Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados da Santa Casa de Misericórdia de São José do Rio Preto
Regente : Dr Valdemar Mano Sanches
Dr Brunno Rosique Lara
Malformações Craniofaciais
Introdução
A embriogênese da face inicia entre a 4°. e a 9°. semana de gestação, durante as quais o comprimento crânio-caudal (CCC)
do feto aumenta de 3,5 para 28mm.
As alterações mais dramáticas no desenvolvimento facial ocorrem no breve período entre 17 e 27mm de CCC (7°. e 8°.
semanas de gestação). Em embriões com um CCC de 27mm o processo facial já fusionou, marcando o fim da fase de
transformação.
A morfogênese do esqueleto craniofacial inicia com a formação do osso esfenóide e suas extensões, e continua com a
formação da fossa craniana média e anterior e a redução da distância interorbitária. A evolução continua com a união das duas
metades nasais e o desenvolvimento do complexo nasomaxilar, o qual se expande para frente, e para baixo e lateralmente. Em
embriões com um CCC de 27mm o esqueleto está completo com um alongamento do ramo mandibular, o qual se adapta à
formação do complexo nasomaxilar.
As malformações craniofaciais congênitas são pouco freqüentes e apresentam grande variação fenotípica. A incidência
exata de fissuras craniofaciais é desconhecida. Estima-se que a incidência de fissuras faciais raras é aproximadamente 1,4 a
5,1 casos/100.000 nascidos vivos.
As mais freqüentes são as de lábio e palato com uma incidência que varia de 1:680 a 1:2.000 nascidos vivos.
Houve um grande impulso no tratamento após a 2°. guerra mundial.
Tessier proporcionou o maior progresso no tratamento com abordagem intracraniana. Foi o primeiro a reconhecer a
complexidade tridimensional das fissuras craniofaciais e afirmou: “uma fissura dos tecidos moles corresponde como regra
geral a uma fissura das estruturas ósseas”.
A causa é desconhecida, as evidências em animais e estudos clínicos sugerem uma etiologia multifatorial. Fatores como
infecção com o vírus influenza A2, infestação pelo protozoário da toxoplasmose, distúrbios metabólicos maternos e exposição
a componentes teratogênicos, incluindo anticonvulsivantes, antimetabólicos e agentes alquilantes, esteróides e tranqüilizantes,
podem ter um papel na etiopatogênese das fissuras craniofaciais.
As duas principais teorias para explicar a formação das fissuras faciais, são:
1 – Falha de Fusão: Essa clássica teoria, proposta por Dusty (1869) e His (1892), considera que a região
central da face é o local da união dos três finais dos processos faciais.
A face toma forma à medida que os vários processos se fusionam. Após o contato epitelial ser estabelecido por esses
processos, a penetração pelo mesoderma completa a fusão. A ruptura dessa seqüência resulta em formação de fissuras.
2 – Migração e Penetração do Mesoderma: Essa teoria, proposta por Pohlman (1910) e Veau e Politzer
(1936), considera que processos separados não são encontrados na porção central da face; assim, terminações livres dos
processos faciais não existem.
Ao contrário, a porção central da face é composta de uma lâmina contínua de uma membrana bilaminada de ectoderma,
conhecida como placa primária, a qual é demarcada por suturas epiteliais que delineiam os “processos” principais. Dentro
dessa camada dupla de ectoderma, referida como parede epitelial, o mesênquima migra e penetra para suavizar as suturas. O
mesoderma craniofacial é aumentado pelo neuroectoderma vindo da migração das células da crista neural, do qual acredita-se
que o esqueleto craniofacial seja o principal derivado. Se a penetração pelo neuroectoderma não ocorre, a parede epitelial
rompe para formar a fissura facial.
A gravidade da fissura é inversamente proporcional ao grau de penetração pelo neuroectoderma. Se a penetração falha por
completo, uma fissura completa é formada com a deiscência de parede epitelial.
A penetração parcial resulta no desenvolvimento de uma fissura incompleta.
Classificação
Em 1962 , Harkins e associados, através da American Association of
Cleft Palate Rehabilitation (AACPR), propuseram um sistema de
classificação, no qual as fissuras estavam divididas em quatro grupos:
1- Fissura do Processo Mandibular, 2- Fissura Naso-Ocular,
3-Fissura Oro-Ocular, e 4- Fissura Oro-Aural.
As fissuras do lábio inferior e da mandíbula estavam incluídas no
grupo 1. As fissuras naso-oculares estendiam-se da região alar até o
canto medial. As fissuras do grupo oro-ocular conectavam a boca com a
as fissuras palpebrais. Este grupo era subdividido em oro-medial canthus
e oro-lateral canthus. O outro grupo era formado pelas fissuras que se