Jornal correio popular versão impressa

680 views 1 slides Mar 23, 2013
Slide 1
Slide 1 of 1
Slide 1
1

About This Presentation

No description available for this slideshow.


Slide Content

/LITERATURA/
Obra da autora de
Orgulho &
Preconceito
mostra
longevidade ao
servir de tema
para novos livros e
motivar encontros
e comunidades
Fábio Trindade
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
[email protected]
Passaram-se 200 anos desde
a primeira publicação deOr-
gulho e Preconceito, a obra
mais famosa da escritora in-
glesa Jane Austen. Mesmo as-
sim, a cada ano, são vendidas
50 mil cópias do romance —
considerado pela própria au-
tora como “seu filho querido”
— apenas no Reino Unido,
onde continua sendo um dos
livros mais lidos. Exatamente
por isso,Orgulho e Preconcei-
tojá ganhou diversas versões
para a TV e cinema, sendo o
filme homônimo de 2005, es-
trelado por Keira Knightley e
Matthew Mcfadyen, a mais
conhecida. O longa foi indica-
do a quatro Oscar, incluindo
o de Melhor Atriz para Keira.
Mas são muitas as produ-
ções inspiradas na obra. A re-
deBBC, que jamais deixaria
passar tanta popularidade,
fez duas versões televisivas de
livros dela e prepara uma ter-
ceira. A primeira veio na déca-
da de 1970, mas a mais mar-
cante é a de 1995, que trans-
formou Colin Firth em objeto
do desejo das mulheres em
uma memorável cena em
que aparece de camisa molha-
da para a amada. “Algo im-
pensável para Jane Austen e
para a época dela”, acrescen-
ta Maria Clara Biajoli, pesqui-
sadora especializada em Jane
Austen, inclusive com um
projeto de doutorado sobre a
escritora na Universidade Es-
tadual de Campinas (Uni-
camp). “Tem uma autora,
Abygail Reynolds (também
britânica), que se espe-
cializou em escrever versões
deOrgulho e Preconceitono
estilo ‘E Se’. Ela pega determi-
nadas situações do original e
muda o desfecho. Por exem-
plo: e se a Elizabeth Bennet ti-
vesse aceitado o primeiro pe-
dido de casamento do Sr. Dar-
cy? E ela conta a história a
partir daí, mudando detalhes.
E nessa, já são uns oito livros
assim só inspirados emOrgu-
lho e Preconceito”, conta Ma-
ria Clara.
O problema, segundo a
pesquisadora, é que a autora
tenta imitar o estilo de Aus-
ten, além de acrescentar, de
forma mais escrachada que a
BBC, cenas eróticas e explíci-
tas do relacionamento do ca-
sal. “Uma construção muito
questionável.”
Abygail Reynolds é apenas
uma, entre centenas, que
usam os seis conhecidos li-
vros de Jane Austen para criar
a própria história — os outros
livros, além deOrgulho e Pre-
conceito,sãoRazão e Sensibili-
dade,Mansfield Park,Emma,
PersuasãoeA Abadia de Nor-
thanger. E, nessa salada de
continuações, as mais absur-
das histórias nascem, inspira-
das, muitas vezes, na moda
do momento.
Para se ter uma ideia, en-
tre os livros bizarros basea-
dos em Jane Austen, o mais
conhecido éPride and Preju-
dice and Zombies(Orgulho e
Preconceito e Zumbis), de Se-
th Grahame-Smith. Curiosa-
mente, ele é escrito por um
homem, já que Austen é con-
siderada feminista, e tem o
nome da inglesa indicado co-
mo coautora na capa.
“A proposta é uma mistura
do texto do original, copiado
ao pé da letra, com novas fra-
ses que inserem uma invasão
de zumbis na Inglaterra. Mas
ele foi pensado, desde o iní-
cio, comercialmente. Foi es-
crito para vender, e não por
fãs, como acontece normal-
