Koerner 2014 - CEL Linguística _ traduzido

nathaliasantiago18 4 views 144 slides Oct 28, 2025
Slide 1
Slide 1 of 285
Slide 1
1
Slide 2
2
Slide 3
3
Slide 4
4
Slide 5
5
Slide 6
6
Slide 7
7
Slide 8
8
Slide 9
9
Slide 10
10
Slide 11
11
Slide 12
12
Slide 13
13
Slide 14
14
Slide 15
15
Slide 16
16
Slide 17
17
Slide 18
18
Slide 19
19
Slide 20
20
Slide 21
21
Slide 22
22
Slide 23
23
Slide 24
24
Slide 25
25
Slide 26
26
Slide 27
27
Slide 28
28
Slide 29
29
Slide 30
30
Slide 31
31
Slide 32
32
Slide 33
33
Slide 34
34
Slide 35
35
Slide 36
36
Slide 37
37
Slide 38
38
Slide 39
39
Slide 40
40
Slide 41
41
Slide 42
42
Slide 43
43
Slide 44
44
Slide 45
45
Slide 46
46
Slide 47
47
Slide 48
48
Slide 49
49
Slide 50
50
Slide 51
51
Slide 52
52
Slide 53
53
Slide 54
54
Slide 55
55
Slide 56
56
Slide 57
57
Slide 58
58
Slide 59
59
Slide 60
60
Slide 61
61
Slide 62
62
Slide 63
63
Slide 64
64
Slide 65
65
Slide 66
66
Slide 67
67
Slide 68
68
Slide 69
69
Slide 70
70
Slide 71
71
Slide 72
72
Slide 73
73
Slide 74
74
Slide 75
75
Slide 76
76
Slide 77
77
Slide 78
78
Slide 79
79
Slide 80
80
Slide 81
81
Slide 82
82
Slide 83
83
Slide 84
84
Slide 85
85
Slide 86
86
Slide 87
87
Slide 88
88
Slide 89
89
Slide 90
90
Slide 91
91
Slide 92
92
Slide 93
93
Slide 94
94
Slide 95
95
Slide 96
96
Slide 97
97
Slide 98
98
Slide 99
99
Slide 100
100
Slide 101
101
Slide 102
102
Slide 103
103
Slide 104
104
Slide 105
105
Slide 106
106
Slide 107
107
Slide 108
108
Slide 109
109
Slide 110
110
Slide 111
111
Slide 112
112
Slide 113
113
Slide 114
114
Slide 115
115
Slide 116
116
Slide 117
117
Slide 118
118
Slide 119
119
Slide 120
120
Slide 121
121
Slide 122
122
Slide 123
123
Slide 124
124
Slide 125
125
Slide 126
126
Slide 127
127
Slide 128
128
Slide 129
129
Slide 130
130
Slide 131
131
Slide 132
132
Slide 133
133
Slide 134
134
Slide 135
135
Slide 136
136
Slide 137
137
Slide 138
138
Slide 139
139
Slide 140
140
Slide 141
141
Slide 142
142
Slide 143
143
Slide 144
144
Slide 145
145
Slide 146
146
Slide 147
147
Slide 148
148
Slide 149
149
Slide 150
150
Slide 151
151
Slide 152
152
Slide 153
153
Slide 154
154
Slide 155
155
Slide 156
156
Slide 157
157
Slide 158
158
Slide 159
159
Slide 160
160
Slide 161
161
Slide 162
162
Slide 163
163
Slide 164
164
Slide 165
165
Slide 166
166
Slide 167
167
Slide 168
168
Slide 169
169
Slide 170
170
Slide 171
171
Slide 172
172
Slide 173
173
Slide 174
174
Slide 175
175
Slide 176
176
Slide 177
177
Slide 178
178
Slide 179
179
Slide 180
180
Slide 181
181
Slide 182
182
Slide 183
183
Slide 184
184
Slide 185
185
Slide 186
186
Slide 187
187
Slide 188
188
Slide 189
189
Slide 190
190
Slide 191
191
Slide 192
192
Slide 193
193
Slide 194
194
Slide 195
195
Slide 196
196
Slide 197
197
Slide 198
198
Slide 199
199
Slide 200
200
Slide 201
201
Slide 202
202
Slide 203
203
Slide 204
204
Slide 205
205
Slide 206
206
Slide 207
207
Slide 208
208
Slide 209
209
Slide 210
210
Slide 211
211
Slide 212
212
Slide 213
213
Slide 214
214
Slide 215
215
Slide 216
216
Slide 217
217
Slide 218
218
Slide 219
219
Slide 220
220
Slide 221
221
Slide 222
222
Slide 223
223
Slide 224
224
Slide 225
225
Slide 226
226
Slide 227
227
Slide 228
228
Slide 229
229
Slide 230
230
Slide 231
231
Slide 232
232
Slide 233
233
Slide 234
234
Slide 235
235
Slide 236
236
Slide 237
237
Slide 238
238
Slide 239
239
Slide 240
240
Slide 241
241
Slide 242
242
Slide 243
243
Slide 244
244
Slide 245
245
Slide 246
246
Slide 247
247
Slide 248
248
Slide 249
249
Slide 250
250
Slide 251
251
Slide 252
252
Slide 253
253
Slide 254
254
Slide 255
255
Slide 256
256
Slide 257
257
Slide 258
258
Slide 259
259
Slide 260
260
Slide 261
261
Slide 262
262
Slide 263
263
Slide 264
264
Slide 265
265
Slide 266
266
Slide 267
267
Slide 268
268
Slide 269
269
Slide 270
270
Slide 271
271
Slide 272
272
Slide 273
273
Slide 274
274
Slide 275
275
Slide 276
276
Slide 277
277
Slide 278
278
Slide 279
279
Slide 280
280
Slide 281
281
Slide 282
282
Slide 283
283
Slide 284
284
Slide 285
285

About This Presentation

Texto de Koerner


Slide Content

Quatro décadas de historiografia linguística:
estudos selecionados

E.F.K. KOERNER
Quatro décadas de historiografia linguística:
estudos selecionados
PREFÁCIO
Carlos Assunção
SELEÇÃO E EDIÇÃO DE TEXTOS DE
Rolf Kemmler e Cristina Altman
COLEÇÃO
LINGUÍSTICA 11
CENTRO DE ESTUDOS EM LETRAS
UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO
VILA
REAL • MMXIV

Título: Quatro décadas de historiografia linguística: estudos selecionados
Autor: E.F.K. Koerner
Editores: Rolf Kemmler e Cristina Altman
Prefácio: Carlos Assunção
Tradutores: Cristina Altman, Sónia Coelho, Susana Fontes, Rolf Kemmler,
Marlene Loureiro, Felicidade Morais, Lineide Mosca, Teresa Silva
Revisores: Mónica Augusto, Sónia Coelho, Gonçalo Fernandes, Susana Fontes,
Marlene Loureiro, Felicidade Morais, Teresa Moura
Edição: Centro de Estudos em Letras
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Coleção: LINGUÍSTICA 11
ISBN: 978-989-704-187-7
Depós. Legal: 378824/14
Data: agosto de 2014

Impressão:
Publito, Estúdio de Artes Gráficas – Braga

Índice



Prefácio 7

Artigos programáticos
A importância da historiografia linguística e o lugar da história
nas ciências da linguagem 9
Historiografia linguística 17
Ainda sobre a importância da historiografia linguística 29
Questões que persistem na historiografia linguística 45
Linguística e filologia: o eterno debate 65
O problema da metalinguagem na historiografia linguística 75
O problema da ‘influência’ na historiografia linguística 91

Estudos sobre questões específicas
Georg von der Gabelentz e Ferdinand de Saussure:
o problema da ‘influência’ 103
William Labov e as origens da sociolinguística na América 117
Observações sobre as origens da morfofonémica
na linguística estruturalista americana 139
Linguística e revolução: com referência especial para a
‘revolução chomskyana’ 175

Referências bibliográficas 221
Índice onomástico-biográfico 275

Prefácio



Conhecer a evolução do pensamento linguístico ao longo da história,
devidamente integrada no contexto histórico-filosófico-intelectual, de cada
época e de cada país, e assente numa visão integradora da epistemologia e da
metalinguagem utilizadas ao longo dos séculos que nos permite uma cada vez
melhor e mais profunda compreensão dos estudos linguísticos é uma das tarefas
fundamentais da historiografia linguística.
Esta disciplina tem encontrado no Professor E. F. Konrad Koerner um dos
mais profícuos cultores em todo o mundo. Com efeito, o investigador alemão
foi, desde cedo, um dos principais ideólogos da historiografia linguística, ao
defender “[...] an approach to History of Linguistics which is conscious of
methodological and epistemological requirements in adequate history-writing in
linguistics as one would expect in any science» (Koerner 2006: 2805),
estabelecida «[...] as an activity founded on well-defined principles which can
rival, in terms of soundness of method and rigour of application, those of
linguistics itself» (Koerner 2006: 2814).
Com o presente volume Quatro décadas de historiografia linguística: estudos
selecionados, do Prof. Koerner, pretende o Centro de Estudos em Letras (CEL), da
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, também ela a celebrar o seu
quadragésimo aniversário, prestar uma tríplice homenagem ao distinto linguista, a
quem se agradece, desde já, a autorização para a tradução e divulgação de algumas
das suas publicações em língua portuguesa.
Em primeiro lugar, o Centro de Estudos em Letras visa homenagear o seu
mais ilustre colaborador por ocasião do septuagésimo quinto aniversário do seu
nascimento, que se celebrou em 5 de fevereiro de 2014. Homenagear o aniversa-
riante mas fundamentalmente parabenizar o homem e o intelectual que, passadas
muitas décadas, continua imbrincado no seu labor editorial e intelectual com
grande energia e acutilância.
Em segundo lugar, pretende homenagear-se a atividade editorial do Prof.
Koerner que, com a publicação do primeiro número da revista Historiographia
Linguistica e a série de livros Studies in the History of the Language Sciences
(SiHoLS), marca o início de quatro décadas de atividade editorial na área das
ciências da linguagem - historiografia linguística. Com efeito, se a revista e a série
de livros editados pelo Prof. Koerner constituíram as primeiras publicações que se
dedicaram, com regularidade, a aspetos da história da linguística, foram surgindo
outras revistas e outras séries de livros ao longo das mesmas décadas. Para além
da atividade editorial, destaca-se, também, a organização, de 28 a 31 de agosto de
1978, da primeira edição do International Conference on the History of the
Language Sciences (ICHoLS), realizada na Universidade de Ottawa. De
organização trienal, as subsequentes edições tiveram lugar em Lille (1982),

8
Princeton (1984), Trier (1987), Galway (1990), Washington (1993), Oxford (1996), Fontenay-St. Cloud (1999), São Paulo-Campinas (2002), Urbana- Champaign (2005), Potsdam (2008), Sankt-Peterburg (2011) e Vila Real (2014),
esta com organização do Centro de Estudos em Letras da Universidade de Trás-
os-Montes e Alto Douro.
Em terceiro lugar, e na consideração de que a maioria das publicações do
Prof. Koerner é publicada em língua inglesa, quis o Centro de Estudos em Letras
presentear o autor com uma seleção dos seus estudos traduzidos para a língua de
Fernando Pessoa e Manuel Bandeira, a língua portuguesa, editados por Rolf
Kemmler, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, e Cristina Altman,
da Universidade de São Paulo, que reunindo as traduções portuguesas já
publicadas quer no Brasil, quer em Portugal, as reviram e a que acrescentaram a
tradução de mais cinco artigos de relevo, traduzidos especialmente para o
presente volume.
O livro Quatro décadas de historiografia linguística: estudos selecionados
apresenta-se dividido em duas partes: artigos programáticos e estudos sobre
questões específicas. Todos os textos incluídos nesta obra são marcantes e deter-
minantes na afirmação da historiografia linguística quer do ponto de vista teórico-
metodológico que enforma todo o pensamento linguístico do autor quer, ainda, do
seu profundo conhecimento histórico e de uma visão muito alargada da cultura.
Sob orientação dos editores, Quatro décadas de historiografia linguística:
estudos selecionados constitui, também, um trabalho coletivo da equipa de
historiografia linguística do Centro de Estudos em Letras. Assim, e em nome dos
editores, agradece-se aos membros do CEL – Mónica Augusto, Sónia Coelho,
Gonçalo Fernandes, Susana Fontes, Marlene Loureiro, Felicidade Morais, Teresa
Moura e Teresa Silva – o empenho na elaboração das novas traduções e na revisão
e atualização das traduções já publicadas.


Vila Real e Centro de Estudos em Letras, julho de 2014


Carlos Assunção
Diretor do Centro de Estudos em Letras

A importância da historiografia linguística e o lugar da história
nas ciências da linguagem
*




1 Introdução
O ponto em questão neste trabalho não é se a história da linguística chega a
entediar o linguista até à morte, como pode muito bem ser o caso com uma série
de investigadores envolvidos naquilo que Thomas S. Kuhn (1922-1966)
acertadamente chamou as ‘operações quebra-cabeças’ da ‘ciência normal’ (Kuhn
1962). Na verdade, raramente cheguei a conhecer um linguista que não estivesse
de uma forma ou de outra interessado na história das ideias linguísticas. Na
minha opinião, isso tem pouco a ver com a questão de saber se a linguística é
uma ciência exata, uma ciência empírica, ou meramente uma ciência
especulativa; talvez seja simplesmente porque a linguística é essencialmente
uma ciência humana e social, em todo o caso uma Geisteswissenschaft, servindo
como ponto de origem das investigações a curiosidade do ser humano sobre si
mesmo, a sua intelectualidade.
Se, portanto, a maioria dos estudiosos que trabalham em linguística estiver
realmente interessada na história da sua disciplina, a questão a que, julgo,
deveríamos dirigir-nos diz respeito à relevância essencial da história da
linguística para a disciplina como um todo – uma questão que sinto que requer
uma discussão urgente atendendo ao facto de que o número de pessoas que
dedicaram a sua atenção ao estudo de temas específicos, temas recorrentes, ou
épocas em estágios iniciais da linguística, tem vindo a crescer de forma
constante ao longo das últimas décadas, apesar de a história da linguística ainda
não ter vindo a ser integrada como uma parte regular da formação dos estudantes
em linguística.
Para colocar a questão em termos negativos e de uma forma algo mais
franca: será que – como os historiadores das ciências se têm vindo a perguntar
em várias ocasiões – o estudo da sua história chega a travar o progresso da
própria ciência (cf. Synge 1958), na medida em que, como sugeriu o físico S. G.
Brush em 1974, deveria ser atribuído um certificado ‘X’ à história da ciência,
devendo ser disponibilizada exclusivamente a estudantes maduros e investi-
gadores experientes?
Antes de abordar esta questão e a fim de oferecer aquilo que acredito ser
uma resposta viável, deixe-me primeiro tentar esboçar o tipo de história da
linguística que tenho em mente.


*
[Observação sobre a tradução: a presente tradução foi elaborada por Rolf Kemmler e Maria da
Felicidade Morais com base no artigo “The Importance of Linguistic Historiography and the Place of
History in Linguistic Science” (Koerner 1974b, 1978), publicado pela primeira vez em língua
portuguesa em Koerner (2012b).]

10 E.F.K. Koerner
2 Os três tipos de estudo histórico de Nietzsche
Há mais de cem anos, na segunda parte intitulada “Vom Nutzen und
Nachtheil der Historie für das Leben”
1
das suas Unzeitgemäße Betrachtungen
(Nietzsche 1874), o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) partiu da
suposição geral de que o homem, o animal pensante, estava a precisar de algum
tipo de história. De facto, Nietzsche considerou uma correlação entre os vários
tipos de disposição humana e o tipo de tratamento histórico escolhido, o que o
levou a distinguir entre três abordagens distintas no estudo da história (Nietzsche
1874, 254ss.): (1) a monumental (‘monumentalisch’), (2) a antiquária
(‘antiquarisch’) e (3) a abordagem crítica (‘kritisch’) – que servem para entender
a história em relação a) àquele que é ativo e que se esforça (‘Thätiger und
Strebender’), b) àquele que é conservador e reverente (‘Bewahrender und
Verehrender’) e c) àquele que sofre e necessita de libertação (‘Leidender und der
Befreiung Bedürftiger’), respetivamente.
Nietzsche achava que o grande homem, por exemplo, iria procurar o tipo
monumental da história, uma abordagem que está essencialmente relacionada
com os acontecimentos do passado como uma sucessão de grandes homens e do
modo como eles fizeram o seu caminho através da história – na história da
linguística vêm à mente os ‘trailblazers’ de Jakobson, ou seja, os linguistas
polacos Jan-Baudouin de Courtenay (1845-1929) e Mikołaj Kruszewski (1851-
1887). Embora possa ser verdade, como Nietzsche (1882, I, § 34) sugeriu noutro
lugar, que todo o grande homem tem a sua influência retrospetiva, isto é, que a
história é reescrita em vista do seu impacto presente, não posso concordar com
este tipo de tratamento histórico, que, curiosamente, parece ser aceite por um
número considerável de linguistas modernos que sentem que a caça de Chomsky
aos antepassados é legítima. Assim, pode citar-se um ilustre estudioso que não
pode ser considerado como pertencendo ao campo gerativo:

[...] as a progenitor of a new scientific view, he [Chomsky, EFKK] must
seek ancestors; furthermore, Thomas S. Kuhn (The Structure of Scientific
Revolutions, Chicago, 1962) has forewarned us that, after any scientific
revolution, scholars will set about rewriting history so as to make it lead
inevitably to the new faith (Moulton 1970: 284).

Quem já trabalhou na história da linguística durante uns anos, mantendo
uma mente bastante aberta, vai reconhecer que uma abordagem nestes moldes é
questionável.
No entanto, devo admitir que também não estou inteiramente satisfeito com
o segundo tipo de escrever história mencionado por Nietzsche, um tipo que
aparentemente pensava ser de importância para o bem-estar do ‘homem médio’.
Na verdade, a natureza deste tipo de atividade histórica é essencialmente a


1
‘Sobre a utilidade e desvantagem da história’ [isto é, do estudo da história, EFKK] para a vida”. Cf.
as Considerações Extemporâneas do autor (Nietzsche 1999).

A importância da historiografia linguística e o lugar da história nas ciências da linguagem 11
reverência aos antepassados, sendo conservadora no sentido original da palavra:
todas as coisas antigas e passadas serão aceites como igualmente veneráveis, na
medida em que a inovação e o crescimento serão rejeitados, ou pelo menos
objeto de resistência. Nietzsche (1874: 264) observou isso como o possível
perigo do tratamento antiquário da história.
Eu próprio (Koerner 1974b) distingui noutro âmbito entre quatro formas de
lidar com a história da linguística e parece que, provavelmente, dois deles
podem ser subsumidos no tipo antiquário ou conservador, ao procurar
tentativamente caraterizar as atividades de Chomsky e dos seus seguidores –
tanto quanto o tratamento do nosso passado linguístico está em causa – como o
tipo propagandístico de escrever história.
Sem dúvida, o tipo conservador de escrever história (que até hoje tem sido o
tipo predominante) tem os seus inconvenientes, talvez porque os seus autores
compartilham o otimismo subconsciente de que a delimitação do desen-
volvimento de uma dada disciplina envolve a ilustração de um crescimento
constante de conhecimento, um aumento de sofisticação, etc., naquela área de
estudos, muitas vezes juntamente com a tendência de manter o que até ao
momento foi alcançado, em vez de tentar abrir-se para uma possível rutura com
a tradição. A este respeito, a abordagem propagandística da história da
linguística pode ter os seus benefícios, desde que a sua natureza liberal
(‘whiggish’) seja reconhecida. Um tal estudo do passado com referência ao
presente foi adequadamente caraterizado por Herbert Butterfield (1900-1979) há
uns 80 anos, nos seguintes termos:

Through this system of immediate reference to the present-day, historical
personages can easily be classed into the men who furthered progress and
the men who tried to hinder it; so that a handy rule of thumb exists by
which the historian can select and reject, and can make his points of
emphasis (Butterfield 1931: 11).

Não são necessários mais comentários a esta ‘interpretação Whig da
história’ (Butterfield)
2
, a referência às atividades contemporâneas na história da
linguística parece bastante clara.
Não quero sugerir, no entanto, que o trabalho de estudiosos que
classifiquei entre os do tipo ‘antiquário’ ou ‘conservador’ tenha sido de
nenhuma importância para o assunto. Por uma questão de facto, as histórias
mais informativas da linguística foram escritas mais ou menos dentro deste
tipo de quadro.
E mesmo assim, a menos que queiramos que a história da linguística venha
a tornar-se ‘a discipline apart’ (cf. Kuhn 1971: 272), uma empresa por si mesma,
como alguns historiadores da ciência tendem a acreditar que deveria ser o seu
trabalho, devemos insistir que a forma tradicional de escrever a história da


2
Veja-se o título Whig interpretation of history da obra de Butterfield (
1
1931).

12 E.F.K. Koerner
linguística seja, pelo menos, cuidadosamente revista, a fim de contribuir significativamente para a própria disciplina.
Eu, por exemplo, tenho defendido outra aproximação à história da
linguística (cf. Koerner 1972c), para a qual optei pelo termo ‘historiografia’. O
que entendo por este termo parece estar em linha com o terceiro método de
Nietzsche de tratar a história, o crítico, apesar de não achar que o significado de
‘urteilend’ (crítico) deva ser estendido para incluir a implicação de ‘verurteilend’
(condenando), como sugeriu Nietzsche (1874: 265). No entanto, ‘verurteilend’,
no sentido de ‘passar julgamentos’, teria de ser incluída na abordagem crítica,
como pode tornar-se evidente a partir da minha argumentação abaixo.

3 Rumo a uma historiografia linguística
Numa declaração programática (Koerner 1972c), indiquei quais deveriam
ser as linhas através das quais o historiador da linguística deve proceder a fim de
estabelecer uma verdadeira historiografia linguística, ou seja, a atividade
científica fundamentada em termos bem definidos e em princípios
metodológicos que podem rivalizar com os da própria disciplina, pelo menos em
relação à pertinência descritiva. Além disso, tentei demonstrar num estudo sobre
o desenvolvimento das ideias estruturais e procedimentos de análise linguística
(Koerner 1975a) de que forma essas propostas podem ser postas em prática.
Não tenciono repetir aqui o que já referi sobre os pré-requisitos por parte do
historiador das ideias linguísticas. Basta lembrar que deve estar familiarizado
tanto com aquilo a que Thomas S. Kuhn chamou de ‘ciência normal’,
3
como
com a atmosfera intelectual geral, os fatores extralinguísticos, a situação
socioeconómica, etc., que, juntos, podem ter tido, de uma forma ou de outra, um
impacto sobre as ideias acerca da linguagem e sobre as teorias linguísticas e
métodos de análise que são caraterísticos de um determinado período no
desenvolvimento da ciência linguística. A noção paradigmática de Kuhn e o
conceito de Carl Becker dum ‘clima de opinião’
4
– se redefinidos com o
propósito de escrever a história da linguística – parecem-me ser os pilares sobre
os quais uma historiografia linguística pode repousar.
A historiografia linguística que proponho tem uma missão importante a
realizar dentro da disciplina como um todo. O facto de a história da linguística
poder perfeitamente constituir uma chave muito valiosa para uma melhor
compreensão e apreciação da história das ideias em geral só pode reforçar o seu
significado.
Três razões, se não quatro, podem ser dadas para explicar porque a história
da linguística deve ter um lugar dentro da própria disciplina.


3
O termo original empregue pelo teórico americano da história das ciências é ‘normal science’
(Kuhn 1962: 10).
4
O termo ‘climate of opinion’ vem do historiador americano Carl Lotus Becker (1873-1945).

A importância da historiografia linguística e o lugar da história nas ciências da linguagem 13
Em primeiro lugar, a historiografia linguística, na medida em que é
orientada para a teoria, fornece ao cientista a perspetiva e a distância que lhe
permitirão distinguir ganhos significativos dentro da disciplina de ‘teorias’
imaturas e alegações infundadas (que este conhecimento histórico possa impedi-
lo de dogmatismo na teoria linguística e levá-lo à moderação e à aceitação de
uma diversidade de pontos de vista possíveis parece-me um produto secundário
que dificilmente pode ser sobrevalorizado no atual debate linguístico).
Em segundo lugar, a historiografia linguística fornece ao linguista praticante
material para obter conhecimento sobre o desenvolvimento do seu próprio
campo. Esse conhecimento constitui a diferença entre o cientista e o assistente
de laboratório: o cientista sabe de onde vieram as técnicas e quais são as suas
limitações; o assistente de laboratório, dominando somente a arte do ofício, não
o sabe (além disso – como demonstrou Benware (1974) em relação à tríade
vogal de Grimm –, o linguista vai estar ciente de que a adesão estrita a um credo
particular e a aceitação das teorias com base em autoridade podem de facto
colocar um travão ao desenvolvimento da disciplina).
Em terceiro lugar – em conjunto com os dois argumentos acima
mencionados a favor do estabelecimento da história das ideias linguísticas como
parte da formação geral de um linguista –, a historiografia linguística, ao
proporcionar a experiência do desenvolvimento da própria disciplina em que se
inscrevem os linguistas, promove a habilidade no julgamento de teorias novas ou
opostas, e, assim, ao mesmo tempo, protege-nos contra a aceitação de forma
acrítica de reivindicações excessivas a favor de uma determinada teoria
linguística.
Finalmente, embora este aspeto possa ter pouca influência sobre o ponto em
questão, a historiografia linguística permite ao estudioso participar em esforços
científicos que se encontram fora de sua própria vida, pois passam desta forma a
ampliar a sua experiência pessoal: se lermos a Memoire de 1878 (Saussure 1879)
com o espírito apropriado, ficamos realmente a experienciar a luta de Saussure
com as perplexidades da inflexão vocálica indo-europeia.
A reivindicação de que uma historiografia da linguística assim concebida
merece um lugar seguro dentro da ciência da linguagem será o assunto da parte
final deste artigo.

4 Um apelo para o estabelecimento da história da linguística como
parte da formação geral dos linguistas
Num comentário sobre a relação entre a ciência e a arte, Kuhn (1969: 407-
408) notou que “[...] science destroys its past”, ou seja, que o trabalho de
Einstein e Schrödinger, por exemplo, tornou o de Galilei e Newton em grande
parte irrelevantes, tendo o ‘paradigma de Einstein’, por assim dizer, substituído o
quadro de referência definido por Newton e outros. Em contrapartida,
observamos que a arte de Picasso não tornou a pintura de Rembrandt obsoleta.
Se aceitarmos a exatidão geral desta observação, podemos perguntar-nos que

14 E.F.K. Koerner
função a história da ciência, uma área bem estabelecida nas universidades, tem
para o avanço da ciência, e na verdade podemos questionar a sua relevância até
mesmo para uma melhor compreensão da história, se a queixa de Kuhn (1971:
271-272) de os estudantes de história raramente terem assistido aos seus cursos é
aplicável para a disciplina em geral. Há, no entanto, em muitas universidades,
cátedras não só para a história da ciência, mas também para a história da
economia, a história da medicina, e aquelas dedicadas a outras disciplinas – algo
que pode parecer surpreendente, atendendo ao facto de que as antigas teorias em
economia foram substituídas por outras novas e mais adequadas e as novas
descobertas na medicina, por exemplo, terem feito com que os manuais de
medicina de há duas ou três décadas pareçam antigos e de pouco mais interesse
do que outras curiosidades que se encontram nas feiras de velharias.
A linguística pode ser uma ciência exata com respeito a certas questões
metodológicas e procedimentos de análise. No entanto, não se pode argumentar
que uma determinada teoria torna geralmente outras teorias concorrentes
obsoletas, no sentido de ocorrer uma mudança de paradigma, uma ‘revolução’
percebida no sentido kuhniano do termo, que exige justamente a adesão estrita
de todos os membros da comunidade científica que querem permanecer dentro
da disciplina (que a adesão ou não adesão a uma determinada visão específica
tem frequentemente exercido uma influência sobre a carreira de um indivíduo é
um problema diferente e não pode ser considerado como relevante para a
presente argumentação). Na realidade, estamos todos a testemunhar uma
diversidade de pontos de vista em questões relacionadas com a teoria linguística
geral e o tratamento de determinados aspetos de análise gramatical que não teria
sido possível há uns cinquenta anos.
Mesmo se recuarmos o início da linguística como ciência para somente há
190 anos, o estudo da linguagem pode orgulhar-se de uma tradição tão longa
como o da química ou o da biologia, por exemplo. É, por isso, curioso verificar
que, enquanto estas ciências naturais têm gozado da criação de cursos dedicados
à história da sua própria disciplina, não existe nenhum procedimento semelhante
em relação à linguística, uma disciplina em que a coexistência de visões teóricas
divergentes e procedimentos metodológicos opostos constitui possivelmente o
elemento mais importante.
Tendo em conta este estado de coisas, podemos perguntar-nos se o trabalho
dos historiadores da ciência tem uma base científica mais sólida, ou de que outra
forma pode ser explicada a aparente prosperidade da história da ciência (o facto
de as ciências em geral receberem mais apoio governamental e de outras partes
pode ser considerado como apenas um dos fatores envolvidos, e não
necessariamente um fator determinante).
A minha intuição é que a história da linguística ainda não se desenvolveu
suficientemente para ser reconhecida a nível geral como um contributo
significativo para o universo de conhecimentos. Mesmo dentro da própria

A importância da historiografia linguística e o lugar da história nas ciências da linguagem 15
disciplina, os estudantes da linguística geralmente não consideram a história da
linguística como um campo viável de atividade académica séria.
Aqueles que concordam comigo, que um relato de como chegámos aonde
estamos hoje, deveria desempenhar um papel essencial na formação de um
linguista, são convidados a entrar na discussão sobre o ‘estado da arte’ na
história da linguística e como esta poderá ser remediada, de modo a que a
historiografia linguística seja um dia capaz de desempenhar o seu devido papel
no âmbito das ciências da linguagem.

Historiografia linguística
*




1 Definições
Ao olhar para a história da linguística – agora também designada de ‘história
das ciências da linguagem’ numa tentativa de alargar a área de estudo – como uma
disciplina de estudo académico sério desde o ponto de vista dos inícios do século
XXI, é óbvio que o desenvolvimento conseguido nos últimos cerca de 30 anos tem
sido encorajador. Hoje em dia, o que é normalmente referido como ‘historiografia
linguística’ (forma abreviada da designação mais precisa ‘historiografia das
ciências da linguagem’, em que o termo ‘ciência’ no sentido estrito da ‘ciência
natural’ é claramente evitado) constitui uma investigação metodologicamente
informada e a apresentação de acontecimentos passados na evolução da disciplina
designada de ‘linguística’ ou ‘ciências da linguagem’. Se a atividade de estabelecer
as res gestae do estudo da linguagem é chamada de ‘historiografia linguística’, o
seu resultado deveria ser designado de ‘história da linguística’. Por outras palavras,
a ‘história da linguística’ é o produto e não a atividade de a estabelecer. A
permanente discussão em torno de questões relativas ao método, à filosofia e à
epistemologia é chamada de ‘meta-historiografia’. Esta tripla distinção entre a
história da linguística, historiografia linguística e meta-historiografia parece já ter
sido aceite atualmente (para uma descrição detalhada sobre este assunto, veja-se
Hüllen 2002: 16-42). Discussões acerca de outros metaníveis (p. ex., Schmitter
2003b) são contraproducentes, especialmente porque tantos detalhes do passado
linguístico ainda precisam de ser revelados, tantos mitos e fables convenues
expostos e a verdade (tanto quanto possível) sobre eles estabelecida.
O conceito atual de ‘historiografia linguística’ distingue-se da compreensão
tradicional do termo, que simplesmente se referia à narração de acontecimentos
passados. Assim, a maioria das contribuições para a obra de dois volumes
intitulada Historiography of linguistics (1975), editada sob a direção geral de
Thomas A. Sebeok, foi constituída por pouco mais do que relatos baseados em
investigações anteriores, sendo aqui a ‘historiografia’ usada no tradicional sentido
do termo. Atualmente, a ‘historiografia linguística’ deve ser entendida como uma
atividade consciente metodológica e epistemologicamente da escrita da história,
como a esperaríamos da historiografia de qualquer outra ciência. A história da
linguística amadureceu, tendo-se consolidado como uma disciplina bona fide de
interesse académico. Neste sentido, surgem teses de doutoramento, são organi-
zados congressos especializados na área, a investigação passou a ser financiada e
são oferecidos cursos nos departamentos de Estudos Germânicos, Românicos, ou


*
[Observação sobre a tradução: a presente tradução elaborada por Susana Fontes com base no
manuscrito fornecido pelo autor, baseia-se na entrada “Historiography of Linguistics” em The
Encyclopedia of Language and Linguistics (Koerner 1994b).]

18 E.F.K. Koerner
Eslavos e obviamente linguísticos, para não mencionar outras atividades (veja-se
abaixo) que apontam para uma profissionalização da área.
2 Motivações para escrever a história da linguística
Ao olhar para os últimos cerca de 125 anos de escrita da história sobre a
linguística, é possível reconhecer três tipos distintos, dos quais cada um deles
apresenta diferentes motivos para os autores se dedicarem a esta atividade, para
além de ocorrerem num período específico do desenvolvimento desta disciplina.
Um quarto tipo (defendido por Koerner 1972c, 1976, por exemplo) desenvolveu-
se apenas nas últimas quatro décadas e considero que deveria ser chamado de
‘historiografia linguística’, em contraste com a designação não descritiva ‘história
da linguística’, para assinalar um importante desenvolvimento na escrita da
história sobre a linguística.

2.1 Compilar histórias da linguística
Há um tipo de história que surge num momento em que uma geração
particular ou um indivíduo, que representa as ideias, convicções e compromissos
da sua geração, está convencido de que uma meta desejada – uma espécie de
patamar – foi alcançada e de que o trabalho que se segue nessa área estará
largamente relacionado com ‘mopping up operations’ (Kuhn 1962: 24). Estes
relatos pressupõem que o quadro teórico já tenha sido suficientemente delineado
para que um membro ordinário da comunidade científica possa conduzir as suas
investigações, para além de significar que já não há qualquer necessidade de uma
revisão essencial da metodologia ou da abordagem ao tema em análise. O
resultado destas considerações pode ser descrito, com mais precisão, como a
compilação de histórias que consideram a evolução da área como tendo decorrido
de uma forma essencialmente unilinear, com os desenvolvimentos mais recentes a
representarem um avanço relativamente a atividades anteriores.
Esta ideia ou o motivo para escrever tal tipo de história parece ter a sua
melhor expressão na volumosa Geschichte der Sprachwissenschaft und
orientalischen Philologie (1869) de Benfey, que apareceu um ano depois da morte
prematura de Schleicher. No entanto, outros trabalhos neste período, como por
exemplo a Geschichte der germanischen philologie (1870), de Raumer, poderia
ser citada como uma obra que reflete um Zeitgeist similar.
Hoje em dia, torna-se difícil recriar o ambiente dos finais da década de 1860,
mesmo que nos limitemos a assuntos linguísticos, deixando fora de consideração
as correntes externas, como por exemplo as sociopolíticas, as histórias disponíveis
atualmente fornecem-nos muito pouca, ou nenhuma informação, acerca deste
período pré-neogramático. Basta relembrar que as obras de Bopp, Rask, Grimm, e
outros foram suficientemente sintetizadas e metodologicamente desenvolvidas
pela geração de Georg Curtius (1820-1885) e, especialmente, August Schleicher
(1821-1868), a ponto de podermos dizer que ocorreu naquele tempo uma mudança
de ‘paradigma’, da qual os princípios neogramáticos da investigação linguística

Historiografia linguística 19
histórica, associados aos nomes dos seus antigos alunos, nomeadamente Karl
Brugmann (1849-1919) e August Leskien (1840-1916), constituiriam, ainda que
um pouco exagerado, o resultado lógico.
Uma observação semelhante acerca dos motivos da escrita da história poderia
ser feita relativamente à história de 1924 de Holger Pedersen (1867-1953), que se
debruça sobre os resultados dos indo-europeístas do século XIX e que foi
precedida de um relato semelhante e mais reduzido da sua primeira história,
publicada em 1916, ano da conclusão da segunda edição da obra Grundriss der
vergleichenden Grammatik der indogermanischen Sprachen de Brugmann (e
também de Delbrück na primeira edição) e da publicação do Cours de linguistique
générale, obra póstuma de Saussure. A necessidade de uma tal compilação da
história talvez esteja expressa, mais claramente, no empreendimento volumoso de
Wilhelm Streitberg (1864-1925), intitulado Geschichte der indogermanischen
Sprachwissenschaft seit ihrer Begründung durch Franz Bopp. No entanto, esta é
mais uma síntese do trabalho desenvolvido nos vários ramos da filologia indo-
europeia até àquele tempo do que uma verdadeira ‘história da linguística’ (para
mais detalhes, leia-se Koerner 1978d: 16-17). Tendo começado em 1916, este
empreendimento seria abandonado depois de 1936.
Após a Segunda Guerra Mundial, parece que as histórias de Malmberg (1964
[original sueco
1
1959]), Ivić (1965 [original servocroata
1
1963]), Leroy (1963) e
outros cumpriram uma função semelhante de compilar os resultados alcançados
anteriormente na ciência linguística. Porém, nesta altura, o foco da atenção
situava-se no período da história da linguística do pós-1916, seguindo-se à história
de sucesso do Cours de Saussure, com a sua ênfase numa abordagem não-histórica
à linguagem. O quadro neogramático de investigação linguística foi proposto nas
histórias de Pedersen, nos esforços organizacionais de Streitberg a partir de 1916 e
noutros livros menos influentes. Poder-se-á acrescentar que Pedersen, um
neogramático da segunda geração, reflete a orientação positivista daquela escola
mais enfaticamente do que o grupo original de investigadores (note-se que nem o
Einleitung de Delbrück, nem o Prinzipien de Paul são mencionados no seu estudo
de 300 páginas de 1931). Foi apenas recentemente que os neogramáticos
receberam um tratamento mais adequado (por exemplo, Einhauser 1990,
Morpurgo Davies 1999: 226-278). Do mesmo modo, as histórias de Malmberg,
Ivić, Leroy e outros estudos semelhantes dos anos sessenta apresentam as
tendências pós-saussureanas como os feitos mais significativos da disciplina até
hoje, quer sejam da escola de Copenhaga, Praga ou de Bloomfield. Eles
esforçaram-se por apresentar, tal como Benfey, Raumer, Pedersen, Streitberg e
outros pertencentes a uma fase inicial do desenvolvimento da linguística, um
quadro de investigação, no qual eles próprios cresceram, e concomitantemente
tentaram manter a força e o impacto do modo estruturalista de pensamento.

20 E.F.K. Koerner
2.2 Histórias da linguística comemorativas ou propagandísticas
O segundo tipo de atividade de escrita da história pode ser caraterizado pela
intenção, por parte de um indivíduo normalmente nos seus trinta anos (não com
quarenta ou mais, como geralmente acontece no primeiro tipo: Benfey tinha
sessenta anos quando apareceu o seu livro), novamente representando um grupo
particular, em lançar uma campanha para se opor a visões anteriormente
apreciadas e a doutrinas ainda em vigor.
Deste modo, em contraste com Benfey (1869), por exemplo a obra Einleitung
de 1880 (6.ª e última edição em 1919), de Berthold Delbrück (1842 -1922),
juntamente com a obra Prinzipien de Paul, do mesmo ano (quinta e última edição
em 1920), serviram para dar voz a uma nova geração de investigadores, ansiosos
por demonstrarem que as suas conquistas ultrapassaram significativamente as ante-
riores e que as suas teorias substituíram legitimamente as ensinadas pela geração
anterior de linguistas. A reivindicação a favor da descontinuidade é o que carateriza
este tipo de atividade e o livro de Delbrück é o melhor exemplo deste esforço.
Normalmente, Schleicher era descrito por Delbrück (1882: 55) como representando
a conclusão da fase da gramática histórico-comparativa, inaugurada por Franz
Bopp em 1816, e os Junggrammatiker, com os quais se associou nos inícios da sua
carreira (logo depois de ter recebido a cadeira de Schleicher na Universidade de
Jena em 1873), como marcando uma nova viragem decisiva na área.
Nenhuma história comparável da linguística foi escrita nas décadas de 1930
ou 1940 no que respeita ao estruturalismo, mas um olhar sobre a obra Language
(1933: 3-20) de Bloomfield ou sobre Foundations of language
(1939: 419-460) de
Louis Herbert Gray (1875-1955) claramente sugere que os capítulos dedicados à
história da linguística foram uma tentativa de corrigir o desenvolvimento da
disciplina e de documentar a superioridade da abordagem estruturalista em relação
a qualquer outra teoria ou método que surgiu até agora. Este esforço para provar
que as abordagens anteriores seriam insuficientes e inadequadas não foi de forma
alguma esquecido pelos seguidores de uma visão atual do pensamento linguístico.
Pelo contrário, pode facilmente ser mostrado que os seus defensores não só
estavam ansiosos por reavivar o interesse pela história da linguística, mas também
por reescrevê-la de forma a que as ideias da geração anterior à atual parecessem
menos dignas de atenção.
De facto, o que Voegelin / Voegelin, em 1963, felizmente denominaram de
‘eclipsing stance’, aspeto que a gramática gerativa-transformacional já tinha
iniciado, foi ilustrado de melhor forma pelo próprio Noam Chomsky, por exemplo
na sua conferência plenária em 1962, no Ninth International Congress of
Linguists, realizado em Cambridge, Massachusetts, no ano de 1962 (Chomsky
1964a). Pouco tempo depois, muitos dos seus seguidores empenharam-se
ardentemente em escrever a sua visão particular da história (compare-se os artigos
de Dingwall 1963, Bach 1965 ou Bierwisch 1966a). Mais recentemente, em 1980,
Frederick Newmeyer publicou um livro que constitui o melhor exemplo, até à
data, deste tipo “whiggish” de escrita da história pro-domo. A obra seleciona e

Historiografia linguística 21
reinterpreta a investigação linguística passada com o intento de provar a sua ideia
de que a linguística só se constituiu enquanto ciência em 1955 ou em 1957, e por
Chomsky, e que o trabalho anterior era totalmente inadequado, exceto algumas
abordagens menos importantes que anunciavam uma ‘revolução’ na área (para
uma avaliação crítica deste tipo de atividade, cf. Koerner 1983b e, mais
recentemente, 2002: capítulo 8).
Enquanto o primeiro tipo de escrita da história, isto é, o tipo que pretende
compilar, pode parecer mais benigno, uma vez que parece representar relatos
objetivos (embora não devêssemos estar muito seguros sobre isto), o segundo tipo
de História da linguística poderá ser mais bem descrito pela sua natureza
propagandística, sendo o melhor exemplo deste tipo a obra Cartesian linguistics
(1966) do próprio Chomsky.
Este livro apresenta o ponto de vista do autor relativamente às origens das
suas próprias teorias de forma tão brilhante que muitos jovens estudantes da
linguagem foram levados por esta nova visão da história. Hoje em dia, ainda
podemos descobrir uma considerável quantidade de informação útil nas histórias
escritas com a finalidade de resumir o trabalho anterior desenvolvido na área,
como por exemplo os trabalhos de Benfey, Raumer, Pedersen e outros – se bem
que tenhamos bastante consciência dos seus preconceitos e das suas imperfeições
(para uma avaliação destes trabalhos, cf. Hoenigswald 1986 e Koerner 1990a/b).
Por sua vez, as histórias da segunda categoria, embora escritas muito mais
recentemente, já estão ultrapassadas. Parece que, conseguido o propósito
propagandístico de alcançar seguidores para a nova ideologia, estes trabalhos
rapidamente perdem o seu impacto inicial e o valor informativo. Depois da
publicação da segunda edição de Language and mind (Chomsky 1972), raramente
vemos qualquer referência histórica no seu trabalho, exceto quando se refere às
ideias de Saussure e Jespersen (cf. Koerner 1994a). Os comentários mais recentes
sobre o assunto (Chomksy 1997a e 1997b) não podem ser levados a sério e foram
alvo de crítica em Joseph (1999a).

2.3 Histórias isoladas da Linguística (Problemgeschichte)
Há, possivelmente, um terceiro tipo de história da linguística que nem
pretende defender um quadro específico ou ‘paradigma’, nem tenta apresentar um
argumento a favor de uma revolução científica dentro da disciplina. Este tipo pode
ocorrer em qualquer momento do desenvolvimento de um campo específico de
investigação, uma vez que a sua intenção final é menos partidária do que nos
outros dois casos e tem frequentemente uma atitude mais holística, embora a
motivação para o trabalho possa ser bastante pessoal. Na minha opinião, o melhor
exemplo é a obra Sprachwissenschaft
(1955) de Arens (2
a
edição aumentada,
1969), na qual foi feita uma tentativa de delinear o desenvolvimento do
pensamento linguístico ocidental desde o início das discussões entre os gregos
acerca da natureza da linguagem, até ao trabalho linguístico contemporâneo,
certamente para demonstrar que a nossa disciplina não só percorreu um longo

22 E.F.K. Koerner
caminho para consolidar os conhecimentos agora apreciados e os métodos
desenvolvidos, mas também que todos nós nos baseamos, conscientemente ou
não, nos resultados das gerações anteriores de linguistas e que devemos muito
mais a estes estudiosos do que temos consciência.
Se esta terceira forma de apresentar a história da linguística poderia ter sido o
resultado de uma escolha individual, na verdade, parece expressar o esforço de
uma geração inteira de investigadores, particularmente na reconstrução de uma
disciplina depois da sua quase total destruição após uma guerra mundial. Deste
modo, o livro de Pedersen, de 1931, poder-se-á incluir na terceira categoria, na
medida em que procurou restabelecer uma tradição linguística que, na sua opinião,
deveria ter continuado a servir como uma base sólida para o trabalho subsequente
no campo da linguística histórico-comparativa depois da Primeira Guerra
Mundial. Mas a visão que Pedersen tem da linguística não pode ser comparada à
visão muito mais isolada de Arens relativamente à evolução da linguística durante
os séculos XIX e princípios do século XX.
Indubitavelmente, outros motivos, frequentemente não-linguísticos, de uma
maneira ou de outra, desempenharam um papel na apresentação da história da
disciplina. Assim, deveria ser recordado que determinadas condições
socioeconómicas, acontecimentos históricos ou situações políticas frequentemente
tiveram uma influência considerável na motivação de escrever a história de uma
disciplina específica ou na aceitação de um quadro teórico de investigação ou
modo de pensamento aparentemente novos – e, a este nível, as histórias da
linguística não conseguiram consciencializar-nos do impacto de assuntos ou
acontecimentos fora da área. As obras de Benfey e Raumer, por exemplo, foram
altamente motivadas pela ascensão do nacionalismo alemão (como sugerem os
respetivos prefácios) e pela aspiração a uma unidade nacional, se não
superioridade, da Alemanha entre os poderes europeus. O facto de estes
sentimentos poderem ter desempenhado um papel quando, depois da Primeira
Guerra Mundial, a ciência linguística alemã já não dominava em muitas partes do
mundo, foi salientado por Malkiel (1969b: 557), que observou que o sucesso do
Cours de Saussure

[...] cannot be properly measured without some allowance for the feelings of
that time: The acceptance of the leadership of a French-Swiss genius
connoted for many Westerners then opposed to Germany a strongly desired,
rationalized escape from the world of Brugmann, Leskien, Osthoff, and Paul.

2.4 Historiografia linguística
Apesar do respeito que os investigadores podem ter por obras do terceiro tipo,
como exemplificado pela Problemgeschichte de Arens, alguns sentiram a
necessidade de um quarto tipo de escrita da história (cf. Koerner 1972c, 1976 e
Simone 1975 para manifestações precoces desta perspetiva), que consistia na
apresentação do nosso passado linguístico como uma parte integrante da própria
disciplina e, ao mesmo tempo, como uma atividade fundada em princípios bem

Historiografia linguística 23
definidos, que pode competir, em termos de solidez do método e rigor de aplicação,
com os da própria linguística. Este quarto tipo, hoje normalmente designado de
‘historiografia linguística’, reivindica que a história da linguística não deveria ser
meramente subserviente à disciplina, mas deveria assumir uma função comparável
à da história da ciência para o cientista das ciências naturais. Em síntese, ao re-
conhecer a importante distinção entre crónica e história, os recentes investigadores
que contribuíram para a história da linguística deram um passo à frente ao
distinguir história e historiografia. Esta é, em parte, uma tentativa para deixar claro
o afastamento relativamente ao trabalho anterior desenvolvido na área, que muito
frequentemente tendiam a ser histórias partidárias ou aquilo que Herbert Butterfield
denominou de ‘Whig-histories’, e em parte porque as histórias anteriores não
proporcionavam um guia útil para o tratamento adequado de acontecimentos
passados na história das ciências da linguagem, não conseguindo, por isso, oferecer
uma melhor perceção do rumo para onde as teorias atuais nos podem levar.
Os anos 1980 viram surgir uma variedade de estudos que oferecem linhas
alternativas de conduta historiográfica, debatem sobre a abordagem adequada à
história da linguística e sugerem formas que poderiam levar a um tratamento mais
apropriado (por exemplo, Schmitter 1982, Grotsch 1982, Christmann 1987). No
entanto, ainda não se estabeleceu consenso relativamente à forma de proceder na
historiografia linguística e há indicações de que o debate irá continuar durante
algum tempo. Talvez seja bom sinal.

3 Esforços na história da linguística de meados do século XX
Surgiram, nos anos 1960, novas publicações e, por vezes, alguns estudos
esclarecedores na história da linguística, talvez a começar com o trabalho de 1960
de Paul Diderichsen (1905-1964), acerca do seu compatriota Rasmus Rask
(tradução alemã, Diderichsen 1976b). Seguiram-se obras como as de Ivić (1963;
tradução inglesa, 1965), Leroy (1963; tradução inglesa, 1967), Tagliavini (1963),
Malmberg (1964), Lepschy (1966; tradução inglesa, 1970), Mounin (1967), Robins
(1967), Coseriu (1969, 1972), Helbig (1970), Szemerényi (1971), Jankowsky
(1972) e outras (veja-se Koerner 1978d, para uma lista exaustiva até 1976).
No entanto, a maioria deles baseou-se, sem uma perspetiva crítica, em relatos
anteriores e raramente se aventurou em questões de método historiográfico ou
tocou em assuntos relacionados com a filosofia da ciência, excetuando-se talvez um
aceno popular à Structure of scientific revolutions (1962) de Kuhn. A maior parte
destes livros é hoje largamente esquecida, sendo, por vezes, citada para crítica.
Muitos deles foram produzidos a seguir ao ‘big splash’ de Chomsky com a sua
conferência plenária, em 1962, no Ninth International Congress of Linguists,
realizado em Cambridge, Massachusetts (Chomsky 1962a, 1964a), no qual ele se
referiu, pela primeira vez, aos seus antepassados recentemente descobertos. Estas
obras seguiam a tendência passageira da época. Entre os livros deste período, a
Short history (1967) de R. H. Robins mostrou um ‘staying power’ enorme. Penso
que parte da sua popularidade se deve ao facto de ter sido a única obra escrita por

24 E.F.K. Koerner
um falante nativo de inglês e, por isso, ficou à parte de qualquer crítica à obra de Chomsky, incluindo as suas últimas incursões pela história da linguística, sendo que era de uma dimensão que a pudesse tornar útil como um manual de ensino.
Como todas as outras obras do seu tempo, a sua narrativa elegante não pode
disfarçar as suas falhas científicas. Acredito que hoje já nos apercebemos do grau
de complexidade da disciplina de modo que nenhuma pessoa razoável se
aventurará a empreender uma tentativa semelhante a cobrir 2500 anos de história
ocidental da linguística em apenas 200 páginas. A tentativa do falecido Bertil
Malmberg de 1991 pode ser descrita de forma mais carinhosa como um Alterswerk,
a obra de alguém demasiadamente velho para ler os sinais dos tempos, para não
mencionar a investigação dos últimos vinte ou mais anos. Uma obra destas,
baseada em pouca investigação original, pertence justamente aos anos 1960 (a este
nível, considera-se mais bem sucedido o esforço levado a cabo por Swiggers, em
1997, realizado por um investigador que nasceu cerca de 40 anos mais tarde).
No que diz respeito à investigação individual, verificou-se que a concentração
num tema específico, em vez da tentativa de abordar muitos assuntos e muitos
séculos, foi mais bem conseguida, como por exemplo, a reabilitação dos
gramáticos bizantinos por Robins (1993); a monografia de Morpurgo Davies,
dedicada à linguística histórico-comparativa do século XIX (1999); a investigação
de Graffi (2000) relativamente ao trabalho desenvolvido na área da sintaxe nos
séculos XIX e XX; ou a primeira parte de uma história da linguística românica, de
Coseriu e Meisterfeld (2003).

4 Os estudos mais recentes da história da linguística
Durante os anos 1960, a seguir a várias reivindicações feitas por Chomsky de
que as suas teorias tiveram pouco a ver com as atividades dos seus antecessores
imediatos e dos seus contemporâneos, mas, em vez disso, seguiam tradições
bastante diferentes, tais como as da gramática de Port Royal
, e de Wilhelm von
Humboldt, a maior parte das teses de doutoramento desenvolvidas no âmbito da
história da linguística era dedicada somente a estas áreas de interesse, distorcendo,
por vezes, seriamente a verdadeira intenção e propósito destes autores anteriores.
Por exemplo, a Minerva de Sanctius era estudada por causa de uma recente recu-
peração do interesse por parte dos gerativistas pelo fenómeno da elipse, um assunto
para o qual Sanctius deu um importante contributo (cf. Breva-Claramonte 1983).

Só desde os anos 1970 – e, poderei dizer, de forma bastante independente da
obra Cartesian linguistics de Chomsky, – a seguir à criação da primeira revista
desta área, em 1973, intitulada Historiographia Linguistica, e na sequência de
várias séries de monografias compiladas sob a designação abrangente de
‘Amsterdam Studies in the Theory and History of Linguistic Science’, começaram
a surgir obras sérias que desafiavam este tipo pro-domo de escrita da história. Estas
e outras atividades organizadas (veja-se abaixo) conduziram ao muito mais recente
campo de estudos, agora geralmente chamado de ‘historiografia linguística’ (cf.
Koerner 1995a), uma abordagem da história da linguística que tem consciência das

Historiografia linguística 25
exigências metodológicas e epistemológicas que estão presentes numa escrita da história adequada em linguística, como acontece em qualquer outra disciplina (cf.
‘Desafios remanescentes em historiografia linguística’ para ver o resultado de
décadas mais recentes).

5 A consolidação da historiografia linguística
Outro sinal de que a história da linguística se tornou uma área de atividade
científica mais madura é a sua geral profissionalização. Em 1978, o primeiro
International Conference on the History of the Language Sciences (ICHoLS) teve
lugar em Ottawa, Canadá, no mesmo ano em que a Société d’Histoire et
d’Épistémologie des Sciences du Langage (S.H.E.S.L.) foi fundada em Paris. Em
1984, a Henry Sweet Society for the History of Linguistic Ideas (HSS) foi
estabelecida em Oxford e desde então surgiram várias sociedades semelhantes
internacionais e regionais, como por exemplo, a sociedade holandesa Geschiedenis
van de Taalwetenschap (Amsterdão) e a alemã Arbeitskreis Geschichte der
Sprachwissenschaft (Münster).
A North American Association for the History of the Language Sciences
(NAAHoLS) foi criada em 1987, seguida pelo estabelecimento, na Itália, da
sociedade de orientação histórica Società di Filosofia del Linguaggio (SFL), em
1994, e a Sociedad Española de Historiografía Lingüística (SEHL), fundada em
Espanha em 1995. Até mesmo fora da Europa, em finais da década de 1990, foram
criadas sociedades de história da linguística, fundadas, por exemplo em São Paulo
e na Cidade do México. Estas associações e muitas outras organizaram e
continuam com alguma regularidade a organizar encontros científicos, a nível
nacional e internacional. Vários deles realizam-se de uma forma regular, com
participantes vindos de muitos países.
Entretanto, outros encontros do ICHoLS decorreram com uma periodicidade
trienal: em 1981 (Lille, França), 1984 (Princeton, NJ), 1987 (Trier, Alemanha),
1990 (Galway, Irlanda), 1993 (Washington, DC), 1996 (Oxford), 1999 (Fontenay,
perto de Paris) e 2002 (São Paulo), 2004 (Urbana Champaign, E.U.A.), 2008
(Potsdam, Alemanha) e 2011 (St. Petersburg, Rússia), com a 13.ª edição
programada para 2014 (Vila Real, Portugal). Estes encontros do ICHoLS têm
normalmente atraído mais de 100 participantes de uns 20 países diferentes,
mostrando-se úteis ao facultar a ligação entre os vários membros das sociedades
nacionais ou regionais. Desde o seu início, as atas do ICHoLS têm sido publicadas
de uma forma regular, pelo que estas refletem o progresso que se fez sentir na área
(cf. p. ex. Koerner 1980a, Aarsleff / Kelly / Niederehe 1987, Niederehe / Koerner
1990, Ahlqvist 1992, Jankowsky 1995, Cram / Linn / Nowak 1999; Auroux /
Arpin / Lazcano / Léon 2002).
Para além de fornecer fóruns para intercâmbios viva voce numa escala mais
ampla, convém não nos esquecermos da importância de periódicos especializados
e séries de monografias, que facultam meios de divulgação à investigação na
disciplina. Além da Historiographia Linguistica, surge em Paris, em 1979, uma

26 E.F.K. Koerner
segunda revista com objetivos semelhantes, intitulada Histoire - Épistémologie -
Langage, sendo lançada, em 1991, em Münster, Alemanha, uma terceira revista
designada Beiträge zur Geschichte der Sprachwissenschaft. Em suma, se a
profissionalização desta área se constituir como indicador, a história da linguística
passou a tornar-se um campo de investigação científica amplamente reconhecido e
praticado. No que diz respeito às monografias em história da linguística, todos
concordarão que o seu número tem vindo a aumentar continuamente, como se
pode confirmar pela secção “Publications Received” da Historiographia
Linguistica, que ilustra claramente este desenvolvimento.
No seu prefácio, de 1978, à minha primeira coletânea de artigos, R. H. Robins
identificou três “types of writing required in the history of linguistics,” para além
de “most primary stage of research,” nomeadamente a edição e a publicação de
textos que ainda não tinham sido editados. Este tipo de trabalho já tinha sido feito
em vários lugares, por exemplo, na série ‘Grammatica Speculativa’, publicada
pela editora Frommann-Holzboog de Stuttgart (mais recentemente, Kelly 1996),
para além de muitos outros. De acordo com Robins (in Koerner 1978a: xii–xiii),
estes três ‘tipos’ são:

1 General theoretical and methodological essays on the historiography of
linguistics: what should the history of an academic discipline such as
linguistics set out to achieve and how should it be undertaken for this
purpose? Opinions, of course, differ on both these questions; a case in
point is the applicability or nonapplicability of the Kuhnian concept of a
scientific paradigm to the history of linguistic science.
2 Studies more restricted in their time and place, devoted to particular
trends and movements of thought on language and the development of
particular linguistic concepts.
3 Biographical accounts of the work of individual scholars who have been
influential in the course taken by linguistic science during some part of
its history.

Quem conhece os meus trabalhos dedicados à história da linguística nas
últimas quatro décadas ou mais pode concordar que tentei contribuir para todas as
três áreas. Se fui bem sucedido ao fazê-lo, compete aos outros julgar. No entanto,
penso que, em muitos lugares do mundo, incluindo vários países não mencionados
no presente trabalho, podemos seguramente referir que todos estes três tipos de
trabalho historiográfico – se não quatro, incluindo a edição de textos anteriormente
inéditos – foram amplamente desenvolvidos.
Esta pode ser uma rápida tour d’horizon pela nossa área, sempre a falar em
termos gerais e sem fazer reclamações em particular sobre a investigação nas
várias áreas específicas de investigadores individuais, quer seja o Siglo de Oro
espanhol, o século XVII na Grã-Bretanha, le siècle des Lumières, os princípios da
Idade Média, o período clássico ou qualquer outro, seja na tradição ocidental ou
não. Pela minha parte, só posso reivindicar conhecimento da linguística europeia e
norte-americana dos séculos XIX e XX (por exemplo, Koerner 2002) e
normalmente não me aventuro muito fora deste território. Acredito que todos os

Historiografia linguística 27
historiógrafos atuais concordam que uma investigação mais eficaz, mesmo em
áreas como os clássicos (por exemplo, Taylor 1987), os inícios ou finais do
período medieval (por exemplo, Law 1993 e Ebbesen 1995, respetivamente) ou
qualquer outro período na história do pensamento linguístico, seja mais bem
desenvolvida por uma equipa de especialistas do que por um investigador a
trabalhar individualmente.

6 Desafios remanescentes em historiografia linguística
Apesar de todos os resultados referidos até agora – e sei que apenas toquei a
superfície daquilo que, na verdade, tem sido feito em historiografia linguística,
especialmente durante os últimos 20 ou mais anos – penso que não há muitas
razões para estar satisfeito. Embora saiba que tenho de deixar à próxima geração o
papel de assegurar a continuidade e a qualidade de investigação na área, sinto que
temos de nos manter vigilantes, não nos acomodarmos e lembrarmo-nos de que a
história da linguística deve permanecer uma parte integrante das ciências da
linguagem e não uma secção em separado, quer organizacionalmente, quer
filosoficamente. Em geral, devemos atender à recente observação de Raffaele
Simone “Purus historicus est asinus” (Simone 1995, cf. também Koerner 2003a).
No lado prático, existem algumas obras de grande envergadura, tais como a
Geschichte der Sprachtheorie de Peter Schmitter (1987, vários volumes até 2007),
a Histoire des idées linguistiques de Auroux (1989, 1992, 2000), e a Storia della
linguistica de Lepschy (1994-1998). Neste contexto, estou inclinado a chamar um
Jahrhundertwerk na nossa área, o manual trilingue History of the language
sciences / Histoire des sciences du langage / Geschichte der sprachwissenschaften
editado por mim, em conjunto com Hans-Josef Niederehe, Kees Versteegh, e
Sylvain Auroux (Auroux / Koerner / Niederehe / Versteegh 2000-2006, 3
volumes). Os editores e cerca de 250 autores individuais trabalharam
aplicadamente para tornar realidade esta primeira ‘world history of the language
sciences’. Até à altura, a Concise history of the language sciences: From the
Sumerians to the cognitivists, editada por mim e por Ron Asher, terá servido para
satisfazer as necessidades de aqueles que estavam interessados na história mais
recente da linguística (Koerner / Asher 1995: 221-368).
Mas há também outras preocupações. Não penso que os receios expressos por
Frederick Newmeyer, em 1996, na sua coletânea de textos sobre a história do
gerativismo no Norte da América, se apliquem necessariamente a nós, mas é de
suspeitar que parte deles possa. Na sua introdução, referiu que muitos dos seus
colegas “[...] feared that I would become tarred with the brush of being an
‘historian of linguistics’, who, [...], occupy a status level even lower than that of a
‘semiotician’” (Newmeyer 1996a: 2). Pouco mais adiante, o autor explica
That this attitude results from the belief that most people who write on the
history of linguistics have only the most minimal training in modern linguistics
and devote their careers to attempting to demonstrate that their pet medieval

28 E.F.K. Koerner
grammarian or philosopher thought up some technical term before somebody
else’s pet medieval grammarian or philosopher (Newmeyer 1996a: 2).
Não acredito que devemos encarar esta aparente caricatura de uma forma
muito séria. Por um lado, estou de acordo com Newmeyer, nomeadamente no que
respeita ao facto de que um historiador da linguística também devia ser um
linguista. Isto pode não se aplicar, com o mesmo rigor, à linguística pré-oitocentista
(embora não só à linguística ‘moderna’, isto é, à linguística gerativa), mas não
posso imaginar ninguém a perceber a obra de Pāṇini, por exemplo, sem que tenha
trabalhado arduamente como gramático de Sânscrito. É também de referir que
outros autores, mais recentemente, expressaram a sua preocupação relativamente ao
estatuto da historiografia linguística e ao seu impacto na linguística propriamente
dita (Schreyer 2000, Schmitter 2003a), preocupações estas que merecem a nossa
atenção (Koerner 2005g).
Há outros assuntos de historiografia linguística – para além da batalha contínua
para a legitimação e o apoio institucional – com os quais continuo preocupado.
Estes dizem respeito a questões de metodologia e epistemologia, mas também ao
que pode ser chamado de ‘quality control’ (cf. Koerner 2005g). Já abordei algumas
destas questões metodológicas em artigos dedicados ao conceito de ‘metalanguage’
(cf. capítulos em Koerner 1989a e 1995a), ao argumento frequentemente
descuidado de ‘influence’ (por exemplo, Koerner 1987b) e a outros assuntos,
tentando apresentar uma síntese dos potenciais problemas de discordância em
questões de método no âmbito de ICHoLS VI, em 1993 (Koerner 1995b).
Parece-me que um consenso mais alargado sobre estas questões seria desejável
para um desenvolvimento complementar da disciplina e não só relativamente à
linguística no Terceiro Reich (veja-se, por exemplo, Hutton 1999, Hausmann 2000,
Knobloch 2004). Mas isto implica a vontade da comunidade científica, de modo a
fazer face a estes desafios (cf. Koerner 2005h, para um estudo mais detalhado). Um
assunto importante na historiografia linguística que requer mais atenção do que tem
recebido é o assunto da ideologia na argumentação linguística (por exemplo,
Koerner 2000, 2001a, 2004b).

Ainda sobre a importância da historiografia linguística
*




Como pode ser mostrado na história, aqueles
que não têm nenhum passado, normalmente também
não têm qualquer futuro.
Manfred Fuhrmann
1


1 Observações introdutórias
Já lá vão uns quarenta anos que tenho estado a argumentar sobre a
importância da história da linguística, e mesmo que nem toda a gente tenha ficado
convencida pelos argumentos, o clima de opinião realmente chegou a mudar.
Durante os inícios dos anos 1970, nas fases iniciais do esforço de institucionali-
zação da história da linguística como uma disciplina bona fide da instrução dentro
da própria linguística, parecia natural fazer-se um apelo forte à exatidão
metodológica da historiografia linguística para tornar a disciplina respeitável aos
olhos de 'verdadeiros' linguistas para quem linguística significava 'teoria' (veja-se
Koerner 1972c, 1976 como exemplos desta abordagem). Esta atitude original em
relação aos assuntos históricos pode, pelo menos inicialmente, ter estado
relacionada com o êxito de Cartesian Linguistics (1966) de Chomsky, uma vez
que Chomsky estava de certo modo a combinar a teoria com um interesse de
encontrar antecedentes para o que estava a fazer. Mesmo que este tipo de persegui-
ção ao antepassado, uma abordagem essencialmente presentista e anti-histórica,
foi desacreditado de imediato, as incursões de Chomsky no passado linguístico
permitiram que uma ocupação com este tipo de atividade parecesse legítima para
vários norte-americanos durante finais dos anos 1960 e inícios dos anos 1970.
2

Na Europa, como também entre os linguistas nascidos na Europa a viver na
América, uma aproximação histórica a muitos assuntos teve uma longa tradição e
isto pode explicar o facto de as reações dos estudiosos às Cartesian Linguistics de
Chomsky serem quase universalmente críticas, às vezes bastante asperamente
assim (cf. Koerner / Tajima 1986: 24-26 que lista umas 30 resenhas só do original
inglês). Este interesse europeu de longa data pela história da linguística também
explicaria o grande número de manuais nesta área que tinham sido escritos antes
de 1966, desde Delbrück em 1880 até Leroy (1963), Malmberg (1964), ou Ivić


*
[Observação sobre a tradução: a presente tradução foi elaborada por Rolf Kemmler e Susana Fontes
com base no artigo “In Lieu of a Conclusion: On the importance of the history of linguistics”
(Koerner 2005e) que constitui o último texto da coletânea Toward a History of American Linguistics
(Koerner
1
2002,
2
2005a).]
1
“Wie sich durch Beispiele aus der Geschichte belegen läßt, pflegt derjenige, der keine
Vergangenheit hat, auch keine Zukunft zu haben” (Fuhrmann 2001: 111).
2
Para uma crítica desta abordagem ingénua ao assunto, vejam-se as minhas resenhas de Peter H.
Salus sobre On Language: Plato to von Humboldt (1969; cf. Koerner 1970b) e do mesmo autor
Pāṇini to Postal: A Bibliography in the History of Linguistics (1971; cf. Koerner 1973d).

30 E.F.K. Koerner

(1965). Estes dois últimos já tinham sido escritos antes de 1959 em sueco e servo-
croata, respetivamente, isto é, vários anos antes do Ninth International Congress
of Linguists, realizado em Cambridge (Massachusetts), em agosto de 1962, onde
Noam Chomsky se aventurou pela primeira vez na linguística anterior ao século
XX (Chomsky 1962a, 1964a, 1964b).
No entanto, desde finais dos anos 1970, a história da linguística passou a ser
uma disciplina reconhecida como atividade científica séria, sobretudo na Europa,
mas também noutras partes, e parece a muitos no campo que uma discussão da
raison d’être da disciplina não é requerida (dada a minha experiência norte-
americana de longa data no que respeita a assuntos históricos, talvez me seja
permitido manifestar uma opinião divergente, já que a minha intenção nunca foi a
de convencer as pessoas, por exemplo, na Alemanha, Itália ou Espanha, de que
uma perspetiva histórica seria desejável para o nosso trabalho em linguística ou
filosofia da língua. Isto teria significado levar carvão a Newcastle, já que nestes e
em muitos outros países tem havido uma tradição de longa data de ver os assuntos
de um modo histórico).
Na América do Norte, a situação não é toda cor-de-rosa. Com o advento do
estruturalismo nas suas várias articulações (descritivismo bloomfieldiano,
gerativismo chomskyano, etc.), os aspetos históricos geralmente tinham ficado pelo
caminho.
3
As Cartesian Linguistics de Chomsky deram um aumento inicial à
história da linguística e provavelmente motivaram o editor de Current Trends in
Linguistics para ter, como a pedra final do seu edifício multi-volume começado em
inícios dos anos 1960, uma Historiography of Linguistics em dois volumes (Sebeok
1975). Mas não pode ser dito que qualquer destes empreendimentos produziu muita
atividade científica útil no campo, e provavelmente nenhum deles realmente podia
fazê-lo: a obra de Chomsky na realidade não era nenhuma história, mas como ele
lhe chamaria hoje, uma narração do modo como ele pensa que as coisas deveriam
ter acontecido, mas não o fizeram,
4
e os volumes de Sebeok contêm contribuições
que se debruçam sobre registos passados da história da linguística, mas pouca
investigação original – certamente não uma demonstração de como o trabalho nesta
área deveria ser levado a cabo.
5
Poderia ainda acrescentar que ainda hoje, a North
American Association for the History of the Language Sciences (NAAHoLS),
fundada em finais de 1987, tem menos de cem sócios, e que não costuma haver
mais do que uma dúzia de comunicações a serem apresentadas nas reuniões anuais


3
Isto também afetou grandemente a linguística histórica, notavelmente entre 1933 (o ano de
publicação de Language de Bloomfield) e os anos oitenta (gostaria de acreditar que o lançamento de
Diachronica em 1984 ajudou no regresso da disciplina, especialmente durante os anos 1990).
4
Veja-se as suas opiniões mais recentemente publicadas sobre a história da linguística (Chomsky 1997).
5
Na realidade, grande parte da discussão metodológica na minha própria contribuição para o projeto
(Koerner 1975b) foi apagada do manuscrito pelos editores.

Ainda sobre a importância da historiografia linguística 31
que regularmente têm lugar junto com aqueles da Linguistic Society of America
(que conta “about 4,000 personal members”).
6

2 A utilidade da história de uma disciplina para a área em geral
Dada a tradição utilitária nos países anglo-saxões, sempre senti, depois de ter
vivido, ao todo, durante mais de trinta anos na América do Norte, que seria bom,
senão necessário, demonstrar a utilidade de uma disciplina como a da história da
linguística para as ciências que lidam com a linguagem. Hoje em dia, com a
redução mundial de instituições académicas, particularmente nas áreas das artes
liberais e das ciências sociais, esta tarefa pode ser até mesmo mais difícil de ser
levada a cabo, se bem que pareça que aquilo que Richards (1999: 44) identificou
como “[...] a probably transient culturally reflective mood obsessed by fin de siècle
and a sense of heritage”, pode ter criado a impressão de que existe um
entendimento forte de história no ar que poderá beneficiar uma disciplina
'esotérica' como a história da linguística. Se esta avaliação for adequada, parece
que podem ser necessários, pelo menos na América do Norte, os esforços
continuados para explicar a utilidade da disciplina. Sei que os meus colegas
europeus sentem, perante a existência de quatro revistas dedicadas à disciplina e
de alguns periódicos secundários adicionais (boletins informativos, blogues, etc.),
séries de monografias, muitos congressos especializados de cariz regional e
internacional, bem como de sociedades científicas em muitos países, que já não há
nenhuma necessidade de fazer lobby para um lugar da história da linguística
dentro da linguística tout court. Gostaria de pensar que eles têm razão.
Permanece interessante observar que disciplinas como a história da medicina
e a história da ciência, por exemplo, geralmente são disciplinas florescentes na
América do Norte; até mesmo a história da psicologia e a história de filosofia são
disciplinas bem estabelecidas na investigação e instrução universitária. Assim
poder-se-ia perguntar pertinentemente porque a história da linguística tem sido
menos bem sucedida. Até mesmo se datarmos o início da linguística como ciência
como tendo ocorrido há 200 anos, o estudo da linguagem pode ostentar uma
tradição que é tão longa como a da química ou da biologia. É, por isso, curioso
observar-se que, ao passo que estas ciências naturais (e algumas ciências sociais)
desfrutaram do estabelecimento de cursos dedicados à história da sua própria
disciplina, nenhum arranjo comparável existe em relação à linguística. A ciência
da linguagem, uma área na qual a coexistência de visões teóricas divergentes e de
procedimentos metodológicos possivelmente contrastantes, precisaria, a meu ver,
de uma perspetiva mais histórica, não menos do que, digamos, a medicina
moderna estaria a precisar da história para guiar a sua compreensão das ciências
da saúde na atualidade.


6
Informação fornecida por Margaret W. Reynolds, então Diretora Executiva da LSA (e-mail para o
autor de 8 de abril de 1999).

32 E.F.K. Koerner

Devido a este estado das coisas em relação à história da linguística, podemos
ter que perguntar-nos se o trabalho dos historiadores de outras disciplinas tem uma
base científica mais sã, ou como a prosperidade aparente da história da ciência
pode ser explicada de outra maneira. O facto de as ciências naturais (e a medicina)
receberem em geral mais apoio governamental e outros apoios públicos pode ser
considerado como um dos fatores envolvidos, mas não necessariamente o único ou
o mais importante.

2.1 A introdução à área da linguística através da sua história
O uso mais óbvio da história da linguística é o de apresentar ao neófito a
disciplina da linguística propriamente dita, até aos vários modos de pensar sobre o
que a área considera como o seu objeto de investigação e os métodos e conceitos
que compõem o seu jogo de ferramentas essencial. Quando um estudante acaba de
compreender os fundamentos, porém, existe a probabilidade de que a história da
disciplina, a génese da sua formação de conceitos, a consciência das metas
variáveis da linguística durante o longo desenvolvimento de preocupação humana
com a língua tende ser abandonada, se alguma vez chegou a ser discutida. Agora,
o estudante será treinado nas ciências da linguagem e nas suas partes componentes
como a sintaxe, fonologia, morfologia e várias áreas de especialidade hifenizadas;
ser-lhe-ão facultados o pensamento atual naquelas áreas de interesse e as
ferramentas para participar no trabalho das subdisciplinas particulares. Talvez o
estudante possa nunca vir a ser educado para desenvolver uma consciência da
relatividade da sua prática linguística – a não ser, claro, que o instrutor tenha a
visão de que um estudante deve ter um fundamento sólido da herança que informa
sobre a atividade da atual de investigação.
7

Duvido que a questão é se a história da linguística aborrece o linguista comum,
como bem pode ser o caso de vários investigadores ocupados com o que o falecido
Thomas S. Kuhn (1970: 35) chamara operações ‘puzzle-solving’ de ‘normal
science’. Para colocar a questão em termos negativos e de uma forma algo mais
franca: será que – como os historiadores das ciências se têm vindo a perguntar em
várias ocasiões – o estudo da sua história chega a travar o progresso da própria
ciência (cf. Synge 1958), na medida em que, como sugeriu o físico S. G. Brush em
1974, deveria ser atribuído um certificado ‘X’ à história da ciência, devendo ser
disponibilizada exclusivamente a estudantes maduros e investigadores experientes?
Admito que pelo que me toca, me desagrada ouvir e ler que Noam Chomsky
costuma ser reconhecido por aquilo que Catherine Chvany (1996: 234) chamou a
‘by now swollen notion’ de ‘mark’ e ‘markedness’, pois sinto que seria de esperar
que todos os linguistas corretamente educados soubessem que este conceito teve a


7
Com a finalidade de apresentar aos estudantes um leque amplo dos quadros em linguística geral no
século XX, como também as teorias de sintaxe, morfologia e outros assuntos, os vários artigos
individuais em Koerner / Asher (1995: 221-419) podem revelar-se especialmente úteis. Até ao
aparecimento do terceiro tomo de History of the Language Sciences (Koerner / Auroux / Niederehe /
Versteegh 2000-2006, 3 vols.), este volume de 1995 serviu como a melhor obra de referência.

Ainda sobre a importância da historiografia linguística 33
sua origem em Trubetzkoy, nas suas trocas com Roman Jakobson, e que
provavelmente foi transmitida à América do Norte por este último.
Se Chomsky não o apanhou diretamente de Jakobson durante os seus quatro
anos como investigador de pós-graduação em Harvard (1951-1955), pode deduzir-
se que recebeu o conceito através dos seus contactos e da colaboração subsequente
com o estudante de doutoramento de Jakobson, Morris Halle, a partir de 1950.
Semelhantemente, fiquei perplexo ao ouvir estudantes afirmarem que os conceitos
de ‘drag chain’ e ‘push chain’ derivam de William Labov, em vez de recuar pelo
menos para o artigo bem conhecido de André Martinet (1908-1999) sobre
“Function, Structure, and Sound Change” (Martinet 1952a: 11). Está claro que
Labov adquiriu a ideia, se não na leitura direta do artigo de Martinet, então por
intermédio de Uriel Weinreich (1926-1967),
8
que foi estudante de Martinet
durante finais dos anos 1940 e inícios dos anos 1950, assim como professor de
Labov durante os inícios dos anos 1960.
Mas não é tanto a ignorância dos estudantes da linguística de tudo que
precede o passado mais recente que é assim tão preocupante – se bem que possa
ser suficientemente lamentável por si só. O que é preocupante é que as atribuições
parecem sugerir que Chomsky, Labov, ou qualquer outro 'grande' na área precisam
de ser percebidos como tendo originado quase qualquer ideia que se considera
como tendo relevância atual. A sua importância, porém, não reside em terem sido
tão inventivos e tão totalmente originais, mas em terem produzido uma síntese do
conhecimento linguístico e, às vezes, extralinguístico acumulado, tendo assim
estabelecido um quadro próprio, independentemente da proveniência das ideias
particulares nelas contida.

2.2 Conhecimento histórico da disciplina como parte da educação de
um cientista
Durante muitos anos, o meu argumento foi que a história da linguística
deveria fazer muito mais do que servir para fins de inicialização como ficou
esboçado anteriormente (cf. Koerner 1972c, 1973b). A meu ver, o que prefiro
chamar (ao estender o significado tradicional do termo) a historiografia da
linguística, ou brevemente historiografia linguística, termo pelo qual me refiro a
uma maneira escrupulosa de lidar com o nosso passado linguístico, fornece aos
linguistas praticantes o material para adquirir conhecimento do desenvolvimento
do seu próprio campo. Argumentaria que é este conhecimento ou esta conscien-
tização informada o que constitui a diferença essencial entre o cientista e o
assistente de laboratório: o cientista sabe de onde vieram as técnicas e quais são as
suas limitações; o assistente de laboratório, que controla somente a arte mecânica
do ofício, não o sabe, e facilmente pode ficar bloqueado, quando um procedimento


8
O artigo de Martinet de 1952 não só é mencionado na bibliografia do livro Languages in Contact
(1953) de Weinreich, mas também se encontra referido frequentemente no texto (Weinreich 1953:
16, nota 6; 21, nota 18; 22, nota 20; 24 e nota 24).

34 E.F.K. Koerner

que esperava estar correto para emulá-lo a toda hora não produz o resultado
desejado.
Talvez um exemplo da vida real possa explicar o que quero dizer quando
estou a argumentar em favor do conhecimento histórico do campo do qual um
linguista se ocupa. Há anos, tive um colega no meu Departamento na
Universidade de Ottawa que tinha um doutoramento em fonologia pelo MIT;
Morris Halle tinha sido o seu orientador. Todos concordavam que era um bom
fonólogo. O que me parecia bizarro era que estava constantemente preocupado
com o facto de alguém poder ter uma ideia ou encontrar um novo preceito teórico
na área da fonologia, sem que ele tivesse recebido a informação dentro do espaço
de algumas semanas, pelo que, como resultado, gastou boa parte do seu tempo a
vigiar a internet para garantir que não perdia nada. No meu ponto de vista, uma
preocupação destas realmente era descabida, se alguém tinha um conhecimento
são da evolução do campo desde o tempo de Trubetzkoy, um fundamento nos
vários procedimentos de análise de investigadores diferentes, como ainda um
conhecimento do que frequentemente aconteceu na linguística americana, pelo
menos desde The Sound Pattern of English, quando propostas teóricas na área da
fonologia (ou mesmo na área da sintaxe) quase foram abandonadas tão depressa
como tinham sido lançadas. Em resumo, pode economizar-se tempo e esforço ao
esperar um pouco até as coisas acalmarem.
9
Tanto quanto sei, não existe nenhum
Prémio de Nobel para Linguística que possa motivar as pessoas para uma
preocupação constantemente que alguém algures primeiro possa fazer uma
descoberta importante.
Deveríamos lembrar – como Benware (1974) demonstrou com respeito à
insistência de Jacob Grimm na tríade vocálica elementar no germânico e no seu
impacto na investigação subsequente – o linguista praticante fará bem ao estar
atento ao perigo de uma adesão rígida a um determinado sistema de pensamento
poder conduzir ao erro e de a aceitação das teorias com base na autoridade poder,
de facto, colocar um travão ao desenvolvimento da disciplina (como aconteceu no
caso citado na linguística histórica do século XIX).
10


2.3 Conhecimento histórico como um meio de avaliar novas hipóteses
Já nos anos 1970, tinha discutido que a historiografia linguística, uma vez que
já é orientada para a teoria,
11
faculta ao cientista a perspetiva e a distância que lhe
permitirá diferenciar ganhos significativos dentro da disciplina de ‘teorias’ e


9
Pelo que saiba, o fonólogo em questão está agora felizmente arraigado na Teoria da Otimalidade
(Optimality Theory, OT), um quadro em cujo desenvolvimento lhe coube um papel.
10
Como é bem conhecido, a linguística indo-europeia histórico-comparativa levou até
aproximadamente 1875 para derrubar a ideia errónea de que o Sânscrito, e não o grego, latim ou o
lituano, representava o sistema vocálico básico mais próximo da Ursprache indo-europeia, e que esta
posição tinha sido mantida largamente por causa da autoridade de Bopp, Schleicher, e outros.
11
Admito que passei a ficar menos convencido da importância de debates (meta)metahistóricas do
que Peter Schmitter (1943-2006) parecia ser (cf., p. ex., Schmitter 1998).

Ainda sobre a importância da historiografia linguística 35
reivindicações sem fundamento. Por outras palavras – ao lado dos dois
argumentos atrás mencionados em favor do ensino da história das ideias
linguísticas como parte da formação geral de um linguista –, ao facultar a
experiência do desenvolvimento da própria disciplina, a historiografia linguística
promove a habilidade na avaliação de teorias novas ou adversárias e assim, ao
mesmo tempo, salvaguarda-nos de aceitar acriticamente quaisquer reivindicações
excessivas em defesa de uma teoria linguística particular.
Que este conhecimento histórico pode prevenir o linguista praticante de
dogmatismo em termos de teoria linguística, conduzindo-o à circunspeção em
relação às ideias aparentemente novas que se oferecem no mercado de ideias e,
possivelmente, à aceitação de uma diversidade de visões que dificilmente pode ser
sobrestimada no atual debate linguístico. Ou, como sugeriu Klaas Willems (1997),
podemos reconhecer que a historiografia linguística realmente é uma ‘therapeutic
discipline’ porque apresenta o estudo científico da língua como “[...] an unstable
equilibrium between changing argumentation and undeniable historical roots”.

2.4 Conhecimento histórico para conduzir à moderação na teoria linguística
Se houve mesmo uma revivificação do interesse pelo nosso passado
linguístico – e há sinais nalguns lugares que este é o caso – isto pode ser tomado
como uma indicação de que a própria linguística atingiu a maioridade. Uma
disciplina adolescente com certeza não precisa de nenhuma história; uma atividade
destas seriamente prejudicaria o seu vigor inicial e refrearia indevidamente a
curiosidade. A linguística – e a história da linguística bem pode apoiar a sua
verdade essencial – poderá ter que aceitar a validade geral do ditado
frequentemente citado de Goethe: “Alles Gescheite ist schon einmal gedacht
worden; man muss nur versuchen, es noch einmal zu denken [qualquer coisa
inteligente já foi pensada antes; apenas é preciso tentar pensá-la mais uma vez]”;
por outras palavras, os principais factos sobre a natureza da língua (a menos que
incluamos nas nossas ponderações da linguagem que na realidade são meramente
geradas pela teoria, e não factos empíricos) foram há muito tempo percebidos por
muitos dos nossos antecessores. A grande tarefa restante (para a linguística
propriamente dita) é de os redescobrir, à luz da nossa própria compreensão das
coisas e dos desafios e compromissos atuais. Deste modo, a história da linguística
bem pode servir como abrigo contra reivindicações exageradas de novidade,
originalidade, avanço e revolução nas nossas (re)descobertas e, assim, conduzir a
um tipo mais equilibrado do discurso científico, ou, como sugeriu há muitos anos
o falecido Paul Garvin (1970), uma ‘moderation in linguistic theory’.

2.5 Conhecimento histórico para avançar a unidade dentro de uma
disciplina complexa
Podemos acrescentar dois pontos adicionais em favor de estudar a história da
linguística. Ambos podem parecer efémeros a alguns, mas sinto que não deveriam
ser simplesmente rejeitados. Um está relacionado com a minha convicção de que

36 E.F.K. Koerner

em certas ocasiões a historiografia linguística pode permitir ao estudioso participar
em esforços científicos que se encontram fora da sua própria vida, pois passam
desta forma a ampliar a sua experiência pessoal: se lermos a Mémoire de 1878
(Saussure 1879) com o espírito apropriado, ficamos realmente a experienciar a luta
de Saussure com as perplexidades da inflexão vocálica indo-europeia.
O outro ponto talvez possa ser mais fácil de aceitar. Numa época em que a
especialização é cada vez mais crescente na investigação linguística em diversas
subáreas – parece que a linguística chegou mesmo a abandonar a autonomia da
disciplina, cujo estabelecimento Saussure estava tão preocupado em inícios do
século XX – a história da linguística bem pode servir como um agente abrangente
e unificador.

3 Que tipo de história da linguística?
Pode perguntar-se de que tipo de história da linguística estamos a falar, o tipo
que vemos nos manuais de ensino regulares que parecem narrar batalhas passadas
a partir de uma perspetiva atual, ou será que existem outras aproximações que
podem ser de interesse mais genuíno para o linguista praticante?
Há quatro décadas, falei de quatro formas de lidar com a história da linguística
(Koerner 1974b). Distingui entre histórias 'summing-up', ou 'de compilação', relatos
propagandísticos, padrões possivelmente bastante desprendidos de histórias, e um
tipo mais crítico e metodológico que ainda precisava de ser estabelecido. Estes
padrões separados foram referenciados mais recentemente por Simone (1995), que
concorda com a minha opinião de que os historiadores da linguística também
devem ser linguistas se estão dispostos a fazer um trabalho razoavelmente
adequado – mesmo que não devam ficar apegados a uma teoria específica.

3.1 Histórias de compilação
Primeiro, existe o tipo de história, escrito numa altura quando uma geração
particular ou um indivíduo, que de forma significativa representa as ideias,
convicções e compromissos da sua geração, está convencido que uma meta
desejada foi alcançada e que o trabalho subsequente na área será dedicado
principalmente àquilo que Thomas S. Kuhn (1970: 24) chamou ‘mopping-up
operations’. Estes autores acreditam que o quadro para realizar investigação já foi
traçado suficientemente para que um membro ordinário da comunidade científica
possa levar a cabo as suas investigações, e que já não há qualquer necessidade de
uma revisão essencial da metodologia. Este ponto de vista parece ter a sua melhor
expressão na volumosa Geschichte der Sprachwissenschaft und orientalischen
Philologie (1869) de Benfey, que apareceu um ano depois da morte prematura de
Schleicher, mas também é exemplificado pela Geschichte der germanischen
Philologie (1870) de Raumer. Sabemos agora que era na realidade um período de
estagnação relativa na linguística indo-europeia, e que os meados dos anos 1870
viriam a testemunhar uma reformulação considerável da maneira como a

Ainda sobre a importância da historiografia linguística 37
investigação histórico-comparativa era feita: refiro-me, evidentemente, ao advento
dos Junggrammatiker.
Uma observação semelhante, assim parece, poderia ser feita sobre a história de
Pedersen, de 1924, sobre os sucessos dos indo-europeístas do século XIX,
precedido por um relato semelhante e um pouco mais breve de 1916 (cf. Pedersen
1931 e 1983, para as respetivas traduções inglesas), o ano da conclusão da segunda
edição do Grundriss de Brugmann e Delbrück, como também o aparecimento do
Cours póstumo de Saussure. Em finais da Primeira Guerra Mundial, o trabalho dos
neogramáticos tinha ficado bastante insípido. Era, por isso, normal que Streitberg
produzisse desde 1916 a sua investigação de vários volumes sobre a história da
linguística indo-europeia. Estas atividades – convém compará-las com os Current
Trends de Sebeok, produzidos em grande parte durante os anos sessenta quando o
estruturalismo nas suas várias articulações parece ter perdido força – ocorrem
geralmente no final de uma certa fase de desenvolvimento.
Realmente, parece-me que as histórias de Ivić (1965), Leroy (1963),
Malmberg (1964), e outros cumpriram uma função semelhante de compilar os
resultados prévios na ciência linguística, como também de apresentar-nos as várias
escolas estruturalistas.
12
Justamente por isso, as histórias de Malmberg, Ivić, Leroy,
e outros estudos de inclinação semelhante, apresentaram certas tendências pós-
saussureanas como os resultados mais significativos da disciplina até à data, quer
tenham emanado de Bloomfield ou Hjelmslev ou do Círculo de Praga. Como o que
Benfey, Raumer, Pedersen, Streitberg e outros tinham feito para uma fase anterior
no desenvolvimento da linguística, o seu empenho era em larga medida a
apresentação de um quadro de investigação no qual eles próprios tinham sido
criados, sendo ainda, possivelmente, uma tentativa de reter a força e o impacto da
forma de pensamento estruturalista. Por outras palavras, até mesmo essas histórias
de compilação não estão de forma alguma inocentes, no sentido de não seguir
nenhuma ‘agenda’ específica, tal como de celebrar e manter uma visão particular
da disciplina, mesmo que isto não seja imediatamente óbvio ao leitor.
13


3.2 Histórias propagandísticas da linguística
Sem dúvida, o padrão tradicional e conservador de escrever história (que até
hoje tem sido o tipo predominante) tem os seus inconvenientes, talvez porque os
seus autores compartilhem o otimismo subconsciente de que a delimitação do
desenvolvimento de uma dada disciplina envolve a ilustração de um crescimento
constante de conhecimento, um aumento de sofisticação, etc., naquela área de


12
Selecionei somente algumas histórias para ilustrar os meus argumentos; para uma lista bastante
muito mais completa de estudos desta natureza que apareceram entre o século XIX e o século XX até
meados dos anos 1970, veja-se Koerner (1978d).
13
Dificilmente menos derivativo do que os outros manuais da época, o de Robins (1967) talvez fosse
a obra ideologicamente mais neutra de todos eles (isto é, os manuais escritos por Ivić, Leroy,
Malmberg, e outros). Como foi escrita em inglês elegante, provou ser a obra mais próspera.

38 E.F.K. Koerner

estudos, muitas vezes juntamente com a tendência de manter o que até ao momento foi alcançado, em vez de tentar abrir-se para uma possível rutura com a tradição.
A este respeito, a abordagem da história da linguística que chamei
‘propagandística’ pode ter os seus benefícios, desde que a sua natureza liberal
(‘whiggish’) seja reconhecida. Um tal estudo do passado com referência ao
presente foi há muito adequadamente caraterizado por Sir Herbert Butterfield
(1900-1979), nos seguintes termos:
Through this system of immediate reference to the present-day, historical
personages can easily be classed into the men who furthered progress and the
men who tried to hinder it; so that a handy rule of thumb exists by which the
historian can select and reject, and can make his points of emphasis
(Butterfield 1931: 11).
Não são necessários mais comentários a esta ‘interpretação Whig da
história’,
14
a referência às atividades contemporâneas na história da linguística
parece bastante clara.
Este segundo tipo de atividade da escrita da história pode ser caraterizado pela
intenção por parte de um autor individual, com os seus trinta anos de idade (não
com finais dos quarenta anos ou mais velho como é geralmente verdade no caso
dos autores tipo ‘summing-up’ de compilação), representando, mais uma vez, um
grupo particular, com a intenção de lançar uma campanha que se opõe a visões
previamente apreciadas que ainda predominam. Assim, em contraste com Benfey
(1869), por exemplo, a Einleitung (1880) de Delbrück (1842 -1922) serviu como
porta-voz para uma geração nova de estudiosos, ansiosos por demonstrar que os
seus resultados superaram significativamente os êxitos anteriores no campo e que
as suas teorias legitimamente substituíram aquelas que eram ensinadas pela
geração precedente de linguistas.
A história parece ter estado a repetir-se quando exatamente cem anos depois,
em 1980, Frederick J Newmeyer (nascido em 1944) publicou a sua obra Linguistics
in America.
15
Esta tentativa de provar visões linguísticas anteriores – especialmente
as imediatamente anteriores – como totalmente insuficientes e inadequadas para
embarcar no que Voegelin / Voegelin (1963) uma vez chamaram o ‘eclipsing
stance’, era evidente na apresentação de Chomsky ao Ninth International Congress
of Linguists de 1962 (Chomsky 1962a, 1964a, 1964b). Logo a seguir, vários dos
seus seguidores dedicaram-se ardentemente a escrever a sua visão particular da
história (por exemplo, Dingwall 1963, Bach 1965, Bierwisch 1971 [original alemão
1966a]). Claro que as Cartesian Linguistics (1966) de Chomsky forneceram o
melhor modelo para o tipo da escrita pro domo de escrever – ou reescrever – a
história da linguística. Hoje, enquanto ainda pudermos descobrir uma quantia


14
Veja-se o título Whig interpretation of history da obra de Butterfield (
1
1931).
15
Uma segunda edição do livro de Newmeyer (1980) apareceu em 1986. A esta obra deveríamos
acrescentar a sua coleção de documentos de 1996 (Newmeyer 1996a), na qual defendeu a sua visão
das coisas contra a crítica de outros (p. ex., Koerner 1983b, 1984a; Huck / Goldsmith 1995).

Ainda sobre a importância da historiografia linguística 39
considerável de informações úteis nas histórias escritas com a finalidade de
compilar o trabalho prévio no campo, tais como os relatos de Benfey, Raumer,
Pedersen e outros – se bem que tenhamos bastante consciência dos seus
preconceitos e das suas imperfeições – as histórias da categoria propagandística
rapidamente passam a ser ultrapassadas quando a sua 'missão' particular é
cumprida.
16


3.3 ‘Problemgeschichte’
Existe, talvez, um terceiro tipo de história que se costuma escrever e com o
qual não se prevê defender nenhum quadro ou 'paradigma' específico, nem tentar
fornecer um argumento a favor dos vários tipos de ‘revolução científica’ dentro da
disciplina. Este tipo de história é menos partidário do que os outros dois exemplos
atrás apresentados, uma vez que visa uma aproximação ao assunto sine ira et
studio. Para mim, o melhor exemplo deste tipo é o livro Sprachwissenschaft
(1969) de Hans Arens, no qual foi feita a tentativa de delinear o desenvolvimento
do pensamento linguístico ocidental, desde o início das discussões entre os gregos
sobre a natureza da língua, até ao trabalho linguístico contemporâneo, certamente
com uma visão de não indicar apenas que a nossa disciplina percorreu um longo
caminho para ganhar os ensinamentos que apreciamos agora e os métodos que
desenvolvemos, mas também que tudo o que construímos, conscientemente ou
não, se baseia nos resultados de gerações prévias de linguistas, e que devemos
muito mais aos nossos antecessores do que ao todo talvez nos possamos aperceber.
Enquanto este modo de apresentar a história da linguística possa bem ter sido
o resultado de uma escolha muito pessoal, parece que o livro de Arens exprimiu o
empenho de toda uma geração de estudiosos para reconstruir uma disciplina que
tinha sido desacreditada em grande parte pela infusão da ideologia Nazi. O livro
de Pedersen de 1924, que apareceu a seguir à perda de prestígio de grande parte do
quadro dos Junggrammatiker, bem pode ser incluído na terceira categoria, uma
vez que procurou reafirmar uma tradição linguística que na sua convicção poderia
continuar a servir como uma base sã para o trabalho subsequente no campo.
Indubitavelmente, outros fatores, frequentemente não-linguísticos, de uma
maneira ou de outra tiveram um papel na apresentação da história da disciplina.
Assim também se deveria lembrar que certas condições socioeconómicas, eventos


16
Ainda me lembro como os meus colegas, que trabalham sobre a matriz gerativista, acolheram o
livro de Newmeyer durante os anos 1980: finalmente alguém que nos conta o que sempre
considerámos ser a verdade, isto é, que o pós-bloomfieldianos, notavelmente Harris e Hockett, não
tiveram nenhuma ideia do que era ciência e que Chomsky teve razão desde o princípio. Claro que
todos os estudantes tiveram que adquirir um exemplar do livro para saber por quê havia uma
'revolução' chomskyana na linguística. Talvez os estudantes de Brugmann e outros ouvissem uma
afirmação semelhante sobre os ‘novos começos’ (o termo de Delbrück depois de ter despachado
Schleicher como aderente às visões até lá desacreditadas de Bopp). De facto, a Einleitung de
Delbrück teve seis edições entre 1880 e 1919, mais do que os Prinzipien de Hermann Paul, que
tiveram cinco edições entre 1880 e 1920. Ambos eram extensamente usados como manuais de
ensino; o livro de Paul ainda continua a ser editado hoje.

40 E.F.K. Koerner

históricos ou situações políticas frequentemente tiveram uma influência conside-
rável na motivação de escrever a história de uma determinada disciplina ou na
aceitação de um quadro teórico de investigação ou modo de pensamento
aparentemente novos. As obras de Benfey e Raumer, por exemplo, foram em parte
incentivadas pela ascensão do nacionalismo alemão no tempo de Bismarck. Por
outro lado, Malkiel (1969b: 557) acertadamente observou que o êxito do Cours de
Saussure “[...] cannot be properly measured without some allowance for the
feelings of that time: The acceptance of the leadership of a French-Swiss genius
connoted for many Westerners then opposed to Germany a strongly desired,
rationalized escape from the world of Brugmann, Leskien, Osthoff, and Paul”.

4 A historiografia linguística
Ainda apesar do meu respeito pelos trabalhos do terceiro tipo, especialmente
o livro de Arens, acredito fortemente que precisamos de um quarto tipo de registo
da história, isto é, um tipo de prestação de contas do nosso passado linguístico
como uma parte integrante da própria disciplina e, ao mesmo tempo, como uma
atividade fundada em princípios bem definidos que podem rivalizar com os da
própria ‘normal science’ (Kuhn), no que diz respeito à solidez do método e ao
rigor da sua aplicação. Não defendo que a história da linguística deveria ficar
meramente servil à disciplina, mas que teria que estabelecer-se como exercendo
uma função comparável com aquela da história da ciência para o cientista natural.
Na linguística, uma disciplina intrinsecamente social pela mera natureza do seu
objeto de investigação, esta meta bem pode provar ser mais difícil de atingir do
que pode ser exigido ao historiador da ciência. Em grande parte, como resultado
da sua absorção de princípios de análise derivada de cientistas naturais,
especialmente de anatomistas comparativos, biólogos, particularmente de
botânicos, e de geólogos, a linguística atingiu o estado de uma ciência durante os
últimos 150 anos ou ainda mais. Afinal, talvez haja mesmo um paralelo.
Do que afirmei antes, é óbvio que enquanto as histórias do primeiro e do
terceiro tipo têm os seus usos, não estou a pensar que obras escritas da forma das
Cartesian Linguistics de Chomsky são verdadeiras histórias. Como resultado do
meu descontentamento geral com o estado das coisas que encontrei como
estudante de doutoramento durante finais dos anos 1960 e inícios dos anos 1970,
gastei grande parte da minha atividade como estudioso em estabelecer – e
exemplificar (cf. Koerner 1973b, 1975b) – o tipo de escrita de história de que
sentia que era necessário, não só para servir melhor para a nossa compreensão da
linguística e da sua evolução, mas também para assegurar que não vamos repetir
as deficiências, os erros e as distorções sérias de abordagens prévias. Obviamente,
não alinharia com a visão de Brekle (1985), segundo a qual seria de esperar que
cada geração viesse a escrever a sua própria história. Uma atitude de tal forma
despreocupada conduziria, proponho, para um tipo de história ‘whiggish’, e não
para o tipo de história que tenho em mente.

Ainda sobre a importância da historiografia linguística 41
A historiografia linguística que tenho seguido tem uma tarefa importante por
executar dentro da disciplina como um todo. O facto de a história da linguística
bem poder constituir uma chave muito valiosa para uma melhor compreensão e
avaliação da história das ideias em geral só pode aumentar a sua importância. Por
isso, alinhei, logo no início, com a visão de Malkiel (1969b: 532; 1983: 52), de
que o historiador de uma determinada ciência deve estar equipado com uma ‘dual
expertise’ com a qual, para além de “[...] demonstrate the specialized knowledge
of a scientific or artistic domain [...] ought to know a good deal about intellectual
history (embedded within the matrix of general history) [...]”. Porém, o
historiógrafo da linguística precisa de algo mais para além desta perícia dual, pois
deve também ocupar-se com questões de metodologia e mesmo de epistemologia.
Parece-me, às vezes, que tendências na própria linguística são talvez
indevidamente motivadas por reivindicações excessivas de originalidade em
questões de teoria, lembrando frequentemente o alerta de Troike (1976),
nomeadamente, das tentativas de reinventar a roda. Uma maior consciência geral
dos antecedentes do nosso pensamento atual parece por isso desejável. Como
resultado, não alinharia numa história da linguística que se torna “[...] a discipline
apart [...]” (Kuhn 1971: 272), uma atividade em causa própria. Mas então, a
linguística não é uma disciplina comparável com, digamos, a física teórica.
Evidentemente isso não exclui a legitimidade de um tratamento formal,
matemático, estatístico ou lógico de certas componentes separadas da atividade
linguística, e até mesmo a tentativa por parte de alguns, no sentido de propor uma
teoria geral global da linguística, que é bastante abstrata (por exemplo, Lieb 1984).
Num comentário sobre o relacionamento entre ciência e arte, Kuhn (1969:
407-408) tinha observado que ‘science destroys its past’, isto é, que o trabalho de
Einstein e Schrödinger, por exemplo, tornou o de Galilei e de Newton largamente
irrelevante, tendo o assim chamado ‘Einsteinian paradigm’ substituído o quadro de
referência definido por Newton e outros. Por meio de contraste, observamos que a
arte de Picasso não tornou obsoletas as pinturas de Rembrandt. Se aceitarmos a
veracidade geral desta observação, podemos perguntar que função a história da
ciência, uma disciplina universitária bem estabelecida, tem para o avanço da
ciência, e realmente podemos questionar a sua relevância até mesmo para uma
melhor compreensão da história, se a queixa de Kuhn (1971: 271-272), de os
estudantes das ciências quase nunca terem assistido aos seus cursos se aplica para
a disciplina em geral. A linguística pode ser uma ciência exata relativamente a
certas questões metodológicas e a certos procedimentos de análise; porém, não se
pode afirmar que uma teoria particular geralmente esteja a tornar obsoletas outras
teorias concorrentes, na medida em que se passa uma mudança de paradigma, uma
‘revolução’ no sentido kuhnianano do termo, que reclama com toda a justiça a
união rígida de todos os membros da comunidade científica que querem
permanecer e trabalhar dentro da disciplina. Estamos, de facto, a assistir
presentemente a uma diversidade de visões sobre questões que interessam tanto à

42 E.F.K. Koerner

teoria geral como ao tratamento de aspetos específicos da análise linguística que
não teria parecido possível na linguística há uns vinte e cinco ou trinta anos.
Ainda em vez de fazer apenas declarações gerais, deveria referir algumas
informações relativas ao tipo de historiografia linguística ao qual me dediquei
durante as últimas quatro décadas. Não me refiro ao lado organizacional da
atividade: as revistas, séries de monografias, sociedades científicas, congressos,
etc., que passaram a fazer parte da paisagem profissional ao longo das últimas
quatro décadas, mas aos princípios que orientam o historiador, os quais sentia que
eram necessários para tornar a investigação nesta área de interesse respeitável e
útil, se este é o termo adequado aqui.
Entre outras coisas, a seguir a algumas polémicas contra o que considerava a
escrita insatisfatória da história durante os anos 1970 e, às vezes, também durante
os inícios dos anos 1980 (Koerner 1983b, 1984a), tratei de questões que acredito
serem centrais para a historiografia linguística. Por exemplo, num artigo escrito
em 1982 discuti os vários modos nos quais o desenvolvimento de assuntos tende a
ser descrito e apresentei argumentos e modelos para ilustrar uma variedade de
parâmetros, como ‘progress-by-accumulation’, ‘mainstream’ vs. ‘undercurrent’,
‘epistemological pendulum swings’, ‘discontinuity’ vs. ‘continuity’, considerando
ainda fatores externos, por exemplo, com referência para o ‘climate of opinion’ de
Becker (Koerner 1984a). Num congresso de história da linguística que teve lugar
em 1984, abordei a imprecisão do argumento frequentemente invocado de
‘influence’ e propus critérios para uma definição útil do conceito e a sua própria
aplicação (Koerner 1987b). Subsequentemente, discuti em várias ocasiões
(Koerner 1987a, 1993a) o que chamava ‘the problem of metalanguage’ na his-
toriografia linguística, uma questão sem dúvida deveras importante, quando se
tomam em consideração os problemas terminológicos e epistemológicos que o
historiador enfrenta ao lidar com teorias passadas, o que faz com que possa ter que
agir num nível ‘meta-meta’ do discurso. É evidente que algumas destas questões
podem permanecer ‘persistent issues’ (Koerner 1995b), mas o historiógrafo não
deveria perdê-los de vista, quando o campo está numa forma muito melhor hoje do
que era quando primeiro o encontrei durante a época de 1969-1971, ao escrever a
minha tese sobre a origem, desenvolvimento e relevância atual da teoria linguística
de Saussure (Koerner 1971a, 1973b).

5 Argumento final para a história da linguística
Para resumir, num olhar para trás sobre o desenvolvimento da historiografia
linguística, pode parecer a muitos que a disciplina amadureceu suficientemente e
que o campo se tornou tão efetivamente organizado desde o ponto de vista
internacional que uma preocupação com a sua continuidade vigorosa já não seria
justificada. Os congressos trienais intitulados International Conference on the
History of the Language Sciences (ICHoLS), inaugurados em 1978, já contam
com a décima-terceira edição em 2014 (Vila Real, Portugal), costumando ser
frequentados tipicamente por uma larga centena de estudiosos de

Ainda sobre a importância da historiografia linguística 43
aproximadamente 20 países, o que por si só pode parecer suficientemente
reconfortante. Este otimismo relativo ao estado da historiografia linguística foi
manifestado por Schmitter (1997), onde a história da linguística ocupa um lugar
no centro do palco da formação linguística geral (ao escrever em 1991, Elffers-van
Ketel ainda era muito mais contido a este respeito). No entanto, tal otimismo não
parece ser compartilhado pelos historiadores americanos da linguística, se
tomarmos em consideração a experiência de Newmeyer (1996a: 2), segundo quem
a maioria dos linguistas americanos considera os praticantes no campo como
ocupando “[...] a status level even lower than that of a ‘semiotician’”.
Newmeyer possivelmente terá falado com pessoas diferentes daquelas com
quem eu próprio falei. Pelo que me toca, não alinho em qualquer uma destas
posições extremas, mas defendo uma discussão contínua sobre a posição que a
história da disciplina e a história dos seus discursos deveriam ocupar dentro das
ciências da linguagem. A meu ver, não há nenhuma razão para complacência.
Permanece, no entanto, verdade, que quase nunca conheci um linguista que
não estivesse de uma maneira ou de outra interessado na história da linguística. Na
minha opinião isto tem pouco a ver com a questão se a linguística é uma ciência
exata, uma ciência empírica, ou somente uma ciência especulativa; talvez seja
simplesmente porque a linguística é essencialmente uma ciência humana e social,
para todos os efeitos uma Geisteswissenschaft, que tem a curiosidade do homem
sobre si e o seu pensamento como a sua verdadeira fonte de investigação. Esta
pode bem ser uma boa posição para começar.

Questões que persistem na historiografia linguística
*




1 Observações introdutórias
1

A historiografia linguística, no sentido de ‘principled manner of writing the
history of the study of language’ (o que naturalmente inclui a discussão de
questões de metodologia e epistemologia), e não no (talvez mais tradicional)
sentido de “[...] (merely) recording the history (or history writing) of linguistic
research” (cf. Sebeok 1975) é de colheita recente. Enquanto tal, deve ser
distinguida da História da Linguística (HoL), ou da ‘História das Ciências da
Linguagem’, o efetivo registo da res gestae da investigação linguística através dos
séculos. Assim, historiografia da linguística – ou ‘historiografia linguística’, como
se tornou mais amplamente empregue – é mais do que um termo para descrever a
atividade de ‘escrever a História’, embora, com certeza, tenha relação com ela. O
seu resultado é, com certeza, História, isto é, o discurso sobre o passado tal como
foi produzido pelo historiador, distinto da ‘História’, no sentido de ‘factos do
passado’.
2
A história da linguística, campo de estudo que trata da descrição do
desenvolvimento das ciências da linguagem desde o seu início até aos
desenvolvimentos atuais obteve, ao que parece, a fama merecida. O estabeleci-
mento de sociedades académicas consagradas à história da linguística, tanto na
Europa como na América do Norte, é apenas um sinal desta constatação, à qual se
devem acrescentar os vários encontros especializados internacionais que têm
acontecido desde finais dos anos 1970, nomeadamente as trienais conferências


*
[Observação sobre a tradução: a presente tradução foi elaborada por Cristina Altman (USP, São Paulo)
com base no artigo “Persistent Issues in Linguistic Historiography” (Koerner 1995b), sendo publicada
pela primeira vez em português sob o título “Questões que persistem em historiografia linguística”
(Koerner 1996b). A revisão e atualização do presente artigo foi levada a cabo por Teresa Moura.]
1
Este texto é uma versão amplamente revista do texto apresentado no VI ICHoLS, realizado em
Washington, D.C., em agosto de 1993 (Koerner 1995b). Devo os meus agradecimentos especiais a John
E. Joseph pelos seus comentários sobre a versão anterior do texto, que me conduziram a uma maior
precisão em vários pontos. Joseph questiona a utilidade da minha distinção história-historiografia, que
tenho feito regularmente desde que entrei pela primeira vez no debate há quatro décadas. Talvez o termo
‘nova história’ pudesse ser outra maneira de exprimir o que tenho feito desde os meus primeiros textos
programáticos sobre o assunto (e.g., “Towards a Historiography of Linguistics: 19th and 20th century
paradigms”, Koerner 1972c). A expressão ‘nova história’ tem sido usada recentemente para descrever a
obra de Robert William Fogel (cf. Fogel / Elton 1983) e Douglass Cecil North (1990), os dois
galardoados com o Prémio Nobel de Economia de 1993. Os meus agradecimentos são extensivos a
Cristina Altman que, com a presente tradução, me dá a oportunidade de dirigir-me à comunidade
académica em português.
2
Outra maneira de explicar ao que me estou a referir é: quando estiver a falar do estabelecimento dos
fundamentos de como empreender a tarefa de escrever a história – sem dúvida uma atividade meta-
histórica – e de qualquer narrativa que resulte desta atividade, quando bem sucedida, uso o termo
‘historiografia’ Por analogia, ao discutir princípios, pode referir-se a isso como ‘metodologia’,
quando esta é efetivamente aplicada, é o ‘método’.

