Geografia na educação infantil, a concepção do espaço da criança desde o seu nascimento
Size: 6.87 MB
Language: pt
Added: May 07, 2015
Slides: 39 pages
Slide Content
Geografia na Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental Éderson Dias de Oliveira ALMEIDA, Rosângela Doin de. PASSINI, Elza Yasuko . O espaço geográfico: ensino e representação. 12 ed. São Paulo: Contexto, 2002.
A Geografia é a ciência que estuda o conjunto de fenômenos naturais e humanos, os quais são aspectos da superfície da Terra, considerada na sua distribuição e relações recíprocas . A Criança e as Relações Espaciais Evolução da noção de espaço: desde o nascimento a criança delineia impressões e percepções referentes ao espaço, as quais desenvolvem-se através de sua interação com o meio. Ou seja, a noção de espaço desenvolve-se antes mesmo da escolarização;
A psicogênese da noção de espaço passa por níveis próprios da evolução geral da criança na construção do conhecimento : vivido ao percebido e deste ao concebido . ESPAÇO VIVIDO (até cerca de 2 anos) refere-se ao espaço físico, vivenciando através do movimento e do deslocamento . É apreendido pela criança através de brincadeiras, ao percorrer, delimitar e organizar o espaço segundo seus interesses. Nesse há a necessidade de experimentar fisicamente; Daí a importância de exercícios rítmicos e psicomotores para que explore com o corpo as dimensões e relações espaciais.
Inicialmente, o espaço é quase incompreensível ocorrendo a sua conquista de forma gradativa, à medida que a percepção espacial avança qualitativamente – esquecimento da memória ; Até os 2 anos, o espaço é entendido como o espaço vivido, da ação, construído, a partir do contato com ele, pelo caminhar, engatinhar, pelas relações de proximidade e distância . Sendo assim, a consciência do corpo, dada a partir da comunicação consigo mesmo, é a base cognitiva que se dá a exploração do espaço. Trabalhos com recortes texturais ;
Em seguida, a criança apreende o ESPAÇO PERCEBIDO , onde já não precisa experimentá-lo fisicamente. Essa (após os 6 anos) é capaz de lembrar-se do percurso da casa à escola , o que não se dava antes, pois era necessário percorrê-lo para identificar o trajeto. Ao observar uma foto, já é capaz de distinguir as distâncias e a localização dos objetos. Antes só era capaz de perceber o “aqui”; depois atinge também o “acolá”. Há a ampliação do campo empírico quanto a análise do espaço.
“Pode-se dizer que neste momento inicia-se para ela o estudo da Geografia. Por isso, nas séries iniciais, deve-se preocupar em propor atividades que potencialize o desenvolvimento de conceitos e noções, mais do que um conteúdo sistemático;
Por fim, a criança começa a compreender o ESPAÇO CONCEBIDO (11 a 12 anos), isto é, torna-se capaz de raciocinar sobre uma área retratada em um mapa, sem tê-la visto antes. Nisso, é importante que o professor proponha atividades que auxiliem no desenvolvimento das noções espaciais . Daí a importância da escola não trabalhar com a representação do espaço de modo abstrato ou como um conhecimento pronto e acabado . Ex ; caça-tesouro;
A Tomada de Consciência do Espaço Corporal A exploração do espaço ocorre a partir do nascimento, nas experiência do entorno; Ao ser tocada, segurada no colo, ao sugar o leite, se inicia o processo de aprendizagem do espaço; Em sua memória são registrado os referenciais de lado e das partes do corpo, que serão a base das referencia espaciais; Na conscientização do espaço ocupado pelo corpo há dois aspectos essenciais: o esquema corporal e a lateralidade ;
O ESQUEMA CORPORAL é a base cognitiva sobre a qual se delineia a exploração do espaço; Este depende das funções motoras e da percepção do espaço imediato; A consciência do corpo , seus movimentos e posturas amplia-se lentamente, obtendo maior domínio do espaço; Quando consegue sentar, o bebê aumento o campo de visão e a percepção da posição de objetos e deslocamento ;
Num processo contínuo, o bebê conquista cada vez maior domínio sobre o espaço: rolar, engatinha até andar; Pode-se virar numa amplitude de 180º e pegar objetos próximo; Por isso, não é ideal colocar a criança em chiqueirinhos ou andadores; Deve-se propiciar um ambiente seguro e estimulador, com possibilidades de agir e descobrir seu ambiente;
Ao ingressar na Educação Infantil, a criança deve apropriar-se do espaço por meio das vivências estabelecidas. Andar, correr, pular, saltar, escorregar, subir, descer, empurrar, puxar, deitar, sentar, cair, dançar..., tudo isso é fundamental para o seu desenvolvimento. A vida nas instituições de Educação Infantil é marcada pelo movimento, que possibilita a interação com o mundo; É uma forma de linguagem, para explorar e conhecer o mundo e o próprio corpo, seus limites e possibilidades.
