Li<) (iiscL1rs<> 110111t'a11lt'. L J111 g1<>s­
sário dos no111cs dados às rcsidê11cias faria élJJé:I íl'CL'r n JJl're­
nidade dos n1odelos a 11tigos: ''O ou Meu Pa rn íso, l 'cquc11o
Paraíso, o Éden, ou ainda Os Rouxi11óis, O Ccdrc>, As Oli
\·eiras, As Cigarras, Sol Poente, O l lorizont e, ()s Dias Cla
ros, Serenidade'' ...
Desse modo, em nosso pcrcu rso de todo t1rd i nn rio pela
paisagem, seguimos, a nossa reveli a, Lima linl1c:i 11nrrDliva,
toda constelada de ''figuras de csli lo''. l)<.1 rn 11c>s convc11ccr
mos d isso, basta rea 1 iza rmc)& e> ''gi rc> dc1 pr<>11rit'l <Í ric>'' co111
qualquer jardinciro-paisagistn n111ndc>r: '' ... J\c.1L1i, 1)ln11tci
um salgucir<> ~Lta Í<)lhog(•tn chc>rc>sL1 ... " (t.'is <1t1 L1i t1111 lt1gf11
ftoposj dupJicéld<> CC)m urnn rnc•t{ifc>ríl '
1
cl1<.>f<>Sí1
11
C llll1 lL'r
m<> dc·c;l(JCtJcJ<> p<>rc1t1c· cliz rc·'71)c•ilc> <•<J l1L1111r111c> e· <1 st· t1~ st·r1-
tirnr>nt<Js, nií<> ;1 ttmé1 flrvcJt('). ''f)étli, ((•111<1~ t1111,1 Vl'-,11<1 tl<
1
r;,rr1 p<> ()tJ<·rn c111c·r tJJr1c:1 c·<1~ié l <
1111 t1111 l)LllrlC' <>'? 1:c>Í 11c11 t'clll
f,;J rJ;J '/l',f;J <jtJ<· <<>1r111rc·i c•f;lc• t<·rr<·11<>'' (11111.1 < '<)i ~;r1 j><ll 11t1lr.t,
!.) 'IÍ',fíJ fJf·Jr, l(•ff(•J)<J).
11
J\lí
1
( <>ll!il t llÍ 11111 11\lll C> jl1llcl l\1lll \ft't'
fJ /Jí'lf ~1<1'' (<, <jll<• ',t· <Jll •f' t· V<'I ::1•111 Vl'I, cl vi• .. 1<> t'
11
~1l' lll t>l
1
• t
11
; ' 1 ( 1 'J f I
J • ' ' , ' · ~ 1 r n ri · , 1 r ' ' • r 1 t ' • 1 1 1 r , , 1 'v' 1
1
,
1
, 1 ; 1 1 ' > 1 < • r 1 1 , 1 t • 1 1 1 t • ~; '-.. 1 c > '
(J/',/t.f) ''/.<jllJ, <l<•Íx1•Í Ll11', .1111111,111
1
1 j>111',1 1>
1111
1
t't
1
l lll1IÍt• llcllll
l
// (; ,, V . Vl )l 'I'
r '-
1
' · , 1 < 11 1 t: 1 J ' 'j , 1 , 1 1 < • v' · r
1
r1 v' · I , ' , 1 1 1 , 1 1 11 1 I 1 11 1 • / • 1) •
1
• J •
1
'
1 1 li
·< 1 '' r íl<..> , r '', r r ''.,,, 'l .1 ,, , t l li r ' . /' t, I','' ' ' • ' J I 11. ,L, l r • 111 < 1111 l 1 < 1.11 , •
(t· ~ u vírt 1c,lt• ,,,,,,",1 t:,,,,r ., 1c.;lt1
1
,t•l,1 1111•l.1J111.1).

A HIJ\'I N1 l\11J1A l'Al'•t\' .11\.1
() .1111.111111 lll<Jjll lr
1
l.11 li> 1111111•11:1 '•''i'',lllt JJ
1
,
1 ( , I
) I
< <JJ1f.111cJ1J
1111111,1•, 111111.1·, <'1J1·,.1·,, 11·,:111111) l111•l 1l11Jl1•• <J/ll } ,
'
1
1 ll'JICJ'1
1 IJfJ<r
l>1>l1
11
, t' .111
1
llH''dll<J .tl <
1
}~<1l 1;1·11 '1r' 'I<)< Í• <J IJIC 11:1·,·
11
, J~ li · '''Jf;)
IH
1
l1
1
1'c•1,1 11111;1l<'l,1<,'.I<)111· J<l1•11fi1l:1clc• <'Jllt1• ;
1 J>rc)rJrl:J ,
11
,J:t ,,
.1ep1il1> <JllC' c'cJ11•,l 111i11, l:il:11;Í ele,·, j><Hl<•1c··. cl:1 :í;jtl:J, cJcJ ',<JI,
1lc1 Jl!'l<lll'1<J j>llVÍl1·1~ 1:1< I< > cp11• j>1•11J1Ílt• r>c•tcc•~J <'r ·,u:i <<Jn·,
l 1111;.111 JJr·/cJ
ftl(/<J fl<Jlll, fJ<'f<J IJ/f
1
f/1<>r ft11:,:uf<J, íJ<Jr<jllt• ',(•Jnprc•
t''.:Í',l <' 11111 .111.í·, '''' 11111l,1clcJ11•vc•1•,c> <Jttc• •,e• 1r1ant{•rt1 í",<<>fl
<Irei<> l·:t;:;t• J><'rc 1r1·,c1 e <Jlc11 rele> ele• lc 11lllJr;111c~;1•
11
éJ',<.;Írn C<Jrn<>
ele• C llír\'C)C''11 r<
1
C'C)ll'1f Íltrr ;1•, 1><
1
<;;1•, ele• lllTI (jllc •br;t C;)bí1C,ci r)c•J;1
fc>r\'íl i11tc·1~1;1clc>1~1c l;1•)1 11c •f;Ífc ,1 ;1·,. /\
1
, l>ílÍ'>ílfj<'n'?, t;:int<J c~uan
lc> ;1~1 11;11 r;1livé:1~ ;, 1é•111 Lili :,c.•11ticlc> ti(• lt•iluriJ, <> é.lUt<>r ac.,~1n()
!}<'11 j;1rcli111: j)<>r 111<
1
Í<> clc•lc•, 11;1rr;1 ;1 1>r<) 1Jri ~1 vicln, ,15 lhe• <,(.>n-
1 i<I<>. () 11;1is;11~isl;1, ji1rcli11c•irc> í.lr11nclc>r, (i,·é.lrÍél ndmirad<J c.,c.1
VC)('(• ll1c
1
cliSS('SSC
1
tjlJC' c•lc• ('C)l1SI íllÍLI SLléJ j)(.1Í<;ngc.
1m com o
;11 rxílic> ele• <>JJc•rnçõc
1s rc•lc)ric·;1s: c•lc• 115<> ~1 '-i cc>nhccC1, ">ão in­
l 111s<1s, clc•lns jt1 1n~1is C)LIVÍLI r~ 1~1r ... C)llC.
1
ÍC.'/. <.
1
1<..i? NãcJ pe11s<Jll
s11,1 c·c>11sl rl1c.;Jc> C<>111c> ''c•slilc>'' t' r<.
1l<;>ricc1. NôcJ. Simplt,.srnerl­
lc· <)l)C
1
<.lc
1
<'('ll (l lí11gu<l, ~) C.,('LIS 11)C)VÍll)('J"llC>"> e ti ~l lJS figLtI'tlS,
J),JJét J>rc•c•11c·l1c·r <> 111<>clc.
1lc> ele• rc
1fc•r(•11ci(1 <.1t1 • ; íl 11c>ç5c.> co­
t1111111 ele· 11íl is<t~~c. ·111 : c•lc• llS<>LJ l'Xl1t 41111L
1
11tc• Llll1tl <'~f i/{..;lic<l or­
rli11r11·ir1, J1él \JIJ,11 <>S rl)C>t lt'lc> ~, t
1slfl<> irlll)I Íl' ÍI<>~.


4
JOGOS DE ESTILOS
Apesar de reconhecermos aos criadores o uso exclu­
sivo de
um estilo, a prosa ordinária, que acabo de esbo­
çar e que utiliza
esquemas retóricos impl ícitos, não está
muito longe de
já ser o estilo ...
Para nos convencer di sso,
basta comparar o percur so de um parque como Versalhes
e sua descrição pelo próprio Luís x1v
1 com o percurso do
proprietário-amador de jardins e m seL1s 800 metros qua­
drados. Sentido da visita, paradas ob rigatórias diante dos
pontos de vista, comentários e discurso moral, invocação
de metáforas e, no caso de VcrsaJhcs, da alegoria explícita.
O labirjnto de Versalh es2, por cxc1npl o, põe c111 d<.'staqLic ª
participaç5cJ dél pn isagcm na cd i ficnçfi<) 111c)rn I de> visitD
11tc.
O ,, . ,, · 1 /
11
()r <.' tin
prc>pr1<> p(•rrt1rsc>, cntrcgLit D<> l)éll1<><.'1111c> <. <) '
JJ d" . (j "' j'·>Sl
1l
1
'St)l'lC)),
ru ('JlCl(J e U[l<, ('Sléllll[l~ C.lll(! l"C'j)l'(.'Sl'l11, lll1 ~I( . ,, r
l 1 , '// ( ·I icio d1• f\,1111d t:I
• .l11•, xrv, Ma1Jl('Yt' tle 111onl rer li··· j11r1/l!u1 t/1• Vt'/ 'lt/I , .. , !>' 1 '
rarc.l<•l, l',1r1~, J
1
lc111, l'Jr, 1) . 1>,
1
rio;
1
1' M ( Utl.111, '
2 C harl<•s J>t·1 rnull, f,1• /abt/l'ÍN/li!' tlt Vl'r ~.t1//lt• t• (JH>·•fu< 1<> 1 1

