Guia de treinamento CrossFit | Trabalho de treinador e técnico 97 de 117
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Treinos de matar (continuação...)
Qual é a relevância que tudo isso tem para você? Uma
condição chamada rabdomiólise, causada por atividade atlética
intensa, é o que derrotou esses atletas. Atividade atlética
intensa... Isso soa familiar? Aparentemente, um dos três
pilares da CrossFit (funcionalidade, intensidade e variação),
em extremos, pode apresentar um personagem ao cenário,
que apelidamos de “Tio Rabdo”. O “Tio Rabdo” é um parente
próximo do “Raul”, que chamamos na hora de vomitar.
Embora chamar o Raul represente uma abordagem
brincalhona dos desconfortos de treinar com intensidade, seu
tio mostra os resultados mais obscuros e possivelmente fatais
da utilização inadequada da intensidade. A finalidade deste
artigo é conscientizá-lo sobre as possíveis armadilhas do
treinamento físico intenso, para que você possa colher todos
os benefícios enquanto tem conhecimento de uma
possibilidade pequena, mas não inconsequente, de um trauma
físico catastrófico. O exercício é como energia nuclear; se
empregado sem certos controles, ele pode resultar
literalmente em ruína.
Então, o que fazemos que abre as portas para a rabdomiólise?
É uma decomposição do conteúdo nas células musculares que
resulta na liberação do conteúdo das fibras musculares na
corrente sanguínea. Contrações musculares excêntricas,
quando os músculos tentam se encurtar enquanto eles estão
sendo alongados, parece aumentar significativamente a tensão
nas membranas das células musculares, e é essa tensão que
parece decompô-las. Quando as membranas são lesadas, as
coisas que normalmente estão presas dentro do envoltório
vazam para dentro da circulação, onde causam desordem à
função. A concentração de potássio é normalmente elevada
dentro dos músculos; quando ele é encontrado em altas
concentrações no sangue, é uma boa indicação da ocorrência
de rabdomiólise. Sódio e cálcio também vão de fora para
dentro dos músculos e começam a se acumular dentro das
células musculares, causando um inchaço muito dolorido que
pode dar origem à síndrome compartimental, que exige
cirurgia de urgência para abrir as membranas e aliviar a
pressão.
Mas espere, isso não é tudo. Quando tudo está funcionando
corretamente, o excesso de potássio será provavelmente
filtrado do sangue pelos rins. Entretanto, com o início da
rabdomiólise, a quantidade de potássio é tão excessiva que o
volume sobressalente é complicado por outro personagem
chamado mioglobina. A mioglobina é outro componente que
reside dentro das células musculares que age como um
armazém de oxigênio. Quando a mioglobina vaza com o
potássio e chega aos rins, ela se decompõe formando um
produto químico tóxico chamado hematina, que danifica as
células renais. Estes danos impedem que os rins funcionem
corretamente e podem ser permanentes. O potássio
excedente pode atingir picos tão elevados que causa a
alteração da função cardíaca; a arritmia é uma consequência
comum e, eventualmente, é possível ocorrer insuficiência
cardíaca total se os níveis de potássio não forem controlados.
Provavelmente, você não conhece ninguém que tenha tido
rabdomiólise, mas a verdade é que muitos atletas apresentam
um caso leve de rabdomiólise de vez em quando. O Dr. Marc
Rogers, Ph.D., um fisiologista de exercícios na Universidade de
Maryland, declara até mesmo que “Se você alguma vez teve
músculos rígidos e doloridos depois de ter se exercitado, é
provável que você tenha tido um leve caso de rabdomiólise”.
Os praticantes de exercícios novatos podem desenvolver o
problema, mas isso pode também acontecer com atletas muito
treinados e preparados. Casos moderados de rabdomiólise
podem, por vezes, ser encontrados nos atletas depois de
terem disputado um evento de triatlo. Em um exame com 25
triatletas que haviam acabado de concluir metade do evento de
triatlo Ironman (nadar por 1,9 km, pedalar por 90 km e correr
por 21 km), descobriu-se que a maior parte desses 25
participante no estudo tinham níveis de mioglobina no sangue
extremamente altos. Isso sugere que ocorreu certa quantidade
de vazamento da membrana muscular.
Meu interesse neste assunto aumentou quando um amigo
muito próximo passou uma semana no hospital depois que eu
dei a ele seu primeiro treino de CrossFit. O Brian era alguém
com um estilo de vida bastante sedentário que subitamente
voltou a fazer exercícios depois de ter passado muito tempo,
quase dois anos, sem fazer exercícios intensos antes daquela
fatídica tarde comigo. Ele era um campeão estadual de luta livre
de Iowa, um guarda das forças armadas e um levantador de
pesos bastante sério e integrante da equipe SWAT de nosso
departamento policial. Embora ele não estivesse se exercitando
bastante, ele não era completamente sedentário. Ele praticava
corridas “para ficar em forma”, como dizia ele, mas não fazia
nada que pudesse ser descrito como intenso; até ele vir à
minha casa.
Nosso treino não foi nada arduamente difícil, mas o que causou
seu desgaste foram os balanços. Sua segunda série de 50
balanços (certamente uma contração excêntrica) foi difícil para
ele e acabou sendo sua ruína. Depois disso, ele não conseguia
se ajoelhar na frente da minha garagem para trocar o tênis por
botas e precisou se sentar. Ele mal conseguiu fazer isso e teve
que usar toda sua força para subir na sua moto Harley e ir para
casa. Ele não estava sentindo literalmente dor nessa hora, era
só fraqueza muscular. O Brian pensou que seus músculos
estavam se contraindo (quando, de fato, estavam morrendo),
então ele colocou uma bolsa de água quente sobre eles para
relaxá-los. Em vez de relaxar os músculos, o calor liberou ainda
mais fluido e a dor começou dois minutos depois. Dor
excruciante. A dor é frequentemente quantificada na
comunidade médica mediante uma escala de 1 a 10. O Brian
disse que a dor era muito mais que 10.
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