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Considerando que o fazer arte é um símbolo que define a humanização, o corpo
foi então a primeira tela. Recuando ainda mais, pinturas, desenhos e ornamentos
descobertos em cavernas indicam a presença de povos que há aproximadamente 30000
anos intervinham no próprio corpo. Do mesmo modo as tumbas e sarcófagos, revelam
que certas civilizações usavam tatuagens, piercings e esculpiam seus corpos, decorando-
os há milênios. Tudo indica que as formas identificadas como body art apareceram no
mundo antigo com o mesmo propósito principal: expressar identificação com alguns
grupos e distinção de outros, questionar o lugar do indivíduo no universo e no plano social
e, em casos de uso religioso, buscar comunicação com a vida após a morte.
Se pensarmos na arte de pintar o corpo, constata-se que esse processo é tão antigo quanto
a cultura humana, de forma que em sociedades primitivas era comum utilizar tintas para cobrir o
corpo com sinais, que muitas vezes, ultrapassavam a questão de “adornar”, posto que em algumas
culturas, os traços que cada um carregava pressupunha hierarquia, festividades típicas, passagem
de ciclo, etc.
Foi dessa forma que a arte do corpo ou a body art surgiu, primeiramente como
ritual religioso ou marca cultural para designar determinada pessoa no grupo e, mais tarde,
como forma artística propriamente dita. Dessa maneira, importante notar que a body art
passou por diversas transformações até chegar no século XXI como uma das tendências
mais exploradas, tal qual a tatuagem. Em resumo, antes ela surgia como uma necessidade
de cultivar a crença e os rituais, e atualmente, como forma de explorar artisticamente a
mais importante identidade humana: o corpo.
2. BODY ART E A HISTÓRIA DA ARTE CORPORAL
Como nós decoramos nossos corpos diz aos outros quem somos como indivíduos. Em
todo o mundo, muitas pessoas usam sua pele como tela viva, representando experiências
passadas, bravura, status, beleza, proteção, fertilidade, magia, transformações e conexões
com outros reinos. Esses tipos incríveis de expressão existem em dois mundos paralelos,
um mundo mais antigo oriundo de rituais e tradições que nos distinguem como o ser
humano, e o outro mundo como uma forma de arte contemporânea.
Um antigo provérbio ban de Bornéu diz:"Um homem sem tatuagens é invisível
para os deuses”. A pintura do corpo, ou como também é conhecida bodypainting, é uma
forma de arte corporal, que por sua vez, é uma arte constituída pelo o corpo humano:
Ao contrário de tatuagem e outras formas de arte do corpo permanente, pintura
corporal é temporária, pintada sobre a pele humana, e tem a duração de um dia, ou no
máximo (no caso de Mehndi, "henna") duas semanas. A arte corporal também é uma
subcategoria de arte performática, em que artistas usam ou abusam do seu próprio corpo
para fazer suas declarações particulares.
A autora Bella Volen [4] separou o movimento Body Art em três momentos: Arte
corporal como forma de ritual,
2.1 Arte Corporal Como Forma de Ritual
Toda sociedade, passada ou presente, tem ou teve sua cultura própria de arte
corporal. Os rituais são uma constante universal na sociedade humana. Começando com
o início do desenvolvimento cultural humano, rituais continuaram a ter espaço na
sociedade, mesmo no mundo moderno. Não há escassez de pesquisas sobre rituais e
teorias sobre sua natureza. Em todas as culturas, rituais coincidem com grandes pontos