Í~dtlí<>J"I!, clu Mc>111leur, ICJH2). ·

A JNVENy l f)A PA1S,\GJ~M
165
iiicficu c1uc todc> cr11ni11l1<J terrestre é um c0mbate entre a
\'CI <.lnLic e <> erre>, c41rni11 l1c> l' >rt UCJ<,o, e uja saída depende do
l1f)111t•111. /\s fc>11tl'"i (<1 ,ígLta é símbc1lo da transparência e da
f ccLt r1ci iLlnc.Jc) t.;Jo ornadas de rcprcscntdÇCJCS -quadras em
''Cr"iO'> de Bens0radc, acompanhando a figuração plástica
dos nnimais da fábula.
Desse modo, os ''lugares',, se comentam a si mesmo$,
eles se refletem e se a uto-indicam enquanto tais.
Duas práticas, u
ma só e mesma operação. Entre o jar­
dineiro-amador, que procede de maneira espontânea, e o
pai
sagista, a única diferença reside no gesto reflexivo do
criador paisagista. As referências são exibi
das no caso de
um ''es
tilo'', são desconhecidas do ha bitante paisagista
3
.
O
processo de transformação é explícito quando se trata de
u
ma criação reiv indicada pela Arte, ao passo que é implíci­
to
quando se trata do habitante.
As alegorias
do ''jardim dos sonhos'' são decifrá,Teis pa­
ra o he
rmeneuta, legíveis pelo visit ante em um nível menor
de co
nhecimento, mas estão present es de maneira \Telada
em qualquer estátua de gesso colorido com a qual meu i­
zin ho ven ha a enfeitar o canto de seu gramado. esse cas o,
trata-se menos da repetição de um modelo aristocrático
e:\­
p1icitame nte admitido e recopiado, co 1no geralntente se diz
diante das elucubrações gra11diloqüentes -torres, fro 11tões,
amcins das habitações e jardins co n1 canteiros à la \'ersalhes-
3. l'c>r iS!-it> fu1,11n 1\L'Cl'Ss,11 i\1s \l i11tuiçà(1 ê ·' ,l11 .. \lis~ dl' B~rnard Lassus para
atuolizur <>s "lisptlsitiv1.>s r1.\t<>ric<1s stttis llltl' t .ls "l1.ibita11tcs paisagistas" puseram
cm JÇ J<> 1.•m suas pcrsi 1l'Ct iv,1s.

r
166
AJ'\JNE CAUQl JEL~
com as quais se \
1
êen1 enfeitar os pavilhões suburbanos,
que de urna atitude estilística, necessária a toda instala­
ção de paisagem e necessariamente idêntica nos dois ca­
sos. O sentimento da paisagem e sua percepção, provinda
de un1a operação metabólica, têm a mesma natureza tanto
em uma parte como em outra: tão vivos no gramado raso
con10 diante do Himalaia. Somos todos um pouco Perri­
chon ... O êxtase não tem dimensão calculável.
Há, portanto, uma porta dupla que dá acesso às cria­
ções dos
paisagistas contemporâneos: com efeito, eles
se situam - e são disputados -entre dois termos: um é
a vertente
''natureza-natureza'', que, para dizê-la, incita­

à aproximação máxima da grande Natureza; o outro to­
mará, ao contrário,
uma distância notável dessa natureza,
atribuindo
à paisagem a função de velá-la, de tornar seu
conceito ambíguo,
de mostrar a que construção n1ental sua
percepção corresponde.
Mas essas vertentes não são mutuamente exclusivas.
Trata-se
do espaço de um entremeio, cujos termos se equi­
libram. Fino fio
de uma prática sempre ameaçada de cair
no excesso da naturalização ou da desconstrução erudi­
ta. Pulsação imperceptível,
onde atua a medida. Juntura
ou entrejuntura de uma porta auton1ática, cL1ja existência
depende da dupla possibilidade de conferir acesso tanto ª
uma como a outra.
Dupla face de urna interdição:
-De um lado, a paisage111 ''i11lcrd
itn" a nntL1reza; de
outro, um come
ntário infinito
força essa i11terdição n se
apresentar como a essênc ia natL1ral da paisageni ... Des-


..
-Do a
1 as .. .. •"""";.., ... .... .. ... ..., . -... \.••· ...

~-i=~ .... ,..-3
.... '-· _J.
'
........... ~ . \"' .
·•'--~. ,."'. . '

A tNVI N<,,.Â< > 1 >A l'AISA' ,f M
' ( l . J
'l' 111<><1<>, t1~. < 1Í.1ll <>11•·., '1<' , .. ,f,,J<
1
.11r1 I'''''' Jrlti',lr:lr/<Jr
111t,
1
r,
111t";111.1 111<·1l1cl.1 (1111• ,,., ·1i11111lc", :1111~11lt>t(l• 1 11q11iJihr. m P')lc>
i11sli11l<>, li 'btC)llllc'Cl
1
ll<l<J ,, <111")11;JCJ
1,r1~JC•J11 '1:'J~J '(. l~I ··, ,,,.,
l~ti~1<.l<> t "S] J>l<)l'l'tlc•1r1 íl ílj);lí'íltt1<•11I<>'> e• 1n.1Jc:1c<
1r·) ,. rJr<
) > / I 1 )
c..lt11.111tl<> vL1~I e><., c'<>11j11111 <>
1
i c)tl J r1c >< lc "11 < ,., f)<Jrtr1c•i1<,r<"-,, , .,..,f,
1r
c,,1111 t.;0 JJ(IJ (l f(l;t;( V<!r () <ILIC' ll(jCJ (,,. P''º'' V<·r, rJara f:1z1 r
se11l i1 <) lJLI<..' 115<J ~e j)<)c..lc..
1
l<J<'t"1r, fJDr•1 (.,u,~c·rir <J 1r1,1j·,í·1<·J: ;J
estrt1lt1rn <J(L1lln c1uc.• pr<'<,Íd<..· n c
1
xi'-ift•n( ia dn r)nÍ'Jé:lg'·rn.
f)c) lado ''11nlur<
1
%ci
1
'
<.la prnt 1c<J, c<>rr1 (lnf a~<) n<><>
c lemc 11l<) ~ naluraí~, <J c.·~tu<lcJ de>'> rnt
1
Jc)<, c.• <.lc, <,u<:i<; c<>mp<J
~içõc.
1
s, fauna e
flc)rél. 'I'ratar-sc- iD, cnlá<>, de uma ''rcnatu­
ração''. Vigilância minucic)c.;a <)U prc>lcçãcJ ma ~, de todr>
mc)dc), produção-, essé:l prátjca produz o inalo segundo prcJ
tocoJos explícitos. Sclcci<)nar planl éls adaptadéls aos clima~,
f av<Jrcccr seu crescimento, dc~c<>b rir ncJvns espécies <Jure­
dc~cobri Jas (porque ac1ui a hisl6ria lcm sua importância),
hnrmonizar fragmente> e tolalidndc, criDr um mundo à me­
dida de uma atividade paisagista ''ccc>lógica"
1
.
JJo lad<> de uma atividade mais cc)n<.>trulivista, tratar-
5(• á dc.
1 marcar a dísl5ncia entre él nélturcza e sua c.icscrição
f><
1la pa i'>agc'm. J 'ráticn r(,ivi ncl 1cnda por rnu itc)S pa i~agis ­
t {J', e <Jnfcrnporilnc.><J'> -n pJ<.)<.Jagc
11n é.
1
r<'1nnrt·,1tla tle n1a11eira
crft 1< ;1 <>LJ iréJ11icD, '>t'JllJJrc C1-lJ)<
1
t,1ct1lé1r. J11tervenções gran­
c
JicJsa1, (,1 fttr1d c1rl) <>ti r11i11í 111é1lislr1s, l'ltl" é1ssi11a111 ~1ssina ­
J,
IJl CJt, fJllJC C"»~,CJt, 11,tllJJ'rljH, <>i><>l'lll Jl<)t.; tl Ji11gtJ t1gC111 ljU~ í)S
1 e f,
1
,,,,
''~PltlJ)ft>, lJt• l'lul!J> F1y, '
1
h1t1111~1lH' d'u11 111Juv1•.111 J<.irdin pijyi;.1
f'''l
11
, 1
1
atllf ltutc (Mc)lllr••ítl, 1 4
11, d1•1. 1986).

lt's
descre,·e oti aos instru111ento ~ qt1e ten10 em nosso poder
rara ~onhece-los: lint1as reta aposta aos meandros natu­
.,,.a1· ~ tra -a :lo-o-eon1étricos que contradizem as cun·as da
L - , v
c::rüooo-rafia rotulacões e inscrições eruditas, referências se-
vç ..... >
n
1
eadas aqui e ali, e\·ocando a n1etabolização implícita que
-
subjaz a nossas percepçoes.
Os n1esn1os lugares, os mesmos objetos, as mesn1as
operações
às quais são
con,Tocados os paisagistas-amado­
res. Contudo, as escolhas e as transformações às quais os
jardineiros do cotidiano se entrega,·am tinham algo de es­
oontâ:leo e àe inefá,·el; contrariamente, as dos criadores se

tornam proposições: jogos regrados com a natureza, que
nos fazem entrar na intimidade das possibilidades paisa­
gísticas a construir.
:\esse afastamento da natureza, eruditamente impos­
to pelo estilo ''
construmista'', os jogos de desio11ações são os
mais fáceis de
descre,·er. Retomando as proposições rous­
seaunísticas de um comentário moral sobre a natureza, ele­
inscre\· em a fala na ordem natural. Eles a comentam per­
manenteme nte e, com isso, indicam que não podería111os
dispens
ar um trabalho de referência para apreender todo
elemento que ali está
dado. Jogo eminente1nente
especia­
lizado. Hamilton Finla )', por exempl o, ao 11os proi.-')or a lei­
tura de ''Claud ius" no parapeito de L11na t1011tc. cstt1l
1ele ·e
ª equivalência dos portos cn\·oltos c111 L1111,1 l1rL1111 .. 1 LioLir,
1
-
da, ªdos quadros de Claude Lorrain p,1rliLia 111,1r1ti111a rLi­
mo · fi · d J 1J
ao in n1to os oceanos-, co111 o si111plcs a~1arJtO Ltê Ltll
passarela estendida so bre um braço de rio. LlLti, os n<)
111
es

i\. 1 Nc., \l) l) l'\IS \l,I \1
169
t 1l111stl)t t11l1111 (1s ll1~~l11 t'"' l't11 <lttl 1 <>"' lt1gJres. "() título esta­
l t.'lt't'l' t1111.1 rt'll1çl1ll lil' l'lllt1\,1lt'11c·ic.1 l'<lt11 e) textc.1, a legenda
111.111lt't11 l)t1l 1.1 t'()t11 tl lll)jctt1 Sl>l11 e <l <.1t1n l está apc)sta ". Jo­
~~1 Lit.' t1111.1 Litt~)l,1 tllL'lc.1f<.1r'"1: ,, cc1isa e t,L'Lt t"l<lme, n1as
0 no­
tlll'' ~1L'rlL't1c' n L1111 CC.)t"llC'\lo 11<.) qLtt.11 lc111 <)utra significação.
t s j«1rlii11~ c.i Finlay sãc1 jarLii11s do logos, de uma intertex­
lt1r1 liz<1çno coL1tín1,1a Li os objetos r1atu ra is 110 domínio da lin­
gL1Jgc111. Citações, posições dessas citações em portas falsas,
~1ot"ti za ão OLl poietização: produção de uma paisagem pa­
r(.1lela qt1e e\·oca o in1agi11ário de uma cultura ... ''Os letreiros
são Lt111 co11\'ite a pensar, observando o jardim, na hipó­
tese cultural qt1e nos permite er a natureza criada como
L1n1a paisagemt-''. ornes de árvores de Lineu, aos quais não
é i11difere11te o trocadilho con1 Lineu (lenhoso) e que fazem
inte1\'ir a ciência botâ11ica e as viagens de estudo. Ali tan1-
bé111 se ten1 a assin1ilação com a história da arte dos jardins,
da história e da poesia, antiga pela aposição de letreiros que
levan1 o non1e de e11a111orados célebres (Angélico-Medoro).
A desig1znção introdltZ a din1e11sâo cultL1ral naquele que
é um dado pretensamente natural. Com a orde111, e sell jo­
go,
ton1a-se
L1m partido pró ~in10. O jogo da orden1 n1ostra
até que po11to nossa visão da pai age111 depende de pres­
sui.)ostos singulares. Ao traçar un1a linl1a reta e nt1nt11
ligando L11n por1to a ot1tro, acin1a Lio qL1c su1-10111l)S sere111 ,-a-
5 Luciu~ l3ltrl'1'11011.it • 1 '-' j.lt\itn ttl'~ ~iµnit11.-.1tif d~ l, 1 H,1111il~)ll finl.l) .
.r\11tJu1~ (1~1u~an 11c,11 ~ 4, tl)~4 ).
6. r1.1n1:i~ F.dt•linl'. • St1.1t\Yl'•ttll, t J.t11.li111\11.'tii.ltl'\lt en1 Lt· iar1ii11: le.·tun·~
t'f rt•lnt h1,,$, l'it.