mente”, analisa a pesquisado-
ra. Entre outros títulos inusita-
dos, entãoSense and Sensibili-
ty and Sea Monsters(Razão e
Sensibilidade e Monstros Mari-
nhos),Emma and the We-
rewolves(Emma e os Lobiso-
mens)eMansfield Park and
Mummies(Mansfield Park e
as Múmias).
Tons de Darcy
A trilogia eróticaCinquenta
Tons de Cinza, que vem sen-
do “aproveitada” pelos opor-
tunistas de plantão e ganhan-
do divertidas paródias sobre
a quente relação sadomaso-
quista entre Christian Grey e
Anastasia, também foi asso-
ciada a Jane Austen no livro
Cinquenta Tons do Sr. Darcy
(tradução de Natalie Gerhar-
dt, Bertrand Brasil, 307 pági-
nas, R$ 27,00).
Assinado por pseudôni-
mos, o livro pega o famoso
personagem deOrgulho e Pre-
conceitopara criticar a obra
de E.L. James. A história se
passa na época da obra de
Austen, na Inglaterra do co-
meço do século 19, e, por sa-
ber que nesse período os pra-
zeres da carne não eram tão
explícitos, o autor se segura
nas cenas, mas a capa, por
exemplo, traz as botas de Dar-
cy e um chicote.
Projeto
Maria Clara coleciona as inú-
meras versões de Jane Austen
que encontra, “passam de
100”, afirma, mas alerta que
dificilmente algo é bom, tan-
to que ela, no projeto desen-
volvido na Unicamp, analisa
essas obras. Um deles éMr.
Darcy’s Diary(O Diário de Sr.
Darcy), de Amanda Grange,
que traz exatamente a mes-
ma história deOrgulho e Pre-
conceito, porém contada pela
visão do herói Sr. Darcy. Escri-
ta em forma de diário, a auto-
ra ganha espaço para criar as
reflexões de Darcy que não
há no original pelo fato de es-
te ser narrado do ponto de vis-
ta de Elizabeth. “Amanda
Grange tenta manter o estilo
de escrita de Austen mas aca-
ba exagerando no perfil dos
personagens, estereotipando-
os.”
Filmes
As obras de Jane Austen são
de domínio público, facilitan-
do o aparecimento de tanto
material sobre suas obras.
Tanto que todos os seis livros
mais conhecidos da autora
têm versões cinematográfi-
cas. Além do citado no início
do texto, existe uma versão
deOrgulho e Preconceitode
1940, tendo Greer Garson e
Laurence Olivier como o ca-
sal protagonista. Já Emma
Thompson e Kate Winslet são
duas irmãs obrigadas a mu-
dar-se para o campo após a
morte do pai no filme de Ang
Lee, de 1995,Razão e Sensibi-
lidade. Gwyneth Paltrow tam-
bém já se envolveu com proje-
tos sobre Jane Austen, quan-
do viveu a bonita e inteligen-
te jovem que presencia sua
governanta se casar com o
pai viúvo e resolve bancar o
cupido para as pessoas que a
cercam emEmma, de 1996.
Já emAmor e Inocência(Be-
coming Jane), de 2007, Anne
Hathaway interpreta a pró-
pria Jane Austen antes da fa-
ma. No filme, ela vive um ro-
mance com um jovem advo-
gado irlandês, que acabaria
por inspirar seus livros e o fa-
moso personagem Sr. Darcy.
E existe aindaO Clube de Lei-
tura de Jane Austen, também
de 2007. No longa, um grupo
de mulheres se reúne para
discutir os livros de Jane Aus-
ten e procurar neles soluções
para suas próprias vidas. Tu-
do muda quando um ho-
mem, fã de ficção científica,
se une a elas, causando tu-
multo.
Comunidade
A comunidade no (quase ex-
tinto) Orkut chamadaOrgu-
lho e Preconceitoreunia mi-
lhares de fãs de Jane Austen e
do filme homônimo de 2005.
Durante os muitos tópicos so-
bre a escritora, há alguns
anos, a professora Adriana
Zardini percebeu que as pes-