46 E.F.K. Koerner
internacionais das ciências da linguagem (International Conference on the History
of Language SciencesICHoLS): Ottawa, Canada (1978), Lille, França (1981),
Princeton, E.U.A. (1984), Trier, Alemanha (1987), Galway, Irlanda (1990),
Washington, D.C. (1993), Oxford, Inglaterra (1996), Fontenay/Saint-Cloud,
França (1999), São Paulo-Campinas, Brasil (2002), Urbana-Champaign, E.U.A.
(2005), Potsdam, Alemanha (2008), São Petersburgo, Rússia (2011). A décima
terceira conferência está programada para 2014, em Vila Real, Portugal.
Outras indicações de que o assunto se está a aproximar da maturidade são o
número de investigadores que começaram a interessar-se seriamente pelas questões
do método e da epistemologia da historiografia linguística, cuja primeira discussão
organizada se deu em finais da década de 1960, quando o livro de Thomas S. Kuhn,
The Structure of Scientific Revolutions (1962), começou a exercer influência sobre a
história da linguística (Hymes 1974a). Aos esforços individuais de alguns autores
(Koerner 1978a; Grotsch 1982; Schmitter 1982) sucederam-se colóquios e volumes
coletivos dedicados ao assunto (Dutz / Kaczmarek 1985; Schmitter 1987; Hüllen
1990). Seria desejável que este debate continuasse, já que ainda não se pode dizer
que haja, num grau satisfatório, uma única forma de proceder na investigação
historiográfica na linguística, ou cânones estabelecidos que sejam amplamente
aceites pela comunidade académica. Enquanto tal não acontece, é legítimo que o
historiógrafo procure diretrizes e modelos a imitar para além do seu próprio campo.
É importante compreender, entretanto, que devido à natureza particular do objeto de
investigação, nomeadamente, as teorias da linguagem (bem como as teorias da
linguística), a sua aplicação e a sua evolução através do tempo, os historiadores da
linguística devem insistir em procurar o seu próprio quadro, a sua própria
metodologia e epistemologia, e não podem ficar à espera e aplicar os métodos e os
ensinamentos de outros campos diretamente ao seu objeto de investigação, como
procurarei esclarecer a seguir.
Devemos a Croce (1915) a distinção entre crónica e história. A primeira
consiste em registar meramente os acontecimentos do passado, sem oferecer
qualquer tentativa de distinguir entre um acontecimento significativo e outro
insignificante. É importante dar um passo mais além e procurar distinguir história
de historiografia, parcialmente para tentar deixar claro o afastamento de trabalhos
anteriores no campo que, muito frequentemente, tenderam a ser histórias
partidárias, o que Butterfield (1931) chamou de ‘Whig histories’. Poucos
tratamentos históricos da linguística, produzidos até hoje, chegaram a esboçar,
para não dizer nada de o terem desenvolvido, um guia útil segundo o qual o
investigador na área devesse e pudesse operar sem repetir as deficiências, os erros
ou as distorções sérias de relatos anteriores. Para o estabelecimento de um ideário
na historiografia linguística, é preciso começar por admitir que não basta de modo
algum ser um conhecedor profícuo em assuntos relativos à linguística para se
qualificar como historiador da disciplina. Aliás, até hoje, a história da linguística
tem sofrido consideravelmente com o trabalho amador realizado por eminentes
estudiosos da linguagem que concentraram a sua atenção neste aspeto particular da

Questões que persistem na historiografia linguística 47
disciplina. Malkiel (1969b: 532; 1983: 52) pronunciou-se a respeito da ‘dupla
perícia’ de que o historiador de uma determinada ciência deve estar munido, isto é,
além de “[...] demonstrate the specialized knowledge of a scientific or artistic
domain [...] ought to know a good deal about intellectual history (embedded
within the matrix of general history) [...]”. O historiógrafo da linguística,
entretanto, precisa de mais do que desta dupla perícia, que deve ser vista como
conditio sine qua non para qualquer investigador empenhado na investigação de
acontecimentos passados no desenvolvimento da linguística.
Sem dúvida, a construção das verdadeiras bases da historiografia linguística –
campo de investigação cujos preconceitos deveriam consistir apenas em favorecer o
restabelecimento dos factos mais importantes do nosso passado linguístico sine ira
et studio ao explicar, tanto quanto possível, as razões das mudanças de orientação e
de ênfase e da possível descontinuidade que pode ser observada – impõe grandes
exigências à atividade académica individual, amplitude de escopo e profundidade de
aprendizagem, pois exige um conhecimento quase que enciclopédico da parte do
investigador, dada a natureza interdisciplinar desta atividade. Além disso, requer,
ainda, a capacidade de síntese, isto é, a faculdade de separar o essencial da massa
dos factos empíricos coligidos a partir das fontes primárias. Por outras palavras, e
para usar uma distinção contemporânea, a historiografia linguística tem que ser
‘orientada para a teoria’ e não ‘para os dados’, embora não haja dúvida de que
muitas leituras das fontes originais ainda tenham que ser feitas, a fim de se
estabelecer adequadamente os factos básicos do desenvolvimento da disciplina. Esta
tarefa ainda não foi levada a cabo numa extensão satisfatória, nem mesmo para o
século XIX, no qual grande parte da linguística ocidental moderna foi construída,
quer falemos dos neogramáticos e do seu trabalho, quer das tendências linguísticas
que se seguiram às ideias humboldtianas sobre linguagem e mente, uma tradição
cuja amplitude real é pouco reconhecida pelas histórias da linguística contempo-
râneas. Na prática, a maior parte do trabalho de apresentação da história da
linguística de uma maneira científica ainda está por fazer, não obstante os muitos
esforços, individuais ou coletivos sobretudo dos últimos vinte anos (p. ex., Schmitter
1987-2007; Auroux 1989-2000; Lepschy 1994-1998; Auroux / Koerner / Niederehe
/ Versteegh 2000-2006).
Já desde inícios dos anos 1970, vários investigadores interessados pela história
da linguística como uma especialidade académica esforçaram-se por propor
diretrizes para uma conduta apropriada da investigação historiográfica (p. ex.,
Hymes 1974a, Simone 1975, Koerner 1976) Na época, o livro The Structure of
Scientific Revolutions (1962; 1970) de Kuhn teve um impacto considerável no
debate, à proporção que a discussão se centralizava na questão sobre até que ponto
a morfologia kuhniana das revoluções científicas poderia fornecer um guia útil para
o historiador da linguística. Esta discussão parece ter decaído em finais da década
de 1970, possivelmente como resultado do artigo de Percival (1976), que
questionou a procura de ‘paradigmas’ na linguística sem, entretanto, oferecer um
caminho alternativo. Houve, claro, várias razões para que Kuhn tivesse sido tão

48 E.F.K. Koerner
entusiasticamente acolhido por vários cientistas sociais e comportamentais, embora
o seu livro visasse as ciências naturais, em particular, a física teórica. De entre elas,
a falta de conhecimento do trabalho de outros filósofos da ciência e de historia-
dores, anteriores e contemporâneos, a falta de precisão de muitas das definições de
Kuhn (o que permitia diferentes interpretações do seu argumento) e a sua ênfase na
dinâmica social que envolvia tais mudanças, que agradavam especialmente aos
cientistas sociais. Por outras palavras, pode ter sido o caráter aberto do livro de
Kuhn que fez com que este ficasse, por sua vez, paradigmático (outra razão para o
sucesso do livro nas ciências sociais parece dever-se ao facto de Kuhn ter derivado
várias componentes da sua obra, inclusive o conceito de ‘paradigma’, das chamadas
disciplinas ‘intelectuais’, das Humanidades – não há palavra em inglês
satisfatoriamente equivalente ao termo alemão Geisteswissenschaften).
Os anos 1980 assistiram a um conjunto de estudos que ofereciam linhas
alternativas de conduta historiográfica que entraram no debate sobre a abordagem
histórica na linguística (p. ex., Bahner 1981; Bokadorova 1986; Christmann 1987).
No entanto, não foi ainda estabelecida nenhuma base comum sobre como proceder
na historiografia linguística, e há indícios de que o debate irá continuar por algum
tempo (p. ex., Elffers-van Ketel 1991: I). Nos capítulos seguintes, analiso algumas
das posições e propostas relativas à historiografia, feitas por vários autores fora do
campo da linguística e da sua história. A seguir, tenciono apresentar algumas
considerações, relacionadas com a realização da investigação sobre a história das
ciências da linguagem e a apresentação dos desenvolvimentos anteriores na área.

2 Abordagens na historiografia linguística
A procura dos fundamentos específicos da historiografia linguística conduziu a
várias propostas diferentes. Estas podem ter tido origem tanto na área particular de
estudo escolhida pelo investigador – não há dúvida de que faz diferença se alguém
está a estudar os registos linguísticos da Idade Média ou os do século XIX – como
no ‘interesse pelo conhecimento’ (Erkenntnisinteresse), resultante do ponto de vista
do investigador. Aqueles que entraram para a história da linguística pelo estudo do
texto literário, é de se esperar, oferecem perspetivas diferentes de alguém que veio
da filosofia, da história, ou da linguística propriamente dita, para não mencionar
aqueles que entraram para a linguística advindos da matemática ou das ciências
‘duras’ A posição que aqui defendo é a de que o historiador da linguística deve
possuir preparação em linguística, a fim de ter uma compreensão adequada de quais
são as questões específicas da área, embora, novamente, esta situação se possa
aplicar muito mais à linguística dos dois últimos séculos do que à de períodos
anteriores. Claro que isto não é suficiente. É demasiadamente frequente os
linguistas atuais tenderem a projetar os seus interesses e o entendimento atual nas
teorias do passado, pelo que são capazes, por conseguinte, de distorcer as questões
e os compromissos teóricos de períodos anteriores. Por isso, o historiógrafo da
linguística deve familiarizar-se com mais do que o esboço da transmissão da teoria
e da prática linguística e das suas mudanças através do tempo.

Questões que persistem na historiografia linguística 49
Do ponto de vista metodológico, pode perguntar-se o que é que os outros
campos da investigação histórica, já estabelecidos, têm a oferecer ao historiógrafo
da linguística, sem deixar de ter em mente, ao mesmo tempo, que o seu objeto de
estudo, isto é, as ideias sobre a linguagem e propostas para a sua descrição e
explicação, deve impor um tratamento particular ao investigador.

2.1 História da linguística e história intelectual
Parece que vários investigadores consideram a história da linguística parte de
uma história geral das ideias. Esta impressão é reforçada pelo facto de que a Henry
Sweet Society, de Oxford, criada em 1984, inclui “the History of Linguistics
Ideas” como parte do seu nome. É uma trivialidade dizer que a história da
linguística não pode ser estudada no vazio, simplesmente como uma sucessão de
teorias sobre a linguagem, separadas do clima geral de opinião no qual foram
formuladas. O seu contexto deve também incluir o conhecimento de como as
outras disciplinas, tanto as vizinhas como as afastadas, estavam naquele
determinado período. Em suma, estreitar demais o alinhamento da história da
linguística com a História das Ideias, ou comum campo de estudo similar, não
parece ser uma solução para o problema de encontrar uma metodologia própria
para a investigação historiográfica na linguística. Por exemplo, parece revelador
que ainda em 1977, uns quarenta anos após a publicação do influente livro de
Arthur O. Lovejoy (1873-1962), The Great Chain of Being (1936), um artigo
tenha sido publicado no Journal of the History of Ideas, fundado por Lovejoy em
1940, cujo autor afirma:

On the whole, the methodology of the history of ideas is in its infancy. The
field is in this respect behind general history, of which it is a part. One may
therefore suggest that the interest of historians of ideas should be more
directed towards the methodological problems of their field than has hitherto
been the case. The reason is that when the foundation of a house is shaky, it
does not make much sense continuously to add new stories to it (Kvastad
1977: 174).

Infelizmente, as próprias propostas de Kvastad estão longe de serem
satisfatórias: o aparato pseudo-formal e as definições ‘lógicas’ que ele oferece não
levam a quaisquer ensinamentos ou princípios de investigação úteis (tão-pouco o
faz no seu artigo “Method” de 1979). Mas a discussão relativa aos pontos em
contacto – e às diferenças epistemológicas – entre a história da linguística e a
História das Ideias, seja no sentido de Lovejoy (1936), seja no sentido de ‘história
intelectual’ (Mandelbaum 1965) não deve ser definitivamente abandonada. De
facto, alguns podem argumentar que certos trabalhos mais recentes como
Rethinking Intellectual History (1983) de Dominick LaCapra, e muitos outros
textos seus, poderiam despertar no historiador da linguística novos discernimentos.
Entretanto, se o diálogo entre um dos seus resenhadores (Pagden 1988) e o próprio
LaCapra (1988) serve de guia, parece que esta linha de trabalho avançou pouco
além do estágio da discussão. Quando exemplificada – pelo menos no caso de

50 E.F.K. Koerner
LaCapra (cf. pág. 680 e nota 3) – acabou por produzir análises literárias ou
filosóficas, e não análises de história intelectual. Como concede o próprio LaCapra
(1988: 678), o seu estilo é ‘often polemical’, e o seu objetivo é “[...] to lay the
groundwork for a more fruitful interchange among intellectual, cultural, and social
history [...]", ao proteger a “[...] intellectual history against misguided attacks [...]”
(LaCapra 1988: 679). Em suma, parece que o foco ainda está mais nos problemas
epistemológicos e ‘atitudinais’ do que nos metodológicos. É, portanto, de se
imaginar, o quanto um historiador pode aprender com estes projetos imbuídos do
pensamento pós-estruturalista francês, sobretudo do trabalho de Jacques Derrida,
que pretendem entrar no ‘discurso dialógico’ com ‘vozes do passado’, sem
compreender “[...] that to converse with the past one must first attempt to
reconstruct it [...]” (Pagden 1988: 526). É bastante interessante que, ao mesmo
tempo que ataca o trabalho daqueles que seguem o programa francês da histoire
des mentalités – que, por enfatizar a ‘mentalidade’ como determinadora de uma
dada cultura, leva o analista a recorrer a pressões externas não especificadas, se
quiser dar conta das mudanças – o trabalho de LaCapra e outros parecem conduzir
mais a um relato presentista do que a uma análise histórica.
A natureza da linguística como um campo com um objeto de estudo bem
definido – a linguagem humana em todas as suas manifestações – talvez requeira
mais do que uma associação com ou uma inspiração pela história das ideias, ou
mesmo pela ‘história da filosofia’. Passmore (1967) expressa-se contra a ideia,
defendida também por Kristeller (1964), de que historiadores, mais do que os filó-
sofos, escrevam a história das ideias filosóficas, e argumenta que “[...] the pure
historian with no philosophical enthusiasm is almost certain to compose a
doxography [...]” (Passmore 1967: 229), isto é, um relato inteiramente desvin-
culado, cronológica e biograficamente das escolas passadas do pensamento
filosófico. Neste aspeto, Passmore está plenamente de acordo com a visão expressa
por Malkiel, citado anteriormente, e cuja opinião compartilho.
No meu próprio trabalho (p. ex., Koerner 1978a), considerei o conceito de
‘clima de opinião' de Carl Lotus Becker (1873-1945) particularmente útil para
traçar a atmosfera intelectual de um dado período em que certas ideias
floresceram, foram recebidas ou rejeitadas. Becker (
1
1932,
35
1971) exemplificou
este termo da seguinte maneira:
Whether arguments command assent or not depends less upon the logic that
conveys them than upon the climate of opinion in which they are sustained.
What renders Dante's argument or St. Thomas's definition meaningless to us
is not bad logic or want of intelligence, but the medieval climate of opinion –
those instinctively held conceptions, in the broad sense, that Weltanschauung
or world pat tem – which imposed on Dante and St. Thomas a peculiar use of
the intelligence and a special type of logic. To understand why we cannot
easily follow Dante or St. Thomas it is necessary to understand (as well as
may be) the nature of this climate of opinion (Becker 1971: 5).

Questões que persistem na historiografia linguística 51
Aqueles que trabalham na história da linguística terão certamente aprendido a
ter em conta a observação de Becker, embora também tenham aprendido que não é
apenas o clima de opinião de um período que deverá ser reconstruído, mas muitos
outros fatores para que possamos obter uma compreensão mais fidedigna do
contexto intelectual geral em que as teorias particulares se desenvolveram, então
uma história amplamente definida de ideias que pode ser útil, mas que não será
uma panaceia.

2.2 História da linguística e da filosofia, teoria e prática da história
Como foi sugerido por Malkiel, a investigação geral em história e as
discussões que a orientam podem ter algo a oferecer aos historiadores da
linguística. Neste campo de estudo, a obra de Hayden White tem sido
frequentemente citada nas últimas décadas (ainda que não por historiógrafos da
linguística, tanto quanto sei) como influente no debate do método histórico
propriamente dito. No seu livro Metahistory (1973), White celebra o trabalho de
quatro historiadores do século XIX – Jules Michelet, Leopold von Ranke, Alexis
de Tocqueville, Jacob Burckhardt – que “[...] represent not only original
achievements in the writing of history but also alternative models of what a
‘realistic’ historiography might be” (White 1973: 141). Ao mesmo tempo, White
(1973: 433) propõe que “[...] we are free to conceive ‘history’ as we please, just as
we are free to make of it what we will”, sugerindo, desta maneira, ao que parece,
não haver critérios disponíveis para definir o assunto. Numa coletânea de artigos
publicados cinco anos mais tarde, surpreendemo-lo numa ‘reviravolta linguística’
semelhante a LaCapra e outros. Aqui ele reivindica que “[...] the conventional
distinctions between ‘history’ and ‘historism’ are virtually worthless” (White
1978: 101); pelo contrário, “[...] seek to show that in the very language that the
historian uses to describe his object of study, [...] he subjects that object of study to
the kind of distortion that ‘historicists’ impose upon their materials in a more
explicit and formal way” (White 1978: 102).
Por outras palavras, White não está muito interessado em escrever realmente
a história, mas em analisar e criticar os ‘discursos’ dos outros historiadores ou
teóricos da história, nomeadamente Michel Foucault (1926-1984) – daí a sua
predileção pela ‘metahistória’ Na sua coletânea de ensaios mais recente, com o
subtítulo de Narrative discourse and historical representation, White (1987: 107)
carateriza o discurso de Foucault como de “[...] ‘positively’ wide (if seemingly
capricious) erudition [apresentada como, EFKK] solemn disclosures of the ‘way
things really were”, aggressive redrawings of the map of cultural history,
confident restructurings of the of the chronicle of ‘knowledge’”. Não se aventura a
discutir como Les Mots et les Choses (1966) de Foucault, por exemplo, poderia ter
contribuído para a discussão da filologia histórico-comparativa do início do século
XIX, enquanto uma nova ‘episteme’ na história da linguística.
Mais de uma vez, julguei as observações de historiadores ‘tradicionais’ às
vezes mais esclarecedoras do que os ‘discursos’ teóricos de teorizadores modernos

52 E.F.K. Koerner
com aspirações literárias. Por exemplo, ao discutir os desenvolvimentos na
linguística do século XX e a maneira pela qual são apresentados, a descrição que
Sir Herbert Butterfield (1900-1979) faz da interpretação Whig da História é
particularmente adequada:

Through this system of immediate reference to the present-day, historical
personages can easily be classed into the men who furthered progress and the
men who tried to hinder it; so that a handy rule of thumb exists by which the
historian can select and reject, and can make his points of emphasis
(Butterfield 1931:11).

Embora alguns possam pensar que histórias do tipo whiggish e ‘presentismo’
sejam fenómenos modernos, podemos encontrar ocorrências desde que a história
começou a ser escrita. Mais uma vez, do ponto de vista metodológico, não parece
haver muita orientação da parte dos historiadores regulares, ou dos filósofos ou dos
teóricos da análise histórica, que esteja à disposição do historiógrafo da linguística,
em parte porque o assunto sob investigação, teorias sobre a linguagem e a própria
linguística, são epistemologicamente bastante distintas dos acontecimentos
históricos, da sua descrição, interpretação, e explicação.
Muito mais recentemente, o filósofo Richard Rorty (1984) propôs quatro
‘géneros’ para a historiografia da filosofia. No seu ensaio, distinguiu entre
‘reconstrução racional’, que é essencialmente presentista, a ‘reconstrução
histórica’, que seria grosso modo aquilo com que tenho lidado, a
Geistesgeschichte, que é essencialmente uma história intelectual amplamente
concebida (embora o autor a trate como “[...] a richer and much more diffuse
genre – one which falls outside this triad”; cf. Rorty 1984: 68), e a ‘doxografia’,
que consiste na formação de cânones e sustentação de uma posição particular.
Enquanto Rorty acredita que os três primeiros tipos têm os seus usos – e seria
difícil discordar da sua sugestão –, o quarto deveria ser abandonado como
atividade académica. Nas suas próprias palavras, o seu tipo de ‘historical
reconstruction’ “[...] works to keep Geistesgeschichte honest, just as historical
reconstruction operates to keep rational reconstruction honest [...]” (Rorty 1984:
71). Anteriormente, Rorty (1984: 56) tinha contrastado ‘historical reconstuction’
como “[...] contextualist accounts which block off later developments from sight
[...]” e ‘rational reconstuction’, como “‘Whiggish’ accounts which draw on our
better knowledge”. Não é de admirar que, se o primeiro é tão estreitamente
concebido, o último possa ser visto de forma tão benigna como Rorty sugere. Ao
menos na historiografia linguística, tornou-se claro que uma abordagem
contextualizada não pode ser bem sucedida se o foco for demasiadamente estreito,
ao passo que a atividade presentista da ‘reconstrução racional’, para todos os
efeitos, absolutamente não corresponde a fazer história.

Questões que persistem na historiografia linguística 53
2.3 Historiografia linguística e história e filosofia da ciência
Em contraste com a história intelectual e as várias abordagens do tratamento
da história geral – embora a historiografia linguística tenha que ter em conta as
correntes intelectuais de um período dado que possam ter causado impacto sobre o
pensamento linguístico – a história e a filosofia da ciência parecem ter mais a
oferecer ao historiador da linguística, parcialmente por causa dos seus avanços em
epistemologia e metodologia. Evidentemente, a morfologia das revoluções
científicas de Kuhn (1962) contribuiu com uma parte importante na discussão (cf.
Lakatos / Musgrave 1970). Entretanto, parece amplamente consensual que a
natureza e a conduta da ciência e da filosofia da ciência, seja em termos do
paradigmatismo mais recente (cf. Laudan 1977), ou do indutivismo tradicional e
da sua filosofia da ciência oposta, o refutacionismo (Popper 1959, 1962), fizeram
propostas interessantes ao historiador da linguística. De interesse particular são as
feitas por investigadores tais como Foucault (1966), Hesse (1963, 1980), Kuhn
(1977), Lakatos (1974,1978), Pandit (1983), Sneed (1971), e outros (p. ex., Krige
1980). Mas, mais uma vez, o historiógrafo da linguística não deve esperar receber
um quadro teórico pré-fabricado de qualquer que seja a filosofia da ciência.
Como exemplo de como certas observações feitas pelos historiadores da
ciência podem oferecer matéria de reflexão aos historiadores da linguística, cito a
afirmação, feita há uns trinta e cinco anos, por Martin Rudwick, um historiador da
ciência inglês, que, referindo-se a Hesse (1963), observou o seguinte sobre a
necessidade de investigar o que chama ‘creative analogies’ no desenvolvimento de
um campo de investigação, especialmente no estágio de formação:

It is at least arguable that major cognitive innovation is most likely to emerge
in the scientific work of individuals who choose to employ analogies that in
this sense are strongly ‘external’: that is, analogies that are furthest removed
from the ‘normal practice’ of the discipline concerned. This may happen when
a scientific field scarcely yet deserves the name of ‘discipline’, because its
practice is not yet strongly insulated and institutionalized (Rudwick 1979: 67).

Rudwick estava a escrever sobre o papel de Charles Lyell no desenvolvi-
mento da geologia como ciência, mas a sua observação poderia bem ter
caraterizado a situação que enfrentaram os primeiros linguistas histórico-
comparativos de inícios do século XIX. O ‘deslocamento de conceitos’ deve ser
levado em conta cada vez que um investigador ou cientista está envolvido com o
desenvolvimento de alguma coisa como um ‘programa de investigação’ (Lakatos
1978). Como poderia expressar-se de um modo novo sem recorrer a analogias,
metáforas, e empréstimos de outros campos de conhecimento?
Há, com certeza, muitos outros exemplos de como os historiadores da
linguística podem tirar proveito da leitura de historiadores e filósofos da ciência. De
facto, especialmente para os séculos XIX e XX, muitas das suas descobertas podem
oferecer conceitos úteis, instrumentos de investigação para o efetivo escrever a
História. Como já foi observado anteriormente, The Structure of Scientific
Revolutions de Kuhn tem sido particularmente influente, não apenas na linguística,

54 E.F.K. Koerner
mas também na antropologia e na sociologia. Em observações programáticas feitas
nos anos 1970, referi-me frequentemente às ideias de Kuhn, mas em lugar nenhum
sugeri a aplicação acrítica das suas propostas à história da linguística. Conceitos
como ‘paradigma’, seguindo a própria sugestão de Kuhn 1970, ‘matriz disciplinar’;
‘ciência normal’; ‘revolução científica’; e ‘operação-limpeza’ ainda podem revelar-
se “[...] ‘useful to the historian of linguistics’ if he does not press the argument to a
point where it no longer makes sense” (Koerner 1989a: 50). Desnecessário será
dizer que o mesmo se aplicaria, mutatis mutandis, a conceitos e noções encontradas
em trabalhos de outros historiadores e filósofos da ciência, sejam eles da linha do
refutacionismo de Popper ou de qualquer outro quadro teórico, como por exemplo,
a abordagem epistemológica de Mario Bunge (1984).

2.4 Historiografia linguística e sociologia da ciência
Há alguns anos, Roger Chartier queixou-se da “[...] almost tyrannical
preeminence of the social dimension [...]” nos estudos históricos (citado por Pagden
1988: 520). Parece, portanto, inevitável, que o historiador da linguística preste
atenção ao trabalho na sociologia da ciência (p. ex., Merton 1973; Mullins 1973;
Amsterdamska 1987; Murray 1994) e, possivelmente, mesmo às descobertas da
‘sociologia do conhecimento’ (Wissenssoziologie; Mannheim 1968). Igualmente, o
conceito de ‘acumulação’ de Bourdieu (1975) e, suspeita-se, o esbanjamento de
‘capital’, tanto social como científico, e noções tais como ‘dominação’ (científica),
‘valor’, ‘interesse’, ‘visibilidade’, ‘legitimidade’ e outras mais merecem ser mais
exploradas pelo historiógrafo da linguística. A distinção de Bourdieu entre
‘estratégia de subversão’ e ‘estratégia de sucessão’, isto é, possíveis estratégias de
discurso seguidas por jovens cientistas tentando estabelecer-se num determinado
campo, mas também a sua referência às estratégias de ‘exclusão’ e ‘rejeição’,
empregues por todos aqueles interessados em manter – e em aumentar – o seu
‘capital científico’ poderiam muito bem ser úteis na análise das ‘revoluções’ em
Linguística (vem-me à mente a carreira de Chomsky).
Novamente a ênfase de Kuhn na natureza social das revoluções científicas
teve um papel importante no estudo da formação de grupos em ciência – Kuhn
(1970: 176) falou sobre ‘invisible college’ (Crane 1972) – tal como foi analisado
por Mullins (1973) para a biologia e, da mesma maneira, por Murray (1994) para a
antropologia e a linguística. Entretanto, o relato de Amsterdamska (1987) dos cem
anos de linguística de Bopp a Saussure, do ponto de vista da sociologia da ciência
mertoniana, ainda que não sem mérito, pouco acrescentou ao que já era conhecido
– e relatado – por historiadores da linguística do século XIX, tal como o papel
importante do sistema de educação superior na Prússia para a institucionalização
do campo da linguística (como evidentemente também para outras áreas).
É verdade que o êxito dos Junggrammatiker – ou aquele dos seguidores de
Chomsky – não pode simplesmente ser explicado em termos de vitória de uma
abordagem linguística particular, supostamente nova, sobre outra, embora não se
possa negar que a troca de uma visão ‘sânscrito-cêntrica’ da Ursprache indo-

Questões que persistem na historiografia linguística 55
europeia por uma atenção maior à reconstrução fonológica da antiguidade greco-
latina clássica teve um papel importante na mudança entre a posição sustentada
por Schleicher durante a década de 1860 e o quadro teórico defendido por
Brugmann e os seus colegas, de 1876 em diante (cf. Mayrhofer 1983). Por outras
palavras, embora certas propostas no interior de uma disciplina tenham tido
méritos intrínsecos, a sua difusão nos limites de uma comunidade de investiga-
dores foi auxiliada por fatores externos, tais como a expansão considerável da
educação pós-secundária depois da guerra Franco-Prussiana de 1870. Uma
expansão similarmente drástica da educação universitária nos Estados Unidos e
também na Europa durante a década de 1960 teve um efeito significativo na ampla
aceitação das teorias de Noam Chomsky neste período e nas décadas
subsequentes. Mas, mais uma vez, parece não haver um quadro metodológico
específico para a historiografia linguística que possa ser obtido a partir das
abordagens sociológicas da ciência, além de ficarmos conscientes do facto de que
fatores extradisciplinares frequentemente exercem um efeito na evolução de uma
dada disciplina, quer aparentemente exata, quer menos rigorosamente definida.

2.5 Para uma síntese das diferentes abordagens
As incursões acima referenciadas noutros campos históricos, história geral,
história intelectual, história e filosofia da ciência, e abordagens sociológicas da
história sugerem que a história da linguística tem alguma coisa a aprender com
todas estas disciplinas e subdisciplinas. No entanto, nenhuma delas, por si só, pode
servir de guia para o historiógrafo da linguística na sua investigação. De facto, em
última análise, os historiadores da ciência linguística deverão desenvolver o seu
próprio quadro teórico, tanto do ponto de vista metodológico, como filosófico. Para
realizar esta tarefa, um amplo conhecimento da teoria e da prática noutros campos
revela-se verdadeiramente muito útil, mesmo se o resultado for negativo, isto é, se
o historiador da linguística descobrir que este ou aquele campo de investigação
histórica tem de facto pouco a oferecer em matéria de método historiográfico.
Como propus anteriormente, parece que a história das ideias oferece poucos
ensinamentos ao historiógrafo da linguística, que este não pudesse encontrar por
iniciativa própria: oferece um reconhecimento generalizado de que as teorias
linguísticas não se desenvolvem num total isolamento do clima intelectual geral do
período ou das atitudes particulares mantidas pela sociedade que promoveu a
atividade científica. Num filão similar, podemos admitir que, pelo menos um
conhecimento superficial da sociologia da ciência e, talvez mais importante, uma
compreensão da dinâmica das redes sociais dentro de qualquer organização
científica, fariam algum bem ao historiador da linguística (Murray 1994).
Resultados mais promissores podem advir das revelações das discussões
conduzidas pelos filósofos e historiadores da ciência. O influente livro de 1962 de
Kuhn foi várias vezes invocado antes, mas as várias reações e contraposições a
essa obra merecem igual atenção. A história da linguística não deve ser tratada
como um ramo da história das ideias, pelo menos não a partir do advento da

56 E.F.K. Koerner
filologia histórico-comparativa de inícios do século XIX. Isto, porque a linguística,
diferentemente da filosofia por exemplo, é uma ciência e porque tem a ver com
factos (normalmente) empiricamente verificáveis, assim como com teorias
(frequentemente bastante complexas) e, por vezes, com práticas de investigação
bastante rigorosas, e não meramente com ideias gerais sobre a natureza da
linguagem. Esta afirmação pode exigir ao historiador da linguística que entre no
debate sobre o estatuto científico da linguística, pelo menos no que diz respeito
aos séculos XIX e XX sem, entretanto, consumir a maior parte das suas energias
(para períodos anteriores do estudo da linguagem, que precederam a era científica
introduzida pela ciência natural do século XIX, outros critérios podem ter que ser
desenvolvidos. A aplicação dos princípios modernos da filosofia da ciência a estes
períodos mais antigos é, sem dúvida, arriscada. De facto, o entendimento do que é
‘científico’ e do que constitui ‘ciência’ pode ter que ser redefinido em diferentes
períodos na história da disciplina sob escopo).
Os outros caminhos abertos para o historiador da linguística, possivelmente
complementares, são os princípios derivados da sua prática histórica. Estou a
pensar no desenvolvimento de modelos particulares que podem guiar a sua
investigação, na análise crítica do trabalho dos nossos predecessores, vários dos
quais moldaram muito da nossa visão do passado, e na discussão dos problemas
particulares que enfrenta o investigador, tais como a ideia da ‘influência’, o debate
sobre a descontinuidade/continuidade ou a questão da ‘metalinguagem’ na
historiografia linguística, para citar só alguns exemplos. Em suma, há ainda muito
trabalho a ser feito até que a história da linguística venha a tornar-se a
historiografia das ciências da linguagem.

3 A desenvolver princípios para a historiografia linguística
A década dos anos 1980 testemunhou um animado debate sobre metodologia
historiográfica na história da linguística (vejam-se os artigos reunidos nas
coletâneas de Dutz / Kaczmarek 1985 e Schmitter 1987); muitas das discussões
anteriores e controvérsias foram levantadas por Ayres-Bennett (1987). Não
obstante a ausência de guias aceites para o tratamento da história da linguística
(notem-se, entretanto, propostas anteriores feitas por outros, por exemplo, Simone
1975), a tentativa de desenvolver princípios de investigação e procedimentos para o
trabalho historiográfico em linguística deve ser feita. Entretanto, conceitos tais
como ‘matriz disciplinar’ e ‘clima de opinião’, ‘continuidade’ vs. ‘desconti-
nuidade’, ‘evolução’ vs. ‘revolução’, ‘corrente principal’ vs. ‘corrente secundária’,
‘orientação para os dados’ vs. ‘orientação para a teoria’, e outros acabaram por
tornar-se termos mais amplamente aceites, mesmo que não haja sempre
unanimidade no que diz respeito ao seu sentido e escopo da sua aplicabilidade.
Há vários problemas metodológicos – e epistemológicos – que enfrenta o
historiógrafo da linguística. Estes incluem questões de periodização, contextuali-
zação e, geralmente, procedimentos de investigação, assim como questões relativas
às mudanças de ênfase na prática linguística atual, a identificação de diferentes

Questões que persistem na historiografia linguística 57
fases de desenvolvimento num quadro teórico particular, ou em períodos de tempo
mais amplos, e no papel de fatores externos, por exemplo, os sócio-políticos, na
aceitação ou rejeição de um referencial teórico. É preciso um livro inteiro para a
discussão adequada destas questões. Sendo assim, os poucos tópicos selecionados
apresentados a seguir devem ser simplesmente tomados como exemplos da
complexidade e da extensão dos assuntos com os quais o historiógrafo da
linguística deve estar familiarizado. Ao mesmo tempo, podem sugerir que o
tratamento da história da linguística cientificamente orientado – a historiografia
linguística – está ainda longe de ter um quadro prático de conduta de investigação
estabelecido e suficientemente amplo.

3.1 A questão da metalinguagem
O uso da terminologia atual na descrição de fases anteriores do
desenvolvimento do pensamento linguístico conduziu a uma variedade de
problemas na nossa compreensão de teorias do passado. A Cartesian Linguistics
(1966) de Chomsky é o exemplo mais conhecido de distorções efetuadas por um
linguista do século XX de ideias sobre linguagem, manifestadas por eruditos dos
séculos XVII, XVIII e XIX. O que tinha sido encobrido pelo alvoroço dos anos
1960 e 1970 pela interpretação chomskiana, tornou-se logo evidente para qualquer
historiógrafo sério da linguística: as distorções de Chomsky eram devidas, e não
em pequena proporção, à identificação imprópria de termos e de conceitos de
séculos anteriores com definições e conceitos atuais. Por exemplo, podemos
facilmente reconhecer que o uso particular de Chomsky de ‘(to) generate’, que tem
a sua origem na matemática e na teoria da tradução dos anos 1950, tem pouco a
ver com a ideia humboldtiana de erzeugen que, embora advindo da psicologia e da
filosofia da linguagem do século XVIII, é amplamente original em Humboldt.
Diferentemente de Chomsky, Humboldt não viu a fala como a produção mecânica
de frases, feita por uma máquina cujo ‘poder’ precisasse de ser ‘restringido’ (não
obstante o frequente repúdio de Chomsky), mas como um esforço
verdadeiramente criativo do indivíduo (na verdade, Humboldt tinha em mente a
criação intelectual do artista e do pensador, e não o output do falante médio
comum). Ao considerar os 150 anos ou mais que separam Humboldt de Chomsky,
esta divergência de visão não é absolutamente fora do comum. Mas o historiógrafo
da linguística deve não apenas entendê-la, mas deve até dar conta dela. Sem
dúvida, há problemas epistemológicos envolvidos aqui, mas o ponto mais óbvio
que proponho está ligado ao que tenho chamado ‘a questão da metalinguagem’,
isto é, a linguagem empregue para descrever ideias do passado sobre a linguagem
e a linguística e, no caso de Chomsky em particular, ao seu esforço retórico de
distanciar-se dos seus predecessores imediatos.
Nenhum escritor consegue escapar à questão ao discutir teorias de períodos
passados, na medida em que deve tentar, ao mesmo tempo, torná-las acessíveis ao
leitor do presente, ao passo que tenta não distorcer a intenção e significado origi-
nais. A menos que o único objetivo do historiógrafo seja antiquário, isto é, descre-

58 E.F.K. Koerner
ver conceitos desenvolvidos há muitos anos apenas nos próprios termos utilizados,
será tentado a usar um vocabulário técnico moderno na sua análise. Este
procedimento ‘modernizante’, porém, tem levado a inúmeras e sérias distorções na
história da linguística, e qualquer historiógrafo perspicaz deve perceber as
armadilhas e voltar-se para este problema potencial do uso da ‘metalinguagem’
Há muitos exemplos nos relatos históricos modernos sobre as ideias dos
séculos passados, em que ideias, conceitos e procedimentos foram mal
compreendidos, deturpados, e distorcidos devido à falta de cuidado do autor no
uso da ‘metalinguagem’ As noções de Saussure sobre a arbitrariedade do signo
têm sido usadas em demasia para discutir a ‘semiótica’ dos estoicos (como se
aqueles pensadores gregos tivessem lido o Curso e os artigos de Charles S. Peirce,
postumamente publicados ainda por cima). Da mesma maneira, os autores
(anónimos) do acordo sobre a reforma ortográfica do islandês dos séculos XII e
XIII foram vistos à luz da fonologia estrutural (como se eles tivessem tido acesso
aos Grundzüge de Trubetzkoy); e os objetivos pedagógicos e a sustentação lógica
do argumento dos gramáticos de Port-Royal foram interpretados como os
primeiros exemplos de uma abordagem ‘gerativa’ na sintaxe (como se eles
tivessem acedido aos Aspects, de Chomsky), para mencionar apenas alguns
exemplos mais famosos (para maiores detalhes, ver Koerner 1993a).
A solução para o problema dos possíveis abusos da linguagem técnica por
parte do historiógrafo da linguística pode estar na adoção dos três princípios que se
seguem e que, se bem que admitidamente ultrapassem a questão da metalingua-
gem, deveriam ter uma aplicação muito mais ampla na historiografia linguística.
3

1.º O primeiro princípio para a apresentação das teorias linguísticas propostas
em períodos mais antigos tem a ver com o estabelecimento do ‘clima de opinião’
geral do período em questão. As ideias linguísticas nunca se desenvolveram
independentemente de outras correntes intelectuais do período em que surgiram. Na
verdade, o que Goethe chamou de Geist der Zeiten sempre deixou as suas marcas no
pensamento linguístico. Por vezes, a influência da situação socioeconómica, e
mesmo política, deve igualmente ser tida em conta (considere-se a discussão sobre a
‘ordem natural’ da organização sintática, na França do século XVIII, na qual o
francês foi apresentado como uma língua superior às outras, e as aspirações de
supremacia política da França no mesmo período). Esta primeira diretriz pode ser
chamada de ‘princípio da contextualização’.
4

2.º O próximo passo que o historiógrafo da linguística deveria dar consiste em
tentar estabelecer uma compreensão completa do texto linguístico em questão,
tanto do ponto de vista histórico como crítico, talvez até mesmo filológico. É
desnecessário dizer que se deve abstrair da sua própria formação linguística e dos


3
Para completar o meu argumento, estou a retomar os aspetos principais dos pontos que levantei no
artigo “O problema da metalinguagem na historiografia linguística” no presente volume.
4
Para outros exemplos deste tipo na história da linguística, ver as contribuições Joseph / Taylor
(1990).

Questões que persistem na historiografia linguística 59
compromissos atuais na linguística. O quadro geral da teoria a ser investigada,
assim como a terminologia usada no texto, devem ser definidos internamente e
não em referência à doutrina linguística moderna. Esta consideração pode ser
chamada de ‘princípio da imanência’.
3.º Só depois de terem sido concisamente seguidos os dois primeiros princípios,
de forma a que uma dada manifestação linguística tenha sido compreendida no seu
contexto histórico original, o historiógrafo pode aventurar-se a introduzir
aproximações modernas do vocabulário técnico e do quadro conceptual apresentado
na obra em questão. Talvez possamos chamar a este último passo de ‘princípio da
adequação’. Claro que é necessário que o investigador explique porquê e até que
ponto o conceito tardo-medieval de ‘significatio vocis’, por exemplo, pode ser
traduzido como ‘significado’, ou até que ponto a distinção saussuriana entre
‘sincronia’ e ‘diacronia’ pode ser aplicada a propostas teóricas anteriores, que têm a
ver com a relação entre a linguística ‘descritiva’ e ‘histórica’.

Como regra, o
historiógrafo da linguística deve alertar o leitor para o facto de as aproximações
terminológicas terem sido introduzidas por ele; por outras palavras, deve ser
explícito e preciso no que respeita àquilo que na realidade está a fazer.
Se, e somente se, estes três princípios, isto é, a contextualização histórica e
intelectual, a análise do texto no seu próprio quadro teórico (compare-se a tradição
alemã na história literária de ‘interpretação imanente’ ou werkimmanente
Interpretation) e uma descrição clara das ferramentas empregues na tentativa de
tornar o texto mais facilmente acessível ao linguista moderno, estão a ser
adequadamente tidos em conta, é que se pode esperar que distorções sérias das
ideias e intenções dos linguistas, dos filósofos da linguagem, ou dos gramáticos do
passado possam ser evitadas.
Propor ao historiógrafo da linguística os três princípios acima referidos não
implica que não possa haver outros interesses legítimos nas teorias do passado.
Por exemplo, não faço objeções a alguém interessado em estudar as obras dos
Modistae do período medieval, porque estes podem ter sido os primeiros a conferir
um estatuto teórico à gramática e porque “[...] their Speculative Grammar seems to
satisfy the modern request of explanatory adequacy” (Benedini 1988: 135), pelo
menos enquanto isto não é apresentado como história. Na verdade, fico aliviado
pelo facto de a autora assegurar que “the necessary methodological reserve is not
to identify the ancient definitions with modern ones but only to consider the
significant affinity underlying both definitions” (Benedini 1988: 135).

3.2 O argumento da ‘influência’
De entre as várias outras questões de natureza metodológica na historiografia
linguística, tais como aquelas que dizem respeito à inovação vs. continuidade,
evolução vs. revolução no estudo da linguagem (para estas questões ver Koerner
1987, 1989a cap. 6-8), há o problema eterno da ‘influência’, termo amplamente
usado e, frequentemente, de forma indiscriminada. Raramente é feita uma dis-
tinção entre um tipo de influência que diz respeito a experiências compartilhadas,

60 E.F.K. Koerner
educação e ao Zeitgeist geral, por um lado, e a influência direta que pode ser
documentada com base em referências explícitas, comparação de textos,
agradecimentos públicos, e assim por diante. A armadilha do uso descuidado do
argumento da ‘influência’ pode ser ilustrada pela referência a um número consi-
derável de relatos recentes (supostamente) históricos. Acontece, com demasiada
frequência na linguística moderna, que o proponente de uma análise fonológica ou
sintática tenha que reivindicar a originalidade a fim de ser notado; a seguir, os
detratores apontam para os antecedentes, factuais ou hipotéticos, numa tentativa de
invalidar tais reivindicações. Esta tendência penetrou na redação da história da
linguística, ainda que seja de se esperar que um historiador encontre mais
exemplos de evolução e continuidade do que de revolução e descontinuidade de
ideias através dos séculos, pontuados por mudanças de ênfase, incluindo movi-
mentos pendulares, às vezes causados pelo afluxo de fatores extralinguísticos, tais
como avanços na tecnologia, mas também acontecimentos sociopolíticos.
Deixando de lado os muitos exemplos bona fide em que um autor se refere
diretamente à obra de outros, criticando-o ou aprovando-o, e talvez alguns outros
menos óbvios, em que tais influências podem ser comprovadas através de análise
textual (e contextual), encontram-se muitas alegações de influência baseadas em
similaridades superficiais entre autores, em interpretações erróneas dos textos em
questão, ou em tentativas de reduzir a importância de uma figura maior na história
da teoria linguística. Isto tem acontecido frequentemente com as obras de
Humboldt e Saussure, ambos, sem dúvida, foram pensadores particularmente
originais. Deixando de lado as alegações de Hans Aarsleff (1982a: 335-355) de
que Humboldt estaria a dever muito mais a Condillac e aos Idéologues do que a
Kant e a Herder, uma posição que somente alguns consideraram válida (cf.
Koerner 1989a: 33-35), há pelo menos duas alegações frequentemente repetidas de
‘influência’ que têm persistido na literatura, apesar das provas em contrário,
nomeadamente, o assim chamado darwinismo de August Schleicher e a suposta
influência da sociologia durkheimiana em Saussure.
Schleicher é bem conhecido pelo seu argumento de que a linguística deveria
fazer parte das ciências naturais; e também por ter combinado as primeiras
correntes da linguística comparativa, histórica e tipológica de inícios do século
XIX para formar uma nova síntese da análise e reconstrução linguísticas,
avançando igualmente a sua metodologia (baseada na ideia da árvore genealógica
ou Stammbaum) e terminologia (p. ex., o uso de formas asteriscadas). Ambas têm
antecedentes na linguística, mas Schleicher foi o primeiro a extrair delas princípios
metodológicos. Quando leu uma tradução alemã da Origin of Species de Darwin,
em 1863, e observou, num ensaio do mesmo ano, que tinha visto as suas próprias
ideias sobre linguagem confirmadas pelas descobertas de Darwin, muitos
escritores subsequentes, sem ler o que Schleicher tinha frequentemente afirmado
anteriormente a 1863 (e sem dar-se conta de que já tinha publicado duas
Stammbäume indo-europeias já em 1853, por exemplo; seis anos antes da primeira
publicação da Origin of Species), interpretaram que Schleicher fora ‘influenciado’

Questões que persistem na historiografia linguística 61
no seu pensamento linguístico por Darwin (cf. Koerner 1989a: 35-37, entre
outros). A ideia de Schleicher como um linguista darwinista continua ainda hoje
uma ideia fixa em muitos manuais correntes, embora seja demonstradamente falsa.
Da mesma maneira, a caraterização da linguagem como um fait social, feita
por Saussure, tem sido tomada como um indicador de que ele desenvolveu o seu
conceito de langue sob a influência dos princípios sociológicos de Émile
Durkheim (1858-1917), embora, até ao presente momento, ninguém tenha
realmente fornecido uma prova convincente desta relação. Porém, o facto de eles
terem sido contemporâneos, ambos escritores de língua francesa, e expressarem
ideias compatíveis, parece ser suficientemente sugestivo para muitos reiterarem
esta sugestão, feita pela primeira vez no Second International Congress of
Linguists (Genebra 1931), isto apesar de ninguém menos do que Antoine Meillet,
aluno de Saussure durante os seus anos em Paris e o seu posterior correspondente
e amigo durante o período de Genebra, ter enfaticamente negado tal conexão
(como documentam as atas na pág. 147). Deve acrescentar-se que Meillet, por seu
lado, tinha colaborado com Durkheim a partir de 1901. Investigadores atuais,
entretanto, tendem a perpetuar o mito, apesar de o nome de Durkheim nunca ter
aparecido nos escritos de Saussure, publicados e inéditos, ao passo que Saussure
regularmente se refere ao trabalho de Whitney, onde quer que fale sobre a
linguagem como uma instituição social. Para um verdadeiro historiógrafo da
linguística, tal falta de cuidado com a prova disponível é inaceitável, onde quer
que estes argumentos sejam propostos. Talvez deva, como regra geral, ter em
consideração o famoso adágio de Roman Jakobson: “What is commonly accepted
as a fact is probably untrue” (para detalhes relativos às fontes sociológicas de
Saussure, veja-se Koerner 1989a: 37-40).
Diferentemente do Code Napoléon, na historiografia linguística, a procura da
paternidade não é proibida. Pelo contrário, é de se esperar que muitas ideias nos
tenham sido transmitidas pelos nossos antepassados e, se existe mudança e
inovação de facto, normalmente assume a forma da variação de temas, da seleção
dentro do conhecimento acumulado, e de desvios do clima intelectual que tendem
a induzir maneiras diferentes de encarar as coisas. Compete ao historiógrafo
detetar, analisar, e explicar estas mudanças, não ser iludido por reivindicações de
novidade, originalidade e criatividade, habitualmente feitas pela geração a seguir.

3.3 Outras considerações
Sem dúvida, ainda há outras questões de ordem metodológica – e mesmo
epistemológica – para a escrita da história da linguística. Talvez o facto de me ter
concentrado nos desenvolvimentos dos séculos XIX e XX me tenha tornado imune
a algumas delas. Mesmo assim, a nossa proximidade relativa a estes eventos
passados pode sugerir uma falsa segurança. Quando Herman Paul, por exemplo, na
segunda edição (1886) dos seus Prinzipien, afirma que ‘empírico’ e ‘histórico’ são
uma e mesma coisa, o historiador da linguística deve compreender que o
entendimento de ‘histórico’ de Paul era provavelmente bastante diferente do nosso.

62 E.F.K. Koerner
Da mesma maneira, o debate sobre ‘narratividade’ na historiografia linguística,
resumido em Schmitter (1992), é um assunto ao qual não me referi até agora. De
novo esta opção deve-se às minhas áreas de investigação e à escolha particular de
temas para tratamento histórico. Peter Schmitter tinha uma formação sólida em
filosofia e um grande interesse nos textos dos filósofos da linguagem (p. ex., Platão,
Humboldt) em detrimento dos textos dos linguistas; parece que estas tendências
metateóricas têm a sua fonte no seu Erkenntnisinteresse. Como os meus esforços
nas últimos quatro décadas, ou mais, mostraram, tenho tido maior interesse por
considerações de ordem prática ou metodológica, pelo desmascaramento de mitos e
pelo estabelecimento de um quadro teórico que deveria ajudar-nos a evitar as
armadilhas da investigação histórica que, frequentemente, é motivada por outros
interesses que não os de repor a verdade. Esta posição é assumidamente
‘positivista’, guiada mais pela inclinação de deixar os factos falarem por si mesmos
(tanto quanto eles podem ser reconstruídos) do que pela tendência de oferecer
especulações tentadoras. Se a história da linguística ainda se encontra num ‘estágio
descritivo’ (em vez de ter alcançado o ‘estágio teórico'), parece desejável manter os
pés no chão. Se esta atitude geral faz de mim um positivista, então, que seja.
Acontece que acredito (pace Mackert 1993) que alguns relatos históricos são mais
verdadeiros do que outros; o uso de dados históricos e de provas textuais para
estabelecer uma interpretação particular de um documento tem alguma validade e
não é simplesmente o resultado da fantasia de um historiador.
É muito interessante, se olharmos para o trabalho historiográfico empreendido
por aqueles que esposaram determinado tipo de abordagem – e isto inclui, por
exemplo, Schmitter (1993) – que as perspetivas epistemológicas e filosóficas
anunciadas nas suas afirmações introdutórias habitualmente parecem evaporar-se e
o resultado das suas investigações, de facto, acaba por tornar-se, frequentemente,
um trabalho historiográfico de um tipo bastante tradicional. Isto é válido tanto para
a história da linguística norte-americana de Stephen O. Murray (1994), inspirada
nas obras de Mullins sobre a formação de grupos nas ciências (p. ex., Mullins
1973, 1980), como para a de Randy Allen Harris (1993a), sobre a batalha entre os
semanticistas ‘interpretativistas’ e os ‘gerativistas’ durante meados dos anos 1960
até finais dos anos 1970, ainda que o autor tenha iniciado a sua investigação destas
lutas a partir do ponto de vista de um retórico. De facto, a atenção para o detalhe
no esforço de estabelecer os verdadeiros factos deste debate, nomeadamente no
livro de Harris, lembra o trabalho dos historicistas do século XIX, se ignorarmos o
facto de estes escritores modernos parecerem incapazes de manter os seus egos
fora das suas narrativas.

4 Conclusões: tarefas da historiografia linguística
Nos capítulos anteriores, ficou sugerido que ainda é preciso muito trabalho para
que se estabeleça uma historiografia linguística que conduza à adoção de um quadro
teórico de aceitação generalizada que oriente a investigação histórica num assunto
tão amplo como o estudo linguístico. Ao mesmo tempo, com a disponibilidade de

Questões que persistem na historiografia linguística 63
pelo menos cinco periódicos com peer review que são explicitamente devotados à
história da linguística, Historiographia Linguistica (Amsterdam 1973/1974-),
Histoire Epistemologie Langage (Paris 1979-), Beiträge zur Geschichte der Sprach-
wissenschaft (Münster, 1991-) Boletín de la Sociedad Española de Historiografía
(Espanha, publicada pela SEHL, 1998-) e, mais recentemente, Language and
History (Inglaterra, editada pela HSS, 2009-),
5
assim como encontros anuais das
várias sociedades regionais e internacionais que se seguiram à fundação da Société
d'Histoire et d'Epistemologie des Sciences du Langage, (S.H.E.S.L), em março de
1978 (em antecipação ao ICHoLS I), o estabelecimento da Henry Sweet Society for
the History of Linguistic Ideas (HSS), em Oxford, em inícios de 1984, e da North
American Association for the History of the Language Sciences (NAAHoLS), em
finais de 1987, e desde então vários outros agrupamentos na Europa e na América
Latina,
6
há toda a razão para acreditar que o nível académico na história da
linguística continuará a crescer e que os vários problemas e princípios na
historiografia linguística se tornarão uma parte e uma parcela do conhecimento geral
e da prática de investigação da maioria dos participantes deste empreendimento.
Ao mesmo tempo, acredito que tenha ficado claro a partir do que afirmei
anteriormente que não estou a pensar num sistema complexo de regras
epistemológicas, filosóficas, metodológicas, e, finalmente, práticas para a ativi-
dade historiográfica. Mais do que estabelecer um método que possa favorecer a
ideia enganadora de que tal quadro teórico possa ser aplicado rigorosamente a
todas as situações com as quais o historiador pode vir a ser confrontado, o meu
objetivo é muito mais modesto: o estabelecimento de uma lista de princípios
práticos e teóricos que sejam suficientemente amplos para encontrar larga
aceitação entre os historiógrafos da linguística, porque podem ser adaptados a
períodos diferentes da história das ciências da linguagem e a aspetos particulares
de investigação, sendo, no entanto, diretrizes que podem tornar a nossa inter-
pretação do passado mais transparente para colegas que não compartilhem
necessariamente da mesma formação, perícia e interesse.



5
Desnecessário será dizer que os historiógrafos da linguística deveriam empreender todos os esforços
para publicar o seu trabalho em periódicos gerais de linguística, pelo menos por duas razões:
primeira, para procurar conquistar o seu espaço em periódicos académicos bem estabelecidos e,
segunda, para garantir que a história da linguística não se venha a desenvolver como especialidade
fora do domínio da Linguística, mas permaneça como uma parte da educação profissional de todo
linguista sério.
6
[Observação da tradutora: por exemplo, o holandês Werkverband Geschiedenis van de Taallkunde,
fundado em Amsterdam em 1987 e, mais recentemente, a Societa di storia della filosofia di
linguaggio, em Roma, na primavera de 1994, a Sociedad española de historiografia linguistica,
criada em Valladolid em janeiro de 1995, com cerca de cinquenta membros iniciais e, acrescente-se,
fora da Europa, a Sociedade Mexicana de Historiografia Linguística, criada em 1999, além de outros
grupos de trabalho no Brasil e na Argentina.]

Linguística e filologia: o eterno debate
*




1 Observações introdutórias
Quando em 1981, os organizadores do Fifth International Conference on
Historical Linguistics decidiram promover um painel especial para a discussão
sobre filologia e linguística histórica (cf. Ahlqvist 1982: 394-459, com
contribuições de Henning Andersen, Lyle Campbell e muitos outros), a maioria de
nós pensava há muito que as relações entre ‘filologia’ e ‘linguística’, uma questão
controversa no estudo da linguagem há mais de 150 anos, tivesse sido colocado ad
acta. A batalha, pensava eu, tinha sido ganha pela ‘linguística’ por ser a disciplina
verdadeiramente científica das duas, pelo que só mentes mais fracas é que podiam
pensar em enveredar pelo outro campo chamado ‘filologia’. Voltar a tal questão
naquele momento era sinal de que alguma coisa na linguística tinha mudado,
sobretudo na linguística histórica. Ao mesmo tempo que repensávamos essas
relações, tomávamos consciência do facto de que o ressurgimento do interesse
pela questão estava ligado a certos avanços no campo da linguística diacrónica.
Não se tratava apenas de voltar às velhas controvérsias.
Para compreender melhor os avanços recentes, porém, especialmente nos países
anglo-saxónicos, é preciso saber algumas coisas sobre os antecedentes históricos da
relação tradicional entre ‘filologia’ e ‘linguística’, assim como os significados
associados aos termos, nas diversas etapas de desenvolvimento do estudo da
linguagem, enquanto ciência. A divulgação do painel de discussão nas três línguas
oficiais da associação deixou óbvio para mim que, enquanto as versões francesa e
alemã do termo inglês ‘historical linguistics’ (‘linguística histórica’), ‘linguistique
historique’ e ‘historische Sprachwissenschaft’, não pareciam problemáticas, os
equivalentes francês e alemão, sugeridos para o termo inglês ‘philology’,
tradicionalmente não abrangem a mesma matéria. Bloomfield (1933: 512, nota 2.1)
observou o seguinte – o que pode, aliás, ser considerado paradigmático da atitude
dos linguistas para com a filologia durante a maior parte do século XX:
The term philology, in British and in older American usage, is applied not
only to the study of culture (especially through literary documents), but also
to linguistics. It is important to distinguish between philology (German


*
[Observação sobre a tradução: a presente tradução, elaborada por Cristina Altman e Lineide do
Lago Salvador Mosca, foi elaborada com base numa versão abreviada de um trabalho apresentado na
Mesa Redonda sobre ‘Linguística e Filologia’, promovido pelo Grupo de Trabalho em ‘Historiografia
da Linguística Brasileira’ durante o XI Encontro Nacional da Anpoll (Associação Nacional de Pós-
Graduação em Letras e Linguística), realizado em João Pessoa, de 2-6 de junho de 1996. Em 1997,
foi publicada uma versão inglesa “Linguistics vs philology: Self-definition of a field or rhetorical
stance?” (Koerner 1997a), bem como o original da presente tradução portuguesa (Koerner 1997b). A
revisão e atualização do presente artigo foi levada a cabo por Teresa Moura e Rolf Kemmler.]

66 E.F.K. Koerner
Philologie, French philologie) and linguistics (German Sprachwissenschaft,
French linguistique), since the two studies have little in common.

Como sabemos, o significado original de ‘filologia’ nas três línguas era ‘amor
pelo estudo e pela literatura’, um sentido que parece ainda estar presente em todas
as culturas ocidentais. Tanto o francês como o alemão retiveram muito do sentido
original do termo, juntamente com um sentido mais especializado de ‘estudo dos
textos literários’. No entanto, em inglês, o termo ficou bastante associado ao
‘estudo histórico de textos’, uma vez que era tradicionalmente usado com o
sentido de ‘linguística histórico-comparativa’, o que, pelo menos nos países de
língua alemã, tinha acabado por ser designado ‘Sprachvergleichung’ (comparação
das línguas), e depois simplesmente ‘Sprachwissenschaft’, especialmente durante
o último quartel do século XIX até meados do século XX.
1

Nos capítulos que se seguem, tentarei esboçar parte das origens do debate
entre filologia e linguística. Ao mesmo tempo, procurarei apontar algumas das
razões de certas diferenças terminológicas nos usos das tradições anglo-saxónica e
continental europeia. Convém ter em mente que todas as disciplinas que
pretendem alcançar o estatuto de disciplina autónoma têm que desenvolver a sua
própria metalinguagem, as suas próprias ferramentas terminológicas, e que o
estudo da linguagem passou por fases de desenvolvimento paralelas àquelas que se
deram noutros campos (cf. Koerner 1980b).

2 Os inícios do século XIX
A linguística, do modo como viemos a entender hoje o seu objeto,
desenvolveu-se durante o século XIX. Não é fácil determinar o seu início, como
parece sugerir a maior parte dos manuais de história da linguística.
2
Mas se o
desenvolvimento de um certo número de termos técnicos serve de guia, podemos
localizar o seu surgimento na primeira década do século XIX. Em 1803, o termo
‘gramática comparativa’ (vergleichende Grammatik) foi usado pela primeira vez
por August Wilhelm Schlegel (1767-1845), provavelmente por analogia com o
termo ‘anatomia comparativa’. Por volta de 1808, o termo ‘Linguistik’ apareceu
como parte de um periódico efémero (mas provavelmente já tinha sido usado
anteriormente),
3
e vários anos antes de Thomas Young ter estabelecido o termo


1
Estudos de inclinação mais teórica ou filosófica e não exclusivamente voltados para o indo-europeu
agruparam-se sob o termo ‘linguística geral’ (allgemeine Sprachwissenschaft).
2
O início da linguística como ciência costuma normalmente estar associado à publicação do
Conjugationssystem de Bopp (1816), uma data que parece ter sido reforçada pela decisão de publicar
o Cours de Saussure exatamente 100 anos mais tarde (Lausanne; Paris: Payot, 1916 e não ‘Genève,
1915’ como às vezes ainda se encontra na literatura).
3
Não seria, porém, correto argumentar que a linguística não teria começado antes de 1808, o ano em
que o termo ‘Linguistik’ parece ter sido usado pela primeira vez no sentido de ‘ciências da linguagem’,
nomeadamente no título do volume único de um periódico intitulado Allgemeines Archiv für
Ethnographie und Linguistik (1808), editado pelo teólogo, bibliotecário e linguista Johann Severin Vater
(1771-1826), e pelo editor e filólogo Friedrich Justin Bertuch (1747-1822). No entanto, é de notar que o

Linguística e filologia: o eterno debate 67
‘indo-europeu’ (Indo-European) (1813), o composto ‘indo-germânico’ (indo-
germanique) já estava em uso (cf. Shapiro 1981), tendo sido introduzido em 1810
por Conrad Malte-Brun, o geógrafo de origem dinamarquesa. Outros termos e
conceitos foram desenvolvidos logo depois, mas os três mencionados são de
particular interesse para a presente discussão.
O estabelecimento de uma nova terminologia sugere o desejo de instituir um
novo campo de estudo, mas não significa necessariamente que estes neologismos
consigam de imediato transformar o campo numa disciplina autónoma. De facto,
foram necessários os esforços conjuntos de duas gerações de investigadores, para
que o estudo da linguagem se estabelecesse em terrenos firmes. Apesar de haver
indícios de que a primeira geração dos linguistas históricos ou histórico-
comparativos (Bopp, Rask, Grimm e outros, por exemplo) tivesse consciência de
que estavam a caminhar para outras direções que os afastavam de grande parte da
tradição filológica de orientação literária, não fizeram nenhuma tentativa para se
separarem dela abertamente. De facto, possivelmente ao ampliar o sentido habitual
do termo, consideravam-se como ‘filólogos’. Como consequência, embora o termo
Sprachwissenschaft tenha estado ao dispor desses estudiosos desde o início, não
parece que o tenham usado de uma forma significativa. Jacob Grimm, por sua
parte, dava-se por satisfeito em denominar o seu trabalho linguístico histórico neue
Philologie (nova filologia).
August Friedrich Pott (1802-1887), um antigo discípulo de Bopp e grande
admirador de Humboldt (que viveu tempo suficiente para ver esquecido o trabalho
da sua vida por duas gerações subsequentes de linguistas, primeiramente por
Curtius e Schleicher e, a seguir, pelos neogramáticos) não fez muito uso do termo
‘Sprachwissenschaft’. Em vez disso, usava expressões como ‘Sprachforschung’,
ou ‘Sprachkunde’, nos seus escritos (e ‘Sprachlehre’ para ‘gramática’). Parece que
Pott começou a usar o termo Sprachwissenschaft mais regularmente a partir de
meados dos anos 1840, depois de se ter associado entusiasticamente à Zeitschrift
für die Wissenschaft der Sprache de Albert Hoefer (1812-1883), que entre 1846-
1853 teve 4 volumes, sendo logo esquecida graças à Zeitschrift für vergleichende
Sprachforschung de Adalbert Kuhn (1812-1881), a partir de 1852, publicação que
existe ainda hoje.
4

Como Pott, Hoefer estava interessado em promover uma abordagem mais
geral e humboldtiana da linguagem, facto que não foi bem recebido pela maioria


termo já tinha aparecido vinte anos antes como composto, nomeadamente, na famosa resenha que
Christian Jacob Kraus (1753-1807) fez à obra Linguarum totius orbis vocabularia comparativa (1787)
de Peter Simon Pallas, e onde fala em várias ocasiões do estabelecimento de uma Universallinguistik
(Kraus 1787: cols. 27, 28). Podemos, por isso, assumir que o simples termo Linguistik na época já tenha
existido há algum tempo (cf. Moldenhauer, 1957 para usos anteriores do termo).
4
Desde o volume 100 (1988), a revista ficou rebatizada Historische Sprachforschung / Historical
Linguistics, o que significa um alargamento do escopo da revista, se não mesmo uma mudança de rumo
que a afasta da linguística tradicional histórico-comparativa de cariz indo-europeísta, possivelmente
mais em linha com a cobertura de Diachronica: International journal for historical linguistics (1984-).

68 E.F.K. Koerner
dos linguistas da segunda metade do século XIX, de orientação positivista mais
acentuada.
5
Parece que Hoefer se pronunciou em vão em favor de um tipo global
de ‘Sprachforschung’ quando explicou da seguinte maneira o objetivo e a filosofia
geral da sua Zeitschrift:
Es mag nicht überflüssig sein, ausdrücklich hinzuzufügen, dass uns
Forscher jeder Sprache willkommen sind, und dass wir uns so wenig auf die
neuere Wissenschaft der Sprachvergleichung b e s c h r ä n k e n werden, dass
wir, überzeugt von der Unzulänglichkeit einer ausschliesslichen Methode,
unsere Zeitschrift vielmehr als ein Organ zur Vermittelung und Versöhnung
der verschiedensten Richtungen anbieten (Hoefer 1846: 3).

Em virtude da sua posição a respeito das ‘correntes divergentes’ na ciência da
linguagem, não é de surpreender que o próprio Hoefer (1846: 3) se pronunciasse a
favor de uma colaboração entre os ‘classische Philologen’ (os ‘filólogos clássicos’) e
os ‘Indogermanisten’ (‘indo-europeístas’) no parágrafo subsequente ao seu editorial.
Procedendo desta forma, Hoefer alinhou-se com muitas das mais antigas autoridades
da disciplina, assim como com uma bastante mais jovem: Georg Curtius (1820-
1885). Curtius, ao perceber uma possível rota de colisão entre as abordagens
divergentes no estudo da linguagem, publicou uma monografia, em 1845, aos 25
anos, na qual tentou demonstrar a utilidade da ‘Sprachwissenschaft’ (isto é, da
gramática histórico-comparativa) para a filologia clássica. De facto, Curtius passou a
vida a procurar uma reconciliação entre os dois campos, conforme fica evidente a
partir das suas muitas afirmações programáticas, da publicação de gramáticas do
grego e do latim, da criação de revistas (por exemplo, os Studien zur griechischen
und lateinischen Grammatik Leipzig, 1868-1877), etc. Parece que a fidelidade de
Curtius à ‘filologia’, a abordagem mais tradicional acerca da linguagem, e a sua
filosofia geral da ciência linguística o distanciaram cada vez mais dos avanços da
linguística feitos durante as décadas de 1870 e 1880 (cf. Wilbur 1977, para uma
análise perspicaz e documentação da época em questão). Perto do fim da sua vida,
praticamente chegou a repudiar os seus antigos estudantes.
Contrariamente a Curtius, August Schleicher (1821-1868), o seu contem-
porâneo e amigo de longa data, assumiu uma posição muito diferente. De facto,
Arbuckle (1970: 18) considera Schleicher o responsável pela distinção ‘gratuita’
entre ‘linguística’ e ‘filologia’. Chegamos agora a meados do séc. XIX.
3 Meados do século XIX: Schleicher
Costuma ser geralmente consensual hoje em dia que Schleicher foi o mais
influente teórico da linguagem de meados do século XIX. De facto, há boas razões


5
A Internationale Zeitschrift für Allgemeine Sprachwissenschaft (1884-1890) de Friedrich Techmer
(1843-1891), publicada inicialmente em Leipzig e mais tarde em Heilbronn, reeditada com um
prefácio de E.F.K. Koerner (1973a), também não teve melhor destino. A seguir à sua morte, não
havia ninguém por perto para prosseguir e continuar a revista. Parece mesmo que a história se repetiu
quando observamos que outra revista de linguística geral (com uma ampla visão humboldtiana sobre
a linguagem), Lexis, dificilmente sobreviveu durante quatro volumes (1948-1952).

Linguística e filologia: o eterno debate 69
para crer que a doutrina dos neogramáticos é, em grande parte, pouco mais do que
a extensão dos ensinamentos de Schleicher (cf. Koerner 1981 para detalhes). De
1850 em diante (cf. Schleicher 1850a), Schleicher posicionou-se enfaticamente a
favor de uma nítida distinção (e divisão de trabalho) entre linguística (mais tarde
preferiu o termo ‘Glottik’
6
para se referir à ‘ciência linguística’) e ‘Philologie’.
Para Schleicher, a ‘Philologie’ é uma ‘disciplina histórica’ que considera a
linguagem como um meio para investigar o pensamento e a vida cultural de um
povo. Por contraste, a ‘Linguistik’ – e parece que o termo aqui é usado de maneira
bastante forte, se não mesmo polémica – é um campo que se ocupa da ‘história
natural do homem’. De facto, a linguística (no modo schleicheriano de compre-
ender a disciplina) é uma ciência natural por duas razões: porque o seu objeto de
investigação é acessível à observação direta e porque a linguagem está fora do
domínio da livre vontade do indivíduo. Na visão de Schleicher, a linguagem está
sujeita a leis naturais, inalteráveis (daí: Lautgesetze). Admite que isto se aplica
especialmente à ‘Formenlehre’ (Schleicher introduziu o termo ‘Morphologie’ na
nomenclatura linguística apenas em 1859), e muito menos ao domínio da sintaxe e,
menos ainda, no que se refere à estilística (Schleicher 1850b: 4).
Ao passo que ‘Philologie’ tem que ver com “Kritik”, com interpretações
individuais de textos (predominantemente) históricos, ‘Linguistik’ (observe-se que
Schleicher não usa o termo muito mais comum ‘Sprachwissenschaft’) atinge a sua
plenitude quando tem que lidar com línguas tais como as línguas ameríndias, que
não têm tradição escrita. Schleicher concorda que o linguista, especialmente no
que concerne às línguas clássicas que já não são faladas, necessita às vezes da
filologia como disciplina auxiliar e que também a filologia requer informação
linguística de vez em quando. Entretanto, trata-se fundamentalmente de dois
objetos distintos de investigação, na medida em que um linguista não precisa,
afinal, ser filólogo. Em oposição ao filólogo, que poderia trabalhar com base no
conhecimento de uma única língua (por exemplo, o grego), um linguista, na visão
de Schleicher (1850b: 4), precisa de conhecer muitas línguas, na medida em que a
‘Linguistik’ se torna sinónimo de ‘Sprachvergleichung” (Schleicher 1850b: 5).
Fica claro a partir do capítulo introdutório do seu livro de 1850, “Linguistik
und Philologie”, que Schleicher tinha uma intenção polémica por trás da sua
argumentação: estava preocupado em estabelecer a linguística como uma disciplina
autónoma e não simplesmente como um apêndice da filologia clássica, da literatura
ou do estudo do sânscrito (que tradicionalmente estava mais ligado à filosofia,


6
‘Glottik’, sendo (ao contrário de ‘Linguistik’) inteiramente derivado do grego e de estrutura
similar a ‘Botanik’, ‘Physik’ e 'Mathematik’, naturalmente era bastante mais atraente para
Schleicher do que qualquer outro termo, incluindo o de ‘Sprachwissenschaft’. No entanto, é
interessante que o termo de Schleicher ainda estivesse bem vivo na linguística brasileira durante os
anos 1950. Assim, por exemplo, o Dicionário de fatos gramaticais (1956) de Joaquim Mattoso
Câmara Jr. (1904-1970), publicado a partir de 1964 sob o título Dicionário de filologia e
gramática: referente à língua portuguêsa oferece Glótica e Glotologia como ‘termos equivalentes’
a Linguística (Mattoso Câmara: 1964: 216).

70 E.F.K. Koerner
teologia e cultura geral do que ao estudo da língua per se). Nos seus escritos sub-
sequentes, Schleicher continuou a enfatizar a dicotomia entre ‘filologia’ e ‘linguís-
tica’ e a ciência linguística; a partir de então, procurou sempre deixar clara tal
distinção (cf. a citação de Bloomfield atrás mencionada como um exemplo típico).

4 A linguística depois de Schleicher
Pelo menos no que diz respeito ao método linguístico histórico-comparativo,
permanecemos dentro do quadro teórico que foi amplamente estabelecido por
Schleicher. Foi em grande parte devido ao seu trabalho que a ‘ciência linguística’
(termo que se tornou popular no mundo anglo-saxónico através de Max Müller, nos
anos 1860) se tornou uma disciplina profissionalizada logo após a sua morte, tendo
sido criadas cátedras nos ramos individuais da família linguística indo-europeia em
muitas universidades da Europa Central (por exemplo, a cátedra de línguas eslavas
em Leipzig, em 1870, tendo August Leskien como primeiro catedrático;
7
a cátedra
de línguas germânicas em Jena, em 1876, de Eduard Sievers, etc.).
8
A influência de
Schleicher pode também ser percebida no modo como as gerações posteriores de
linguistas encararam a filologia em contraste com a linguística.
Parece-nos, por isso, estranho que Berthold Delbrück, na sua Einleitung in
das Sprachstudium (1880; Delbrück 1882: 55), tenha apresentado Schleicher
como sendo, ‘na essência do seu ser’, um filólogo, já que trinta anos antes fora o
próprio Schleicher (e mais ninguém) que contrastara claramente o seu trabalho do
dos filólogos (clássicos). Contudo, se lembrarmos a ‘atitude eclipsante’ que
assumiram os ‘jovens turcos’ na Universidade de Leipzig e noutras partes da
Alemanha face à geração precedente de meados dos anos 1870 até meados da
década de 1880, não ficaremos tão surpreendidos pelo facto de Delbrück (1842-
1922) ter distorcido os factos para que se adequassem à sua argumentação, ou seja,
de que a ‘junggrammatische Richtung representava muito mais ‘rumos novos’
(Delbrück 1882: 55) do que uma continuação da investigação segundo linhas já
estabelecidas. Já em 1885, quando era óbvio que estava perdida a ‘guerra das
monografias’,
9
travada por Curtius e outros estudiosos da sua geração, Karl
Brugmann (1849-1919) assumiu uma postura divergente.
No seu discurso inaugural como primeiro professor catedrático de
‘vergleichende Sprachwissenschaft’ na Universidade de Freiburg, intitulada
“Sprachwissenschaft und Philologie”, Brugmann (1885: 1-41) apresentou a sua


7
Talvez devesse ser lembrado que Leskien (1840-1916), reputado como o líder dos
Junggrammatiker, foi um antigo discípulo de Schleicher, tal como o eram Hugo Schuchardt (1842-
1927), Johannes Schmidt (1843-1901) e Jan Baudouin de Courtenay (1845-1929).
8
Aquelas cátedras eram então (e frequentemente ainda continuam a sê-lo hoje) chamadas
‘Lehrstuhl für slavische Philologie’, ‘Lehrstuhl für deutsche Philologie’, etc.
9
[Nota das tradutoras: a expressão ‘guerra das monografias’, de Kurt Jankowsky, refere-se aos livros
e panfletos mutuamente críticos que circularam entre os neogramáticos e os seus oponentes durante o
conturbado ano de 1885.]

Linguística e filologia: o eterno debate 71
opinião segundo a qual os dois campos são complementares e não opostos
(Brugmann 1885: 7 ss.). De facto, chegou ao ponto de afirmar que:
In der That hat denn auch noch niemand eine begriffliche Grenze zwischen
Linguistik und Philologie zu ziehen gewusst, deren Unhaltbarkeit sich nicht
leicht darthun liesse. [...]. Nicht in den Sachen liegt eine Discrepanz, erst der
Mensch, der einseitig urtheilende, trägt sie hinein (Brugmann 1885: 17).
10

O autor oferece uma explicação histórica para o facto de se ter estabelecido
uma distinção entre as duas áreas de investigação, nomeadamente, esta deveria ser
explicada “[...] aus dem Entwicklungsgange, den die wissenschaftliche Forschung
genommen hat [...]” (Brugmann 1885: 17). Por outras palavras, entendia que tinha
sido importante em determinado momento do desenvolvimento da ciência
linguística traçar tal distinção (provavelmente para afirmar a sua identidade). Em
1885, Brugmann não sente nenhuma necessidade de manter a separação dos dois
campos, mas faz um apelo a favor da sua íntima colaboração. Nesta altura,
contudo, a linguística já se tinha tornado uma disciplina autónoma e não tinha
necessidade de se defender de intromissões de campos vizinhos. Como resultado,
encontramos poucas discussões acerca das relações entre filologia e linguística a
partir dessa época, até aos últimos anos da década de 1960, quando novas batalhas
foram travadas na linguística.

5 Variantes modernas do debate entre filologia e linguística
Como podemos inferir da citação de Bloomfield no início do presente artigo,
a relação entre filologia e linguística passou a ser uma ‘não questão’ na ciência
linguística (observe-se que a citação foi retirada de uma nota de rodapé, não de
uma afirmação geral do corpo do texto). De facto, dado o rumo que tomou a
linguística depois do surgimento do Cours de linguistique générale de Saussure e
a posição de destaque que a ‘linguistique sinchronique’ passou a ocupar no
trabalho de muitas escolas do pensamento linguístico de 1920 em diante, o debate
centralizou-se logo em torno da relação entre a linguística ‘tradicional’, isto é,
‘histórico-comparativa’ (indo-europeia), ou ‘diacrónica’ em termos saussurianos, e
uma linguística ‘sincrónica’, ‘descritiva’, ou ‘estrutural’, uma abordagem na
análise linguística que se abstrai do fator temporal e encara uma dada língua como
uma rede de relações sistemáticas entre as partes que constituem o todo. Muitos
países, especialmente aqueles com uma longa tradição de estudo na linguística
histórico-comparativa indo-europeia, como os de língua alemã ou a Itália (mas
nalguma medida também a França e outros países), não aceitaram com entusiasmo
a ‘linguística sincrónica’ antes de meados da década de 1960, uma época em que
uma então nova geração de linguistas norte-americanos distinguia o seu campo de
trabalho do dos seus predecessores como sendo ‘meramente estruturalista’


10
[De facto, até agora ninguém foi capaz de traçar uma linha conceptual entre a linguística e a
filologia, cuja insustentabilidade não se poderia demonstrar com facilidade. [...]. A discrepância não
se encontra nas coisas, só o ser humano, que julga unilateralmente, é que a introduz.]

72 E.F.K. Koerner
‘taxonómico’, ou pior, ‘desinteressante’. A sua abordagem de análise linguística
(igualmente a-histórica) foi chamada ‘transformacional’ e – para enfatizar o que se
alegava ser uma componente ‘criativa’ da linguagem – ‘gerativa’, embora seja
evidente que o seu trabalho pode ser igualmente bem descrito como ‘estrutural’
(com algumas exceções bastante reduzidas, o interesse dos gramáticos gerativo-
transformacionais na linguística histórica manteve-se bastante marginal, apesar
das repetidas afirmações de Chomsky de que teria derivado a sua inspiração para
as regras transformacionais da linguística histórica).
Como resultado da tentativa visivelmente polémica da geração mais jovem da
linguística estruturalista de separar as suas contribuições das dos seus
predecessores imediatos – um fenómeno que encontramos mais bem ilustrado pela
batalha dos Junggrammatiker contra os seus professores, especialmente Curtius e
Schleicher, há mais de cem anos – parece que certos linguistas (alguns deles com
inclinações filológicas) sentiram que a relação entre ‘linguística’ e ‘filologia’
deveria ser debatida novamente.
Enquanto Arbuckle (1970) considerou a distinção ‘gratuita’, outros autores
tiveram uma visão bastante diferente da questão. Jankowsky (1973), sob a
influência do tradicional sentido anglo-saxónico de ‘filologia’, sugere uma
distinção tripartida entre, nomeadamente, ‘Philologie’, ‘Linguistik’ e
‘Literaturwissenschaft’. Esta divisão separa a literatura da filologia, que
frequentemente concorrem nos países de língua alemã em que o termo ‘filologia’
representa ‘filologia clássica’ ou ‘língua e literatura de uma determinada língua’.
Anttila (1973), sendo antes de mais um estudioso de linguística histórica
(embora nunca tenha negligenciado questões teóricas gerais), procura conciliar a
dicotomia tradicional ao reivindicar uma orientação filológica mais forte da linguís-
tica. Afinal, os linguistas deveriam conhecer línguas – e não unicamente (e muitas
vezes imperfeitamente) a sua língua materna. No mesmo volume em que se publi-
cou a contribuição de Anttila, porém, os editores Bartsch e Vennemann propuseram
uma dicotomia bastante diferente, e aqui regressamos ao tipo de argumentação
polémica, semelhante à que encontramos pela primeira vez em Schleicher (1850a),
se bem que agora numa situação diferente no desenvolvimento da linguística.
Bartsch / Vennemann (1973) usam os dois termos coexistentes (geralmente
sinónimos) do alemão ‘Linguistik’ e ‘Sprachwissenschaft’ para sustentar o seu argu-
mento a favor da seguinte ‘new speak’: enquanto ‘Sprachwissenschaft’ seria o termo
geral (incluindo tanto a investigação sincrónica como a diacrónica), ‘Linguistik’
deveria representar a parte essencialmente teórica das ciências da linguagem.
Esta não foi uma proposta isolada mas a expressão de uma ‘nova fé’ da parte
de vários outros linguistas da mesma geração que sentiam necessidade de distinguir
o seu trabalho do dos seus predecessores e de colegas que porventura pensassem de
forma diferente. ‘Sprachwissenschaft’, nos países de língua alemã, (assim como
‘glottologia’ em Itália, por exemplo) acabou por significar uma perspetiva de
estudo considerada antiquada, incompatível com as modernas ‘descobertas’ sobre a
natureza da linguagem. Já ‘Linguistik’ (em italiano: ‘linguistica’) – geralmente

Linguística e filologia: o eterno debate 73
equacionada com ‘teoria linguística’ na linguística mainstream – sugere as
aquisições científicas mais recentes da nova geração no estudo da linguagem.
11

Hildebrandt (1975) é só mais um exemplo da polémica entre ‘linguística’ (‘Sprach-
wissenschaft’) e a ‘linguística moderna’ (‘Linguistik’), que era bastante típica da
década de 1970, tanto na América do Norte como na Europa.
Deixando de lado as fortes polémicas em certas áreas, outras vozes no debate
consideram que as controvérsias estruturalistas / transformacionalistas, e outras
com elas relacionadas, pouco mais fizeram do que disfarçar questões mais
fundamentais, tais como a relação (redefinida) entre ‘linguística’ e ‘filologia’ (cf.
Hofmann 1973) e a medida em que a linguística pode tirar benefício do trabalho
filológico (cf. Anttila 1973).

6 Observações conclusivas
Do diálogo entre os investigadores que participaram do painel sobre
‘Filologia e Linguística Histórica’ em Galway (Irlanda) em 1981, ficou claro que
havia um consenso geral sobre as vantagens de se estar familiarizado com a
prática filológica quando se está interessado em questões que dizem respeito à
mudança linguística. De facto, sem uma boa base filológica, adequadamente
adquirida, uma pesquisa neste campo não representa um avanço de conhecimento.
A preocupação contínua dos gerativistas com a teoria – em detrimento de um
saudável respeito por dados – explica porque contribuíram tão pouco para “[...] an
inquiry into the mechanism and causes of the still puzzling phenomenon of
language change [...]” (Chomsky / Halle 1966: X) desde o momento em que
Chomsky e Halle anunciaram pela primeira vez este desideratum no seu prefácio
em conjunto à Cartesian Linguistics, em 1966 (a prática filológica, na medida em
que não se reporta à língua mas à análise de textos para fins literários ou não
linguísticos, é, com certeza, uma questão diferente, que não nos diz respeito aqui).
No entanto, parece que a questão ainda não está morta, e talvez nunca o esteja.
Como nos lembrou recentemente Richard Hogg, haverá formas diferentes de dividir
o território, e estudiosos diferentes poderão assumir posições diferentes nas ciências
da linguagem. Para Hogg (1994: 3), é claro que a diferença crucial entre os dois é
que “[...] a linguistic approach is theory-oriented, whilst a philological approach is
data-oriented” e, como demonstra na sua análise de diferentes abordagens ao inglês
antigo, as deficiências podem ser encontradas entre os expoentes de ambas as
posições. Podemos, portanto, concluir que a linguística, nomeadamente a linguística
histórica, poderia realmente lucrar com a gegenseitige Erhellung der Gegenstände, a
iluminação recíproca dos objetos de investigação. Então, conquanto duvide que
muitos sigam a caraterização dos dois campos nestes termos 'fáceis' de Hogg, não
vejo (pace Jäger 1987) que a sua relação tenha que ser problemática.



11
Não deixa de ser interessante do ponto de vista dos filólogos que a linguística ou glotologia
podia ser encarada como “[...] uma ciência puramente especulativa [...]” em contraste com a
filologia bastante mais ‘prática' (Melo 1951: 24-25).

O problema da metalinguagem na historiografia linguística
*




[...] toute langue est une méthode analytique, et toute
méthode analytique est une langue.
Condillac (1949: 149)

1 Introdução
Desde que a história da linguística se tornou um genuíno tema de investigação
académica, as questões de metodologia têm recebido alguma atenção nos últimos
anos (p. ex., Grotsch 1982; Schmitter 1982, 1987; Christmann 1987), embora não
tanto quanto fosse desejável. Uma das questões na historiografia linguística que
tende a ser varrida para debaixo do tapete pertence ao que eu chamaria de ‘a questão
da metalinguagem’ (cf. as contribuições para questões específicas em Auroux 1979
e Baratin / Desbordes 1982), que, mesmo nos limites do campo da linguística, não é
um assunto tão frequentemente tratado como era de se esperar (cf. Hsieh 1980,
Harweg 1981; Dillinger 1983 e Lara 1989 para notáveis exceções). Na verdade,
parece que os linguistas tenderam a deixar o problema para ser resolvido pelos
filósofos da linguagem ordinária (p. ex., Tarski 1956; Carnap 1958).
O termo ‘metalanguage’
1
em si, pelo menos no campo da linguística, é de
colheita positivamente recente. Historicamente, teve origem na discussão, entre
filósofos e matemáticos, acerca da possibilidade de provar as propostas
formuladas por Alfred North Whitehead (1861-1947) e Bertrand Russell (1872-
1970), no seu monumental Principia mathematica (1910-1913). Assim, o lógico
austríaco Kurt Gödel (1906-1978) mostrou, num artigo publicado em 1931, que
qualquer sistema lógico formal, como aquele desenvolvido nos Principia
mathematica, deve conter proposições que não podem ser provadas nos limites
daquele sistema (Gödel 1931: 182ss.). Como resultado, seria necessário um
sistema de ordem superior para estabelecer a validade ou ‘verdade’ de tais
proposições. Dada tal condição para os sistemas formalizados, talvez não seja
surpreendente descobrir, entre os especialistas que trataram das regras gramaticais
altamente estruturadas e dos conceitos lógicos encontrados na literatura sânscrita


*
[Observação sobre a tradução: tendo o artigo “The Problem of 'Metalanguage' in Linguistic
Historiography” anteriormente sido publicado em língua inglesa (Koerner 1993), a tradução
portuguesa como versão revista “O problema da metalinguagem em Historiografia da Linguística”
foi publicada como Koerner (1996a). A tradução foi feita por Cristina Altman (USP, São Paulo),
sendo a revisão da tradução do alemão e do inglês feita pelo próprio autor; a revisão final da versão
brasileira do texto e as traduções do latim devem-se ao Prof. Miguel Salles. Os agradecimentos da
tradutora vão para Luciana Cunha, do Grupo de Estudos em Historiografia da Linguística da
Universidade de São Paulo pelo paciente trabalho de revisão da digitação e das normas de
publicação. A revisão e atualização do presente artigo foi levada a cabo por Sónia Coelho.]
1
[Observação dos revisores: de aqui em diante será utilizado o equivalente português
‘metalinguagem’ para todas as ocorrências do termo inglês ‘metalanguage’.]

76 E.F.K. Koerner
clássica e sintetizados no trabalho de Pāṇini (V séc. a.C.), tais como Scharfe
(1961: 25) e Staal (1961: 123), os primeiros linguistas a usarem o termo e, ao que
parece, independentemente (em 1971, Scharfe dedicou uma monografia inteira à
metalinguagem de Pāṇini; cf. também Staal 1975). Mais recentemente, historió-
grafos da linguística árabe clássica também dirigiram a sua atenção para as
questões de metalinguagem (p. ex., Larcher 1988; Ryding 1992).
Quando trata de determinado assunto no âmbito da história da linguística, o
historiógrafo não pode fugir à questão, especialmente quando, ao discutir teorias
de períodos passados, estiver ao mesmo tempo a tentar torná-las acessíveis ao
leitor do presente e a tentar não distorcer a intenção e significado originais. A
menos que o único objetivo do historiógrafo seja colecionar antiguidades, isto é,
descrever conceitos desenvolvidos há muitos anos atrás unicamente nos próprios
termos utilizados, ele será tentado a usar um vocabulário técnico moderno na sua
análise. Este procedimento, entretanto, tem levado a inúmeras sérias distorções na
historiografia linguística e qualquer historiógrafo perspicaz deve perceber as
armadilhas e voltar-se para a questão da ‘metalinguagem’, isto é, a linguagem
empregue para descrever ideias passadas sobre linguagem e linguística. Embora
não exista uma solução fácil para o problema – de uma maneira geral, não se pode
esperar que o historiógrafo fuja completamente ao presente e ainda tenha uma
audiência garantida –, é importante que ele considere a forma como aborda o
assunto. Este artigo apresenta vários exemplos de como historiógrafos da
linguística falharam ao lidar com o problema e, como resultado, forneceram
avaliações desadequadas acerca de teorias do passado.

1.1 O termo ‘metalinguagem’ (polaco: metajęzyk) parece ter sido proposto
pela primeira vez pelo lógico e filósofo polaco Stanisław Leśniewski (1886-1939),
embora se possa dizer que a ideia já circulava no pensamento linguístico ocidental
pelo menos desde Sextus Empiricus (séc. II d.C.), que fez a distinção entre
diferentes níveis de linguagem, a fim de eliminar sofismas. O termo foi retomado
pelo aluno de Leśniewski, Alfred Tarski (1902-1983), ocorrendo pela primeira vez
num texto apresentado em 21 de março de 1931, na Sociedade Científica de
Varsóvia (Tarski 1931).
2
O texto foi publicado como monografia dois anos mais
tarde (Tarski 1933), mas não se tornou amplamente acessível até 1935, altura em
que uma versão alemã, significativamente revista, foi publicada (Tarski 1935). Em
1956, surgiu uma tradução inglesa. Como resultado, atribui-se frequentemente a
Tarski a primazia pelo uso do termo, ainda que em nenhum lugar dos seus escritos
esteja indicado que ele o tenha efetivamente cunhado, embora use ‘metateoria’
(1956: 167, 210, 251) e ‘metadisciplina’ (Tarski 1956: 280) nas mesmas passagens
em que ‘metalinguagem’ é empregue (Tarski 1956: 167). Mesmo que não forneça


2
De acordo com Lara (1989: 387), presume-se que o conceito e o termo Metasprache foi criado pelo
matemático alemão David Hilbert (1862-1943) em 1934. É, entretanto, óbvio, pelo contexto em que a
ideia de metalinguagem emergiu, que Tarski estava a par das discussões entre os matemáticos e
lógicos na Alemanha e na Áustria da época.

O problema da metalinguagem na historiografia linguística 77
uma definição formal do termo, fica claro pelo seu artigo (dedicado a “The
Concept of Truth in Formalized Languages”) que Tarski está a pensar num tipo
mais técnico, mais coerente e mais abstrato de linguagem do que aquele a que nós
frequentemente nos referimos (embora de forma não bastante satisfatória)
3
como
‘linguagem natural’. Tarski, seguindo o ‘método axiomático’ de David Hilbert
(1862-1943) para a matemática, lógica e ciências naturais, entendeu que
[...] we must always distinguish clearly between the language about which
we speak and the language in which we speak, as well as between the science
which is the object of our investigation and the science in which the
investigation is carried out (Tarski 1956: 167).
Nesta citação de Tarski, já está sugerido o termo complementar que Rudolf
Carnap (1891-1970) – que usou ‘metalinguagem’ pelo menos já em 1942 no seu
Introduction to Semantics (cf. Carnap 1942: 3-4) – e outros começaram a usar nos
anos 1930 e 1940, isto é, o termo ‘Objektsprache’ ou ‘linguagem-objeto’ (cf.
Kubczak 1975: 315ss., para uma discussão detalhada), que nós poderíamos
chamar de ‘o objeto da investigação’. Na linguística, este objeto normalmente
seria uma língua, um aspeto particular ou uma parte de um sistema linguístico,
etc., embora também possamos analisar uma linguagem formalizada, tal como é a
usada em matemática, em que os objetos são números, classes, configurações
geométricas, etc. (cf. Staal 1975: 316). O historiógrafo da linguística, que lida com
teorias do passado, pode ser obrigado, num sentido estrito, a estabelecer uma
metalinguagem para decidir acerca da validade ou adequação de uma teoria
determinada. Entretanto, tal nível de abstração não é usualmente necessário, já que
a sua tarefa é descrever e explicar tais teorias, não validá-las.

1.2 Na linguística, investigadores de orientação teórica notaram que o uso de
uma língua ‘natural’, normal, para descrever e analisar línguas ‘naturais’ pode
acarretar o perigo de uma subtil confusão entre estes dois níveis, o da ‘linguagem-
objeto’ e o da ‘metalinguagem’ (cf. Kubczak 1975: 318ss.). Em 1978, a lexicóloga
francesa Josette Rey-Debove dedicou uma monografia inteira ao problema da
metalinguagem em que mostrou que a proposta de Tarski, Carnap e outros, segundo
a qual a ‘metalinguagem’ deveria ser ‘mais rica’ do que (e realmente abranger) a
‘linguagem-objeto’, não pode ser razoavelmente aplicada a um assunto como a
linguística, dada a riqueza de qualquer língua natural. Assim, podemos concluir que
o conceito de ‘metalinguagem’ muda a sua natureza ao transferir-se da lógica para a
linguística, como tem sido o caso de muitos outros exemplos na historiografia da
linguística. Note-se a génese de conceitos tais como ‘lei’, ‘análise’ ‘assimilação’,
‘morfologia’ e muitos outros que os linguistas tomaram emprestados das ciências
naturais, durante o século passado (para mais detalhes, cf. Koerner 1993a).


3
Louis Hjelmslev (1899-1965), um dos linguistas do século XX de maior inclinação teórica, sugeriu
o termo ‘linguagens chave-mestra’ (‘pass-key languages’) em contraposição a ‘linguagens restritas’
(‘restricted languages’), em 1947 (cf. Hjelmslev 1973: 122).

78 E.F.K. Koerner
Aqueles que se dedicaram a escrever a história das teorias linguísticas não
podem escapar às dificuldades de aplicação adequada do conceito de
metalinguagem. Ao contrário, um historiógrafo que não deseja escrever para fins
antiquários, mas para servir aos interesses do linguista praticante, pode encontrar-
se numa encruzilhada. Por um lado, espera-se que torne o seu assunto relevante
para o cientista ‘normal’, o que implica encontrar os meios para apresentar teorias
‘obsoletas’, de modo a facilitar o seu acesso ao linguista moderno. Por outro lado,
como historiógrafo, espera-se que apresente teorias anteriores do campo, inseridas
no clima intelectual do período em que foram formuladas e se desenvolveram.
Por outras palavras, o historiógrafo da linguística parece viver um dilema: ou
reapresenta descobertas anteriores numa terminologia atual, à luz das conceções e
dos interesses de investigação atuais (cf. Stocking 1965), correndo o risco de
distorcer teorias linguísticas do passado, a ponto de, para citar Zellig S. Harris
(1909-1992), “One wonders at such an odd activity as attacking the past for not
being the present” (Harris 1973: 254); ou, inversamente, engaja-se, na análise
final, numa atividade meramente positivista que, por causa de um historicismo
excessivo, traz pouco resultado e pode custar à historiografia linguística o lugar
recentemente conquistado entre as ciências da linguagem. Parece-me que pelo
menos uma parte do sucesso ou fracasso do historiógrafo da linguística depende
de como lida com o problema da ‘metalinguagem’, isto é, da maneira através da
qual empreende a descrição e apresentação de teorias da linguagem do passado
aos investigadores do campo no presente.

1.3 O presente artigo apresenta três exemplos de como investigadores da
atualidade foram vítimas da sua visão atual e investigação especializada, na
medida em que tenderam a distorcer as suas análises das ideias do passado no
estudo da linguagem. Refiro-me, nas secções seguintes, a teorias relacionadas com
o período medieval,
4
mas tenho certeza que todos poderiam citar exemplos mais
próximos das preocupações do século XX. Talvez devesse deixar claro que estou a
pensar especialmente no vocabulário técnico aplicado na descrição de teorias do
passado e que quero significar ‘linguagem terminológica’ quando estiver a falar de
‘metalinguagem’, e não o que Rey-Debove chama (1978: 9ss.), provavelmente ao
referir-se à proposta expressa por Jakobson (1976) e outros, ‘metalinguagem
natural’, isto é, um uso irrefletido da linguagem com função comunicativa. Ao
invés disto, adoto ‘metalinguagem’ de acordo com o conceito de Rey-Debove de
‘metalinguagem formalizada’ ou ‘linguagem científica’.


4
Uma parte significativa do presente artigo refere-se a uma apresentação feita na International
Conference on Medieval Grammar, organizada por James J. Murphy, na Universidade de California,
Davis, de 19 a 20 de fevereiro de 1976 – daí a preponderância de exemplos do período medieval. Os
textos desta conferência permanecem inéditos.

O problema da metalinguagem na historiografia linguística 79
2 Ilustração de armadilhas no manejo da ‘metalinguagem’
Em anos recentes, muitos de nós testemunhámos sérias distorções na
apresentação de épocas passadas no estudo da linguagem, por exemplo: o retrato de
Humboldt como um racionalista cartesiano feito por (1966), a caraterização dos
Modistas do período tardo-medieval como ‘pré-pré-cartesianos’ feita por Salus
(1969), ou a interpretação que Tanner (1970) faz de Aristóteles, nada menos como
a de um estruturalista. Com as incursões de Chomsky na historiografia linguística a
abrir caminho para seguidores pouco críticos, talvez não seja nada surpreendente
que se tenha instaurado a atividade de reescrever a história das teorias pré-
transformacionalistas (p. ex. Gardner 1973). De facto, há exemplos marcantes de
historiografias ‘em proveito próprio’,
5
se não mesmo de hagiografia, referentes ao
assim chamado ‘paradigma gerativo-transformacional’ (p. ex. Newmeyer 1980).
Entretanto, não estou aqui preocupado com estudos que não fizeram uma
séria tentativa de entender períodos anteriores na história da linguística. Será fácil
para investigadores bem informados refutar as suas, por vezes, abusivas pretensões
de ‘originalidade’, ‘descontinuidade’, ou ‘revolução’. Estou interessado é nos
estudos, sérios na intenção, em que investigadores foram induzidos em erro pela
desatenção ao significado específico de conceitos e termos particulares e
sucumbiram à tentação de ler conceitos e noções contemporâneos em textos
anteriores, um perigo subtil que George Mounin (1910-1992) caraterizou da
seguinte maneira:

Il est difficile en effet, quand on relit aujourd’hui la linguistique du passé,
d’échapper à l’éclairage que les connaissances actuelles projettent à renvers sur
les formulations d’autrefois; difficile de résister à cette impression saisissante
des vieux textes apparaissant comme “prémonitoires”, difficile de combattre le
sentiment qu’on aperçoit partout des précurseurs (Mounin 1959: 8).

No que se segue, ilustrarei com exemplos, como eminentes investigadores
foram traídos pelo tipo de formação que tiveram e pelos seus próprios interesses e
tentarei sugerir meios pelos quais o historiógrafo da linguística pode evitar tais
armadilhas.

2.1 Em 1958, Hans-Georg Koll publicou um estudo dedicado ao campo
semântico de ‘língua’ e ‘linguagem’ no período medieval, incluindo a sua ‘pré-
história’, em Latim. O autor de uma resenha observou justamente que talvez fosse
“unwise [...] to use these Saussurean distinctions of reference for earlier usage at
some points [...], since Saussure was formulating a theory of language rather than
observing French usage” (Spence 1959: 159).
De facto, parece que Koll foi
influenciado na sua compreensão da forma latina lingua pelo uso do termo ‘langue’


5
[Nota da tradutora: ‘Whig-history’, no original, no sentido de uma historiografia pro domo, em que
o historiógrafo faz uma história ufanista da teoria/tradição em que trabalha como linguista, ou da
teoria/tradição que lhe interessa promover.]

80 E.F.K. Koerner
de Saussure, isto é, o sistema subjacente à produção da fala e o código embutido
nas mentes de todos os membros de uma determinada comunidade de falantes.
Similarmente, Koll foi levado a ver sermo e, talvez em grau menor, locutio, oratio
e vocábulos similares, à luz do conceito ‘parole’ de Saussure, o ato de fala concreto
em que uma determinada parte do sistema linguístico é ativado. É verdade que Koll
está ciente de que a comparação entre estas palavras latinas (que, aliás, nos textos
que Koll investigou não estão definidas em nenhum lugar como termos técnicos!) e
os conceitos saussurianos só pode ser feita com reserva, uma vez que
Die ‘langue’ ist für De Saussure in erster Linie (wenn auch nicht nur) das
grammatikalische System, das notwendigerweise vollständig und in sich
geschlossen ist (Koll 1958: 22).
6

À parte o facto de que Koll já tinha, além disso, reconhecido que, de acordo
com a informação fornecida pelos textos que estudou, as suas opiniões não são
sempre confirmadas pelo uso efetivo – sermo parece mais próximo da ‘parole’
saussuriana numa ocasião (cf. Koll 1958: 23, nota 28), e mais próximo da ‘langue’
noutra (Koll 1958: 31) –, ele foi frequentemente tentado a distorcer os seus dados
por nutrir ideias preconceituosas sobre o que as palavras latinas ou as palavras
francesas medievais devem ter significado. A sua conclusão no que diz respeito ao
uso comum de lingua e sermo no período latino torna curiosa a sua interpretação
(como resultado da sua preconceção):

Nun sehen wir, dass diese Verwirrung sich auch auf die durch die
betreffenden Wörter ausgedrückten Vorstellungen erstreckt wenigstens,
wenn man den Masstab [sic!] der modernen Sprachwissenschaft anlegt:
einerseits unterscheiden die Franzosen des 12. und 13. Jh. noch nicht die
Begriffe “langue” und “langage” im saussureschen Sinne (“sprechbares
Material” – “das Sprechen selbst”), während das Lateinische eine ähnliche
Unterscheidung macht, wenn auch lingua und sermo sich nicht genau mit
langue und langage (im saussureschen Sinne) decken” (Koll 1958: 112)
7


Para começar, Saussure definiu ‘langue’, ‘langage’ e ‘parole’ para servirem
de termos técnicos no quadro geral de uma teoria da linguagem. Então atribuiu-
lhes definições particulares, em vez de fazer uso de distinções já inerentes ao
léxico francês (como acreditaram alguns críticos dos seus ensinamentos). Como
resultado, as interpretações de Koll, no que se referem à teoria linguística moder-
na, isto é, a uma metalinguagem particular, estavam destinadas ao fracasso pelo


6
[A ‘langue’ é, para De Saussure, em primeiro lugar (ainda que não exclusivamente) o sistema
gramatical que necessariamente é completo e autossuficiente.]
7
[Vemos agora que esta confusão também se estende aos conceitos que são expressos por estas
palavras, pelo menos, quando se considera o padrão da linguística moderna: por um lado, os
franceses do século XII e XIII não distinguem ainda entre os termos ‘língua’ e ‘linguagem’ no
sentido saussuriano (“material que pode ser usado na fala” – “falar em si”), ao passo que o latim faz
uma distinção parecida, mesmo que lingua e sermo não correspondam exatamente com langue e
langage (no sentido saussuriano).]

O problema da metalinguagem na historiografia linguística 81
menos em dois pontos: 1) usos mais antigos de palavras específicas foram investi-
gados em relação com os seus usos modernos; 2) ocorrências lexicais simples em
textos medievais, que não faziam parte de teorias linguísticas, foram tomadas por,
ou, pelo menos, contrastadas com termos que adquiriram as suas caraterísticas no
quadro de uma teoria geral da linguagem (o facto de Koll ter mal interpretado as
intenções de Saussure não torna o seu argumento mais convincente).
8


2.2 Talvez mais próximo da questão seja o meu segundo exemplo de incorreta
aplicação de conceitos modernos a um termo aparentemente idêntico, já que
ambos, tanto o texto moderno como o mais antigo, dizem respeito a enunciados
linguísticos. Hoje, é lugar-comum que a ciência da etimologia se desenvolveu no
século XIX. O dictum de Voltaire, segundo o qual a etimologia era uma atividade
para a qual as consoantes são de pouca importância e para a qual as vogais, ou
melhor, as suas identidades, não têm qualquer valor particular a elas ligado, diz
respeito ao século XVIII e a prática etimológica anterior.
9

Os investigadores do século XIX, orgulhosos da sua conquista, estavam
bastante conscientes da differentia specifica que os separava do trabalho
etimológico anterior, como fica evidente pelo prefácio de Friedrich Diez (1794-
1876) ao seu Etymologisches Wörterbuch der romanischen Sprachen:

Die aufgabe der etymologie ist, ein gegebenes wort auf seinen ursprung
zurückzuführen. Die zur lösung dieser aufgabe angewandte methode ist aber
nicht überall dieselbe: leicht läßt sich eine kritische und eine unkritische
wahrnehmen. Die unkritische nimmt ihre deutung auf gut glück aus einer
äußerlichen ähnlichkeit der form, oder erzwingt sie bei geringerer ähnlichkeit
[...]. Im Gegensatze zur unkritischen methode unterwirft sich die kritische
schlechthin den von der lautlehre aufgefundenen principien und regeln, ohne
einen fußbreit davon abzugehen, sofern nicht klare thatsächliche ausnahmen
dazu nöthigen (Diez 1869: vii).
10




8
A parte principal do estudo de Koll, deve-se acrescentar, não diz respeito a estas questões
terminológicas. De facto, uma vez que estas considerações da terminologia saussuriana
(especialmente Koll 1958: 12, 14, 22, 23) são postas de lado, o seu trabalho merece ser visto como
uma peça de valor da investigação filológica tradicional.
9
Léon Vernier (1970: 32) cita esta famosa declaração atribuída a Voltaire, na qual a etimologia é
caraterizada como uma ciência “[...] où les voyelles ne font rien et les consonnes fort peu de choses”,
sem entretanto fornecer a sua fonte. Na verdade, até onde eu saiba, este bon mot não foi traçado em
nenhum dos escritos de Voltaire.
10
[É tarefa da etimologia traçar o caminho de uma palavra dada de volta à sua origem. O método
aplicado a este fim não é o mesmo em todos os casos, entretanto; pode-se facilmente discernir um
método crítico e outro não crítico. O não crítico retira a sua interpretação à sorte com base numa
similaridade superficial da forma, ou força o seu argumento no caso de uma similaridade menor [...].
Em contraste com o método não crítico, o crítico sujeita-se simplesmente aos princípios e às regras
descobertas pela fonologia, sem afastar-se delas nem por uma polegada, a não ser que claras exceções
factuais o obriguem a fazê-lo.]

82 E.F.K. Koerner
Como resultado do estabelecimento do então chamado ‘método histórico-
crítico’ da análise etimológica, o trabalho anterior neste campo foi desprezado
como ‘pré-científico’. É interessante observar que, como mostrou O’Neill (1976),
muito da etimologia do século XIX nem sempre foi baseado em métodos seguros.
Não é, portanto, nada surpreendente que August Schleicher (1821-1868), o mais
importante linguista histórico-comparativo da metade do século XIX, tenha escrito
o seguinte na margem do Handexemplar
11
do seu livro Die Deutsche Sprache de
1860: “Inserir aqui uma palavra grosseira sobre a etimologia. Cartomancia e
astrologia” (Schleicher 1869: 128, nota).
12

Quando Ernst Robert Curtius (1886-1956), ao escrever 75 anos mais tarde,
alude à possibilidade de que a etimologia na Idade Média (assim como na
Antiguidade) pode ser vista como uma “brincadeira mais ou menos apetecível”
(“[...] mehr oder minder genießbare Spielerei [...]”; Curtius 1954: 487), ele está a
julgar a et(h)imologie medieval do ponto de vista da nossa compreensão moderna
de ‘etimologia’.
13
Mas esta aproximação de termos aparentemente idênticos
baseia-se numa falta de ‘contextualização’, isto é, a interpretação de um termo
dentro dos limites do uso linguístico medieval (para uma análise cuidadosa da
etimologia na Idade Média, cf. Klinck 1970).
Na historiografia linguística, associa-se usualmente a Isidoro de Sevilha
(Isidorus Hispaliensis, ca. 560-636) a primeira grande contribuição para a
‘etimologia’, embora outros (p. ex., Pfaffel 1981) possam reivindicar a mesma
posição para Marcus Terentius Varro (116-27 a.C.). A Etymologiae sive origines
de Isidoro foi particularmente influente na Idade Média. Desta forma, a sua
definição de etimologia também convém ser mencionada:
Etymologia est origo vocabulorum, cum vis verbi vel nominis per
interpretationem colligitur. Hanc Aristoteles symbolon, Cicero adnotationem
nominavit, quia nomina et verba rerum nota facit exemplo posito; ut puta
‘flumen’, qui fluendo crevit, a fluendo dictum” (Isidoro, citado em
Schweickard 1985: 2; Amsler 1989: 137).
14



11
[Observação da tradutora: Handexemplar ou ‘cópia pessoal do autor’ corresponde a uma prática
que já não subsiste no seu sentido original. No século XIX, muitos filólogos utilizavam uma cópia
dos seus livros com algumas páginas em branco, inseridas na encadernação (manual) do volume, nas
quais faziam observações e correções para uma edição seguinte.]
12
“Ein derbes Wort über Etymologie hier einzuschalten. Kartenschlägerei und Astrologie”
(Schleicher 1869: 128 nota).
13
Curtius (1954: 487) refere-se em particular ao importante e influente Etymologiarum libri de
Isidoro de Sevilha, em que vários tipos de técnicas etimológicas são propostos, por exemplo, ex
origine, ex causa, ex contrariis, etc..
14
[Etimologia é a origem dos vocábulos, quando a força expressiva de um verbo ou de um nome é
apurada através da interpretação. Aristóteles chamou-a symbolon, e Cícero adnotatio, porque, a partir
de um exemplo, ela torna conhecidas as denominações e as palavras que designam as coisas; por
exemplo, flumen (rio), deriva de fluere (fluir), porque cresce a fluir.]

