MÊNFIS NO EGITO [ EGIPTOLOGIA ]

MenezesScribe1 68 views 168 slides Jun 09, 2024
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About This Presentation

Em maio de 2023 visitei a cidade de Mênfis no Egito e fiquei emocionado. Fiquei arrepiado, meus olhos se encheram de lágrimas, um sentimento muito estranho, como se eu ali sentisse toda a história que foi vivida naquele lugar. O colosso de Ramsés II deitado provocou-me emoções a ponto que eu n...


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MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 2 ]
FINALIDADE DESTA OBRA
Este livro como os demais por mim publicados
tem o intuito de levar os homens a se tornarem melhores,
a amar a Deus acima de tudo e ao próximo com a si
mesmo. Minhas obras não têm a finalidade de
entretenimento, mas de provocar a reflexão sobre a nossa
existência. Em Deus há resposta para tudo, mas a
caminhada para o conhecimento é gradual e não
alcançaremos respostas para tudo, porque nossa mente
não tem espaço livre suficiente para suportar. Mas neste
livro você encontrará algumas respostas para alguns dos
dilemas de nossa existência.
AUTOR: O Peregrino Cristão é licenciado em Ciências
Biológicas e História pela Universidade Metropolitana de Santos;
possui curso superior em Gestão de Empresas pela UNIMONTE de
Santos; é Bacharel em Teologia pela Faculdade das Assembléias de
Deus de Santos; tem formação Técnica em Polícia Judiciária pela
USP e dois diplomas de Harvard University dos EUA sobre Epístolas
Paulinas e Manuscritos da Idade Média. Radialista profissional pelo
SENAC de Santos, reconhecido pelo Ministério do Trabalho. Nasceu
em Itabaiana/SE, em 1969. Em 1990 fundou o Centro de
Evangelismo Universal; hoje se dedica a escrever livros e ao
ministério de intercessão. Não tendo interesse em dar palestras ou
participar de eventos, evitando convívio social.

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[ 3 ]
CONTRIBUIÇÃO PARA ESTA MISSÃO
Esta versão do meu livro está disponível gratuitamente na
internet. Se você a leu, gostou e lhe edificou, peço que faça uma
doação ao meu ministério fazendo um pix, nem que seja de
um dólar [ou cinco reais BR],
assim continuaremos produzindo livros que edifiquem:
PIX
Valdemir Mota de Menezes,
Banco do Brasil
CPF 069 925 388 88
Este material literário do autor não tem fins lucrativos,
nem lhe gera quaisquer tipos de receita. Sua satisfação consiste
em contribuir para o bem da educação uma melhor qualidade de
vida para todos os homens e seres vivos, e para glorificar o
único Deus Todo-Poderoso.
OBRIGADO PELA COLABORAÇÃO!

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[ 4 ]
CONTATO:
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áudios, palestras e textos do Peregrino Cristão
Grupo de estudo no whatsapp
55 13 996220766 com o Peregrino Cristão
https://youtube.com/@escribadecristo

Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP)




M543 O Peregrino Cristão, Central de Ensinos Bíblicos
1969 –
Mênfis no Egito

Mênfis / Egito
Bibliomundi, Amazon.com, Livrorama, Uiclap
2023, 167 p. ; 21 cm

ISBN: 9798854069687 Edição 1°

1. Egito 2. Bíblia 3. Egiptologia
4. Mênfis 5.Comentário bíblico

CDD 910

CDU 91

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[ 5 ]
Sumário
DEDICATÓRIA ..................................................................... 8
INTRODUÇÃO ...................................................................... 9
ORIGEM ETIMOLÓGICA ................................................... 10
TOPONÍMIA ......................................................................... 10
LOCALIZAÇÃO ................................................................... 13
FUNDADOR ......................................................................... 14
HISTÓRIA LENDÁRIA ........................................................ 15
PATRONO ............................................................................ 17
QUEDA DE MÊNFIS ........................................................... 18
MITOLOGIA ......................................................................... 18
BÍBLIA .................................................................................. 19
ISLAMISMO ......................................................................... 29
POPULAÇÃO ....................................................................... 30
CENTRO DE ADORAÇÃO ................................................. 31
ANTIGO REINO ................................................................... 33
REINO MÉDIO ..................................................................... 37

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[ 6 ]
NOVO REINO ..................................................................... 41
PERÍODO TARDIO ............................................................ 50
PERÍODO PTOLEMAICO ................................................... 57
DECLÍNIO E ABANDONO ................................................. 61
RESTOS ............................................................................... 64
GRANDE TEMPLO DE PTAH ........................................... 65
TEMPLO DE PTAH DE RAMSÉS II .................................. 68
TEMPLO DE PTAH E SEKHMET DE RAMSÉS II ........... 69
TEMPLO DE PTAH DE MERNEPTAH ............................. 71
TEMPLO DE HATHOR ....................................................... 73
OUTROS TEMPLOS ........................................................... 75
TEMPLOS PARA DIVINDADES ESTRANGE IRAS ........ 76
TEMPLO DE SEKHMET ................................................... 77
TEMPLO DE APIS .............................................................. 78
TEMPLO DE AMON .......................................................... 82
TEMPLO DE ATON ........................................................... 82
ESTÁTUAS DE RAMSÉS II ................................................ 83

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[ 7 ]
NECRÓPOLE DE MENFITA ............................................ 86
PALÁCIOS REAIS ................................................................ 89
OUTROS EDIFÍCIOS .......................................................... 91
RELATOS HISTÓRICOS E E XPLORAÇÃO ..................... 93
FONTES DA ANTIGUIDADE ........................................... 94
SÉCULO DEZENOVE ........................................................ 99
SÉCULO VINTE ................................................................ 104
APÉNDICE 1 ....................................................................... 111

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[ 8 ]
DEDICATÓRIA

Dedico este livro ao nosso guia no Egito, Bassan,
que em maio de 2023 nos levou por vários caminhos na
terra dos faraós e também tivemos o prazer de visitar a
antiga capital do Egito, Mênfis. Bassan costumava
chamar os integrantes da caravana de família. Deus nos
ajudou a conhecer tantos lugares maravilhosos, entre
estes, a cidade de Mênfis que tantas vezes vimos e
ouvimos falar em TV, livros, revistas e vídeos.


Com a bandeira do Brasil na mão, nosso guia
egípcio e egiptólogo Bassan nos ensinava muito sobre o
Egito.

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[ 9 ]
INTRODUÇÃO

Em maio de 2023 visitei a cidade de Mênfis no
Egito e fiquei emocionado. Fiquei arrepiado, meus olhos
se encheram de lágrimas, um sentimento muito estranho,
como se eu ali sentisse toda a história que foi vivida
naquele lugar. O colosso de Ramsés II deitado provocou-
me emoções a ponto que eu não só tocava nela como
lixava minha mão como querendo que o pó da estátua
pudesse penetrar nos meus poros. NO pátio a esfinge de
alabastro, os sarcófagos, os vasos, os objetos espalhado
por todo lado a céu aberto, eu fiquei maravilhado com
tantos artefatos da antiguidade que estavam ali
espalhados, imagino a fortuna e o valor inestimável
daqueles objetos. Eu não perdi oportunidade e recolhi
pelo menos pedras do chão de Mênfis e trouxe para
minha coleção de mineralogia. Eu sinceramente fiquei em
choque emocional em poder visitar tudo aquilo. Eu só
ouvia a voz de Deus dentro de mim: “Esta viagem foi um
presente meu para você.” Quem puder, visite Mênfis, mas
antes leia este livro.

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[ 10 ]
ORIGEM ETIMOLÓGICA

Memphis ou Men -nefer (árabe: فْنَم Manf
pronunciado [mænf]; grego: Μέμφις) foi a antiga capital
de Inebu-hedj, o primeiro nomo do Baixo Egito conhecido
como mḥw ("norte"). Suas ruínas estão localizadas nas
proximidades da atual vila de Mit Rahina (árabe: تيم ةنيهر),
em markaz (condado) de Badrashin, Gizé, Egito. Seu
nome é derivado do antigo nome egípcio antigo para
Memphis mjt-rhnt, que significa "Estrada das Esfinges
com Cabeça de Carneiro". [2]


TOPONÍMIA

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[ 11 ]
Memphis (mn nfr)
Memphis teve vários nomes durante sua história
de quase quatro milênios. Seu antigo nome egípcio era
Inebu-hedj (traduzido como "as paredes brancas").
Devido ao seu tamanho, a cidade também passou
a ser conhecida por vários outros nomes que eram nomes
de bairros ou distritos que gozaram de grande destaque
em um momento ou outro. Por exemplo, de acordo com
um texto do Primeiro Período Intermediário, era
conhecido como Djed-Sut ("lugares eternos"), que é o
nome da pirâmide de Teti.

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[ 12 ]
A certa altura, a cidade foi referida como Ankh-
Tawy (que significa "Vida das Duas Terras"), enfatizando
a posição estratégica da cidade entre o Alto Egito e o
Baixo Egito. Este nome parece datar do Império do Meio
(aC. 2055–1640 aC) e é freqüentemente encontrado em
textos egípcios antigos. Alguns estudiosos afirmam que
esse nome era de uma área que continha uma árvore
sagrada, o distrito oeste da cidade que ficava entre o
grande Templo de Ptah e a necrópole de Saqqara.
{Estas lendas e mitos antigos de árvore sagrada
nos remete ao longícuo passado no Jardim do Éden e a
árvore da vida e a árvore do Bem e do Mal.}
No início do Novo Império (c. 1550 aC), a cidade
tornou-se conhecida como mn-nfr (como Men-nefer, que
significa "duradoura e bela"), que se tornou "Memfi" em
bohairic copta. O nome "Memphis" (Μέμφις) é a
adaptação grega do nome que deram à pirâmide de Pepi
I,[Fnt 1] localizada a oeste da cidade.
A cidade moderna Mit Rahina provavelmente
recebeu seu nome do nome egípcio antigo para Memphis

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[ 13 ]
mjt-rhnt, que significa "Estrada das Esfinges com Cabeça
de Carneiro", sendo uma referência à antiga ponte que
ligava Memphis e Saqqara, na qual a procissão do touro
morto viajou para o enterro no Serapeum de Saqqara
LOCALIZAÇÃO


Junto com os campos de pirâmides que se
estendem em um planalto desértico por mais de trinta
quilômetros a oeste, incluindo as famosas Pirâmides de
Gizé, eles foram listados como Patrimônio da

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 14 ]
Humanidade, Memphis e sua necrópole. O sitio está
aberto ao público como um museu ao ar livre.
A cidade de Memphis fica a 20 km (12 milhas) ao
sul do Cairo, na margem oeste do Nilo. As cidades e vilas
modernas de Mit Rahina, Dahshur, Abusir, Abu Gorab e
Zawyet el'Aryan, ao sul do Cairo, estão todas dentro das
fronteiras administrativas da histórica Memphis
(29°50′58.8″N 31°15′15.4″E ). A cidade também era o
local que marcava a fronteira entre o Alto Egito e o Baixo
Egito. (O 22º nomo do Alto Egito e 1º nomo do Baixo
Egito).
FUNDADOR

Segundo lendas relatadas no início do século III
aC por Manetho, um sacerdote e historiador que viveu no
reino ptolomaico durante o período helenístico do antigo
Egito, a cidade foi fundada pelo rei Menes. Foi a capital
do antigo Egito (Kemet ou Kumat) durante o Império
Antigo e permaneceu uma cidade importante ao longo da
história egípcia antiga. Ocupava uma posição estratégica
na foz do delta do Nilo e abrigava uma atividade intensa.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 15 ]
Seu principal porto, Peru-nefer (não confundir com Peru-
nefer em Avaris), apresentava uma alta densidade de
oficinas, fábricas e armazéns que distribuíam alimentos e
mercadorias por todo o antigo reino. Durante sua idade de
ouro, Memphis prosperou como um centro regional de
comércio, negócios e religião.



HISTÓRIA LENDÁRIA

A lenda registrada por Manetho foi que Menes, o
primeiro rei a unir as Duas Terras, estabeleceu sua capital
nas margens do Nilo desviando o rio com diques. O

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[ 16 ]
historiador grego Heródoto, que conta uma história
semelhante, relata que durante sua visita à cidade, os
persas, então suseranos do país, prestaram atenção
especial ao estado dessas barragens para que a cidade
fosse salva das inundações anuais. inundações. Foi
teorizado que Menes pode ter sido um rei mítico,
semelhante a Romulus de Roma. Alguns estudiosos
sugerem que o Egito provavelmente se uniu por
necessidade mútua, desenvolvendo laços culturais e
parcerias comerciais, embora seja indiscutível que a
primeira capital do Egito unificado foi a cidade de
Memphis. Alguns egiptólogos identificaram o lendário
Menes com o Narmer histórico, que está representado na
Paleta de Narmer conquistando o território do Delta do
Nilo no Baixo Egito e estabelecendo-se como rei. Esta
paleta foi datada de aC. Século 31 aC e, portanto, estaria
correlacionado com a lenda da unificação do Egito por
Menes. No entanto, em 2012, uma inscrição descrevendo
a visita do rei pré-dinástico Iry-Hor a Memphis foi
descoberta no Sinai. Uma vez que Iry-Hor é anterior a
Narmer por duas gerações, este último não pode ter sido
o fundador da cidade. Alternativamente, Epaphus (rei do

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[ 17 ]
Egito, cuja esposa era Memphis) é considerado nos mitos
gregos como o fundador de Memphis, Egito.

PATRONO

Acreditava-se que Memphis estava sob a
proteção do deus Ptah, o patrono dos artesãos. Seu
grande templo, Hut-ka-Ptah (que significa "Recinto do ka
de Ptah"), era uma das estruturas mais proeminentes da
cidade. Acredita-se que o nome deste templo, traduzido
em grego como Aἴγυπτoς (Ai-gy-ptos) por Manetho, seja a
origem etimológica do nome moderno Egito.

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[ 18 ]
QUEDA DE MÊNFIS

A história de Memphis está intimamente ligada à
do próprio país. Acredita-se que sua eventual queda
tenha sido devido à perda de sua importância econômica
no final da antiguidade, após a ascensão da costa de
Alexandria. Seu significado religioso foi diminuído após o
abandono da antiga religião após o Édito de Tessalônica
(380 DC), que fez do Cristianismo Niceno a única religião
do império romano. Hoje, as ruínas da antiga capital
oferecem evidências fragmentadas de seu passado.
MITOLOGIA

Ao tentar desenhar a história egípcia antiga e
elementos religiosos em suas próprias tradições, o poeta
grego Hesíodo em sua Teogonia explicou o nome da
cidade dizendo que Memphis era filha do deus grego do
rio Nilus e a esposa de Epaphus (o filho de Zeus e Io),
que fundou a cidade e deu-lhe o nome de sua esposa.

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[ 19 ]
BÍBLIA
Na Bíblia, Memphis é chamada de Moph.
Uma das capitais do antigo Egito, identificada
com as ruínas em Mit Rahiney, a uns 23 km ao S do
Cairo, na margem O do rio Nilo. Mênfis, por muito tempo,
era a cidade mais importante do “Baixo Egito” (quer dizer,
da região do Delta e duma pequena seção ao S dele).

Em Oseias 9:6, a cidade é chamada de Mof, no
texto hebraico (vertido “Mênfis” na maioria das traduções
em português). Em outros lugares é chamada pela

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[ 20 ]
palavra hebraica Nof (Nofe). — Is 19:13; Je 2:16; 44:1;
46:14, 19; Ez 30:13, 16.
História. Segundo uma lenda, contada pelo
historiador grego Heródoto (II, 99), Mênfis foi fundada por
um governante chamado Menés; no entanto, não se
encontrou nenhuma evidência histórica deste suposto
fundador da “Primeira Dinastia” de governantes egípcios.
A localização geográfica de Mênfis era ideal para
ela ser capital desta terra do Nilo. Situada apenas um
pouco ao S do ápice do Delta (quer dizer, do ponto em
que o rio Nilo se divide nos seus braços), podia exercer
controle não só sobre a região do Delta ao norte, mas
também sobre o tráfego no Nilo. O deserto e montanhas
dificultavam o acesso à cidade do O, e o próprio Nilo e os
morros além dele serviam como proteção no L. De modo
que Mênfis, na fronteira entre o Alto (meridional) e o Baixo
(setentrional) Egito, antigamente retinha a chave para
todo o Egito, bem similar ao atual Cairo numa região
próxima.

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[ 21 ]
Comercial. A cidade era um grande centro
comercial em toda a sua história, declinando só depois da
conquista grega, quando Alexandria, na costa
setentrional, tornou-se o porto mais movimentado do país.
Segundo alguns historiadores, Mênfis ficou famosa pela
sua manufatura de vidro, sendo Roma o principal
importador das suas mercadorias. Cultivavam-se também
acácias naquela região, para fornecer madeira para a
fabricação de mobília, de navios para a marinha do Egito
e de armas militares.

Política. Também em sentido político, Mênfis tinha
grande destaque, em especial durante o período que os

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[ 22 ]
egiptólogos chamam de “Antigo Império” e até o “Médio
Império”. A maioria dos historiadores acredita que a sede
do governo das primeiras dinastias era em Mênfis,
embora talvez por algum tempo fosse mudada para
Tebas (a bíblica Nô-Amom, a uns 480 km mais ao S).
Parece provável que a capital ainda era Mênfis quando
Abraão visitou o Egito e teve aquela experiência com o
Faraó governante. — Gên 12:10-20.
A evidência bíblica parece indicar que, durante o
tempo em que os israelitas passaram no Egito, a capital
egípcia se encontrava no Baixo Egito (setentrional), com
acesso razoavelmente fácil da terra de Gósen, onde os
israelitas moravam. (Gên 47:1, 2; veja GÓSEN N.º 1.)
Encontrar-se Moisés com Faraó “à beira do rio Nilo”
parece favorecer a ideia de que a capital era Mênfis, em
vez de ela se encontrar rio abaixo, na região do Delta
(conforme alguns sugerem), porque o Nilo se divide em
diversos braços ao chegar ao Delta. — Êx 7:15.
Mênfis, por causa do seu destaque, figura em
diversas profecias que envolvem o Egito. Em Jeremias
2:16, o profeta falou que Nofe (Mênfis) e Tafnes (uma

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[ 23 ]
cidade na região do Delta) “se alimentavam de [Israel], no
alto da cabeça”, isto é, despojando Israel e como que
tornando-o calvo. Isto significava uma humilhação do
professo povo de Deus, acompanhado por lamentos.
(Veja 2Rs 2:23; Is 22:12.) No caso tanto do reino
setentrional de Israel como do reino meridional (Judá), o
Egito, conforme aqui representado por Mênfis e Tafnes,
mostrou-se fútil como fonte de esperada ajuda e apoio,
enquanto, ao mesmo tempo, mostrava-se disposto a
explorar o povo pactuado de Deus para proveitos
egoístas. — Os 7:11; Is 30:1-3; 2Rs 23:31-35.