soas tinham as mesmas dúvi-
das sobre a inglesa e a obra.
“Na época, a única fonte em
português era o Wikipédia”,
lembra. Para tentar ajudar
aqueles que se interessavam
pela autora, assim como ela,
Adriana montou, em 2008, o
blog Jane Austen Brasil, o pri-
meiro em português. “Come-
cei fazendo análises, até por-
que me formei em Letras,
mas a coisa foi crescendo de
uma forma que eu jamais po-
deria imaginar.”
Atualmente, o site ultrapas-
sa mil visitas diárias e, em ja-
neiro deste ano, Adriana orga-
nizou o quarto encontro na-
cional de fãs de Jane Austen.
“O primeiro encontro foi em
2009 e teve 15 pessoas. No de
janeiro, foram três dias e ultra-
passamos cem pessoas em ca-
da um, que vieram de vários
lugares do Brasil.” A propos-
ta, segundo Adriana, é discu-
tir Jane Austen, tanto que
muitos trabalhos e teses fo-
ram apresentados, “projetos
que terão continuidade acadê-
mica”, diz. “A nossa metodo-
logia foi copiada inclusive pe-
la Itália, pela Espanha, que
são países que acabaram de
criar suas próprias socieda-
des de Jane Austen como a
nossa.”
O que encanta a professo-
ra nos livros de Austen é que,
a cada leitura, ela consegue
observar novos detalhes, o
que gera, automaticamente,
novas analogias. “Os sobreno-
mes dos personagens são ex-
tremamente simbólicos, cada
um com um significado. Não
tenho como entrar na cabeça
dela para saber o que real-
mente ela quis passar, mas
sinto que ela foi deixando di-
cas para a gente compreen-
der a sua obra.” Adriana cita
o sobrenome Mansfield, do li-
vro Mansfield Park. “Vendo
um programa sobre a escravi-
dão na Inglaterra, descubro
que um Lord Mansfield foi
um dos pioneiros em julgar
casos de libertação dos escra-
vos, dando a causa a favor de-
les. E isso foi na época que
ela viveu e escreveu as
obras.” A professora é tão fã
que decidiu visitar a casa on-
de Jane Austen viveu seus últi-
mos anos na Inglaterra, no vi-
larejo de Chawton. “É o que
toda fã sempre sonhou.”
JaneAusten,influenteapós200anos
SAIBA MAIS
Domínio público da obra
possibilitou série satírica
que funde histórias
originais com elementos de
terror, comoOrgulho e
Preconceito e Zumbis
Maria Clara Biajoli tem projeto de doutorado sobre a escritora
A atriz Kate Winslet em cena do
longaRazão & Sensibilidade
Jane Austen nasceu em 16 de
dezembro de 1775, em Steventon, na
Inglaterra. De uma família pertencente
à burguesia agrária, sua situação e
ambiente serviram de contexto para
todas as suas obras, cujo tema gira
em torno do casamento da
protagonista. A inocência dos livros de
Austen é apenas aparente, pois é
interpretada de várias maneiras por
especialistas. Os meios acadêmicos a
têm considerado uma escritora
conservadora, apesar de a crítica
feminista atual reconhecer em suas
obras uma dramatização do
pensamento sobre a educação da
mulher. A escritora morreu no ano de
1817, aos 41 anos.(FT/AAN)
Divulgação
A professora Adriana Zardini, autora do blog Jane Austen Brasil, junto a placa que indica museu dedicado à escritora, em Bath, Inglaterra
Anne Hathaway no papel de Jane Austen no filmeAmor & Inocência(2007), exemplar da safra cinematográfica inspirada na autora
Participantes de encontro nacional sobre Jane Austen
Autora ainda inspirou
série satírica de terror
e tese de doutorado
C6CORREIO POPULAR CADERNO C
Campinas, domingo, 17 de março de 2013