Brincava bastante com minha irmã e de vez em quando com um dos
filhos da esposa do “Ti Zé” de nome Daniel. Depois da morte de sua mãe,
ele desaparece de minhas lembranças e até hoje não sei qual o rumo que
sua vida tomou, ou mesmo, se ainda continua vivo. Gostava de esconder
debaixo dos pés de café que ficavam próximo da casa. Minha mãe conta
que um dia dormi embaixo de um deles e como não aparecia, ela colocou
todo o pessoal que se encontrava nas imediações a minha procura.
“Ti Zé” era uma pessoa alegre e cheia de
história e tinha uma profissão interessante para
a visão de uma criança de seis anos. Ele, além de
cuidar do cultivo da terra, consertava máquina de
costura. Também era um grande sanfoneiro e, as
más línguas diziam que não podia ver um rabo-
de-saia que se entusiasmava todo.
Afirmava que o valor estava nas verdades
das pessoas e não das palavras que se vão com
o vento. Na sua visão os homens procuram a
felicidade, o amor e outras iguarias do corpo e da
alma e com ele não seria diferente, apesar dos
constantes apelos dos pais e irmãos.
Não possuia o conhecimento da vida, em sua forma cientifica, mas
era um homem obstinado pelas suas idéias. Perambulava pelos grotões e
povoados a caça de amores e festas e deixava por conta do destino o
traçado do seu caminho. Sempre que sua imagem vem a minha memória
questiono o saber e passo a acreditar que a felicidade consiste na
ignorância plena, pois quanto mais descubro a vida, mais problemas
encontro. Às vezes, chego a acreditar que a felicidade é a própria
ignorância.
Gostava de sua bicicleta cheia de detalhes e com uma grande chave
de fenda em sua garupa. Sempre dizia que quem mexesse com ele poderia
experimentar a ponta da dita chave.
Demonstrava possuir, pelo seu sobrinho, um grande carinho e
quando já morávamos na cidade, sempre que nos encontrávamos ele fazia
questão de oferecer alguma coisa. Era para pegar umas balas no bar, um
doce na venda, uma laranja junto ao vendedor ambulante etc. Eram coisas
aparentemente bobas, mas que tornou sua figura importante e diferenciada
em minha vida. Ele, juntamente com minha tia Maria, são os únicos irmãos
de meu pai que, além de ter suas fisionomias bem vivas em minha memória,
são guardadas com amor e carinho em meu coração de adulto.
Minha tia Maria, irmã de meu pai, um doce de pessoa e muito
carinhosa com seu sobrinho. Casada com o tio Onofre que se dedicava a
fabricação de foguetes. Quando chegava a sua casa a minha primeira
preocupação era ir ao cômodo situado ao lado para poder observar toda
parafernália feita de pólvora para serem utilizadas em diversas
Tio “Zé Genuino”