... --
_J _
-
;";'if -----
---
a
.. ., ..
-~ -~,-_
---•=.....-:-
----i_.;·~~
..
..
-­,. -.. _ ..... _
-
ou a

-.... -
::::
--
-
..


-
..
.-' r
• •
·­,-,. .......... ·-
e _,"' -1ólo"' ~ •
• •
...---..,,,,. -_, .... .... -.... ---,,.,
,....__,_
-..,,,_-. -- -
,,,.
!'. ~..f' ... ,,,,.,. ~..,,y,-
,, -~ ,,,,, ,__ ,,.,, -.._ . ---~--
...
-,,,..._..,, -~- .--.... -_, ,_.-__ ..,...._ ,;
.!..~ .
--... .-
-....
--
"' ....
--
------
.,J ---
-o­.., __

• --,,.-­_,,,,,... ,.
................
-

---
-1' -,,,.,._ -~-,,..
~-=-- -:::;_,
.... ~_...,,_~....-rc;:---
/
,
....,...,,_,,,. ............ r,
-:: ,,,,,. ; ---..,,,,e -- .,,,,. --.....__ -----
---
-
~ ~.....,,A"- ......... , ... :::_,"'"'
,,,.,r ------
-............-------.,,..._.,,,
.... --
..___,_ __,,,, __ ..,,, ... ..........---
~---,,,,.. -.... -· --
_,
__ .,..,,...-.,....
---
-
--
_ ,.........,,..
----
... ___ ,,,,,
... -...
----
..

/
_. -
---
-... -...
X
--.,e ---
••
• ..

. "' -..c-­
_,r_,,,,, ..
,.., -r .... ,...._.,,..
... .,.,,,,. ,, -._.,.,,_ __ .
~
.......
....
r-
.....C
,--
... -::::
• --

~,,
--...
---
"" -
...
--
-
-
-....
-
-,,. _
.... -.
-,,..
---
.. _.,,...-_
----
--
---
-
,,..,.. •e
--­•
,
,,. ,,.
-
...
"'
-
_ _,._,_,____.,..,,.. "
-? .-r-~ ,.
• ~ ,,,.,. ,_...,,..,,,
..,, -= ~ .. ;-; .,,..

-----

/ -......
....
,...._,. ,,,,..:...­
~~-..... --
---

..
:-
' ·'
' '
A IN\IFN<;Ã<) l)A PA ISA< ~l .. M
171
/ /ff ofl'S, a<.1t1 i, é LI 111 111<>clr) de Ztj)rcscntação do ilirnita­
cft) L' cl<> ílu oº. () 1ncs1110 se digu das pedras ''coletadas" e
clc.1ssificcidns, <.lLIC rC'J)rOdL1zcm umD forrnu "nutura]'': a do
cn rn 111L1jo. / colctn de objetos e sua disposição tocam as
dL1ns bordas do ar tj ficial e do natural. A instalação em um
"lugar" i1atural, a beira- 111.ar, a praia, o roched o, a clareira,
inscreve o objeto co1110 lugar retó rico; como topos, ele pas­
sará a pe
rte11cer ao glossário paisagísti co
10.
E van1os mais long e: o jogo de descoberta é muito clás­
si
co: que1n não gostaria de se tornar o Cristóvão Colombo
de novas paisagens? Encontrar o ''abre-te, Sésamo'' da bela
ado
rmecida? C om esse jogo, são os mundos ainda não na­
turalizados que se abr
em pela ''filmagem''. Jogo dos limites:
ou como apreender o que airtda não recebeu tratamento no
vocabulário
da arte da paisagem? A
citação, aqui, nasce do
nada: a invenção deve ser feita por sugestão de in1agens
11
.
A
fotog.rafia é o instrumento da invenção,
con10 o desenho era,
para Viollet-le-
Dt1c, o instrumento da descoberta das mon­
tanhas.
A fotografia e a câmera, porqt1e geralmente o
ciI1e­
vídeo é tomado co mo ''terra'', como o suporte sobre o qual
o
artista trabalha. De n1ais a
mais, a arte da paisagen1 \<en1
utilizando os materiais e as novas tecnologias como aqui­
lo que
seria o mais apropriado à refle ão paisagista. Apa-
9. J
IC'rn1an de Vrics, "F1t1n1 Sct1ltish l'.1rth", qunrl't1t,1 Jn1ostras de terra 11u­
nic•radas e clossi ficac!as, cni I{. Ac"I i n~ , 1'11e 1111pni11ted ln11dsc'npe (L()ndres/ Etiin1-
bu rg<), Corneie l)rcss/Sccrltish Arl ('t,uncil, GraL'lllt' f\lurr,1·9-'llcry,. l~87).
10. Andy Gc1ltiwo1 thy, "Bt•nrh rairn l't>llccted pcbblcs , l985 (1b1d.). .
11. 'fht)111ns Jt>shua Cc)orl'r, "t)rl'nrning thc (>lti n1a11", en1 Tlie u11p11111ted
ln11rlscn11c, cit.

_,
. -
• ....
• • •
. , ..
. . ..
..


• ..

....... , ~
...... ''
..
'-•
• •

• ...

----
....
. ....

' . , ...
• .. ,,,
, ....
....... ""'"-" ...
•••
• • -.... """"_.,. ~ ......
....... ' '--.. "---....:...
-


• •
--....
----
~
...
..... -
-,,:)--...
.... ' ::""' ---'-·-

-...

..
• ,.
• ... .
• ... .
....
• ........ '

• . . ...
. ...... ,,

-




........

-...
-
-. Juaa
• ••
-• •
l
E1

-
l

..

-. , ,

t
t



'
1'

. . , l
~ ...



....
t
r 1 tt
...
• 4
l
.,
't' • .. l. ' ..
ll
s \.l
l ~·
1 .. 1r

... l l ll
11

..
.. 1r 1

?' ...
4 ••
-".
-"'"-

,
-
' ......
~ ..

. )
..._ .. , ...... ....... e--... .... . . .... ......... \,. .. ..




-
·~ . ..
....
...
-
••

~ ~.,, ~\.......-
,.,. .... ,.. ..... .. ~
" ...
... -

• ,

-


• IP<,,
.. "

• •
-...
- -. -.......
-....
' - . ' .... ... --
-.... ,.. ~ .,..., " " ~ "' -> ~ ,...
... .. ~ .. _ ""--:.. ....... ~ \.::: ~ ' .... -
...........


....
1
i
r1st i
• ....
...

'
'
••

t .. 1111 ..
11)
~
...
-
t

• ..
1

l ~
• . -..... ..,._ -
.. ' \.._ ' -' . .....
-. ' . '


-....
-
.,
..


• .... .
..... '-.

• .... ..
• •
-··t "' ~ .. \. ,~ ... , ..
~ ....
... .

• .....

-
..... ., ..
... ...... ... ..


....
....
...
-
t


l' .. .......

...


...

•••
...
. .

' . ....

....

-.

..
' . . ..
... .
'



'

,
. ....
...
..
....
.. ....
·-•
. ..
... ..

..
:-...

..... \' '
..

A INVENÇÃO DA PAISAGEM 173
transversal, caramujos cm desenvolvimentos lentos. Uma
111inuciosa observação circunscreve suas evoluções reper­
toriadas. O que transita no ar e o que se arrasta sobre a ter­
ra, por mais i11visívcl que seja a um olhar perspectivo, não
faz n1enos parte da paisagem. A garça-real assina e sina­
liza a paisagem dos lagos. Nada de ornamento supérfluo,
decoração, e s
im parte essencial do quadro. Seu desapare­
cimento deixaria
um vazio que desnaturaria o sítio.
Proi­
bição de matar esse animal hierático, parte por razões de
salvaguarda do patrimônio animal, parte em razão do ''es­
petáculo
da natureza''.
Os pássaros voando em diversas
horas são
pontos de referência das estações e dos dias.
Um
desenho atento de s ua passagem marca a tomada de céu, a
ancoragem
do território na vertical
1
3.
Jogos com as ervas, as folhagens e as formas abstratas
que o
paisagista pode impor como intervenção meio-artifi­
cial,
meio-natural.
São ''herbários'', bolas de folhas de car­
valho14, instalações
de juncos e círculos de bétulas
15
. Por fim, o instrumental e as ferramentas do jardim, ca­
banas, livros
de plantas, caixas, anotações diárias, enxadas
e
pás, baldes, serras ... não deveriam ser esquecidos. Trata-se
de
jogos modestos: tanto o humilde labor como a grande pai­
sagem têm seu lugar na arte da paisagem.
Um estilo mini-
13. David Trem lett, "Vol d'oiseau x", cm Tlie u1111ai11ted landscape, cit.
14. Richard Flcisher, "Jardins d'hcrbcs ", em Lc jnrdi11: lectures et relations, cit.
15. "Paradisr Garden". Nils-Udo, "Naturc -Art -Nature", Anthos (Lau­
sanne, n
11 4, 1984).