O problema da metalinguagem na historiografia linguística 83
A partir desta e de outras passagens, torna-se óbvio que Isidoro, com o termo,
se referiu a algo próximo à nossa compreensão moderna de ‘morfologia
derivacional’ ou ‘etimologia sincrónica’ (Untermann 1975) e, certamente, não ao
nosso conceito de etimologia (cf. Schweickard 1985, para uma análise detalhada).
Aliás, a análise de textos medievais dedicados à gramática e, em particular, à
‘etimologia’ era bastante distinta da definição atual do termo. Assim, encontramos
na Magnae derivationes de Uguccione de Pisa (m. 1210) a seguinte afirmação
(que, como demonstrou Riessner 1965: 44, remete para o comentário de Petrus
Helias sobre Prisciano):
ethimologia est expositio vocabuli unius per aliud vocabulum, unum sive
plura magis notum vel magis nota in eadem lingua vel diversis secundum
rerum proprietatem et litterarum similitudinem, ut lapis ledens pedem, piger
pedibus eger” (Uguccione de Pisa, citado em Riessner 1965: 43; itálicos do
autor – KK).
15

É fácil determinar que lapis não pode ser derivado propriamente de ledens
pedem, ou piger de pedibus eger, e que os princípios da ‘proprietas rerum’ e
‘similitudo litterarum’ têm pouco em comum com as noções modernas de
etimologia e com os seus princípios de análise. Além do mais, se se observa que o
próprio Uguccione designou o seu tratado de Magnae derivationes e não de
Magnae etymologiae, pode questionar-se até que ponto ‘etimologia’ exercia um
papel comparável a ‘derivatio’ na análise linguística do período. De facto, na
muito influente obra lexical Summa grammaticalis valde notabilis, quae
Catholicon nominatur de Giovanni Balbi (morto em 1286), que é
aproximadamente do mesmo período, encontramos a seguinte afirmação no que
diz respeito à distinção entre os dois termos:
Quero etiam an etymologia sit species deriuationis, vt cadauer quasi caro data
vermibus; videtur quod non, quia si hoc esset, tunc omnis dictio potest dici
deriuatiua qum omnis dictio etymologizari possit dummodo velit aliquis
meditari. Ad hoc dico quod etymologia non est species deriuationis, sed quasi
species. Alludit enim significationi trahendo argu-mentum per litteras vel
syllabas aliunde, vt bos quasi bonus operator soli, et mons quasi, moles opposita
nascenti soli, et taurus quasi tuens agmina vacarum robore virium suarum, et
deus quasi dans eternam vitam suis et roma quasi radix omnium malorum
auaricia et homo quasi habens omnia manu omnipotentis, quia omnipotens
omnia propter hominem creauit, et sinceris quasi sine carie et sic de similibus.
Non est tamen dicendum quod ab illis deriuantur vel componantur per que
etymologizantur” (citado em Niederehe 1975: 174; itálicos do autor – KK).
16



15
[Etimologia é a explicação de um vocábulo por outro, seja por um, seja por vários mais
conhecidos, ou na mesma língua, ou em diversas línguas, de acordo com a propriedade das coisas e a
semelhança das letras. Assim: lapis (pedra) vem de ledens pedem (o que magoa o pé), piger
(preguiçoso), de pedibus eger (agradável aos pés).]
16
[Pergunto-me ainda se porventura etimologia é uma espécie de derivação, de maneira que cadaver
seja explicado como caro data vermibus (carne dada aos vermes); parece que não, porque, se assim

84 E.F.K. Koerner
A partir desta citação, podemos concluir que ‘etimologia’ representa uma
espécie particular de explicação (semântica) de palavras, bastante distinta da
atividade designada ‘derivatio’, que obviamente é uma parte da gramática, já que
diz respeito a uma explicação do léxico que distingue entre ‘primitiva’, isto é,
palavras originais que designam as formas básicas da língua, e ‘derivativa’,
aquelas que são morfologicamente derivadas da primeira. ‘Etimologia’ não é uma
parte da ‘derivatio’; antes devemos considerá-la um tipo de jogo intelectual com
os sentidos das palavras (allusio), que opera de acordo com o duplo critério da
‘rerum proprietas’ e ‘litterarum similitudo’ (cf. Niederehe 1983). Claro que esta
não é toda a verdade sobre o assunto. Houve ao longo dos períodos clássico e
medieval diferentes linhas de ‘etimologia’ (para mais detalhes, cf. Herbermann
1981 e Amsler 1989).
Vários outros termos precisariam de ser explicados, a fim de formar um
quadro razoavelmente adequado acerca do que os gramáticos medievais quiseram
significar por ‘etimologia’ (para o uso mais antigo em Varrão, cf. Schröter 1960,
Pfaffel 1981). Para o presente objetivo, basta ter chamado a atenção para o perigo
de qualquer conclusão baseada no nosso entendimento moderno de um termo (e a
sua etimologia!), que deve ter tido um princípio ou um objetivo geral similar,
senão idêntico, subjacente à atividade que parece implicar. Termos individuais
devem ser observados nos limites do seu contexto histórico, assim como nos
limites do quadro técnico de trabalho do período, antes que o seu verdadeiro valor
possa ser adequadamente determinado.

2.3. Um exemplo ainda melhor daquilo que acontece quando linguistas
modernos se arriscam a interpretar textos medievais, ou quaisquer outros textos
linguísticos do passado, sem a devida atenção ao problema da metalinguagem,
pode ser visto em recentes reedições do antigo manuscrito islandês do século XIII
geralmente apontado pela literatura, embora bastante erroneamente, como o First
Grammatical Treatise (FGT). Primeiramente, é altamente duvidoso que o assim
chamado FGT constitua de facto o trabalho de um investigador individual.
Recentemente, Federico Albano Leoni (1975: 33ss.) não só lançou a dúvida sobre


fosse, então toda a palavra poderia ser chamada derivativa, desde que pudesse ser etimologizada e
alguém quisesse refletir sobre ela. A propósito afirmo que etimologia não é uma espécie de
derivação, mas é como se fosse uma espécie. Faz alusão, pois, à significação, trazendo de outro lugar
um argumento através das letras ou das sílabas: por exemplo, bos (boi) é como se fosse bonus
operator soli (o bom cultivador do solo); mons (montanha) como se fosse moles opposita nascenti soli
(massa em posição oposta ao sol nascente); taurus (touro) como se fosse tuens agmina uacarum
robore virium suarum (aquele que protege os rebanhos de vacas com o vigor das suas forças); deus
(Deus) como se fosse dans eternam vitam suis (aquele que dá vida eterna aos seus [súbditos]); Roma
(como se fosse radix omnium malorum avaricia (a avareza é a raiz de todos os males); homo
(homem) como se fosse habens omnia manu omnipotentatis (o que tem tudo pelas mãos do
poderoso), porque o todo poderoso criou todas as coisas por causa do homem, e sinceris como se
fosse sine carie (sem podridão) e assim por diante. Não se pode, todavia, dizer que são derivadas ou
compostas a partir daquela palavras pelas quais são etimologizadas.]

O problema da metalinguagem na historiografia linguística 85
esta visão tradicional ao mostrar que o texto apresenta evidências filológicas
suficientes de que resulta de várias mãos e provavelmente de vários autores, como
também sugeriu (Albano Leoni 1975: 40) que o assim chamado Second
Grammatical Treatise pode mesmo ser mais velho do que o FGT. Embora o
próprio Albano Leoni tenda a seguir a interpretação de importantes termos
técnicos, sugerida pelos seus colegas escandinavos, ele acumulou uma quantidade
suficiente tanto de crítica textual como de ponderações teóricas, capazes de
questionar seriamente a validade do tributo que Hreinn Benediktsson (1972: 81)
prestou ao chamado First Grammarian, como “[...] a distinguished, if isolated,
precursor of twentieth-century theoretical linguistics”.
Este texto medieval islandês, que desde a edição de Rasmus Rask (1787-
1832) tem recebido considerável atenção dos investigadores, é claramente
dedicado à então urgente questão da reforma ortográfica do islandês. É compreen-
sível que o autor de um texto desta natureza estivesse preocupado em tornar o seu
argumento claro a um leitor culto, usando o mínimo possível de termos técnicos e
empregando palavras e frases que fossem de uso corrente entre a sua audiência. É
de se esperar, acredito, que tenha procurado usar somente os termos em que
pudesse confiar, cujas implicações os seus contemporâneos não tivessem
dificuldades de compreender. A intenção do assim chamado First Grammarian
era essencialmente um argumento a favor da introdução de sinais gráficos
adicionais para facilitar o uso do alfabeto latino na codificação da ortografia
islandesa. Embora considerações ‘fonológicas’ fizessem, possivelmente, parte da
argumentação do First Grammarian, é duvidoso que estivesse a tentar desenvolver
uma teoria fonológica e, desse modo, a oferecer um sistema desenvolvido de
termos técnicos para a análise linguística.
Neste capítulo, quero simplesmente destacar dois exemplos que demonstram
que investigadores modernos se equivocaram na sua avaliação do FGT,
simplesmente porque não puderam, ou não conseguiram, despojar-se da sua
própria formação estruturalista, e que, como resultado, afirmações diretas e
razoavelmente claras, feitas no texto medieval islandês, foram mal lidas,
distorcidas ou, pelo menos, mal interpretadas.
Provavelmente na tentativa de demonstrar que a fonologia da Escola de Praga
não foi tão nova e revolucionária quanto os expoentes dos anos 1930 e 1940
quiseram fazer crer aos seus contemporâneos (cf. as reivindicações de Trubetzkoy
1933), Sveinn Bergsveinsson (1907-1988) publicou um artigo, em 1942, no qual
defendeu a ideia de que um islandês do século XII já tinha desenvolvido uma
teoria fonológica, na qual, inter alia, um dos conceitos usados poderia facilmente
ser comparado ao conceito de ‘oposição’. Em 1950, quando publicou a sua
primeira edição do FGT, Einar Haugen (1906-1994) apoiou-se nas reivindicações
de Bergsveinsson ao levar Hreinn Benediktsson (o seu antigo estudante), em 1961
e 1972, os debates adicionais destas interpretações. Uma vez que uma análise
detalhada dos equívocos de Haugen e Benediktsson sobre passagens essenciais do
FGT já foi publicada (Ulvestad 1976), basta discutir aqui somente duas expressões

86 E.F.K. Koerner
do texto, que parecem ter levantado mais especulação, notadamente a palavra
grein (pl. greinir) e a frase (provavelmente jurídica) skipta máli.
Tanto Haugen (1972: 17) como Benediktsson (1972: 215) traduziram grein
como ‘distinction’ ou ‘distinção’, embora pudessem ter encontrado, em qualquer
dicionário do islandês antigo (p. ex. Zoëga 1910: 171), que o sentido básico da
palavra é ‘galho (de uma árvore)ֹ ’ ou ‘divisão’. De facto, parece que Haugen
(1950) introduziu esta tradução e Benediktsson debate-a da seguinte forma:
Haugen has translated grein by ‘distinction’ (i.e. in the sense of modern
technique) [...]. This translation represents a distinct advance beyond the
different translations of this term by Dahlerup-Jónsson (‘forskel, nuance,
forskellighed, vokal, slags’). However, the term is used in two slightly
different ways: either to designate the relationship between two units (or two
groups of units), which are contrasted with one another in a significant way,
or sometimes to indicate the end points of these relations, or the distinctive
units themselves, where, in modern terminology, we should often simply use
the term phoneme [...]. This double use of the term ‘distinction’ is no doubt
very fortunate, emphasizing as it does the negative, relational or contrastive,
nature of the phonemes as elements composing linguistic signs
(Benediktsson 1961: 240-241; cf. Benediktsson 1972: 68-69).
Mais do que questionar se o uso do termo ‘fonema’ neste contexto foi uma
escolha terminológica feliz ou perguntar se os obscurecimentos teóricos de
Benediktsson fazem sentido ao linguista de hoje, vamos considerar uma passagem
do FGT – na tradução de Benediktsson – na qual ocorre o termo grein. Aqui, o
First Grammarian formula o seu argumento a favor de representações gráficas
adicionais para as vogais, que ocorrem em islandês da seguinte maneira:
Now I shall take these eight letters – since no distinction has yet been made
for the i – between the same two consonants, each in its turn, and show and
give examples how each of them [...] makes a discourse of its own [...]: sar:
sǫr, ser: sęr, sor: sør, sur: syr (Benediktsson 1972: 215-216; cf. também a
tradução de Haugen 1972: 17).
A frase intercalada, “[...] since no distinction has yet been made for the i [...]”,
parece ter sido fonte de confusão e interpretações erradas por parte de linguistas
modernos, como por exemplo Haugen (1950: 32-33; 1972: 37) e Benediktsson
(1961: 238-239; 1972: 215), e isto pelas seguintes razões: 1.º interpretaram a lista
de palavras contrastantes do First Grammarian como uma tentativa do autor de
estabelecer uma lista de comutações ou um arranjo de pares mínimos, na base dos
quais o número de fonemas de uma determinada língua estaria estabelecido; 2.º as
suas ideias preconcebidas sobre as intenções do First Grammarian impediram-nos
de ver que a única razão pela qual deixou o i fora da sua lista se deve ao simples
facto de que o islandês não possuía uma forma *sír. Consequentemente, como
argumenta Benediktsson (1972: 215), a frase em questão deve referir-se à série de
palavras contrastantes na oração subsequente, “[...] or, more accurately, to his [i.e.,
the FG’s] inability to produce a more complete series”.

O problema da metalinguagem na historiografia linguística 87
Na verdade, o que o First Grammarian estava a tentar fazer era demonstrar
que havia necessidade de quatro carateres adicionais para vogais no sistema
ortográfico do islandês. Ao tomar as cinco vogais do alfabeto latino como o ponto
de partida do seu argumento, o First Grammarian mostra que quatro delas teriam
de ser divididas ou teriam que dar origem a quatro vogais adicionais, a fim de
permitir uma representação mais adequada das nove vogais do islandês. O uso, por
parte do First Grammarian, da palavra stafr (pl. stafir) para as quatro vogais
latinas, das quais afirma que se ‘bifurcaram’ as outras quatro (cf. Benediktsson
1972: 206), em contraposição a grein ou greinir para as vogais ‘bifurcadas’,
poderia ter dado a pista aos leitores modernos do texto, preparados a tomar as
palavras à letra e ver que o First Grammarian estava a ‘derivar’ – provavelmente
ao ter em mente a imagem de uma árvore (genealógica) – as oito ou nove vogais
básicas do islandês das quatro ou cinco vogais do latim. Traduzir grein por
‘distinção’ ou ‘distinção opositiva’, em vez de ‘bifurcação’, ‘subdivisão’ ou
semelhantes, como propuseram Haugen e Benediktsson, é, na melhor das
hipóteses, uma interpretação equivocada daquilo que me parece um argumento
direto e uma intenção pedagógica do First Grammarian.
No entanto, parece que, a partir do momento em que o estatuto de termo
técnico é atribuído a um item lexical, sendo, adicionalmente, interpretado como
um termo chave de uma teoria para poder compará-lo à doutrina linguística
moderna, outras expressões acabam por ser elevadas ao mesmo nível de
importância teórica. Assim, quando o First Grammarian fala sobre as vogais
nasalizadas do islandês, faz a seguinte afirmação:
But now each of these nine letters [i.e., as nove vogais estabelecidas para o
islandês, EFKK] will produce a new one if it is pronounced through the nose,
and this distinction [grein] is in fact so clear that it can change the discourse
[máli skipta] (Benediktsson 1972: 217).
A tradução de Benediktsson de skipta máli como ‘mudança de discurso’ é lida
por Haugen (1950: 39; 1972: 34) como ‘mudança de sentido’. Nenhum dos dois
investigadores encara esta frase de uma forma problemática, antes parecem
considerá-la como um termo técnico central do argumento teórico do First
Grammarian (cf. Benediktsson 1972: 80). Que as suas traduções desta frase estão
de facto erradas torna-se óbvio pela sua primeira ocorrência no texto (veja-se FGT
85, linhas 9-10). Nelas, o First Grammarian fala da ambiguidade que pode surgir
se uma letra alfabética representar mais de uma pronúncia. Na tradução de Haugen
(1950: 14-15), a passagem relevante lê-se como se segue:
[...] it is not to be expected that I [...] shall be able to read well and to make
out which path to take where more than one course is possible because it is
written one way, but not clearly, and we then have to guess [...] But even
though everyone can make something out of it, it is practically certain that
everyone will not arrive at the same result when it changes the meaning [ef
máli skiptir], particularly in the laws.

88 E.F.K. Koerner
Na segunda edição do FGT, Haugen (1972: 15) traduz a frase em questão
como “[...] quando o sentido é desse modo mudado [...]”, e traduções semelhantes
podem ser encontradas em Benediktsson (1961: 244; 1972: 215), assim como em
Albano Leoni (1975: 85), embora talvez com reservas (cf. Albano Leoni 1975:
27). É bastante interessante que tradutores anteriores da passagem tenham
preferido dar a “[...] se é de alguma importância [...]”, ou algo semelhante, uma
versão que é sustentada pelos dicionários comuns e identificada como uma
expressão jurídica, algo que a frase intercalada poderia ter sugerido aos tradutores
modernos. Além do mais, ef máli skiptir, no sentido de ‘se (ou quando) muda o
sentido’, se tomado como um argumento linguístico, é, na melhor das hipóteses,
redundante; dificilmente faz sentido. Soa, portanto, irónico ler em Haugen (1972:
10; cf. 1950: 11) que especial atenção foi dada “[...] to the grammatical terms in an
effort to avoid interpolating modern concepts”, quando, na verdade, na sua
tradução do FGT há provas abundantes da sua inabilidade em despojar-se da sua
formação estruturalista, que o levou a uma interpretação equivocada do texto
islandês do século XIII.

3 Para um tratamento adequado da ‘metalinguagem’
Os pré-requisitos da parte do historiógrafo da linguística (que deve possuir
tanto a perícia da prática linguística como o conhecimento do historiador) foram
discutidos noutra ocasião (p. ex. Koerner 1976), e não precisam de ser repetidos
aqui. No que respeita ao problema do uso da metalinguagem pelo historiógrafo da
linguística, parecem-me de importância fundamental os três princípios seguintes:
1.º O primeiro princípio para a apresentação das teorias linguísticas propostas
em períodos mais antigos (anteriores ao século XX) tem a ver com o
estabelecimento do ‘clima de opinião’ geral do período em questão. As ideias
linguísticas nunca se desenvolveram independentemente de outras correntes
intelectuais do período em que surgiram. Na verdade, o que Goethe chamou de
Geist der Zeiten sempre deixou as suas marcas no pensamento linguístico. Por
vezes, a influência da situação socioeconómica, e mesmo política, deve igualmente
ser tida em conta (considere-se a discussão sobre a ‘ordem natural’ da organização
sintática, na França do século XVIII, na qual o francês foi apresentado como uma
língua superior às outras, e as aspirações de supremacia política da França no
mesmo período). Esta primeira diretriz pode ser chamada de ‘princípio da
contextualização’.
2.º O próximo passo que o historiógrafo da linguística deveria dar consiste em
tentar estabelecer uma compreensão completa do texto linguístico em questão,
tanto do ponto de vista histórico como crítico, talvez até mesmo filológico. É
desnecessário dizer que se deve abstrair da sua própria formação linguística e dos
compromissos atuais na linguística. O quadro geral da teoria a ser investigada,
assim como a terminologia usada no texto, devem ser definidos internamente e
não em referência à doutrina linguística moderna. Esta consideração pode ser
chamada de ‘princípio da imanência’.

O problema da metalinguagem na historiografia linguística 89
3.º Só depois de terem sido concisamente seguidos os dois primeiros princípios,
de forma a que uma dada manifestação linguística tenha sido compreendida no seu
contexto histórico original, o historiógrafo pode aventurar-se a introduzir
aproximações modernas do vocabulário técnico e do quadro conceptual apresentado
na obra em questão. Talvez possamos chamar este último passo de ‘princípio da
adequação’. Claro que é necessário que o investigador explique porque e até que
ponto o conceito tardo-medieval de significatio vocis, por exemplo, pode ser
traduzido como ‘significado’, ou até que ponto a distinção saussuriana entre
‘sincronia’ e ‘diacronia’ pode ser aplicada a propostas teóricas anteriores, que têm a
ver com o relacionamento entre a linguística ‘descritiva’ e ‘histórica’.
17
Como regra,
o historiógrafo da linguística deve alertar o leitor para o facto de as aproximações
terminológicas terem sido introduzidas por ele; por outras palavras, deve ser
explícito e preciso no que respeita àquilo que na realidade está a fazer.
Se, e somente se, estes três princípios, isto é, a contextualização histórica e
intelectual, a análise do texto no seu próprio quadro teórico (compare-se a tradição
alemã na história literária de ‘interpretação imanente’ ou werkimmanente
Interpretation) e uma descrição clara das ferramentas empregues na tentativa de
tornar o texto mais facilmente acessível ao linguista moderno, estão a ser
adequadamente tidos em conta, é que se pode esperar que distorções sérias das
ideias e intenções dos linguistas, dos filósofos da linguagem, ou dos gramáticos do
passado possam ser evitadas.
Propor ao historiógrafo da linguística os três princípios acima referidos não
implica que não possa haver outros interesses legítimos nas teorias do passado.
Por exemplo, não faço objeções a alguém interessado em estudar as obras dos
Modistae do período medieval, porque estes podem ter sido os primeiros a conferir
um estatuto teórico à gramática e porque “[...] their Speculative Grammar seems to
satisfy the modern request of explanatory adequacy” (Benedini 1988: 135), pelo
menos enquanto isto não é apresentado como história. Na verdade, fico aliviado
pelo facto de a autora assegurar que “the necessary methodological reserve is not
to identify the ancient definitions with modern ones but only to consider the
significant affinity underlying both definitions” (Benedini 1988: 135).
Como muitos de nós sabemos, a mesma advertência não foi observada durante
os anos sessenta e setenta, quando os gramáticos transformacionalistas dedicaram
um interesse especial ao conceito de ‘elipse’. Como resultado, o trabalho dos
autores do século XVI, tais como Sanctius, retirados dos seus respetivos contextos
epistemológicos, tornaram-se ‘precursores’ do trabalho sintático moderno, algo que


17
Menciono esta equação terminológica frequente na literatura linguística, muita da qual deriva de
uma interpretação errada das intenções de Saussure, especialmente porque há sérias distorções
produzidas na historiografia linguística, tais como quando um tradutor de um texto de finais do
século XIX fez uso da terminologia saussuriana, ex., ao falar de ‘estado sincrónico’ para traduzir uma
formulação muito menos precisa, tendo reivindicado, na introdução ao volume, que o autor tinha
antecipado as observações teóricas de Saussure. Para detalhes, veja-se a minha resenha a A Baudouin
de Courtenay Anthology (Koerner 1973e: 45-50, especialmente págs. 47-48).

90 E.F.K. Koerner
nenhum historiógrafo da linguística contemplaria seriamente. A discussão da
‘metalinguagem’ ou do vocabulário técnico não pode, ou não deveria poder, ser
separada daquilo que estes conceitos e termos realmente querem dizer no seu
quadro cognitivo e no seu ambiente histórico-epistemológico (cf. Bartlett 1984,
para uma discussão sobre o assunto).
Tendo citado Condillac no princípio, posso concluir o presente artigo com
uma citação atribuída ao mesmo autor: “Une science n’est qu’une langue bien
faite”.
18
Esta observação pode ser particularmente adequada para a ciência da
linguagem e a sua historiografia.




18
Citado por John Rupert Firth (1890-1960) em relação a uma discussão sobre ‘the restricted
language of linguistics’, evidentemente indicando ‘metalinguagem’, sem fornecer a fonte. Veja-se
Palmer (1968: 202, nota 5).

O problema da ‘influência’ na historiografia linguística
*




Qualquer grande homem possui força retrospetiva
Friedrich Nietzsche
1


1 Circunscrição do problema
Os últimos anos têm testemunhado o surgimento de uma variedade de estudos
voltados para questões de metodologia e de epistemologia, que dizem respeito à
escrita da história da linguística (p. ex. Schmitter 1987, Hüllen 1990, Elffers-van
Ketel 1991). Isso pode ser um sinal de amadurecimento da historiografia
linguística. Mas há ainda várias outras questões relativas ao método e à filosofia
da ciência que não foram estabelecidas (cf. Koerner 1995b: 3-26) e outras que
apenas foram levantadas, embora, sem dúvida, quase todos os envolvidos na
investigação histórica já se tenham deparado pelo menos com uma dessas questões
de uma forma ou de outra.
Uma delas tem a ver com o que chamei ‘o problema da metalinguagem’ na
historiografia linguística (Koerner 1993a), isto é, o uso da linguagem para a
descrição de conceitos, ideias ou teorias linguísticas de períodos anteriores de
estudo, de forma tal que não traia o sentido ou a intenção do seu autor. Ao mesmo
tempo que procura tornar as reflexões sobre épocas passadas acessíveis ao
linguista contemporâneo em atividade. Outra questão, aparentemente menor, diz
respeito à datação correta das referências citadas nos relatos históricos (cf. Brozek
1970, Vande Kemp 1984) mas que, sem dúvida, é importante no contexto do
presente artigo, que trata do problema da ‘influência’, real ou provável, sugerida
ou alegada, no desenvolvimento de uma ideia linguística, ou de um conceito
particularmente central, quando não de todo um quadro de trabalho na
investigação científica.
De qualquer maneira, o termo ‘influência’, tal como é frequentemente
empregue nos escritos que tratam de história da linguística, é, na melhor das hipó-
teses, um termo mal definido e, na pior das hipóteses, um argumento conveniente
que pode apanhar um opositor desprevenido: pode haver uma desconfiança
encoberta de que não se trabalhou bem e de que outros descobriram alguma
relação em que não se tinha pensado antes. Na verdade, a maior parte dos autores
não chega a definir o termo ‘influência’, simplesmente o usa como se houvesse
um acordo tácito acerca do significado do termo. Mesmo assim, em vez de propor


*
[Observação sobre a tradução: tendo a comunicação inglesa sido apresentada no ICHoLS III (1984),
o artigo original “On the Problem of ‘Influence’ in Linguistic Historiography” foi publicado pela
primeira vez em Koerner (1987b). A tradução portuguesa, elaborada por Cristina Altman (USP, São
Paulo), foi publicada sob o título “O problema da ‘influência’ em historiografia linguística” (Koerner
1998b). A revisão e atualização do presente artigo foi levada a cabo por Sónia Coelho.]
1
“Jeder grosse Mensch hat eine rückwirkende Kraft [...]” (Nietzsche 1900: 73).

92 E.F.K. Koerner
uma definição, gostaria de discutir aqui três exemplos típicos da historiografia
linguística, em que este assunto provocou debates acalorados para, em seguida,
tentar alguns esclarecimentos metodológicos.
Os três casos que constituirão a parte central do presente artigo são os
seguintes: a questão da ‘influência’ de Herder sobre Humboldt (2.1); a suposta
‘influência’ de Darwin sobre Schleicher (2.2), e a chamada ‘influência’ de
Durkheim sobre Saussure (2.3). Dos três, só o último será discutido com maior
detalhe, uma vez que se trata do caso mais recorrente na historiografia linguística.
Entretanto, espero apresentar os restantes casos com clareza suficiente para que se
possa, também deles, tirar conclusões (se não, espero, pelo menos, ter fornecido as
bases para uma posterior elaboração),

2 Três exemplos de ‘influência’ na historiografia linguística
Os três exemplos escolhidos para ilustrar o problema da ‘influência’ na
história do estudo da linguagem estão ligados a fases importantes no desenvolvi-
mento da linguística, enquanto ciência, no século XIX e na passagem para o
século XX. De facto, pode afirmar-se que o começo do século XIX marcou uma
coupure épistémologique no sentido de Bachelard (cf. Foucault 1966: 13 ss.), que
Schleicher produziu a ‘matriz disciplinar’ ou o ‘paradigma científico’ da filologia
histórico-comparativa indo-europeia na segunda metade do século XIX (cf.
Koerner 1982a), e que Saussure, por sua vez, dotou a linguística geral de um
quadro de referência de que ainda se fala nas discussões teóricas sobre a natureza
da linguagem e da linguística de hoje. Já a posição de Humboldt na linguística do
século XIX é mais difícil de definir. Só recentemente é que um quadro completo
da sua investigação linguística e da sua filosofia da linguagem começou a emergir
(cf. Mueller-Vollmer 1993). Durante a sua vida, o impacto de Humboldt no
estabelecimento de uma gramática comparativa terá sido mais institucional do que
metodológico, mas no que diz respeito a questões de tipologia linguística e de
filosofia da linguagem, pelo menos, a sua influência foi mais amplamente re-
conhecida. São essas observações e assunções, já tradicionais, que tornam tão
atraentes a investigação das possíveis fontes de Humboldt, Schleicher e Saussure,
desses importantes, e de facto inovadores, pensadores do estudo linguístico. Os
historiadores estão interessados não só em descobrir as suas fontes de inspiração,
mas também em determinar o que tornou as suas propostas diferentes das que os
antecederam e tão importantes para as gerações de investigadores subsequentes.
Que os historiógrafos da linguística foram, por vezes, demasiado rápidos a apontar
os precursores e as ‘influências’ dos seus escritos e que vários detalhes ainda estão
à espera de elaborações sine ira et studio é o que fica aqui sugerido, na abertura
desta pequena discussão.

2.1 A Questão da ‘influência’ de Herder sobre Humboldt
Recentemente, Hans Aarsleff (1977, 1982a) desafiou a visão amplamente
aceite de que Wilhelm von Humboldt (1767-1835) absorveu muitas das ideias de

O problema da ‘influência’ na historiografia linguística 93
Herder sobre a natureza da linguagem, especialmente as avançadas no seu premiado ensaio de 1770 sobre glotogénese, Ueber den Ursprung der Sprache
(Herder 1772). Aarsleff dirigiu a sua crítica especialmente ao estudo de 1975 de
Gipper / Schmitter, no qual a vasta literatura sobre a ‘linguística na época do
Romantismo’ é examinada e o ponto de vista sobre a importância de Herder,
Humboldt e outros, na primeira metade do século XIX, é mantido. Aarsleff argu-
menta que as fontes primárias disponíveis não foram cuidadosamente estudadas e
que as principais escolas de pensamento foram ignoradas pelos investigadores (na
sua maioria alemães). No quadro reivindicado por Aarsleff, Humboldt situa-se na
tradição de Condillac, em particular tal como desenvolvida pelos Idéologues, com
quem Humboldt teve contacto durante a sua estadia em Paris, como embaixador
da Prússia, entre 1798 e 1801.
É interessante observar que os estudiosos do século XIX divergiam sobre esta
questão da ‘influência’ das ideias de Herder acerca da filosofia da linguagem de
Humboldt. Assim, Rudolf Haym (1821-1901), na sua biografia de 641 páginas de
Humboldt, defendia que:
Von dem Boden der kritischen Philosophie und des ästhetischen
Humanismus ausgehend, erweisen sich die Humboldtschen Ansichten fast
durchweg als Läuterung, Ausführung und Rechtfertigung dessen, was zuerst
in poetischer Intuition ergriffen zu haben das unbestreitbare Verdienst
Herders ist (Haym 1856: 494).
2

Heymann Steinthal (1823-1899), contemporâneo de Haym e provavelmente o
mais influente defensor de Wilhelm von Humboldt no século XIX, contrapôs-se
mais tarde a esta visão (Steinthal 1858: 12), depois de Haym ter reafirmado a sua
posição, na biografia de dois volumes que fez de Herder:
Er wiederholt die Gedanken Herders – er vertieft, er verfeinert, er bestimmt,
erklärt sie, erdenkt das von jenem gleichsam atemlos Gedachte mit ruhig
verweilender Umsicht zum zweiten Male nach und durch (Haym 1880: 408).
3

Entretanto, quando se lê a quarta edição ampliada do livro Der Ursprung der
Sprache de Steinthal, a sua oposição à visão de Haym não soa tão forte quanto
Aarsleff (1982a: 339) parece sugerir. Assim, após negar que Humboldt tenha
aprendido e continuado as ideias de Herder e Hamann – amigo de Herder e, em
certa medida, o seu oponente – Steinthal afirma:


2
[A partir da base da filosofia crítica e do humanismo estético [kantianos, presumo eu, KK], as
visões de Humboldt revelam-se quase sempre como purificação, execução e justificação daquilo de
que cabe a Herder o inegável mérito de o ter originalmente captado com intuição poética.]
3
[Ele [i.e., Humboldt, EFKK] reitera o pensamento de Herder – aprofunda, refina, define e explica-o;
repensa e aprofunda com circunspeção contemplativa o que antes tinha sido sofregamente pensado
por aquele [i.e., por Herder, EFKK].]

94 E.F.K. Koerner
Humboldt ist nur aus sich und aus seiner Zeit zu begreifen. Der Geist seiner
Zeit aber wurde vorbereitet durch Männer wie die genannten [i.e. Herder e
Heumann]. Diese bilden also bloß ideell die Vorstufe zu Humboldt’s
Sprachwissenschaft, ohne daß sie darum in thatsächlichem Zusammenhange
mit derselben stehen (Steinthal 1858: 12).
4

Esta declaração não pode ser interpretada, creio, como uma posição
estritamente oposta à de Haym. Com efeito, não é senão uma versão mais fraca
dela, ou seja, que Humboldt não estaria em débito direto para com Herder, mas
sim para com todo o ‘clima de opinião’ do período, no qual Herder exerceu um
papel importante. Na sua volumosa introdução à edição póstuma de Ueber die
Verschiedenheit des menschlichen Sprachbaues de Humboldt, August Friedrich
Pott (1802-1887), um grande admirador de Humboldt, alinhou com a visão de
Steinthal sobre este assunto (Pott 1876). No entanto, não há nenhuma indicação de
que Pott tenha conduzido uma investigação independente acerca da questão (cf.
Lauchert 1893: 762). Edward Sapir (1884-1939), ao escrever no início do século
XX, toma o partido de Haym (e de Lauchert, cujo artigo parece ter sido
amplamente ignorado pela literatura mais recente, mas que serviu a Sapir como
principal fonte secundária), “[...] in view of the greater probability of the
continuity of ideas [...]” (Sapir 1907: 141).
Nos últimos anos, mesmo um acérrimo defensor da filiação Herder-Humboldt,
como Helmut Gipper (1981: 108), concede que, na ausência de declarações
explícitas de Humboldt a este respeito e na ausência de provas na sua
correspondência (grande parte da qual parece ter-se perdido durante a Segunda
Guerra Mundial), tornou-se muito difícil confirmar com segurança a influência de
Herder sobre o pensamento linguístico de Humboldt. Entretanto, estudos que
analisaram cuidadosamente a obra de Humboldt (e que, tipicamente, não estão
mencionados na crítica de Aarsleff), tais como o de Brown (1967: 65) e o de
Heeschen (1972: 31), encontraram provas suficientes para sustentar a interpretação
tradicional de Humboldt ser devedor de Herder, assim como de muitos outros,
incluindo Hamann e Locke (veja-se ainda Manchester 1985: 10-11).
Mais importante para o presente debate é o facto de que Aarsleff, em vez de
fornecer argumentos contra o que entende como uma séria distorção da história
das ideias linguísticas, se refere principalmente a passagens selecionadas da
correspondência existente de Humboldt. Para Aarsleff, estas passagens sugerem
que Humboldt não tinha uma opinião muito favorável de Herder, pelo que sentiu,
em vez disso, que os contactos com os Idéologues teriam sido cruciais para moldar
a da linguagem de Humboldt. Como prova, o leitor fica com a garantia de que o
artigo de Aarsleff constitui um “[...] abrégé d’une monographie en projet, ce qui
explique que ne soit utilisée qu’une partie des très nombreux documents dont nous


4
[Humboldt só pode ser compreendido por si mesmo e através do seu tempo. O espírito do seu
tempo, porém, foi preparado por homens como aqueles que acabam de ser mencionados. Estes
formam, portanto, meramente o patamar preliminar da linguística humboldtiana, sem que por isso
necessariamente haja uma relação concreta entre eles.]

O problema da ‘influência’ na historiografia linguística 95
disposons” (Aarsleff 1977: 233, nota 1; na versão de 1982 esta declaração foi
convenientemente omitida).
5
Não se faz qualquer tentativa de uma análise textual
dos escritos linguísticos e/ou filosóficos de Humboldt (ou de Herder) para
sustentar a contraproposta.
Tendo em conta as fortes críticas repetidamente lançadas por Aarsleff contra
outros estudiosos, desde a sua polémica de 1970 contra o tratamento que Chomsky
imprimiu à história da linguística, é de surpreender que o cuidadoso estudo de
Wulf Oesterreicher sobre a questão demonstre que Aarsleff acabou por ser vítima
exatamente das mesmas deficiências que ele próprio denunciou no trabalho de
outros (Oesterreicher 1981: 124-130 passim). Estas incluem postura retórica, em
vez da argumentação baseada em prova textual, seletividade e a deturpação
subsequente das fontes verdadeiramente citadas; e uma incapacidade generalizada
de compreender que o início do século XIX testemunha mais uma rutura com a
tradição do que uma continuidade das doutrinas do século XVIII. O movimento
romântico, poderíamos lembrar, que foi inspirado por Rousseau e, na Alemanha,
especialmente por Herder, encarava-se a si próprio como uma reação contra o
Iluminismo, particularmente contra aqueles aspetos que se originaram na França e,
portanto, também contra a ‘École de Condillac’ (Bréal 1897: 277).
Mesmo se não encontrarmos prova textual suficiente para provar, sem qualquer
sombra de dúvida, que o pensamento linguístico de Humboldt deve muito a
Herder, creio podermos ter a certeza de que as ideias de Herder sobre a origem da
linguagem (cf. os agradecimentos de Jacob Grimm de 1852, também citados em
Sapir 1907: 140) e o seu desenvolvimento histórico exerceram, de facto, um
impacto sobre o estudo da linguagem em inícios do século XIX. Não nos deveria
surpreender que as ideias de Herder somente despertaram interesse histórico em
meados do século XIX (cf. Steinthal 1888: 10): compare-se os trabalhos de
Schleicher e de outros, desde 1850, período em que a linguística se tornou um
campo de estudo autónomo.
Por outras palavras: se hesitamos em manter a forte reivindicação tradicional
da ‘profunda influência’ de Herder sobre Humboldt, é bastante seguro afirmarmos


5
Parece, no entanto, que a curiosa introdução de Aarsleff, de 1988, à tradução inglesa da opus
magnum de Humboldt constitui a parte principal da sua ‘monographie en projet’. Também não
oferece qualquer análise linguística, mas em vez disso, Humboldt é, contrariamente ao que o próprio
afirma no corpo da obra traduzida, cunhado de ‘racista’. A maior parte da introdução de Aarsleff
(1988: xxxii-lxv) é uma ampliação dos seus argumentos anteriores, temperada com ataques
adicionais a estudiosos que mantêm a visão tradicional a respeito do impacto de Herder sobre o
pensamento linguístico alemão, acrescida de uma linha adicional de ‘influência’ sobre Humboldt,
advinda, desta vez, do enciclopedista Denis Diderot (1713-1784). Se a erudição de Aarsleff for
tomado como um modelo de história intelectual, não há dúvida de que os historiógrafos da linguística
podem concluir que um relato sobre o desenvolvimento do ‘estudo da linguagem’, desde o livro
Ueber die Sprache und Weisheit der Indier de Friedrich Schlegel (1808), pode seguramente ignorar
este tipo de obras.

96 E.F.K. Koerner
que Herder fazia parte do ambiente intelectual do período no qual as ideias de
Humboldt tomaram forma (cf. Marchand 1982).
6

2.2 A Questão da ‘Influência’ de Darwin sobre Schleicher
O nosso próximo exemplo difere do anterior em muitos aspetos. O que os
dois têm em comum é que ambos se tornaram lugares-comuns nas assim
chamadas histórias da linguística. Mas é aqui que acabam as semelhanças, porque,
neste caso, temos disponíveis amplas provas que contrariam a fable convenue.
Para falar sem rodeios, a teoria da linguagem de August Schleicher (1821-
1868) e o seu desenvolvimento são retratados como um desvio do idealismo hegeli-
ano para o materialismo darwiniano. Por outras palavras, tem-se afirmado em
muitos manuais e artigos dedicados à linguística do século XIX em geral, ou a
Schleicher em particular, que este abandonou as suas primeiras ideias sobre a
linguística como parte das ciências humanas (Geisteswissenschaft), em favor de
uma ciência da linguagem que pertenceria ao domínio das ciências naturais
(Naturwissenschaft), a seguir ao surgimento da Origin of Species de 1859, de
Charles Darwin (1809-1882), e que as suas ideias posteriores sobre a evolução da
linguagem tinham sido moldadas a partir da teoria de Darwin.
7

Em 1966, J. Peter Maher fez uma tentativa de corrigir essa imagem ampla-
mente divulgada de Schleicher num artigo importante, mas, muitos anos depois,
ainda encontramos traços desta interpretação distorcida em vários lugares. Dinneen
(1967: 189), chega mesmo a associar a biologia darwiniana ao postulado
neogramático da não-excecionalidade das leis fonéticas e atribui a famosa
declaração “[...] wenn wir nicht wissen, wie etwas geworden ist, so kennen wir es
nicht” (Schleicher 1863: 10)
8
a Darwin! Leroy (1971: 22) relaciona a rigorosa
aplicação das leis linguísticas por Schleicher com as ‘novas’ teorias de Darwin
(como se Darwin não tivesse precursores). Arbuckle (1970: 28) mantém a imagem
tradicional, segundo a qual Schleicher “[...] must be read within the context of the
idealist philosophy of his student days, and the positivism or Darwinism of his
maturity”. Mesmo Robert Henry Robins, que num estudo anterior (Robins 1973:
42) tinha observado que a interpretação schleicheriana da história das línguas
originalmente não tinha sido influenciada por Darwin, mas que Schleicher
considerava Darwin como apoio para as suas próprias ideias, após ter sido
introduzido à sua obra por Ernst Haeckel (1834-1919), o seu colega em Jena, não
alterou a sua declaração anterior, na sua Short History de 1967, de que


6
A importância geral de Herder na história das ideias foi reiterada no artigo de Luanne Frank (1984),
em que todos os assuntos que eram de interesse para Humboldt são tratados, isto é, salvo a
linguística, que é abordada no livro de Alfons Reckermann (1979).
7
Diderichsen (1976a: 236) é muito mais prudente ao argumentar que o livro de Darwin
provavelmente conduziu Schleicher mais longe no seu caminho da filosofia especulativa (à la Hegel)
para a posição positivista.
8
[Se não sabemos como algo foi feito, então não o conhecemos.]

O problema da ‘influência’ na historiografia linguística 97
“Schleicher’s theory of linguistic history, [...], was in line with Darwinian ideas prevalent in the second half of the century” (Robins 1979a: 181).
Há exceções a esta imagem comum de Schleicher como um darwinista (p. ex.
Andersen / Bache 1976). Mas, dada a recente reafirmação e ampliação das correções
à imagem tradicional e inteiramente errónea de Schleicher, feita por Maher (1983),
9

não preciso de alongar-me extensamente sobre uma refutação destas aqui e posso
ainda remeter o leitor para outros tratamentos do assunto, bem como de outros
estudos relacionados da minha autoria (Koerner 1982a, 1983c). Os historiógrafos da
linguística falharam em duas coisas: em primeiro lugar, não leram muitos dos
escritos do próprio Schleicher, se é que o fizeram, mas confiaram apenas e
demasiadas vezes nos relatos de outros (p. ex. Whitney 1871). Em segundo lugar,
falharam em estabelecer as verdadeiras fontes da inspiração teórica de Schleicher,
em particular a sua familiaridade com a botânica, com a teoria evolucionista pré-
darwiniana, com o princípio do uniformitarismo na geologia, e assim por diante.
Ambas as linhas de investigação teriam estabelecido uma variedade de factos e
observações importantes, que só poderiam ter conduzido a uma revisão considerável
da imagem distorcida de Schleicher nos anais da ciência linguística.
Por exemplo, Schleicher publicou dois desenhos de uma árvore genealógica
(Stammbaum) em 1853 e mais meia dúzia dessas árvores genealógicas em 1860,
vários anos antes de deparar com a segunda tradução alemã revista (1863) do livro
de Darwin, que marcou a época. Consequentemente, não há dúvida de que as suas
ideias devem ter advindo de outras fontes anteriores. Já por volta de 1850,
Schleicher tinha abandonado a sua posição anterior segundo a qual a linguística
seria uma disciplina histórica como a filologia ou os estudos literários. Em suma, o
retrato tradicional de Schleicher, como tendo desenvolvido o seu modelo
naturalista da estrutura da linguagem e da evolução linguística sob a influência de
Darwin (cf. Jacob 1973: 25), pode ser facilmente refutado e deveria ser substituído
por uma apresentação das ideias de Schleicher que fosse baseada na leitura direta e
na análise cuidadosa tanto das fontes primárias como das secundárias.

2.3 A Questão da ‘Influência’ de Durkheim sobre Saussure
Como nos outros dois casos, a afirmação de que Ferdinand de Saussure
(1857-1913) desenvolveu a sua conceção de linguagem e de linguística ‘sob a
influência’ das teorias sociológicas de Émile Durkheim (1858-1917) tem sido uma
das ideias mais largamente aceites na história da linguística. Como nos dois casos
anteriores, há boas razões para se questionar a adequação desta opinio communis,
como espero mostrar a seguir.


9
Maher (1983: xix-xxi) é particularmente crítico com o texto de Aarsleff sobre o ‘darwinismo’ de
Schleicher, mas também cita outros autores (Maher 1983: xxii-xxiv), como A. L. Kroeber, Joseph
Greenberg, J. R. Firth, e René Wellek, que tiveram uma ideia muito mais satisfatória do que a teoria
de Darwin realmente significava. Além disso, e talvez mais importante, tanto Kroeber como Firth
chamaram a atenção para o facto de que a teoria evolucionista já tinha dado entrada na linguística três
gerações antes do surgimento da Origin of Species.

98 E.F.K. Koerner
A história desta alegada ‘influência’ é uma história que tem mais de oito
décadas. Começou verdadeiramente no Second International Congress of Linguists,
ocorrido em 1931, em Genebra, quando Witold Doroszewski (1899-1976) propôs
que Saussure tinha desenvolvido a sua distinção ‘langue’ / ‘parole’ em analogia
com os conceitos desenvolvidos por Durkheim e pelo seu rival, o sociólogo Gabriel
de Tarde (1843-1904), respetivamente (Doroszewski 1933a). Dois anos mais tarde,
Doroszewski (1933b) publicou outro artigo no qual tratou da questão da
‘influência’ de Durkheim sobre Saussure, especialmente no que diz respeito ao
conceito de ‘langue’ como ‘facto social’. A proposta essencial de Doroszewski foi
que as ideias de Saussure sobre a natureza da linguagem seriam ‘de provenance
extralinguistique’, uma afirmação que refutei em diversas ocasiões, mais extensiva-
mente no meu livro sobre Saussure (Koerner 1973b: 48-49, 226-227, 230-231, 239
nota 12, e noutros lugares). Entretanto, parece que as propostas de Doroszewski
terão sido consideradas irresistíveis pelos autores de manuais, uma vez que
encontramos a reivindicação da influência de Durkheim repetida em muitos relatos
históricos sobre o estudo da linguagem (p. ex. Jacob 1973: 255; Robins 1979a: 200)
e discutida noutros (p. ex., Dinneen 1967: 192-195; Bierbach 1978: 153-176 et
passim). Mais recentemente, Geoffrey Sampson (1980: 48) censurou-me por negar
“[...] that Saussure was influenced by Durkheim, arguing that his intellectual
forebears should rather be sought exclusively among linguists such as the American
W. D. Whitney”. Embora nunca tenha dito ‘exclusivamente’, pode dizer-se que
Sampson resumiu os princípios básicos da minha posição, mas que falhou ao
mencionar Washabaugh (1974) que, independentemente da minha própria
investigação, chegou à conclusão de que não houve influência da sociologia
durkheimiana sobre Saussure.
Limitações de espaço não me permitem apresentar as ideias do próprio
Sampson sobre o assunto, mas pode dizer-se que se apoia fortemente em fontes
secundárias e que não consultou nem as Sources manuscrites de Godel (1957),
nem a ‘edition critique’ de Engler (Saussure 1968, 1974), que deveriam ser a base
textual de qualquer investigação séria sobre o pensamento linguístico de Saussure.
Ao referir a autoridade de Doroszewski (1933a: 90-91; 1958: 544, nota 3),
Sampson (1980: 48) afirma que: “We know that Saussure followed the
Durkheim / Tarde debates with interest [...]”. Doroszewski afirmara, no seu artigo
de 1931, que sabia disso ‘d’une source certaine’, fonte essa que em 1957
finalmente identificou como sendo Louis Caille (1884-1962), um antigo estudante
de Saussure em Genebra. Isto parece um detalhe interessante. Curiosamente,
entretanto, não se tem conhecimento de nenhum outro estudante de Saussure que
tenha feito semelhante observação, ainda que Charles Bally (1865-1947), Albert
Sechehaye (1870-1946), Léopold Gautier (1884-1973), Albert Riedlinger (1883-
1978) e possivelmente outros tenham sido muito mais próximos de Saussure do
que Caille. Com efeito, já no Congresso de Genebra (como documentam as atas na
pág. 147), Antoine Meillet (1866-1936), estudante de Saussure em Paris entre
1885 e 1891 e, em seguida, o seu amigo e regular correspondente, contradisse a

O problema da ‘influência’ na historiografia linguística 99
afirmação de Doroszewski. Mas, este facto tem sido convenientemente ignorado
pelos historiógrafos da linguística até aos dias de hoje.
A refutação de Meillet não foi uma observação acidental. Assim, a 25 de
novembro de 1930, nove meses antes do Congresso de Genebra, Meillet escreveu
a Trubetzkoy, provavelmente em resposta a uma questão do investigador vienense:
“J’ai été bien étonné quand j’ai vu F. de Saussure affirmer le caractère social du
langage: j’étais venu à cette idée par moi-même et sous d’autres influences [...]”
(Hagège 1967: 117). Esta observação não deixa de ser interessante, se nos
lembrarmos de que o próprio Meillet conhecia bem Durkheim (a quem foi dada
uma cátedra em Paris, em 1902) e que contribuiu para a sua revista Année
sociologique durante vários anos. Meillet parece dizer que Saussure não falou
sobre a natureza social da linguagem durante a sua estadia em Paris. Mas não
parece excluir a possibilidade de Saussure ter adotado as ideias que ele lhe teria
comunicado em artigos de 1905 e 1906, pouco tempo antes de Saussure começar o
seu curso de linguística geral, artigos esses de que Meillet tinha enviado separatas
ao maître de Genève (cf. Koerner 1984b: 33 nota 12). Foi por causa dos contactos
regulares de Saussure com Meillet que levantei a possibilidade de uma mediação
das ideias durkheimianas para Saussure através de Meillet (Koerner 1973b: 230-
232, 379), embora a minha própria investigação, seguindo as sugestões de Godel
(1957: 282), não tenha revelado nada que pudesse ser tomado como prova da
dependência de Saussure em relação a Durkheim (cf. Koerner 1973b: 45-60 e 62-
66, notas). Rijlaarsdam (1978: 264), depois de ter investigado detalhadamente a
‘conexão durkheimiana’, admitiu que nem Meillet nem Saussure estavam mais do
que parcialmente familiarizados com a sociologia de Durkheim. Talvez isso não
possa ser encarado como satisfatório perante os argumentos muito mais poderosos
de Hiersche (1972), Bierbach (1978) e outros, que alegam a dependência clara de
Saussure em relação a Durkheim.
Na teoria de Saussure, a natureza social da linguagem parece exercer um
papel secundário, particularmente na definição do seu conceito de ‘langue’. A dis-
tinção entre ‘langue’ e ‘parole’ não é feita estritamente com base na distinção entre
‘fait social’ / ‘fait individuel’, como sugere Bierbach (1978: 165-166), e, certa-
mente, não foi feita no sentido durkheimiano da coletividade que exerce coerção
social sobre o indivíduo.
10
É geralmente sabido (p. ex. Sampson 1980: 47), embora
não frequentemente reconhecido, que o nome de Durkheim não surge mencionado
em qualquer lugar nos escritos de Saussure, publicados ou inéditos. Ao mesmo


10
O conceito de ‘contrainte sociale’ é essencial na teoria de Durkheim, já que é com a ajuda desta
‘force’ que espera estabelecer a realidade psicológica do que chama um ‘fait social’ (cf. Koerner
1973b: 50-51, para detalhes). Onde se lê ‘la contrainte de l’usage collectif’ no texto da vulgata (cf.
Saussure 1931: 131), na edição crítica (Saussure 1968: 206) fala-se de ‘un caractère impératif du
langage’. Fica claro por esta passagem e por muitas outras do Cours que os editores procuravam
‘melhorar’ as anotações dos alunos que tinham em mãos, ao acrescentar ideias, conceitos e
interpretações que refletiam a sua própria experiência e preocupações intelectuais e não
necessariamente as de Saussure.

100 E.F.K. Koerner
tempo, é evidente, mesmo na versão vulgata do Cours, que Saussure está a referir-
se á obra de William Dwight Whitmey (1827-1894), de quem ele próprio se
assume grande admirador, em 1908 (cf. Godel 1957: 51) e quem tinha encontrado
pessoalmente em Berlin, em 1879 (cf. Joseph 1988). No seu livro Language and
the Study of Language de 1867 (traduzido para o alemão em 1874 e, deste modo,
certamente lido por Saussure durante os seus estudos na Alemanha), Whitney
tinha observado o seguinte:
Speech is not a personal possession, but a social: it belongs, not to the
individual, but to the member of society. No item of existing language is the
work of an individual: for what we may severally choose to say is not
language until it be accepted and employed by our fellows. The whole
development of speech, though initiated by the acts of individuals is wrought
out by the community (Whitney 1867: 404).
Lida com base o nosso conhecimento atual dos ensinamentos de Saussure, esta
citação soa bastante ‘sedutora’. Não pode, no entanto, ser usada como argumento
para excluir a influência das ideias durkheimianas sobre o pensamento de Saussure
durante a primeira década do século XX, quando os preceitos sociológicos de
Durkheim parecem ter sido amplamente discutidos, especialmente após a segunda
edição da sua obra Les règles de la méthode sociologique (
1
1895,
2
1901,
6
1919), à
qual Durkheim tinha acrescentado um extenso “Preface de la seconde édition”
(Durkheim 1901: IX-XXIV) que esclarece o seu conceito de ‘fait social’. Na
verdade, deveríamos supor que Saussure, como qualquer outro intelectual do
período, estivesse de alguma maneira informado acerca do intercâmbio entre
Durkheim e Tarde e amplamente familiarizado com alguns dos seus princípios. Por
exemplo, o primo de Saussure, Adrien Naville (1845-1930), professor de filosofia
em Genebra, publicou uma segunda edição ‘entièrement refondue’ da sua Nouvelle
classification des sciences (
1
1888.
2
1901),
11
no mesmo editor e no mesmo ano em
que saiu a segunda edição das Règles de Durkheim. Deve ser mencionado ainda
que, durante a maior parte do tempo em que Saussure ministrou os seus agora
famosos cursos de linguística geral (1907-1911), também trabalhou na biblioteca da
Universidade, onde classificava cuidadosamente os livros para a Faculdade de
Letras e Ciências Sociais que davam entrada (cf. Muret 1915: 46). É, portanto,
bastante razoável assumir que Saussure teria uma ideia geral do que se estava a
passar naquele tempo na filosofia, psicologia, sociologia e noutros campos,
incluindo a economia política, um assunto ao qual se referiu em diversas ocasiões
nas suas aulas. No entanto, a probabilidade de que Saussure tenha tomado
conhecimento da obra de Durkheim (assim como de outras) não deveria ser
interpretada como uma indicação de que Saussure tivesse sido influenciado por, ou
que fosse particularmente devedor a Durkheim ou a qualquer outro sociólogo. Por
este motivo, estou bastante inclinado a falar de noções ‘durkheimianas’, pelo


11
Com efeito, Saussure contribuiu com algumas ideias sobre a natureza semiótica da linguagem nesta
nova edição (Naville 1901: 104).

O problema da ‘influência’ na historiografia linguística 101
menos em territórios de fala francesa, como parte do ‘clima de opinião’ de inícios
do século XX, isto é, ideias que não podiam deixar de ser discutidas nos círculos
intelectuais do tempo de Saussure. Sugiro que tal visão deveria ser mantida
enquanto não possuirmos (pace Bierbach, Sampson, e outros) nenhuma prova
convincente, textual e concreta, de que Saussure incorporou conceitos sociológicos
durkheimianos na sua argumentação teórica.

3 Observações finais
Como se afirmou no início do presente artigo, muito parece depender do
sentido e da importância que atribuímos ao termo ‘influência’. Se queremos dizer
com ele que certas ideias faziam parte da bagagem intelectual de um determinado
período, poderíamos facilmente concordar que Humboldt, por exemplo, não
poderia ter escapado às ideias apresentadas por Herder, mesmo que não tenhamos
nenhum testemunho do próprio Humboldt neste sentido. Algo parecido pode ser
dito no caso de Saussure em relação a Durkheim. No entanto, uma interpretação
tão ampla de ‘influência’ pode não ser muito satisfatória e provavelmente não será
muito significativa. Em consequência, faríamos bem em estabelecer uma definição
mais clara deste termo demasiadamente utilizado, assim como em desenvolver
critérios para a sua aplicação adequada. Os seguintes pontos podem servir como
uma contribuição para a discussão, uma vez que não penso que o assunto esteja
encerrado.

3.1 O ‘background’ do autor
Os antecedentes de um autor em particular, a sua tradição familiar,
escolaridade, primeiros estudos e os interesses pessoais e as ocupações durante os
seus anos de formação podem ser importantes para estabelecer conexões que po-
dem conduzir a provas (frequentemente inconscientes) de empréstimo, integração e
assimilação de particulares ideias, conceitos ou teorias. Papéis de família, corres-
pondência, currículos escolares, cursos universitários frequentados por um dado
autor podem servir como fontes para o historiógrafo. A obra de Paul Diderichsen
(1905-1964) sobre o seu ilustre compatriota Rasmus Kristian Rask (1787-1832)
pode ser considerada como uma espécie de modelo do que tenho em mente
(Diederichsen 1976a: 259-270 passim e, mais completamente, Diderichsen 1976b).

3.2 Prova textual
A prova pode ser mais forte se paralelos textuais entre uma dada teoria ou
conceito e as suas supostas fontes puderem ser estabelecidos. Para a descoberta de
uma fonte ou de fontes de inspiração, a informação biográfica fornecida por 3.1
pode ser útil. Por exemplo, o facto de o pai de Schleicher ter sido médico e de ele
ter crescido numa área de florestas, com muita vida vegetal, pode ajudar a explicar
o seu interesse vitalício pela botânica e a abordagem posterior à linguagem e ao
seu estudo, como ainda a introdução na linguística de termos tirados das ciências
naturais (por exemplo, morfologia). Deveríamos igualmente observar a afirmação

102 E.F.K. Koerner
de Schleicher de que ele, em questões de método e de observações minuciosas,
tinha aprendido muito com o trabalho de Mathias Jacob Schleiden (1804-1881) e
os seus Grundzüge der wissenschaftlichen Botanik (Schleiden 1842/1843, cf. a
tradução inglesa Principles of Scientific Botany; Schleiden 1849). Schleiden foi
professor de botânica em Jena de 1839 até 1863, onde o próprio Schleicher viria a
ser professor universitário em 1857.

3.3 Reconhecimento público
Provavelmente a prova mais importante a favor de uma reivindicação de
influência pode resultar de referências diretas de um autor às obras de outros. Por
exemplo, nas suas aulas, Saussure referiu-se as obras de Whitney, Hermann Paul,
Baudoin de Courtenay e Kruszewski, mas não de Georg von der Gabelentz, Tarde
ou Durkheim. Ainda que estas referências diretas por si só não provem muito, a
não ser que sejam fundamentadas através da comparação textual (3.2), parece mais
apropriado investigar os estudiosos e as obras mencionadas por um determinado
autor, antes de atribuir uma existência real de um impacto sobre o seu pensamento
por aqueles aos quais nunca se referiu nos seus escritos, publicados ou não.
Em suma, acredito que, se esses três critérios forem tidos em conta de modo
gradual, estaremos muito mais próximos de responder satisfatoriamente se Herder
influenciou Humboldt, se Darwin forneceu um modelo a Schleicher, ou se
Durkheim conduziu Saussure a uma conceção social da linguagem.

Georg von der Gabelentz e Ferdinand de Saussure:
o problema da ‘influência’*
1




Il est difficile en effet, quand on relit aujourd’hui la
linguistique du passé, d’échapper à l’éclairage que les
connaissances actuelles projettent à renvers sur les
formulations d’autrefois; difficile de résister à cette
impression saisissante des vieux textes apparaissant
comme “prémonitoires”, difficile de combattre le
sentiment qu’on aperçoit partout des précurseurs
(Mounin 1959: 8)
Georges Mounin (1959: 8)
2


1 Introdução
No seu quase célebre artigo de 1967,
3
Eugenio Coseriu (1921-2002) afirmou
que, até aquele momento, Saussure tinha sido considerado principalmente de
forma a-histórica no que diz respeito à sua relação com os desenvolvimentos
linguísticos pós-saussurianos, que tinha sido percebido mais como o ponto de
partida de uma nova linguística, do que como o ponto de chegada de uma longa
tradição, isto é, de correntes linguísticas anteriores (cf. Coseriu 1967: 100).
Parece-me que uma observação de tal natureza acarreta pelo menos dois mal-
entendidos. Primeiro, já deveria estar sobejamente claro que o Cours marca o
início de uma nova era na teoria linguística geral, mais o início de um novo
paradigma, para usar um termo moderno, do que a compilação de ideias que
prevaleceram num determinado período – como pode ser dito, sem associações


* [Observação sobre a tradução: a presente tradução elaborada por Cristina Altman (USP, São Paulo),
com base no manuscrito fornecido pelo autor foi publicada pela primeira vez em português sob o título
“Georg von der Gabelentz e Ferdinand de Saussure: O problema da ‘influência’” (Koerner 2012a).]
1
O tema deste artigo remonta à época em que eu estava a trabalhar na minha dissertação Ferdinand de
Saussure: Origin and Development of His Linguistic Thought in Western Studies of Language: A
contribution to the history and theory of linguistic, submetida à Simon Fraser University, em Burnaby /
Vancouver, B.C., Canadá, em novembro de 1971 (Koerner 1971a). Uma versão levemente revista,
acrescida de um índice de autores (págs. 419-428), foi publicada dois anos mais tarde (Koerner 1973b).
Sobre Georg von der Gabelentz, veja-se Koerner (1973b: 166-194). O texto original foi publicado como
“Animadversions on Some Recent Claims regarding the Relationship between Georg von der Gabelentz
and Ferdinand de Saussure” (Koerner 1974c). Quando o reimprimi em 1988, numa seleção de artigos
previamente publicados em Saussurean Studies / Études saussuriennes (Koerner 1988a), escolhi o título
da presente versão do artigo “Georg von der Gabelentz and Ferdinand de Saussure: The problem of
‘influence’” (Koerner 1988b). À exceção de modestos retoques de estilo e de acréscimos de biodados de
autores que acredito que sirvam para alguma orientação histórica, deixei o texto tal e qual. Acrescentei
títulos às secções para dar uma estrutura adicional ao argumento.
2
Citado in Koerner (1971b: 159) a partir de Mounin (1959: 8).
3
[Observação da tradutora: publicado em língua portuguesa sob o título “Georg von der Gabelentz e
a linguística sincrônica” (Coseriu 1980).]

104 E.F.K. Koerner
pejorativas, dos Prinzipien de Hermann Paul. Segundo, é curioso observar que
esta afirmação tenha sido feita justamente por Coseriu, já que ele é visto como
uma autoridade no pensamento linguístico saussuriano. É simplesmente incorreto
afirmar que Saussure não tinha sido frequentemente relacionado com vários
estudiosos contemporâneos e com várias tradições linguísticas desde o
aparecimento do Cours em 1916 (cf. Koerner 1972a: 69-88). Pelo contrário,
parece que vários dos mais destacados contemporâneos de Saussure, incluindo
Hugo Schuchardt (1842-1927) e Otto Jespersen (1860-1943), ficaram curiosos
com a questão das possíveis fontes da inspiração linguística de Saussure. Com
efeito, desde aquela época, raramente se passou um ano sem que uma observação
anterior neste sentido fosse reiterada, ou sem que fosse anunciado um novo
‘predecessor’ das ideias contidas no Cours.
Este não é o lugar para se discutir os motivos que estão por trás dessas
múltiplas tentativas de rastrear as fontes a partir das quais Saussure pode ter
desenvolvido as suas teorias, embora pareça duvidoso que a maioria dessas
investigações tenha sido conduzida como uma tentativa de perceber melhor o
impacto revolucionário de Saussure e assim apreender o fenómeno enigmático do
surgimento de um génio, cujos ensinamentos transcenderam as especulações
alimentadas pelos seus contemporâneos e sucessores. O ponto que gostaria de
enfatizar aqui é que a impressão, à qual o leitor destas propostas frequentemente
infundadas não pode escapar, é que os seus autores não estão tão interessados em
escrever a história da linguística, mas sim em reescrevê-la na sua interpretação
própria, às vezes muito pessoal, de como os factos deveriam ter acontecido. Para
citar um exemplo simples, refiro-me ao facto historicamente verificável de que o
jovem Ferdinand de Saussure (1857-1913) passou os seus anos académicos de
1876-1878 e 1879-1880 em Leipzig (com um intervalo de um ano durante o qual
estudou na Universidade de Berlin), ao passo que Georg von der Gabelentz (1840-
1893) foi nomeado para ocupar a cátedra de línguas do leste asiático, recentemente
estabelecida na mesma Universidade em 1878, provavelmente na mesma altura
em que Saussure se mudou para Berlim, de onde retornaria somente para a
conclusão da tese de doutoramento, que defendeu em fevereiro de 1880. Ainda
assim, Eberhard Zwirner (1967: 2442), ao entender que Saussure se associou
fortemente à junggrammatische Richtung nos seus primeiros anos, afirmou que
Gabelentz também tomou parte ativa neste movimento – algo que nenhum leitor
atento da Sprachwissenschaft de Gabelentz afirmaria – sugerindo, assim, que
Saussure já deveria ter estabelecido contacto com o estudioso durante a sua estada
em Leipzig. Essa sugestão parece ter-se tornado um facto histórico, com
seguidores acríticos (por exemplo, Stötzel 1970: 17), que afirmaram que
Gabelentz foi de facto um dos professores de Saussure.
Qualquer um empenhado em tornar a história da linguística uma atividade
séria dentro da área poderia citar outros exemplos de distorções de factos passados
no desenvolvimento da ciência linguística. O assunto que será discutido no
presente artigo somente deveria ser visto como mais uma instância que reflete o

Georg von der Gabelentz e Ferdinand de Saussure: o problema da ‘influência’ 105
deplorável ‘estado da arte’. No entanto, parece que a relação entre Gabelentz e
Saussure veio a assumir grandes proporções, a julgar pelo número daqueles que
aceitaram totalmente as afirmações de certos estudiosos de que a
Sprachwissenschaft de Gabelentz, que apareceu pela primeira vez em 1891, teve
um impacto importante na argumentação teórica de Saussure e que de facto
propõe conceitos cruciais que antecipam aqueles esboçados no Cours. Na verdade,
a história recente da alegada importância de Gabelentz para Saussure põe a
descoberto os verdadeiros pontos da questão, quando se trata de apresentar a
história da linguística de maneira séria.
No presente artigo, não repetirei a argumentação relacionada com os vários
conceitos genuinamente linguísticos que diz que terão sido propostos por
Gabelentz cerca de uma geração antes de Saussure. Acredito que tanto a minha
refutação de Coseriu 1967 (cf. Koerner 1971b; 1972d), como a prova que
apresentei (Koerner 1972b) de que não foi o livro de 1891 de Gabelentz, mas sim
os Prinzipien (1880) de Hermann Paul, que constituíram a maior fonte daquilo que
Karl Bühler (1879-1963) chamou a Bewusstseinsklärung cartesiana de Saussure.
Em vez disso, no que se segue, vou tentar 1) delinear a curiosa história da
afirmação relativa à influência importante de Gabelentz sobre o pensamento
linguístico de Saussure (1918-1972); 2) propor sugestões para a condução
apropriada da investigação na história da linguística, e 3) demonstrar, através da
apresentação de uma questão particular do alegado impacto de Gabelentz sobre
Saussure, que argumentos recentes nessa direção são insustentáveis.

2 A ‘tradição’ da suposta antecipação de Gabelentz em relação a Saussure
Já em 1918, Leo Spitzer (1887-1960) observou o que acreditava serem
paralelos óbvios entre as ideias de Gabelentz sobre ‘Sprache’ e ‘Rede’ (cf.
Gabelentz 1969: 59)
4
e a importante dicotomia de Saussure ‘langue’ / ‘parole’ (cf.
Saussure 1931: 36-39; Saussure 1968: 321-370).
5
Mas a observação ainda muito
inespecífica de Spitzer permaneceu despercebida na literatura por algum tempo,
sendo apenas mencionada numa nota de rodapé por Iorgu Iordan (1888-1986), na
tradução autorizada de John Orr (1885-1966) (Iordan / Orr / Posner 1970: 283),
em que, a rigor, apenas afirmou que Gabelentz tinha estabelecido “[..] a similar
distinction between ‘Rede’, [...], and ‘Sprache’ [...]” e, mesmo assim, só depois
de se ter referido no mesmo lugar à “[...] twofold conception [i.e., ‘langue’ vs.
‘parole’, EFKK] of the phenomenon of language [...]” de Paul, nomeadamente, à
distinção entre ‘(Sprach-)Usus’ e ‘(individuelle) Sprechtätigkeit’, uma referência


4
[Observação da tradutora: os termos utilizados por Gabelentz ‘Sprache’ e ‘Rede’ equivaleriam,
aproximadamente, aos termos ‘linguagem’ e ‘discurso, fala’, em português. A dicotomia saussureana
‘langue’ / ‘parole’, mais familiar ao leitor brasileiro, equivale ao português ‘língua’ e ‘fala’,
respetivamente. A seguir, esses e todos os demais termos técnicos serão mantidos na sua língua
original, conquanto seguindo a opção do autor no seu texto em inglês.]
5
Cf. Spitzer (1918: 345). Veja-se Coseriu (1967: 75), para a citação da passagem em questão. Quanto
às siglas e outras abreviações utilizadas no presente texto, veja-se a bibliografia final.

106 E.F.K. Koerner
que Coseriu (1967: 75) preferiu manter em silêncio. Curiosamente, Jespersen
(1922: 98), que reconheceu a sua dívida particular para com Gabelentz, foi
criticado por Coseriu por não ter feito essas observações na sua resenha do Cours
de Saussure, de 1916 (Coseriu 1967: 75). Outro estudioso que Coseriu não
mencionou no seu artigo, mas que conhecia amplamente a Sprachwissenschaft de
Gabelentz, foi Louis Hjelmslev (1899-1965). Ainda que, no seu frequentemente
negligenciado, mas verdadeiramente fascinante Principes de grammaire générale,
talvez tenha feito tantas referências ao livro de Gabelentz (cf. Hjelmslev 1928: 11,
39, 43, 67, 76, 84, 91, etc.) quantas ao Cours, não foi levado a argumentar, por
semelhanças aparentes de termos ou de ideias, que elas não seriam simplesmente o
resultado de uma “[...] coïncidence, mais d’une véritable influence de Gabelentz
sur Saussure [...]”, como Coseriu (1967: 76) e outros nos quiseram fazer crer.
6

Independentemente de interpretações anteriores, outros estudiosos referiram-
se a Gabelentz como um precursor das ideias estruturalistas de Saussure. Friedrich
Kainz (1897-1977) sentiu ser um ‘Akt geschichtlicher Gerechtigkeit’ (1941: 20)
chamar a atenção para o facto de a distinção entre ‘langage’, ‘langue’, e ‘parole’
ter sido feita anteriormente na Sprachwissenschaft de Gabelentz. Anton Reichling
(1898-1986), ao citar (1948: 13) a agora famosa passagem de Gabelentz (1969:
481), que foi acrescentada à segunda edição da Sprachwissenschaft, entendeu que,
no que diz respeito ao conceito de língua como um sistema de partes
interdependentes, que Saussure “[...] had an almost visionary person as his
predecessor” (Reichling 1948: 14), mas concede que Saussure desenvolveu
consideravelmente as ideias enunciadas pelo seu predecessor. Leonardus
Cornelius Michels (1887-1984) escolheu outro aspeto da teorização de Gabelentz,
e afirmou que foi, de facto, um precursor do estruturalismo moderno e da
fonologia (Michels 1952). Coseriu (1967: 76) defende que chamou a atenção para
a antecipação de Gabelentz da distinção ‘langue’ / ‘parole’ de Saussure já em
1958, ao passo que Serafim da Silva Neto (1917-1960) parece (Silva Neto 1960:
29) dever as suas opiniões à alegação inicial de Coseriu, como sugere a sua nota
bibliográfica (Silva Neto 1960: 38). Mas parece que não foi senão em 1964, no
Fifth International Congress of Phonetic Sciences, em Münster/ Westfalen
(Alemanha), que a alegada influência de Gabelentz sobre Saussure se tornou uma
questão académica entre linguistas.
Naquela ocasião, Eberhard Zwirner (1899-1984) afirmou que Gabelentz tinha
antecipado tanto as distinções ‘langue’ e ‘parole’ e sincronia e diacronia de
Saussure, como o conceito de sistema em língua (cf. Zwirner 1965: 7-9),


6
Isto é particularmente interessante se observarmos que Hjelmslev (1928: 215), curiosamente ao
ignorar o Mémoire de Saussure (1878), fez a seguinte afirmação: “A notre connaissance, G. v. d.
Gabelentz est le premier qui ait formulé explicitement l’idée dont il est question, [...], le mot
système”, referindo-se ao Sprachwissenschaft (cf. Gabelentz 1969: 76, 385, 481), sem, entretanto,
afirmar que Saussure, com cujas ideias Hjelmslev (1928: 214-295) estava particularmente
preocupado no capítulo “Le système grammatical”, estaria dependente de Gabelentz.

Georg von der Gabelentz e Ferdinand de Saussure: o problema da ‘influência’ 107
alegações que Zwirner sustentou repetidamente depois,
7
apesar das intervenções
de Piero Meriggi (1899-1982) e Eric Buyssens (1900-2000), na discussão que se
seguiu à sua apresentação no Congresso, em que o primeiro chamou a atenção
para os Prinzipien de Paul, como fonte da conceção ‘langue’ / ‘parole’ de
Saussure, e o último para o princípio de sistema que inspirou o Mémoire de
Saussure, de 1878, muitos anos antes do surgimento do trabalho de Gabelentz.
Mas nem o próprio Zwirner, nem o seu discípulo Karl Heinz Rensch (cf. Zwirner /
Rensch 1968: 91) estiveram dispostos a considerar essas objeções. Este último
procurou fundamentar as alegações do seu mestre (cf. Koerner 1971c: 249-250)
num artigo que contém tais afirmações como a que a distinção de Saussure entre a
abordagem sincrónica e diacrónica da língua ‘findet sich bereits’ (já se encontra)
no livro de Gabelentz de 1891 (Rensch 1966: 36). Neste ponto, ignorou a clara
separação que Paul fizera entre ‘descriptive Grammatik’ e ‘historische
Grammatik’, ou ‘Sprachgeschichte’, feita já em 1880 (cf. Koerner 1972b: 283-
290), e o próprio conhecimento de Saussure, durante o seu magistério em Paris
(1881-1891), do duplo aspeto do estudo linguístico, como o seu discípulo Antoine
Meillet (1866-1936) lembrou no obituário de Saussure, de 1913, três anos antes do
primeiro aparecimento do Cours, nota bene:
F. de Saussure voulait surtout bien marquer le contraste entre deux manières
de considerer les faits linguistiques: l’étude de la langue à un moment donné,
et l’étude du développement linguistique à travers le temps (Meillet 1913,
citado em Koerner 1972b: 282).
Enquanto Rensch repetia as suas afirmações anteriores (1967: 78-79), Coseriu
estava a preparar a sua tentativa mais sugestiva e ampla de fundamentar o seu
argumento de que a influência de Gabelentz era comparável à que Whitney parece
ter exercido sobre Saussure (cf. Saussure 1931: 18, 26, 110; Saussure 1968: 87,
166-176, 1264-1267; Godel 1957: 32, 43-46, 51, etc.). O ‘êxito’ das afirmações de
Coseriu pode ser medido pelas várias referências laudatórias ao seu artigo na
literatura que se seguiu. Enquanto as reiteradas observações de Zwirner receberam
pouca atenção e o texto de 1966 de Rensch foi mencionado em Szemerényi (1971:
43) e criticado por Godel (1968: 116-117), o artigo de Coseriu foi aceite por um
número considerável de eminentes estudiosos. Com efeito, o leitor que se aproxima
do artigo de Coseriu sem profundo conhecimento do desenvolvimento do
pensamento linguístico europeu durante as últimas décadas do século XIX e sem
conhecimento direto das fontes do Cours (especialmente as constantes de Godel
1957 e Saussure 1968) não pode deixar de ficar com a impressão de que a
Sprachwissenschaft de Gabelentz de facto incorpora as ideias ‘saussurianas’. O
próprio Coseriu tentou reforçar a sua afirmação anterior nas suas lições
universitárias de 1967-1968. É assim que 1891, o ano da publicação do livro de
Gabelentz, passou a tornar-se o ponto de partida do estruturalismo (cf. Coseriu


7
Cf. Zwirner (1966a: 189-90; 1966b: 81, 101-103, 109, 166; 1967: 2445-2446; 1968a: 448, 449, 452;
1968b: xiv; 1969a: 31, 35-36; 1969b), para mais referências.

108 E.F.K. Koerner
1969: 24, 36-37); mais adiante na mesma página, alega-se que a tripartição de
Saussure ‘parole’, ‘langue’, e ‘faculté du langage’ correspondia exatamente,
(‘genau’), à distinção de Gabelentz ‘Rede’ / ‘Einzelsprache’ / ‘Sprachvermögen’ e
que Saussure tinha adotado a sua dicotomia sincronia / diacronia do mesmo
linguista, enquanto Hermann Paul, por exemplo, figurou exclusivamente como
aquele que identificou a linguística com a linguística histórica (Coseriu 1969: 55),
como passou a moda nos manuais modernos de história da linguística.
Certamente não se deve culpar Coseriu pela aceitação acrítica das suas
opiniões por contemporâneos, tais como Klaus Baumgärtner (1931-2003) que,
numa resenha à reimpressão do livro de Gabelentz (1969), afirmou expressamente:
“Man braucht auf das Buch nicht einzugehen [...]”, ou seja, não há necessidade de
debruçar-se sobre o livro, já que a investigação de Coseriu, “[...] die bei
fachgeschichtlicher Ignoranz der Linguistik ansetzt, arbeitet akribisch,
streckenweise im Paralledruck Gabelentz-Saussure heraus, wo die Quellen der
strukturalistischen Dichotomien und Trichotomien zu suchen wären”
(Baumgärtner 1972: 247). Uma confiança bastante semelhante na palavra do
estudioso eminente pode ser observada em Szemerényj (1971: 42-43), onde a
questão colocada por Coseriu (1967: 99) se as reflexões de Saussure sobre
problemas de linguística geral em 1894, como atestadas em Godel (1957: 26-27,
31-32, 37-39), tinham sido desencadeadas pelo livro de 1891 de Gabelentz, passa
a tornar-se uma afirmação de facto: “Es dürfte ziemlich klar sein, dass die Wende
in den 90er Jahren durch das Buch von Gabelentz (siehe S.42) herbeigeführt
wurde” (Szemerényi 1971: 39, nota 17; cf., criticamente, Godel 1971). Também
Gheorge Ivănescu (1912-1986), em 1972, como Bernhard Rosenkranz (1970: 3)
antes dele, afirma que o artigo de Coseriu “[...] a le mérite d’avoir vu la grande
influence de G. von der Gabelentz sur F. de Saussure en ce qui concerne la
distinction entre la linguistique synchronique et la linguistique diachronique”
(Ivănescu 1972: 70), criticando-o somente por ter excluído a influência de Jan
Baudouin de Courtenay (1845-1929) e de Mikołaj Kruszewski (1851-1887) sobre
Saussure, ao concluir que a distinção de Saussure foi o resultado de uma “[...]
synthèse personnelle entre la conception de Baudouin de Courtenay et celle de von
der Gabelentz” (Ivănescu 1972: 72). A súmula dessa atitude em relação às
“descobertas” de Coseriu parece-me estar na afirmação de Hans-Helmut
Christmann (1929-1995): “Auf Grund von Coserius Demonstration kann man
Gabelentz’ Buch mit Fug und Recht [!] als die wichtigste [!] Quelle für Saussures
Cours ansehen” (Christmann 1971: 245). De facto, Christmann (1971: 246-252)
sente que poderia acrescentar ainda outros ‘paralelos’ aos que Coseriu sugeriu, no
que diz respeito à relação entre Gabelentz e Saussure. Voltarei a esta questão mais
tarde. Basta por ora observar que Christmann (1971: 245, nota 15) obviamente
argumenta ad auctoritatem diante do seu colega mais velho na Universidade de
Tübingen, deixando de lado tanto as Sources manuscrites (Godel 1957), editadas
por Robert Godel (1902-1984), como a edição crítica do Cours (Saussure 1968) de

Georg von der Gabelentz e Ferdinand de Saussure: o problema da ‘influência’ 109
Rudolf Engler (1930-2002), por exemplo, por não fornecerem qualquer material
que sustentasse a sua posição.
Entretanto, é gratificante ver que pelo menos um estudioso não concorda com a
tese da influência substancial, direta e indireta, de Gabelentz sobre a argumentação
linguística de Saussure. Rolf Hiersche (1924-1996), ao rever as propostas de
Zwirner, Rensch, e Coseriu (Hiersche 1972: 21-24), apresenta pelo menos duas
críticas importantes aos procedimentos deles, nomeadamente: a confiança exclusiva
no Cours, tal como compilado por Charles Bally (1865-1947) e Albert Sechehaye
(1870-1946), e a preocupação com a (nem sempre muito confiável) cronologia
externa que sustenta uma alegada dependência de Saussure em relação a Gabelentz,
em vez de tentarem investigar “[...] die innere Geschichte der Begriffsbildung”
Hiersche 1972: 23). Em vez disso, Hiersche acredita ter convincentemente
demonstrado que a fonte importante da inspiração linguística saussuriana, em
particular no que diz respeito à distinção ‘langue’ / ‘parole’, deve ser procurada no
trabalho sociológico de Émile Durkheim (1858-1917), uma posição que também
não me convence completamente (cf. Koerner 1971a: 45-60, 67-69, 226-227, 379).

3
Tratamento superficial de textos na investigação histórica e alguns remédios
Parece-me que nenhum dos estudiosos atrás mencionados demonstrou
convincentemente a sua habilidade em conduzir investigações sem preconceitos
no campo do nosso passado linguístico. Várias razões contribuíram para esse
deplorável estado de coisas. Acima de tudo, prevalece a impressão de que
linguistas que se distinguiram no campo da linguística geral julgam ser igualmente
capazes de escrever a história da linguística, sem treino ou preparação adicionais.
Esta suposição vem reforçada por outros que cegamente aceitam as suas
descobertas como declarações de facto, e não acreditam ser necessário investigar a
base das afirmações feitas por eles. Como resultado, os argumentos apresentados
por Zwirner, Rensch e Coseriu foram aceites acriticamente pela literatura e deram
entrada nos manuais de histórica da linguística (p. ex., Szemerényi 1971: 42;
Leroy 1971: 63, nota 2). Vejo as razões para as inadequações e distorções factuais
na redação da história do pensamento linguístico na supervalorização da
autoridade, associada à preguiça intelectual, em particular quando os argumentos
apresentados por outros coincidem com os próprios preconceitos. Enquanto as
fontes primárias não forem lidas, ou, se lidas, não o forem com a atitude
apropriada, isto é, de estudar os textos dentro do seu direito próprio, não haverá
história da linguística, nem mesmo crónica. Critiquei Coseriu em três pontos (cf.
Koerner 1971n: 158-159), e vou discorrer sobre eles aqui, já que parece que não
foram completamente compreendidos na época (cf. Narr / Petersen 1972).
Primeiro, Coseriu, assim como todos os outros estudiosos atrás mencionados,
retirou Gabelentz do seu contexto histórico, do clima intelectual geral em que
desenvolveu as suas ideias. Este aspeto inclui não apenas a avaliação das ideias,
tanto linguísticas como extralinguísticas, correntes na Europa ocidental entre os
anos 1880 e 1890, mas também o estabelecimento da formação específica de

110 E.F.K. Koerner
Gabelentz, inclusive a sua tradição familiar e educação. Aqui, e o leitor atento da Sprachwissenschaft de Gabelentz não pode ignorar essa impressão, diferenças
importantes entre Gabelentz e Saussure podem ser detetadas, o que poderia
explicar bem o simples, mas muito significante facto (geralmente posto de lado
por aqueles que defendem a dependência de Saussure em relação a Gabelentz), de
que Saussure, de facto, possuía um exemplar da primeira edição da
Sprachwissenschaft de Gabelentz (cf. Godel 1968: 117), mas nunca fez qualquer
referência ao livro, quer nas suas lições sobre a linguística geral, quer nas suas
notas pessoais, muitas das quais foram descobertas recentemente. A mim parece
que este facto comprovável deveria, pelo menos, ter acautelado aqueles que
assumiram rapidamente que Saussure foi particularmente inspirado pelas ideias de
Gabelentz. Além disso, é surpreendente que Coseriu (1967: 100) simplesmente se
tenha referido a William Dwight Whitney (que Saussure de facto elogiou em
várias ocasiões), ao afirmar a sua importância para Saussure como um facto bem
estabelecido, sem oferecer, porém, qualquer prova para isso. Com efeito, são de
mencionar somente dois artigos sobre o assunto (veja-se Popa-Tomescu 1970;
Sljusareva 1972). Hermann Paul não se encontra mencionado nos artigos de
Zwirner, Rensch, Coseriu, Christmann, Ivănescu, e outros, apesar de Saussure se
ter referido explicitamente a ele tanto nas suas lições (cf. Saussure 1968: 90),
8

como nas suas notas pessoais (cf. Godel 1957: 51; cf. também pág. 30).
Segundo, e esta observação pertence a princípios processuais na investigação
das teorias linguísticas e das suas relações, Coseriu e outros não tentaram, no que
diz respeito ao ponto atrás referido, elucidar as ideias linguísticas de Gabelentz à
luz da sua formação geral e do seu próprio quadro de referência, mas foram
enganados por semelhanças superficiais quando equipararam, ou pelo menos
quando tentaram aproximar os termos de Gabelentz aos de Saussure. Assim, o
simples facto de Saussure (1931: 31) ter afirmado que “Rede correspond à peu
près a ‘parole’ [...]” foi tomado por defensores das afirmações de Coseriu (Narr /
Petersen 1972: 461) como um forte argumento a favor do impacto de Gabelentz
sobre Saussure. Mas deveriam ter sido alertados pela leitura do trecho completo do
Cours, que segue de perto as fontes (cf. Saussure 1968: 249):
[...] les distinctions établies [entre langue e parole EFKK] n’ont donc rien à
redouter de certains termes ambigus qui ne se recouvrent pas d’une langue à
l’autre. Ainsi en allemand Sprache veut dire ‘langue’ et ‘langage’; Rede
correspond à peu près à ‘parole’, mais y ajoute le sens spécial de ‘discours’
(Saussure 1995: 31).
Esta semântica evidentemente ambivalente da palavra alemã Rede não
resultou de uma investigação mais cuidadosa da relação entre o conceito de
Gabelentz de ‘Rede’ e o uso particular de Saussure de ‘parole’. Pelo contrário,
uma vez feita a suposição de que os termos de Gabelentz e de Saussure eram


8
Observe-se que as referências à edição crítica de Engler não se referem a páginas, mas sim à
numeração das secções estabelecidas pelo editor.

Georg von der Gabelentz e Ferdinand de Saussure: o problema da ‘influência’ 111
muito próximos, com respeito ao seu sentido e à sua implicação teórica, tornou-se
demasiado fácil estabelecer outras ‘correspondências’, baseadas largamente em
Vorverständnis, ou seja, pré-conceções, segundo as quais Rede e parole,
Einzelsprache (assim como Sprache) e langue são epistemologicamente idênticas.
Daqui, só se pode avançar para a única conclusão lógica de que a conscience
collective (cf. Saussure 1968: 1661) de Saussure ‘correspondeֹ ’ ao Volksgeist (cf.
Gabelentz 1969: 385), se devemos fazer fé em Coseriu (1967: 87), ou que a
referência de Gabelentz (1969: 61) a ‘aufeinanderfolgende Tatsachen’
‘corresponde’ aos termes successifs (cf. Saussure 1968: 1451) de Saussure,
embora Coseriu devesse ter notado que Gabelentz fez uma observação do senso
comum, ao passo que Saussure estava a falar de assuntos com consequência
teórica. Observações semelhantes poderiam ser feitas sobre as demais alegadas
correspondências entre as teorias de Gabelentz e Saussure (se é que o termo
‘teoria’ se aplica apropriadamente no caso dos esboços perspicazes, porém
assistemáticos, de Gabelentz; cf. Coseriu 1967: 91); uma delas será o assunto do
capítulo conclusivo deste artigo.
Finalmente, mas não menos importante, nem Coseriu nem nenhum outro
estudioso se perguntou por que razão a maioria das declarações teoricamente
significantes da Sprachwissenschaft de Gabelentz foram acrescentadas por
Albrecht Conon Graf von der Schulenburg (1865-1902), um sobrinho de Georg
von der Gabelentz, à segunda edição de 1901, “[...] wo der Fortschritt der
Wissenschaft es dringend verlangte [...]”, como Schulenburg afirma no seu
prefácio (cf. Gabelentz 1969: vii).
9
Por outras palavras, as ideias de Gabelentz
foram retiradas do seu contexto histórico (assim como do seu contexto imediato),
como se os Prinzipien (
1
1880,
2
1886) de Paul e as Untersuchungen über die
Grundfragen des Sprachlebens (1885) de Philipp Wegener, por exemplo, não
tivessem sido publicados vários anos antes da Sprachwissenschaft de Gabelentz.
Além do mais, no que diz respeito às ideias de Saussure, nenhum dos estudiosos
atrás mencionados fez um esforço para estabelecer quais são as passagens do
Cours que se baseiam nas suas lições (tal como anotadas pelos seus alunos), ou
nas notas pessoais, e quais foram acrescentadas pelos editores, nem muito menos
qual era a tradição intelectual geral que seguia o ‘maître de Genève’, tradição essa
que, com certeza, era bastante diferente da de Gabelentz, como indicarei no
capítulo que se segue.

4 Questões sobre diferentes forças na tradição intelectual
Klaus Müllner deu um exemplo notável de até onde a confiança acrítica nas
fontes secundárias e terciárias pode levar, evidentemente ao seguir a referência
feita pelos editores no seu prefácio da reimpressão do livro de Gabelentz (1969),


9
Devido a mudanças na disposição e no tamanho, o leitor pode não ter reparado que Schulenburg de
facto acrescentou o equivalente a 80 páginas impressas (tomando-se por base a primeira edição), sem
alterar quase nada e mal omitindo uma linha ou mais do texto de 1891 (cf. para detalhes Koerner
1971a: 192 nota 11).

112 E.F.K. Koerner
assim como também as sugestões de Coseriu, quando fez a seguinte afirmação a respeito da distinção ‘langue’ / ‘parole’ de Saussure:
Diese Unterscheidung wurde von Ferdinand de Saussure [...] vulgarisiert [!],
erschien aber schon früher bei F. Hegel [!] und Wilhelm von Humboldt [!], in
der Sprachwissenschaft (Müllner 1971: 81).
10

É verdade que Hegel fez, na sua Encyclopädie de 1817, uma referência de
passagem a ‘die Rede, und ihr System, die Sprache’, ou seja, a fala e o seu sistema,
a linguagem (cf. Koerner 1971a: 226), que, quando citada fora de contexto
(Gabelentz 1969: [3]), pode parecer muito sugestiva. No que diz respeito a
Humboldt e à sua alegada antecipação da distinção ‘langue’ / ‘parole’ de Saussure
(assim como de outros conceitos), cabem algumas observações, especialmente
desde que não apenas Coseriu (1967: 100) propôs essa ideia, mas outros, em
particular Christmann (1971), incluíram Saussure na tradição humboldtiana, algo
que acho totalmente falacioso. Coseriu (1969: 98) queixou-se de que Saussure
tivesse sido geralmente visto como o iniciador da linguística estrutural e que as suas
fontes tivessem sido omitidas. Nenhuma destas alegações é sustentável. Os
fonólogos de Praga referiram-se a Jost Winteler (1846-1929), Jan Baudouin de
Courtenay (1845-1929) e outros, como tendo proposto ideias estruturais, e
observações semelhantes foram feitas por Hjelmslev nos seus Prolegomena. No
que diz respeito às fontes da inspiração linguística de Saussure, tem sido sugerida,
ao longo dos últimos sessenta anos ou mais, uma série de estudiosos do século
XIX, vários sem qualquer justificação. A esses pertence todo o grupo do que
chamei vagamente de ‘corrente humboldtiana’ (cf. Koerner 1973c), incluindo o
próprio Humboldt, Steinthal, Misteli, Gabelentz, Finck, e muitos outros. Este facto
parece estranho apenas para aqueles que abordam a questão das fontes de Saussure
com ideias preconcebidas e que não consideram necessário consultar o magistral
livro de Godel (1957), ou a edição crítica do Cours feita por Engler (Saussure
1968). Com efeito, ao passo que Gabelentz menciona Lucien Adam (1833-1918),
Curt Bruchmann (1851-1928), James Byrne (1820-1897), o seu pai Hans Conon
von der Gabelentz (1807-1874), Raoul de La Grasserie (1839-1914), Franz Misteli
(1841-1903), Heymann Steinthal (1823-1899), e Friedrich Techmer (1840-1891),
os quais todos se associaram às ideias humboldtianas da linguagem (e do
pensamento), nenhum desses autores é mencionado nos trabalhos publicados, ou
ainda não publicados, de Saussure. A rigor, o próprio Humboldt é mencionado uma
vez nas lições de Saussure (cf. Saussure 1968: 19), e a única declaração completa
que Saussure fez sobre Humboldt parece ser a seguinte (que o seu aluno Louis
Caille taquigrafou em 1907 e que Engler teve a gentileza de me fornecer em forma
manuscrita):


10
[Esta distinção popularizou-se com Saussure, mas já apareceu mais cedo na linguística em F. Hegel
[!] e Wilhelm von Humboldt.]

Georg von der Gabelentz e Ferdinand de Saussure: o problema da ‘influência’ 113
C’est presque à ce point de vue ethnolinguistique que G. de Humboldt se
place dans ses idées philosophiques sur la structure des langues du globe. Le
fond de ses travaux a pour but d’établir les rapports de la linguistique avec la
logique. Mais l’impulsion a été donné par ses études ethnologiques
(Saussure, citado em Koerner 1971a: 173, nota 18).
Por outras palavras, Humboldt foi para Saussure um estudioso de intenções e
interesses consideravelmente diferentes dos seus e, como consequência, de
nenhum interesse particular para ele. Não é de admirar que o termo
‘etnolinguística’ não apareça no índice de termos do Cours (cf. Saussure 1931:
319-326), e que os aspetos antropológicos da linguagem recebam pouca, ou
nenhuma atenção no volume de 300 páginas (cf. Saussure 1931: 304-306), parte
do qual foi acrescentado pelos editores (cf. Saussure 1968: 3182, 3184-3185).
Mesmo assim, um distinto estudioso diz-nos que existe uma “Filiation Humboldt-
Gabelentz-Saussure, und sie umfasst nicht nur einzelne Gedanken, sondern
entscheidende Züge” (Christmann 1971: 246). No bem informado artigo de
Johannes Lohmann (1899-1983) “Über das Verhältnis der Sprachtheorien von
Humboldt, de Saussure und Trubetzkoy” (1967), em que se demonstra, entre
outras coisas, que dificilmente poderia haver uma maior diferença entre as teorias
de Humboldt e as de Saussure, no meio de referências a estudos de Coseriu (cf.
Christmann 1971: 252, nota 52) que, como sabe um conhecedor da sua obra,
sempre tendeu a fundir as ideias linguísticas de Humboldt e Saussure, um curioso
contraexemplo é relegado para uma nota de rodapé, uma observação que pode ser
feita em relação a muitos estudiosos cujo primeiro interesse foi Humboldt e que,
mais tarde, se interessaram pelo Cours (p. ex. a obra de Karl Bühler).
11
Uma vez
que parece que o peso do argumento repousa na questão se os conceitos ‘langue’ e
‘parole’ de Saussure constituem de facto uma adhésion humboldtienne, o que é
particularmente óbvio na Sprachwissenschaft de Gabelentz (cf. Reichling 1948:
13, nota 19), consagrarei algumas considerações a essa questão a seguir.
No seu artigo de 1966, Hugo Mueller (1909-2002) deixou claro de uma vez
por todas, penso eu, que não há correspondência entre os conceitos ‘langue’,
‘langage’, ou ‘parole’ de Saussure e o entendimento de Humboldt da linguagem
como energeia (Mueller 1966: 99-102); é gratificante ver que Christmann (1971:
247) concorda com essa visão, embora goste de sugerir semelhanças entre o uso


11
Christmann lança sérias dúvidas sobre a sua familiaridade com a linguística indo-europeia do
século XIX, quando aceita acriticamente a distinção de Vilém Mathesius (1882-1945) entre as duas
seguintes correntes: uma histórica, associada a Bopp [!], e uma ‘estática’, associada a Humboldt [!]
(cf. Christmann 1971: 253, nota 56). Com efeito, apesar das diferenças ideológicas, os laços pessoais
e académicos entre Bopp e Humboldt eram muito estreitos (cf. Mueller 1966: 98, para uma citação
relevante); mas, para além disso, caraterizar a teoria de Humboldt como ‘estática’ é uma interpretação
seriamente errada, especialmente porque não foi outro senão Humboldt que afirmou repetidas vezes
que a língua não é ergon (produto), mas energeia (atividade). Mas como Christmann (1971: 245)
quer fazer o leitor acreditar que o conceito saussuriano de sincronia (que Saussure frequentemente
descreveu como estático) se deve a ensinamentos particulares de Humboldt ou Gabelentz, tal rótulo
deve ter sido mesmo muito sugestivo.

114 E.F.K. Koerner
que Humboldt faz de ‘Sprache’, ‘Sprechen’ e ‘Rede’, ideias que ele,
convincentemente, pensa que estão mais claramente definidas no livro de
Gabelentz, mas não no Cours de Saussure. Aparentemente porque não encontrou
nenhuma citação adequada para provar essa tese, Christmann preferiu não citar o
Cours, mas, em vez disso, afirmou que Saussure pertence, juntamente com
Gabelentz, à corrente linguística humboldtiana. Contrariamente a Narr / Petersen
(1972), Christmann (1971: 252-253) sublinha a dívida de Gabelentz para com
Humboldt, que é de facto muito visível na Sprachwissenschaft, embora certas
passagens (cf. Gabelentz 1969: 327-334) tenham sido acrescentadas na segunda
edição de 1901 por Schulenburg.
Acredito que já mencionei suficientemente as provas externas para a minha
visão de que Saussure não estava efetivamente associado à tradição linguística
humboldtiana que, de facto, foi muito mais forte no século XIX e no século XX do
que é comummente reconhecido (cf. Koerner 1973c). Vou agora aventurar-me a
investigar as implicações de algumas teorias de Gabelentz no que diz respeito aos
conceitos de Saussure de ‘langue’ e ‘parole’.
Coseriu (1967: 76ss.) dedicou um espaço considerável a este aspeto da teoria de
Gabelentz: sucintamente estabeleceu que ‘Sprache’ foi usado por Gabelentz como
um termo geral que abrange três factos, nomeadamente, ‘Rede’ como um fenómeno
concreto, ‘Einzelsprache’, a língua que pertence a uma comunidade particular e que
permite ao indivíduo fazer-se entender, e, finalmente, ‘Sprachvermögen’, a língua
como uma faculdade humana (cf. Gabelentz 1969: 2). Se ‘Rede’, ‘Einzelsprache’, e
‘Sprachvermögen’ constituem termos técnicos no argumento de Gabelentz, é
bastante seguro concluir que ‘Sprache’ não é um termo técnico, embora Gabelentz
(1969: 3, 81) a defina como “[...] der gegliederte Ausdruck des Gedankens durch
Laute”. Além disso, e isto fica óbvio no livro de Gabelentz como um todo, as
declarações de senso comum sobre a língua como um sistema (cf. Gabelentz 1969:
9, 63, 385, e as acrescentadas por Schulenburg em 1901: 76, 481) permanecem sem
efeito teórico para o argumento como um todo, conquanto seja certamente o
conceito de língua como um sistema, mais corretamente, como um sistema de
termos mutuamente inter-relacionados (isto é, de valores), que está na essência da
teoria de Saussure sobre a linguagem (cf. Koerner 1971a: 180, para
desdobramentos). Embora Saussure reconheça a faculdade da fala como um pré-
requisito para a linguagem (cf. Saussure 1931: 29-30), não a encarava como um
objeto para ser investigado pelo linguista (Saussure 1931: 25). Gabelentz (1969: 10-
11, 302), por sua vez, argumentava que ‘Sprachvermögen’ constitui o campo
próprio de investigação da linguística geral, provavelmente porque é comum a todas
as línguas individuais (cf. Gabelentz 1969: 12, 58).
Wilhelm Grube (1855-1908), um sinólogo como Gabelentz e o seu
contemporâneo, escreveu uma detalhada narrativa biobibliográfica de Gabelentz
(Grube 1905), que Christmann (1971: 252, nota 54) refere numa nota de rodapé.
Grube (e o próprio Gabelentz apontou para isso no prefácio da primeira edição; cf.
Gabelentz 1969: v) assinalou que o livro de Gabelentz foi o resultado de muitos

Georg von der Gabelentz e Ferdinand de Saussure: o problema da ‘influência’ 115
anos de ensino e reflexão, e que os capítulos não aparecem no livro na ordem em
que foram compostos, o que resultou na desigualdade na sua apresentação. Este
facto pode bem dar conta das vacilações, (para não dizer contradições) que o leitor
atento da Sprachwissenschaft pode descobrir em quase todo o livro, muito
contrariamente à impressão de rigor e de argumentação que o leitor não iniciado
pode ter a partir do artigo sugestivo de Coseriu (1967). Referi-me anteriormente à
divisão tripartida de Gabelentz de ‘Sprache’. Uma vez que ‘Sprache’ é definida
como uma “Verständigungsmittel, Mittel des Gedankenverkehrs” (Gabelentz
1969: 55); na sua conceção como ‘Einzelsprache’ está a ‘Rede’, uma vez que é
expressa pelo indivíduo (Gabelentz 1969: 58). Schulenburg inseriu então, numa
tentativa de esclarecer as visões de Gabelentz, que o lado expressivo da
linguagem, isto é, a ‘Rede’, é o objeto da ‘einzelsprachliche Forschung’
(Gabelentz 1969: 59), muito em contraste com Saussure que, antes de mais nada,
não estava obviamente interessado no output linguístico individual, mas na
‘langueֹ ’ como um sistema subjacente, isto é, um código linguístico socialmente
motivado. Além do mais, nenhum paralelo convincente pode ser traçado entre o
conceito saussuriano de sincronia e a ‘einzelsprachliche Forschung’ de Gabelentz,
já que a linguística sincrónica diz respeito à ‘langue’, e não à ‘parole’, e à
linguagem em geral, não uma em particular, enquanto no entendimento de
Gabelentz (1969: 302), linguística geral serve para explorar a faculdade humana
da fala enquanto tal, um programa que soa muito mais chomskyano (e não
acidentalmente, acrescentaria) do que saussuriano.
A Sprachwissenschaft de Gabelentz contém várias ideias importantes, como
pode ser visto a partir dos trabalhos de Franz Nikolaus Finck (1867-1910),
Heinrich Winkler (1848-1930) e Ernst Lewy (1881-1966), e parece que muitas
delas são merecedoras de uma reavaliação. Há, no entanto, pouca razão para ver
Saussure como um membro, quer da corrente humboldtiana em geral ‒ uma
corrente que se carateriza por um interesse particular pelas línguas não indo-
europeias, pela tipologia linguística, questões que pertencem à linguagem e à
mente, especialmente as que concernem à ‘innere Sprachform’, ‒ quer das ideias
de Gabelentz em particular. Se há semelhanças superficiais, estas são, talvez, o
resultado do clima geral de opinião da época, mas, certamente, não de uma
influência direta. Não é necessário assumir que Saussure foi um “selbständiger
Entdecker” (cf. Gabelentz 1969: v) de qualquer das propostas que compõem seu
Cours de linguistique générale para reconhecer que a sua teoria levou a uma
revolução na linguística. De facto, considero a citação abaixo, originalmente feita
em 1937 (há quase oito décadas), que continua singularmente apropriada para
concluir a presente argumentação:
Saussure’s ideas are to be met with in the writings of a number of other
scholars, particular in those of Bréal, Henry, and Darmesteter, and, as all of
these were his seniors, one might be tempted to speak of Saussure as their
debtor. But, as a similar kinship is to be detected between certain of
Saussure’s doctrines and the teachings of the neo-grammarians, it is therefore
appropriate to consider him as having focused a number of ideas which were

116 E.F.K. Koerner
taking shape in the linguistic world, and which were, in a sense, common
property. His originality, which is indisputable, would thus consist of having
evolved a complete and coherent system, all his own, irrespective of any
particular ingredient (Iordan / Orr /Posner 1970: 294, nota 1).

William Labov e as origens da sociolinguística na América
*




1 Observações introdutórias
Parece ser habitual na cultura norte-americana que, quando algo é declarado
como sendo inovador, poucas pessoas se preocupam em questionar o que
efetivamente distingue esta ideia, este projeto ou este produto supostamente
inovador do antigo. Esquece-se depressa o passado e as pessoas ficam contentes
por fazer parte de uma prenda elegante que oferece a promessa de tornar-se o
futuro. Há razões históricas, sociopolíticas e económicas para este fenómeno, mas
não é aqui o meu intento uma análise destas razões. Estou simplesmente a tentar
explicar a mim próprio por que razão, neste continente, os linguistas carecem
frequentemente de uma consciência histórica que considera o próprio campo de
estudo deles, podendo, como resultado, facilmente ser levados a acreditar em
reivindicações de inovação, descontinuidade, descoberta e revolução, feitas por
alguém em favor de uma nova aproximação ou, para essa questão, uma nova
posição teórica. Lembro-me ainda da minha própria surpresa perante o entusiasmo
de alguns dos meus professores acerca de ‘sociolinguistics’ (ou ‘sociolinguística’)
durante finais da década de 1960, que então era, tal como ainda o é hoje,
largamente associada ao nome de William Labov (cf. Macaulay 1988: 154-157 et
passim),
1
pelo menos na América do Norte. Realmente, a communis opinio
relativa às origens da sociolinguística ainda hoje parece ser aquilo que afirmou
Rajend Mesthrie (2001: 1), o editor da Concise Encyclopedia of Sociolinguistics
de 1 000 páginas: “[...] Sociolinguistics as a specially demarcated area of language
study only dates to the early 1960s [...]”.
2

No presente artigo, refiro-me principalmente a este tipo de sociolinguística
em vez da linha de pesquisa normalmente seguida por investigadores vindos da
sociologia, tais como Basil Bernstein (1924-2000)
3
na Grã-Bretanha (p. ex.
Bernstein 1971) e Joshua A. Fishman (nascido em 1926) nos Estados Unidos
(p. ex. Fishman 1972), que talvez seja definida com mais propriedade pelo termo
‘sociology of language’, ou ainda aos programas de investigação elaborados por
outros com base numa formação antropológica, como a ‘ethnography of speaking’


*
[Observação sobre a tradução: a presente tradução foi elaborada por Rolf Kemmler e Sónia Coelho
com base no artigo “William Labov and the Origins of Sociolinguistics in America” (Koerner 2005d)
que, tendo sido publicado pela primeira vez em Koerner (2001b), constitui parte da coletânea Toward
a History of American Linguistics (Koerner
1
2002,
2
2005a).]
1
Para uma crítica interessante – e bastante detalhada – das teorias de Labov, que não foi tentada no
presente artigo, veja-se Figueroa (1994: 69-110).
2
As únicas referências de Mesthrie relativas à história do campo são Shuy (1989) e Paulston / Tucker
(1997). Neste livro volumoso de formato in-quarto não há qualquer capítulo sobre o assunto.
3
Para uma análise interessante e completa da obra de Bernstein – e do seu êxito fora dos Estados
Unidos – veja-se Hasan (2000).

118 E.F.K. Koerner
(p. ex. Hymes 1974b) de Dell Hymes (1927-2009) e por investigadores como John
Gumperz (1922-2013), que favorecem uma abordagem interacionista e de análise
de discurso (p. ex. Gumperz 1971).
4

Admito ter ficado perplexo ao ouvir estudantes, que tiveram aulas com um
antigo estudante doutoral de Labov, quando me disseram que os conceitos de
‘drag chain’ e ‘push chain’,
5
por exemplo, derivam de William Labov (nascido em
1927), em vez de recuar pelo menos ao artigo de André Martinet (1908-1999)
sobre “Function, Structure, and Sound Change” (Martinet 1952a: 11), em que
estes termos são usados e explicados, por exemplo, com referência a fenómenos
de palatalização em línguas românicas. Também é digno de nota que numa
resenha à volumosa Dialectologie (1950) de Sever Pop (1901-1961), publicada no
mesmo ano na mesma revista científica, Martinet tece a seguinte observação:
This is only a sampling of all the possible socio-linguistic patterns in
connection with which the word ‘dialect’ is actually used [...]. Therefore we
may expect to come accross socio-linguistic situations which we may hesitate
to class in one or another of our four categories [...] (Martinet 1952b: 261).
Assim, para qualquer pessoa que esteja a par da carreira de Labov, torna-se
evidente que este adquiriu a ideia de ‘drag chain’ por oposição a ‘push chain’ (e
muitas outras ideias), se não diretamente da leitura da obra de Martinet,
6
então por
intermédio de Uriel Weinreich (1926-1967), que foi aluno de Martinet durante os
finais dos anos 1940 e inícios dos anos 1950, tendo posteriormente sido professor
de Labov durante os inícios e meados dos anos 1960.
7



4
Sobre os seus vários programas de investigação, tradições, forças organizacionais, etc., vejam-se os
estudos por Stephen O. Murray (1994, capítulos 10-14) e Murray (1998, uma re-elaboração mais
focalizada das respetivas partes do trabalho precedente que trata da sociolinguística no sentido mais
alargado possível).
5
Em Labov (2001a: 463), os termos usados são ‘pull chains’ e ‘push chains’, respetivamente.
6
Veja-se também o influente livro Économie des changements fonétiques (1955) de Martinet, no qual
os termos são chamados ‘chaîne de traction’ e ‘chaîne de propulsion’, respetivamente. Desde que o
artigo de Martinet (1952a) surgiu em Word, isto é, bem em frente ao nariz de Labov, por assim dizer,
uma vez que a revista na altura foi editada por Martinet junto com Weinreich, seria forçado acreditar
que Labov não tivesse qualquer conhecimento deste artigo, mesmo que este não esteja referenciado
dentro da ‘Bibliography’ da coletânea de 1972 que reúne os seus artigos principais de 1963-1970,
incluindo, porém, uma referência à Économie (Labov 1972a: 334). Num trabalho anterior (Labov
1964), que corresponde à tese de doutoramento do autor de 1964, tanto o artigo de 1952 como o livro
de 1955 são reconhecidos devidamente como “Martinet’s theories of the internal economy of
phonological structures (1952, 1955) were more comprehensive and systematic than any published
previously” (Labov 2006b: 13). Claro que o mesmo se deveria aplicar a Martinet (1952b).
7
Deveria ser notado que o próprio Labov nunca teria feito uma reivindicação dessas e que realmente,
pelo que se pode julgar pelas suas publicações, foi muito mais generoso quando se tratava de
reconhecer a sua dívida para com outros, do que, por exemplo, Noam Chomsky. A sua tese de
doutoramento de 1964 (Labov 1966a) é uma boa fonte para a localização de referências a trabalhos
anteriores. Nesta obra encontramos, inter alia, reconhecimentos como o seguinte: “Many of
Martinet’s ideas have found application in the present study” (Labov 1966a: 26, nota 7; cf. também
Labov 2001a: 262, 498, etc.).

