86 correntes de pensamento
Reconhecendo-se discípulo de Comte, Durkheim se apli
cou a pensar a especificidade
do objeto da sociologia, relacio
ná-la
com as outras ciências e lançar os fundamentos de um
método para pesquisa social.
Para ele, o escopo da sociedade
é estudar fatos
que obedecem a leis invariáveis, de forma ob
jetiva e neutra.
Os "pré-juízos" e as "pré-noções" provenien
tes
da ideologia e da visão de mundo do sociólogo teriam de
ser eliminados das investigações
por meio das regras do mé
todo científico:
"a sociologia não é nem individualista e nem
socialista", dizia ele (1978, p. 27).
No prefácio da segunda edição de As Regras do Método So
ciológico, escrito em 1901, Durkheim refuta críticas a sua pro
posta dizendo
que
"os fatos sociais devem ser tratados como
coisas" e que quando diz isso significa que "coisa" se opõe a
"idéia" no sentido de que são externas aos indivíduos. Por
isso, ratifica sua concepção da sociedade como um fenôme
no moral, uma vez que os modos coletivos de pensar, perce
ber, sentir e agir incluem elementos de coerção e obrigação,
constituindo assim uma consciência coletiva que se expres
sa
na religião, na divisão do trabalho e nas instituições. Mas
esse
fenômeno moral, diz ele, precisa ser olhado objetivamen
te,
"como uma coisa", para ser devidamente explicado. Para
isso, Durkheim criou um método para apreensão e explica
ção
da realidade social, cabendo ao cientista: (a) descrever as
características dos fatos:
tudo o que se afirma de uma ação
concreta, seus graus de adequação e sentido, sua explicação
compreensiva e causal, deveria ser alvo de verificação;
(b) de
monstrar como os fatos vêm a existir; (c) relacioná-los en
tre
si; ( d) encontrar sua organicidade; (e) tentar separar o que
são
"representações" e o que são fatos propriamente ditos,
"coisa-real" (1978). Em seu método, Durkheim distingue a
categoria "senso comum", como uma criação cultural dos
membros de uma sociedade para explicar e descrever o mun
do em que vivem, dos "conceitos científicos", que consti
tuem elaborações teóricas que permitem descrever, classificar,
correntes de pensamento 87
explicar, organizar e correlacionar os "fatos sociais" de forma
"objetiva".
Respondendo ao espírito de seu tempo, uma época his
tórica marcada pelo
poder político e religioso da Igreja, Durk
heim insistiu, categoricamente, que as causas dos fatos sociais
devem ser buscadas
em outros fatos sociais e não na teologia
ou nos indivíduos. Portanto, os sociólogos deveriam descre
vê-los, classificá-los
com precisão e de forma independente,
até mesmo, de suas próprias idéias sobre a realidade. Esse fun
dador da sociologia ensinava que, certamente, um cientista
social
tem suas preferências políticas, simpatiza com os ope
rários
ou com os patrões, é liberal ou é socialista, mas, no
exercício de sua ciência, precisa fazer calar suas paixões. Só
nesse silêncio deve iniciar seu estudo (1978). Essa extemali
dade do observador quanto ao que deve ser observado no
social é a essência de seu método.
Diante das críticas
que recebeu, Durkheim sempre reafir
mou seus princípios teóricos: a existência da coação social que
se reafirma nas instituições e em seu funcionamento; a idéia
do fato social
que depende de interações individuais, mas re
sultam
em crenças e modos de comportamento da coletivida
de;
na tese de que a realidade é socialmente construída e que
existe uma realidade objetiva dos fatos sociais que é diferente
dos fenômenos
que dizem respeito ao indivíduo em suas emo
ções e fisiologia. Esses deveriam ser estudados pela psicologia
e pela biologia, respectivamente.
Uma das principais influências do positivismo nas ciên
cias sociais é a prática
da pesquisa empírica. Metodologica
mente, até hoje, sob a ótica positivista, isso significa a desco
berta das características de regularidades e invariâncias nos fatos
sociais,
entendidos por Durkheim como
"toda maneira de
fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo
uma coação exterior" ou ainda "o que é geral no conjunto de
uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existên
cia
própria, independente das manifestações individuais"