Franz Anton Mesmer
O pai do magnetismo - part 2
Mesmer publicou uma “História da descoberta
do Magnetismo Animal” em 1779, na qual ele
enumerava seus experimentos, e
acrescentava a eles vinte e sete proposições.
Ele declarava que:
"Só a experiência vai dissipar as nuvens e lançar luz sobre esta importante
verdade: que a Natureza oferece meios universais de cura e preservação do
homem."
As seis primeiras proposições estabelecem a existência e atividade cíclica do
magnetismo animal:
1. Existe uma influência mútua entre os Corpos Celestes, a Terra e os Corpos
Animados.
2. Um fluido universalmente distribuído e contínuo, que é muito diferente
do vácuo e de natureza incomparavelmente rarefeita, e por cuja natureza é
capaz de receber, propagar e transmitir todas as impressões de
movimento, é o meio desta influência.
3. Esta ação recíproca é subordinada a leis mecânicas que são até então
desconhecidas.
4. Esta ação resulta em efeitos alternados que podem ser considerados
como um Fluxo e Refluxo.
5. Este fluxo e refluxo é mais um menos geral, mais ou menos particular,
mais ou menos compósito, de acordo com a natureza das causas que o
determinam.
6. É por esta operação (a mais universal daquelas apresentadas pela
Natureza) que as proporções de atividade são estabelecidas entre os
corpos celestes, a terra e suas partes componentes.
As quatro proposições seguintes explicam a relação do magnetismo animal
com a matéria e fazem uma analogia com o magneto:
7. As propriedades da Matéria e dos Corpos Orgânicos dependem desta
operação.
8. O corpo animal suporta o efeito alternado deste agente que, insinuando-
se na substância dos nervos, afeta-os imediatamente.
9. É particularmente manifesto no corpo humano que o agente tem
propriedades similares às do magneto; pólos diferentes e opostos podem
igualmente ser distinguidos e podem ser mudados, comunicados, anulados
e reforçados; até mesmo o fenômeno de oscilação é observado.
10. Esta propriedade do corpo animal, que o deixa sob a influência dos
corpos celestes e das ações recíprocas daqueles que o rodeiam, como
demonstrado pela sua analogia com o Magneto, induziu-me a denominá-la
MAGNETISMO ANIMAL.
Depois de três proposições sobre a comunicabilidade do magnetismo
animal, Mesmer compara sua atividade às da luz, som e eletricidade:
14. Sua ação é exercida à distância, sem auxílio de um corpo intermediário.
15. É intensificado e refletido por espelhos, assim como a luz.
16. É comunicado e intensificado pelo som.
17. Esta propriedade magnética pode ser armazenada, concentrada e
transportada.
Ele sugere que existe uma força positiva oposta que poucos corpos contêm
e que tem características similares ao magnetismo animal. Então ele explica
a diferença entre magnetismo animal e mineral e mostra a relação entre
eles:
20. O Magneto, tanto o natural como o artificial, junto com outras
substâncias, é suscetível ao Magnetismo Animal, e mesmo à propriedade
oposta, sem que seu efeito sobre o ferro e a agulha sofram qualquer
alteração em ambos os casos; isto prova que o princípio do Magnetismo
Animal difere essencialmente do magnetismo mineral.
21. Este sistema fornecerá novas explicações sobre a natureza do Fogo e da
Luz, bem como sobre a teoria da atração, do fluxo e do refluxo, do magneto
e da eletricidade.
22. Fará conhecer que o magneto e a eletricidade artificial só têm, no que
tange às doenças, propriedades que compartilham com diversos outros
agentes providos pela Natureza, e que se efeitos úteis têm derivado do uso
da última, eles são devidos ao Magnetismo Animal.
Mesmer conclui com a observação de que “o magnetismo animal pode
curar desordens nervosas diretamente e outras desordens indiretamente.
Ele pode ser usado junto com remédios, embora pressuponha uma nova
teoria sobre a doença. Quando dominado, contudo, habilita o médico a
aperfeiçoar sua arte de modo que possa tratar sem receio de fazer mal e
assim aliviar os sofrimentos da humanidade.”
Um pequeno volume, “Memórias de F. A. Mesmer”, apareceu em 1799. Mais
uma vez ele explicava os fundamentos de sua teoria, mas agora mergulhava
no verdadeiro coração da operação magnética.
"Nós possuímos um sentido interior que está em conexão com todo o
universo, e que poderia ser considerado como uma extensão da visão.
Possuímos a faculdade de sentir na harmonia universal a conexão dos
eventos e seres com a nossa própria conservação... A comunicação da
vontade reside em um tipo de convenção entre duas vontades, que
poderiam ser ditas estar em sintonia."
A chave para o uso curativo do magnetismo animal é a vontade
do médico. Seu estado - a qualidade do desejo e da intenção
que o motivam - é crítico para a cura. Daí que só aqueles que
são qualificados em termos de força e pureza de vontade
podem repetir com sucesso as experiências de Mesmer.
Depois da ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder, reconvocado a Paris,
Mesmer encontrou uma fresca atmosfera de aceitação e testemunhou um
contínuo aumento de sua fama.
