Como ler, avaliar e entender artigos científicos na reabilitação esportiva Guilherme Andrade, FT
Fisioterapeuta – PUCPR Pós graduação em FisioterapiaTraumato Ortopedica e Esportiva – Faculdade Inspirar Estudante de Osteopatia 4° ano – Escuela de Osteopatia de Madrid ; Resistence Training Specialist – RTS Brazil FIFA Diplome in Football Medicine – FIFA Fisioterapeuta Paraná Club – Categorias de base 2020-2022 Fisioterapeuta Guarani de Palhoça – Profissional 2021-2022 Fisioterapeuta Clinica REDES 2022 Quem Sou Eu?
Prática Baseada em Evidências (PBE) DEFINICÃO: Prática Baseada em Evidências é a integração da melhor evidência científica disponível, com a experiência clínica do profissional e os valores e preferências do paciente. Tríplice Aliança da PBE 🧪 1. Evidência científica atualizada Artigos, revisões sistemáticas, guidelines clínicos 🧑⚕️ 2. Experiência do profissional Julgamento clínico, vivência, raciocínio aplicado 🗣️ 3. Preferências do paciente Desejos, contexto, valores e expectativas Ou seja, é tomar decisões clínicas baseadas em pesquisas confiáveis, com bom senso clínico e respeitando o que o paciente considera importante. É um dos pilares da atuação moderna em saúde, especialmente em contextos como a fisioterapia esportiva.
Prática Baseada em Evidências (PBE) Etapas da PBE Perguntar – formular uma pergunta clínica ( ex : Tratamento de tendinopatias) Pesquisar – localizar evidências científicas relevantes. Avaliar – analisar a qualidade metodológica dos estudos. Aplicar – integrar evidência com prática e contexto. Avaliar – revisar os resultados e refletir sobre o processo.
Qual pergunta eu estou fazendo? Estudo experimental ( ex : ensaio clínico) Estudo observacional (coorte, Acompanha pessoas ao longo do tempo. ex : triatletas que desenvolvem lesões). Estudo transversal (Avalia um grupo em um único momento ( ex : dor lombar em atletas hoje) Revisões sistemáticas ( Junta e analisa vários estudos sobre o mesmo tema) meta-análises (Revisão sistemática com estatística combinada) Estudos qualitativos (Delphi, entrevistas, opiniões de experts, grupos focais)
Como classificar os artigos? Pelo nível de evidência : Nível 1: Revisões sistemáticas e meta-análises e Guidelines ; Nível 2: Ensaios clínicos randomizados (ECR). Nível 3: Estudos de coorte. Nível 4: Estudos de caso-controle. Nível 5: Relatos de caso, opinião de especialistas.
Onde encontrar? Cochrane Library Banco de revisões sistemáticas de altíssima qualidade Muito usado para prática baseada em evidência Google Scholar (Google Acadêmico) Busca ampla, mas menos filtrada Mistura artigos bons com outros sem revisão, Útil para achar PDFs ou rastrear citações PEDro ( Physiotherapy Evidence Database ) Especializado em fisioterapia Avalia a qualidade dos artigos com notas (escala PEDro ) Ideal para estudos clínicos e terapias físicas SciELO ( Scientific Electronic Library Online) Foco em periódicos da América Latina, especialmente Brasil Excelente para acessar artigos em português Acesso livre PubMed / MEDLINE O maior da área da saúde Gratuito e mundialmente utilizado Artigos biomédicos, fisioterapia, esporte, medicina, nutrição etc.
E a Revista, como Classifico? Fator de Impacto ( Impact Factor): Mede a influência de uma revista; Calculado anualmente e publicado; Calculado pela média de vezes que os artigos publicados são citados em outros artigos; Quanto maior o fator, mais reconhecida é a revista; Exemplo: BJSM tem fator de impacto alto (~11.8+);
Alguns exemplos: British Journal of Sports Medicine (BJSM) The American Journal of Sports Medicine (AJSM) Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy (JOSPT) International Journal of Sports Physical Therapy (IJSPT) Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports Journal of Science and Medicine in Sport
E a metodologia aplicada? Avaliação Metodologia deste estudo: PEDro Score, GRADE, AMSTAR(escalas de avaliação metodológica) Randomização? Cegamento? Grupo controle? Bias(viés)? Confiabilidade e validade? Analise estatística?
Estudos Secundários (Revisões) Revisão sistemática: Junta e analisa vários estudos sobre o mesmo tema. Meta-análise: Revisão sistemática com estatística combinada. Revisão narrativa: Mais descritiva e geral, sem métodos rígidos.