William Labov e as origens da sociolinguística na América 119
Tendo em consideração o que observei no início, provavelmente não deveria
ter ficado muito surpreendido quando não encontrei quase nada sobre a história de
‘sociolinguistics’ ao aventurar-me pela primeira vez no empreendimento de uma
investigação sobre a história do assunto há quase três décadas (cf. Koerner 1986).
8

Com efeito, esperava de um investigador como Dell Hymes, que durante vinte e
cinco ou mais anos escreveu sobre outros aspetos da história da linguística (para
uma coleção dos seus estudos nesta área, cf. Hymes 1983) e que publicou, entre
outras coisas, um livro sobre as Foundations of Sociolinguistics (Hymes 1974b),
que nos tivesse iluminado sobre as origens, fontes e o desenvolvimento do campo.
É, porém, em vão que se procura um relato desta natureza dentro da bibliografia
deste escritor prolífico. O artigo de Yakov Malkiel (1976) constitui uma
contribuição precoce para a história da sociolinguística, localizando o seu
desenvolvimento nos estudos da Filologia Românica através do trabalho
dialetológico. Evidentemente, é possível encontrar alguns relatos da ‘história’ da
sociolinguística em manuais de ensino claros e concisos (p. ex., Wolfram / Fasold
1972: 26-32; Bell 1976: 28-29; Milroy 1987: 5-11), mas estes são bastante sucintos
e totalmente inadequados, não indo geralmente além de reconhecer a existência de
uma ligação entre o trabalho em dialetologia e a sociolinguística. Vários livros de
ensino de sociolinguística (p. ex., Fasold 1984; Wardhaugh
1
1986; Romaine
1
1994;
Holmes
1
1992,
4
2013) tratam do assunto sem qualquer perspetiva histórica.
Por outras palavras, numa medida considerável (pace Murray 1998), a
história da sociolinguística na América ainda deverá ser escrita.
9
Pelo menos na
Europa, esta situação insatisfatória foi algo remediada com a publicação do
primeiro tomo do manual Sociolinguistics, que contém uma secção bastante
elaborada sob o título “History of Sociolinguistics as a Discipline /
Wissenschaftsgeschichte” (Ammon / Dittmar / Mattheier 1987: 379-469),
10
se


8
Pelo menos não da parte de linguistas. Vejam-se os relatos do sociólogo Stephen O. Murray, tais
como a sua obra Theory Groups and the Study of Language in North America, cujo capítulo 10,
“Language contact and early sociolinguisics” (Murray 1994: 249-287), é dedicado à obra de Haugen,
U. Weinreich, Fishman e outros. Semelhantemente, o capítulo 11, “The ethnography of speaking”
(Murray 1994: 289-340), ocupa-se da obra de Ferguson, Gumperz, Dell Hymes e outros, sendo
Labov colocado no capítulo 12, “Related Perspectives” (Murray 1994: 341-389), junto com
sociólogos e antropólogos, mas não linguistas.
9
Este capítulo omite toda uma vertente do trabalho sociolinguístico que deveria fazer parte de uma
história global do assunto, mas da qual acredito que os investigadores norte-americanos, com a
inclusão de Labov, na altura não tiveram consciência (continuando provavelmente até hoje sem a
mesma): refiro-me em particular à obra de John Rupert Firth (1890-1960), mas também à de
Bronislaw Malinowski (1884-1942), (Sir) Alan Henderson Gardiner (1879-1963) e possivelmente a
outros na Grã-Bretanha durante as décadas de trinta e cinquenta do século XX (p. ex., Abercrombie
1948; cf. Aarts 1976: 240-244), uma tradição que inspirou a obra de M.A.K. Halliday (p. ex.,
Halliday 1975) e, especialmente, Ruqaiya Hasan (p. ex., Hasan 1973).
10
Esta secção inclui um artigo de Michael Clyne (2004: 799-805) sobre a história do contacto
linguístico, seguido por outro de Ian Hancock (2004: 806-817) acerca da investigação sobre Pidgins e
Crioulos, aumentando efetivamente a compreensão do conceito de ‘sociolinguística’ para além do
que se entende pelo mesmo termo no presente âmbito.

120 E.F.K. Koerner
bem que, na medida em que me é possível julgar, somente a contribuição de
Hagen (1987) se aproxima de alguma forma do que tento fazer aqui.
11
Os finais
dos anos oitenta do século XX também viram surgir pelo menos duas
contribuições modestas sobre o assunto (Koerner 1986; Shuy 1989, tendo este
último sido escrito ignorando do anterior). Os anos noventa começaram de forma
mais esperançosa com uma série de artigos um pouco mais detalhados (Shuy
1990, Koerner 1991b, Joseph 1992), seguidos por várias publicações de extensão
quase monográfica. O primeiro contributo surgiu através de cinco capítulos,
incluídos no volume de 594 páginas sobre a ‘social history’ da linguística norte-
americana (Murray 1994). Nesta obra, os capítulos 10-14 (Murray 1994: 249-429)
ocupam-se de vários programas de investigação, tradições, forças organizacionais
de áreas como contacto linguístico e bilinguismo (com Haugen 1953 e Weinreich
1953 como ‘modelos’ principais), ‘ethnography of speaking’ (representada
especialmente pela obra de John Gumperz, Dell Hymes e os seus colegas; cf.
Gumperz / Hymes 1964, 1972), e o capítulo 14 “The Sociology of Language”
(Murray 1994: 419-429), no qual procuramos em vão qualquer tratamento acerca
do contributo de Joshua A. Fishman, considerando que o próprio Fishman
descreveu a sua área de investigação como tal.
12
Curiosamente, apesar de ter
poucos estudantes e quase nenhum seguidor digno de nota,
13
Fishman recebe o
tratamento na tabela de Murray (1994: 268) no que respeita à análise sociológica
em termos de liderança, ‘paradigm statement’, ‘exemplars’, e critérios
semelhantes, algo que o autor nega a William Labov, que se vê relegado ao
Capítulo 12, “Related Perspectives” (Murray 1994: 341- 389), juntamente com,
inter alios, o antropólogo britânico Gregory Bateson (1904-1980) e o sociólogo
canadiano Erving Goffman (1922-1982), não sendo nenhum dos dois linguista
(Murray 1994: 374-389). Isto é ainda mais surpreendente como Murray (1994:
389) conclui o relato bastante detalhado sobre a obra de Labov ao afirmar que “in
Kuhnian terms, Labov produced exemplary research that others could emulate”.
Quase ninguém na área da sociolinguística do século XX duvidaria de que The
Social Stratification of English in New York City de Labov (1966a) constitui tal
modelo, seguido por vários outros trabalhos fulcrais (p. ex., Labov 1969, 1972c).


Os dois volumes de Sociolinguistics foram reeditados recentemente em três volumes (Ammon /
Dittmar / Mattheier / Trudgill
2
2004-2006). A secção intitulada «The History of Sociolinguistics /
Geschichte der Soziolinguistik» foi consideravelmente aumentada em relação à primeira edição
(Ammon / Dittmar / Mattheier / Trudgill 2004, I: 684-854).
11
Como no caso de Malkiel, é esclarecedor que aqueles que se debruçam sobre a história são, na
maioria dos casos, europeus, e não americanos.
12
No entanto, a obra e a importância de Fishman são discutidos demoradamente no capítulo 10
(“Language Contact and Early Sociolinguistics”) em Murray (1994: 259-268), devido à razão de
Fishman, tal como Haugen e U. Weinreich, ter um “[...] interest in bilingualism and language
maintenance [...]” (Murray 1994: 259). Mas, ao contrário do anterior, Fishman era essencialmente um
sociólogo e não um linguista, pelo que tinha uma aproximação e prática de investigação bastante
diferentes.
13
De acordo com Murray (1994: 265, nota 12), “Robert Cooper is a very notable exception”.

William Labov e as origens da sociolinguística na América 121
A próxima publicação, The Early Days of Sociolinguistics: Memories and
reflections, editada por Paulston / Tucker (1997), não se compara minimamente
em termos de meticulosidade à obra de Murray. Contém uma série de recordações
individuais, inclusive um capítulo intitulado “Early Institutional Supporters for the
New Field”, que consiste numa entrevista a Rudolph C. Troike (nascido em 1933),
anteriormente do Center for Applied Linguistics (Washington, DC), feita pelo
primeiro editor que igualmente se recorda de Einar Haugen na secção
“Remembrances”. A contribuição mais substantiva para este volume é a
republicação de um artigo de Roger W. Shuy (nascido em 1931) “A Brief History
of American Sociolinguistics, 1949-1989” (1990) (Paulston / Tucker 1997: 11-32),
que se concentra principalmente nos trabalhos em torno do ‘Black English’ dos
anos sessenta e setenta do século XX.
14

O esforço mais abrangente rumo a uma história da sociolinguística até finais
do século XIX é o volume American Sociolinguistics (1998) de Stephen O.
Murray, que é, porém, segundo a descrição do próprio autor, um “[...] study of
postwar anthropological linguistics” (Murray 1998: 1). Na verdade, este livro
constitui essencialmente uma seleção e uma ligeira modificação de cinco capítulos
de Murray (1994).
15
Como resultado, a obra de Labov, certamente o principal
motor e agitador neste campo, não merece mais espaço aqui do que no relato
anterior. O facto de Murray ser sociólogo e não linguista pode ajudar a explicar as
suas escolhas, interpretações e a ênfase. Permanece, assim, o desafio para que um
sociolinguista venha pelo menos complementar a obra de Murray.
Parece evidente que não se deveria esperar que William Labov, o líder desta
área de investigação linguística, se tenha empenhado em escrever a história da
sociolinguística. Nos seus primeiros trabalhos, revela muitas das fontes do seu
pensamento linguístico e da sua abordagem, nomeadamente na sua tese de
doutoramento (1964; cf. Labov 1966a: 8-41), como veremos a seguir.
16



14
As contribuições do volume são divididas em seis áreas temáticas principais: “Sociolinguistics: A
Personal View” de Basil Bernstein é uma das contribuições do capítulo “Pioneers”. Neste capítulo,
outros artigos são de William Labov, Joshua Fishman (quem também contribui no capítulo intitulado
“Journal Editors”), o psicólogo montrealense Wallace Earl Lambert (1922-2009) e Carol Myers-
Scotton, entre outros.
15
A secção sobre Labov (Murray 1998: 167-179) é quase idêntica àquela em Murray (1994),
observando-se que somente algumas notas de rodapé foram reduzidas ou apagadas. Esta secção
certamente merece ser lida, particularmente o subcapítulo intitulado “Prestige dialects” (Murray
1998: 170-177; corresponde a Murray 1994: 378-382).
16
Publicamente, sabe-se muito menos acerca da sua biografia do que de várias outras figuras
importantes na sociolinguística que são amplamente definidas (cf. Haugen 1980, Hymes 1980,
McDavid 1980a, Fishman 1991, Ferguson 1998). Na minha experiência, Labov mostrava-se bastante
reservado quando dizia respeito a escrever um relato autobiográfico. Daí resulta que quaisquer
informações se deverão obter, tanto quanto isso seja possível, de entre as observações tecidas nas
suas publicações científicas. As entrevistas referidas em “Published Interviews” por Guy / Feagin /
Schiffrin / Baugh (1996, II: 352), para além de Rosen (1979), que nada contém sobre a biografia de
Labov, são de difícil acesso por terem aparecido em publicações de bastante difícil acesso.
Tipicamente, não há nenhuma entrada relativa a ele na nona edição do Directory of American

122 E.F.K. Koerner
Evidentemente, o organizador pioneiro da área moderna da sociolinguística não
precisa de envolver-se na escrita da história (que o pode ter feito, não obstante
disso, através da maneira como representava e criticava obras anteriores, ora igno-
rando ora rejeitando outros escritos importantes, é outra questão).
17
Na verdade,
podemos estar gratos pelo facto de Labov, ao contrário do seu contemporâneo
próximo Noam Chomsky, não ter tido qualquer interesse pessoal em escrever a
história da sua área de estudo. Sendo verdade que a obra Cartesian Linguistics
(1966) de Chomsky deu, na altura, um impulso inicial à história da linguística, na
realidade não conduziu à realização de trabalho historiográfico sério por parte
daqueles que seguiram o seu exemplo, mas encorajou outros a produzirem relatos
‘whiggish’ sobre o desenvolvimento da linguística gerativa (cf. Newmeyer 1980,
1996a, para os exemplos mais bem sucedidos
18
deste tipo de escrita).
Continua, no entanto, a ser verdade que um campo científico somente alcança
a sua maturidade quando se dá conta da sua própria história, mostrando-se um
sério interesse em tê-la documentada. O presente relato dificilmente é mais do que
uma tentativa de apresentar as fontes e o desenvolvimento inicial da
sociolinguística, uma área de investigação que geral e erroneamente foi consi-
derada como tendo surgido em meados dos anos sessenta do século XX, talvez
como resultado da publicação dos artigos da San Francisco Conference on the
Ethnography of Communication de novembro de 1963 (Gumperz / Hymes 1964),
bem como, mais provavelmente, das atas do encontro de 1964 da UCLA – Lake
Arrowhead –, conferência dedicada expressis verbis à sociolinguística (Bright
1966),
19
que sem dúvida serviu como um ponto de encontro para esta linha de
investigação. É interessante notar que William Labov teve, nos inícios da sua
carreira (Labov 1964a, 1966a), ampla oportunidade para apresentar os resultados
das suas investigações e para discutir as suas opiniões nestas reuniões, um


Scholars (DoAS 1999, III). Só muito recentemente (1997) é que ficamos com um testemunho mais
pessoal de Labov no que respeita às razões pelas quais decidiu voltar à vida universitária em 1961 e
sobre o que resultou desta decisão (Labov 2001b).
17
Como exemplo, pode questionar-se por que razão Labov limitou a três linhas apenas o seu
comentário ao artigo programático de Stanley M. Sapon (nascido em 1924), um autor que tinha feito
o seu doutoramento em linguística românica na University of Columbia em 1949. Tendo Martinet
como um dos seus orientadores, Sapon “[...] was working on a larger study of socioeconomic
variables in Mexico City that was never published”, como relata Joseph (1992: 121). O artigo de
Sapon (1953) encontra-se simplesmente descrito como “A methodology for studying socio-economic
differentials in language [...]”, da qual “[...] no results seem to have appeared” (Labov 1966a: 21),
mas resta a curiosidade se Labov não poderá ter tido acesso ao trabalho inédito de Sapon durante os
anos passados na mesma universidade (1961-1969).
18
Se tomamos em consideração, a este respeito, aquilo que Herbert Butterfield (1931: 2) afirmou em
The Whig Interpretation of History sobre a “[...] tendency in many historians [...] to produce a story
which is the ratification if not the glorification of the present”.
19
Ao celebrar este último como um tipo de grande inovação para a sociolinguística, Calvet (1999:
34-41) dedica-lhe um “analyse interne” que constitui uma leitura interessante. Labov (1972a: 296),
porém, considera Ferguson / Gumperz (1960) como a publicação crucial.

William Labov e as origens da sociolinguística na América 123
verdadeiro feito se nos lembrarmos de que Labov só tinha entrado na linguística
em 1961, tendo completado a tese de mestrado em 1963, e que a sua tese de
doutoramento estava a ser redigida na altura (sendo publicada, com mudanças de
importância secundária, como Labov 1966a). O seu mentor, Uriel Weinreich, a
quem os convites originalmente tinham sido estendidos, fez com que Labov parti-
cipasse no seu lugar, certamente não apenas por causa da sua saúde em declínio.
20


2 As fontes da sociolinguística moderna
A minha própria investigação sugere que deveríamos encarar o amplo tipo
laboviano de sociolinguística como sendo a confluência, senão a síntese, de várias
linhas de investigação que remontam pelo menos a numerosas gerações de
investigadores em linguística. No entanto, continua a ser verdade que o campo se
foi formando durante os anos cinquenta do século XX e essencialmente em terras
americanas. A ligação entre a geografia dialetal e a sociolinguística, que é bastante
óbvia nos escritos de Labov logo desde os inícios, foi estabelecida por vários
estudiosos (p. ex., Grassi 1980, Trudgill 1983). Provavelmente, é demasiado óbvia
para ser negligenciada e também pode explicar porque não chegou a ser
mencionada tão frequentemente como se poderia esperar.
Outra linha de pensamento linguístico remonta a finais do século XIX, quando
estudiosos como William Dwight Whitney (1827-1894) na América, Michel Bréal
(1832-1915) em França, Hermann Paul (1846-1921) na Alemanha, Jan Baudouin
de Courtenay (1845-1929) na Rússia
21
e outros reagiram contra a opinião,
normalmente associada a opiniões manifestadas por August Schleicher (1821-
1868), Max Müller (1823-1900) e outros, de acordo com a qual a linguística
deveria ser pensada como uma ciência e que seria necessário que a língua fosse
tratada como um organismo vivo, devendo a linguística, por conseguinte, ser
enquadrada entre as ciências naturais e não entre as sociais.
22
Esta mudança na


20
Weinreich morreu de leucemia em inícios de 1967, com a idade de 41 anos “[...] not suddenly, of
cancer, at the age of 39 [...]”, como Labov referiu na versão de 1997 de Labov (2001b). A ascensão
meteórica de Labov à posição de destaque até quando terminou o seu doutoramento é uma história
que não tem uma explicação fácil. Por uma coincidência curiosa, Zellig S. Harris (1909-1992), o
(mais do que meramente nominal) orientador de Chomsky tanto da tese de mestrado (1951) como da
tese de doutoramento (1955) na University of Pennsylvania, cedeu ao seu aluno a provavelmente
ainda mais importante oportunidade de apresentar as suas visões no mesmo ano, isto é, no Ninth
International Congress of Linguists em Cambridge, Massachusetts, em 1962. Calvet (1999: 47, a
seguir a Murray 1994: 377) acredita que Weinreich parece ter sido na altura a única pessoa que tinha
uma estratégia para fazer avançar a sociolinguística e, em particular, a carreira de Labov.
21
Ao passo que Bréal e Baudouin não são mencionados em Labov (1972a), Hermann Paul é
censurado pelas suas visões sobre a mudança linguística em Labov (1972a: 261-263; 1972c). Consta,
porém, que as opiniões de Paul tinham sido anteriormente discutidas de maneira muito mais
minuciosa por Uriel Weinreich (em Weinreich / Labov / Herzog 1968: 104-129).
22
Surge então como uma surpresa a seguinte observação tecida por um autor de um artigo
sociolinguístico: “Languages are, in fact, remarkably stable organisms, transmitting their essential
characteristics from one generation to the next” (Macaulay 1988: 156-157). Noutro lugar do seu
artigo, este queixa-se da falta de rigor metodológico no campo científico.

124 E.F.K. Koerner
perspetiva filosófica entre os linguistas generalizou-se bastante após a publicação
de obras, tais como a Einleitung in die Geisteswissenschaften (1883) de Wilhelm
Dilthey (1833-1911), e o debate subsequente sobre as diferenças essenciais entre
Naturwissenschaft (Ciências naturais) e Geisteswissenschaft (Humanidades) na
Alemanha e em outra parte (cf. Koerner 1982b: 187-188). Esta referência sobre a
mudança no clima intelectual é importante, já que oferece o fundo para uma melhor
compreensão do estabelecimento de uma linha específica de investigação. Assim,
para além da dialetologia, podemos ter ainda que reconhecer um tipo particular de
aproximação à língua em geral e a questões de mudança linguística, cuja orientação
é sociológica. Finalmente, podemos tomar conhecimento, na investigação
sociolinguística, de uma afluência algo mais tardia de trabalhos sobre bilinguismo e
multilinguismo, assim como, muito mais recentemente, de questões relacionadas
com contacto linguístico, planeamento linguístico e conflito linguístico.
23

A influência de Whitney, Paul, Baudouin de Courtenay e outros sobre
Saussure está bem estabelecida (cf. para detalhes Koerner 1973b); o que sugere ao
mesmo tempo que Saussure não precisava de Durkheim para poder caraterizar a
língua como um ‘fait social’ (pace Bierbach 1978). Para ilustrar este ponto, basta
uma passagem de Language and the Study of Language de Whitney, uma obra à
qual Saussure recorreu frequentemente nas suas aulas sobre linguística geral no
início do século XX:

Speech is not a personal possession, but a social; it belongs, not to the
individual, but to the member of society. No item of existing language is the
work of an individual; for what we may severally choose to say is not
language until it be accepted and employed by our fellows. The whole
development of speech, though initiated by the acts of individuals, is wrought
out by the community (Whitney 1867a: 404).
24


Voltarei à importância de Whitney no capítulo 2.2 (adiante). O papel que este
teve na linguística europeia durante o último quarto do século XIX já foi discutido
noutro lugar (Koerner 1980c).

2.1 Da geografia dialetal à sociolinguística
Como mencionado anteriormente, Malkiel (1976) estabeleceu uma linha
regular de conexão entre o trabalho dialetológico em línguas românicas e os
esforços sociolinguísticos. Em outras palavras, convém voltar atrás, aos inícios do
trabalho de campo em geografia dialetal durante as últimas décadas do século XIX,
para ver a componente sociológica que lentamente foi infiltrando a geografia


23
Isto é, se estas áreas de investigação não devem ser atribuídas mais corretamente aos programas de
‘sociologia da linguagem’, e não ‘sociolinguística’ como aqui ficou definido.
24
Labov (1972a: 261) apenas cita a primeira frase, mas reproduz na mesma página outro trecho de
Whitney (1867a: 404) para ilustrar a ênfase do autor na função social e comunicativa da língua: “Man
speaks, then, primarily not in order to think, but in order to impart his thought. His social needs, his
social instincts, force him to expression”.

William Labov e as origens da sociolinguística na América 125
linguística. Ao contrário de Malkiel, penso particularmente na Marburger Schule, a
escola estabelecida por Georg Wenker (1852-1911), que ainda hoje está ativa (cf.
Knoop / Putschke / Wiegand 1982), bem como na escola criada algo depois pelo
suíço Jules Gilliéron (1854-1926) em Paris (cf. Jaberg 1908), cujos alunos Jacob
Jud (1882-1952) e Karl Jaberg (1877-1958), com a ajuda de Paul Scheuermeier
(1888-1973), Gerhard Rohlfs (1892-1984) e Max Leopold Wagner (1880-1962),
compilaram o volumoso Atlas linguistique et ethnographique de l’Italie et de la
Suisse méridionale (Jaberg / Jud 1928-1940). Os empreendimentos alemão e suíço
são de interesse particular no presente contexto, como indicarei no que segue.
25

Para começar, Max Weinreich (1894-1969), o pai do bastante mais bem
conhecido Uriel Weinreich (1926-1967), fez a sua tese de doutoramento sobre o
iídiche, a sua língua e a sua literatura, tendo sido orientado por Ferdinand Wrede
(1863-1934), o sucessor de Wenker na Universidade de Marburg (Weinreich
1923).
26
Talvez até seja mais interessante que Wrede – citado por Meillet no seu
famoso artigo de 1905 (cf. Meillet 1921: 255) – tenha estabelecido muito cedo os
paralelos entre a etnografia e a dialetologia, distinguindo as vertentes individual-
linguística (‘individuallinguistisch’) e social-linguística (‘soziallinguistisch’) no
empréstimo entre as línguas (Wrede 1902).
27

No presente contexto, o facto mais importante talvez seja o de que, em 1931,
os dialetólogos suíços Jud e Scheuermeier foram trazidos aos Estados Unidos para
treinar os estudantes americanos durante o verão, de modo a que aqueles
empreendessem o trabalho de campo dialetológico. Natural da Áustria, Hans
Kurath (1891-1992) conseguiu uma bolsa do American Council of Learned
Societies para este propósito. Sabemos, por exemplo, que Raven I. McDavid
(1911-1984) era um desses jovens aprendizes (McDavid 1980b: 8), que depois
viriam a participar na investigação que conduziu ao Linguistic Atlas of New
England, editado por Kurath / Hansen / Bloch / Bloch (1939-1943). É por isso
interessante notar no presente contexto que McDavid publicou já em 1946 um
artigo intitulado “Dialect Geography and Social Science Problems”. Mais
importante ainda, a sua ‘social analysis’ de 1948 sobre “PostVocalic /-r/ in South
Carolina” foi considerada um exemplo pioneiro de ‘variation study’ (Shuy 1989:
297).
28
Na altura, quando McDavid e o seu aluno Raymond O'Cain publicaram o


25
O facto de Labov não parecer mencionar estes esforços nos seus escritos (p. ex., Labov 1972a) não
constitui nenhuma razão para omitir a referência a estas investigações. Na realidade, as tradições e
práticas dialetológicas têm dominado a obra de Labov.
26
A partir de 1926, Wrede passou a publicar os volumes maciços do atlas linguístico alemão
Deutscher Sprachatlas, que muitos anos antes havia sido começado por Wenker.
27
É seguro presumir que os Prinzipien de Paul (que tiveram a sua terceira edição em 1894)
exerceram uma influência sobre o ideário de Wrede em relação à natureza social da língua.
28
É bastante curioso que, na bibliografia de Sociolinguistic Patterns (Labov 1972a), se procura em
vão qualquer entrada referente a McDavid. Será que a recensão crítica de McDavid na revista
American Anthropologist (McDavid 1968) pode ter algo a ver com isto? Neste texto, o resenhador
manifesta a sua curiosidade relativamente ao facto de “certain groups are not represented – notably
the old stock white Protestants, who still make up a very large portion of the New York upperclass

126 E.F.K. Koerner
artigo de 1973 sobre “Sociolinguistics and Dialect Geography”, a ligação entre a dialetologia e a sociolinguística tinha sido largamente reconhecida, no entanto
talvez mais de forma implícita do que de forma expressamente admitida.
Mesmo fora das escolas estabelecidas, foi realizado algum trabalho
dialetológico de importância em finais do século XIX. Dois exemplos dignos de
nota são o estudo pouco conhecido que Schleicher (1858) fez do seu dialeto
nativo, bem como aquele de Jost Winteler (1846-1929) sobre a Kerenzer Mundart
(1875). Que o componente social na variação da língua era reconhecido antes do
fim do século XIX pode ser concluído graças ao artigo de Richard Löwe (1863-ca.
1942) de 1882, que Hagen (1987: 408) chamou o “only [...] known early study on
social dialect variation in cities”. Semelhantemente, é de considerar o trabalho
dialetal de Philipp Wegener (1848-1916), outro estudioso do tempo que, ao
ocupar-se da mesma área geográfica como Löwe, anotou o seguinte na sua
contribuição de 1891 ao Grundriss de Hermann Paul:

In der Magdeburger Gegend gehen die ländlichen Arbeiter in grosser Zahl in
die Städte, um hier als Maurer, Handlanger oder in den Fabriken zu arbeiten.
Die gemeinsame Arbeit bringt diese in steten Verkehr mit den städtischen
Arbeitern; der niederdeutsche ländliche Arbeiter lässt sich durchweg von der
städtischen Vulgärsprache beeinflussen, und zwar um so mehr, je grösser der
Abstand derselben von der ländlichen Mundart ist und je höher die
Schätzung der städtischen Vorzüge (Wegener 1901: 937).
29


Resistirei à tentação de dar a esta declaração uma interpretação moderna.
Acredito, porém, que em observações como esta podemos discernir uma
consciência da ‘sociologia da língua’ avant la lettre, e estou convencido de que
muitas outras declarações semelhantes podem ser encontradas no trabalho precoce
de dialetólogos (cf. também Olmsted / Timm 1983 sobre Baudouin de Courtenay
que, como antigo aluno de Schleicher, realizou um trabalho de campo
considerável desde a década de 1870). Sem dúvida, nestas investigações
linguísticas o contacto real com falantes de variedades distintas da língua em
circunstâncias socioeconómicas diferentes terá nutrido tal consciência, de modo
que por vezes se torna difícil distinguir nitidamente entre dialetologia e


[...] and have other prestige models than Labov’s” (McDavid 1979: 379). Na realidade, a ‘social
stratification’ de Labov (1966a) tinha completamente omitido as classes altas. Em Labov (1963), o
nome de McDavid aparece numa referência a Kurath / McDavid (1951), cf. Labov (1972a: 11). O
artigo de McDavid (1948) é incluído na bibliografia da tese de 1964 (Labov 1966a: 586), mas ocupa
apenas duas linhas no corpo da mesma (Labov 1966a: 22). O artigo de 1946, enfim (McDavid 1946),
não é incluído. Será somente uma omissão?
29
[Na região de Magdeburg, os trabalhadores rurais entram nas cidades em grande número para
trabalhar lá como pedreiros, servidores ou nas fábricas. O trabalho em comum trá-los em contacto
constante com os trabalhadores urbanos; o trabalhador rural baixo-alemão deixa-se influenciar
inteiramente pela língua coloquial urbana, isto é, tanto mais quanto maior seja a distância entre a
mesma e o dialeto rural, e quanto maior seja a estima das vantagens da vida urbana.]

William Labov e as origens da sociolinguística na América 127
sociolinguística no trabalho destes estudiosos, especialmente nas áreas de
investigação que hoje são chamadas ‘dialetologia urbana’.
Para estabelecer uma ligação mais óbvia entre as diferentes linhas de
desenvolvimento na história da sociolinguística, convém esboçar algo como uma
genealogia. Antes de podermos fazer isso, porém, terão de ser estabelecidas
algumas ligações adicionais. Já mencionei a alta estima de Saussure por Whitney,
que provavelmente remonta aos seus estudos nas Universidades de Leipzig e
Berlin (1876-1880).
30
Durante os seus anos em Paris, o estudante de Saussure que
mais se distinguia era Antoine Meillet (1866-1936),
31
que, por sua vez, teve como
aluno André Martinet (1908-1999). Menciono este facto porque Martinet escreveu
um estudo monográfico sobre o seu dialeto nativo quando se encontrava num
campo alemão de prisioneiros de guerra, que foi publicado logo a seguir à
Segunda Guerra Mundial (Martinet 1946), e também porque Labov, tal como
Meillet e Martinet, sempre esteve particularmente interessado em questões de
mudança linguística.
32
É ainda mais importante que Martinet, enquanto professor
na Columbia University em New York City de 1948 até 1955, teve como aluno
Uriel Weinreich, nos graus de M.A. e Ph.D.
33
Foi a tese de doutoramento de 568
páginas de Weinreich, de 1951, sobre “Research Problems in Bilingualism with
Special Reference to Switzerland” que formou a base para o seu breve livro que o
tornou famoso, isto é, Languages in Contact (Weinreich 1953). Trata-se de um
estudo sociogeográfico do bilinguismo, cujo título o autor reteve de uma série de


30
Graças à investigação diligente entre o espólio documental de Whitney na Sterling Library da Yale
University por John E. Joseph, sabemos que Saussure escreveu uma carta a Whitney em 7 de abril de
1879, na qual se refere à sua reunião “[...] il y a quelques jours [...]” (cf. o artigo “Saussure’s Meeting
with Whitney, Berlin, 1879” de Joseph 1988). Whitney tinha regressado à Alemanha para
acompanhar a impressão, em Leipzig, da sua Sanskrit Grammar (Whitney 1879a) e da tradução
alemã paralela por Heinrich Zimmer (1851-1910) de Berlin, um dos professores de Saussure
(Whitney 1879b).
31
Labov (1966a: 10) cita a versão publicada de uma comunicação apresentada por Meillet em 1906 –
e não em 1905 –, na qual Meillet argumentava que porque a língua é uma ciência social “[...] et le
seul élément variable auquel on puisse recourrir pour rendre compte du changement linguistique est
le changement social dont les variations du langage ne sont que les conséquences parfois immédiates
et directes, et le plus souvent médiates et indirectes” (Meillet 1921: 17). Labov oferece uma tradução
inglesa – nem sempre muito feliz – do original francês. Parece que se pode simpatizar com as suas
dificuldades, já que até mesmo os falantes nativos do francês por vezes consideram Meillet algo
impenetrável.
32
Realmente, considero a sua contribuição para esta disciplina como o elemento central do seu
trabalho, como o próprio Labov admitiria se fosse questionado (cf. a sua resposta a Rosen 1979: 19).
33
Na sua autobiografia Mémoires d’un linguiste: Vivre les langues (Martinet / Kassaï / Martinet
1993), Martinet reivindicou mais tarde ter sido instrumental no estabelecimento de uma cadeira de
iídiche para o seu antigo estudante. Não deixa de ser interessante que Murray (1994: 256) atribua a
Roman Jakobson (1896-1982) o mérito de ter sido o orientador da tese de Weinreich, uma atribuição
que aparentemente se baseia em Malkiel (1969a), em que Martinet é pelo menos reconhecido pela
sua “major influence” sobre Weinreich durante o seu “training period” (Malkiel 1969a: 128, citado
em Murray 1994: 257). Será que o facto de Jakobson ter escrito um prefácio para o College Yiddish
(1949) de Weinreich pode ter conduzido a esta confusão?

128 E.F.K. Koerner
conferências dadas por Martinet (tal como Weinreich indica nos seus agradecimentos, página x). Acresce que Weinreich também estudou sob
orientação de Jakob Jud – o mesmo estudioso que tinha treinado os linguistas
americanos em trabalho de campo dialetológico, em 1931 – em Zürich, durante o
ano letivo 1948-1949, pelo que Weinreich, ao fazer trabalho de campo para a sua
tese de doutoramento, ainda estabeleceu outra ligação suíça nos inícios da história
da sociolinguística. Finalmente, só precisamos de recordar o facto de William
Labov ter adquirido ambos os graus académicos (Mestrado e Doutoramento) com
Weinreich (cf. Labov 1963, 1966a), o que permite estabelecer uma espécie de
linha genealógica que conduz de Whitney a Labov e à sociolinguística
contemporânea – se é admissível desenhar um quadro tão unilinear que
admitidamente constitui uma simplificação excessiva da dívida intelectual de
qualquer natureza:
34

Whitney

Saussure

Meillet

Martinet

Weinreich

Labov
Fig. 1: De Whitney a Labov


Esta é, sem dúvida, uma ‘linhagem’ demasiadamente simplista e muito mais
provas, textuais como também biográficas, deveriam ser fornecidas para oferecer
um quadro mais adequado. O próximo capítulo aumentará este relato composto.
Mas os que estão a par da obra de Labov estão cientes do seu frequente
reconhecimento de dívida para com o seu professor Uriel Weinreich
35
e das
referências que faz às obras de Meillet, Saussure, Hermann Paul e de outros
36
para
tornar esta genealogia pelo menos um pouco mais realística.
37



34
É desnecessário acrescentar que todos estes estudiosos são referidos, às vezes criticamente, por
Labov (cf. Labov 1972a: xiii, 185-186, 266-267 [Saussure]; 185, nota 2, 263, 266, 318, 319 [Meillet];
xiv, 2, 181, 185, 262 265. 266, 271 [Martinet], etc.). Já mencionámos (cf. nota 22, acima) a aprova-
ção de Labov a Whitney; Sociolinguístic Patterns é expressamente dedicado a Uriel Weinreich.
35
O reconhecimento de Labov (1982a: iii): “When I entered the field, I had my own ideas about
contributing an empirical foundation to linguistics. But I find that Weinreich had anticipated me, and
many of the ideas I thought were my own were undoubtedly a reorganization of my thinking under
the influence of one of the most profound and powerful linguists of our time”. Labov (2001b) é
dedicado adequadamente a Uriel Weinreich.
36
Escusado será mencionar os estudos de Gauchat (1905) e Hermann (1929) que já são ‘clássicos’ e
que de alguma forma apadrinharam a sua tese de mestrado sobre Martha’s Vineyard (cf. Labov
1972a: 15, notas 25 e 23), desde que Labov se ocupou de uma situação e de um lapso de tempo

William Labov e as origens da sociolinguística na América 129
Que a transição do trabalho dialetológico para a investigação sociológica seja
parte de um desenvolvimento natural também pode ser demonstrado através da
referência a obras realizadas, por exemplo, sobre o holandês (e baixo alemão)
durante as primeiras décadas do século XX. Ao notar que ‘a abordagem
sociológica mal tinha encontrado o seu caminho para a linguística’, Jacobus van
Ginneken (1877-1945) tentou estabelecer exatamente este tipo de abordagem no
seu Handboek der Nederlandse taal (Van Ginneken 1913-1914) de dois volumes,
como ficou indicado no subtítulo da sua obra: “De sociologische structuur van het
Nederlands” (cf. Hagen 1988: 271-272, para detalhes). A década seguinte viu
surgir a publicação de um trabalho que Hagen (1988: 273) acertadamente
carateriza como “[...] a very advanced socio-linguistic study”, ou seja, De
Hollandsche expansie (1927) de Gesinus Gerhardus Kloeke (1877-1963), uma
obra que Bloomfield (1933: 328-331), no capítulo sobre dialetologia de Language,
tratou como paradigmática para a discussão de isoglossas (Bloomfield 1933: 328-
331).
38
Como indica o título completo do seu livro (cf. as referências
bibliográficas), na sua investigação o autor combina a geografia, a dialetologia e a
história. A mudança linguística – um dos seus exemplos famosos é o
desenvolvimento divergente do par germânico comum hŭs / mŭs (“casa” / “rato”)
em neerlandês – na sua obra é demonstrada como ocorrendo através de um


semelhante entre a análise de Guy Lowman de inícios dos anos 1930 e a sua própria de inícios dos
anos 1960.
37
Calvet (1999), que reproduz uma versão anterior deste diagrama (Koerner 1991b: 27), discorda
disto e quase constrói a totalidade do seu artigo de 30 páginas ao redor desta crítica, sem oferecer um
cenário mais convincente, em parte porque a sua base bibliográfica (Calvet 1999: 55-57) é
demasiadamente limitada.
38
Porém, como mostrou Gerritsen (2001), a ideia de ‘expansion’ ou (ou ‘expansão’, no original
alemão: ‘Ausbreitung’), com a qual Kloeke frequentemente é creditado, deriva da investigação
realizada por Theodor Frings (1886-1968) e publicada em 1926, um ano antes da publicação da obra
magistral de Kloeke. Como Gerritsen (2001: 1545) ilustra, Kloeke estava bem informado acerca do
trabalho de Frings:
In the 1920s Frings worked at the university of Bonn. This job gave him
plenty of time to do research but due to strong inflation not enough money to
support his family. In the same period, Kloeke worked as teacher of German
at the Leiden gymnasium, spending long hours, but making lots of money.
Being a bachelor at that time Kloeke could afford to wish more for research
time than money. In light of their respective circumstances, the two arranged
to switch places in ’21-’22. In his new situation in Bonn period Kloeke
became well acquainted with expansions as an explanatory device (W. U. S.
Kloeke personal communication).
Veja-se também Frings / van Ginneken (1919) e a obra de Jozef van den Heuvel (1889-1966) de
1921, que, de acordo com Gerritsen (2001: 1541), constitui “the most scientific publication of Dutch
dialect texts of this period [...], in which we find among other things the 40 sentences that Wenker
used for the first dialect survey in the world [Wenker 1877]. They are translated and phonetically
described in 56 southern dialects”.

130 E.F.K. Koerner
processo de adaptação social ou de empréstimo da fala das classes altas por parte
de falantes das classes socioeconomicamente inferiores.
39


2.2 Linguística histórica, mudança linguística e sociolinguística
Enquanto a conexão dialetologia-sociolinguística parece bastante óbvia (cf.
Grootaers 1982), a ligação que existe entre certas tradições no trabalho linguístico
histórico e a sociolinguística talvez não o seja. É bastante interessante que Labov
(1966b: 102), desde muito cedo na sua carreira, tenha tornado claro que o foco da
sua investigação “[...] has always been on the understanding of linguistic change
[...]”. Não surpreende, por isso, que nós, ao percebermos de onde ele veio,
possamos encontrar a conexão entre a sociolinguística e os primeiros trabalhos
sobre a mudança linguística na obra de Labov. Começou cedo nos seus estudos
linguísticos, ao trabalhar os materiais para a sua tese de mestrado (Labov 1963), a
qual constituiu o primeiro capítulo da sua monografia Sociolinguistic Patterns
(1972), ano em que escreveu o que parece ser a primeira crítica minuciosa da
linguística histórica tradicional (Labov 1972c), inspirada sem dúvida pela sua
estreita colaboração com Uriel Weinreich no artigo ora clássico “Empirical
Foundations for a Theory of Language Change” (Weinreich / Labov / Herzog
1968). Já na sua tese de mestrado, notamos a oposição de Labov face à abordagem
positivista ao assunto que este ainda encontrou em Lehmann (1962), ao passo que a
obra Économie des changements phonétiques (1955) de Martinet é encarada como
tendo recebido confirmação empírica no trabalho dialetológico de William G.
Moulton (1914-2000) de 1962 (Labov 1963, 1972a: 2). Também Edgar H.
Sturtevant (1875-1952) recebe elogios tanto em 1963 como em 1972, devido ao seu
reconhecimento dos fatores sociais, tais como o prestígio (Sturtevant 1947: 80-81,
40

citado em Labov (1972a: 3 e 263). Sturtevant encontrar-se-ia num grupo de
estudiosos louváveis, juntamente com Whitney e Meillet, conquanto apenas ao
representar “a late survival of Meillet’s fading notion that we might search for an
explanation of the fluctuations of linguistic change in the fluctuation course of
social events” (Labov 1972a: 263-264). No seu importante artigo “The Social
Setting of Linguistic Change”, que originalmente havia sido encomendado por
Thomas A. Sebeok para Current trends in linguistics, Labov (1972c: 267) constata:

In 1905, Meillet predicted that this century would be devoted to isolating the
causes of language change within a social matrix in which language is
embedded. But that did not happen. In fact, there were almost no empirical


39
Enfatizo o trabalho alemão e neerlandês em dialetologia porque, quando muito, é sub-representado
na investigação de Labov, isto apesar de ter sido este trabalho, juntamente com a investigação suíça
organizada por Jaberg e Jud (que por si era um rebento da ‘Escola de Marburg’), que chegou a ser
‘transplantado’ para a América do Norte e que era tão importante, e não o trabalho do suíço Jules
Gilliéron (1854-1926) e do seu único e enérgico investigador de campo, o ciclista Edmond Edmont
(1849-1926) em França com o Atlas linguistique de la France (Paris, 1902- 1910).
40
Labov não parece ter referido o livro anterior de Sturtevant (1917; reeditado em 1961) que se
dedicou expressamente à mudança linguística.

William Labov e as origens da sociolinguística na América 131
studies of language change in its social context in the 50 years following
Meillet’s pronouncement.

Labov parece estar a referir-se ao célebre artigo de Antoine Meillet,
41

“Comment les mots changent de sens”, que este publicou no volume 9 do
periódico Année sociologique de Émile Durkheim (1858-1917) e que ainda hoje é
considerado exemplar no que concerne ao debate da mudança semântica (cf.
Arlotto 1972: 163- 183 passim; Lehmann 1962: 198-199;
2
1973: 212-213). Poder-
se-ia presumir que Labov (cf. 1963, 1972a: 23; também Labov 1966a: 11, 2001a:
279) teria usado os trabalhos hoje ‘clássicos’ de Louis Gauchat (1866-1942) de
1905 e de Eduard Hermann (1869-1950) de 1929 sobre a mudança linguística
numa comunidade linguística específica como exceções para a sua constatação (cf.
Lehmann
2
1973: 163-164);
42
mas não se pode deixar de sentir a falta de uma
referência à obra de Kloeke, por exemplo, nos capítulos de Labov sobre a
mudança histórica em Sociolinguistic Patterns.
43
Anteriormente, Labov (1966a:
263) citou na sua obra, com aprovação, a seguinte passagem de Le Langage:
Introduction linguistique à l’histoire de Joseph Vendryes (uma obra, cujo
manuscrito, de acordo com o autor, já tinha sido completado em 1914, mas que só
chegou a ser publicada em 1921, sendo traduzida para o inglês por um antigo
estudante de Franz Boas em 1925):
Language is [...] the social fact par excellence, the result of social contact. It
has become one of the strongest bonds uniting societies, and it owes its
development to the existence of the social group (Vendryes 1925: 11).
Vendryes (1875-1960), inicialmente aluno e depois colaborador de longa data
de Meillet, compartilhou inteiramente as visões do seu mestre sobre a natureza
social da língua e sobre a conveniência de ser estabelecida uma linguística
sociológica. O seu objetivo, como o de Meillet e da sua escola (cf. Bolelli 1979),
era localizar as causas da mudança linguística e não simplesmente descrever o
mecanismo da evolução linguística, como era prática comum entre os linguistas
mais tradicionais de cariz indo-europeu histórico do século XIX e de inícios do
século XX. Enquanto Meillet se aventurou pouco além da área da mudança lexical


41
Digo ‘parece estar’, uma vez que Labov não fornece nenhuma referência; na realidade, a julgar
pelas outras referências a Meillet no mesmo volume (Labov 1972a: 185 nota 2, 263, 318), parece que
se estaria a referir de facto ao artigo de Meillet que corresponde ao discurso inaugural de 1906 (como
em Labov 1966a: 10).
42
É interessante que nem Gauchat (1905) nem Hermann (1929) sejam mencionados em Lehmann
(1962); mas os seus resultados são discutidos em Weinreich / Labov / Herzog (1968) e
provavelmente noutros textos linguísticos históricos. Na sua edição de 1973 de Historical Linguistics
(pág. 163), Lehmann refere-se ao artigo de Sommerfelt de 1930 (mencionado em Labov 1972a: 335,
mas somente criticado por falta de clareza terminológica na pág. 277) como um estudo que chegou a
resultados semelhantes (àqueles de Gauchat) no que respeita à diferença entre falantes de diversas
idades em comunidades de fala galesa e irlandesa.
43
O nome de Kloeke também não ocorre na imensa bibliografia de Weinreich (1953: 123-146).

132 E.F.K. Koerner
(que em muitos aspetos se oferece melhor a uma interpretação sociológica, no que
respeita às razões da mudança semântica, perda de palavras e semelhantes),
Vendryes, tal como sugere o título do seu livro – apesar de também ele dedicar
dois capítulos inteiros à mudança semântica (Vendryes 1925: 192-211 e 212-230)
–, tentou argumentar que a evolução linguística é apenas uma reflexão da evolução
social (Vendryes 1925: 352 e seguintes).
Ainda enquanto outros estudantes de Meillet, como Alf Sommerfelt (1892-
1965) desde os anos trinta (p. ex., Sommerfelt 1932) e Marcel Cohen (1884-1974)
mais tarde na sua carreira (p. ex., Cohen 1956a), trabalharam a área de uma
sociologia da linguagem, é justo dizer que poucos avanços concretos foram
encetados na explicação da mudança linguística com base em fatores sociais (cf.
as observações de Labov 1972a: 267). Mas André Martinet, outro aluno de
Meillet, incutiu no seu estudante Uriel Weinreich um forte interesse pela
linguística histórica e pela explicação das causas da mudança linguística (cf.
Martinet 1955), um interesse que Weinreich, por seu turno, passou ao seu aluno
William Labov (cf. Weinreich / Labov / Herzog 1968), como pode ser concluído a
partir de grande parte da sua investigação desde meados dos anos 1960 em diante
(p. ex., Labov 1982a, para um relato em formato de monografia; Labov 1992
1994). Pode-se afirmar, assim, que a obra de Labov constitui uma síntese de
tentativas anteriores de uma aproximação sociológica a questões de mudança
linguística, a começar com o artigo de Meillet de 1905 (se não muito mais cedo) e
com a investigação dialetológica realizada nos Estados Unidos desde os anos
trinta, que, como vimos, tem a sua origem nas tradições europeias estabelecidas
durante o último quarto do século XIX. Até mesmo Whitney, que fez observações
aparentemente modernas como a seguinte, era em larga medida de formação
europeia:
We regard every language, [...], as an institution, one of those which, in each
community, make up its culture. Like all the constituent elements of culture,
it is various in every community, even in the different individuals composing
each (Whitney 1875: 280).

2.3 Bilinguismo, multilinguismo e línguas em contacto
Existe ainda uma terceira linha identificável na investigação mais recente
(ignorando o debate de finais do século XIX sobre ‘Mischsprachen’ e
semelhantes), a qual acredito que deixou vestigios em grande parte do trabalho
moderno na sociolinguística. Estou muito menos interessado aqui no tipo de
investigação de bilinguismo levado a cabo por Werner F. Leopold (1896-1984)
nos anos 1930 e 1940 (Leopold 1939-1950),
44
que está associado mais diretamente
à ‘psicolinguística, especialmente na aquisição da primeira e da segunda língua, do
que com a investigação de bilinguismo que mostra consciência do ambiente


44
No entanto, a obra de Leopold serviu de fonte valiosa para o trabalho de Roman Jakobson (1896-
1982) sobre a linguagem infantil, por exemplo.

William Labov e as origens da sociolinguística na América 133
sociopolítico no qual ocorre. Estou a pensar especialmente na obra de Einar
Haugen (1906-1994) desde inícios dos anos 1950 em diante, mais especificamente
no seu extraordinário estudo sobre a língua norueguesa nos Estados Unidos
(Haugen 1953). Neste contexto, é de interesse notar que Max Weinreich, tal como
o seu filho um falante fluente de iídiche, já publicara artigos sobre o bilinguismo
em 1931 (Weinreich 1931a, b). É fácil imaginar que a seguir à chegada dos
Weinreich ao continente norte-americano durante a Segunda Guerra Mundial e
dadas as situações multilíngues que devem ter encontrado em New York City, o
seu interesse pelo plurilinguismo e pelo contacto linguístico terá aumentado (neste
sentido, a influência de Martinet sobre Uriel Weinreich deverá ter sido
singularmente importante).
Por outras palavras, as fontes da sociolinguística dos dias de hoje são diversas
e complexas e todas elas tiveram importância para o desenvolvimento dos vários
programas de investigação desde os anos 1960. No contexto norte-americano,
onde acima de 10% da população são de ascendência africana, não deveríamos
esquecer a importância que era atribuída pelos governos Kennedy e Johnson ao
estudo do que foi chamado desde logo ‘Black English’, o ‘inglês preto’ (cf. Drake
1977: 78-106, para detalhes); investigação esta na qual Labov era muito
proeminente (cf. Labov 1966a, 1972a; também cf. Wolfram / Fasold 1972), aliás
sem ser o pioneiro (p. ex., Stewart 1957).
45

No entanto, há uma linha de investigação nos Estados Unidos –
convenientemente cedo descartada por Labov, de forma que foi ignorada por
completo pelos seus seguidores – que justamente deveria ter sido acrescentada a
uma história adequada da ‘sociolinguística’. Refiro-me ao trabalho pioneiro desde
os anos trinta para a frente de Paul Hanly Furfey (1896-1991), um sociólogo na
Catholic University of America em Washington, D.C., e o trabalho de campo
levado a cabo no interior da cidade de Washington, D.C., por dois dos seus
estudantes doutorais, George Nelson Putnam (1909-1991) e Edna M.O'Hern
(nascida em 1919), cujos resultados foram publicados num trabalho conjunto na
série de monografias da Linguistic Society of America (Putnam / O'Hern 1955),
46

anos antes de estar na moda estudar o ‘Black English’ e de combinar dialetologia
urbana com teoria sociológica.
Um resenhador do trabalho de Putnam / O'Hern em Language foi muito
crítico daquilo que considerava a pobre metodologia dos autores (Evans 1956)
47
e
parece que Labov ecoa este julgamento ao notar que:


45
Não abordei a questão do financiamento maciço que Labov e os seus colegas receberam, um
assunto do qual pelo menos os americanos sabem quão crucial é quando se trata de desenvolver um
séquito. Até quando o Congresso estabeleceu o National Defence Education Act (NDEA) em 1958,
não havia nenhuma generosidade semelhante para a investigação linguística.
46
Na verdade, Pickford (1956: 223) considera o estudo dos autores “[...] remarkable for its
sociological awareness [...]” e “[...] a significant attempt to establish the importance of speech as a
mark of social status”.
47
Evans (1956: 825) conclui a sua resenha da seguinte maneira:

134 E.F.K. Koerner
The work suffered from a number of limitations: the selection of informants
was totally unsystematic, and from the occasional background information
which was collected, it appears that only a minority of informants had any
connection with the neighborhood or Washington during their formative
years. The speech of the informants was judged as a whole, and it is not clear
what the judges were reacting to, or how representative their judgments were
(Labov 1966a: 19).
Realmente, o leitor fica a pensar se Labov fundou a sua crítica severa no seu
próprio estudo deste trabalho bastante compacto de 32 páginas ou se simplesmente
foi conduzido pela resenha crítica de Evans. Como Joseph (1992) mostrou na sua
análise cuidadosa da contribuição de Monsenhor Furfey para a sociolinguística, o
trabalho dos seus estudantes era tudo menos um esforço descuidado para estudar a
fala de um grupo de pessoas socialmente desfavorecidas, mas um esforço
compreensivo que visava o que Labov (1966a: 9, 25, nota 5) gosta de chamar uma
‘socially realistic description’. Como evidencia Joseph (1992: 120-121), Putnam /
O'Hern (1955) empreenderam um grande número de entrevistas ao confrontar os
seus informantes com várias tarefas, transcreveram as respostas de imediato, como
também as gravaram para a subsequente análise espectográfica. Adicionalmente,
ofereceram uma descrição das caraterísticas morfológicas e sintáticas não padrão
que tinham observado, isto antes de empreender uma análise social da fala de uma
dúzia de informantes selecionados, tomando em consideração o estado social que
outros associariam com a mesma. Foram apresentadas fitas com gravações a um
total de setenta outras pessoas para obter as reações e as classificações destas no
atinente aos posicionamentos em termos de classe social. Estes posicionamentos,
por sua vez, foram comparados com o estatuto atual destes falantes em termos do
Índice de Caraterísticas de Estatuto (Index of Status Characteristics, I. S. C.), que
tinha sido desenvolvido por W. Lloyd Warner (1898-1970) durante os anos 1940
(veja-se Warner / Meeker / Eels 1949), e ao qual Labov se refere no seu trabalho,
p. ex., no seu capítulo “Class Differentiation of the Variables” (Labov 1966a: 207-
268, a pág. 236 e nota 10 e pág. 268; cf. também Labov 2001a: 60).
Putnam / O'Hern informaram que somente as avaliações de dois entre os doze
falantes tinham sido avaliadas por estes juízes “above other speakers whose I. S.
C. scores were higher” (pág. 26). Salientaram que, na sua visão, (Putnam / O'Hern
1955: 27): “these results bear out the hypothesis of this study, that the dialect of
Columbus Court residents does reflect low socio-economic status”. Também
consideraram ‘most remarkable’ que o seu estudo tivesse demonstrado “[...] that
untrained judges could rate the social status of speakers so accurately after


Interesting as it is, the Putnam-O’Hern study is almost completely vitiated,
[...], by the absence of an adequate methodology, both in obtaining and
analyzing the data. Any subsequent investigations in sociolinguistics ought
rather to profit by its mistakes than to repeat them.
A resenha de Cohen (1956b) do mesmo estudo de 32-páginas é muito mais generosa, se bem que
menos completa.

William Labov e as origens da sociolinguística na América 135
listening to a very short speech selection in the absence of all irrelevant cues”
(Putnam / O'Hern 1955: 29).
Na avaliação de Joseph (1992: 120-121), vemos no estudo de Putnam /
O'Hern a junção de “[...] phonetics, the distributional method, dialect geography,
highly organized sociological investigation, formal scientific method [...]”, isto
para além do ativismo social pelo qual o seu mentor era conhecido, quando
concluem o seu trabalho com a seguinte observação:
The importance of speech as a mark of social status (at least in the case of
this particular group) is a matter of great social significance [...]. Persons who
grow to adulthood as members of an underprivileged social group may carry
a mark of their origin through life and suffer from the various forms of
discrimination which society imposes on members of the lower
socioeconomic classes (Putnam / O’Hern 1955: 29).
Parece que o resultado do juízo negativo de Labov, como o primeiro assunto
na ordem do dia da sua secção “Studies of subjective evaluation of language”
(Labov 1966a: 19-23), era que os esforços pioneiros de Putnam / O'Hern estariam
escritos efetivamente fora do registo histórico.
48
Joseph (1992: 123) encontrou
apenas uma outra referência ao seu trabalho, feita pela psicóloga social Susan
Ervin-Tripp (nascida em 1927; sobre ela, cf. Murray 1998: 98-99), que mencionou
os autores ao descrever o seu trabalho da seguinte maneira:
Another kind of participation-form study is illustrated by Putnam and
O’Hern (1955) of the relation between social status, judged by sociological
indices, and linguistic features of speech in a Negro community in
Washington, D. C. This study has many similarities in method to
dialectology, but adds a procedure of judges’ blind ratings of status from
tapes, to make a three-way comparison possible between objective status,
perceived status, and specific features (Ervin-Tripp 1964: 92).
49

Mas a seguir, a autora acrescenta: “Labov (1964) gives a sophisticated
analysis of a status-form relation” (Ervin-Tripp 1964: 92), sugerindo assim que, de
agora em diante, a começar com a tese de Labov na University of Columbia, o
trabalho de Putnam / O'Hern seguramente poderia ser ignorado, o que
efetivamente aconteceu. Como sugere Joseph (1992: 122), a obra de Labov foi
logo aproveitada pela geração mais nova de linguistas, por exemplo Ralph W.
Fasold (nascido em 1940) e Walter A. Wolfram (nascido em 1941), como o início
de um novo campo de investigação com “[...] tremendous potential for generating
grant support”.



48
Não há nenhuma referência ao seu trabalho nos Principles of Linguistic Change: Volume II, Social
factors de 572 páginas (Labov 2001a).
49
A localização correta desta citação encontra-se em Murray (1998: 56, nota 11), que ainda observa
que Labov também tinha ignorado completamente a obra de Furfey, nomeadamente o seu livro (Furfey
1926) sobre gangues e o seu artigo (Furfey 1944) sobre o inglês ‘substandard’ (Murray 1998: 56).

136 E.F.K. Koerner
3 Observações finais
Ao escrever no início do século sob a influência da sociologia durkheimiana,
Meillet (1905, 1906) não teve nenhum nome para a nova abordagem da linguagem
e especialmente da mudança linguística. No entanto, apenas poucos anos depois,
em 1909, o seu compatriota Raoul de la Grasserie (1839-1914) falou de
‘sociologie linguistique’ num artigo programático.
50
Contudo o termo
‘sociolinguistics’ – pelo menos na America do Norte – não surgiu nos meios
regulares de divulgação impressa antes de aproximadamente 1950, sendo ainda
aparentemente muito recente para ser utilizado nos (títulos dos) estudos de Haugen
ou de Weinreich de 1953.
Supostamente cunhado por Haver C. Currie (1908-1993) e utilizado num
artigo programático que lida com aquilo que identificaríamos como ‘(social)
register’ ou ‘registo (social)’ da fala, o termo ‘sociolinguistics’ foi aproveitado por
Ethel Wallis
51
em 1956, no mesmo ano em que Glenna Pickford
52
ofereceu um
‘sociological appraisal’ – e, na verdade, trata-se de uma visão muito crítica do tra-
balho dialetológico de Kurath e dos seus colegas.
53
Mas parece que passaram quase


50
O “Essai de sociologie linguistique” de Leo Jordan (1929) tem pouco a ver com o assunto. É
essencialmente um artigo filológico, dedicado ao tratamento da história de uma seleção de elementos
léxicos do francês através de referências à mistura de dialeto e à estratificação social.
51
Ethel Emily Wallis (nascida ca. em 1920), ainda hoje associada ao Summer Institute of Linguistics, a
filial de Arizona em Tucson, publicou um livro de 146 páginas, intitulado God Speaks Navajo (Wallis
1968). Os seus trabalhos prévios (1951-1963) encontram-se referidos na Bibliography of the Summer
Institute of Linguistics 1935-1972, compilada por Alan C. Wares (1974: 93-94, 149-150 e 152).
52
Como a autora teve a amabilidade de me informar (e-mail de 30 de março 2001), este artigo “was
written as [her] thesis for a Master’s degree in English at Fresno State College, now California State
University, Fresno” sob orientação de Earl D. Lyon e em consulta ao antropólogo William Beatty e
ao sociólogo Wendell Bell. A senhora Pickford (nascida em 1921) é a esposa do famoso aguarelista
americano Rollin Pickford e não seguiu uma carreira académica. O seu artigo é uma crítica severa da
metodologia, do treino, do provincialismo e da falta de confiança dos dados colecionados por Kurath
e pelos seus colegas para o projeto do American Linguistic Atlas (cf. Kurath 1949; Kurath / Hansen /
Bloch / Bloch 1941). Pickford (1956) conclui o seu artigo com a seguinte observação:
The relative insignificance of a geographical study causes the Atlas project to
be ignored by the very social scientists whose cooperation would be most
salutary. It is hoped that future research in American speech will be used to
determine the more significant questions and will bring the professedly
sociological branch of linguistics up to date on social theory and scientific
method.
Um leitor desta passagem marcou “Labov” na margem da página no exemplar da revista Word que
pertence à Perry-Castañeda Library da University of Texas em Austin. O artigo de Pickford não é
mencionado em Labov (1972a).
53
Assim Shuy (1989: 298) está provavelmente bastante errado ao afirmar que o uso do termo
‘sociolinguistics’ por Currie em 1952 era “[...] the only extant use preceding the Lake Arrowhead and
the 1964 UCLA Institute”. Por exemplo, Paul Friedrich (1961: 163), na resenha a Ferguson /
Gumperz (1960), falou bastante liberalmente de ‘sociolinguistics’, como se já fosse um termo
amplamente estabelecido. Realmente, Joseph (1992: 125, nota 1) refere vários outros lugares onde o
termo ‘sociolinguistics’ era utilizado, como por exemplo, por Eugene A. Nida (1914-2011) em 1949,

William Labov e as origens da sociolinguística na América 137
outros dez anos para que ‘sociolinguistics’ passasse a ser o nome geralmente aceite
para um subcampo importante da investigação linguística (p. ex., Bright 1966).
Ao considerar as fontes diferentes da sociolinguística moderna que são
localizadas neste artigo, poderíamos descrever a evolução do campo com a ajuda
do seguinte diagrama (obviamente incompleto) – deixando de lado,
assumidamente, vários estudos verdadeiramente pioneiros que não chegaram a
fazer parte do ‘cânone’ laboviano:

DIALETOLOGIA
(
COM UM ENFOQUE SOCIAL)
ESTUDOS EM LINGUÍSTICA
HISTÓRICA

TRABALHO EM BI- E
MULTILINGUISMO

│ │ │
e.g. Wrede (1902)
Gauchat (1905)
Jaberg (1908)
Hermann (1929)
McDavid (1946, 1948)
Gumperz (1958)
e.g. Meillet (1905)
Vendryes (1921)
Sommerfelt (1930)

Martinet (1952b, 1955)

U. Weinreich (1953)

Labov (1963, 1965)

e.g. M. Weinreich (1931)
U. Weinreich (1951)
Haugen (1953)
Ferguson (1959)
Friedrich (1961)

SOCIOLINGUÍSTICA
Fig. 2: As fontes da sociolinguística

Mais especificamente, o diagrama exclui trabalhos extralinguísticos, em
especial trabalhos sociológicos e psicológicos
54
que exercitaram uma influência
sobre a teoria e prática sociolinguísticas, pelo que pelo menos um exemplo deste
tipo deveria ser mencionado.
55
Devido ao facto de a obra do sociólogo francês
Jean Gabriel de Tarde (1848-1904) ser quase esquecida (cf. o relato “psychologies
sociales perdues” de Lubek 1981), sendo em grande parte posta de lado por
Durkheim e pelo trabalho do seu sobrinho e sucessor Marcel Mauss (1872-1950),


com a segunda edição da sua influente Morphology (Nida 1949), Einar Haugen (1906-1994) em 1951
(o texto impresso do seu discurso presidencial na LSA de dezembro de 1950), para citar pelo menos
dois predecessores de Currie (1952). A referência mais fascinante, porém, parece ser o uso do termo
hifenizado por Thomas Callan Hodson (1871-1953), já em 1939. Hodson tinha-se aposentado da
administração civil britânica na Índia antes de ser nomeado o primeiro ocupante da cadeira de
Antropologia em Cambridge, em 1932 (pergunto-me se não houve qualquer ligação entre Hodson e
J.R. Firth no decurso dos anos trinta, tendo em conta a permanência de Firth na Índia durante os anos
1920 e a sua própria perspetiva sociolinguística).
54
Carateristicamente, Labov tinha dado pouca atenção ao trabalho em ambas as áreas da sua tese, pois
afirmava: “In general, it may be said that psychologists and sociologists have lacked the linguistic
training required to isolate particular elements of structure, and have worked primarily with vocabulary
in content analysis” (Labov 1966a: 23). Não se cita nenhum trabalho particular, mas consta que esta
afirmação entrou logo na história dos manuais sociolinguísticos (p. ex., Wolfram 1969: 7).
55
Notavelmente, na tese de 1964 de Labov, alguns trabalhos de sociólogos estão listados na
bibliografia relativamente sucinta (1966a: 583-588), sendo apenas discutidos muito brevemente
(Labov 1966a: 23).

138 E.F.K. Koerner
é refrescante ver algumas das suas ideias reabilitadas na obra de Labov (na qual a obra de Durkheim é posta de lado). Em vários lugares dos seus escritos, Labov
recorre àquilo que ele chama ‘Tarde’s Law’,
56
no entanto sem explicá-la.
Resumindo, Tarde argumentou que a imitação (“l’amant imite l’aimé”) está no
fundo da mudança social e que a língua pode cair debaixo de um feitiço
semelhante, o que Labov e outros chamaram ‘prestige’.
Sendo verdade que o aparecimento de um termo-chave para um campo
específico de investigação não assinala necessariamente o início de uma
disciplina, pode, no entanto, ser encarado como uma marca do ponto a partir do
qual a identificação profissional com um empreendimento específico é
considerada desejável pelo menos por alguns dos seus praticantes. O próprio
Labov (1972a: xiii, 183-184), hesitando inicialmente, acabou por adotar
‘sociolinguistics’, que passou a ser o termo amplo que também viria a incluir a
‘sociology of language’, ou seja, a ‘sociologia da linguagem’ na maioria dos
exemplos. Labov (1972a: 296) celebra o volume Linguistic Diversity in South Asia
de Ferguson / Gumperz (1960) como “the beginning of the current interest in
sociolinguistic studies [...]”. Mas, como acabamos de demonstrar, Labov tinha
absorvido muitas das ideias de trabalhos linguísticos bastante anteriores quando
elaborou o seu próprio programa de um ‘socially realistic linguistics’ (Labov
1972a: xiii), ou seja, de uma ‘linguística socialmente realística’.
O tipo laboviano de sociolinguística foi encarado, com alguma justificação,
como um antídoto para o tipo de trabalho socialmente infrutífero e
linguisticamente não-empírico que derivou da linguística de tipo chomskyano
durante os passados cinquenta e mais anos. O seu regresso dedicado aos assuntos
simultaneamente internos e sociais na investigação da mudança linguística (Labov
1994, 2001a) promete vir a ser o seu legado.




56
Ao falar de “Tarde’s law” em Sociolinguistic Patterns, Labov (1972a: 286, nota 11) fala de “[...]
his Lois de l’imitation in 1890 [...]”; na pág. 308, menciona “[...] Tarde’s law (1913) [...]”, e na
bibliografia (pág. 335) a entrada é simplesmente: “Tarde, Gabriel. 1873 [sic], Les lois d’imitation” –
sem informação sobre o lugar de publicação e o editor. Vejam-se as referências bibliográficas do
presente volume para uma entrada correta e completa da obra de Tarde (1890). Não há nenhum lugar
no livro onde a ‘lei’ de Tarde se encontre explicada.

Observações sobre as origens da morfofonémica
na linguística estruturalista americana
*




1 Introdução
Tão recentemente quanto em 1997, Noam Chomsky repetiu o que já tinha
afirmado muito anteriormente, nomeadamente que quando estava a elaborar as suas
ideias sobre as regras de ordenação para a sua tese de mestrado em
Morphophonemics of Modern Hebrew (1951), não tinha tido acesso ao artigo
“Menomini Morphophonemics” (1939) de Bloomfield, sugerindo ao mesmo tempo
que o modelo gerativo de análise linguística que desenvolveu durante os seus anos
de estudante era mais ou menos original dele. No presente artigo, discute-se que a
memória dos primeiros trabalhos de Chomsky e daquilo que leu na altura, na melhor
das hipóteses, é incompleta, e que, com efeito, mesmo se não tivesse acesso direto a
um exemplar dos Travaux du Cercle Linguistique de Prague vol. 8, antes da
conclusão da sua tese de mestrado, ele muito provavelmente teria absorvido a
essência das ideias de Bloomfield sobre as regras de ordenação, entre outros, através
da leitura das provas da principal obra teórica do seu orientador, os Methods in
Structural Linguistics de Zellig S. Harris. Neste livro, que tinha circulado em forma
de manuscrito desde 1946, Harris discute os pontos mais salientes da argumentação
de Bloomfield de 1939 num capítulo intitulado “Morphophonemics”. Mesmo que o
livro de Harris não tenha sido publicado até 1951, o seu prefácio, assinado em
janeiro de 1947, agradece a ninguém mais do que a Noam Chomsky, por este ter
ajudado com as provas tipográficas. Por isso pode-se destacar que a obra Methods
de Harris contém a essência da abordagem gerativa da linguagem que até agora vem
quase exclusivamente associada ao nome de Noam Chomsky, para não mencionar o
facto de os artigos de Harris (1941a) e (1948) sobre o hebraico terem fornecido mais
do que simplesmente os dados dos quais a tese de mestrado de Chomsky (1951)
constitui, em grande parte, uma ‘reabordagem’ de uma forma muito mais abstrata,
técnica da sua própria criação. Por outras palavras, este artigo tem por objeto
demonstrar que existe muito mais continuidade e avanço acumulado na linguística
americana do que temos sido levados a acreditar, tanto pelos participantes ativos na
‘revolução’, como pelos seguidores e os historiadores da corte.
Quando se dedica ao trabalho historiográfico, um investigador sério averigua
todas as possíveis fontes para a documentação de um determinado assunto,
nomeadamente materiais escritos, publicados ou inéditos. Certamente prestará
particular atenção ao trabalho publicado e a qualquer texto disponível escrito pelos
autores, cuja publicação está sob escrutínio em questões de foro educacional,


*
[Observação sobre a tradução: a presente tradução foi elaborada por Marlene Loureiro com base nos
artigos “On the Origins of Morphophonemics in American Linguistics” (Koerner 2005c) e “Remarks
on the origins of morphophonemics in American structuralist linguistics” (Koerner 2003b).]

140 E.F.K. Koerner
influências de formação e de gosto. Se um determinado autor ainda estiver vivo, o historiógrafo poderia tentar contactá-lo e perguntar-lhe questões específicas
consideradas pertinentes para a investigação. No caso de Noam Chomsky, os
materiais a que o investigador pode aceder são imensos, senão mesmo
esmagadores (cf. Koerner / Tajima 1986, que também enumeram um grande
número de entrevistas publicadas e outros dados biográficos). Também podem ser
encontradas informações adicionais em relatos históricos que contêm excertos de
entrevistas e cartas trocadas com Chomsky (por exemplo, Newmeyer 1980,
1996b; Harris 1993; Murray 1994; Barsky 1997). Em resumo, não há, ao contrário
de muitos outros casos, falta de informações disponíveis no que concerne a
Chomsky, quer no que ao homem diz respeito quer ao seu trabalho.

2 O tratamento do assunto em relatos históricos
Dada esta aparente abundância de informações sobre Noam Chomsky
(nascido em 1928), o investigador histórico pode confrontar-se com algumas
encruzilhadas relativas à biografia intelectual de Chomsky. Um assunto
enigmático diz respeito ao papel exato que Zellig Sabbettai Harris (1909-1992), o
professor de linguística que Chomsky conheceu na Universidade de Pennsylvania
durante os anos 1946/1947-1951, teve no desenvolvimento das ideias de Chomsky
sobre a gramática gerativa, uma vez que o próprio Harris parece ter sido bastante
reticente sobre o que considerava como assuntos pessoais ou privados.
1
Como
resultado, o historiógrafo está deveras entregue às declarações de Chomsky, feitas
muitos anos depois, sobre a relação aluno-mentor entre eles. Felizmente, há vários
exemplos disponíveis de tais reconhecimentos, nomeadamente a introdução de
Chomsky na publicação de uma versão – na verdade, em partes grandemente –
editada (e nalguns lugares fortemente reduzida) da sua obra The Logical Structure
of Linguistic Theory (1975), um manuscrito que data de 1955-1956. Aí podemos
ler a seguinte importante passagem com relevo para o tema do presente artigo:

My formal introduction to the field of linguistics was in 1947, when Zellig
Harris gave me the proofs of his Methods in Structural Linguistics to read. I
found it very intriguing and, after some stimulating discussions with Harris,
decided to major in linguistics as an undergraduate at the University of
Pennsylvania (Chomsky 1975: 25).

Por outro lado, uma parte dificilmente não menos importante da narrativa do
historiógrafo teria de ser o de mapear o ambiente geral da época, para fornecer uma
ideia sobre o que estaria disponível em termos de publicações para um estudante
universitário de linguística, as correntes de pensamento dominantes e os debates
realizados nos estabelecimentos de ensino regulares. Isto conduzir-nos-ia, entre
outras coisas, a perceber que, para além de vários periódicos filológicos com


1
A este propósito veja-se Harris (1990), onde ele narra o desenvolvimento da gramática
transformacional, que os seus contemporâneos próximos frequentemente associavam com o seu
trabalho dos anos 1940.

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 141
estudos na linguística histórico-comparativa indoeuropeia, só havia na época três
revistas regulares de linguística: Language, o órgão oficial da Linguistic Society of
America (LSA), publicada desde 1925; International Journal of American
Linguistics (acrónimo: IJAL), primeiramente lançada em 1917 por Franz Boas
(1858-1942), desaparecida em 1939 e relançada em 1944 por Charles Frederick
(“Carl”) Voegelin (1906-1986); e Word, a revista criada em 1945 pelos linguistas
europeus emigrados residentes na área da cidade de New York, sob a liderança
intelectual de Roman Jakobson (1896-1982).
2
Ao contrário de finais dos anos 1960
e 1970, que viram o surgimento de um grande número de revistas de linguística em
ambos os lados do Atlântico, o estudante norte-americano dos anos 1940 e 1950
conseguia ler tudo da área que tivesse sido publicado desde os anos 1930, incluindo
todos os livros, pelo menos tudo o que tivesse aparecido nos Estados Unidos.
Nos relatos históricos sobre a linguística norte-americana, nomeadamente no
influente livro de 1980 de Frederick Newmeyer, encontramos pouco sobre
‘morfofonémica’. Nem a primeira nem a segunda edição revista de 1986 têm
qualquer entrada no índice sobre isso. O artigo de 1939 de Bloomfield aparece
referenciado em ambas as edições (Newmeyer 1980: 253; 1986c: 234) e é
mencionado de forma sucinta no subcapítulo “2.5.3 Early Generative Phonology”
(Newmeyer 1980: 39-42), que é essencialmente um enaltecimento do artigo
“Phonology in Generative Grammar” (1962) de Morris Halle. O artigo de
Bloomfield (1939) é considerado como tendo sido o primeiro a observar que “[...]
the synchronic order of rules characteristically mirrors their relative chronology
[...]” (Newmeyer 1980: 41; 1986: 35). Já antes, Newmeyer (1980: 36) tece a
seguinte observação (aliás não conservada na segunda edição de 1986) em que
reconhece o ‘espírito’ gerativista daquele artigo: “Likewise, the spirit of
Bloomfield’s treatment of Menomini morphophonemics (1939b) and Jakobson’s
of Russian conjugation (1948) is clearly that of a generative phonology, although
their rules are not treated formally”.
Em 1976, no seu trabalho de investigação The Development of Morpho-
phonemic Theory,
3
James Kilbury – aliás, um antigo discípulo do falecido Charles
Hockett – menciona o artigo de Bloomfield (1939) no capítulo 4, “American


2
Talvez devêssemos acrescentar a existência de uma espécie de Studies in Linguistics, uma revista
para ‘artigos em desenvolvimento’ publicada por George Leonard Trager (1906-1992) entre 1942 e
1975, e que, na verdade, publicou uma plêiade de artigos interessantes, incluindo alguns de Charles F.
Hockett, dos quais é de esperar que Chomsky os terá lido na ocasião, dado que, ao contrário de hoje
em dia, havia na altura uma certa carência de periódicos de linguística. De modo interessante, um dos
cinco itens (incluindo um artigo inédito dele próprio) citado por Chomsky na sua tese de mestrado
(Chomsky 1951: 74) é a nota da página 5 do texto de Hockett “Which Approach in Linguistics is
‘Scientific’?” (Hockett 1950a: 5), sobre a qual Chomsky fez uma referência positiva (Chomsky 1951:
3, nota 4, e 67), quando a discussão diz respeito a “[...] explicit considerations of simplicity imposed
on the grammatical statement”. Sobre a distribuição dos artigos da geração de Harris nas revistas
Word, Studies in Linguistics e Language, veja-se a tabela em Murray (1994: 218).
3
Kilbury (1976), curiosamente, não é referenciado em Newmeyer (1980, 1986c, 1996).

142 E.F.K. Koerner
Linguistics through Bloomfield” (Kilbury 1976: 39-53) só muito brevemente
(Kilbury 1976: 51-52), e argumenta:

It seems reasonable to conclude that Bloomfield’s choice of the title
“Menomini Morphophonemics” [...] was explicitly intended to honor
Trubetzkoy and recognize his theoretical contributions. But neither this nor
Bloomfield’s earlier works give a picture of the position of
morphophonemics within his own framework (Kilbury 1976: 51).


Esta é uma avaliação bastante justa, mas o resto do relato de Kilbury não
contém uma discussão desse artigo, a não ser a sua referência juntamente com o
artigo “Morpheme Alternants” (1942) de Harris (Kilbury 1976: 87). No capítulo
conclusivo, intitulado “American Linguistics since Generative Grammar” (Kilbury
1976: 103-119), que começa com a apresentação das ideias principais da tese de
mestrado de Chomsky (1951), o artigo de Bloomfield (1939) simplesmente é
mencionado como um exemplo para apoiar o argumento de que “[...] earlier
descriptions in terms of ordered morphophonemic rules [...] had been content
merely to specify sufficient conditions of ordering [...]” (Kilbury 1976: 106; itálico
no original). Não há, contudo, qualquer referência à possível influência que o
artigo de Bloomfield possa ter tido em Chomsky.
Na obra Phonology in the Twentieth Century (1985), de Stephen Anderson,
podemos encontrar um capítulo intitulado “Morphophonemics and the description
of alternations” (Anderson 1985: 270-276) dentro do capítulo dedicado a
Bloomfield (Anderson 1985: 250-276), mas só uma pequena parte é dedicada ao
seu artigo de 1939. Anderson repete a declaração de Chomsky (1962a) de que o
“[...] classic 1939 paper on Menomini” de Bloomfield constitui “the first
systematic treatment of morphophonemics [...]” (Anderson 1985: 271), só para
advertir o leitor contra o anacronismo:

While Bloomfield was certainly one of the most noteworthy early
practitioners of the morphophonemic method of description [...], we should
not therefore make the anachronistic assumption that he understood such
descriptions in the same way linguists do today (Anderson 1985: 271).

Mais à frente no seu livro, Anderson descreve os ‘first substantial results’ de
Chomsky no campo da fonologia gerativa, na sua tese de mestrado em 1951, como
tendo sido “[...] achieved without substantial reference to structuralist
assumptions” (Anderson 1985: 315-316). No capítulo “The antecedents of
generative phonological theory” (Anderson 1985: 322-327), o artigo de
Bloomfield (1939) só é mencionado como uma referência para os escritos de Halle
e de Chomsky dos anos 1950. Na essência, Chomsky é apresentado como um
pensador independente que não foi significativamente influenciado pelos seus
antecessores estruturalistas.
4



4
É bastante curioso que a obra Grammatical Theory in the United States from Bloomfield to
Chomsky (1993), de Matthews, somente menciona o uso das ‘morphonological rules’ por Chomsky e

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 143
Por último, mas não menos importante, o tratamento mais específico do tema
central deste artigo, ou seja, se (os principais princípios) o artigo “Menomini” de
Bloomfield teve ou não impacto no trabalho sobre a morfofonémica de Chomsky
durante os anos 1949-1951, é encontrado em Newmeyer (1996b: 12-14). Avaliarei
então as observações, as reivindicações e as deduções de Newmeyer mais à frente
neste artigo (veja-se também nota 6).

3 Um regresso às fontes da morfofonémica
Muito foi afirmado na literatura sobre a ‘revolução de Chomsky’. Se
tomarmos a deposição comunista do regime czarista na Rússia, em 1917, como
exemplo, detetamos algumas semelhanças entre a revolução social e política e o
que aconteceu na linguística americana durante os anos 1960. Estou a pensar
particularmente na maneira como os representantes do ancien régime foram
tratados (eles podem não ter perdido as suas vidas, mas aconteceu que muitas
carreiras académicas daqueles que não queriam juntar-se à nova fé foram
negativamente afetadas, algumas até foram arruinadas) e, o que é de especial
interesse no presente contexto, na maneira como a história foi reescrita, sendo a
memória do passado imediato obliterada e substituída por outra coisa. A natureza
desta coisa ficará evidente pelo fim do presente artigo.
Para o investigador familiarizado com a literatura da época, especificamente
com o trabalho de Trubetzkoy e Jakobson, no lado da Europa, e com o trabalho de
Bloomfield, Sapir e outros linguistas dos anos 1930 e 1940, no lado norte-
americano, algumas das conexões parecem bastante óbvias, uma vez que se tem
posto de lado a visão errónea de que não houve qualquer contacto entre as
correntes linguísticas da Europa e o estruturalismo norte-americano durante os
anos da pré-guerra. Aqueles que viveram nos Estados Unidos durante os anos
1960 terão testemunhado, se não foram varridos pelo fervor revolucionário do
período, aquilo que Encrevé (1997) chamou a ‘slash-and-burn strategy’,
5
em que
estavam envolvidos Noam Chomsky (nascido em 1928) e Morris Halle (nascido
em 1923), o seu colega desde os anos 1950 em diante, bem como logo a seguir um
número considerável dos seus discípulos, uma estratégia virada contra o trabalho
dos antecessores imediatos e dos professores de Chomsky (e até certo ponto
também de Halle). Em vez disso, podemos ver Chomsky a construir uma história


o seu argumento a favor do estabelecimento de um ‘morphonological level’ (Chomsky 1975), mas não
menciona a sua tese de mestrado de 1951 (que não é mesmo incluída na lista de textos de Chomsky;
Matthews 1993: 255-256), embora o artigo de Bloomfield (1939) seja pelo menos mencionado
(Matthews 1993: 93) pela sua referência à ‘morpholexical variation’ (Bloomfield 1970: 352). Isto é
tanto mais surpreendente quanto Matthews (1993: 86-87) traça um longo argumento para demonstrar
que “Chomsky and his colleague Halle [...] did not abandon Bloomfieldian ideas“ e “with some
qualifications, [...] retained the morpheme unit, much as the Post-Bloomfieldians had conceived it“.
5
Encrevé (1997: 101) fala de “[...] une politique délibérée de la ‘terre brûlée’ [...]”, e, mais adiante na
mesma página, a sua ilustração deste tipo de atividade é resumida da seguinte forma: “Un bon
stucturaliste est un structuraliste mort”.

144 E.F.K. Koerner
alternativa sobre a sua suposta inspiração linguística durante o mesmo período (cf.
Chomsky 1964b, 1966).
Espero mostrar, no decorrer desta investigação, que a ideia das regras
ordenadas desempenhou um papel central na ‘revolução’ da linguística americana.
Como resultado, é com respeito aos antecedentes desta ideia que algumas das
reivindicações revolucionárias de Chomsky e dos seus colegas podem permanecer
ou cair. Se esta avaliação estiver correta, a ênfase na parte dos protagonistas será de
descontinuidade, possivelmente mesmo de rutura (Michel Foucault a seguir a
Bachelard), com o passado imediato. Por outras palavras, o suposto primeiro
trabalho que continha in nuce o conceito de gramática gerativa – a tese de mestrado
de Chomsky, Morphophonemics of Modern Hebrew (1951), feita sob orientação de
Harris na Universidade de Pennsylvania – deve ser vista como totalmente original e
de modo nenhum como em dívida para com os seus antecessores estruturalistas.
Para os ‘revisionistas’, caber-lhes-á demonstrar que as ideias de Chomsky tinham
de facto antecedentes e que se pode assumir seguramente que ele estava
familiarizado com eles quando escreveu a sua tese de mestrado.
6

3.1 A ideia das regras ordenadas em Bloomfield
Os linguistas a ensinar no Massachusetts Institute of Technology durante os
‘revolucionários’ anos 1960 são relatados como tendo desencorajado ativamente
os estudantes de ler o trabalho dos chamados bloomfieldianos, exceto aquilo que
Postal (1988: 134) mais tarde chamou ‘the right of salvage’ (cf., p. ex.,
Langendoen 1968; Bever 1967). A ideia que lhes foi passada era que o trabalho
deles era ‘pré-científico’, mal alcançando a ‘adequação observacional’, e, portanto,


6
Nos seus mais recentes relatos sobre o desenvolvimento da linguística gerativa, Frederick
Newmeyer defendeu, entre outras coisas, que, antes de escrever a sua tese de mestrado, Chomsky já
tinha elaborado as suas ideias num ensaio de licenciatura em 1949. Tendo compilado, com o aval de
Noam Chomsky e o apoio da sua secretária, uma bibliografia mais detalhada dos seus escritos até
1986 (Koerner / Tajima 1986), eu não tinha conhecimento deste trabalho que, de acordo com
Newmeyer (aparentemente a seguir o próprio relato de Chomsky 1979b: 111), tinha o mesmo título.
Quando perguntei a Newmeyer, em dezembro de 1988, quando o artigo foi originalmente
apresentado no primeiro encontro anual da NAAHoLS, realizado na Universidade de Tulane, em
Nova Orleans, se ele tinha um exemplar do ensaio, ele admitiu que não tinha qualquer cópia nem
nunca o tinha visto, mas que Chomsky lhe tinha contado tudo sobre ele. Pode muito bem ser o caso
de que a tese de mestrado de Chomsky tenha começado por ser um trabalho de conclusão de curso,
mas não conheço nenhum local onde Chomsky apresente o seu ensaio de 1949, nem mesmo na sua
tese de mestrado, onde poderia fazer todo o sentido, especialmente devido ao facto de ele apresentar
entre os cinco itens (!) da sua bibliografia (Chomsky 1951: 74) um texto inédito (e sem data), que
parece ser uma recensão do artigo de Nelson Goodman “On the Simplicity of Ideas” (1943) (Não nos
esqueçamos que, na altura, Chomsky era tanto aluno de Goodman como de Harris, e que foi o último
que o levou a conseguir uma bolsa júnior de 4 anos em Harvard). No entanto, dada a falta de prova
fidedigna, parece justo pensar que a data de 1949 foi mencionada a fim de reforçar a afirmação de
originalidade por parte de Chomsky, sugerindo que este, em 1949, ainda não poderia ter conhecido
Jakobson (1948). Com efeito, Newmeyer (1996b) faz esta constatação. Seja como for, vamos ver no
que se segue, que isso pouco importa para a presente argumentação, se Chomsky tinha ou não
estabelecido as suas ideias sobre gramáticas gerativas em 1949 ou em 1951.

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 145
de pouco valor. Escusado será dizer que os estudantes avidamente seguiram os
conselhos dos professores, especialmente porque lhes tornavam a vida mais fácil.
Como resultado, poucos na altura leram atentamente o livro Language de
Bloomfield e ainda menos com a intenção de reconhecer o seu relevo para o
desenvolvimento da linguística norte-americana para mais do que uma geração ou
para as discussões linguísticas dos anos 1950 e 1960.
Embora seja difícil de acreditar, tendo em conta a prova circunstancial (veja-
se abaixo) que Chomsky não tinha visto, ou melhor, não tinha tido conhecimento
das ideias apresentadas no artigo de 10 páginas “Menomini Morphophonemics”
(1939) de Bloomfield, aquando da redação da sua tese de mestrado
Morphophonemics of Modern Hebrew, em 1951, deixa-nos supor por momentos
que ele não tinha conhecimento. Para alguém que disse que ele ‘decided to enroll
in linguistics’ em 1947, seria seguro supor que adquiriu logo – ou pediu
emprestado da biblioteca principal da Universidade de Pennsylvania – um
exemplar de Language, de Bloomfield, a referência principal em qualquer
discussão linguística na América até inícios dos anos 1960. Aí, no capítulo sobre
morfologia (Bloomfield 1933: 207-226), que, como observa Encrevé (1997: 112),
Harris estava preocupado em reescrever durante os anos 1940, encontramos
Bloomfield a discutir a formação do plural em inglês, em particular “[...] some
instances of the constituent form [...]” e posteriormente como diferindo
foneticamente “[...] the underlying singular form[s] [...]”, como em knife / knives,
mouth / mouths, house / houses (Bloomfield 1933: 213). Aí propõe:

We can describe the peculiarity of these plurals by saying that the final [f, Ɵ, s]
of the underlying singular is replaced by [v, , z] before the form [i.e., {-s}] is
added. The word “before” in this statement means that the alternant of the
bound form is the one appropriate to the substituted sound; thus, the plural of
knife adds not [-s], but [-z]: “first” the [-f] is replaced by [-v], and “then” the
appropriate alternant [-z] is added. The terms “before, after, first, then”, and so
on, in such statements, tell the descriptive order. Their actual sequence of
constituents, and their structural order (§ 13.3) are a part of the language, but
the descriptive order of grammatical features is a fiction and results simply
from our method of describing the forms; it goes without saying, for instance,
that the speaker who says knives, does not “first” replace [f] by [v] and “then”
add [-z], but merely utters a form (knives) which in certain features resembles
and in certain features differs from a certain other form (namely, knife)
(Bloomfield 1933: 213).

Na secção referida por Bloomfield neste âmbito, observa, entre outras coisas:

The principle of immediate constituents leads us to observe the structural
order of the constituents, which may differ from their actual sequence; thus,
ungentlemanly consists of un- and gentlemanly with the bound form added at
the beginning, but gentlemanly consists of gentleman and -ly with the bound
form added at the end (Bloomfield 1933: 210).

146 E.F.K. Koerner
É óbvio a partir desta discussão que Bloomfield estava bastante consciente da
importante distinção entre ‘descriptive order’ (estabelecida pelo linguista) e
‘structural order’ (que este observa ou ‘descobre’). Dado o interesse, senão a pre-
ocupação com a estrutura do inglês, por parte dos chamados pós-bloomfieldianos,
durante a década de 1940, é difícil imaginar que estas passagens num capítulo de
vinte páginas pudessem ter escapado à atenção dos jovens linguistas, tais como
Noam Chomsky; quem, de facto, em 1962, no Ninth International Congress of
Linguists, realizado em Cambridge, Massachusetts, refutou a referida passagem
textual de Bloomfield (1933: 213) da seguinte maneira:

He regarded ordering of rules as an artifact – an invention of the linguist – as
compared with order of constituents, which is “part of language”. But this
depreciation of the role of order of synchronic processes is just one aspect of
the general antipathy to theory (the so-called “anti-mentalism” that
Bloomfield developed and bequeathed to modern linguistics) (Chomsky
1964b: 70, nota 8).


À parte da afirmação de Chomsky sobre a falta de interesse na teoria por parte
de Bloomfield e dos seus seguidores – o que poderia ser refutado facilmente – é
significativo que Chomsky continua as suas observações ao dizer que “Harris
showed (1951: 237) that some of Bloomfield’s examples of ordering can be
handled by unordered rules that state the phonemic composition of a
morphophoneme in a strictly morphophonemic context. But his method does not
generalize to such examples as the one given below; [...]” (Chomsky 1964b: 70,
nota 8; itálico no original), e ele continua a criticar Harris essencialmente por não
ter esclarecido a “[...] italicized condition on morphophonemic rules”, como ele,
Chomsky, achava que deveria ter feito.
O que pode ser mais interessante é o que Chomsky afirmou no decurso do
texto da mesma página (uma vez que as observações feitas em notas de rodapé
geralmente não são lidas em voz alta durante as apresentações orais). Aí,
Chomsky faz um apelo a favor da importância do ‘ordering of rules’ em fonologia,
nomeadamente a importância de “[...] a fairly strict ordering must be imposed on
phonological processes [...]” (Chomsky 1964b: 70). Depois, começa a falar sobre
dois artigos importantes dos anos 1930, nomeadamente o célebre “La réalité
psychologique des phonèmes” (1933), de Edward Sapir (publicado em inglês
apenas em 1949), e o artigo de Bloomfield “Menomini Morphophonemics”
(1939), afirmando que
[...] most of the examples in Sapir (1933) involve ordering, though he does not
mention the fact. Bloomfield was much more concerned with questions of
ordering and his Menomini morphophonemics (1939) is the first modern example
of a segment of a generative grammar with ordered rules (Chomsky 1964b: 70).

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 147
Chomsky continua a observar que “Bloomfield does not discuss the extent or
depth of ordering
7
in this grammar [...]” e que, provavelmente, “[...] does not
exceed five [...]”, enquanto ele, em 1951, na sua tese de mestrado sobre o hebraico
moderno, tinha chegado a “[...] a depth of ordering that reaches the range of
twenty to thirty [...]”,
8
apontando que “[...] recent work [a nota apresentada não
indica nada disso, EFKK] gives strong support to the belief that ordering relations
among phonological processes are quite strict [...]” (Chomsky 1964b: 71).
Não há dúvidas de que os importantes avanços na teoria fonológica tinham
sido feitos entre 1939 e 1962; pode ser apenas mais uma questão de saber se estes
eram simplesmente devido ao trabalho de Chomsky sozinho. Desde que ele se
refere a uma passagem de Zellig Harris, em Methods in Structural Linguistics,
publicado em 1951, onde Harris discute “[...] some of Bloomfield’s examples of
ordering [...]” na mesma nota que já citámos, pode ser útil examinarmos a página
237 em questão, para além de outras passagens no Methods.

3.2 A ideia de regras ordenadas em Harris
Numa história adequada da linguística gerativa ainda a ser escrita, o papel de
Zellig S. Harris (1909-1992) dificilmente poderia ser subestimado. Juntamente com
Charles F. Hockett (1916-2000), Harris foi a principal força motriz nas discussões
teóricas sobre a linguística norte-americana nas décadas de 1940 e 1950. Não
admira que Chomsky inclua, na ‘bibliography’ da sua tese de mestrado (Chomsky
1951: 74), o texto Methods de Harris e um pequeno artigo, mas bastante perspicaz,
de Hockett (1950a).
9
Uma vez que a sugestão foi feita de que o livro de Harris, ou,
talvez mais corretamente, o seu conteúdo não teria estado à disposição do jovem
Chomsky quando desenvolveu as suas ideias, digamos, de 1949 em diante, duas
afirmações podem ter que ser rebatidas em primeiro lugar. Ou seja, a
indisponibilidade da obra antes da sua publicação, em 1951, e a sugestão (recente-
mente repetida por Newmeyer 1996b: 14) de que a versão manuscrita de Methods
não continha as partes relevantes para a presente discussão.
10



7
Por ‘depth of ordering’ entende-se o número de sequências de regras ordenadas na descrição
gramatical. Jensen (1999: 82) não é, portanto, muito correto quando sugere que Chomsky e Halle
introduziram o conceito em The Sound Pattern of English, embora seja verdade que eles consideravam
“the hypothesis that rules are ordered [...] to be one of the best-supported assumptions of linguistic
theory” (Chomsky / Halle 1968: 342).
8
Apenas cinco anos mais tarde, Thomas Gordon Bever (nascido em 1939), estudante de
doutoramento em Halle, tinha aumentado a contagem de sequências de ordenação de Bloomfield para
onze e reduzido consideravelmente a dimensão das reivindicações anteriores de Chomsky (Bever
1967; cf. Chomsky / Halle 1968: 18, nota 4) – depois de ter exagerado a distância das suas próprias
sequências de ordenação (cf. Bever 1963).
9
Os outros dois, ao lado de um artigo inédito e, para além disso, desconhecido do próprio Chomsky
sobre “Some Comments on Simplicity and the Form of Grammars”, foram Goodman (1943) e
Greenberg (1950).
10
Quando desafiado pelo presente autor para revelar a base da sua afirmação, Newmeyer admitiu:
“Unfortunately, I never did see the ms version of Harris. Everything that I know/think about it comes

148 E.F.K. Koerner
No seu livro American Structuralism, Hymes / Fought (1981) fazem a
seguinte interessante declaração:

By 1946 a full-scale treatment of language structure as a whole in such terms
[distintamente bloomfieldianos? EFKK] existed in the form of the
manuscript of Harris’ Methods in descriptive (later: structural) linguistics,
recommended for publication by the LSA’s committee on such matters, but
languishing for lack of funds (Hymes / Fought 1981: 136).


Num artigo baseado numa entrevista concedida a Anne Daladier, em Paris,
perto do fim da sua vida, podemos ler a própria afirmação do autor de que
Methods “[...] était rédigé et circulait en 1946 mais n’est paru qu’en 1951” (Harris
1990: 10). De facto, Hockett, no seu artigo “Problems of Morphemic Analysis”
(1947), refere-se à obra (sem mencionar o seu título) da seguinte maneira:
In his unpublished material, Harris shows how this [exigência teórica,
EFKK] can be handled. His example is English /tuw/ (to, too, two), which in
the absence of semantic criteria first appears as a single morph (Hockett
1947a: 331, nota 25).
Martin Joos (1907-1978), quando reeditou o artigo na sua revista Reader de
1957, identificou a referência como se segue: “See now his Methods in Structural
Linguistics, p. 202” (Joos 1957: 235). Que Harris apresentou o seu texto manuscrito
à LSA para uma possível publicação na sua série de monografias, em 1947, pode
ser recolhido a partir do seguinte excerto, referenciado por Hymes / Fought (1981:
9-10) e, com mais detalhe, em Murray (1994: 164), que também observa (com
referência ao LSA Bulletin 22/4 (1949: 13-14) que a publicação do livro de Harris
foi recomendada por Bernard Bloch (1907-1965), o editor de Language desde
1942, com ainda por Charles C. Fries (1887-1967), Robert A. Hall (1911-1997),
Hockett, e Hans Kurath (1891-1992).
11

Mr. Cowan
12
read the following report for Mr. Hans Kurath, chairman of the
Standing Committee on Research.


from word of mouth (mouths, actually, since I had input from several people)” (mensagem de e-mail
do autor de 8 de outubro de 2000).
11
Isto é baseado em informação impressa no LSA Bulletin 22/4 (1949: 13-14), onde Kurath, como
presidente do ‘Standing Committee on Research’, refere o seguinte, depois de ter afirmado que o
livro de Hall era para ser publicado em breve:
As far as the Committee knows, no arrangements have as yet been made for publishing
Harris’s book. It is to be hoped that this important contribution to the methodology of
descriptive linguistics can be published soon. The manuscript was read not only by the
members of the Committee [que na altura consistiu de Kurath, Hoenigswald e do indo-
europeísta George S. Lane (1902-1981), EFKK], but also by Bernard Bloch, [...], who
unanimously support the recommendation of the Committee.
12
J Milton Cowan (1907-1993), o então secretário da LSA.

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 149
Two manuscripts have been considered by the Committee; their
publication under the auspices of the Linguistic Society of America has been
recommended:

1. Robert A. Hall Jr., Descriptive Italian Grammar
2. Zellig S. Harris, Methods in Descriptive [sic!] Linguistics

Hall’s manuscript is ready for the printer. Harris’ manuscript should be
carefully edited before it goes to press.
Both books are important. Hall’s is the first detailed grammar of a well-
known language prepared in accordance with the new descriptive technique.
Harris’ book represents the first consistent exposition of the technique (or
one technique) of analyzing and describing languages from a structural point
of view (LSA Bulletin 21/3 1948: 15).

Parece, contudo, que, apesar da sugestão de Kurath, o manuscrito de Harris
não foi substancialmente revisto, embora seja justo supor que, pelo menos, alguma
intervenção editorial, algumas alterações e mesmo adições tenham sido feitas
antes de Methods ter sido publicado pela Universidade de Chicago, em 1951.
13
As
razões para o atraso na publicação do livro de Harris são, provavelmente, muitas,
inclusive, como aqueles que conheciam Harris pessoalmente na Universidade de
Pennsylvania podiam atestar, que ele não era pessoa que se incomodasse para ter
uma obra sua publicada de forma expedita;
14
uma vez que sentisse que tinha feito a


13
Por exemplo, ao fazer a verificação de todas as muitas notas bibliográficas de rodapé em Methods,
observa-se que, especialmente no primeiro capítulo, “Methodological Preliminaries”, Harris
acrescentou referências a estudos de Martin Joos sobre acústica, de 1948 e 1950 (Harris 1951a: 4, nota
1 e pág. 16, nota 17, respetivamente), bem como ao volume dos escritos de Sapir de 1949 (pág. 22,
nota 24; veja-se também pág. 59, nota 1 e pág. 226, nota 17), sobre o qual publicou um artigo de
resenha muito perspicaz (Harris 1951b). Finalmente, há referências a um artigo de 1949 de Einar
Haugen (1906-1994) sobre “Phoneme or Prosodeme?” (pág. 47, nota 2) e, perto do final do seu livro
(pág. 359, nota 19), a dois textos menores, uma nota de três páginas e, ainda mais curto, uma adenda de
1950 e 1951, respetivamente, publicados pelo seu colega da Universidade de Pennsylvania, Henry M.
Hoenigswald (1915-2003), evidentemente adicionado à última da hora para uma lista muito mais longa
de referências. Além disso, pode imaginar-se que o “Appendix to Chapters 7-9: The Phonemes of
Swahili. A Sample Phonemic Analysis prepared with the collaboration of Nathan Glazer” (Harris
1951a: 97-124) como uma adição pós-1947, embora eu duvide que o mesmo é verdadeiro para os
outros apêndices que se encontram no final da cada um dos 19 capítulos. Estes são tipicamente
ilustrações, com dados de uma variedade de línguas, embora alguns deles estejam direcionados para
determinadas questões teóricas, como por exemplo “Appendix to 12.41: The Criterion of Meaning”
(pág. 186-195), onde se poderia supor – desde que não se tenha sido capaz de verificar a cópia do
manuscrito de 1947 – que havia sido adicionado como resultado das críticas que Harris tinha recebido
de colegas.
No entanto, não se pode ter certeza, a menos que um exemplar do manuscrito de 1946 seja
localizado. Numa mensagem de e-mail (de 2 de dezembro de 1999) para o autor do presente artigo,
Geoffrey J. Huck, da editora da Universidade de Chicago escreveu: “I did search the University of
Chicago Press files on Harris’s, which are in the archives in Regenstein Library on the University of
Chicago campus. Alas, it was a sparse file and I could find nothing there which touched on the matter
either way [i.e., se certas passagens no livro foram adicionadas mais tarde ou não, EFKK]”.
14
Um exemplo da desatenção de Harris pelo destino do seu trabalho pode ser visto com base numa
nota de rodapé, inserida por Bloch no fim de Harris (1965: 401, nota 56): “[This article has not been

150 E.F.K. Koerner
sua parte, os outros poderiam esperar para ver isso ser publicado. Ainda assim, a
razão mais importante para o atraso pode simplesmente ter sido económica. Ao
contrário do texto bastante sucinto e direto de Robert A. Hall, que costumava
preparar um exemplar cuidadosamente datilografado, muitas vezes pronto para a
reprodução, o livro de Harris era muito mais longo, mais técnico, e mais
complexo. Tal como Norman A. McQuown (1914-2005) afirmou no início da sua
resenha de Methods:
This epoch-making book was much read in manuscript before publication,
and the author’s influence was patent in many articles and reviews long
before this summation appeared (McQuown 1952: 495).
Face à posterior ignorância – sentimo-nos quase tentados a acrescentar
estudada – do livro, vamos ler um pouco mais sobre o que o antropólogo de
Chicago tem mais para dizer sobre Methods nesses parágrafos introdutórios:

[...] Not since Bloomfield’s Language has there been such an ambitious
attempt to cover the whole field. Unlike Bloomfield’s, however, this book is
limited to the presentation of one principle and one method of linguistic
analysis and description. [...]
The book follows out these basic methodological assumptions [explicadas
pelo resenhador no parágrafo anterior, EFKK] to their logical conclusion,
exploiting every extension, every parallelism, every implication. The field of
linguistic analysis is covered. The methodological assumptions are followed
even where they prove ‘cumbersome’; indeed, we are warned (p. 371) that we
must not stray from their rigorous application, no matter how we may be
tempted: ‘The utility of these operations is compromised, however, if any
results are recognized other than those obtained by means of the stated
operations.’ Stated in the simplest terms, you must know what you are doing
and why you are doing it, and be able to tell someone else how. There is a
high premium on responsibility.


proofread by the author.]”. O artigo tinha sido apresentado muito antes; Harris simplesmente contou
com Bloch para fazer o resto (observe-se que esta nota desapareceu nas reimpressões de 1970, 1972 e
1981). Curiosamente, nenhuma outra publicação de Harris apareceu na revista Language depois deste
artigo “Transformational Theory” de 40 páginas; pode especular-se sobre as razões para isso, uma
vez que Harris permaneceu academicamente produtivo até ao fim da sua vida, em 1992. Sem dúvida,
a mudança de editor, depois da morte prematura de Bloch de cancro em 1965, também teve algo a ver
com isso. De facto, Harris não tinha publicado nada em Language entre 1957 e 1965. Matthews
(1999: 114) comenta: “I have not thought it my business to inquire into the circumstances [...]”, mas
os historiadores poderiam desejar fazê-lo. Ao ler a última contribuição de Harris para a Language, em
particular a nota de rodapé que anexou ao seu comentário, “To interrelate these analyses, it is
necessary to understand that these are not competing theories, but rather complement each other in
the description of sentences”, parece que Harris estava a dar o seu tiro de partida – nos termos mais
fortes que alguma vez parece ter usado em forma impressa:
The pitting of one linguistic tool against another has in it something of the absolutist
post-war temper of social institutions, but it is not required by the character and range
of those tools of analysis (Harris 1965: 365, nota 6).

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 151
The reviewer finds this emphasis wholly admirable, and looks forward to
the day when similar descriptive systems will be applicable with equal rigor to
all aspects of human behavior. He considers Harris’ contribution epoch-
marking in the double sense: first in that it marks the culmination of a
development of linguistics away from a stage of intuitionism, frequent ly
culture-bound; and second in that it marks the beginning of a new period, in
which the new methods will be applied ever more rigorously to ever widening
areas in human culture (McQuown 1952: 495).

Afirmações similares foram feitas por outros colegas de Harris (cf. Koerner
1993c: 513, para localizar os comentários).
15
Por exemplo, Stanley S. Newman
(1905-1984), um ex-aluno de Sapir, observou que “there will be little
disagreement among linguists that this book is the most important contribution to
descriptive linguistics since [...] Bloomfield’s Language” (Newman 1952: 404).
16
Este é também o livro sobre o qual Noam Chomsky afirmou em 1973 – este
testemunho vale a pena ser repetido aqui:

My formal introduction to the field of linguistics was in 1947, when Zellig
Harris gave me the proofs of his Methods in Structural Linguistics to read. I
found it very intriguing and, after some stimulating discussions with Harris,
decided to major in linguistics as an undergraduate at the University of
Pennsylvania (Chomsky 1975: 25).

Efetivamente, deve sublinhar-se aqui a palavra “formal” na declaração de
Chomsky, uma vez que – como ele próprio reconheceu em nota de rodapé
(Chomsky 1975: 50, nota 44) – ele tinha “lido provas tipográficas” da edição
Hebrew Grammar de David Kimḥi (1160-1235?) através do seu pai William
Chomsky (1896-1977), professor no Gratz College, em Philadelphia (mais tarde
também no Dropsie College), publicada em 1952 “muitos anos antes”, ou seja,
antes de 1947, e que tinha estado “[...] studying Arabic with Giorgio Levi Della
Vida” (Chomsky 1975: 25).
O relato de Chomsky sobre como começou a partir das sugestões de Harris e
desenvolveu as suas próprias ideias, primeiro em 1949, com uma ‘undergraduate
thesis’, depois na sua tese de mestrado de 1951 (Chomsky 1975: 25ss.) lê-se
bastante bem, e ao livro Methods de Harris é-lhe dado um papel importante na
narrativa, mas é preciso perceber que Chomsky está a reconstruir o que aconteceu
na sua mente teórica há mais de vinte anos e do ponto de vista do incrível sucesso
de seu próprio pensamento linguístico.


15
Cf. também a resenha de Householder (1952: 462) com a sua proverbial distinção ‘verdade de
Deus’ versus ‘abracadabra’ no que respeita a duas possíveis atitudes do teórico.
16
Newman (1952: 405) também observou que “Harris’ use of compact statements, particularly in the
form of an algebraic type of descriptive notation, required concentrated attention”. Ele elogia Harris
por se referir “[...] more frequently to the contributions of European linguists than has been the
custom in recent American books on linguistics” (Newman (1952: 405). De facto, encontram-se
frequentemente em muitas notas bibliográficas de Harris referências ao trabalho de Trubetzkoy,
Jakobson, Jespersen, Saussure e outros.

152 E.F.K. Koerner
Embora possa ser compreensível que Chomsky reconheça menos do que
poderia ter sido devido ao seu antigo professor Harris, os leitores podem
surpreender-se ao ler que estava confrontado com um “almost total lack of
interest” pela sua tese de 1951 (Chomsky 1975: 30), “with the exception of Henry
Hoenigswald, who read the work carefully and made helpful comments”
(Chomsky 1975: 51, nota 51).
17
Tendo em conta que certos relatos do desenvolvi-
mento da linguística gerativa, nomeadamente os de Newmeyer, a começar em
1980, tendem a reconhecer Chomsky por ter desenvolvido as ideias básicas
praticamente sozinho, pode ser útil lembrar ao leitor que a noção de uma
gramática gerativa foi nitidamente esboçada no capítulo final de Methods, onde
Harris resume os resultados da sua argumentação (Harris 1951a: 261-378), mesmo
que o termo ‘generative’ não seja mencionado:
18


The work of analysis leads right up to the statements which enable anyone to
synthesize or predict utterances in the language. These statements form a
deductive system with axiomatically defined initial elements and with
theorems concerning the relations among them. The final theorems would
indicate the structure of the utterances of the language in terms of the
preceding parts of the system.
There may be various ways of presenting this system, which constitutes
the description of the language structure. The system can be presented most
baldly in an ordered set of statements defining the elements at each
successive level or stating the sequences which occur at that level.
Compactness, inspectability, and clarity of structure may be gained at various
points by the use of symbols for class, variable member, and relation, or by
the construction of geometric models (diagrams).
Other types of presentation which have frequently been used have
depended ultimately on moving-parts models such as machines or historical
sciences. In using such models, the linguistic presentation would speak, for
example, of base forms (e.g. in morphophonemics, where the observed forms
are obtained from the base form by applying a phonemic substitution), of
derived forms (e.g. stems plus those affixes which are added in the
descriptive order might be called derived stems), or processes which yield
one form out of another. In all these types of presentation, the elements are


17
Pelo menos na versão revista da tese de mestrado de Chomsky, de dezembro de 1951, onde se
poderia esperar isso, tal reconhecimento não se encontra.
18
Para contrariar a sugestão de que estas declarações foram acrescentadas muito mais tarde e que não
faziam parte do manuscrito que Harris submeteu à LSA, posso citar uma mensagem de e-mail do
Professor Chomsky com o Dr. Bruce E. Nevin, de 28 de junho de 2001 (citada aqui com permissão
concedida por Chomsky em 23 de julho de 2001), onde escreveu:
You asked about the status of the Methods ms. My information is limited. I read proofs – I
think page proofs, but can’t be sure after all this time – in 1947; my understanding was
that that was the final proof-reading. I assumed that the ms. had been circulated in 1946 or
even before, and though I don’t recall, I presume the Preface was signed before the ms
went to the publisher, so January 1947 is not at all surprising. I doubt that substantive
changes would have been introduced after proofreading of the proofs. I never noticed any,
and wouldn’t have been able to check anyway, since I did not have the proofs available
after I finished with them in 1947 and gave them back to Zellig.

