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RESUMO
Nesse texto, Simmel analisa como o ser humano se constitui e dinamiza as suas
relações interpessoais nas grandes cidades europeias a partir do século XVIII. Isto é, como se
conforma o cidadão individualizado nas metrópoles ocidentais, que por sua vez são
dinamizadas pela profunda divisão social do trabalho e pela troca mediada através da moeda.
Para isso, utiliza-se do método comparativo, contrastando o cidadão das pequenas cidades
com o da metrópole, enfocando-os sob o ponto de vista psíquico de seus comportamentos e de
constituição de suas personalidades no exercício da cotidianidade em seus respectivos meios
sociais.
O autor destaca que a vida citadina de uma pequena cidade não permite o
desenvolvimento completo da individualidade. Nessa geografia urbana, praticamente todos
conhecem a todos e o todo, ou seja, o conjunto da sociedade exerce um grande controle sobre
o seu cidadão. Esse controle exerce-se sobre o modo de ser e agir, mas também é exercido
sobre o próprio pensamento dos indivíduos, cerceando-os dentro dos estreitos limites da
sociabilidade que estão inseridos. Além disso, a vida na pequena cidade é determinada por
uma uniformidade cotidiana que se repete quase identicamente dia após dia e mesmo em
longo prazo, conformando um cidadão muito diferenciado, inclusive em termos psíquicos e
intelectuais, em relação ao citadino metropolitano.
Simmel reconhece que a metrópole é o lócus privilegiado das relações monetárias.
Relações que são intensificadas pela divisão social do trabalho, onde tudo se torna
mercantilizável e os processos de troca intensificam-se ao máximo. A metrópole é o lugar do
efêmero, da velocidade, do consumo exacerbado e descartável. Nessas condições societárias,
as relações sociais também são mediadas por tal mercantilização. Elas fragilizam o cidadão,
tornando sua memória volátil e superficial pela ''intensificação da vida nervosa''. Na tentativa
de escapar a essa superexcitação cotidiana, que desestabilizaria emocionalmente o indivíduo,
o metropolitano retrai-se, evita o contato com o semelhante. Mas com isso, torna-se
melancólico, desenvolvendo uma ''vida mental'' que o distancia cada vez mais das relações de
afetividade por um lado e por outro o desenvolve intelectualmente, tornando-o racionalista,
mas voltado para as relações com as coisas. Em última instância, um ser humano que se
desumaniza ao voltar-se para o consumo, tornando-o o sentido de sua vida existencial.
Verifica-se, dessa forma, que se a constante ampliação da divisão social do trabalho
leva a uma interdependência cada vez maior entre os cidadãos da metrópole, em contrapartida