É, chega de enrolação. Hora de encarar a vida com a cabeça erguida e aceitar que agora
eu estou... sozinha. Sozinha. Solteira. Desquitada. Mal-amada. Qual o problema de ficar
sozinha, não é mesmo? Não ligo. Não ligo mesmo. Isso não me incomoda nem um pouco.
Sou uma menina-quase-mulher madura, qual é? Tenho 22 anos, finalmente. Vinte e dois
anos. Já posso dizer por aí que banco as minhas atitudes e todas as suas consequências
(porque elas sempre vêm, ah, vêm).
Sou uma garota normal, normal até demais. Minha pele é alva como uma parede
pintada de branco (obrigada pela melanina que vocês não me deram, pais…), os cabelos
lisos, escorridos, boi-lambeu, sem graça, que não suportam uma tiara sequer, os olhos
castanhos, como eu já disse, são bem normais mesmo, a altura eu ainda tenho esperanças
de que aumente, e o meu corpo não é magro, nem gordo, nem malhado. É normal. É, eu até
que sou bem normal quando não se trata de relacionamentos.
Fazer 22 anos não me mudou em nada, na verdade, foi um saco. Porque todo ano você
pensa que assim que der 0h do dia do seu aniversário tudo vai mudar. De repente, você vai
se tornar aquela mulher madura e sedutora que vemos nos filmes, vai impor respeito e
olhar pra todo mundo de modo firme e convicto, a aura de mulher moderna se iluminará,
todos os garotos vão notar que agora você é decidida, já sabe o que quer… Mas não; 0h01 e
você ainda é a mesma garota chorona de quando tinha quinze anos. Ainda é a mesma garota
indecisa de horas atrás. Sobre as inseguranças, nem se fala. Você ainda é a mesma.
Uma coisa que me incomoda em mim é a tal da indecisão. Eu nunca sei se estou no
caminho certo e, se estou, se quero seguir esse caminho, ou, se não estou, pra onde devo me
direcionar e, caso descubra pra onde, se quero mesmo ir. Entende? Eu sei que não. É difícil
entender.
Então, sempre que me vejo diante de uma situação ou diante de um provável
“romance”, acabo dizendo que ele é o “amor da minha vida”. Porque vai que dizer atrai, né?
Como aquela vez em que cismei que estava apaixonada pelo meu melhor amigo de
infância, o Fernando. Pois é, minha vida sempre foi um clichê, do começo ao fim. Não que
ela tenha chegado ao fim, bem, você entendeu. É que meu melhor amigo de repente
esticou, começou a malhar e — foco — teve os primeiros pelos de barba crescendo por todo
o rosto. E o que isso tem a ver com minha paixão repentina? Não é óbvio? O cara já era meu
melhor amigo, já tinha me visto de pijama de flanela, acordando de cara amassada, e ainda
assim não tinha fugido pra bem longe. Sem contar que eu bem reparava que todas as vezes
que saíamos juntos ele me lançava olhares nervosos e tímidos. Como se esperasse
encontrar olhares apreensivos em troca. Era ó-b-v-i-o que ele era o amor da minha vida. Eu
sabia, sabia. Esse lance de se apaixonar pelo melhor amigo não era coisa de filme, estava
acontecendo comigo. Ai, que lindo! Não era lindo? Na próxima festa de quinze anos, ele me
tiraria para dançar ao som de “Iris”, do Goo Goo Dolls, dançaríamos coladinhos e, antes do
fim da música, ele me beijaria.
Os acontecimentos que viriam em seguida estavam claros em minha mente:
namoraríamos, eu seria a melhor amiga da irmã mais velha dele (já estava trabalhando
nisso), conquistaria seus dois poodles antipáticos (juro que me esforçaria, talvez levasse
uns biscoitinhos caninos de vez em quando), faria com que minha mãe acreditasse que ele,