O termo grego "profeta" traduz a palavra hebraica nabî ’ , usada correntemente no AT . Têm existido muitos esforços no sentido de conhecer de um modo exato o significado deste termo. No passado alguns linguistas tentaram fazer derivar este termo duma raiz que significa brotar , enquanto outros quiseram antes entendê-lo como uma forma passiva do verbo que significa entrar , encontrando nestas raízes um modo de explicar o fenómeno profético e o seu elemento extático . Atualmente os linguistas relacionam, de um modo geral, o termo nabî ' com o termo acádico nabú que significa chamar , nomear . 2
Contudo , persistem muitas dúvidas quanto ao modo de o entender. Para alguns deve entender-se no sentido passivo: o arrebatado , o chamado pelo espírito , enquanto outros defendem o sentido ativo : o arauto , ou locutor . De qualquer forma, podemos dizer que o "profeta" era alguém que tinha como missão transmitir uma mensagem que a divindade lhe confiava. No caso dos profetas de Israel, esta missão é confirmada pela fórmula com que introduzem a sua comunicação " assim fala Javé ... “, semelhante à forma epistolar usada no médio oriente. 3
Os livros proféticos, o seu contexto histórico Javé está presente na história e dialoga com o ser humano na história. Alguns profetas foram conselheiros, outros opositores e a outros coube o duplo papel. A profecia, sobretudo depois do séc. VIII, não esteve apenas ligada à monarquia, mas a todo o povo. Muitos oráculos denunciavam a injustiça em Israel e mostram onde Deus intervém para dar alimento ao povo ou ajudá-lo a instalar-se na terra de Canaã. 4
Os livros proféticos, o seu contexto histórico Agora Deus intervém para condenar o mal. Não se pode viver mais na sombra do Deus bom e misericordioso. Deus não pode mais com o pecado de Israel . Os profetas introduzem a dimensão ética em Israel. Todos os textos que têm uma dimensão ética e se referem a épocas anteriores foram escritos depois dos textos proféticos. O profetismo surgiu muito ligado a questões político/religiosas, mas na terceira fase pretende uma reconstrução política. 5
Profetas de Israel Josué Samuel (livros 1 e 2) Profetas anteriores Reis (livros 1 e 2) Estes profetas – anteriores – viveram numa época anterior ao período do exílio – o período profético por excelência, embora os textos tenham sido escritos muito posteriormente. Os seus livros pertencem ao grupo dos livros históricos e deuteronomistas (da 2ª lei). 6
Profetas de Israel Isaías (I, II e III) Jeremias Ezequiel - Lamentações - Baruc - Miqueias - Daniel - Naum - Oseias - Habacuc Profetas - Joel - Sofonias menores - Amós - Ageu - Abdias - Zacarias - Jonas - Malaquias Estes profetas – anteriores – viveram numa época anterior ao período do exílio – o período profético por excelência. Os seus livros pertencem ao grupo dos livros históricos e deuteronomistas (da 2ª lei). 7 Profetas posteriores
Profetas Anteriores A profecia bíblica inseria-se no contexto da profecia de todo o antigo Médio-Oriente. O profetismo não surgiu do nada. Vários profetas consideram-se continuadores dos seus antepassados. A profecia deuteronomista está influenciada por uma visão de explicação do exílio O exílio aconteceu porque Israel não viveu a Aliança e não escutou a promessa que Deus lhe fez. Os grandes culpados são os líderes, sobretudo os do Reino do Norte. 8
Profetas Anteriores Os redatores do Deuteronómio atribuem a origem do profetismo a Moisés e estende-se até ao último profeta em Israel. O profeta é uma resposta de Deus para intervir na história. (Nu 11,10-25) Moisés já não é capaz de resolver todos os problemas de Israel. Deus tira um pouco do Espírito de Moisés e doa-o aos 70 anciãos para que se comportarem como profetas – legitimação da profecia – brota do Espírito de Javé. O profeta nunca fala em nome próprio, mas em nome de Javé . 9
Profetas Anteriores O profetismo surge de uma intervenção direta de Javé. Deus não muda as pessoas, usa-as. Os profetas são mediadores . A história deuteronomista defende que a profecia começou com Samuel em Silo (I Sam 3 e 4). Miriam está contra a exclusividade do profetismo masculino. Débora já era uma juíza e proferia profecia em relação à atividade militar ( Jz 4 e 5). Com a monarquia ganha relevo a profecia ligada à corte. 10
O início do profetismo com Elias e Eliseu Durante 2 séculos , desde a morte de Salomão até à queda da Samaria, as referências à profecia reduzem-se quase todas ao reino do norte. Elias anuncia já a divisão entre o norte e o sul . Depois desta profecia ganha força uma profecia contra a corte ao ponto de gerar deposições de reis no reino do norte. No norte havia muito mais sincretismo religioso – profetas de Baal, no monte Carmelo . É neste contexto que vão trabalhar Elias e Eliseu . 11
O início do profetismo com Elias e Eliseu Elias vai dizer que Deus está contra o povo mas vai guardar e proteger apenas um pequeno resto . Normalmente a verdadeira profecia incomodava – é difícil dizer às pessoas aquilo que elas não querem ouvir. O profetismo bíblico afasta-se cada vez mais das formas de profetismo extra-bíblico . Está cada vez mais ligado à vida social, política e religiosa e à monarquia . I Rs 20, 33.21,17-22 – Quando há um oráculo, este começa sempre por “Assim fala o Senhor...” 12