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 153
seen as having histories, so that the relation of an element to sequences which
contain it becomes the history of the element as it is subjected to various
processes and extensions (Harris 1951a: 372-273).
19


Ao ler estas passagens, é-se tentado a sublinhar várias observações ou a
acrescentar outros meios de ênfase, mas deve ser suficiente consignar relatos da
‘revolução de Chomsky’, como se encontra em Newmeyer (1980, 1986c, 1996a),
e emuladores de algo diferente do que é história. O próprio Chomsky reconheceu
que “[...] the concept of ‘grammatical transformation’ developed out of Harris’s
work on discourse analysis” (Chomsky 1975: 41), mas, quando recua a data para
depois da conclusão de Methods e liga isso com a mudança dos interesses de
investigação de Harris para a ‘discourse analysis’, como se isso fosse um assunto
não relacionado com o que ele próprio estava a investigar, a citação atrás, pelo
menos, enfraquece o seu reconhecimento, uma vez que, sem dúvida, Harris tinha
refletido sobre essas ideias bem antes de 1951.
20

No entanto, uma vez que o presente artigo se preocupa essencialmente com a
genealogia da ideia de ‘morfofonémica’ e o conceito de ‘regras ordenadas’ na
linguística norte-americana, devemos voltar a centrar-nos nele.

3.3 Possíveis linhas de transmissão: Bloomfield → Harris → Chomsky
Mesmo no próprio trabalho inicial de Chomsky, se for lido com atenção, a
impressão que prevalece é que estaria a ocorrer mais evolução do que revolução
na linguística norte-americana durante os anos 1940 e 1950.
21
Com o fim de


19
Parte da nota 18 que Harris acrescentou à referida citação lê-se: “In such presentations, a relation
between two elements a and b is essentially the difference between two historical or otherwise
derivational paths: that from A to a and that from A to b. A is set up as a base from which both a and
b have, by different paths, been derived”.
20
Isto é também verdade para as ideias de ‘transformação’ de Charles Hockett, que remontam pelo
menos a 1949 (cf. Koerner 1989b: 126-128). Curiosamente, Katz / Bever (1976: 17) afirmaram que
“contrary to popular belief, transformations come into modern linguistics, not with Chomsky, but
with Harris’s rules relating sentence forms. These are genuine transformations, since they are
structure-dependent mappings of phrase markers onto phrase markers. That this is so can be seen
from the examples of transformations Harris gives”. Vinda de pessoas com laços estreitos com
Chomsky, esta declaração deve contar para alguma coisa. De facto, uma lista de ‘transformações
gramaticais’ do inglês foi incluída no relatório apresentado à LSA em 1950, e publicada no capítulo
2.33 do artigo “Discourse Analysis” de Harris (1952a: 1-30).
21
No que se segue, bem como em outras partes deste artigo, agradeço o duro trabalho e a variedade
de sugestões feitas por Pierre Encrevé (1997), que, ao contrário de mim, é um fonologista e está
muito mais familiarizado com a história interna da fonologia ‘gerativa’, depois de ter traduzido as
partes teóricas de Chomsky / Halle (1968) como Principes de phonologie générative (Chomsky /
Halle 1973). Deve-se salientar, pelo menos nesta fase da discussão, que o artigo de Encrevé é uma
tentativa impressionante para descrever o estado anterior, o impacto de The Sound Pattern of English,
e a história da fonologia gerativa posterior a esta obra (veja-se especialmente Encrevé 1997: 100-102,
107-113, e 114-120 passim), ao passo que o meu artigo foca o tema da transmissão das ideias em
torno do conceito (e termo) de ‘morfofonologia’ / ‘morfofonémica’ – observe-se que a distinção
fonologia / fonémica logo seria usada para distinguir fonologia ‘gerativa’ da fonologia
‘bloomfieldiana’ (cf. Chomsky 1964b) – e a ideia de ‘ordered rules’, enquanto ao mesmo tempo tenta

154 E.F.K. Koerner
colocar todas as peças juntas, provavelmente seria necessária uma monografia,
mas talvez até mesmo um esboço venha sugerir que a transmissão de ideias na
linguística durante esse período foi muito facilitada pela pequena dimensão da
comunidade de estudiosos e do número relativamente pequeno de publicações: a
maioria dos linguistas norte-americanos da época conhecia-se pessoalmente. Eles
reuniam-se regularmente nos encontros anuais da LSA, sempre realizados na
última semana de dezembro em cidades como Philadelphia, New York, ou
Chicago, e durante os Institutos anuais de Verão, a maioria realizada na Universi-
dade de Michigan em Ann Arbor durante esse período. Houve colaboração (e co-
publicação) entre esses linguistas e eles fizeram circular entre eles manuscritos, às
vezes durante vários anos antes de serem publicados.
Embora as informações pessoais sobre Harris não estejam disponíveis em
versão impressa,
22
podemos recolher algumas informações sobre a sua biografia
intelectual ao olhar para a sua produção académica. A partir daí, pode concluir-se
que a sua formação foi em línguas semíticas num sentido bastante amplo, tanto
filológico como linguístico, e desde a sua tese de mestrado em 1932 até à
publicação da sua monografia Development of the Canaanite Dialects (1939), não
o vemos como como um teórico e generalista (cf. Koerner 1993c: 510-511, para
mais detalhes). O seu foco da atenção parece ter mudado por volta de 1939, como
podemos ver a partir da sua lista de publicações, a começar com uma edição de
Hidatsa Texts, recolhidos por Robert H. Lowie (1883-1957), um discípulo de Boas
e amigo de Sapir, com notas gramaticais e transcrições fonográficas feitas por ele
e por Charles F. (“Carl”) Voegelin, um antigo discípulo de Sapir. Com este
empreendimento, Harris abre o seu horizonte de estudo para as línguas ameríndias
e dados linguísticos não históricos, e, dada a complexidade de muitas dessas
línguas indígenas (assim como as suas diferenças estruturais relativamente às
línguas semíticas e indoeuropeias), foram necessárias técnicas especiais para
analisar e para as descrever adequadamente. Por exemplo, a Biblioteca da
American Philosophical Society, em Philadelphia, detém “Cherokee Materials” de


oferecer, pelo menos, sugestões, para o que poderia ser chamado de ‘external history‘, que julguei
que faltava em Encrevé.
22
Além dos obituários de Harris, que são curtos em pormenores biográficos (para além da sugestão
de que o nome de Harris pode ter sido inventado por ele próprio – veja-se Nevin 1992: 60), só sei de
Barsky (1997: 47-93), que contém um capítulo, que, no entanto, apenas trata de passagem questões
linguísticas (Barsky 1997: 49-72), mas principalmente das crenças sociais e políticas de Harris,
atividades e da sua influência sobre Chomsky durante finais dos anos 1940 e início dos anos 1950 (cf.
Harris 1997, sobre as suas opiniões políticas; as de Chomsky são suficientemente conhecidas para
exigir uma referência especial aqui; cf. Koerner / Tajima 1986: 91-162, para uma lista detalhada,
parcialmente anotada, das publicações de Chomsky sobre questões políticas). Parece que Harris era
um homem bastante reservado. Curiosamente, não se encontrou nenhum americano para escrever o
obituário oficial que todos os outros ex-presidentes falecidos da LSA (Harris serviu nessa capacidade
em 1955) recebiam na revista Language. O que eventualmente foi encomendado a P.H. Matthews de
Cambridge constitui, possivelmente, uma avaliação mais justa do trabalho de Harris do que qualquer
linguista americano de hoje poderia ter escrito (Matthews 1999).

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 155
cerca de 575 fichas e 10 discos que datam de 1941-1946, que servem como prova
do trabalho de Harris com informantes durante esse período. No seu pequeno
prefácio de Methods, assinado em Philadelphia, janeiro de 1947, Harris
reconheceu, entre outras coisas, a amizade que tinha com Sapir e Bloomfield, os
quais tinham estudado línguas ameríndias extensivamente.
É por volta de 1939/1940 que Harris parece ter começado a ficar
especialmente interessado em questões de linguística geral e assuntos de teoria e
metodologia.
23
Não é por acaso que nos seus seminários, como lembra Leigh
Lisker (1918-2006), as transformações foram mencionadas entre 1940 (talvez já
em finais de 1939, quando Lisker frequentava o seu primeiro curso de linguística)
e o período que terminou em junho de 1941, quando se formou com o seu B.A.
(assim Lisker numa mensagem de e-mail para Bruce Nevin, 1 de março de 2000).
Os artigos influentes dos anos 1940, como “Morpheme Alternants in Linguistic
Analysis” (Harris 1942), “Simultaneous Components in Phonology” (Harris
1944), e “Discontinuous Morphemes” (Harris 1945), já tinham sido publicados
quando Chomsky, com 17 anos de idade, se matriculou na Universidade de
Pennsylvania, bem antes de conhecer Harris, possivelmente no final de 1946,
embora o ano, frequentemente mencionado por Chomsky, em que ele decidiu
estudar seriamente a linguística com Harris foi 1947 (p. ex., Chomsky 1975: 25;
cf. Barsky 1997: 51). De facto, há provas contundentes de que as questões de
fonologia e morfologia e as suas inter-relações foram muito discutidas no
momento pelos principais representantes dos chamados pós-bloomfieldianos, além
de Harris, tais como Bloch, Hockett, Nida, Swadesh, Trager, Voegelin, e Wells
(cf. Joos 1957, para a reedição de muitos dos artigos destes autores), quando o
jovem Chomsky entrou em cena. Havia poucos indícios de uma falta de interesse
pela ‘teoria’ durante os anos 1940 e 1950, como Chomsky, em 1962, e,
posteriormente, com frequência tentou descrever essas décadas. Os próprios textos
de Chomsky da altura (por exemplo, Chomsky 1955b, 1955-1956) são bastante
representativos do que foi, então, dito e feito, e as ideias de Harris sobressaem.
Antes de tentarmos uma discussão das questões com que muitos dos
descritivistas americanos dos anos 1940 e 1950 estavam preocupados, seja-me
permitido citar uma passagem de Barsky sobre a biografia de Chomsky, na qual o
autor desenha um retrato interessante dos hábitos sociais e intelectuais de Harris (o
que corrobora o que ex-colegas e alunos de Harris me têm dito ao longo dos anos):

Harris encouraged the kind of unstructured, lively, and creative debate that
had been the mainstay of Chomsky’s early education and upon which he had
thrived [...]. Course requirements, formal relationships, and scholarly


23
Uma indicação é que, além de uma resenha de uma página de um volume na sua área de interesse
original na revista Language (Harris 1935), Harris começa a sua série de contribuições para a mesma
revista em 1940, com uma resenha de um livro sobre linguística geral (Harris 1940), seguido por
Harris (1941a, 1941b, 1942, 1944, etc.) e uma variedade de outros artigos até 1957, após o qual
apenas Harris (1965) apareceu nessa revista. Matthews (1999: 112) também se refere a 1940 como o
ano em que Harris “[...] had already turned to general linguistics [...]”.

156 E.F.K. Koerner
hierarchies were rejected in favor of informal gatherings, broad-based
discussions, and intellectual exchange. The University of Pennsylvania’s
linguistics department comprised, at that time, a very small group of graduate
students who shared an enthusiasm not only for linguistics, but also for
politics. They shunned the classroom, and met either at the nearby Horn and
Hardart Restaurant or at Harris’s apartment in Princeton or New York. The
discussions could last for days, and Chomsky remembers them as being
“intellectually exciting as well as personally very meaningful experiences”
(Barsky 1997: 51).
24


A forma de Harris se referir a si mesmo sugere uma generosidade geral, o que
certamente inclui a sua disponibilidade para partilhar as suas ideias com as partes
interessadas, e não reivindica a posse, como muitos professores fazem, das suas
descobertas particulares, descobertas teóricas, ou escolhas terminológicas.
25
Ainda
assim, parece que, a partir do que me foi dado a entender por aqueles que o
conheceram, Harris era uma pessoa que muitas vezes seguiu o seu próprio
percurso e deixou para trás aqueles que não seguiram o percurso geral do seu
pensamento. Numa tentativa de completar o quadro da personalidade enigmática
de Harris, gostaria de adicionar uma declaração dele próprio. Ao caraterizar tanto
Bloomfield como Sapir em 1973, Harris observou o seguinte, que pode muito bem
aplicar-se ao seu próprio credo profissional e, possivelmente, significa um golpe
no que ele observou na linguística americana desde os anos 1960 em diante:

Neither competed, or saw his scientific achievement as a matter of personal
aggrandissement. And this was not for lack of a sense of history about their
work. Both men knew that they were creating – or rather participating
centrally in the creation of – a science. There was an excitement around
them, in their ideas among their students and colleagues. Each of them
pushed for his ideas – Bloomfield by incisive argument, Sapir by brilliant
exposition – though without seeking to pre-empt the field (Harris 1973: 255).


Muito tem sido feito pelos linguistas do MIT (ver capítulo 3, adiante) e pelos
seus ‘historiadores’ (ver capítulo 1, atrás) sobre a questão se sim ou não o jovem
Noam Chomsky, quando trabalhava as suas ideias a partir de 1949, que levaram à
sua tese de mestrado Morphophonemics of Modern Hebrew (Chomsky 1951), teve
acesso a um exemplar de Travaux du Cercle Linguistique de Prague, volume 8
(Praga, 1939), que continha o artigo posteriormente famoso “Menomini


24
Esta última citação foi retirada de The Chomsky Reader (Peck 1987: 8).
25
Aqueles que conheciam bem Harris – como Bruce E. Nevin (nascido em 1945), que foi o seu
estudante de 1966 até 1970 – podem sentir que, na seguinte caraterização que Harris deu de
Bloomfield e Sapir, ele revela muito de si próprio:
Each [Bloomfield e Sapir, EFKK] were, to the good fortune of those who knew him and I
hope of themselves, an extremely decent person of high integrity; each had utter and
explicit contempt for the posturings and status in this society as well as for its vast injustice
and inequality. They were people not with ambition, least of all with ambition in the terms
of this society, but with satisfaction in what he was producing. Those who remember
Bloomfield and Sapir know this about them (Harris 1973: 255; cf. Nevin 1992: 63).

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 157
Morphophonemics” de Bloomfield, de dez páginas e meia, (que este tinha
apresentado como um tributo a Nikolay Sergeyevich Trubetzkoy, que tinha
falecido em Viena, em agosto de 1938). Na verdade, o facto de a Biblioteca da
Universidade de Pennsylvania ter adquirido cedo um exemplar desta
Gedenkschrift,
26

ou que Harris (1941b) dois anos mais tarde fez a resenha dos
Grundzüge de Trubetzkoy (que tinham aparecido na mesma série, no mesmo ano),
pode pelo menos servir como prova circunstancial de que o artigo de Bloomfield
estaria, com toda a probabilidade, disponível para qualquer estudante curioso da
mesma universidade nos anos 1940.
No entanto, antes de entrar nessa discussão, seja-me permitido citar algumas
passagens do artigo de Bloomfield, que não pode deixar de impressionar até
mesmo o leitor de hoje, como tendo sido cuidadosa e sucintamente elaborado.
Dedicado a ‘Menomini’, uma língua algonquina falada de um número reduzido de
pessoas (Bloomfield refere cerca de 1700 falantes maioritariamente bilingues, a
residir no estado de Wisconsin), que tinha estudado cuidadosamente ao longo de
muitos anos (veja-se Bloomfield 1962), o artigo trata do “[...] internal sandhi or
morphophonemics of the language” (Bloomfield 1939: 105; itálicos no original),
proporcionando assim um aceno tanto na direção de Trubetzkoy (1929, 1931,
1934) como da gramática tradicional do tipo da de Pāṇini.
27
Perto do início do seu
artigo, Bloomfield descreve a sua abordagem ao tema nos seguintes termos:

The process of description leads us to set up each morphological element in a
theoretical basic form, and then to state the deviations from this basic form
which appear when the element is combined with other elements. If one
starts with the basic forms and supplies our statements (§§ 10 and following)
in the order in which we give them, one will arrive finally at the forms of
words as they are actually spoken. Our basic forms are not ancient forms, say
of the Proto-Algonquian parent language, and our statements of internal
sandhi are not historical but descriptive, and appear in a purely descriptive
order (Bloomfield 1939: 105-106; itálicos no original).

Contudo, como se para antecipar as críticas de comentadores posteriores,
Bloomfield (1939: 106) aponta para o facto de que a maioria dessas ‘theoretical
basic forms’ e os processos aplicados a elas “[...] approximate the historical
development from Proto-Algonquian to present-day Menomini”. O resultado do
seu tratamento ‘morfolexical’ da língua é que “the forms now arrived at are
phonemic forms of the actual Menomini language. Menomini phonetics, however,
allows a great deal of latitude to some of its phonemes and of some overlapping
between phonemes” (Bloomfield 1939: 115; itálicos no original). Charles
Voegelin, que em 1940 fez a resenha do volume memorial de Trubetzkoy em


26
De acordo com C. Thomas Mason III de Tucson, Arizona (e-mail para o autor de 6 de março de
2000): “UPenn’s Franklin Library owns a copy of TCLP 8; it’s shelved in High Density Storage and
carries a Dewey call number, suggesting that the volume has probably been there for the past 60 years”.
27
O facto de Bloomfield ter visto Pāṇini como uma grande influência tem sido demonstrado por
Rogers (1987); veja-se também Cardona (1965).

158 E.F.K. Koerner
Language, gastando cerca de 30%
28
das mais de seis páginas a discutir “[...]
unrestricted description of a sound system [em comparação a outras contribuições,
nomeadamente as dos conterrâneos americanos Morris Swadesh e George L.
Trager, EFKK]” de Bloomfield, responde à sua própria pergunta retórica sobre as
vantagens da abordagem morfofonémica de Bloomfield, como segue:

Bloomfield’s Menomini may be distinguished from Nootka, Tübatulabal, and
Potawatomi studies in that it alone is good to the reader: it gives him few
theoretical forms and only single rules to remember (Voegelin 1940: 257).
29


Dois anos depois do aparecimento desses comentários sobre o artigo de
Bloomfield, temos o pequeno artigo programático de Harris na mesma revista,
que, como mencionado anteriormente, levou a um debate animado. Em “Morphe-
me Alternants in Linguistic Analysis”, Harris carateriza o objetivo do seu trabalho
como não fazer mais nada do que

[...] to suggest a technique for determining the morphemes of a language, as
rigorous as the model used now for finding its phonemes. The proposed
technique differs only in details of arrangement from the methods used by
linguists today. However, the small differences suffice to simplify the
arrangement of grammars (Harris 1942: 169; itálicos meus: EFKK).

Sem surpresa, talvez – devemos lembrar-nos de que o artigo foi publicado
quatro anos antes do AVC debilitante de Bloomfield, em 1946 – a primeira
referência (Harris 1942: 169, nota 1) é para o livro de Bloomfield de 1933,
30
mas,
na construção da sua técnica nas páginas subsequentes, Harris refere-se ao todo
seis vezes de forma explícita ao artigo de 1939 de Bloomfield, a começar pela
menção de que “some linguists have called such pairs [de formas alternantes,
EFKK] morpholexical alternants of one morpheme” (Harris 1942: 170). A sua
declaração “the difference between those two cases [de alternantes em hebraico,
EFKK] is seen again in the Menomini e, which is an alternant of the morpheme
juncture /-/” (Harris 1942: 175) merece menção especial por causa dos dados
citados. Além disso, quando se fala em ‘external sandhi’ e fenómenos semelhan-
tes, Harris (1942: 176, notas 18-20) refere-se três vezes a exemplos da análise de
Bloomfield, e, finalmente, ao fornecer exemplos para morfemas alternantes em


28
Dentro de um total de 31 contribuições (sem contar um par de artigos póstumos do próprio
Trubetzkoy) das quais todas se encontram referidas, algumas delas, especialmente na área da
fonologia, são discutidas.
29
Entre as línguas mencionadas por Voegelin, a língua ‘Nootka’ foi descrita detalhadamente por
Sapir / Swadesh (1939), ‘Tübatulabal’ por Swadesh / Voegelin (1939) e ‘Potawatomi’ foi objeto da
tese de doutoramento de Hockett (1939) sob orientação de Bloomfield.
30
Seguido por outra (Harris 1942: 171, nota 7), para não mencionar uma discussão não referenciada
de Bloomfield sobre knife / knives, etc., exemplos (Harris 1942: 173) citados no capítulo 3.1 do
presente artigo.

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 159
ambientes únicos (Harris 1942: 178, nota 22), Harris cita novamente a partir do
artigo ‘Menomini’ de Bloomfield.
Dada a forma de Harris se comportar como um mentor e o entusiasmo de
Chomsky para fazer linguística com ele durante finais dos anos 1940 e início dos
anos 1950 – para não falar do hábito voraz de leitura de Chomsky, então, como
ainda hoje, seria difícil de acreditar que, quando ele estava a escrever a tese para o
seu B.A. em 1949, Chomsky não tivesse conhecimento das propostas de
Bloomfield, referentes às regras ordenadas e à análise morfofonémica, quer tenha
lido na altura, ou não, o livro Language de Bloomfield e o seu artigo ‘Menomini’
(1939). Como ficou sugerido anteriormente, o artigo de Harris de 1942 iniciou uma
discussão que inclui a maior parte dos principais intervenientes do debate
descritivista sobre fonologia, morfologia e a sua interação.
31
Bernard Bloch
estabelece o quadro teórico:
To describe the structure of a language as a whole, the linguist must be able
to describe also the structure of any single sentence or part of a sentence that
occurs in the language. He does this in terms of constructions – essentially in
terms of
MORPHEMES and their ORDER (Bloch 1947: 399; ênfase no original).
O capítulo 7, intitulado “Morphophonemics” (Bloch 1947: 414-418), discute
o tratamento das diferentes formas que ocorrem no mesmo meio, mas que não
estão inteiramente em variação livre entre si. O artigo de Hockett, do mesmo ano
de Bloch (e publicado primo loco na mesma edição da Language), anuncia que
“[...] develops further the morphemic analysis presented by Zellig S. Harris in
1942” (Hockett 1947a: 321). Hockett (1947a: 332, nota 22) não se refere ao artigo
de 1939 de Bloomfield, mas, quando ilustra os seus procedimentos, observa: “I
choose Fox [outra língua algonquina estudada por Bloomfield, EFKK] rather than
Menomini because the examples are a bit easier to cite, the same principles
apply”. Eugene A. Nida, ao referir-se tanto a Harris (1942) como a Hockett
(1947a), não se refere similarmente ao artigo “Menomini” de Bloomfield,
32
mas às
páginas do capítulo sobre a morfologia no livro Language de Bloomfield.
Curiosamente, numa nota de rodapé em que se alarga numa referência biblio-
gráfica de Bloomfield (1933: 217), o autor observa: “William L. Wonderly has
proposed in discussion that these French forms [i.e., os morfemas subtrativos que


31
Que os (pós-)bloomfieldianos consideraram esta área de interesse como a mais representativa do seu
trabalho pode ser concluído a partir das reimpressões na Readings in Linguistics “edited for the
Committee on the Language Program by Martin Joos” (Joos 1957, rosto). Para além do facto de que 28
artigos, de um total de 43, foram originalmente publicados (com poucas exceções em Language) entre
1941 e 1951, a grande maioria foi dedicada às áreas de estrutura linguística, a sua análise e descrição.
32
No entanto, como documentou Encrevé (1997: 105), há outros sítios onde o artigo de Bloomfield (1939)
é referido e / ou citado; por exemplo, no artigo de resenha de Harris de Selected Writings de Sapir de 1949
(Harris 1951a: 291, nota 7: 292, nota 8: 293), no capítulo de metodologia do livro Oneida Verb
Morphology (1953) de Floyd G. Lounsbury, e no Manual of Phonology (1955), de Hockett, que Chomsky
resenhou em 1957 (Chomsky 1957b). Entretanto, o meu foco principal no presente artigo concentrou-se em
publicações pré-1949, em que foram discutidas as ideias morfofonológicas de Bloomfield.

160 E.F.K. Koerner
tomam a forma feminina como básica, EFKK] might be most economically
handled morphophonologically” (Nida 1948: 441, nota 51; ênfase minha),
acrescenta-se uma referência para Trager (1940).
Que a suposta falta de referências explícitas ao artigo de Bloomfield de 1939
não seja realmente uma indicação de negligência pode ser aferida a partir do facto
de que, mesmo no seu artigo em Language, intitulado “Peiping Morpho-
phonemics”, Hockett (1950b) não faz qualquer menção a ele, mas, por sua vez,
refere-se a Harris (1942) e à sua posterior revisão de alguns dos pressupostos de
Harris (Hockett 1947a), bem como à base de tratamento do chinês (Hockett 1950b:
63, nota 1). Parece compreensível que, uma vez que os pontos essenciais das
propostas de Bloomfield se tinham tornado parte integrante do debate em curso,
uma tal menção explícita deixou de ser considerada necessária. Estes linguistas
certamente não viram uma mudança de posição de Bloomfield (1933) para
Bloomfield (1939), mas justamente viram a sua análise posterior como em plena
sintonia com o seu trabalho anterior.
Outros artigos publicados durante os anos 1940, nomeadamente em Language,
embora não exclusivamente, poderiam ser referidos, a fim de documentar que,
quando Noam Chomsky entrou na área, a linguística era tudo menos do que terreno
baldio de teoria (cf., p. ex., Bloch 1941, 1948). O livro Methods de Harris de 1947,
no qual há um capítulo inteiro dedicado aos “Morphophonemes” (Harris 1951a:
219-242), apresenta duas referências explícitas ao artigo “Menomini” de Bloom-
field (Harris 1951a: 231, nota 29 e pág. 237, nota 42,
33
e uma terceira referência
num capítulo posterior sobre “Constructions” (Harris 1951a: 325-348), onde o
autor discute os ‘zero morphemes’ (Harris 1951a: 336, nota 22, referindo-se a
Bloomfield 1939: 108). É difícil acreditar que essas passagens (e referências
explícitas) não estavam na versão manuscrita de 1946, cujas provas o próprio
Chomsky confirma ter lido (Chomsky, 1975: 25; 1979a: 196, nota 5). Harris
(1951a: 231) discute “a slightly different type of regularity [...] in Menomini, where
every morpheme ending in a non-syllabic [estrutura?, EFKK] has a member with
added /e/ when it occurs before a consonant [...]”, evidência de que cita diretamente
de Bloomfield (1939: 109). Mais adiante, aborda a questão de “Morphophonemic
Equivalent for Descriptive Order of Alternation”, onde acrescenta em nota de
rodapé ao fornecer a referência bibliográfica completa: “Bloomfield calls the
necessary order of the statements [...] ‘descriptive order.’ See also in his Language
213” (Harris 1951a: 237, nota 42; veja-se também a nota 39 na página 236). Depois
de ter discutido exemplos retirados do artigo de Bloomfield, Harris (1951a: 237)
conclui: “The effect of this descriptive order of the statements about alternation can


33
Para citações extensas de Harris (1951a: 231: 237), veja-se Fought (1999b: 315-316), que conclui,
depois de ter citado passagens relevantes de Bloomfield (1933, 1939): “Together, then, these excerpts
from Harris (1951a) cover the essential elements of Bloomfield’s morphophonemics: dual levels of
representation, the need to use knowledge of morphological boundaries, and the principles of
conversion from basic to phonemic forms using rules ordered for that purpose”.

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 161
be obtained alternatively by an exact statement of the representation of the
morphophonemes”.
A seguir, o conceito e a importância de ‘descriptive order’ são tratados de-
talhadamente no capítulo de Harris (1951a: 243-261 e na pág. 246 e ss.) sobre
“Morpheme Classes”. Provavelmente não é por acaso que apresenta exemplos de
‘descriptive order’ do hebraico moderno (Harris 1951a: 246-248), uma vez que era
um semiticista, um falante da língua, e já tinha publicado anteriormente um artigo
sucinto sobre “Componential Analysis of a [Modern] Hebrew Paradigm” (1948) em
Language, que começa com a afirmação de que: “the linguistic structure of an
utterance is presumed to be fully stated by a list of the morphemes which constitute
it, and by their order” (Harris 1948: 87). Não é isto que Chomsky estava a trabalhar
para o seu B.A. em 1949 e para a sua tese de mestrado em 1951? Mais cedo, Harris
(1941a) já tinha publicado um artigo muito detalhado sobre “Linguistic Structure of
Hebrew” [i.e., hebraico clássico, EFKK], que afirma ser “[...] an attempt to state the
structure of Hebrew (of 600 B.C.) in terms of a formal method, which asks only
what forms exist and in what combinations” (Harris 1941a: 143). Mais adiante,
Harris (1941a: 153-154) observa que: “the phoneme, or phoneme combination, or
absence of a phoneme, which is replaced by other phonemes in the variants of a
morpheme-unit may be called a morphophoneme”. Em suma, tanto em termos de
dados do hebraico como de ideias sobre a análise morfofonológica, havia uma
infinidade de materiais e sugestões disponíveis a partir do trabalho de Harris para
montar a plataforma para os esforços linguísticos iniciais de Chomsky.
34


3.4 Declarações metodológicas em Chomsky (1951)
Para não deixarmos o tertium comparationis fora da presente discussão, pelo
menos algumas passagens das declarações introdutórias da tese de 1951 de
Chomsky deveriam ser fornecidas, para oferecermos uma ideia do seu raciocínio.
Se assumirmos que Chomsky transformou uma tese de licenciatura numa tese de
mestrado, algo que acontece com bastante regularidade, é compreensível que não
tenha feito uma referência a ela na bibliografia de The Morphophonemics of
Modern Hebrew, se bem que talvez se pudesse esperar uma menção dela em “0.
Introduction” (Chomsky 1951: 1-6), tal como é habitual. Em vez disso, o texto
revisto de dezembro 1951, que dispensa qualquer tipo de conversa tradicional
sobre a origem ou motivo para a tese, aborda o assunto desde o início de uma
maneira surpreendentemente autoconfiante:

A grammar of a language must meet two distinct kinds of criteria of adequacy.
On the one hand it must correctly describe the ‘structure’ of the language
(i.e., it must isolate the linguistic units, and, in particular, must distinguish
and characterize just those utterances which are considered ‘grammatical’ or
‘possible’ by the informant), including as a special subclass those of the
analyzed corpus. On the other hand it must meet requirements of adequacy


34
Ou deveríamos supor que já o termo ‘morphophonemics’ em si foi uma criação independente de
Noam Chomsky em 1949?

162 E.F.K. Koerner
imposed by its special purposes (e.g., pedagogical; as a basis for comparative
study, etc.), or, in the case of a linguistic grammar having no such special
purposes, requirements of simplicity, economy, compactness, etc.

Thus the
linguistic analysis of a language L can be described as the process of
determining the set of ‘grammatical’ or ‘significant’ sentences of L (i.e., of
determining the extension of the predicate ‘grammatical in L’), or, in other
words, it is the process of converting an open set of sentences – the linguist’s
incomplete and in general expandable corpus – into a closed

set – the set of
grammatical sentences – and of characterizing this latter set in some
interesting way. Accordingly we might distinguish and consider separately
two aspects of the linguistic analysis of a language, a process of ‘discovery’
consisting of the application of the mixture of formal and experimental
procedures constituting linguistic method, and a process of ‘description’
consisting of the construction of a grammar describing the sentences [p. 2]
which we know from step one to be grammatical, and framed in accordance
with the criteria related to its special purposes (Chomsky 1951: 1-2).
35


Por outras palavras, Chomsky vai imediatamente medias in res, por assim
dizer, e o seu raciocínio torna-se cada vez mais técnico. Muito é feito do que ele
chama ‘certain criteria of simplicity’ (Chomsky 1951: 4), e “[...] any relatively
precise notion of simplicity [...]” (Chomsky 1951: 5),
36
para ser mantido “[...] from
reducing to an absurdity, the notations must be fixed in advance [...]” (Chomsky
1951: 5). Ao referir-se ao seu artigo inédito (Chomsky 1951: 9), vem a definir
“[...] the criteria of simplicity governing the ordering of statements [...] as follows:
that the shorter grammar is the simpler, and that among equally short grammars,
the simplest is that which the average length of derivations of sentences is least”.
Tendo lido, pelo menos, parte do que Harris, Hockett e outros tinham escrito
durante os anos 1940 e inícios dos anos 1950, as declarações de Chomsky não
parecem assim tão inovadoras e estão certamente em linha com o discurso do tempo
e do espaço. Ainda assim, pode detetar-se uma vantagem para a argumentação,
indicativa de alguém que se esforça para desenvolver uma voz própria. O argumento
a favor da ‘simplicity’ (que parece ser um precursor do termo ‘idealization’ (cf.
Chomsky 1979a: 55-58 passim), de que é feito uso desde o início parece ser feito de
forma a diferenciar-se dos seus antecessores – mas não é esse conceito o mesmo que
falar de “[...] the saving in work [...]” quando ignoramos “[...] the very small classes
which are included in some general class [...]” na análise morfológica (Harris 1951a:
251), para citar apenas uma breve observação a partir de Methods?
37



35
A nota de rodapé 1 refere-se a Goodman (1943); a nota de rodapé 2 (ambas em Chomsky 1951:
67) especifica: “Though not necessarily finite. Thus the resulting grammar will in general contain a
recursive specification of a denumerable set of sentences”.
36
Cf. Harris, quando se fala de ‘morphemic long components’: “the criteria for selecting a basic
alternant are not meaning or tradition, but descriptive order, i.e. resultant simplicity of description in
deriving the other forms from the base” (Harris 1951a: 308, nota 14; itálicos meus: EFKK).
37
É claro que termos como ‘simplicity’, ‘economy’ e semelhantes apareceram bastante
frequentemente nos textos dos descritivistas americanos, bem antes de Chomsky fazer uso deles;
veja-se algumas das citações no início deste artigo, nomeadamente de Harris (1942), artigo no qual
ele comenta Bloomfield (1939), mas também a resenha de McQuown (1952) de Harris (1951a).

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 163
O resto de Morphophonemics of Modern Hebrew de Chomsky é uma verda-
deira obra-prima, repleta de um enredado mecanismo técnico, para configurar as
diversas regras fonológicas, morfológicas e, parcialmente, sintáticas, necessárias
para produzir um corpo relativamente pequeno de material do hebraico moderno.
Ao comentar sobre o que estava a tentar fazer na sua tese de mestrado, Chomsky
1979a: 112) admitiu vinte e cinco anos mais tarde:

Reading back into this work the explicit concerns of a later period, one might
say, then, that the goal was to show exactly how this grammar with its
empirical consequences would be constructed by someone initially equipped
with the framework for rules and the definition of simplicity [...], and given a
sufficient sample of the data. Actually, this was done in far greater detail and
scale than anything I’ve attempted since, and was far too ambitious, I suppose.


Pode imaginar-se que a filosofia geral de ciência de Harris – e o que Hockett,
em 1968, chamou, talvez não com toda a justiça, mas ainda assim com respeito a
uma tendência por parte de Harris, de ‘theoretical nihilism’ – não poderia
satisfazer um jovem estudante que mais provavelmente estaria à procura de
certezas, não de uma variedade de soluções possíveis. Ainda assim, é pelo menos
óbvio para mim que Chomsky recebeu muito mais do que alimento para o
pensamento do seu mentor do que tem sido reconhecido a Harris. No entanto,
como veremos a partir do que se segue, esta influência tem sido sucessivamente
minimizada por Noam Chomsky e pelo seu colaborador próximo, Morris Halle.

4 Uma contra-história vinda do MIT
O que pode ter parecido como um desenvolvimento bastante gradual, em
termos científicos, das teorias linguísticas na linguística americana na parte
anterior do presente artigo não era do interesse dos estrategistas do Departamento
de Línguas Modernas do MIT, que rapidamente se tornou o Departamento de
Linguística a tempo do Ninth International Congress of Linguists, realizado em
Cambridge, Massachusetts, em agosto de 1962, no qual Chomsky teve a sua
primeira exposição internacional e, pode acrescentar-se, o seu grande triunfo. Os
alemães têm uma expressão que caraterizaria a sua atitude na altura: Es kann nicht
sein, was nicht sein darf (‘Não pode ser o que não deve ser’). O que quero dizer
com isto é que no momento em que o Ninth Congress estava no horizonte, que foi
habilmente preparado e eficazmente executado por Halle,
38
a estratégia foi a de
vender as ideias de Chomsky como tendo pouco a ver com a linguística dos seus
professores e antecessores americanos, mas como sendo o resultado de uma abor-
dagem radicalmente diferente, que supostamente remete para as ideias encontradas


38
Para obter detalhes sobre os eventos antes e depois do Congresso, e o que aconteceu com Joshua
Whatmough (1897-1964), de Harvard, que “[...] was the chief figure in securing the invitation for the
9th International Congress to meet in the United States, and who was instrumental in obtaining two
substantial grants for support of that congress” (como relata Eric P. Hamp 1966: 622), cf. Koerner
(1989b: 116-117).

164 E.F.K. Koerner
na linguística ‘cartesiana’ dos gramáticos de Port-Royal do século XVII e dos
tratados do início do século XIX de Wilhelm von Humboldt (1767-1835). A fim
de fazer valer este raciocínio, não só as conexões deviam ser atraídas para o
trabalho destes pensadores anteriores ao século XX, mas também as ligações com
o trabalho dos antecessores imediatos de Chomsky tiveram que ser minimizadas,
senão mesmo apagado. Como sabemos, essa estratégia foi bastante bem sucedida
e a história da natureza não cumulativa, verdadeiramente ‘revolucionária’, da
linguística “gerativa” foi reproduzida nos manuais e nos relatos históricos, na
medida em que esse plano se tornou aceite como facto histórico por muitos
seguidores. O presente artigo trata somente do primeiro aspeto da estratégia, que,
como Sydney M. Lamb (nascido em 1929) descreveu, levou à seguinte situação:

Older-generation linguists, upon encountering some of these pages [in
Chomsky 1964, 1965], will stare with incredulity and no little irritation at the
distortions and misunderstandings of their ideas and practices and those of
their colleagues; while students who never knew what neo-Bloomfiedian
linguistics was really like, [...], are led to the false impression that all
linguists before Chomsky (except, of course, Humboldt, Sapir, and a few
other candidates for canonization) were hopelessly misguided bumblers,
from whose inept clutches Chomsky heroically rescued the field of
linguistics (Lamb 1967: 414).


Todos nós sabemos pela história que os revolucionários direcionam sempre as
gerações mais jovens, como são também eles que definem imediatamente a
agenda, uma vez que os mais velhos são postos de lado. Como no sistema eleitoral
norte-americano, é o vencedor quem leva tudo.

4.1 Afirmações de Morris Halle sobre a ‘morfofonologia’ de Bloomfield
O papel importante de Halle como político e estrategista académico não pode
ser subestimado. Na verdade, acho duvidoso que o sucesso de Chomsky nos anos
de 1960 pudesse ter sido tão grande sem a ajuda do seu colega, claramente
comprometido desde por volta de 1953 ou, pelo menos, desde 1955, ano em que
tanto ele como Chomsky concluíram os seus doutoramentos e Chomsky recebeu a
sua primeira nomeação no Laboratório de Eletrónica do MIT. No entanto, o
presente artigo trata apenas de um ingrediente particular de toda a estratégia, ou
seja, o que Barsky (1997: 55), a seguir a Harold Bloom, chamou de ‘the anxiety of
influence’, que envolve pelo menos a minimização do impacto que os seus
professores imediatos poderiam ter tido, isto é, Roman Jakobson (1896-1982), no
caso de Halle, e Harris, no caso de Chomsky, por vezes em face da impressionante
evidência do contrário. Encrevé (1997: 111-114 passim) dedica muito espaço à
maneira como o artigo “Russian Conjugation” (1948) de Jakobson, foi tratado por
Halle e também por Chomsky, ou seja, como foi ignorado, embora pudesse ser
demonstrado que tinha tido influência sobre ambos os linguistas. Mas Jakobson
representa no seu todo a tradição estruturalista europeia e não a tradição
‘descritivista’ norte-americana, que é o foco do presente artigo.

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 165
Pelo menos para os leigos, no tempo em que apareceu Sound Pattern of
Russian (1959) de Halle, os leitores do prefácio do autor não poderiam deixar de
perceber que tinha efetivamente passado a engatar a sua carruagem da fonologia
ao comboio sintático de Chomsky (ver Halle 1962), e era óbvio que Halle se tinha
tornado, nessa altura, um promotor determinado da causa de Chomsky. Que ele
deveria desamarrar a sua carruagem trinta anos depois, não foi feito para
prejudicar o seu relacionamento com Chomsky, que não tinha trabalhado em
fonologia desde o seu trabalho conjunto The Sound Pattern of English (1968), e
em 1988 estava rumar na direção de abandonar todos os pensamentos de regras
ordenadas, tão caras a Halle. Que isso seja assim fica evidente pelo artigo conjunto
de Halle com Sylvain Bromberger (nascido em 1924), outro membro sénior do
Departamento de Linguística e Filosofia de Chomsky, que foi apresentado pela
primeira vez no simpósio The Chomskyan Turn, realizado em Jerusalém, em abril
de 1988, e para o qual os autores anexaram uma “Note on Recent History”
(Bromberger / Halle 1989: 65-69), o que confirma o compromisso contínuo de
Halle com Chomsky. Nele, os autores dão ao leitor o benefício de uma longa
citação do artigo “Menomini Morphophonemics” de Bloomfield (1939: 105-106;
cf. capítulo 3.1 atrás, para o texto em causa), mas apenas para concluir que
Bloomfield erroneamente mantinha uma crença que foi normalmente
compartilhada por linguistas dos anos 1930, a saber, “[...] that principles operative
in languages conceived as synchronic systems functioning autonomously were
totally different from the principles operative in the historical evolution of
languages” (Bromberger / 1989: 66). Além do facto de que Bloomfield – mesmo
na citação fornecida – não usa a palavra ‘totalmente’, mas admite que as regras
sincrónicas que ele tinha estabelecido para o atual Menomini “[...] approximate the
historical development from Proto-Algonquian [...]”, os historiadores da
linguagem concordaram durante muito tempo em que a mudança linguística
envolve uma mudança de regras; eles, porém, não fundamentaram que essas regras
são recuperáveis na análise sincrónica (cf. Hoenigswald 1946, para uma
declaração precoce sobre a mudança diacrónica).
Em seguida, Bromberger / Halle (1989: 66) fornecem uma citação de
Language de Bloomfield, onde este afirmou que “[...] the descriptive order of
grammatical features is a fiction [...]” (Bloomfield 1933: 213), com a intenção de
provar que, quando escreveu o seu artigo,
[...] Bloomfield had changed positions. The fact that he had done so, how-
ever, was totally ignored by the American linguistic community in the 1940s
and 1950s (Bromberger / Halle 1989: 66).
Eles citam o facto de que Hockett não se tenha referido a ele nem no artigo de
1948 numa edição de Language em honra de Bloomfield, nem no seu muito citado
artigo “Two Models of Grammatical Description”, que contém uma passagem
(Hockett 1954: 211), “[...] which echoes the passage from Bloomfield (1933)
almost verbatim [...]” (Bromberger / Halle 1989: 66) – mas não o artigo de 1939!

166 E.F.K. Koerner
Semelhantemente, os autores vêm no facto de o artigo de Bloomfield (1939) não
ser incluído na coletânea de Joos (1957) outra prova para essa negligência,
acrescentando em nota de rodapé (Bromberger / Halle 1989: 68, nota 16) que “[...]
Bloomfield’s paper was treated as a curious experiment – not to say, indiscretion –
that did not merit extensive discussion”. De facto, Bromberger / Halle (1989: 67)
até vão tão longe que afirmam que “[...] the article was so unknown in America
that Chomsky tells us
39
that he had not read ‘Menomini Morphophonemics’ until
his attention was drawn to it by Halle in the late 1950s”.
Nos parágrafos seguintes, os autores expandem a sua alegação de que esta
“[...] alternative approach to phonological description [...] tested successfully by
Bloomfield was hardly known at the time” (Bromberger / Halle 1989: 67) e que,
como consequência, Chomsky teve que desenvolver o seu desafio a ‘the prevailing
wisdom’ na ignorância deste trabalho anterior. Embora Chomsky não faça
referência na sua tese de 1951 ao facto de que “[...] some of the synchronic rules of
Modern Hebrew are identical with well-known sound changes [...]”, Bromberger /
Halle (1989: 67) corajosamente afirmam que ele “[...] was of course fully aware of
these parallels between synchronic and diachronic rules”, e acrescentam
Unlike most linguists of that period he was not concerned about confusing
synchronic and diachronic descriptions and viewed parallels between the two
types of rules as evidence in support of his proposed analysis (Chomsky
(personal communication)) (Bromberger / Halle 1989: 67-68).
Bem, se era esse o pensamento de Chomsky na época, este poderia ser expli-
cado pela sua falta de formação em linguística histórica; certamente não é um argu-
mento suficientemente forte. Os autores passam a resumir a sua história ao afirmar:

In 1951 Chomsky thus was independently led to the same conclusions that
Bloomfield had reached twelve years earlier.
40
It is a matter of puzzlement that
none of Chomsky’s teachers at the University of Pennsylvania drew his
attention to Bloomfield’s paper and suggested that he take account of it at least
by including it in his bibliography. It is idle at this distance in time to speculate
about the reasons for this oversight. In any event, as noted above, Chomsky
learned of the existence of Bloomfield’s paper only in the late 1950s, many
years after submitting his Master’s thesis (Bromberger / Halle 1989:68).

Encrevé (1997: 105), ao referir-se a estas afirmações, está bastante
surpreendido, para dizer o mínimo, já que, segundo ele, Chomsky e Halle se


39
Observe-se que a alegação vem do próprio Chomsky e não parece basear-se na investigação
independente de Bromberger / Halle (1989).
40
Observe-se que não é feita qualquer referência à tese B.A. / tese de licenciatura / artigo / ensaio de
1949; as referências à sua própria existência parecem todas ter origem unicamente nas próprias
afirmações de Chomsky. Não levaram a nada os vários esforços para obter informações junto da
administração da Universidade de Pennsylvania sobre se, naquela altura, existiu qualquer requisito
formal ou se a apresentação de tal ensaio ou tese tinha sido registada ou se foi mantido um exemplar
do documento.

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 167
tinham tornado amigos íntimos desde 1953, pelo que seria de esperar que Halle na
altura tivesse lido a tese The Logical Structure of Linguistic Theory (1955-1956),
de Chomsky, considerando que nela podem ser encontradas referências explícitas
a Bloomfield (1939). Eu próprio estou inclinado a acreditar que Halle pode não ter
lido o manuscrito bastante volumoso e que terá, como vimos a partir das citações
atrás, simplesmente confiado na palavra de Chomsky sobre o assunto. Seja como
for, é seguro assumir que Chomsky tenha visto o artigo em questão, pelo menos
em inícios dos anos 1950, se não antes.
41


4.2 As afirmações do próprio Chomsky relativas a Bloomfield (1939)
Enquanto alguns podem encontrar os argumentos de Halle em pontos
diferentes na evolução da linguística gerativa, nomeadamente na fonologia
gerativa, suficientemente transparentes e ‘politicamente’ motivados, as observações
de Chomsky em relação ao desenvolvimento das suas ideias linguísticas parecem
ser mais complexas, se não difusas, e por vezes contraditórias, se seguirmos a
cronologia real do seu trabalho.
Por exemplo, numa carta para Robert Barsky, datada de 31 de março de 1995,
Chomsky escreve:

Hoenigswald and Harris were very close to Bloomfield, and certainly knew
his work. But neither of them mentioned to their only [?!, EFKK]
undergraduate student that he was rediscovering, more or less, what
Bloomfield had just done eight years before. It’s not surprising in Harris’s
case, because he didn’t know what I was doing.
But Hoenigswald read it [i.e.,
o que viria a ser Chomsky (1951), EFKK], and must have recognized the
similarities, back to classical India. I learned nothing of this [i.e. Bloomfield
(1939), EFKK] until the 1960s, when Morris Halle found out about
Bloomfield’s work (Barsky 1997: 55).

Nas palavras de Barsky (1997: 55) o artigo “Menomini” de Bloomfield “[...] is
an extraordinary text, completely inconsistent with Bloomfield’s other writings
about language and how research should be done. This, Chomsky believes, was one
of the reasons Bloomfield decided to publish it in Europe”.
42
Pessoas familiarizadas
com o trabalho publicado pelos linguistas norte-americanos 1940 e 1950 (veja-se
capítulos 3.2 e 4 atrás para ilustração) vão achar estas reivindicações difíceis de
engolir. Que Chomsky ‘descobriu’ o artigo de Bloomfield (1939) apenas na década
de 1960 é claramente contradito pelo próprio Chomsky. Na versão impressa de The


41
Numa troca de e-mails com o presente autor, Thomas G. Bever, que terminou a sua tese de
doutoramento em 1967, mas que tinha trabalhado com o artigo de Bloomfield (1939) vários anos
antes (cf. Bever 1963) escreveu (ortografia normalizada): “My [...] cher maître would be Morris not
Noam, but Noam claims that he was directed to B[loomfield]’s Menomini morphophonemics paper
by Harris, could have been very early fifties at the latest. For a long time I had a xerox of Noam’s
own copy, but it was not dated” (e-mail de 1de dezembro de 1999).
42
Há muitas afirmações no livro de Barsky que estão baseadas no que Chomsky lhe tinha dito, e não
na investigação do próprio autor.

168 E.F.K. Koerner
Logical Structure of Linguistic Theory – e devo acrescentar que todas as referências
ao trabalho de Hjelmslev, por exemplo, que se encontram na versão de 1955-1956,
foram expurgadas da versão publicada em 1975 (cf. Koerner 1995c: 98-99, para
mais detalhes) – ainda há três referências explícitas a esse artigo (incluindo a
referência na bibliografia: Chomsky 1975: 571). A referência mais interessante
pode ser encontrada no Capítulo IV, “Simplicity and the Form of Grammars”
(Chomsky 1975: 113-128), onde podemos ler numa longa nota de rodapé:

Note that phonemes can often be “embedded” in the morphophonemic level
as primes of this level. English, in fact, is a poor source for interesting
morphological examples, and the simplification effected by morphophonemic
analysis in this case is rather small. But in many languages where such
morphophonemes have wide distribution and are complexly interrelated, such
analysis can lead to very great economy. See Bloomfield, “Menomini
morphophonemics”, my Morphophonemics of Modern Hebrew, and many
other linguistic studies (Chomsky 1975: 115 nota 5).

Tanto a ordem das referências como o reconhecimento de que ‘many other
linguistic studies’ terem tratado este assunto até pelo menos 1954 são importantes
aqui. Na verdade, convém lembrar que Chomsky tinha estado a trabalhar sobre
estas questões, eventualmente combinadas em The Logical Structure of Linguistic
Theory, pelo menos desde a sua tese de mestrado,
43
por isso poderíamos esperar
que (outros) escritos anteriores a 1951 (para além do de Bloomfield) fossem
incluídos aqui.
A outra referência – não menos importante, uma vez que sugere, entre outros,
que ao escrever Methods, Harris fez uso delas – é para “several methods of
presenting grammars of the first type [...; i.e., uma forma ‘operacional’, EFKK]
are discussed by Harris, Methods in Structural Linguistics, Section 20.3;
44
cf.
Bloomfield, “Menomini morphophonemics”, Jakobson, “Russian conjugation”, as
examples of this general form” (Chomsky 1975: 78, nota 2). Embora não haja
nenhuma referência explícita ao artigo de Jakobson (1948) em Methods, Harris


43
No manuscrito original de The Logical Structure of Linguistic Theory, Chomsky incluiu tudo o que
tinha escrito naquela época, com a exclusão das suas resenhas e artigos publicados em inícios dos
1950; por exemplo, a sua tese de mestrado foi adicionada como um apêndice ao capítulo VI, “Lower
Levels of Grammatical Structure” (cf. Chomsky 1975: 169, onde um breve resumo é oferecido em
seu lugar). A sua tese de doutoramento, submetida em 1955 na Universidade de Pennsylvania,
formou o capítulo VIII (e o capítulo IX na publicação de 1975). Sem dúvida, na sua forma de 1955-
1956, The Logical Structure of Linguistic Theory era impublicável (para obter detalhes sobre o
destino das três versões da obra de mais de 750 páginas cada, veja-se Murray, 1999). Em 1973, o
próprio Chomsky (1975: 1) admite que o “[...] manuscript was never actually prepared for
publication”. Veja-se também Koerner / Tajima (1986: 3-5: 56) para alguns detalhes sobre as
diferentes versões e, para uma análise mais aprofundada, Ryckman (1986, capítulo 3), nomeadamente
a nota 1, que se estende por quatro páginas (Ryckman 1986: 143-147).
44
Isso está em Chomsky (1975: 372-373) (“Description of the Language Structure”), donde citei
passagens no capítulo 3.2 (atrás).

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 169
(1951a: 334, nota 19) refere-se a artigos anteriores dele;
45
além disso, no seu
prefácio, Harris (1951a: V) reconhece ‘important criticisms’ de Jakobson e de dois
linguistas americanos,
46
e bem pode ter visto em forma manuscrito o artigo de
Jakobson, que foi inspirado no trabalho de Bloomfield.
Como vimos a partir do artigo de Chomsky (1962a), apresentado no Ninth
International Congress of Linguists, do qual uma pré-impressão esteve disponível
com muitos meses de antecedência (cf. Koerner / Tajima 1986: 14, 18-19 para
detalhes), ficava a impressão que ele teria estado bem consciente do artigo
“Menomini” de Bloomfield por algum tempo (cf. capítulo 3.3 atrás). No entanto,
no início dos anos 1970, por razões difíceis de entender, Chomsky mudou o seu
modo de discutir o artigo. Em 1973, quando escreveu a sua Introdução a The
Logical Structure of Linguistic Theory, Chomsky (1975: 47 nota 16) afirmou que a
sua tese de mestrado de 1951 tinha sido escrita “[...] in ignorance of Bloomfield’s
(1939) study” e, nas suas conversas de janeiro 1976 com uma jovem seguidora
francesa, Mitsou Ronat (1946-1984), ele reiterou a sua alegação da seguinte
forma, em resposta à pergunta “When did you think for the first time of proposing
an explanatory theory in linguistics?”:

That was what interested me about linguistics in the first place. As an
undergraduate at the University of Pennsylvania in the late 1940s I did an
undergraduate thesis called “Morphophonemics of Modern Hebrew”, later
expanded to a master’s thesis with the same title in 1951. That work, [...], was
a “generative grammar” in the contemporary sense; its primary focus was
what is now called “generative phonology”, but there was also a rudimentary
syntax.
47
I suppose one might say that it was the first “generative grammar” in
the contemporary sense of the term. Of course there were classical precedents:
Panini’s grammar of Sanskrit is the most famous and important case, and at
the level of morphology and phonology, there is Bloomfield’s Menomini
Morphophonology, published a few years earlier, though I did not know about
it at the time (Chomsky 1979b: 111-112).
48




45
Numa carta pessoal para Newmeyer (1996: 14), de 17 de novembro de 1988, Chomsky foi tão
longe como afirmar que “[...] in an American linguistics programme such as that at Penn, no one ever
read a word of Jakobson’s, on any topic”.
46
Trata-se de um linguista bastante desconhecido William D. Preston (falecido em 1954), que
publicou alguns comentários e pequenos artigos entre 1946 e 1949 (p ex., “Problems in Text
Attestation in Ethnography and Linguistics”; Preston 1946) e Fred Lukoff (1920-2000), que era
conhecido pelo seu trabalho sobre o coreano.
47
Alguns anos antes, Chomsky (1975: 26) tinha referido que “the syntactic component was
rudimentary. It consisted of phrase structure rules modeled on Harris’s morpheme-to-utterance
formulas (cf. Methods, chapter 16)”, o que parece sugerir que teve acesso à versão manuscrita nessa
altura, embora também poderíamos referir Harris (1946), onde esta abordagem foi trabalhada em
detalhe. Curiosamente, na Bibliography para Chomsky (1975), não há quaisquer referências a
publicações de Harris sejam anteriores a 1951 (cf. Chomsky 1975: 572).
48
Curiosamente, a referência ao artigo de Bloomfield (1939) foi acrescentada na versão em inglês.

170 E.F.K. Koerner
Há provavelmente outros lugares onde Chomsky disse o mesmo ou fez
afirmações bastante similares. Duas mais recentes, publicadas em 1996 e 1997,
respetivamente, podem ser suficientes. Numa carta de 17 de novembro de 1988 a
Frederick Newmeyer, Chomsky diz quase a mesma história e discorre sobre “o
estado de espírito dos tempos” desta forma:
It is rather astonishing that no one at Penn suggested to me that I look at the
Bloomfield article. It is not surprising that Harris didn’t, given his theoretical
outlook. But more surprising that Henry Hoenigswald
49
never mentioned it.
He must have known about Bloomfield’s article as well as the Paninian
tradition on which it was based. The fact that none of this was ever brought
to my attention in a department consisting of Bloomfield’s students and close
friends is quite remarkable, [...] (Newmeyer 1996b: 14).
Na década de 1990, esta visão do seu próprio passado no que diz respeito ao
trabalho de Bloomfield e o fracasso dos seus professores para chamar a sua
atenção para o artigo, parece ter-se tornado a posição fixa de Chomsky. Já citámos
atrás, a partir da sua carta de 1995 ao seu biógrafo Barsky, e vou citar apenas uma
outra passagem em que o essencial é repetido – dentro do contexto de uma
palestra pública sobre a história da linguística, curiosamente trinta anos após
Cartesian Linguistics. Nessa ocasião, a linha da história foi contada assim:

In 1939, Bloomfield wrote a generative grammar of Menomini, an American
Indian language, very much in the style of Panini. That work, even though he
was the leading American linguist, was not known in the United States,
except to his immediate students. In fact, when he died a few years later and
there was a comprehensive study of his work on Algonkian languages, done
by one of his main students, this was omitted.
50
It wasn’t even listed. He
actually published that article in the Travaux du Cercle Linguistique de
Prague, in Czechoslovakia (Bloomfield 1939).
I didn’t know Bloomfield personally. But in retrospect what I would
have liked to ask him is whether he published it in Prague because it was not
the kind of work hard-headed linguists did in the United States. If you look at
the ideas, you will see that his schizophrenia is rather deepág. In his [...]
major text of modern American linguistics [i.e., Bloomfield 1933], he is very
critical of the concept of hidden structures, ordered rules, and that sort of
thing: “this is old fashionable mentalism, we want to get rid of this crazy
ideological baggage”.
51
On the other hand, if you look at his grammar of


49
Noutra parte do livro, Hoenigswald foi apontado como o único linguista, além de Bernard Bloch,
“[...] the well-known Yale phonologist [...]”, que tinha demonstrado interesse pela tese de Chomsky
de 1951 (Chomsky 1979b: 130).
50
A nota refere-se ao artigo de Hockett (1948a) e à sua posterior admissão, quando o reimprimiu, que
o tinha (inadvertidamente, disse ele) negligenciado na época (cf. Bloomfield 1970: 495).
51
Observe-se que esta frase não é uma citação de uma fonte existente, mas um exemplo típico da
descrição que Chomsky e os seus seguidores divulgaram regularmente durante a década de 1960 até
que a próxima geração de linguistas a tomou como verdade. Toda a campanha contra os
bloomfieldianos na altura estava cheia dessas meias verdades, senão falsidades, sobre a natureza
‘taxonómica’, estúpida, ateorética, indutiva, positivista, etc. da sua abordagem da linguagem e análise

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 171
Menomini, his generative grammar in the Paninian tradition, it is full of
hidden structures and ordered rules. [...]
Even more striking was that no one pointed out to me, a young
undergraduate doing some work, that just a few years earlier, the leading
figure of American Linguistics had done something very similar, on another
language. I found out about it almost twenty years later, when I had become
interested in History of Linguistics (Chomsky 1997: 108).

Ao ler este relato, não se sabe ao certo o que fazer com ele, especialmente se
já se leu pelo menos os poucos pedaços de Bloomfield que realmente importavam,
como as passagens citadas no início do presente artigo (capítulo 3.1). Paul Postal
(nascido em 1936), que nos anos 1960 trabalhou bem de perto com Chomsky,
adotou posteriormente uma visão bastante crítica desse ‘princípio’ de como
construir fortes argumentos sem fornecer as provas. Este sugere ‘simply assert’ e
com a maior coragem possível, de modo que poucos se atrevam a questionar a
afirmação. A título de ilustração, Postal (1988: 133) cita Chomsky, ao dizer:
Suppose that counter evidence is discovered – as we should expect and as we
should in fact hope, since precisely this eventually will offer the possibility of
a deeper understanding of the principles involved (Chomsky 1982b: 76).
Chomsky está, naturalmente, a referir-se a questões de argumentação teórica
nesta citação, mas pode perguntar-se se a mesma abordagem também não se aplica
à maneira como vê o seu próprio desenvolvimento intelectual.

4.3 Algumas conclusões preliminares
Ao ler as declarações de Chomsky sobre o desenvolvimento da linguística
gerativa – e também a propagação por Halle de alguns desses pontos de vista –
pode chegar-se à conclusão de que eles serviram em muito a mesma finalidade,
pelo menos superficialmente. Porquê algumas das afirmações – contraditórias na
melhor das hipóteses – face às provas que espero ter fornecido no presente artigo,
chegaram a ser feitas quando foram feitas, não pode ser tarefa do historiógrafo.
Idealmente, ele quer ser visto como tendo meramente deixado os factos (na
medida em que eles podem ser estabelecidos) falar por si próprios. As provas
parecem sugerir que, no caso de Halle, estas afirmações foram feitas em apoio ao
seu amigo Noam Chomsky e, é claro, como parte da ‘eclipsing stance’ de longa
data (Voegelin / Voegelin 1963) do ‘projeto chomskiano’, que Chomsky tinha
iniciado em meados dos anos 1950. Que muitas dessas afirmações foram feitas
muitos anos após a ‘revolução’ ter acontecido – na maioria dos casos a partir dos
meados dos anos 1970 em diante – deve ser motivo de perplexidade para o
historiador, uma vez que elas não parecem servir qualquer propósito político.
No caso de Chomsky, os historiadores da linguística norte-americana
maioritariamente parecem ter a visão de que, quando se trata da representação do


linguística, e mesmo nos anos 1990 os manuais da linguística ‘moderna’ ainda continham muitas
dessas distorções. Para saber como isso é feito em manuais pró-gerativistas, cf. Lawson (2001: 8-14).

172 E.F.K. Koerner
seu passado linguístico, Chomsky foi menos do que sincero. A maioria dos
semanticistas gerativos entrevistados por R. A. Harris (1993b) expressa o
sentimento de que a auto-história de Chomsky foi desonesta e manipuladora, e em
1998 ele manifestou-se e afirmou o mesmo. Huck / Goldsmith (1995), na sua
análise em busca do confronto entre os semanticistas gerativos e os semanticistas
interpretativos, liderados por Chomsky durante finais dos anos 1960 e inícios dos
anos 1970 (que foi protegido por R. A. Harris em 1993a, mas talvez com um rigor
não comparável), tiveram cuidado para não fazer um julgamento semelhante,
mesmo que alguns dos seus achados possam ter sugerido isso.
52
Tomando o
caminho principal,
53
eles só foram tão longe como dizerem que a afirmação de
Chomsky e dos seus associados de que a semântica gerativa foi falsificada era
“[...] essentially ideological in character and scientifically unjustifiable” (Huck /
Goldsmith 1995: 93). Stephen Murray, cujo bem documentado artigo de 1980,
“Gatekeepers and the ‘Chomskian Revolution”’, perturbou tanto os historiadores
da marcha da vitória da linguística gerativa, como Newmeyer, fez uma
investigação mais séria nesta área de interesse do que qualquer outra pessoa (por
exemplo, Murray 1994, especialmente os capítulos 8 e 9; Murray 1999) e
caraterizou Chomsky como sendo ‘delusional’ (Murray 1994: 246). No entanto,
John E. Joseph (1999a: 421-422), familiarizado com as opiniões defendidas pelos
estudiosos anteriores, afirma “I am not convinced. My own dealings with
Chomsky have strongly suggested that his belief in this view of his history is
genuine and absolute”, e acrescenta “to affirm the sincerity of Chomsky’s
interpretation of his own past is by no means to say that I agree with it”. Acho que
é seguro concordarmos com a seguinte conclusão tirada por John Fought, que fez
uma análise cuidadosa da matéria discutida no presente artigo:
[...] I believe that the similarities between the strategy and techniques of
Bloomfield’s Menomini Morphophonemics and the architecture of early
Chomskyan generative phonology are most plausibly explained by
Chomsky’s prior acquaintance with the Bloomfield paper, either directly or
through summaries in Harris (1951a). I regard Chomsky’s denial of any such
influence by Bloomfield as another example of his solipsism, though perhaps
a less glaring one than his failure even to mention Harris in this connection
54

(Fought 1999b: 316).


52
Incluindo a sua observação de que muitos ingredientes do argumento da semântica gerativa, que
tinham sido atacados e demitidos por Chomsky, posteriormente encontraram o caminho para o seu
próprio argumento. Compare-se, apenas como exemplo, como se sentiu o lado perdedor, com a
resposta de Paul Postal à pergunta se tinha havido ‘an intellectual battle or a social battle [com
Chomsky, EFKK] or both?’: “Mostly a propaganda battle” (Huck / Goldsmith 1995: 137).
53
Afinal, o seu livro foi dedicado a Chomsky, Halle, e muitos outros estudiosos.
54
No mais recente período da linguística de Chomsky, um catálogo de casos em que tanto as
alegações de Chomsky como de Halle [e do seu coautor] colidem com factos bem documentados em
Pullum (1996: 139-144 passim). De facto, Chomsky é acusado de ser ‘disingenuous’ (Pullum 1996:
142) e, ao comentar sobre a contribuição conjunta de Halle e de Alec Marantz (PhD, MIT, 1981),

Observações sobre as origens da morfofonémica na linguística estruturalista americana 173
Seja como for, parece-me que Chomsky está, pelo menos, a fazer o que a
maioria de nós faria, e na maior parte das vezes não inconscientemente, ou seja, a
reinterpretar o nosso próprio passado à medida que envelhecemos, enquanto ao
mesmo tempo a nossa memória desse passado tem-se tornado muito menos
confiável do que podemos acreditar que ela seja. Ao ler os relatos de Chomsky
sobre o seu próprio desenvolvimento intelectual – que é sempre dado como uma
declaração de facto – fica-se com a impressão de que ele realmente acredita que o
que está a dizer é verdade no momento em que o está a dizer (também parece estar
demasiadamente ocupado para verificar o que disse sobre o mesmo assunto em
ocasiões anteriores).
Para o, admitidamente, tremendo sucesso da história do ‘chomskyan
paradigm’, quando a história do século XX está a ser escrita, os relatos do próprio
Chomsky sobre o seu desenvolvimento provavelmente não contam muito. O
historiógrafo vai contar com o que foi realmente escrito pelos diversos
participantes do empreendimento, e não com a forma como as discussões são
lembradas e muitas vezes mal recordadas pela figura central na história. Não pode
haver dúvidas de que qualquer que seja a formação que Chomsky recebeu e quanta
atenção os seus professores deram ou não deram aos seus primeiros trabalhos,
temos de admitir que, com base no que ele aprendeu (em casa, na faculdade e com
os outros, mais velhos ou colegas), Chomsky – em grande parte sozinho –
desenvolveu um programa de investigação que muitos homens e mulheres jovens
achavam atraente, especialmente durante os anos 1960 e 1970. Que este programa
acabou por ser verdadeiramente estruturalista na conceção – mais como o epítome
do que os seus mentores não conseguiram realizar
55
– e muito bloomfieldiano em
perspetiva, pode ser visto como a ironia da sua carreira e mais frequentemente do
que não uma ocorrência regular na história como na vida humana: depois de todos
esses esforços da nossa adolescência e do início da idade adulta para sermos
diferentes dos nossos pais, acabamos por ser muito semelhantes a eles.
56




Pullum (1996: 144) observa: “Halle and Marantz argue not like scientists interested in theory
improvement but like crusaders defending a faith against a minor heresy”.
55
Encrevé (1997: 108) argumentou que “le ‘génie’ du jeune Chomsky, entre 1947 et 1951, a été de la
[i.e., a ideia das regras ordenadas, EFKK] reprendre, à sa manière, la mettant au service de simplicité
[...] [Chomsky 1951: 4], et ce à l’encontre de son directeur de thèse [i.e., Harris, EFKK]”, que não
tinha ignorado, mas abandonado essa ideia. Que esta leitura de Harris não pode ser sustentada pode
ser recolhido em Nevin (1993), onde o autor não só oferece algumas referências sobre a simplicidade
em Harris, mas também mostra que a questão da sequência de passos derivacionais se manifesta em
todo o trabalho transformacional e na gramática de operadores.
56
John Lyons (nascido em 1932), que em 1970 publicou um livrinho de sucesso comercial sobre
Chomsky e a sua linguística, observou dez anos mais tarde que “there is far less difference between
Bloomfield’s and Chomsky’s views of the nature and scope of linguistics than one might expect”
(Lyons 1981: 23).

174 E.F.K. Koerner
5 Epílogo
Ao olhar para trás sobre o desenvolvimento da linguística norte-americana
dos últimos 50 anos, podemos perguntar-nos até que ponto o campo realmente
progrediu, quantos verdadeiros novos conhecimentos sobre a natureza da
linguagem foram adquiridos desde os anos 1950. As opiniões sobre este tema
podem diferir, mas deve ter ficado evidente a partir da presente incursão na
história da morfofonémica que houve muitas descobertas importantes nesta área
que são anteriores a 1951. O grande desafio para o escritor da história de qualquer
disciplina científica encontra-se em conciliar as reivindicações retóricas dos seus
praticantes de reviravoltas revolucionárias e incomensurabilidades paradigmáticas
com provas que, em retrospetiva, sugerem mais continuidade e avanço acumulado
(ou, nalguns casos, até mesmo de regressão) ao nível substancial da metodologia e
da compreensão genuína. O presente estudo sugere como o esquecimento coletivo
de certas obras, possivelmente como resultado de terem estado à frente do seu
tempo, mas mais provavelmente devido a outros fatores disciplinares,
institucionais e sociais, ou mesmo pessoais, que levaram à retórica da revolução,
trouxe uma distorção da história, cuja correção é de interesse de todos nós.

Linguística e revolução:
com especial referência à ‘revolução chomskyana’
*




1 Observações iniciais
Começo este artigo por dizer que me vou dedicar aqui à linguística, a ciência
da linguagem, não à linguagem e revolução. A diferença é importante, pois tratarei
um meta-nível, se não, ao discutir os pontos de vista de outros sobre o assunto,
com um meta-meta-nível. É bem conhecido que as transformações sociais,
políticas e ideológicas afetam o uso da linguagem, mas não é esse o tema do
presente trabalho.
Num artigo de resenha, carateristicamente intitulado “The structure of
linguistic revolutions”, John E. Joseph analisou criticamente estudos recentes na
historiografia da linguística americana do século XX, em particular os livros de
Harris (1993a) e Murray (1994). Joseph (1995) sugere, ainda – sem dúvida, a falar
contra os historiadores conservadores da linguística, como eu próprio (p. ex.,
Koerner 1989b; cf. Joseph 1991) – que o conceito de ‘revolução’ pode ter que ser
visto não só como fulcral para a história linguística, mas também que teria que ser
tomado como algo que ocorre com muito mais frequência no desenvolvimento da
linguística do que eu teria assumido, embora talvez numa escala muito mais
modesta. Como resultado, pode haver uma série de revoluções em pequena escala
a terem que ser contabilizadas, ‘contra-revoluções’ contra as revoluções anteriores,
e até mesmo, ‘revoluções em série’, como se testemunhou na obra de Chomsky ao
longo dos últimos cinquenta anos ou mais. De facto, Joseph sugere que, no
entendimento da natureza das revoluções linguísticas, pelo menos, podem muito
bem existir quatro fases distintas na nossa avaliação de tais mudanças, ou seja, as
do tipo popperiano, do tipo kuhniano, e foram expostos de algum modo nos dois
livros que ele estava a analisar, ou seja, Murray (‘Sociology of Science’) e Harris
(‘Rhetoric of Science’).
No presente artigo, vou falar relativamente pouco sobre o conceito de
‘revolução’ dentro dos termos das várias filosofias da ciência (Kuhn, Popper, etc.).
Aqui, vou considerar, no entanto, a posição de John Joseph que afirma que “most
revolutions are essentially rhetorical, with the substantive change being one of
personnel” (Joseph 1995: 384, nota 5), sem, no entanto, ignorar os ‘três fatores’ de
Stephen Murray que definem aquilo que ele acredita serem todos os grupos
científicos coerentes: boas ideias, liderança intelectual e liderança organizacional
(cf. Murray 1994: 22-23). No entanto, vou em primeiro lugar tecer alguns comen-
tários acerca da questão das ‘revoluções’ em geral e da linguística em particular


*
[Observação sobre a tradução: a presente tradução foi elaborada por Maria Teresa Vieira da Silva
com base no artigo “Linguistics and Revolution: With Particular Reference to the ‘Chomskyan
Revolution’” (Koerner 2004c).]

176 E.F.K. Koerner
(capítulo 2) e referir-me, também, a alguns momentos da história da linguística do século XIX e XX para fins ilustrativos (capítulo 3). A questão sobre o(s) tipo(s) de ‘revolução’ produzida pela obra de Noam Chomsky parece ser um problema
complexo (veja-se capítulo 4), e que será mais seguro deixar o leitor tirar as suas
próprias conclusões, ao contrário de tentar impor uma determinada interpretação.

2 Observações sobre o termo ‘revolução’ no sentido geral e específico
Como seria de esperar, há uma variedade de fatores que indicam se é
reconhecida e amplamente aceite uma determinada ‘revolução’ na teoria e na
prática linguística. Frequentemente, certas obras são consideradas como pontos de
viragem post rem (por exemplo, Bopp 1816; Chomsky 1957a), o que constitui
uma dificuldade e obrigação em descobrir o locus de tal afirmação, quer por meio
da análise do próprio texto ou da sua receção inicial. Fatores extralinguísticos,
tanto sociais como políticos, teriam que ser tomados em consideração para expli-
car o sucesso ou o fracasso das propostas importantes e, até, dos avanços feitos por
um autor. Como mostra o registo, aspetos retóricos e, por vezes, até mesmo
polémicos têm desempenhado um papel fundamental na aceitação ou rejeição de
um ‘paradigma’ específico e isso não se dá apenas na ‘linguística moderna’.
Neste artigo, tratarei a questão da ‘revolução’ na linguística; não tanto do
ponto de vista da filosofia da ciência ou dentro de qualquer outro quadro em
particular – presumo que deveria prestar atenção ao conselho de John Joseph
(1991) de tratar do ‘uso comum’ –, mas mais do ponto de vista do que realmente
aconteceu na linguística ao longo dos últimos duzentos anos. Devo acrescentar
que aqui vou limitar-me às principais correntes da linguística dos séculos XIX e
XX, ou seja, a gramática comparativa-histórica e o estruturalismo, respetivamente,
pois devemos lembrar-nos que a linguística não se esgota nessas correntes
principais: muito do trabalho linguístico continua a ser feito fora destas, quiçá,
preocupações mais gerais, quer se trate de preocupações lexicográficas, fonéticas,
didáticas, dialetológicas, ou qualquer outro trabalho; ainda que, mesmo dentro
dessas correntes, também possam ocorrer mudanças bastante bruscas de método,
avanços importantes e outros eventos, que os seus praticantes compararão com as
revoluções dentro daquele domínio particular.

3 Ilustrações de continuidades, descontinuidades e possíveis revoluções
Quando comparado com o caso da descoberta ou descobertas associadas ao
nome de Noam Chomsky, as instâncias anteriores parecem ter sido muito menos
complexas, mas isso pode ser devido à nossa ignorância sobre muitas das
circunstâncias que nos explicariam os sucessos ou insucessos de certas
publicações nos períodos anteriores da linguística. Estas circunstâncias certamente
implicaram mudanças na metodologia da investigação, diferenças geracionais e,
também, troca de informação algo polémica (cf. Koerner 1999b, para detalhes).

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 177
3.1 Considerações metodológicas iniciais
Ao escrever em 1980, István Bátori sugeriu que ainda era muito cedo para
avaliar a contribuição de Chomsky para a linguística numa perspetiva histórica, em
grande parte, porque ‘as ondas da sua revolução (no sentido de Thomas Kuhn)
ainda não tinham chegado a um impasse’ (Bátori 1982: 103).
1
Um sentimento
semelhante foi expresso cinco anos mais tarde por Herbert Penzl (1987: 418). No
entanto, tendo em conta que a história da escola associada ao nome de Chomsky
está a ser redigida de uma forma pouco objetiva, parece desejável levantar, agora, a
questão quanto ao método correto de tratar o assunto, antes que alguns equívocos e,
até, mitos sejam cimentados como factos. Estou a pensar em afirmações erróneas
como a de que o Syntactic Structures de Chomsky foi ‘rejeitado por numerosos e
conceituados editores’ (como encontrado por exemplo, no “Geleitwort der
Herausgeber” N.º 95 do Linguistische Berichte de fevereiro de 1985, pág. 1),
2
ou
que “the publication of Syntactic Structures radically changed the goals, the
methodology, and the research questions of the field” (Fromkin 1991: 78).
Idealmente, o historiador deveria estar a uma certa distância do seu objeto de
estudo, no sentido de que não deveria ter nenhum interesse pessoal no resultado da
sua investigação, mas ser guiado por um desejo de esclarecer.
3
É claro que este
não é o único pré-requisito para um historiador, mas parece que um dos principais
pré-requisitos para qualquer obra histórica é não abordar um assunto com ideias
pré-concebidas, tentando estabelecer um conceito particular apenas porque será de
importância para seus objetivos imediatos. Em suma, podemos dizer que um
historiógrafo deve manter-se tão imparcial quanto possível. No entanto, nem o
distanciamento do assunto nem a imparcialidade implicam, necessariamente, a
exclusão daquilo a que Kuhn (1977: 149), ao invocar Bertrand Russell, chamou de
‘simpatia hipotética’.
Não estou, com certeza, a defender uma estreita abordagem positivista,
interessada em pouco mais do que aquilo a que Comte chamou ‘les petites choses
vraies’. Na verdade, não sou nada a favor de uma preocupação, unilateral, com
meros ‘factos’, já que, como ficou claro há muito tempo até mesmo para


1
[Observação da tradutora: uma vez que o próprio autor prescindiu de oferecer as citações originais
(p. ex. em língua alemã), mas forneceu traduções inglesas de alguns trechos, optou-se por fornecer
uma simples tradução portuguesa em todos aqueles casos.]
2
Parece que o próprio Chomsky pode ter tido algo a ver com esse mito. Por exemplo, em conversa
com Herman Parret, ele afirmou que “Syntactic Structures was not written for publication. It is
basically a set of lecture notes for an undergraduate course at M.I.T.” (Chomsky 1974: 27). Custa a
crer quando se estuda a própria obra. Mais importante ainda, referências à publicação de Syntactic
Structures sugerem que o texto datilografado foi entregue por Morris Halle a C. H. Van Schooneveld
(nascido em 1921), o editor da série da Mouton, precisamente para esse fim. Foi de facto
cuidadosamente preparado para publicação (cf. Murray 1999; Noordegraaf 2001).
3
Parece claro deste ponto de vista que explicações como as encontradas em Hymes (1972, 1974a)
possam ser vulneráveis a críticas. No entanto, se o historiador afirma o seu compromisso de forma
clara, permitindo ao leitor tirar as suas próprias ilações, estaremos ainda assim muito melhor do que
com explicações partidárias que se apresentam como história objetiva.

178 E.F.K. Koerner
empiristas teóricos da linguística, como Hermann Paul (1880: 6), que quase nunca
lidamos com os factos sem uma certa dose de – o que ele chamou de –
‘especulação’. O ideal do historiógrafo, a meu ver, pode ser apelidado de ‘amplo
positivismo’, uma abordagem que tem o compromisso de analisar, descrever e
apresentar eventos históricos em linha com o programa de Leopold von Ranke
(1795-1886), anunciado pela primeira vez na sua Geschichten romanischen der
und germanischen Völker (1824) – vários anos antes do aparecimento dos seis
volumes do Cours de philosophie positive (Paris, 1830-1842) de Auguste Comte
(1798-1857). Que este ideal quase nunca é alcançado pode ser evidente para o
leitor do presente artigo como na maioria dos outros casos, incluindo o próprio
trabalho pós-1824 de Ranke. Ainda assim, gostaria de referir a afirmação
frequentemente citada de Ranke – geralmente associada à sua volumosa obra de
anos posteriores –, a saber, que a história não é nem deveria julgar o passado nem
instruir o presente sobre a forma de agir em benefício do futuro, mas sim,
descrever o modo como as coisas realmente aconteceram.
4
Para alguns, esta
sugestão pode parecer excessivamente conservadora, mas aqueles que estão
interessados na história da linguística no século XX não podem fugir à conclusão
de que, na esteira de afirmações partidárias publicadas ao longo dos anos, parece
necessário um retorno aos princípios historiográficos básicos.

3.2 Alguns pré-requisitos adicionais
Tenho discutido, em várias outras ocasiões, os pré-requisitos para a
historiografia linguística (por exemplo, Koerner 1972c, 1976, 1982a) e não
pretendo repeti-los aqui. Dificilmente se tem que realçar que a familiaridade com as
diferentes teorias linguísticas em questão é de primordial importância: um
historiador da linguística deve ter formação na linguística. Menos óbvio, talvez,
mas de igual importância, é o conhecimento geral dos vários fatores
extralinguísticos, intelectuais, sociológicos e, possivelmente, políticos, que possam
ter tido um impacto no decorrer dos acontecimentos num determinado campo da
investigação científica em determinados períodos do seu desenvolvimento. Sem
esse conhecimento extralinguístico do ‘contexto da situação’ seria difícil
compreender as mudanças de ênfase na teoria linguística ou ‘revoluções’ dentro da
disciplina (como a crescente importância atribuída à sintaxe, acima e para além da
morfologia e fonologia no início dos anos 1960). É importante que façamos a
distinção entre a evolução intralinguística (ou seja, aquelas específicas de uma
determinada disciplina e que tendem a ser reavivadas em gerações posteriores às


4
Uma vez que esta declaração é geralmente citada fora de contexto e sem referência adequada à sua
fonte original, forneço ambos: “Man hat der Historie das Amt, die Vergangenheit zu richten, die
Mitwelt zum Nutzen zukünftiger Jahre zu belehren, bey gemessen: so hoher Aemter unterwindet sich
gegenwärtiger Versuch nicht: er will bloß sagen wie es eigentlich gewesen.” (veja-se a “Vorrede” de
Leopold von Ranke (1824: v-vi). [Foi atribuída à história a tarefa de julgar o passado e de ensinar o
mundo contemporâneo em benefício de anos futuros: o presente ensaio não tem a pretensão de servir
tais altos cargos: simplesmente pretende mostrar como realmente aconteceu.]

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 179
dos últimos investigadores, muitas vezes aliadas ao desejo de superar o problema
permanente de lidar com a semântica de forma adequada (cf. Seuren 1998: 474-
527, para mais detalhes), e vários fatores extralinguísticos. Estes últimos, nada
tendo a ver com a operacionalidade do ofício, a sua metodologia, os seus dados
específicos, ou as suas conclusões per se, no entanto, podem ter, e em muitos casos
têm tido, um impacto significativo na aceitação generalizada de uma estrutura ou
filosofia da ciência específica, bem como sobre os focos de atenção da investi-
gação, e isto muitas vezes com ramificações sociais de alguma importância.

3.3 Outras considerações metodológicas
Até aqui, referi as atitudes gerais por parte do historiógrafo (ou seja, que
deveria ser capaz de tratar o seu objeto de estudo com um certo distanciamento) e
a distinção fundamental entre o que podem ser nomeados os requisitos
intradisciplinares e as influências extradisciplinares na área. Para quem estiver
interessado em realizar investigação histórica, estas generalidades apenas podem
ser vistas como as diretrizes mais rudimentares. O historiógrafo deve saber como
verificar os dados relevantes, material que não pode simplesmente ser obtido
através da consulta dos livros de um determinado período ou escola de
pensamento. Indubitavelmente, esses textos também têm o seu valor; costumam
apresentar a doutrina aceite de uma forma pragmática (por exemplo, o número de
edições de qualquer livro pode dar uma indicação quanto à sua popularidade, e
quanto à dimensão que está a receber a atenção de estudiosos da linguística). No
entanto, os livros didáticos constituem apenas fontes secundárias, pois tendem a
diluir as questões teóricas para torná-las mais acessíveis ao público em geral. Mais
importante ainda, os seus autores tentam descrever o que acreditam ser do
consenso geral e, normalmente, não tomam uma posição crítica: afinal, o que
querem é vender o máximo de cópias possível.
Num dos primeiros relatos do estado da arte da história da linguística, Yakov
Malkiel forneceu uma lista daquilo que considerava serem as fontes essenciais
para o historiador da ciência linguística. A lista inclui autobiografias, memórias,
prefácios, correspondência, Festschriften, resenhas de livros, somatórios de
simpósios, registos institucionais e outros materiais (Malkiel 1969b: 641-643).
Além dessas fontes, tornou-se mais amplamente aceite que material não publicado
e especialmente correspondência entre académicos sem terem o público geral em
mente, poderia muito bem constituir prova documental importante para
determinados eventos. Assim, Stephen Murray (1980) foi capaz de estabelecer –
algo que muitos poderiam suspeitar, mas não foram capazes de provar sem sombra
de dúvida – que Bernard Bloch, editor da revista Language, da Linguistic Society
of America (LSA), desde 1941 até à sua morte em 1965, desempenhou um papel
importante, se não mesmo decisivo, na promoção de Noam Chomsky e das teorias
linguísticas deste durante os finais da década de 1950 e inícios da década de 1960.
O papel de Bloch foi certamente muito mais crucial do que os cronistas do
‘paradigma chomskyano’ (p. ex., Newmeyer 1980: 47-48) estão dispostos a

180 E.F.K. Koerner
admitir.
5
Talvez esse lapso se deva simplesmente ao facto de o espólio de Bloch,
depositado na Biblioteca Sterling da Universidade de Yale, não ter sido
consultado. No entanto, a julgar pelas publicações mais recentes (Newmeyer
1986a, 1986b, 1996a), a impressão causada pelo seu livro de 1980 confirma
nomeadamente que Newmeyer não parece interessado em apresentar algo próximo
da história objetiva (cf. Murray 1989; Huck / Goldsmith 1998).
Uma outra fonte, no que respeita à historiografia linguística contemporânea,
ficou, até hoje, largamente inexplorada. Refiro-me às entrevistas diretas com
pessoas que participaram nos eventos e, de uma forma mais geral, àquilo a que nos
dias de hoje se denomina história oral (cf. Davis / O'Cain 1980, pelo primeiro
empreendimento efetuado na linguística norte-americana). Murray (1980, 1994),
um sociólogo, fez um uso extensivo das entrevistas bem como da correspondência
com Chomsky e os seus colegas e com estudiosos que não seguiam ou se
opunham às teorias transformacionais, enquanto Newmeyer (
1
1980,
2
1986c)
parece ter só comunicado com os simpatizantes e firmes defensores de uma só
fação.
6
Newmeyer (1980: xii), no entanto, sustenta que a sua própria participação
nos eventos da década de 1960 e início de 1970 lhe deu ‘a real advantage’ e que
lhe permitiu “[...] an inside view of the field that would be denied to the more
displaced historian”. Permanece, no entanto, a necessidade de confirmar através de
uma leitura crítica da sua obra se tal é verdade.

4 A ‘revolução chomskyana’ na linguística
Tornou-se um lugar-comum falar de uma ‘revolução chomskyana’ no estudo
da linguagem, com o resultado que poucos, se houver alguns, parariam para pensar
sobre o que o termo ‘revolução’ implica ou é levado a implicar. É interessante notar
que são os não-linguistas em particular (por exemplo, Sklar 1968; Searle 1972)
7

que se referiram a ‘Chomsky’s revolution in linguistics’. Curiosamente, o termo
não pode ser encontrado, por exemplo, em Bierwisch (1971), um linguista notável e
muito cedo firme defensor da gramática transformacional-gerativa. Isto parece
tanto mais surpreendente quando notamos que Malkiel (1969b: 539) falou de The
Structure of Scientific Revolutions (1962) de Kuhn como um ‘sensationally
successful book’. Assim, a ausência do termo nas obras acerca da teoria
transformacional feitas pelos seguidores de Chomsky durante os anos 1960 e 1970
não implica a rejeição destes quanto ao uso da morfologia kuhniana de revoluções
científicas. Bach (1965: 123), curiosamente, refere-se a ‘revolução’ sem mencionar
Kuhn, cujo nome também está conspicuamente ausente do livro de Newmeyer


5
Ainda em 1998, Julia S. Falk (1998: 446), ela própria uma gerativista de ‘la première heure’,
concluiu na resenha de Murray (1994) que “there is no evidence that he [Bloch] did anything more
than any reasonable and responsible editor and teacher might do”.
6
McCawley (1981: 911), que é, por outro lado, bastante crítico do relato de Newmeyer, dá a
impressão errónea de que este tenha, de facto, feito muito uso de entrevistas.
7
Uma declaração bastante precoce sobre uma ‘transformationalist revolution in Linguistics’ partiu,
obviamente, de participantes na ‘revolução’ (veja-se Katz / Bever 1976: 11).

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 181
(1980; mas compare-se a segunda edição de 1986c: 38-39, onde são feitas
referências explícitas a Kuhn). Outros, geralmente linguistas formados na Europa,
embora expostos diretamente à gramática transformacional (p. ex., Meisel 1973;
Anttila 1975; Weydt 1976), lançam dúvidas sobre a ocorrência, no sentido geral do
termo, de uma ‘revolução chomskyana’ no estudo da linguagem.

4.1 Breves observações sobre o conceito de ‘revolução’
A nossa primeira associação ao termo ‘revolução’ é de natureza política;
pensamos em governos a serem derrubados por um golpe de Estado e um sistema
de governo a ser substituído por outro. Herbert Izzo (1976: 51) deu a seguinte
caraterização daquilo a que se refere como ‘revoluções sociais bem sucedidas’:
[They] rewrite history for their own justification [...]. The Soviet example,
though not the first, is the most familiar and one of the most thorough. First
the old order must be condemned en bloc; everything about it must be shown
to have been bad to justify its overthrow and prevent its return. Then any
changes of direction of the new order must be consigned to oblivion. [...]
Finally, it becomes desirable to show that the new order is in reality not so
much new as a return to the correct, traditional ways, from which only the
immediately preceding regime had been a deviation and a usurpation. Along
the way there may have been a return to many features of that same
preceding regime. These will not, however, be represented as regressions but
as new developments.
Para aqueles que observaram a história da linguística transformacional-
gerativa na América do Norte a desenrolar-se nos meados dos anos 1960 e inícios
de 1970, a descrição de Izzo de uma ‘revolução social’ parece aplicar-se muito
bem àquilo que realmente aconteceu (para alguns exemplos de propaganda que
emanaram dos centros deste movimento, veja-se adiante).

4.1.1 Moda?
Hymes (1974a: 48-49) e outros (p. ex., Murray 1980) sugeriram que a chama-
da ‘revolução chomskyana na linguística’ pode ser em grande parte devido a fato-
res sociais que pouco teriam a ver com a teoria e o seu valor inerente, a sua
‘adequação explicativa’, o ‘poder’ do seu dispositivo ‘gerativo’, etc. Maher (1982:
3ss.) associa a história de sucesso da Gramática Gerativa Transformacional
(doravante: GGT) com o mundo da moda, referindo-se à seguinte declaração feita
por Bertrand Russell – no seu prefácio de 1959 à crítica feita por Ernest Gellner
aos wittgensteinianos em Oxford – segundo a qual “the power of fashion is great,
and soon the most cogent arguments fail to convince if they are not in line with the
trend of current opinion” (Gellner 1959: 13). Para apoiar a sua afirmação, Maher
(1982: 4) refere-se a observações feitas mais de cinquenta anos antes pelo
sociólogo americano William Graham Sumner (1840-1910) que observou, no
início do século XX:

182 E.F.K. Koerner
Fashion is by no means trivial. It is the form of the dominance of the group
over the individual, and it is quite often as harmful as beneficial. There is no
arguing with fashion. [...] The authority of fashion is imperative as to
everything which it touches. The sanctions are ridicule and powerlessness.
The dissenter hurts himself [...] (Sumner 1906: 194).
Enquanto uma consideração sobre os efeitos da moda na linguística (como em
qualquer outro caso humano) não deve ser ignorada, acredito que esse aspeto pode
ofuscar algumas das questões ao contrário de as elucidar. É certamente difícil
acreditar que foram exclusivamente as propostas teóricas da GGT que apelaram
aos então jovens estudantes da linguagem que chegaram às universidades durante
os anos 1960 e inícios dos 1970. Newmeyer (1980: 52ss.) apresenta estatísticas,
das quais, uma em particular, a tabela que mostra o crescimento da afiliação dos
membros na LSA, indicam um enorme crescimento da população académica no
período em questão: 1950: 829 membros; 1960: 1 768 membros, e 1970: 4 383
membros, com o pico a ser alcançado em 1971 (4 723 membros). Para Newmeyer,
este crescimento reflete o apelo e a força do ‘paradigma chomskyano’; no entanto,
quando o nível de desenvolvimento esmorece e mostra declínio, ele explica isso
como resultado da imagem sombria da empregabilidade na linguística (Newmeyer
1980: 53). Aqui somos forçados a perguntar: ‘Por que não um reflexo de um
desencanto generalizado com a GGT?’, uma vez que anteriormente Newmeyer
(1980: 52) considerava o aumento de participação na LSA como sendo “[...]
considerably above the average [comparado com que outra disciplina?, EFKK],
suggesting that it was the appeal of transformational generative grammar rather
than economic growth”. Murray (1981: 109) viu as razões para esta expansão
dramática (para além do crescimento generalizado de instituições de ensino
secundário e pós-secundário), naquilo que ele descreve como
[...] the zeitgeist of a rebellious generation coming along at the time of rapid
expansion of the academic sector in North America. The channeling of so
much of the available money to an institution [i. e., o Massachusetts Institute of
Technology, e particularmente o Linguistics Department, EFKK] where it was
astutely used by accomplished academic warriors further enhanced the
attractiveness of a perspective in which the elders were dismissed just when
generational rebellion was particularly prominent in the general culture.
Por outras palavras, a GGT não iria e não poderia ter ganho força da forma
como aconteceu durante a década de 1960 e inícios de 1970, se não tivesse havido
outros, e mais significativos, fatores a concretizar a ‘revolução chomskyana’.

4.1.2 Financiamento?
Mencionamos a questão do financiamento, que Newmeyer (1980: 52, nota 8)
reduziu a algumas linhas numa publicação de 250 páginas dos primeiros 25 anos
(1955-1980) da GGT, mas que, creio eu, teve uma importância diferenciada na
promoção da causa transformacionalista. Ao escrever sobre os efeitos
significativos que o investimento governamental teve na investigação e educação

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 183
para difusão desta doutrina particular da linguística, James McCawley, que fez o
seu doutoramento com Chomsky no MIT, em 1965, e que se manteve sempre
adepto do gerativismo – ainda que apresentando um ponto de vista crítico em
relação a questões específicas, filosóficas ou outras (cf. Koerner 2005f) –,
observou o seguinte:
I maintain that government subsidization of research and education,
regardless of how benevolently and fairly it is administered, increases the
likelihood of scientific revolutions for the worse, since it makes it possible
for a subcommunity to increase its membership drastically without
demonstrating that its intellectual credit so warrants. The kind of
development that I have in mind is illustrated by the rapid growth of
American universities during the late 1950s and 1960s, stimulated by
massive spending by the federal government. This spending made is possible
for many universities to start linguistics programs that otherwise would not
have been started or would not have been started so early, or to expand
existing programs much further than they would otherwise have been
expanded. Given the situation of the early 1960s, it was inevitable that a
large proportion of the new teaching jobs in linguistics would go to
transformational grammarians. In the case of new programs, since at that
time transformational grammar was the kind of linguistics in which it was
most obvious that new and interesting things were going on, many
administrators would prefer to get a transformational grammarian to organize
the new program; in the case of expansion of existing programs, even when
those who had charge of the new funds would not speculate their personal
intellectual capital on the new theory, it was to their advantage to speculate
their newfound monetary capital on it, since if the new theory was going to
become influential, a department would have to offer instruction in it if the
department was to attract students in numbers that were in keeping with its
newfound riches. And with the first couple of bunches of students turned out
by the holders of these new jobs, the membership of the transformational
subcommunity swelled greatly (McCawley 1976a: 25).
Esta extensa citação justifica-se por uma série de razões, principalmente
porque fornece aos leitores não familiarizados alguma informação acerca da
mentalidade e dos modos de operacionalização dos administradores das
universidades norte-americanas. Naturalmente, o leitor informado gostaria de
sublinhar determinadas passagens na citação, comentar certos detalhes e retirar
mais conclusões a partir das observações feitas; mas, em geral, carateriza bem
tanto a mentalidade dos administradores (frequentemente ‘académiques manqués’,
ansiosos por serem vistos como progressistas, pelos seus superiores e os seus ex-
colegas) como a situação particular em que se encontravam, no momento em que
as ideias de Chomsky começaram a ganhar terreno, senão a fama – embora não
exclusivamente por razões diretamente relacionadas com a linguística, como
tentarei argumentar neste artigo. No relato de McCawley parece haver a suspeita
de que o rápido crescimento da GGT pode ter tido algo a ver com uma moda
passageira (cf. as observações de Maher no capítulo 4.1.1 atrás), uma suspeita que
tive durante os meus anos de pós-graduação em linguística numa universidade
norte-americana em finais dos anos 1960.

184 E.F.K. Koerner
4.1.3 Ideologia?
Robert A. Hall, ele próprio um firme ‘estruturalista’ bloomfieldiano, ao
examinar o livro de Newmeyer (1980), menciona outra razão para o aparente
sucesso da GGT, ou seja, que tinha mais a ver com ideologia e menos com a
tentativa honesta de um grupo de linguistas de fornecer uma teoria da
LINGUAGEM
mais adequada – em contraste com uma teoria da
LINGUÍSTICA. Hall (1981: 185)
observa a escolha específica do vocabulário por parte de Newmeyer, por exemplo
quando este relata, no capítulo 2, intitulado “The Chomskyan revolution”
(Newmeyer 1980: 19-60), como decorreram os eventos. Abundam expressões que
sugerem o conflito militar e político, como, por exemplo, ‘campaigner’, ‘old
guard’, ‘rebellion’, ‘revolution’, ‘struggle’, ‘tactic’, ‘defend’, ‘confront’, e ‘win
victories’. Termos político-religiosos não são mais raros, como, ‘charisma’,
‘convert’, ‘hegemony’, ‘win over’ (cf. Newmeyer 1980: 45 e em outras
referências). O capítulo de Newmeyer adequa-se muito bem na caraterização de
Maurice Cranston (1974: 196) para ‘ideologia’:
It is characteristic of ideology both to exalt action and to regard action in
terms of a military analogy. Some observers have pointed out that one has
only to consider the prose style of the founders of most ideologies to be
struck by the military and warlike language that they habitually use,
including words like struggle, resist, march, victory and overcome; the
literature of ideology is replete with martial expressions. In such a view,
commitment to an ideology becomes a form of enlistment so that to become
the adherent of an ideology is to become a combatant or partisan.
Em especial durante os primeiros anos da década de 1970, muitos entusiastas
da GGT falavam de uma revolução na linguística (cf., para além dos mencionados
no início do capítulo 4 atrás: Dingwall 1971: 759; Greene 1972: 189; Yergin
1972). É interessante notar que as publicações mais recentes, que mantêm o
mesmo argumento (p. ex., Smith / Wilson 1979: 10; Newmeyer 1980: 20) já não
fazem uma referência explícita ao livro de Kuhn (1962) sobre as revoluções
científicas, talvez porque as ideias nele contidas aparentavam uma ‘chose acquise’
que já não necessitava de ser demonstrada. Por um acaso, sugeri a existência de
algo como um ‘paradigma chomskyano’ já em 1972 (cf. Koerner 1976: 703),
porque tinha a opinião (e ainda a tenho) de que, com Chomsky e o seu círculo,
fora provocada uma definitiva mudança de ênfase nos objetivos da teoria
linguística, que, pelo menos superficialmente, parecia dramática o suficiente para
se assemelhar aos conceitos disciplinares de ‘paradigma’ e ‘revolução’ de Kuhn.
Estas mudanças na abordagem geral da linguagem e, concomitantemente, da
filosofia da ciência, provavelmente não eram em todos os seus aspetos benéficas
para os estudos linguísticos como um todo. No entanto, não se pode negar que
uma série de propostas, procedimentos de análise e conceitos de argumento
teórico se transformaram em ferramentas do linguista e da perspetiva geral, que
ninguém seriamente interessado na construção de teoria poderá continuar a

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 185
ignorar
8
(contudo, estudiosos linguistas, isto é, aqueles que fazem investigação
empírica em vez de selecionar os dados do trabalho de outras pessoas para
poderem confirmar as suas afirmações teóricas, muito bem puderam trabalhar sem
elas). Por outras palavras, quer queiramos quer não, teremos de concordar que
mudanças notáveis, na atitude do linguista em relação à linguagem e dentro da
própria disciplina da linguística, tiveram lugar durante os últimos cinquenta anos
ou mais, mudanças que um número de pessoas tem comparado a uma ‘revolução’
no sentido kuhniano do termo (cf. Pearson 1978, para uma discussão).
Todavia, podemos perguntar-nos se tais alterações de foco e ênfase, esta
introdução de nova terminologia (muitas vezes ao substituir termos tradicionais
que descrevem o mesmo fenómeno), e esta ‘idealização’ – que Newmeyer (1980:
250) invoca para sustentar a afirmação de que “[...] more has been learned about
the nature of language in the last 25 years [i. e., de 1955 até 1980, EFKK] than in
the previous 2500” – produziram de facto algo como uma revolução na área que
obrigaria, por assim dizer, não apenas a uma nova ferramenta de estudo para cada
linguista, mas também a uma reaprendizagem da ciência. Na verdade, uma análise
mais detalhada do que foi realmente feito por profissionais linguistas (não por
teóricos de poltrona que tendem a ignorar os dados que poderiam refutar as suas
hipóteses) na América do Norte e na Europa durante o mesmo período pode muito
bem trazer à luz o seguinte:
(1) Um número de escolas linguísticas continua a sobreviver (por exemplo, a
Tagmémica, em grande parte associada ao trabalho de Kenneth Lee Pike e os seus
colaboradores, e a Gramática Sistémica, uma abordagem neo-firthiana, liderada
por Michael A. K. Halliday, bem como a Gramática Estratificacional-Cognitiva,
introduzida por Sydney M. Lamb durante a década de 1960); na verdade, várias
dessas escolas têm prosperado nos últimos anos, o que sugere que não tem havido
apenas um quadro teórico abrangente a operar na linguística norte-americana
durante os últimos 50 ou mais anos (como Newmeyer e outros gostariam que
acreditássemos), mas também que o
PARADIGMA promovido pela GGT há muito
perdeu a sua atração por, e em, as mentes de muitos dos linguistas atuais.
(2) A GGT proporcionou a grande nível o desenvolvimento de abordagens
para a linguagem que tentam explicar especificamente aqueles aspetos do estudo
da linguagem (por exemplo, a comunicação humana, o condicionamento social e
uso real da linguagem – não obstante a palestra de Chomsky sobre o último item),
e que o modelo de Chomsky consistentemente eliminou da sua lista de fenómenos
‘interessantes’. Assim, o renascimento do interesse pela análise do discurso, a
teoria dos atos de fala, a pragmática, e várias abordagens sociolinguísticas desde
finais da década de 1960 provavelmente não teriam sido tão acentuados não fosse
o facto de o ‘paradigma’ chomskyano se ter centrado tanto em ‘dados’ abstratos


8
Sobre isto, cf. o conselho de Neil V. Smith (nascido em 1939) no seu Prefácio duma recente
coletânea de artigos de Chomsky “You may not agree with Chomsky’s work, but it would be short-
sighted and unscholarly to ignore it” (Chomsky 2000: v).

186 E.F.K. Koerner
(geralmente inventados pelo analista para apoiar um argumento teórico) distantes
do discurso real, ou o que Labov chamou da ‘linguística realista’.
Em suma, como vai ficar ainda mais evidente com o que se seguirá, parece
que, após uma inspeção mais minuciosa, o termo ‘revolução’ não se aplica adequa-
damente à GGT, se significar que um quadro teórico de como realizar investigação
substitui os quadros anteriores ou concorrentes, como, por exemplo a nova química
de Lavoisier a substituir a teoria do flogisto de Stahl. Apesar de muitas retratações,
a GGT é basicamente um estruturalismo pós-Saussuriano,
9
ainda que Joos (1961:
17) tivesse caraterizado o movimento, que associou ao trabalho de Harris e
Chomsky, “[...] as a heresy within the neo-Saussurean tradition rather than a
competition to it”. A GGT está ainda, do ponto de vista de Joos, excessivamente
preocupada com a ‘langue’, o sistema gramatical subjacente, em detrimento da
‘parole’, o ato de fala real; ou, por outras palavras, com um formalismo abstrato
que diz representar a essência da estrutura de linguagem em vez da análise da
função e utilização da linguagem humana (muitas vezes é esquecido que a
formalização por si só não leva a novas perceções sobre a natureza da linguagem).
No entanto, não se pode negar que muitos e muitas jovens da linguística durante os
anos 1960 e 1970
ACREDITAVAM que estavam a testemunhar uma revolução na
área, e parece que essa crença generalizada (e o entusiasmo associado que os jovens
tendem a gerar) tem sido, como eu defendo, a razão de base para a ‘revolução
chomskyana’ (alguns dos participantes nesta ‘revolução’ com quem tenho falado ao
longo dos últimos trinta ou mais anos ainda hoje ficam com um brilho no olhar
enquanto contam as suas recordações da linguística na década de 1960).
Para fazer jus ao acontecimento histórico, deve lembrar-se que – como
Curtius, que, em 1885,
SENTIU que os neogramáticos tinham embarcado num
percurso que constituiria uma rutura com o passado (cf. Koerner 1981: 168-169) –
havia estudiosos da geração pós-bloomfieldiana que, pelo menos durante os
primeiros anos da década de 1960, consideraram a GGT como um ‘avanço’
(Hockett 1965: 196; embora também o tivesse associado ao nome de Sydney M.
Lamb!). Anteriormente, em 1963, Rulon S. Wells (1919-2008) expressara uma
similar apreensão de mudança quando falou de “some neglected opportunities in
descriptive linguistics”. Wells (1963: 48), porém, dirigiu-se ao assunto com um
pouco mais de cautela:
Whether the change that actually took place – the advent of and eager
reception of the approach called transformation-theory – should be described
as internal or external, as a revision and rehabilitation of D[escriptive]
L[inguistics] or as a displacement of it, is no simple one, for which reason I
save it for another day. Some major change did take place; the episode
ended; and the present paper is a historian’s attempt to explain the change. It
does not, however, purport to explain the advent of transformation-theory
(TT), but only the reception of it. Given the TT-approach was put forward
when it was, why was it taken up in the way it was?


9
De facto, Joseph (1999a) sugeriu que o verdadeiro estruturalismo começa com o trabalho de Chomsky.

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 187
It would be laborious beyond the ambitions of my paper to describe this
way with any great accuracy; it must suffice to say that there arose a very
widespread belief that TT, the successor to DL, could lead linguistics to
fruitful successes where its predecessor had proved unable to do so. My own
judgment as a linguist about such a belief is that mixed in with a solid core of
truth there is much that is false, gratuitous, or misleading. But in the present
paper I try to set aside my own views as a linguist, and to speak only as a
historian of linguistics, without taking sides.
Wells, cujo próprio artigo sobre ‘constituent analysis’ de 1947, pode ser
creditado por ter ido além da mera fase descritiva da linguística pós-
bloomfieldiana, sente que a “[...] norm of pure description [which] was the
Zeitgeist in the thirties and forties” (Wells 1963: 49) é responsável pelo abandono
do meramente descritivo em favor de uma abordagem mais explicativa nos anos
1950 e 1960, e o ponto de viragem da linguística descritiva (DL) para a GGT.
Sydney M. Lamb (nascido em 1929), um linguista teórico da idade de Chomsky,
descobriu que uma das desvantagens dos pós-bloomfieldianos era a excessiva
preocupação destes “[...] with trying to specify procedures of analysis” (Lamb
1967: 414) – Methods in Structural Linguistics (1951a) de Zellig Harris vem de
imediato à mente. Parece, porém, que as questões extralinguísticas (isto é, o que
pode ser chamado de mudanças no clima intelectual) estiveram mais em
consonância com o crescimento da GGT no período do que com os problemas que
afligiam, por vezes, a tendência positivista extrema de análise linguística entre os
sucessores de Bloomfield (veremos no capítulo 4.4 exemplos de como vários
linguistas pós-bloomfieldianos anteciparam muitas ideias básicas mais tarde
associadas exclusivamente a Chomsky).

4.2 Fatores concretos contribuindo para a ‘revolução’ chomskyana
Já referi o ‘clima de opinião’ durante os anos 1960 e os aspetos sociológicos
da relação entre a ‘velha guarda’ e os ‘jovens turcos’. O conflito ocorre
normalmente entre as gerações mas pode ser aumentado e intensificado devido a
causas socioeconómicas e políticas. Por exemplo, o movimento dos direitos civis
dos anos das presidências de Kennedy e Johnson, a oposição ao envolvimento
americano na guerra do Vietname, e outras questões polarizaram as opiniões
divergentes dos mais velhos e dos mais jovens. Estes são fatores externos que
merecem a atenção do historiador de qualquer disciplina, embora provavelmente
mais ainda nas ciências humanas e sociais do que nas chamadas ciências ‘duras’,
ou seja, as ciências naturais, bem como na matemática (embora a introdução da
‘nova matemática’ no sistema educacional nos anos 1960, provavelmente, não
tivesse sido motivada exclusivamente pela superioridade da nova abordagem sobre
a tradicional). No entanto, acredito que as Geisteswissenschaften são geralmente
mais influenciadas por correntes intelectuais de qualquer tipo do que as
Naturwissenschaften, como Dilthey, Rickert e outros notaram há mais de cem
anos. Não obstante ser impossível mapear todas essas esferas de influência dentro
dos limites de um ensaio exploratório, esses fatores externos têm, até agora, sido

188 E.F.K. Koerner
largamente negligenciados pelos historiadores da maioria das disciplinas e,
certamente, aqueles que lidam com a história da linguística.
Há, porém, pelo menos, um fator que pode ser facilmente identificado. Está
relacionado com a aceitação generalizada da GGT durante a década de 1960 e inícios
da década de 1970 – o financiamento de programas universitários durante esse
período. Este assunto já foi referido (veja-se 4.1.2 atrás) e citada uma declaração feita
por James McCawley em 1976 sobre o impacto da National Defense Education Act
(a lei nacional da defesa da educação, aprovada pelo governo dos Estados Unidos em
finais de 1958) sobre a linguística (cf. também Mildenberger 1962). Por sinal,
Newmeyer – que tende a minimizar o papel que tiveram as grandes somas de
dinheiro injetadas em todos os tipos de investigações linguísticas durante a década de
1960 – documentou, num trabalho feito com o seu colega Joseph Emonds em 1971,
que estas verbas, com efeito, constituíram “[...] a great shot-in-the-arm to the field of
linguistics” (Newmeyer / Emonds 1971: 287). Mas já que Newmeyer quer que
acreditemos que o sucesso da linguística de Chomsky esteja exclusivamente ligado
aos seus méritos científicos, a questão do financiamento surge apenas numa única
nota de rodapé dentro das 250 páginas do seu livro Linguistic Theory in America.
10

No seu livro The Politics of Linguistics (Newmeyer 1986b), não se encontra
nenhuma referência a este artigo bastante revelador.
De seguida, vou tentar demonstrar a minha questão com a ajuda de apenas
três exemplos, embora possam ser multiplicados quase ad libitum. Um desses é a
declaração feita pelo próprio Chomsky numa entrevista em 1971; os outros dois
são reconhecimentos públicos de financiamento. Todos três sugerem o extenso
papel que o aspeto financeiro desempenhou na difusão da linguística em geral e no
sucesso da GGT em particular.
Quando questionado sobre a questão do financiamento e a razão pela qual
Syntactic Structures e muitas outras das suas obras continham reconhecimentos
pelo apoio de agências do Departamento de Defesa dos EUA, Chomsky respondeu:
Ever since the Second World War, the Defense Department has been the
main channel for the support of the universities, because Congress and
society as a whole have been unwilling to provide adequate public funds [...].
Luckily, Congress doesn’t look too closely at the Defense Department
budget, and the Defense Department, which is a vast and complex
organization, doesn’t look closely at the projects it supports – its right hand
doesn’t know what its left hand is doing.
11
Until 1969, more than half the


10
Cf. Newmeyer (1980: 52, nota 8): “Newmeyer and Emonds 1971 have discussed at length the
funding of linguistic research in the United States. The point is made that while, of course, the source
of funding is irrelevant to the ultimate
CORRECTNESS of a theory, this is by no means irrelevant to a
(partial) explanation of one’s
ACCEPTANCE. It is tempting to speculate on the speed with which
transformational grammar would have won general acceptance had Chomsky and Halle’s students
had to contend with today’s more austere conditions, in which not just military, but ALL sources of
funding have been sharply curtailed, and the number of new positions has been declining yearly.”
11
Pode duvidar-se desta suposição e estar inclinado a acreditar que a abordagem reducionista de
Chomsky em relação à linguagem e a natureza altamente operacional da sua teoria podem ter apelado

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 189
M.I.T. budget came from the Defense Department, but this funding at M.I.T.
is a bookkeeping trick. Although I’m a full-time teacher, M.I.T. pays only
thirty or forty per cent of my salary. The rest comes from other sources –
most of it from the Defense Department. But I get the money through M.I.T.
(Mehta 1971: 193).
Não estou a citar Chomsky para ‘levantar o dedo indicador moral’ (como
dizemos em alemão), mas para dar uma ideia do enorme envolvimento não-
académico no financiamento da investigação, incluindo o trabalho não visível
(pelo menos para um estranho à causa) ligado aos interesses militares
(curiosamente, Newmeyer / Emonds 1971: 301 observaram que o “[...] result of
the reliance on outside funding agencies is the occasional deliberate falsification of
the nature of linguistic work”). Convém lembrar que um dos principais projetos do
Departamento de Defesa durante a década de 1950 foi a tradução automática e o
MIT tinha grande interesse nele (cf. Locke / Booth 1955; Yngve 2000). Morris
Halle, apoiante e aliado de longa data de Chomsky, por exemplo, reconheceu o
tipo de apoio que existia nessa altura:
During the past eight years [i. e., desde 1951, EFKK] it has been my great
and good fortune to be associated with the Research Laboratory of
Electronics, M.I.T. This unique research organization has been an ideal
environment in which to carry on investigations that overlap a number of
traditional boundaries between disciplines (Halle 1959: 15).
Escusado será acrescentar que Halle, tal como Chomsky, estava numa posição
relativamente protegida durante os anos 1950 (quem, com apenas um grau de
Mestrado como referência, conseguiria nos dias de hoje obter uma bolsa de
estudos de quatro anos, sem amarras, para prosseguir uma investigação
independente, e quem estaria empregado, vários anos antes de completar o seu
doutoramento, num cargo de investigador no MIT?). Que os fundos que foram
recebidos pelo Laboratório de Pesquisa de Eletrónica e mais tarde também pelo
Departamento de Linguística, fundado no MIT em 1961, também foram utilizados
para fins de proselitismo, pode ser deduzido a partir do número de agradecimentos
ao apoio por parte dos funcionários na linguística. Que pelo menos parte desses
recursos era destinada a converter os jovens estudantes à nova fé pode ser inferido
a partir do reconhecimento impresso na parte inferior da aclamada ‘crítica’ de
Syntactic Structures feita por Robert Lees (1957: 375), escrita e publicada
enquanto Lees era colaborador próximo e, para todos os efeitos, ainda doutorando
de Chomsky no MIT (em 1960 Lees concluiu a sua dissertação, publicada logo
após a sua conclusão). Devido ao apadrinhamento de Bernard Bloch (cf. Murray
1980), o artigo promocional feito por Lees para divulgar as ideias de Chomsky
apareceu em Language (ainda hoje a revista linguística de maior circulação do
mundo), quase ao mesmo tempo que foi publicado o próprio livro Syntactic


a certos administradores no Pentágono (e em outros lugares) que preferem lidar com diagramas e
folhas de programa do que com o desleixo de grande parte do trabalho linguístico regular.