Religiosa. Mênfis era centro de religião e de
erudição no Egito, mas, lá no oitavo século AEC, Isaías

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[ 24 ]
predisse que a propalada sabedoria dos príncipes (talvez
de príncipes sacerdotais) de Nofe (Mênfis) falharia e que
o Egito seria desencaminhado. (Is 19:13) Esses
conselheiros evidentemente fomentavam um falso senso
de segurança no Egito com respeito ao poder agressivo
da Assíria.
Encontraram-se em Mênfis monumentos do
reinado do rei etíope Tiraca sobre o Egito. Embora Tiraca
conseguisse sobreviver ao seu encontro com o rei assírio
Senaqueribe, em Canaã (732 AEC; 2Rs 19:9), o filho de
Senaqueribe, Esar-Hadom, mais tarde destroçou o
exército egípcio, obrigando-o a retirar-se para Mênfis. O
registro do próprio Esar-Hadom a respeito do conflito
subsequente reza: “Sitiei Mênfis, sua [de Tiraca]
residência real, e conquistei-a em meio dia por meio de
galerias subterrâneas, brechas e escadas de ataque;
destruí[-a], derrubei (suas muralhas) e incendiei-a.”
(Ancient Near Eastern Texts [Textos Antigos do Oriente
Próximo], editado por J. Pritchard, 1974, p. 293) Pelo que
parece, poucos anos depois, as forças egípcias
retomaram Mênfis, massacrando a guarnição assíria.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 25 ]
Mas, Assurbanipal, filho de Esar-Hadom, marchou para o
Egito e expulsou os governantes de Mênfis e os impeliu
de volta Nilo acima (para o sul).

Quando a Assíria passou a declinar, em fins do
sétimo século AEC, Mênfis voltou a estar sob pleno
controle egípcio. Depois que o rei babilônio
Nabucodonosor desolou Judá em 607 AEC, refugiados
judeus fugiram para o Egito, passando a morar em Mênfis
e em outras cidades. (Je 44:1) Jeová, por meio dos seus
profetas Jeremias e Ezequiel, condenou-os ao desastre e
predisse que Nabucodonosor aplicaria ao Egito um golpe
devastador, devendo Mênfis (Nofe) sofrer a plena força do
ataque. (Je 44:11-14; 46:13, 14, 19; Ez 30:10-13) Os

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 26 ]
babilônios que atacariam Mênfis se lançariam
confiantemente contra a cidade em plena luz do dia. — Ez
30:16.
Mênfis sofreu de novo uma grave derrota às mãos
do rei persa Cambises, em 525 AEC, tornando-se depois
a sede duma satrapia persa. A cidade nunca se
restabeleceu plenamente dos efeitos desta conquista.
Com a ascensão de Alexandria, sob os ptolomeus, Mênfis
declinou constantemente, e, por volta do sétimo século da
Era Comum, já se tornara vastas ruínas.
Mênfis estava entre as principais cidades
sagradas do antigo Egito, ao lado da vizinha Om
(Heliópolis). (Gên 41:50) Especialmente importantes eram
os santuários dedicados ao deus Ptá e ao touro sagrado,
Ápis. O deus Ptá, segundo a “teologia menfita”, elaborada
pelos sacerdotes de Mênfis, era o criador (compartilhando
esta distinção com outros deuses, tais como Tot, Rá e
Osíris), e suas atividades mitológicas aparentemente
eram modeladas segundo o papel realmente
desempenhado pelo Faraó nos assuntos humanos.
Historiadores clássicos descrevem o templo de Ptá, em

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 27 ]
Mênfis, como periodicamente ampliado e embelezado.
Era adornado por enormes estátuas.

O touro Ápis, um touro vivo, especialmente
marcado, era mantido em Mênfis e adorado como
encarnação do deus Osíris, embora em certas lendas
também seja relacionado com o deus Ptá. Na sua morte,
realizava-se luto público, e fazia-se um impressionante
sepultamento do touro na vizinha Sacara. (No século 19,
quando se abriu ali o túmulo, os investigadores
encontraram os cadáveres embalsamados de mais de 60
touros e vacas.) A escolha dum novo touro Ápis e sua
entronização em Mênfis eram uma cerimônia igualmente

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 28 ]
suntuosa. Esta adoração talvez tenha influenciado os
israelitas rebeldes na sua ideia de adorar a Jeová por
meio dum bezerro de ouro. (Êx 32:4, 5) A adoração da
deusa estrangeira Astarte também tinha destaque em
Mênfis, e havia templos dedicados a deuses e deusas
egípcios, tais como Hator, Amom, Imotep, Ísis, Osíris-
Socar, Anúbis e outros. Toda esta série de deidades
antigas e seus ídolos haviam de ser destruídos por
julgamento divino. — Ez 30:13.
Sítios de sepultamento da realeza. A evidência da
importância de Mênfis no passado pode ser vista nas
vastas áreas de sepultamento perto do lugar antigo, áreas
que contêm umas 20 pirâmides ou túmulos monumentais
de reis. A proeminência de Mênfis como sítio de
sepultamento de reis, sem dúvida, é refletida na profecia
de Oseias contra o Israel sem fé, no oitavo século AEC,
no sentido de que “o próprio Egito os reunirá; Mênfis, da
sua parte, os sepultará”. (Os 9:6) Entre as pirâmides
encontradas em Sacara, perto de Mênfis, está a Pirâmide
dos Degraus, construída pelo Rei Zoser (“Terceira
Dinastia”), considerada a mais antiga construção livre de

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 29 ]
pedras conhecida. Mais ao ONO de Mênfis existem as
muito mais impressionantes pirâmides de Gizé e a
Grande Esfinge. Atualmente, esses túmulos, e
construções similares de pedra, são tudo o que resta para
indicar a passada glória religiosa de Mênfis. Conforme
predito, a cidade tornou-se “mero assombro”. — Je 46:19.
[1]
ISLAMISMO
A tradição muçulmana adotou a etimologia copta
que opera com um étimo Māfah, derivado do copta lit.
'trinta'. Isso tornou o número significativo nas seguintes
tradições relacionadas a Memphis: tinha trinta milhas de
comprimento, Manqāwus o construiu para suas trinta
filhas e Baysar viveu aqui com seus trinta filhos.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 30 ]
Memphis e sua necrópole Saqqara vista da
Estação Espacial Internacional

POPULAÇÃO

Hoje, a pegada da cidade antiga é desabitada. O
assentamento moderno mais próximo é a cidade de Mit
Rahina. As estimativas do tamanho histórico da
população diferem amplamente entre as fontes. De
acordo com Tertius Chandler, Memphis tinha cerca de
30.000 habitantes e foi de longe o maior assentamento do
mundo desde a época de sua fundação até

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 31 ]
aproximadamente 2250 aC e de 1557 a 1400 aC. K. A.
Bard é mais cauteloso e estima que a população da
cidade era de aproximadamente 6.000 habitantes durante
o Antigo Império. [2]
CENTRO DE ADORAÇÃO

Objeto ritualístico representando o deus
Nefertem, que era adorado principalmente em
Memphis,The Walters Art Museum

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[ 32 ]
Durante o Antigo Império, Memphis tornou-se a
capital do Antigo Egito por mais de oito dinastias
consecutivas. A cidade atingiu um pico de prestígio sob a
Sexta Dinastia como um centro de adoração a Ptah, o
deus da criação e das obras de arte. A esfinge de
alabastro que guarda o Templo de Ptah serve como um
memorial do antigo poder e prestígio da cidade. A tríade
de Memphis, composta pelo deus criador Ptah, sua
consorte Sekhmet e seu filho Nefertem, formavam o
principal foco de adoração na cidade.
Ptah, Sekmet e Nefertem representavam de certa
forma a crença universal em um Deus triuno como revela
a Bíblia Sagrada. Os gentios em muitos povos tinham
uma noção deturpada da triunidade de Deus, crendo em
tríades de deuses, como uma corrupção da religião
original do Jardim do Éden.
Memphis declinou após a Décima Oitava Dinastia
com a ascensão de Tebas e do Novo Reino, mas foi
revivida sob os persas, antes de cair firmemente para o
segundo lugar após a fundação de Alexandria. Sob o
Império Romano, Alexandria continuou sendo a cidade

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 33 ]
egípcia mais importante. Memphis permaneceu a
segunda cidade do Egito até o estabelecimento de Fustat
(ou Fostat) em 641 DC. Posteriormente, foi amplamente
abandonada e tornou-se uma fonte de pedra para os
assentamentos vizinhos. Ainda era um imponente
conjunto de ruínas no século XII, mas logo se tornou
pouco mais que uma extensão de ruínas baixas e pedras
espalhadas.
ANTIGO REINO

Pouco se sabe sobre a cidade do Reino Antigo.
Foi a capital do estado dos reis poderosos, que reinaram
a partir de Memphis desde a data da Primeira Dinastia.
De acordo com Manetho, durante os primeiros anos do
reinado de Menes, a sede do poder ficava mais ao sul,
em Thinis. De acordo com Manetho, fontes antigas
sugerem que as "paredes brancas" (Ineb -hedj) ou
"fortaleza da parede branca" foram fundadas por Menes.
É provável que o rei tenha se estabelecido ali para melhor
controlar a nova união entre os dois reinos que antes

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 34 ]
eram rivais. O complexo de Djoser da Terceira Dinastia,
localizado na antiga necrópole de Saqqara, seria então a
câmara funerária real, abrigando todos os elementos
necessários à realeza: templos, santuários, cortes
cerimoniais, palácios e quartéis.

A idade de ouro começou com a Quarta Dinastia,
que parece ter promovido o papel principal de Memphis
como residência real onde os governantes recebiam a
coroa dupla, a manifestação divina da unificação das
Duas Terras. Coroações e jubileus, como o festival Sed,
eram celebrados no templo de Ptah. Os primeiros sinais

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 35 ]
de tais cerimônias foram encontrados nos aposentos de
Djoser.
Durante este período, o clero do templo de Ptah
surgiu. A importância do templo é atestada com
pagamentos de alimentos e outros bens necessários para
os ritos funerários de dignitários reais e nobres. Este
templo também é citado nos anais preservados na Pedra
de Palermo e, a partir do reinado de Menkaura,
conhecemos os nomes dos sumos sacerdotes de
Memphis que parecem ter trabalhado em pares, pelo
menos até o reinado de Teti.
A arquitetura deste período era semelhante à
vista na necrópole real de Gizé da Quarta Dinastia, onde
escavações recentes revelaram que o foco essencial do
reino naquela época centrava-se na construção dos
túmulos reais. Uma forte sugestão dessa noção é a
etimologia do próprio nome da cidade, que correspondia à
da pirâmide de Pepi I da Sexta Dinastia. Memphis era
então herdeira de uma longa prática artística e
arquitetônica, constantemente incentivada pelos
monumentos dos reinados anteriores.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 36 ]

Escultura do Reino do Meio restaurada em nome
de Ramsés II.
Todas essas necrópoles eram cercadas por
acampamentos habitados por artesãos e trabalhadores,
dedicados exclusivamente à construção de túmulos reais.
Espalhada por vários quilômetros em todas as direções,
Memphis formou uma verdadeira megalópole, com
templos conectados por temenos sagrados e portos
conectados por estradas e canais. O perímetro da cidade,
assim, gradualmente se estendeu em uma vasta
expansão urbana. Seu centro permaneceu em torno do
complexo do templo de Ptah.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 37 ]
REINO MÉDIO

No início do Império do Meio, a capital e a corte
do rei mudaram-se para Tebas, no sul, deixando Memphis
por um tempo. Embora a sede do poder político tenha
mudado, Memphis permaneceu talvez o mais importante
centro comercial e artístico, como evidenciado pela
descoberta de distritos de artesanato e cemitérios,
localizados a oeste do templo de Ptah.

Também foram encontrados vestígios que
atestam o enfoque arquitetônico desta época. Uma

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 38 ]
grande mesa de oferendas de granito em nome de
Amenemhat menciona a construção pelo rei de um
santuário ao deus Ptah, mestre da Verdade. Outros
blocos registrados em nome de Amenemhat II foram
encontrados para serem usados como fundações para
grandes monólitos que precedem os pilares de Ramsés II.
Esses reis também eram conhecidos por terem ordenado
expedições de mineração, ataques ou c ampanhas
militares além das fronteiras, erguendo monumentos ou
estátuas para a consagração de divindades, evidenciadas
por um painel registrando atos oficiais da corte real
durante esse período. Nas ruínas do Templo de Ptah, um
bloco com o nome de Senusret II traz uma inscrição
indicando uma comissão arquitetônica como um presente
para as divindades de Memphis. Além disso, muitas
estátuas encontradas no local, posteriormente
restauradas pelos reis do Império Novo, são atribuídas a
reis da Décima Segunda Dinastia. Exemplos incluem os
dois gigantes de pedra que foram recuperados entre as
ruínas do templo, que mais tarde foram restaurados sob o
nome de Ramsés II.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 39 ]

Finalmente, de acordo com a tradição registrada
por Heródoto, e Diodoro, Amenemhat III construiu o
portão norte do Templo de Ptah. Restos atribuídos a este
rei foram de fato encontrados durante as escavações
nesta área conduzidas por Flinders Petrie, que confirmou
a conexão. Também é importante notar que, durante este
tempo, mastabas dos sumos sacerdotes de Ptah foram
construídas perto das pirâmides reais em Saqqara,
mostrando que a realeza e o clero de Memphis naquela
época estavam intimamente ligados. A Décima Terceira
Dinastia continuou esta tendência, e alguns reis desta

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 40 ]
linha foram enterrados em Saqqara, atestando que
Memphis manteve seu lugar no coração da monarquia.

Com a invasão dos hicsos e sua ascensão ao
poder ca. 1650 aC, a cidade de Memphis foi sitiada. Após
sua captura, muitos monumentos e estátuas da antiga
capital foram desmantelados, saqueados ou danificados
pelos reis hicsos, que mais tarde os levaram para adornar
sua nova capital em Avaris. [Fnt 2] Evidências de
propaganda real foram descobertas e atribuídas aos reis

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 41 ]
tebanos da Décima Sétima Dinastia, que iniciaram a
reconquista do reino meio século depois. [2]

NOVO REINO

A Décima Oitava Dinastia abriu-se assim com a
vitória dos tebanos sobre os invasores. Embora os
reinados de Amenhotep II (r. 1427–1401/1397 aC) e
Thutmose IV (r. 1401/1397–1391/1388 aC) tenham visto
considerável foco real em Memphis, mas na maior parte,
o poder permaneceu no sul. Com o longo período de paz
que se seguiu, a prosperidade voltou a tomar conta da
cidade, que se beneficiou de sua posição estratégica. O
fortalecimento dos laços comerciais com outros impérios
significou que o porto de Peru-nefer (literalmente significa
"Bon Voyage") tornou-se a porta de entrada do reino para
as regiões vizinhas, incluindo Byblos e o Levante.
No Novo Reino, Memphis tornou-se um centro de
educação dos príncipes reais e dos filhos da nobreza.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 42 ]
Amenhotep II, nascido e criado em Memphis, foi nomeado
setem - o sumo sacerdote do Baixo Egito - durante o
reinado de seu pai. Seu filho, Thutmose IV, recebeu seu
sonho famoso e registrado enquanto residia como um
jovem príncipe em Memphis. Durante sua exploração do
local, Karl Richard Lepsius identificou uma série de blocos
e colunatas quebradas em nome de Tutmés IV a leste do
Templo de Ptah. Eles tinham que pertencer a um edifício
real, provavelmente um palácio cerimonial.

A fundação do templo de Astarte (deusa
mespotâmica ou assíria da fertilidade e da guerra;
babilônica = Ishtar), que Heródoto sincreticamente

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 43 ]
entende ser dedicado à deusa grega Afrodite, também
pode ser datada da Décima Oitava Dinastia,
especificamente o reinado de Amenhotep III ( r. 1388/86–
1351/1349 aC). A maior obra deste rei em Memphis, no
entanto, foi um templo chamado "Nebmaatra unido a
Ptah", que é citado por muitas fontes do período de seu
reinado, incluindo artefatos que listam as obras de Huy, o
Alto Regente de Memphis. A localização deste templo não
foi determinada com precisão, mas descobriu-se que
vários de seus blocos de quartzito marrom foram
reutilizados por Ramsés II (r. 1279–1213 aC) para a
construção do pequeno templo de Ptah. Isso leva alguns
egiptólogos a sugerir que o último templo foi construído
no local do primeiro.
De acordo com inscrições encontradas em
Memphis, Akhenaton (r. 1353/51 –1336/34 aC;
anteriormente Amenhotep IV) fundou um templo de Aton
na cidade. A câmara mortuária de um dos sacerdotes
deste culto foi descoberta em Saqqara. Seu sucessor
Tutancâmon (r. 1332 –1323 aC; anteriormente
Tutankhaten) mudou a corte real da capital de Akhenaton,

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 44 ]
Akhetaten ("Horizonte de Aton") para Memphis antes do
final do segundo ano de seu reinado. Enquanto em
Memphis, Tutancâmon iniciou um período de restauração
dos templos e tradições após a era do atenismo, que
passou a ser considerada heresia.

Os túmulos de importantes oficiais de seu
reinado, como Horemheb e Maya, estão situados em
Saqqara, embora Horemheb tenha sido enterrado no Vale
dos Reis após reinar como rei (r. 1319–1292 aC). Ele
havia sido comandante do exército sob Tutancâmon e Ay.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 45 ]
Maya foi superintendente do tesouro durante os reinados
de Tutancâmon, Ay e Horemheb. Ay foi o ministro-chefe
de Tutancâmon e o sucedeu como rei (r. 1323–1319 aC).
Para consolidar seu poder, ele se casou com a viúva de
Tutankhamon, Ankhesenamun, a terceira das seis filhas
de Akhenaton e Nefertiti. Seu destino é desconhecido. Da
mesma forma, Horemheb consolidou o poder quando se
casou com a irmã de Nefertiti, Mutnodjemet.

