O homem que espalhou o deserto

Dianaricardo28 8,473 views 23 slides Jul 31, 2012
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“O HOMEM
QUE ESPALHOU”?
ODESERTO

" IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDAO

uando menino, gostava de apanhar a tesoura
da mae e ia para o quintal.
Ficava horas distraído, podando as folhas das
árvores, plec-plec-plec-plec.

Era um quintal desses antigos, enormes. Havia
angueiras, abacateiros, laranjeiras, ameixeiras, pés
> chuchu e caju e até jabuticabeiras. E o menino

ıssava o dia cortando folhas, plec-plec-plec-plec.

A mäe ficava feliz. Assim, o seu menino estava
sempre á vista, náo ia para a rua, ela náo precisava
se preocupar, com o coraçäo na mao. Pensar que
o filho estaria brincando no rio, ou nas ruas chelas
de carros, nos trilhos do trem, roubando frutas
dos pomares. No quintal, vantagem: nao havia más
companhias. Sempre que o menino apanhava
um brinquedo e ia para o portáo, ela corria
com à tesoura: “Tome, filhinho, Venha brincar
com suas folhas”,

ia para o fundo.
à cortava, cortava,
plec-plec-plec-plec.
As árvores

levavam vantagem,

porque eram imensas À

© 0 menino pequeno.

O trabalho dele
rendia pouco. Apesar
do dia-a-dia constante,
de manhä à noite,
plec-plec-plec-plec.

Mas o menino cresceu.

Ganhou tesouras maiores, facöes, serrotes.
Agora, mais do que gostava. Era uma füria,
determinagáo. Preci va acabar com todas as
folhas. “Meu quintal fica tao limpo”. dizia o pai.

Dominado por estranhos impulsos, ele náo
queria saber de nada. Näo ia ao cinema, à praca, ao
clube, a bailes, náo praticava esporte algum. Nao
tinha namoradas e amigos.

Vivia para as tesouras. Dos mais diversos tipos.

A noite, com a pedra de amolar, afiava bem os
cortes, polia.

Preparando-
Bain noites de I
olhando as tesour

as tarefas do dia seguinte.
ı aberta e dormia

se para
deixava a
a brilbar

A mae, sempre contente. Apesar do filho detestar
a escola e ir mal nas letras.

E ele crescia. Quieto, comportado, obediente.
Máo saía de casa, de modo que náo voltava tarde.
Nao fumava, náo bebia, nao dangava, nao ficava
trocando figurinhas e fazendo negócios estranhos.
Máo frequentava ruas suspeitas, onde mulheres
pintadas com exagero, se mostravam nas portas e
\ Janela hamando os incautos.

O único prazer do rapaz continuava a ser as
lesouras e o corte das folhas, plec-plec-plec-plec.

Myz
Be

Só que ele cresceu e as

dirvores comegaram a perder,
Ele demorou apenas

ma semana para limpar

a jabuticabeira. » 9
<\) [NU 9
Tie Y

1

Quinze dias para
a mangueira menor.
Vinte e oito para

abacateiro. Imenso, copado,
tinha mais de noventa anos,
Quarenta dias de tesouradas.

O desbastamento das árvores tinha afugentado
insetos, cigarras, pássaros. Destruído ninhos. Certa
noite, o rapaz regressou pensativo do quintal
silencioso. Percebeu que de nada adiantava ficar
podando folhas.

A natureza mostrava sempre capacidade de

viver, PAUSADA

Alguns meses, e ele encontrou a soluçäo:

UM MACHADO.

No dia seguinte, bem cedo, que náo era de
perder tempo, comegou a derrubada pelo
abacateiro. Custou dez dias, porque náo estava
habituado, as máos calejavam, sangravam, doiam.

E onde encontrava uma árvore, arbusto, capáo
de mato, bosque, capoeira, limpava. Deixando
os montes de lenha arrumadinhos, para quem
quisesse se servir. Havia muita gente que adorava
o rapaz do machado.

Mas, insatisfeito, sentindo-se vazio, náo tendo
mais o que fazer, senáo olhar aquela desolagáo, o
rapaz saiu pela cidade.
De machado em punho.

Os donos dos terrenos náo se importavam.
Incentivavam. Estavam a ponto de vendé-los para
imobiliärias que pretendiam construir edifícios,
conjuntos, fábricas, e queriam tudo “limpo”” mesmo.

Eo rapaz, quase homem já, descobriu que podia
zuanhar a vida com seu instrumento. Onde quer que
precisassem derrubar árvores, ele era chamado.
Estava sempre pronto, com

Náo parava. Precisou contratar uma secretaria,
depois, auxiliares. Montou um escritório.

Organizou uma companhia derrubadora. Alugou
depósitos para guardar os machados, motosserras,
correntôes, tratores. Construiu alojamentos para
os operários devastadores. Importou maquinärio
estrangeiro.

L se

Mandou funcionários fazerem cursos nos
Estados Unidos e Europa. Voltaram peritos de
primeira linha. E derrubavam. >.

Foram do sul ao norte. Nao deixando nada em
pé. Satisfeitos, orgulhosos de limparem o terreno
para fazendas, garimpos, indústrias químicas,
mineradoras, estradas, barragens. Nenhuma folha
deve restar, para o progresso chegar, anunciavam.

E © rapaz, homem mais que feito, casado, muito
rico, se assustou. © país era uma terra calcinada,
seca. Deserto puro. Onde continuar a cortar, para
ganhbar mais e mais.

Finalmente, © governo, para remediar, mandou
buscar em Israel técnicos especializados: Homens
peritos que tinham tornado férteis as terras do
deserto. Os homens vieram, estudaram,
planejaram, começaram o longo e lento replantio.
Em alguns anos, as árvores estariam de volta.

E enquanto as árvores cram replantadas, o
homem do machado ensinava ao filho a sua
profissáo.
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