Sexto Livro - Capítulo 22
na ordem da graça, e da natureza. Fizeste-
me Senhor dos céus e dos elementos (Mt
28,18), do sol, da lua e estrelas; do fogo,
do mar, da terra e dos mares, e de quantas
criaturas animadas ou inanimadas neles
existem. Entregaste-me a disposição dos
tempos, dos dias e das noites, dando-me
senhorio e poder universal, à minha livre
vontade. Fizeste-me Cabeça, Rei e Senhor
dos anjos e homens (Ef 1, 21), para os
governar, premiando aos bons e casti-
gando os maus (Jo 5, 22). Para tudo me
deste o poder e as chaves do abismo (Apoc
20,1), desde o supremo céu até o profundo
das cavernas infernais.
Puseste em minhas mãos a justifi-
cação eterna dos homens, seus impérios,
reinos e principados; os grandes e
pequenos, os pobres e os ricos. De todos
os que são capazes de tua graça e glória,
me fizeste Justifícador, Redentor e Glori-
ficador universal de todo o gênero hu-
mano (1 Cor 1,30), Senhor da morte e da
vida de todos os nascidos, da Santa Igreja
e seus tesouros, das Escrituras, mistérios
e Sacramentos, auxílios, lei e dons da
graça.
Tudo puseste em minhas mãos (Jo
13,3), ó Pai, e subordinaste à minha von-
tade e disposição; por isto eu te louvo e
exalto, te confesso e glorifíco.
Jesus operou e ofereceu a salvação
para todos
1402. Agora, Senhor e Pai eterno,
volto deste mundo à tua destra por meio
de minha morte na cruz. Por ela, e por
minha paixão, deixo cumprida a redenção
humana que me encomendaste.
Quero, meu Deus, que a mesma
cruz seja o tribunal de nossa justiça e mi-
sericórdia; nela cravado, quero julgar
aqueles por quem dou a vida; justificando
minha causa, quero dispor dos tesouros de
minha vinda ao mundo, de minha paixà
e morte, para que desde já fiqUe esta°
belecida a recompensa para cada um dos
justos e dos réprobos, conforme as obras
de cada qual, conforme houverem me
amado ou odiado.
A todos os mortais procurei e
chamei à minha amizade e graça; desde o
instante em que assumi a natureza hu-
mana, sem cessar trabalhei por eles: sofri
trabalhos, fadigas, afrontas, ignomínias
opróbrios, açoites, coroa de espinhos, e
estou padecendo morte acerbíssima de
cruz; roguei por todos à tua imensa
piedade; passei vigílias em oração, jejuei
e caminhei ensinando-lhes a estrada da
salvação. Quanto depende de mim e de
minha vontade, para todos a quero, como
para todos a mereci, sem exceptuar nin-
guém. Para todos, e pai a sempre, promul-
guei a lei da graça e fundei a Igreja onde
serão salvos.
Maria, primeira e universal herdeira
de Cristo
1403. Por nossa previsão e ciência
conhecemos, Deus e Pai meu, que, por
malícia e rebeldia, nem todos os homens
querem a salvação eterna. Nào aceitam
valer-se de nossa misericórdia e do
caminho que Eu lhes abri com minha vida,
obras e morte. Desejam seguir seus pe-
cados até a perdição.
Sois justo, Senhor e Pai meu, e
retíssimo são os teus juízos (SI 118,137).
É justo que, tendo-me feito juiz dos vivos
e dos mortos (At 10,42), dos bons e dos
maus, dê aos justos o prêmio de me
terem seguido e servido, e aos pecadores
o castigo de sua perversa obstinação.
Tenham aqueles parte Comigo e nos
meus bens, enquanto os outros sejam
privados de minha herança que não qui-
seram aceitar.
386