Há evidências de que, sob Ramsés II, a cidade
ganhou nova importância na esfera política devido à sua
proximidade com a nova capital Pi-Ramsés. O rei dedicou
muitos monumentos em Memphis e os adornou com

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 46 ]
símbolos colossais de glória. Merneptah (r. 1213–1203
aC), seu sucessor, construiu um palácio e desenvolveu a
parede sudeste do templo de Ptah. No início da 19ª
Dinastia, Memphis recebeu os privilégios da atenção real,
e é esta dinastia que é mais evidente entre as ruínas da
cidade hoje.

Relevo representando o Sumo Sacerdote de
Ptah, Shoshenq
Com a Vigésima Primeira e a Vigésima Segunda
Dinastias, dá-se a continuação do desenvolvimento
religioso iniciado por Ramsés. Memphis não parece ter

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 47 ]
sofrido um declínio durante o Terceiro Período
Intermediário, que viu grandes mudanças na geopolítica
do país. Em vez disso, é provável que os reis tenham
trabalhado para desenvolver o culto menfita em sua nova
capital, Tanis, a nordeste. À luz de alguns restos
encontrados no local, sabe-se que um templo de Ptah foi
baseado lá. Siamun é citado como tendo construído um
templo dedicado a Amon, cujos restos foram encontrados
por Flinders Petrie no início do século XX, no sul do
complexo do templo de Ptah.

De acordo com as inscrições que descrevem sua
obra arquitetônica, Sheshonk I (r. 943–922 aC), fundador
da Vigésima Segunda Dinastia, construiu um pátio e um

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 48 ]
pilão do templo de Ptah, um monumento que ele chamou
de "Castelo de Milhões de Anos". de Sheshonk, Amado
de Amon".

O culto funerário em torno deste monumento,
bem conhecido no Império Novo, ainda funcionava várias
gerações depois de seu estabelecimento no templo,
levando alguns estudiosos a sugerir que ele poderia
conter a câmara funerária real do rei.[44] Sheshonk
também ordenou a construção de um novo santuário para
o deus Apis, especialmente dedicado a cerimônias

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 49 ]
fúnebres nas quais o touro era levado à morte antes de
ser ritualmente mumificado.

Uma necrópole para os sumos sacerdotes de
Memphis datando precisamente da Vigésima Segunda
Dinastia foi encontrada a oeste do fórum. Incluía uma
capela dedicada a Ptah por um príncipe Shoshenq, filho
de Osorkon II (r. 872–837 aC), cujo túmulo foi encontrado
em Saqqara em 1939 por Pierre Montet. A capela é
atualmente visível nos jardins do Museu Egípcio do Cairo,

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 50 ]
atrás de um trio de colossos de Ramsés II, também de
Memphis. [2]
PERÍODO TARDIO

Durante o Terceiro Período Intermediário e o
Período Tardio, Memphis é frequentemente palco de lutas
de libertação das dinastias locais contra uma força de
ocupação, como os Kushitas, Assírios e Persas. A
campanha triunfante de Piankhi, governante dos Kushitas,
viu o estabelecimento da Vigésima Quinta Dinastia, cuja
sede do poder estava em Napata. A conquista do Egito
por Piankhi foi registrada na Estela da Vitória no Templo
de Amon em Gebel Barkal. Após a captura de Memphis,
ele restaurou os templos e cultos negligenciados durante
o reinado dos líbios. Seus sucessores são conhecidos por
construir capelas no canto sudoeste do templo de Ptah.
Memphis estava no centro da turbulência
produzida pela grande ameaça assíria. Sob Taharqa, a
cidade formou a base de fronteira da resistência, que logo
desmoronou quando o rei kushita foi rechaçado para a

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 51 ]
Núbia. O rei assírio Esarhaddon, apoiado por alguns dos
príncipes egípcios nativos, capturou Memphis em 671 AC.
Suas forças saquearam e invadiram a cidade,
massacraram aldeões e ergueram pilhas de suas
cabeças. Esarhaddon voltou para sua capital Nínive com
rico saque e ergueu uma estela da vitória mostrando o
filho de Taharqa acorrentado. Quase tão logo o rei partiu,
o Egito se rebelou contra o domínio assírio.

Na Assíria, Assurbanipal sucedeu a seu pai e
retomou a ofensiva contra o Egito. Em uma invasão

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 52 ]
massiva em 664 aC, a cidade de Memphis foi novamente
saqueada e saqueada, e o rei Tantamani foi perseguido
até a Núbia e derrotado, pondo fim definitivo ao reinado
kushita sobre o Egito. O poder então voltou para os reis
Saite, que, temerosos de uma invasão dos babilônios,
reconstruíram e até fortificaram estruturas na cidade,
como é atestado pelo palácio construído por Apries em
Kom Tuman.
O Egito e Memphis foram levados para a Pérsia
pelo rei Cambises em 525 aC após a Batalha de
Pelusium. Sob os persas, as estruturas da cidade foram
preservadas e fortalecidas, e Memphis tornou-se a sede
administrativa da satrapia recém-conquistada. Uma
guarnição persa foi instalada permanentemente dentro da
cidade, provavelmente na grande muralha norte, perto do
dominador palácio de Apries. As escavações de Flinders
Petrie revelaram que este setor incluía arsenais. Durante
quase um século e meio, a cidade manteve-se como
capital da satrapia persa do Egito ("Mudraya"/"Musraya"),
tornando-se oficialmente um dos epicentros do comércio

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 53 ]
no vasto território conquistado pela monarquia
aquemênida.

As estelas dedicadas a Apis no Serapeum em
Saqqara, encomendadas pelo monarca reinante,
representam um elemento chave na compreensão dos
eventos deste período. Tal como na Época Tardia, as
catacumbas onde se enterravam os restos dos touros
sagrados cresceram gradualmente, assumindo
posteriormente um aspecto monumental que confirma o
crescimento das hipóstases do culto por todo o país,

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 54 ]
particularmente em Mênfis e na sua necrópole. Assim, um
monumento dedicado por Cambises II parece refutar o
testemunho de Heródoto, que empresta aos
conquistadores uma atitude criminosa de desrespeito às
tradições sagradas.
O despertar nacionalista veio com a ascensão ao
poder, ainda que brevemente, de Amyrtaeus em 404 aC,
que acabou com a ocupação persa. Ele foi derrotado e
executado em Memphis em outubro de 399 aC por
Nepherites I, fundador da Vigésima Nona Dinastia. A
execução foi registrada em um documento de papiro
aramaico (Papyrus Brooklyn 13). Os neferitas mudaram a
capital para Mendes, no delta oriental, e Memphis perdeu
seu status na esfera política. Manteve, no entanto, sua
importância religiosa, comercial e estratégica e foi
fundamental para resistir às tentativas persas de
reconquistar o Egito.
Sob Nectanebo I, um grande programa de
reconstrução de templos foi iniciado em todo o país. Em
Memphis, uma poderosa nova parede foi reconstruída
para o Templo de Ptah, e foram feitos desenvolvimentos

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 55 ]
em templos e capelas dentro do complexo. Enquanto
isso, Nectanebo II, continuando o trabalho de seu
predecessor, começou a construir grandes santuários,
especialmente na necrópole de Saqqara, adornando-os
com pilares, estátuas e estradas pavimentadas ladeadas
por fileiras de esfinges. Apesar de seus esforços para
impedir a recuperação do país pelos persas, ele sucumbiu
a uma invasão em 340 aC. Nectanebo II recuou para o
sul, para Memphis, onde o rei aquemênida Artaxerxes III
sitiou, forçando o rei a fugir para o Alto Egito e,
eventualmente, para a Núbia.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 56 ]
Uma breve libertação da cidade sob o rei rebelde
Khababash (338 a 335 aC) é evidenciada por um
sarcófago de touro Apis com seu nome, que foi
descoberto em Saqqara datado de seu segundo ano. Os
exércitos de Dario III finalmente recuperaram o controle
da cidade.
Memphis sob o período tardio viu invasões
recorrentes seguidas de libertações sucessivas. Várias
vezes sitiada, foi palco de várias das batalhas mais
sangrentas da história do país. Apesar do apoio de seus
aliados gregos para minar a hegemonia dos
aquemênidas, o país caiu nas mãos dos conquistadores e
Memphis nunca mais se tornou a capital do país. Em 332
aC vieram os gregos, que tomaram o controle do país dos
persas, e o Egito nunca veria um novo governante nativo
ascender ao trono até a Revolução Egípcia de 1952. [2]

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 57 ]

Ruínas do palácio de Apries, em Mênfis.
PERÍODO PTOLEMAICO

Alexandre no Templo de Apis em Memphis, de
Andre Castaigne (1898–1899)

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 58 ]

Em 332 aC, Alexandre, o Grande, foi coroado rei
no Templo de Ptah, inaugurando o período helenístico. A
cidade manteve um status significativo, especialmente
religioso, durante todo o período após a aquisição por um
de seus generais, Ptolomeu I. Com a morte de Alexandre
na Babilônia (323 aC), Ptolomeu fez grandes esforços
para adquirir seu corpo e trazê-lo para Memphis.
Alegando que o rei havia expressado oficialmente o
desejo de ser enterrado no Egito, ele então carregou o
corpo de Alexandre para o coração do templo de Ptah e o
embalsamou pelos sacerdotes. Por costume, os reis da
Macedônia afirmavam seu direito ao trono enterrando seu
predecessor. Ptolomeu II mais tarde transferiu o
sarcófago para Alexandria, onde uma tumba real foi
construída para seu enterro. A localização exata da tumba
foi perdida desde então. De acordo com Aelian, o vidente
Aristander predisse que a terra onde Alexandre foi
colocado para descansar "seria feliz e invencível para
sempre".

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 59 ]
Assim começou a dinastia ptolomaica, durante a
qual começou o declínio gradual da cidade. Foi Ptolomeu
I quem primeiro introduziu o culto de Serapis no Egito,
estabelecendo seu culto em Saqqara. Deste período
datam muitos desenvolvimentos do Saqqara Serapeum,
incluindo a construção da Câmara dos Poetas, bem como
os dromos que adornam o templo e muitos elementos da
arquitetura de inspiração grega. A reputação do culto se
estendeu além das fronteiras do país, mas foi
posteriormente eclipsada pelo grande Serapeum
Alexandrino, construído em homenagem a Ptolomeu por
seus sucessores.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 60 ]
Os Decretos de Memphis foram emitidos em 216
e 196 aC, por Pt olomeu IV e Ptolomeu V,
respectivamente. Delegados dos principais clérigos do
reino reuniram-se em sínodo, sob o patrocínio do Sumo
Sacerdote de Ptah e na presença do rei, para estabelecer
a política religiosa do país para os próximos anos, ditando
também taxas e impostos, criando novos fundações e
prestando homenagem aos governante s ptolomaicos.
Esses decretos foram gravados em estelas em três
escritas para serem lidas e compreendidas por todos:
demótica, hieroglífica e grega. A mais famosa dessas
estelas é a Pedra de Roseta, que permitiu a decifração da
antiga escrita egípcia no século XIX. Outras estelas, desta
vez funerárias, descobertas no local permitiram conhecer
a genealogia do alto clero de Memphis, uma dinastia de
sumos sacerdotes de Ptah. A linhagem manteve fortes
laços com a família real de Alexandria, a ponto de
ocorrerem casamentos entre certos sumos sacerdotes e
princesas ptolomaicas, fortalecendo ainda mais o
compromisso entre as duas famílias. [2]

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 61 ]
DECLÍNIO E ABANDONO

Com a chegada dos romanos, Mênfis, como
Tebas, perdeu definitivamente seu lugar em favor de
Alexandria, que se abriu para o império. A ascensão do
culto de Serapis, uma divindade sincrética mais adequada
à mentalidade dos novos governantes do Egito, e o
surgimento do cristianismo se enraizando profundamente
no país, significaram a ruína completa dos antigos cultos
de Memphis.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 62 ]
Durante os períodos bizantino e copta, a cidade
diminuiu gradualmente e finalmente deixou de existir.
Tornou-se então uma pedreira de onde suas pedras
foram usadas para construir novos assentamentos nas
proximidades, incluindo Fustat, a nova capital fundada
pelos árabes que tomaram posse no século VII dC. As
fundações de Fustat e depois do Cairo, ambas
construídas mais ao norte, foram feitas com pedras de
templos desmantelados e antigas necrópoles de
Memphis. No século XIII, o cronista árabe Abd-ul-Latif, ao
visitar o local, descreveu e deu testemunho da
grandiosidade das ruínas.
Enorme como são a extensão e a antiguidade
desta cidade, apesar da frequente mudança de governos
cujo jugo ela suportou, e das grandes dores que mais de
uma nação tem feito para destruí-la, para varrer seu
último vestígio da face do terra, para levar embora as
pedras e materiais com os quais foi construída, para
mutilar as estátuas que a adornavam; apesar, finalmente,
de tudo o que mais de quatro mil anos fizeram além do
homem, essas ruínas ainda oferecem aos olhos do

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 63 ]
observador uma massa de maravilhas que confundem os
sentidos e que as penas mais hábeis não conseguem
descrever. Quanto mais profundamente contemplamos
esta cidade, mais aumenta nossa admiração, e cada novo
olhar para as ruínas é uma nova fonte de deleite... As
ruínas de Memphis duram meio dia de jornada em todas
as direções.

Embora os vestígios hoje não sejam nada
comparados ao que foi testemunhado pelo historiador
árabe, seu testemunho inspirou o trabalho de muitos
arqueólogos. Os primeiros levantamentos e escavações

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 64 ]
do século XIX, e o extenso trabalho de Flinders Petrie,
puderam mostrar um pouco da antiga glória da antiga
capital. Memphis e sua necrópole, que incluem tumbas de
pedra funerária, mastabas, templos e pirâmides, foram
inscritas na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO em
1979.
RESTOS

Durante a época do Novo Império, e
especialmente sob o reinado dos governantes da Décima
Nona Dinastia, Memphis floresceu em poder e tamanho,
rivalizando com Tebas tanto polític a quanto
arquitetonicamente. Um indicador desse desenvolvimento
pode ser encontrado em uma capela de Seti I dedicada
ao culto de Ptah. Depois de mais de um século de
escavações no local, os arqueólogos conseguiram
gradualmente confirmar o layout e a expansão da cidade
antiga.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 65 ]
GRANDE TEMPLO DE PTAH

Representação artística do pátio ocidental do
Grande Templo de Ptah em Memphis.

O Hout-ka-Ptah,[Fnt 3] dedicado à adoração do
deus criador Ptah, era o maior e mais importante templo
da antiga Memphis. Era uma das estru turas mais
proeminentes da cidade, ocupando um grande recinto no
centro da cidade. Enriquecido por séculos de veneração,
o templo foi um dos três principais locais de culto no
Antigo Egito, sendo os outros os grandes templos de Ra
em Heliópolis e de Amon em Tebas.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 66 ]
Muito do que se sabe hoje sobre o antigo templo
vem dos escritos de Heródoto, que visitou o local na
época da primeira invasão persa, muito depois da queda
do Novo Império. Heródoto alegou que o templo havia
sido fundado por Menes, e que o edifício principal do
complexo era restrito a sacerdotes e reis. Seu relato, no
entanto, não fornece nenhuma descrição física do
complexo. Trabalhos arqueológicos realizados no século
passado desenterraram gradualmente as ruínas do
templo, revelando um enorme com plexo murado
acessível por vários portões monumentais localizados ao
longo das paredes sul, oeste e leste.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 67 ]
Os restos do grande templo e suas instalações
são exibidos como um museu ao ar livre perto do grande
colosso de Ramsés II, que originalmente marcava o eixo
sul do templo. Também neste setor está um grande
monólito de esfinge, descoberto no século XIX. Data da
Décima Oitava Dinastia, provavelmente tendo sido
esculpida durante o reinado de Amenhotep II ou
Thutmose IV. É um dos melhores exemplos deste tipo de
estatuária ainda presente em seu local original. O museu
ao ar livre abriga inúmeras outras estátuas, colossos,
esfinges e elementos arquitetônicos. No entanto, a
maioria dos achados foi vendida para os principais
museus do mundo. Em sua maioria, eles podem ser
encontrados em exibição no Museu Egípcio do Cairo.
A aparência específica do templo não é clara no
momento, e apenas a do acesso principal ao perímetro é
conhecida. Desenvolvimentos recentes incluem a
descoberta de estátuas gigantes que adornavam os
portões ou torres. Os que foram encontrados datam do
reinado de Ramsses II. Este rei também construiu pelo
menos três santuários dentro do complexo do templo,

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 68 ]
onde a adoração é associada às divindades a quem eram
dedicados.

TEMPLO DE PTAH DE RAMSÉS I I

Este pequeno templo, adjacente ao canto
sudoeste do maior Templo de Ptah, foi dedicado ao
deificado Ramsés II, junto com as três divindades do
estado: Horus, Ptah e Amon. É conhecido na íntegra
como o Templo de Ptah de Ramsés, Amado de Amon,
Deus, Governante de Heliópolis.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 69 ]
Suas ruínas foram descobertas em 1942 pelo
arqueólogo Ahmed Badawy e foram escavadas em 1955
por Rudolf Anthes. As escavações descobriram um
edifício religioso completo com uma torre, um pátio para
oferendas rituais, um pórtico com colunas seguido por um
salão com pilares e um santuário tripartido, tudo cercado
por paredes construídas com tijolos de barro. Seu exterior
mais recente foi datado da era do Novo Reino.
O templo abria-se a leste em direção a um
caminho pavimentado com outros edifícios religiosos. As
explorações arqueológicas realizadas aqui revelam que a
parte sul da cidade contém, de fato, um grande número
de edifícios religiosos com uma devoção particular ao
deus Ptah, a principal divindade de Memphis.

TEMPLO DE PTAH E SEKH MET DE RAMSÉS II

Localizado mais a leste e perto do grande colosso
de Ramsés, este pequeno templo é atribuído à décima

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 70 ]
nona dinastia e parece ter sido dedicado a Ptah e sua
divina consorte Sekhmet, bem como ao deificado Ramsés
II. Suas ruínas não estão tão bem preservadas quanto
outras próximas, pois suas fundações de ca lcário
parecem ter sido extraídas após o abandono da cidade na
antiguidade tardia. [2]

Coluna representando Merenptah fazendo uma
oferenda a Ptah
Duas estátuas gigantes, datadas do Reino do
Meio, originalmente adornavam a fachada do edifício, que
se abria para o oeste. Eles foram movidos para dentro do

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 71 ]
Museu de Memphis e representavam o rei em pé n a
atitude da marcha, usando o Hedjet, a coroa branca do
Alto Egito.