17-1
ANNE CAUQUELIN
malista ,~em à lt1z 011de se conjuga111 a descrição e a análise,
a obsenração e a in\'enção, a desig11ação e a ordem.
Trabalha11do con1 a natureza, com os materiais que
ela oferece, n1as escolhendo-os, sobretudo, como ''lugares''
para
uma demonstração, todos os paisagistas utilizam, se­
ja qual for o jogo
por eles propostos, as operações retóri­
cas de transformação
que utilizamos com a linguagem que
descreve e constrói o
mundo.
Contudo, o que se passa de característico com os ''es­
tilos''
é a atenção que lhes é dada nessas operações.
Os
paisagistas nos permitem -ou nos dão a obrigação de -
perceber a construção implícita à
qual a paisagem deve sua
existência.
Os paisagistas, de algum modo, aumentam os
efeitos da retórica, fazem o papel de lupa.
Sensibilizando-nos
às dimensões do tempo -o durá­
vel e o efêmero, o presente e o
anterior-, às dimensões da
extensão -o horizontal e o vertical
-, às formas vivas -o
animal e o vegetal
-, as operações de transporte nos ins­
truem de que madeira se constitui a paisagem.
De todas as artes praticadas, a paisagem
é sem dúvi-
/ .
da aquela que reflete mais continuamente nossa precaria
situação poiética. A meio cami nho entre o triunfalismo da

técnica e a melancolia de ter perdido a inocência prirnei-
ra, ela traça esse fina linha crítica de um real que depende
apenas do poder de concebê-la.

PAISAGENS DE SEGUNDA NATUREZA
,

1
''V I~);\<> 1 >< )~; J\NI< )~), 'l'J\l ,Vl
1
:/. e> ( 'IMC >
1 >/\ ~; ;\ l~V( ) l-.! 1
1
:~> ... "
1
/\s , 1 i vit lrttlt'!i j1i1 i~ié l1~ ísl Í<';ls, 11c> <.'<j li i 1 íbri<> f rági 1 de sua
111l
1
Ht'll\'; 11c> St'Í<> lli1 1>éli sn1~l
1
111 t'{)J1lt
1
1n1J<>r511ca, rclncio-
1
1,1111 st' <'c)111
él 11c'rtl;1 <ln rt'Í L'rrr1c'in c:16ssica: n cl c.
1
uma terra
tlt' <li1
11t
1
11sc>t'S ''l1L111 1~1 11( 1s''. l'c>rc.1L1t' <> t111ivcrsc) t'xpl<>diu em
:1
;11"lilt'S, ;1 11nis;11~c.' 1)1 f<>i l"l'l·t1ll1nc.in, nrronjndn,
construída
<'<>111 tl rlc'; ,is 1 t'St'rvns tl c.
1
lnz<.'r<'S t' cl 't'slcl isrn<>S arisl <>cráti
('
<)S <>lt L1L1 ri~ lll'St'S 11fi<) St' c.~c.> 11 fig Lt ra r11 111n
is l)t'ltt dcsmcd ida
ll;1 t~t1t 'r1 \l tlc>s rllttrlc.lc.)s <.' tl[l$ vingc1 1s i11tcrcslelares. / i1a­
lt
1rt'Z\l lc.'rr<.'slrc, sL1l1 rit'a c.livt'rsic.lndc <.' nté 111csrno <)S 1nati­
Z
<'S 1)c'l<)S c11 1 ~1is, tltl<> fnz 111t1itc.>, <.'la ai11cla n<->s
surpreendia
t' 11<>~ 111t1r\1vill1nv"1, 1 1flc> 11nssn111 dt' u111 JJ<>r111c11or ínfimo
11;1 <> 1!~~111iz.1çilc) tl~1c.1t1ilc ) <.lll( él L1ltr a~1ussa c111 gra11dcza, c 111
fc>1 \'i l, l'111 c.'11t\rt~ i;1 t', 1)n r~1 t1 111,l ic)r J'"1 rl<.l (ie 11c)s, c1 11 1n istério.
Sc)is 111t'1ltlS rt l c)t1c.l()S, c~írt ·tilt)S rt1j~1s lt\is ai11c.ia estão para
Sl tll\St't)L1<.\1 l~1s, c"lrl1itns l1t\lit'<)itf,1is, bttracl>S 11t"grt)S, estrn-

1
_,,,
• L
;ihos atratores e no\·o abismos esburacam a pele do mun­
.:"" :lon
1esticado .. ..\qui. a as inatura não é mais indi\·iduaJ,
:1er:
1
~1
esn 0 a~ _ociati,·a, ela é da ordem das potências
_ia. e~arias: Estados Blocos, Tecnologia. Soberbas ATé:-;-

-J..
3
ass'"' m~:-am os sonhos de nossos filhos e se charra:i
1
. , . .
_ ~..l::e ·enus, Sarurno, terr1tonos ]Unto aos quais nossas
·o::t?cs:ções ?ª~sagísticas fazem o papel de ,·elhas luas_, de
~::::\::3~e::as de crianças retardadas. ~feàida em atmosfe-
.. ., . . .
:~ a:=a,·essaua oe na,·es espac1a:s, surge outra pa1sage:.:1,
-..:e a::1esc·..i~~na os céus 'istos arra,·és das :ro:ldes das
~ -
;:: . a .:-:e~as . :>e:as =ane ~as entreaoe:tas ou acJTia rias c~da-
1
. ~ , .
-~, ~ e--·c~::­
'11t.4C-C:_ -• -~.
,
- ... , . .. • ' .., - l ,, ""'
:: se::: G:.L\-:aa a .?~J aessa pe~~::::>açao aas :e:e:€:1-
C:as c·..:e cie'.-e::i.os co:ns~cie:ã:-os ;ogos :Ja:saoís:icos. ?o:c:;e
.. " " v· -
•• • ~ ' 'la - • • r
·:::: .... -o es-.... .,_.,. 'G .... ""'Ça Ge a· ,..........ensoes ~ aos na·racrc--c·
....._ ___ ._ ....._ -::XÍ --•U. CLJ.i.i4l I res1.a :.J ,;') _Ã-"...a.::.
... ...,
'"""'" . ·~ .
;: ' .. . ~· . . . . .....
-v·· rc~,..;:; ... _t;e ª"~ ·.-,.gos -~-""'·r es· ...... a1s ·oocc: e .... ~ ... -
....... ""-,J -"'4...A. - V .:> ...J .l..I. &...&....L..i A._. .-.........._ 1 ./ ~ -'°"'" -'V
, i \.J •
••
..... ;:: ...... ,.....~ -...... -,...,,...,..'-..,." · · · · , - e ... e-~:::. .,.,.. ~-
•• _ ..... -"'·· a. ... ~e. ... t:1. ... g-.:aGa :io :n:er:o: Ge seüs ?rãZ - ::: ... -··""
ga:--~o a g:a.::de :--a::J::eza e a cidade suveroo,·oada -r::eci:-
... -
:a-ri:; SG~re as re?:ocit.4çôes :o:ográ:-!cas o pa?el_, a esm:a
• •
o ~e ~i~aa es~ão em nosso poàer ...
-01J irr1:a ... o cosrr .... se jogar com as superciimen
5
õe
3
:
05 ~los,
os <lese,,. os_, a-·:ast:iàões de geio e àe areia, os teí-
. , .
r ta"' os ai d.a irgens por um pouco mais 'e lemPo·
O paisagismo naturante e o pai agi mo cie ... naturar-
-iOI€'"'" p "d d d . . . m do ou. ro ao
f -... am a capaci a e e e u1~t1ngu1r u _
na ~-
pe-rle .. em su.a .. eíeréncia comum a uma natureza cogs :
,. -1:i
, . .
00
ten- ...
~-"' ·~-.e · P_ re~. ina tomada e consciéncia àes a iin. ·

. !


....

-.

~
...

A ''"VI r"c,A<' 11/t l'l•, j!( .1 M
17'J
(111< rltl IJ'• !>1IÍ'11 lj~Í~,l,1•, 11 ',1• IÍ111Íf,111•1r1 d(J rJ(>rfl1f 11<1r, iJ '")Ífíll.J
l.ir, 111.11·. cp11• 11<1111·.111111, .i 1c·c <Jj>J,1r, r11í1J', CflJ<' íJ 1n
1c:rtíJr,
i1 1 > 1.11~1, 11 ,,,,, í1rl1ííc 1<>, 111111•, c111<· í1 <<>tr1r><·tir IJi1./,<> ,j,.,,,rr'·
11111r1 f r.11~111c·11l <1c:.í<> <ln•, JJrfít ÍC'íl',, lJ1r1u rc·fl<·/5<1 <JíJ p;)jt,&J:S''fít
•,c,111<• !!Í 111c•i.,1r1rl, <lc
1
1,<ltJl>r;111cJcJ '1<' n<> e <>rr1c·r11ári<J, <:. ur.n j(J~<;
ele• lll ftrC't1~ 1 CjllC' ln(lí!IPITl VÍVCJ, í'.J(J rr<
1
Ç<J cJc• urn~ (~')péci <_: d<.:
1<·11c•lic:;1c>, <> c11rl' <>Ulr<>rt-1 Í<JÍ fl invc·n~ ·Dc, ,Ja paisog<.:rn.
IJl•ixc·n1c>s, pcJis, c·c.;~a 11üturc•zéJ Lc·rr(!c.,lrc a qual c:stíve-
111c)<., f(icJ ícJrlclm(•nl(• opc·gnci<Jc.,; d<>1nina a <>utra que desco
11J1c.·c·c·1ncJs élmpltimc•nlc' e• D c1u"l c.,crá vã<) querermos dar
t11n ar1á/cJgcJr1. ÂCJUÍ a pc.•rc,pc·ctiv'1 de Bruncll cschi desiste,
íl <JJ?l icn rcnu ncia a c;cus d i r(
1
Íl<)S, não con hcccrnos o modo
de• pc'rccpç5c.> GJUC se> ria út i 1 cm ca"<> de imponderabilidad e,
115<> sab(•mcJs nem mcsm<> (> c1uc C)S astronautas devem re­
cc>nhcccr. l)crf u me, ta li 1 idade, mcJvi mcnto do corpo: os
scnlid<JS n5o nos servem de nada.
'l'cm<>S somente a imagem, transmitida por câmeras,
dnclc>s digitnis cm mon itores, sem ponto de fuga, e ilegí­
vel, até mesmo i ndcci f rávcl para quem n5o estiver de so ·
brc·avisc). A d islã ncia CJUC' C'JS prc)ccdimcntos da pintura e
(!;1 cl,•scriç5o 1 ilerá ria gostavam e,lc mn ntcr e de apagar \·cz
jJ<>r vc·z f?l' l<Jrnc>u u 1n c>bslÓCLI lc) <>j)DCC>; nâc> poden1os nen1
1r1c·~, 1t1c> sc>11l1é1r ('<>111 pé:1ÍS(1gc'11s 1)l,1t1l't,1ri,1s, pc1<.ie111os ape
11í1t; c·c,11rc•l)c
1r i11lc•lt
1t'll1nl1 11c•11ll' lJlll' 1 1,1, SL't11 c.it'1vi<.ia, ''algo a
~i<'t 1>(
1rc·c·l>iclc>'', 111í1S JJ<>I <Jlt:1l :-;c
1
11lill<>, 11<>r (1t1,1I nborc.iagetn,
c·<>111 <1L1<1I i11slrL1111(•11tc> sc•11sÍVl'I, tllll' 11rc)tl
1
se? A própria no­
~·~1(> (lc· J)tlÍSé: l~~l' ll1 {i lll1s111c>11l ('.ltl~1, t· l~1 <.!til' clcvia sua existên-

