Elementos de Alimentação do Tecido em Máquinas de Costura: ARRASTADORES Prof.ª Karina de Melo
ARRASTADORES A função o arrastador consiste em deslocar o tecido para a frente uma distância predeterminada entre penetrações sucessivas da agulha, formando a costura. A distância pode ser ajustada através do regulador do ponto. O deslocamento do tecido para a frente, após a execução de um ponto, ajuda na formação do ponto e no desenrolamento da quantidade necessária de linha da bobina. A configuração dos dentes do arrastador é determinante da sua utilização para os vários materiais. Os dentes podem ser grandes ou pequenos e possuir uma superfície pontiaguda ou achatada. Os dentes pontiagudos têm forma idêntica aos dentes de uma serra, sendo muito utilizados para tecidos.
A forma do arrastador e a configuração e tamanho dos dentes são importantes tanto para o tecido como para a operação a realizar nele. Na seleção de arrastadores, cada tecido deverá ser considerado um caso particular, podendo apenas generalizar-se o fato de tecidos grossos necessitarem de dentes grandes e tecidos finos de dentes mais pequenos. Para além das várias formas e superfícies dos arrastadores, pode haver diferenças nos mecanismos de transmissão de movimento aos arrastadores e que tornam uma máquina mais apropriada para determinada aplicação. Algumas dessas variações são exemplificadas a seguir.
Arrastador normal Este tipo de arrastador é comum nas máquinas de ponto preso de uma agulha, tendo também grande aplicação em outras máquinas. O mecanismo de atuação faz subir e descer o arrastador durante a formação do ponto. Quando o arrastador sobe, entra em contato com a parte inferior do tecido, transportando-o para a frente à media que cada ponto vai se formando; quando o arrastador desce, perde o contato com o material, permitindo que este permaneça parado enquanto a linha da agulha e a linha inferior se interligam.
Arrastador diferencial Este tipo de arrastador encontra-se dividido em duas partes que funcionam de forma conjugada, uma à frente da agulha e a outra atrás. As duas partes atuam independentemente uma da outra, podendo ser afinadas para trabalhar em conjunto embora com amplitudes de movimento diferentes. Esta afinação permite a obtenção de uma alimentação diferencial positiva. O arrastador à frente da agulha tem um movimento mais amplo do que o arrastador atrás da agulha, o que tem o efeito de acumular material debaixo do pé do calcador, anulando assim o efeito espalhador devido à pressão do calcador no tecido. A afinação pode ser efetuada com grande rigor e de acordo com a elasticidade e espessura dos tecidos a serem costurados, de modo que as costuras fiquem perfeitamente a direito. Arrastador diferencial positivo (comprime o tecido).
O efeito oposto acontece com a utilização da alimentação diferencial negativa. O movimento mais curto do arrastador da frente trava o tecido antes de este chegar à agulha, e uma vez que os arrastadores se encontram em contato apenas com o tecido inferior a ação de travagem compensa a ação do calcador no tecido de cima. Estas duas ações podem ser conjugadas de forma a que se equilibrem e neutralizem. O escorregamento entre os dois tecidos (superior e inferior), que é uma das causas das costuras franzidas, é evitado desta forma. Arrastador diferencial negativo (estica o tecido).
A alimentação diferencial negativa pode também ser utilizada para minimizar o efeito de costuras franzidas devido à elasticidade das linhas e à resultante tensão residual nelas existente após a formação das costuras (retração das linhas). A alimentação diferencial negativa introduz uma ação impeditiva ao movimento do tecido e quando a costura se completa a contração das linhas é equilibrada por uma contração correspondente do tecido, evitando-se assim a produção de costuras franzidas.
Arrastadores com afinação Algumas máquinas encontram-se equipadas com arrastadores com um dispositivo de fixação que lhes permite afinar o arrastador, de modo a que a parte dianteira, ou a posterior, da superfície com dentes se encontre mais alta. Este sistema pode ser eficaz na redução de franzidos provocados pelo escorregamento entre tecidos e na redução da ondulação resultante do espalhamento do tecido devido à influência da pressão exercida pelo calcador. No caso anterior, isto é, para reduzir o escorregamento entre as folhas do tecido, o arrastador é inclinado ligeiramente de modo que os dentes mais afastados do operador se entontem mais altos que aqueles que estão mais perto. Arrastador inclinado para reduzir o escorregamento
Se o arrastador for afinado desta maneira, reduz o escorregamento uma vez que engata com folhas que já foram costuradas. A utilização desta afinação produz ótimos resultados, especialmente com tecidos leves e escorregadios. Neste último caso, ao costurar tecidos elásticos nos quais a pressão do calcador possa causar espalhamento, o arrastador é inclinado no sentido oposto, isto é, para cima do lado mais perto do operador. Desta forma contata e alimenta o tecido à frente da agulha, o que tem o efeito de acumular o tecido antes de costurar, contrariando desta forma o efeito de espalhamento devido à pressão. Este procedimento ajuda mas não elimina normalmente o problema. Arrastador inclinado para evitar o espalhamento do tecido.
Arrastadores composto Existem arrastadores compostos de vários tipos, sendo a sua característica comum a alimentação simultânea das folhas superior e inferior. A forma de um arrastador composto encontra-se ilustrada ao lado.
Espelho ou Chapa da agulha O objetivo do espelho é apresentar uma superfície lisa sobre a qual o material passa, à medida que as laçadas são produzidas. O espelho contém aberturas desenhadas de forma a encaixarem as fileiras de dentes da superfície do arrastador, para que, quando o arrastador sobe antes de iniciar o seu movimento para a frente, os dentes engatem na superfície inferior do material e o comprimam contra a área escorregadia do calcador. Depois de o arrastador ter completado o seu movimento para a frente e descido abaixo do espelho para voltar à sua posição inicial, o espelho serve para manter o tecido em posição de modo a que este não seja levado para baixo pelos dentes do arrastador e arrastado por ele.
O espelho possui também um orifício (ou ranhura, no caso de agulhas oscilantes) que permite a passagem da agulha. Esta deve passar à vontade pelo orifício sem lhe tocar. O orifício, porém, não deverá ser tão largo que permita que o tecido seja levado com a agulha (como é ilustrado na figura ao lado), uma vez que pode interferir com a formação da laçada da linha, para além de causar perfuração ou ruptura do tecido. Efeito resultante de o orifício do espelho ser muito largo. A= tecido “acompanha” a agulha na sua descida. B= tecido sobre com a agulha, evitando a formação de uma boa laçada da linha da agulha.
Torna-se evidente que o tamanho do orifício deve corresponder ao diâmetro da agulha, que, por sua vez, se encontra relacionado com a estrutura do tecido, as arestas do orifício devem ser polidas, uma vez que qualquer rugosidade pode desfiar ou quebrar a linha da agulha à medida que é puxada para baixo e para cima durante a formação do ponto. Além disso, pode também produzir quebra do fio no tecido.