Porém, há escolas que não permite que as crianças se movimentem, sendo estas “engessados” nas cadeiras, o que dificulta a apropriação do espaço por meio do seu corpo. Essa postura desconsidera que o sistema sensório-motor exerce uma grande importância na organização psicológica do espaço . A consciência do corpo e de seus movimentos se desenvolve de maneira lenta, perdurando até a adolescência. Nesse sentido, a escola tem o dever de possibilitar que o aluno desenvolva essa consciência.
Para Piaget, a criança constrói seu conhecimento tendo experiências com os objetos sem formar conceitos sobre estes, que ocorrerão mais tarde. Na experiência física, a criança conhece propriedades materiais que podem ser notadas através da observação e do tato. O primeiro espaço que a criança vivencia é “postural e orgânico”, ou seja, o corpo é o seu movimento. As crianças preferem brincadeira que limitam parte do pátio da escola, pois não conseguem ocupar um espaço tão grande;
Assim as relações topológicas vêm em primeiro lugar, seguidas das relações projetivas e euclidianas, e progressivamente admitindo ações com grau de complexidade cada vez maior. O mesmo acontece quando recebe uma folha, limitando-se a usar apenas uma de suas partes ; Na verdade, não conseguem concebê-lo para poderem organizá-lo, sendo o espaço um mundo quase impenetrável, ocorrendo sua conquista aos poucos .
Outro aspecto importante na organização espacial refere-se ao predomínio de um lado do corpo, que é a base do espaço percebido – LATERIZAÇÃO ; A análise do espaço, deve ser iniciada primeiramente com o corpo, em seguida apenas com os olhos e finalmente com a mente; Nessa , ela consegue transferir para outros objetos as posições ligadas à lateralidade ( esquerda e direita);
A partir dos 5 anos a criança toma gradativamente consciência do seu corpo com suas distintas partes, identificando-as; Nisso, é preciso , que o professor ajude na tomada de consciência de seu predomínio para direita/esquerda ; Assim emerge a possibilidade de projetar para os objetos e outras pessoas o que já havia comprovado em si mesma . Nisso se potencializa de trabalhos futuros com referenciais de orientação como os movimentos terrestres e as direções cardeais.
Relações Espaciais Topológicas Elementares São as relações espaciais estabelecidas no espaço próximo, que usam referenciais elementares como: dentro, fora, ao lado, na frente, atrás, perto, longe, etc. As relações topológicas começam no nascimento e são a base para as relações espaciais mais complexas posteriores, partindo dela para o seu entorno. Daí é possível abordar questões mais amplas envolvendo a classe, os ambientes da escola e o bairro. Tais relações estão presentes nas tarefas mais simples do dia-a-dia como, no deslocamento de um local a outro ou mesmo quando se busca a localização de objetos.
