O Erro de Descartes
Emo
ção, razão e o cérebro humano
Ant
ónio Damásio
O C
ÉREBRO
Dam
ásio defende que o cérebro tem uma parte
dominante. O c
érebro está dividido em dois
hemisf
érios: o hemisfério esquerdo e o hemisfério
direito. Segundo Dam
ásio caso estes algumas vez se
encontrassem em discord
ância era necessário que um
tomase comando em rela
ção ao que fazer. Neste
sentido, existe ent
ão um hemisfério que tem um papel
dominante sob o controlo dos processos
comportamentais e cognitivos, enquanto o outro
hemisf
ério participa de forma menos significativa.
Especializa
ção do Cérebro:
É
possível estabelecer relações gerais entre os quatro
lobos do c
érebro e as suas funções. Esta possibilidade
n
ão deve no entanto sustentar a ideia de
funcionamento isolado de cada um dos lobos ou das
fun
ções. A comunidade científica está hoje de acordo
quanto ao funcionamento unificado, coordenado e
complementar das
áreas corticais.
Esta especializa
ção não é no entanto simétrica para os
dois hemisf
érios do cérebro havendo uma lateralização
das fun
ções.
NEUR
ÓNIOS
Os Neur
ónios são as unidades básicas do sistema
nervoso, s
ão responsáveis:
Pelo processamento da informa
ção, estando envolvidos
tanto na aquisi
ção como na transmissão
Pela codifica
ção da memória, dos pensamentos e das
emo
ções.
Pela regula
ção de todos os processos que mantêm a
vida do ser humano (batimento card
íaco, respiração,
temperatura corporal)
SISTEMA L
ÍMBICO
O sistema l
ímbico é a unidade responsável pelas
emo
ções e é uma região constituída por
neur
ónios. Entre outros são componentes do
sistema l
ímbico:
Am
ígdala: a lesão da amígdala faz com que o
indiv
íduo perca o sentido afectivo da percepção de
uma informa
ção vinda de fora, como a visão de
uma pessoa conhecida. Ele sabe quem est
á a ver
mas n
ão sabe se gosta ou não dessa pessoa.
Hipo campo: est
á relacionado com a memória
de longa dura
ção permite comparar as
condi
ções de uma ameaça actual com
experi
ências passadas semelhantes,
permitindolhe, assim, escolher qual a melhor
op
ção a ser tomada de forma a garantir a
seguran
ça.
Hipo t
álamo: Tem um importante papel no
controlo do comportamento, controla v
árias
condi
ções internas do corpo, como a
temperatura, o impulso para comer e beber.
Mant
ém vias de comunicação com todos níveis
do sistema l
ímbico e desempenha ainda um
papel nas emo
ções
PHINEAS GAGE
Com o seu terr
ível
acidente, Gage, perdeu
uma caracter
ística
humana, a caracter
ística de
planear o futuro.
O ferro n
ão atingiu as
regi
ões cerebrais
necess
árias para as funções
motoras e lingu
ísticas mas
destruiu grande parte do
lobo frontal esquerdo assim
como a vis
ão do seu olho
esquerdo.
Gage deixou de ser Gage, ap
ós o acidente a sua
personalidade alterouse. Com a les
ão da área de
ventromediana ouve uma danifica
ção na capacidade
de Gage de tomar decis
ões.
Sup
õese que Gage tenha deixado de ter emoções e que
isso tenha condicionado o seu comportamento social
negativamente. Gage deixou de aprender com os seus
erros e era imcapaz de tomar decis
ões ainda que fosse
capaz de as planear n
ão passando de planos.
O NOVO GAGE
Elliot
é considerado como o Gage da era moderna foi
o modelo perfeito para se estudar o que se teria
passado. Com uma les
ão na mesma zona da que
Gage teria, Elliot desenvolveu um conjunto de
comportamentos iguais aos de Gage. Havendo neste
caso a vantagem de Elliot poder ser estudado.
Elliot respondeu a todos os teste de Intelig
ência e de
personalidade que lhe iam sendo propostos tenho
resultados normais ou acima do normal n
ão havendo
quaisquer anormalia.
No entanto ap
ós a visualização de imagens chocantes
este n
ão se sentiu tocado o que levou a descoberta de
que este experienciase emo
ções.
“Elliot era capaz de relatar trag
édias da sua vida com
imparcialidade… Agia sempre da mesma forma
controlada, descrevendo as cenas como um espectador
pass
ível e desligado. Não havia sinais de sofrimento.”
A frieza do racioc
ínio impedia atribuir diferentes
valores
às diferentes opções.
Como todos sabemos Emo
ções perturbam o raciocínio.
Desde pequenos que ouvimos:”Acalmate, pensa de
cabe
ça fria”. O que não se sabia é que esta
perturba
ção tanto pode ser positiva como negativa.
Tal como Gage era capaz de fazer planos mas nunca os
chegava a cumprir. Durante os testes que realizou
criava op
ções a situações mas no fim não sabia por qual
optar.
Sabia o que era socialmente correcto, n
ão se tinha
esquecido, no entanto optava por ter ac
ções rudes que o
deixavam mal visto socialmente, como n
ão tinha
emo
ções ( Vergonha) isso também não o preocupava.