Por volta de 1812 o Rei da Prússia e a Academia Alemã ofereceram-lhe
dinheiro e honras, mas ele recusou, para continuar viajando. Ele desejava,
devotar-se exclusivamente à prática de seu método, de modo que a
humanidade “não possa mais ser exposta aos incalculáveis riscos do uso
das drogas e sua aplicação”. Em 15 de março de 1815 ele discretamente
abandonou o mundo depois de ouvir uma peça de música composta por
Mozart. A Real Sociedade de Paris e o governo alemão ofereceram
postumamente prêmios pelos melhores tratados sobre o Mesmerismo, e
um grupo de estudantes continuou suas experiências.
Mesmo após o revés imposto à doutrina do
magnetismo animal, esta não estava aniquilada.
A partir de 1786, ela recobrou energias novas
com as experiências do Marquês Puységur, do
dr. J. H. Desiré Pétetin de Lyon e do dr. J. P. F.
Deleuze.
Uma figura de destaque na história do
magnetismo animal foi J. P. F. Deleuze. Assistiu ao
primeiro tratamento magnético em 1785. Em
decorrência de seu treino científico, preservou-se
das extravagâncias de alguns seguidores de
Mesmer. Deleuze passou a estudar a relação do
magnetismo animal com dores, doenças e
sonambulismo e chegou a publicar obras sobre o
assunto. Podmore assinala que Deleuze tem
alguma responsabilidade na interpretação de que
o transe estaria relacionado com o mundo
espiritual. Nos seus últimos anos, Deleuze parece
ter aceito as hipóteses do "Spiritualism".
Charles Richet ressalta que Mesmer foi o
iniciador do magnetismo animal que, sem poder
ser confundido com o metapsiquismo, está com
ele estreitamente unido. Todavia, observa que
com Puységur, D'Eslon e Deleuze, a
magnetização veio a ser sobretudo um processo
terapêutico. Quase todo o esforço dos
magnetizadores se limitou à diagnose e à
terapêutica das doenças.
Na Inglaterra, foi crescente o interesse pelo mesmerismo. O principal
periódico sobre o tema era o "Zoist" (1843-1856), um jornal com status
científico. Publicou alguns casos de supostas clarividência mesmérica e de
outras manifestações.
Ao mesmo tempo que o magnetismo animal preparava terreno e facilitava
a difusão do "Spiritualism" nos Estados Unidos e na Inglaterra,
indiretamente também preparou o terreno para o aparecimento do
Espiritismo na França.
A aplicação do magnetismo à terapêutica era
o fato que mais impressionava o prof. Rivail,
em Paris. Com o tempo, pôde inteirar-se da
força magnética que todos os seres humanos
possuem, em graus diversos, vindo a ser ele
próprio, "experimentado magnetizador,
segundo escreveu seu amigo pessoal e
discípulo Pierre-Gaetan Leymarie, na "Revue
Spirite" de 1871" (Cesar Lombroso, traços
biográficos).
Algum tempo depois, o prof. Rivail imortalizou-
se com o pseudônimo de Allan Kardec,
realizando a gigantesca obra de codificação da
Doutrina Espírita.
O inolvidável Charles Richet, ao dividir em
períodos as fases relativas ao estudo dos
fenômenos, considerou Mesmer um divisor de
águas, encerrando o período mítico e sendo o
iniciador do período magnético. O período
seguinte, o espirítico, segundo Richet, iniciou-se
com os fenômenos das médiuns Fox, de
Hydesville.
Sem dúvida, ficou claro que o novo "Spiritualism" sempre esteve muito
relacionado com o mesmerismo, mas em termos de origem de uma
Doutrina sistematizada, ousamos afirmar que Allan Kardec, como
magnetizador e a convite deles, deixou uma contribuição marcante e muito
enriquecida para o conhecimento do homem integral, bem como para o
diagnóstico e tratamento das distonias nas relações entre o espírito e
matéria.
Além desses aspectos, especificamente nas especialidades da saúde
mental, é que Mesmer deixou reflexos marcantes. Ao analisar a história da
saúde mental, Valmir Adamor da Silva comenta: "Mesmer, com seus
estardalhaços no campo do magnetismo, embora inconscientemente, foi o
principal responsável pelo nascimento da psicoterapia. Dele proveio o
hipnotismo e deste deu-se curto passo para a psicanálise.
Franz Anton Mesmer não foi sábio. Mas também não foi
charlatão. Foi um precursor. Precursor inconsciente
da sua contribuição no campo da medicina mental -
por não saber distinguir o verdadeiro quadro clínico
dos seus enfermos. Ele foi vítima de uma época em
que fazer ciência era filosofar. A filosofia nunca foi
boa Medicina ... Seus estudos foram reiniciados um
século depois, na França, pelo alienista Jean Martin
Charcot. O hipnotismo passava por novas roupagens
e era alvo de explicações científicas mais sólidas. A
psiquiatria incorporava em suas pesquisas o
mesmerismo. E alguns anos mais, Freud viria
classificar de psiconeuroses as enfermidades que
Mesmer não soube explicar" (A história da loucura).
Franz Anton Mesmer
O pai do magnetismo