No plano perceptivo ( espaço percebido ), as relações espaciais se processam na seguinte ordem: de vizinhança ; separação ; ordem ; envolvimento ; continuidade ; A relação de VIZINHANÇA corresponde aquela em que os objetos são percebidos no mesmo plano, próximos, contíguos; Ex ; o quadro ao lado da porta – sala ao lado do pátio; Ao considerar a vizinhança, a criança percebe que os objetos vizinhos tem SEPARAÇÃO , isto é, não são unidos. Nisso nota que os objetos próximos em um mesmo plano estão separados ; Ex. a porta e o quadro podem estar na mesma parede, porém são separadas, há uma parte entre elas ;
Ex. em 2 dimensões podemos elencar a sequência de cartazes, desenhos e trabalhos posto na parede da sala; Ex . em três dimensões podemos elencar a sequência das carteiras da sala de aula; A ideia anterior implica a relação de ORDEM ou de sucessão, onde há, primeiro o quadro , no meio a parede e depois a porta; A percepção de cada elemento e sua relação com os demais leva à relação de ENVOLVIMENTO , que pode ser percebida em uma, duas ou três dimensões ;
Apesar de não proporcionar uma localização exata, as noções topológicas são usadas para a localização relativa que tem o corpo como referencial . Esses sistemas simples de localização fazem parte do esquema de localização cotidiano de qualquer cidadão. A localização geográfica constrói-se à medida que o sujeito se torna capaz de estabelecer relações: Nesses espaços exemplificados, se nota a sequência de pontos, ou seja, em CONTINUIDADE , pois o espaço é contínuo, sendo impossível a ausência de espaço ; As localizações são, portanto, contínuas, e o espaço forma um todo ;
de vizinhança (o que está ao lado); separação (fronteira); ordem (o que vem antes e depois); envolvimento (o espaço que está em torno) e; continuidade (a que recorte do espaço a área considerada corresponde) entre os elementos a serem localizados. Por isso é difícil, realizar um estudo geográfico de áreas isoladas, descontextualizadas;
Relações espaciais topológicas: o rientação e localização A ideia de que a localização está relacionada com os pontos cardeais (N; S; L; O) é um equívoco, pois outras noções prévias estão envolvidas no processo de localização . As noções iniciais de localização vêm com a construção das noções topológicas elementares, que não são muitas vezes levadas em conta no sentido da localização. Inicialmente, o corpo é usado como meio para orientar-se no espaço, sendo este determinante para os referenciais de localização.
O corpo atua sobre o meio permitindo um certo domínio espacial pela ação e pelo movimento . Vencendo a etapa das construções topológicas, a localização começa a basear-se em esquemas projetivos. O principal esquema é o da lateralidade, no qual os sujeitos trabalham com referências do corpo, para estabelecer a localização . Muitas vezes na construção de mapas mentais utilizamos a lateralidade como referência, que potencializa os estudos da rosa-dos-ventos e seus pontos.
DESCENTRALIZAÇÃO ESPACIAL Para Piaget, o pensamento intuito, característico da criança entre 4 e 7 anos, assenta-se sobre aquilo que ela percebe; Na construção da noção do espaço é através desse processo que começa a dar conta que o juízo que faz da localização dos objetos pela sua referência não condiz com a realidade; A criança que partia do uso do corpo como referência espacial, começa a perceber que outros referenciais podem ser usados; Ex. percebe que a mesa pode estar perto de si e ao mesmo tempo longe de seu colega;
Passa então a situar objetos a partir das relações espaciais entre eles, sendo esse processo chamado de DESCENTRALIZAÇÃO; Esse consiste na passagem do egocentrismo infantil para um objetivo mais realista; A partir de um centro no espaço ( Hannoun , 1977), usa conceitos na descentralização d a organização espacial que são: Lateralidade , Profundidade e Anterioridade; Lateralidade : corresponde à noção e direita e esquerda que uma pessoa desenvolver para orientar-se (a direita de, à esquerda de ).
Anterioridade : corresponde à noção de ordem e sucessão de objetos no espaço, a partir de um determinado ponto de vista (antes de, depois de, entre, a frente de). Profundidade : corresponde à noção de posição com relação à variação na vertical (em cima, no alto, em cima de, sobre; abaixo de, o fundo de, debaixo de ).
As relações espaciais organizam-se a partir do esquema corporal com base em um eixo bipolar e tridimensional; No processo de descentralização, se projeta esse eixo nos objetos para localizá-los, assumindo a postura de observador; Essa passagem é feita gradativamente, à medida que percebe que os objetos possuem partes e lados, os quais servem como referenciais ;
Etapas da representação espacial infantil Para Matias (2006), no processo de representação espacial pela criança observa-se quatro fases: garatujas , incapacidade sintética , realismo intelectual e realismo visual . As GARATUJAS (0 à 3 anos) constituem um tipo de desenho baseado em rabiscos. Para entendê-las é necessário perguntar à criança que desenhou, o que ela deseja expressar através deste. Ela não consegue fechar uma linha para construir uma figura, pois não possui a noção de limite e fronteira .
A INCAPACIDADE SINTÉTICA (3-4 anos) é uma fase da representação em que percebemos o início do estabelecimento, das relações topológicas mais elementares, como vizinhança e separação, mas às vezes nem isso acontece. Nessa etapa a representação do espaço negligencia as relações euclidianas (proporções e distâncias) e as projetivas (perspectivas com projeções e secções).