TEMPLO DE PTAH DE MERNEPTAH

No sudeste do complexo do Grande Templo, o rei
Merneptah da Décima Nona Dinastia fundou um novo
santuário em homenagem à divindade principal da cidade,
Ptah. Este templo foi descoberto no início do século XX
por Flinders Petrie, que o identificou como uma
representação do deus grego Proteu citado por Heródoto.
O local foi escavado durante a Primeira Guerra
Mundial por Clarence Stanley Fisher. As escavações
começaram na parte anterior, que é formada por um
grande pátio de aproximadamente 15 metros quadrados,
abrindo a sul por uma grande porta com relevos que
fornecem os nomes do rei e os epítetos de Ptah. Apenas
esta parte do templo foi desenterrada; o restante da

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 72 ]
câmara ainda precisa ser explorado um pouco mais ao
norte. Durante as escavações, os arqueólogos
desenterraram os primeiros vestígios de um edifício
construído em tijolos de barro, que rapidamente se
revelou um grande palácio cerimonial construído ao lado
do templo propriamente dito. Alguns dos principais
elementos do templo de pedra foram doados pelo Egito
ao museu da Universidade da Pensilvânia, que financiou
a expedição, enquanto outros permaneceram no Museu
Egípcio do Cairo.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 73 ]
O templo permaneceu em uso durante o resto do
Novo Império, como evidenciado pelo aumento de
matrículas durante os reinados dos reis posteriores.
Posteriormente, no entanto, foi gradualmente abandonado
e convertido para outros usos por civis. Gradualmente
soterrado pela atividade da cidade, o estudo estratigráfico
do local mostra que no Período Tardio já estava em
ruínas e logo é coberto por novos edifícios. [2]

TEMPLO DE HATHOR


As ruínas do templo de Hathor de Memphis
Este pequeno templo de Hathor foi descoberto ao
sul da grande muralha de Hout-Ka-Ptah por Abdullah al-

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 74 ]
Sayed Mahmud na década de 1970 e também data da
época de Ramsés II. Dedicado à deusa Hathor, Senhora
dos Sicômoros, apresenta uma arquitetura semelhante
aos pequenos templos -santuários conhecidos
especialmente em Karnak. Pelas suas proporções, não
parece ser um grande santuário da deusa, mas é
atualmente o único edifício dedicado a ela descoberto nas
ruínas da cidade.
Acredita-se que este santuário foi usado
principalmente para fins processuais durante grandes
festivais religiosos. Acredita-se que um templo maior
dedicado a Hathor, de fato um dos principais santuários
da deusa no país, tenha existido em outro lugar da
cidade, mas até agora não foi descoberto. Uma
depressão, semelhante à encontrada perto do grande
templo de Ptah, poderia indicar sua localização. Os
arqueólogos acreditam que poderia abrigar os restos de
um recinto e um grande monumento, uma teoria atestada
por fontes antigas.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 75 ]
OUTROS TEMPLOS

Dizia-se que o templo da deusa Neith estava
localizado ao norte do templo de Ptah. Não foi descoberto
até hoje.

Acredita-se que Memphis tenha abrigado vários
outros templos dedicados a div indades que
acompanhavam Ptah. Alguns desses santuários são
atestados por antigos hieróglifos, mas ainda não foram
encontrados entre as ruínas da cidade. Pesquisas e

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 76 ]
escavações ainda continuam nas proximidades de Mit
Rahina e provavelmente aumentarão o conhecimento do
planejamento da antiga cidade religiosa.

TEMPLOS PARA DIVINDADES ESTRANGEIRAS

Um templo dedicado a Mithras, datado do período
romano, foi descoberto no terreno ao norte de Memphis.
O templo de Astarte, descrito por Heródoto, estava
localizado na área reservada aos fenícios na época em
que o autor grego visitou a cidade, mas não foi
descoberto até hoje. [2]

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 77 ]

TEMPLO DE SEKHMET

Um templo dedicado à deusa Sekhmet, consorte
de Ptah, ainda não foi encontrado, mas atualmente é
certificado por fontes egípcias. Os arqueólogos ainda
estão procurando restos mortais. Pode estar localizado
dentro do recinto do Hout-ka-Ptah, como parece sugerir
várias descobertas feitas entre as ruínas do complexo no
final do século XIX, incluindo um bloco de pedra
evocando a "grande porta" com o epíteto da deusa, e uma

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 78 ]
coluna com uma inscrição em nome de Ramsés II
declarando-o "amado de Sekhmet". Também foi
demonstrado através do Grande Papiro Harris, que afirma
que uma estátua da deusa foi feita ao lado das de Ptah e
seu filho, o deus Nefertem, durante o reinado de Ramsés
III, e que foi encomendada para as divindades de
Memphis no coração do grande templo.
TEMPLO DE APIS

Uma estátua do touro sagrado, Apis, encontrada
no Serapeum de Saqqara.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 79 ]
O Templo de Apis em Memphis era o principal
templo dedicado à adoração do touro Apis, considerado
uma manifestação viva de Ptah. É detalhado nas obras de
historiadores clássicos como Heródoto, Diodoro e
Estrabão, mas sua localização ainda não foi descoberta
entre as ruínas da antiga capital. Segundo Heródoto, que
descreveu o pátio do templo como um peristilo de colunas
com estátuas gigantes, ele foi construído durante o
reinado de Psamtik I. O historiador grego Estrabão visitou
o local com as tropas conquistadoras romanas, após a
vitória contra Cleópatra na Batalha de Actium. Ele detalha
que o templo consistia em duas câmaras, uma para o
touro e outra para sua mãe, e tudo foi construído perto do
templo de Ptah. No templo, Apis era usado como oráculo,
sendo seus movimentos interpretados como profecias.
Acreditava-se que seu hálito curava doenças e que sua
presença abençoava as pessoas com virilidade. Ele
recebeu uma janela no templo através da qual podia ser
visto e, em certos feriados, era conduzido pelas ruas da
cidade, enfeitado com joias e flores. [2]

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 80 ]

Em 1941, o arqueólogo Ahmed Badawy descobriu
os primeiros restos mortais em Memphis que
representavam o deus Apis. O local, localizado dentro do
terreno do grande templo de Ptah, revelou ser uma
câmara mortuária projetada exclusivamente para o
embalsamamento do touro sagrado. Uma estela
encontrada em Saqqara mostra que Nectanebo II ordenou
a restauração deste edifício, e elementos datados da
Trigésima Dinastia foram desenterrados na parte norte da
câmara, confirmando o tempo de reconstrução nesta
parte do templo. É provável que o necrotério fizesse parte
do maior templo de Apis citado por fontes antigas. Esta

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 81 ]
parte sagrada do templo seria a única que sobreviveu e
confirmaria as palavras de Estrabão e Diodoro, os quais
afirmaram que o templo estava localizado perto do templo
de Ptah.[2]

Ankhefenmut se ajoelha diante da cártula real de
Siamun, em um lintel do Templo de Amon em Memphis
A maioria das estátuas conhecidas de Apis vem
das câmaras funerárias conhecidas como Serapeum,
localizadas a noroeste em Saqqara. Os túmulos mais
antigos encontrados neste local datam do reinado de
Amenhotep III.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 82 ]
TEMPLO DE AMON
Durante a Vigésima Primeira Dinastia, um
santuário do grande deus Amon foi construído por Siamun
ao sul do templo de Ptah. Este templo (ou templos)
provavelmente foi dedicado à Tríade Tebana, composta
por Amon, sua consorte Mut e seu filho Khonsu. Era a
contraparte egípcia superior da Tríade de Memphis (Ptah,
Sekhmet e Nefertem).

TEMPLO DE ATON

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 83 ]
Um templo dedicado a Aton em Memphis é
atestado por hieróglifos encontrados dentro dos túmulos
de dignitários menfitas do final da Décima Oitava Dinastia,
descobertos em Saqqara. Entre eles, o de Tutankhamon,
que iniciou sua carreira sob o reinado de seu pai,
Akhenaton, como "administrador do templo de Aton em
Memphis". [2]
Desde as primeiras escavações em Memphis no
final do século XIX e início do século XX, foram
descobertos artefatos em diferentes partes da cidade que
indicam a presença de um edifício dedicado à adoração
do disco solar, o Aton. A localização de tal edifício é
perdida, e várias hipóteses foram feitas sobre este
assunto com base no local da descoberta dos restos das
características do Período de Amarna.[2]
ESTÁTUAS DE RAMSÉS II

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 84 ]

Uma varredura 3-D da escultura colossal de
Ramsés II no museu de Memphis, Egito

O colosso de Ramsés II no museu ao ar livre

As ruínas da antiga Memphis renderam um
grande número de esculturas representando Ramsés II.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 85 ]
Dentro do museu em Memphis há uma estátua gigante
dele esculpida em calcário monumental, com cerca de 10
metros de comprimento. Foi descoberto em 1820 perto do
portão sul do templo de Ptah pelo arqueólogo italiano
Giovanni Caviglia. Como a base e os pés da escultura
estão separados do resto do corpo, atualmente ela é
exibida deitada de costas. Algumas das cores ainda estão
parcialmente preservadas, mas a beleza desta estátua
está em seus detalhes impecáveis das formas complexas
e sutis da anatomia humana. O rei usa a coroa branca do
Alto Egito, Hedjet.
Caviglia ofereceu enviar a estátua ao grão-duque
da Toscana, Leopoldo II, por mediação de Ippolito
Rosellini. Rosellini avisou o soberano das terríveis
despesas de transporte e considerou necessário cortar o
colosso em pedaços. O Wāli e autodeclarado Khedive do
Egito e Sudão, Muhammad Ali Pasha, ofereceu-se para
doá-lo ao Museu Britânico, mas o museu recusou a oferta
por causa da difícil tarefa de enviar a enorme estátua para
Londres. Permaneceu, portanto, na área arqueológica de
Memphis no museu construído para protegê-lo.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 86 ]

O colosso fazia parte de um par que adornava
historicamente a entrada leste do templo de Ptah. A outra,
encontrada no mesmo ano também por Caviglia, foi
restaurada na década de 1950 à sua altura máxima de 11
metros. Foi exibido pela primeira vez na praça Bab Al-
Hadid, no Cairo, que posteriormente foi renomeada como
Praça Ramsés. Considerado um local inadequado, foi
transferido em 2006 para um local temporário em Gizé,
onde passou por restauração antes de ser instalado na
entrada do Grande Museu Egípcio em janeiro de 2018.
Uma réplica das estátuas fica em um subúrbio do Cairo,
Heliópolis. [2]
NECRÓPOLE DE MENFITA

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 87 ]

A famosa pirâmide escalonada de Djoser em
Saqqara, a necrópole de Memphis
Devido à sua antiguidade e à sua grande
população, Memphis teve várias necrópoles espalhadas
ao longo do vale, incluindo a mais famosa, Saqqara. Além
disso, a área urbana consistia em cemitérios que foram
construídos a oeste do grande templo. A santidade
desses lugares atraiu inevitavelmente os devotos e os
fiéis, que procuravam fazer uma oferenda a Osíris ou
enterrar outro.
A parte da cidade chamada Ankh-tawy já estava
incluída na necrópole do Império Médio. As expansões do

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 88 ]
setor ocidental do templo de Ptah foram ordenadas pelos
reis da Vigésima Segunda Dinastia, buscando reviver a
glória passada da era Ramessida. Dentro desta parte do
local foi fundada uma necrópole dos sumos sacerdotes.

Segundo fontes, o local também incluía uma
capela ou oratório à deusa Bastet, o que parece
consistente com a presença de monumentos de
governantes da dinastia seguindo o culto de Bubastis.
Também nesta área estavam os templos mortuários
dedicados por vários reis do Novo Reino, cuja função é

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 89 ]
paralela pelos egiptólogos àquela desempenhada pelos
templos de um milhão de anos dos reis tebanos.
PALÁCIOS REAIS


Memphis foi a sede do poder para os reis de mais
de oito dinastias. Segundo Manetho, o primeiro palácio
real foi fundado por Hor-Aha, sucessor de Narmer,
fundador da 1ª Dinastia. Ele construiu uma fortaleza em
Memphis de paredes brancas. Fontes egípcias falam dos
palácios dos governantes do Reino Antigo, alguns dos
quais foram construídos sob grandes pirâmides reais.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 90 ]
Eles eram imensos em tamanho e embelezados com
parques e lagos. Além dos palácios descritos abaixo,
outras fontes indicam a existência de um palácio fundado
na cidade por Tutmés I, que ainda funcionava sob o
reinado de Tutmés IV.

As ruínas do palácio de Apries, com vista para Memphis

De acordo com textos oficiais de seu reinado,
Merneptah ordenou a construção de um grande recinto
murado abrigando um novo templo e um palácio
adjacente. Mais tarde, Apries mandou construir um

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 91 ]
complexo palaciano em Kom Tuman, em um promontório
com vista para a cidade. Fazia parte de uma série de
estruturas construídas dentro do recinto do templo no
Período Final e continha um palácio real, uma fortaleza,
quartéis e arsenais. Flinders Petrie escavou a área e
encontrou sinais consideráveis de atividade militar.[2]

OUTROS EDIFÍCIOS
Os palácios e templos localizados centralmente
eram cercados por diferentes bairros da cidade, nos quais
havia muitas oficinas de artesãos, arsenais e estaleiros.
Também havia bairros residenciais, alguns dos quais
habitados principalmente por estrangeiros - primeiro

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 92 ]
hititas e fenícios, depois persas e finalmente gregos. A
cidade estava de fato localizada na encruzilhada das
rotas comerciais e, portanto, atraía mercadorias
importadas de diversas regiões do Mediterrâneo.

Textos antigos confirmam que o desenvolvimento
da cidade ocorreu regularmente. Além disso, há
evidências de que o Nilo se deslocou ao longo dos
séculos para o leste, deixando novas terras para ocupar
na parte oriental da antiga capital. Esta área da cidade
era dominada pelo grande portão oriental do templo de
Ptah.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 93 ]
RELATOS HISTÓRICOS E EXPLORAÇÃO

Momento em que mostro meu braço arrepiado diante
do colosso de Ramses II em Menfis.
O local de Memphis é famoso desde os tempos
antigos e é citado em muitas fontes antigas, incluindo
egípcias e estrangeiras. Registros diplomáticos
encontrados em diferentes locais detalham a
correspondência entre a cidade e os vários impérios
contemporâneos no Mediterrâneo, no Antigo Oriente
Próximo e na África. Isso inclui, por exemplo, as cartas de
Amarna, que detalham o comércio conduzido por

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 94 ]
Memphis com os soberanos da Babilônia e as várias
cidades-estado do Líbano. As proclamações dos reis
assírios posteriores citam Memphis entre sua lista de
conquistas.

FONTES DA ANTIGUIDADE

A partir da segunda metade do primeiro milênio
aC, a cidade foi detalhada cada vez mais intensamente
nas palavras de historiadores antigos, especialmente com
o desenvolvimento de laços comerciais com a Grécia. As
descrições da cidade por viajantes que seguiram os

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 95 ]
comerciantes na descoberta do Egito foram fundamentais
para reconstruir uma imagem do passado glorioso da
antiga capital. Entre os principais autores clássicos estão:

Heródoto, historiador grego, que visitou e
descreveu os monumentos da cidade durante o primeiro
domínio persa aquemênida no século V Ac.
Diodorus Siculus, historiador grego, que visitou o
local no século I aC, fornecendo informações posteriores
sobre a cidade durante o reinado dos Ptolomeus.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 96 ]
Estrabão, o geógrafo helenístico, que visitou
durante a conquista romana no final do primeiro século
Ac.
Posteriormente, a cidade é frequentemente citada
por outros autores latinos ou gregos, em casos raros,
fornecendo uma descrição geral da cidade ou detalhando
seus cultos, como Suetônio[66] e Amiano Marcelino,que
prestam atenção especial ao culto da cidade a Apis.
A cidade caiu no esquecimento durante o período
cristão que se seguiu. Poucas fontes estão disponíveis
para atestar as atividades da cidade durante seus
estágios finais.
Não foi até a conquista do país pelos árabes que
reapareceu uma descrição da cidade, época em que
estava em ruínas. Entre as principais fontes desta época:
Abd-al-Latif, famoso geógrafo de Bagdá, que no
século XIII faz uma descrição das ruínas do local durante
sua viagem ao Egito.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 97 ]


Al-Maqrizi, historiador egípcio do século XIV, que
visitou o local e o descreveu em detalhes. Memphis, Egito
em 1799.
Mapa de Memphis e Cairo de James Rennell em
1799, mostrando as mudanças no curso do rio Nilo
Em 1652, durante sua viagem ao Egito, Jean de
Thévenot identificou a localização do local e suas ruínas,
confirmando os relatos dos antigos autores árabes para

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 98 ]
os europeus. Sua descrição é breve, mas representa o
primeiro passo para a exploração que surgirá após o
desenvolvimento da arqueologia.[68] O ponto de partida
da exploração arqueológica em Memphis foi a grande
incursão de Napoleão Bonaparte no Egito em 1798.
Pesquisas e levantamentos do local confirmaram a
identificação de Thévenot, e os primeiros estudos de seus
restos foram realizados por cientistas que acompanhavam
soldados franceses. Os resultados dos primeiros estudos
científicos foram publicados no monumental Description
de l'Égypte, um mapa da região, o primeiro a dar a
localização de Memphis com precisão.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 99 ]
Estátua de Ramsés II, descoberta em Memphis
por Joseph Hekekyan
SÉCULO DEZENOVE

As primeiras expedições francesas abriram
caminho para explorações de escopo mais profundo que
se seguiriam do século XIX até hoje, conduzidas por
importantes exploradores, egiptólogos e importantes
instituições arqueológicas. Aqui está uma lista parcial:

As primeiras escavações do local foram feitas por
Caviglia e Sloane em 1820 e eles descobriram o grande