Estudos Primários (pesquisa com coleta de dados) Ensaio clínico (randomizado): Testa um tratamento em grupos ( ex : com e sem fisioterapia). Maior nível de evidência. Coorte: Acompanha pessoas ao longo do tempo ( ex : triatletas que desenvolvem lesões). Caso-controle: Compara quem tem uma condição com quem não tem ( ex : lesões vs. sem lesões). Transversal: Avalia um grupo em um único momento ( ex : dor lombar em atletas hoje). Estudo de caso: Relato detalhado de um paciente ou situação.
Anos 1990: o paradigma inflamatório ("tendinite") As tendinopatias eram amplamente descritas como tendinites , termo que sugere um processo inflamatório agudo. Tratamentos focavam na redução da inflamação com anti-inflamatórios, repouso e gelo. Histologicamente, porém, começaram a surgir evidências de ausência de células inflamatórias clássicas nos tendões afetados. Início do questionamento sobre a real natureza da lesão tendínea .
Anos 2000: transição para o modelo degenerativo (" tendinose ") Pesquisadores como Khan e Cook foram fundamentais na mudança de paradigma. Estudos histológicos mostraram que tendões lesionados apresentavam: Desorganização da matriz colágena. Aumento de células tenocíticas não inflamatórias. Neovascularização e alteração da substância fundamental. O termo tendinose começou a ser usado para descrever essa degeneração não inflamatória. O foco do tratamento começou a mudar para estimulação mecânica controlada , como exercícios excêntricos.
Anos 2010: modelo biopsicossocial e avanços na neurociência Compreensão de que a dor na tendinopatia não se correlaciona diretamente com a degeneração tecidual. Introdução de conceitos como: Sensibilização central e periférica. Influência de fatores psicossociais (medo, ansiedade, catastrofização). Surgimento do modelo biopsicossocial no tratamento da dor tendínea .
Anos 2020: modelos contemporâneos e individualizados Tendinopatia é entendida como um processo adaptativo falho à carga mecânica. Proposto o modelo "Continuum da tendinopatia" (Cook e Purdam , 2009, com atualizações posteriores): Tendão reativo → Tendão desorganizado → Tendão degenerativo. Ênfase em carregamento progressivo e otimização da função . Reconhecimento da resposta celular e molecular ao exercício como ferramenta terapêutica. Avanço nas abordagens com intervenções como PRP, terapia por ondas de choque, ainda em evolução cientifica; Novas frentes com foco em nutrição, sono, variabilidade genética , e até influências endócrinas.
Tendinopatia Reativa 1. O Modelo da Continuidade da Tendinopatia Proposto por Cook e Purdam (2009), o modelo tem três estágios: 1. Tendinopatia Reativa Causa: Sobrecarga aguda (ex.: aumento súbito de treino). Características: Espessamento do tendão por aumento de proteoglicanos (retenção de água). Estrutura ainda preservada (imagem pode parecer “normal”). Capacidade de reversão com repouso e carga controlada. Tratamento ideal: Controle de carga, isometria, exercícios de baixa carga.
Desreparo Tendíneo ( Disrepair ) Causa: Continuidade da sobrecarga. Características: Início de desorganização da matriz extracelular. Aumento de tenócitos , colágeno tipo III (mais desorganizado). Estrutura começa a se deteriorar. Tratamento: Redução de carga + exercícios progressivos. Evitar intervenções invasivas nesta fase.
Tendinopatia Degenerativa Causa: Processo crônico e repetitivo. Características: Áreas com colágeno rompido, apoptose celular, aumento de vasos. Parte do tendão não responde mais ao estímulo de carga. Pode coexistir com porções saudáveis (daí o termo "reativa-sobre-degenerativa"). Tratamento: Foco em melhorar a parte saudável. Evitar tentar “regenerar” a parte degenerada. Construir capacidade de carga .
Dor na Tendinopatia: Local ou Central? Dor local (nociceptiva): Deriva de estruturas inervadas, como peritendão ou tecido adjacente. Tenócitos produzem mediadores inflamatórios (PGE2, IL-6), mesmo sem inflamação clássica. Explica porque um tendão com alterações estruturais pode não doer e vice-versa. Dor central (sensibilização): Tendinopatias crônicas podem causar hipersensibilidade contralateral (sinal de envolvimento central). Porém, não há dor espontânea (como em dor neuropática). A dor continua dependente do movimento e carga , o que favorece um componente periférico forte.
5. Implicações Clínicas do Modelo da Continuidade Avaliação deve considerar: Fase do tendão (reativa, degenerativa, mista) Sintoma dominante (dor, disfunção, incapacidade de carga) Imagem (mas com cautela — não determina diagnóstico por si só) Tratamento baseado na fase: Reativa: Controle de carga Isometria (analgesia) Evitar exercícios excêntricos pesados Degenerativa: Fortalecimento da parte saudável do tendão Foco em melhorar a capacidade de carga global Estratégia: "tratar o donut , não o buraco " (metáfora de Cook) Híbrida (reativa-sobre-degenerativa): Muito comum Controle da dor + fortalecimento progressivo