-r.
180
eia às ~xperiências conjugaLias da 1naten1ática, da física e
de
un
1
a idéia de natureza pri111itiva a ser i1naginada em
certas condições. Não é a le11ta degradação que os empreendi mentas
humanos infligiram ao solo primitivo, ao clima, à fauna e
à flora que assinala o fim da paisagem, é o sisten1a fom1al
(grande forma e pequenas formas) tradicional que desn10-
rona inteiro diante da descoberta dos espaços infi11itos.
Uma impossibilidade radical que ''proíbe'' a a11alogia entre
paisagem e
''nova'' natureza.
Deveríamos, então, nos voltar para a siJ11ulação de es­
paços,
para a invenção de procedi1nentos que permiten1
construir,
parte por parte, por um processo ar1alítico de
descrição dos caracteres espaciotemporais, algo como
u111a
natureza de segundo grau, considerando não apenas o resl1l­
tado sensível (uma
paisagem em imagem), mas as etapas
de sua construção (um protocolo).
No que diz respeito às novas tec11ologias,
as i111age11s
digitais, ou sintetizadas, oferecem então u111 es~1aço ~)ara
uma realidade segunda, para u n1a constrl1ção a fastad~1 c.ic
toda preocupação com contj güidadc e co11ivê11cié.1, e llt
1
c
tem apenas uma relação long í11qL1a cot11 o qL1C acobci de
descrever como ''paisagem co11tra11éJtL1rcza''. / ~1<1 isng<.'
111
'
,
com a imagem digital, n5o csln 111;:i is L·o11/ 1·t111r1t 11r1':t1, i~tc.
1
l',
em acordo C<)ntrasl<Jdo cc,111 st'LI ft111ci(), 11iit) Sl' ,111()itl
111
'
1
is
na verdade natural (]LIC rcvt'lo tl<) 111t'StY1C) Le 111~1<> l'111
t]LIL' ~
1
oculta d d .
1
,
11 LI 111n
1 a
a CC)ntra, em 11c>c'1 cit', <..'<1L11vo c 11l<..' tl ... '
P
U - · · . -St't11
ra construçao, uma rcaliclDc.le i11lcira, st)111 cl1vr~no , ·




'
1


181
dLt~1la fc1ce, r·>.atan1c11tc tlqt1il<) c1ue ela é: um cálculo mental
ct1jc) rcC:,t1ltJtio l'111 im,1gern p<>dc -mas iss<J não é obriga­
tl)f'Ít) Jsscn1cll1ar se a urna délC) pélisagens representadas
C'\istcntcs. Basta estabelecer as leis para tanto.
A exploração
dos atributos do espaço-tempo,
que a
ciência renascentista situava no registro da óptica e ten­
tava
representar por meio da perspectiva - o instrumento
gráfico sendo, então, o
instrumento epistemológico mais
adaptado a
essa exploração -, pertence agora ao registro
do processamento
de imagens por meio da inforn1ática.
O
olho e a mão em sua atividade heurística não bastam mais
para penetrar no mundo dos objetos dados no espaço do
universo sideral.
Não se trata mais de penetração de um raio visual,
do estabelecimento de uma representação em duas dimen­
sões, emoldur ada e distante do olho focalizante: não se
trata mais de representar, m as de testar programas de ce­
nografia, atuando sobre as variantes de restrições preesta-
,,
belecidas. E preciso dizer, e ntão, que a reconstrução pelas
máquinas inteligentes do processo de constituição de un1
objeto pela visão põe em evidência o trabalho conceituai
que preside a t oda apresentação de objetos. ~ão é mais o
objeto
posto ali que é a meta a alcançar, mas o modo corno ele pode ser posto.
Corno se comporta nossa percepção, con10 ela che­
ga, por um trabalho subterrâ11eo dcsco 11hecido por quen1 o
exerce ingenuan1e
nte,
a ''objetivar'' os dados dos sentidos?
Essa
é a questão que a imagem sintetizada se empenha

182
em resol\·er .. ossa visão pcrspectivísta se· tr;rr1a uma (•rtr'·
milhares de outras possibi lidadc)C:>, é! tcrmj na(Ja p<·Ja h * ~t!j
. "
ria das formas; a paisagem que const1tu1rn<>S esp<Jrtarr·;,,
menre é o produto de operações intelectuais cr;rr P·'·/as .
. ~s paisagens .
1irtuais são concepções: são mrJntada ~ <:'~r;
muitas peças, e suas características dependem dos prr,)gra
mas u:il1zados para ''realizá-las'', fazé-las advjr. (rJJeta d~
inÍor:::ações estocadas em memória e atjvadas segundrJ
;es::-:ç6es específicas que se pode fazer varjar no tempo.
Se as i!"'formações necessárias são dadas -rapidez de
crescirrerto, articulação dos rarros ertre sj, caráter da flo­
raçã~, pr0porção dos elemertos -, podemrJs rJbter a írna­
ge::-ije urra ár·10re em ·1ias de crescer; para que uma onàa
es:0ure ré praia, basta ... ''ter um rrodelo maternátjco que
s;;-;-:;:e a s:Jperffcie do rr ar e as ordas. O modeJo ar irra
?ó;:fcJ:as de água err 6rbitas circulares ou elípticas''. Po­
r.:':r:-05 r; ".)de.ar tarr bérr a trJprJgrafia do fundo do oceano;
~:;~:tr.Já ~spJrra, '' ... e]a ~ caJcJlada sob a forma de par-
,, '
·~':";,6:, (JJ'-' J'.:r .. ;ú'J, ::-ap1a,::z e duraçã<; são fr;rnecidos pelo
' ,
,Jt';<"'>':: rr <_,0rJ, r ãr) $',; ·1a í rna1s da ::;,uperfírie (a aparen-

'1 ~ ' ' · ' "' ' · t I"
""'~ ~ j_, ,. 'Jf""<·r<1',J para <J fund'J ta (•<,sén<:ia
11
t,r
1nt1mcn a
' :... ,.). , , ( ' ,,.. J ,, .d d or
.. ,,, • ,,, • ,IJ;~ r ;, .. ,,,;;, '> ( é (•',trutura f J~J( a, ( <Jncr·b1 a e ac -
',,<, r'
1
"" ~·
1''1, (}U!: ',<~') r;;_.rJ;-'',, fJ()féJ a aparéncia que ela in­
,., J'/ . "' ~ ,,J,, rn{,rJ,,, ;-' '1írnu1a\!J() P<'r ccJmputadc>r poderia
')(1 ') 1 r ( ,.,t ~·r 1 • • f1'ca-
'·' ·~ ''e '.J~')'.J .J% ( ur11!l 1mat~ 'rn ... a pa1sagem
/ I J 'V./• • ' ' " N 1 ' t )•
11
l 1.a<
1
1!í and
'(, ; i',, 'íU':t f v. Y,U' ., J.:1 r '· í'' " ( 1tu10 IJfl~l!liJ tr
' ''
41
J.
1
·
/
"
~ '11·, l
1
a1U1//' v1tlutl
1
{1' t)11', 111 V1n1, 1'Jôff}, P·
53
a
,

A IN\'l·NÇ:Ãl> I JA l'AISA< .l·i\1
183
ri,1 11,1 111('111<
1
>l'Íll S<>I) 5llcl fc>rtll[l lllíJle111 Jttc 1 ,. r)st"' d
' ' \.. ar1a 1~po
11 Í\
1
CI J1cl I cl Cl f'uSll tlt • ;1 lgl1 '•1 ll CllJc•rc·r 'Jl 1 ·v~1 J mas · · , j
' ' <..t, Jn /ISJ IC
(.'11ljll cl 11ll) 11,() f l)SSl' 'lC>I it'll'-lUcJ.
l)()tiL'r ~e ia dizer, diante dic,'>f>, que esc;as paisagen~
c.1Ltll) ~l1ficicntc~ não f>ào ''nnlurais''? Ou seria necessário
11c11~tl r qLtc él ''n<:lturcza'', conceito global, idéia, está em
ação nqu i, rlão sob a espécie de aparências sensfveis a nos­
so uparelho percepti vo, mas sob a espé cie do sistema cog-
11itivo, que é sua condição?
O êxtase, entã o, ou o sentimento de urna perfeição, vi­
ria não mais do espetáculo da natureza ''oferecida'' a nossos
olha
res amorosos, mas da contemplação de nossa pró­
pria atividade cerebral: uma autocelebração de nosso poder
de
concepção.
A atitude cognitiva causa o impasse sobre a perspec­
tiva artificial da Renascença
e considera o espaço como o
produto de
uma atividade mental, lugar das possibilida­
des virtuais dos deslocamentos. Ao fazê-lo, ela retoma a
um sistema de
inscrição simbólica sernelhante ao da Idade
Média ou ao de Bizâncio, ao passo que afirma, com
os an­
tigos,
que não é preciso levar em conta a paisagem. Des e
modo, cm vez de falar de un1a Nova Re nascer1ça a propósi­
t<)
da c
1rél dél informática, seria 1nais pcrtine11tc falar de "re­
torne>'', cic pós-nnte rioridndll.
() t'éÍ leu lo das pr<.111osiçõcs llL1e govcr11an1 a cer1ografia
dos cle1ne11 tos ''naturais'' das i r11agc11s si ntctizadas deriva,
corn efeit
o, de
uma hicrarL1L1ia codificada de seus atributos