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 100 ]
colosso de Ramsés II deitado, atualmente em exibição no
museu.
Jean-François Champollion, em sua viagem ao
Egito de 1828 a 1830 através de Memphis, descreveu a
estátua gigante descoberta por Caviglia e Sloane, fez
algumas escavações no local e descriptografou muitos
dos restos epigráficos. Ele prometeu voltar com mais
recursos e mais tempo para estudar, mas sua morte
repentina em 1832 impediu o cumprimento dessa
ambição.
Karl Richard Lepsius, durante a expedição
prussiana de 1842, fez um rápido levantamento das
ruínas e criou um primeiro mapa detalhado que serviria de
base para todas as futuras explorações e escavações.
Durante a era britânica no Egito, o
desenvolvimento da tecnologia agrícola junto com o
cultivo sistemático das planícies aluviais do Nilo levou a
uma quantidade considerável de descobertas
arqueológicas acidentais. Muito do que foi encontrado
cairia nas mãos de grandes colecionadores europeus que

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 101 ]
viajavam pelo país em nome dos grandes museus de
Londres, Paris, Berlim e Turim. Foi durante um desses
cultivos de terra que os camponeses acidentalmente
descobriram elementos de um templo romano de Mithras
durante 1847 perto da aldeia de Mit Rahina.
Provavelmente foi neste local que onze estátuas foram
encontradas. Uma revisão de Les Statues Ptolémaïques
du Sarapieion de Memphis observou que provavelmente
foram construídas no século III com calcário e estuque,
algumas em pé, outras sentadas. Em 1956, Rowe e Rees
sugeriram que este tema era semelhante ao mosaico da
Academia de Platão. As estátuas foram atribuídas a
Píndaro (sentado, identificado por um grafite), uma
inscrição na parte de trás de sua cadeira que diz Dionísio,
Demétrio de Falero, Órfico, aux oiseaux, Hesíodo,
Homero sentado no centro (a cabeça foi recuperada),
Protágoras, Tales, Heráclito, Platão (por inscrição) e
Aristóteles.
De 1852 a 1854, Joseph Hekekyan, então
trabalhando para o governo egípcio, realizou pesquisas
geológicas no local e, nessas ocasiões, fez várias

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 102 ]
descobertas, como as de Kom el-Khanzir (a nordeste do
grande templo de Ptah). Essas pedras decoradas com
relevos do período de Amarna, originalmente do antigo
templo de Aton em Memphis, quase certamente foram
reutilizadas nas fundações de outro monumento em
ruínas. Ele também descobriu o grande colosso de
Ramsés II em granito rosa. [2]

Esfinge de alabastro no encontrada no templo de Ptah

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 103 ]
Dessa onda de descobertas arqueológicas
nasceu o risco constante de ver todas essas riquezas
culturais saírem do solo egípcio. Auguste-Édouard
Mariette, que visitou Saqqara em 1850, percebeu a
necessidade de criar no Egito uma instituição responsável
pela exploração e conservação dos tesouros
arqueológicos do país.

Estátua de Ramsés II a céu aberto em Mênfis.
Ele estabeleceu a Organização de Antiguidades
Egípcias (EAO) em 1859, e organizou escavações em
Memphis que revelaram a primeira evidência do grande

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 104 ]
templo de Ptah, e descobriram as estátuas reais do
Antigo Império.
Os primeiros papiros publicados, os Papiros
Mágicos Gregos, podem ter se originado na região.
SÉCULO VINTE

As principais escavações do egiptólogo britânico
Sir William Matthew Flinders Petrie, conduzidas de 1907 a
1912, descobriram a maioria das ruínas como são vistas
hoje. As principais descobertas no local durante essas
escavações incluíram o salão com pilares do templo de

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 105 ]
Ptah, o pilão de Ramsés II, a grande esfinge de alabastro
e a grande muralha ao norte do palácio de Apries. Ele
também descobriu os restos do Templo de Amon de
Siamon e do Templo de Ptah de Merneptah. Muitas de
suas descobertas foram documentadas pelo London
Times em maio de 1908. Seu trabalho foi interrompido
durante a Primeira Guerra Mundial e mais tarde seria
retomado por outros arqueólogos, descobrindo
gradualmente alguns dos monumentos esquecidos da
antiga capital.

Representação de Ptah encontrada nas paredes
do Templo de Hathor

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 106 ]
Uma linha do tempo listando as principais
descobertas:

Rosto da esfinge de Mênfis
1914 a 1921: as escavações da Universidade da
Pensilvânia do Templo de Ptah de Merneptah, que
rendem a descoberta do palácio adjacente.
1942: a pesquisa EAO, liderada pelo egiptólogo
Ahmed Badawy, descobre o pequeno Templo de Ptah de
Ramsés, e a capela da tumba do Príncipe Shoshenq da
vigésima segunda dinastia.

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[ 107 ]
1950: O egiptólogo Labib Habachi descobriu a
capela de Seti I, em nome da Organização de
Antiguidades Egípcias. O governo egípcio decidiu
transferir o colosso de granito rosa de Ramsés II para o
Cairo. Foi colocado antes da principal estação ferroviária
da cidade, em uma praça posteriormente denominada
Midân Ramsés por mais de cinquenta anos, antes de ser
transferido para outro local em Gizé em 2006 para
restauração. Posteriormente, foi transferido em janeiro de
2018 para o Grande Museu Egípcio.

Colosso de Ramsés é visita obrigatória em Mênfis

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[ 108 ]
1954: a descoberta casual por trabalhadores da
estrada de uma necrópole do Reino do Meio em Kom el-
Fakhri.
1955 a 1957: Rudolph Anthes, em nome da
Universidade da Filadélfia, vasculhou e limpou o pequeno
Templo de Ptah de Ramsés e a capela de
embalsamamento de Apis.
1969: a descoberta acidental de uma capela do
pequeno Templo de Hathor.
1970 a 1984: escavações conduzidas pela EAO
limpam o pequeno templo de Hathor, dirigido por Abdullah
el-Sayed Mahmud, Huleil Ghali e Karim Abu Shanab.
1980: escavações da câmara de
embalsamamento de Apis, e estudos adicionais pelo
American Research Center no Egito.

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[ 109 ]

Limpeza e clareameno do colosso de Ramsés II

1982: O egiptólogo Jaromir Málek estudou e
registrou as descobertas do pequeno templo de Ptah de
Ramsés.
1970 e 1984 a 1990: escavações pela Egypt
Exploration Society de Londres. Outras escavações do
salão com pilares e pilão de Ramsés II; a descoberta de
blocos de granito com os anais do reinado de Amenemhat
II; escavações das tumbas dos sumos sacerdotes de
Ptah; pesquisa e grandes explorações na necrópole perto
de Saqqara.

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[ 110 ]
2003: escavações renovadas do pequeno templo
de Hathor pela EAO (agora o Conselho Supremo de
Antiguidades).
2003 a 2004: Escavações por uma missão
combinada russo-belga na grande muralha ao norte de
Memphis.

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[ 111 ]
APÉNDICE 1

HELWAN - UMA NECRÓPO LE DA
ANTIGA MEMPHIS
1.1. Introdução
Segundo algumas fontes históricas (ex. O
primeiro nome egípcio da cidade, do qual houve vários a
seguir nos próximos 3.000 anos ou mais, foi White Walls
(egípcio: inb.w HD.w) e está em evidência por volta da
época de sua fundação historicamente narrada. Outras
fontes escritas sugerem que logo se tornou a capital do 1º
nomo egípcio inferior, ou o 'nome menfita', que era um
distrito dentro do sistema administrativo egípcio geral que
se desenvolveria a partir de então. Pelo menos desde o
início do Império Antigo, e provavelmente antes, a cidade
se tornou a capital de todo o Egito.
De fato, existem algumas evidências
arqueológicas que geralmente fornecem suporte a essa

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 112 ]
narrativa histórica, mas até o momento apenas os
contornos do desenvolvimento dessa cidade antiga são
discerníveis. Parece que a área mais ampla já era
habitada em tempos pré-históricos, pelo menos desde o
início do período neolítico (c. 4500 a.C.) em diante , o que
é bem explicado por sua situação vantajosa junto ao rio e
ao então sertão montanhoso ecologicamente rico. Esta
localização no ponto de encontro das rotas comerciais
terrestres e fluviais perto do ápice do Delta do Nilo foi de
particular benefício para as sociedades calcolíticas
durante o 4º milênio a.C., melhor representada pelo
grande local de assentamento de Maadi, que se envolveu
no comércio inter-regional ativo com o sul do Egito e o
Levante. Curiosamente, há um aumento acentuado nos
sítios arqueológicos e na densidade populacional no final
do 4º milênio a.C., ou seja, durante o período
protodinástico (c. 3300-3100 a.C.) (Mortensen 1991). Isto
parece ser acompanhado pela emergência de elites e
pela importância cada vez maior da ár ea para o
intercâmbio inter-regional, indicando que um processo de
centralização já havia começado algum tempo antes da 1ª
Dinastia.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 113 ]
É importante ressaltar que o desenvolvimento da
cidade de Memphis está intimamente relacionado com o
surgimento do estado territorial egípcio. As primeiras
evidências de inscrição de vários locais dentro e ao redor
desta área sugerem que seus habitantes mantiveram
contatos com várias políticas regionais diferentes antes
da unificação política (Köhler 2004b). Na época em que
os reis da 1ª dinastia colocaram o Vale do Nilo egípcio
sob seu controle político (por volta de 3100 a.C.), a região
provavelmente era densamente habitada e, portanto,
fornecia os recursos humanos e o grau de infraestrutura
necessários para construir e povoar o centro primário
posterior dessa nova e vasta comunidade política que se
estendia desde a 1ª catarata do Nilo, no sul, rio abaixo,
até a costa do Mediterrâneo. À medida que a população
da cidade continuou a crescer, provavelmente ela se
desenvolveu ainda mais em termos de complexidade
econômica e social, vertical e horizontalmente. Como
resultado de pesquisas arqueológicas recentes, é cada
vez mais possível ver um esboço aproximado da
população urbana do início da dinastia Memphis como
uma sociedade complexa e multifacetada, composta por

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 114 ]
elites aristocráticas, religiosas e burocráticas, bem como
classes média e baixa (Köhler 2008a). Memphis ganhou
ainda mais importância quando os reis da 2ª Dinastia
decidiram abandonar sua necrópole real ancestral no sul
de Abidos em favor da já bem estabelecida necrópole de
elite em Saqqara, um movimento que lançou as bases
para os complexos de pirâmides reais do Império Antigo.
Resta demonstrar em que momento a cidade se tornou a
capital do Egito e residência real, e como as instituições
aqui localizadas serviram na administração central geral e
na economia do país.
Os aspectos acima, cruciais para a compreensão
do significado deste projeto, estão também no centro de
uma questão intrinsecamente egiptológica: a egiptologia
moderna é uma disciplina que se encontra num equilíbrio
entre uma diversidade de metodologias, incluindo a
tradução de textos antigos, combinada com a
interpretação de evidências artísticas, bem como de
dados arqueológicos. Mas ao longo de sua longa história
sempre houve um forte foco na cultura de elite. Tumbas
de elite, palácios e templos, inscrições associadas,

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 115 ]
pinturas murais e relevos, estelas e estátuas forneceram
evidências importantes sobre a ideologia, religião, arte e
arquitetura faraônicas, bem como a história política
egípcia e seu lugar no Mediterrâneo antigo e no mundo
do Oriente Próximo. Foi apenas a partir das últimas
décadas do século XX que os padrões da arqueologia
moderna fizeram uma entrada na egiptologia, quando
também áreas de evidência mais "modestas" foram
consideradas igualmente importantes e quando os
métodos de escavação assumiram uma qualidade mais
científica do que seletiva. Objetos não inscritos, ossos de
animais ou artefatos fragmentários e especialmente o
grande corpo de dados não pertencentes à elite em geral
(por exemplo, assentamentos, sítios provinciais, túmulos
não pertencentes à elite) agora complementam e, em
parte, corrigem a imagem da cultura e da sociedade
egípcia. Essa concepção alterada de fontes é
particularmente pertinente para questões que envolvem a
formação do estado egípcio primitivo, pois muitos estudos
mais antigos e orientados historicamente se concentraram
muito na iconografia e nas evidências limitadas de
inscrições derivadas quase exclusivamente da realeza e

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 116 ]
de outros contextos de elite e, assim, produziram uma
imagem um tanto tendenciosa desse período. Nos últimos
anos, mais atenção tem sido dada ao desenvolvimento da
complexidade social e estruturas de poder em tempos
pré-históricos, que são áreas de interesse central para a
série de conferências internacionais 'Egito em suas
origens'.
Esta reunião de estudiosos especializados no
antigo Egito já causou um verdadeiro salto quântico na
discussão acadêmica e pesquisa sobre essas questões
como o documento de atas publicado (Hendrickx et al.
2004; Midant-Reynes et al. 2008; Friedman & Fiske 2011;
Patch & Adams no prelo). Como resultado, hoje se
entende que a emergência do antigo estado egípcio é
consequência de processos sociais, econômicos e
políticos complexos e de longo prazo em diferentes
regiões do Vale do Nilo, incluindo o Delta do Nilo, que
acabaram resultando na integração territorial no início da
era dinástica, embora ainda seja necessária muita
pesquisa para chegar a um acordo sobre os detalhes
desses processos (cf. Köhler 2010). Curiosamente,

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 117 ]
embora esta área de pesquisa atravesse os períodos pré-
históricos e históricos no Egito, ainda há uma distinção
intelectual tangível entre os arqueólogos 'pré-históricos'
que se concentram em restos materiais e os estudiosos
mais orientados para a história que estudam fontes
textuais e artísticas do Egito antigo, embora idealmente,
ambos devem visar o benefício mútuo e complementar
(Baines 2007: 116). Isso ocorre em parte porque as fontes
escritas mais antigas oferecem insights tentadores sobre
a civilização faraônica primitiva (cf. Dreyer 1998; Helck
1987; Kahl 1994, 2007; Kahl et al. 1995; Kaplony 1963;
Wilkinson 1999) e convidam a uma atenção especial,
mas, como resultado, a pesquisa sobre a arqueologia
social após a integração territorial e além da corte real
ainda está em desenvolvimento (alguns estudos mais
recentes também incluem Naqada III, mas foca
principalmente na complexidade social nas fases
anteriores, cf. Ellis 1992; Savage 1995, 2000; Wilkinson
1996 e Wengrow 2006). Há também uma tendência
subjacente na egiptologia tradicional de considerar o
momento real da história quando a unificação territorial foi
finalmente alcançada como o ponto final d e toda

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 118 ]
investigação sobre a formação do estado porque, a partir
de então, o Egito faraônico foi lançado em sua forma final
e pode ser entendido em um continuum com períodos
posteriores. Que essa visão provavelmente está longe da
realidade, pode ser constatado observando as mudanças
socioculturais significativas que ainda ocorreram durante
os períodos do início da dinastia e do antigo império (e
bem no novo reino, nesse caso) que claramente alertam
sobre a generalização da cultura, sociedade e crenças
religiosas egípcias ao longo dos milênios.
Tais conceitos significativos como monarquia e
ideologias associadas foram especialmente sujeitos a
transformações deliberadas à medida que o estado inicial
do Egito se desenvolveu (por exemplo, Baines 1995; Kahl
2008). O Investigador Chefe (CI) propôs recentemente
que algumas dessas mudanças podem possivelmente ser
parte de um processo secundário independente de
formação do estado, sendo o principal os processos
socioeconômicos que levaram à criação dos primeiros
estados regionais e sociedades complexas no Período
Protodinástico (Campagno 2002; Köhler 2010).

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 119 ]
Este período durou cerca de dois séculos, até que
os estados regionais menores se uniram em um estado
territorial, embora ainda não se saiba como sua unidade
política foi finalmente alcançada, seja por meio de
coerção ou integração consensual. No entanto, os reis
deste jovem estado territorial egípcio viram-se
confrontados com desafios ideológicos, políticos,
administrativos, logísticos e económicos inéditos e
inéditos, que exigiam encontrar soluções adequadas para
gerir a economia e manter o poder e a integridade
política. Que esta não era uma tarefa menor é evidente no
curso da história faraônica de três mil anos, quando a
paisagem política do vale do Nilo viu alternância contínua
entre forte unidade política e centralização durante certas
fases, e fragmentação e regionalismo em outras épocas.
Considerando que a cidade de Memphis acabou
se estabelecendo como o centro primário e o ponto focal
político, administrativo e religioso desta nova política
faraônica, na verdade muito pouco se sabe sobre esta
cidade, seu tecido social, sua cultura material, economia,
ecologia e infraestrutura em seu estágio formativo. Um

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 120 ]
grande obstáculo para obter uma imagem mais clara da
cidade primitiva é que há apenas evidências
arqueológicas muito limitadas para o assentamento real
do início de Memphis. Apesar das intensas atividades
arqueológicas, essas camadas iniciais ainda não foram
identificadas na área de Memphis faraônica e, embora
tenha havido escavações limitadas de restos domésticos
da dinastia inicial perto da borda oeste do vale, não se
sabe exatamente onde o núcleo urbano da cidade
primitiva estava localizado, pois parece estar em grande
parte enterrado sob a capital moderna do Egito, Cairo,
bem como sob muitos metros de sedimentos aluviais
(Jeffreys 2012). Por outro lado, existem as numerosas e
grandes necrópoles que foram utilizadas pela população
da cidade (Fig. 1) e que fornecem informações amplas -
ainda que implícitas - sobre a ocupação da cidade. No
total, cerca de 13.000 túmulos do início do período
dinástico foram registrados nesta área até este ponto. A
maioria dos cemitérios relevantes foi escavada no início
do século 20 e, portanto, não foi publicada
adequadamente (por exemplo, Emery 1938-1961), o que
praticamente impede uma análise científica aprofundada

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 121 ]
para muitos deles. De importância fundamental são os
cemitérios do norte de Saqqara e Helwan, pois essas
duas áreas parecem ter servido ao núcleo populacional
da cidade. A importância de Helwan neste contexto
particular só foi reconhecida recentemente (Jeffreys &
Tavares 1994).
Só ele compreende mais de 10.000 túmulos
antigos, tornando-o o maior cemitério desta data no Egito
e ocupando 84% dos túmulos na região de Memphite. A
evidência atualmente sugere que Helwan era o principal
local de enterro para as classes média e baixa do início
da dinastia Memphis (Köhler 2008a). Este fato torna a
investigação deste site extremamente valiosa para a
pesquisa sobre a sociedade não-elite e a formação do
estado no antigo Egito.
Assim, embora seja quase impossível investigar
arqueologicamente a cidade primitiva, os muitos
cemitérios nas proximidades oferecem uma ampla gama
de dados arqueológicos para examinar pelo menos
alguns desses pontos-chave. De particular interesse é o
local de Helwan, onde a grande maioria dos memphitas