190 E.F.K. Koerner
Structures.
12
Em circunstâncias normais, uma revisão crítica levaria pelo menos
um ano para aparecer na imprensa, após a publicação de um livro; também se pode
colocar a questão se Lees terá sido de facto o único autor da ‘crítica’, se
considerarmos a sua situação de emprego no MIT à data. Mas, mesmo que os
argumentos tivessem sido todos do próprio Lees, como Chomsky enfatiza numa
carta ao presente escritor ao comentar Koerner (1984c), pode pelo menos assumir-
se que Chomsky – e, provavelmente, Halle também – tenham visto e aprovado o
texto antes de este ser enviado para Bloch (que Lees tinha publicado um artigo na
Language já em 1953, e, assim, estabeleceu um contacto prévio com Bloch, não
pode servir de contra-argumento convincente para o conluio).
A questão da ‘retórica revolucionária’ ocupar-nos-á no capítulo 4.3 (adiante);
no entanto, no presente contexto, pode referir-se nesta área um artigo experimental
de Jerrold J. Katz intitulado “Mentalism in linguistics” (1964). Juntamente com
Constituent Structure de Paul M. Postal do mesmo ano, preparou o palco para a
polémica dos gerativistas contra os ditos taxonomistas (um termo criado por
Chomsky 1964b: 11), ou, como Voegelin / Voegelin (1963: 12 -13) caraterizaram o
fenómeno, o artigo de Katz embarcou na ‘posição controversa’ com vista a
estabelecer a ‘postura de eclipse’. Chomsky tinha dado o sinal para este tipo de
ataque em 1957 (cf. Voegelin 1958: 229). É interessante notar que, na peça de Katz
não era a
LINGUÍSTICA dos estudiosos anteriores que era atacada, mas sim o que
Katz achava ser a visão da ciência destes. Por outras palavras, questões ideológicas
parecem ter oferecido um fórum mais promissor para o seu ataque do que
propriamente as análises linguísticas dos bloomfieldianos com quem o próprio
Chomsky tinha aprendido a sua arte.
13
O trabalho de Katz sobre “Mentalism in
linguistics”, que Bloch, o fiel bloomfieldiano, aceitara para publicação na Language,
embora contivesse muito pouco de investigação, tem o seguinte agradecimento:
This work was supported in part by the U.S. Army, Navy, and Air Force under
Contract DA36-039-AMC-03200(E); in part by the U.S. Air Force, ESD
Contract AF 19(628)-2887; and in part by the National Science Foundation
(Grant G-16526), the National Institutes of Health (Grant MH-04737-03), and


12
O próprio Chomsky (1975: 3) observou que “there would have been little notice in the profession if
it had not been for a provocative and extensive review article by Robert Lees that appeared almost
simultaneously with the publication of S[yntactic] S[tructures]” (ênfase adicionado: EFKK).
Naturalmente, Chomsky não indica como isso aconteceu; para mais detalhes, veja-se Murray (1980:
79-81, e, especialmente nota de rodapé 55 na pág. 87).
13
Neste contexto, é quase curioso ver a dívida de Chomsky ao trabalho de Harris reconhecida numa
história da linguística feita por um antigo adepto da GGT (cf. Sampson 1980: 134-138 passim). Na
verdade, Chomsky (1975: 41-45), ao escrever sobre o conceito de ‘transformação gramatical’ de
Harris e as suas tentativas de análise do discurso, reconhece a sua aproximação à linguística através
de Harris nesta e noutras situações (por exemplo, Mehta 1971: 187-188), embora sempre ao enfatizar
as diferenças entre o seu ponto de vista e o ponto de vista de Harris. Noutra entrevista (Sklar 1968:
215), Chomsky indicou que a sua aproximação à linguística tinha começado ao rever a obra Methods
of Structural Linguistics de Harris, uma edição manuscrita que estava em circulação pelo menos
desde 1946 (tinha sido concluída no início de 1947, mas só fora publicada, em Chicago, em 1951).

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 191
the National Aeronautics and Space Administration (Grant NsG-496). This
paper, although based on work sponsored in part by the U.S. Air Force, has not
been approved or disapproved by that agency (Katz 1964: 124, nota *).
Além de agradecimentos públicos, como estes, outros documentos (por
exemplo, o relatório anual da National Science Foundation, em Washington D.C.)
poderiam ser citados para mostrar a magnitude do apoio financeiro recebido pelas
principais universidades e, em particular, pelo Massachusetts Institute of
Technology (MIT), que construiu o seu brilhante Departamento de Linguística com
base num modesto Departamento de Línguas Modernas, graças às grandes somas
de dinheiro que fluíram aos seus cofres durante os anos 1960 e inícios de 1970.
Embora seja injusto dizer que o dinheiro por si só tornou possível a história de
sucesso da GGT – manter esse ponto de vista significaria negar a existência do
engenho e da criatividade humana (não no sentido chomskyano, nota bene!) –
todos os investigadores sabem da importância do financiamento para qualquer
projeto que ele / ela possa conceber.

4.3 A retórica da revolução
Todos os que viveram a linguística norte-americana no período da década de
1960 e inícios da década de 1970 vão recordar casos – em encontros profissionais,
congressos nacionais e internacionais, nos institutos de linguística, patrocinados
pela LSA, bem como as de outras associações e instituições – onde a propaganda
de um tipo ou outro foi feita em favor da abordagem ‘radicalmente nova’ à análise
linguística da GGT. Na verdade, acredito que muitos estudantes da linguística,
senão a maioria, ficaram contentes por ver os ditos estudiosos canónicos a serem
atacados por membros da geração mais jovem (veja-se a ilustração abaixo). Muitos
estudantes, provenientes da Europa em meados ou finais dos anos 1960,
geralmente, depois de lá terem obtido pelo menos o primeiro diploma universitário,
optaram pela nova teoria; nunca poderiam ser cativados pelos modelos de análise
da linguagem fornecidos por Bloch, Harris, Trager, Smith e outros. Mas sentiam
que poderiam associar-se facilmente às ideias que pareciam remontar a Descartes,
Port-Royal
, e Humboldt. Pode duvidar-se que estes jovens europeus tenham
considerado a GGT particularmente revolucionária; na verdade, muitos deles
depressa se aperceberam que a alegada visão ‘mentalista’ da linguagem teve pouco
efeito sobre a prática real, que mantinha muito do anterior tipo de manipulação de
dados em conformidade com a regra prescrita. Para eles, provavelmente, não terá
parecido muito diferente dos procedimentos anteriormente estigmatizados como
‘taxonómicos’, ‘mecanicistas’ e ‘desinteressantes’. Muitos deles abandonaram a
GGT poucos anos depois de voltarem à Europa. A atitude mais crítica de muitos
estudantes europeus (por exemplo, Anttila 1975; Meisel 1973) sugere que, para
entender a história de sucesso da GGT, durante os anos 1960 e 1970, será preciso ir
além do quadro de referências técnico da teoria e recapturar, tanto quanto possível,
o ambiente geral em que esta foi proposta (Sobre a ‘retórica linguística’ veja-se
também a análise bastante reveladora de Paul Postal 1988).

192 E.F.K. Koerner
A fim de traçar este clima intelectual na sua totalidade, o historiógrafo teria
que entrevistar os participantes das discussões realizadas durante o período (como
foi feito por R. A. Harris 1993b; Murray 1994 e Huck / Goldsmith 1995),
especialmente, nas reuniões públicas que foram consideradas como mais
importantes pelos estrategas de ‘modern linguistics’ (um termo querido ao
discurso da GGT (cf. Smith / Wilson 1979). Estas reuniões profissionais incluem o
Ninth International Congress of Linguists, realizado em Cambridge,
Massachusetts, em agosto de 1962, e vários outros encontros na América do Norte
a partir daí, especialmente as reuniões semestrais/ semianuais da LSA (até à
década de 1980), que, como sabemos, forneceu fóruns úteis para debates públicos
e, até mesmo, para ataques contra as opiniões dos que não se curvavam perante a
nova teoria. Isto é admitido pelos adeptos da escola de Chomsky (cf. as referências
aos relatos de Newmeyer), e não precisa documentação adicional no presente
trabalho. Em vez disso, gostaria de levantar algumas questões relativamente ao
Ninth International Congress de 1962, realizado em Harvard e no MIT (e, pela
primeira vez na história desta organização, fora da Europa).
Terá sido realmente “sheer coincidence”, como afirma Newmeyer (1980: 51),
que o Congresso teve lugar em Cambridge, Massachusetts, com Morris Halle e
William N. Locke, o então presidente do Departamento de Línguas Modernas do
MIT, na comissão organizadora local? (aliás, Locke também ocupou o cargo de
secretário geral do Congresso e Halle o cargo de secretário da comissão executiva,
de acordo com as informações fornecidas em Lunt 1964: v). E o que aconteceu com
Joshua Whatmough (1897-1964), de Harvard, que “[...] was the chief figure in
securing the invitation for the 9th International Congress to meet in the United
States, and who was instrumental in obtaining two substantial grants for support of
that congress” (como relata Eric P. Hamp 1966: 622)?
14
E porque é que Zellig
Harris recusou o convite feito para efetuar uma das cinco principais apresentações a
serem feitas nas sessões plenárias do Congresso? (os outros quatro intelectuais,
Jerzy Kuryłowicz, Émile Benveniste, André Martinet e Nikolaj D. Andreev, tinham
entre 52 e 66 anos de idade). O facto é que Chomsky, com menos de 35 anos de
idade e sem qualquer exposição internacional anterior, recebeu a posição não
ocupada pelo seu antigo professor. Foi acidental ser Roman Jakobson, com quem
Halle tinha colaborado na investigação fonológica desde finais da década de 1940 e
completado o seu doutoramento em Harvard em 1955, quem apresentou Chomsky
aos participantes do Congresso como uma estrela em ascensão?
15
(uma indicação de


14
Por acaso, Whatmough, professor de filologia comparativa em Harvard, tinha sido originalmente
escolhido como Presidente do congresso, mas, como indicam os Proceedings (1964), acabou por ser
substituído por Einar Haugen (que na época ainda estava na Universidade de Wisconsin). O nome de
Whatmough nem sequer aparece na lista dos participantes do congresso (cf. Lunt 1964: 1145-1171).
Ficou, assim, efetivamente eliminado do registo histórico.
15
O Professor Johann Knobloch, que participou no Congresso de 1962, contou-me quando apresentei
um trabalho sobre o presente tema, em 1982, na Universidade de Bonn, que, naquela altura, sentira
que estava a testemunhar a ‘entronização’ de Noam Chomsky.

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 193
quanto Chomsky devia a Jakobson pode ser concluída a partir do seu próprio
testemunho em A Tribute to Roman Jakobson, publicado em 1983).
A “Logical basis of linguistic theory” de Chomsky foi de longe a mais longa
das cinco plenárias. Foi colocada na quinta e última das plenárias (aparentemente
por respeito pela posição internacional dos outros quatro oradores), mas tinha 62
páginas na publicação dos Proceedings em comparação com as 22 (do artigo de
Kuryłowicz) e 10 páginas (de cada uma das apresentações dos restantes três
oradores). De igual forma, a discussão em torno do artigo de Chomsky ocupou 30
páginas em contraste com as 5 a 10 páginas para os outros quatro oradores (a com-
paração entre os Preprints do Congresso – editados pelo próprio Morris Halle – e os
Proceedings editados por outro ex-aluno de Jakobson, Horace Gray Lunt (1918-
2010), revela que foi dada uma oportunidade ilimitada a Chomsky subsequente ao
Congresso para expandir os seus pontos de vista e para responder a qualquer das
objeções levantadas nas discussões e por ele consideradas relevantes).
16

Também é interessante observar que foi neste Congresso que contou com a
participação de cerca de 950 investigadores de todo o mundo, especialmente da
Europa,
17
que Chomsky falou pela primeira vez sobre Saussure, Humboldt e da
gramática de Port-Royal, sempre ao tentar demonstrar o quanto a sua própria teoria
tinha em comum com essas tradições consagradas na Europa dos séculos XVII ao
XIX. Acredito que foi neste bem orquestrado Congresso que o apelo de Chomsky à
tradição ‘racionalista’ subjacente às suas ideias linguísticas atraiu pela primeira vez
a atenção de muitos europeus para a sua obra (antes de 1962 – o ano em que o
Syntactic Structures foi reeditado pela primeira vez, evidentemente, para o
International Congress – poucos europeus conheceriam Chomsky). Murray (1980)
parece ter sido um dos primeiros estudiosos a dedicar especial atenção às manobras
político-sociais do grupo da GGT em torno de Chomsky e do seu primeiro e
duradouro aliado, Morris Halle. Foi dele (Murray 1980: 88, nota 85) que eu tirei a
ideia de ‘retórica da revolução’, sobre a qual gostaria de dizer algumas coisas a
seguir. Na verdade, o papel de Halle na promoção de Noam Chomsky e da GGT
deve ser cuidadosamente examinado (cf. Koerner 2005c); o seu talento como
organizador e administrador são reconhecidos por Newmeyer (1980: 39), que,
infelizmente, não diz nada sobre Halle enquanto político académico. No entanto,
enquanto professor visitante no MIT, na altura, recorda que, na primavera e início


16
Note-se que o artigo de Chomsky no Congresso não era de forma alguma o único a promover a
GGT; as apresentações de William S.-Y. Wang, Samuel R. Levin, Paul M. Postal, Emmon Bach,
Paul Schachter, e os outros também o fizeram (cf. Lunt 1964: 191-202, 308-314, 346-355, 672-677,
692-692, por esta ordem).
17
Depois da minha apresentação sobre este assunto na Universidade de Viena em 16 de dezembro de
1982, o Prof. Wolfgang U. Dressler, que foi o presidente do International Congress de 1977,
comentou que, de acordo com as suas informações, nunca tinha havido tanto dinheiro disponível para
um congresso como para aquele realizado em Cambridge, Massachusetts, em 1962, e que
provavelmente nunca mais haveria tanto dinheiro disponível no futuro. Segundo ele, foram pagas as
despesas de viagem a centenas (!) de estudiosos estrangeiros pelos organizadores do congresso.

194 E.F.K. Koerner
do verão de 1962, antes da realização do International Congress (que teve lugar de
27 a 31 agosto), ele estava “watching Morris Halle plot as if he were Lenin in
Zurich” (John Gumperz numa entrevista de 1977 com Stephen Murray).
Podemos prescindir aqui de uma análise do que Murray apelidou de as
‘publishing woes’ de Chomsky (sobre isto, veja-se Murray 1999) e o mito
generalizado sobre o isolamento intelectual do jovem Chomsky na década de
1950, uma afirmação que não se cansa de reiterar (cf. Sklar 1968: 214; Chomsky
1979b: 131; 1982b: 42-43). Por acaso, e ao contrário do que têm dito Newmeyer
(1980: 34-35) e outros, Murray (1980, 1981) estabeleceu de forma convincente
que apenas um único artigo de Chomsky foi rejeitado, e este por André Martinet
(1908-1999), o então editor da revista Word, isto apesar da firme recomendação de
Uriel Weinreich (1926-1967), o editor associado da revista na época (cf. Murray
1980: 77) e das súplicas de Jakobson para Martinet recuar na sua decisão.
18
Mas
então nem a revista nem o editor alinharam com o modelo bloomfieldiano do
estruturalismo que é a pedra angular da linguística de Chomsky. Language, o
órgão oficial da LSA, e com esta, o seu editor de longa data, Bernard Bloch (1907-
1965), apoiaram Chomsky de todas as maneiras possíveis. Observações
semelhantes poderiam ser feitas acerca da publicação dos livros de Chomsky;
considere-se a publicação de Murray (1980: 76-77; 1999) sobre o destino do livro
The Logical Structure of Linguistic Theory, que o autor entregou para publicação
cerca de vinte anos depois de ter sido escrito, embora tivessem sido feitas ofertas
anteriores para publicá-lo (veja-se também o relato do próprio Chomsky sobre isto
1975: 3). Como pode ser visto na bibliografia de Chomsky, publicou artigos e
críticas em todos os meios de publicação reconhecidos da área, especialmente em
Language e no International Journal of American Linguistics (acrónimo: IJAL),
mas também em Word (cf. Chomsky 1961) de 1954 a 1961 (cf. Koerner / Tajima
1986: 3-13 para mais informação).
Outro aspeto importante da história de sucesso da GGT, durante a década de
1960 teve pouco a ver com erudição. Newmeyer (1980: 50), que considerou o zelo


18
O espólio de Roman Jakobson no MIT (Caixa 44, pasta 12) contém uma cópia da carta de
Jakobson a Martinet, datada de 28 de outubro de 1953, que traz a seguinte passagem (Jakobson era
editor associado da Word na altura):
I’d like also to bring to your attention Noam Chomsky, who has the high
tribute of being Junior Fellow of Harvard. Both Harris and the outstanding
logician Goodman (Penn), as well as our Quine, consider him as a
remarkable thinker in linguistics and logic. He was very unhappy about your
rejection of his paper, which on my recommendation he submitted to you for
Word. I think, however, that for the sake of understandability to the average
linguist, it was useful, as you suggested, to retouch this indeed valuable piece
of work. Now that he has done it, may I again bring his study to your
attention. I am sure that Quine and Harris will fully support my
recommendation and I know that you in your turn find these problems as
important to be raised.

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 195
uma caraterística admirável por parte dos jovens adeptos da GGT, descreve-o nos
seguintes termos:
The missionary zeal with which “the other guys”
19
were attacked may have
led some linguists, along with Wallace Chafe (1970), to be “repelled by the
arrogance with which [the generativists’] ideas were propounded [p.2],” but
overall the effect was positive. Seeing the leaders of the field constantly on
the defensive at every professional meeting helped recruit younger linguists
far more successfully and rapidly than would have been the case if the debate
had been confined to the journals. [Robert Benjamin] Lees and [Paul Martin]
Postal, in particular, became legends as a result of their uncompromising
attacks on every structuralist [i.e., non-GGT]-oriented paper at every
meeting. [parênteses retos no original, EFKK]
Newmeyer sugere que tanto Chomsky como Morris Halle incentivavam os
estudantes a este tipo de atividade agressiva e claramente polémica que frequente-
mente se transformava em ataques ad-hominem (cf. também Chomsky / Halle
1965); mas admite que poderá ter havido alguns excessos:
The combative spirit may have gotten a bit out of hand at times, as even
undergraduate advocates of the theory such as Thomas Bever and James
Fidelholtz got into the act, embarrassing their teachers as they ruthlessly lit
into linguists old enough to be their grandparents (Newmeyer 1980: 50-51).
Foi nas publicações e, em particular, nos debates públicos dos seguidores da
GGT que a retórica da revolução, a pretensão da novidade, ‘criatividade’ e
originalidade vieram à superfície, juntamente com a alegação de falta de
compreensão e apoio por parte da geração mais antiga de linguistas. Murray
(1980; 1994: 228-235) mostrou, pelo contrário, que o apoio dos académicos mais
velhos era na verdade acessível. Por exemplo, Chomsky foi convidado duas vezes,
em 1958 e 1959, para expor as suas teorias em congressos sobre a estrutura do
inglês, realizados na Universidade do Texas em Austin. Se, no entanto,
acreditarmos em Newmeyer (1980: 46), Archibald Hill (1902-1992), o
organizador e anfitrião destes congressos, convidou Chomsky somente para “[...]
confronting it [i.e., a GGT, EFKK] directly with the intent of snuffing it out before
any serious damage could be done [...]” ao estruturalismo bloomfieldiano.
Qualquer um familiarizado com Hill como pessoa achará isto difícil de acreditar, e
todos os interessados em verificar o que aconteceu no Congresso de 1958 poderão
ler o debate fielmente transcrito após a apresentação de cada comunicação. De
acordo com Newmeyer (1980: 35):


19
Sampson (1980: 252, nota 12) relata que “the course which Halle’s and Chomsky’s department
offers on non-Chomskyan linguistics [...] is popularly known, by staff and students alike as ‘The Bad
Guys’. Obviously the name is not intended [to be taken] too seriously, but it is indicative [of their
general attitude towards the ideas of others displayed at MIT]” [completo aqui a frase elíptica de
Sampson, EFKK].

196 E.F.K. Koerner
Here we can see the history documented as nowhere else – Chomsky, the
enfant terrible, taking on some of the giants of the field and making them
look like rather confused students in a beginning linguistics course.
Pessoalmente, não observei qualquer ‘gigante’ na lista de oradores, mas fica
claro pelos Proceedings (Hill 1962) que Chomsky estava pouco interessado em
acordo; em vez disso, procurou maneiras de tornar as suas ideias controversas,
porque, nas suas palavras “they go to the root of the problem and give radical
answers”, como mais tarde afirmou numa entrevista onde expôs a sua atitude geral
da seguinte forma:
Even before I came to M.I.T. [i.e., em 1955, EFKK], I was told that my work
would arouse much less antagonism if I didn’t always couple my
presentation of transformational grammar with a sweeping attack on
empiricists and behaviorists and on other linguists. A lot of kind older people
who were well disposed toward me told me I should stick to my own work
and leave other people alone. But that struck me as an anti-intellectual
counsel (Mehta 1971: 190-191).
É evidente a partir desta declaração (bem como de outras feitas por Chomsky
tanto em público como em privado) que a nova teoria era para ser apresentada de
uma forma polémica. No entanto, durante os anos 1950 e mesmo até meados dos
anos 1960, a maioria dos linguistas americanos da geração mais velha aceitavam
bem não só Chomsky como pessoa como também a sua teoria. Os descritivistas
bloomfieldianos sentiam que a teoria sintática de Chomsky aumentava os seus
próprios esforços, e o facto de ele ter feito o seu doutoramento com Zellig Harris,
20

na Universidade de Pennsylvania persuadiu-os a acreditar que ele era um deles.
Não obstante os ataques de Chomsky e dos seus colegas à Velha Guarda, a atitude
bastante positiva da velha geração de estudiosos (que incluía não só os
‘bloomfieldianos mas também os ‘sapirianos’) não mudou visivelmente até Halle e
Chomsky começarem a atacar o trabalho destes sobre fonologia, uma área


20
Na verdade, esta afirmação requer alteração. Chomsky tinha ido para Harvard logo após a
conclusão do seu mestrado em 1951, e não se pode propriamente dizer que Harris tivesse
supervisionado a sua tese de doutoramento. O que realmente aconteceu foi recentemente narrado pelo
próprio Chomsky. Em abril de 1955, foi recrutado para o Exército dos EUA:
I was 1-A. I was going to be drafted right away. I figured I’d try to get myself
a six-week deferment until the middle of June, so I applied for a Ph.D. I asked
Harris and Goodman, who were still at Penn, if they would mind if I re-
registered – I had not been registered at Penn in four years. I just handed a
chapter of what I was working on for a thesis, and they sent me some
questions via mail, which I wrote inadequate [sic] answers to – that was my
exams. I got the six-week deferment, and I got my Ph.D. (Hughes 2001: 41).
Como resultado, Chomsky foi dispensado do serviço militar. O tratamento diferenciado da defesa da tese
de Chomsky também explica porque a dissertação traz apenas a assinatura de Zellig Harris, tanto como
orientador como presidente da comissão, e não de outra pessoa como seria o procedimento regular.

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 197
tipicamente ignorada na investigação sobre a GGT feita por Newmeyer (1980).
21

Podemos referir a troca de opiniões entre Householder (1965) e Chomsky / Halle
(1965), bem como o veredicto de Hockett (1968a: 3) sobre a “Chomskyan-Hallean
‘phonology’”, que, na sua opinião, estava “completely bankrupt”. Já anteriormente,
Hockett tinha indicado as suas reações ao estilo dos ‘jovens turcos’ como Lees:
We do not enjoy being told that we are fools. We can shrug off an
imprecation from a religious fanatic, because it does not particularly worry us
that every such nut is sure he holds the only key to salvation. But when a
respected colleague holds our cherished opinions up to ridicule, there is
always the sneaking suspicion that he may be right (Hockett 1965: 187).
Embora Hockett se estivesse a referir à revisão crítica de Lees de Syntactic
Structures e às observações introdutórias que Lees tinha feito na sua Grammar of
English Nominalizations (1960), o principal ponto de discórdia foi a fonologia e o
conceito de fonema, como destacou Murray (1981: 110-111); compare-se a
observação de Archibald A. Hill:
I think that if one can speak of partial survival [in the revolution of
Chomskyan and post-Chomskyan linguistics], I have partially survived it.
[...]. I could stay with the Transformationalists pretty well, until they attacked
my darling, the phoneme. I will never be a complete transformationalist
because I am still a phonemicist (Hill 1980: 75).
A declaração de Hill é um documento importante para o historiador da
linguística, pois dissipa o mito amplamente aceite de que foi o trabalho inicial
sobre a sintaxe que tinha revolucionado a linguística (e antagonizado a geração
mais velha). Note-se a afirmação de Bierwisch (1971: 45): “When Chomsky
published Syntactic Structures in 1957, structural linguistics entered a new
phase”
22
. Newmeyer vai mais além, ao tentar estabelecer que, de facto, uma
revolução estava em curso e que tinha começado em 1955, quando Chomsky
completou o seu “[...] truly incredible work of the highest degree of creativity
[...]”, ou seja, o seu estudo The Logical Structure of Linguistic Theory, que “[...]
completely shattered the prevailing structuralist conception of linguistic theory”


21
No prefácio do seu livro, Newmeyer (1980: xi) afirma: “In fact, there is no discussion of
developments in phonology since the early 1960s”. Para além da sugestão de um dos seus colegas (da
Universidade de Washington, Seattle) de que Newmeyer não saberia o suficiente sobre a matéria para
escrever sobre a sua evolução, é um facto consumado que os volumes de artigos coletivos sobre a
‘linguística gerativa’, pelo menos os que foram publicados durante a década de 1970, se inclinam
fortemente na direção da fonologia, com poucas contribuições dedicadas à sintaxe. Isto pode ter
mudado um pouco desde o início dos anos 1980, quando a abordagem Government-and-Binding se
popularizou entre a nova geração de linguistas preparados pelo MIT, Amherst, UCLA, USC, e outros
lugares (p. ex., a Universidade do Arizona). – A história da fonologia de Anderson (1985), embora
não isenta de preconceitos gerativistas, foi considerada muito mais equilibrada do que o tratamento
que Newmeyer (1980) dá à sintaxe (cf. Howell 1986).
22
Tendo em vista a tentativa de alguns no sentido de caraterizar Syntactic Structures como a obra que
inaugurou a revolução de Chomsky na área científica, esta observação de Bierwisch é importante.

198 E.F.K. Koerner
(Newmeyer 1980: 35). Newmeyer não apresenta muitas provas para sustentar a
sua alegação, algo que seria difícil de fazer, já que este trabalho volumoso foi
publicado apenas vinte anos mais tarde (Chomsky 1975). No seu artigo sobre a
‘revolução chomskyana’, Newmeyer (1986a: 8) admite que Bernard Bloch tinha
sido, “[...] arguably the most influential linguist of the period, concretely abetted
Chomsky and his theory in a number of ways”, como Murray (1980) tinha
claramente documentado anteriormente (veja-se também Newmeyer 1980: 47-48,
para uma anterior indicação do apoio de Bloch à GGT).
De facto, em meados dos anos 1960, os meandros da linguística norte-
americana eram muito parecidos com a caraterização que Sydney Lamb deu na
sua revisão crítica de Current Issues in Linguistic Theory (Chomsky 1964b) e
Aspects of the Theory of Syntax (Chomsky 1965):
The prevailing attitudes are of two different types. Older-generation linguists,
upon encountering some of these pages, will stare with incredulity and no
little irritation at the distortions and misunderstandings of their ideas and
practices and those of their colleagues; while students who never knew what
neo-Bloomfieldian linguistics was really like, and those from fields outside
linguistics, are led to the false impression that all linguists before Chomsky
(except, of course, Humboldt, Sapir, and a few other candidates for canoni-
zation) were hopelessly misguided bumblers, from whose inept clutches
Chomsky has heroically rescued the field of linguistics (Lamb 1967: 414).
Sem dúvida um grande número, se não a maioria, dos doutorandos que
chegaram ao MIT durante a década de 1960 vieram de áreas fora da linguística,
tais como a química (por exemplo, Robert B. Lees, James A. Foley), a matemática
(por exemplo, James D. McCawley, Barbara Hall Partee, Joseph Emonds) e outras
ciências (por exemplo, D. Terence Langendoen, Sc.B., MIT, 1961) e, como
resultado, não teriam tido nenhuma exposição prévia nem nenhum compromisso
teórico prévio dentro da linguística, para promover esta visão das coisas, como
descrita por Lamb.

4.4 Continuidade e / ou descontinuidade
É interessante notar que Newmeyer, que tentou tão arduamente estabelecer
algo como uma ‘rupture épistémologique’ (Bachelard) entre as teorias de
Chomsky e as dos seus antecessores imediatos, refere-se a dois artigos de Harris e
Hockett, publicados em 1954, que contêm declarações que me parecem muito
‘chomskyanas’. No entanto, de acordo com Newmeyer (1980: 37), essas
declarações devem ser consideradas como incaraterísticas do trabalho desses dois
teóricos. Presumo que ele quereria dizer que eles eram Entgleisungen intelectuais,
um deslize acidental da pena, que, como Newmeyer mantém, “[...] clashed head-
on with their usual methodological assumptions” e que, portanto, “it is not
surprising that they did not develop them”. Embora seja verdade que nem Harris
nem Hockett desenvolveram o modelo gerativo agora associado ao nome de
Chomsky, o contexto em que essas ideias foram apresentadas indica claramente

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 199
que eram tudo menos lapsos mentais. É óbvio, porém, que aqueles que
sublinhavam a descontinuidade em vez da continuidade no desenvolvimento da
linguística americana durante os finais da década de 1950 gostariam de ver a
situação dessa forma. Para responder a esta questão da visão teórica destes,
inspecionaremos os dois artigos de 1954 de Harris e Hockett separadamente, bem
como as declarações prévias desses dois estudiosos, à luz da tentativa de
Newmeyer de fixar a data da origem da GGT por volta do ano 1951, i.e., a data da
tese de mestrado de Chomsky (Newmeyer 1986a: 5, nota 4). Neste sentido, poderá
ser interessante ler que o George Lakoff (1971: 267-268), ele próprio um dos
primeiros aderentes à ‘linguística moderna’, considerava pelo menos a fase inicial
da GGT como “[...] a natural outgrowth of American structural linguistics”.

4.4.1 Harris
O artigo de Zellig S. Harris de 1954 é intitulado “Transfer grammar” (a
alteração terminológica de ‘gramática transferencial’ para ‘gramática
transformacional’ parece-me comparável ao par terminológico de ‘teoria da
evolução’ e ‘teoria evolucionária / evolucionista’; Wells, ao escrever em 1963,
ainda utiliza ‘teoria de transformação’). No seu artigo, Harris estava preocupado
com o desenvolvimento de um modelo de transferência de linguagem, ou seja, a
construção de métodos pelos quais estruturas fonológicas, morfológicas, e também
sintáticas de uma língua poderiam ser transferidas para as de outra língua. Em
suma, Harris estava a trabalhar numa teoria de tradução que poderia ser utilizada
por uma máquina. Como mencionei no início deste trabalho, a tradução
automática / mecanizada era um dos principais interesses dos linguistas teóricos da
época (cf., por exemplo, Bar-Hillel 1954; Casagrande 1954; Locke 1955) e recebia
considerável apoio financeiro de várias agências governamentais dos E.U.A.,
incluindo a C.I.A. (cf. Hutchins 2000, para detalhes). Harris (1954a: 259)
acreditava que se deveria começar a tarefa de tradução mecânica por
[...] defining difference between languages as the number and content of the
grammatical instructions needed to generate the utterances of one language
out of the utterances of the other [itálicos meus: EFKK].
Subsequentemente define ‘gramática’ como “[...] a set of instructions which
generates the sentences of a language” (Harris 1954a: 260), e esta definição repete-
se no artigo – por outras palavras, não era para ser uma observação à part, mas uma
definição, pelo menos uma definição operacional. O capítulo 5 do artigo de Harris
(1954a: 267-270) é dedicado à sintaxe, uma área de que se costuma afirmar que
tenha sido negligenciada, se não totalmente ignorada, pelos linguistas anteriores a
Chomsky (cf., no entanto, Bloomfield 1942b, b; Nida 1966; Bloch 1946).
Curiosamente, Harris propõe uma transferência de frases de inglês para o hebraico
moderno, uma língua cujo sistema morfofonémico tinha ocupado Chomsky durante

200 E.F.K. Koerner
vários anos (1949-1951; cf. Koerner 2005c para mais detalhes).
23
O gráfico na
página 268 do artigo de Harris, a sua explanação e o debate merecem uma atenção
especial, pois mostram claramente a sua tendência para a formalização. Esta
propensão para fórmulas matemáticas e expressões de álgebra, que carateriza a
abordagem de Chomsky à sintaxe em Syntactic Structures vários anos mais tarde,
também é muito óbvia em Methods in Structural Linguistics de Harris, um livro
que Chomsky terá lido ainda em provas tipográficas em 1947. Chomsky (1975: 25)
reconheceu que essa leitura fora a sua “[...] formal introduction to the field of
linguistics [...]”. No início dos anos 1950, Chomsky (1975: 29), estava “[...] firmly
committed to the belief that the procedural analysis of Harris’ Methods and similar
work should really provide complete and accurate grammars if properly redefined
and elaborated”. Mas antes de citar uma passagem interessante do livro Methods de
Harris, que Norman McQuown (1914-2005) chamou ‘epoch-making’ na sua
revisão crítica de McQuown (1952: 495), referir-me-ei a uma importante
declaração de Harris no seu artigo de 1954 (que Chomsky pode muito bem ter visto
em forma manuscrita um ou dois anos antes da sua publicação), pois mostra que
Harris tinha um propósito definido quando distinguiu entre ‘transfer grammar’
(‘gramática transferencial’) e ‘transformational grammar’ (‘gramática
transformacional’):
Even in the grammar of a single language by itself, it is possible to generate
some of the sentences of the language out of other sentences of the same
language by particular grammatical transformations. However the conditions
for these grammatical transformations are quite different from those that
carry us from the sentences of one language to those of another [como na
‘transfer grammar’, EFKK] (Harris 1954: 260, nota 2).
Afirmações como esta falam por si mesmas e refutam sugestões de que “such
views clashed headon with (Harris’) usual methodological assumptions [...]” e que
teria sido necessário Chomsky aparecer para as desenvolver (Newmeyer 1980:
37). Observe-se também a formulação, por Harris, de um princípio de regras de
formação no seu livro Methods, concluído em 1947, se não antes:
The work of analysis leads right up to the statements which enable anyone to
synthesize or predict utterances in the language. These statements form a
deductive system with axiomatically defined initial elements and with
theorems concerning the relations among them. The final theorems would
indicate the structure of the utterances of the language in terms of the
preceding parts of the system (Harris 1951a: 372-373).
Que uma abordagem como esta foi importante para o desenvolvimento da sua
teoria da gramática transformacional é reconhecido por Chomsky, quando ele
recorda a sua investigação inicial:


23
Sugerir, como o faz Newmeyer (1980: 34), que Harris nunca “[...] even looked at it [i.e., Chomsky
(1951)]”, é, no mínimo, injustificado.

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 201
When I began to investigate generative syntax more seriously a few years
later [i.e., a seguir ao acabamento de Chomsky (1951), EFKK], I was able to
adopt for this purpose a new concept that had been developed by Zellig
Harris and some of his students, namely, the concept of “grammatical
transformation”. It was quickly apparent that with this new concept, many of
the inadequacies of the model that I had used earlier could be overcome
(Chomsky 1975: 40-41).
Visto por este prisma, não é surpreendente quando McQuown de Chicago
declarou a insistência de Harris em seguir pressupostos metodológicos básicos até
uma conclusão lógica ‘wholly admirable’, e considerou a contribuição de Harris
para a linguística como
[...] epoch-marking in the double sense: first in that it marks the culmination
of a development of linguistic methodology AWAY from a stage of intuitio-
nism, frequently culture-bound; and second in that it marks the beginning of a
new period, in which the new methods will be applied ever more rigorously to
ever widening areas in human culture (McQuown 1952: 495).
Chomsky foi indubitavelmente o mais importante fomentador das ideias-
chave, inicialmente formuladas por Harris (cf. também Seuren 1998: 248-249). Em
relação a isto, temos o relato de Chomsky (1975: 41-45), onde traça em linhas
gerais a argumentação feita no discurso presidencial de 1955 à LSA, de Harris,
“Transformation in linguistic structure” – publicado dois anos mais tarde com um
título diferente (Harris 1957).
24
Mais ou menos as mesmas ideias foram publicadas
num artigo publicado muito mais tarde (Harris 1965), altura em que os pontos de
vista de Chomsky e Harris eram visivelmente divergentes. No entanto, não deve-
mos esquecer que Chomsky também estava familiarizado com os trabalhos anterio-
res de Harris sobre a ‘análise do discurso’, o que traçou claramente o caminho para
o estudo da sintaxe (Harris 1952a, 1952b – mencionado apenas em nota de rodapé
na obra de Chomsky 1975: 46, nota 6). Poderíamos destacar declarações anteriores
feitas por Harris (especialmente o seu livro Methods, cujo prefácio é datado de
‘January 1947’; cf. Harris 1951a: v) para mostrar que a sua preocupação com o
tema da sintaxe não ocorre apenas a partir de 1951. Opinião contrária seria ignorar
que os pós-bloomfieldianos já estavam a tratar desta problemática há algum tempo,
pelo menos ao nível daquilo que mais tarde foi considerado ‘phrase structure’
(veja-se o extenso artigo de Rulon Wells sobre os ‘constituintes imediatos’ de
1947, como prova desse esforço). Neste contexto, é interessante notar que Daladier
(1980: 59, nota 1), que, embora se esforce para demonstrar que Chomsky e Harris
vivem em mundos à parte, afirma que Chomsky se inspirou em Harris para obter a
distinção entre ‘aceitabilidade’ e ‘gramaticalidade’.


24
Não deixa de ser interessante, que, em 1964, três artigos de Harris, incluindo este discurso
presidencial da LSA foram republicados num volume editado por Fodor / Katz, sendo evidentemente
destinados a promover a GGT.

202 E.F.K. Koerner
Em suma, parece que quanto mais perto analisamos o debate em torno da
linguística americana durante a década de 1940 e inícios dos anos 1950, mais
óbvio se torna que o que muitas pessoas hoje querem chamar de ‘revolução’, ou
seja, o movimento dito como tendo início com a publicação de Syntactic
Structures de Chomsky, era, quando muito, uma evolução do trabalho em curso na
altura (cf. Anders 1984). Ao fazer uma revisão crítica do volume de artigos
selecionados de Leonard Bloomfield, preparado por Hockett, Harris (1973: 255)
aponta para esta continuidade na linguística americana, quando afirma:
The work of Bloomfield can be looked at as paving the way for the later
methods of transformational analysis. But his work is not only of historical
relevance. It created the apparatus for a certain type and degree of linguistic
analysis, and the body of analytic concepts which are a necessary part of any
theory of grammar.
Pode ver-se que as tentativas de Newmeyer para estabelecer a prioridade de
Chomsky sobre Harris (e Hockett, veja-se 4.4.2 adiante) ao referir-se à
“Chomsky’s 1949 undergraduate thesis and his 1951 master’s thesis [...]” como
tendo antecedido “[...] the [1954] Harris and Hockett papers by several years”
(Newmeyer 1986a: 5, nota 4) não são fundamentadas em factos. Na verdade, no
seu livro anterior, Newmeyer (1980: 36) mencionou o artigo de Bloomfield sobre
“Menomini morphophonemics” (1939) bem como o trabalho de 1948 de Roman
Jakobson sobre a conjugação russa como exibindo claramente o espírito ‘of a
generative phonology’. Portanto, não é surpreendente encontrar referências a estas
duas publicações na versão impressa de The Logical Structure of Linguistic
Theory de Chomsky de 1955 (Chomsky 1975: 571, 572), ainda que uma série de
referências reveladoras contidas no texto datilografado original, nomeadamente
aquelas que Hjelmslev faz no Prolegomena (1953), tenham sido removidas.
Também digna de nota é a afirmação de Henry Kučera (1983: 878) que o artigo
“Russian conjugation” (1948) de Jakobson constitui “[...] a full generative
description on the morphological level”. A publicação do mesmo na Word, a única
outra revista de linguística de renome na altura, além da Language e do
International Journal of American Linguistics, faz com que seja altamente
improvável que Chomsky não soubesse deste artigo em 1949.
Pelo menos até aos anos 1960, quando Chomsky começou a introduzir os
conceitos de ‘deep’ ou ‘underlying structure’ em contraste com o de ‘surface
structure’ – cf. Chomsky (1965: 198-199, nota 12) para os antecedentes desta
distinção –, a diferença na abordagem de Chomsky à sintaxe conforme The
Logical Structure of Linguistic Theory e Syntactic Structures (em comparação
com a abordagem de Harris no seu artigo de 1954, por exemplo) faz parecer que
Chomsky estava preocupado com transferências (e transposições) dentro de uma
só língua (p. ex., Chomsky 1957a: 61-84 passim).
Revendo o pano de fundo do seu trabalho de uma forma mais geral, é
interessante notar que Chomsky sempre negou que isto tivesse alguma coisa a ver
com ‘attempts to use electronic computers’ (p. ex., Chomsky 1964b: 25; cf.

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 203
também Chomsky 1982b: 63). Parece-me, porém, que Chomsky está envolvido
em reescrever o seu próprio passado, aparentemente numa tentativa de ampliar a
diferença entre o seu trabalho e o de Harris e sugerir a descontinuidade e a
novidade da sua própria abordagem. Assim, numa entrevista em 1979, Chomsky
tentou explicar que Syntactic Structures continha um debate sobre automatismo
apenas como uma concessão em relação à norma predominante (Chomsky 1982b:
63). Dado que estava empregado desde o outono de 1955, no Research Laboratory
of Electronics do MIT, tais referências contemporâneas seriam expectáveis.
Assim, num documento de 1958 (não mencionado em Newmeyer 1980 ou na
edição revista de 1986), Chomsky sugeriu, entre outras coisas, que
[...] the study of this intermediate area between full scale Turing machines
[cf. Turing 1950; EFKK] and absolutely bounded automata is however quite
important, not only for linguistics (it is, in a good sense, the general theory of
grammar), but also ... of intellectual processes (Chomsky 1958: 437; também
citado em Maher 1980: 18).
Que a referência ao trabalho de computador não possa ser considerada como
uma observação de passagem, verifica-se numa entrevista de 1971 (Mehta 1971,
citada em Maher 1982: 17), na qual Chomsky disse praticamente a mesma coisa.
Isso não é de todo surpreendente, quando observamos o que o seu colaborador
Morris Halle afirmou no prefácio à publicação da versão revista, em 1959, da sua
tese de 1955:
I have assumed that an adequate description of a language can take the form
of a set of rules – analogous perhaps to a program of an electronic computing
machine – which when provided with further special instructions, could in
principle produce all and only well-formed (grammatical) utterances in the
language in question. This set of rules, which we shall call the grammar of
the language and of which phonology [i. e., o interesse especial de Halle,
EFKK] forms a separate paper, embodies what one must know in order to
communicate in the given language [...] (Halle 1959: 12-13).
A declaração de Halle, na qual alinha claramente com o trabalho de Chomsky
(como é evidente a partir dos dois primeiros parágrafos do seu prefácio) leva-nos
de volta a outro importante artigo de 1954, ou seja, o célebre “Two models of
grammatical description” de Charles Hockett, a que Chomsky se refere
frequentemente na sua escrita durante o período 1955 até 1964, e para o qual o seu
trabalho de 1956 é uma espécie de resposta.

4.4.2 Hockett
Dado que Newmeyer (1980: 37) se refere a “Two models of grammatical
description” de Charles F. Hockett como um dos dois artigos de 1954 que
‘uncharacteristically’ continham a semente da gramática gerativa, este
reconhecido e programático artigo merece uma inspeção mais minuciosa. O
próprio Hockett (1954: 210) afirmou que “the bulk of the present paper was
written between 1949 and 1951 [...]”, mas, porque reconhecia, em 1951, que este

204 E.F.K. Koerner
daria a “[...] erroneous impression that there were principally just two archetypes [de descrição gramatical, EFKK] to be dealt with”, retivera-o de publicação
durante vários anos. Porém, a versão original datilografada já circulava entre os
colegas de Hockett desde 1951 (cf. Voegelin / Voegelin 1963: 25) e parece que
Hockett fez uso dela quando os editores da Word, especificamente André
Martinet, lhe pediram uma contribuição para um volume especial comemorativo
do décimo aniversário da revista e que intitularam Linguistics Today (o volume
contém, entre outros, um artigo escrito por Benoît Mandelbrot sobre “Structure
formelle des textes et communication”, um de Zellig Harris sobre “Distributional
structure” e um de Rulon Wells sobre “Meaning and use”). No seu artigo, Hockett
apresenta, conforme a minha interpretação, um forte argumento a favor de uma
abordagem dinâmica – na sua terminologia ‘Item and Process’ (IP) – em contraste
com a abordagem mais usual de ‘Item and Arrangement’ (IA), caraterística da
maior parte do trabalho feito até então na linguística norte-americana, embora,
como observou Hockett (1954: 210-211), o modelo IP era o mais antigo, em
grande parte confinado à linguística histórica.
O artigo de Hockett pretende ser uma declaração teórica importante; de facto,
vemo-lo às voltas com problemas que Chomsky atacou logo depois com muito
mais sucesso, e não é difícil verificar a importância que o artigo teve para Chomsky
(cf. também o seu artigo de 1956, cujo título ecoa o de Hockett). No seu
argumento, Hockett (1954: 211-227) traça uma série de declarações e definições
teóricas, primeiro em relação à análise IA, dando particular atenção aos problemas
decorrentes de variadas definições. Depois, em paralelo com o debate anterior,
apresenta as várias definições básicas para uma análise descritiva dentro de um
quadro de referência processual (Hockett 1954: 227-228), antes de fazer uma com-
paração entre as duas abordagens (Hockett 1954: 229-232). A página final consiste
numa discussão de considerações mais generalizadas da ‘grammatical description’
(Hockett 1954: 232-233). Voltarei em breve a esta última questão; antes de fazer
isso, no entanto, gostaria de citar uma das declarações feitas por Hockett que diz
respeito à análise IP, aquela pertencente às ‘derived forms’. Hockett afirma:
A derived form consists of one or more UNDERLYING FORMS to which a
process has been applied. The underlying forms and the process all recur
(save for occasional uniqueness) in other forms. The underlying form or
forms is (or are) the
IMMEDIATE CONSTITUENT(S) of the derived form, [...]
(Hockett 1954: 227-228; maiúsculas pequenas no original).
Quando Chomsky nos diz que o seu primeiro interesse pela linguagem se
deve ao convívio durante a infância com o trabalho histórico do seu pai em torno
do hebraico medieval e que o seu “[...] original interest in generative grammar was
based on a perfectly conscious analogy to historical Semitic linguistics”
(Chomsky, citado em Koerner 1978a: 44; veja-se também Yergin 1972: 112), não
é surpreendente encontrar termos e conceitos como ‘derivation’ e ‘underlying
form’ nos trabalhos não-históricos de Chomsky. De facto, como indica Hockett

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 205
(1954: 210-211), o professor de Chomsky, Harris, tinha-se referido a esta analogia
histórica na sua obra já em 1944.
Se as considerações teóricas acima são pouco mais do que o conhecimento
geral dentro da área naquela altura, uma série de cláusulas gerais de Hockett
quanto aos critérios ‘for the evaluation of a grammatical description’
provavelmente não o eram. Para além dos critérios de generalidade, de
especificidade e aquilo que denomina de ‘efficiency’ de um modelo, o requisito da
‘productivity’ merece uma especial atenção, nomeadamente porque está
relacionado com uma outra observação à qual me referirei brevemente:
(4) A model must be PRODUCTIVE: when applied to a given language, the
results must make possible the creation of an indefinite number of valid new
utterances. This is the analog of the ‘prescriptive’ criterion for descriptions
(Hockett 1954: 232-233; itálicos meus: EFKK).
Este critério é precedido por outro de ‘inclusiveness’, com o qual Hockett
pretende afirmar que, quando um modelo é “[...] applied to a given language, the
results must cover all the observed data and, by implication, at least a very high
percentage of all the not-yet-observed data.” (Hockett 1954: 232).
Que esta não é
simplesmente uma observação de passagem sem importância fica evidente pelo
requisito geral de uma descrição gramatical satisfatória:
The description must also be prescriptive, not of course in the Fidditch sense,
but in the sense that by following the statements one must be able to generate
any number of utterances in the language, above and beyond those observed
in advance by the analyst – new utterances most, if not all, of which will pass
the test of casual acceptance by a native speaker (Hockett 1954: 232; itálicos
meus: EFKK).
É claro que Hockett pretende dizer algo como ‘predictive’ quando utiliza o
termo ‘prescriptive’ (veja-se também a citação anterior). Além disso, o artigo de
Hockett (1954) foi o resultado de uma série de anos de reflexão, especialmente
sobre a importância da ‘prediction’ na teoria linguística.
Que estas observações não são de forma alguma isoladas no pensamento de
Hockett durante finais dos anos 1940 e inícios dos anos 1950, quando Chomsky
era um jovem estudante de linguística, pode ser visto através de outros dois
importantes enunciados teóricos da sua autoria, publicados em 1948 e 1950 (não
mencionados por Newmeyer no seu livro de 1980 sobre a história da GGT, nem
na segunda edição em 1986). Ambos os artigos são breves; o primeiro foi
republicado por Martin Joos em Readings in Linguistics (1957), incluído na
bibliografia de Newmeyer (1980: 263) e, portanto, do seu conhecimento; o outro
apareceu em Studies in Linguistics (1943-1973), a revista científica do tipo
‘working-paper’ de George L. Trager. Sinto-me tentado a simplesmente reproduzir
na íntegra a “A note on ‘structure’” (1948b) de Hockett, mas algumas passagens
marcantes serão suficientes aqui para mostrar o quanto o linguista da Universidade
de Cornell – sem dúvida o teórico generalista mais interessante da sua geração –

206 E.F.K. Koerner
estava à frente do seu tempo. Ao delinear a “[...] task of the structural linguist, as a
scientist [...]”, Hockett (1948b: 269) enfatiza que esta tarefa deve ir muito além da
classificação e simples contabilização de todos os enunciados que compõem o
corpus de uma língua em um determinado momento e afirma,
[...] the analysis of the linguistic SCIENTIST is to be of such a nature that the
linguist can account also for utterances which are
NOT in his corpus at a given
time. That is, as a result of his examination he must be able to predict what
OTHER utterances the speakers of the language might produce [...] (Hockett
1948b: 269; maiúsculas pequenas no original).
E como para antecipar muito do posterior argumento de Chomsky acerca de
(a aversão dos bloomfieldianos a) o ‘mentalismo’ e a sua proposta de um (bastante
abstrato) ‘language acquisition device’, Hockett continua no parágrafo seguinte:
The analytical process thus parallels what goes on in the nervous system of a
language learner, particularly, perhaps, that of a child learning his first
language. The child hears, and eventually produces, various utterances.
Sooner or later, the child produces utterances he has not previously heard
from someone else (Hockett 1948b: 269-270).
A diferença essencial entre a aquisição de uma língua por parte da criança e
o procedimento do analista é descrita por Hockett nesse mesmo artigo da
seguinte forma:
[...] the linguist has to make his analysis overtly, in communicable form, in
the shape of a set of statements which can be understood by any properly
trained person, who in turn can predict utterances not yet observed with the
same degree of accuracy as can the original analyst. The child’s ‘analysis’
consists, on the other hand, of a mass of various synaptic potentials in his
nervous system. The child in time comes to
BEHAVE the language; the
linguist must come to
STATE it (Hockett 1948b: 270; maiúsculas pequenas no
original).
Em última análise, um ‘linguistic scientist’ deve “[...] determine the structure
actually created by the speakers of the language [...]”, não a impor, pois “[...] a
language is what it is, it has the structure it has, whether studied and analyzed by a
linguist or not” (Hockett 1948b: 270-271).
Ao referir-se ao que acredita ser a promessa inquestionável de uma análise do
‘immediate constituent’, no seu outro artigo Hockett (1950: 56) observa que não é
“[...] an analytical technique, but a hypothesis about the nature of talking and
hearing language”; ao mesmo tempo, admitiu o seguinte:
The problem is to develop techniques by which the hierarchical structure of
the utterances of a language can be revealed and stated. A child learning to
speak has such a technique; our objective techniques are as yet quite faulty,
but at least they are good enough to reveal this very important feature of
linguistic structure (Hockett 1950: 56).

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 207
4.4.3 Conclusões preliminares
Pelo que foi apresentado nos dois subcapítulos anteriores, poderemos ter a
permissão de questionar, após mais de seis décadas, até que ponto a nossa perceção
em relação à linguagem humana avançou desde então. Visto desta forma, o que é
frequentemente descrito como uma ‘revolução’ na linguística, após uma inspeção
mais minuciosa das provas, parece muito mais uma consequência natural, uma
‘evolução’, dos debates teóricos e dos compromissos metodológicos caraterísticos
do período imediatamente após o fim da Segunda Guerra Mundial. Na verdade,
nem Harris nem Hockett continuaram a desenvolver várias das suas propostas, mas
o posterior desenvolvimento de certos aspetos das suas afirmações teóricas por
outra pessoa, e especialmente por alguém que cresceu dentro das suas tradições,
não faz da teoria dessa pessoa uma teoria revolucionária – e não foi certamente
visto dessa forma pela geração de Harris (1909-1992) nem pela de Hockett (1916-
2000), nem durante a década de 1950, nem ainda em inícios dos anos 1960 – a não
ser que façamos concessões em relação a uma variedade de fatores não-
linguísticos, geracionais, ideológicos e políticos, que teriam desempenhado um
papel no impulsionamento dessa opinião.

4.5 Reescrever a história da GGT
Em paralelo com a “eclipsing stance” (Voegelin / Voegelin 1963: 12) que
Chomsky e os seus companheiros tinham adotado relativamente cedo no
desenvolvimento da GGT, vários esforços foram feitos desde o início da década de
1960, para reescrever a história da linguística norte-americana. Tentativas de
outros (p. ex., Hymes / Fought 1981: 154-157) que visavam corrigir a imagem
unilateral foram “categorically rejected” (Newmeyer 1980: 5, nota 4). Tal atitude,
que se recusa à leitura de fontes primárias – e às interpretações destas – de uma
forma imparcial, não pode resultar num relato histórico adequado. O que daqui
resulta pode ser exemplificado por dois casos na forma de apresentação de
Newmeyer, embora muitos outros casos pudessem ser citados.
25

Newmeyer (1980: 46) afirma que Hockett (1965: 185), no seu discurso
presidencial da LSA, em 1964, “[...] actually characterized the publication of
Syntactic Structures as one of ‘only four major breakthroughs’ in the history of
modern linguistics”. É claro que, naquele momento, Hockett, ciente de uma
possível separação entre os mais velhos e os mais jovens, estaria a fazer um
compromisso amigável para com Chomsky e os seus seguidores. No entanto, no
parágrafo de abertura do seu discurso, Hockett não diz exatamente o que
Newmeyer afirma que ele terá dito. Em vez disso, quando chega a pronunciar-se
sobre aquilo a que chama de ‘the accountability hypothesis’, Hockett (1965: 196),
de facto, afirma o seguinte:


25
Cf. a troca de correspondência entre Newmeyer e o seu revisor, Stephen Murray, em
Historiographia Linguistica, nomeadamente “Reply to Murray's Review” (Newmeyer 1982) e “The
Reviewer responds”(Murray 1982), para exemplos adicionais e também o que disse no capítulo 4.4.

208 E.F.K. Koerner
We are currently [i.e., em 1964, EFKK] living in the period of what I believe
is our fourth major breakthrough; it is therefore difficult to see the forest for
the trees, and requires a measure of derecthesis on my part to say anything
not wholly vague. Instead of a long list of names, I shall venture only the two
of which I am sure; and since the two are rarely linked I shall carefully put
them almost a sentence apart. I mean Noam Chomsky on the one hand and,
on the other, Sydney M. Lamb. The order is intentional: Chomsky is
unquestionably the prime mover.
Não há dúvida de que esta afirmação é muito mais comedida do que
Newmeyer nos quer levar a crer; na verdade, Sydney Lamb não é mencionado
apenas de passagem no artigo de Hockett, mas é referido várias vezes depois
disso, juntamente a (morfo)fonologia de Chomsky e Halle (cf. Hockett 1965: 200).
A afirmação de Newmeyer citada anteriormente pode simplesmente ter sido o
resultado da impaciência de um jovem escritor com a observação judiciosa de um
intelectual. No entanto, quando se encontram mais algumas dessas extrapolações
das declarações de outros que tendem a dizer mais do que aquilo que foi realmente
dito, já não se poderá ter a certeza da fiabilidade dos relatos de Newmeyer. Para
citar mais um exemplo do seu livro de 1980. Quando começa a falar sobre a
‘revolução chomskyana’, Newmeyer, depois de ter mostrado a importância da
‘crítica’ de Lees ao trabalho de Chomsky (1957a), procura mais apoio para a sua
visão de que uma revolução tinha ocorrido na linguística, na altura, referindo-se a
uma declaração feita por um estudioso da geração mais velha, Charles ('Carl')
Frederick Voegelin (1906-1986), um ex-aluno de Alfred Louis Kroeber (1876-
1960) e também de Edward Sapir (não de Bloomfield) e, na verdade, um bom
amigo de Zellig Harris. Newmeyer (1980: 19) escreve:
And C. F. Voegelin (1958), in another review, noted that even if Syntactic
Structures managed to accomplish only part of its goals, “it will have
accomplished a Copernican revolution [p. 229]”.
Infelizmente, é impossível reproduzir o argumento de Voegelin, na íntegra,
algo que seria desejável numa história detalhada da GGT, mas vou citar, pelo
menos, duas passagens da sua crítica de duas páginas, uma a partir da qual
Newmeyer redigiu a frase que cita, e outra que permite uma interpretação bastante
diferente do desempenho de Chomsky.
Tendo afirmado que “immediately after reading Chomsky [...]” ele “[...] had
formed a rather strong positive impression, and developed an equally strong
negative bias”, Voegelin (1958: 230) observou sobre ‘the negative side’:
I would not accept the strategy of criticism adopted by Chomsky and his
explicator [i.e., Robert Lees na sua ‘resenha’ de Syntactic Structures, EFKK] –
putting the burden of justification on anyone who would maintain the validity
of pre-transform grammar. Some would (almost) accept this; thus, one of my
western friends says that Chomsky (almost) convinced him that morphemics
was a poor old dead dog. And if transform grammar also persuades linguists to
relegate phonemics to a preliminary stage of analysis (called ‘discovery’), and

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 209
to operate in final analysis (called ‘description’) exclusively with
morphophonemics, it will have accomplished a Copernican revolution.
Admito que isso soa muito diferente da interpretação que Newmeyer tenta
oferecer. Como sabemos, Chomsky tinha mudado da morfofonémica
26
(Chomsky
1951) para a sintaxe em 1955, o mais tardar. Além disso, é claro para Voegelin
que Zellig Harris fora o inventor desta abordagem e que a “[...] application of the
principle of transformation to grammar [...]” era “[...] certainly not new” (Voegelin
1958: 230, nota 1). Por fim, é na seguinte nota de rodapé que Voegelin responde à
sua própria pergunta retórica “Will they [i.e., Chomsky, Lees, e talvez outros,
EFKK] start a Copernican revolution within linguistics?”:
A palace revolution, perhaps, in contrast to the interdisciplinary revolutions
plotted by David Bidney, Six Copernican Revolutions, Explorations I: Studies
in Culture and Communication pp. 6-14 (1953) (Voegelin 1958: 230, nota 2).
Pouco há a acrescentar para sugerir que as citações de Newmeyer não são, na
melhor das hipóteses, confiáveis e, na pior das hipóteses, o oposto do que os
autores disseram. A referência de Voegelin a uma ‘revolução palaciana’, no
entanto, traz-nos de volta ao nosso tema, ou seja, à tentativa de os adeptos da
escola da GGT reescreverem e, eventualmente, cimentarem uma história da
linguística americana a corresponder às vantagens que viam nela para a sua
própria corrente (veja-se a posterior defesa de Newmeyer 1986a: 9-10, nota 11 em
relação à sua interpretação ‘seletiva’ da resenha de Voegelin).
Já mencionámos a reivindicação reiterada de Noam Chomsky que não tinha
sido compreendido pelos seus colegas mais velhos durante a década de 1950. A
sugestão, que claro não foi em vão na sua audiência, é que haveria uma espécie de
fenómeno kuhniano de incomensurabilidade de pontos de vista teóricos sobre a
linguagem na linguística americana que, em última análise, finalmente teve que
levar a efeito uma ‘revolução científica’. Já nos referimos aos comentários
repetidos de Chomsky, pouco ‘francos’ sobre a falta de possibilidades de
publicação dos seus pontos de vista ‘radicais’ da teoria linguística – observe-se
que não fez chegar ao público nenhum dos seus pontos de vista políticos antes de
1966 (cf. Koerner / Tajima 1986: 91), ou seja, depois de Aspects (1965) e The
Sound Pattern of English
27
terem sido de facto escritos.
28



26
Sobre este assunto, e da forma em que Chomsky e Halle se envolveram na reescrita da história,
veja-se Koerner (2003b).
27
Esta obra, embora publicada apenas em 1968, estava disponível em formato datilografado em
1964, dois anos após Halle (1962) ter ‘aberto o campo’ à inclusão de fonologia na GGT. Não é
propriamente correto afirmar, como o faz Newmeyer (1980: 40), talvez em retrospeção, que The
Sound Pattern of Russian de Halle, publicado em 1959, embora em grande parte derivado da sua
dissertação concluída sob a supervisão de Jakobson, em 1955, constituía o “first major work of
generative phonology”.
28
Uma seleção recente da escrita política de Chomsky contém apenas alguns artigos de jornais que
datam de finais dos anos 1960 (veja-se Chomsky 1980).

210 E.F.K. Koerner
No início deste artigo, referi as tentativas de Chomsky (a partir de 1962) para
reescrever a história da GGT ao alegar, por um lado, a ascendência ‘cartesiana’ da
sua teoria da linguagem. Em relação a isto, seja-me permitido citar apenas um
exemplo. A ausência de “[...] any discussion of mentalism in Syntactic Structures”
foi apontada a Chomsky por entrevistadores em 1979, mas – como as transcrições
publicadas indicam, Chomsky não deu nenhuma resposta exceto uma referência ao
‘MIT-context’ e ao propósito do livro (isto é, para servir como material didático
para uma licenciatura no MIT) que, supõe-se, Chomsky terá considerado suficiente
para explicar a omissão (cf. Chomsky 1982b: 63). No entanto, outras fontes
sugerem que as declarações sobre a ideia do mentalismo – retocadas no seu ataque
a Skinner (Chomsky 1959) – foram realçadas só a partir de inícios dos anos 1960
(cf. Katz 1964).
29
No entanto, Chomsky, concentrado em reescrever o seu
desenvolvimento intelectual, não quer que os outros vejam as coisas dessa forma.
Assim, Iain Boal, um linguista, (que ensinava história da ciência em Harvard e que,
mais tarde, foi trabalhar para a California University Press), ao comparar a versão
impressa de The Logical Structure of Linguistic Theory (1975) com o manuscrito
de 1955-1956, no qual não encontrou “[...] no claims about making grammars
psychologically valid”,
30
observou o seguinte sobre Chomsky e a sua obra:
Indeed, in the original mimeograph he said that “the introduction of dispo-
sitions (or mentalistic terms) [e.g., mind, belief, meaning – IAB] is either
irrelevant or trivializes the theory”, and he ruled out all talk of mind for “its
obscurity and general uselessness in linguistic theory”. In the version
published in 1975, these passages are expunged and he writes that the
“psychological analogue” (i.e., the radical idea that a grammar models
knowledge that is actually incorporated in our heads) “is not discussed but it
lay in the background of my thinking. To raise this issue seemed to me, at the
time, too audacious.” This has brought from an old colleague of Chomsky the
wry comment that “it is hard not to be skeptical about Chomsky’s claim that
timidity prevented a thought of his from becoming known (Boal 1984: 15).
Não tenho dúvidas nenhumas de que uma comparação cuidadosa da
publicação de The Logical Structure of Linguistic Theory (1975) com o texto
datilografado original poderia produzir muitos mais casos destes em que Chomsky
reconsidera o seu passado intelectual (já mencionei a eliminação de todas as
referências aos Prolegomena de Hjelmslev – cuja tradução para o inglês tinha
aparecido em inícios de 1953 – onde há muitas considerações metalinguísticas que
encontramos na obra de Chomsky a partir de 1955, e que será de esperar descobrir


29
Sobre esta questão, compare-se Steinberg (1999) com uma revisão devastadora das teorias de
Chomsky e as suas aplicações a partir do ponto de vista de um psicólogo da linguística. Ele mostra
primeiro que Chomsky era um formalista anti-mentalista antes de 1959 e que, quando adotou o
mentalismo, em 1965, as suas gramáticas eram inúteis para fins psicolinguísticos, porque centravam-
se na sintaxe em vez de na semântica.
30
Para uma análise aprofundada de transição de Chomsky de uma posição fervorosamente formalista
e anti-mentalista durante os anos 1950 para uma defesa mentalista em Aspects, consulte-se Steinberg
(1999).

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 211
outros tais casos de exclusão, bem como revisão de posições anteriores em The
Logical Structure of Linguistic Theory). No entanto, os escritores de histórias
partidárias da GGT, dos quais Linguistic Theory in America de Newmeyer de
1980 é o exemplo mais bem sucedido, tendem a depender da opinião pessoal de
Chomsky sobre as origens e o desenvolvimento da GGT como se esses relatos
pudessem ser tomados pelo seu valor nominal sem qualquer outra corroboração.
Noutras ocasiões, Newmeyer trata as suas fontes muito mais seletivamente,
31
e


31
Na sua resenha de Newmeyer (1980), Fought (1982: 317) observou que o tratamento do papel de
Zellig Harris no desenvolvimento da GGT por Newmeyer era insuficiente e deficiente. É verdade que
Newmeyer, muito em linha com a sua tentativa de enfatizar a natureza ‘revolucionária’ das propostas
de Chomsky, praticamente tinha eliminado a questão da influência de Harris em Chomsky, sugerindo
em vez disso que Chomsky fez exatamente o que o professor lhe tinha tentado persuadir a não fazer.
Normalmente, procuraríamos em vão em Newmeyer por referências a documentos que pudessem
enfraquecer a imagem da GGT como a teoria que ‘conquistaria’ (termo de Newmeyer) os linguistas
mais brilhantes do período ‘revolucionário’ Refiro-me ao debate de 1962 sobre “The advantages and
disadvantages of transformation grammar” realizado no âmbito do 13th Annual Round Table
Meeting at Georgetown University, Washington, D.C., e publicado no ano seguinte (Woodworth /
DiPietro 1963: 3-50), como um dos exemplos. O debate foi presidido por Eric P. Hamp; Paul M.
Postal foi o orador principal (Postal, embora oficialmente matriculado na Universidade de Yale para
o doutoramento, na verdade trabalhava no Laboratório de Eletrónica do MIT na época, e servia desde
1961 como paladino da causa da GGT, especialmente nas reuniões de verão e de inverno da LSA).
Quem ler as 48 páginas dos Proceedings do debate entenderá porque Newmeyer convenientemente
ignorou esta importante prova histórica. O que é certo é que este encontro não mostra a GGT a vencer
da forma como Newmeyer retrata a marcha da revolução na linguística: cada nota ou alegação teórica
feita por Postal no simpósio foi eficazmente rebatida por Paul Garvin – um estudioso cuja carreira
possivelmente não foi mais bem-sucedida, senão provavelmente, porque viu muito cedo as falhas da
teoria transformacional e não se deixou conquistar pela GGT (como Sol Saporta ou Robert
Stockwell). Daí não ser surpreendente que o nome de Garvin não apareça uma única vez nas 250
páginas que Newmeyer dedica à linguística norte-americana.
Desta troca de opiniões entre Postal e Garvin, apresentarei apenas um trecho para ilustrar ao limite
que os gerativistas iriam se fossem pressionados a dar explicações. Postal acabara de descrever o que
uma gramática gerativa poderia fazer na análise de frases de uma determinada língua, quando Garvin
apresentou as suas objeções (Woodworth / DiPietro 1963: 36-37):
MR. GARVIN: I would disagree for one very serious reason. One way of
verifying the validity of a theory is by writing a recognition routine based on
this allegedly correct, and allegedly only correct grammar, and then by
seeing whether it indeed does “recognize”. I deliberately mentioned the
Washington Post and Times Herald, because to a large number of speakers of
English, it contains grammatical sentences.
MR. POSTAL: Most of the sentences would not be sentences at all.
MR. GARVIN: What a preposterous claim! On behalf of the Washington Post
I protest! This is a very common brand of English.
MR. POSTAL: I would say it is a very common brand of non-English, that is,
not complete English sentences.
MR. GARVIN: Then, of course, you are in the marvelous position where
whenever you can’t analyze something you simply say, “this is not English.”

212 E.F.K. Koerner
apresenta uma linha particular de pensamento da linguística americana como se esta refletisse todo o desenvolvimento da disciplina. Para ele, a natureza
paradigmática de Syntactic Structures continua em vigor: “A truly alternative
theory with any credibility has yet to emerge” (Newmeyer 1980: 20).
Um historiador da linguística, no entanto, sabe que, apesar de certas pistas
poderem aparecer (geralmente em retrospetiva) nos primeiros trabalhos de um
estudioso ou cientista que seja importante no ramo, que é normalmente o trabalho
posterior que passa a ser considerado como paradigmático para investigações
subsequentes. Podemos mencionar, por exemplo, o Conjugationssystem (1816) de
Bopp, que as histórias tradicionais da linguística consideram como o início da
linguística comparativa (como se a obra de Schlegel de 1808 não tivesse traçado
as linhas gerais do campo, de onde Bopp e outros mais tarde iriam colher os
frutos); no entanto, foi, ao aparecer em volumes sucessivos de 1833 em diante, a
Vergleichende Grammatik (
1
1833-1842,
2
1857-1861,
3
1868-1871) de Bopp, que
forneceu a estrutura para a geração posterior de linguistas histórico-comparativos.
Da mesma forma, foi com o seu Compendium der vergleichenden Grammatik
(
1
1861-1862,
2
1866,
3
1873,
4
1876), e não com os seus primeiros livros, que o
trabalho de Schleicher se tornou o ponto de referência para a investigação
linguística da maior parte das duas ou mais décadas seguintes (cf. Koerner 1982a).
No caso de Saussure, a situação é um pouco mais complicada porque o Cours foi
publicado postumamente e não tinha o imprimatur do autor.
32
Além disso, uma
série de fatores externos (mas também internos) à linguística atrasaram o impacto
da sua teoria sincrónica da linguagem.
A partir destas observações, não é surpreendente que a ‘revolução’ na
linguística ‘moderna’ seja associada à síntese posterior de Chomsky ao invés dos
seus primeiros escritos. Neste contexto, posso referir a opinião de James
McCawley. Na sua opinião (note-se que McCawley toma como facto consumado
a morfologia kuhniana das revoluções científicas), foi antes o livro Aspects of the
Theory of Syntax (1965), em vez de Syntactic Structures (1957a), que forneceu a
base para uma ‘revolução’, por várias razões: 1) Aspects “[...] brought semantics
out of the closet [...]” (McCawley 1976b: 6), o que “[...] increased the inherent
interest in doing transformational syntax, as well as making it relatively easy to
come up with analyses that stood a chance of being right [...]” (McCawley 1976b:
7); 2) a sua ‘greater systematicity’ tornou a teoria mais atraente e “[...] relatively
easy to determine what the grosser implications of a given analysis were”


Observadores da atmosfera linguística dos anos 1960 e de inícios dos anos 1970 lembrar-se-ão, sem
dúvida, do debate sobre ‘grammaticality’ (cf. crítica inicial de Hill de 1961 e refutação agressiva de
Chomsky no mesmo ano) e noções relacionadas, e aperceber-se-ão que os palpites de Garvin
estavam corretos.
32
Curiosamente, Calvert Watkins disse-me que, na sua opinião, os estudiosos que não
compreendiam plenamente o significado da Mémoire (1878) de Saussure seriam incapazes de
compreender o significado do seu Cours. Veja-se o seu artigo “Remarques sur la méthode de
Ferdinand de Saussure comparatiste” (Watkins 1978).

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 213
(McCawley 1976b: 7-8); e 3) a separação da categoria sintática dos ‘‘various
factors that affect what co-occurs with what’ (McCawley 1976b: 7) fez dele “[...]
relatively easy to formulate transformational analyses in general terms without any
loss of precision, and to start dealing seriously with syntactic universals”
(McCawley 1976b: 8).
McCawley tinha em mente a ideia de Kuhn de um ‘scientific paradigm’
quando formulou a sua visão sobre o estatuto do Aspects, especialmente a sugestão
de Kuhn (1970: 10) sobre o caráter relativamente aberto daqueles trabalhos
‘paradigmáticos’ que “[...] leave all sorts of problems for the redefined group of
prac-titioners to resolve”. Por outras palavras, se vamos falar de algo semelhante a
uma revolução na sintaxe durante estas últimas décadas, esta deve ser associada ao
trabalho de Chomsky da década de 1960, e, em particular, à introdução do
conceito de ‘deep strucure’ e noções associadas, que estavam ausentes dos seus
primeiros trabalhos, isto é, com Aspects em vez de Syntactic Structures, apesar da
impressão que Chomsky e os seus colegas tentaram criar, e que às vezes
conseguiram impressionar determinados pós-bloomfieldianos do princípio dos
anos 1960. Como podemos presenciar com a história da escola neogramática (cf.
Koerner 1981), a propaganda distribuída pelos adeptos de uma visão particular da
teoria linguística e a impressão que esta produz nas mentes de muitos dos
contemporâneos é uma coisa; a história real é outra – “wie es eigentlich gewesen”
(Ranke 1824: vi) – completamente diferente.

5 Outros aspetos de uma historiografia da linguística americana
A discussão anterior sugere que ainda estamos muito longe de obter uma
história adequada da linguística na América do Norte durante os últimos cinquenta
ou mais anos, em particular no que diz respeito às fontes e ao desenvolvimento da
gramática gerativa-transformacional. Um esforço foi feito para identificar várias
questões que necessitam de esclarecimento e de áreas que deveriam ser
investigadas com mais minúcia. Na minha opinião, a tarefa não é fácil por uma
série de razões, incluindo a dos interesses manifestos naquilo que foi chamado
‘institutional linguistics’ em manter a área unida e em libertar-se das ‘heresias’,
bem como das ‘contra-revoluções’ (cf. o relato de Newmeyer 1980: 167ss. sobre o
‘collapse of generative semantics’). Mas há também problemas básicos de cultura,
incluindo o de delinear uma cronologia exata de trabalho – que numa história da
GGT é de vital importância se for para surgir um retrato exato da discussão teórica
em curso – o que Newmeyer, talvez por razões de conveniência, optou por
ignorar. Qualquer pessoa, ainda que superficialmente familiarizada com a GGT e
o comportamento dos gramáticos gerativistas, sabe, entre outras coisas, que muitos
dos seus produtos circulam internamente apenas entre os membros íntimos do
grupo, com muitos artigos a nunca serem publicados ou a sê-lo apenas muitos
anos mais tarde, altura em que muitas das posições neles defendidas já foram há
muito discretamente abandonadas (cf. a opinião de Grunig de 1982: 290 sobre essa

214 E.F.K. Koerner
estratégia tradicional).
33
No entanto, Newmeyer (1980: xii-xiii), por sua vez,
anuncia: “Throughout the text, I cite books and articles by the year of their first
publication, not by the year that they were written”. Por exemplo, a edição de
McCawley de um número significativo de trabalhos datados entre 1960 e 1967,
publicado sob o título de Notes from the Linguistic Underground (1976a) está
escondida na bibliografia de Newmeyer (1980: 268), sob o título inócuo da série
Syntax and Semantics, vol. 7; além disso, não há mais qualquer indicação de que
os artigos aí publicados constam de facto na história da GGT de Newmeyer.
A situação é bastante frustrante para o historiógrafo da linguística que tenta
estabelecer o que realmente aconteceu para apresentar um quadro adequado da
história da linguística na América do Norte durante os últimos cinquenta ou mais
anos. Polemics, ainda que escrito da forma magistral com a perspicácia e humor
com que Maher (1982) o faz, prova ser ineficaz. Aqueles que acreditam que Maher
está correto não pertencem à GGT, e aqueles que pertencem a ela, desafiam-no:
recusam-se a ler a sua obra (ou de qualquer outra pessoa) – a menos que subscreva
os princípios básicos da GGT –; há um consenso geral entre eles para se manterem
em silêncio sobre trabalhos que não sejam da GGT, e os estudantes são alertados
pelos seus professores a ignorá-los. Trocas polémicas, ao que parece, são valiosas
somente quando ambos os lados estão em busca da verdade, mas há poucos
indícios de que aqueles que se associam à ‘revolução chomskyana’ estão de alguma
forma, ainda que não trivialmente, interessados nisso. Newmeyer não o está e
Chomsky e os seus colegas têm consistentemente mostrado que apenas querem
ganhar a luta, e de tal forma que não seja possível uma desforra.
34


5.1 Linguística organizacional nos E.U.A.
Algo deve ser dito sobre aquilo que é referido como ‘linguística
organizacional’, isto é, a influência sobre, se não o controlo sobre, o acesso aos
pontos de venda de publicações e de financiamento para a investigação, por
exemplo. Parece que desde cedo os líderes do movimento gerativista garantiram


33
Que esta técnica de se referir a trabalhos inéditos ou trabalhos ou dissertações de difícil acesso (tão
bem apresentada em Syntactic Structures de Chomsky) para apoiar uma sua teoria ou reivindicação
específica ainda é praticada entre os adeptos da GGT, testemunhei pessoalmente na primavera de
1982, quando um doutorando do MIT apresentou uma comunicação na Universidade de Ottawa
(aliás, um evento semelhante ocorreu aqui mais recentemente, em novembro de 1987, aquando da
apresentação por outro doutorado do MIT). Para um exemplo apenas de uma fonte impressa, basta
ver o artigo “Advances in linguistic rhetoric” de Postal (1988), onde ao todo 14 referências
bibliográficas podem ser encontradas, das quais sete se referem a escritos inéditos (na sua maioria
dissertações e teses do MIT) e um oitavo – pelo próprio autor do artigo – refere-se a outro artigo do
autor que estaria no prelo.
34
Como exemplo típico das táticas empregues pelos colegas de Chomsky, pode referir-se a troca bem
documentada entre Uriel Weinreich e Jerrold J. Katz. O último incorporou muitas correções a falhas
na sua teoria para as quais Weinreich o alertou na sua crítica, fingindo que tinham sido da sua própria
iniciativa. Cf. “Recent issues in semantic theory” de Katz (1967), e a breve resposta de Weinreich,
em que expressou o seu espanto sobre tal procedimento, “On arguing with Mr. Katz” (Weinreich
1967). Para o modo da conduta de Chomsky quando desafiado, veja-se Koerner (2005f).

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 215
que este tipo de apoio estivesse sempre a postos. De que outra forma se poderia
explicar, por exemplo, que em menos de um ano após a publicação do livro de
1980 de Newmeyer, uma revisão brilhante apareça em Language (apenas, o jornal
com a maior circulação de todos os periódicos da linguística no mundo). A
resenha foi escrita por Donna Jo Napoli, que, como Newmeyer, era editora
associada de Language, na época, já agora. Napoli vê um benefício particular de
Linguistics in America porque “[...] the structuralist [!] who stopped reading
generative work sometime soon after Chomsky’s Aspects can [now] follow more
recent developments [...]” (Napoli 1981: 456).
35
Sem dúvida, que a questão de
‘The Politics of Linguistics’ precisa de ser tratada; mas de uma forma muito
diferente do recente livro de Newmeyer com o mesmo título (Newmeyer 1986b;
cf. Murray 1989). Nesse livro não é feita nenhuma tentativa de pôr a nu a operação
das redes sociais na forma que, por exemplo, Murray (1983) o faz. Ao invés,
Newmeyer publicou um artigo a defender a ‘Chomskyan Revolution in
Linguistics’ (Newmeyer 1986a), onde argumenta que esta ocorreu
‘sociologicamente’ e ‘intelectualmente’, ao mesmo tempo, isto ao negar que tenha
havido qualquer ‘tomada de poder’ (Newmeyer 1986a: 9) por parte da escola da
GGT, alegando inesperadamente que “their influence [in American linguistics] is
disproportionately small” (Newmeyer 1986a: 12). Em nota de rodapé (Newmeyer
1986a: 12, nota 14) Newmeyer reconhece que “Paul Chapin, the National Science
Foundation Director for linguistics, has a doctorate from MIT”, mas que o “[...]
1983 advisory panel contained only one generativist”. O que não menciona é o
facto importante de Chapin – o sétimo doutorando de Chomsky (cf. Koerner /
Tajima 1986: 196) – ser o primeiro titular nesta posição, que foi criada em 31 de
outubro de 1975,
36
e que se manteve no cargo cerca de 25 anos, aposentando-se
apenas em 1999, embora ainda associado à fundação National Science Foundation
(NSF), até ao início de 2001 noutro cargo.
37
Embora não haja nenhuma sugestão
que Chapin possa ter agido incorretamente no cargo, é natural supor que terá
olhado favoravelmente para os pedidos de subvenção de pessoas com credenciais
gerativistas. Continua a ser verdade que, dos muitos milhões de dólares


35
Para selecionar apenas algumas declarações adicionais da resenha: “This book is astounding for its
information, intelligence and insight” (Napoli 1981: 456); “[...] the greatest value of LTA [=
Newmeyer 1980] lies not so much in the material it covers, but how it covers that material” (Napoli
1981: 457), “This is a major contribution to our knowledge of the history of linguistic theory [as if
there was only one on the market of ideas]” (Napoli 1981: 459). Apenas se pode concordar com a
autora quando esta afirma que o livro é dedicado à história da “syntactic theory” – de um tipo
particular, é claro – e não à história da linguística americana em geral (Napoli 1981: 456).
36
Antes desta data, o Special Projects Program da Division of Social Sciences da NSF teria
processado os pedidos de bolsas; a partir do verão de 1973 em diante, Alan E. Bell do Departamento
de Linguística da Universidade do Colorado atuou como associado dos recursos humanos para lidar
com esses pedidos.
37
No seu e-mail detalhado que me dirigiu em 15 de janeiro de 2002, Dr. Chapin gentilmente me
facultou esses (e outros) detalhes; o seu último cargo no NSF foi o de ‘Senior Program Director for
Cross-Disciplinary Initiatives’.

216 E.F.K. Koerner
distribuídos pelo programa de linguística da Agência, o MIT e as suas instituições
associadas receberam – e refiro-me especialmente aos anos 1960 e 1970 – um
valor considerável, e por vezes bastante desproporcional (como informam os
relatórios anuais da NSF).
38

Outro aspeto importante não mencionado por Newmeyer no seu artigo de
1986 sobre a ‘revolução chomskyana’ é o facto de que o primeiro doutorando
(oficial) de Chomsky, D. Terence Langendoen, ocupou o cargo de Secretário-
Tesoureiro da LSA por um mandato de cinco anos (1984-1989),
39
e que tinha sido
precedido por Victoria A. Fromkin (desde 1979), que certamente também pode ser
incluída no campo da GGT. Se na realidade tivéssemos de aceitar a reivindicação
de Newmeyer (1986a: 12) de que havia “[...] many major universities [...]
dominated by non-generativists”, sugerindo assim que o número de gerativistas na
época era bastante pequeno, não podemos deixar de notar que eles estavam
desproporcionalmente, por excesso, representados nas importantes comissões da
LSA. Por exemplo – como se pode supor a partir do LSA Bulletin 117 (outubro de
1987) – o comité de nomeação propôs dois candidatos para o comité executivo de
1988-1990, um doutorado do MIT e o outro, um gerativista distinto, com um
terceiro candidato, que tinha feito o seu doutoramento no MIT em 1976; todos a
serem nomeados por mais de dez membros da LSA.
Ao contrário do presidente da LSA (observe-se, por exemplo, que a terceira
doutoranda de Chomsky, Barbara Hall Partee, foi presidente em 1986, precedida
por Victoria Fromkin em 1985, e seguida por Elizabeth Traugott, também uma
adepta bem cedo da escola da GGT, em 1987), que geralmente não exerce muita
influência durante o seu primeiro ano de mandato, o Secretário-Tesoureiro, que é
um membro ex officio de uma das comissões mais importantes (por exemplo,
aqueles que distribuem bolsas de viagem, bolsas de estudo, posições de delegado),
desempenha um papel importante na linguística americana. Além disso, não
devemos esquecer que a LSA é de longe a maior organização profissional de
linguistas do mundo. Mas ‘linguística organizacional’, ou seja, o poder e a


38
Recordo-me que, tendo sido convidado pelo Dr. Bell naquele ano, para servir como uma das
referências para o projeto da LSA para organizar o Third Golden Anniversary Symposium (1974),
desta vez dedicado à ‘The European Background of American Linguistics’ (cf. Koerner 2005a,
capítulo 1, para mais detalhes), obtive o relatório anual emitido pelo Programa de Linguística do NSF
no início de 1974. Daí deduzi que, enquanto os principais estudiosos da época (como Charles
Ferguson de Stanford para o Arquivo Fonológica) recebeu uma bolsa de $30 000 ou $40 000, o
próprio Morris Halle, do MIT, recebeu uma quantidade muito maior, $120 000 ou mais, para um
projeto intitulado ‘The study of language’. Seria interessante verificar todos esses relatórios anuais, a
fim de obter uma ideia da forma como projetos do tipo da GGT foram fortemente financiados (Paul
Chapin, no seu e-mail para mim em 17 de janeiro de 2002, prometeu “the next time I have occasion
to go through the boxes in my storeroom, I’ll keep an eye out for the lists, and will let you know
promptly if I find them”, mas ainda não o tinha feito até finais de maio de 2002).
39
Pode parecer irónico para alguns que não tenha sido mais ninguém senão Newmeyer a ser
escolhido na reunião de dezembro de 1988 da LSA para substituir Langendoen, que renunciou ao
cargo após a sua contratação pela Universidade de Arizona em 1988.

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 217
influência exercida por pessoas que, sempre que um associado do ‘paradigma da
GGT’ é criticado, correm na sua defesa, não fica por aí. Seria interessante
descobrir quantas outras organizações linguísticas que lidam com bolsas de estudo
e decidem sobre bolsas de viagem e similares são efetivamente controladas por
pessoas que, pelo menos num sentido amplo pertencem a este movimento
gerativista. Da mesma forma, gostaria de saber quantos deles estão em posições de
poder político nas universidades como presidentes, reitores, etc. Além disso, se
não houve ‘tomada de poder’, como alguém pode alegar que se deu uma
‘revolução’? Porém, este é apenas mais um aspeto (embora, provavelmente, um
muito importante) que exige uma análise aprofundada.

5.2 O acesso efetivo a e o controlo sobre as revistas de linguística
Já mencionei o tema do acesso à publicação como uma parte importante da
linguística organizacional. Após a morte de Bernard Bloch (que já vimos ter sido
um simpatizante e apoiante de Noam Chomsky), em 1965, William Bright, um
linguista antropológico da Universidade de California em Los Angeles (UCLA), foi
escolhido como editor de Language, em grande parte como resultado da
recomendação de Robert Stockwell, que desde 1961 tinha estado ocupado em
consolidar um incipiente programa de linguística num forte departamento da GGT
com uma agenda claramente gerativista (cf. Hill 1991: 128 e a nota de Martin Joos;
Stockwell 1998: 236-239). Bright, que serviu como editor da Language durante
cerca de vinte anos (1966-1987), não era de modo algum um adepto da GGT, mas
depressa se mudou do Departamento de Antropologia da UCLA para o Departa-
mento de Linguística (que provavelmente era o maior departamento nos E.U.A. na
altura) e, obviamente, tornou-se apoiante desta escola.
40
A sucessora de Bright até
1996, Sarah Grey Thomason, também não era, de forma alguma, uma seguidora da


40
Como exemplo disso, posso referir uma experiência pessoal. No verão de 1982, apresentei a Bright
o que viria a ser Koerner (1983b) para uma possível publicação em Language. Era em traços gerais
uma crítica à maneira como Newmeyer (1980) tinha apresentado a história da linguística americana.
Recordo que no International Congress of Linguists, realizado em Tóquio naquele ano, anunciei que
tinha apresentado um trabalho sobre o tema da ‘revolução chomskyana’ para a revista Language, mas
que esperava que fosse rejeitado. Na sequência desse anúncio, fui interpelado no corredor por
Victoria Fromkin do Departamento de Linguística da UCLA, que me garantiu que Bright lhe daria
um tratamento justo. Bright escolheu três árbitros, Charles Hockett (que me tinha incentivado
anteriormente a enviar o artigo para Language), Dell Hymes (que reclamou que não tinha
considerado suficientemente o seu trabalho sobre o tema) e quem mais se não o próprio Frederick
Newmeyer (cuja bolsa de estudos eu tinha questionado). Essencialmente a conselho deste último, o
artigo acabou por ser rejeitado. Mas a história não termina aqui. Vários anos mais tarde, Newmeyer
obteve uma oportunidade para responder ao meu artigo em Language, embora o artigo nunca tivesse
sido publicado naquela revista (Newmeyer 1986b: 159, nota 18 tenta fazer com que os seus leitores
acreditem que o artigo seria uma resposta ao artigo de Murray de 1980, o que pode ser facilmente
refutado por simplesmente contar as frequentes referências ao meu artigo de 1983 no seu artigo de
1986). O facto de ele referir, no mesmo artigo, que o editor da Language seria “[...] scrupulously fair
in his handling of submissions to the journal [...]”, ao acrescentar que sabia “[] from personal
experience that he [William Bright, EFKK] is a model of impartiality [...]” (Newmeyer 1986a: 14,
nota 17), deforma o credível.

218 E.F.K. Koerner
linguística de Chomsky, mas a evidência mostra que ela cedeu consideravelmente para acomodar o trabalho dos linguistas desta fação. A viragem em direção à
linguística gerativista tornou-se mais evidente durante o mandato de cinco anos
(1997-2001) de Mark Aronoff (Ph.D., MIT, 1976) como editor de Language.
No entanto, focarmo-nos em Language dá uma imagem distorcida da situação
norte-americana, no que concerne à publicação de artigos em revistas de
linguística, como me apercebi quando tentava publicar um artigo que viria a
publicar na Europa (Koerner 1983b), por causa da garra que a GGT tinha sobre os
vários meios de publicação de maior importância, Linguistic Inquiry (lançada no
MIT, em 1970), Linguistic Analysis (1976-), Linguistics and Philosophy (1977-), e
outros periódicos. Não muito diferente dos neogramáticos durante a década de
1870, que ou começaram novos periódicos (Beiträge zur Geschichte der
deutschen Sprache em 1874 e Morphologische Untersuchungen em 1878) ou
redefiniram as metas dos já estabelecidos (como Zeitschrift für Vergleichende
Sprachforschung em 1876), uma vez que obtiveram controlo editorial sobre as
publicações, os linguistas do MIT e os seus aliados fizeram essencialmente o
mesmo, acrescentando ao seu arsenal a revista Natural Language and Linguistic
Theory (que foi lançado no MIT em 1983).

6 Observações finais
Voltando às observações feitas por Stephen Murray e John Joseph no início
deste artigo, podemos tentar uma espécie de resumo. Se aceitarmos os ‘three
factors’ de Murray (1994: 22-23) com os quais se definem os grupos científicos
que, em última instância, decidem quem lidera a agenda – boas ideias, liderança
intelectual e liderança organizacional – não podemos negar que a GGT, desde
finais dos anos 1960, e mais claramente durante os anos 1970, poderá reivindicar
todos os três: as ideias de Chomsky, nomeadamente, a partir de Aspects, em
relação ao que pode ser considerado ‘boas ideias’, junto com Morris Halle,
forneceu a ‘liderança intelectual’, e pode dizer-se que Halle providenciou a
‘liderança organizacional’, pelo menos aquando do início dos preparativos para o
International Congress de 1962. Se, de facto, “most revolutions are essentially
rhetorical, with the substantive change being one of personnel – who is in charge
of the government, who defines the mainstream”, como Joseph (1995: 384, nota 5)
nos quer fazer crer, teríamos chegado à conclusão de que tinha havido uma
‘revolução chomskyana’.
Que esta revolução não ocorreu do dia para a noite, e que demorou cerca de
uma década após a publicação de Syntactic Structures para vencer, pode ser
confirmado a partir do facto de que, mesmo em departamentos com uma tendência
gerativa bastante forte como da UCLA, testemunharíamos o seguinte cânone da
literatura pós-bloomfieldiana, a fazer parte da leitura obrigatória:

Linguística e revolução: com especial referência à ‘revolução chomskyana’ 219
Prior to the mid-1960s, the typical MA student, [...], was required to have a
“theoretical” background based on Joos’s (1958 [recte: 1957]) Readings in
Linguistics, including Bloomfield’s (1939) Linguistic Aspects of Science and
Bloch’s (1948) Postulates. A major topic in seminars concerned “item and
arrangement”: vs. “item and process” [Hockett 1954] analysis. Bloomfield’s
(1933) Language and Hockett’s (1958) A Course in Modern Linguistics were
the texts for the prerequisite courses for graduate study (Fromkin 1991: 78).
41

Não é só por causa disso, mas também por causa da evidência documentada
que se oferece neste artigo (e também em Koerner 2005c) sobre o endividamento
de Chomsky para com os seus antecessores que me levam a argumentar em favor
de uma ‘evolução’ em vez de ‘revolução’ quando se refere às mudanças que
ocorreram na linguística americana durante os anos de 1960 e 1970.
Mas talvez devêssemos dar a última palavra a Noam Chomsky. Tanto quanto
sei, ele nunca alegou ter produzido uma revolução na linguística, pelo menos não
nos seus escritos ou entrevistas durante os anos 1960 até aos anos 1980, embora
não se tivesse oposto a que outros lhe tivessem dado esse atributo. Isto parece ter
mudado durante os anos 1990. Enquanto, numa entrevista, em 1994, a um dos
editores dos Linguistische Berichte, ele apenas deu a entender que a sua teoria
‘Government & Binding’ (GB), também conhecida como a teoria dos
‘Principiples & Parameters’ (P&P), constituiu uma mudança significativa em
relação aos quadros anteriores que tinha proposto (Grewendorf 1994), manifestou-
se muito mais agressivamente numa entrevista, no Brasil, em novembro de 1996.
Lá, afirmou, sobre a teoria GB primeiramente delineada por Chomsky (1981a):
It was the first genuine theory of language that had ever been produced in
2500 years because it showed how you could, in principle and to some extent
even in practice, overcome the conflict between descriptive and explanatory
adequacy (Chomsky
1997: 169-170).
Chomsky (1997: 171) acrescentou com toda a seriedade (e como se para
ecoar, a declaração final de Newmeyer 1980: 250, verbatim): “Probably more was
learned about language in the 1980s than in the entire preceding 2500 years”.
Embora Chomsky não utilize o termo, certamente quis dizer que a abordagem
GB / P&P teria produzido de facto uma revolução, até uma de proporções
vertiginosas. Parece, pois, no mínimo, irónico que um quadro teórico tão perspicaz
para a análise e a compreensão da linguagem viesse a tornar-se obsoleto depois de
uma vida útil de apenas uma década. Como Chomsky (1997: 171) explica, ainda,
aos seus entrevistadores:


41
Quando entrei na escola de pós-graduação, na Universidade Simon Fraser, em Vancouver, em
setembro de 1968, a listagem das leituras obrigatórias de Fromkin ainda era aplicada, juntamente com
os trabalhos de Sapir, apesar do facto de vários membros da equipa defenderem já arduamente as
convicções da GGT.

220 E.F.K. Koerner
That brings us to the Minimalist Program [Chomsky 1992, 1995, EFKK],
which is an attempt to try to show that these great successes [of BG/P&P,
EFKK] are based on sand. That is, they are based on descriptive technology
that works but is wrong because it is unmotivated and should be taken apart.
Visto à luz destas declarações, não se pode deixar de concordar com Joseph
(1995: 380), quando fala de “Noam Chomsky, Serial Revolutionary”.
42




42
É interessante que o filósofo de Berkeley, John R. Searle (nascido em 1932), que, em 1972 saudou
“The Chomskyan Revolution”, agora passou a falar de “End of the Revolution”, isto é, 30 anos após
a sua revisão de Chomsky (2000). Aí Searle (2002a: 33) escreve:
After such a long time it would seem appropriate to assess the results of the revolution.
This article is not by itself such an assessment, because to do an adequate job one
would require more knowledge of what happened in linguistics in these years than I
have, and certainly more than is exhibited by Chomsky’s new book. But this much at
least we can say. Judged by the objectives stated in the original manifestoes, the
revolution has not succeeded. Something else may have succeeded, or may eventually
succeed, but the goals of the original revolution have been altered and in a sense
abandoned. I think Chomsky would say that this shows not a failure of the original
project but a redefinition of its goals in ways dictated by new discoveries, and that
such redefinitions are typical of ongoing scientific research projects.
É notório ver o colega de Chomsky no MIT, Sylvain Bromberger (nascido em 1924), a sair em defesa
de Chomsky numa carta ao editor do periódico The New York Review of Books (Bromberger 2002:
60), onde caraterizou a resenha de Searle como “[...] seriously misleading” e afirmou, face às provas
apresentadas pelo próprio Chomsky, que “none of these ‘revolutionary’ conjectures have been
abandoned by Chomsky or by those who work within the framework he created”. Veja-se também a
resposta de Searle (2002b: 60-61) na mesma edição.

Referências bibliográficas



Aarsleff, Hans (1977): “Guillaume de Humboldt et la pensée linguistique des Idéologues”.
In: Joly / Stéfanini (1977: 217-241).
Aarsleff, Hans (1982a): “Wilhelm von Humboldt and the Linguistic Thought of the French
Idéologues”. In: Aarsleff, Hans (1982): From Locke to Saussure: Essays on the
study of language and intellectual history. Minneapolis; London: University of
Minnesota Press; Athlone, 335-355.
Aarsleff, Hans (1982b): From Locke to Saussure: Essays on the study of language and
intellectual history. Minneapolis: University of Minnesota Press.
Aarsleff, Hans (1988): “Introduction”. In: Humboldt 1988, vii-lxv.
Aarsleff, Hans / Kelly, Louis G. / Niederehe, Hans-Josef (eds.) (1987): Papers in the
History of Linguistics: Proceedings of the Third International Conference on the
History of the Language Sciences (ICHoLS III), Princeton, 19-23 August 1984.
Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins (Studies in the History of the Language
Sciences; 38).
Aarts, Flor G. A. M. (1976): “The Description of Linguistic Variation in English: From
Firth till the present day”. In: English Studies 57, 239-251.
Abercrombie, David (1948): “The Social Nature of Language”. In: English Language
Teaching 3/1, 1-11. [reedição: Abercrombie (1956: 1-15)]
Abercrombie, David (1956): Problems and Principles: Studies in the teaching of English
as a second language. London: Longmans, Green & Co.
Aertsen, Henk / Jeffers, Robert J. (eds.) (1993): Historical Linguistics 1989: Papers from
the 9th International Conference on Historical Linguistics, Rutgers University, 14-
18 August 1989. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins (Current Issues in
Linguistic Theory; 106).
Agard Frederick B. / Kelley, Gerald / Makkai, Adam / Becker Makkai, Valerie (eds.)
(1983): Essays in Honor of Charles F. Hockett. Leiden: E. J. Brill (Cornell
Linguistic Contributions; 4).
Ahlqvist, Anders (ed.) (1982): Papers from the Fifth International Conference on
Historical Linguistics, Galway, April 6-10 1981. Amsterdam; Philadelphia: John
Benjamins (Current Issues in Linguistic Theory; 21).
Ahlqvist, Anders (ed.) (1992): Diversions of Galway Papers on the history of linguistics
from ICHoLS V, Galway, Ireland, 1-6 September 1990. Amsterdam; Philadelphia:
John Benjamins (Studies in the History of the Language Sciences; 68).
Alatis, George A. (ed.) (1970): 20th Annual Round Table Linguistics and the Teaching of
Standard English to Speakers of Other Languages or Dialects. Washington, D.C.:
Georgetown University, School of Languages and Linguistics (Monograph Series
on Languages and Linguistics; 22).
Albano Leoni, Federico (1975): Il primo trattato grammaticale islandese. Bologna: Il Mulino.
Albano Leoni, Federico (1977): “Beiträge zur Deutung der isländischen ‘Ersten
Abhandlung’”. In: Archiv för Nordisk Filologi 92, 70-91.
Allan, Keith (
2
2009): The Western Classical Tradition in Linguistics. Second (expanded)
edition. London; Oakville: Equinox (Equinox Textbooks and Surveys in
Linguistics). [primeira edição 2007]

222 E.F.K. Koerner
Allgemeines Archiv für Ethnographie und Linguistik 1 (Weimar: Landes-Industrie-
Comptoir). [revista editada por Johann Severin Vater e Friedrich Justin Bertuch]
Ammon, Ulrich / Dittmar, Norbert / Mattheier, Klaus J. (Hrsg.) (
1
1987, I): Sociolinguistics:
An International Handbook of the Science of Language and Society, Volume
1, Soziolinguistik: Ein Internationales Handbuch zur Wissenschaft von Sprache und
Gesellschaft, 1. Teilband, Berlin; New York: Walter de Gruyter (Handbücher zur
Sprach- und Kommunikationswissenschaft, Handbooks of Linguistics and
Communication Science, Manuels de linguistique et des sciences de
communication, 3. 1).
Ammon, Ulrich / Dittmar, Norbert / Mattheier, Klaus J. (Hrsg.) (
1
1988, II): Sociolinguistics:
An International Handbook of the Science of Language and Society, Volume
2, Soziolinguistik: Ein Internationales Handbuch zur Wissenschaft von Sprache und
Gesellschaft, 2. Teilband, Berlin; New York: Walter de Gruyter (Handbücher zur
Sprach- und Kommunikationswissenschaft, Handbooks of Linguistics and
Communication Science, Manuels de linguistique et des sciences de
communication, 3. 2).
Ammon, Ulrich / Dittmar, Norbert / Mattheier, Klaus J. / Trudgill, Peter (Hrsg.) (
2
2004, I):
Sociolinguistics: An International Handbook of the Science of Language and
Society, Volume 1, Soziolinguistik: Ein Internationales Handbuch zur Wissenschaft
von Sprache und Gesellschaft, 1. Teilband, Berlin; New York: Walter de Gruyter
(Handbücher zur Sprach- und Kommunikationswissenschaft, Handbooks of
Linguistics and Communication Science, Manuels de linguistique et des sciences de
communication, 3. 2).
Ammon, Ulrich / Dittmar, Norbert / Mattheier, Klaus J. / Trudgill, Peter (Hrsg.) (
2
2005, II):
Sociolinguistics: An International Handbook of the Science of Language and
Society, Volume 1, Soziolinguistik: Ein Internationales Handbuch zur Wissenschaft
von Sprache und Gesellschaft, 2. Teilband, Berlin; New York: Walter de Gruyter
(Handbücher zur Sprach- und Kommunikationswissenschaft, Handbooks of
Linguistics and Communication Science, Manuels de linguistique et des sciences de
communication, 3. 2).
Ammon, Ulrich / Dittmar, Norbert / Mattheier, Klaus J. / Trudgill, Peter (Hrsg.) (
2
2006, III):
Sociolinguistics: An International Handbook of the Science of Language and
Society, Volume 1, Soziolinguistik: Ein Internationales Handbuch zur Wissenschaft
von Sprache und Gesellschaft, 3. Teilband, Berlin; New York: Walter de Gruyter
(Handbücher zur Sprach- und Kommunikationswissenschaft, Handbooks of
Linguistics and Communication Science, Manuels de linguistique et des sciences de
communication, 3. 3).
Amsler, Mark (1989): Etymology and Grammatical Discourse in Late Antiquity and in the
Early Middle Ages. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins (Studies in the
History of the Language Sciences; 44).
Amsterdamska, Olga (1987): Schools of Thought: The development of linguistics from
Bopp to Saussure. Dordrecht; Boston: D. Reidel.
Anders, Georg (1984): “Feiert Chomsky, aber vergesst Harris nicht: Zur Entwickung eines
Abschnitts der neueren Sprachwissenschaftsgeschichte”. In: Grazer Linguistische
Studien 21, 5-16.
Andersen, Fleming / Bache, Carl (1976): “August Schleicher: Towards a better
understanding of his concept of language change”. In: Anthropological Linguistics
18, 428-437.

Referências bibliográficas 223
Anderson, Stephen R. (1985): Phonology in the Twentieth Century: Theories of Rules and
Theories of Representation. Chicago; London: The University of Chicago Press.
Andresen, Julie T. (1978): “François Thurot and the First History of Grammar”. In:
Historiographia Linguistica 5/1-2, 45-57.
Anttila, Raimo (1973): “Linguistik und Philologie”. In: Bartsch / Vennemann (1973: 177-
191).
Anttila, Raimo (1975): “Revelation as Linguistic Revolution”. In: Makkai / Becker-
Makkai (1975: 171-176).
Arbuckle, John (1970): “August Schleicher and the Linguistic/Philology Dichotomy: A
chapter in the history of linguistics”. In: Word 26/1 (1973), 17-31. [o número da
revista foi efetivamente publicada em 1973]
Arens, Hans (
1
1955): Sprachwissenschaft: Der Gang ihrer Entwicklung von der Antike bis
zur Gegenwart. Freiburg; München, Verlag Karl Alber (Orbis academicus:
Geisteswissenschaftliche Abteilung; 6). [segunda edição 1969]
Aubin, Hermann / Frings, Theodor / Müller, Josef (eds.): Kulturströmungen und Kultur-
provinzen in den Rheinlanden: Geschichte, Sprache, Volkskunde. Bonn: Ludwig
Röhrscheid.
Auroux, Sylvain (1979): “Catégories de métalangages”. In: Histoire Épistémologie
Langage 1/1, 3-14.
Auroux, Sylvain (éd.) (1989, 1992, 2000): Histoire des idées linguistiques. 3 vols.
Brussels: Pierre Mardaga. [Tome 1: La Naissance des méta-langages en Orient et
Occident; Tome 2: Le dévelopement de la grammaire occidentale; Tome 3:
L’Hégémonie du comparatisme]
Auroux, Sylvain / Arpin, Jocelyne / Lazcano, Elisabeth / Léon, Jacqueline (eds.) (2003):
History of Linguistics 1999: Selected Papers from the Eighth International
Conference on the History of the Language Sciences, 14-19 September
1999, Fontenay-St.Cloud. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins (Studies in
the History of the Language Sciences; 99).
Auroux, Sylvain / Glatigny, Michel / Joly, André / Nicolas, Anne / Rosier, Irène (éds.)
(1984): Matériaux pour une histoire des théories linguistiques: Actes du II
e

Colloque ICHoLS, Lille 1982. [Villeneuve-d’Ascq]: Université de Lille III
(Travaux et Recherches).
Auroux, Sylvain / Koerner, E.F K. / Niederehe, Hans J-Joseph / Versteegh, Kees (eds.)
(2000-2006): History of the language sciences: an international handbook on the
evolution of the study of language from the beginnings to the present / Histoire des
sciences du langage: Manuel international d’histoire des études linguistiques des
origines a` nos jours / Geschichte der Sprachwissenschaften: Ein internationales
Handbuch zur Entwicklung der Sprachforschung von den Anfängen bis zur
Gegenwart. (3 Tomes). Berlin; New York: Walter de Gruyter (Handbücher zur
Sprach- und Kommunikationswissenschaften; Handbooks of Linguistics and
Communication Science; HSK 18.1-18.3).
Ayres-Bennett, Wendy (1987): “Linguistic Historiography”. In: Linguistic Abstracts 3/3,
113-125.
Bach, Emmon (1965): “Structural Linguistics and the Philosophy of Science”. In:
Diogenes 51, 111-28.
Bahner, Werner (1981): “Theoretische und methodologische Aspekte in der
Historiographic der Sprachwissenschaft”. In: Deutsche Zeitschrift für Philosophie
29/11, 1281-1293.

