A ESCRITA NA PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA Emília Ferreiro é psicóloga e pesquisadora. Nasceu na Argentina em 1937. Reside no México, onde trabalha no Departamento de Investigações Educativas (DIE) . Fez seu doutorado sob a orientação de Piaget, Universidade de Genebra. Em 1971, constituiu um grupo de pesquisa sobre alfabetização, desenvolvendo estudos de caráter experimental (1974-1976) com crianças matriculadas nas escolas primárias e nos jardins de infância. / Ana Teberosky é Doutora em Psicologia e docente do Departamento de Psicologia Evolutiva e da Educação da Universidade de Barcelona. Também atua no Instituto Municipal de Educação dessa cidade, desenvolvendo trabalhos em escolas públicas.
As autoras demonstram que a escrita alfabética não é um código, o qual se aprenderia a partir de atividades de repetição e memorização e propõem uma concepção de língua escrita como sistema de representação da fala, buscando explicações sobre as formas como as crianças aprendem a ler e escrever. Assim, para as autoras a evolução da escrita na criança ocorre por níveis sucessivos , caracterizados por uma hipótese central e uma série de fatores que levaram às seguintes conclusões:
Garatuja: escrever é reproduzir traços típicos da escrita que a criança identifica como a forma básica da mesma. A criança acredita que a escrita é outra maneira de desenhar as coisas ou que escrever é produzir um traçado que se diferencia do desenho por possuir alguns traços típicos da escrita. Todas as escritas se assemelham muito entre si, o que não impede que a criança as considere como diferentes. 1º NÍVEL DE EVOLUÇÃO DA ESCRITA (p. 193) Ferreiro e Teberosky (1999)
Atividades para o avanço de nível: Apresentação do alfabeto para a criança; Atividades de diferenciação de letras e outros símbolos; Apresentar o nome e as letras que o compõe.
Pré -silábico: para poder atribuir significados diferentes, deve haver uma diferença objetiva nas escritas. Acredita que há uma quantidade mínima de letras para escrever (geralmente 3) e que precisa variar os grafismos para ser considerado escrita (Variação quantitativa e qualitativa). Usa letras conhecidas, geralmente letras do próprio nome na escrita das palavras. Ferreiro e Teberosky (1999, p.207 ) 2º NÍVEL DE EVOLUÇÃO DA ESCRITA (p. 202)
Atividades para o avanço de nível: Listagem de nomes; Trabalhar com gêneros textuais conhecidos na memória; Ordem alfabética, ilustrada com desenhos; Criação de jogos com nomes; Trabalhar com rótulos; Completar letras que faltam de uma palavra; Circular letras iguais ou nomes ou palavra-chave; Produção de pequenos textos ditados, listas...
T entativa de atribuir valores sonoros a cada uma das letras que compõem uma escrita. Cada letra vale por uma sílaba. Surgem as hipóteses silábicas, quando ocorre o início do processo de fonetização da escrita e as crianças elaboram três hipóteses: Hipótese silábica Hipótese silábico-alfabética Hipótese alfabética 3º NÍVEL DE EVOLUÇÃO DA ESCRITA (p. 209)
Hipótese silábica: Nessa hipótese podem aparecer tanto grafias distantes das formas das letras como grafias convencionais. Nas grafias diferenciadas a criança pode utilizar letras com ou sem valor sonoro estável (convencional ). Ocorre uma mudança qualitativa já que a criança supera a correspondência global entre a forma escrita e a expressão oral atribuída, trabalhando com a hipótese de que a escrita representa partes sonoras da fala. Ferreiro e Teberosky ( 1999, p.210) HIPÓTESE SILÁBICA (p. 209 )
Atividades para o avanço de nível: Fazer listas e ditados variados; Trabalhar com análise oral e escrita do número de sílabas, sílaba inicial e final das palavras do texto; Ligar desenho à primeira letra inicial; Usar jogos e brincadeiras que envolvem a escrita; Propor atividades em dupla para reescrita
A criança abandona a hipótese silábica e descobre a necessidade de fazer uma análise além da sílaba. Assim passa a usar, ao mesmo tempo, letras para representar sílabas e letras para representar fonemas; fazem longas e seguidas análises sonoras . PAL = “PAU” (PALO) MCA = “MESA” (MESA) MAP = “MAPA”(MAPA (Pablo, 6 a, CM) FERREIRO, TEBEROSKY, 1999, p. 216 ) HIPÓTESE SILÁBICO-ALFABÉTICA (p. 214)
Atividades para o avanço de nível: Ordenar frases no texto; Completar frases, palavras, sílabas e letras das palavras do texto; Dividir palavras em sílabas; Formar palavras a partir de sílabas; Produção de textos ditados, listas Ligar palavras ao número de sílabas...
As crianças compreendem que as letras representam as unidades menores da linguagem oral (os fonemas) e que, para esses diferentes sons, existem letras também diferentes; passam a se defrontar com as dificuldades próprias da ortografia e da segmentação das palavras. ) HIPÓTESE ALFABÉTICA ( p. 219)
Atividades para o avanço de nível: Investir em conversas e debates; Possibilitar o uso de estratégias de leitura, além da decodificação; Considerar o “erro” como construtivo e parte do processo de aprendizagem; Produção coletiva de diferentes gêneros textuais; Análise linguística das palavras; Reescrita individual e coletiva; Trabalhar atividades como enigmas, forca, caça-palavras, cruzadinha...
A ESCRITA NA PERSPECTIVA DISCURSIVA Graduou-se em Filosofia pela PUC do RJ (1972). Mestre em Educação pela University of Arizona, USA (1978); Doutora em Educação pela Unicamp (1987). Realizou o Pós-doutorado em Psicologia da Educação nos USA (1990 ). É coordenadora do Grupo de Pesquisa Pensamento e Linguagem da Universidade Estadual de Campinas. Trabalha nas áreas da Educação e da Psicologia . . ( Fonte: Currículo Lattes)
A autora preconiza um processo de alfabetização que, na interação com os sujeitos, faça sentido para as crianças produzindo espaços de negociação de outros modos de ver e compreender o mundo, apresentando a escrita em sua dimensão funcional, pragmática, contraditória e lúdica, conforme experienciada no cotidiano.
O que estes textos trazem de pistas para nós além das questões ortográficas e/ou gramaticais?
PARA REFLETIR “O conflito cognitivo apontado por Ferreiro não pode, sem dúvida alguma, ser ignorado. Mas o que também deve ser levado em consideração é que, entremeados nessa questão, estão os aspectos das funções e configurações da escrita, da dimensão simbólica e do processo de conceitualização e elaboração das experiencias [...].” (SMOLKA, 2012, p. 86)
É possível analisar a hipótese de escrita dessa criança? Nível Alfabético? Ou silábico-alfabético?
Nível Silábico- alfabético? Ou silábico? Nível Pré-Silábico? Ou garatuja?
A mediação no processo de alfabetização : P odemos intervir qualitativamente no desenvolvimento da escrita de nossos alunos, levando-os a compreender a natureza simbólica e interacional da escrita. A mediação qualificada precisa romper com a ideia de treinamento das crianças para se ensinar a escritura.
Referências FERREIRO, Emília.; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita . Porto Alegre: Artemed , 1999. SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. A criança na fase inicial da escrita: a alfabetização como processo discursivo. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2012.