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 122 ]
foi enterrada durante o tempo pouc o antes, e
especialmente depois do momento histórico da unificação
territorial. O fato de partes deste local terem sido
escavadas pelo CI de acordo com os padrões
arqueológicos modernos significa que Helwan detém as
evidências para investigar essas questões de uma
perspectiva científica moderna e não pertencente à elite,
tornando essa pesquisa altamente inovadora e urgente.
A necrópole de Helwan consiste em uma série de
cemitérios que se estendem ao longo da margem leste do
Nilo
Vale sobre uma área de c. 100 hectares. As
tumbas foram investigadas aqui desde as primeiras
décadas do século 20 e, em particular, pelo arqueólogo
egípcio Zaki Saad, que foi responsável por descobrir mais
de 10.000 tumbas ao longo de 12 anos (em resumo Saad
1969). Embora Saad provavelmente tenha feito o possível
na época para registrar essa vasta quantidade de material
arqueológico, o número de tumbas escavadas por si só
sugere que os métodos de escavação e registro eram
bastante básicos (Köhler 2007b). Sua pesquisa também

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 123 ]
foi interrompida pela primeira revolução egípcia de 1952 e
muito desse trabalho não pôde ser publicado, o que
deixou para trás uma lacuna substancial nas evidências.
O local não foi sistematicamente investigado novamente
até 1997, quando o CI (então baseado na Universidade
Macquarie em Sydney) recebeu permissão do Conselho
Supremo de Antiguidades (SCA) no Egito para continuar
a pesquisa arqueológica nesta área, financiada pelo
Conselho de Pesquisa Australiano e pela Universidade
Macquarie. Os primeiros anos deste trabalho focaram na
reescavação de tumbas selecionadas da época de Saad
(Operações 1-3, Fig. 2 à esquerda) e no registro de seus
artefatos então armazenados no Museu Egípcio no Cairo
para melhor contextualizar e completar a pouca
informação publicada até agora (Köhler 2002, 2004d;
Smythe 2004, 2008). Mas em 1998, o projeto de pesquisa
do projeto teve que ser ampliado quando ficou claro que o
sítio arqueológico como um todo estava sob grave
ameaça do desenvolvimento urbano moderno. Em
particular, houve uma área (Operação 4), onde não foram
realizados trabalhos arqueológicos anteriores, que já
estava sendo objeto de construção de casas modernas e

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 124 ]
corria o risco de ser obliterado sem documentação
arqueológica.
Esta área tornou-se então o foco principal de
investigações e 13 temporadas de escavação de área de
cemitério arqueologicamente intacta cobrindo cerca de
7.000 metros quadrados foram realizadas desde então
(Köhler 2000, 2003b, c, 2004a, b, c, 2005, 2007a, 2008a-
c, 2009, 2012, 2014). Devido à grande pressão da
construção urbana, a missão funcionou como uma
escavação de resgate ao longo de oito anos e a maior
parte do esforço durante as temporadas de campo foi
investida em escavações e registros arqueológicos.
Embora quaisquer artefatos e restos bioarqueológicos
decorrentes deste trabalho tenham sido submetidos a
processamento primário e conservação durante cada
temporada de campo, todo o material foi colocado no
armazenamento do SCA sem documentação ou exame
detalhado. A situação foi posteriormente facilitada quando
o Instituto de Bioarqueologia disponibilizou os fundos para
construir no local uma instalação de armazenamento e
trabalho, o Facility for Archaeological Research at Helwan

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 125 ]
(FARAH), cuja primeira fase de construção foi concluída
em 2003, o que permitiu à missão iniciar a análise em
conjunto com a escavação. Paralelamente, o SCA
finalmente concordou em proteger permanentemente os
vestígios arqueológicos de Helwan com a construção de
um muro de proteção do local em 2006, o que obviamente
mudou a dinâmica das estratégias de trabalho e gestão
do tempo do projeto. Também o
A aceitação de CI para assumir uma cátedra na
Universidade de Viena em 2010 levou a uma revisão da
estratégia geral de pesquisa do projeto. Após 17 anos de
intenso trabalho arqueológico, as principais questões de
pesquisa já foram amplamente abordadas, as escavações
foram encerradas e o projeto está próximo de ser
concluído.

O que foi alcançado até agora é substancial:
várias das tumbas de Saad foram re-escavadas e um
catálogo de cerca de 3.500 artefatos do trabalho de Saad
foi concluído. Além disso, a equipe descobriu 218 tumbas

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 126 ]
arqueologicamente intactas com contextos seguros na
Operação 4, que datam dos períodos Dinástico Primitivo e
Antigo Império. Estes compreendem uma variedade de
soluções arquitetônicas para fornecer espaço para um
enterro, desde pequenas covas até estruturas
subterrâneas relativamente grandes e complexas, às
vezes incluindo superestruturas (mastabas). Essas
tumbas renderam mais de 2.200 artefatos não cerâmicos
de diagnóstico, cerca de 150.000 fragmentos de cerâmica
classificáveis, além de centenas de vasos completos e
uma grande quantidade de dados bioarqueológicos (de
restos humanos, botânicos e faunísticos) por meio de
escavações modernas e cientificamente controladas.
Intensificou-se agora o tratamento pós-escavação para
levar o projeto a uma conclusão definitiva através de uma
análise exaustiva de todos os dados adquiridos até à data
e de uma série de publicações, que já geraram três
grandes relatórios monográficos e dezenas de artigos de
investigação (ver Bibliografia). Como o Projeto Helwan
produziu tantos dados e porque é uma das poucas
investigações arqueológicas modernas de túmulos não
pertencentes à elite na área de Memphite (a missão

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 127 ]
francesa em Abu Roash (Tristant 2012) e a missão alemã
em Saqqara (por exemplo, Dreyer 2007) sendo os outros
grandes projetos de interesse para o período), a
abordagem científica moderna para escavação e análise
arqueológica torna esta pesquisa imensamente
importante.
1.2. Propósitos e objectivos
Esta pesquisa está preocupada com as práticas
funerárias do Egito antigo como um campo de estudo por
si só, bem como com os dados funerários como fonte de
informação de onde podem ser derivadas conclusões
sobre a sociedade e a cultura da antiga cidade de
Memphis. Embora muitas vezes tenha sido corretamente
criticado que o valor dos dados mortuários para tais
propósitos tenha sido exagerado, especialmente na
arqueologia egípcia (mas veja Baines & Lacovara 2002;
Meskell 1999; Richards 2005; Seidlmayer 1990, 2001 e
Smith 1992, para mencionar apenas algumas
contribuições recentes significativas), atualmente são os
únicos dados viáveis disponíveis para resolver as
questões em questão. A pesquisa moderna sobre a

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 128 ]
validade geral de tais dados mostrou que a arqueologia
funerária realmente tem seu potencial para investigar uma
variedade de aspectos da existência humana passada,
desde que a investigação opere em uma base sólida de
métodos científicos, dados primários e teorias bem
argumentadas. Sendo de na tureza empírica e
arqueológica, esta investigação irá aplicar abordagens
teóricas de baixo nível, ou seja, a Teoria do Médio
Alcance no sentido mertoniano (cf. Smith 2011, 2012:
324-325), de forma a fornecer uma abordagem
cientificamente fundamentada às nossas interpretações
sem pretender contribuir para a arqueologia teórica,
simplesmente porque visa analisar dados arqueológicos
primários. Mas este projeto se baseia em décadas de
trabalho teórico seguindo pesquisadores como Lewis
Binford com seu seminal estudo transcultural sobre a
variabilidade mortuária (1971), bem como as conclusões
de Josef Tainter sobre o gasto de energia em contextos
funerários e sua relevância potencial para a arqueologia
da complexidade social (1978). Além disso, o que foi
chamado de 'antropologia social da morte' por Mike
Parker Pearson (2003) e suas sugestões quanto aos

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 129 ]
desafios e benefícios decorrentes dos dados mortuários
na arqueologia moderna há muito foram integrados à
caixa de ferramentas teórica deste projeto. A quantidade
de literatura moderna sobre este tópico, especialmente
sobre arqueologia mortuária, bioarqueologia, identidade e
gênero, complexidade social, formação do estado e
urbanização está aumentando rapidamente e o projeto
sempre visa manter a atualidade em tópicos relevantes
sem subscrever qualquer tendência intelectual particular
na teoria arqueológica, seja ela processual, pós-
processual ou outra. Isso pode ser ilustrado com os
principais objetivos de pesquisa do projeto e alguns
resultados preliminares alcançados até o momento.
Observamos anteriormente que há algumas
evidências históricas que informam sobre certos aspectos
da antiga cidade de Memphis e seu lugar na formação do
antigo estado egípcio. Mas é muito importante tratar
essas evidências históricas com ca utela. Fontes
faraônicas e escritas posteriores representam em grande
parte a visão da história egípcia que foi aceita na época
em que foi escrita e que, portanto, foi o resultado de

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 130 ]
interpretação e modificação, não raramente para fins de
propaganda e decoro. Além disso, as primeiras
evidências textuais egípcias contemporâneas à formação
do estado fornecem uma imagem muito mais fragmentária
do período do que as evidências textuais de períodos
posteriores. Dado que o desenvolvimento da escrita
hieroglífica é contemporâneo da formação do estado, as
primeiras evidências de inscrição tendem a ser bastante
abreviadas por natureza (a frase completa mais antiga é
apenas do final da 2ª dinastia) e geralmente equivale a
anotações curtas. A maioria das inscrições aponta para
certos eventos (por exemplo, festivais religiosos),
instituições econômicas (por exemplo, propriedades
reais), certos indivíduos ou uma combinação deles, como
o nome de um rei junto com o nome e os títulos de um
funcionário inscrito em um selo cilíndrico e, portanto,
muitas vezes cumprem um propósito administrativo. Mas
eles não podem transmitir explicações completas ou
descrever as narrativas por trás de tais declarações.
A sua correta interpretação requer, portanto, uma
análise contextual detalhada que vai muito além da

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 131 ]
informação efetivamente fornecida (ver também Baines
2007: 95-145). Se apenas as evidências inscritas, que de
fato existem em abundância, fossem consultadas, as
conclusões derivadas se aplicariam apenas a um
pequeno segmento da cidade e sua sociedade, ou seja, o
rei e sua corte, o que obviamente não seria suficiente
para os padrões modernos. A grande maioria dos
Memphites não é coberta por esta evidência; na verdade,
as fontes escritas são uma exceção, ao invés de uma
categoria regular de evidência em contextos não
pertencentes à elite da época. Esta pesquisa, portanto,
tem certas limitações em comparação com investigações
arqueológicas de períodos posteriores com o objetivo de
contextualizar e interpretar dados arqueológicos não
elitistas no contexto da história, religião e sociedade
egípcia, como foi alcançado com tanto sucesso com a
aldeia de Deir el-Medina no Novo Reino (Meskell 1999).
Nossas conclusões devem, portanto, derivar em grande
parte do registro arqueológico. Além disso, este projeto
não visa principalmente chegar a um relato ou narrativa
histórica do desenvolvimento da cidade de Memphis
como capital do Egito, mas fornecer uma imagem

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 132 ]
abrangente de uma variedade de aspectos e processos
envolvidos na formação dessa cidade primitiva, é claro,
sem negligenciar fontes escritas e dados da elite, mas,
em particular, abranger a evidência da sociedade urbana
não pertencente à elite. Isso será possível porque os
túmulos nos cemitérios ao redor de Memphis pertencem a
pessoas que viveram nesta cidade tão importante, em
uma época em que o Vale do Baixo Nilo passava por
grandes transformações sociais, políticas e econômicas,
quando o primeiro estado territorial do mundo estava
sendo criado. Em vez de evidências arqueológicas para a
própria cidade, os cemitérios oferecem informações
cruciais sobre a cultura material, arquitetura, crenças
religiosas, estrutura social, organização e demografia
dessa sociedade urbana, bem como informações sobre
as condições de vida e subsistência vistas da perspectiva
bioarqueológica dos restos humanos, faunísticos e
botânicos encontrados lá.
Embora as tumbas da elite em Saqqara forneçam
informações sobre as camadas superiores da pirâmide
social, incluindo a corte real e a burocracia, são em

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 133 ]
particular as evidências dos enterros não elitistas em
Helwan, que perfazem 84% das tumbas de Mênfis, e
nossos resultados alcançados até o momento que
eventualmente nos permitirão completar o quadro da
sociedade urbana e complexa da época. Além de sua
importância para a pesq uisa da complexidade
socioeconômica, esses dados também oferecem outras
vias interpretativas de investigação, como identidades de
gênero, significado religioso de rituais funerários
realizados no túmulo, bem como um meio de solidificar
nosso conhecimento da cultura material egípcia primitiva,
sua relevância para a cronologia, especialização
artesanal, tecnologia, comércio e troca inter-regional,
subsistência, economia e materialidade. Uma seleção de
tópicos será discutida aqui para ilustrar o enorme
potencial de nosso trabalho, mas é preciso lembrar que
estes, aqui separados para efeito de estrutura, estão
fortemente e dinamicamente inter-relacionados.
1.2.1 Complexidade Social e Urbanização
A área ao redor da cidade posterior de Memphis
tem a maior concentração de sítios e túmulos do início do

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 134 ]
período dinástico em comparação com qualquer outra
região do Vale do Nilo. Este dado estatístico é o principal
argumento para que este projeto possa falar de
urbanismo e da cidade de Memphis, mas não é o único.
Além disso, esta região nesta época também exibe
evidências arqueológicas de alto grau de diferenciação
social e centralização econômica, ambos também
apoiando a noção de uma população urbana.
Particularmente no contexto da formação do
estado, a urbanização e a complexidade social são
tópicos intimamente relacionados, embora seja importante
não reduzir nenhum deles a um papel subordinado, como
Osborne criticou recentemente (2005) em associação
com a urbanização na arqueologia teórica moderna. E
embora este projeto não possa fazer uso de dados
arqueológicos abrangentes geralmente usados para
elucidar padrões de urbanização antiga, como restos de
assentamentos representativos, design urbano e
arquitetura, desenvolvimento espacial ou levantamentos
regionais, este conceito desempenha um pape l
importante neste projeto, no entanto. Isso é notavelmente

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 135 ]
verdade, pois as abordagens modernas da urbanização
pré-industrial permitiram melhores insights sobre a inter-
relação da sociedade centralizada com a economia
agrícola e política, redistribuição, especialização
artesanal, comercialização, comércio e troca, demografia
e organização social (Storey 2006; Smith 2011), que
podem ser investigados por meio dos dados de Helwan.
Para o propósito desta seção, eles são combinados, mas
o IC deseja enfatizar que esta é apenas uma das muitas
combinações possíveis.
A análise preliminar da arqueologia das
sepulturas em Helwan mostra que, por um lado,
provavelmente há espaço para toda uma gama de grupos
socioeconômicos a serem determinados com base na
variabilidade nas despesas. Por outro lado, havia também
um grande grau de consistência porque todos os enterros
tinham uma orientação relativamente padronizada em
uma posição estreitamente contraída e eram fornecidos
com uma gama relativamente restrita de bens funerários.
Esses detalhes parecem refletir uma crença comum em
uma vida após a morte, mas, principalmente, sua

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 136 ]
variabilidade parece expressar a intenção de preservar a
identidade e o status de um indivíduo, o que não é
diferente de períodos posteriores, e é por isso que
especialmente a cultura funerária egípcia oferece tanto
potencial para análise (Meskell 1999). As práticas
funerárias em Helwan exibem grande variabilidade ao
longo do tempo e provavelmente também entre e dentro
dos estratos sociais, o que permitiria insights sobre os
níveis de desigualdade e complexidade social.
O pano de fundo teórico para a suposição de que
provavelmente existe um correlato social das despesas
funerárias, ou seja, diferenciação social, é baseado no
trabalho principal de Tainter sobre o tema e no de seus
seguidores e críticos posteriores (resumido em Parker
Pearson 2003:72-75; Richards 1998, 2005; Seidlmayer
1988). A evidência arqueológica a ser analisada neste
contexto particular reside, por exemplo, no tamanho da
sepultura (ou seja, volume da subestrutura). Das 218
tumbas recentemente escavadas na Operação 4, o
tamanho varia consideravelmente entre tumbas muito
pequenas e muito grandes; 44% das sepulturas

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 137 ]
representam fossas muito pequenas com menos de 2 m3
de volume, 20% variam entre 2-5 m3, 16% 5-10 m3; 13%
10-20 m3, 3% 20-30 m3 e no total apenas 4% das
sepulturas são grandes túmulos entre 30 e 73 m3. Essa
estatística sugere que houve um grande grau de variação
no gasto de energia para construir os túmulos e nos leva
a examinar se essa variação reflete diferenças
socioeconômicas, em caso afirmativo, quais classes
sociais podem ser representadas nessa amostra, se
observações gerais relacionadas a práticas funerárias
específicas em cada grupo social podem ser derivadas e
se há alguma mudança ao longo do tempo. Além disso,
em combinação com os artefatos encontrados nas
sepulturas (quantidade, qualidade, qualquer evidência
inscrita), pode ser possível interpretar esses dados no
contexto da estrutura e organização social da época.
Estas são as conclusões gerais preliminares até o
momento: enterros pequenos e muito pequenos
representam a grande maioria (64%) dos túmulos nesta
amostra. As sepulturas menores, que exibem muito
poucos ou nenhum espólio, provavelmente pertencem
aos membros das classes sociais mais baixas, enquanto

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 138 ]
as classes média e alta são representadas pelos poucos
túmulos de tamanho médio e grande.
Os últimos também são arquitetonicamente muito
mais complexos; eles não apenas têm subestruturas
consideráveis, muitas vezes contendo um grande número
de bens funerários variados, mas às vezes também
superestruturas retangulares de tijolos de barro
compreendendo um local de oferenda especialmente
construído para um culto mortuário, onde lajes de relevo
de calcário inscritas teriam sido frequentemente
instaladas. Esses edifícios e seu local de oferendas
representam os antecedentes das mastabas do Império
Antigo com capelas mortuárias ricamente decoradas e
'portas falsas', o que justificaria interpretações como a
'cultura do mausoléu' de Baines e Lacovara (2002:7), que
visava preservar as identidades privilegiadas dos
proprietários dos túmulos. Há um corpus de mais de 40
lajes em relevo com inscrições hieroglíficas antigas de
Helwan, o maior corpus da região de Memphite, que
fornece informações úteis sobre os nomes e identidades
dos proprietários das tumbas, sugerindo que membros