224 E.F.K. Koerner
Bahner, Werner / Schildt, Joachim / Viehweger, Dieter (eds.) (1990): Proceedings of the
Fourteenth International Congress of Linguists: Berlin/GDR, August 10-August
15, 1987, vol. 3. Berlin: Akademie-Verlag Berlin.
Baratin, Marc / Desbordes, Françoise (1982): “Sémiologie et métalinguistique chez Saint
Augustin”. In: Langages 63, 75-89.
Bar-Hillel, Yehoshua (1954): “Can translations be mechanized?”. In: American Scientist
42, 248-260.
Barsky, Robert F. (1997): Noam Chomsky: A Life of Dissent. Cambridge, Mass.: MIT
Press.
Bartlett, Barrie E. (1984): “Metalanguage as Object-Language”. In: Auroux / Glatigny /
Joly / Nicolas / Rosier (1984: 517-524).
Bartsch, Renate / Vennemann, Theo (Hrsg.) (1973): Linguistik und Nachbarwissen-
schaften, Kronberg/Taunus: Scriptor.
Bátori, István (1982): “Was bleibt von Chomsky? Chomsky und die sogenannte
traditionelle Sprachwissenschaft”. In: Folia Linguistica 14 (1980), 103-121. [artigo
publicado de facto em 1982]
Baumgärtner, Klaus (1972): Resenha de: Gabelentz (1969). In: Germanistik 13, 247.
Becker, Carl L. (1932): The Heavenly City of the Eighteenth-Century Philosophers. New
Haven: Yale University Press. [35.ª impressão, 1971]
Becker-Makkai, Valerie (ed.) (1972): Phonological Theory: evolution and current
practice. New York: Holt, Rinehart, and Winston (Longman handbooks for
language teachers). [reedição: Jupiter Press, Lake Bluff, IL, 1978]
Bell, Roger T. (1976): Sociolinguistics: goals, approaches, and problems. London: B. T.
Batsford.
Benediktsson, Hreinn (1961): “The Earliest Germanic Phonology”. In: Lingua 10, 237-254.
Benediktsson, Hreinn (1972): The First Grammatical Treatise, Introduction, text, notes,
Translation, vocabulary, and facsimiles. Reykjavik: Institute of Nordic Linguistics
(University of Iceland Publications in Linguistics; 1).
Benedini, Paola (1988): “La teoria sintattica dei Modisti: Attualità dei concetti di reggenza
e dipendenza”. In: Lingua e Stile 23, 113-135.
Benfey, Theodor (
1
1869): Geschichte der Sprachwissenschaft und orientalischen
Philologie in Deutschland seit dem Anfange des 19. Jahrhunderts, mit einem
Rückblick auf die früheren Zeiten. München: Literarisch-artistische Anstalt der J. G.
Cotta'schen Buchhandlung (Geschichte der Wissenschaften in Deutschland: Neuere
Zeit; 9). [reedição: New York: Johnson, 1965]
Benware, Wilbur A. (1974): “Jacob Grimm’s Vowel Triad: A Brake on Nineteenth Century
Indo-European Research”. In: General Linguistics 14, 71-85.
Bergsveinsson, Sveinn (1942): “Wie alt ist die ‘phonologische Opposition’?”. In: Archiv
für vergleichende Phonetik 6, 59-64.
Bernstein, Basil B. (1960): “Language and Social Class”. In: British Journal of Sociology
11, 271-276.
Bernstein, Basil B. (1965): “A Sociolinguistic Approach to Social Learning”. In: Gould
(1965: 144-168).
Bernstein, Basil B. (1971): Class, Codes, and Control, 3 vols. London: Routledge &
Kegan Paul. [segunda edição 1974-1975, nova edição 2003]
Bever, Thomas G. (1963): “Theoretical Implications of Bloomfield’s ‘Menomini Morpho-
phonemics’”. In: Quarterly Progress Report 68, 197-203. Cambridge, Mass.: M.I.T
Laboratory of Electronics. [reedição: Fought (1999: 13-19)]

Referências bibliográficas 225
Bever, Thomas G. (1967): “The Phonology of the Menomini Indians and Leonard
Bloomfield”. Tese de doutoramento inédita. Cambridge, Mass.: Massachusetts
Institute of Technology.
Bever, Thomas G. (1999): Comunicação por e-mail com o autor, 1 de dezembro de 1999.
Bever, Thomas G. / Katz, Jerrold J. / Langendoen, D. Terence (eds.) (1976): An Integrated
Theory of Linguistic Ability. New York: Crowell (Language and thought series).
Bierbach, Christine (1978): Sprache als ‘fait social’: Die linguistische Theorie F. de
Saussure’s und ihr Verhältnis zu den positivistischen Sozialwissenschaften.
Tübingen: Max Niemeyer Verlag (Linguistische Arbeiten; 59).
Bierwisch, Manfred (1966a): “Strukturalismus: Geschichte, Probleme und Methoden”. In:
Kursbuch 5, 77-152. [tradução inglesa 1971]
Bierwisch, Manfred (1966b): Resenha de: Lunt (1964). In: Germanistik 7, 15-17.
Bierwisch, Manfred (1971): Modern Linguistics: Its development, methods and problems.
The Hague: Mouton (Janua linguarum: Series Minor; 110).
Binnick, Robert I. / Davison, Alice / Green, Georgia M. / Morgan, Jerry L. (eds.) (1969):
Papers from the Fifth Regional Meeting of the Chicago Linguistic Society, Chicago:
Chicago Linguistic Society.
Bloch, Bernard (1941): “Phonemic Overlapping”. In: American Speech 16/4 (December,
1941), 278-284. [reedição: Joos (1957: 93-96)]
Bloch, Bernard (1946): “Studies in Colloquial Japanese II: Syntax”. In: Language 22/3
(July-September, 1946), 200-248. [reedição: Joos (1957: 154-184); cf. o comentário
de Joos (1957: 185)]
Bloch, Bernard (1947): “English Verb Inflection”. In: Language 23/4 (October-December,
1947), 399-418. [reedição: Joos, 1957, 243-254)]
Bloch, Bernard (1948): “A set of postulates for phonemic analysis”. In: Language 24/1
(January-March, 1948), 3-46.
Bloch, Bernard / Trager, George L. (eds.) (1942): Outline of Linguistic Analysis.
Baltimore, Md.: Linguistic Society of America at the Waverly Press (Special
Publications of the Linguistic Society of America).
Bloomfield, Leonard (1923): Resenha de: Saussure (1922). In: Modern Language Journal
8, 317-319. [reedição: Bloomfield (1970: 106-108)]
Bloomfield, Leonard (1933): Language. New York; Chicago; San Francisco; Toronto: Holt,
Rinehart & Winston. [reedição: com um prefácio de Charles F. Hockett, Chicago:
University of Chicago Press, 1984]
Bloomfield, Leonard (1939): “Menomini morphophonemics”. In: Travaux du Cercle
Linguistique de Prague; 8 (Études phonologiques dédiées à la mémoire de N. S.
Trubetzkoy, Prague), 105-115. [reedição: Becker-Makkai (1972: 58-64); Bloomfield
(1970: 351-362)]
Bloomfield, Leonard (1942a): “Outline of Ilocano syntax”. In: Language 18/3 (July-
September, 1942), 193-200.
Bloomfield, Leonard (1942b): “Syntax”. In: Bloch / Trager (1942: 71-78). [= capítulo V]
Bloomfield, Leonard (1957): Eastern Ojibwa: Grammatical Sketch, Texts, and Word List.
Ann Arbor, MN: University of Michigan Press.
Bloomfield, Leonard (1962): The Menomini Language. New Haven; London: Yale
University Press.
Bloomfield, Leonard (1970): A Leonard Bloomfield Anthology. Edited by Charles F. Hockett.
Bloomington, Ind.; London: Indiana University Press. [segunda edição 1987]

226 E.F.K. Koerner
Boal, Iain A. (1984): “Chomsky and the state of linguistics”. Manuscrito inédito
[originalmente escrito para The Atlantic Monthly], 29 págs.
Bokadorova, N[atalija] Ju[ri'evna] (1986): “Problemy istoriologii nauki o jazyke [Problems of
a 'historiology' of the science of language]”. In: Voprosy Jazykoznanija 35/ 6, 68-75.
Bolelli, Tristano (1979): “La scuola linguistica sociologica francese”. In: Studi e Saggi
Linguistici 19, 1-26.
Bopp, Franz (1816): Über das Conjugationssystem der Sanskritsprache in Vergleichung
mit jenem der griechischen, lateinischen, persischen und germanischen Sprache.
Herausgegeben und mit Vorerinnerungen begleitet von Dr. K[arl] J[oseph]
Windischmann. Frankfurt am Main: in der Andreäischen Buchhandlung.
Bopp, Franz (
1
1833): Vergleichende Grammatik des Sanskrit, Zend, Griechischen,
Lateinischen, Litthauischen, Gothischen und Deutschen. Berlin: Gedruckt in der
Druckerei der Königl. Akademie der Wissenschaften Bei Ferdinand Dümmler.
[segunda edição 1857-1861, 3 vols.; reedição: Bonn: F. Dümmler, 1971]
Bopp, Franz (
3
1868-1871): Vergleichende Grammatik des Sanskrit, Send, Armenischen,
Griechischen, Lateinischen, Litauischen, Altslavischen, Gothischen und Deutschen.
Berlin; Paris: Ferd. Dümmler's Verlagsbuchhandlung; Maissonneuve & Cie.
[reedição: Bonn: F. Dümmler, 1971]
Bourdieu, Pierre (1975): “The Specificity of the Scientific Field and the Social Conditions
of the Progress of Reason”. In: Social Science Information 14/6, 19-47.
Bréal, Michel (1878): “Sur les rapports de la linguistique et de la philologie: Lettre à M.
Éd. Tournier”. In: Révue de Philologie, de Littérature et d’Histoire anciennes 2
(2.
ème
série), 1-10.
Bréal, Michel (1883): “Les lois intellectuelles du langage: Fragment de sémantique”. In:
Annuaire de l’Association pour l’encouragement des études grecques en France
17, 132-142.
Bréal, Michel (1897): Essai de Sémantique (science des significations). Paris: Librairie
Hachette et C.
ie
.
Brekle, Herbert Ernst (1985): Einführung in die Geschichte der Sprachwissenschaft.
Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft.
Breva-Claramonte, Manuel (1983): Sanctius’ Theory of Language: a contribution to the
history of Renaissance linguistics. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins
(Studies in the History of the Language Sciences; 27).
Bright, William (ed.) (1966): Sociolinguistics: Proceedings of the UCLA Conference, The
Hague: Mouton.
Brisard, Frank / D'hondt, Sigurd / Mortelmans, Tanja (eds.) (2004): Language and Revo-
lution / Language and Time, Antwerpen: Universiteit Antwerpen (Antwerp Papers
in Linguistics; 106).
Bromberger, Sylvain (2002): “Chomsky's Revolution”. In: The New York Review of Books
49/7 (April 25, 2002), 60.
Bromberger, Sylvain / Halle, Morris (1989): “Why phonology is different”. In: Linguistic
Inquiry 20/1, 51-70.
Broselow, Ellen / Eid, Mushira / McCarthy, John (eds.) (1992): Perspectives on Arabic
Linguistics IV: Papers from the Fourth Annual Symposium on Arabic Linguistics.
Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins (Current Issues in Linguistic Theory;
190).
Brown, Roger Langham (1967): Wilhelm von Humboldt’s Conception of Linguistic
Relativity. The Hague: Mouton.

Referências bibliográficas 227
Brozek, Josef (1970): “A Note on Historians’ Unhistoricity in Citing References”. In:
Journal of the History of the Behavioral Sciences 6/3 (July, 1970), 255-257.
Brugmann, Karl (1885): “Sprachwissenschaft und Philologie”. In: Brugmann, Karl: Zum
heutigen Stand der Sprachwissenschaft, Strassburg: Karl J. Trübner, 1-41.
[reedição: Wilbur (1977)]
Brush, S[tephen] G. (1974): “Should the History of Science be Rated X?”. In: Science 183
(22 March 1974), 1164-1172.
Bunge, Mario (1984): “Philosophical Problems in Linguistics”. In: Erkenntnis 21/2 (July,
1984), 107-173.
Butterfield, Herbert (1931): The Whig Interpretation of History. London: G. Bell & Sons
[reedição: 1968; a obra teve várias reedições ao longo das décadas seguintes]
Bynon, Theodora / Palmer, Frank R. (eds.) (1986): Studies in the History of Western
Linguistics. Cambridge; New York; Melbourne; Madrid; Cape Town; Singapore;
São Paulo; Delhi; Dubai; Tokyo: Cambridge University Press.
Calvet, Louis-Jean (1999): “Aux origines de la sociolinguistique: La conférence de
sociolinguistique de l’UCLA (1964)”. In: Langage & Société 88, 23-57.
Cardona, George (1965): “On Pāṇini’s Morphophonemic Principles”: In: Language 41/2
(April-June, 1965), 225-237.
Carnap, Rudolf (1942): Introduction to Semantics. Cambridge, Mass.: Harvard University
Press.
Carnap, Rudolf (1958): “Beobachtungssprache und theoretische Sprache”. In: Dialectica:
International review of philosophy of knowledge 12/3-4, 236-248.
Carr III, John W. (ed.) (1958): Computer Programming and Artificial Intelligence: An
Intensive Course for Practicing scientists and engineers. Ann Arbor, Mich.:
University of Michigan, College of Engineering.
Casagrande, Joseph B. (1954): “The Ends of Translation”. In: International Journal of
American Linguistics 20/4 (October, 1954), 335-340.
Chafe, Wallace (1970): Meaning and the Structure of Language. Chicago; London:
University of Chicago Press.
Chicago Linguistic Society (1971): Papers from the Seventh Meeting of the Chicago
Linguistic Society. Chicago: Chicago Linguistic Society.
Chiera, Edward (1934a, IV): Joint Expedition with the Iraq Museum at Nuzi: Proceedings
in Court. Paris; Philadelphia: Paul Geuthner; Published for the American Schools
of Oriental Research by the University of Pennsylvania (American Schools of
Oriental Research: Publications of the Baghdad School; 4).
Chiera, Edward (1934b, V): Joint Expedition with the Iraq Museum at Nuzi: Mixed Texts.
Paris; Philadelphia: Paul Geuthner; Published for the American Schools of
Oriental Research by the University of Pennsylvania (American Schools of
Oriental Research: Publications of the Baghdad School; 5).
Chomsky, Noam (1951): “The Morphophonemics of Modern Hebrew”. Tese de mestrado
inédita. Philadelphia, PA: University of Pennsylvania. [edição facsimilada: New
York: Garland Publications, 1979]
Chomsky, Noam (1955a): “Transformational Analysis: A Dissertation in Linguistics”.
Tese de doutoramento inédita. Philadelphia, PA: University of Pennsylvania.
[reedição: capítulo IX de Chomsky (1975)]
Chomsky, Noam (1955b): “Semantic considerations in grammar”. In: Weinstein (1955:
141-150). [discussão: Weinstein (1955: 150-158)].

228 E.F.K. Koerner
Chomsky, Noam (1955-1956): “The Logical Structure of Linguistic Theory”. Cambridge,
Mass.: Massachusetts Institute of Technology, [trabalho datilografado, parcialmente
revisto em 1956]
Chomsky, Noam (1956): “Three models for the description of language”. In: Proceedings
of the Symposium on Information Theory. Cambridge, Mass.: Institute of Radio
Engineers, 113-124. [cf. Koerner / Tajima (1986: 5)]
Chomsky, Noam (
1
1957a): Syntactic Structures. The Hague: Mouton (Janua linguarum:
Series minor; 4). [segunda impressão com um suplemento bibliográfico 1962; 15.ª
impressão: 1996]
Chomsky, Noam (1957b): Resenha de: Hockett (1955). In: International Journal of
American Linguistics 23/3, 223-234.
Chomsky, Noam (1958): “Linguistics, Logic, Psychology, and Computers”. In: Carr
(1958: 429-456).
Chomsky, Noam (1961): “Some Methodological Remarks on Generative Grammar”. In:
Word 17/2, 219-239.
Chomsky, Noam (1962a): “The Logical Basis of Linguistic Theory”. In: Halle (1962a:
509-574). [reedição revista: Lunt (1964: 914-978; discussão, págs. 978-1008), bem
como numa monografia própria (Chomsky, 1964)]
Chomsky, Noam (1962b): “A Transformational Approach to Syntax”. In: Hill (1962: 124-
158). [comunicação apresentada na Third Texas Conference on Problems of
Linguistic Analysis in English, Austin, Texas, 9-12 de maio de 1958]
Chomsky, Noam (1964a): “The logical basis of linguistic theory”. In: Lunt (1964: 914-
978). [discussão: Lunt (1964: 978-1008); reedição: debaixo do título “Current
issues in linguistic theory” (Fodor / Katz 1964: 50-118); separadamente como livro
(Chomsky 1964b)]
Chomsky, Noam (1964b): Current Issues in Linguistic Theory. The Hague: Mouton (Janua
Linguarum: Series Minor; 38). [quinta impressão 1970]
Chomsky, Noam (1965): Aspects of the Theory of Syntax. Cambridge, Mass.: MIT Press
(Special technical report of the Research Laboratory of Electronics; 11).
Chomsky, Noam (
1
1966): Cartesian Linguistics: A Chapter in the History of Rationalist
Thought. New York; London: Harper & Row.
Chomsky, Noam (
2
1972): Language and mind. New York: Harcourt Brace Jovanovich.
[primeira edição 1968]
Chomsky, Noam (1974): “Noam Chomsky”. In: Parret (1974: 27-54). [entrevista de
Herman Parret com Noam Chomsky]
Chomsky, Noam (1975): The Logical Structure of Linguistic Theory. New York; London:
Plenum Press. [versão abreviada do trabalho datilografado de Chomsky (1955/56)
com acréscimo de “Introduction” (págs. 1-53) escrito em 1973; reedição: 1985 com
um índice de Jan van Voorst (págs. 574-592)]
Chomsky, Noam (1979a): Morphophonemics of Modern Hebrew. New York: Garland
Publications (Outstanding Dissertations in Linguistics Series; 12).
Chomsky, Noam (
1
1979b): Language and Responsibility: Based on conversations with
Mitsou Ronat. Translated from the French by John Viertel. New York: Pantheon
Books.
Chomsky, Noam (
1
1981a): Lectures on Government and Binding: The Pisa Lectures.
Dordrecht; Cinnaminson, N.J.: Foris Publications (Studies in generative grammar;
9). [palestras proferidas na Scuola Normale Superiore em Pisa em abril de 1979]

Referências bibliográficas 229
Chomsky, Noam (
1
1981b): Radical Priorities. Edited with an introduction by Carlos
Peregrin Otero. Montréal: Black Rose Books (Black Rose Books; 70). [segunda
edição aumentada: 1984]
Chomsky, Noam (1982a): Some Concepts and Consequences of the Theory of Government
and Binding, Cambridge, Mass.: MIT Press (Linguistic inquiry monographs; 6).
Chomsky, Noam (
1
1982b): Noam Chomsky on the Generative Enterprise: A discussion
with Riny Huybregts and Henk van Riemsdijk. Dordrecht; Cinnaminson, N.J.: Foris
Publications. [reedição: Chomsky (2004)]
Chomsky, Noam (1983): “Noam Chomsky [on Roman Jakobson]”. In: Massachusetts
Institute of Technology (1983: 81-83).
Chomsky, Noam (
1
1992): A Minimalist Program for Linguistic Theory. Cambridge, Mass.:
Massachusetts Institute of Technology, Department of Linguistics and
Philosophy, (MIT Occasional Papers in Linguistics; 1).
Chomsky, Noam (
1
1995): The Minimalist Program. Cambridge, Mass.: MIT Press
(Current studies in linguistics; 28).
Chomsky, Noam (1997a): “Knowledge of history and theory construction in modern
linguistics”. In: D.E.L.T.A.: Revista de Documentação de Estudos em Lingüística
Teórica e Aplicada 13 (No Especial, 1997: Chomsky no Brasil / Chomsky in
Brazil), 103-122.
Chomsky, Noam (1997b): “Generative linguistics: development and perspectives. An
interview with Noam Chomsky”. Conducted by Mike Dillinger and Adair Palácio.
In: D.E.L.T.A.: Revista de Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e
Aplicada 13 (No Especial, 1997: Chomsky no Brasil / Chomsky in Brazil), 159-193.
Chomsky, Noam (2000): New Horizons in the Study of Language and Mind. Foreword by
Neil Smith. Cambridge; New York; Melbourne; Madrid; Cape Town; Singapore;
São Paulo; Delhi; Dubai; Tokyo: Cambridge University Press.
Chomsky, Noam (
2
2002): Syntactic Structures. Second Edition, with an introduction by
David W. Lightfoot. Berlin; New York; Mouton de Gruyter .
Chomsky, Noam (
2
2004): The Generative Enterprise Revisited: Discussions with Riny
Huybregts, Henk Van Riemsdijk, Naoki Fukui, and Mihoko Zushi, with a New
Foreword by Noam Chomsky. Berlin; New York: Walter de Gruyter.
Chomsky, Noam (
3
2009): Cartesian Linguistics: A Chapter in the History of Rationalist
Thought, Cambridge; New York; Melbourne; Madrid; Cape Town; Singapore; São
Paulo: Cambridge University Press.
Chomsky, Noam / Halle, Morris (1965): “Some controversial questions in phonological
theory”. In: Journal of Linguistics 1/2 (October, 1965), 97-138.
Chomsky, Noam / Halle, Morris (1966): “Preface”. In: Chomsky / Halle (1966: IX-X).
Chomsky, Noam / Halle, Morris (
1
1968): The Sound Pattern of English. New York;
Evanston; London: Harper & Row, Publishers.
Chomsky Noam / Halle Morris (1973): Principes de phonologie générative. Traduction de
Pierre Encrevé. Paris: Éditions du Seuil (Travaux linguistiques). [tradução de
Chomsky / Halle (1968)]
Chomsky, William (ed.) (1952): David Kimhi’s Hebrew Grammar (Mikhlol).
Systematically presented and critically annotated. New York: Bloch Publ. Co; For
The Dropsie College of Hebrew and Cognate Learning, Philadelphia. [parte desta
obra serviu como tese de doutoramento do autor no Dropsie College em 1933].
Choseed, Bernard / Guss, Allene (ed.) (1962): Report of the Eleventh Annual Round Table
Meeting on Linguistics and Language Studies, Washington: Georgetown

230 E.F.K. Koerner
University: Georgetown University Press (Monograph Series on Languages and
Linguistics; 13).
Christmann, Hans Helmut (1971): “Saussure and die Tradition der Sprachwissenschaft”.
In: Archiv für das Studium der neueren Sprachen 208 (1972), 241-255.
Christmann, Hans Helmut (1987): “Quelques remarques sur l’histoire de la linguistique”.
In: Historiographia Linguistica 14/3, 235-241.
Chvany, Catherine V. (1993): “The Evolution of the Concept of Markedness from the
Prague Circle to Generative Grammar”. In: Mondry / Schveiger (1993: 59-97).
[reedição: Chvany (1996)]
Chvany, Catherine V. (1996): “The Evolution of the Concept of Markedness from the
Prague Circle to Generative Grammar”. In: Yokoyama / Klenin (1996: 234-241).
Clements, G[eorge] N. (1993): “Nonlinear Phonology and its Antecedents”. In: Travaux de
l'Institut de Phonétique de Paris 1 (nouvelle série), 31-53. [reedição: Clements
(2000)]
Clements, G[eorge] N. (2000): “Some antecedents of nonlinear phonology”. In. Folia
Linguistica 24/1-2, 29-55.
Clyne, Michael (2004): “History of Research on Language Contact / Geschichte der Sprach-
kontaktforschung”. In: Ammon / Dittmar / Mattheier / Trudgill (2004, I: 799-805).
Cohen, Marcel (1956a): Pour une sociologie du langage. Paris: Éditions Albin Michel
(Sciences d'aujourd'hui).
Cohen, Marcel (1956b): Resenha de: Putnam / O’Hern (1955). In: Bulletin de la Société de
Linguistique de Paris 52, 2-18.
Colli, Giorgio / Montinari, Mazzino (eds.) (1972, 3, I): Nietzsche Werke: Kritische
Gesamtausgabe. 3. Abtlg., Bd.I, 239-330. Berlin: Walter de Gruyter.
Colli, Giorgio / Montinari, Mazzino (eds.) (1972, 5, II): Nietzsche Werke: Kritische
Gesamtausgabe. 5. Abtlg., Bd. II, 239-330. Berlin: Walter de Gruyter.
Comte, Auguste (1830-1842): Cours de philosophie positive. 6 vols. Paris: Bachelier,
Imprimeur-Libraire.
Condillac, Étienne Bonnot de (1949): Oeuvres philosophiques de Condillac, texte établi et
présenté par Georges Le Roy, vol. II. Paris: Presses Universitaires de France.
Coseriu, Eugenio (1967): “Georg von der Gabelentz et la linguistique synchronique”. In: Word
23/1-3 (Linguistic studies presented to André Martinet on the occasion of his sixtieth
birthday, I, 1969), 74-100. [reedição algo modificada: Gabelentz (1969: [5]-[40])]
Coseriu, Eugenio (1969): Einführung in die Strukturelle Linguistik. Autorisierte
Vorlesungsnachschrift von Gunter Narr und Rudolf Windisch. Tübingen:
Romanisches Seminar der Universität Tübingen.
Coseriu, Eugenio (1969, I): Die Geschichte der Sprachphilosophie von der Antike bis zur
Gegenwart: Eine Übersicht, Teil I: Von der Antike bis Leibniz, WS 1968/69.
Herausgegeben von Gunter Narr und Rudolf Windisch. Tübingen: Gunter Narr
Verlag (Tübinger Beiträge zur Linguistik; 11/1). [segunda edição: 1975]
Coseriu, Eugenio (1972, I): Die Geschichte der Sprachphilosophie von der Antike bis zur
Gegenwart: Eine Übersicht, Teil II: Von Leibniz bis Rousseau, WS 1970/71.
Herausgegeben von Gunter Narr und Rudolf Windisch. Tübingen: Gunter Narr
Verlag (Tübinger Beiträge zur Linguistik; 11/2).
Coseriu, Eugenio (1980): “Georg von der Gabelentz e a linguística sincrônica”.Tradução
de Carlos Alberto da Fonseca e Mário Ferreira. In: Coseriu, Eugenio: Tradição e
novidade na ciência da linguagem: estudos de história da linguística. Rio de
Janeiro; São Paulo: Presença; EDUSP, 213-263.

Referências bibliográficas 231
Coseriu, Eugenio / Meisterfeld Reinhard (2003): Geschichte der romanischen Sprach-
wissenschaft: Band 1: Von den Anfängen bis 1492. Tübingen: Gunter Narr Verlag.
Cram, David / Linn, Andrew R. / Nowak, Elke (eds.) (1999): History of linguistics 1996:
selected papers from the seventh international conference on the history of the
language sciences (ICHoLS 7), Oxford, England, 12-17 September 1996 (2 vols).
Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins (Studies in the History of the Language
Sciences; 94).
Crane, Diana (1972): Invisible Colleges: Diffusion of knowledge in scientific communities.
Chicago: University of Chicago Press.
Cranston, Maurice W. (1974): “Ideology”. In: Encyclopaedia Britannica 9, 194-198.
Cranston, Mechthild (ed.) (1981): Le gai savoir: Essays in linguistics, philology, and
criticism: Dedicated to the memory of Manfred Sandmann. Madrid; Potomac, Md.:
José Porrúa Turanzas; Studia Humanitates.
Croce, Benedetto (1915): Zur Theorie und Geschichte der Historiographie. Stuttgart:
J.C.B. Mohr.
Currie, Haver C. (1952): “A Projection of Socio-Linguistics: The relationship of speech to
social status”. In: Southern Speech Journal 18/1, 28-37.
Currie, Haver C. (1981): “Sociolinguistics and American Linguistic Theory”. In:
International Journal of the Sociology of Language 31 (January, 1981), 29-41.
Curtius, Ernst Robert (
2
1954): Europäische Literatur und lateinisches Mittelalter. Bern;
München: A. Francke. [sexta edição 1967]
Daladier, Anne (1980): “Quelques hypothèses ‘explicatives’ chez Harris et chez
Chomsky”. In: Langue Française 46, 58-72.
Darwin, Charles (
1
1859): On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the
Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life. London: John Murray.
Darwin, Charles (
1
1860): Über die Entstehung der Arten im Thier- und Pflanzen-Reich
durch natürliche Züchtung, oder, Erhaltung der vervollkommneten Rassen im
Kampfe ums Dasein. Nach der zweiten Auflage mit einer geschichtlichen Vorrede
und andern Zusätzen des Verfassers für diese deutsche Ausgabe aus dem
Englischen übersetzt und mit Anmerkungen versehen von Dr. H[einrich] G[eorg]
Bronn. Stuttgart: E. Schweizerbart'sche Verlagsbuchhandlung und Druckerei.
Darwin, Charles (
2
1863): Über die Entstehung der Arten im Thier- und Pflanzen-Reich
durch natürliche Züchtung, oder, Erhaltung der vervollkommneten Rassen im
Kampfe ums Dasein. Nach der dritten Englischen Auflage und mit neueren
Zusätzen des Verfassers für diese deutsche Ausgabe aus dem Englischen übersetzt
und mit Anmerkungen versehen von Dr. H[einrich] G[eorg] Bronn. Stuttgart: E.
Schweizerbart'sche Verlagsbuchhandlung und Druckerei. [em edições posteriores:
Zuchtwahl em vez de Züchtung]
Davis, Boyd H. / Raymond K. O’Cain (eds.) (1980): First Person Singular: Papers from
the Conference on an Oral Archive for the History of American Linguistics
(Charlotte, N. C., 9-10 March 1979); Amsterdam: John Benjamins (Studies in the
History of the Language Sciences; 21).
DeCamp, David (1953): “The Pronunciation of English in San Francisco”. Tese de
doutoramento inédita. Berkeley: University of California.
Delbrück, Berthold (
1
1880): Einleitung in das Sprachstudium: Ein Beitrag zur Methodik
der vergleichenden Sprachforschung. Leipzig: Druck und Verlag von Breitkopf und
Härtel (Bibliothek indogermanischer Grammatiken; 4). [segunda edição 1884;
terceira edição 1893]

232 E.F.K. Koerner
Delbrück, Berthold (
1
1882): Introduction to the Study of Language: A critical survey of the
history and methods of comparative philology of Indo-European languages.
Authorized translation by Eva Channing, with a preface by the author. Leipzig:
Breitkopf and Härtel. [reedição com introdução de E.F.K. Koerner, Amsterdam:
John Benjamins,
1
1974,
3
1989]
Delbrück, Berthold (
2
1974): Introduction to the Study of Language: A critical survey of the
history and methods of comparative philology of Indo-European languages
(Leipzig, 1982). With a foreword and a selected bibliography by E.F.K. Koerner.
Amsterdam: John Benjamins (Amsterdam Classics in Linguistics 1800-1925; 8).
[reedição:
3
1989]
Diderichsen, Paul (1976a): Ganzheit und Struktur: Ausgewählte sprachwissenschaftliche
Abhandlungen. München: Wilhelm Fink Verlag.
Diderichsen, Paul (1976b): Rasmus Rask und die grammatische Tradition: eine Studie
über den Wendepunkt in der Sprachgeschichte. Übersetzung aus dem Dänischen
von Monika Wesemann. München: Wilhelm Fink Verlag.
Diez, Friedrich (
3
1869): Etymologisches Wörterbuch der romanischen Sprachen. Erster
Theil. Bonn: Bei Adolph Marcus. [primeira edição 1853, quinta edição 1887]
Dillinger, Mike (1983): “Linguistic Metatheory: The neglected half of the linguist’s
training”. In: Innovations in Linguistic Education 3/1, 13-25.
Dilthey, Wilhelm (1883, I): Einleitung in die Geisteswissenschaften: Versuch einer
Grundlegung für das Studium der Gesellschaft und der Geschichte. Erster Band.
Leipzig: Duncker & Humblot. [único volume publicado]
Dingwall, William Orr (1963): “Transformational Grammar: Form and theory. A contri-
bution to the history of linguistics”. In: Lingua 12/3, 233-275.
Dingwall, William Orr (ed.) (1971): A Survey of Linguistic Science. College Park, Md.:
University of Maryland, Linguistics Program, .
Dinneen, Francis P. (ed.) (1966): 17th Annual Round Table Linguistics and the Teaching of
Standard English To Speakers of Other Languages or Dialects, Washington:
Georgetown University, School of Languages and Linguistics (Monograph Series
on Languages and Linguistics; 19).
Dinneen, Francis P. (1967): An Introduction to General Linguistics. New York:
Holt, Rinehart & Winston.
Dinneen, Francis P. / Koerner, E.F.K. (eds.) (1990): North American Contributions to the
History of Linguistics. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins (Studies in the
History of the Language Sciences; 58).
Dirven, René / Hawkins, Bruce / Sandikcioglu, Esra (eds.) (2001): Language &
Ideology, vol. 1: Theoretical cognitive approaches. Amsterdam; Philadelphia: John
Benjamins (Current Issues in Linguistic Theory, 204).
Dittmar, Norbert (1976): Sociolinguistics: A critical survey and application. Translated
from the German by Peter Sand, Pieter A. M. Seuren and Kevin Whiteley. London:
Edward Arnold (Theoretical Linguistics; 1).
DoAS (
9
1999, III) = Directory of American Scholars vol. III: Foreign Languages,
Linguistics & Philology. Ninth Edition. Detroit; London: The Gale Group.
Doroszewski, Witold (1933a): “Sociologie et linguistique: Durkheim et de Saussure”. In:
Actes du Deuxième Congrès international de Linguistes. Paris: Adrien
Maisonneuve, 146-147. [“Discussion” a páginas 147-148]

Referências bibliográficas 233
Doroszewski, Witold (1933b): “Quelques remarques sur les rapports de la sociologie et la
linguistique: Durkheim et F. de Saussure”. In: Journal de Psychologie normale et
pathologique 30, 82-91. [reedição: Pariente (1969: 99-109)]
Doroszewski, Witold (1958): “Le structuralisme linguistique et les études de géographie
dialectale”. In: Sivertsen / Borgstrøm / Gallis / Sommerfelt (1958: 540-572).
Drake, Glendon F. (1977): The Role of Prescriptivism in American Linguistics 1820-1970.
Amsterdam: John Benjamins (Studies in the History of the Language Sciences; 13).
Durie, Mark / Ross, Malcolm (eds.) (1996): The Comparative Method Reviewed:
Regularity and irregularity in language change. New York; Oxford: Oxford
University Press.
Durkheim, Émile (
1
1895): Les règles de la méthode sociologique. Paris: Ancienne
Librairie Germer Baillière et C.
ie
Félix Alcan, Éditeur.
Durkheim, Émile (
2
1901): Les règles de la méthode sociologique. Paris: Librairie Félix
Alcan.
Dutz, Klaus D. / Kaczmarek, Ludger (Hrsg.) (1985): Rekonstruktion und Interpretation:
Problemgeschichtliche Studien zur Sprachtheorie von Ockham bis Humboldt.
Tübingen: Gunter Narr Verlag (Tübinger Beiträge zur Linguistik; 264).
Ebbesen, Sten (ed.) (1995): Sprachtheorien in Spätantike und Mittelalter. Tübingen:
Gunter Narr Verlag (Geschichte der Sprachtheorie; 3).
Edwards, Paul (ed.) (1967): The Encyclopedia of Philosophy, vol.VI. New York:
Macmillan.
Einhauser, Eveline (1989): Die Junggrammatiker: Ein Problem für die Sprachwissen-
schaftsgeschichtsschreibung. Trier: WVT Wissenschaftlicher Verlag Trier.
Elffers-van Ketel, Els (1991): The Historiography of Grammatical Concepts. Amsterdam:
Rodopi.
Embleton, Sheila / Joseph, John E. / Niederehe, Hans-Josef (eds.) (1999): The Emergence
of the Modern Language Sciences: Studies on the Transition from Historical-
comparative to Structural Linguistics in Honour of E.F.K. Koerner: volume 1:
Historiographical Perspectives. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins.
Encrevé, Pierre (1997): “L’ancien et le nouveau: quelques remarques sur la phonologie et
son histoire”. In: Laks (1997: 100-123) = Langages 125, 100-123.
Encrevé, Pierre (2000): “The old and the new: some remarks on phonology and its
history”. In: Folia Linguistica 24/1-2, 57-84. [tradução inglesa de Thelma
Sowley, como alguns acréscimos, inclusive a referência a Clements (2000) e a
eliminação da secção 4.3]
Ervin-Tripp, Susan M. (1964): “An Analysis of the Interaction of Language, Topic, and
Listener”. In: Gumperz / Hymes (1964: 86-102). [reedição: Ervin-Tripp (1973:
239-261)]
Ervin-Tripp, Susan M. (1973): Language Acquisition and Communicative Choice. Selected
and introduced by Anwar S. Dil. Stanford, Calif.: Stanford University Press.
Evans, Robert (1956): Resenha de: Putnam & O’Hern (1955). In: Language 32//4
(October-December, 1956), 822-825.
Falk, Julia S. (1998): Resenha de: Murray (1994). In: Language Sciences 20, 441-446.
Fasold, Ralph W. (1984): The Sociolinguistics of Society. Oxford: Basil Blackwell.
Ferguson, Charles A. (1959): “Diglossia”. In: Word 15, 325-340. [reedição: Hymes (1964:
429-439)]
Ferguson, Charles A. (1962): Resenha de: Halle (1959). in: Language 38/3 (July-
September, 1962), 284-298.

234 E.F.K. Koerner
Ferguson, Charles A. (1998): “Long-Term Commitments and Lucky Events”. In: Koerner
(1998a: 37-57).
Ferguson, Charles A. / Gumperz, John J. (eds.) (1960): “Linguistic Diversity in South
Asia: Studies in regional, social and functional variation”. In: International Journal
of American Linguistics 26/3, Bloomington, In.: University Research Center in
Anthropology, Folklore and Linguistics, 1-118.
Fernández, Francisco / Fuster, Miguel / Calvo, Juan José (eds.): English Historical
Linguistics 1992 Papers from the 7th International Conference on English
Historical Linguistics, Valencia, 22-26 September 1992. Amsterdam; Philadelphia:
John Benjamins (Current Issues in Linguistic Theory; 113).
Figueroa, Esther (1994): Sociolinguistic Metatheory. Oxford; New York: Pergamon Press;
Elsevier Science (Language and communication library; 14).
Firth, John R. (1935): “The Technique of Semantics”. In: Transactions of the Philological
Society 1935/1 (November, 1935), 36-72. [reedição: Firth (1957: 7-33)]
Firth, John R. (1950): “Personality and Language in Society”. In: The Sociological Review:
Journal of the Institute of Sociology 42/1 (January, 1950), 37-52. [reedição: Firth
(1957: 177-189)]
Firth, John R. (1957): Papers in Linguistics, 1934-51. London: Oxford University Press.
Fischer, John L. (1958): “Social Influences on the Choice of a Linguistic Variant”. In:
Word 14, 47-56. [breve estudo do sufixo -ing, utilizado por crianças numa aldeia de
New England; reedição: Hymes (1964: 483-488)]
Fishman, Joshua A. (1972): Language in Sociocultural Change: Essays. Selected &
introduced by Anwar S. Dil. Stanford, Calif.: Stanford University Press.
Fishman, Joshua A. (1991): “My Life through My Work, My Work through My Life”. In:
Koerner (1991a: 105-122).
Fodor, Jerry A[lan] / Jerrold J[acob] Katz (eds.) (1964): The Structure of Language:
Readings in the Philosophy of Language. Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall
(Foundations of philosophy series).
Fogel, Robert William / Elton, Geoffrey Rudolph (1983): Which Road to the Past? Two
views of history. New Haven: Yale University Press.
Foucault, Michel (1966): Les mots et les choses: Une archéologie des sciences humaines.
Paris: Éditions Gallimard.
Fought, John [G.] (1982): Resenha de: Newmeyer (1980). In: Language in Society 11, 315-
321.
Fought, John [G.] (1999a): Leonard Bloomfield: Critical assessments of Leading
Linguists, vol. III. London; New York: Routledge.
Fought, John G. (1999v): “Leonard Bloomfield’s linguistic legacy: later uses of some
technical features”. In: Historiographia Linguistica 26/3, 313-332.
Frank, Luanne (1984): “Herder’s Essay on the Origin of Language: Forerunner of
contemporary views in history, aesthetics, literary theory, philosophy”. In: Forum
Linguisticum 7/1 (August, 1982), 15-26.
Friedrich, Paul W. (1961): Resenha de: Ferguson / Gumperz (1960). In: Language 37, 163-168.
Fries, Charles C. (1961): “The Bloomfield ‘School’”. In: Mohrmann / Sommerfelt /
Whatmough (1961: 196-224).
Frings, Theodor (1926): “Sprache”. In: Aubin / Frings / Müller (1926: 90-185). [reedição:
Frings (1956: 40-146)]
Frings, Theodor (1956): “Sprache”. In: Frings, Theodor: Sprache und Geschichte, vol. II.
Halle an der Saale: Max Niemeyer Verlag.

Referências bibliográficas 235
Frings, Theodor / van Ginneken, Jacob[us] (1919): “Zur Geschichte des Niederfränkischen
in Limburg”. In: Zeitschrift für deutsche Mundarten 3/4, 97-208.
Frings, Theodor / Vandenheuvel, Jozef (1921): Die südniederländischen Mundarten:
Texte, Untersuchungen, Karten, Teil I, Texte. Marburg: N. G. Elwert (Deutsche
Dialektgeographie; 16). [único volume publicado]
Fromkin, Victoria A. (1991): “Language and brain: Redefining the goals and methodology
of linguistics”. In: Kasher (1991: 78-103).
Fuhrmann, Manfred (2001): Bildung: Europas kulturelle Identität. Stuttgart: Philipp
Reclam.
Furfey, Paul Hanly (1926): The Gang Age: a study of the preadolescent boy and his
recreational needs. New York: The Macmillan Company.
Furfey, Paul Hanly (1944): “The Sociological Implication of Substandard English”. In: The
American Catholic Sociological Review 5/1 (March, 1944), 3-9.
Gabelentz, Georg von der (
1
1891): Die Sprachwissenschaft: Ihre Aufgaben, Methoden and
bisherigen Ergebnisse. Leipzig: T.O. Weigel Nachfolger. [reedição: 1901]
Gabelentz, Georg von der (
2
1901): Die Sprachwissenschaft: Ihre Aufgaben, Methoden and
bisherigen Ergebnisse. Zweite, vermehrte und verbesserte Auflage, herausgegeben
von Albrecht Conon, Graf von der Schulenburg. Leipzig: Chr. Herm. Tauchnitz.
Gabelentz, Georg von der (1969): Die Sprachwissenschaft: Ihre Aufgaben, Methoden und
bisherigen Ergebnisse. Tübingen: Vogt (Tübinger Beiträge zur Linguistik; 1).
[reedição de Gabelentz (1901), acrescida por um prefácio de Gunter Narr e Uwe
Petersen, e um artigo de Eugenio Coseriu]
Gardner, Thomas J. (1973): Hauptströmungen der modernen Linguistik: Chomsky und die
generative Grammatik. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht.
Garvin, Paul L. (1963): Resenha de: Jakobson (1961). In: Language 34/4 (October-
December, 1963), 669-673.
Garvin, Paul L. (1970): “Moderation in Linguistic Theory”. In: Language Sciences 9, 1-3.
Gauchat, Louis (1905): “L’unité phonétique dans le patois d’une commune”. In: Aus
romanischen Sprachen und Literaturen: Festschrift Heinrich Morf zur Feier seiner
fünfundzwanzigjährigen Lehrtätigkeit von seinen Schülern dargebracht. Halle a. d.
S.: Verlag von Max Niemeyer, 175-232.
Gellner, Ernest (1959): Words and Things: A Critical Account of Linguistic Philosophy
and a Study of Ideology. With an introduction by Bertrand Russell. London: Victor
Gollancz. [edição americana: Boston: Beacon Press, 1960; segunda edição:
Harmondsworth, Middlesex: Penguin, 1968]
Gerritsen, Marinel (2001): “The Dialectology of Dutch: From its beginnings to the end of
the 20th century”. In: Auroux / Koerner / Niederehe / Versteegh (2001: 1536-1553).
Gipper, Helmut (1981): “Schwierigkeiten beim Schreiben der Wahrheit: Zum Streit um
das Verhältnis Wilhelm von Humboldts zu Herder”. In: Trabant (1981: 101-115).
Gipper, Helmut / Schmitter, Peter (1975): “Sprachwissenschaft und Sprachphilosophie im
Zeitalter der Romantik”. In: Sebeok (1975: 481-606).
Gipper, Helmut / Schmitter, Peter (1979): “Exkurs: Humboldt – ein unerkannter
‘Ideologe’? Zu einigen Thesen von Hans Aarsleff”. In: Gipper, Helmut /
Schmitter, Peter (Hrsg.): Sprachwissenschaft und Sprachphilosophie im Zeitalter
der Romantik: Ein Beitrag zur Historiographie der Linguistik. Tübingen: Gunter
Narr Verlag (Tübinger Beiträge zur Linguistik; 123), 99-106.
Gleason Jr., H[enry] A. (1988): “Theories in Conflict: North American Linguistics in the
Fifties and Sixties”. Manuscrito inédito.

236 E.F.K. Koerner
Gödel, Kurt (1931): “Über formal unentscheidbare Sätze der Principia mathematica und
verwandter Systeme”. In: Monatshefte für Mathematik und Physik 38/1, 173-198.
Godel, Robert (1957): Les sources manuscrites du Cours de linguistique générale de F. de
Saussure. Genève; Paris: Librairie E. Droz; Librairie Minard (Societe de
Publications Romanes et Françaises; 61). [reedição: Genève: E. Droz (1969)]
Godel, Robert (1968): “F. de Saussure et les debuts de la linguistique moderne”. In:
Semaine d’études, Genève 1967: Enseignement secondaire de demain, Aarau:
Verlag Sauerländer, 115-124.
Godel, Robert (1971): Resenha de: Szemerényi (1971). In: Kratylos 16/1 (1973), 87-88.
Godel, Robert / Amacker, René / De Mauro, Tullio / Prieto, Luis Jorge (1974): Studi
saussuriani, Bologna: Società editrice il Mulino (Studi linguistici e semiologici; 1).
Goldsmith, John A. (1990): Autosegmental and Metric Phonology. Oxford; Cambridge,
Mass.: Basil Blackwell.
Goldsmith, John A. (1992): “A note on the genealogy of research traditions in modern
phonology”. In: Journal of Linguistics 28/1 (March, 1992), 149-163.
Goldsmith, John A. (1995): The Handbook of Phonological Theory. Cambridge, Mass.;
Oxford: Blackwell Publishers.
Goodman, Nelson (1943): “On the Simplicity of Ideas”. In: Journal of Symbolic Logic 8/4
(December, 1943), 107-121.
Gould, Julius (1965): Penguin Survey of the Social Sciences, Harmondsworth; Baltimore:
Penguin Books.
Graffi, Giorgio (2000): 200 Years of Syntax: a Critical Survey. Amsterdam; Philadelphia:
John Benjamins (Studies in the History of the Language Sciences; 98).
Grassi, Corrado (1980): “Von der Sprachgeographie zur Soziolinguistik: Ein Vergleich
von Erfahrungen und Ergebnissen in der Bundesrepublik Deutschland und in
Italien”. In: Zeitschrift für Dialektologie und Linguistik 47/2, 145-159.
Gray, Louis H. (1939): Foundations of language. New York: The Macmillan Company.
Greenberg, Joseph Harold (1950): “The Patterning of Root Morphemes in Semitic”. In:
Word 6/2, 162-181.
Greene, Judith (1972): Psycholinguistics: Chomsky and Psychology. Harmondsworth,
Middlesex: Penguin.
Grewendorf, Günther (1994): “Interview with Noam Chomsky: Notes on linguistics and
politics”. In: Linguistische Berichte 153, 386-395.
Grewendorf, Günther (2006): Noam Chomsky. München: C. H. Beck (Beck'sche Reihe: bsr
Denker; 574).
Grimm, Jacob (
2
1852): Über den Ursprung der Sprache. Berlin: Ferdinand Dümmler's
Verlagsbuchhandlung. [quinta edição 1862]
Grootaers, Willem A. (1982): “Dialectology and Sociolinguistics: A general survey”. In:
Lingua 57/2-4 (June-August, 1982), 327-355.
Grotsch, Klaus (1982): Sprachwissenschaftsgeschichtsschreibung: Ein Beitrag zur Kritik
und zur historischen und methodologischen Selbstvergewisserung der Disziplin.
Göppingen: Kümmerle Verlag (Göppinger Arbeiten zur Germanistik).
Grube, Wilhelm (1905): “Gabelentz, Hans Georg Conon von der G.”. In: Allgemeine
Deutsche Biographie 50, Leipzig: Verlag von Duncker & Humblot, 548-555.
Grunig, Blanche-Noëlle (1982): “Was bindet uns an Chomsky?”. In: Zeitschrift für
Sprachwissenschaft 1, 289-300.
Gumperz, John J. (1958): “Dialect Differences and Social Stratification in a North Indian
Village”. In: American Anthropologist 60, 668-682.

Referências bibliográficas 237
Gumperz, John J. (1971): Language in Social Groups: Essays. Selected & introduced by
Anwar S. Dil. Stanford, Calif.: Stanford University Press.
Gumperz, John J. / Hymes, Dell H. (eds.) (1964): The Ethnography of Communication.
New York: Holt, Rinehart & Winston.
Gumperz, John J. / Hymes, Dell H. (eds.) (1972): Directions in Sociolinguistics. New
York: Holt, Rinehart & Winston.
Guy, Gregory R. / Feagin, Crawford / Schiffrin, Deborah / Baugh, John (eds.) (1996, I):
Towards a Social Science of Language: Papers in honor of William Labov: Volume
1, Variation and change in language and society. Amsterdam; Philadelphia: John
Benjamins (Amsterdam Studies in the Theory and History of Linguistic
Science, Series IV: Current Issues in Linguistics Theory; 127).
Guy, Gregory R. / Feagin, Crawford / Schiffrin, Deborah / Baugh, John (eds.) (1997, II):
Towards a Social Science of Language: Papers in honor of William Labov, Volume
2, Social interaction and discourse structures. Amsterdam; Philadelphia: John
Benjamins (Amsterdam Studies in the Theory and History of Linguistic
Science, Series IV: Current Issues in Linguistics Theory; 128).
Hagège, Claude, ed (1967): “Extraits de la correspondance N. S. Trubetzkoy”. In: La
Linguistique 3/1, 109-136.
Hagen, Anton M. (1987): “Sociolinguistic Aspects in Dialectology”. In: Ammon / Dittmar
/ Mattheier (1987, I: 402-413).
Hagen, Anton M. (1988): “Dutch Dialectology: The national and the international
perspective”. In: Historiographia Linguistica 15/1-2, 263-288.
Hale, Kenneth [Locke] / Keyser, Samuel Jay (eds.) (1993): The View from Building 20:
Essays in linguistics in honour of Sylvain Bromberger. Cambridge, Mass.: MIT
Press (Current studies in linguistics; 24).
Hall Jr., Robert A. (1949): Descriptive Italian Grammar. Ithaca, NY: Cornell University
Press; Linguistic Society of America.
Hall Jr., Robert A. (1981): Resenha de: Newmeyer (1980). In: Forum Linguisticum 6. 177-
188. [reedição: Hall (1987)]
Hall Jr., Robert A. (ed.) (1987a): Leonard Bloomfield: Essays on his Life and Work.
Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins (Studies in the History of the Language
Sciences; 47).
Hall Jr., Robert A. (1987b): Linguistics and Pseudo-Linguistics. Amsterdam; Philadelphia:
John Benjamins (Current Issues in Linguistic Theory; 55).
Halle, Morris (
1
1959). The Sound Pattern of Russian: a linguistic and acoustical
investigation, With an Excursus on the contextual variants of the Russian vowels by
Lawrence G. Jones. 's-Gravenhage: Mouton (Description and Analysis of
Contemporary Standard Russian; 1). [reedição: 1971]
Halle, Morris (ed.) (1962a). Preprints of Papers from the Ninth International Congress of
Linguists. Cambridge, MA, Cambridge, Mass: sem editora.
Halle, Morris (1962b): “Phonology in Generative Grammar”. In: Word 18, 54-72.
[reedição: Fodor / Katz (1964: 334-352)]
Halliday, Michael A. K. (1975): “Language as a Social Semiotic: Towards a general
sociolinguistic theory”. In: Makkai / Becker-Makkai (1975: 17-46).
Hamm, Joseph (Hrsg.) (1967): Phonologie der Gegenwart: Vorträge und Diskussionen
anläßlich der Internationalen Phonologie-Tagung in Wien, 30. VIII.-3. IX. 1966,
Graz; Wien; Köln: Böhlau (Wiener Slavistisches Jahrbuch: Ergänzungsband; 6).

238 E.F.K. Koerner
Hamp, Eric P. (1961): “General Linguistics: the United States in the Fifties”. In:
Mohrmann / Sommerfelt / Whatmough (1961: 165-195).
Hamp, Eric P. (1966): “Whatmough, Joshua, 1897-1964”. In: Language 42/3 (September,
1966), 620-631.
Hamp, Eric P. / Joos, Martin / Householder, Fred / Austerlitz, Robert (1995): Readings in
Linguistics I & II: Abridged Edition. Chicago; London: University of Chicago Press.
Hancock, Ian (2004): “History of Research on Pidgins and Creoles / Geschichte der Pidgin-
und Kreolforschung”. In: Ammon / Dittmar / Mattheier / Trudgill (2004, I: 806-817).
Harris, Randy Allen (1993a): The Linguistics Wars. New York: Oxford University Press.
Harris, Randy Allen (1993b): “Origin and development of generative semantics”. In:
Historiographia Linguistica 20/2-3: 399-440.
Harris, Randy Allen (1998): “The Warlike Chomsky”. In: Books in Canada 27/2, 14-17.
[resenha de: Barsky (1997)]
Harris, Zellig S. (1935): Resenha de: Chiera (1934a e 1934b). In: Language 11/3 (July-
September, 1935), 262-263.
Harris, Zellig S. (
1
1936): A Grammar of the Phoenician Language. New Haven, CT:
American Oriental Society (=American Oriental Series; 8). [Tese de doutoramento:
University of Pennsylvania, Philadelphia, 1934]
Harris, Zellig S. (1939): Development of the Canaanite Dialects: An Investigation in
Linguistic History. New Haven, CT: American Oriental Society (American Oriental
Series; 16). [reedição: Millwood, N.Y., Kraus Reprint, 1978]
Harris, Zellig S. (1940): Resenha de: Gray (1939). In: Language 16/3 (July-September,
1940), 216-235.
Harris, Zellig S. (1941a): “Linguistic Structure of Hebrew”. In: Journal of the American
Oriental Society 61/3 (September, 1941), 143-167.
Harris, Zellig S. (1941b): Resenha de: Trubetzkoy (1939). In: Language 17/4 (October-
December, 1941), 345-349. [reedição: Harris (1970: 706-711) e Makkai (1972:
301-304)]
Harris, Zellig S. (1942): “Morpheme Alternants in Linguistic Analysis”. In: Language 18/3
(July-September, 1942), 169-180. [reedição: Joos (1957: 109-115) e Harris (1970:
78-90)]
Harris, Zellig S. (1944): “Simultaneous Components in Phonology”. In: Language 20/4
(October-December, 1944), 181-205 [reedição: Joos (1957: 124-138); Harris (1970:
3-31) e Makkai (1972: 115-133)]
Harris, Zellig S. (1945): “Discontinuous Morphemes”. In: Language 21/2 (April-June,
1945), 121-127. [reedição: Harris (1970a: 91-99) e Harris (1981: 36-44)]
Harris, Zellig S. (1946): “From Morpheme to Utterance”. In: Language 22/3 (July-
September, 1946), 161-183. [reedição: Joos (1957: 142-153), Harris (1970a: 100-
125) e Harris (1981: 45-70)]
Harris, Zellig S. (1948): “Componential Analysis of a [Modern] Hebrew Paradigm”. In:
Language 24/1 (January-March, 1948), 87-91. [reedição: Joos (1957: 272-274), e
Harris (1970: 126-130), sem ‘Hebrew’ no título]
Harris, Zellig S. (1951a): Methods in Structural Linguistics. Chicago: University of
Chicago Press.
Harris, Zellig S. Harris, Zellig S. (1951b): Resenha de: Mandelbaum (1949). In: Language
27/3, 288-333. [reedição: Harris (1970: 712-764) e Koerner (1984d: 69-114)]
Harris, Zellig S. (1952a): “Discourse Analysis”. In: Language 28/1 (January-March, 1952):
1-30. [reedição: Fodor / Katz (1964: 355-383)]

Referências bibliográficas 239
Harris, Zellig S. (1952b): “Discourse Analysis: A sample text”. In: Language 28/4
(October-December, 1952): 474-494. [reedição: Fodor / Katz (1964: 355-383)].
Harris, Zellig S. (1954a): “Transfer Grammar”. In: International Journal of American
Linguistics 20/4 (October, 1954), 259-270.
Harris, Zellig S. (1954b): “Distributional Structure”. In: Word 10/2-3: 146-162. [reedição:
Fodor / Katz (1964: 33-49)]
Harris, Zellig S. (1957): “Co-occurrence and Transformation in Linguistic Structure”. In:
Language 33/3 (July-September, 1957), 283-340. [versão revista e aumentada de
uma comunicação como presidente da Linguistic Society of America, em dezembro
de 1955; reedição: Fodor / Katz (1964: 155-210), Harris (1970: 390-457); cf.
também na antologia de Householder (1972: 151-185)]
Harris, Zellig S. (1960): Structural Linguistics. Chicago; London: Phoenix Books; The
University of Chicago Press. [várias reimpressões 1966, 1984, etc.]
Harris, Zellig S. (1965): “Transformational Theory”. In: Language 41/3 (July-September,
1942), 363-401. [reedição: Harris (1970: 533-577)]
Harris, Zellig S. (1973): Resenha de: Bloomfield (1970). In: International Journal of
American Linguistics 39/4, 252-255.
Harris, Zellig S. (1990): “La genèse de l’analyse des transformations et de la métalangue”.
In: Langages 99 (Septembre 1990), 9-19.
Harris, Zellig S. (1997): The Transformation of Capitalist Society. Lanham, MD: Rowman
& Littlefield (G-Reference, Information and Interdisciplinary Subjects Series).
Harweg, Roland (1981): “Verwendung und Erwähnung und die Unterscheidung zwischen
Objektsprache und Metasprache”. In: Zeitschrift für Phonetik, Sprachwissenschaft
und Kommunikationsforschung 34, 285-292.
Hasan, Ruqaiya (1973): “Code, Register and Social Dialect”. In: Bernstein, (1973: 253-292).
Hasan, Ruqaiya (2000): “Obituary: Basil Bernstein 1924-2000”. In: Functions of
Language 7/2, 279-291.
Haugen, Einar I. (
1
1953): The Norwegian Language in America: A study in bilingual
behavior. 2 vols. Philadelphia: University of Pennsylvania Press. [reedição:
Bloomington, In.: Indiana University Press, 1969]
Haugen, Einar I. (
2
1969): The Norwegian Language in America: A study in bilingual
behavior. 2 vols. Bloomington, In.: Indiana University Press.
Haugen, Einar I. (
2
1972): First Grammatical Treatise: The earliest Germanic phonology.
London: Longman. [primeira edição: Baltimore, Md.: Waverly Press, 1950]
Hausmann, Frank-Rutger (2000): “Vom Strudel der Ereignisse verschlungen”: Deutsche
Romanistik im “Dritten Reich”. Frankfurt/Main: Vittorio Klostermann (Analecta
romanica; 61). [segunda edição 2008]
Haym, R[udolf] (1856): Wilhelm von Humboldt: Lebensbild und Charakteristik. Berlin:
Verlag von Rudolph Gaertner; Amelang'sche Sortiments-Buchhandlung.
Haym, R[udolf] (1880, 1885. Herder nach seinem Leben und seinen Werken dargestellt. 2
Bände, Berlin: R. Gaertner's Verlagsbuchhandlung; Hermann Heyfelder.
Heeschen, Volker (1972): “Die Sprachphilosophie Wilhelm von Humboldts”. Tese de
doutoramento inédita. Bochum: Ruhr-Universität.
Helbig, Gerhard (1971): Geschichte der neuren Sprachwissenschaft: Unter dem
besonderen Aspekt de Grammatik-Theorie. München: Max Hueber Verlag
(Sprachen der Welt).
Herbermann, Clemens-Peter (1981): “Moderne und antike Etymologie”. In: Zeitschrift für
vergleichende Sprachforschung 95/1, 22-48.

240 E.F.K. Koerner
Herder, Johann Gottfried (1772): Abhandlung über den Ursprung der Sprache, welche den
von der Königl. Academie der Wissenschaften für das Jahr 1770 gesetzten Preis
erhalten hat. Berlin: bey Christian Friedrich Voß. [segunda edição 1789]
Hermann, Eduard (1929): “Lautveränderungen in der Individualsprache einer Mundart”.
In: Nachrichten der Gesellschaft der Wissenschaften zu Göttingen: Philologisch-
historische Klasse 9, 195-214.
Hernández Campoy, Juan Manuel (1993): “Dialectología tradicional, sociolingüística
laboviana y geolingüística trudgilliana: tres aproximaciones al estudio de la
variación”. In: Estudios de Lingüística (Universidad de Alicante) 9, 151-181.
Hesse, Mary B. (1963): Models and Analogies in Science. London; New York: Sheed &
Ward. [reedição: Notre Dame, Ind.: University of Notre Dame Press, 1966]
Hesse, Mary B. (1980): Revolutions and Reconstructions in the Philosophy of Science.
Bloomington, Ind.: Indiana University Press.
Hiersche, Rolf (1972): Ferdinand de Saussures langue-parole-Konzeption und sein
Verhältnis zu Durkheim und von der Gabelentz. Innsbruck: Universität Innsbruck,
Institut für Vergleichende Sprachwissenschaft.
Hildebrandt, Reiner (1975): “Linguistik contra Sprachwissenschaft”. In: Neuere
Forschungen in Linguistik und Philologie: Aus dem Kreise seiner Schüler Ludwig
Erich Schmitt zum 65. Geburtstag, Wiesbaden: Franz Steiner Verlag, 1-6.
Hill, Archibald A. (1961): “Grammaticality”. In: Word 17, 1-10.
Hill, Archibald A. (ed.) (1962): Proceedings of the Third Texas Conference on Problems of
Linguistic Analysis in English: May 9-12 1958. 124-158. Austin, Tex.: University
of Texas.
Hill, Archibald A. (1980): “How many revolutions can a linguist live through?”. In: Davis
/ O’Cain (1980: 69-76).
Hill, Archibald A. (1991): “The Linguistic Society of America and North American
linguistics”. In: Historiographia Linguistica 18/1, 49-152.
Hjelmslev, Louis (1928): Principes de grammaire générale. København: Det Kongelige
danske videnskabernes selskab (Det Kgl. Dansk. Vidensk. Selsk. Hist.-Filol. Medd.
XVI, 1). [segunda edição 1968]
Hjelmslev, Louis (
1
1953): Prolegomena to a Theory of Language. Translated by Francis J.
Whitfield. Bloomington, Ind.: Indiana University Publications in Anthropology,
Folklore and Linguistics. [segunda edição: Madison: University of Wisconsin
Press, 1961]
Hjelmslev, Louis (1973): Essais Linguistiques II. Copenhague: Nordisk Sprog- og
Kulturforlag (Travaux du Cercle Linguistique de Copenhague; 14).
Hockett, Charles F. (1939): “The Potawatomi Language: A Descriptive Grammar”. Tese
de doutoramento inédita. Ann Arbor, Mich.: University of Michigan. [reprodução:
Ann Arbor, Mich: University Microfilms International]
Hockett, Charles F. (1942): “A System of Descriptive Phonology”. In: Language 18/1
(January-March, 1942), 3-21. [reedição: Joos (1957: 101-108)]
Hockett, Charles F. (1947a): “Problems of Morphemic Analysis”. In: Language 23/3
(October-December, 1947), 321-343. [reedição: Joos (1957: 229-242)]
Hockett, Charles F. (1947b): “Componential Analysis of Sierra Popoluca”. In:
International Journal of American Linguistics 3, 258-267.
Hockett, Charles F. (1948a): “Implications of Bloomfield’s Algonquian studies”. In:
Language 24/1 (January-March, 1948), 117-131. [reedição: Joos (1957: 281-289)]

Referências bibliográficas 241
Hockett, Charles F. (1948b): “A Note on ‘Structure’”. In: International Journal of
American Linguistics 14, 269-271. [reedição: Joos (1957: 279-280)]
Hockett, Charles F. (1948c): “Potawatomi”. In. International Journal of American
Linguistics 14, 1-10, 63-73, 139-149, 213-225.
Hockett, Charles F. (1950a): “Which Approach in Linguistics is ‘Scientific’?”. In: Studies
in Linguistics 8, 53-57.
Hockett, Charles F. (1950b): “Peiping morphophonemics”. In: Language 26/1 (January-
March, 1950), 63-85. [reedição: Joos (1957: 315-328)]
Hockett, Charles F. (1952): “A Formal Statement of Morphemic Analysis”. In: Studies in
Linguistics 10, 27-39.
Hockett, Charles F. (1953): Resenha de: Shannon / Weaver (1949). In: Language 29/1
(January-March, 1953), 69-93. [reedição: Saporta (1961: 44-67)]
Hockett, Charles F. (1954): “Two models of grammatical description”. In: Word 10, 210-
231. [reedição: Joos (1957: 386-399); Hamp / Joos / Householder / Austerlitz
(1995: 179-192)]
Hockett, Charles F. (1955): A Manual of Phonology. Baltimore, MD: Waverly Press
(International Journal of American Linguistics, Memoir; 11).
Hockett, Charles F. (
1
1958): A Course in Modern Linguistics. New York: The Macmillan
Company. [sétima edição: 1964]
Hockett, Charles F. (1965): “Sound change”. In: Language 41/2 (April-June, 1965), 185-204.
Hockett, Charles F. (1968a): The State of the Art. The Hague; Paris: Mouton (Janua Lingua-
rum, Series Minor, 73).
Hockett, Charles F. (1968b): “Letter to the editor”. In: Language 44, 212.
Hockett, Charles F. Charles F. (ed.) (1970): A Leonard Bloomfield Anthology. Bloomington:
Indiana University Press.
Hodson, Thomas C. (1939): “Socio-Linguistics in India”. In: Man in India: A quarterly
Record of Anthropological Science with special reference to India 19/2-3 (April-
September 1939), 94-98.
Hoefer, Albert (1846): “Andeutungen zur Eröffnung der Zeitschrift”. In: Zeitschrift für die
Wissenschaft der Sprache 1, 1-12.
Hoenigswald, Henry M. (1946): “Sound Change and Linguistic Structure”. In: Language
22/2 (April-June, 1946), 138-143. [reedição: Joos (1957: 139-141)]
Hoenigswald, Henty M. (ed.) (1979): The European Background of American Linguistics.
Dordrecht/Holland: Foris Publications.
Hoenigswald, Henry M. (1986): “Nineteenth-Century Linguistics on Itself”. In: Bynon /
Palmer (1986: 172-188).
Hoenigswald, Henry M. (1999): Resenha de: Durie / Ross (1996). In: Diachronica 16/1,
165-177.
Hofmann, Dietrich (1973): “Sprachimmanente Methodenorientierung – sprachtranszendente
‘Objektivierung’: Zum Unterschied zwischen Linguistik und Philologie”. In:
Zeitschrift für Dialektologie und Linguistik 40, 295-310.
Hogg, Richard (1994): “Linguistics, Philology, Chickens and Eggs”. In: Fernández / Fuster
/ Calvo (1994: 3-16).
Hoinkes, Ulrich / Dietrich, Wolf (Hrsg.) (1997): Kaleidoskop der Lexikalischen Semantik.
Tübingen: Gunter Narr Verlag (Tübinger Beiträge zur Linguistik; 428).
Holmes, Janet (
1
1992): An Introduction to Sociolinguistics. London: Longman.
Holmes, Janet (
2
2001): An Introduction to Sociolinguistics. Harlow, Essex: Pearson
Education. [reedições: (
3
2008), (
4
2013)]

242 E.F.K. Koerner
Hopper, Paul J. (ed.) (1977): Studies in Descriptive and Historical Linguistics: Festschrift
for Winfred P. Lehmann. Amsterdam: John Benjamins.
Householder, Fred W. (1952): Resenha de: Harris (1951a). In: International Journal of
American Linguistics 18, 260-268.
Householder, Fred W. (1965): “On some recent claims in phonological theory”. In:
Foundations of Language 1/1 (April, 1965), 13-34.
Householder, Fred W. (ed.) (1972): Syntactic Theory 1: Structuralist. Selected readings.
Harmondsworth, Middlesex; Baltimore, MD: Penguin Books.
Howell, Kenneth J. (1986): Resenha de: Anderson (1985). In: Historiographia Linguistica
13/1, 85-92.
Hsieh, Hsin-I (1980): “Set Theory as Meta-Language for Natural Languages”. In: Papers
in Linguistics 13/3, 529-542.
Huck, Geoffrey J. / Goldsmith, John A. (1995): Ideology and Linguistic Theory: Noam
Chomsky and the deep structure debates. London; New York: Routledge.
Huck, Geoffrey J. / John A. Goldsmith (1998): “On comparing linguistic theories: Further
notes on the generative semantics / interpretive semantics debate in American
linguistics”. In: Historiographia Linguistica 25/3, 345-372.
Hüllen, Werner (ed.) (1990): Understanding the Historiography of Linguistics: Problems
and projects. Münster: Nodus Publikationen.
Hüllen, Werner (2002): Collected papers on the history of linguistic ideas. Edited by
Michael M. Isermann. Münster: Nodus Publikationen.
Hughes, Samuel (2001): “Speech!”. In: The Pennsylvania Gazette 99/6 (July/August
2001), 3845. Philadelphia: University of Pennsylvania Alumni Association.
Humboldt, Wilhelm von (1836): Über die Verschiedenheit des menschlichen Sprachbaues
und ihren Einfluss auf die geistige Entwickelung des Menschengeschlechts. Berlin:
Gedruckt in der Druckerei der Königlichen Akademie der Wissenschaften.
Humboldt, Wilhelm von (1988): On Language: The diversity of human language-structure
and its influence on the mental development of mankind. Translation by Peter
Heath. Cambridge: Cambridge University Press.
Hutchins, W. John (ed.) (2000): Early Years in Machine Translation: Memoirs and
Biographies of Pioneers. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins (Studies in the
History of the Language Sciences; 9).
Hutton, Christopher M. (1999): Linguistics and the Third Reich: Mother tongue fascism,
race, and the science of language. London; New York: Routledge (Routledge
Studies in the History of Linguistics).
Hymes, Dell (ed.) (1964): Language in Culture and Society. New York: Harper & Row.
Hymes, Dell (1972): Review article: Lyons (1970). In: Language 48, 416-427.
Hymes, Dell (ed.) (1974a): Studies in the History of Linguistics: Traditions and
paradigms. Bloomington; London: Indiana University Press.
Hymes, Dell (1974b): Foundations in Sociolinguistics: An ethnographic approach.
Philadelphia: University of Pennsylvania Press.
Hymes, Dell (1974c): “Introduction”. In: Hymes (1974a: 1-38). [versão revista em Hymes
(1983: 345-383)]
Hymes, Dell (1980): “In Five Year Patterns”. In: Davis / O'Cain (1980: 203-213).
Hymes, Dell (1983): Essays in the History of Linguistic Anthropology. Amsterdam;
Philadelphia: John Benjamins (Studies in the History of the Language Sciences; 25).
Hymes, Dell / Fought, John [G.] (1975): “American Structuralism”. In: Sebeok (1975:
903-1176). [reedição: Hymes / Fought (1981)]

Referências bibliográficas 243
Hymes, Dell / Fought, John [G.] (1981): American Structuralism. The Hague: Mouton
(Janua Linguarum: Series Maior; 102).
Iordan, Iorgu / Orr, John (
1
1937): An Introduction to Romance Linguistics, its Schools and
Scholars. Translated and in parts recast by John Orr. London: Methuen. [segunda
edição, com adições de Rebecca Posner, 1970, cf. a resenha de Linguistics
No.143.103-107 (1 Jan. 1975 [sic])]
Iordan, Iorgu / Orr, John / Posner, Rebecca (
2
1970): An Introduction to Romance
Linguistics, its Schools and Scholars. Revised by Rebecca Posner. Berkeley; Los
Angeles: University of California Press. [cf. a minha resenha: Koerner (1975)]
Isačenko, Aleksandr V[asilevic] / Wissmann, Wilhelm / Strobach, Hermann (1968): Beiträge
zur Sprachwissenschaft, Volkskunde und Literaturforschung: Wolfgang Steinitz zum
60. Geburtstag. Berlin, Akademie-Verlag.
Ivănescu, Gheorge (1972): “La distinction entre la linguistique descriptive et la linguistique
historique au XIX
e
siècle”. In: Preprints of Papers, Bologna: Eleventh International
Congress of Linguists, 64-72.
Ivić, Milka (1963): Pravci u lingvistici. Ljubljana: Driavna Zalozba Slovenije.
Ivić, Milka (1965): Trends in Linguistics. Translated by Muriel Heppell. The Hague: Mouton.
[original servocroata: Ivic (1963)]
Izzo, Herbert J. (1976): “Transformationalist History of Linguistics and the Renaissance”.
In: Forum Linguisticum 1, 51-59.
Jaberg, Karl (1908): Sprachgeographie: Beitrag zum Verständnis des Atlas linguistique de
la France. Aarau: H. R. Sauerländer.
Jaberg, Karl / Jud, Jakob (1928): Der Sprachatlas als Forschungsinstrument: Kritische
Grundlegung und Einführung in den Sprach-und Sachatlas Italiens und der
Südschweiz, Halle (Saale): Max Niemeyer Verlag.
Jaberg, Karl / Jud, Jakob (eds.) (1928-1940): Sprach- und Sachatlas Italiens und der
Südschweiz. Die Mundartaufnahmen wurden durchgeführt von Paul Scheuermeier,
Gerhard Rohlfs und Max Leopold Wagner. 8 vols. Zofingen: Verlagsanstalt Ringier.
Jacob, André (1973): Genèse de la pensee linguistique. Paris: Armand Colin.
Jäger, Ludwig (1987): “Philologie und Linguistik: Historische Notizen zu einem gestörten
Verhältnis”. In: Schmitter (1987: 198-223).
Jakobson, Roman (1948): “Russian Conjugation”. In: Word 4/5 (December 1948), 155-167.
[reedição: Jakobson (1971, II: 119-129)]
Jakobson, Roman (1961): Structure of Language and its Mathematical Aspects: Proceedings
of the Twelfth Symposium in Applied Mathematics. Providence, R.I.: American
Mathematical Society (Proceedings of symposia in applied mathematics; 12).
Jakobson, Roman (1971, II): Selected Writings, II Word and Language. The Hague; Paris:
Mouton.
Jakobson, Roman (1976): “Metalanguage as a Linguistic Problem”. In: Nyelvtudományi
Közlemények 78/2, 246-352. [versão revista e aumentada de uma comunicação
como presidente da Linguistic Society of America, em 27 dezembro de 1956]
Jankowsky, Kurt R. (1972): The Neogrammarians: A re-evaluation of their place in the
development of linguistic science. The Hague; Paris: Mouton (Janua Linguarum.
Series Minor; 116).
Jankowsky, Kurt R. (1973): “Philologie – Linguistik – Literaturwissenschaft”. In: Lingua
Posnaniensis 17, 21-35.
Jankowsky, Kurt R. (ed.) (1995): History of Linguistics 1993: Papers from the Sixth
International Conference on the History of the Language Sciences (ICHoLS

244 E.F.K. Koerner
VI), Washington D. C., 9-14 August 1993. Amsterdam; Philadelphia: John
Benjamins (Studies in the History of the Language Sciences; 78).
Jankowsky, Kurt R. (ed.) (1996): Multiple Perspectives on the Historical Dimensions of
Language, Münster: Nodus Publikationen.
Jazayery, Mohammad Ali / Polome, Edgar C. / Winter, Werner (eds.) (1976): Linguistic and
Literary Studies: In Honor of Archibald A. Hill, volume 1, General and theoretical
linguistics, Lisse: Peter de Ridder Press.
Jeffress, Lloyd A. (ed.) (1951): Cerebral Mechanisms in Behavior: The Hixon Symposium.
New York; London: John Wiley & Sons; Chapman and Hall.
Jensen, John T. (1999): “From Ordered Rules to Ranked Constraints”. In: Embleton /
Joseph / Niederehe (1999: 81-97).
Jespersen, Otto (1922): Language: Its nature, development and origin. New York: Henry
Holt and Company.
Joly, André / Stéfanini, Jean (éd.) (1977): La Grammaire générale: des Modistes aux
Idéologues. Villeneuve-d’Ascq: Publications de l’Université Lille III.
Joos, Martin (ed.) (1957): Readings in Linguistics [I]: The development of descriptive
linguistics in America since 1925. Washington, D.C.: American Council of Learned
Societies. [segunda edição: 1958; quarta edição (1925-1956): Chicago; London:
University of Chicago Press, 1966]
Joos, Martin (1961): “Linguistic Prospects in the United States”. In: Mohrmann / Sommerfelt
/ Whatmough (1961: 11-20).
Jordan, Leo (1929): “Essai de sociologie linguistique”. In: Romanic Review 20/4 (October-
December), 305-325.
Jordanova, Ludmila J. / Porter, Roy S. (eds.) (1979): Images of the Earth: Essays in the
history of the environmental sciences. Papers from a conference on 'New
Perspectives on the History of Geology', Cambridge, April 1977, Chalfont St. Giles:
British Society for the History of Science.
Joseph, John E. (1988): “Saussure’s Meeting with Whitney, Berlin, 1879”. In: Cahiers
Ferdinand de Saussure 42, 205-213.
Joseph, John E. (1991): Resenha de: Koerner (1989). In: Word 42, 216-219.
Joseph, John E. (1992): “Paul Hanly Furfey and the Origins of American Sociolinguistics”.
In: Historiographia Linguistica 19/1, 111-143.
Joseph, John E. (1995): “The Structure of Linguistic Revolutions”. In: Historiographia
Linguistica 22/3, 379-399.
Joseph, John E. (1999a): Resenha de: Chomsky (1997a,b). In: Historiographia Linguistica
26/3, 421-428.
Joseph, John E. (1999b): “How Structuralist was American structuralism?”. In: Henry
Sweet Society Bulletin 33, 23-28.
Joseph, John E. (2014): “About E.F.K. Koerner”. In: Koerner (2014: iii-vi).
Joseph, John E. / Taylor, Talbot J. (1990): Ideologies of Language. London; New York:
Routledge (Routledge politics of language series).
Kainz, Friedrich (1941): Psychologie der Sprache, Vol. I: Grundlagen der allgemeinen
Sprachpsychologie, Stuttgart: Ferdinand Enke Verlag [reedição: 1962]
Kasher, Asa (ed.) (1991): The Chomskyan Turn. Oxford; Cambridge, Mass.: Basil
Blackwell.
Katz, Dovid (1983): “53. Zur Dialektologie des Jiddischen”. In: Besch, Werner / Wiegand,
Herbert Ernst (eds.): Dialektologie: Ein Handbuch zur deutschen und allgemeinen

Referências bibliográficas 245
Dialektologie. vol. II. Berlin; New York: Walter de Gruyter, 1018-1041. [tradução
do inglês por Manfred Görlach]
Katz, Jerrold J[acob] (1964): “Mentalism in Linguistics”. In: Language 40/2 (April-June,
1964), 124-137.
Katz, Jerrold J[acob] (1967): “Recent Issues in Semantic Theory”. In: Foundations of
Language 3, 124-194.
Katz, Jerrold J[acob] / Bever, Thomas G. (1976): “The Fall and Rise of Empiricism”. In:
Bever / Katz / Langendoen (1976: 11-64).
Kelly, Louis G. (ed.) (1996): Michael de Marbasio, summa de modis significandi.
Stuttgart-Bad Cannstatt: Frommann-Holzboog (Grammatica speculativa; 5).
Kibbee, Douglas (ed.) (2010): Chomskyan Evolutions and Revolutions: Essays in Honor
of E.F.K. Koerner, Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins.
Kilbury, J[ames] S. (1976): The Development of Morphophonemic Theory. Amsterdam:
John Benjamins (Studies in the History of the Language Sciences; 10).
Klinck, Roswitha (1970): Die lateinische Etymologie des Mittelalters. München: Wilhelm
Fink (Medium aevum: philologische Studien; 17 ).
Kloeke, Gesinus Gerhardus (1927): De Hollandsche expansie in de zestiende en
zeventiende eeuw en haar weerspiegeling in de hedendaagsche Nederlandsche
dialecten: Proeve eener historisch-dialect-geographische synthese, met en kaart.
s'Gravenhaage: Martinus Nijhoff.
Knobloch, Clemens (2004): “Volkhafte Sprachforschung”: Studien über den Umbau der
Sprachwissenschaft in Deutschland zwischen 1918 und 1945. Tübingen: Max
Niemeyer Verlag (Germanistische Linguistik; 257).
Knoop, Ulrich / Putschke, Wolfgang / Wiegand, Herbert Ernst (1982): “3. Die Marburger
Schule: Entstehung und frühe Entwicklung der Dialektgeographie”. In:
Besch, Werner / Wiegand, Herbert Ernst (eds.): Dialektologie: Ein Handbuch zur
deutschen und allgemeinen Dialektologie. vol. I. Berlin; New York: Walter de
Gruyter, 38-92. [bibliografia nas páginas 80-92. ]
Koepke, Wulf / Knoll, Samson B. (eds.) (1982): Johann Gottfried Herder: Innovator
through the ages. Bonn: C. Bouvier Verlag (Modern German Studies; 10).
Koerner, E.F.K. (1970a): “Bloomfieldian linguistics and the problem of ‘meaning’: A
paper in the history of the theory and study of language”. In: Jahrbuch für
Amerikastudien 15, 162-183. [reedição: Koerner (1978a, 155-176)]
Koerner, E.F.K. (1970b): Resenha de: Salus (1969). In: Lingua 25/4 (October, 1970), 419-431.
Koerner, E.F.K. (1971a): “Ferdinand de Saussure: Origin and development of his linguistic
theory in western studies of language, a critical evaluation of Saussurean principles
and their relevance to contemporary linguistic theories”. Tese de doutoramento.
Vancouver: Simon Fraser University, em: http://summit.sfu.ca/item/2954 (última
consulta: DATA). [versão impressa: Braunschweig: Vieweg (1973)]
Koerner, E.F.K. (1971b): Resenha de: Gabelentz (1969): [e Coseriu (1967)]. In: Lingua
28, 153-159 [cf. Narr / Petersen (1972); Koerner (1972d)]
Koerner, E.F.K. (1971c): Resenha de: Zwirner / Zwirner (1970). In: Phonetica 24
(1972), 247-252.
Koerner, E.F.K. (1972a): Bibliographia Saussureana, 1870-1970: An annotated, classified
bibliography on the background, development and actual relevance of Ferdinand de
Saussure’s general theory of language. Metuchen, New Jersey: The Scarecrow Press.
Koerner, E.F.K. (1972b): “Hermann Paul and Synchronic Linguistics”. In: Lingua
29/1, 274-307. [reedição atualizada: Koerner (2008b)]

246 E.F.K. Koerner
Koerner, E.F.K. (1972c): “Towards a Historiography of Linguistics: 19th and 20th Century
Paradigms”. In: Anthropological Linguistics 14, 255-280. [publicação revista em:
Parret (1976: 685-718), reedição: Koerner 1978: 21-54]
Koerner, E.F.K. (1972d): “A Brief Reply to Messrs. Narr and Petersen”. In: Lingua 30,
462-463.
Koerner, E.F.K. (1972e): “A Note on Transformational-Generative Grammar and the
Saussurean Dichotomy of Synchrony versus Diachrony”. In: Linguistische
Berichte 13 (July 1972), 25-32.
Koerner, E.F.K. (1972f): “A Note on [Björn] Collinder on Chomsky”. In: Linguistics 94,
37-42.
Koerner, E.F.K. (1973a): The Importance of Techmer’s “Intenationale Zeitschrift für
Allgemeine Sprachwissenschaft” in the Development of General Linguistics,
Amsterdam, John Benjamins (Amsterdam studies in the theory and history of
linguistic science, Studies in the History of Linguistics; 1).
Koerner, E.F.K. (1973b): Ferdinand de Saussure: Origin and development of his linguistic
thought in western studies of language, A contribution to the history and theory of
linguistics. Braunschweig: Friedr. Vieweg & Sohn Verlagsgesellschaft. [tradução
espanhola: Madrid: Gredos, 1982; tradução japonesa: Tokyo: Taishukan, 1982;
tradução húngara: Budapest: Tankönyvkiadó, 1982]
Koerner, E.F.K. (1973c): “The Humboldtian Tradition in Western Linguistics” (artigo em
manuscrito). [publicado como “The Humboldtian Trend in Linguistics”. In: Hopper
(1977: 145-158)]
Koerner, E.F.K. (1973d): Resenha de: Salus (1971). In: Foundations of Language
10/4, 589-594
Koerner, E.F.K. (1973e): Resenha de: Stankiewicz (1972). In: Language Sciences 27
(October 1973), 45-50.
Koerner, E.F.K. (1974a): “Purpose and Scope of Historiographia Linguistica: Editorial”.
In: Historiographia Linguistica I, 1-10. [reedição: Koerner (1978a: 55-62)]
Koerner, E.F.K. (1974b): “The Importance of Linguistic Historiography and the Place of
History in Linguistic Science”. In: Foundations of Language 14, 4 (1977), 541-
547.
1
[reedição: Koerner (1978a)]
Koerner, E.F.K. (1974c): “Animadversions on Some Recent Claims Regarding the
Relationship between Georg von der Gabelentz and Ferdinand de Saussure”. In:
Godel / Amacker / De Mauro / Prieto (1974: 165-180).
Koerner, E.F.K. (ed.) (1975a): The Transformational-Generative Paradigm and Modern
Linguistic Theory. Amsterdam: John Benjamins (Current Issues in Linguistic
Theory; 1).
Koerner, E.F.K. (1975b): “Structural Linguistics: Early Beginnings”. In: Sebeok (1975:
717-827).
Koerner, E.F.K. (1975c): Resenha de: Iordan (1970). In: Linguistics 143 (1 January 1975
[sic!]), 103-107.
Koerner, E.F.K. (1976): “Towards a Historiography of Linguistics: 19th and 20th Century
Paradigms”. In: Parret (1976: 685-718). [reedição revista de Koerner (1972)]


1
Conforme constatado em Koerner (1974b: 541), este artigo constitui uma “Revised version of a
paper presented at the Joint Annual Meeting of the Linguistic Association of Great Britain and the
Societas Linguistica Europaea in Nottingham, England, on 8 April 1975”.

Referências bibliográficas 247
Koerner, E.F.K. (1978a): Toward a Historiography of Linguistics: Selected essays.
Foreword by R[obert] H[enry] Robins. Amsterdam: John Benjamins (Studies in the
History of the Language Sciences; 19).
Koerner, E.F.K. (1978b): “The Importance of Linguistic Historiography and the Place of
History in Linguistic Science”. In: Koerner (1978a: 63-69).
Koerner, E.F.K. (1978c): “Purpose and Scope of Historiographia Linguistica: Editorial”.
In: Koerner (1978a: 55-62). [reedição revista de Koerner (1974a)]
Koerner, E.F.K. (1978d): Western Histories of Linguistic Thought: An annotated
chronological bibliography 1822-1976. Amsterdam: John Benjamins (Studies in
the History of the Language Sciences; 11).
Koerner, E.F.K. (ed.) (1980a): Progress in Linguistic Historiography Papers from the
International Conference on the History of the Language Sciences, Ottawa, 28-31
August 1978. Amsterdam: John Benjamins (Studies in the History of the Language
Sciences; 20).
Koerner, E.F.K. (1980b): “Pilot and Parasite: Disciplines in the Development of Linguistic
Science”. In: Folia Linguistica Historica 14/1-1 (January, 1980), 213-224. [mais
tarde emendado para Pilot and Pirate (...)]
Koerner, E.F.K. (1980c): “L’importance de William Dwight Whitney pour les jeunes
linguistes de Leipzig et pour Ferdinand de Saussure”. In: Lingvisticae
Investigationes 4, 379- 394. [reedição: Koerner (1988: 1-16)]
Koerner, E.F.K. (1981): “The Neogrammarian Doctrine: Breakthrough or Extension of the
Schleicherian Paradigm, A problem in linguistic historiography”. In: Folia
Linguistica Historica 15/2-2 (January, 1981), 157-187.
Koerner, E.F.K. (1982a): “The Schleicherian Paradigm in Linguistics”. In: General
Linguistics 22, 1-39. [reedição revista e aumentada: Koerner (1989: 325-375)]
Koerner, E.F.K. (1982b): “Positivism in 19th-century Linguistics”. In: Rivista di Filosofia
73, 170-191.
Koerner, E.F.K. (ed.) (1983a): Linguistics and Evolutionary Theory. Amsterdam;
Philadelphia: John Benjamins (Amsterdam Classics in Linguistics 1800-1925; 6).
[traduções inglesas de The Darwinian Theory and the Science of language (1863) e
On the Significance of Language for the Natural History of Man (1865) de August
Schleicher, bem como On the Origin of Language (1867) de Ernst Haeckel]
Koerner, E.F.K. (1983b): “The Chomskyan ‘Revolution’ and Its Historiography: A few
critical remarks”. in: Language & Communication 3/2, 147-169. [reedição: Koerner
(1989: 101-146)]
Koerner, E.F.K. (1983c): “Preface” and “Introduction”. In: Schleicher (1983: ix*-
xxii*, xxiii*-lxxi*).
Koerner, E.F.K. (1984a): “Models in Linguistic Historiography”. In: Forum Linguisticum
6/3, 189-201. [artigo de1982; reedição: Koerner (1989: 47-59)]
Koerner, E.F.K. (1984b): “French Influences on Saussure”. In: Canadian Journal of
Linguistics / Revue canadienne de Linguistique 29, 20-41. [reedição: Koerner
(1988: 67-88)]
Koerner, E.F.K. (1984c): “Remarques critiques sur la linguistique américaine et son
historiographie”. In: Lingvisticae Investigationes 8/1, 87-103.
Koerner, E.F.K. (ed.) (1984d): Edward Sapir: Appraisals of his life and work. Amsterdam;
Philadelphia: John Benjamins (Studies in the History of the Language
Sciences, 36).

248 E.F.K. Koerner
Koerner, E.F.K. (1986): “Aux sources de la sociolinguistique [moderne]”. In: Lingvisticae
Investigations 10, 381-401. [reedição: Koerner (1988: 155-174)]
Koerner, E.F.K. (1987a): “Das Problem der Metasprache in der Sprachwissenschafts-
geschichtsschreibung”. In: Schmitter (1987: 63-80). [artigo de 1984]
Koerner, E.F.K. (1987b): “On the Problem of ‘Influence’ in Linguistic Historiography”. In:
Aarsleff / Kelly / Niederehe (1987: 13-28). [artigo apresentado em ICHoLS III
(1984); reedição: Koerner (1989: 31-46)]
Koerner, E.F.K. (1988a): Saussurean Studies / Études saussuriennes. Préface de Rudolf
Engler. Genève: Éditions Slatkine.
Koerner, E.F.K. (1988b): “Georg von der Gabelentz and Ferdinand de Saussure: The
problem of ‘influence’”.
In: Koerner (1988a: 51-66).
Koerner, E.F.K. (1989a): Practicing Linguistic Historiography: Selected essays.
Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins (Studies in the History of the Language
Sciences; 50).
Koerner, E.F.K. (1989b): “The Chomskyan ‘Revolution’ and its Historiography:
observations of a bystander”. In: Koerner (1989: 101-146).
Koerner, E.F.K. (1989c): “On the Historical Roots of the Philology/Linguistics
Controversy”. In: Koerner (1989: 233-244).
Koerner, E.F.K. (1990a): “Continuities and Discontinuities in the History of Linguistics”.
In: Bahner / Schildt / Viehweger (1990, III: 2649-2656). [reedição: Koerner (1989:
1-12)]
Koerner, E.F.K. (1990b): “On ‘unrewriting the history of linguistics”. In: Niederehe /
Koerner (1990: 63-75).
Koerner, E.F.K. (ed.) (1991a): First Person Singular II: Autobiographies by North
American scholars in the Language Sciences. Amsterdam; Philadelphia: John
Benjamins (Studies in the History of the Language Sciences; 61).
Koerner, E.F.K. (1991b): “Toward a History of Modern Sociolinguistics”. In: American
Speech 64/1, 1-18. [uma versão bastante revista foi publicada em Koerner (1995:
117-134)]
Koerner, E.F.K. (1993a): “The Problem of 'Metalanguage' in Linguistic Historiography”.
In: Studies in Language 17/2, 111-134. [reedição revista como cap. 2 em Koerner
(1995a: 27-46)]
Koerner, E.F.K. (1993b): “The Natural Science Background to the Development of
Historical-Comparative Linguistics”. In: Aertsen / Jeffers (1993: 1-24). [reedição:
Koerner (1995: 47-76)]
Koerner, E.F.K. (1993c): “Zellig Sabbettai Harris: a comprehensive bibliography of his
writings, 1932-1991”. In: Historiographia Linguistica 20/2-3, 509-522.
Koerner, E.F.K. (1994a): “Chomsky’s Readings of the Cours de linguistique générale”. In:
Lingua e Stile 29/2, 267-284. [reedição: Koerner (1995: 96-114)]
Koerner, E.F.K. (1994b):“Historiography of Linguistics”. In: Asher R[onald] E. /
Simpson, J[ames] M. Y. (eds.): The Encyclopedia of Language and Linguistics, vol.
III. Oxford; New York: Pergamon Press, 1570-1578.
Koerner, E.F.K. (1995a): Professing Linguistic Historiography. Amsterdam; Philadelphia:
John Benjamins (Studies in the History of the Language Sciences; 79).
Koerner, E.F.K. (1995b): “Persistent Issues in Linguistic Historiography”. In: Jankowsky
(1995: 3-25). [também em: Koerner (1995a: 3-26)]
Koerner, E.F.K. (1995c): Chomsky’s Readings of the Cours de linguistique générale. In:
Koerner (1995a: 96-114).

Referências bibliográficas 249
Koerner, E.F.K. (1996a): “O problema da metalinguagem em Historiografia da
Linguística”. Tradução de Cristina Altman. In: D.E.L.T.A.: Revista de
Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada 12/1, 95-124.
Koerner, E.F.K. (1996b): “Questões que persistem em historiografia linguística”. Tradução
de Cristina Altman. In: Revista da Associação Nacional de Pós-Graduação em
Letras e Linguística 2, 45-70.
Koerner, E.F.K. (1997a): “Linguistics vs philology: Self-definition of a field or rhetorical
stance?”. In: Language Sciences 19/2 (1997), 167-175.
Koerner, E.F.K. (1997b): “Linguística e filologia: o eterno debate”. Tradução de Cristina
Altman e Lineide do Lago Salvador Mosca. In: Filologia e Linguística Portuguesa.
1/1, 4-17.
Koerner, E.F.K. (ed.) (1998a): First Person Singular III: Autobiographies by North
American scholars in the Language Sciences. Amsterdam; Philadelphia: John
Benjamins (Studies in the History of the Language Sciences; 88).
Koerner, E.F.K. (ed.) (1998b): “O problema da ‘influência’ em historiografia linguística”.
Traduçao de Cristina Altman. In: Investigações: Linguística e Teoria
Literária, Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da
Universidade Federal de Pernambuco 8 (julho de 1998), 181-211.
Koerner, E.F.K. (1999a): Linguistic Historiography: Projects & prospects. Amsterdam;
Philadelphia: John Benjamins (Studies in the History of the Language Sciences; 92).
Koerner, E.F.K. (1999b): “The concept of ‘revolution’ in linguistics: Historical, methodo-
logical, and philosophical considerations”. In: Cram / Linn / Nowak (1999: 3-14).
Koerner, E.F.K. (2000): “Ideology in 19th and 20th century study of language: a neglected
aspect of linguistic historiography”. In: Indogermanische Forschungen 105, 1-26.
Koerner, E.F.K. (2001a): “Linguistics and ideology in 19th and 20th century studies of
language”. In: Dirven / Hawkins / Sandikcioglu (2001: 253-276).
Koerner, E.F.K. (2001b): “William Labov and the Origins of Sociolinguistics in America”.
In: Folia Linguistica Historica 22/1-2, 1-40.
Koerner, E.F.K. (
1
2002): Toward a History of American Linguistics. London; New York:
Routledge.
Koerner, E.F.K. (2003a): “On the Place of Linguistic Historiography Within Linguistics,
Again”. In: Auroux / Arpin / Lazcano / Léon (2003: 371-386).
Koerner, E.F.K. (2003b): “Remarks on the origins of morphophonemics in American
structuralist linguistics”. In: Language & Communication 23, 1-43.
Koerner, E.F.K. (2004a): Essays in the History of Linguistics. Amsterdam; Philadelphia:
John Benjamins (Studies in the History of the Language Sciences, 104).
Koerner, E.F.K. (2004b): “Ideology, “resonanzbedarf,” and linguistic-philological
scholarship”. In: van Dijk / Neff-van Aertselaer / Pütz (2004: 57-83). [reedição:
Koerner (2004a: 19-42)]
Koerner, E.F.K. (2004c): “Linguistics and Revolution: With Particular Reference to the
'Chomskyan Revolution'”. In: Brisard / D'hondt / Mortelmans (2004: 3-62).
Koerner, E.F.K. (
2
2005a): Toward a History of American Linguistics. London; New York:
Routledge; Taylor & Francis e-Library (Routledge Studies in the History of
Linguistics).
Koerner, E.F.K. (2005b): “The ‘Chomskyan Revolution’ and its Historiography”. In:
Koerner (2005a: 151-208).
Koerner, E.F.K. (2005c): “On the Origins of Morphophonemics in American Linguistics”.
In: Koerner (2005a: 209-251).

250 E.F.K. Koerner
Koerner, E.F.K. (2005d): “William Labov and the Origins of Sociolinguistics in America”.
In: Koerner (2005a: 253-284).
Koerner, E.F.K. (2005e): “In Lieu of a Conclusion: On the importance of the history of
linguistics”. In: Koerner (2005a: 285-302).
Koerner, E.F.K. (2005f): “On the Rise and Fall of Generative Semantics”. In: Koerner
(2005a: 105-130).
Koerner, E.F.K. (2005g): “Pour une historiographie engagée; or what’s wrong with the
history of linguistics”. In: Lingua Posnaniensis 46, 109-116.
Koerner, E.F.K. (2006): “The development of linguistic historiography – history,
methodology, and present state”. In: Auroux / Koerner / Niederehe / Versteegh
(2006, III: 2802-2820).
Koerner, E.F.K. (2008a): Universal Index of Biographical Names in the Language
Sciences, Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins Publishing Company (Studies
in the History of Language Sciences; 113).
Koerner, E.F.K. (2008b): “Hermann Paul and General Linguistic Theory”. In: Language
Sciences 30/1 (January 2008), 102-132.
Koerner, E.F.K. (2012a): “Georg von der Gabelentz e Ferdinand de Saussure: O problema
da ‘influência’”. Tradução de Cristina Altman. In: Todas as Letras. Revista de
Língua e Literatura 14/1, 54-70.
Koerner, E.F.K. (2012b): “A importância da historiografia linguística e o lugar da história
nas ciências da linguagem”. Tradução por Rolf Kemmler e Maria da Felicidade
Morais. In: Revista de Letras 10 (II.ª Série, 2011), 91-98.
Koerner, E.F.K. (2014): Beyond 500 Books: Amsterdam Studies in the Theory and History
of Linguistic Science 1973-present. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins.
Koerner, E.F.K. / Asher R. E. (eds.) (1995): Concise history of the language sciences: from
the Sumerians to the cognitivists. Oxford; New York: Pergamon Press.
Koerner, E.F.K. / Tajima, Matsuji (1986): Noam Chomsky: A Personal Bibliography 1951-
1986. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins (Library & Information Sources
in Linguistics; 11).
Koll, Hans-Georg (1958): Die französischen Wörter “langue” und “langage” im
Mittelalter. Geneva; Paris: Droz; Minard.
Kraus, Christian Jacob (1787): Resenha de: Pallas (1787). In: Allgemeine Literatur-Zeitung
3/235-237b (1.-3. October 1787), cols. 1-24.
Kreidler, Charles W. (ed.): Report on the 16th Annual Round Table on Linguistics and
Language Studies. Washington, D.C.: Georgetown University Press (Monograph
Series of Languages and Linguistics; 18).
Krige, John (1980): Science, Revolution, and Discontinuity. Brighton, Sussex: Harvester
Press; Atlantic Highlands, N.J.: Humanities Press.
Kristeller, Paul Oskar (1964): “History of Philosophy and History of Ideas”. In: Journal of
the History of Philosophy 2/1 (April, 1964), 1-14.
Kubczak, Hartmut (1975): “Vorschlag zur Unterscheidung von Langue, Metasprache und
Metaebene”. in: Zeitschrift für Germanistische Linguistik 3, 314-321.
Kučera, Henry (1983): “Roman Jakobson”. In: Language 59/4 (October-December,
1983), 871-883.
Kuhn, Thomas S. (
1
1962) The Structure of Scientific Revolutions. Chicago: University of
Chicago Press [segunda edição acrescentada: 1970]
Kuhn, Thomas S. (1969): “Comment”. In: Comparative Studies in Sociology and History
11, 403-412.

Referências bibliográficas 251
Kuhn, Thomas S. (
2
1970): The Structure of Scientific Revolutions. Second Edition,
Enlarged. Chicago: University of Chicago Press (International Encyclopedia of
Unified Science; 2/2). [terceira edição: 1996]
Kuhn, Thomas S. (1971): “The Relations between History and History of Science”. In:
DAEDALUS: Journal of the American Academy of Arts and Sciences 100, 271-304.
Kuhn, Thomas S. (1977): The Essential Tension: Selected studies in scientific tradition and
change. Chicago: University of Chicago Press.
Kuhn, Thomas S. (
3
1996): The Structure of Scientific Revolutions. Chicago: University of
Chicago Press.
Kurath, Hans (1949): A Word Geography of the Eastern United States. Ann Arbor:
Universiy of Michigan Press.
Kurath, Hans / Bloch, Bernard / Hanley, Miles L. / Hanson, Marcus L. / Lowman, Guy S.
(1941): Linguistic Atlas of New England. 3 vols. Providence, R. I.: Brown
University for the American Council of Learned Societies.
Kurath, Hans / Hansen, Marcus L. / Bloch, Julia / Bloch, Bernard (1939): Handbook of the
Linguistic Geography of New England. Providence, R. I.: Brown University for the
American Council of Learned Societies.
Kurath, Hans / McDavid, Raven I. (1951): The Pronunciation of English in the Atlantic
States: based upon the collections of the linguistic atlas of the Eastern United
States. Ann Arbor: University of Michigan Press (Studies in American English; 3).
Kvastad, Nils Bjørn (1977): “Semantics in the Methodology of the History of Ideas”. In:
Journal of the History of Ideas 38/1 (January-March, 1977), 157-174.
Kvastad, Nils Bjørn (1979): “On Method in the History of Ideas”. In: International Logic
Review 9, 100-112.
La Grasserie, Raoul de (1909): “De la sociologie linguistique”. In: Monatsschrift für
Soziologie 1, 725-745.
Labov, William (1963): “The Social Motivation of a Language Change”. In: Word
19, 273-309. [Tese de mestrado. New York: Columbia University, 1963; reedição:
Labov (1972b: 1-42)]
Labov, William (1964a): “The Social Stratification of English in New York City”. Tese de
doutoramento. New York: Columbia University.
Labov, William (1964b): “Phonological Correlates of Social Stratification”. In: Gumperz /
Hymes (1964: 164-176).
Labov, William (1965): “On the Mechanism of Linguistic Change”. In: Kreidler (1965:
91-114). [reedição: Labov (1972b: 160-182)]
Labov, William (
1
1966a): The Social Stratification of English in New York City.
Washington, D.C.: Center for Applied Linguistics. [Tese de doutoramento. New
York: Columbia University, 1964]
Labov, William (1966b): “Hypercorrection by the Lower Middle Class as a Factor of
Linguistic Change”. In: Bright (1966: 83-113). [reedição: Labov (1972b: 122-142)]
Labov, William (1966c): “The Effect of Social Mobility on Linguistic Behavior”. In:
Sociological Inquiry 36/2 (April, 1966), 186-203 [reedição: Lieberson (1996: 58-
75); trata-se de um número especial da revista International Journal of American
Linguistics 44 (October 1967) de vi + 204 páginas]
Labov, William (1969): “Contraction, Deletion, and Inherent Variability of the English
Copula”. In: Language 45/4 (December 1969), 715-762.
Labov, William (1970a): “The Logic of Non-Standard English”. In: Alatis (1970: 1-43).

252 E.F.K. Koerner
Labov, William (1970b): “The Study of Language in its Social Context”. In: Studium
Generale 23, 30-87. [reedição: Labov (1972b: 183-259)]
Labov, William (
1
1972a): Sociolinguistic Patterns. Philadelphia: University of
Pennsylvania Press.
Labov, William (1972b): Language in the Inner City: Studies in the black English
vernacular. Philadelphia: University of Pennsylvania Press.
Labov, William (1972c): “The Social Setting of Linguistic Change”. In: Labov (1972b:
260-325). [também publicado em: Sebeok (1973: 195-251).
Labov, William (
3
1982a): The Social Stratification of English in New York City. Belmont,
CA: Wadsworth. [terceira impressão, com um “Preface to the Third Edition” (iii-
iv), um índice (471-483), e um “Postscript” (484-501) de interesse histórico]
Labov, William (1982b): “Building on Empirical Foundations”. In: Lehmann / Malkiel:
1982: 17-92).
Labov, William (1992): “Evidence for Regular Change in English Dialect Geography”. In:
Rissanen / Ihalainen / Nevalainen / Taavitsainen (1992: 42-71).
Labov, William (1994): Principles of Linguistic Change: Volume I, Internal factors.
Oxford; Cambridge, Mass.: Basil Blackwell (Language in Society, 20).
2

Labov, William (2001a): Principles of Linguistic Change: Volume II, Social factors.
Malden; Oxford: Basil Blackwell.
Labov, William (2001b): “How I Got into Linguistics, and What I Got out of It”. In:
Historiographia Linguistica 28/3, 457-468.
Labov, William (
2
2006a): The Social Stratification of English in New York City.
Cambridge; New York; Melbourne; Madrid; Cape Town; Singapore; São Paulo:
Cambridge University Press.
Labov, William (2006b): “The Study of Language in its Social Context”. In: Labov (2006:
3-17).
LaCapra, Dominick (1983): Rethinking Intellectual History: Texts, contexts, language.
Ithaca, N.Y.; London: Cornell University Press.
LaCapra, Dominick (1988): “A Review of a Review”. In: Journal of the History of Ideas
49, 677-687.
Lakatos, Imre (1974): Proofs and Refutation: The logic of mathematical discovery. Ed. by.
John Worrall & Elie Zahar. Cambridge: Cambridge University Press.
Lakatos, Imre (1978): The Methodology of Scientific Research Programmes. Ed. by John
Warrall & Gregory Currie. Cambridge: Cambridge University Press.
Lakatos, Imre / Musgrave, Alan (eds.) (1970): Criticism and the Growth of Knowledge.
Cambridge: Cambridge University Press.
Lakoff, George (1971): “On generative semantics”. In: Steinberg / Jakobovits (1971: 232-296).
Laks, Bernard (éd.), (1997): Nouvelles Phonologies. Paris: Larousse (= Langages 125).
Lamb, Sydney M. (1967): Resenha de: Chomsky (1964, 1965). In: American
Anthropologist 69, 411-415.
Langendoen, D. Terence (1964): “Modern British Linguistics”. Tese de doutoramento.
Cambridge, Mass.: Massachusetts Institute of Technology.


2
A página web do próprio William Labov (http://www.ling.upenn.edu/~wlabov/WL.BIB.pdf),
consultada em 20 de julho de 2014, inclui publicações até 2010. Cf. também a bibliografia em Guy /
Feagin / Schiffrin / Baugh (1997, II, 339-352) e Labov (2001).

Referências bibliográficas 253
Langendoen, D. Terence (1968): The London School of Linguistics: A Study of the
Linguistic Theories of B. Malinowsky and J. R. Firth. Cambridge, Mass.: MIT Press
(M.I.T. Press research monographs; 46).
Langendoen, D. Terence (1979): “Discussion of the Papers by Yakov Malkiel and E.M.
Uhlenbeck”. In: Hoenigswald (1979: 145-153). [“Surrejoinder” Hoenigswald
(1979: 157-159)]
Lara, Luis Fernando (1989): “Une critique du concept de métalangage”. In: Folia
Linguistica 23/3-4, 387-404.
Larcher, Pierre (1988): “Quand, en arabe, on parle de l’arabe: Essai sur la méthodologie de
l’histoire des ‘métalangages arabes’”. In: Arabica 35/2, 117-142.
Lashley, Karl S. (1951): “The Problem of Serial Order in Behavior”. In: Jeffress (1951:
112-136). [reedição: Saporta (1961: 180-198)]
Lauchert, Friedrich (1894): “Die Anschauungen Herders über den Ursprung der Sprache”.
In: Euphorion: Zeitschrift für Literaturgeschichte 1, 749-771.
Laudan, Larry (1977): Progress and Its Problems: Toward a theory of scientific growth.
Berkeley: University of California Press.
Law, Vivian (ed.) (1993): History of Linguistic Thought in the Early Middle Ages.
Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins (Studies in the History of the Language
Sciences, 71).
Lawson, Aaron (2001): “Ideology and Indoctrination: the framing of language in twentieth
century introductions to linguistics”. In: Language Sciences 23/1, 1-14.
Lees, Robert B. (1953): “The basis of glottochronology”. In: Language 29/2 (April-June,
1953), 113-127.
Lees, Robert B. (1957): Resenha de: Chomsky (1957). In: Language 33/3 (July-September,
1957), 375-408.
Lees, Robert B. (1960): The Grammar of English Nominalizations. Bloomington, Indiana:
Indiana University Research Center in Anthropology, Folklore and Linguistics;
Mouton (Indiana University Research Center in Anthropology, Folklore and
Linguistics; 12). [suplemento de: International Journal of American Linguistics
26/3-II (July 1960); quinta edição: 1968]
Lehmann, Winfred P. (
1
1962): Historical Linguistics: An introduction. New York:
Holt, Rinehart & Winston. [segunda edição 1973]
Lehmann, Winfred P. (
3
1993): Historical Linguistics: An introduction. London; New
York: Routledge.
Lehmann, Winfred P. / Malkiel, Yakov (eds.) (1968): Directions for Historical Linguistics:
A Symposium. Austin, Tex.: University of Texas Press, 95-195.
Lehmann, Winfred P. / Malkiel, Yakov (eds.) (1982): Perspectives on Historical
Linguistics: Papers from a conference held at the meeting of the Language Theory
Division, Modern Language Association, San Francisco, 27-30 December 1979.
Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins (Current Issues in Linguistic Theory; 24).
Leopold, Werner F. (1939-1950): Speech Development of a Bilingual Child: A Linguist's
Record. 4 vols. Evanston: Northwestern University.
Lepschy, Giulio C. (1966): La linguistica strutturale. Torino: Einaudi.
Lepschy, Giulio C. (ed.) (1990, 1994): Storia della linguistica. 3 vols. Bologna: Il Mulino.
Lepschy, Giulio (ed.) (1994-1998): History of Linguistics. 4 vols. London / New York:
Longman.
Leroy, Maurice (1963): Les grands courants de la linguistique moderne. Brussels: Presses
University de Bruxelles. [segunda edição 1971]

254 E.F.K. Koerner
Leroy, Maurice (
2
1971): Les grands courants de la linguistique. 2.
e
édition revue et
augmentée. Bruxelles: Éditions de l'Université libre de Bruxelles. [oitava
edição, 1980]
Lieb, Hans-Heinrich (1984): Integrational Linguistics. Amsterdam; Philadelphia: John
Benjamins (Current Issues in Linguistic Theory; 17).
Lieberson, Stanley (ed.) (1996): Explorations in sociolinguistics. Bloomington, IN: Indiana
University Press.
Lipka, Leonhard (1975): “Prolegomena to ‘prolegomena to a theory of word-formation’: a
reply to Morris Halle”. In: Koerner (1975: 175-184).
Locke, William N. (1955): “Machine Translation to date”. In: Weinstein (1955: 101-113).
Locke, William N. / A[ndrew] Donald Booth (eds.) (1955): Machine Translation of
Languages. Foreword by Warren Weaver. Cambridge, Mass.; New York: The
Technology Press of the Massachusetts Institute of Technology; John Wiley & Sons.
Lohmann, Johannes (1967): “Über das Verhältnis der Sprachtheorien von Humboldt, de
Saussure und Trubetzkoy”. In: Hamm (1967: 353-263).
Lounsbury, Floyd G. (1953): “The Method of Descriptive Morphology”. In: Lounsbury,
Floyd G. (ed.): Oneida Verb Morphology. New Haven, CT: Yale University, Yale
University Press, pp. 11-24. [reedição: Joos (1957: 379-385)]
Lovejoy, Arthur O. (1936): The Great Chain of Being: A study of the History of an Idea,
The William James lectures, delivered at Harvard University, 1933. Cambridge,
Mass.: Harvard University Press. [reedição: New York: Harper & Row, 1970]
Löwe, Richard (1889):. “Die Dialektforschung im Magdeburgischen Gebiete”. In:
Jahrbuch des Vereins für niederdeutsche Sprachforschung 14, 14-52.
LSA Bulletin 21/3 (1948) = Bulletin of the Linguistic Society of America (Supplement to
Language: Journal of the Linguistic Society of America) 21/3 (July-September,
1948). [dos anais do LSA meeting, realizado na Universidade de Yale, New Haven,
29-30 de dezembro de 1947]
LSA Bulletin 22/4 (1949) = Bulletin of the Linguistic Society of America (Supplement to
Language: Journal of the Linguistic Society of America) 24/3 (October-December,
1949).
Lubek, Ian (1981): “Histoire des psychologies sociales perdues: le cas de Gabriel Tarde”.
In: Revue française de Sociologie 22/3, 361-395.
Lunt, Horace G. (ed.) (1964): Proceedings of the Ninth International Congress of
Linguists: Cambridge, Mass., August 27-31, 1962. The Hague: Mouton (Janua
Linguarum: Series Maior; 12).
Lyons, John (1970): Chomsky. London: Fontana; Collins (Fontana Modern Masters series).
Lyons, John (1981): Languages and Linguistics. Cambridge: Cambridge University Press
(Cambridge textbooks in linguistics).
Macaulay, Ronald K. S. (1988): “What Happened to Sociolinguistics?”. In: English World-
Wide 9/2, 153-169.
Mackert, Michael (1993): “Interpretation, Authorial Intention, and Representation:
Reflections on the historiography of linguistics”. In: Language Sciences 15/1
(January, 1993), 39-52.
Maher, John P. (1966): “More on the History of the Comparative Method: The tradition of
Darwinism in August Schleicher’s work”. In: Anthropological Linguistics 8/3
(March, 1966), 1-12.
Maher, J. Peter (1980): “The Transformational-Generative Paradigm: A silver anniversary
polemic”. In: Forum Linguisticum 5/1, 1-35.

