Depois da audiência, fui transferido com outros irmãos para a Prisão de Segurança
Máxima Zhengzhou Número Um. Fui para a solitária. Minha cela ficava perto da sala
do oficial de plantão e dividia a parede com a do Irmão Xu. Os guardas achavam que eu
havia enlouquecido e me deram dois apelidos: "Louco" e "Aleijado".
No dia em que cheguei, eles me espancaram e me interrogaram sem parar, das
8:00h da manhã até a noite do dia seguinte. Organizaram turnos para manter a pressão e
me bater durante a noite toda. Não recebi alimento nem água durante todo esse tempo.
Todas as vezes que os guardas me acertavam, eu gritava:
"Salva-me, Jesus! Ajuda-me, Senhor Jesus!"
Foi a única forma que encontrei para afastar meu pensamento da dor e do castigo
que me infligiam.
Depois dessa experiência inicial, ficamos trancados nas celas, exceto pelos
períodos em que éramos levados para interrogatório, a cada dois dias. Apesar da minha
condição, continuaram a me torturar, na esperança de destruir meu espírito. Algumas
vezes nos levavam até o Posto
Policial de Dingshui para interrogatório; outras, para o quartel-general de
Segurança Pública Zhengzhou Número Nove, a fim de "experimentarmos dois sabores"
de tortura. Eles gostavam mais de bater na cabeça, nas mãos e nas pernas.
Eu não tinha a Bíblia, então meditava na Palavra de Deus que havia decorado e
orava com lágrimas pelas igrejas. Gritava versículos bíblicos o mais alto que conseguia,
apegando-me às promessas, como a que se encontra no Salmo 27.1-3: "O Senhor é a
minha luz e a minha salvação; de quem terei medo? O Senhor é a fortaleza da minha
vida; a quem temerei? Quando malfeitores me sobrevêm para me destruir, meus
opressores e inimigos, eles é que tropeçam e caem. Ainda que um exército se acampe
contra mim, não se atemorizará o meu coração; e, se estourar contra mim a guerra, ainda
assim terei confiança".
Também cantava bem alto, dia e noite. Certa vez, o guarda de plantão ficou
furioso comigo e me perguntou:
- Será que você vai passar o resto da vida aqui, criminoso profissional?
- Não! Quando chegar o tempo de Deus, serei liberto imediatamente, respondi.
Eu demonstrava coragem e ousadia, mas, por dentro, estava sofrendo muito.
Durante um dos interrogatórios, os oficiais me disseram que eu seria condenado à prisão
perpétua ou, se minha atitude melhorasse, poderia receber uma sentença de dez a quinze
anos.
Diante de um futuro tão sombrio, murmurei e queixei-me com o Senhor. Cheguei
até a acusá-lo:
"Ó Deus, eu quero apenas servir-te e divulgar teu evangelho, mas agora estou
enfiado aqui nesta cela e não consigo nem andar. És fraco e não me protegeste!"
Eu não conseguia andar, por isso, três cristãos, entre eles o Irmão Xu, se
revezavam para me carregar da cela para a sala de tortura e para o banheiro. Como não
estávamos na mesma cela, esperávamos ansiosos esses breves momentos de comunhão.
Para irmos à sala de tortura, passávamos por três andares, de modo que era a
melhor oportunidade para conversar. O Irmão Xu pensou em se recusar a me levar para
lá, mas eu lhe disse para não se preocupar, pois, se ele não fosse, os guardas arrumariam
outra pessoa. Frequentemente, os minutos preciosos de que desfrutávamos me fortale-
ciam para suportar as surras e humilhações que me esperavam na sala escura.
O Irmão Xu é de falar pouco. Não contou o que estava acontecendo com ele, mas
um dia eu o vi retornando à cela. Ele é bem corpulento, corre muito, mas naquele dia
mal conseguia se arrastar pelo corredor. Vi, então, que ele também estava sendo
torturado.