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 139 ]
menores da corte real, bem como burocratas,
especialistas e padres foram enterrados aqui e tiveram
suas identidades lembradas e materializadas
arquitetonicamente (Köhler & Jones 2009). Dado o
pequeno número de lajes em relevo e o grande número
de túmulos contemporâneos neste cemitério, no entanto,
é óbvio que ter tal túmulo era de fato um grande privilégio.
Uma comparação com outros sítios menfitas apóia a
noção de que os proprietários das maiores tumbas em
Helwan ainda tinham posição e status inferiores aos da
maioria dos proprietários de túmulos contemporâneos no
norte de Saqqara e foi sugerido que esses indivíduos
Helwan poderiam representar a classe média da
sociedade menfita (Köhler 2008a; Köhler & Jones 2009).
A análise final de tais dados não apenas ajudará a
esclarecer a validade dos dados mortuários para uma
avaliação da complexidade social no Egito primitivo,
responderá a questões pendentes sobre a estrutura social
e a organização da população do cemitério em Helwan
como uma amostra da sociedade menfita, mas também
lançará luz sobre quaisquer padrões nas práticas
funerárias entre e dentro de diferentes estratos sociais.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 140 ]
Embora apenas uma pequena amostra de túmulos tenha
sido escavada pelos padrões modernos, ou seja, sob
supervisão científica controlada, eles fornecem dados
qualitativos e quantitativos muito precisos e uma janela de
oportunidade única, ou melhor, uma âncora para
contextualizar os ricos dados mortuários de Helwan no
contexto desta grande amostra de 13.000 túmulos antigos
escavados na região de Memphite. Nossos resultados
podem ajudar a encontrar maneiras de superar as
deficiências metódicas das publicações mais antigas,
comparando nossas observações com outros cemitérios
não pertencentes à elite em nível intrarregional.
Isso pode ser feito para potencialmente chegar a
padrões e conclusões sobre a estrutura social em outros
lugares e, assim, obter uma imagem mais abrangente da
complexidade do sistema de assentamento urbano de
Memphis e seu interior (cf. Storey 2006:8). Em última
análise, esta é mais uma área-chave em que nossas
descobertas contribuirão implicitamente (ou seja, de uma
perspectiva mortuária) para questões relativas ao
urbanismo e à formação do estado faraônico.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 141 ]
1.2.2. Demografia e Identidades
Embora a grande maioria dos sepultamentos
tenha sido perturbada, alguns por sepultamentos
posteriores envolvendo alterações arquitetônicas, mas a
maioria outros por antigos ladrões de túmulos, é possível
afirmar que cada túmulo foi inicialmente construído para
acomodar uma pessoa e que esse espaço assim criado
deveria ser selado indefinidamente. Isso pode ser
interpretado como uma expressão de identidade
mortuária, seja em um contexto religioso, social,
socioeconômico ou de gênero. Isso é evidente pelo
tamanho, arquitetura e construção das tumbas; as
pequenas covas eram grandes o suficiente para conter
um enterro primário, geralmente cobertas com lama,
galhos e galhos de madeira e aterradas até a superfície,
enquanto as tumbas maiores tinham mecanismos de
segurança refinados, incluindo paredes de tijolos de barro
e grandes lajes de pedra inamovíveis que vedavam a
entrada. Os restos humanos ali encontrados, todos
esqueletizados e sem evidências de preservação artificial,
somam mais de 200 indivíduos de todas as idades e

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 142 ]
estão sendo examinados pela antropóloga física do
projeto, Christine Marshall, do Instituto de Bioarqueologia.
Essas análises osteológicas eventualmente
permitirão descobertas científicas precisas relativas ao
sexo biológico, idade na morte, saúde geral e patologias,
padrões de atividade física e divisão do trabalho e
fornecerão importantes parâmetros biológicos métricos
para essa amostra populacional (Marshall 2014). Tudo
isso será de grande importância porque não há outro sítio
na região de Memphis desse período que forneça
tamanha densidade e precisão de dados. De particular
interesse será a inter-relação entre sexo biológico, idade
e o inventário de bens funerários e arquitetura. Dada a
falta de interesse genuíno na análise do esqueleto dos
proprietários do túmulo (Gowland & Knüsel 2006:IX), as
determinações de sexo em estudos mais antigos na área
tendem a ser metodicamente não confiáveis ou baseadas
quase inteiramente na distinção se um enterro continha
joias (feminino) ou não (masculino). Uma análise mais
precisa e estatisticamente viável de tais dados permitirá
observações de padrões em variações de sexo ou idade

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 143 ]
de práticas mortuárias e seu potencial para tirar
conclusões sobre gênero, idade, status, grupo ou
quaisquer outras identidades (cf. Hollimon 2011:150). Um
resultado preliminar de nossas análises é que, em termos
de tamanho da sepultura, a maioria dos homens e
mulheres receberam o mesmo esforço no gasto de
energia, o que é significativo porque em períodos
posteriores, como durante o final do Império Antigo, isso
não parece ser o caso, pois as mulheres muitas vezes
não receberam um túmulo próprio e foram enterradas
com seus maridos. Se eles receberam uma tumba
separada, ela tendeu a ser muito menor (Janosi 1999;
Seidlmayer 2001:214; Köhler - Jones 2009:79). É possível
que essa tendência seja típica da cultura de elite como
em períodos posteriores (Meskell 1999) e, portanto,
também pode encontrar seu reflexo nos enterros de
Helwan, mas isso ainda não foi totalmente investigado.
Será necessário determinar se isso também se aplica às
elites de períodos anteriores e se há de fato um
desenvolvimento que pode ser explicado no contexto de
possíveis mudanças na diferenciação social no tempo e
ao longo do tempo. Outra questão interessante,

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 144 ]
possivelmente relacionada a esse contexto, é por que as
mulheres parecem estar sub -representadas
estatisticamente nessa amostra populacional.
Em uma população de cemitério 'normal', homens
e mulheres deveriam ocupar partes aproximadamente
iguais, mas em Helwan, até onde as análises nos
permitem dizer neste ponto, há quase duas vezes mais
homens do que mulheres entre os restos que podem ser
sexados, o que requer explicação. Várias possibilidades
já foram levadas em consideração, incluindo a seleção
baseada em gênero do local do enterro, maior
mortalidade masculina, maior presença de homens
refletindo a imigração do campo em busca de trabalho
(como observado através de dados do censo no Egito
romano, cf. Bagnall 2006), ou preservação arqueológica
diferencial porque um grande número de indivíduos não
pôde ser sexado devido a danos. Esse dano pode ser
causado por sais minerais, por um lado, que afetam a
maioria dos enterros, mas não explica por que os
esqueletos femininos deveriam ter sofrido mais do que os
masculinos. Ou é devido ao roubo de tumbas que visava

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 145 ]
especialmente enterros femininos e, portanto, causava
distúrbios e danos, pois eles podem conter objetos mais
valiosos para ladrões antigos. Nenhuma dessas
possibilidades foi descartada até agora, e outros
possíveis fatores de viés serão considerados para se
chegar a uma explicação (ver também Bello & Andrews
2006:9-10; Jackes 2011), mas isso ficará pendente de
análise final. É importante ressaltar que nossa pesquisa
se envolverá em análises estatísticas quantitativas de
tantas variáveis quanto possível, a fim de investigar até
que ponto as sepulturas e as práticas fu nerárias
associadas podem de fato ter sido uma tela para refletir
identidades sociais e status socioeconômico como parte
do 'sistema funerário' geral (Smith 1992: 196). Por outro
lado, o projeto também está interessado em examinar os
aspectos qualitativos de túmulos bem preservados e os
possíveis caminhos para identificar e interpretar a
variabilidade individual, seguindo o exemplo de Meskell
com a população de Deir el-Medina (Meskell 1999:139).
1.2.3. bioarqueologia

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 146 ]
Este projeto não discrimina entre técnicas ou
teorias arqueológicas e dados biológicos como tendo
diferentes importâncias ou habilidades para elucidar
aspectos da sociedade egípcia primitiva; muito pelo
contrário, tem um enfoque fortemente bioarqueológico
que compreende as evidências das primeiras tumbas
egípcias em uma abordagem holística e dinâmica com o
objetivo de unir 'o físico com o corpo social' (cf. Gowland
& Knüsel 2006:XI). A importância do estudo dos restos
humanos do sítio já foi demonstrada na seção anterior. A
análise dos dados humanos fornecerá, em última análise,
informações sobre a demografia e a condição geral das
experiências de vida humanas não pertencentes à elite no
início de Memphis, bem como os principais parâmetros
biológicos para essa amostra de população antiga, que
pode ser usada como referência para o estudo de
populações contemporâneas em outros locais do Egito.
Os restos de animais e plantas do local, que são
preservados em grande número, também precisam ser
analisados com precisão para tirar conclusões sobre a
subsistência e ecologia da região de Memphite, sua
importância para a agricultura e pecuária e seu lugar na

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 147 ]
subsistência e economia política do período. Por exemplo,
muitos dos vasos de cerâmica continham grandes
quantidades de restos de plantas. A análise preliminar de
30 amostras de conteúdo de vasos de apenas 10 túmulos
produziu quase 27.000 restos de plantas macro que já
foram classificadas e identificadas por espécie. O
resultado aponta para uma prevalência de cevada
domesticada, seguida de trigo esmeralda como a principal
fonte de alimento vegetal, mas outras espécies, incluindo
frutas e legumes, também foram identificadas. Além
disso, a grande variedade de ervas daninhas nesta
amostra é interessante e oferece oportunidades para
examinar as possíveis estratégias de processamento da
cultura durante este período (Ali 2010).
Como os restos vegetais são tão substanciais em
quantidade e representatividade, seu exame mais
aprofundado é de extrema importância para este projeto.
O mesmo vale para os restos faunísticos, por ex. ossos
de animais, caracóis, moluscos etc., que já apontam para
a noção de que bovinos, ovinos, caprinos e suínos
domesticados representavam as principais fontes de

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 148 ]
proteína animal, complementados por uma variedade de
peixes, aves e alguns outros animais selvagens (Abd El
Karem 2014). Por exemplo, uma das tumbas de tamanho
médio já processadas pertencia a um homem adulto e
continha dois membros traseiros de uma lebre
massacrada, presumivelmente oferendas de comida, o
que é incomum, pois sugere que alguns memphitas não
pertencentes à elite também consumiam caça selvagem.
A caça de animais selvagens durante o período faraônico,
no entanto, é entendida como um passatempo das elites
e será interessante examinar se o consumo de animais
caçados era uma questão de escolha ou uma contribuição
necessária para a subsistência dos plebeus e, portanto,
indicativo de má redistribuição econômica. É aqui que as
informações dos esqueletos humanos fornecerão dados
complementares relativos à dieta e nutrição. Outra tumba,
desta vez de uma mulher adulta relativamente rica,
continha vasos de pedra deliberadamente destruídos
enterrados junto com grandes quantidades de ossos de
gado articulados na descida para a câmara funerária.
Estes, juntamente com a análise das marca s dos
açougueiros e a seleção de certas partes dos animais

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 149 ]
abatidos, permitem uma visão detalhada dos rituais
funerários realizados para e no túmulo, aspectos que
ainda são amplamente compreendidos apenas a partir do
estudo da decoração dos túmulos da elite do Império
Antigo, mas raramente com ba se em evidências
arqueológicas tão bem registradas em contextos não
elitistas.
1.2.4. Rituais e práticas funerárias
Nosso método de escavação cuidadoso nos
permitiu observar evidências da realização de certos
rituais no túmulo e, assim, fornecer caminhos para
abordar o significado dos rituais funerários na sociedade
egípcia primitiva. Foi sugerido anteriormente que o antigo
tratamento egípcio e o enterro de um cadáver podem
envolver aspectos de um rito de passagem seguindo as
primeiras definições de A. van Gennep (van Gennep
1909; Lloyd 1989), e é muito possível que rituais
associados também fossem realizados no início do Egito
(Köhler 2003a). Em geral, o enterro em si pode ser
considerado um ritual por si só devido à orientação e
posição do falecido dentro da sepultura, o que sugere um

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 150 ]
grau de deliberação (Parker Pearson 2003: 6). Cerca de
três quartos dos enterros em Helwan foram colocados em
uma posição contraída ao longo do eixo norte-sul no lado
esquerdo voltado para leste (51%) ou oeste (23%), e o
restante dos enterros foi encontrado em qualquer outra
posição, incluindo o lado direito. Além disso, o falecido
geralmente recebia bens funerários que eram colocados
em áreas específicas da sepultura e serviam a diferentes
funções, seja comida e bebida para sustento, itens
pessoais, ferramentas e artigos de higiene ou objetos que
carregam algum significado simbólico, como os chamados
'vasos fictícios', que apenas parecem ser vasos em forma,
mas são feitos de calcário maciço. Alguns vasos foram
intencionalmente colocados de cabeça para baixo ou
foram deliberadamente destruídos e espalhados por toda
a tumba. Sua destruição ativa pode fazer parte de um luto
ou ritual de separação.
Às vezes, há restos de farinha encontrados nas
camadas superiores de aterro ou dentro da
superestrutura, ou seja, espacialmente claramente

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 151 ]
separado do enterro, possivelmente sugerindo que
comida foi consumida no funeral.
Por outro lado, o acúmulo de depósitos de comida
ao lado do caixão dentro da câmara funerária pode ser
interpretado como comida para o falecido. Em um caso, a
mão direita do falecido estava posicionada na frente do
rosto e segurava uma substância orgânica, que poderia
ser facilmente interpretada como uma oferta perpétua de
alimentos, mas em outro enterro a mão na mesma
posição segurava um caco e esse caco era o único bem
grave. Tais instâncias precisam ser examinadas muito de
perto, pois podem ser interpretadas no contexto de outras
práticas funerárias egípcias conhecidas e crenças
religiosas, mas também têm o potencial de desafiar os
paradigmas existentes, especialmente em comparação
com períodos posteriores (Baines & Lacovara 2002). Isso
já pode ser exemplificado com a observação de que
muitas das primeiras tumbas na região de Mênfis
carregam pouca ou nenhuma evidência de u m dos
conceitos religiosos mais significativos de períodos
posteriores, ou seja, a noção do oeste sendo o lugar e

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 152 ]
epônimo do submundo materializado na localização de
cemitérios, arquitetura de tumbas, orientação funerária e
textos religiosos. Uma análise preliminar das tumbas da
1ª Dinastia e sua orientação, no entanto, sugere que foi a
paisagem local e a topografia, ao invés de conceitos
religiosos, que decidiram a localização e orientação das
tumbas na região de Memphite e que uma mudança neste
padrão foi gerada apenas gradualmente quando os reis
da 2ª Dinastia começaram a construir suas tumbas em
Saqqara e, assim, influenciaram a paisagem religiosa
desta região (Köhler 2012). Existe toda a probabilidade de
que observações semelhantes possam ser extraídas de
outras áreas de evidência, uma vez que atenção
apropriada tenha sido dada a todas as evidências e todos
os dados tenham sido analisados.
1.2.5. Cultura Material e Economia
Esta área de estudo se beneficiará das definições
de Smith de 'economia política arqueológica' (Smith 2004)
e sua aplicação no contexto da economia do estado,
especialmente porque este projeto se refere a uma área
que se tornou o centro primário de um estado territorial

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 153 ]
relativamente grande, e porque a evidência material das
tumbas em Helwan é extremamente rica. Por exemplo, a
quantidade de cerâmica descoberta e documentada em
nossas escavações é insuperável na região e só pode ser
igualada pelo material proveniente da necrópole real
contemporânea em Abidos. As primeiras 100 tumbas da
Operação 4 já foram totalmente analisadas (Köhler 2014,
no prelo); produziram mais de 65.000 fragmentos
cerâmicos classificáveis e centenas de vasos completos.
Esta cerâmica não é apenas a espinha dorsal da
cronologia relativa, mas também oferece insights sobre os
aspectos funcionais dos bens funerários. Parece que
algumas vasilhas tinham uma função primária específica
de servir comida no túmulo, como pode ser sugerido, por
exemplo, com base em tigelas de cerâmica contendo os
ossos de patos cozidos colocados ao lado do caixão.
Outros podem ter servido em função secundária como no
caso de vasilhames normalmente considerados jarras de
cerveja ou vinho, mas contendo grandes quantidades de
cinzas misturadas com restos vegetais carbonizados e
ossos de animais. Nosso estudo da comb inação de
formas de vasos, seus materiais, conteúdos, bem como a

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 154 ]
tecnologia envolvida em sua fabricação, ajudará a
reconstruir a variabilidade material de tal cerâmica
funerária. Embora a maioria das embarcações fosse feita
à mão com lodo do Nilo disponível localmente, muitas
também eram feitas de argilas que não eram locais da
região de Menfite, sugerindo que as embarcações foram
importadas, tanto do Vale do Nilo egípcio quanto de fora,
como do Alto Egito, Núbia e Levante (para importações
levantinas, cf. Köhler & Ownby 2011).
Os próprios vasos, portanto, oferecem conclusões
sobre os recursos e tecnologias de sua fabricação, escala
e modo de produção, nível de especialização artesanal e
seu lugar nas indústrias manufatureiras, economia geral e
sistema redistributivo da época (cf. Köhler 1997, 1998a
para descobertas relevantes da cerâmica contemporânea
no Delta do Nilo). Uma questão particularmente pertinente
ao desenvolvimento de Memphis como um cen tro
primário é se há evidências de uma mudança no
fornecimento de matérias-primas ou de produtos
manufaturados ao longo do tempo, se as indústrias da
cidade atenderam às suas próprias necessidades ou se