Referências bibliográficas 255
Maher, J. Peter (1983): “Introduction”. In: Koerner (1983a: xvii-xxxii).
Makkai, Adam / Becker-Makkai, Valerie (eds.) (1975): The First LACUS Forum, Columbia,
S.C.: Hornbeam Press.
Malkiel, Yakov (1969a): “Uriel Weinreich, Jakob Jud’s Last Student”. In: Romance
Philology 22/1, 128-132.
Malkiel, Yakov (1969b): “History and Histories of Linguistics”. In: Romance Philology
22/4, 530-566, 573-574. [reedição: Malkiel (1983: 49-83)]
Malkiel, Yakov (1976): “From Romance Philology through Dialect Geography to
Sociolinguistics”. In: International Journal of the Sociology of Language 9
(January, 1986), 59-84.
Malkiel, Yakov (1983): From Particular to General Linguistics: Selected essays 1965-1978.
Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins (Studies in Language Companion Series; 3).
Malmberg, Bertil (1959): Nya vägar inom språkforskningen: En orientering i modern
lingvistik. Stockholm: Läromedelsförlagen.
Malmberg, Bertil (1964): New Trends in Linguistics: An orientation. translated from the
Swedish original by Edward Carney; Stockholm; Lund: Naturmetodens Språkinstitut
(Bibliotheca Linguistica; 1). [tradução do original sueco de Malmberg (1959)]
Malmberg, Bertil (1991): Histoire de la linguistique: Sumer à Saussure. Paris: Presses
Universitaires de France (Collection Fondamental).
Manchester, Martin L. (1985): The Philosophical Foundations of Humboldt’s Linguistic
Doctrines. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins (Studies in the History of the
Language Sciences; 32).
Mandelbaum, David G. (ed.) (1949): Selected Writings of Edward Sapir in Language,
Culture, and Personality. Berkeley; Los Angeles: University of California Press.
Mandelbaum, Maurice (1965): “History of ldeas, Intellectual History, and History of
Philosophy”. In: History and Theory, Beiheft 5, 33-66.
Mannheim, Karl (1968): Ideology and Utopia: An introduction to the sociology of
knowledge. Tradução do alemão por Louis Wirth & Edward Shils. New York:
Harcourt, Brace & World. [original alemão de 1936; veja-se especialmente o
capítulo “The sociology of knowledge” (236-280)]
Marchand, James W. (1982): “Herder: Precursor of Humboldt, Whorf, and modern
language philosophy”. In: Koepke / Knoll (1982: 26-34).
Martinet, André (1946): “Description du parler franco-provençal d’Hauteville (Savoie)”.
In: Revue de linguistique romane 15, 1-86.
Martinet, André (1952a): “Function, Structure, and Sound Change”. In: Word 8/1, 1- 32.
Martinet, André (1952b): Resenha de: Pop 1950). In: Word 8, 260-262.
Martinet, André (1955): Économie des changements phonétiques: Traité de phonologie
diacronique. Berne: A. Francke (Bibliotheca Romanica: Manuales et Commentationes;
X). [terceira edição 1970]
Martinet, André (2005): Économie des changements phonétiques: Traité de phonologie
diacronique. Paris: Maisonneuve & Larose.
Martinet, André / Kassaï, Georges / Martinet, Jeanne (1993): Mémoires d’un linguiste:
Vivre les langues. entretiens avec Georges Kassaï et avec la collaboration de Jeanne
Martinet. Paris: Quai Voltaire.
Massachusetts Institute of Technology (ed.) (1983): A Tribute to Roman Jakobson, 1896-
1982. Berlin; New York: Walter de Gruyter.

256 E.F.K. Koerner
Matthews, P[eter] H. (1993): Grammatical Theory in the United States from Bloomfield to
Chomsky. Cambridge: Cambridge University Press (Cambridge Studies in
Linguistics; 67).
Matthews, P[eter] H. (1999): [Obituary of] Zellig Sabbettai Harris. In: Language
75/1, 112-119.
Mattoso Câmara Jr., Joaquim (
1
1956): Dicionário de fatos gramaticais. Rio de Janeiro:
Ministério da Educação e Cultura; Casa de Rui Barbosa (Colecção de estudos
filológicos). [reedição: 1964]
Mattoso Câmara Jr., Joaquim (
2
1964): Dicionário de filologia e gramática: referente à
língua portuguêsa. São Paulo; Rio de Janeiro: J. Ozon Editor. [reedição: 1964]
Mayrhofer, Manfred (1983): “Sanskrit und die Sprachen Alteuropas: Zwei Jahrhunderte
des Widerspiels von Entdeckungen und Irrtümem”. In: Nachrichten der Akademie
der Wissenschaften in Gottingen; I: Philolog.-historische Klasse 5 (Jahrgang
1983), 121/123-154. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht.
McCawley, James D. (ed.) (1976a): Notes from the Linguistic Underground. New York:
Academic Press (Syntax and Semantics; 7).
McCawley, James D. (1976b): “Introduction”. In: McCawley (1976: 1-19).
McCawley, James D. (1976c): “¡Madison Avenue, si, Pennsylvania Avenue, no!”. In:
Reich (1976: 17-27).
McCawley, James D. (1981): Resenha de: Newmeyer (1980). In: Linguistics 18, 911-930.
McCawley, James D. (1982): “How far can you trust a linguist?”. In: Simon / Scholes
(1982: 75-87).
McDavid Jr., Raven I. (1946): “Dialect Geography and Social Science Problems”. In:
Social Forces 25/2 (December, 1946), 168-172. [reedição: McDavid (1979)]
McDavid Jr., Raven I. (1948): “Postvocalic /-r/ in South Carolina: A social analysis”. In:
American Speech 23/3-4 (October-December, 1948), 194-203. [reedição: McDavid
(1980b: 1-14)]
McDavid Jr., Raven I. (1968): Resenha de: Labov (1966a). In: American Anthropologist
70/2, 425-426.
McDavid Jr., Raven I. (1979): Dialects in culture: Essays in general dialectology. ed. de
W. A. Kretzschmar Jr, Tuscaloosa: University of Alabama Press.
McDavid Jr., Raven I. (1980a): “Linguistics, through the Kitchen Door”. In: Davis /
O'Cain (1980: 3-20).
McDavid Jr., Raven I. (1980b): Varieties of American English: Essays by Raven I.
McDavid Jr. Selected and introduced by Anwar S. Dil. Stanford, Calif.: Stanford
University Press.
McDavid Jr., Raven I. Jr. / O’Cain, Raymond K. (1973): “Sociolinguistics and Dialect
Geography”. In: Kansas Journal of Sociology 9/2, 137-156.
McQuown, Norman A. (1952): Resenha de: Harris (1951a). In: Language 28, 495-504.
Mehta, Ved (1971): John is Easy to Please: Encounters with the Written and the Spoken
Word. New York: Farrar, Straus & Giroux.
Meillet, Antoine (1905): “Comment les mots changent de sens”. In: Année sociologique
9, 1-38. [reedição: Meillet (1921: 230-271)]
Meillet, Antoine (1906): “L’état actuel des études de linguistique générale: Leçon
d’ouverture du Cours de grammaire comparée au Collège de France lue le mardi 13
février 1906”. In: Revue des Idées 3, 296-308. [reedição: Meillet (1921: 1-18)]
Meillet, Antoine (
1
1921): Linguistique historique et linguistique générale. [vol. I]. Paris:
Librairie ancienne Honoré Champion.

Referências bibliográficas 257
Meisel, Jürgen M. (1973): “Noam Chomsky’s Umwälzung der Sprachwissenschaft”. In:
ten Cate / Jordens (1973: 1-20).
Melo, Gladstone Chaves de (
1
1951): Iniciação à filologia portuguesa. Rio de Janeiro:
Organizações Simões (Publicações do Centro de Estudos de Língua Portuguesa; 4).
Merton, Robert K. (1973): The Sociology of Science: Theoretical and empirical investi-
gations. Ed. by Nonnan W. Storer. Chicago; London: University of Chicago Press.
Mesthrie, Rajend (ed.): (2001): Concise Encyclopedia of Sociolinguistics. Amsterdam;
New York; Oxford; Shannon; Singapore; Tokyo: Elsevier.
Michels, Leonardus Cornelius (1952): “Georg von der Gabelentz als voorloper van de
structurelle taalkunde en de fonologie”. In: De Nieuwe Taalgids 45, 17-19 [veja-se
também “Verbetering”, ibid., pág. 114]
Mildenberger, Kenneth (1962): “The National Defence Education Act and linguistics”. In:
Choseed / Guss (1962: 157-164).
Milroy, James (1992): Sociolinguistics and Language Change. Oxford: Basil Blackwell.
Milroy, Lesley (1987): Observing and Analysing Natural Language: A critical account of
sociolinguistic method. Oxford; New York: Basil Blackwell.
Mohrmann, Christine / Sommerfelt, Alf / Whatmough, Joshua (eds.) (1961): Trends in
European and American Linguistics 1930-1960. Edited on the occasion of the
Ninth International Congress of Linguists, Cambridge, Mass., 27. August-1.
September 1962 for the Permanent International Committee of Linguists. Utrecht;
Antwerp: Spectrum Publishers.
Mondry, Henrietta / Schveiger, Paul (eds.) (1993): Tradition and Change in Central and
Eastern Europe. Johannesburg: University of Witwatersrand
Morpurgo Davies, Anna (1999): Nineteenth-century linguistics. London: Longman
(History of linguistics; 4).
Moser, Hugo (Hrsg.) (1969a): Sprache, Gegenwart and Geschichte: Probleme der
Synchronie und Diachronie, Jahrbuch 1968 des Instituts für Deutsche Sprache.
Düsseldorf: Pädagogischer Verlag Schwann (Sprache der Gegenwart; 5).
Moulton, G[amwell] (1962): “Dialect Geography and the Concept of Phonological Space”.
In: Word 18, 23-32.
Moulton, William G[amwell] (1970): Resenha de: Ruwet (1967). In: Word 26, 282-285.
[artigo datado de 1973, efetivamente publicado em 1973]
Mounin, Georges (1959): “Une illusion d'optique en histoire de la linguistique”. In:
Travaux de l’Institut de Linguistique: Faculté des Lettres et Sciences humaines de
l'Université de Paris 4, 7-13.
Mounin, Georges (
1
1967): Histoire de la linguistique des origines a XX
e
siécle. Paris:
Presses Universitaires de France (Le Linguiste; 4).
Mueller, Hugo (1966): “On Re-Reading [Wilhelm] von Humboldt”. In: Dinneen (1966:
97-107).
Müllner, Klaus (1971): Resenha de: Gabelentz (1969). In: Linguistik und Didaktik 5, 81.
Mueller-Vollmer, Kurt (1993): Wilhelm von Humboldts Sprachwissenschaft. Paderborn;
München; Wien; Zürich: Ferdinand Schöningh.
Mullins, Nicholas C. (1973): Theories and Theory Groups in Contemporary American
Sociology. New York: Harper &Row.
Mullins, Nicholas C. (1975): “A Sociological Theory of Scientific Revolutions”. In: Knorr,
Karin D. / Strasser, Hermann / Zilian, Hans Georg (eds.): Determinants and
Controls of Scientific Development, Dordrecht; Boston: D. Reidel, 185-203.

258 E.F.K. Koerner
Mullins, Nicholas C. (1980): Social Networks among Biological Scientists. Ed. by Harriet
Zukennan & Robert K. Merton. Chicago; London: University of Chicago Press.
Muret, Ernest (1915): “Ferdinand de Saussure”. In: Saussure (1915: 41-48). [reedição:
Morges: Imprimerie F. Trabaud, 1962
]
Murray, Stephen O. (1980): “Gatekeepers and the ‘Chomskyan Revolution’”. In: Journal
of the History of the Behavioral Sciences 16, 73-88.
Murray, Stephen O. (1981): Resenha de: Newmeyer (1980). In: Historiographia
Linguistica 8/1, 107-112. [cf. também a troca de opiniões entre Murray e
Newmeyer em Historiographia Linguistica 9/1-2 (1982: 185-187)]
Murray, Stephen O. (1982): “The Reviewer responds”. In: Historiographia Linguistica
9/1-2, 187.
Murray, Stephen O. (1989): “Recent Studies of American Linguistics”. In: Historiographia
Linguistica 16/1-2, 149-171.
Murray, Stephen O. (1994): Theory Groups and the Study of Language in North America:
A social history. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins (Studies in the History
of the Language Sciences; 69).
Murray, Stephen O. (1998): American Sociolinguistics: Theorists and theory groups.
Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins.
Murray, Stephen O. (1999): “More on gatekeepers and Noam Chomsky’s writings of the
1950s”. In: Historiographia Linguistica 26/3, 343-353.
Napoli, Donna Jo (1981): Resenha de: Newmeyer (1980). In: Language 57, 456-459.
Narr, Gunter / Petersen, Uwe (1972): “On Koerner, Coseriu, and Gabelentz: A brief
rejoinder”. In: Lingua 30, 460-461 [cf. Koerner (1971a); Koerner (1972d)]
Naville, Adrien (
2
1901): Nouvelle classification des sciences: Étude philosophique. Paris:
Paris: Félix Alcan, Éditeur; Ancienne librairie Germer Bailliére et C
ie
. [primeira
edição: 1888]
Nevin, Bruce E. (1992): “Zellig S. Harris: An appreciation”. In: California Linguistic
Notes 23 (2, Spring-Summer 1992), 60-64.
Nevin, Bruce E. (1993): “A Minimalist Program for Linguistics: the work of Zellig Harris
on meaning and information”. In: Historiographia Linguistica 20/2-3, 255-298.
Nevin, Bruce E. (2009): “More Concerning the Roots of Transformational Generative
Grammar”. In: Historiographia Linguistica 36/2-3, 461-481.
Newman, Stanley S. (1952): Resenha de: Harris (1951). In: American Anthroplogist
54, 404-405.
Newmeyer, Frederick J. (
1
1980): Linguistic Theory in America: The First Quarter Century
of Transformational Generative Grammar. New York: Academic Press. [segunda
edição revista 1986]
Newmeyer, Frederick J. (1982): “Reply to Murray's Review”. In: Historiographia
Linguistica 9/1-2, 185-186.
Newmeyer, Frederick J. (1986a): “Has there been a ‘Chomskyan revolution’ in Linguistics?”.
In: Language 62/1 (March, 1986), 1-18. [reedição: Newmeyer (1996: 23-38)]
Newmeyer, Frederick J. (
1
1986b): The Politics of Linguistics. Chicago: University of
Chicago Press. [reedição: 1988]
Newmeyer, Frederick J. (
2
1986c): Linguistic Theory in America: The First Quarter
Century of Transformational Generative Grammar. New York: Academic Press.
Newmeyer, Frederick J. (1996a): Generative Linguistics: A historical perspective. London;
New York: Routledge (Routledge History of Linguistic Thought Series).

Referências bibliográficas 259
Newmeyer, Frederick J. (1996b): “Bloomfield, Jakobson, Chomsky, and the roots of
generative grammar”. In: Newmeyer (1996: 11-16).
Newmeyer, Frederick J. / Joseph Emonds (1971): “The linguist in American society”. In:
Chicago Linguistic Society (1971: 285-303).
Nida, Eugene A. (1948): “The Identification of Morphemes”. In: Language 24/4 (October-
December, 1948), 414-441.
Nida, Eugene A. (
2
1949): Morphology: The descriptive analysis of words. Ann Arbor:
University of Michigan Press (University of Michigan Publications: Linguistics; 2).
Nida, Eugene A. (
1
1960): A Synopsis of English Syntax. edited by Benjamin Elson.
Norman, Okl.: University Book Exchange (Linguistic Series of the Summer
Institute of Linguistics of the University of Oklahoma; 4). [obra escrita em 1943; cf.
Language 47 (1971: 186)]
Nida, Eugene A. (
2
1966): A Synopsis of English Syntax. The Hague; London; Paris:
Mouton (Janua linguarum. Series practica; 19).
Niederehe, Hans-Josef (1975): Die Sprachauffassung Alfons des Weisen: Studien zur
Sprach- und Wissenschaftsgeschichte. Tübingen: Max Niemeyer Verlag.
Niederehe, Hans-Josef (1983): “Der Ursprung des Wortes: Wissenschaftsgeschichtliche
Bemerkungen zur mittelalterlichen Etymologie”. In: Cranston (1983: 69-82).
Niederehe, Hans-Josef / Koerner E.F.K. (eds.) (1990): History and Historiography of
Linguistics: Proceedings of the Fourth International Conference on the History of the
Language Sciences (ICHoLS IV), Trier, 24-28 August 1987. 2 vols.. Amsterdam;
Philadelphia: John Benjamins (Studies in the History of the Language Sciences; 51).
Nietzsche, Friedrich (
1
1874): Unzeitgemäße Betrachtungen, II: Vom Nutzen und Nachtheil
der Historie für das Leben. Leipzig: E. W. Fritzsch. [citado a partir de Colli /
Monilari (eds.) (1972, 3, V: 239-330)]
Nietzsche, Friedrich (
1
1882): Die fröhliche Wissenschaft, Chemnitz: E. Schmeitzner.
[segunda edição acrescentada, editada por E. W. Fritzsch, Leipzig, 1887; Colli /
Monilari (eds.) (1972, 5, II: 1-335)]
Nietzsche, Friedrich (1900): Die fröhliche Wissenschaft (“la gaya scienza”). Leipzig:
Druck und Verlag von C. G. Naumann (Nietzsche's Werke; Erste Abtheilung; 5).
Nietzsche, Friedrich (1999): “Considerações extemporâneas”. In: Nietzsche, Friedrich
Obras incompletas. Seleção de textos de Gérard Lebrun. Tradução e notas de
Rubens Rodrigues Torres Filho. São Paulo: Editora Nova Cultural (Coleção Os
Pensadores), p. 267-298.
Noordegraaf, Jan (2001): “On the Publication Date of Syntactic Structures: A footnote to
Murray (1999)”. In: Historiographia Linguistica 28/1-2, 225-228. [cf. o comentário
de Cornelis H. van Schooneveld’s em Historiographia Linguistica 28/3 (2001: 468)]
North, Douglass Cecil (1990): Institutions, Institutional Change and Economic
Performance, Cambridge: Cambridge University Press (Political Economy of
Institutions and Decisions).
O’Neill, Michael Thomas (1976): “Etymology: Its meaning in language study before 1900
and the English tradition”. Tese de doutoramento inédita. Gainesville, Fla:
University of Florida.
Oesterreicher, Wulf (1981): “Wem gehört Humboldt? Zum Einfluß der französischen
Aufklärung auf die Sprachphilosophie der deutschen Romantik”. In: Trabant
(1981, I: 117-135).
Olmsted, David L. & Timm, Lenora A. (1983): “Baudouin de Courtenay as Sociolinguist”.
In: Agard / Kelley / Makkai / Becker Makkai (1983: 430-443).

260 E.F.K. Koerner
Pagden, Anthony (1988): “Rethinking the Linguistic Turn: Current anxieties in intellectual
history”. In: Journal of History of Ideas 49/3 (July-September, 1988), 519-529.
Pallas, Peter Simon (1787, I): Linguarum totius orbis vocabularia comparativa:
Augustissimae cura collecta, Sectionis Primae, Linguas Europae et Asiae
complexae, Pars Prior [Sravnitel'nye slovari vsjech jazykov i narjetschij, sobrannye
desniceju vsevysotschajsej osoby], Petropoli: Typis Iohannis Caroli Schnoor .
Palmer, F[rank] R. (ed.) (1968): Selected Papers by J. R. Firth 1952-59. London:
Longman.
Pandit, G[iridhari] L[al] (1983): The Structure and Growth of Scientific Knowledge: A
study in the methodology of epistemic appraisal. Dordrecht; Boston: D. Reidel.
Paradis, Michel (ed.) (1978): The Fourth LACUS Forum 1977. Columbia, S.C.: Hornbeam
Press.
Pariente, Jean-Claude (éd.) (1969): Essais sur le langage. Paris: Éditions de Minuit (Le
Sens commun).
Parret, Herman (ed.) (1974): Discussing Language: Dialogues with Wallace L. Chafe,
Noam Chomsky, Algirdas J. Greimas, M. A. K. Halliday, Peter Hartmann, George
Lakoff, Sydney M. Lamb, André Martinet, James McCawley, Sebastian K.
Saumjan, Jacques Bouveresse. The Hague; Paris: Mouton (Janua Linguarum:
Series Maior; 93).
Parret, Herman (ed.) (1976): History of Linguistic Thought and Contemporary Linguistics.
Berlin; New York: Walter de Gruyter (Foundations of Communication).
Passmore, John (1965): “The Idea of a History of Philosophy”. In: History and Theory,
Beiheft 5, 1-32.
Passmore, John (1967): “Philosophy, History of”. In: Edwards (1967, VI: 226-230).
Paul, Hermann (
1
1880): Principien der Sprachgeschichte. Halle: Max Niemeyer. [segunda
edição revista e aumentada 1886, quinta edição 1920]
Paul, Hermann (
2
1890): Principles of the History of Language. Translated from the second
edition of the original by H. A. Strong. London; New York: Longmans, Green and
Company; Macmillan. [reedição: College Park, Md.: McGrath, 1970]
Paul, Hermann (Hrsg.) (
1
1891, I): Grundriss der germanischen Philologie: I. Band,
Begriff und Geschichte der Germanischen Philologie, Methodenlehre, Schrift-
kunde, Sprachgeschichte, Mythologie, Strassburg: Karl J. Trübner.
Paul, Hermann (
3
1898): Prinzipien der Sprachgeschichte, Halle a. S.: Max Niemeyer.
[onserve-se a mudança greáfica no título (Prinzipien em vez de Principien; quarta
edição 1909; quinta edição 1920]
Paul, Hermann (1970): Principles of the History of Language. College Park, Md.:
McGrath. [reedição de Paul (1890)]
Paul, Hermann / Strong, Herbert Augustus (
1
1888): Principles of the History of Language.
Translated from the second edition of the original by H. A. Strong. London: Swan
Sonnenschein, Lowrey & Co.
Paulston, Christina Bratt / Tucker, G. Richard (eds.) (1997): The Early Days of
Sociolinguistics: Memories and Reflections. Dallas: The Summer Institute of
Linguistics (Publications in Sociolinguistics; 2).
Peacock, Dennis E (1979): “Who did what in American linguistics?”. In: Wölck / Garvin
(1979: 535-539).
Pearson, Bruce L. (1978): “Paradigms and revolutions in linguistics”. In: Paradis (1978:
384-390).
Peck, James (ed.) (1987): The Chomsky Reader. New York: Pantheon.

Referências bibliográficas 261
Pedersen, Holger (1924): Spräkvetenskapen under nittonde århundradet, metoder och
resultat: bemyndigad översättning frändanskan. Stockholm: Kungl. Boktryckeriet
P. A. Norstedt & Söner.
Pedersen, Holger (1931): Linguistic Science in the Nineteenth Century. authorized
translation from the Danish by John Webster Spargo. Cambridge, Mass.: Harvard
University Press. [reedição: 1962]
Pedersen, Holger (
3
1962): The Discovery of Language: Linguistic Science in the
Nineteenth Century. translated by John Webster Spargo. Bloomington, Ind.: Indiana
University Press.
Pedersen, Holger (1983): A Glance at the History of Linguistics, with particular regard to
the historical study of phonology. Translated by Caroline C. Henriksen. With an
introduction by E.F.K. Koerner. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins
(Studies in the History of the Language Sciences; 7).
Penttilä, Aarni (1962): “Über die metasprachlichen oder linguistischen Ausdrucke”. In:
Sitzungsberichte der Finnischen Akademie der Wissenschaften 1962, 133-47 [=
Helsinki: Verlag der Finn. Akad. der Wissenschaften, 1963].
Penzl, Herbert (1987): “Hokuspokus in der Linguistik”. In: Simon-Vandenbergen (1987:
418-426).
Percival, W. Keith (1976): “The Applicability of Kuhn's Paradigms to the History of
Linguistics”. In: Language 52/2 (June, 1976), 285-294.
Pfaffel, Wilhelm (1981): Quartus gradus etymologiae: Untersuchungen zur Etymologie
Varros in ‘De lingua Latina’. Königstein/Taunus: Anton Hain.
Pickford, Glenna Ruth (1956): “American Linguistic Geography: A sociological
appraisal”. In: Word 12, 211-233.
Pop, Sever (1950): La Dialectologie: Aperçu historique des méthodes d’enquêtes
linguistiques. 2 vols. Louvain: Louvain; Gembloux: Chez l’auteur; Imprimerie J.
Duculot (Université de Louvain: Recueil de Travaux d'Histoire et de Philologie; 3
e

Série; Fascicule 38).
Popa-Tomescu, Teodora (1970): “Un strălucit precursor al lingvisticii moderne: William
Dwight Whitney”. In: Limba Română 19, 189-202.
Popper, Karl R. (1959): Logic of Scientific Discovery. New York: Basic Books.
Popper, Karl R. (1962): Conjectures and Refutations: The growth of scientific knowledge.
New York: Basic Books.
Postal, Paul M. (1964): Constituent Structure: A study of contemporary models of syntactic
description. Bloomington, Ind.: Indiana University Research Center in
Anthropology, Folklore and Linguistics; Mouton (Indiana University Research
Center in Anthropology, Folklore and Linguistics; 30).
Postal, Paul M. (1988): “Advances in linguistic rhetoric”. In: Natural Language and
Linguistic Theory 6/1 (February, 1988), 129-137.
Pott, August Friedrich (1876): Wilhelm von Humboldt und die Sprachwissenschaft. Berlin:
Calvary & Co. [segunda edição 1880]
Preston, William D. (1946): “Problems in Text Attestation in Ethnography and Linguistics”.
In: International Journal of American Linguistics 12/3 (July, 1946), 173-177.
Pullum, G[eoffrey] K. (1996): “Nostalgic views from Building 20”. In: Journal of
Linguistics 32/1 (March, 1996), 137-147. [artigo de resenha: Hale / Keyser (1993)]
Putnam, George N. / O’Hern, Edna M. (1955): The Status Significance of an Isolated
Urban Dialect. Baltimore; Washington, D.C.: Waverly Press; Catholic University

262 E.F.K. Koerner
of America Publications in Sociology (Language Dissertation; 53). [monografia
publicada em 1956]
Ranke, Leopold (1824): “Vorrede”. In: Ranke, Leopold: Geschichten der romanischen und
germanischen Völker von 1494 bis 1535. Erster Band. Leipzig; Berlin: bey G.
Reimer, 3-8.
Raschellà, Fabrizio D. (ed. & trad.) (1982): The So-Called Second Grammatical Treatise: An
orthographic pattern of late thirteenth-century Icelandic. Firenze: Felice Le Monnier.
Rask, Rasmus Kristian (ed.) (1818): Snorra-Edda ásamt Skáldu og þarmeð fylgjandi
ritgjörðum. Stockholm: prentuð í hinni Elménsku prentsmiðju.
Raumer, Rudolf von (1870): Geschichte der germanischen Philologie. München: R.
Oldenbourg (Geschichte der Wissenschaften in Deutschland: Neuere Zeit; 9).
[reedição: New York: Johnson, 1965]
Reckermann, Alfons (1979): Sprache und Metaphysik: Zur Kritik der sprachlichen
Vernunft bei Herder und Humboldt, München: Wilhelm Fink Verlag (Die
Geistesgeschichte und ihre Methoden: Quellen und Forschungen; 4).
Reich, Peter A. (ed.) (1976): The Second LACUS Forum: Proceedings. Columbia, S.C.:
Hornbeam Press.
Reichling, Anton J. B. N. (1948): “What is General Linguistics?”. In: Lingua 1, 1948, 8-24.
Rensch, Karl Heinz (1966): “Ferdinand de Saussure und Georg von der Gabelentz:
Übereinstimmungen und Gemeinsamkeiten dargestellt an der langue-parole
Dichotomie sowie der diachronischen und synchronischen Sprachbetrachtung”. In:
Phonetica 15/1, 32-41.
Rensch, Karl Heinz (1967): “Organismus-System-Struktur in der Sprachwissenschaft”. In:
Phonetica 16/2, 71-84.
Rey-Debove, Josette (1978): Le Métalangage: Étude linguistique du discours sur le
langage. Paris: Le Robert.
Rey-Debove, Josette (1979): “Les logiciens et le métalangage naturel”. In: Histoire
Épistémologie Langage 1/1, 15-22.
Richards, Graham (1999): “The History of Psychology in Britain and the Founding of ‘The
Centre for the History of Psychology’”. In: Journal of the History of the Behavioral
Sciences 35/1, 41-46.
Riessner, Klaus (1965): Die “Magnae Derivationes” des Uguccione da Pisa und ihre
Bedeutung für die romanische Philologie. Roma: Edizioni di Storia e Letteratura
(Temi e Testi; 11).
Rijlaarsdam, Jetske C. (1978): Platon über die Sprache: Ein Kommentar zum Kratylos. Mit
einem Anhang über die Quelle der Zeichentheorie Ferdinand de Saussures.
Utrecht: Bohn, Scheltema & Holkema.
Rissanen, Matti / Ihalainen, Ossi / Nevalainen, Tertu / Taavitsainen, Irma (eds.) (1992):
History of Englishes: New methods and interpretations in historical linguistics.
Berlin; New York: Mouton de Gruyter (Topics in English Linguistics; 10).
Robins R[obert] H. (1967): A Short History of Linguistics. Bloomington, Ind.; London:
Indiana University Press; Longman.
Robins R[obert] H. (1973): Ideen- und Problemgeschichte der Sprachwissenschaft; mit
besonderer Berücksichtigung des 19. und 20. Jahrhunderts. Übersetzung ins
Deutsche von Christoph Gutknecht und Klaus-Uwe Panther. Frankfurt am Main:
Athenäum (Schwerpunkte Linguistik und Kommunikationswissenschaft; 16).
Robins R[obert] H. (1978): “Foreword”. In: Koerner (1978: ix-xiii).

Referências bibliográficas 263
Robins R[obert] H. (
2
1979a): A Short History of Linguistics. London: Longman. [primeira
edição 1967, terceira edição 1990]
Robins R[obert] H. (
1
1979b): Pequena História da Linguística. Tradução de Luiz Martins
Monteiro de Barros do original inglês. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico.
Robins R[obert] H. (1993): The Byzantine Grammarians: Their Place in History. Berlin;
New York: Mouton de Gruyter (Trends in Linguistics: Studies and Monographs; 70).
Rogers, David E. (1987): “The Influence of Pāṇini on Leonard Bloomfield. In: Hall,
(1987: 89-138).
Romaine, Suzanne (
1
1994): Language in Society: An introduction to Sociolinguistics.
Oxford: Oxford University Press.
Rorty, Richard (1984): “The Historiography of Philosophy: Four genres”. In: Rorty /
Schneewind / Skinner (1984: 49-75).
Rorty, Richard / Schneewind, J[erome] B. / Skinner, Quentin (eds.) (1984): Philosophy in
History: Essays on the historiography of philosophy, Cambridge; New York:
Cambridge University Press
Rosen, Lois (1979): “An Interview with William Labov”. In: English Journal 68/3 (March,
1979), 16-19.
Rosenkranz, Bernhard (1970): Georg von der Gabelentz und die Junggrammatische Schule
(11.12.1970). Köln: Universität zu Köln, Institut für Sprachwissenschaft
(Arbeitspapier; 14).
Rudwick, Martin J. S. (1979): “Transposed Concepts from the Human Sciences in the
Early Work of Charles Lyell”. In: Jordanova/ Porter (1979: 67-83).
Russell, Bertrand (1959): “Introduction”. In: Gellner (1959: 13-15).
Ruwet, Nicolas (1967): Introduction à la grammaire generative. Paris: Plon.
Ryckman, Thomas Allan (1986): “Grammar and Information: An Investigation in Linguistic
Metatheory”. Tese de doutoramento inédita. New York: Columbia University.
Ryding Karin C. (1992): “Morphosyntactic Analysis in Al-jumal fii-l-nahÚw: Discourse
structure and metalanguage”. In: Broselow / Eid / McCarthy (1992: 263-277).
Salus, Peter H. (1969a): On Language: Plato to von Humboldt. New York: Holt, Rinehart
& Winston.
Salus, Peter H. (1969b): “PRE-Pre-Cartesian Linguistics”. In: Binnick / Davison / Green /
Morgan (1969: 429-434).
Salus, Peter H. (1971): Pān̥ini to Postal: A Bibliography in the History of Linguistics.
Edmonton, Alberta; Champaign, Illinois: Linguistic Research (Linguistic
Bibliography Series; 2).
Sampson, Geoffrey (1980): Schools of Linguistics: Competition and evolution. London:
Hutchinson.
Sapir, Edward (1907): “Herder’s ‘Ursprung der Sprache’”. In: Modern Philology 5/1
(July, 1907), 109-142. [reedição: Historiographia Linguistica 11/3 (1984), 355-
388, prefácio de E.F.K. Koerner 349-353]
Sapir, Edward (1933): “La réalité psychologique des phonèmes”. In: Journal de
Psychologie normale et pathologique 30, 247-265 [o original inglês “The
Psychological Reality of Phonemes” foi publicado pela primeira vez em
Mandelbaum (1949: 46-60)]
Sapir, Edward / Swadesh, Morris (1939): Nootka Texts: Tales and ethnological
narratives, with grammatical notes and lexical materials. Philadelphia: Linguistic
Society of America; University of Pennsylvania.

264 E.F.K. Koerner
Sapon, Stanley M. (1953): “A Methodology for the Study of Socio-Economic Differentials
in Linguistic Phenomena”. In: Studies in Linguistics 11, 57-68.
Saporta, Sol (ed.) (1961): Psycholinguistics: A Book of Readings. Prepared with the
assistance of Jarvis R. Bastian. New York: Holt, Rinehart & Winston.
Saussure, Ferdinand de (1879): Mémoire sur le système primitif des voyelles dans les
langues indo-européennes. Leipsick: En vente chez B. G. Teubner. [obra escrita em
1878 mas datada de 1879]
Saussure, Ferdinand de (
1
1916): Cours de linguistique générale. Publié par Charles Bally
et Albert Sechehaye, avec la collaboration de Albert Riedlinger. Lausanne; Paris:
Paris: Librairie Payot & C.
ie
.
Saussure, Ferdinand de (
2
1922): Cours de linguistique générale. Publié par Charles Bally
et Albert Sechehaye, avec la collaboration de Albert Riedlinger. Lausanne; Paris:
Paris: Librairie Payot & C.
ie
. [terceira edição: Paris: Librairie Payot & C.
ie
, 1931]
Saussure, Ferdinand de (
3
1931): Cours de linguistique générale. Publié par Charles Bally
et Albert Sechehaye avec la collaboration de Albert Riedlinger. Paris: Librairie
Payot. [todas as edições subsequentes, incluindo a assim chamada ‘édition critique’
de Tullio De Mauro (1972), seguem a esta, cf. Saussure (1995)]
Saussure, Ferdinand de (1968): Cours de linguistique générale. Édition critique de Rudolf
Engler. Tome I, Fascicules 1-3. Wiesbaden: Otto Harrassowitz. [fascicule 4, 1974]
Saussure, Ferdinand de (1995): Cours de linguistique générale. Publié par Charles Bailly
et Albert Sechehaye, avec la collaboration d'Albert Riedlinger. Édition critique
préparée par Tullio de Mauro. Postface de Louis-Jean-Calvet. Paris: Éditions Payot
& Rivages (Grande Bibliothèque Payot).
Saussure, Marie de (éd.) (
1
1915): Ferdinand de Saussure (1857-1913). Genève:
Imprimerie A. Kündig.
Schane, Sanford A. (1971): “The phoneme revisited”. In: Language 47/3 (September,
1971), 503-521.
Scharfe, Hartmut (1961): Die Logik im Mahābhāṣya. Berlin: Akademie-Verlag (Deutsche
Akademie der Wissenschaften zu Berlin, Institut für Orientforschung Berlin; 50).
Scharfe, Hartmut (1971): Pāṇini’s Metalanguage. Philadelphia: American Philosophical
Society (Memoirs of the American Philosophical Society; 89).
Scheerer, Thomas M. (1980): Ferdinand de Saussure: Rezeption und Kritik. Darmstadt:
Wissenschaftliche Buchgesellschaft (Erträge der Forschung; 133).
Schlegel, Friedrich (1808): Ueber die Sprache und Weisheit der Indier: Ein Beitrag zur
Begründung der Alterthumskunde von Friedrich Schlegel, Nebst metrischen
Uebersetzungen indischer Gedichte. Heidelberg: bei Mohr und Zimmer.
Schleicher, A[ugust] (1850a): Die Sprachen Europas in systematischer Uebersicht. Bonn:
H. B. König (Linguistische Untersuchungen von Dr. A. Schleicher, 2). [reedição:
Schleicher (1983)]
Schleicher, August (1850b): “Linguistik und Philologie”. In: Schleicher (1850a: 1-5).
Schleicher, August (1858): Volkstümliches aus Sonneberg im Meininger Oberlande,
Weimar: In Commission bei Hermann Böhlau.
Schleicher, August (
1
1860): Die Deutsche Sprache. Stuttgart: J. G. Cotta'scher Verlag.
Schleicher, Aug[ust] (1863): Die Darwinsche Theorie und die Sprachwissenschaft:
Offenes Sendschreiben an Herrn Dr. Ernst Häckel, a. o. Professor der Zoologie
und Director des zoologischen Museums an der Universität Jena. Weimar:
Hermann Böhlau. [tradução inglesa: Koerner (1983: 13-69)]

Referências bibliográficas 265
Schleicher, August (
2
1869): Die Deutsche Sprache. Stuttgart: Verlag der J. G. Cotta'schen
Buchhandlung. [segunda edição editada postumamente por Johannes Schmidt;
quinta edição com as mesmas referências 1888]
Schleicher, August (1876) Compendium der Vergleichenden Grammatik der Indogerma-
nischen Sprachen: Kurzer Abriss einer Laut- und Formenlehre der
indogermanischen Ursprache, des Altindischen, Alteranischen, Altgriechischen,
Altitalischen, Altkeltischen, Altslawischen, Litauischen und Altdeutschen. Weimar:
Hermann Böhlau. [primeira edição: 1861-1862; quarta edição póstuma preparada
por August Leskien e Johannes Schmidt]
Schleicher, August (1983): Die Sprachen Europas in systematischer Uebersicht:
inguistische Untersuchungen (Bonn, 1850). With an introductory article by E.F.K.
Koerner. Bonn: Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins (Amsterdam Classics in
Linguistics 1800-1925; 4).
Schleiden, Matthias J. (
1
1842, I): Grundzüge der wissenschaftlichen Botanik: nebst
methodologischen Einleitung als Anleitung zum Studium der Pflanze, Erster
Theil,Methodologische Einleitung, Vegetabilische Stofflehre, Die Lehre von der
Pflanzenzelle. Leipzig: Verlag von Wilhelm Engelmann.
Schleiden, Matthias J. (
1
1843, II): Grundzüge der wissenschaftlichen Botanik: nebst
methodologischen Einleitung als Anleitung zum Studium der Pflanze, Zweiter Theil:
Morphologie, Organologie. Leipzig: Verlag von Wilhelm Engelmann.
Schleiden, Matthias J. (1849): Principles of Scientific Botany, or Botany as an Inductive
Science. Translated by Edwin Lankester. London: Printed for Longman, Brown,
Green, and Longman.
Schlieben-Lange, Brigitte / Dräxler, Hans Dieter / Knapstein, Franz-Josef / Volck-
Duffy, Elisabeth / Zollna, Isabel (Hrsg.) (1992): Europäische Sprachwissenschaft
um 1800: Methodologische und historiographische Beiträge zum Umkreis der
”idéologie“, Band 3, Münster: Nodus Publikationen, 41-61.
Schmitter, Peter (1982): Untersuchungen zur Historiographie der Linguistik: Struktur-
Methodik-theoretische Fundierung. Tübingen: Gunter Narr Verlag (Tübinger
Beiträge zur Linguistik; 181).
Schmitter, Peter (Hrsg.) (1987): Zur Theorie und Methode der Geschichtsschreibung der
Linguistik: Analysen und Reflexionen. Tübingen: Gunter Narr Verlag (Geschichte
der Sprachtheorie; 1).
Schmitter, Peter (1992): “‘Narrativität’ als metahistoriographischer Begriff”. In: Schlieben-
Lange / Dräxler / Knapstein / Volck-Duffy / Zollna (1992: 41-61).
Schmitter, Peter (1993): “The Phenomenon of the ‘Unnamed Garden’ – or: On the roots of
Humboldt’s comparative method”. In: Jankowsky (1996: 139-152). [comunicalção
apresentada em ICHoLS VI, Washington D. C., 9-14 August 1993]
Schmitter, Peter (1997): “Historiographie als Instrument der Analyse und Evaluation
sprachwissenschaftlicher (Semantik-)Theorien: Zur gängigen Opposition von
‘eigentlicher’ Wissenschaft und Wissenschaftsgeschichte”. In: Hoinkes / Dietrich
(1997: 149-158).
Schmitter, Peter (1998): “Der Begriff des Forschungsprogramms als metahistorio-
graphische Kategorie der Wissenschaftsgeschichtsschreibung der Linguistik”. In:
Schmitter / van der Wal (1998: 133-152).
Schmitter, Peter (2003a): “Alles bestens? Einige Beobachtungen zur intradisziplinären
Wirkung der Historiographie der Sprachwissenschaft”. In: Beiträge zur Geschichte
der Sprachwissenschaft 13, 115-126.

266 E.F.K. Koerner
Schmitter, Peter (2003b): Historiographie und Narration: Metahistorische Aspekte der
Wissenschaftsgeschichtsschreibung der Linguistik. Seoul; Tübingen: Sowadalmedia;
Gunter Narr Verlag (in Komission).
Schmitter, Peter / van der Wal, Marijke (eds.) (1998): Metahistoriography: Theoretical and
methodological aspects of the historiography of linguistics. Münster: Nodus
Publikationen.
Schoeck, Helmut / Wiggins, James W. (eds.) (1960): Scientism and Values. Princeton,
N.J.; New York; London; Toronto: D. Van Nostrand Company (The William
Volker Fund Series in the Humane Studies).
Schreyer, Rüdiger (2000): “What’s wrong with the historiography of linguistics?”. In:
Beiträge zur Geschichte der Sprachwissenschaft 10, 205-208.
Schröter, Robert (1960): Studien zur varronischen Etymologie, I. Wiesbaden: Franz Steiner
Verlag.
Schweickard, Wolfgang (1985): “‘Etymologia est origo vocabulorum ...’: Zum Verständnis der
Etymologiedefinition Isidors von Sevilla”. In: Historiographia Linguistica 12/1-2, 1-25.
Searle, John R. (1972): “Chomsky’s Revolution in Linguistics”. In: The New York Review
of Books 19, 16-24.
Searle, John R. (2002a): “End of the Revolution”. In: The New York Review of Books
49/3, 33-36. [resenha de: Chomsky (2000)]
Searle, John R. (2002b): “John Searle replies”. In: The New York Review of Books
49/7, 60-61.
Sebeok, Thomas A. (ed.) (1973, XI): Current Trends in Linguistics: vol. XI:
Diachronic, Areal and Typological Linguistics. The Hague: Mouton, 195-251.
Sebeok, Thomas A. (ed.) (1975, XIII): Current Trends in Linguistics. Vol. XIII:
Historiography of Linguistics. The Hague: Mouton.
Seiler, Hansjakob (Hrsg.) (1975): Workshop III: Arbeiten des Kölner
Universalienprojekts, München: Wilhelm Fink.
Seuren, Pieter A. M. (1998): Western Linguistics: An Historical Introduction. Malden,
Mass.; Oxford; Carlton: Blackwell Publishing.
Shannon, Claude Elwood / Warren Weaver (1949): The Mathematical Theory of
Communication. Urbana, Ill.: University of Illinois Press.
Shapiro, Fred R. (1981): “The Origin of the Term ‘Indo-Germanic’”. In: Historiographia
Linguistica 8, 165-170.
Shuy, Roger W. (1989): “The Social Context of the Study of the Social Context of
Language Variation and Change”. In: Walsh (1989: 293-309).
Shuy, Roger W. (1990): “A Brief History of American Sociolinguistics, 1949-1989”. In:
Dinneen / Koerner (1990: 183-209). [reedição: Paulston / Tucker (1997: 11-32)]
Silva Neto, Serafim da (1960): Língua, cultura e civilização: Estudos de filologia
portuguesa, Rio de Janeiro.
Simon, Thomas W. / Scholes, Robert J. (eds.) (1982): Language, Mind, and Brain.
Hillsdale, N.J.: Lawrence Erlbaum Associates.
Simone, Raffaele (1975): “Theorie et histoire de la linguistique”. In: Historiographia
Linguistica·2/3, 353-378.
Simone, Raffaele (1995): “Purus historicus est asinus: Quattro modi di fare storia della
linguistica”. In: Lingua e Stile 30/1, 117-126.
Simon-Vandenbergen, Anne-Marie (ed.) (1987): Studies in Honour of René Derolez. Gent:
Rijksuniversiteit te Gent, Seminarie voor Engelse en Oud-Germaanse Taalkunde.

Referências bibliográficas 267
Sivertsen, Eva / Borgstrøm, Carl Hjalmar / Gallis, Arne / Sommerfelt, Alf (eds.) (1958):
Proceedings of the Eighth International Congress of Linguists Oslo: Oslo
University Press.
Sklar, Robert (1968): “Chomsky’s Revolution in Linguistics”. In: The Nation (9 September
1968), 213-217.
Sljusareva, N[atalija] A[leksandrovna] (1972): “Nekotorye poluzabytye stranicy iz istorii
jazykoznanija: F. de Sossjur i U. Uitnej [Algumas páginas esquecidas na história da
linguística: F. de Saussure e W.Whitney]”. In: Obščee i romanskoe jazykoznanie: K
60-letiju R. A. Budagova, Moskva: Izd. Moskovskij gosud. Univ., 177-182.
Smith, Neil (2000): “Foreword”. In: Chomsky (2000: vi-xvi).
Smith, Neil / Wilson, Deirdre (1979): Modern Linguistics: The Results of Chomsky’s
Revolution. Bloomington; London: Indiana University Press (Midland Books; 255).
Sneed, Joseph D. (1971): The Logical Structure of Mathematical Physics. Dordrecht;
Boston: D. Reidel. [segunda edição: 1979]
Sommerfelt, Alf (1930): “Sur la propagation de changements phonétiques”. In: Norsk
Tidsskrift for Sprogvidenskap 4, 76-128. [reedição: Sommerfelt (1962: 158-197)]
Sommerfelt, Alf (1962a): Diachronic and Synchronic Aspects of Language, The Hague:
Mouton & Co. (Janua Linguarum: Series Maior; 7). [segunda impressão: 1971]
Sommerfelt, Alf (1962b): “La linguistique: Science sociologique”. In: Sommerfelt (1962:
36-51). [artigo publicado pela primeira vez em 1932]
Spence, N[icol] C: W. (1959): Resenha de: Koll (1958). In: Archivum Linguisticum
10, 158-160.
Spitzer, Leo (1918): Aufsätze zur romanischen Syntax und Stilistik. Halle a. S.: Verlag von
Max Niemeyer.
Staal, J[ohan] F[rits] (1961): “The Theory of Definition of Indian Logic”. In: Journal of
the American Oriental Society 81/2 (April-June, 1961), 122-126.
Staal, [Johan] Frits (1975): “The Concept of Metalanguage and its Indian Background”. In:
Journal of Indian Philosophy 3, 315-154.
Stankiewicz, Edward (ed.) (1972): A Baudouin de Courtenay Anthology. Bloomington;
London: Indiana University Press.
Stegmüller, Wolfgang (
4
1969, I): Hauptströmungen der Gegenwartsphilosophie. Band I,
Stuttgart: J. G. Cotta.
Steinberg, Danny D. (1999): “How the antimentalistic skeletons in Chomsky’s closet make
psychological fictions of his grammars”. In: Embleton / Joseph / Niederehe (1999:
267-282).
Steinberg, Danny D. / Jakobovits, Leon A. (eds.) (1971): Semantics: an Interdisciplinary
Reader in Philosophy, Linguistics and Psychology. Cambridge: Cambridge
University Press.
Steinthal, H[eymann] (
1
1851): Der Ursprung der Sprache, in Zusammenhang mit den
letzten Fragen alles Wissens: Eine Darstellung der Ansicht Wilhelm v.
Humboldts, verglichen mit denen Herders und Hamanns. Berlin: Ferd. Dümmler's
Buchhandlung.
Steinthal, H[eymann] (
2
1858): Der Ursprung der Sprache, in Zusammenhang mit den
letzten Fragen alles Wissens: eine Darstellung, Kritik und Fortentwickelung der
vorzüglichsten Ansichten. Zweite umgearbeitete und erweiterte Ausgabe. Berlin:
Ferd. Dümmler's Verlagsbuchhandlung. [terceira edição 1877, quarta edição 1888]
Stewart, William A. (1967): “Sociolinguistic Factors in the History of American Negro
Dialects”. In: The Florida Foreign Language Reporter 5/2 (Spring 1967), 1-4.

268 E.F.K. Koerner
Stocking, George W. (1965): “On the Limits of ‘Presentism’ and ‘Historicism’ in the
Historiography of the Bahavioral Sciences”. In: Journal of the History of the
Behavioral Sciences 1, 211-218.
Stockwell, Robert P. (1998): “From English philology to linguistics and back again”. In:
Koerner (1998: 227-245).
Stötzel, Georg (1970): “Das Abbild des Wortschatzes: Zur lexikographischen Methode in
Deutschland von 1617-1967”. In: Poetica: Zeitschrift für Sprach- und Literatur-
wissenschaft 3, 1-23.
Streitberg, Wilhelm (Hrsg.) (1916-36): Geschichte der indogermanischen Sprachwissen-
schaft seit ihrer Begründung durch Franz Bopp. 6 Bände. Strassburg: Karl J.
Trübner. [mais tarde Berlin: Walter de Gruyter]
Sturtevant, Edgar H. (
1
1917): Linguistic Change: An introduction to the historical study of
language. Chicago: University of Chicago Press.
Sturtevant, Edgar H. (
1
1947): An Introduction to Linguistic Science. New Haven: Yale
University Press.
Sturtevant, Edgar H. (
2
1962): Linguistic Change: An introduction to the historical study of
language. Reprint, with a new introduction by Eric P. Hamp. Chicago: University
of Chicago Press (Phoenix Books; 60).
Sumner, William Graham (
1
1906): Folkways: A Study of the Sociological Importance of
Usages, Manners, Customs, Mores, and Morals. Boston; New York; Chicago;
London; Atlanta; Dallas, Columbus, San Francisco: Ginn and Company. [reedição:
New York, Dover Publications, 1948]
Swadesh, Morris / Voegelin, C[harles] F. (1939): “A problem in phonological alternation”.
In: Language 15/1 (January-March, 1939), 1-10. [reedição: Joos (1957: 88-92)]
Swiggers, Pierre (1997): Histoire de la pensée linguistique: Analyse du langage et
réflexion linguistique dans la culture occidentale, de l’Antiquité au XIXe siècle.
Paris: Presses Universitaires de France (Linguistique nouvelle).
Synge, J[ohn] L[ighton] (1958): “Is the Study of its History a Brake on the Progress of
Science?”. In: Hermathena 91 (May, 1958), 20-42.
Szemerényi, Oswald (1971): Richtungen der modernen Sprachwissenschaft: Von Saussure
bis Bloomfield, 1916-1950, Heidelberg: Carl Winter Universitätsverlag (Sprach-
wissenschaftliche Studienbücher).
Tagliavini (1963): Storia di parole pagane e cristiane attraverso i tempi. Brescia:
Morcelliana.
Tanner, Robin G. (1970): “Aristotle as a Structural Linguist”. In: Transactions of the
Philological Society 68/1 (November, 1969), 99-164.
Tarde, Jean Gabriel de (
1
1890): Les lois de l’imitation: Étude sociologique. Paris: Ancienne
librairie Germer Bailliére et C
ie
, Félix Alcan, Éditeur. [segunda edição, revista e
aumentada 1895; sétima edição 1921]
Tarde, Jean Gabriel de (
1
1898): Les lois sociales: Esquisse d’une sociologie. Paris:
Ancienne librairie Germer Bailliére et C
ie
, Félix Alcan, Éditeur. [segunda edição
1899; oitava edição 1921]
Tarski, Alfred (1931): “O pojęciu prawdy w odniesieniu do sformalizowanych nauk
dedukcyjnych” [Sobre a noção de verdade com referência às ciências dedutivas
formalizadas]”. In: Ruch Filozoficzny 12, 210-211. [resumo do artigo lido à
Warsaw Scientific Society em 21 de março de 1931]

Referências bibliográficas 269
Tarski, Alfred (1933): Pojęcie prawdy w językach nauk dedukcyjnych. Warszawa:
Nakładem ʼTowarzystwa Naukowego Warszawskiego (Prace Towarzystwa
Naukowego Warszawskiego Wydział III, Nauk matematyczno-fizycznych; 34).
Tarski, Alfred (1935): “Der Wahrheitsbegriff in den formalisierten Sprachen”. In: Studia
Philosophica 1, 261-405 (1936).
Tarski, Alfred (1956): “The Concept of Truth in Formalized Languages”. In: Tarski,
Alfred (1956): Logic, Semantics, Metamathematics: Papers from 1923 to
1938, translated by J. H. Woodger, 152-278. Oxford: Clarendon Press, 152-278. [o
artigo data de 1935]
Tarski, Alfred (1972): “Le concept de vérité dans les langues formalisées”. In: Tarski,
Alfred (1972): Logique, sémantique, métamathématique, 1923-1944. Tome I. Paris:
Armand Colin, 159-269.
Taylor, Daniel J. (ed.) (1987): The History of Linguistics in the Classical Period.
Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins (Studies in the History of the Language
Sciences, 46).
ten Cate, Abraham P. / Jordens, Peter (eds.) (1973): Linguistische Perspektiven: Referate
des VII. Linguistischen Kolloquiums, Nijmegen, 26.-30. September 1972. Tübingen:
Max Niemeyer Verlag (Linguistische Arbeiten; 5).
Thiel, Manfred (Hrsg.) (1968): Enzyklopädie der geisteswissenschaftlichen Arbeits-
methoden: 4. Lieferung, Methoden der Sprachwissenschaft. München und Wien: R.
Oldenbourg Verlag. [contribuições de Helmut Schnelle, Henri Frei e outros]
Trabant, Jürgen (Hrsg.) (1981, I): Logos Semantikos: Studia Linguistica in Honorem
Eugenio Coseriu 1921-1981, vol. I: Geschichte der Sprachphilosophie und
Sprachwissenschaft. Berlin; Madrid: Walter de Gruyter; Gredos, 101-115.
Trager, George L. (1940): “The Verb Morphology of Spoken French”. In: Language 20/3
(July-September, 1940), 131-141.
Troike, Rudolph C. (1976): “Lest the Wheel be too oft Re-invented: Towards a
reassessment of the intellectual history of linguistics”. In: Jazayery / Polome /
Winter (1976: 297-304).
Trubetzkoy, N[ikolai] S[ergeyevich] (1929): “Sur la ‘morphonologie’”. In: Travaux du Cercle
Linguistique de Prague 1, 85-88.
Trubetzkoy, N[ikolai] S[ergeyevich] (1931): “Gedanken über Morphonologie”. In: Travaux
du Cercle Linguistique de Prague 4, 160-163.
Trubetzkoy, N[ikolai] S[ergeyevich] (1933): “La phonologie actuelle”. In: Revue de Psycho-
logie normale et pathologique 30.227-246. [reedição: Pariente (1969: 143-164)]
Trubetzkoy, N[ikolai] S[ergeyevich] (1934): “Das morphonologische System der russi-
schen Sprache”. In: Travaux du Cercle Linguistique de Prague 5, Part 2. Prague.
Trubetzkoy, N[ikolai] S[ergeyevich] (
1
1939): Grundzüge der Phonologie In: Travaux du
Cercle Linguistique de Prague, 7. [número monográfico]
Trudgill, Peter (1974): The Social Differentiation of English in Norwich. Cambridge:
Cambridge University Press.
Trudgill, Peter (1983): On Dialect: Social and geographical perspectives. New York: New
York University Press.
Turing, Alan Mathison (1950): “Computing Machinery and Intelligence”. In: Mind
59, 433-460.
Ulvestad, Bjarne (1976): “Grein sú er máli skiptir: Tools and traditions in the First
Grammatical Treatise”. In: Historiographia Linguistica 3/2, 203-223.
Untermann, Jürgen (1975): “Etymologie und Wortgeschichte”. In: Seiler (1975: 93-116).

270 E.F.K. Koerner
van Dijk Teun A[drianus] / Neff-van Aertselaer, JoAnne / Pütz, Martin (eds.) (2004):
Communicating ideologies: Multidisciplinary Perspectives on Language,
Discourse, and Social Practice. Frankfurt am Main; Berlin; Bern; Bruxelles; New
York; Oxford; Wien: Peter Lang (Duisburger Arbeiten zur Sprach- und
Kulturwissenschaft; 53).
van Ginneken, Jacobus (1913, I): Handboek der Nederlandsche taal. Deel I. De
sociologische structuur der Nederlandsche taal I, Nijmegen: Malmberg.
van Ginneken, Jacobus / Kea, WIllem (1914, II): Handboek der Nederlandse taal: Deel II
De sociologische structuur. Nijmegen: Malmberg.
Vande Kemp, Hendrika (1984): “On Unhistoricity in Citing References”. In: History of
Psychology Newsletter 16/4 (October 1984), 34-39.
Vendryès, Joseph (
1
1921): Le langage, introduction linguistique à l'histoire. Paris: La
Renaissance du Livre (l'Évolution de l'Humanité, Synthèse Collective; 3).
Vendryes, Joseph (
1
1925): Language: A linguistic introduction to history. Translated from
the French by Paul Radin. London: Routledge & Kegan Paul. [quinta impressão
1959]
Vernier, Léon (
2
1970): Étude sur Voltaire et la grammaire de XVIII
e
siècle. Genève:
Slatkine. [fac-simile da primeira edição: Paris: Librairie Hachettre, 1888]
Voegelin, C[harles] F. (1940): Resenha de: Travaux du Cercle Linguistique de Prague 8
(Prague, 1939). In: Language 16/3, 251-257.
Voegelin, C[harles] F. (1947): “A Problem in Morpheme Alternants and their Distribution”.
In: Language 23/3 (July-September, 1947), 245-254.
Voegelin, C[harles] F. (1958): Resenha de: Chomsky (1957). In: International Journal of
American Linguistics 24, 229-231.
Voegelin, C[harles] F. / Voegelin, Florence M. (1963): “On the History of Structuralizing in
20th Century America”. In: Anthropological Linguistics 5/1 (January, 1963), 12-37.
Wallis, Ethel E[mily] (1956): “Sociolinguistics in Relation to Mezquital Otomi Transition
Education”. In: Estudios antropologicos en homenaje al doctor Manuel Gamio.
México: Sociedad Méxicana de Antropología, 523-535.
Wallis, Ethel Emily (1968): God Speaks Navajo. New York: Harper & Row.
Walsh, Thomas J. (ed.) (1989): Synchronic and Diachronic Approaches to Linguistic
Variation and Change. Washington, D. C.: Georgetown University Press (George-
town University Round Table on Languages and Linguistics).
Wardhaugh, Ronald (
1
1986): An Introduction to Sociolinguistics. Oxford: Basil Blackwell.
[quarta edição 2001, quinta edição 2006]
Wares, Alan C. (comp.) (1974): Bibliography of the Summer Institute of Linguistics 1935-
1972. Huntington Beach, Cal.: Summer Institute of Linguistics.
Warner, William Lloyd (
2
1960): Social Class in America: A Manual of Procedure for the
Measurement of Social Status. New York: Harper & Row. [reedição de Warner /
Meeker / Eels (1949), com o acréscimo de um artigo “Theory and Method for
Comparative Social Stratification”]
Warner, William Lloyd / Meeker, Marchia / Eells, Kenneth (
1
1949): Social Class in
America: A Manual of Procedure for the Measurement of Social Status. Chicago:
Research Associates. [reedição, com um novo ensaio: “Theory and Method for
Comparative Social Stratification”. New York: Harper, 1960]
Washabaugh, William (1974): “Saussure, Durkheim, and Sociological Theory”. In: Archivum
Linguisticum 5, 25-34.

Referências bibliográficas 271
Watkins, Calvert (1978): “Remarques sur la méthode de Ferdinand de Saussure
comparatiste”. In: Cahiers Ferdinand de Saussure 32, 59-68.
Weaver, Richard M. (1960): “Concealed rhetoric in scientistic sociology”. In: Schoeck /
Wiggins (1960: 83-99).
Wegener, Philipp (1885): Untersuchungen über die Grundfragen des Sprachlebens. Halle:
Max Niemeyer. [reedição: Wegener (1991)]
Wegener, Philipp (1891): “Die Bearbeitung der lebenden Mundarten”. In: Paul (1891, I:
931-944).
Wegener, Philipp (1991): Untersuchungen über die Grundfragen des Sprachlebens. Newly
edited by Konrad Koerner, with an introduction in English by Clemens Knobloch.
Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins (Amsterdam Studies in the Theory and
History of Linguistic Science, Series II, Classics in Psycholinguistics; 5).
Weinreich, Max (1923): “Studien zur Geschichte und dialektischen Gliederung der
jiddischen Sprache. Erster Teil: Geschichte und gegenwärtiger Stand der jiddischen
Sprachforschung”. Tese de doutoramento. Universität Marburg. [reedição:
Weinreich (1993)]
Weinreich, Max (1931a): “Di problem fun tzveyshprakhikayt”. In: YIVO-Bleter 1, 114-129.
Weinreich, Max (1931b): “Tsveyshprakhikayt: Mutershprakh un tsveyte shprakh”. In:
YIVO-Bleter 1, 301-316.
Weinreich, Max (1993): Geschichte der jiddischen Sprachforschung. Com um “Vorwort”
do editor Jerold C. Frakes. Atlanta: Scholars Press (South Florida Studies in the
History of Judaism; 27).
Weinreich, Uriel (
1
1949): College Yiddish: An introduction to the Yiddish language and to
Jewish life and culture. Preface by Roman Jakobson. New York: Yiddish Scientific
Institute. [quinta edição revista, New York: YIVO Institute for Jewish
Research, 1971]
Weinreich, Uriel (1951): “Research Problems in Bilingualism, with special regard to
Switzerland”. Tese de doutoramento. New York: Columbia University.
Weinreich, Uriel (1953): Languages in Contact: Problems and findings. Preface by André
Martinet. New York: Linguistic Circle of New York (Publications of the Linguistic
Circle of New York; 1). [segunda edição: The Hague: Mouton, 1963; nona
impressão 1979]
Weinreich, Uriel (1954): “Is Structural Dialectology Possible?”. In: Word 10, 388- 400.
Weinreich, Uriel (1967): “On Arguing with Mr. Katz: a brief rejoinder”. In: Foundations
of Language 3/3 (August, 1967), 284-287.
Weinreich, Uriel / Labov, William / Herzog, Marvin I. (1968): “Empirical Foundations for
a Theory of Language Change”. In: Lehmann / Malkiel (1968: 95-195).
Weinstein, Ruth Hirsch (ed.) (1955): Report of the Sixth Annual Round Table Meeting on
Linguistics Language Teaching, Washington: Georgetown University Press
(Monograph Series on Languages and Linguistics; 9).
Wells, Rulon S. (1947): “Immediate Constituents”. In: Language 23/2 (April-June,
1947), 81-117. [reedição: Joos (1957: 186-207)]
Wells, Rulon S. (1954): “Meaning and Use”. In: Word 10, 235-250. [reedição: Saporta
(1961: 269-283)]
Wells, Rulon S. (1963): “Some Neglected Opportunities in Descriptive Linguistics”. In:
Anthropological Linguistics 5/1 (January, 1963), 38-49.
Wenker, Georg (
2
1877): Das Rheinische Platt: Den Lehrern des Rheinlandes gewidmet.
Düsseldorf: Im Selbstverlage des Verfassers.

272 E.F.K. Koerner
Weydt, Harald (1976): Noam Chomskys Werk: Kritik – Kommentar – Bibliographie.
Tübingen: Gunter Narr Verlag (Tübinger Beiträge zur Linguistik; 70).
White, Hayden (1973): Metahistory: The historical imagination in nineteenth century
Europe. Baltimore, Md.: Johns Hopkins Press. [cf. a discussão das ideias de White
por Hans Kellner, Philip Pomper, Maurice Mandelbaum, Eugene O. Golob, Nancy
Struever e John S. Nelson em History and Theory (Beiheft 19:4, intitulado
Metahistory: Six critiques), Middleton, Conn.: Wesleyan University Press, 1980]
White, Hayden (1978): Tropics of Discourse: Essays in cultural criticism. Baltimore:
Johns Hopkins Press.
White, Hayden (1987): The Content of the Form: Narrative discourse and historical
representation. Baltimore: Johns Hopkins Press.
Whitehead, Alfred North / Russell, Bertrand (1910-1913): Principia mathematica. 3 vols.
Cambridge: At the University Press. [segunda edição 1925-1927]
Whitney, William Dwight (
1
1867a): Language and the Study of Language: Twelve
Lectures on the Principles of Linguistic Science. New York: Charles Scribner &
Company.
Whitney, William Dwight (
1
1867b): Language and the Study of Language: Twelve
Lectures on the Principles of Linguistic Science. London: N. Trübner & Co. [sexta
edição 1901]
Whitney, William Dwight (1871): “Structures on the Views of August Schleicher
Respecting the Nature of Language and Kindred Subjects”. In: Transactions of the
American Philological Association 2, 35-64. [reedição: Whitney (1873: 298-331)]
Whitney, William Dwight (1873): “Schleicher and the Physical Theory of Language”. In:
Whitney, William Dwight: Oriental and Linguistic Studies: The Veda, The
Avesta, The science of language. New York: Scribner, Armstrong & Co., Sucessors
to Charles Scribner and Co., 298-331.
Whitney, William Dwight (
1
1875a): The Life and Growth of Language: An outline of
linguistic science. New York: D. Appleton and Company (The International Series).
Whitney, William Dwight (
1
1875b): The Life and Growth of Language. London: Henry S.
King & Co.
Whitney, William Dwight (1879a): A Sanskrit Grammar, including both the classical
language, and the older dialects, of Veda and Brahmana. Leipzig; London: Breitkopf
and Härtel; Trübner & Co. (Bibliothek Inpogermanischer Grammatiken; 2).
Whitney, William Dwight (1879b): Indische Grammatik, umfassend die klassische Sprache
und die älteren Dialecte. Aus dem Englischen übersetzt von Heinrich Zimmer,
Leipzig: Breitkopf und Härtel (Bibliothek Inpogermanischer Grammatiken; 2).
Whitney, William Dwight (1979): The Life and Growth of Language. Reprint, with a new
introduction by Charles F. Hockett. New York: Dover.
Wiesinger, Peter (1979): “Johann Andreas Schmeller als Sprachsoziologe”. In: Rauch,
Irmengard / Carr, Gerald F. (eds.): Linguistic Method: Essays in Honor of Herbert
Pend, The Hague: Mouton, 585-599.
Wilbur, Terence H. (ed. & introd) (1977): The Lautgesetz-Controversy: A documentation,
Amsterdam: John Benjamins. [com ensaios de Georg Curtius, Berthold Delbrück,
Karl Brugmann, Hugo Schuchardt, Hermann Collitz, Hermann Osthoff e Otto
Jespersen]
Willems, Klaas (1997): “Prospectus for Logos [& Language]: Journal of general linguistics
and language theory”. Ghent: Department of German, University of Ghent.

Referências bibliográficas 273
Winteler, Jost (1875): Die Kerenzer Mundart des Kantons Glarus in ihren Grundzügen
dargestellt. Leipzig; Heidelberg: C. F. Winter’sche Verlagsbuchhandlung. [obra
datada de 1876]
Wölck, Wolfgang / Garvin, Paul L. (eds.) (1979): The Fifth LACUS Forum 1978.
Columbus. S.C.: Hornbeam Press.
Wolfram, Walt[er] [A.] / Fasold, Ralph W. (1972): The Study of Social Dialects in
American English. Englewood Cliffs, N. J.: Prentice-Hall.
Wolfram, Walter A. (1969): A Sociolinguistic Description of Detroit Negro Speech.
Washington, D.C.: Center for Applied Linguistics (Urban language series; 5).
Woodworth, Elizabeth / Di Pietro, Robert J. (eds.) (1963): Report of the Thirteenth Annual
Round Table Meeting on Linguistics and Language Studies, Washington:
Georgetown University Press (Monograph Series on Languages and Linguistics; 15).
Wrede, Ferdinand (1902): “Ethnographie und Dialektwissenschaft”. In: Historische Zeit-
schrift 52 (1902, Band 88), 22-43. [reedição: Wrede (1963: 294-308)]
Wrede, Ferdinand (ed.) (1926-1956): Deutscher Sprachatlas auf Grund des von Georg
Wenker begründeten Sprachatlas des Deutschen Reiches begonnen von Ferdinand
Wrede, fortgesetzt von Walther Mitzka und Bernhard Martin. Marburg: N. G. Elwert.

Wrede, Ferdinand (1963): Kleine Schriften. Hrsg. von Luise Berthold, Bernhard Martin
und Walther Mitzka, Marburg: N. G. Elwert (Deutsche Dialektgeographie; 60).
Yergin, Daniel (1972): “The Chomskyan revolution”. In: The New York Times Magazine
(3 Dec 1972), 42-43 & 112-127.
Yngve, Victor H (2000): “Early research at M.I.T.: In search of adequate theory”. In.
Hutchins (2000: 39-72).
Yokoyama, Olga T[suneko] / Klenin, Emily (eds.) (1996): Selected Essays by Catherine
V.Chvany. Columbus, Ohio: Slavica Publishers.
Zoëga, Geir [Tómasson] (1910): A Concise Dictionary of Old Icelandic. Oxford:
Clarendon Press. [reedição: 1952, 1967]
Zwirner, Eberhard (1965): “Die Bedeutung der Sprachstruktur für die Analyse des
Sprechens: Problemgeschichtliche Erörterung”. In: Zwirner / Bethge (1965: 1-21)
[discussão: Zwirner / Bethge (1965: 21-24)]
Zwirner, Eberhard (1966a): “Die linguistische Quelle unter syntagmatischem und
paradigmatischem Aspekt”. In: Cahiers de Linguistique théorique et appliquée
3, 187-195.
Zwirner, Eberhard (1966b): “Bemerkungen zur Geschichte der Phonetik”. In: Zwirner /
Zwirner (1996: 17-110). [tradução inglesa, preparada por H. Bluhme, cf.
Zwirner, Eberhard / Zwirner (1970: 8-81)]
Zwirner, Eberhard (1967): “Sprachen und Sprache: Ein Beitrag zur Theorie der
Linguistik”. In: To Honor Roman Jakobson 3, The Hague: De Gruyter Mouton
(Janua Linguarum: Series Maior; 33), 2442-2464.
Zwirner, Eberhard (1968a): “Zur zweiten Epoche der deutschen Mundartforschung”. In:
Isačenko / Wissmann / Strobach (1968: 438-452).
Zwirner, Eberhard (1968b): “Vorwort”. In: Zwirner / Ezawa (1968b: vii-xvi).
Zwirner, Eberhard (1969a): “Zur Herkunft und Funktion des Begriffspaares Synchronie-
Diachronie”. In: Moser (1969: 30-51).
Zwirner, Eberhard (1969b): “Lautwandel in neuer Sicht. Von Dante bis zum
Strukturalismus: Die Entwicklung der Sprachwissenschaft”. In: Frankfurter
Allgemeine Zeitung 236 (Samstag, 11. Oktober 1969), n.p.

274 E.F.K. Koerner
Zwirner, Eberhard / Bethge, Wolfgang (1965): Münster, 1964: Proceedings of the Fifth
International Congress of Phonetic Sciences held at the University of Münster 16-
22 August 1964. Basel; New York: S. Karger.
Zwirner, Eberhard / Ezawa, Kennosuke (1968b): Phonometrie II: Allgemeine Theorie.
Basel; New York: S. Karger (Bibliotheca Phonetica; 5).
Zwirner, Eberhard / Rensch, Karl H. (1968): “Methodik der Erforschung lebender
(gesprochener) Sprachen: Phonetik und Phonologie”. In: Thiel (1968: 89-134).
Zwirner, Eberhard / Zwirner, Kurt (
2
1966): Grundfragen der Phonometrie. Zweite, erweiterte
und verbesserte Auflage. Basel; New York: S. Karger (Bibliotheca Phonetica; 5).
Zwirner, Eberhard / Zwirner, Kurt (1970): Principles of Phonometrics, University, Ala.:
The University of Alabama Press (Alabama Linguistics and Philological Series;
18). [cf. Zwirner 1966b. Note-se que Kurt Zwirner foi o matemático e não o coautor
da parte histórica do livro]

Índice onomástico-biográfico


A
Aarsleff, Hans (1925-) 25, 60, 92, 93, 94,
95, 97
Aarts, Flor G. A. M. 119
Abercrombie, David (1909-1992) 119
Adam, Lucien (1833-1918) 112
Ahlqvist, Anders (1944-) 25, 65
Albano Leoni, Federico (1941-) 84, 85, 88
Ammon, Ulrich (1943-) 119, 120
Amsler, Mark Eugene (1949-) 82, 84
Amsterdamska, Olga (1953-2009) 54
Anders, Georg 202
Andersen, Flemming Gotthelf (1950-) 97
Andersen, Henning (1934-) 65
Anderson, Stephen Robert (1943-) 142,
197
Andreev, Nikolaj Dmitrievitch (1920-
1997) 192
Anttila, Raimo (1935-) 72, 73, 181, 191
Arbuckle, John 68, 72, 96
Arens, Hans (1911-2003) 21, 22, 39, 40
Aristóteles (ca. 384 a.C.-322 a.C.) 79, 82
Arlotto, Anthony 131
Arnauld, Antoine (1612-1694) 24, 191
Aronoff, Mark (1949-) 218
Arpin, Jocelyne 25
Asher, Ronald Eaton (1926-) 27, 32
Auroux, Sylvain (1947-) 25, 27, 32, 47,
75
Ayres-Bennett, Wendy 56
B
Bach, Emmon (1929-) 20, 38, 180, 193
Bache, Carl (1953-) 97
Bachelard, Gaston (1882-1962) 92, 144,
198
Bahner, Werner (1927-) 48
Balbi, Giovanni (?-1286) 83
Bally, Charles (1865-1947) 98, 109

Baratin, Marc (1950-) 75
Bar-Hillel, Jehoschua (1915-1975) 199
Barsky, Robert Franklin (1961-) 140, 154,
155, 156, 164, 167, 170
Bartlett, Barrie Everdell (1932-) 90
Bartsch, Renate (1939-) 72
Bateson, Gregory (1904-1980) 120
Bátori, István S. (1935-) 177
Baugh, John (1949-) 121
Baumgärtner, Klaus (1931-2003) 108
Beatty Jr., William C. (1911-1990) 136
Becker, Carl Lotus (1873-1945) 12, 42,
50, 51
Bell, Alan E. 215
Bell, Roger T. 119
Bell, Wendell (1924-) 136
Benediktsson, Hreinn (1928-2005) 85, 86,
87, 88
Benedini, Paola 59, 89
Benfey, Theodor (1809-1881) 18, 19, 20,
21, 22, 36, 37, 38, 39, 40
Benveniste, Émile (1902-1976) 192
Benware, Wilbur Alan (1937-) 13, 34
Bernstein, Basil (1924-2000) 117, 121
Bertuch, Friedrich Justin (1747-1822) 66
Bever, Thomas Gordon (1939-) 144, 147,
153, 167, 180, 195
Bidney, David (1908-1987) 209
Bierbach, Christine (1950-) 98, 99, 101,
124
Bierwisch, Manfred (1930-) 20, 38, 180,
197
Bismarck, Otto Eduard Leopold von
(1815-1898) 40
Bloch, Bernard (1907-1965) 125, 136,
148, 149, 150, 155, 159, 160, 170,
179, 180, 189, 190, 191, 194, 198,
199, 217, 219
Bloch, Julia Evelyn (-1960) 125, 136
Bloom, Harold (1930-) 164

276 E.F.K. Koerner
Bloomfield, Leonard (1887-1949) 19, 20,
30, 37, 65, 70, 71, 129, 139, 141, 142,
143, 145, 146, 147, 150, 151, 155,
156, 157, 158, 159, 160, 162, 165,
166, 167, 168, 169, 170, 171, 172,
173, 187, 199, 202, 208, 219
Boal, Iain 210
Boas, Uri Franz (1858-1942) 131, 141,
154
Bokadorova, Natalija Juri'evna (1948-) 48
Bolelli, Tristano (1913-2001) 131
Booth, Andrew Donald (1918-2009) 189
Bopp, Franz (1791-1867) 18, 19, 20, 34,
39, 54, 66, 67, 113, 176, 212
Bourdieu, Pierre (1930-2002) 54
Bréal, Michel Jules Alfred (1832-1915)
95, 115, 123
Brekle, Herbert Ernst (1935-) 40
Breva-Claramonte, Manuel (1942-) 24
Bright, William Oliver (1928-2006) 122,
137, 217
Bromberger, Sylvain (1924-) 165, 166,
220
Brown, Roger Langham (1936-) 94
Brozek, Josef Maria (1913-2004) 91
Bruchmann, Curt (1851-1928) 112
Brugmann, Karl (1849-1919) 19, 22, 37,
39, 40, 55, 70, 71
Brush, Stephen George (1935-) 9, 32
Bühler, Karl (1879-1963) 105, 113
Bunge, Mario (1919-) 54
Burckhardt, Jacob (1818-1897) 51
Butterfield, Herbert (1900-1979) 11, 23,
38, 46, 52, 122
Buyssens, Eric (1900-2000) 107
Byrne, James (1820-1897) 112
C
Caille, Louis (1884-1962) 98, 112
Calvet, Louis-Jean (1942-) 122, 123, 129
Campbell, Lyle (1942-) 65
Cardona, George (1936-) 157
Carnap, Rudolf (1891-1970) 75, 77
Casagrande, Joseph Bartholomew (1915-
1982) 199
Chafe, Wallace Lambert (1927-) 195
Chapin, Paul Gipson (1938-) 215, 216
Chartier, Roger (1945-) 54
Chomsky William (1896-1977) 151
Chomsky, (Avram) Noam (1928-) 10, 11,
20, 21, 23, 24, 29, 30, 32, 33, 38, 39,
40, 54, 55, 57, 58, 72, 73, 79, 95, 118,
122, 123, 138, 139, 140, 141, 142,
143, 144, 145, 146, 147, 151, 152,
153, 154, 155, 156, 159, 160, 161,
162, 163, 164, 165, 166, 167, 168,
169, 170, 171, 172, 173, 175, 176,
177, 180, 183, 184, 185, 186, 187,
188, 189, 190, 192, 193, 194, 195,
196, 197, 198, 199, 200, 201, 202,
203, 204, 205, 206, 207, 208, 209,
210, 211, 212, 213, 214, 215, 216,
217, 218, 219, 220
Christmann, Hans-Helmut (1929-1995)
23, 48, 75, 108, 110, 112, 113, 114
Chvany, Catherine Vakar (1927-) 32
Clyne, Michael George (1939-2010) 119
Cohen, Marcel Samuel Raphael (1884-
1974) 132, 134
Comte, (Isidore) Auguste Marie Xavier
(1798-1857) 177, 178
Condillac, Étienne Bonnot de (1714-1780)
60, 75, 90, 93, 95
Cooper, Robert Leon (1931-2012) 120
Coseriu, Eugenio (1921-2002) 23, 24,
103, 104, 105, 106, 107, 108, 109,
110, 111, 112, 113, 114, 115
Courtenay, Jan-Baudouin de (1845-1929)
10, 70, 102, 108, 112, 123, 124, 126
Cowan, J Milton ‘Milt’ (1907-1993) 148
Cram, David Francis (1945-) 25
Crane, Diane (1933-) 54
Cranston, Maurice William (1920-1993)
184
Croce, Benedetto (1866-1952) 46
Currie, Haver C. (1908-1993) 136, 137
Curtius, Ernst Robert (1886-1956) 82
Curtius, Georg (1820-1885) 18, 67, 68,
70, 72, 186
D
Daladier, Anne (1952-) 148, 201
Darmesteter, Arsène (1846-1888) 115

Índice onomástico-biográfico 277
Darwin, Charles (1809-1882) 60, 61, 92,
96, 97, 102
Davis, Boyd Harriet (1940-) 180
Delbrück, Berthold (1842-1922) 19, 20,
29, 37, 38, 39, 70
Derrida, Jacques (1930-2004) 50
Desbordes, Françoise (1944-1998) 75
Descartes, René (1596-1650) 191
Diderichsen, Paul Henrik Krag (1905-
1964) 23, 96, 101
Diderot, Denis (1713-1784) 95
Diez, Friedrich Christian (1794-1876) 81
Dillinger, Michael L. ‘Mike’ (1955-) 75
Dilthey, Wilhelm (1833-1911) 124, 187
Dingwall, William Orr (1934-2004) 20,
38, 184
Dinneen, Francis Patrick (1923-1994) 96,
98
DiPietro, Robert Joseph (1932-1991) 211
Dittmar, Norbert (1943-) 119, 120
Doroszewski, Witold Jan (1899-1976) 98,
99
Drake, Glendon Frank (1933-) 133
Dressler, Wolfgang Ulrich (1939-) 193
Durkheim, (David) Émile (1858-1917)
61, 92, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 109,
124, 131, 137, 138
Dutz, Klaus (1953-2006) 46, 56
E
Ebbesen, Sten (1946-) 27
Edmont, Edmond (1849-1926) 130
Eells, Kenneth 134
Einhauser, Eveline (1960-) 19
Einstein, Albert (1879-1955) 13, 41
Elffers-van Ketel, Els (1946-) 43, 48, 91
Elton, Rudolph Geoffrey (1921-1994) 45
Emonds, Joseph Embley (1940-) 188,
189, 198
Encrevé, Pierre (1940-) 143, 145, 153,
154, 159, 164, 166, 173
Engler, Rudolf (1930-2003) 98, 109, 110,
112
Ervin-Tripp, Susan Moore (1927-) 135
Evans, Robert (1930-) 133, 134
F
Falk, Julia Salebski (1941-) 180
Fasold, Ralph William August (1940-)
119, 133, 135
Feagin, Crawford 121
Ferguson, Charles Albert (1921-1992)
119, 121, 122, 136, 137, 138, 216
Fidelholtz, James (1941-) 195
Figueroa, Esther 117
Finck, Franz Nikolaus (1867-1910) 112,
115
Firth, John Rupert (1890-1960) 90, 97,
119, 137
Fishman, Joshua Aaron (1926-) 117, 119,
120, 121
Fodor, Jerry Alan (1935-) 201
Fogel, Robert William (1926-2013) 45
Foley, James Addison (1938-) 198
Foucault, (Paul)-Michel (1926-1984) 51,
53, 92, 144
Fought, John Guy (1938-) 148, 160, 172,
207, 211, 224
Frank, Luanne Thornton 96
Friedrich, Paul W. 137
Fries, Charles Carpenter (1887-1967) 148
Fromkin, Victoria Adelina (1923-2000)
177, 216, 217, 219
Fuhrmann, Manfred (1925-2005) 29
Furfey, Paul Hanly (1896-1991) 133, 134,
135
G
Gabelentz, (Hans) Georg Conon von der
(1840-1893) 102, 103, 104, 105, 106,
107, 108, 109, 110, 111, 112, 113,
114, 115
Gabelentz, Hans Conon von der (1807-
1874) 112
Galilei, Galileo (1564-1642) 13, 41
Gardner, Thomas J. 79
Garvin, Paul Lucian (1919-1994) 35, 211,
212
Gauchat, Louis (1866-1942) 128, 131,
137
Gautier, Léopold (1884-1973) 98
Gellner, Ernest André (1925-1995) 181

278 E.F.K. Koerner
Gerritsen, Marinel (1949-) 129
Gilliéron, Jules (1854-1926) 125, 130
Gipper, Helmut (1919-) 93, 94
Glazer, Nathan (1923-) 149
Gödel, Kurt (1906-1978) 75
Godel, Robert (1902-1984) 98, 99, 100,
107, 108, 110, 112
Goethe, Johann Wolfgang von (1749-
1832) 35, 58, 88
Goffman, Erving (1922-1982) 120
Goldsmith, John A. (1944-) 38, 172, 180,
192
Goodman, (Henry) Nelson (1906-1998)
144, 147, 162, 194, 196
Graffi, Giorgio (1949-) 24
Gray, Louis Herbert (1875-1955) 20
Greenberg, Joseph Harold (1915-2001)
97, 147
Greene, Judith 184
Grewendorf, Günther (1946-) 219
Grimm, Jacob (1785-1963) 13, 18, 34, 67,
95
Grootaers, Willem A. (1911-1999) 130
Grotsch, Klaus (1940-) 23, 46, 75
Grube, Wilhelm (1855-1908) 114
Grunig, Blanche-Noëlle (1939-2013) 213
Gumperz, John Joseph (1922-2013) 118,
119, 120, 122, 136, 137, 138, 194
Guy, Gregory R. 121
H
Haeckel, Ernst Heinrich (1834-1919) 96
Hagège, Claude (1936-) 99
Hagen, Antonius Maria (1936-) 120, 126,
129
Hall Jr., Robert Anderson (1911-1997)
148, 149, 150, 184
Halle, Morris (1923-) 33, 34, 73, 141,
142, 143, 147, 153, 163, 164, 165,
166, 167, 171, 172, 177, 188, 189,
190, 192, 193, 194, 195, 196, 197,
203, 208, 209, 216, 218
Halliday, Michael Alexander Kirkwood
(1925-) 119, 185
Hamann, Johann Georg (1730-1788) 93,
94
Hamp, Eric Pratt (1920-) 163, 192, 211
Hancock, Ian (1942-) 119
Hansen, Marcus Lee (1892-1938) 125,
136
Harris, Randy Allen (1956-) 62, 140, 172,
175, 192
Harris, Zellig Sabbetai (1909-1992) 39,
78, 123, 139, 140, 141, 142, 144, 145,
146, 147, 148, 149, 150, 151, 152,
153, 154, 155, 156, 157, 158, 159,
160, 161, 162, 163, 164, 167, 168,
169, 170, 172, 173, 186, 187, 190,
191, 192, 194, 196, 198, 199, 200,
201, 202, 203, 204, 205, 207, 208,
209, 211
Harweg, Roland (1934-) 75
Hasan, Ruqaya (1931-) 117, 119
Haugen, Einar Ingvald (1906-1994) 85,
86, 87, 88, 119, 120, 121, 133, 136,
137, 149, 192
Hausmann, Franz Josef (1943-) 28
Haym, Rudolf (1821-1901) 93, 94
Heeschen, Volker (1940-) 94
Hegel, Georg Wilhelm Friedrich (1770-
1831) 96, 112
Helbig, Gerhard (1929-2008) 23
Helias, Petrus (ca. 1100-1166) 83
Henry, Victor (1850-1907) 115
Herbermann, Clemens-Peter (1941-2001)
84
Herder, Johann Gottfried von (1744-1803)
60, 92, 93, 94, 95, 96, 101, 102
Hermann, Eduard (1869-1950) 128, 131,
137
Herzog, Marvin Irwin ‘Mendele, Mikhal’
(1927-) 123, 130, 131, 132
Hesse, Mary Brenda (1924-) 53
Hiersche, Rolf (1924-1996) 99, 109
Hilbert, David (1862-1943) 76, 77
Hildebrandt, Reiner 73
Hill, Archibald Anderson (1902-1992)
195, 196, 197, 212, 217
Hjelmslev, Louis (1899-1965) 37, 77,
106, 112, 168, 202, 210
Hockett, Charles Francis (1916-2000) 39,
141, 147, 148, 153, 155, 158, 159,
160, 162, 163, 165, 170, 186, 197,
198, 199, 202, 203, 204, 205, 206,
207, 208, 217, 219

Índice onomástico-biográfico 279
Hodson, Thomas Callan (1871-1953) 137
Hoefer, Albert Karl Gustav (1812-1883)
67, 68
Hoenigswald, Henry Max (1915-2003)
21, 148, 149, 152, 165, 167, 170
Hofmann, Dietrich (1923-1998) 73
Hogg, Richard Milne (1944-2007) 73
Holmes, Janet (1947-) 119
Householder, Fred Walter (1913-1994)
151, 197
Howell, Kenneth J. 197
Hsieh, Hsin 75
Huck, Geoffrey J. (1944-) 38, 149, 172,
180, 192
Hüllen, Werner (1927-2008) 17, 46, 91
Hughes, Samuel 196
Hugutius Pisanus (fl. século XI) 83
Humboldt, Wilhelm von (1767-1835) 24,
29, 57, 60, 62, 67, 79, 92, 93, 94, 95,
96, 101, 102, 112, 113, 114, 164, 191,
193, 198
Hutchins, William John (1939-) 199
Hutton, Christopher M. (1958-) 28
Hymes, Dell Hathaway (1927-2009) 46,
47, 118, 119, 120, 121, 122, 148, 177,
181, 207, 217
I
Iordan, Iorgu (1888-1986) 105, 116
Isidorus Hispaliensis (560-636) 82, 83
Ivănescu, Gheorge (1912-1986) 108, 110
Ivić, Milka (1923-2011) 19, 23, 29, 37
Izzo, Herbert John (1928-) 181
J
Jaberg, Karl (1877-1958) 125, 130, 137
Jacob, André (1921-) 97, 98
Jakobson, Roman (1896-1982) 10, 33, 61,
78, 127, 132, 141, 143, 144, 151, 164,
168, 169, 192, 193, 194, 202, 209
Jankowsky, Kurt Robert (1928-) 23, 25,
70, 72
Jensen, John Tillotson (1944-) 147
Jespersen, Otto (1860-1943) 21, 104, 106,
151
Johnson, Lyndon Baines (1908-1973, 36.º
Presidente dos EUA 1963-1969) 133
Joos, Martin George (1907-1978) 148,
149, 155, 159, 166, 186, 205, 217,
219
Jordan, Leo (1874-1940) 136
Joseph, John Earl (1956-) 21, 45, 58, 100,
120, 122, 127, 134, 135, 136, 172,
175, 176, 186, 218, 220
Jud, Jakob (1882-1952) 125, 128, 130
K
Kaczmarek, Ludger (1953-) 46, 56
Kainz, Friedrich (1897-1977) 106
Kant, Immanuel (1724-1804) 60
Kassaï, Georges 127
Katz, Jerrold Jacob (1932-2002) 153, 180,
190, 191, 201, 210, 214
Kelly, Louis Gerard (1935-) 25, 26
Kennedy, John Fitzgerald (1917-1963,
35.º Presidente dos EUA 1961-1963)
133
Kilbury, James S. (1946-) 141, 142
Kimḥi, David ben Josef (1160-ca. 1235)
151
Klinck, Roswitha 82
Kloeke, Gesinus Gerhardus (1877-1963)
129, 131
Knobloch, Clemens (1951-) 28
Knobloch, Johann (1919-2010) 192
Knoop, Ulrich (1940-) 125
Koll, Hans-Georg 79, 80, 81
Kraus, Christian Jacob (1753-1807) 67
Krige, John (Gerhard Jean Marie John) 53
Kristeller, Paul Oskar (1905-1999) 50
Kroeber, Alfred Louis (1876-1960) 97,
208
Kruszewski, Mikołaj (1851-1887) 10,
102, 108
Kubczak, Hartmut (1941-) 77
Kučera, Henry (1925-2010) 202
Kuhn, Adalbert (1812-1881) 67
Kuhn, Thomas Samuel (1922-1966) 9, 10,
11, 12, 13, 14, 18, 23, 32, 36, 40, 41,
46, 47, 53, 55, 175, 177, 180, 184,
213

280 E.F.K. Koerner
Kurath, Hans (1891-1992) 125, 126, 136,
148, 149
Kuryłowicz, Jerzy (1895-1978) 192, 193
Kvastad, Nils Bjørn (1938-) 49
L
La Grasserie, Raoul de (1839-1914) 112,
136
Labov, William (1927-) 33, 117, 118,
119, 120, 121, 122, 123, 124, 125,
126, 127, 128, 130, 131, 132, 133,
134, 135, 136, 137, 138, 186
LaCapra, Dominick (1939-) 49, 50, 51
Lakatos, Imre (1922-1974) 53
Lakoff, George P. (1941-) 199
Lamb, Sydney MacDonald (1929-) 164,
185, 186, 187, 198, 208
Lambert, Wallace ‘Wally’ Earl (1922-
2009) 121
Lancelot, Claude (1615-1695) 24, 191
Lane, George Sherman (1902-1981) 148
Langendoen, Donald Terence (1939-)
144, 198, 216
Lara, Luis Fernando (1943-) 75, 76
Larcher, Pierre (1948-) 76
Lauchert, Friedrich (1863-1944) 94
Laudan, Larry (1941-) 53
Lavoisier, Antoine Laurent de (1743-1796)
186
Law, Vivien Anne (1954-2002) 27
Lawson, Aaron 171
Lazcano, Elisabeth 25
Lees, Robert Benjamin (1922-1996) 189,
190, 195, 197, 198, 208, 209
Lehmann, Winfred Philipp (1916-2007)
130, 131
Lenin (Ulyanov), Vladimir Ilyich (1870-
1924) 194
Léon, Jacqueline 25
Leopold, Werner Friedrich (1896-1984)
132
Lepschy, Giulio Ciro (1935-) 23, 27, 47
Leroy, Maurice (1909-1991) 19, 23, 29,
37, 96, 109
Leskien, August (1840-1916) 19, 22, 40,
70
Leśniewski, Stanisław (1886-1939) 76
Levi Della Vida, Giorgio (1886-1967) 151
Levin, Samuel R. (1917-2010) 193
Lewy, Ernst (1881-1966) 115
Lieb, Hans-Heinrich (1936-) 41
Linn, Robert Andrew (1967-) 25
Lisker, Leigh (1918-2006) 155
Locke, John (1632-1704) 94
Locke, William, Nash (1909-1980) 189,
192, 199
Lohmann, Johannes (1899-1983) 113
Lounsbury, Floyd Glenn (1914-1998) 159
Lovejoy, Arthur Oncken (1873-1962) 49
Löwe, Richard (1863-ca. 1942) 126
Lowie, Robert Harry (1883-1957) 154
Lowman Jr., Guy Sumner (1909-1941)
129
Lubek, Ian 137
Lukoff, Fred (1920-2000) 169
Lunt, Horace Gray (1918-2010) 192, 193
Lyell, Charles (1797-1875) 53
Lyon, Earl D. 136
Lyons, John (1932-) 173
M
Macaulay, Ronald K. S. (1927-) 117, 123
Mackert, Michael (1958-) 62
Maher, John Peter (1933-) 96, 97, 181,
183, 203, 214
Malkiel, Yakov (1914-1998) 22, 40, 41,
47, 50, 51, 119, 120, 124, 125, 127,
179, 180
Malmberg, Bertil (1913-1994) 19, 23, 24,
29, 37
Malte-Brun, Conrad (1775-1826) 67
Manchester, Martin L. 94
Mandelbaum, Maurice (1908-1987) 49
Mandelbrot, Benoît B. (1924-2010) 204
Mannheim, Karl (1893-1947) 54
Marantz, Alec (1959-) 173
Marchand, James Woodrow (1926-) 96
Martinet, André (1908-1999) 33, 118,
122, 127, 128, 130, 132, 133, 137,
192, 194, 204
Martinet, Jeanne (1920-) 127
Mason III, Charles Thomas (1954-) 157
Mathesius, Vilém (1882-1945) 113
Mattheier, Klaus J. (1941-) 119, 120

Índice onomástico-biográfico 281
Matthews, Peter Hugoe (1934-) 142, 143,
150, 154, 155
Mattoso Câmara Jr., Joaquim (1904-1970)
69
Mauss, Marcel (1872-1950) 137
Mayrhofer, Manfred (1926-2011) 55
McCawley, James David (1938-1999)
180, 183, 188, 198, 212, 213, 214
McDavid, Raven Ioor (1911-1984) 121,
125, 126, 137
McQuown, Norman Anthony (1914-2005)
150, 151, 162, 200, 201
Meeker, Marchia 134
Mehta, Ved Parkash (1934-) 189, 190,
196, 203
Meillet, Antoine (1866-1936) 61, 98, 99,
107, 125, 127, 128, 130, 131, 132,
136, 137
Meisel, Jürgen Michael (1944-) 181, 191
Meisterfeld, Reinhard 24
Melo, Gladstone Chaves de (1917-2001)
73
Meriggi, Piero (1899-1982) 107
Merton, Robert King (1910-2003) 54
Mesthrie, Rajend 117
Michelet, Jules (1798-1874) 51
Michels, Leonardus Cornelius (1887-
1984) 106
Mildenberger, Kenneth W. 188
Milroy, (Ann) Lesley (1944-) 119
Misteli, Franz (1841-1903) 112
Moldenhauer, Gerhard (1900-1980) 67
Morpurgo Davies Anna (1937-) 19, 24
Moulton, William Gamwell (1914-2000)
10, 130
Mounin, Georges (1910-1993) 23, 79, 103
Müller, (Friedrich) Max (1823-1900) 70,
123
Mueller, Hugo (1909-2002) 113
Mueller-Vollmer, Kurt (1928-) 92
Müllner, Klaus 111, 112
Mullins, Nicholas Creed (1939-1988) 54,
62
Muret, Ernest (1861-1940) 100
Murphy, James Jerome (1923-) 78
Murray, Stephen Omar (1950-) 54, 55, 62,
118, 119, 120, 121, 123, 127, 135,
140, 141, 148, 168, 172, 175, 177,
179, 180, 181, 182, 189, 190, 192,
193, 194, 195, 197, 198, 207, 215,
217, 218
Musgrave, Alan (1940-) 53
Myers-Scotton, Carol (1934-) 121
N
Napoli, Donna Jo (1948-) 215
Narr, Gunter 109, 110, 114
Naville, Adrien (1845-1930) 100
Nevin, Bruce Edwin (1945-) 152, 154,
155, 156
Newman, Stanley Stewart (1905-1984)
151
Newmeyer, Frederick (Fritz) Jaret (1944-)
20, 27, 28, 38, 39, 43, 79, 122, 140,
141, 143, 144, 147, 152, 153, 169,
170, 172, 179, 180, 182, 184, 185,
188, 189, 192, 193, 194, 195, 197,
198, 199, 200, 202, 203, 205, 207,
208, 209, 211, 212, 213, 214, 215,
216, 217, 219
Newton, Isaac (1642-1727) 13, 41
Nida, Eugene Albert (1914-2011) 136,
155, 159, 160, 199
Niederehe, Hans-Josef (1937-) 25, 27, 32,
47, 83, 84
Nietzsche, Friedrich (1844-1900) 10, 11,
12, 91
Noordegraaf, Jan (1948-) 177
North, Douglass Cecil (1920-) 45
Nowak, Elke 25
O
O’Neill, Michael Thomas 82
O'Cain, Kenneth Raymond (1940-) 125,
180
Oesterreicher, Wulf (1942-) 95
O'Hern, Edna M. (1919-) 133, 134, 135
Olmsted, David Lockwood (1926-2014)
126
Orr, John (1885-1966) 105, 116
Osthoff, Hermann (1847-1909) 22, 40

282 E.F.K. Koerner
P
Pagden, Anthony (1945-) 49, 50, 54
Pallas, Peter Simon (1741-1811) 67
Palmer, Frank Robert (1922-) 90
Pandit, Giridhari Lal (1945-) 53
Pāṇini (ca. 520-460 a.C.) 28, 29, 76, 157
Parret, Herman (1938-) 177
Partee, Barbara Hall (1940) 198, 216
Passmore, John (1914-2004) 50
Paul, Hermann (1846-1921) 19, 20, 22,
39, 40, 61, 102, 104, 105, 107, 108,
110, 111, 123, 124, 125, 126, 128,
178
Paulston, Christina Bratt (1932-) 117, 121
Pearson, Bruce L. 185
Pedersen, Holger (1867-1953) 19, 21, 22,
37, 39
Peirce, Charles Santiago Sanders (1839-
1914) 58
Penzl, Herbert (1910-1995) 177
Percival, Walter Keith (1930-) 47
Petersen, Uwe 109, 110, 114
Pfaffel, Wilhelm 82, 84
Picasso, Pablo (1881-1973) 13, 41
Pickford, Glenna Ruth (1921-) 133, 136
Pickford, Rollin (1912-2010) 136
Pike, Kenneth Lee (1912-2000) 185
Platão (ca. 428/427-348/347 c.C.) 62
Popa-Tomescu, Teodora 110
Popper, Karl Raimund (1902-1994) 53,
54, 175
Port Royal – veja-se Arnauld, Antoine e
Lancelot, Claude 24, 191
Posner, Rebecca (1929-) 105, 116
Postal, Paul Martin (1936-) 29, 144, 171,
172, 190, 191, 193, 195, 211, 214
Pott, August Friedrich (1802-1887) 67, 94
Preston, William D. (-1954) 169
Priscianus Caesariensis (fl. século VI) 83
Pullum, Geoffrey Keith (1944-) 172
Putnam, George Nelson (1909-1991) 133,
134, 135
Putschke, Wolfgang (1937-) 125
Q
Quine, Willard Van Orman (1908-2000)
194
R
Ranke, Leopold von (1795-1886) 51, 178,
213
Rask, Rasmus Kristian (1787-1832) 18,
23, 67, 85, 101
Raumer, Rudolf von (1815-1876) 18, 19,
21, 22, 36, 37, 39, 40
Reckermann, Alfons (1947-) 96
Reichling, Anton Joannes Bernardus
Nicolaas (1898-1986) 106, 113
Rensch, Karl-Heinz M. (1936-) 107, 109,
110
Rey-Debove, Josette (1929-2005) 77, 78
Reynolds Margaret W. 31
Richards, Graham 31
Rickert, Heinrich John (1863-1936) 187
Riedlinger, Albert (1883-1978) 98
Rijlaarsdam, Jetske C. 99
Robins, Robert Henry (1921-2000) 23,
24, 26, 37, 96, 97, 98
Rogers, David E. 157
Rohlfs, Gerhard (1892-1984) 125
Romaine, Suzanne (1951-) 119
Ronat, Mitsou (1946-1984) 169
Rorty, Richard McKay (1931-2007) 52
Rosen, Lois Matz 121, 127
Rosenkranz, Bernhard (1959-2010) 108
Rousseau, Jean-Jacques (1712-1778) 95
Rudwick, Martin John Spencer (1932-) 53
Russell, Bertrand (1872-1970) 75, 177,
181
Ryckman, Thomas Alan (1949-) 168
Ryding, Karine Christina (1942-) 76
S
Salus, Peter Henry (1938-) 29, 79
Sampson, Geoffrey (1944-) 98, 99, 101,
190, 195
Sánchez de las Brozas, Francisco (1523-
1600) 24, 89

Índice onomástico-biográfico 283
Sapir, Edward (1884-1939) 94, 95, 143,
146, 149, 151, 154, 155, 156, 158,
159, 164, 198, 208, 219
Sapon, Stanley M. (1924-) 122
Saporta, Sol (1925-2008) 211
Saussure, Ferdinand de (1857-1913) 13,
19, 21, 22, 36, 37, 40, 42, 54, 58, 60,
61, 66, 71, 79, 80, 81, 89, 92, 97, 98,
99, 100, 101, 102, 103, 104, 105, 106,
107, 108, 109, 110, 111, 112, 113,
114, 115, 124, 127, 128, 151, 193,
212
Schachter, Paul (1929-2012) 193
Scharfe, Hartmut (1930-) 76
Scheuermeier, Paul (1888-1973) 125
Schiffrin, Deborah 121
Schlegel, (Wilhelm) Friedrich von (1772-
1829) 95, 212
Schlegel, August Wilhelm von (1767-
1845) 66
Schleicher, August (1821-1868) 18, 20,
34, 36, 39, 55, 60, 61, 67, 68, 69, 70,
72, 82, 92, 95, 96, 97, 101, 102, 123,
126, 212
Schleiden, Mathias Jacob (1804-1881)
102
Schmidt, Johannes (1843-1901) 70
Schmitter, Peter (1943-2006) 17, 23, 27,
28, 34, 43, 46, 47, 56, 62, 75, 91, 93
Schreyer, Rüdiger (1941-2013) 28
Schrödinger, Erwin (1887-1961) 13, 41
Schröter, Robert (1921-) 84
Schuchardt, Hugo (1842-1927) 70, 104
Schulenburg, Albrecht Conon Graf von
der (1865-1902) 111, 114, 115
Schweickard, Wolfgang (1954-) 82, 83
Searle, John Rogers (1932-) 180, 220
Sebeok, Thomas Albert (1920-2001) 17,
30, 37, 45, 130
Sechehaye, Albert (1870-1946) 98, 109
Seuren, Pieter A. Marie (1934-) 179, 201
Sever Pop (1901-1961) 118
Sextus Empiricus (séc. II d.C.) 76
Shapiro, Michael (1939-) 67
Shuy, Roger W. (1931-) 117, 120, 121,
125, 136
Sievers, Eduard (1850-1932) 70
Silva Neto, Serafim da (1917-1960) 106
Simone, Raffaele (1947-) 22, 27, 36, 47,
56
Skinner, Burrhus Frederic (1904-1990)
210
Sklar, Robert (1936-2011) 180, 190, 194
Sljusareva, Natalija Aleksandrovna (1918-
2000) 110
Smith, Henry Lee (1913-1972) 191
Smith, Neilson Voyne (1939-) 184, 185,
192
Sneed, Joseph Donald (1938-) 53
Sommerfelt, Alf Axelsøn (1892-1965)
131, 132, 137
Spence, Nicol Christopher William 79
Spitzer, Leo (1887-1960) 105
Staal, Johan Frederik ‘Frits’ (1930-2012)
76, 77
Steinberg, Danny David (1931-) 210
Steinthal, (Chajim) Heymann (1823-1899)
93, 94, 95, 112
Stewart, William A. (1930-2002) 133
Stocking Jr., George Ward (1928-2013)
78
Stockwell, Robert Paul (1925-2012) 211,
217
Stötzel, Georg (1936-) 104
Streitberg, Wilhelm (1864-1925) 19, 37
Sturtevant, Edgar Howard (1875-1952)
130
Sumner, William Graham (1840-1910)
181, 182
Swadesh, Morris (1909-1967) 155, 158
Swiggers, Pierre (1995-) 24
Synge, John Lighton (1897-1995) 9, 32
Szemerényi, Oswald John Louis (1913-
1996) 23, 107, 108, 109
T
Tagliavini, Carlo (1903-1982) 23
Tajima, Matsuji (1942-) 29, 140, 144,
154, 168, 169, 194, 209, 215
Tanner, Robin G. 79
Tarde, Gabriel de (1843-1904) 98, 100,
102, 137, 138
Tarski, Alfred (1902-1983) 75, 76, 77
Taylor, Daniel Jennings (1940-) 27
Taylor, Talbot J. (1952-) 58

284 E.F.K. Koerner
Techmer, Friedrich Heinrich Hermann
(1843-1891) 68, 112
Thomason, Sarah ‘Sally’ Grey (1940-)
217
Timm, Lenora A. (ca. 1945-) 126
Tocqueville, Alexis de (1805-1859) 51
Trager, George Leonard (1906-1992) 141,
155, 158, 160, 191, 205
Traugott, Elizabeth Closs (1939-) 216
Troike, Rudolph Charles (1933-) 41, 121
Trubetzkoy, Nikolai Sergeyevich (1890-
1938) 33, 34, 58, 85, 99, 113, 142,
143, 151, 157, 158
Trudgill, Peter John (1943-) 120, 123
Tucker, G. Richard (1942-) 117, 121
Turing, Alan Mathison (1912-1954) 203
U
Ulvestad, Bjarne (1922-2004) 85
Untermann, Jürgen (1928-2013) 83
V
Van Ginneken, Jacobus (1877-1945) 129
van Rijn, Rembrandt Harmenszoon (1606-
1669) 13, 41
Van Schooneveld, Cornelis Hendrik
(1921-2003) 177
Vande Kemp, Hendrika 91
Varro, Marcus Terentius (116-27 a.C.) 82,
84
Vater, Johann Severin (1771-1826) 66
Vendryes, Joseph Jean Baptiste Marie
(1875-1960) 131, 132, 137
Vennemann, Theo (1937-) 72
Vernier, Léon 81
Versteegh Kees = Cornelis Maria Henricus
(1947-) 27, 32, 47
Voegelin, Charles (‘Carl’) Frederick
(1906-1986) 20, 38, 141, 154, 155,
157, 158, 171, 190, 204, 207, 208,
209
Voegelin, Florence Margaret (1927-1989)
20, 38, 171, 190, 204, 207
Voltaire – pseudónimo de François-Marie
Arouet (1694-1778) 81
W
Wagner, Max Leopold (1880-1962) 125
Wallis, Ethel Emily (ca. 1920-) 136
Wang, William William Shi-Yuan (1933-)
193
Wardhaugh, Ronald 119
Wares, Alan Campbell 136
Warner, William Lloyd (1898-1970) 134
Washabaugh, William 98
Watkins, Calvert (1933-2013) 212
Wegener, Philipp (1848-1916) 111, 126
Weinreich, Max (1894-1969) 125, 133,
137
Weinreich, Uriel (1926-1967) 33, 118,
119, 120, 123, 125, 127, 128, 130,
131, 132, 133, 136, 137, 194, 214
Wellek, René (1903-1995) 97
Wells III, Rulon Seymour (1919-2008)
186, 187, 199, 201, 204
Wenker, Georg (1852-1911) 125, 129
Weydt, Harald (1938-) 181
Whatmough, Joshua (1897-1964) 163,
192
White, Hayden (1928-) 51
Whitehead, Alfred North (1861-1947) 75
Whitney, William Dwight (1827-1894)
61, 97, 98, 100, 102, 107, 110, 123,
124, 127, 128, 130, 132
Wiegand, Herbert Ernst (1936-) 125
Wilbur, Terence Harrison (1924-2000) 68
Willems, Klaas 35
Wilson, Deirdre Susan Moir (1941-) 184,
192
Winkler, Heinrich (1848-1930) 115
Winteler, Jost (1846-1929) 112, 126
Wolfram, Walter A. ‘Walt’ (1941-) 119,
133, 135, 137
Wonderly, William Lower (1916-1988)
159
Woodworth, Elizabeth 211
Wrede, Ferdinand (1863-1934) 125, 137

Índice onomástico-biográfico 285
Y
Yergin, Daniel 204
Yergin, Daniel Howard (1947-) 184
Yngve, Victor Huse (1920-2012) 189
Young, Thomas (1773-1829) 66
Z
Zimmer, Heinrich (1851-1910) 127
Zoëga, Geir Tómasson (1857-1928) 86
Zwirner, Eberhard (1899-1984) 104, 106,
107, 109, 110
Tags