ANNI: 0\UQVEUN
. , l'li r·lrL1uia que de fi11irá o espaço e n1 tort10 de-
111tcr 111.1~ -" ·1
l
"~
1
l.J
1s di111c11sões da e tet1são estabelecida a prio-
t ::' -, \.? l 11: .l-. ..
1
; (
1111
(
1
rc~ ra de seu sL1rgin1erlto. Era o que ocorria com as
·1.: tlL grafiJs 111edie,·ais, e111 que a qualidade s i1nbólica dos
)L
1jet s represerltados dete r111inava a situação, a grandeza
as r ')lações que eles i11a11tinha1n entre si. Nerll1uma "pai­
sag-e111" -er1tidade de ligação autô r1oma - vinha preench er
0 espaço irltersticial e ntre as figuras, ele só era virtualmen­
te definido por suas próprias qualidades. A impressão de
tlutuaçào, de\ida à simultaneidade de lugares espec íficos
en1 torno de cada forma singular, dei 'ava aberta a multi­
plicidade dos possí,·eis.
Essa profusão que i1os parece desordenada (por estar
fora da ordem perspecti\
1a) e11contra\ra então sua resolução
i10 i111aginário, 11a me111ória dos e\rentos relatad os, na istoria.
Cotn todas as precauções exigidas pelo trarlsporte de u111 n10-
delo para outro, poden1os sugerir que esse processo icô11ico
e iconizante está mais pró imo, pelo tipo de espaço que põe
em ação, da síntese de imagens por con1putador do que do
proce so da Renascer1ça perspccti\·i ta. Ic sas co11dições,
a pai"agern, tal como a pratican1os há 500 0L1 600 anos, e­
ria un1 parêntc"e en1 un1a história das for111as pcrcct1ti a~ ...
sob a condição, clar o, de qu .. essas ''11(1 .. 1s i111l1g "'ns'' tc11l1 .. 11
t
1
alguma chance de transfor111,1r t1l)SSc1 Jr>c1r 'll1l1gL't11 i.
1ercl't
1
ti\ra. Ora, o que 11ós julga111()~ "11l11f'' 11t11J J!'1figltr .. 1ç<)cs
11'e
dievais, seja qL1al for a ir1cl111,1çc1í.l <-llll'' lL't1!1t1111t1s ~1Jrc1 cs ... l
. '
ingeriu idade, nós o ju lga111os ~clfist ic .. 1dl) tll) qLtC SL) refere as
imagens s1ntctizadas: o prt 111ei r{l ti j..,f11.1.;it i o parece J rrai-
ffi
,
l


I' \1 ;-...;ç \(.) 11 í' \I" \<.. ,J· f
185
galit> 11J crl't1 l l'l'ligit)S,1 e, Lic.'c.,sc 1nc>cio n1)ela
1 ' " r a um p ano
tr1.1 t1$CL'I1Lil'tll1.1 l, Llltl' t.1J1r<.'sc11ti1 si 1n boi icn rncr
1
tc
0
· · ,
1 · ' 1nv1~1ve; o
SL'gt111ti() 1.1~1 1.'IJ ,1 t1 111~1 c:itivic.inc.le ccrcbrul CUJO'> processos se
fll/L'111 ~1rl'SC 11tl'S r1t)S 111cr1ores cictalh cs, curto-c ircuitando a
''rc'"1lic.iJLic'' c.1L1c eles constroen1. Se as predelas med ievais
cclcl1ra\ra 111 cn1 in1agens os lnistérios e, com isso, natural i­
za\1a 111 o c.ii\rino, a ati\1idade autocelebrante da intel igência
artificial, ao desna turalizar a ''realidade'' da natureza -re­
cusa
11Lio-e a lhe dar uma
repr·esentação -, naturaliza outro
Liivino: o
conhecin1ento.
Acostu1nados a ''ver as coisas ass
in1 como elas se dão''
I
temos a in1pressão, dos dois lado s, de que o real faz falta,
negligenciando o
trabalho que, na percepção perspecti\ 1is­
ta, nos leva até
n1es1110 a enunciar: ''Está bem as sin1, está
muito be1n''.
As
image11s sintetiz adas, assin1
con10 todas as outras
figurações medievais, criti
cam a evidência desse ''ser assim
mes1no''.
U111as porque ignora1n a disposição linear geo­
metrizada e porque o plano da realidade ''ordi11ária" não
lhes interessa; outras,
à n1edida que \ 1ão alén1 da con tru­
ções arquitett1radas do visível,
por<..1ue se interessan1 e\clt1-
siva1nente pela orde111 do cognitivo.
Sit11ada e11trc essas tiL1as cclcliraçõcs, tl 1-1t1is,1g0111. no
eqL1 iJ íbrio tic suas duas \'crtc r1tc·s, '11tre 1.ltL1rcz .. 1-
1
.1ttirt'­
za e NatL1rezél Arti fít'it), tlSt.l l'llit) tit.-.' tt)t.it.)S t.)S rect1t'Sl
1S lie
L1n1a ''estilística t)rdi11,iria'', l't)rlstrói 1-1cl .. 1 li11gt1t1gt't11 cspe-
l · " ·b, 111ar"'l esse r1011tt1 ll1ntia da NatL1rc z~1 qtte e J trai l' l\l l, t Lt --~ r

1
186
-
. lar onde se articu Ja m a ra zao e a crc:nça, 0 r:-
1
.0
,_,;
s1ngu
te e suas dobras.
Como obra, ela é ''fragmento'', r·, mcc:,rrr) q JC: se ~zí~J;;
Ja e, produzida pelo artifício, é uma totaJ;ca0'· , ... ,.. c;i.
que e -J v ••
uma
/
natureza''. :\ão há dúvida de que é prJr e:..se ·;;{-; ?fJ{:
. -
a natureza está presente na paisagem, rao p0rq;~ ~':-:--.~
uma parte dela, valendo pelo todo, mas porque é p:rJG:iz:­
da nor uma seqüéncia de regras, cuja coerércia fóz :.:r." r,;~-
~
;e:o err. t'udo e oor tudo semelhante a urr ob;E::r); a::J:~ :
} .
:-a~·:ez estejamos no camiPro que re:or;-a as ::'fs ,.~~s
:..,.., __ ·:
7
-..... :..es ~-r.cr'""""'G'o a ~~-5:.a d;mer.sã0 tir-. """".:~,e. ~"' ::. r;~
l.J~ G....._.i..LG .t a-:.. 1 ".J~ t , '"""" "" ..._ ._ '-"-..J ;.....(.~ ._. , """""• _,. ,.1 ..... ...,,._
-.. -.,,,,.. .,, . ,
"'""' ;. -z • 1"""'--r"""-•"'r- -d . _ ,,... ,. .. .,,.~ -
~---' ..... e _,. .......... e -:;Ir" .irn:~re as oretensoes a 3 .... ,_~ •• ;;c .

,.. - t. , .,,, ,
-·" .-.(J.::J:a-:-:-2-;7;-ey-r ~~·s~~c~ .... ;: e-ª"ffi ü'"rr. a ar•-L0-51.! ~CTe:"-
c -c,..i.J -~.1. ._..,..... ,~ ....... _,,.ji.,. U • 1 • • V . _, .
d.é d ) *~r; e:-tr,_, e:-:n :'lad(J soore si mesmo. E, ai-da 01~
,
se -~- íl'.{jSP€ "'7eii.amE:!1iecue. ão 1emosaqui ocueco .... .s:n~:-
, 1
--~ , -
'esse m s-'Uto, na forma da paisaoer1:r, ch~a a n1>S co
... a toda cons rução.
··ata-se, nâ<> há dúvida, de m \aí
• •
l'fa.-(;~ '' •
. .. l.Gs -essas .nj nções 1mp fotas
, .
ém a par·ir das
~ . .-~-
ºter ae ~ ·-
• ,, .::w
-~ r a "' .. ,, ;; f f Jttr a
.Jf'.·'ll ns .. amos, aba an
,... .... ......, .J.-
o-as e: •••
-

/ INVI N<.A< > 1 >A l'/\l ~ ;/\f ,l·M
187
l'\lll(ll'íJI ~•lltl '1 ('(lllJl)()t1l\C)(H, (•t
1l1'illif'i( t<l J• 1
, < •1<p11•c•,1',llílCJ{'ÍC1
l'Villt'llll''•, lllll' llc•11<·111l1•111ele·11111 lc111t,c
1
Ir l · ll
1
•<
,, d '" ,,, e,. prc·1>;1
111\'cl<> e· ~.t' ll'lt•1t•111 .1l'~.lt·1,1~.1• t·~:lc1cl1>' clc• e irll . I .
. ' 111i1 e c•l1·rrnin<i
li<>..,. M. 1~., Jll!:I<> tjl1.111c.I<> ll<>S 11>111;1111<>' e 1 íticc,
1
• '
1 > 1 C C>JTI
l (• <IC ill)
:1 s l. V i t l f· 11 (, i 1 l ~ ( 1 (' l I 11 l e l 1 1 í l l l 1 r ( 'z él ( l l 1 (. (. ( ' 1 r' 'J 111 Í( t • li l f 1
'
11
''-> ,1 11(} llré:i ~
111c.·11ll'
11
11,1 fcJr11lll tln 1 1;1 is~1~~t·111, 11ílc> 1)<><.lc.·i ric>"i c·vil<tr Cjllc;, li
VI'<' tlt• VÍ1~i 1At1t' il1, il r>t1is~1~~<·1n 11C)S cli~~él S<•1n1>rc•: ''l~L I S<JU <.J
llíllt1r<.'Z(l
11

l'C>l<.jLIL' ,, SLISl)l'llSÜ<> tl<t ('VÍtl{•11ci<.1 n5<> clurn rnnis
tlll<.' L1111 i11st,111Lc·,
<) cln v 11íllist·.
('lor
c)
(lllC a ''mL1(!0 11çu C<1lt•gc')ri cn"
1
, essa neccs~ida
til' ti<) Lré1l1nll1c) crílicc), C<)r1(1iÇél<> clt• l<>cia p<>iélica, produz
~l1,1 <>brn ocullt1rl1c11tc, 111as, L5<J frágil c1uanto a evidência
<.JLIL' t'scavt1, ela se a~1aga tliar1lc e.las pressões da pcrcep­
ç5<) ordin6ric:l. f lé.1 sc111prc c1n 11c)s Lima mulher de Ló: no
1no111cnto de f uzcr a viagem sc1n rclc>r110 e scrn sustento,
no isc>la1nc11t<) exigido pcJa 111L1da11çGl e pclél suspensão, nós
nos voJ ta 1nos pn ra o orcJ i r16 ric) do q LIC nos pa rcce seguro.
 pnisngcm está et11 rc1í11ns, 111ns é nossa: Sodoma arde e1n
cl1a mas e, com ela, 11ossns evidências.
Mas nós 11os a pressa mos a resta bclcccr nc.1L1 ilo que
. ' .
élcabn 111cJs de suspender, a fal lia ele nossas 11\a lS 1 nt1n1as
cc>nvicçõcs. Por um acorde> Lácito, respeitamos o ''con10 as
. '
c<>ÍSt1S se dão''. O arco refl exo ig 11c)ra a a 11alc)n11a, o que e

c..•viclc.•11lc vr>llci para seu IL1gar. l~is D 11nLL1rcza cc)n10 ~
1
a1sn-
g<·rn: C'(Jl11 1nc>lclLtrn, 1)<)11lc) c.1<.' ÍL1g0, disl511c·i,1, t'len1cntos e
1 (•lc)r Ít'é:l i 1nrl ÍC'Íltl ITI(."'11l(' ('()11St'lll ic.IC)S.
/ ti 1
1
1111· 1•/ CT'tfi1
1c. A l'~~c res
,.~ Exi 11 l'!ihíl<i d<· l liiltl(•11111, l'"' l<1·11111rqi1C't' /ltti
11
8 l.. ilJtiõ)
. I '/ ,, f J . li //l I' /1 I ( l '.11 1 H, A u n t ' , ·
pt·1to, cr A1111(' ( ·auqt1l'l111, L1• r1111rl r111 1 111 '"·'