Na fase do REALISMO INTELECTUAL (5 à 7 anos), a criança desenha aquilo que vê , ou que sabe que existe, seja , “tudo que está ali”. Nessa etapa as relações topológicas já aparecem com mais constância e as projetivas e euclidianas começam a se manifestar. Observa-se que esse é um estágio de representação mais avançado, contudo não se detectam ainda a coordenação perspectiva de conjunto, a compreensão das proporções e os sistemas de coordenadas.
Por sua vez, no REALISMO VISUAL (8-9 anos), as relações projetivas e euclidianas estão sendo consolidadas. Nessa fase, a criança irá desenhar somente aquilo que vê e não aquilo que ela sabe que existe. Ex. na representação de uma cadeira em perspectiva, dependendo do seu ponto de vista, ela irá desenhar dois pés do objeto e não quatro. Nessa fase, a criança começa a trabalhar com o espaço percebido, o qual é mais complexo que o vivido.
Completada a fase do realismo visual, a criança já consegue desenvolver representações mais complexas que fazem parte do seu espaço concebido. Também passam a entender/construir documentos cartográ-ficos , pois possuem estruturas mentais para trabalhar com símbolos, ícones e legendas . Podem , também interpretar uma área cartografada mesmo sem conhecê-la.
Mapeamento do corpo: iniciação cartográfica da criança na educação infantil A finalidade do mapa do corpo é, que por meio da projeção de seu corpo no plano, o aluno obtenha a sua representação em tamanho real, com a identificação de seus lados. Nesta atividade tem início a passagem do espaço perceptivo para o espaço intelectual . O trabalho de ensino e aprendizagem sobre a representação e a localização se inicia no espaço próximo da criança e, dele, parte para o distante.
A criança antes de ser leitora de mapas, deverá agir como mapeadora do seu espaço conhecido (corpo) para compreender e representar o espaço. Para realizar essa atividade, pode-se utilizar - folha de papel madeira, caneta hidrocor e lápis colorido . Com vistas a introduzir a atividade, pode-se realizar o momento da rodinha, no qual se cantam músicas e conversar sobre as atividades a serem realizadas .
eu conheço um jacaré que gosta de comer escondam seus olhinhos senão o jacaré come seus olhinhos e o dedão do pé eu conheço um jacaré que gosta de comer escondam suas orelhas senão o jacaré come suas orelhas e o dedão do pé ... Dentre as músicas, é preferível aquelas que remetam a partes do corpo, onde ao cantá-la, deve-se fazer gestos para acompanhar a letra; Jacaré A letra da música, desperta o autoconhecimento nas crianças dos seus corpos e contribui para a sua iniciação cartográfica.
Tal atividade é essencial para o trabalho com a lateralidade, condição para a descentralização na localização dos objetos no espaço, usando referenciais fora do seu corpo. Exemplo de atividade Com uma criança deitada sobre uma folha de papel, risca-se seu contorno. Nisso as crianças devem ser questionadas sobre o que estava faltando no mapa para que o desenho se torne parecido com o corpo de uma pessoa.
Após alguns momentos de observação, elas notam a ausência do olho, da boca etc., sendo que cada uma preenche o contorno com os detalhes faltantes. Nessa ocasião, pode-se questionar: quantos olhos temos?; onde eles ficam?; e o nariz?; temos quantas bocas?; o que temos sobre nossa cabeça?; o que temos nos dedos?; e o umbigo?.
Também deve-se trabalhar as noções de frente/atrás, esquerda/direita e em cima/em baixo, tomando como ponto de partida o corpo da criança e o mapa confeccionado na aula; No cotidiano a localização dos objetos no espaço é definida a partir do seu próprio referencial (o seu corpo). Para a criança os objetos e o espaço que eles ocupam são indissociáveis, sendo que ela percebe o todo e não cada parte distintamente. Por esse motivo, até aos 6 anos, a localização e o deslocamento de elementos são definidos a partir de referenciais de sua própria posição.
Por fim, o trabalho com o mapa do corpo possibilita que a criança seja inserida no processo de iniciação cartográfica - relações espaciais topológicas. Essa orientação com o mapa do corpo contribui para a compreensão posterior dos pontos cardeais, para a elaboração das noções de distância e o futuro entendimento do mapa . O mapa do corpo pode ficar exposto na sala e sempre que trabalhar com a lateralidade, pode-se explorar o mapa confeccionado pelas crianças . A análise do espaço e sua representação, se inicia primeiro com o corpo, para depois explorar a mente.