Samuel (escrito cerca de 550 a. C.) Samuel está na fase da transição entre o ser juiz e o ser um profeta. É este o profeta que vai abençoar os primeiros reis: Saul e depois David. Inicialmente opunha-se à criação de uma monarquia – afirmava que o verdadeiro rei é Deus e se o povo tem um rei na terra abandona o verdadeiro rei que é Deus. Muito do conteúdo dos livros de Samuel têm a intenção de mostrar a glória do período áureo da monarquia como objetivo a alcançar de novo, depois do exílio. 13
PROFETAS POSTERIORES – Séc. VIII Nenhum dos profetas escreveu os livros que têm o seu nome. A linguagem vem de âmbitos muito diversos : oráculos familiares, do quotidiano, do ambiente cultual como: hinos , instruções , o rações preceitos jurídicos. 14
PROFETAS POSTERIORES – Séc. VIII Os profetas usaram a linguagem de alguém que é acusador e de alguém que é acusado, com o objetivo de obterem a conversão. Há determinados tipos de oráculos que são quase exclusivos da linguagem profética: oráculos de vocação e de salvação. Os oráculos de Condenação/conversão – foram proferidos sobretudo antes do exílio; Os oráculos de Salvação – foram proferidos sobretudo depois do exílio. 15
PROFETAS POSTERIORES – Séc. VIII Da Profecia ao Livro A passagem da palavra oral à palavra escrita – o profeta tinha como missão comunicar. Eram homens da palavra, terão escrito muito poucos oráculos. O interesse pela escrita terá surgido da necessidade dos profetas, a partir do séc. VIII, escreverem as suas declarações para as confiar aos discípulos . Outros dizem que foi a necessidade de registar e escrever os anúncios como memória de algo que vai acontecer. 16
PROFETAS POSTERIORES – Séc. VIII Da Profecia ao Livro Os textos deixados pelos profetas foram conservados e lidos . Cada livro profético tem uma história a da sua redação a das fases que sofreu cada livro a história de fidelidade dos discípulos a mensagem do profeta o interesse que tiveram pela mensagem. Houve momentos da história de Israel que provocaram leituras diferentes dessa história. 17
PROFETAS POSTERIORES – Séc. VIII Da Profecia ao Livro Por exemplo os 2 exílios Um desses momentos foi o da queda da Samaria. Com a queda do Reino do Norte, Judá ficou desprotegido. O Reino do Norte foi transformado em província da Assíria e esta ficou muito próxima de Jerusalém. Nos séc. VII e VI a. C. há um outro momento de grande revisão e releitura da história de fé com o exílio da Babilónia - desde aí Israel nunca mais teve independência política. Só a conseguiu no século XX – todas as escolas dos discípulos dos profetas a repensar a mensagem do próprio profeta. Ex.: Livro de Isaías . 18
PROFETAS POSTERIORES – Séc. VIII Da Profecia ao Livro Na época dos persas, depois do exílio, Esdras e Neemias testemunham grandes rivalidades entre os que ficaram e os que voltaram da Babilónia – é nesta época que começa o judaísmo, a estruturação da fé. Até aí era a fé dos pais . Esta época foi muito importante para a última redação do Antigo Testamento e, em particular, dos textos dos profetas. Nenhum livro profético foi o olhar de uma pessoa só (como hoje acontece) aliás, esse foi o processo de escrita de qualquer livro bíblico. 19
Contexto Histórico e etapas de redação Durante a época anterior ao exílio os profetas anunciavam o castigo. Quando esse castigo aconteceu, passaram a falar da esperança. É depois do exílio que os profetas Jeremias e Ezequiel começam a falar de uma nova aliança . Tal como detetaram a corrupção, também na desgraça veem que Deus não os abandonará. O Deutero-Isaías ou Isaías dos cap. 40 a 55 é um profeta que já fala do regresso do exílio. Compara Ciro (rei dos persas) ao “servo”, mas apenas de um momento, enquanto o “servo” será um salvador definitivo. 20
Contexto Histórico e etapas de redação Depois do exílio é necessário reorganizar a sociedade e reconstruir o Templo. É o momento em que nasce o judaísmo. A profecia dos séc. VIII e VII incidiu nas injustiças sociais e todos os profetas, ao seu modo, falaram da corrupção social. Amós fala contra as injustiças sociais da Samaria com a complacência do Templo. Miqueias fala contra os latifundiários... Outros falam da corrupção religiosa, do culto a outros deuses, mas todos foram contra um culto vazio que pretendia a manipulação de Deus com peregrinações, promessas, orações... em vez de ver Deus como o justo que está ao lado dos mais fracos. 21
A mensagem profética do Exílio Ezequiel; Isaías (40-55); Jeremias Desprezo pelos estrangeiros – porque assumiram a soberania que pertencia a Jahvé ; Denúncia dos ídolos estrangeiros; Anúncio da Salvação . A mensagem profética do tempo da restauração Zacarias , Ageu, Isaías (56-66) Vitória sobre os inimigos; Ideia de um juízo terrível; Salvação para os justos. 22
A mensagem profética do tempo do silêncio Joel, Malaquias, Abdias A profecia começa a ceder lugar à apocalíptica. Neste tempo já há muitos textos proféticos escritos. Já não há a necessidade de intermediários. Da apocalíptica judaica – a conceção apocalíptica (revelação) já na época judaica – grande quantidade de livros desta corrente são apócrifos. Trata-se de uma literatura própria das épocas de crise, em que se procura revelar os caminhos de Deus sobre o futuro para consolar e encorajar os justos perseguidos, dando-lhes a certeza da vitória final. 23