1

")
...
A [)C.)Al)l)l~ 1\
Ocorre que o d oador f a doadora] se pos ta para velar à
beira da moldura. Eles não olha1 11 para nós e nos falam com
dificuldad e. Contudo, é com ele, cc)m clv, <.1uc aprendemos
,
o que devemos ver. ScL1s olhares, C)UC nã() se dirigem fl nos,
mas para o espetáculo da ''11aturcza'', fixa111 um lor1gc qt1c
eles designam. Posicionéld(JS eles 111cs111<)S 11a supcrfíci(l, ist()
é, o ma is próxi me) pc)ssível clc>s C'SjJCCléJciC)r(.'S, c.Je três gL1n r
t<>c, ()U d(• pcrfi 1, eles cmold LI rn 111 él J)él isugl'lll e.', <>Í(.'ft
1cc11,I<> d
a ad mi raçãc> pc)r i nlt'rméd i<J cit• <->Llél 1)rc)1)ri~1 vc.• 11L'r( 1~·ãc>, t>ll'~ ª
«,acrali'.l.am. f~c,sc· lc>ngc• 11iic> se· lc>111;1111ílÍ'i1)rc'>xi111c>. /\e) c·c)il­
tr,]r1c,: <•lc• cumpre ':><•u dC!!-ilÍtlC) tJc• l<>l l~~(' clC> ll'lllt'ft'I <) {)lll,ll
í>(Jí<.J <> pJar1<J cfc• funcl <> l<>t11;1cl<> r>ít i• 1111~<' lll cl j>,11 ltl ti<> J11 Ílllt'I
r<, f>lf'ir1<>, ''' tlfJít<J,, jJc•ltJ fit~l11~1 (''''• tl<1.1tl<>1t•:;,

----------
189
1:11.1 'Sl.1 SL'11t1.1li1.1 e111 t1111~1 ~)<1 ll1c)11a. Scri<J a n
1
esma que
,1~~) 1\1 1.'st.1 .11.1t1i 11l) ~l ll'lil;, t1111,1 i111l' t1~c.l pc>ltrona de velu­
"it' \1.'11.il', t<1ls.J l~L11s 1, l~l' l'lll '<)~l<> c>vc.11, OLI L11na outra, por
1.'\1.'11111ll1 1..'l)lll l )l1.lÇl)S lil' cal">l'Ç,'l til' cai 11circ), dourada, que
i1.'J1i11ll'i 1.1 p,L1.Jt'l1e? N3<) s 'Í. Mi11l1n 111ãe se mantém leve­
llll'l"\IL' tic ll1tic.1, co1110 11ns fotos OL1 11os desenhos que fiz dela.
St1 .. 1s 111Jl)S l'Stãl1 ~">OL 1Salic1s sobre os jocl hos. A luz das cin­
L'L) l1t1r 1s tia t·1 rde -OLJ é porqL1c o cl1á sacrarnental das cinco
l1 1ras Lia ta rLie e a 111esa redo11da com o bule manco fazem
~11.1rtL' Lie seu sorlho e passam pela irnagern? Uma rnelanco­
lic.1 toLia ~1articular , tingida de iro11ia, uma nota como aquela,
J la 1i"l1ékho\·: nl1! os últi111os dias bor1itos e as rosas de se­
tc111t ro; i111, seten1bro.
bntente da porta-
ja11ela se manté1n oblíquo com re­
lação
à cena e a ocL1lta parcialmer1te ao olhar. o inters­
tício entre a janela
e o
mor1ta11te de n1adeira, a \Tisão de
toda
a tela é
li\Te, t11as é n1ais tl1rva quando o grão do \ri.­
dro se i11terpõe e11tre o jardi111 e a poltrona onde fica n1inl1a
n1ãe. Cor1tlido, a ningué111 ocorre e111pL1rrar esse n1onta11-
te, con10 se esse li111ite fosse necessário, porqL1e ele justa­
poria
duas visões da n1esn1a ce11a. ão se abe se o olhar ,·ai da parte e 111baciada à parte n1ai i1ítida, por co1n}
1ara­
ção, ou se o estado de coisas é to111aLio tal qt1al, e 11110 t1111
todo <.lLte se sustenta c111 seLt ~1róprio corte. on10 e qt1~ ela
!'tC arranja para qt1c sct1 Sl)t1l10 liC jl1rlii111 se i11sirl;1 n·o l
1
11l­
c11c> liC f'vlu 11et?
1 <.iOi1<.i()ra se \'C <.)ll1n11do 1.1llttilt) tlLll' liescr~, ·e, ela faz
~">artt' Lit) tlLlulirt) ct)t11<.1 t1111 l)l1ser\llil)f lllle se obsen'aria

190 ANNE CAUQlJELIN
b do e esqtiece a própria situação quando relata
0
o ser\
1
an
que observa:
''Eu estava s entada cn1 minha poltrona ver­
de,
etl
\·ia ... ". A doadora do qt1adro se torna a leitora de um
"quadro coin doadora''. Ela se descreve olhando o que vê
como doadora, como imagem tomada do quadro que ela
descre,·e. E, ao me contar essa dupla objetivação, o quadro
é ''dado'' de uma só vez, como exterior a ela mesm~ e ela
-estando na imagem, sem, contudo, se ver nela -faz de
mim a espectadora do quadro
que sabe ter visto em sonho,
do qual ela é uma parte, aquela que assina com seu pe rfil
perdido o jardim perfeito da tela do sonho.
E mesmo que eu não possa apreender desse sonho nada
além do reflexo que ela me
dá em sua descrição quando acor­
dada, mesmo que não possamos perceber nada além do r efle­
xo da paisagem, de sua perfeição, no olhar dos doadores. Em
seu ges to de oferenda, talvez mínimo, modes to pormenor d os
objetos em primeiro plano -o bule manco, a almofada, a
au­
réola de um encost o, as mãos postas sobre os joelhos -que
retorParíamos com o correr dos dias, sobretudo como índices,
passando então por círculos sucess
ivos da natureza ''morta'' à
outra, a que nos foi 1egada pela doador a.
1
ão seríamos, também nós, l'e:'ster11t1r1l1,1s e (i0"1liores,
enquanto pensar1n<)S ver o ''re,11'' for<.1 llC 11ós, cati\'ados
pe]a imagem que construírnus e cln tj ttn 1 scJ1nos parte, es­
quecendo então a doação que já nos f(>Í feita para sempre e
nosso própr io papel de doador?
j

,
' t
d u 'J
A
,~ / .,,,
,,,
1-,
I , f
' f I
l) •
' .,
I
(
,
' . ,
• ';1'_1') , , ., ,
e J
/ ,1 ,,
, , ,
"'
;
;y /
' .
, .
';
, , / ,/, /.. ,
, ;I
"'
-~
, ,
" '.1,
, , ,,,
;
, " ,, ,

-
1.-.:.:r..:,iz~r _e~
--..:: .
---::
. -.
~-
----e---­---·-
-.
-------
+-• e: :.:!..C!::
1 •
C
G -"'•1'f"'l'C'-"7"5
'""' ~o ... ----.c...ci_
--. -----~.::..
:.J-C- ~~

.
p ---- ------_ _,_
~-=-e:_ --~~e.....-- -:::.. :;t __ -
---
~ a :rela-ção com a paisagem na
---· ... De a~ -!nr:r, a.e ,;er~u
,
,
e
ús exr..tu kitur~ ae
1"1%
Par FI.:1 m m-1:rmm. { ,,.;, ....
La ftttb.xtkre eur;rpttnne et le
C m  '2f! l;ztiJ1. P..:..."1'15
"

\ltl\ lt~I \1111\I' 11 1 l~ I
l ,1111.1111" li 1 I '111 l 1 I I 1/f 11 .11111 I' •l/1 /111/111111 i/1 I
1111 /Ili' •l llffll/1111 /l/1 /11111
/,• 1 '111 I' t ,11ll1111 c111I, 1
1
1
1
1
11
ll111'.1ll'1I lllllllHtl11 1
1
\ltfi Ili
l\lllh•I l'11tt\1 li \1li1l1il11•
l 111
' l 1.11 1 •1 1 1 ti 1 11 l 11, 11 ) ~' 1 , ,
1 h 11
1
\1 111 I 111•1/11/11•1
•11 11•111· l111ll11111111tl11 1···l.1111l1•l1 111111
l 11111•111/1111
1
'
"'' /l'///11' /1 ,,,. "li'/> 1·/ /11
l 111' li• /'111/'•ll,'\1' 1111• /1••1 /'ll l/'rl/ 1
1~ 1·• l 11ll111p11• 111• l.'l li1lv1·1 1il11• 111• ',,
1
,111
l~ I 1•11111• \1 /1•:. , :l11111I l•:l 11•111 11
1
,
1111•11, l'Jfl 1
~ ) 111111
( l:. l 11:./1"1
l 1! '>I 11 \tJ'd 1 1) / 1• tfJ:,/ 11/// '. IÍI/ /11////t /lfll'/ l '111 Í
1
1, ~\ 1 ·1dl , llJ}r/
l 11 \I \1 i
() l 11111·11
l
1
11tJt11 11 1!1\1
1
111 t '111/11;.
l
1
1 lt~11i 11 \l1•l1111 l/1:./1>11111111/11111/ l.tv1 11. S: \1,
~~1~111N, (; 11' 11','\llt 1/, /'rlr1· 1•/ /
1
1l/'J"l11· 1111• 1/1111•. /
1
1111/111111· 1/1• l'A 11/111111/1•
1
1
1111•., S1·111I, l''l' ~'
lh~ ltlN ( :1 11 1~ 1{\1
I, j1·1111 / )1'/rr111 ~!111/ 111 1
1
.111•, l,l"l l!1•ll1•:, l.t•ll11•:-;1 1
1
)()
l
10
l NI' ~1 1 ·1. 1 , l'. f.fl.f("!llll' I'/ ,,. li1·11 l
1
dl lb, ( :.illi111.ttll, lt)(>7.
t :11~1111\H 11, t 1:. 11. / .. ,·:; IJllJ,IJl'lt: 1·/ 11•:; j/111:, 1
1
111 ~1, I~ ivi1~ ~l"1 , l l)H8.
"-t l·IN, I~ . l.11}1>11111• 1•/ /'i1 1/1 •/l i.~i/ J/1', 'j"' 1:1, ( !.illi1 11 llll, j l)7().
f\ll (
1
111\ll\', 11:. (t>t ~)I ). l_.t'S 1'1111/t'/:: 1/1• /.1'tJlll/ftl 1/1· Vi111·i. l\111-., l~.111111,,\llt ,
f l)K'/ l
1
>}~
1
), . Vt>ls.
1·,~~ 11 1 ·.i-. \, I·:. l .1111rr:1111·1·/ i111• 1'c> 1111111· /1i1 n11· ~.11111/>11/11111 1• 1 \111·, l·.lltl ll>t\"' li,•
f\11111111, 11)'/(1 lt•tl. j'tHI [
1
,\N<ll !1!-.\, l•'.1\\lll }\Jlt'l"/Jt'1/11
1
111i>111t>/1>tt1t1l
-.1111/10/1111 L.1::l>lld, 1·:111\<11'!• '/(), ll)l)l)I.
:l. l(t•l *l\~( t•l'J (f1 ll1lÍH•l~t'll\ t.'t,1\l ,111i1tllll'1l, , lilt'l'tlllll\l ~ ,
Í•• liltli\'•'',
l 11\11\t 11 11~ 1\Nt1, 11. 1 th• \ '111111 .~c ·1·11 ltoli1' l\11i::, l)1,,,. ll)(1l>
e 11 1•11 1~~. A l.1· f1·111/11ir1· 1/11 r1i1/1• 1
1
1111:., 1\11l, 1t•1, lll~~
( :111•1N, \/\/ l/111•. 1·~1 :11/: . ~111r /1• /11·1111 111//1111'.•lt/llt' l\ 1~ t.lt'lll lll
1
t tl'l't'I
l '11111111. l\111 ··~ l.'1lil1tu1•1 ,111 t\11111111•111, I')~)