Sabia o que era sentir mas nunca chegava a fazelo.
É
como se ouv
íssemos a nossa musica favorita e não
sent
íssemos nada.
ANOSOGNOSIA
É
a negação da condição da doença. Normalmente
passase em casos onde h
á limitações motoras e
sensoriais.
Os doentes Reagem sem emo
ção quando são
confrontados com a doen
ça e têm reacções como “Eu
costumava ter esses problema mas agora j
á passou”
quando de facto a doen
ça ainda está lá.
Em alguns casos os doentes possuem tamb
ém
defici
ência no raciocínio na tomada de decisões e nas
emo
ções e sentimentos.
COMPORTAMENTO E A MENTE
Ter uma mente significa que formar
representa
ções neurais que se podem tornar
imagens ( imagens n
ão somente visuais, como
imagens sonoras ou olfactivas) manipul
áveis
num processo denominado de pensamento, o que
acaba por influenciar o comportamento em
virtude do auxilio que confere em termos de
previs
ão do futuro e do seu planeamento.
A cria
ção destas imagens é feita através de uma
maquinaria neural complexa de percep
ções,
mem
ória e raciocínio.
Sempre que recordamos a imagem de um determinado
objecto, rosto ou cena, n
ão obtemos uma reprodução
exacta mas sim uma interpreta
ção, uma nova versão
reconstru
ída da original. À medida que a idade e a
experi
ência se modificam, as versões da mesma vão
constantemente modificandose.
O pensamento
é também construído a partir de
palavras e s
ímbolos sendo estes também imagens.
Antes de dizermos uma palavra a palavra j
á existe sob
a forma de imagem auditiva ou visual na nossa
consci
ência.
REGULA
ÇÃO BIOLÓGICA E
SOBREVIV
ÊNCIA
O c
érebro possui circuitos neurais inatos cujos
padr
ões de actividade controlam de forma segura
reflexos, impulsos e instintos, garantindo assim que
a respira
ção e a alimentação ocorram de acordo com
o necess
ário.
De forma a evitar condi
ções ambientais não
propicias, ou a destrui
ção por parte de predadores,
existem circuitos neurais inatos que induzem
comportamentos de luta ou de fuga, por exemplo.
Ainda outros circuitos controlam os impulsos de
forma a assegurar a continuidade gen
ética.
Praticamente todos os comportamentos que resultam
de impulsos e instintos contribuem para a
sobreviv
ência, quer em termos directos pela execução
de ac
ções de sobrevivência, quer em termos indirectos
pela cria
ção de condições vantajosas para a
sobreviv
ência ou pela diminuição da influência de
condi
ções potencialmente adversas.
EMO
ÇÕES
Desempenham uma fun
ção na comunicação de significados
a terceiros e podem ter tamb
ém um papel de orientação
cognitiva.
As emo
ções
:
T
êm origem numa causa, num objecto
S
ão reacções corporais específicas, observáveis
S
ão públicas e voltadas para o exterior
S
ão automáticas e inconscientes
Polaridade: podem ser negativas ou positivas
S
ão versáteis: variam em intensidade e são de breve duração
Relacionamse com o tempo: as emo
ções têm principio e fim
Emoções primárias
Partilhadas por indivíduos
de todas as culturas e
ligadas a processos neurais e
fisiológicos específicos.
Alegria;
Tristeza;
Medo;
Ira;
Espanto;
Nojo.
Emoções secundárias
Emoções associadas a
relações sociais nas quais os
aspectos socioculturais
apreendidos são muito
significativos
SENTIMENTOS
Os Sentimentos s
ão por sua vez um processo cognitivo ou mental resultante
da emo
ção, ao contrario das emoções, estes são relativamente estáveis.
S
ão uma experiência subjectiva dos afectos e das emoções; este processo
distinguese da emo
ção pelo seu carácter subjectivo e cognitivo e é
insepar
ável dos valores. Um sentimento é privado (não observável pelos
outros), ao contr
ário das emoções.
O Ser Humano enquanto ser dotado de consci
ência, analisa, interpreta,
organiza e reflecte sobre os seus pr
óprios sentimentos, isto é, constrói
sentimentos a partir dos mesmos.
“Nem todos os Sentimentos prov
ém das Emoções”
Existem para al
ém dos sentimentos resultantes
das emo
ções, os sentimentos de fundo. Este não
resultam das emo
ções mas sim de estados de
fundo. (Ex: Tens
ão, malestar, bemestar,
relaxamento, …)
Estes s
ão também os sentimentos mais frequentes
ao longo da nossa vida.
DIFEREN
ÇAS ENTRE EMO ÇÕES E
SENTIMENTOS
Emoções e sentimentos constituem, respectivamente, o começo e o fim
de um processo contínuo;
As emoções são públicas enquanto que os sentimentos são privados;
Os mecanismos subjacentes às emoções e aos sentimentos são distintos;
Os mecanismos básicos da emoção não requerem, necessariamente
consciência;
Emoções geram sentimentos e estes, por sua vez, geram emoções num
ciclo contínuo;
Os sentimentos possuem uma relação privilegiadas com a consciência.