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 155 ]
certas mercadorias tiveram que ser importadas. Por outro
lado, será necessário investigar se a cidade desenvolveu
indústrias locais que abasteciam outras partes do Egito
com commodities. Conclusões semelhantes podem ser
tiradas do estudo detalhado de outros materiais além da
cerâmica, como os muitos vasos de pedra esculpidos em
uma variedade de pedras macias e duras, objetos de
cobre e adornos corporais, também feitos de materiais
que em grande parte não eram locais da região de
Mênfis. Devido ao seu maior valor, muitos deles foram,
portanto, alvos importantes para ladrões de túmulos
antigos, que evidentemente saquearam muitos dos
túmulos logo após o funeral, o que é em si uma área
interessante de estudo no que diz respeito à aquisição de
recursos. Embora a manipulação secundária de
sepulturas, seja para enterros adicionais ou como parte
de saques, possa ser considerada um detalhe incômodo e
muitas vezes não registrado na arqueologia egípcia
tradicional, é um aspecto igualmente bem-vindo e
documentado significativo para a tafonomia e os
processos de transformação de contextos arqueológicos,

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 156 ]
por um lado, e suas conclusões sobre o uso do espaço e
a exploração de recursos nos tempos antigos, por outro.
1.2.6. cronologias
O cemitério Helwan foi ocupado por um longo
período de tempo. Embora existam artefatos dispersos do
período pré-histórico, as primeiras tumbas registradas
datam de Naqada IIIA ou Período Protodinástico (c. 3300
aC). A maior densidade de ocupação foi durante as
subsequentes fases Naqada IIIC e IIID, correspondendo
aproximadamente à 1ª e 2ª Dinastia em termos históricos
(Hendrickx 1996, 2006), e o número de túmulos cai
significativamente no final do Império Antigo. Depois
disso, o local foi usado como cemitério com menos
frequência, e apenas em certas áreas, mas até o 1º
milênio A.E.C. (Köhler 2005; Knoblauch 2012). Essas 218
tumbas descobertas em nossas escavações recentes
datam principalmente do período principal de ocupação
(final de Naqada IIIC até o início do Império Antigo), ou
seja, cobrindo cerca de 300-400 anos, o que é importante
por dois motivos. Em primeiro lugar, ainda não existe uma
cronologia relativa confiável em todo o Egito para o

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 157 ]
período histórico entre a 1ª Dinastia e o Império Antigo
(ou para todo o período faraônico, nesse caso, cf. Köhler
2011) e, de fato, não se sabe se e como as fases
cronológicas relativas de Naqada, que foram
desenvolvidas principalmente para o período pré-
dinástico, devem ser continuadas. Como dois terços de
nossos túmulos se enquadram apenas nesta fase, sua
análise de correspondência e seriação, bem como nossa
análise cuidadosa da história deposicional, estratificação,
cerâmica, artefatos não cerâmicos e arquitetura agora nos
permite observar a sequência precisa de túmulos e,
assim, auxilia na construção da base para uma cronologia
relativa desta época (Köhler & Smythe 2004; Köhler,
Smythe & Hood 2011; Köhler 2013).
Atualmente, não há outro sítio na arqueologia
egípcia que tenha o potencial de alcançar isso. Além
disso, o CI foi recentemente nomeado diretor do projeto
das tumbas reais alemãs em Abydos e, portanto, tem
acesso privilegiado a cerâmicas historicamente datadas
desse período, o que ajudará no ajuste fino da cronologia
relativa do período posterior de Naqada e além. Somente

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 158 ]
com base nessa estrutura cronológica relativa sólida, uma
cronologia absoluta pode ser tentada, o que não foi
possível até agora. Uma nova cronologia de radiocarbono
para o Egito pré-dinástico e primitivo foi recentemente
proposta por cientistas da Universidade de Oxford (Dee et
al. 2013), o que é de fato uma contribuição importante
para este tópico. Mas o problema com esses dados é
duplo: a série de amostras e o escopo histórico das
análises terminam na 1ª Dinastia e, portanto, não se
estendem ao período principal de ocupação na Operação
4. Um estudo anterior de Radiocarbono do mesmo grupo
de autores (Ramsey et al. 2010) enfocou o período que
começa na 3ª Dinastia, mas os resultados do Império
Antigo são difíceis de contextualizar arqueologicamente.
Além disso, as amostras usadas para ambas as análises
científicas derivam inteiramente de escavações antigas,
que operaram com pouco controle científico, o que
significa que um dos principais critérios de Waterbolk
(Waterbolk 1971), referente à segurança do contexto
arqueológico de tais amostras, não pode ser garantido. O
Projeto Helwan conseguiu extrair 30 amostras de
radiocarbono de contextos arqueológicos seguros na

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 159 ]
Operação 4, datando principalmente do período entre a 1ª
e a 4ª Dinastias. Juntamente com os resultados da
análise cronológica relativa dos túmulos de onde provêm
as amostras, estes fornecerão as bases sobre as quais
poderá ser construída uma cronologia mais precisa para o
período.
As áreas de investigação aqui mencionadas
representam apenas uma pequena amostra que é
indicativa da riqueza em informação arqueológica e da
importância que o cemitério de Helwan já tem para a
reconstrução das muitas facetas que compunham a
antiga cidade de Memphis. Muitos outros aspectos
poderiam ser citados aqui, mas foram omitidos por
restrições de espaço, e muitos outros padrões só surgirão
quando todos os dados estiverem totalmente
documentados e analisados. Em última análise, este
projeto visa coletar, avaliar, analisar e interpretar todos os
dados arqueológicos e bioarqueológicos descobertos
durante as escavações em Helwan e trazê-los para
publicação.

MÊNFIS NO EGITO - EGIPTOLOGIA


[ 160 ]
REFERÊNCIAS
1 - https://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/1200002976
2 - https://en.wikipedia.org/wiki/Memphis,_Egypt

LISTA DE LIVROS PUBLICADOS
TEOLOGIA
Nefilins
Estudo sobre o dilúvio bíblico
Estudo das dez pragas do Egito
Estudo do voto e Jefté
Vinho na Ceia do Senhor
Pastora é antibíblico
95 teses de Lutero explicadas
Refutando o determinismo de
Lutero
Jesus era chato e antipático
Parapsicologia Bíblica
Dicionário de Parapsicologia
Compêndio teológico sobre o véu
Guia de Estudo Bíblico
Dogmatologia
Javé, o Deus da Bíblia
A Triunidade de Deus
Como fundar uma Igreja
Sexologia cristã
Tratado teológico sobre a barba
Mulher não fala na igreja
Espiritismo X Cristianismo
Ilusão espírita Kardecista
APOCRIFOLOGIA
Livro de Enoque com comentários
Livro dos Segredos de Enoque
analisado
Livros de Adão e Eva
Pseudo-epígrafos de Barnabé com
comentários
Apócrifo Pastor de Hermas com
comentários (25)
BIBLIOLOGIA
Canonicidade Bíblica
Comentário bíblico: Gênesis à
Deuteronômio
Comentário bíblico: Josué a II
Crônicas
Comentário bíblico Esdras a Jó
Comentário bíblico – Salmos
Comentário bíblico – Provérbios a
Cantares
Comentário bíblico – Profeta
Isaias
Comentário bíblico – Jeremias e
Lamentações
Comentário bíblico - Ezequiel
Os quatro livros biográficos de
Jesus
Comentário bíblico – Ev. de
Mateus
Comentário bíblico – Ev. de
Marcos
Comentário bíblico – Ev. De Lucas
Comentário bíblico – Ev. De João

LISTA DOS MEUS LIVROS PUBLICADOS


[ 162 ]
Atos dos apóstolos Explicado
Atos dos apóstolos Comentado e
Ilustrado
Primeira Carta aos Corínti os
comentada
Primeira epístola de Pedro com
comentários
Epístola de Tiago com
comentários
Apocalipse comentado
A Septuaginta
DEMONOLOGIA
O Diabo está ao seu lado
Lugares amaldiçoados
HAMARTIOLOGIA
O pecado da sensualidade
ESCATOLOGIA
Arrebatamento pré-tribulacionista
Juízo Final
O Fim do Mundo 41
ÉTICA
Bebida alcoólica não é pecado
Como se vestem os santos
Você é invejoso, entenda isso
Salto alto faz mal e é pecado
GEOGRAFIA BÍBLICA
O Jardim do Éden na Bíblia
Sinai, o monte de Deus
O exótico Mar Morto
Jericó, a cidade mais antiga do
mundo
Monte Carmelo e o profeta Elias
Mênfis, no Egito
PATROLOGIA
Vida de Antão com comentários
Clemente de Roma
De Trinitate de Agostinho com
comentários
As vestimentas na Igreja Primitiva
- Tertuliano
Hexamerão de Ambrósio ilustrado
e explicado
DEVOCIONÁRIO E SERMÕES
A imitação de Cristo de Tomás de
Kempis com comentários
O peregrino de John Bunyan
ilustrado e explicado
Experimentando Jesus através da
Oração (com comentári os) –
Madame Guyon
Pecadores nas mãos de um Deus
irado comentado
Autoridade Espiritual com
comentários
Motivos para agradecer
TANATOLOGIA
O céu é de verdade com
comentários

LISTA DOS MEUS LIVROS PUBLICADOS


[ 163 ]
Uma prova do céu – analisado
Vida após a vida com comentários
COLEÇÃO DO EX -PADRE ANIBAL
PEREIRA DOS REIS
Senhora Aparecida com
comentários
Essas Bíblias católicas [com
comentários]
A virgem Maria [com comentários]
A imagem da Besta [com
comentários]
Anchieta, santo ou carrasco?
[com comentários]
As aventuras do cardeal [com
comentários]
A guarda do sáb ado [com
comentários]
O cristão e o seu corpo {com
comentários]
Será que todas as religiões são
boas? [Com comentários]
A Senhora de Fátima [com
comentários]
O mais importante sinal da vinda
de Cristo [com comentários]
Cartas ao Papa João Paulo II [com
comentários]
O Diabo [com comentários]
Crente leia a Bíblia! [Com
comentários]
A Missa [com comentários]
COLEÇÃO REFLEXÕES DO
ESCRIBA DE CRISTO
Reflexões vol 1
Reflexões vol 2
CIÊNCIAS ESPACIAIS
Mitologia sobre o planeta Marte
Missões ao planeta Marte
ISS – Estação Espacial
Internacional – Maravilha de Deus
Terra plana dos insensatos
Terra Plana e os satélites
geoestacionários
Terra Plana e os ônibus espaciais
Os astronautas e a terra plana
Ciências X Terra Plana
Globo X Terra Plana – Volume 1
Globo X Terra plana – Volume 3
Globo X Terra plana – Volume 3
Globo X Terra Plana – 100 lições
CIÊNCIAS NATURAIS
Catálogo de mineralogia
Ricardo Felício e o aquecimento
Global
Cactos e suculentas, maravilhas
de Deus
Biologia, O mito da Evolução

LISTA DOS MEUS LIVROS PUBLICADOS


[ 164 ]
Baleias, maravilhas de Deus
A sabedoria das formigas
Formigas, maravilhas de Deus
Pôr do sol, maravilha de Deus
Abelha sem ferrão, maravilha de
Deus
As palmeiras, maravilhas de Deus
Orquídeas, maravilhas de Deus
Camelos e dromedários,
maravilhas de Deus
101 maravilhas de Deus, Volume 1
101 maravilhas de Deus, Volume 2
101 maravilhas de Deus, Volume 3
101 maravilhas de Deus, Volume 4
101 maravilhas de Deus, Volume 5
101 maravilhas de Deus, Volume 6
101 maravilhas de Deus. Volume 7
101 maravilhas de Deus, Volume 8
Botânica Bíblica
Produção de plantas
GASTRONOMIA
Licores, maravilhas da
humanidade
SAÚDE PÚBLICA
Doenças na Humanidade
História das pandemias
Pestes na Antiguidade
Tratamentos contra a Covid-19
Coronavírus e a histeria coletiva
Coronavírus e a imunidade
Coronavírus e as causas de morte
Revolta da Vacina e o Coronavírus
Coronavírus – Isolamento ou
distanciamento?
Coronavírus e os efeitos
econômicos
Virologia do Coronavírus
9 de abril de 2020 – pico do
coronavírus
Coronavírus – Conspiração
Chinesa
Coronavírus e o plano chinês
Coronavírus em cada nação
Coronavírus e suicídio
UFOLOGIA
Eram os deuses astronautas (Com
anotações)
A Bíblia da Ufologia
DIREITA
CONSERVADORA
CRISTÃ
COLEÇÃO: MENTES
BRILHANTES
Guilherme Fiúza, mente brilhante

LISTA DOS MEUS LIVROS PUBLICADOS


[ 165 ]
Rodrigo Constantino, mente
brilhante
Augusto Nunes – mente brilhante
Allan dos Santos – mente
brilhante
Luciano Hang – mente brilhante
Roberto Jefferson – mente
brilhante
Alexandre Garcia, mente brilhante
Olavo de Carvalho, mente
brilhante
Bernardo Küster, mente brilhante
Caio Coppolla, mente brilhante
Deltan Dallagnol, mente brilhante
Gustavo Gayer, mente brilhante
Adrilles Jorge, mente brilhante
Magno Malta, mente brilhante
ESTADOS UNIDOS
Governo Glorioso de Donald
Trump
CONSERVADORISMO
Deus é Conservador e o Diabo é
progressista
ESQUERDA
Os tentáculos malignos da
Esquerda
JUDICIÁRIO
Ministro Gilmar Mendes, o juiz
iníquo
CORRUPÇÃO
Planilha de propina da Odebrecht
explicada
SERIE: LULA
Os amigos de Lula
Todos os telefones do presidente
Lula
Lula e o caso do triplex 21
Lula X ACM
SÉRIE BOLSONARO
Jair Bolsonaro, presidente do
Brasil
Bolsodória – o perfil de mau
caráter
Bolsonaro X João Dória
Bolsonaro – traidor da Direita
SÉRIE: Presidente Moro 2022
– O caso do triplex
- Sigilo telefônico do Lula
COMUNISMO
Comunismo em Cuba
Genocídio Comunista no Camboja
U.N.E. – A serviço do comunismo

LISTA DOS MEUS LIVROS PUBLICADOS


[ 166 ]
PARTIDO DOS
TRABALHADORES [PT]
Memorial criminoso do PT –
Volume I
Memorial criminoso do PT –
Volume II
PT X Cristianismo
NAZISMO
Minha Luta de Adolf Hitler com
comentários
O lado bom do nazismo
DEMOCRACIA
Liberdade e d emocracia de
Mentira
O fracasso da democracia
GEOPOLÍTICA
A China e o Anticristo
OMS à serviço da China
Antissemitismo na Alemanha pré-
nazista
COMUNICAÇÃO
A Era das Fake News
Globolixo em charge
Globovírus
FEMINISMO
Homem é cabeça da mulher
Deus é machista 36
CIÊNCIA MILITAR
Manual do guerrilheiro urbano de
Marighella com comentários
A arte da Guerra com comentários
DIREITO
Direito Divino ao Trabalho
Direito Divino a Legítima Defesa
O instituto divino da Pena de
Morte
ESCRIBA DA
HISTÓRIA
ARTE E LITERATURA
Jesus segundo os artistas
As pinturas de Akiane Kramarik
Pinturas de Caravaggio
As músicas diabólicas de Raul
Seixas
Hamlet de Shakespeare com
comentários
A arte poética de Aristóteles
comentada
Minha Luta de Adolf Hitler com
comentários
O Guarani, ilustrado e comentado
A Revolução do s Bichos
comentada e ilustrada

LISTA DOS MEUS LIVROS PUBLICADOS


[ 167 ]
A Guerra dos Mundos – Livro I
com comentários
A Guerra dos Mundos – Livro II
HISTÓRIA
Código Hamurabi e a Lei de
Moisés
Introdução à Arqueologia
Egiptologia Bíblica
Museu Egípcio do Cairo
História Eclesiástica de Eusébio
de Cesaréia
História do Universo comentada
História do Cristianismo
comentada
História da cidade de Jerusalém
O anjo de quatro patas
A Epopéia de Gilgamesh
O livro dos Mártires co m
comentários
Dragões existiram
História de Itabaiana
HISTÓRIA ECLESIÁSTICA
O que é Igreja Católica Romana?
Finanças da Igreja Católica
Entenda a CCB – Volume I
Entenda a CCB – Volume II
História da Igreja Deus é Amor
BIOGRAFIA
Jacó em férias de 2022
Maria de Lourdes – Mulher
coragem
Cronologia da Vida do apóstolo
Paulo
Vida de Antão com comentários
Vida de Constantino comentada
capítulo a capítulo
David Ben-Gurion – Herói de Israel
Galileu Galilei X Igreja Católica
Lutero era antissemita
GEOGRAFIA
Dubai, maravilha da humanidade
Aeroporto Guarulhos, maravilha
da humanidade
AVIAÇÃO
Os acidentes aéreos no Brasil
Aeroporto Guarulhos, maravilha
da humanidade
CIÊNCIAS SOCIAIS
Como ser feliz
Onde estão as moedas [com
comentários]
Controle Populacional ou o caos
O Estado Judeu de Israel
Os beduínos
COLEÇÃO SERVOS DE DEUS
Charles Finney –Vol 1

LISTA DOS MEUS LIVROS PUBLICADOS


[ 168 ]
Charles Finney – Vol 2
FILOSOFIA
Anticristo de Nietzsche
comentado
ACADEMIA DE
POLÍCIA
CIÊNCIAS POLICIAIS
A perigosa vida de travestis
Escrivão de Polícia é cargo
técnico científico
Manual de Necropsia
Plantão policial
Ocorrências Policiais
Sátiras Policiais
Anedotas policiais
HERÓIS DA POLÍCIA
Sargento Tonny Santos – Herói...
Gabriel Monteiro – Herói da p...
EM OUTROS IDIOMAS
Guide Study Bible [Ingles]
Creacionist Biology {inglês}
Diary Christopher Columbus
(Inglês)
Alcoholic drink is not sin (Inglês)
The Dress in the early church
(Inglês)
Biology, the myth of Evolution
(Inglês)
The Four-legged Angel (Inglês)
Life of Constantine (Inglês)
Last Judgment (inglês)
ArchéologieBiblique (Francês)
Guide d’etude biblique [Francês]
Juicio Final (Espanhol)
Guia de estudio de la Biblia
Indossare il velo (Italiano)
Guida allo studio della Bibbia
Leitfaden zum Bibelstudium
[German]
生物学–進化の神話 (Japonês)
ليلد ةسارد باتكلا سدقملا [arabe]
Biblia Studa Gvidilo [Esperanto]
Gids Voor Bijbelstudie [Holandês]
278 livros publicados