194
ANNE CAUQUELI
GlR.-\Rl11N, R. L. De /11 Ct)lll~JOS if i()/I des pt1. l/St1 t~l'S . r>osfácio de Michel
Co11a11. Paris, ÉLi itions dt1 hn t11~1 Urbn i 11, 1979.
HEGEL. G. \'. F. )t>11r11nl de 1'0.1111(1Çc rln11s les Alpes bcr11oises. Paris,
JérL'>l1'\C {i\OI'\, 1 q 8.
k.\l L).\R \, B.; \'f'I' E, A. Ln forêt pncifiée. Paris, L'Har111attan, 1986.
Rl GER, A. 11s cf pn_11snges. Paris, Aubier, 1978.
RoL·ssF. \ll, J.-). Ln 11011velle Héloi"se. Paris, LGF, 2002.
.·\NSOT, P. Vnrintio11s paysageres. Paris, Klincksieck, 1983.
CHEGEL, ~A... W. Les tablenux. Paris, Cl1ristian Bourgois, 1988.
TE~OHAL. Mé111oires d'uri tourist e. Paris, La Découverte, 1981.
___ . Voyages e11 ltalie. Paris, Gallimard, 1973.
4. Relação da paisagem com a construção cultural
BERQUE, A. Du geste à la cité: Formes 1,1rbai11es et lie11 social nu ]apo11. Pa­
ris, Gallimard, 1993.
BERQUE, A. Le sauvage et l'artifice. Paris, Ga llimard, 1986.
BERQUE, A. Les raisons du paysage -De la CJ1i11e a11tiqi1e aux e11viro1111e­
me11ts de synthese. Paris, Hazan, 1995.
CLÉMENT, S.; CLÉMENT, P; HAK, Shi11 Yong. L'arclzitecti1re dit paysnge
e11 Extrême-Orie1it. Paris, École Natior1ale St1périet1re des Bea11x­
Arts, 1987.
DuFRENNE, M. L'inventaire des "a priori": Rec/1erc/1e de /'origi11aire. Pa­
ris, Christian Bourgois, 1981.
GADAMER, H.-G. Vérité et niétfzode. Paris, Scuil, 1976 [ed. br.: Verdade
e método. Petrópolis, Vozes, 2002-2003, 2 vols.].
SJMMíL, e. La tragédie de la cu/fure. Paris, I~ivagcs, 1988. .
Wrr f(Jl.NS1 l·IN, L. Études préparntoires n ln 2f pnrl Íl' des l~cchcr chcs ~)hJ -
losoph iqucc;. Mauvczin, Tra rl~ l~u rc>p l~c11rL'SS, 1985.
---· 111vesl igatio11s pl1ílosopf1iq14es. l>o ri~, C~l111i111a rd, 1986.
I
. ~ 11 · . n .. •.; "'' ' I n
---· .,e caJ11er bleu et /e cnl1ier /Jri111: 1 ... l 111/c•::; Jll'L 1111111 11
1
-•
vcstigalions ph ilosopl1jc
1
ut•s. L'c.l ris, c;a 11i111n rtl, l 9(i5. .
I I
"
1'•1ris Trnns
---·
Notes sur /'expérie11ce JJrivL:e ef /e.o.; ".i.;t•118t' < n n · ~ .,
Europ l~cprcss, 1989.
R l
. 1 > ·css t 984.
---· e1narques mêlées. l)aris, 'fra11s ~L1r<) j) ,cpr
1
'
1
e
r
D
-
R
'
I
6
. 1

J 1l
J

l

;


u f:'
H;t..91 . ,ô J'::
A INVFNÇÃO D.A PAISAC;FM '-/
f'.LJ r.
•J(J l_, ~
s. E 1nais especialmente com a retó rica :
1
0Lt;M ~ C
195
.,
....
C,\~!\IN, B. l .. e ~l~i sir rle parler. Paris, Éditions de Minuit,
1986
_
C,\SSIN,
B. Pos1t1011s de ln r/1étorique. f:>aris, Vrin, 1986.
C,\UQUELIN ,_ A. p"De quelqL1cs prépositions cn pcinture''. Révue
d'Est/1ét1q1 ~te. aris, 1989.
Duaors, J. et al. Rhétorique gé1iérale. Paris, Larousse, 1970.
DucROT, O. Dire et ne pas dire. Paris, Hermann, 1972.
DucRO T, O.; TonoRov, T. Diction1iaíre encyclopédique des sciences du
la11gage. Paris, Seuil, 1962 [ed. br.: Dicionário enciclopédico das
ciências da linguagem. São Paulo, Perspectiva, 1988J.
FONTA NIE~ P. Les figures du discours. Paris, Flammarion, 1992.
KERBRAT-ÜRECCHIONI, e. L'"implicite". Paris, Armand Colin, 1986.
LAKOFF, G.; ]OHNSON, M. Les métapfzores dans la vie quotidienne. Pa-,.
ris, Editions de Minuit, 1985 [ed. br.: Metáforas da vida cotidiana.
Campinas, Mercado de Letras, 2002].
MONDADA, L.
11
Dire l'espace: Pouvoir du discours et verbalisations
spatiales
11
• Espaces et Societés. Paris, na 48/49, 1987.
___ . ''La construction du réferent spatial". Em La construction
de la référerzce. Lausanne, Université de Lausanne, Cahier nj! 7,
1988.
RrcCEUR, P. La métaphore vive. Paris, Seuil, 1975 [ed. br.: A metáfora vi­
va. São Paulo, Loyola, 2000].
SEARLE, J. L'intentionnalité. Paris, Éditions de Minuit, 1986 [ed. br.: I11-
tencionali dade. São Paulo, Martins Fontes, 2002].
6. A arte da paisagem
BARfDON, M. Les jardins-paysagistes-jardi11iers-poetes. Paris, Robert
Laffont, 1998.
BROSSE J. Les arbres de France. Paris, Plon, 1987. .
C.AUQU ~LIN, A. "L'reuvre et l'outil". Em Colloq11e de ~ertS.'f s11r ln co111-
c . A t Paris Eco11on11a, 1989. muni cal ion J 988, cr1sy. e es... ' ·
19
96
' .11, p "s L'Harn1attat1, ·
C1 ll;NJ l~ F. (org.). Le paysage e/ ~es gr1 e~ .. at ~-.' . . Paris, Hazan,
CoNAN, M. Dicfiontraire /1istor1q11e de I ª' f des ;nrd111s.
J 997. . . ? . Od · 1e Jacob, 1996.
HuN·r, f. D. L'art du jardir1 ef so11 f11slo1re. l ar1s, i

196
ANNE CAUQUELIN
KRE
7
LJLESC<.)-QU.-\RA TA, E. Les jnrdi11s du so11ge. Paris, Les Belles-Let-
tres, 1986. .
L 1
~ B. "Jardins de paysages". Te1r1ps Libre, nu 3, 1981 .
. ..\SSL: I
. LL's /inbitn11ts paysagistes. Paris, Weber, 1977.
---. Tlie /aiidscape approac/1. Filadélfia, University of Pennsilva-
11ia Press, 1998.
___ . u11e poétiqi1e dit paysage: le démesurable. Paris/Vancouver,
Ii11istere de la Qualité de Vie, 1976.
Lui: \!\'. Ma11iére de mo1itrer les jardins de Versailles. Paris, Plon, 1951.
tviARCEL, O. (org.). Co1nposer le paysage, constructions et crises de
/'espace. Seyssel, Champ Vallo11, 1989.
,,
1 'I ·, P. Le jardi11 e:rploré. Paris, Editions de L'Imprimeur, 1999, vol. i.
PERRAULT, e. Le labyrirztl1e de Versailles. Paris, Éditions du Moniteur,
1982.
PouLLAO~tEc-Go~fÉDEC, P.; GARfÉPY, M.; LAssus (orgs.). Le paysage, ter­
ritoire rl'i1zte11tio11s. Paris, L'Harmattan, 1999.
TIBERGH15'\, G. Lar1d art. Paris, Les Éditions Carré, 1993.
\
1IR1Lto,
P. La 11zncl1i11e de visio1i. Paris, Galilée, 1988.
Catálogos e revistas
Act-..u
1
G, R. TJ1e i1npniJ-1ted landscape. Londres/Edimburgo, Coracle
Press/Scottish Art Cotincil, Graen1e .t-.1urra}' Gallery, 1987.
A11tl1os. Lausanne, nti -1, 198-1.
Lt.'\~EP, Jacques (org.). Le jardi11: lectures et relatio11s. Crisnée, Yello'''
0:0\
1
, 1977.
Les Car11ets di1 Pa_lfsage. Arles, Actes Sud, n~ 3, 1999.
ParacJ1i1te. }.Iontreal, n--1-1, 1987.
Pay·ages virt11els. Paris, Dis-Voir, 1988.
Sc\.)'f!t 'H 0: .\TlO'\AL GALLER'I OF 1-IooE R:'>. ART. Catnlog11e Ricl1nrd Lo11g.
Edimburgo, 197-1.
Xoaiza. lir1ages Pª}tsnges. Paris, Jean -~fichel Place, n-5 1997.

··"
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1

Doutora e professora emérita
de filosofia da Université de
Picardie, na França, Anne
Cauquelin é autora de ensaios
sobre arte e filosofia, e dos
romances Les prisons de César
;
e Potamor. E redatora-chefe
da revista Revue d'Esthétique
e artista plástica. De Anne
Cauquelin, a Martins Editora
já publicou, nesta n1esma
coleção, Teorias da a1te e Arte
contemporâ11ea.