O ser Humano é capaz de racionalizar emoções e obter sentimentos.
Sentimentos podem também ser racionalizados e partir destes serem
criados novas emoções como resposta, o que produziria um novo
sentimento e por ai adiante criando um ciclo continuo.
A HIP
ÓTESE DO MARCADOR
SOM
ÁTICO
Faz convergir a aten
ção para o resultado negativo a
que a ac
ção pode conduzir e actua como um sinal de
alarme autom
ático que diz: atenção há um perigo
proveniente da ac
ção que terá X resultado.
Este sinal de alarme poder
á fazer com que se rejeite
de imediato o rumo da ac
ção negativa, levando a
escolher uma outra alternativa.
O sinal protegenos de preju
ízos futuros, sem
hesita
ções e permite escolher entre um número
menor de alternativas.
Ainda assim o marcador som
ático pode não ser por si só
suficiente para a tomada de decis
ões humanas, sendo que
em muitos casos
é necessário um processo de raciocínio e
de decis
ão final.
Aumentam provavelmente a precis
ão e a eficiência do
processo de decis
ão.
Os marcadores som
áticos são um caso especial do uso de
sentimentos gerados a partir de emo
ções secundárias.
Essas emo
ções e sentimentos foram ligados pela
aprendizagem a resultados futuros previstos de
determinados cen
ários.
Por
último, quando um marcador somático é negativo em
rela
ção a um resultado negativo, este funciona como
campainha de alarme, se no entanto e positivo ent
ão
funciona como forma de incentivo.
DE ONDE V
ÊM OS MARCADORES
SOM
ÁTICOS?
Os marcadores s
ão adquiridos por meio da
experi
ência, sob o controlo de um sistema interno de
prefer
ência e sob a influência de um sistema
externo de circunst
âncias que incluem não só
entidades e fen
ómenos com os quais o individuo
interage mas tamb
ém convenções sociais e regras
é
ticas.
No caso de Gage, o dispositivo do marcador som
ático
deixa de funcionar devidamente, mesmo que at
é ali
se tenha mostrado normal. Dam
ásio denomina este
fen
ómeno de sociopatia “adquirida”.
O C
ÉREBRO DE UM CORPO COM
MENTE
Sem corpo o C
érebro não seria capaz de criar a
mente.
O C
érebro é estimulado pelo corpo e é a partir dai
que se d
á a sua aprendizagem. Se o Cérebro
nunca tivesse sido estimulado seria dif
ícil poder
afirmar haver de facto mente em algo que para
al
ém de ligações de neurónios não tem mais nada.
De forma a ser poss
ível compreender a plena
mente humana
é necessária a adopção de uma
perspectiva do organismo ( corpo – c
érebro –
mente) que se encontra interactivo com um meio
ambiente f
ísico e social.
O ERRO DE DESCARTES
O erro de Descartes remete para o Dualismo da
c
élebre frase: “Penso logo existo”
« “Penso logo existo”, a frase ilustra exacta o oposto
daquilo que pensa ser verdade em rela
ção às origens
da mente e da rela
ção entre mente e corpo.»
«A afirma
ção sugere que pensar e ter consciência de
pensar s
ão as verdadeiras bases de existir.»
«Como sabemos que Descartes via o acto de pensar
como a actividade separada do corpo, esta afirma
ção
exalta a separa
ção da mente, a “coisa pensante”, do
corpo n
ão pensante, o qual tem extensão e partes
mec
ânicas. »
«No entanto, antes do aparecimento da humanidade,
os seres j
á eram seres.»
«Num dado ponto da evolu
ção, surgiu uma consciência
elementar. Com essa consci
ência apareceu a mente
simples; com uma maior complexidade da mente veio a
possibilidade de pensar e, mais tarde ainda, de usar
linguagens para comunicar e melhor organizar os
pensamentos. Para n
ós, portanto, no principio foi a
exist
ência e só mais tarde chegou o pensamento. E
para n
ós, no presente, quando vimos ao mundo
come
çamos por existir e só mais tarde por pensar.
»
Esclarecimento da afirmação por parte
de Descartes de forma inequívoca:
«Por isso eu soube que era uma substância cuja
essência integral é pensar, que não havia necessidade
de um lugar para a existência dessa substância e que
ela não depende de algo material; então, esse “eu”,
quer dizer, a alma por meio da qual sou o que sou,
distingue-se completamente do corpo e é ainda mais
fácil de conhecer do que esse último; e, ainda que não
houvesse corpo, a alma não deixaria de o ser.»
«
É esse o erro de Descartes: a separação
abissal entre o corpo e a mente, entre a
subst
ância corporal, infinitamente divisível,
com volume, com dimens
ões e com um
funcionamento mec
ânico, de um lado, e a
subst
ância mental, indivisível, sem volume,
sem dimens
ões e intangível, de outro; a
sugest
ão de que o raciocínio, o juízo moral e o
sofrimento adveniente da dor f
ísica ou
agita
ção emocional poderiam existir
independentemente do corpo.»