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trabalhadores podem ganhar uma parcela maior da renda gerada pela atividade
produtiva.
Este tipo de exploração é inerente ao capitalismo. Se os trabalhadores não recebem de
volta o pleno valor de seu produto – o que é necessariamente o caso em um sistema de
propriedade privada e de produção para o lucro – então, não podem comprar de volta
todas as mercadorias que produzem. Esta situação tende a criar situações de
superprodução que, historicamente, têm resultado na queda da produção e no aumento
do desemprego que leva inevitavelmente a crises tendentes à depressão como a que
experimentamos em 1929 e atualmente, na qual todas as contradições acumuladas no
sistema capitalista mundial estão se agravando.
Pelo exposto, Piketty não é o novo Marx. Enquanto Marx mostra as verdadeiras causas
das desigualdades sociais que estão relacionadas com a expropriação da renda dos
trabalhadores pelos detentores dos meios de produção, Piketty aponta as consequências
desta expropriação, isto é, as desigualdades resultantes. Enquanto Karl Marx defende o
fim do capitalismo com a implantação do socialismo e, mais tarde, do comunismo para
acabar com as desigualdades sociais, Piketty propõe medidas para consertar o sistema
capitalista e mantê-lo funcionando. O problema para Piketty não é a desigualdade em si,
mas o fato de que esta cria injustiça na sociedade que ameaça a existência do próprio
sistema capitalista. Piketty afirma que é muito difícil fazer o sistema funcionar quando
se tem uma desigualdade tão extrema como a que vem se registrando.
Para diminuir as desigualdades sociais, Thomas Piketty propõe uma medida que é
considerada utópica que é a taxação de grandes fortunas. O Capital no Século XXI
sugere, entre outras coisas, a tributação de grandes fortunas, o combate à desigualdade
econômica e à concentração da riqueza nas mãos de poucos. Com cerca de 500
páginas, O Capital no Século XXI é dividido em quatro partes nas quais trata da questão
da renda, produção, capital e suas transformações ao longo da história, principalmente a
partir da Revolução Industrial e faz uma verdadeira genealogia da questão de renda,
sobretudo, com um extensivo levantamento sobre as políticas de salário com focos na
França, Reino Unido e Estados Unidos os quais foram muito úteis para uma leitura a
respeito da história do capitalismo global e suas problemáticas.
Thomas Piketty analisa, também, a desigualdade, a concentração de renda, o rentista
enquanto inimigo da democracia, a desigualdade mundial da riqueza no século XXI, a
questão das famílias detentoras da riqueza global e, por fim, a taxação e regulação da
riqueza global. Piketty aborda o “apocalipse marxista” de acúmulo infinito de capital
que, para ele, não se concretizou. Porém, afirma que, apesar de não termos um acúmulo
infinito de capital, temos cada vez mais poucas famílias detendo quase a metade da
riqueza global.
Piketty explica que ocorre uma tendência ao crescimento da desigualdade devido ao
contínuo aumento da acumulação de riqueza resultante do fato de que a taxa de retorno
sobre o capital (r) sempre excede a taxa de crescimento da renda (g). Isso, diz Piketty, é
e sempre foi “a contradição central” do capital. Mas esse tipo de regularidade estatística
dificilmente alicerça uma explicação adequada, quanto mais uma lei. Então, quais são as
forças que produzem e sustentam tal contradição? Piketty não diz. Marx afirma em sua
obra O Capital que a existência desta lei resulta do desequilíbrio de poder entre capital e
trabalho. E essa explicação ainda é válida hoje. A queda constante da participação do
trabalho na renda nacional, desde os anos 1970, é decorrente do declínio do poder
político dos trabalhadores à medida que o capital mobilizava tecnologia, aumentava o